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Realização:
Belém (PA), 18 a 20 de Novembro de 2015.
ISSN 2316-7637
PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA RELACIONADA A DISTRIBUIÇÃO E
QUALIDADE APARENTE DA ÁGUA FORNECIDA PELA COSANPA AO BAIRRO DO
GUAMÁ
Gabriel Borba Ferreira1; Cleyton Eduardo Costa Ferreira2; José Lucas de Souza Meireles3; Nata
Lobato da Costa4, Mateus Souza Morais5.
1Graduando em Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal do Pará.
[email protected] 2 Graduando em Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal do Pará. 3 Graduando em Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal do Pará. 4 Graduando em Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal do Pará. 5 Graduando em Engenharia Sanitária e Ambiental. Universidade Federal do Pará.
RESUMO
A cobertura de distribuição de água na Região Metropolitana de Belém é insuficiente para atender
a atual demanda. Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados acerca de uma pesquisa
de opinião pública referente a qualidade aparente da água distribuída pela Companhia de
Saneamento do Pará (COSANPA). Para isso, foi aplicado um questionário, contendo 6 perguntas,
para 60 diferentes residentes do bairro adotado como área de estudo – o Guamá, devido ser o
maior bairro de Belém. Os dados obtidos foram comparados com o atual quadro geral de
saneamento da capital paraense. Apesar das melhorias significativas, o bairro Guamá ainda sofre
pela falta de distribuição adequada de água: mais da metade dos entrevistados, 51%, enfrenta
cortes no fornecimento de água por grandes períodos, sem qualquer aviso prévio. Devido a esses
cortes imprevistos de água e ao medo de que eles aconteçam, 58% dos moradores a armazenam
em baldes, caixas d’água e cisternas. Quanto à qualidade, apenas 3% dos residentes consomem
água diretamente da torneira sem qualquer tratamento, já que 76,66% a classificaram como ruim.
Outro aspecto abordado fora a conta mensal de fornecimento de água, a qual é questionada pela
maior parte dos entrevistados. Portanto faz-se necessário a melhoria da distribuição da água,
substituição de tubulações antigas, fiscalizações para com as ligações clandestinas, reparos em
hidrômetros, para que não haja cobranças indevidas.
Palavras-chave: Água. Saneamento. Guamá.
Área de Interesse do Simpósio: Saneamento e Tratamento de Resíduos.
Realização:
Belém (PA), 18 a 20 de Novembro de 2015.
ISSN 2316-7637
1. INTRODUÇÃO
Sem dúvidas a água é o recurso essencial para a existência da maioria das formas de vida
na terra, no entanto a maioria das pessoas não dá o devido valor a este bem, como exemplo
despejo de esgoto em corpos d’água. Na região Norte não é diferente - o Instituto Trata Brasil,
responsável por divulgar anualmente o “Ranking do Saneamento”, avalia a qualidade do
saneamento nos 100 grandes munícipios do Brasil em nível populacional. O Pará possui alguns de
seus municípios nas últimas colocações: Belém (93°), Ananindeua (98°) e Santarém (99°).
A cobertura de abastecimento de água na Região Metropolitana de Belém (RMB) é
insuficiente para atender a demanda. A própria Companhia de Saneamento do Pará (COSANPA)
admite a deficiência e busca alternativas para minimizar o problema. “A gente reconhece que há
necessidade de ampliar bastante a cobertura”, diz o diretor de Expansão e Planejamento da
COSANPA, Alfredo Barros.
Atualmente a COSANPA utiliza dois tipos de captação de água. A superficial e a
subterrânea. A primeira atende parte da Região Metropolitana de Belém: vem diretamente do
Complexo Utinga, que é formado pelos lagos Bolonha e Água Preta (MATTA, 2000),
posteriormente a captação, a água é tratada na Estação de Tratamento (ETA) do Bolonha.
A segunda forma de captação são as águas subterrâneas, contudo, há um grande problema
na RMB no que tange a contaminação dos aquíferos Barreiras e Pirabas. A poluição em grande
parte se dá devido à falta de rede coletora de esgotos adequada, o que leva os moradores da RMB
a recorrerem a formas de esgotamento in situ, sendo principalmente o sistema fossa e sumidouro.
Caso sejam mal construídos, se tornam grande fonte de poluição (CABRAL, 2004; CABRAL,
2005; CABRAL, 2009).
