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Anais do VI SIPEM
15 a 19 de novembro de 2015 Pirenópolis - Goiás - Brasil
RELAÇÃO ENTRE SABER CLASSIFICAR E O DOMÍNIO DA
LINGUAGEM ORAL COMO DETERMINANTES NA
EXPLICAÇÃO ORAL DE PROFESSORES DOS ANOS INICIAIS
THE RELATIONSHIP BETWEEN CLASSIFY AND ORAL LANGUAGE
AS DETERMINATE FOR THE ORAL EXPLICATION OF FUTURE
TEACHERS IN PRIMARY SCHOOL
Gilda Guimarães
Universidade Federal de Pernambuco - Brasil
Izabella Oliveira
Université Laval – Canadá
RESUMO
Será que futuros professores têm consciência do impacto de suas palavras sobre a aprendizagem
de seus alunos? Este estudo buscou analisar o conhecimento sobre classificações de graduandos
de Pedagogia e suas explicações orais sobreas mesmas. Para tal, foi solicitado que 113
estudantes de três turmas criassem individualmente critérios para classificar figuras (em 2 ou 3
grupos), analisassem as respostas de um colega e apresentassem as mesmas para a turma.
Observamos uma diferença significativa em função da quantidade de grupos a serem formados.
Definir o critério a ser utilizado antes de distribuir os elementos nos grupos foi fundamental
para uma correta classificação. Além disso, os graduandos apresentaram dificuldades em dar
explicações oralmente. Uma boa explicação oral depende do domínio do conteúdo e da
linguagem oral. Somente um desses aspectos não é suficiente para assegurar uma explicação
oral de qualidade. Acreditamos na importância de uma formação que leve os professores a
compreenderem, de forma consciente, a relação que existe entre linguagem oral (Matemática e
língua natural) e o domínio do conceito matemático, para que as explicações dadas em classe
favoreçam a aprendizagem dos alunos.
PALAVRAS-CHAVE: classificação - explicação oral – professor dos anos iniciais
ABSTRACT
Will future teachers aware of the impact of his words of the learning of their students?
This study aimed to verify the knowledge of classify and their oral explication by pre-
service teacher of primary school. To this end, we asked individually for 113 students
from three classes to create criteria for classifying figures. In sequence was asked that
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they analyse the classification made by a colleague and justify. In each group was asked
to 6 students explain to colleagues their analysis, which were video-recorded. We
observed a significant difference in the quantity of groups to be formed (two or three
groups) and that only those who set the descriptor do a correct classification. Were also
found difficulties of the students to give explications orally. Only one of these aspects is
not sufficient for an oral explanation quality. Thus, we believe it is important that future
teachers have training in oral language in all disciplines of specific didactic. This
training will enable teachers to understand, consciously, the relationship between oral
language (Mathematics and natural language) and the mathematical concept of the
domain, so that the explanations given in class promote student learning.
KEYWORDS: classify – oral explication – teacher for primary school
A Matemática e a Língua Materna mantém estreita relação. Machado (1991)
afirma que existe uma impregnação mútua entre Matemática e Língua Materna e que
reconhecer essa impregnação é fundamental para a proposição de ações que visem às
superações das dificuldades com o ensino da Matemática. Investigar a imbricação entre
a Matemática e Língua Materna oral é o objetivo desse estudo.
Tendo como base a abordagem sócio interacionista do ensino da língua,
consideramos como Schneuwly e Dolz (1997) que os elementos verbais e para verbais
(postura do orador, gestos, voz, entonação, utilização de imagens e notas de apoio)
caracterizam a situação de comunicação. Na escola a maior parte das atividades
pedagógicas envolve a oralidade. O ritual escolar está basicamente organizado encima
da fala do professor. A conduta explicativa do professor tem lugar de destaque no
discurso que ele realiza na sala de aula e tem um impacto importante sobre a
aprendizagem dos alunos. Assim o professor busca a aprendizagem de seus alunos
utilizando-se da fala, ou seja, da linguagem oral.
Uma das funções da linguagem oral em sala de aula é a construção de
conhecimento e a estruturação do pensamento do aluno. Nesse sentido, Ortiz (1994)
considera a competência comunicativa como a capacidade do professor de estabelecer
uma comunicação pedagógica efetiva e eficiente com seus alunos.
