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0 UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA PAULO CÉSAR LINCK PROVA BRASIL DE MATEMÁTICA: ANÁLISE DE DESEMPENHO DE MUNICÍPIOS GAÚCHOS SÃO LEOPOLDO 2009

Ranking escolas prova brasil

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

PAULO CÉSAR LINCK

PROVA BRASIL DE MATEMÁTICA: ANÁLISE DE

DESEMPENHO DE MUNICÍPIOS GAÚCHOS

SÃO LEOPOLDO

2009

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Paulo César Linck

PROVA BRASIL DE MATEMÁTICA: ANÁLISE DE

DESEMPENHO DE MUNICÍPIOS GAÚCHOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como

requisito parcial para a obtenção do título de

Licenciado em Matemática pelo Curso de

Licenciatura em Matemática da Universidade do

Vale do Rio dos Sinos

Orientadora: Professora Carla C.W. Chamorro

São Leopoldo

2009

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RESUMO

A pesquisa tem como objetivo observar alguns possíveis fatores que levaram quatro

municípios gaúchos a obterem maiores e menores índices de desempenho na Prova Brasil de

Matemática da 8ª série do Ensino Fundamental no ano de 2007. A partir de visitas realizadas

nestes municípios, bem como de entrevistas desenvolvidas com professores apontam-se dados

relevantes para a análise. Destaca–se, inicialmente, a estrutura, a economia e a localização

geográfica dos municípios em que estão localizadas as escolas. Verifica-se as condições de

ensino de quatro escolas, em relação a sua estrutura física, administrativa e pedagógica.

Observam-se e analisam-se algumas das ações desenvolvidas por alunos e professores de

Matemática, no processo de ensino e aprendizagem. Constata-se que todas as escolas dispõem

de recursos materiais diversificados e boa estrutura física. No entanto, os municípios que

registram maiores índices de desempenho investem mais na formação continuada dos

profissionais da educação. Nos municípios com baixo índice de desempenho, o número de

alunos repetentes é expressivo. Nestes municípios há poucos investimentos em cursos de

aperfeiçoamento do corpo docente. Além disto, os alunos não demonstram perspectivas em

relação a uma melhor qualidade de vida.

Palavras – chave: Avaliação externa. Prova Brasil de Matemática. Ensino e

aprendizagem.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 4

2 AVALIAÇÃO EXTERNA: PRINCÍPIOS E AÇÕES QUE NORTEIAM A

EDUCAÇÃO BRASILEIRA ................................................................................................... 7

2.1 SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO BÁSICA - SAEB ........................................... 7

2.2 PROVA BRASIL ............................................................................................................... 11

3 CONHECENDO AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE MUNICÍPIOS GAÚCHOS . 16

3.1 MUNICÍPIOS COM ALTO ÍNDICE DE DESEMPENHO NA PROVA BRASIL DE

MATEMÁTICA ....................................................................................................................... 18

3.1.1 Município de Tupandi ................................................................................................... 18

3.1.2 Município de Pareci Novo ............................................................................................. 24

3.2 MUNICÍPIOS COM BAIXO ÍNDICE DE DESEMPENHO NA PROVA BRASIL DE

MATEMÁTICA ....................................................................................................................... 28

3.2.1 Município de São José dos Ausentes ............................................................................ 28

3.2.2 Município de Pinhal da Serra ....................................................................................... 34

4 ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................... 40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 46

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 48

ANEXOS ................................................................................................................................. 51

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1 INTRODUÇÃO

O Sistema Nacional de Avaliação Básica (SAEB) é um instrumento de avaliação

externa desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio

Teixeira (INEP), juntamente com o Ministério da Educação (MEC), na intenção de auxiliar

governantes e profissionais da educação no direcionamento das ações pedagógicas que

propiciem melhorias na qualidade de ensino. Além do SAEB também é aplicada, a cada dois

anos, a Prova Brasil, um instrumento de medida das competências básicas aplicado em quase

todas as escolas públicas brasileiras localizadas em perímetro urbano.

Os resultados destas avaliações são divulgados a toda a sociedade, com o apoio da

mídia. Por meio da imprensa televisiva, radiofônica e escrita os diferentes segmentos da

comunidade escolar têm acesso aos resultados de desempenho de todas as escolas

participantes deste processo avaliativo. Neste cenário, a partir dos resultados da avaliação

realizada em 2007, por meio da Prova Brasil, a mídia destaca o ranking nacional de

desempenho dos municípios. No Rio Grande do Sul, jornais de circulação estadual, como a

Zero Hora, sustentada nestes dados publicam artigos com destaques como “RS retrocede em

ranking do ensino” e “Avaliar o quê?”.

Estas manchetes produzem questionamentos tanto pela comunidade escolar quanto

pela sociedade em geral, sobre possíveis fatores que possam contribuir no desempenho dos

alunos, na realização da prova bem como na validade deste instrumento de avaliação no

processo de qualificação da Educação Básica.

Paralela a esta reflexão inicial, cabe destacar que no primeiro semestre de 2009, nas

aulas de Estágio Supervisionado do Ensino Fundamental, uma Atividade Acadêmica do Curso

de Licenciatura em Matemática, a professora propôs um trabalho de pesquisa sobre o Sistema

de Avaliação da Educação Básica, desenvolvido pelo Ministério da Educação. Essa pesquisa

tinha como objetivo juntar informações sobre as avaliações externas, definições, objetivos,

formas de avaliação e análise dos resultados.

Ao acessar o site do INEP , tomei conhecimento das diretrizes que orientam o sistema

de avaliação externa em larga escala, envolvendo todas as escolas públicas brasileiras. Após

uma breve análise dos resultados informados no site sobre o desempenho das escolas,

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municípios e estados, a partir de um exercício de comparação, destaquei algumas hipóteses

iniciais sobre a posição de algumas cidades no ranking dos municípios gaúchos. Percebi que

as cidades com maior número de habitantes e com mais recursos orçamentários tinham suas

notas baixas, comparando-as com os índices nacionais, enquanto que cidades pequenas,

localizadas no interior do Estado e com pouca arrecadação, estavam em melhor classificação.

A partir desta constatação inicial, senti-me motivado e instigado a consultar alguns

referenciais teóricos que analisam os resultados da Prova Brasil. Nesta revisão de literatura

encontrei artigos que esboçam tentativas de análise e compreensão dos dados apontados,

principalmente em relação aos baixos índices produzidos nas capitais dos estados brasileiros e

regiões metropolitanas.

Como estudante do Curso de Licenciatura em Matemática, da Universidade do Vale

do Rio dos Sinos (UNISINOS), amparado no desejo de ser professor, nasce a pergunta inicial

da ação investigativa: Que fatores podem influenciar/contribuir nos índices de desempenho de

municípios do Rio Grande do Sul em relação à Prova Brasil de Matemática?

Neste contexto, o presente trabalho tem como objetivo analisar os resultados da Prova

Brasil 2007 na área de conhecimento da Matemática, envolvendo alunos de 8ª séries do

Ensino Fundamental, de municípios gaúchos. A partir desta análise, pretende-se identificar

fatores que possam contribuir nos resultados desta avaliação. A Prova Brasil é um

instrumento de avaliação externa desenvolvido pelo INEP, em parceria com o Ministério da

Educação. Este instrumento de avaliação integra um conjunto de ações desenvolvidas pelo

Estado, na intenção de verificar a garantia do direito à educação a todo cidadão brasileiro.

Pelo exposto, destaca-se a Prova Brasil como o objeto de estudo desta pesquisa.

Desta forma, o presente trabalho está organizado em quatro capítulos: o primeiro teça

algumas reflexões acerca do processo de avaliação externa, expondo as diretrizes do INEP

sobre o desenvolvimento de ações que integram o sistema nacional de avaliação externa em

larga escala, com ênfase ao Sistema de Avaliação da Educação Básica e à Prova Brasil. No

segundo capítulo, traçam-se caminhos metodológicos que auxiliam no levantamento e análise

dos dados. Assim, inicialmente, é organizado um quadro comparativo dos resultados da Prova

Brasil, aplicada em 2005 e 2007, nas 8ª séries das escolas públicas dos municípios gaúchos,

juntamente com informações sócio econômico e cultural destas cidades. A partir daí,

seleciona-se municípios que mais se destacaram positivamente e negativamente, ou seja, com

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maiores e menores índices de desempenho. Também é apresentada neste capítulo, a parte

empírica da pesquisa que foi desenvolvida por meio de visitas às escolas localizadas nos

municípios selecionados, realização de entrevistas com a Secretária Municipal de Educação,

equipe diretiva, professores e alunos, na tentativa de perceber os fatores que podem contribuir

nos resultados de desempenho dos testes de Matemática da Prova Brasil. No capítulo três,

destaca-se a análise dos dados sob as lentes de um referencial teórico, esboçando hipóteses

provisórias sobre os resultados obtidos pelos municípios participantes da pesquisa, na Prova

Brasil. Encerra-se o trabalho com as considerações finais.

7

2 AVALIAÇÃO EXTERNA: PRINCÍPIOS E AÇÕES QUE NORTEIAM A

EDUCAÇÃO BRASILEIRA

A avaliação externa como uma abordagem da avaliação educacional em larga escala,

geralmente destaca-se por iniciativas governamentais com o objetivo de reunir dados e

informações sobre o nível de aprendizagem dos alunos na pretensão de definir políticas de

educação. Este modelo de avaliação vem sendo desenvolvido em vários países, por meio da

aplicação de exames a alunos da Escola Básica. De acordo com Klein & Fontanive (2002), “a

avaliação em larga escala não tem a função de selecionar, aprovar ou reprovar os alunos, mas

de identificar os níveis de aprendizagem de uma determinada população”. Nesta perspectiva,

o presente capítulo destaca duas ações desenvolvidas pelo Ministério da Educação, por

intermédio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira, ou seja, o SAEB e a

Prova Brasil.

2.1 SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO BÁSICA – SAEB

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 (art.9º, inc. VI), atribui

à União a responsabilidade de avaliar a educação nacional para “assegurar o processo

nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em

colaboração com os sistemas de ensino”. (BRASIL, 1996). Pelo exposto, cabe à União

assegurar o processo de avaliação em âmbito nacional, em colaboração com os demais

sistemas, podendo esses implantar também seu sistema de avaliação das escolas. Amparado

na legislação, e “[...] induzido pelas discussões com o Banco Mundial sobre o novo

empréstimo a ser obtido para a Educação Básica”. (NETO E ROSENBERG, 1995, p.24) a

partir de 1988, o Ministério da Educação, inicia no Brasil o processo de implantação do

Sistema Nacional de Avaliação Básica (SAEB).