2. METODOLOGIA
A palavra Guamá vem de um vocábulo indígena e significa rio que chove. O bairro foi
escolhido devido ser atualmente o bairro mais populoso de Belém, tendo 102.124 habitantes e
possuir baixo nível de saneamento ou inexistente em alguns pontos. A seguir é apresentado nas
tabelas 1 e 2 algumas das características do bairro em relação ao abastecimento de água e formas
de esgotamento.
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ISSN 2316-7637
Tabela 1 – Domicílios particulares permanentes e suas formas de abastecimento de água.
Rede Geral
(COSANPA)
Poço ou Nascente (na
propriedade)
Outras Total
21.192 817 129 22.138
Fonte: Adaptado de Censo IBGE (2000).
Tabela 2 – Domicílios particulares permanentes e suas formas de esgotamento sanitário.
Tipo de esgotamento Domicílios
Rede geral de esgoto ou pluvial 2.378
Fossa séptica 12.325
Fossa rudimentar 3.314
Vala 2.474
Rio, lago ou mar 591
Outro escoadouro 333
Total 21.415
Fonte: Adaptado de Censo IBGE (2000).
A pesquisa teve como objetivo descobrir a opinião dos moradores do bairro Guamá sobre
a qualidade aparente da água, satisfação e se fazem algum tipo de tratamento pré-consumo das
águas que abastecem suas casas. O questionário (Anexo I) era composto por 6 perguntas e foi
aplicado no dia 16 de junho de 2014, para 60 diferentes moradores, cada um representando um
por domicílio. Fica para registro que os entrevistadores não opinaram, induziram ou ajudaram os
entrevistados em suas respostas, objetivando a imparcialidade.
A aplicação do questionário procedeu da seguinte forma: os autores se dividiram na região
de maior movimento do bairro, proximidades do Mercado Municipal do Guamá, onde moradores
de diversas partes do bairro vão para trabalhar, comprar e etc. Foram entrevistadas 30 pessoas
pela manhã, em torno das 10 horas, e pela tarde, próximo das 16 horas, para que o horário não
interferisse no resultado. Os autores abordaram aleatoriamente transeuntes, vendedores de lojas
ali presentes e residentes do perímetro, de forma aleatória, com o cuidado de que todos os
entrevistados fossem realmente moradores do bairro e necessitando também o registro do tempo
de moradia no bairro em questão. Após essa triagem inicial, fora aplicado o questionário e
computado as respostas sem alteração alguma. Concluída a fase de coleta de dados, foi realizado
o tratamento estatístico e construção de gráficos para a melhor apresentação dos resultados.
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3. RESULTADOS
Comparado a algumas décadas atrás, a RMB teve melhoras na distribuição de água.
Contudo, apesar dos avanços, este sistema ainda enfrenta sérios problemas. A principal
dificuldade está ligada diretamente ao crescimento desordenado da população, especialmente no
bairro do Guamá, onde a urbanização não fora acompanhada pela criação de novas instalações
que busquem suprir essa demanda e pela manutenção das tubulações já existentes,
comprometendo a qualidade da água que chega às residências do bairro. Vale ressaltar que isso
não é culpa somente dos órgãos responsáveis pelo saneamento no estado, mas também aos
moradores que constroem suas residências de forma ilegal em local inapropriado para habitação.
Na figura a seguir é possível ver exemplos dessa situação.
Figura 1 - Casas em situações de risco no bairro do Guamá
Fonte: Lopes (2008)
A precipitação de ferro no sistema de distribuição de água também é outro problema
frequente, o que se dá pelas características regionais. Aproximadamente 76,66% dos moradores
entrevistados reclamaram da qualidade da água, classificando-a como ruim, principalmente
devido a sua cor aparente. A mudança na coloração ocorre devido aos sólidos dissolvidos
(SPERLING, 2014), no caso da RMB, provavelmente, se dá devido a altos níveis de ferro na
água e a tubulações antigas.
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Apesar de cor aparente ser um parâmetro que não proporciona impacto direto à saúde
humana, pode causar certo desconforto ao consumidor. Segundo Von Sperling (2014), a partir de
15 uC (unidades de cor) já é possível se notar uma coloração anormal. Os entrevistados já
vivenciaram essa experiência em suas residências. Por conta disso e por outros motivos,
aproximadamente 63% dos moradores compram água tratada (garrafão de água mineral) para
beber. No gráfico a seguir é apresentado a distribuição da água que os moradores consomem.