No Québec (Canadá) o documento governamental “La formation à
l’enseignement. Les orientations” indica que a competência comunicar oralmente e por
escrito é fundamental na formação do futuro professor. Este deve utilizar uma
linguagem precisa, uma vez que uma linguagem imprecisa, inapropriada ou errada
produz erros de compreensão pelos alunos. Por outro lado, uma linguagem correta com
auxílio de metáforas, exemplos e analogias pode facilitar a aprendizagem dos conceitos.
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No Brasil e na Espanha essa aprendizagem não é explicitada na legislação para
formação do Licenciado.
Entretanto, nas aulas de Matemática a comunicação pedagógica tem grande
efeito instrutivo e educativo. Bednardz (2005) afirma que é fundamental que os
estudantes e os professores saibam utilizar a linguagem especifica da Matemática para
uma adequada construção dos conceitos. Essa verbalização e o desenvolvimento de uma
flexibilidade das explicações orais, em função do público a que se destina, fazem parte
do desenvolvimento da comunicação em Matemática. Assim, é fundamental
compreender a relação de complementariedade entre a língua natural oral e a língua
Matemática utilizada em situação de ensino aprendizagem.
Segundo Proulx, Bednarz e Kieran (2006) as explicações dadas em sala de aula
tem uma função de regulação das aprendizagens e permitem o desenvolvimento dos
conhecimentos dos alunos. Essas afirmações permitem-nos constatar o papel importante
que ocupam as explicações orais em classes de Matemática. Os autores afirmam
também que a maneira segundo a qual o professor ou a professora fala Matemática – o
que valoriza implicitamente através da maneira de expor, de explicar, de argumentar,
etc. – descreve, de certa forma, a maneira de fazer Matemática na classe.
De maneira geral, a conduta explicativa do professor exige que ele use, de
maneira concomitante vários sistemas semióticos para que seu discurso oral seja claro e
coerente (Scleppegrell, 2007). Entre esses diferentes sistemas, identificamos a
linguagem verbal (linguagem ordinária e linguagem específica – linguagem
Matemática), a linguagem não verbal (gestual), além da representação visual
(diagramas, gráficos) e, no caso de uma explicação em Matemática, a notação simbólica
(Duval, 1991).
Em relação às dificuldades identificadas nos futuros professores quanto ao
emprego da linguagem oral no ensino da Matemática, Oliveira e Mottet (2012) afirmam
que os futuros professores parecem não ter consciência do impacto das palavras que eles
empregam e dos gestos associados sobre a compreensão da atividade ou conceito pelos
alunos e, consequentemente, sobre a aprendizagem deles. As autoras notam igualmente
que outra dificuldade é a de explicitar oralmente as etapas de um raciocínio empregado
ou as etapas da estratégia utilizada quando eles devem explicar o que eles fizeram
matematicamente (verbalização). Essa dificuldade foi identificada principalmente
quando os futuros professores deviam dar explicações sobre conceitos e estratégias que
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eles não dominavam totalmente e que por isso mesmo não são totalmente conscientes da
necessidade de serem precisos e da influência do que eles dizem na aprendizagem dos
alunos.
Ponte, Guerreiro, Cunha, Duarte, Martinho, Martins e Menino (2007)
observaram que são pouquíssimos os professores que apontam a comunicação como um
processo fundamental para o desenvolvimento de significados matemáticos por parte
dos alunos. Estes resultados sugerem que as instituições de formação deveriam refletir
sobre as suas práticas de formação neste domínio.
O CONCEITO LÓGICO-MATEMÁTICO DE CLASSIFICAÇÃO
Ao longo dos anos a humanidade vem criando classificações em função de seus
objetivos. Assim, a prática de classificação é um processo habitual do homem, que não
só faz parte da rotina diária, como numa simples organização de livros na prateleira ou
roupas num armário, como também está presente em várias situações de aprendizagens
das mais diversas áreas do conhecimento. Nesse sentido, Berger e Bonthoux (2000)
definem o ato de classificar ou de categorizar como sendo « uma atividade visando
tratar como equivalentes diferentes objetos com o objetivo de reduzir a complexidade
do meio em que vivemos” (p.123). Dessa forma, o sujeito utiliza seus conhecimentos
sobre categorias para descrever de maneira mais eficaz os objetos e os eventos que o
rodeiam e assim agir de maneira mais adequada a situação.
Atualmente, diante da valorização da pesquisa, em qualquer nível de ensino, o
ato de classificar e de criar classificações vem sendo bastante enfatizado, pois é sabido
que em qualquer atividade de investigação é imprescindível à categorização, ou seja, a
organização dos dados em grupos para que se possam interpretar os mesmos de forma
mais objetiva.