Os autores destacam que, na época, para o gerenciamento do sistema, foi formada uma

equipe de profissionais de educação para elaboração dos testes por intermédio da Fundação

Carlos Chagas. A aplicação piloto se deu no mesmo ano nos estados do Rio Grande do Norte

e Paraná. Após esta primeira experiência os testes e questionários foram reformulados, sendo

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aplicados a partir de 1990, sob a coordenação do Ministério da Educação.

Em 2005, a partir da Portaria n.º 931, de 21 de março, o SAEB foi estruturado em dois

processos: a Avaliação Nacional da Educação Básica - ANEB e a Avaliação Nacional do

Rendimento Escolar - ANRESC. A ANEB é realizada por amostragem das redes de ensino,

em cada unidade da Federação e tem foco nas gestões dos sistemas educacionais. Por manter

as mesmas características, a ANEB recebe o nome de SAEB em suas divulgações; já a

ANRESC por ser uma avaliação mais extensa e detalhada que a ANEB e ter foco em cada

unidade escolar e por seu caráter universal, recebe o nome de Prova Brasil.

Cabe destacar que, em 1995, o SAEB passou por uma reestruturação metodológica

que possibilitou a comparação dos desempenhos ao longo dos anos. Assim, desde a sua

primeira avaliação, fornece dados sobre a qualidade dos diferentes sistemas educacionais do

Brasil, das suas regiões geográficas e das unidades federadas (Estados e Distrito Federal).

Atualmente, o SAEB é aplicado a cada dois anos e avalia uma amostra representativa

dos alunos regularmente matriculados nas 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 3º ano do

Ensino Médio, de escolas públicas. A participação das escolas no SAEB é voluntária, ou seja,

é feito sorteio das instituições de ensino que irão participar da avaliação. Já a adesão à Prova

Brasil, é realizada pelas secretarias estaduais e municipais de educação. Ao aderir ao sistema

de avaliação externa em larga escala, todos os alunos das séries que participam da avaliação

realizam a prova. Neste contexto, o Ministério da Educação ressalta que o comprometimento

dos participantes é fundamental para a qualidade dos resultados apurados, considerando que

estes dados integram a planilha de cálculos do Índice de Desenvolvimento da Educação

Básica1.

De acordo com o INEP, tanto o SAEB quanto à Prova Brasil são avaliações que

constituem um diagnóstico em larga escala, que objetivam avaliar a qualidade do ensino

oferecido pelo sistema educacional brasileiro a partir de testes padronizados, nos quais os

estudantes respondem a questões de Língua Portuguesa, com foco em leitura, e Matemática,

com foco na resolução de problemas e questionários socioeconômicos, em que os estudantes

fornecem informações sobre fatores do contexto escolar que podem estar associados ao

desempenho. Logo após a realização dos testes, os alunos respondem ao questionário

socioeconômico e cultural, com 47 questões, na intenção de descrever o perfil dos estudantes

1 IDEB: indicador educacional que relaciona de forma positiva informações de rendimento escolar

(aprovação) e desempenho (proficiências) em exames padronizados, como a Prova Brasil e o SAEB.

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envolvidos no processo de avaliação externa (Anexo A). Professores de Língua Portuguesa e

Matemática das séries avaliadas, além dos diretores das escolas, também respondem

questionários que, de acordo com o INEP possibilitam conhecer a formação profissional,

práticas pedagógicas, estilos de liderança e formas de gestão. Os questionários destinados aos

professores e diretores são entregues pelos professores aplicadores antes da realização dos

testes pelos alunos e devem ser recolhidos ao final da prova. São coletadas, ainda,

informações sobre o clima acadêmico da escola, clima disciplinar, recursos pedagógicos

disponíveis, infra-estrutura e recursos humanos. Na mesma ocasião, é preenchido pelos

aplicadores dos testes um formulário sobre as condições de infra-estrutura das escolas que

participam da avaliação. De posse desses dados, é possível o estudo dos fatores associados ao

desempenho dos alunos.

Devido à metodologia adotada na construção e na aplicação dos seus testes este

sistema de avaliação externa avalia redes ou sistemas de ensino, sem ter a pretensão de avaliar

os alunos individualmente. Os resultados são produzidos a partir da aferição das habilidades e

competências propostas nos currículos escolares, que por sua vez, sustentam-se nos

Parâmetros Curriculares Nacionais. O fato de que os currículos são muito extensos e um aluno

pode não responder a todas as questões previstas, em uma única prova, é levado em conta. Por

essa razão, os resultados não refletem a porcentagem de acertos correspondentes ao

desempenho de apenas um aluno, mas a de um conjunto de alunos. Como cada grupo de

alunos representa uma unidade dentro do sistema de ensino, por exemplo, uma escola ou uma

rede, tem-se o resultado para cada unidade prevista e não para os alunos individualmente.

Os resultados de desempenho são quantificados de zero a dez, como os tradicionais

instrumentos de avaliação cujas notas refletem o volume de questões que o estudante acerta.

Para compreender e interpretar os resultados desta avaliação em larga escala deve-se partir do

pressuposto que os testes do SAEB são construídos metodologicamente para avaliar sistemas

de ensino, e não alunos. Assim, as médias são apresentadas em uma escala de desempenho na

intenção de descrever, em cada nível, as competências e as habilidades que os estudantes

desses sistemas demonstram terem desenvolvido. Há uma escala descritiva que contempla as

habilidades em Língua Portuguesa e outra, as de Matemática.

Em Matemática, a média 239,38 (média nacional para a 8ª série da rede urbana) indica

que o estudante consegue, entre outras ações, localizar dados em tabelas mais complexas,

identificar gráfico de colunas correspondentes a números positivos e negativos, converter

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medidas de massa e calcular o perímetro e área de figuras. Alunos com essa média também

têm contempladas as competências descritas em níveis mais baixos da escala do SAEB, como

a de calcular resultados de subtrações complexas, identificar horas em relógios de ponteiros e

digital, estimar medida de comprimento usando unidades não-convencionais e reconhecer a

decomposição em dezenas e unidades de números naturais.

Dentro de cada uma das disciplinas, a escala é única e cumulativa, para todas as séries

avaliadas – a lógica é a de que quanto mais o estudante avança na escala, mais habilidades

terá acumulado. Portanto, é esperado que alunos da 4ª série alcancem médias numéricas

menores que os de 8ª série e estes alcancem médias menores que as alcançadas pelos alunos

de 3º ano do Ensino Médio.

De acordo com informações obtidas no site do INEP (2009):

A partir das informações do SAEB, o MEC e as secretarias estaduais e municipais

de educação podem definir ações voltadas ao aprimoramento da qualidade da

educação no país e a redução das desigualdades existentes, promovendo, por

exemplo, a correção de distorções e debilidades identificadas e direcionando seus

recursos técnicos e financeiros para áreas identificadas como prioritárias. As médias

de desempenho nessas avaliações também subsidiam o cálculo do Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), ao lado das taxas de aprovação

nessas esferas. Além disto, os dados também estão disponíveis a toda a sociedade

que, a partir dos resultados, pode acompanhar as políticas implementadas pelas

diferentes esferas de governo.

Neste contexto, cada nível da escala apresenta as habilidades que os alunos

desenvolveram. Com base na média de desempenho e distribuição dos alunos de cada rede ou

escola nesta escala, os sistemas de ensino podem comparar seus resultados com seus próprios

objetivos, observando, por exemplo, até que nível as habilidades que foram planejadas para

serem trabalhadas com seus alunos foram alcançados.

O SAEB investiga a eficiência da qualidade das condições de aprendizagem

disponibilizadas pelo sistema educacional, mas também se preocupa em olhar sobre a

equidade.

De acordo com Pestana (1998, p.66-7):

[...] a equidade se refere à forma como a qualidade está sendo alcançada no espaço

brasileiro enquanto que a eficiência relaciona-se à constatação sobre a existência de

maneiras melhores de se obter qualidade na educação – ao observar como estas

condições da escolarização se distribuem em função da origem social dos alunos.

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Por esta razão o Ministério da Educação argumenta que:

[...] a identificação das condições de oferta permite a implementação de políticas de

focalização que assegurem maior simetria aos cidadãos, da mesma forma que a

identificação de resultados diferenciados sob a oferta de condições semelhantes

permite investigar as razões da diferenciação e a proposição de alternativas de ação

visando à democratização do direito à educação de qualidade. (MEC, 2009)

Pelo exposto, de acordo com o INEP, os dados obtidos pelo SAEB revelam que a

qualidade do ensino oferecido para a maioria das crianças brasileiras é baixa e que a escola

consequentemente não apresenta boas condições para a aprendizagem de conhecimentos

básicos. Por esta razão, as possibilidades do SAEB contribuir para a melhoria da qualidade da

educação nacional relacionam-se ao compromisso e envolvimento de governos, profissionais,

acadêmicos, técnicos e a sociedade em geral. A análise dos resultados do SAEB pode

contribuir no levantamento de subsídios, pelos sistemas de ensino, para diagnosticar e tomar

decisões frente à necessidade de mudanças nas políticas educacionais. Para tanto, é

fundamental a compreensão dos administradores, o compromisso das instituições acadêmicas

com os propósitos da avaliação, a negociação e o consenso com os interessados no que se

refere às medidas adotadas e o envolvimento e participação da sociedade como um todo.

2.2 PROVA BRASIL

A Prova Brasil foi criada em 2005, a partir da necessidade de se perceber mais

subsídios sobre o nível de aprendizagem abordado nas escolas, em complemento à avaliação

já feita pelo SAEB. Ou seja, “[...] a Prova Brasil é censitária. Por esta razão, expande o

alcance dos resultados, porque oferece dados não apenas para o Brasil e unidades da

Federação, mas também para cada município e escola participante”. (INEP, 2009). A primeira

edição da Prova Brasil foi realizada em 2005, a segunda, em 2007, onde foram avaliados

cerca de 5.400 municípios, 41 mil escolas, 160 mil turmas e 4,5 milhões de alunos. Já a

edição de 2009 foi aplicada entre os dias 9 e 27 do mês de novembro, destacando-se que a

partir do próximo ano, a prova será anual, de acordo com informações divulgadas pelo

Ministério da Educação.

O objetivo da Prova Brasil é avaliar em todas as escolas com mais de 20 alunos por

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turma, os alunos de 4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental, da rede pública urbana de ensino e

divulgar, em âmbito nacional, os resultados destas avaliações. Os educandos são avaliados nas

áreas de Língua Portuguesa e Matemática, cada qual com seu nível de conteúdos. Para cada

disciplina, especialistas elaboram questões que envolvem a interpretação e o raciocínio lógico.

