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Publicado en Esse entre-lugar da literatura: concepção estética e fronteiras / Aroldo José Abreu Pinto, Benjamin Abdala Junior, Agnaldo Rodrigues da Silva (Organizadores). São Paulo: Arte e Ciência, 2013, pp. 271-296. O ASSOMBRO COMO ORIGEM DA LITERATURA MEXICANA María Eugenia Flores Treviño (UANL-MX- Universidad Autónoma de Nuevo León México) Este capítulo pretende oferecer algumas ideias, sumamente esquemáticas, sobre o surgimento e a essência da literatura mexicana, de suas primeiras expressões, para brindar um panorama sobre as raízes culturais da palavra no México, de um enfoque transdiciplinar que abarca a historia, a literatura e a sociedade. Propõe-se, com base nas ideias de César Fernández (1984), o assombro como a gênese da expressão literária mestiça no México, pois se considera que o insuspeitado, o insólito e o inesperado geram no ser humano capacidades verbais estéticas inéditas, que o levam ao emprego da linguagem, da língua de maneira original e extraordinária. Cada época encontra seus próprios motivos para assombrar-se. O homem primitivo o teve com o fogo, o da Idade Média com a pólvora, o homem do Renascimento com a bússola e o astrolábio, o da modernidade com a penicilina, com a eletricidade, com a estrutura do átomo, com o cinema; enfim, o gênio do homem assombra ao próprio homem. Interessa deter-se especificamente num acontecimento como ponto de partida: o chamado Descobrimento da América. Independentemente do debate que o termo “descobrir” suscite. Pois, no México dos anos 80, graças ao estudo de Edmundo O´Gorman (1984), assistiu-se à discussão sobre “descobrimento” versus invenção”. É indubitável que a chegada dos espanhóis a terras caribenhas em 1492 e a chegada às costas mexicanas de Hernán Cortés em setembro de 1519 geraram uma profunda transformação cultural e linguística em ambos os povos. Igualmente deram lugar a uma riquíssima geração de textos cujas características se localizam na fronteira entre o histórico e o literário, e é precisamente esse caráter de textos limítrofes que permite situá-los nas origens da expressão estética mexicana. Já que o homem, admirado, aturdido e às vezes espantado com o que testemunha ou vive, elabora fábulas, lendas e narrativas de índole sumamente singular.

O ASSOMBRO COMO ORIGEM DA LITERATURA MEXICANA

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Publicado en Esse entre-lugar da literatura: concepção estética e fronteiras / Aroldo José Abreu Pinto, Benjamin Abdala Junior, Agnaldo Rodrigues da Silva (Organizadores). São Paulo: Arte e Ciência, 2013, pp. 271-296.

O ASSOMBRO COMO ORIGEM DA LITERATURA MEXICANA

María Eugenia Flores Treviño (UANL-MX- Universidad Autónoma de Nuevo León –

México)

Este capítulo pretende oferecer algumas ideias, sumamente esquemáticas, sobre o

surgimento e a essência da literatura mexicana, de suas primeiras expressões, para brindar

um panorama sobre as raízes culturais da palavra no México, de um enfoque

transdiciplinar que abarca a historia, a literatura e a sociedade.

Propõe-se, com base nas ideias de César Fernández (1984), o assombro como a

gênese da expressão literária mestiça no México, pois se considera que o insuspeitado, o

insólito e o inesperado geram no ser humano capacidades verbais estéticas inéditas, que o

levam ao emprego da linguagem, da língua de maneira original e extraordinária.

Cada época encontra seus próprios motivos para assombrar-se. O homem

primitivo o teve com o fogo, o da Idade Média com a pólvora, o homem do Renascimento

com a bússola e o astrolábio, o da modernidade com a penicilina, com a eletricidade, com

a estrutura do átomo, com o cinema; enfim, o gênio do homem assombra ao próprio

homem. Interessa deter-se especificamente num acontecimento como ponto de partida: o

chamado Descobrimento da América. Independentemente do debate que o termo

“descobrir” suscite. Pois, no México dos anos 80, graças ao estudo de Edmundo

O´Gorman (1984), assistiu-se à discussão sobre “descobrimento” versus “invenção”.

É indubitável que a chegada dos espanhóis a terras caribenhas em 1492 e a

chegada às costas mexicanas de Hernán Cortés em setembro de 1519 geraram uma

profunda transformação cultural e linguística em ambos os povos. Igualmente deram

lugar a uma riquíssima geração de textos cujas características se localizam na fronteira

entre o histórico e o literário, e é precisamente esse caráter de textos limítrofes que

permite situá-los nas origens da expressão estética mexicana. Já que o homem, admirado,

aturdido e às vezes espantado com o que testemunha ou vive, elabora fábulas, lendas e

narrativas de índole sumamente singular.