Estudos voltados para investigar como crianças e adultos criam categorias para
classificar um grupo de elementos são raros na literatura. Temos encontrado estudos que
investigam como adultos e crianças constroem conceitos a partir de classificações (Ross
& Murphy, 1999, Deák & Bauer, 1995; Nguyen & Murphy, 2003, entre outros) ou
estudos com crianças bem pequenas ou bebes sobre a relação pensamento e linguagem
(Cordier & Labrell, 2000; Mareschal & French, 2000; Vieillard & Guidetti, 2009, entre
outros).
Um dos estudos encontrados foi realizado por Piaget e Inhelder (1983), que
argumentam que classificar pode ser definido como um procedimento que permite
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atribuir uma categoria a todos os elementos de uma certa coleção, de acordo com o
critério determinado. Assim, o que caracteriza uma classificação é o uso de um critério
único a todos os elementos que estão sendo classificados, cujos diferentes valores
permitem incluir cada um deles em alguma subclasse como caso particular de um
critério geral. Desse modo, classificar significa verificar em um conjunto de elementos
os que têm a mesma propriedade. Para que uma classificação seja correta, as categorias
devem apresentar exaustividade (representa todos os fatos e ocorrências possíveis) e
exclusividade (coerência para que qualquer resultado só possa ser representado de uma
única maneira), ou seja, as categorias devem ser capazes de exaurir todas as
possibilidades e, ao mesmo tempo, serem mutuamente excludentes. Acrescentamos que
é fundamental registrar que os critérios de classificação adotados dependem do contexto
em que são classificados, do momento histórico e das necessidades do homem. Desta
forma, é possível existir tantos sistemas de classificação quantos forem os
classificadores.
Guimarães, Gitirana e Roazzi (2002) realizaram um estudo investigando como
107 alunos (9-10 anos) criavam categorias para classificar um grupo de animais e
observaram que a maioria dos alunos (64%) não realizou uma classificação correta. Na
busca de classificar, esses alunos acabam por nomear grupos a partir de propriedades
comuns a cada um e não a partir de um descritor. Um aluno, por exemplo, coloca o
descritor “mora” e as categorias “natureza, selva, mato, cidade”. Sem se aperceber que
mato existe na selva e na natureza e que selva é natureza.
Esses resultados também foram encontrados por Luz, Guimarães e Ruesga
(2011) quando investigaram como crianças e professores dos anos iniciais de
escolarização classificavam. Essas autoras investigaram como 48 alunos do 3º ano do
Ensino Fundamental (8 anos) e 16 professoras desse nível de ensino realizavam
classificações de um grupo de 11 figurinhas de desenhos animados ou de brinquedos
infantis. Os resultados mostram que a maioria dos participantes apresentou um
desempenho fraco (apenas 33% dos alunos e 44% das professoras acertaram).
Novamente, na tentativa de classificar, os participantes acabavam utilizando mais de um
critério (56% dos alunos e das professoras), ou seja, nomeavam subgrupo de figurinhas
que apresentavam características comuns. Acrescido a isso, poucos participantes
colocaram o descritor (29% dos alunos e 44% das professoras), além do que, muitas
vezes eles não correspondiam ao critério da classificação utilizado. Vieillard e Guidetti
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(2009) já haviam observado que adultos e crianças nomeavam os grupos e não o critério
que tinham utilizado.
Essa dificuldade de alunos e professores pode ser explicada, em parte, pela
ausência de um trabalho sistematizado na escola sobre o classificar. Silva (2013) afirma
que ao analisar coleções didáticas dos anos iniciais do Ensino Fundamental de
Matemática e Ciências do Brasil observou que em apenas 1% das atividades é proposto
que os alunos criem um critério de classificação, pois nas demais atividades as classes já
são definidas cabendo ao aluno apenas distribuir os elementos nas mesmas. Nesse
mesmo sentido, Guimarães e Gitirana (2006) analisando as coleções didáticas de
Matemática para os anos iniciais de escolarização, aprovadas pelo Programa Nacional
de Livro Didático (PNLD 2004) já apontavam uma desvalorização de atividades em
torno do tema classificação nos livros didáticos.
CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO
Vergnaud (1991) ressalta a importância dos sujeitos compreenderem a diferença
entre descritor e propriedades. Um descritor é um conjunto de propriedades distintas e
uma propriedade é um valor tomado por um descritor. Ex.: vermelho é a propriedade
dos objetos vermelhos e a cor é descritor dos objetos que podem ter vários valores (azul,
amarelo, roxo, verde, etc).
Segundo esse autor existem descritores qualitativos e quantitativos. Os
descritores qualitativos envolvem variáveis binárias, nominais ou ordinais cujos
diferentes valores possíveis são expressos por atributos. Uma variável binária apresenta
uma característica que pode ter ou não. Ex: rabo: tem e não tem. Uma variável nominal
pode ser tipo de material com valores possíveis: plástico, ferro e madeira. As variáveis
ordinais são aquelas cujos diversos valores possíveis estão ordenados, mas não são
mensuráveis, como por exemplo, o descritor espessura, com valores fino, médio e
grosso. As variáveis quantitativas, com quantidades discretas ou contínuas, são aquelas
cujos valores diferentes podem ser expressos em números. Permitem associar aos
objetos, os números que são a sua medida. Ex: descritor: tamanho; valores possíveis:
1,53cm; 1,78cm.
Assim, é importante que a escola desenvolva um trabalho com a habilidade
lógica do pensamento de classificar, ou seja, saber organizar os elementos em
categorias. Devemos, ainda, estimulá-los a nomear as categorias, estabelecendo assim o
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descritor, pois quando o aluno consegue nomear o descritor, ele demonstra consciência
de seu critério de categorização.
O conceito lógico-matemático de classificação também vem sendo ressaltado
como importante nos currículos de Quebec (MEQ, 2001) e do Brasil (PCN, 1997).
Entretanto, enquanto na Educação Infantil é ressaltada a importância da aprendizagem
de classificar, nos anos iniciais ela só aparece como aplicação e não como conceito a ser
apreendido. Dessa forma, subentende-se que a aprendizagem do conceito lógico-
matemático de classificar na Educação Infantil seria suficiente para que nos anos
seguintes ele só fosse aplicado.
Nesse sentido essa pesquisa teve como objetivo analisar se futuros professores
dos anos iniciais de escolarização sabiam criar critérios de classificação, sabiam analisar
classificações e como as explicavam oralmente.
MÉTODO
Participaram da pesquisa 113 graduandos em Pedagogia de 3 (três) cidades
diferentes: 30 de Recife (Brasil), 39 de Burgos (Espanha) e 44 de Quebec (Canadá) que
estavam cursando uma disciplina que envolvia a aprendizagem da didática da
Matemática.
Foi solicitado que, individualmente, todos os graduandos de cada turma
respondesse uma atividade envolvendo classificação (Figura 1). Metade da turma devia
classificar os elementos em 2 grupos e a outra metade em 3 grupos.
Esses personagens de desenho animado podem ser classificados de diferentes maneiras.
Construa uma tabela para registrar sua classificação em 2 (dois) grupos.
Figura 1 - Atividade proposta
Em outro dia, foi realizada uma formação, de aproximadamente 30 minutos,
sobre o conceito de classificar. Em seguida, era entregue uma folha com a classificação
realizada por um colega em dia anterior, a qual deveria ser analisada por escrito.
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Finalmente, 6 (seis) graduandos de cada classe/país explicava para sua turma o que o
colega havia feito e argumentava sobre sua análise. Essa etapa foi vídeo-gravada. Essas
explicações orais foram transcritas e analisadas sobre três aspectos: linguagem oral
corrente, linguagem Matemática e domínio do conceito em questão – classificação.
Em relação à linguagem oral corrente consideramos dois critérios: o emprego da
língua e o desenvolvimento da explicação. O emprego da língua foi classificado como
linguagem pobre e/ou errônea (frases incompletas e/ou imprecisas, vícios de
linguagem, conectores ausentes, repetitivos ou inapropriados e referentes imprecisos) ou
linguagem rica (períodos elaborados, complexos e precisos, emprego de verbos que
exprimem raciocínio, referentes claros, conectores apropriados e diversificados). O
desenvolvimento da explicação foi classificado como pouco desenvolvido (falta de
articulação entre as ideias) e desenvolvido (descrição, justificativa, utilização de
exemplos para apoiar a análise).
Em relação à Matemática analisamos o vocabulário e a representação visual.
Para o conceito lógico-matemático de classificar consideramos se a explicação referia-
se ao descritor (critério), as classes (sub-grupos) e aos elementos, atendendo aos
critérios de exaustividade e exclusividade.