A Prova Brasil possui como objetivo maior, “[...] a sistematização da informação que permita

ao estudante a possibilidade de demonstrar suas competências cognitivas desenvolvidas e

aprimoradas ao longo dos anos escolares”. (INEP, 2009)

Os testes são de múltipla escolha com 26 questões que são formuladas a partir de uma

Matriz de Referência que destaca o referencial curricular do que será avaliado em cada

disciplina e série, enfatizando as competências e habilidades esperadas dos alunos.

Nas concepções de Nery (2000, p.17):

Toda Matriz Curricular representa uma operacionalização das propostas ou guias

curriculares, que não pode deixar de ser considerada, mesmo que não a

confundamos com procedimentos, estratégias de ensino ou orientações

metodológicas e nem com conteúdo para o desenvolvimento do trabalho do

professor em sala de aula.

A matriz de referência que norteia os testes da Prova Brasil de Matemática está

estruturada sobre o foco “Resolução de Problemas”. Essa opção traz “[...] implícita a

convicção de que o conhecimento matemático ganha significado, quando os alunos têm

situações desafiadoras para resolver e trabalham para desenvolver estratégias de resolução.”

(MEC, 2009)

Neste contexto, a Prova Brasil não destaca sugestões de como se pode trabalhar em

sala de aula, porém enfatiza habilidades e competências básicas que precisam ser

desenvolvidas no Ensino Fundamental, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais.

Assim, a matriz de referência dos testes de Matemática não envolve habilidades

relacionadas a conhecimentos e a procedimentos que não possam ser objetivamente

verificados. Ela está subdividida em tópicos ou temas e estes, em descritores. Cada descritor é

uma associação entre conteúdos curriculares e operações mentais desenvolvidas pelos alunos

que traduzem certas competências e habilidades. De acordo com o INEP, os descritores

especificam no que cada habilidade implica e são utilizados como base para a construção dos

itens de testes, contemplando todos os temas que compõem a matriz de referência. Ou seja,

cada descritor dá origem a diferentes itens e, a partir das respostas dadas a eles, verifica-se

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quais habilidades os alunos efetivamente desenvolveram. A matriz de referência de

Matemática da Prova Brasil está estruturada em duas dimensões. Na primeira dimensão

intitulada “objeto de conhecimento” está relacionados quatro temas centrais: Espaço e Forma,

Grandezas e Medidas, Números e Operações/Álgebra e Funções e Tratamento da Informação.

Cabe destacar que estes temas encontram-se elencados nos Parâmetros Curriculares Nacionais

de Matemática (1997) . A segunda dimensão da matriz de Matemática aborda as

competências a serem desenvolvidas pelos alunos. Neste cenário, são elaborados descritores

para cada um dos quatro temas abordados anteriormente. (Anexo B)

Os descritores indicam uma determinada habilidade que deve ter sido desenvolvida no

período de permanência do aluno na escola, considerando a sua série e ou ano de frequência.

Para cada descritor são elaboradas questões que posteriormente, serão resolvidas pelos alunos.

Para uma melhor visualização e compreensão, destaca-se a seguir, aleatoriamente, dois

dos vinte e seis descritores que compõem a Matriz de Referência de Matemática da 8ª série da

Prova Brasil, referentes ao tema I – Espaço e Forma e ao tema III - Número e Operações/

Álgebra e Funções. As habilidades propostas em cada descritor são avaliadas por meio de

situações-problemas, conforme exemplos extraídos do Caderno de Orientações “PDE/Prova

Brasil – 2009”, disponível no site do INEP.

Tema I: Espaço e Forma

Descritor 1 – Identificar a localização/movimentação de objeto em mapas, croquis e

outras representações gráficas.

Com este descritor, o que se pretende avaliar? A habilidade de o aluno localizar-se

ou movimentar-se a partir de um ponto referencial em mapas, croquis ou outras

representações gráficas, utilizando um comando ou uma combinação de comandos:

esquerda, direita, giro, acima, abaixo, na frente, atrás etc.

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Tema III – Número e Operações/Álgebra e Funções

Descritor 17 – Identificar a localização de números racionais na reta numérica

Com este descritor, o que se pretende avaliar? A habilidade de o aluno localizar

números racionais na reta representativa do conjunto Q, reconhecendo que entre dois números

racionais existem infinitos outros racionais.

Figura 2: Tema III, descritor 17, extraído do Caderno de Orientações “PDE/Prova Brasil -2009”

De acordo com o INEP, estes itens podem revelar “[...] a condição em que os

estudantes se situam em relação à construção das competências matemáticas reunidas no foco

da resolução de problemas”. Este órgão governamental ainda enfatiza que por meio da análise

dos resultados obtidos no desempenho dos alunos em cada item, constatam-se as

competências que já foram construídas, bem como aquelas que estão em processo de

Exemplo de item: A figura abaixo ilustra as localizações de alguns pontos no plano. João sai do

ponto X, anda 20 m para a direita, 30 m para cima, 40 m para a direita e 10 m para baixo.

Ao final do trajeto, João estará no ponto:

(A) A. (B) B. (C) C. (D) D.

Exemplo de item:

A figura abaixo mostra os pontos P e Q que correspondem a números racionais e foram

posicionados na reta numerada do conjunto dos racionais.

Os valores atribuídos a P e Q, conforme suas posições na reta numérica abaixo são:

(A) P = -0,2 e Q = -0,3.

(B) P = -0,3 e Q = -0,2.

(C) P = -0,6 e Q = -0,7.

(D) P = -0,7 e Q = -0,6.

Figura 1: Tema I, Descritor 1, extraído do Caderno de Orientações “PDE/Prova Brasil – 2009”

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construção. Desta forma, o professor terá subsídios para desenvolver um exercício de reflexão

da sua prática em sala de aula, na intenção de qualificá-la.

No próximo capítulo, apresento a parte empírica da pesquisa, ou seja, os municípios

que visitei, com o objetivo de perceber possíveis fatores que podem contribuir no desempenho

dos alunos de 8ª série do Ensino Fundamental na Prova Brasil de Matemática.

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3 CONHECENDO AS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO DE MUNICÍPIOS GAÚCHOS

Neste capítulo destaco a parte empírica da pesquisa. Inicialmente, apresento os

municípios de Tupandi e Pareci Novo, que no ranking dos municípios do Rio Grande do Sul,

de acordo com os dados divulgados pelo INEP referentes à Prova Brasil de 2007, posicionam-

se entre os primeiros colocados em desempenho nos testes de Matemática, de 8ª série do

Ensino Fundamental. Na sequência, teço informações sobre o município de São José dos

Ausentes e Pinhal da Serra, os quais obtiveram um baixo índice de desempenho nesta mesma

área de conhecimentos. (Anexo C)

Assim, desenvolvi uma pesquisa de abordagem qualitativa, tendo em vista o propósito

de compreender “[...] e retratar a realidade de forma profunda e mais completa possível,

enfatizando a interpretação ou a análise do objeto, no contexto em que ele se encontra, mas

não permite a manipulação das variáveis e não favorece a generalização.” (FIORENTINI,

2006, p.110). Desta forma, no trabalho de campo visitei cada um dos municípios citados

anteriormente, realizando entrevistas com profissionais da educação, conhecendo a estrutura

física e pedagógica das escolas que participaram da Prova Brasil de 2007, coletando

informações sobre os investimentos realizados pela municipalidade na área da educação.

Neste contexto, o diário de campo auxiliou-me no levantamento das informações, bem como

o registro fotográfico dos diferentes espaços visitados. (Anexo D)

De acordo com o Ministério da Educação, a partir dos dados referentes ao desempenho

dos municípios brasileiros na Prova Brasil, aplicada em 2005, foi realizada uma estimativa

nacional de desempenho mínimo a ser atingida por cada município por ocasião da realização

da Prova Brasil para compor o IDEB. Em relação aos municípios participantes da pesquisa

destacam-se os seguintes dados:

MUNICÍPIO IDEB – 2005 META PARA 2007

(ESTIMADA PELO INEP) IDEB - 2007

Tupandí 27,50 28,90 57,14

Parecí Novo 19,61 20,91 40,00

Pinhal da Serra 25,93 28,54 12,50

São José dos Ausentes 11,76 13,72 3,70

Tabela 1: Dados referentes ao desempenho dos municípios no IDEB do ano de 2005 e 2007, site do NEP.

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Considerando os índices de desempenho referentes à Prova Brasil de 2005 e

comparando-os com os índices apontados em 2007, constata-se que Tupandí e Parecí Novo,

tiveram êxito, pois duplicaram seus índices, superando as metas calculadas pelo INEP. No

entanto, em relação aos municípios de Pinhal da Serra e São José dos Ausentes os índices de

2007 diminuíram significativamente, não atingindo sequer, as metas destacadas pelo governo

federal. Para uma melhor descrição do contexto em que se inserem os municípios, localizo-os

no mapa do Rio Grande do Sul:

Figura 3: Mapa Político do Estado do Rio Grande do Sul: localização das cidades pesquisadas.

Pelo exposto, nas próximas seções apresento dados relativos a cada um dos municípios

visitados, destacando ações desenvolvidas na área da educação pela municipalidade, bem

como a “matriz organizacional das escolas” que realizaram a Prova Brasil em 2007. Entende-

se como matriz organizacional da escola, o conceito desenvolvido por Thimoteo (2003, p.36):

A abordagem da escola como organização inserida em um sistema

educativo implica no reconhecimento de que a „matriz organizacional

da escola‟ é engendrada tanto pelas regras institucionais próprias do

sistema, bem como pela ação dos diferentes atores envolvidos no

processo educativo no âmbito de cada organização escolar.

1

2

3

4

5

1 – Porto Alegre

2 – Pareci Novo

3 – Tupandi

4 – São José dos Ausentes

5 – Pinhal da Serra

18

Neste contexto, elegem-se alguns possíveis fatores no âmbito da instituição de ensino

e/ou do município, que podem contribuir no desempenho de alunos da 8ª série do Ensino

Fundamental na Prova Brasil de Matemática.

3.1 MUNICÍPIOS COM ALTO ÍNDICE DE DESEMPENHO NA PROVA BRASIL DE

MATEMÁTICA

Nesta seção apresento os municípios de Tupandi e Pareci Novo, que no ranking dos

municípios gaúchos, referente aos resultados da Prova Brasil de Matemática de 2007,

ocupam, respectivamente o 2º e 9º lugares.

3.1.1 Município de Tupandi

A cidade de Tupandi, com uma área de 59,54 km² localiza-se a 90 km de Porto Alegre

e situa-se no Vale do Caí, fazendo limite com os municípios de: Bom Princípio, Harmonia,

São José do Sul, Salvador do Sul, São Pedro da Serra e Barão. O município, colonizado por

imigrantes alemães, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas –

IBGE, referentes ao censo de 2008, tem uma população de aproximadamente 3.600

habitantes.