Contexto histórico

A partir de 1492 a concepção de mundo para os europeus se modifica

(O`GORMAN, 1984). As viagens de Colombo e a sua façanha posterior do

“descobrimento” da América trouxeram como consequência a reestruturação da ideologia

que predominava no hemisfério oriental: destruíram-se as ideias cosmogônicas até então

aceitas e validadas pela igreja (como a teoria ptolemaica das sete esferas); um fato que

se, por um lado, ocasionou a comoção da igreja, por outro, também colocou em crise o

até então estabelecido conceito da ecumene. Havia uma corrente que sustentava a teoria

do orbis terrarium, oposta ao orbis alterium, pela qual se afirmava que só o mundo

conhecido, cristianizado e civilizado era possível. Tudo que fosse estranho a esse mundo

familiar não se considerava da mesma qualidade e nem possuía a mesma essência. Ao

“aparecer” o homem americano, surgiram varias discussões nos campos do saber

conhecido. Entre elas, uma de natureza filosófica: eram eles por acaso homens? Porque as

expectativas estavam orientadas em outra direção, como se vê em um fragmento da carta

escrita pelo almirante Colombo (1493):

En estas islas fasta aquí no he hallado ombres mostrudos como muchos

pensauan, mas antes es toda gente de muy lindo acatamiento, ni son negros

como en Guinea, saluo con sus cabellos correndíos, y no se crían adonde ay

ímpeto demasiado de los rayos solares […]i

À pergunta sobre a condição humana ou não do natural da América responde

Francisco Vitoria, articulando a filosofia e a jurisprudência, em sua obra De indiis

(BURILLO, 1988), onde propõe os direitos dos naturais americanos tão somente por sua

condição humana. E com a aceitação da existência de outros seres, surge uma nova

missão religiosa para a igreja: os homens das novas terras eram por acaso filhos do Deus

único? Não eram. Havia, portanto, que evangelizá-los. A corrente evangelizadora é outra

fonte de expressões estéticas sobre o México, chamada pelos europeus de “A Nova

Espanha” (O mesmo nome assignado é semanticamente transparente!)

Graças a esses fatos e a cartas, relatos e relatórios que tanto Colombo como os

outros atores de evento dirigem aos monarcas e conterrâneos espanhóis, vai-se narrando,

descrevendo, recriando e mesmo criando esta nova realidade, esta imensa possibilidade de

dar matéria ao não concebido.

Yo miré todo aquel puerto y después me volví a la nao y di a la vela, y vide

tantas islas que yo no sabía determinarme a cuál iría primero. Y aquellos

hombres que yo tenía tomado me decían por señas que eran tantas y tantas que

no había número, y anombraron por su nombre más de ciento […] ii

Uma realidade para a qual não havia equivalente. É assim que os fatos que

acompanharam o surgimento de outra inusitada fração do mundo, e dos quais se tem a

evidência graças à historia, funcionaram à maneira de incentivo, tanto para desatar o

imaginário europeu, como para dar rédea solta ao espírito de aventura do Renascimento.

Segundo César Fernández (1984), como fatores que influenciaram como incentivo

ao “descobrimento”, colonização e domínio do Novo Mundo, podem-se considerar os

seguintes:

1 - O espírito guerreiro: a hegemonia imperialista, a influência que predominou entre os

viajantes do desejo de possuir domínios, cada vez em número maior.

2 - O espírito evangelizador: a crença na designação da nação espanhola como a eleita

pela divindade para estender o conhecimento da religião cristã.

3 - A cobiça: sustentada na imagética dos descobridores e conquistadores; a promessa de

mulheres, ouro, posses e nome, um patrimônio que não era muito fácil de obter no lugar

de origem.

4 - É pertinente esclarecer que, ainda que este conjunto de fatores tenha sido determinante

ao ímpeto conquistador espanhol, não teria sido ele suficiente para alcançar o triunfo que

obtiveram os colonialistas espanhóis, se o pensamento religioso dos indígenas mexicanos

tivesse sido diferente.

No Códice Florentino (1580) elaborado a partir dos testemunhos dos informantes de

Bernardino de Sahagún, assim como na Historia de Tlaxcala de Diego Muñoz Camargo,

contam-se oito presságios funestos que viveram os povos mexicanos antes da Conquista,

e que foram signos proféticos que predispuseram seu ânimo antes da chegada dos

espanhóis:

- A aparição de uma aurora no céu em pleno dia.

- O incêndio espontâneo, sem causa alguma, do templo de Huitzilopochtli.

- O raio que consome o templo de Xiutecuhtli, sem haver chuva ou trovão, e a chuva fina

repentina que cai somente sobre ele.

- A aparição de seis enormes cometas em pleno dia, cruzando o céu.

- Sem vento algum, o lago mexicano ferve, espuma e transborda, inundando a cidade.

- A voz de mulher, sem corpo, que às margens do lago, noite após noite, se ouvia

chorando com alaridos e lamentando a sorte dos mexicanos.