Gráfico 1 – Água de consumo dos moradores do bairro do Guamá.
Fonte: Autores (2014)
Cerca de 34% dos entrevistados fazem algum tipo de tratamento antes de consumir a
água, isso significa desconfiança por parte deles no que diz respeito à qualidade. Em contraste,
somente 3% dos entrevistados bebem a água proveniente da torneira. Em relação a falta de água,
obteve-se que 51% dos moradores sofrem com falta de água constantes em suas casas e é
necessário terem formas alternativas para não passarem necessidades devido à ausência. No
gráfico a seguir é apresentado a forma de armazenamento de água dos moradores.
Gráfico 2 - Armazenamento de água dos moradores do bairro do Guamá.
3%
22%
5%
63%
7% Direto da torneira
Filtrada
Fervida
Já tratada
Coada
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Fonte: Autores (2014)
O gráfico ilustra que um amplo número dos entrevistados, 58%, armazena água, seja
proveniente da COSANPA ou da chuva, uma vez que a região metropolitana é possuí por altos
índices pluviométricos.
Em relação à conta de água, foi relatado um processo judicial, o qual perdura há cinco
anos, para o não pagamento de mensalidade devido às péssimas condições que a água é destinada
às residências. Por último, foram coletadas denúncias de que lava jatos e certos moradores
estariam fazendo ligações clandestinas na tubulação, o que também influencia na conta mensal de
água e que contribui para a qualidade ruim do recurso hídrico que chega aos demais domicílios.
Cerca de 76,76% dos entrevistados apresentaram a conscientização ambiental necessária
para evitar o desperdício de água, evidenciando assim o sucesso de projetos relacionados a
educação ambiental. Além da contribuição ao meio ambiente, evitar o desperdício contribui
também para a economia da mensalidade de água. A imagem a seguir aborda os valores
referentes a conta mensal de água.
Gráfico 3 – Mensalidade pelo consumo de água no bairro do Guamá.
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Fonte: Autores (2014)
Observa-se que somente 10% dos entrevistados pagam acima de 75 reais por mês, o que é
considerado muito para um bairro relativamente carente economicamente. Nota-se também que
5% dos opinantes se isentam do pagamento da conta de água por possuírem poços em suas
residências. No entanto, o valor é compensado na conta de luz, pois os poços mencionados
exigem utilização de bombas hidráulicas. A maioria dos moradores procurados relataram achar
abusivas as tarifas cobradas pela COSANPA em decorrência do serviço de má qualidade acusado
por eles. Foi mencionado também que a COSANPA nunca fez a manutenção regular dos
hidrômetros e que ela mal investigou, até o momento da pesquisa, as ligações ilegais realizadas
por alguns moradores e lava-jatos.
4. CONCLUSÃO
Historicamente, o abastecimento de água da Região Metropolitana de Belém era
diferenciado quanto à questão social, pois os mais ricos, habitantes dos bairros mais nobres,
possuíam água de melhor qualidade, enquanto que os mais desfavorecidos tinham péssimas
condições de qualidade da água. No decorrer das décadas, foram significativos os avanços na
distribuição da água na Região Metropolitana de Belém. Entretanto, apesar destes progressos, a
qualidade da água que chega às residências é, na maioria dos casos, de má qualidade. Este fato é
explicado pelas tubulações, que são muito antigas; além disso, a população cresceu
desordenadamente e fez ligações clandestinas em várias tubulações, o que também contribui para
a má qualidade do recurso hídrico que chega às suas casas.
25%
40%
20%
10%
5%
Abaixo de 25 reais
25 - 50 reais
50 - 75 reais
Acima de 75 reais
Não paga
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Os moradores do bairro do Guamá não estão satisfeitos com a qualidade da água que
recebem, alegando que possuí cor, cheiro e gosto, levando-os a fazerem algum tipo de tratamento
antes da ingestão ou até mesmo comprar água em garrafões. Além disso reclamam com as
constantes faltas e preços abusivos para uma água com qualidade duvidosa, e falta de fiscalização
para com os outros moradores que fazem ligações clandestinas.
Para que a água fornecida à população possua uma melhor qualidade é necessária a
realização, pelo poder público e COSANPA, de projetos de infraestrutura, no que concerne aos
encanamentos que transportam esse recurso hídrico dos pontos de abastecimento às residências.