Desde que se emancipou de Bom Princípio, em 1988, as administrações municipais de

Tupandi investem na diversificação da produção agrícola, pela adoção de uma gestão

compartilhada de recursos entre o poder público e o setor privado. Por investir em atividades

agrícolas diversificadas, como criação de frangos e suínos e produção de frutas cítricas, o

município atingiu um dos maiores índices de Produto Interno Bruto (PIB) per capita do país:

R$ 14.544,00 segundo dados do IBGE de 2005, obtendo assim um Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH) acima da média brasileira. Atualmente, a agropecuária é

responsável pela maior parte da arrecadação do município.

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Tupandi dispõe de cinco estabelecimentos de ensino: uma escola municipal de

Educação Infantil, três escolas municipais de ensino Fundamental e uma escola estadual de

Ensino Médio.

Figura 4: Foto aérea do município de Tupandí, RS. Fonte Google Earth 2009

De acordo com a Secretária Municipal de Educação e Cultura, o alto índice de

desempenho produzido pelos alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental São

Francisco2

na Prova Brasil de 2007 é atribuído aos investimentos na educação realizados pela

municipalidade, aliados à proximidade e participação da família dos alunos nas atividades da

escola e à força de vontade de todos os diferentes segmentos que compõem o contexto

escolar, ou seja, alunos, funcionários, professores, equipe diretiva e os pais.

2 Das três escolas municipais, apenas a Escola Municipal de Ensino Fundamental São Francisco oferece

todas as séries do Ensino Fundamental.

E.M.E.F. São

Francisco

20

Figura 5: Fachada da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Francisco.

O município incentiva os seus alunos a terem expectativas em relação ao ensino

superior, pois financia, semestralmente, a cada aluno que frequenta a universidade uma

disciplina e 50% das despesas com transporte. Em contrapartida, o estudante beneficiado pelo

programa precisa realizar três horas semanais de serviço voluntários ao município, em sua

área de estudo. Nesta ação, todos os alunos que residem, no mínimo três anos no município,

têm direito ao benefício. Nos registros da Secretaria Municipal de Educação e Cultura

constata-se que em 2001 havia apenas cinco universitários na cidade, hoje se deslocam,

diariamente, dois ônibus em direção à Universidade de Caxias do Sul – UCS e Universidade

do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, o que comprova os bons resultados deste

investimento implantado pela Prefeitura Municipal de Tupandi.

Com o objetivo de observar possíveis ações pontuais que possam contribuir no bom

desempenho dos alunos de 8ª séries do Ensino Fundamental, visitei a Escola Municipal de

Ensino Fundamental São Francisco e vivenciei um dia de sua rotina escolar. A E.M.E.F. São

Francisco tem seu prédio muito bem cuidado, o que demonstra a educação e zelo de seus

alunos com o patrimônio. Nas paredes internas da escola, pode-se verificar a presença de

cartazes e pinturas com palavras, frases e desenhos que proporcionam um clima de paz e de

aconchego ao ambiente. Percebe-se que a direção, professores e funcionários trabalham em

equipe, pois realizam as tarefas diárias em parcerias: na organização do recreio, no

empréstimo de livros da biblioteca.

21

Figura 6: Biblioteca da Escola Municipal de Ensino Fundamental São Francisco.

Na fala da coordenadora pedagógica da escola visualiza-se as ações desenvolvidas

com a participação da Prefeitura Municipal: “Aqui em Tupandi o ensino fundamental é de

responsabilidade do município e o ensino médio é a cargo do Estado, como é previsto na Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.” Em suas contribuições a profissional destaca

que o município investe muito no programa de transporte escolar, oferecendo transporte a

todos os alunos da escola. Além disto, informa que os alunos são oriundos de famílias de

classe média, de economia basicamente rural.

O horário de funcionamento da escola é das 7h30min às 11h 40min e o intervalo para

o lanche inicia às 9h 10min, logo após o término do segundo período, diferente de outras

escolas que propõem o intervalo após três períodos de aula, ou seja, às 10h. O horário

diferenciado do recreio foi aprovado devido ao pedido dos pais, pelo fato das crianças saírem

de suas casas sem tomarem café da manhã, antecipando, por este motivo, o lanche oferecido

na escola. A coordenadora pedagógica acredita que esta ação contribui para o bom

desempenho dos alunos, que “alimentados compreendem melhor a matéria apresentada pela

professora.” Na intenção de proporcionar uma merenda de qualidade a cantina da escola foi

fechada e a escola passou a oferecer um cardápio preparado por pessoal qualificado e

supervisionado por nutricionista da Prefeitura Municipal.

Há três turmas de 8ª séries, que possuem de 15 a 20 alunos cada e, além das

disciplinas básicas do currículo escolar (Português, Matemática, História, Geografia,

Ciências, Ensino Religioso, Artes e Educação Física) são disponibilizadas aos educandos,

semanalmente, aulas de Música e Língua Inglesa, sendo a Língua Alemã oferecida nos anos

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iniciais do ensino Fundamental. As aulas de Matemática são desenvolvidas em quatro

períodos semanais. A nota para a aprovação do aluno é equivalente a 60% das avaliações

realizadas durante o período letivo, divididas em três trimestres, cada um com um valor

diferente, ou seja, 25, 35 e 40, respectivamente. Há dois casos de inclusão nas séries iniciais

no ano de 2009 (Síndrome de Down). No ano de 2008 havia um aluno surdo-mudo na 8ª

série, que foi aprovado e, atualmente, frequenta a escola de Ensino Médio. A avaliação dos

alunos de inclusão é expressa por meio de parecer descritivo e não por nota.

A recuperação paralela é ministrada por um professor que atende os alunos em contra

turnos. A coordenadora pedagógica acredita que as aulas de reforço podem contribuir no bom

desempenho dos alunos na Prova Brasil, pois “os alunos têm a oportunidade de serem

recuperados à medida que apresentam dificuldades”. No entanto, a profissional destaca que há

fila de espera e as vagas são distribuídas conforme critério de merecimento estabelecido pela

escola. É assinado pelos pais e pelos alunos que irão participar das aulas de reforço, um termo

de responsabilidade no qual o educando se propõe a participar de todas as aulas, caso

contrário perderá a possibilidade de recuperar seus estudos. O aluno participa das aulas até

suprir suas necessidades, após isso, cede sua vaga para outro aluno. A coordenadora ratifica a

importância de a escola investir na aprendizagem dos alunos, ilustrando este

comprometimento na dinâmica de realização dos conselhos de classe: “sempre solicito a

justificativa do professor pelo não-aprendizado do aluno em determinada matéria, pois o

mesmo precisa argumentar e destacar diagnósticos para possíveis tomadas de decisões. Não

adianta apenas apresentar a nota.”

Conforme a coordenadora, o projeto “Pais Presentes,

Filhos Conscientes”, que ocorre todas as terças-feiras e reúne os

pais com uma psicóloga durante 2 horas, aproxima a escola da

família, contribuindo para um bom desempenho escolar. Também

há na escola, um projeto de leitura em que toda a escola

interrompe suas atividades durante um período nas quintas-feiras,

onde os alunos trocam textos produzidos por eles e fazem a leitura

dos mesmos e de outros livros no período semanal.

Em relação ao processo de ensino e aprendizagem da Matemática, entrevistei o

professor que atua nos anos finais do Ensino Fundamental. Ele trabalha há 37 anos na mesma

Figura 7: Livros para leitura

obrigatória. E.M.E.F.

São Francisco.

23

escola, é formado em Matemática e Biologia e possui pós-graduação em Biologia. Ao ser

questionado sobre como o aluno pode aprender melhor Matemática, o educador é enfático:

O aluno aprende melhor a Matemática através da cobrança e do trabalho levado a

sério, por ele e pelo professor. Eu utilizo o livro didático apenas para consulta, serve

como base para os alunos estudarem fora da escola. Para a aplicação das aulas é feita

uma coletânea de conteúdos de vários livros.

Também comenta que, às vezes, tem dificuldade em motivar os alunos; sabe que

existem atrativos maiores que a Matemática, então tenta tornar as sua aulas mais agradáveis,

mas sempre zelando pela disciplina em sala de aula, o que, muitas vezes, torna-se difícil. No

entanto, o educador enfatiza que se esforça para manter sempre a ordem em sala de aula. Diz

que é amigo do aluno, mas na hora de ensinar (período de aula) há cobrança, “muita folga

causa desleixo”. Com muito orgulho, destaca que a escola ganhou o 3º lugar na categoria

Melhor Município do RS de 2008 na Olimpíada Brasileira de Matemática. Ele atribui esta

premiação ao comprometimento do corpo docente, à disciplina dos educandos e à dedicação e

esforço de alunos e professores e, também, pela consciência que os alunos têm sobre a

necessidade do aprendizado para o seu futuro.

O professor comenta que a escola possui um ambiente diferenciado, “dentro dos

padrões de escola particular”, pois exige disciplina, sendo rígida no seu sistema de avaliação,

centrado na aplicação e cobrança no que se refere ao aprendizado dos alunos. O educador

destaca que “isso é política da escola, não é apenas na disciplina de matemática, a escola faz

questão de manter essa diretriz, que é seguida pelo corpo docente e acatada satisfatoriamente

pelos alunos.”

Em relação aos resultados da Prova Brasil de 2007, o docente afirma que não realiza

nenhum trabalho específico com as turmas. No entanto, enfatiza realizar um trabalho sério e

comprometido, seguindo as normas da escola bem como, desenvolvendo todos os conteúdos

propostos nos Planos de Estudos.

24

3.1.2 Município de Pareci Novo

Em 20 de março de 1992, Pareci Novo, o 4º Distrito, desmembrou-se do município de

Montenegro, ocupando uma área de 58,20 km² de terras, situadas a 29.44 graus de latitude sul

e 51.32 graus de latitude oeste, a uma altitude de 35 metros, passando a denominar-se

município de Pareci Novo. O município localiza-se a uma distância de 70 km de Porto Alegre.

Figura 8: Foto aérea do município de Pareci Novo, RS. Fonte Google Earth 2009.

Pareci Novo parece ser uma cidade bem organizada, com estabelecimentos comerciais

e residências em boa conservação e apresentação, infra-estrutura que atende as necessidades

básicas de seus moradores como água tratada, esgoto encanado, ruas pavimentadas, entre

outros. Assim como Tupandi, o município de Pareci Novo situa-se na região do Vale do Rio

Caí; possui aproximadamente 3.500 habitantes (IBGE, censo de 2008), a maioria de origem

alemã. Seu nome provém de um índio da tribo dos Parecys, que morava às margens do Rio

Caí. Em sua extensão territorial abriga as localidades de Matiel, Várzea, Bananal, Despique,

Coqueiral, Linha Progresso e Porto Maratá. As atividades econômicas predominantes

desenvolvem-se na área da citricultura, floricultura e na manutenção de viveiros com mudas

frutíferas e nativas, que são a base de sua economia.