- A aparição de um pássaro com um espelho na cabeça, onde, ao olhar-se nele, se viam as

hostes espanholas e mexicanas em guerra. Uma ave que logo desapareceu.

- A manifestação de homens com duas cabeças que, ao serem levados ante Moctezuma,

desapareciam sem deixar rastro.

Cada um dos textos dessas profecias constitui por si mesmo um fato de ficção

matizado de religião e cosmologia.

Na teogonia indígena mexicana, os nativos acreditavam numa embaixada celestial

(homens brancos e barbados) que viria para determinar a rota que haveria de seguir sua

cultura. A embaixada profetizada encontra sua encarnação na comitiva espanhola,

liderada por Hernán Cortés que é tomado pelo deus Quetzalcóatl, e seus soldados, por

deuses como ele. Seguramente a dominação estrangeira teria sido menos fácil, se o

imaginário asteca, se os mitos messiânicos que existiam não tivessem criado uma aura

divina ao redor dos primeiros espanhóis que se propuseram conquistar o México. Um

exemplo disso se encontra no processo da conquista da cultura maia do sul de México: um

reino estruturado e com uma grande hegemonia semelhante à do reino mexica, que

acreditava no mito de retorno do deus Kukulcán - equivalente ao deus Quetzalcóatl dos

toltecas y astecas ou mexicas - mas já se sabia que os espanhóis eram seres humanos e

não deuses. A comprovação da predisposição originada pelas profecias nos mexicas é que

aos maias, pelo contrário, tal conhecimento os levou a resistir valentemente à conquista

espanhola, tanto que se viu consumada até vinte anos depois de seu início. Um aliado

mais que tiveram as hostes hispanas foram as epidemias que dizimaram a biologicamente

inerme raça mesoamericana.

O século XVI marca o período de grande expansão do imperialismo espanhol na

Mesoamérica. Realizam-se viagens de “descobrimento”, conquista e colonização de novas

regiões, as quais se juntam às já conhecidas e submetidas à coroa espanhola. Introduz-se a

pecuária, exploram-se a agricultura e a mineração, empregando a abundante e gratuita

mão de obra indígena.

No século XVII, inicia-se um período de decadência na Espanha e em seus

domínios. A falta de mão de obra moura, a imprevisão econômica da monarquia, a perda

do domínio dos mares e o constante crescimento da população crioula e mestiça da

América que despertava um sentimento de nacionalismo pelas novas terras, a diminuição

de trabalhadores indígenas pela mortalidade foram os principais fatores que determinaram

a crise no imperialismo espanhol.

A partir de então, a região mesoamericana correspondente ao México inicia uma

paulatina independência da tutela espanhola. Esta é um processo favorecido pela enorme

distância que separava Espanha e suas possessões neste continente assim como pelo

crescente sentido de autonomia dos habitantes das colônias americanas, que começam a

ser executores de suas próprias leis.

Fatores culturais acrescidos a esta nascente emancipação constituíram o Século de

Ouro espanhol, com auge na arte e na literatura hispânicas; a expansão da língua

castelhana na América colonizada, assim como o auge das Universidades e seu papel

como forjadoras intelectuais da nova mentalidade americana.

O assombro como origem da literatura mexicana

A filosofia nasce com o assombro (Aristóteles, Metafísica).Todo insólito é maravilhoso.

O espírito se comove ante o desconhecido, ante o inesperado e inusitado. É por isso que

O assombro é o que marca, o que inicia e decide. Sem assombro não se chega a

parte alguma. Sem ele se está a expensas do que nos contam, dos assombros

talvez dos demais, sem construir por nós mesmos, pequenos filósofos da vida e

que somos parte integrante do assombro a que nos devemos eludir, se é que

pretendemos ser protagonistas de nosso mundo. iii

Segundo Fernández (1984), a fascinação foi o estado de ânimo comum que

experimentaram os espanhóis que aportaram na Mesoamérica, seja na condição de

descobridores, conquistadores ou colonizadores. É compreensível a sua circunstância:

chegaram a um lugar que, primeiro, acreditavam inexistente, desabitado por seres

humanos, mas ocupado por entidades inferiores a eles. A tais expectativas se opõem, de

um lado, uma natureza pródiga e exuberante com uma flora e fauna inimaginadas, um

sistema de governo admiravelmente estruturado e uma classe de homens e mulheres não

concebida por eles; e, de outro, a possibilidade de exercer o poder sobre extensas terras e

numerosos povos dessa índole. Essas sensações as expressa o evangelizador:

Otro día por la mañana llegamos a la calzada ancha y vamos camino de

Estapalapa. Y desde que vimos tantas ciudades y villas pobladas en el agua, y

en tierra firme otras grandes poblaciones, y aquella calzada tan derecha y por

nivel cómo iba a Méjico, nos quedamos admirados, y decíamos que parecía a

las cosas de encantamiento que cuentan en el libro de Amadís, por las grandes

torres y cúes [adoratorios que nuestros antepasados realizaron con roca]y

edificios que tenían dentro en el agua, y todos de calicanto. Algunos de nuestros

soldados decían que si aquello que veían, si era entresueños, y no es de

maravillar que yo escriba aquí de esta manera, porque hay mucho que ponderar

en ello que no sé cómo lo cuente, ver cosas nunca oídas, ni vistas, ni aun

soñadas, como veíamos (DIAZ DEL CASTILLO, 1568).