Assim, o serviço de tratamento da água realizado por essa companhia será mais bem reconhecido
e a população terá uma melhor qualidade de vida.
Um sistema de tratamento de água de abastecimento deverá fazer face aos problemas
associados à qualidade da água captada, produzindo uma água de acordo com a Portaria N° 2.914
de 2011, que dispõem sobre o padrão de potabilidade para o consumo humano. Assim, é possível
abastecer uma água de qualidade aceitável e apropriada para consumo humano, bem como evitar
riscos para a saúde pública. O que, baseado na nossa pesquisa, ainda não encontramos no bairro
do Guamá.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Ministério da Saúde (MS), Portaria n° 2.914, de 12 de novembro de 2011.
CABRAL, N. M. T. Comportamento dos Indicadores de Contaminação por Efluentes
Domésticos nas águas do Aquífero Barreiras nos Bairros do Reduto, Nazaré e Umarizal,
Belém-Pa. In: Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas, XII, 2004, São Paulo.
CABRAL, N. M. T., ABREU, F. de A. M. de, STEIN, P. Comportamento do nitrato amônio e
de dos outros parâmetros físico-químicos em água de poço tubular e de monitoramento no
bairro do Umarizal em Belém/Pa. In: I Congresso Internacional de Meio Ambiente
Subterrâneo, São Paulo, 2009.
CABRAL, N. M. T.; LIMA, L; M. Qualidade da Água do Aquífero Barreiras em Bairros de
Belém/Pa. In: Águas Subterrâneas, v. 19, n. 2, p. 37-53, 2005.
COSANPA – Companhia de Saneamento do Pará. A Limpeza do Lago Bolonha se Aproxima
do Final. http://www.cosanpa.pa.gov.br/index.php/cosanpa/artigos/366-limpeza-do-lago-
bolonha-se-aproxima-da-fase-final. Acessado em 25 de junho de 2014.
Realização:
Belém (PA), 18 a 20 de Novembro de 2015.
ISSN 2316-7637
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Informações do Bairro do Guamá. 2000.
http://www.belem.pa.gov.br/segep/download/mapas/bairros/Guama.htm. Acessado em 20 de
junho de 2014.
MATTA, A. da S.; COSTA, F. R. da; MORAES, M. C. da S. Águas Superficiais e
Subterrâneas da Região Oeste da Cidade de Belém/Pa. In: XI Congresso Brasileiro de Águas
Subterrâneas, São Paulo, Brasil. 2000.
LOPES, R. M. Assentamento Precário na Bacia do Igarapé Tucunduba. 2008.
http://www.panoramio.com/photo/9678120. Acessado em 27 de setembro de 2015.
SPERLING, M. V. Introdução da Qualidade das Águas e ao Tratamento dos Esgotos. 4ª
Edição. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014. Volume 1.
Instituto Trata Brasil. Ranking do Saneamento. 2015. http://tratabrasil.org.br/ranking-do-
saneamento-2015. Acessado em 01 de outubro de 2015.
OLIVEIRA, Maria; SOUZA, Paulo; FERREIRA, Marco Antonio; BARRETO, Priscila;
FERREIRA, Aylce; ABREU, José Raimundo. Climatologia e índice de conforto térmico em
Belém-PA. http://www.cbmet.com/cbm-files/22-45b3c0adb5fe52335ef3ac847597a397.doc. Acessado
em 04 de outubro de 2015.
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ANEXO I
QUESTIONÁRIO
Idade: ______ anos
Tempo no local: _____ anos
1- Em seu bairro ou em sua casa falta água com frequência?
( ) Sim ( ) Não
2- Como você conserva água dentro de casa?
( ) Cisterna ( ) Caixa d’água ( ) Balde ( ) Não conserva
3- Como você avalia a qualidade da água que chega até sua casa?
( ) Boa ( ) Regular ( ) Ruim
4- De onde provém a água que você bebe?
( ) Direto da torneira ( ) Filtrada antes de beber ( ) Fervida antes de beber ( ) Compra água já
tratada
5- Você se preocupa em não desperdiçar água?
( ) Sim ( ) Não
6- Quanto você paga por mês pela água?
( ) Abaixo de 25 reais ( ) 25 – 50 reais ( ) 50 – 75 reais ( ) Acima de 75 reais