O município possui cinco escolas municipais de Ensino Fundamental e uma escola

estadual de Ensino Médio, com 427 alunos matriculados no ano letivo de 2008, segundo os

dados do IBGE. A escola estadual está subordinada a segunda Coordenadoria Regional de

Educação - São Leopoldo-RS.

E.M.E.F.

Beato Roque

25

Por meio de uma consulta ao site do INEP constata-se que a Escola Municipal de

Ensino Fundamental Beato Roque, foi a que apresentou, dentre as seis escolas em

funcionamento no município, os melhores resultados na Prova Brasil de 2007, atingindo a

média de 287,98 em Matemática.

Figura 9: Fachada da Escola Municipal de Ensino Fundamental Beato Roque.

Nas concepções da Secretaria Municipal de Educação do município, Pareci Novo

apresenta um bom desempenho nos resultados da Prova Brasil de 2007, devido à influência da

cultura germânica, pois a mesma foi colonizada por imigrantes alemães. A Secretária de

Educação também atribui os resultados às ações desenvolvidas pela população ao longo dos

anos, bem como, destaca a presença dos pais na escola, acompanhando o desenvolvimento

dos filhos como um fator favorável à aprendizagem dos educandos.

Além disto, socializa que no município foi criada uma associação de professores e

alunos universitários que recebem recursos da administração municipal para subsidiar a

passagens dos estudantes às Universidades bem como, para contribuir no pagamento de taxas

de inscrição de professores em cursos de aperfeiçoamento. A secretaria ainda comenta que os

professores de Matemática dos anos finais do Ensino Fundamental estão participando do

GESTAR3.

3 O GESTAR é uma iniciativa do Fundo de Fortalecimento da Escola (Fundescola), da Secretaria de Educação

Básica (SEB) do Ministério da Educação, em parceria com as secretarias estaduais e municipais de Educação.

Programa de formação continuada, semipresencial, na modalidade de educação à distância, que utiliza material

impresso para o estudo individual e coletivo dos professores e formadores e está voltado aos professores do

Ensino Fundamental nas áreas de Matemática e de Língua Portuguesa.

26

Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Beato Roque, os altos índices

conquistados na Prova Brasil, de acordo com um diálogo realizado com professores que

trabalham na escola, “são frutos da preocupação da Secretária da Educação e o apoio da

equipe diretiva com a atualização dos professores através de cursos e a utilização de uma

metodologia e didática na qual se utiliza material didático concreto, ou seja, os alunos aplicam

em seu dia-a-dia tudo o que aprendem em sala de aula, dando um sentido concreto e imediato

ao aprendizado”. Os professores são unânimes em afirmar que a formação continuada dos

professores é fundamental no processo de qualificação do ensino e aprendizagem. Pelo

exposto, a escola, por meio da Secretaria Municipal de Educação, investe na capacitação dos

professores, mediante a realização de cursos, fóruns, etc. Em seus relatos, alguns professores

recordam ações desenvolvidas pelo poder público, na formação do corpo docente: “Antes

desta administração, o município pagava cursos de pós-graduação para os professores e

exigia, apenas, que eles trabalhassem por cinco anos na cidade depois de formados. Mas este

investimento não teve o retorno esperado, porque um dos professores que ganhou o curso

pago faleceu e outros se mudaram de cidade”.

Em 2008 a escola recebeu duas crianças surdas. Para poder atender com qualidade

estes alunos, alguns professores fizeram curso de libras básico naquele ano, concluindo o

módulo avançado em 2009 e dois professores realizaram cursos de aperfeiçoamento sobre

inclusão social.

A escola, por meio da Secretaria Municipal de Educação, oferece serviço de

fonoaudiologia e psicopedagogia às crianças que apresentam dificuldades na fala e/ou na

aprendizagem.

As turmas, na escola Beato Roque, normalmente são compostas de 20 a 25 alunos, o

que possibilita o melhor acompanhamento da turma pelo professor. Durante a semana, para os

alunos de 5ª a 8ª série há a oferta de quatro períodos de Matemática, dos quais um é reservado

para aulas de Informática. No entanto, no segundo semestre deste ano, o período de

Informática passou a ser utilizado pelo professor de Matemática, devido às dificuldades dos

alunos nesta área de conhecimento. Além das disciplinas oficiais do currículo, os alunos têm

aulas de língua alemã. Em relação à avaliação, esta está organizada por trimestre, com pesos

30, 30 e 40.

27

Em entrevista com um dos professores de Matemática, que concluiu um curso de

especialização recentemente, constata-se que a docente investe numa metodologia mais

diversificada, não centrada apenas na resolução de exercícios. Os trabalhos nas aulas de

Matemática são realizados geralmente em grupos e estimulam muito o cálculo mental. A

professora enfatiza que:

O aluno aprende Matemática em uma aula que tenha significado para ele. Fazer uma

operação com números não traz significado, mas fazer que esse número faça parte

da sua vida, isso tem significado (contextualização). O resultado não é apenas um

número, é uma conclusão e, tudo isso, faz o aluno ter interesse; o ideal é introduzir

nas séries iniciais: estatística, interpretação gráfica e geometria (concreto prático –

fácil contextualização). Se formos analisar as provas da Prova Brasil, elas envolvem

situações de estatística e geometria. Antigamente, nos livros de matemática, a

estatística aparecia no conteúdo final do livro, hoje em dia, quase todo o livro

permeia o conteúdo de estatística e geometria, o que, para nós é muito importante,

porque na geometria podemos aplicar a prática, podemos imaginar um problema

real, o que dá mais sentido e torna mais atraente as aulas. Muitas vezes, os alunos

saem para o pátio e calculam nas obras da escola o material que será utilizado, como

cercas de tela, metro cúbico de aterro, quantidade de tinta, etc., levando a

Matemática para o dia-a-dia do aluno, demonstrando a importância da Matemática.

A maior dificuldade encontrada pelo professor é tornar a Matemática interessante,

pois o aluno vem de casa com preconceito sobre a Matemática, o qual torna a

disciplina um terror e o professor um monstro.

Desta forma, a professora, em suas aulas recorre, muitas vezes, às situações

problemas, na intenção de significar a aprendizagem. Também procura apresentar exercícios

diversificados em que os alunos “precisam pensar”.

Já o outro professor de Matemática que trabalha na Beato Roque, centra as suas aulas

no livro didático e na resolução de muitos exercícios. O educador destaca que a maior

dificuldade, hoje, de um professor na sala de aula é com “a disciplina, pois vários alunos vêm

de outras cidades e demoram a se adaptar ao nosso jeito de ensinar.”

Os percentuais de reprovação da escola Beato Roque nos anos de 2005, 2006, 2007 e

2008 decresceram de 12% para 10%, 9% e 7%, respectivamente, comprovando, de acordo

com os professores, a importância do investimento em medidas para o aperfeiçoamento dos

educadores. Nas concepções da direção da instituição de ensino “a escola está sempre visando

proporcionar a melhor estrutura para o aprendizado, além de refeitório e cozinha construídos

recentemente, foi construído um bloco para a biblioteca e sala de informática, que estão

devidamente equipadas com material e pessoal qualificado.”

28

3.2 MUNICÍPIOS COM BAIXO ÍNDICE DE DESEMPENHO NA PROVA BRASIL DE

MATEMÁTICA

Nesta seção, teço informações sobre os municípios de São José dos Ausentes e Pinhal

da Serra, ambos com índices de desempenho registrados na Prova Brasil de 2007, abaixo das

estimativas calculadas pelo Ministério da Educação, ocupando no ranking dos municípios

gaúchos, respectivamente o 321º e 300º lugares.

3.2.1 Município de São José dos Ausentes

São José dos Ausentes está situado no extremo nordeste do Rio Grande do Sul,

separado de Santa Catarina pelas muralhas e contrafortes dos Aparados da Serra, sendo o Pico

do Monte Negro, com seus 1403 metros de altitude, o ponto mais alto do Estado. Ausentes

pertencia a Bom Jesus, cidade vizinha. Emancipou-se em 1992 e possui em torno de 3.104

habitantes em uma área de 1.156,78 km².

Quanto à origem de seu nome, destacam-se algumas curiosidades: nos documentos

disponíveis na Prefeitura Municipal há registros de que o nome originou-se de fatos históricos

acontecidos no século 18, quando o lugar era conhecido como a “Fazenda dos Ausentes”, pois

mesmo as terras sendo leiloadas por duas vezes, seus donos nunca apareceram. Na época, a

fazenda era o maior latifúndio do Rio Grande do Sul, com mais de 1.000 km² de área.

A cidade é pequena, situada a uma distância de aproximadamente 220 km de Porto

Alegre. Até o início deste ano o acesso ao município, desde Vacaria, era por estrada vicinal,

dificultando o acesso à cidade e tornando a viagem demorada (em torno de duas horas).

Porém, atualmente a estrada está pavimentada e o tempo reduziu para quarenta minutos.

29

Figura 10: Foto aérea do município de São José dos Ausentes, RS. Fonte Google Earth 2009.

A renda familiar das pessoas que moram em São José dos Ausentes provém da

agricultura e do turismo dos hotéis fazenda, que acolhem muitos turistas, principalmente no

inverno, pois a cidade é uma das mais frias do país (registro de temperaturas mais baixas) por

estar localizada próxima dos cânions.

Por ser um município que geograficamente localiza-se distante das demais cidades

não há muita perspectiva para os estudantes em relação a outras oportunidades de emprego.

Assim, de acordo com alguns moradores, a vida em São José dos Ausentes segue sempre a

mesma rotina: “estudar apenas o básico (ensino fundamental), casar, plantar, colher e ter

filhos”.

A instituição de ensino selecionada para integrar a pesquisa é a Escola Estadual de

Ensino Médio Antônio Inácio Velho, pois a mesma, entre as demais escolas de Ensino

Fundamental do município, revela os índices mais baixos de desempenho na Prova Brasil de

2007, alcançando um índice de 251,21 em Matemática, pelos alunos da 8ª série do Ensino

Fundamental.

E.M.E.M.

Antônio

Inácio Velho

30

Figura 11: Fachada da Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Inácio Velho.

Ao conhecer a escola, visitei acompanhado da diretora, todas as dependências da

instituição de ensino, reconhecendo uma diversidade de recursos e materiais didáticos novos,

à disposição dos alunos: computadores, material de contagem, jogos, etc.