O assombro, porém, não é unilateral.

Os mexicanos também se maravilham com “centauro” espanhol com capacidade

de dividir-se em animal, um cavalo; ficam surpresos com a admirável confirmação da

profecia divina do retorno, materializada na pessoa dos espanhóis; de seu braço que é

capaz de produzir trovão e fogo simultaneamente; com sua pele “tão branca como o sol”

(recordemos como chamam a Pedro de Alvarado, de Tonatiuh - quer dizer “o sol”) e de

seu corpo inacessível (sua armadura), que suas flechas não podiam penetrar. Os naturais

mexicanos creem, diz Fernández (1984), que os cavalos comem cobre, porque os veem

mordendo o freio, e assim, quando os espanhóis lhes pedem alimento para esses animais

... dão-lhes ouro!

A estupefação é mútua.Havia tantos elementos que se constituiram em uma fonte

constante de admiração, de maravilha incessante, de assombro contínuo; como também

sucessos que foram causa de horror, espanto e pavor para os seres humanos que se veem

envolvidos nos feitos do descobrimento e da conquista mexicana.

Assombro e poiesis

“A história do homem poderia reduzir-se às relações entre as palavras e o

pensamento.” (PAZ, 1986, p.)

O assombro é a marca que acompanhará a jovem América ao longo de sua história

e sua literatura, pois será motivo de novidade e fascinação cada traço seu ante os olhos do

Velho Mundo.

Tem-se dito que o assombro é a porta do conhecimento, mas também da criação,

da construção... da poiesiiv

através da linguagem. Os espanhóis se encontram com

realidades para as quais não possuem nome; testemunham sucessos inéditos para os quais

se requerem construções linguístico-literárias quando devem falar deles; os antigos

mexicanos devem buscar modos de nomear o trovão, ao sol personificado.

Por outra parte, já Aristóteles em sua Arte poética (2000, p. 17) assinala que o ato

de imitação é natural ao homem e que o prazer que produz em quem o experimenta

provêm do fato de serem inatos; ou seja, ser poeta é natural do homem, daí poder criar

arte intencionalmente ou não, e fazer desabrochar essa criação em seu desempenho

linguístico cotidiano.

Da mesma forma, a afinidade existente entre a fala e a poesia tem sido abordada

por Octavio Paz (1986, p. 21), quando afirma que a linguagem falada está mais próxima

da poesia do que da prosa por ser menos reflexiva e mais natural, de onde ser mais fácil

“ser poeta sem sabê-lo que prosador”. O autor atribui esta aptidão ao fato de que a fala é

produto “de tendências espirituais interiores”. Resulta daí que a fala é uma projeção do eu

emotivo. A palavra é um instrumento para exteriorizar a concepção de realidades

estranhas e imprevistas.Como falar do nunca visto? Como dar nome ao desconhecido?

Como transmitir a fascinação, o arroubo, a maravilha, o horror ou a surpresa

testemunhada?

Os homens desse tempo deveriam resolver a encruzilhada desempenhando o papel

de escritores. Impulsionados pela necessidade de narrar (ao rei, a seus superiores, a seu

país, ao mundo) encontraram a solução no processo ficcional. O uso estético da

linguagem foi o veículo mediante o qual hispanos e mexicanos deram testemunho de tão

fabulosos sucessos.

E isto porque, como afirma Markiewicz (2010, p.122), “tratamos como ficção os

eventos que estão em clara contradição com nossos conhecimentos empíricos.” Este autor

propõe que nos assuntos de teoria literária, como no caso da produção de que se ocupa

aqui, pode acontecer que, nos gêneros conhecidos como ficcionais, apareçam certas

proposições que tendem à veracidade, mas também à inclusão de personagens e eventos

tomados da realidade. Nesse caso se procede de duas maneiras: “ou se afirma que no

contexto romanesco também eles [eventos e personagens] têm sofrido ficcionalização, ou

se afirma que os textos em que se encontram devem ser tratados como híbridos, não

homogêneos, encontram-se como enclaves da história no contexto da ficção.”

(MARKIEWICZ, 2010, p.123). Com os textos produzidos neste período aqui comentados,

está-se ante ambos os casos pois, assim como são co-criados os fatos e os indivíduos,

existe também uma hibridação que antecipa as rupturas do cânonev. Os textos de que se

fala são épico-líricos, épico-dialogados, romances autobiográficos, histórias romanceadas.