No entanto, a diretora destaca que estes materiais são pouco utilizados pelos alunos e

professores, pois os educadores não sabem como explorar estes recursos em sala dela. Um dos

exemplos mais latentes observados é a falta de um profissional que saiba operar ou ministrar

aulas de computação, considerando que a escola tem uma sala de computação “novíssima”,

com móveis e computadores recém comprados à disposição da comunidade escolar.

Figura 12: Laboratório de informática da E.E.E.M. Antônio Inácio Velho.

31

Durante a visita à escola, entrevistei duas professoras sobre as suas concepções em

relação ao processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Uma das educadoras acredita

que “o aluno aprende melhor praticando, realizando os exercícios e vendo os erros ou acertos

depois de realizar os cálculos. Apenas as explicações não bastam para o aprendizado.” A

professora comenta que utiliza em seus planejamento vários livros didáticos, à procura dos

que trazem alguma inovação.

A educadora justifica que os alunos não tiveram um bom desempenho na Prova Brasil

de 2007, porque sabiam que os resultados dos testes “não seriam considerados para o

boletim”. Além disto, ela destaca que a prova foi realizada num clima de protesto dos alunos,

pois a mesma foi desenvolvida durante os períodos de Educação Física, área de conhecimento

da preferência dos educandos. E como os professores desconheciam a data de aplicação dos

testes, pois alegaram não terem sido avisados pela direção da escola, não tiveram tempo hábil

para propor aos alunos exercícios de múltipla escolha, atividade esta pouco explorada nas

aulas de Matemática. Também, não tiveram tempo para orientar os alunos no preenchimento

da grade de respostas. Assim, acredita que vários alunos tenham errado o preenchimento do

“Cartão Resposta”.

Em seus depoimentos enfatiza que “tem que haver uma mudança no ensino de

Matemática, que comece nas séries iniciais com a produção do conhecimento, sem impor uma

forma de calcular, permitindo e incentivando que o aluno produza a sua própria forma.”

A segunda professora entrevistada leciona quatro períodos de Matemática,

semanalmente, em duas turmas de 8ª séries: uma no turno da manhã, com vinte e três alunos e

uma, no turno da tarde, com dezoito alunos. Já está aposentada, mas continua dando aula pelo

prazer que sente em estar na sala ensinando seus alunos – apesar de afirmar que está

desiludida com a desvalorização do professor e a falta de interesse dos estudantes. A

professora é formada em Ciências Biológicas, mas leciona as disciplinas de Biologia,

Química, Física e Matemática.

Destaca que os índices de reprovação, principalmente em Matemática são altos. Por

isto, remete possibilidade de mudança em relação a estes dados no Projeto Político-

Pedagógico (PPP) o qual demonstra a preocupação com o “alto índice de reprovações que

chegou a atingir patamares inaceitáveis em várias séries no ano letivo de 2007”. Por esta

razão, neste ano letivo, a equipe pedagógica da escola propôs mudanças no sistema de

32

recuperação paralela: ao invés de ser destinado, a cada bimestre, dias específicos para a

recuperação, a escola está investindo numa recuperação a ser desenvolvida durante o processo

ensino-aprendizagem, mediante o “acompanhamento contínuo ao aluno com alguma

dificuldade de aprendizagem, oportunizando suprir possíveis falhas” e no “final de cada ano

letivo são oferecidos dez dias de estudos de recuperação para os alunos com aproveitamento

inferior a 6,0 pontos”. Ao final desse período é feita nova avaliação com peso 10, na qual o

aluno precisa alcançar 6,0 para a aprovação. A recuperação durante o processo de

aprendizagem, de acordo com a professora entrevistada é a melhor forma de tentar evitar os

baixos índices de aprovação escolar.

Em relação ao livro didático, a educadora foi enfática ao informar que ele é

indispensável nas aulas de Matemática, alegando que é um instrumento importante de apoio

em suas aulas e que todos os professores da escola utilizam-no em sala de aula.

A escola não desenvolve projetos extracurriculares, por falta de frequência de alunos,

pois moram longe e não podem permanecer na escola durante os dois turnos, bem como não

há participação familiar nas atividades desenvolvidas pela instituição de ensino. A direção da

escola argumenta que a pouca participação dos pais na vida escolar dos filhos dá-se pelo fato

das famílias, em sua maioria, estarem organizadas sob outro modelo familiar: alguns alunos

moram apenas com o pai, outros com a mãe e outros estão sob a custódia dos avós.

As educadoras destacam que os índices de reprovação são mais expressivos nas turmas

de alunos que frequentam a escola no turno da manhã, devido à ineficiência do transporte

escolar oferecido pelo município: “as turmas da manhã são formadas por alunos que vêm do

interior, das áreas mais distantes, e precisam do transporte da prefeitura para seu

deslocamento, o qual demora aproximadamente duas horas para chegar à escola. Assim, estas

crianças chegam à escola cansadas física e mentalmente.” Já as turmas de alunos que

frequentam o estabelecimento de ensino à tarde são compostas por educandos que moram

próximos à escola e não têm necessidade de utilizarem o transporte da prefeitura, chegando

mais dispostos à sala de aula.

Outro fato a ser levado em conta, nos índices de desempenho dos alunos de 8ª série,

conforme o depoimento da coordenadora pedagógica é a falta de ambição dos alunos: “Eles

não possuem projetos de vida, ou seja, seus objetivos não são definidos em relação aos

estudos, não têm ambições estudantis.” Assim, a profissional atribui ao professor e à família o

33

desafio de tentarem mudar a visão de seus alunos e filhos, melhorando a sua participação no

processo de avaliação externa. A coordenadora compartilha sua angústia em relação aos

baixos índices de desempenho dos alunos na Prova Brasil, socializando algumas de suas

iniciativas, na intenção de elevar estes dados e, garantindo assim, a aprendizagem dos

educandos. Porém, desabafa: “tenta-se impor mudanças no método de ensino, mas alguns

professores não aceitam e permanecem na forma clássica; falta conscientização dos

professores para que seja trabalhado o raciocínio dos alunos, para que estes compreendam a

metodologia utilizada na elaboração da Prova Brasil, a resolução de problemas”.

A equipe diretiva da escola defende a ideia de que para melhorar os índices da escola

na Prova Brasil é necessário conscientizar os alunos da importância deste instrumento de

avaliação, bem como conscientizar os professores de que é preciso mudar seus métodos e

adequá-los ao utilizado na prova, ou seja, dar ênfase à construção do conhecimento e

raciocínio lógico, incentivando a leitura, pois a escola tem biblioteca com uma grande

variedade de títulos de literatura.

A diretora enfatiza que “cada sala de aula possui um aparelho de som, TV/DVD que

poderiam ser melhor utilizados pelos professores em suas aulas. A utilização da sala de

informática também depende da qualificação de pessoal para o ensino de informática, haja

vista que os alunos não utilizam os computadores por não saberem como operá-los”. No

entanto, a profissional acredita que os professores resistem à utilização de material didático

nas aulas de Matemática, pois há materiais de ensino novos, guardados na Biblioteca que

jamais foram utilizados pelos professores. Por isto, ela destaca um descontentamento em

relação à proposta pedagógica desenvolvida na escola, considerando que os professores

resistem à mudança, a pensar coletivamente em estratégias que possam auxiliar o aluno a

significar as suas aprendizagens.

34

Figura 13: Materiais novos ainda embalados por não terem sido usados nas aulas.

Figura 2: Biblioteca da E.E.E.M. Antônio Inácio Velho.

3.2.2 Município de Pinhal da Serra

Com grandes fazendas e plantações ao seu redor, Pinhal da Serra é uma cidade

geograficamente isolada das demais cidades. O único acesso ao município dá-se por meio de

uma estrada sem pavimentação Está localizado a 326 km de Porto Alegre, na região nordeste

do Estado, denominada de Campos de Cima da Serra. Limita-se ao sul com Esmeralda, ao

oeste com o município de Barracão, ao norte e à leste com o Estado de Santa Catarina. A área

do município foi formada abrangendo todas as localidades que pertenciam ao 2º Distrito de

35

Esmeralda (Pinhal da Serra) e da área pertencente ao 4º Distrito (Serra dos Gregórios),

totalizando 436 km². Atualmente, o município possui aproximadamente, 3.205 habitantes.

Economicamente, o município destaca-se pela produção de grãos e pecuária. Na pecuária,

destaca-se a criação de bovinos com mais de 15.000 cabeças de gado.

Na agricultura os principais produtos cultivados são a soja, o milho, o alho e o feijão,

sendo este o mais produzido, impulsionando a criação da Festa do Feijão no município.

Figura 3: Foto aérea do município de Pinhal da Serra, RS. Fonte Google Earth 2009.

Em 17 de abril de 1996, pela Lei nº 10.748, o município de Pinhal da Serra foi criado,

sendo impedido de realizar a sua primeira eleição municipal em 03 de outubro de 1996, pois a

Lei Federal nº 9.100, que normatizou as eleições municipais excluiu os novos municípios,

autorizando apenas o pleito nos municípios criados até 31 de dezembro de 1995. Com isso,

Pinhal da Serra ficou quatro anos em estado de estagnação, conforme informação registrada

no site da cidade.

Como o município é formado por fazendas, os alunos precisam percorrer uma longa

distância para chegarem à escola, alguns chegam a viajar duas horas com o ônibus da

prefeitura, muitas vezes, em condições precárias. Os educandos provêm de famílias de

agricultores humildes, que investem na agricultura de subsistência, e que não têm perspectivas

em relação à importância dos estudos.

E.M.E.M.

São Paulo

de Tarso

36

Figura 4: Ônibus da Prefeitura de Pinhal da Serra que fazem o transporte escolar.

Dentre as escolas que há no município optei pela Escola Estadual de Ensino Médio

São Paulo de Tarso por ofertar todas as séries do Ensino Fundamental.

Figura 5: Fachada da Escola Estadual de Ensino Médio São Paulo de Tarso

A escola possui Laboratório de Ciências – com dois microscópios, um deles ligado a

um monitor – Biblioteca com amplo acervo de livros e revistas, Laboratório de Informática

com aproximadamente 25 computadores novos, sala vídeo e ginásio de esportes, além de

horta escolar, com hortaliças cultivadas pelos próprios alunos.

Apesar de todo esse investimento em recursos materiais, estes espaços são pouco

utilizados pelos alunos e professores. De acordo com a diretora da escola há falta de recursos

humanos, pois nenhum dos educadores que trabalha na instituição sente-se capacitado para

37

explorar o material. Apenas o professor de Geografia desenvolve algumas atividades com os

alunos no Laboratório de Informática.

Figura 6: Laboratório de informática da E.E.E.M. São Paulo de Tarso.

Figura 7: Laboratório de ciências da E.E.E.M. São Paulo de Tarso.

No período compreendido entre os anos de 1992 a 2007, a instituição de ensino tinha

um regime de trabalho diferenciado das demais escolas do município, ou seja, os alunos

estudavam, alternadamente, os dois turnos na escola. Neste período os alunos estavam

organizados em dois grupos: A e B. Na segunda-feira, os alunos do primeiro grupo tinham

aula o dia todo enquanto que os demais ficavam em casa. Na terça-feira, o grupo B ia para a

escola e o grupo A permanecia em casa. Ou seja, os alunos não freqüentavam diariamente a

escola, porém compensavam a ausência de um dia, no outro dia. Nos dias de turno integral

38

todos almoçavam na escola, consumindo vários alimentos produzidos na horta por eles

cultivada. No período da manhã as turmas tinham as disciplinas com maiores cargas horárias

semanais como Português e Matemática; à tarde cursavam as disciplinas de Ciências,

Educação Física, História e Geografia, que propunham atividades mais práticas. À tarde

também cuidavam da horta da escola e realizavam algumas atividades ao ar livre. Em 2008,

por ordem da Coordenadoria Regional de Educação de Vacaria, esse regime foi extinto,

retornando o ensino regular, ou seja, os alunos passaram a frequentar a escola todos os dias no

turno da manhã ou à tarde.

A direção da escola comenta que a comunidade escolar não foi favorável à mudança,

pois os alunos, como moram longe da escola, precisam deslocar-se diariamente à escola,

percorrendo assim longas distâncias. Além disto, gostavam quando os educando recebiam

lanches e almoços fornecidos pela escola.

Na E.E.E.M. São Paulo de Tarso há dois professores de Matemática: um tem mais de

20 anos de docência e possui Licenciatura Plena em Matemática, e o outro educador, leciona

há cinco anos e está cursando Mestrado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) em Porto

Alegre.

Na entrevista realizada com o professor de Matemática da 8ª série, o educador destaca

que mais de 50% dos alunos que compõem a turma de 25 alunos, já vivenciaram situações de

fracasso escolar. Ou seja, oito alunos foram reprovados em séries anteriores e outros oito, são

repetentes da 8ª série. Nos períodos de Matemática (cinco períodos por semana) os

professores seguem os livros didáticos que compõem o Programa Nacional do Livro Didático,

inclusive todos apóiam a sua utilização na íntegra, mas consultam outros livros como apoio. A

maior dificuldade, conforme o professor, consiste na realização de projetos extracurriculares,

devido à distância entre casa-escola: “Além das horas extras não serem remuneradas, os

alunos não mostram interesse em vir nas aulas fora dos horários normais, apesar dos índices

de reprovação chegarem a 80% nas 5ª e 6ª séries.”

As avaliações são por trimestre e a recuperação é no decorrer do processo, se os

alunos não aprenderam ainda algum conteúdo o professor intensifica os trabalhos com o aluno

e tenta sanar suas dificuldades. Os docentes participam de reuniões e cursos na Coordenadoria

Regional de Educação para tentar resolver os problemas sobre o alto índice de reprovação da

escola. A média na escola é 6,0, dividida em trimestres com pesos de 3,0 – 3,0 – 4,0. Está

39

sendo elaborado um plano de ação, relacionado no Projeto Político Pedagógico da escola com

o objetivo de reduzir o número de alunos reprovados. Segundo a professora, os alunos dizem

que “a Prova Brasil não vale nada, não dá nenhuma premiação” e por essa razão não

demonstram interesse pela prova, muitas vezes nem a lêem. Os professores sabem que os

alunos não têm motivação, desabafando que têm dificuldades em despertar o interesse dos

mesmos. Reconhecem que não exploram outras metodologias de ensino e aprendizagem, na

tentativa de tornar as aulas mais prazerosas.

Os professores avaliam por meio de provas objetivas, pois "o aluno não está em um

laboratório para ser testado”. (Comentário do Professor de Matemática com mais de 20 anos

de sala de aula).

A Prefeitura de Pinhal da Serra disponibiliza transporte gratuito para os universitários

que estudam em Anita Garibaldi. O piso salarial do professor em Pinhal da Serra é R$ 920,00

para 20 horas/aula. Em entrevista realizada na Secretaria de Educação do Município, fui

informado que não há programas de aperfeiçoamento e incentivo à qualificação do professor.

Segundo a Secretária, apenas é disponibilizado auxílio para transporte dos professores que

possuem Magistério e que pretendem fazer faculdade.

Percebe-se, tanto na Secretária Municipal de Educação, quanto nos professores

entrevistados que trabalham na E.E.E.M. São Paulo de Tarso, um conformismo em relação à

situação educacional do município. Em seus discursos não há indícios de perspectivas quanto

ao futuro. Responsabilizam o aluno e as famílias pelo fracasso escolar.

Pelo exposto, no próximo capítulo, passo a analisar os dados coletados nas visitas

realizadas nos quatro municípios, participantes da pesquisa.

40

4 ANÁLISE DOS DADOS

Inicio o capítulo, sustentado nas percepções de Madalena Freire sobre o olhar da

observação:

A ação de olhar é um ato de estudar a si próprio, a realidade, o grupo à luz da teoria

que nos inspira. Pois sempre „só vejo o que sei‟ (Jean Piaget). Na ação de se

perguntar sobre o que vemos é que rompemos com as insuficiências desse saber; e

assim, podemos voltar à teoria para ampliar nosso pensamento e nosso olhar.

(1996,s.p.)

Nesta perspectiva, a partir dos dados coletados sobre as quatro cidades do Estado do

Rio Grande do Sul: Tupandi, Pareci Novo, São José dos Ausentes e Pinhal da Serra, e de suas

respectivas escolas: E.M.E.F. São Francisco, E.M.E.F. Beato Roque, E.E.E.M. Antônio Inácio

Velho e E.E.E.M. São Paulo de Tarso, aponta-se, em cada uma, possíveis fatores que podem

contribuir no desempenho dos alunos de 8ª série do Ensino Fundamental, na Prova Brasil de

Matemática. Dados que trazem reflexões sobre o papel dos governantes no processo

educacional, bem como a função do educador como sujeito mediador do ensino e

aprendizagem do aluno.

Sabe-se que no Brasil, de acordo com Klein (apud BOMENY, 1997, p. 60) “[...] na

realidade, os „melhores‟ são simplesmente os „menos ruins‟”. Conforme o autor não basta ser

o melhor em uma região em que os indicadores de eficiência são muito baixos. Assim como

não é suficiente acreditar que mesmo que os índices de uma avaliação externa não atendam as

estimativas do MEC num determinado ano, estes foram melhores do que os índices apontados

no ano anterior. Ou seja, não é possível se conformar com uma situação que não está bem,

pois “[...] é necessário que as políticas educacionais procurem, simultaneamente, baixar as

taxas de repetência e melhorar a qualidade de ensino.” (IDEM)

Nas duas primeiras cidades pesquisadas, observei que a participação da família é um

ponto marcante nas relações escolares, bem como a satisfação e o interesse dos professores no

aprendizado de seus alunos, também merecem destaque.

Como diz Nilma Santos Fontanive (apud BOMENY. 1997, p. 33):

41

Somada às novas demandas sociais por melhor qualidade da educação, aponta-se

também a preocupação das famílias e da sociedade em geral, mais atentas ao que se

passa dentro dos estabelecimentos de ensino, por um lado, e preocupadas, por outro,

em controlar o uso dos recursos públicos investidos no sistema educacional.

O programa de incentivo administrado pela prefeitura de Tupandi, em que financia

uma disciplina, por semestre no ensino superior, bem como subsidiam parte da passagem dos

estudantes, é um exemplo de investimento em educação. Ganha o aluno que tem a

oportunidade de cursar uma universidade, ganha o município que passa a contar com

profissionais mais qualificados.

O investimento e a preocupação da Secretaria de Educação de Pareci Novo e o

trabalho realizado em parceria com as direções de escola na atualização dos professores por

meio de cursos de aperfeiçoamento, também é um diferencial. Nesta ação os professores

sentem–se motivados em conhecer outras metodologias de ensino e aprendizagem, na

intenção de significar os saberes aprendidos pelos alunos na escola. Constata-se uma

preocupação nos discursos dos professores de superar a fragmentação do conhecimento e criar

uma relação entre o que se aprende na escola e a realidade do aluno, numa perspectiva

interdisciplinar.

Também é necessário destacar que os dois municípios localizam-se, geograficamente,

próximos à região metropolitana, o que auxilia e incentiva a participação dos profissionais da

educação em diferentes eventos educacionais.

Nestes municípios as ações desenvolvidas com o objetivo de propor atividades de

recuperação no contra turno auxiliam o aluno no seu processo de aprendizagem, diminuindo

os índices de reprovação. Outro fator que contribui para que o aluno tenha prazer em estar no

espaço escolar são os cuidados que a Escola Municipal de Ensino Fundamental São Francisco

têm com a alimentação dos estudantes. Pequenas ações que fazem o aluno perceber o

comprometimento da equipe administrativa e pedagógica da escola com o seu bem estar.

Paralela a estas observações, os professores de Matemáticas dos dois municípios

externam uma grande preocupação com as questões disciplinares. Por isto, adotam uma

postura mais rígida em sala de aula, cobrando do aluno “produção”, ou seja, a realização de

várias atividades. Quanto às metodologias de ensino e aprendizagem, cada um trabalha de

uma forma diferente. Percebe-se uma tendência às aulas expositivas, sustentadas na resolução

de exercícios. No entanto, visualizam-se algumas práticas pedagógicas que valorizam os

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saberes dos alunos, disponibilizam a utilização de material concreto, propõem pesquisas, entre

outras.

Em relação aos municípios que apresentaram baixos índices de desempenho na Prova

Brasil de Matemática no ano de 2007 destaca-se inicialmente, como um fator desfavorável à

aprendizagem, as poucas perspectivas de futuro que estes alunos têm. Devido à localização

geográfica destes municípios bem como as dificuldades de acesso, a comunidade acomoda-se,

desenvolvendo poucas iniciativas em prol do desenvolvimento das cidades. E este contexto

interfere na relação do aluno com o saber.

Pesquisas realizadas por Charlot (2001) com jovens estudantes confrontam o sentido

que a noção de relação com o saber recebe e produz pela influência cultural, pois o sujeito

está em relação com o meio. Desta forma “[...] a relação com o saber é relação de um sujeito

com o mundo, com ele mesmo e com os outros. É relação com o mundo como conjunto de

significados, mas, também, como espaço de atividades, e se inscreve no tempo. (2000,p.78)

Assim , a relação com o saber é uma forma de relação com o mundo.