A razão é a ductilidade da escritura criativa; da possibilidade de ressignificar o

evento ou a pessoa no campo da criação. Esta virtude é declarada pelo autor em questão:

“Graças à ficção, pois, a imagem literária da realidade desvela as marcas essenciais e

tendências do desenvolvimento desta, mais claramente do que poderiam fazer a relação

fotográfica e a pesquisa científica.” (MARKIEWICZ, 2010, p.127).

O estudioso explica uma tarefa realizada pela literatura ficcional contemporânea,

mas que, sem nenhum problema, se poderia comparar ao processo da fabulação do

descobrimento e da conquista, porque os protagonistas foram

Criando seus mundos possíveis, descreve(ndo) de novo e reinterpreta(ndo) o

mundo real, fazia(m) presente o que era negado ou omitido nas opiniões

oficiais, rompia(m) os estereótipos estabelecidos, explorava(m) domínios ainda

não administrados pela ciência. (MARKIEWICZ, 2010, p.127).

O criador, em seu trabalho, certamente possui uma liberdade que não se encontra

em numa outra atividade: “aos escritores cabe o direito à conjectura intuitiva, à hipótese

artística, frequentemente descobridora e admirada pelo cientista.” (MARKIEWICZ, 2010,

p.127). O processo de fabular é apropriado para contar as experiências, transmitir e

compartilhar as emoções vividas, razão pela qual Fernando Gómez Redondo aponta que a

ficção

[…] é razão de que [em] todas as culturas primitivas ou evoluídas, em todas as

línguas [...] o ser humano tenha construído narrativas com o fim de conhecer-se,

de analisar-se, conseguir, em suma, um modelo explicativo de sua identidade e

das razões que conformam suas existências.” (GÓMEZ, 2001, p. 127).

Este autor defende que é o processo de ficcionalização que permite ao homem

expressar sua realidade, seu mundo. Nos assombrados atores do encontro cultural a que se

refere, encontrava-se a alternância entre a realidade existente e aquela que se conhece pela

voz poética:

Y no le parezca a vuestra majestad fabuloso lo que digo, pues es verdad que

todas las cosas criadas así en la tierra como en la mar, de que el dicho

Mutezuma pudiese tener conocimiento, tenían contrahechas muy al natural, así

de oro como de plata, como de pedrería y de plumas, en tanta perfección, que

casi ellas mismas parecían; de las cuales todas me dio para vuestra alteza mucha

parte, sin otras que yo le di figuradas y él las mandó hacer de oro, así como

imágenes, crucifijos, medallas, joyeles, collares y otras muchas cosas de las

nuestras, que les hice contrahacer… vi

Dessa maneira, produz-se um vaivém semântico em que o narrador envolve ao seu

receptor e o desloca de um ponto da realidade a outro coincidente na ficção. Essa

sensação de ir e vir de um plano a outro pode-se explicar, de acordo com as ideias de

Gómez, porque

[…] a ficção não é o contrário do real, mas precisamente a imagem que do real

pode-se constituir-se. É mais: a ficção é a única imagem da realidade que se

pode conhecer. Ou o que seria o mesmo; através da ficção, o indivíduo pode

pôr-se em contato com a realidade que o rodeia. (GÓMEZ, 2001, p. 128)

É por isso que os narradores indígenas, frades, soldados ou descobridores realizam

uma rica tarefa de nominação, imagética e ficção que vai construindo a imagem do

encontro entre as duas culturas:

Aquí son los peces tan disformes de los nuestros que es maravilla. Hay algunos

hechos como gallos de las más finas colores del mundo, azules, amarillos,

colorados y de todas colores, y otros pintados de mil maneras; y las colores son

tan finas que no hay hombre que no se maraville y no tome gran descanso a

verlos vii

Yo quise ir a surgir en ella para salir a tierra y ver tanta fermosura; mas era el

fondo bajo y no podía surgir salvo largo de tierra, y el viento era muy bueno

para venir a este cabo adonde yo surgí agora, al cual puse nombre Cabo

Fermoso, porque así lo es viii

Protagonistas de um episódio inesperado, tornam-se criadores da imagética que

guiará as concepções sobre as terras ao outro lado do oceano:

O globo terrestre, pensa Colombo, não é uma esfera perfeita; pelo contrário, sua

forma é a de uma pera ou de una bola que tivesse uma protuberância como um

seio de mulher cujo mamilo estaria abaixo da linha equatorial no “fim do

oriente”, diz, e é, esclarece, onde termina a terra e suas ilhas adjacentes, ou

seja, no extremo oriental da Ilha da Terra. No topo desse grande monte ou seio,

[…] em pleno oceano a uma distância de cem léguas dos Açores, se encontra o

Paraíso Terrestre […] a conclusão era óbvia: como a terra de Paria estava "no

fim de oriente", era vizinha do equador e mostrava as qualidades da região mais

nobre da Terra, e como, por outro lado, as observações celestes revelavam que a

frota havia navegado costa acima a partir do merediano marcado por aquelas

cem léguas dos Açores, parecia natural pensar que […]"Eu muito assentado

tenho no ânimo que ali, onde disse, é o paraíso terrestre.” (O´GORMAN,

1984, p. 37).