O autor, em seus estudos, dá ênfase à universalidade do acesso à educação no país

apesar da grande desigualdade social. No entanto, chama a atenção para o elevado número de

alunos que são reprovados ou que abandonam a escola. Segundo ele, várias pesquisas têm

destacado a baixa qualidade do ensino e a inadequação da escola aos jovens das camadas

populares que a freqüentam.

Seja porque se desconhece esse público, seja porque o professorado é submetido a

condições de trabalho incompatíveis com a formação continuada e com o

aprimoramento pessoal, pode-se dizer que o ensino público brasileiro ainda não

garante aos seus alunos as condições necessárias e suficientes para o

desenvolvimento de uma relação pessoal significativa com o(s) saber(es) tão

relevante para o êxito da aprendizagem.(CHARLOT, 2001, p.34).

Os índices de reprovação nos municípios de São José dos Ausentes e Pinhal da Serra

são expressivos. Porém, os educadores responsabilizam os alunos pelo seu fracasso. No

entanto, também afirmam sentirem-se acomodados frente ao quadro educacional. Em ambas

as escolas pesquisadas constata-se um grande investimento em recursos materiais como

computadores, material de Ciências, entre outros. Todavia, não se observa investimentos na

formação continuada dos professores, nem da direção das escolas, nem das administrações

municipais.

43

O interesse em planejar uma ação que diminua os índices de reprovação da E.E.E.M.

Antônio Inácio Velho foi citado em entrevista com a coordenadora pedagógica. No entanto a

profissional destaca que para esta ação será necessário o apoio de todos os professores que

“desistiram de ficar insistindo com os alunos que não querem aprender”. A coordenadora

revela que há descontentamento por parte dos professores em relação ao PPP da escola, pois

eles resistem em rever seus métodos de ensino. Porém, apesar desta resistência, a escola

investe na aquisição de jogos didáticos de Matemática, livros para pesquisa, programas de

computadores, que estão à disposição dos professores de Matemática, que não os manuseiam.

A utilização do livro didático nas aulas de Matemática é um fator determinante na

didática destas escolas. Foi observado que os professores seguem o livro didático como

referência dos conteúdos a serem desenvolvidos, apesar de alguns profissionais utilizarem

outras fontes de pesquisa. Em relação a esta constatação Bárbara Freitag (1993, p.128)

destaca que o livro didático faz com que “[...] professores e alunos se tornassem seus

escravos, perdendo a autonomia e o senso crítico que o próprio processo de ensino–

aprendizagem deveria criar.” Ela argumenta que:

O livro assumiu o controle da sala de aula, tendo ocupado todos os espaços e todas

as disciplinas. E que o professor o idealiza, fazendo dele o seu único instrumento de

trabalho, servindo como última palavra do conhecimento na área, sendo tratado em

sala de aula como verdade absoluta e orientador das atividades (IDEM, p.128)

Neste sentido, a metodologia desenvolvida nas aulas de Matemática, centra-se apenas

na resolução de exercícios propostos pelo livro. Esta dinâmica de aula distancia-se da

estrutura metodológica destacada na Prova Brasil, que sustenta as questões na resolução de

problemas. Esta divergência de metodologias de ensino e aprendizagem pode contribuir nas

dificuldades de compreensão dos alunos dos enunciados dos testes da Prova Brasil.

Em Pinhal da Serra, a equipe diretiva da E.E.E.M. São Paulo de Tarso está ciente dos

resultados da avaliação externa, destacando sua angústia em relação aos baixos índices de

desempenho dos alunos. No entanto, esta preocupação não tem o apoio dos professores, de

acordo com a diretora da escola. Em suas falas, ao serem questionados sobre o baixo

desempenho dos alunos na Prova Brasil enfatizam que a culpa é dos alunos, que estes não

possuem vontade de estudar e “por isso que nós, professores, também não temos vontade de

propor ideias novas a eles. Tudo lhes parece ser muito difícil, daí desistimos de ficar

insistindo com os alunos que não querem aprender”.

44

Em relação a este discurso Charlot (2001) não compartilha com os educadores, pois

destaca que os jovens, em sua pesquisa realizada em escolas públicas de São Paulo,

mencionam o respeito mútuo como o tipo de saber mais importante de ser construído na

escola. Referem-se ao respeito fundamentado na reciprocidade, na igualdade e não na

obediência.

Portanto, o saber valorizado pelos jovens, aquele que na sua experiência de vida

consideram o „mais importante‟, é o saber necessário a um tipo de sociabilidade, a

certo tipo de vida coletiva, E sua importância estratégica parece estar na garantia do

reconhecimento- reconhecimento de um sujeito pelo outro e vice–versa.

(CHARLOT, 2001, p.41)

Desta forma, testemunha-se um conformismo dos professores com as políticas de

educação desenvolvidas no município, assim como em relação às dificuldades vivenciadas no

cotidiano da escola.

Também é necessário retomar o depoimento de uma das professoras de Matemática da

Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Inácio Velho, de São José dos Ausentes. A

educadora, ao fazer referências à Prova Brasil enfatiza que um único instrumento de avaliação

não é suficiente para diagnosticar o nível de aprendizagem dos alunos. Em seu depoimento

revela que as condições em que a prova foi aplicada prejudicaram o desempenho dos alunos,

além de não conhecerem esta metodologia de estudo. Neste sentido busca-se nos estudos de

Thurler (1998) argumentos que questionam a eficácia da Prova Brasil, considerando que a

qualidade do processo de aprendizagem “[...] não se mede, ela se constrói, negocia-se, pratica-

se e se vive. (THURLER, 1998, p.175)

Acredita-se que os fatores acima mencionados possam contribuir para o melhor

entendimento do que levou cada uma das escolas a obter baixos ou altos índices de

desempenho na Prova Brasil de Matemática da 8ª série. Alguns destes fatores ficam latentes,

ou seja, são de fácil observação, visto que nas escolas com baixo índice constata-se a

resistência dos professores em relação às metodologias de ensino e aprendizagem. Evidencia-

se, também, que as dificuldades não estão centradas na estrutura física das escolas, pois todas

são bem equipadas com materiais didáticos em suas bibliotecas, sala de vídeos, sala de

computação e quadra de esportes.

No entanto, o que faz com que os municípios de menor índice se distanciem dos

municípios de melhor índice de desempenho, provavelmente seja a organização do seu corpo

45

docente, da didática e metodologia utilizada por eles, do investimento que é necessário fazer

na formação continuada dos profissionais da educação. Além disto, é necessário considerar o

contexto sócio, econômico, geográfico, histórico e cultural de cada município.

46

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho aqui apresentado procurou apontar alguns possíveis fatores que podem

contribuir no índice de desempenho da Prova Brasil de Matemática da 8ª série do Ensino

Fundamental de quatro municípios gaúchos.

A partir dos dados observados e coletados, esboçam-se tentativas de análise e

compreensão do contexto em que a escola está inserida, bem como o conjunto de ações

envolvendo recursos materiais e humanos, usando como pano de fundo o processo de ensino e

aprendizagem da Matemática.

É preciso ressaltar que a parte empírica da pesquisa sustentou-se nas minhas

percepções, no meu olhar, ou seja, naquilo que foi possível observar e testemunhar, num curto

período de tempo. Porém tentei acompanhar a rotina diária de cada instituição de ensino, na

intenção de perceber como pensam, como agem, como se relacionam os protagonistas da

escola: alunos e professores.

Evidencia-se, por meio de um exercício de comparação, que algumas das concepções

dos sujeitos da pesquisa se aproximam, outras tantas se distanciam quanto ao ensino da

Matemática e os resultados da Prova Brasil.

A Prova Brasil integra um conjunto de ações que objetiva, por meio de uma avaliação

externa em larga escala, perceber as habilidades e competências básicas dos alunos das

escolas públicas. Além dos testes, os questionários que são respondidos pelos sujeitos dos

diferentes segmentos que compõem a comunidade escolar destacam informações sobre as

características individuais e socioeconômicas dos alunos e professores; as relações familiares;

as condições de funcionamento das escolas, o processo de gestão, a organização do currículo

escolar.

No entanto, não pode ser usada como o único parâmetro avaliativo para classificar o

nível de desempenho de todos os municípios brasileiros, pois há outros fatores relacionados

com o desempenho escolar que influenciam no processo de ensino e aprendizagem do aluno.

Neste contexto, destaco as minhas percepções produzidas nas diferentes realidades

escolares que visitei. Conheci cidades praticamente isoladas que vivem da criação de animais

47

e da plantação e colheita, crianças e jovens que trabalham em lavouras e não têm as

facilidades em suas vidas como nós na região metropolitana. A realidade destas crianças e

jovens é muito diferente da realidade dos estudantes de nossa região, pois testemunhar uma

criança de seis anos realizar dois trajetos de ida e volta, investindo em cada horário, duas

horas de viagem de ônibus em situações precárias para aprender a ler e escrever, comoveu-

me.

Em contrapartida, o compromisso dos profissionais da educação precisa ser ínfimo, no

desejo de atender às poucas expectativas que estas crianças e jovens têm do futuro, não

permitindo que vivam situações de fracasso escolar. Desta forma, testes e questionários

aplicados uma vez por ano, em data determinada por pessoas que não conhecem a rotina da

escola, com certeza, não são suficientes para avaliar eficiência da educação em todos os

municípios brasileiros, considerando a diversidade cultural que perpassa pelas diferentes

regiões do país. No entanto, a Prova Brasil pode auxiliar no diagnóstico das ações que vem

sendo desenvolvidas em cada município, apontando caminhos para novos e mais

investimentos na área da educação. Também, a partir de um olhar reflexivo sobre a

metodologia desenvolvida na elaboração dos testes, os professores podem repensar a sua

prática pedagógica, produzindo outros olhares sobre o currículo, o processo de ensino e

aprendizagem.

Durante o desenvolvimento da pesquisa, aponta-se como um diferencial entre os

municípios visitados os investimentos realizados pela municipalidade na educação, a

participação das famílias na trajetória escolar dos alunos, as perspectivas dos educandos em

relação ao futuro, o aproveitamento dos recursos materiais disponíveis em cada escola e o

envolvimento dos educadores nas ações desenvolvidas no contexto escolar, bem como o

investimento em sua formação continuada. Este sim, é um importante fator que pode

influenciar na qualidade do trabalho docente.

Enfim, concluo com a certeza de que tantos outros fatores podem contribuir no

desempenho dos alunos nos instrumentos utilizados no processo de avaliação em larga escala

desenvolvido no país. No entanto, ratifico a importância da participação da família, do

comprometimento dos professores com o processo de ensino e aprendizagem e da vontade

política das administrações responsáveis pelas escolas de acreditarem que todos têm o direito

de aprender, respeitando-se seus tempos e jeitos de aprender... E que é compromisso da escola

tentar ensinar com qualidade.

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51

ANEXOS