Experimentam-se novas formas de expressão, com inovadoras aproximações à

revelação da essência do objeto. Nessa época se encontram, como em toda conjuntura

histórica e sócio-filosófica–cultural, as características apontadas por Octavio Paz (1998, p.

45) para a modernidade: a confluência, a sincronia, a conjunção de tempos, de espaços

que “tendem a dissolver e a justapor as divisões do antes e depois, o anterior e o

posterior [...] o interior e o exterior” .

Com respeito às características da criação através da palavra, acertadas são as

palavras de Fernando Gómez Redondo (2001,p.129) :

É indubitável que o indivíduo somente possui limitadas certezas daquilo que crê

real; a linguagem é o único instrumento com que pode dominar esse mundo,

cheio de aparências em que vive: as palavras que se conhecem equivalem a

conceitos ou objetos de que se pode servir no processo da comunicação... as

orações de que se é capaz de organizar representam os esquemas com que se

pode transmitir determinadas idéias. Desta forma, o ser humano está condenado

a conhecer fragmentariamente a realidade, restringido pelas limitações e as

carências linguísticas que o dominam.

O processo de articulação que se efetua na ficcionalização da realidade é

complexo, e corresponde ao esquema que propõe Fernando Gómez Redondo, bem

apropriado para ilustrar esta exposição:

O processo da construção narrativa, segundo Gómez Redondo (2001, p.133).

Na figura se observa a articulação da realidade através de seu veículo de recriação:

a ficção; e igualmente se observa como por meio do processo de estruturação do discurso

ficcional se produz o vínculo com o leitor e a realidade que a este concerne, a qual lhe

permite interpretar a proposta do autor.

O que não era é… ressignifica o que existia; os objetos, os seres, a natureza se

vestem com nomes novos:

Hallaron los dos cristianos por el camino mucha gente que atravesaba a sus

pueblos, mujeres y hombres, con un tizón en la mano, hierbas para tomar sus

sahumerios que acostumbrabanix

La cual ciudad es tan grande y de tanta admiración que aunque mucho de lo que

de ella podría decir dejé, lo poco que diré creo que es casi increíble, porque es

muy mayor que Granada y muy más fuerte y de tan buenos edificios y de

mucha más gente que Granada tema al tiempo que se ganó y muy mejor

abastecida de las cosas de la tierra, que es de pan, de aves, caza, pescado de ríos

y de otras legumbres y cosas que ellos comen muy buenas. Hay en esta ciudad

un mercado en que casi cotidianamente todos los días hay en él de treinta mil

ánimas arriba, vendiendo y comprando, sin otros muchos mercadillos que hay

por la ciudad en partes. En este mercado hay todas cuantas cosas, así de

mantenimiento como de vestido y calzado, que ellos tratan y puede haber. x

Nominação, posse, invenção e mímesis

O ato de nomear implica exercer o poder sobre o nomeado, portanto envolve

coação e coerção. A nominação tem transcendência social. O fato de atribuir nomes,

adjetivos… designações favorece a taxonomia cognitiva, mas também sócio-ideológico-

cultural.

A questão da nominação conta com uma extensa tradição na filosofia da

linguagem. Esta reflexão se apoia em Thiebaut (1990, p.35) em seu estudo em que

enuncia (ao referir-se ao nome próprio) que: “com um nome damos referência a esse

alguém que, sem ele, pareceria carecer de entidade […] buscamos, de entrada, um nome

que fixe uma identidade, uma entidade, um ser-alguém.” Para este autor “nomear é […]

estabelecer a conexão semântica dessa palavra que é um nome” (THIEBAUT, 1990, p.

36) com uma realidade ou referente.

Este estudioso adverte sobre a necessária discussão com relação à “possibilidade

de que a referência não esteja corretamente estabelecida por erro ou por intenção”

(THIEBAUT, 1990, p. 36). Este é um assunto que não se discutirá neste espaço mas que

há que considerar por estar-se ante a designação unilateral efetuada por ambas as partes.

Os dominantes e os dominados nomeiam com “nomes novos” realidades que já possuíam

sua própria designação antes do olhar de outro: para uns é um novo mundo, para outros é

uma profecia cumprida. Os textos que deste encontro resultaram diz Todorov (1989, p.

60) que se aproximam mais “do verossímil que do verdadeiro”

De acordo com Thiebaut (1990, p.36), quando pretendemos saber quem somos,

inquirimos não só sobre “o nome („sou/somos‟ „x‟), mas também [acerca] de uma

identidade em um sistema prefixado de crenças ou de signos („sou „x‟ - que quer dizer a,

b, c‟)”. Nesse raciocínio, o autor destaca a função da nominação que posiciona o sujeito

nomeado não somente como oposto aos que não são como ele, mas também como

referência a outros semelhantes a ele e igualmente nomeados. Da mesma forma designa

ao indivíduo em relação com o que nessa linguagem possa ser dito. É necessário

considerar estes argumentos, porque senão só podemos conceber o mundo a partir de nós

mesmos.

E o que projetamos a partir da linguagem está de acordo “com a teoria

humboldtiana de que as línguas determinam as pautas do pensamento, ou a concepção do

mundo nas sociedades que as utilizam” (LYONS, 1980, p. 237).

Vejamos a seguir uma aplicação do antes dito:

A la primera que yo fallé puse nombre Sant Saluador, a comemoración de su

Alta Magestat, el qual marauillosamente todo esto an dado; los indios la llaman

Guanahaní. A la segunda puse nonbre la isla de Santa María de Concepción, a

la tercera, Ferrandina; a la quarta, la isla Bella, a la quinta, la isla Juana, e así a

cada una nombre nueuoxi

De acordo com Todorov (1989, p.35), Colombo se faz hermeneuta em um paraíso,

um mundo virgem em que tudo devia receber um nome justo - se já o tinha ou não

importava - e os nomes que outorgou, como se observa no exemplo, correspondem à

hierarquia que os objetos associados a esses termos tinham para um homem de seu tempo

e circunstância: “Deus, a Virgem Maria, o rei de Espanha; a rainha; a herdeira real”.

A expressão mestiça surgida na conquista e colonização mexicana.

O descobrimento, conquista e colonização do México, como se tem dito,

propiciaram uma recolocação de múltiplas questões: a filosofia, a cosmogonia, a

geografia, o direito, a religião e outras ideias tiveram que sofrer modificações radicais.

O processo de aculturação - representado pelos diversos tipos de contatos, entre os

países e povos envolvidos para impor a cultura de um deles ao outro - que se impôs ao

México foi violento. Levou à desintegração da identidade mexicana, da religião

sustentada e à imposição de instituições, sistemas de governo, e à expropriação dos

recursos naturais e humanos. Os fatos mencionados trouxeram como consequência a

sintetização dos elementos sobreviventes das culturas indígenas com aqueles que o

colonizador europeu tratava de instituir.

A proliferação de uniões entre espanhóis e índias, nas quais não houve preconceito

racial – ainda que, sim, houve nos resultados delas – trouxe como consequência a origem

de um novo homem americano: o mestiço que reunia em si não só o sangue indígena e

espanhol como também as raízes de ambas as culturas em confronto. Seu destino estava

marcado pelo impasse de orientar-se para uma das duas correntes espirituais e culturais.

Este novo homem, não sem sofrimento e desassossegos, deu-se conta de que a solução era

pertencer a ambas.

Ocorria muitas vezes que o mestiço ficava num estágio intermediário, ou seja, no

meio de ambas identidades, sem conter nenhuma das duas: é o que se poderia chamar, nas

palavras de León-Portilla nepantlismo (1976, p. 18), que produzia nesta nova raça um

estado de insegurança, de necessidade de identificação, que ainda pode perceber-se em

quem emigra de nosso país ao vizinho do norte (o culto à virgem de Guadalupe, o bigode,

as cores da bandeira e a exaltação da raça são alguns dos motivos que delatam essa

necessidade). Embora, como já disse, não existissem preconceitos raciais para as uniões

sexuais entre espanhóis e índias, os havia sim quando se referia ao lugar social que

correspondia aos mestiços naquela sociedade. León Portilla (1976, p. 118) afirma que na

consciência do mestiço estava a concepção de sua origem como resultado de uma “união

passageira, talvez com violência e não no plano da igualdade”. Esta é a motivação que

levará ao homem da nova raça a buscar em suas raízes algo que o identifique, que lhe

revele a essência de seu ser, a afirmação de sua existência. Resulta portanto, uma

urgência, a busca de sua própria expressão.

Segundo César Fernández (1984), a literatura, a partir de Colombo, poderia já

contar com elementos mestiços. Através da linguagem se empreende a busca de palavras,

termos com que expressar o que se percebe, o que se encontra, o que se observa. Tem-se

que acudir ao símile, à comparação, ao lítote, à hipérbole, à perífrase, à metonímia e à

metáfora para construir a expressão sobre a América. E ainda assim os símiles resultam às

vezes insuficientes, tanto que houve que adotar termos americanos para nomear os

objetos:

Así que mostruos no he hallado ni noticia, saluo de una ysla que es aquí en la

segunda a la entrada de las Yndias, que es poblada de una iente que tienen en

todas las yslas por muy ferozes, los qualles comen carne umana. Estos tienen

muchas canaus[canoas], con las quales corren todas las yslas de India, roban y

toman quanto pueden […] xii

O tema americano, o assunto mexicano, em vozes hispanas que fazem referência a

ele tratando de sanar as distâncias geográficas, resolvendo a diferença entre as realidades

que se tomam como referência e as que surgem ante os olhos, começa a conformar nos

europeus o imaginário sobre nossas terras… Começa o hibridismo temático-linguístico;

semântico-léxico, inicia-se a mestiçagem linguística, principia a mescla cultural.

Embora neste estudo se tenha discorrido sobre as primeiras penas europeias, é

tempo de comentar como os mestiços (alguns não o são pela raça, sim o são pela cultura,

pois se educam em colégios de padres espanhóis e escrevem suas obras em castelhano)

nobres, cultos e possuidores da língua dos vencedores ocupam-se em projetar em suas

obras esse desejo de exaltação do sangue indígena, que em seu tempo era denegrido.

Viveram situações sócio-culturais bastante singulares. Eram aceitos com reservas. Eram

aceitos seja por sua ascendência indígena nobre, ou por seu pai espanhol, mas em ambos

casos não deixavam de sofrer marginalização por sua raça, ou por sua bastardia. Basta

citar alguns exemplos:

Domingo Francisco Chimalpahin (México, 1579):Las ocho relaciones y el memorial de

Colhuacan. (México: CNCA 1998). Escrita em náhuatl.

Hernando de Alvarado Tezozómoc (México: 1520-30): (1598) Crónica Mexicana ,

escrita em castelhano e ( 1609) Crónica mexicáyotl, escrita em náhuatl.

Fernando de Alva Ixtlixóchitl (México, 1578): (1648) Historia chichimeca,

compendio histórico del reino de Texcoco,

Sumaria relación de todas las cosas que han sucedido en esta Nueva España, Relación

sucinta en forma de memorial de la Historia de la Nueva España y sus Señoríos hasta la

llegada de los españoles. Escritas en castellano.

Entretanto, não é no México onde esta escritura mestiça vai alcançar sua

maturidade, mas no Peru. É na escritura d´El Inca Garcilaso de la Vega onde encontra sua

plena realização a inauguração da literatura hispano-americana. Porque a pena desse

escritor mestiço - nascido de princesa inca e conquistador espanhol, crisol onde se fundem

o sangue americano e o espanhol - encontra sua plenitude, o uso estético do castelhano em

suas obras nas quais projeta o ideal renascentista do humanismo: o homem é um e igual.

Seu trabalho frutífero nos legou algumas obras: (1659) La florida del Inca; (1609)

Comentarios reales; (1617) Historia general del Perú. É notável como na segunda de

suas obras expressa uma sutil apologia da cultura inca e, com ela, do autóctone

americano. Realiza esta obra em castelhano, com estilo e preceptiva esmerados, dirigida

aos espanhóis. É testemunho de quem sincretizou em seu ser ambas culturas, as duas

raças, de quem encarna ao mestiço por excelência.

A Literatura Hispano-americana encontra suas raízes no assombro compartilhado.

O imaginário, o relato, o informe, o relatório encontram seu veículo de projeção nos

textos híbridos que se encontram entre a fronteira da ficção e a realidade histórica. Os

processos de aculturação e o estado de nepantlismo determinam a singularidade da

expressão estética do mestiço, pois sua necessidade de definir-se, a busca de sua

identidade e de sua expressão o levam, como a Garcilaso, a mostrar ao mundo sua mescla

cultural através da arte.

A expressão hispano-americana a partir de então se verá enriquecida com

singularidades sincréticas de ambas as etnias.Estudos mais profundos sobre estas questões

falarão posteriormente de una “cultura de vencidos” e nos revelam por que é o sincretismo

o elemento unificador da arte literária mexicana deste período.

i COLÓN. Carta de Colón a Luis de Santángel, 1493.

ii COLÓN.El diario de Colón, 1492, p. 33).

iii(http://www.filosofia.mx/index.php?/perse/archivos/la_filosofia_comienza_con_el_asombro)

iv Platão define n´O banquete o termo poiesis como «a causa que converte qualquer coisa que

consideremos de não-ser a ser». v Cf: GARCÍA Berrio, A. e J. HUERTA, J. (2006) Los géneros literarios. Sistema e historia, (Madrid:Cátedra)

cujo estudo sobre gêneros revê em detalhe esse aspecto. vi CORTÉS, Segunda Carta de Relación , 30 de octubre de 1520

vii COLÓN, El diario de Colón, 1492, p. 38

viii COLÓN, El diario de Colón, 1492, p. 41.

ix COLÓN, El diario de Colón, 1492, p. 56.

x CORTÉS, Cartas de Relación, Tlascaltecal hoy Tlaxcala, 30 de octubre de 1520.

xi COLÓN. Carta de Colón a Luis de Santángel, 1493.

xii COLÓN,Carta de Colón a Luis de Santángel, 1493.

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