RESULTADOS
Iniciamos observando que 78% dos graduandos acertaram a classificação. Nas
três turmas a maioria conseguiu realizar uma classificaçao correta. A Figura 2 apresenta
um exemplo no qual o graduando classificou em 3 grupos utilizando o descritor
“tamanho do personagem” criando 3 classes: pequeno (menos de 30 cm), medio (entre
30 cm e 1 metro) e grande (mais de 1 metro). Esse graduando realiza dois tipos de
classificação, uma ordinal (pequeno, médio e grande) e uma numérica (colocando as
medidas) de forma relacionada.
Figura 2 - Exemplo de classificação em três grupos
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Entretanto, quando analisamos o desempenho dos graduandos em função da
quantidade de grupos que deveriam classificar, observamos uma diferença uma vez que
93% dos mesmos que classificaram em dois grupos e 64% dos que classificaram em três
grupos conseguiram realizar uma classificação correta. Essa diferença entre o percentual
de acerto é bastante significativa (X2
= 13,717, gl 1, p≤.000). Assim, classificar em dois
grupos foi mais fácil. Essa dificuldade em clasificar em três grupos está presente nos
graduandos das três turmas.
Na Figura 3, apresentamos dois exemplos de graduandos que classificam
utilizando critérios misturados, o primeiro em dois grupos e o segundo em três. O
primeiro faz uma classificação entre personagem: animal místico e humano
transformado. Assim, mistura animal com humano e místico com transformado, ou seja,
utiliza mais de um critério simultaneamente para adjetivar os personagens. Já o
segundo, classifica os desenhos em: animal, menino e menina, utilizando dois critérios:
ser animal e genero.
Figura 3 - Exemplo da classificação em 2 ou 3 grupos com mais de um critério
O Gráfico 1 apresenta as médias para cada turma de cada cidade considerando a
quantidade de grupos a serem formados. A diferença entre classificar em dois ou três
grupos é significativa [F (1,112) = 18,574; p≤.000]. Não foram encontradas diferenças
significativas entre os países e nem na interação entre país e grupo.
Gráfico 1 - Média de acerto por cidade e grupo
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Como já foi levantado na revisão da literatura, autores como Vergnaud (1991) e
Guimarães et al (2002) ressaltam a importância de se analisar o tipo de descritor criado,
pois eles implicam em diferentes compreensões sobre o classificar. Dessa forma,
analisamos se nossos participantes definiram os descritores e qual a relação entre
realizar uma classificação e definir um descritor.
Verificamos que somente quem realizou uma classificação correta definiu o
descritor (12%) e observamos que definir um descritor independe da quantidade de
grupos que o graduando classificou. Quando o graduando define o descritor ele faz uma
classificação correta, pois têm consciencia do critério que está utilizando.
Buscamos igualmente analisar quais tipos de variáveis foram criadas pelos
participantes ao classificar. Quando os graduandos foram solicitados a classificar em
dois grupos foi observado que 49% eram binárias e 44% nominais. Para três grupos
observamos que 60% eram nominais e 3% numéricas. Entretanto, outras estratégias
foram utilizadas na tentativa de classificar. Para dois grupos encontramos 2% de
graduandos apenas dividindo em dois grupos e nomeando apenas como “grupo 1 e
grupo 2” e 6% utilizando mais de um critério. Para três grupos encontramos as mesmas
estratégias, entretanto com acentuado crecimento para mais de um critério (2% e 35%).
Finalmente, gostaríamos de chamar a atenção sobre o mote utilizado como
critério pelos graduandos. Independente da cidade de origem, os critérios escolhidos
foram os mesmos. Apesar dos elementos a serem classificados serem desenhos
animados, 35% dos participantes utilizaram critérios bastante utilizados na escola tais
como: marítimo/terrestre/aéreo ou nadam/voam/andam. Essas classificações, por habitat
ou meio de locomoção são, inclusive, questionáveis para esse grupo de elementos.
Utilizar critérios tais como onde passou pela primeira vez ou eu vi pela primeira vez
(gibi/ filme/televisão) ou desenhos contemporâneos e antigos nos parecem mais
apropriados.
Em relação à linguagem, observamos que todos os estudantes que participaram
do estudo utilizaram um vocabulário matemático adequado referindo-se a classificação
e a termos como: descritor, binária, tabela, categorias, entre outros. A atividade
solicitava uma representação visual em tabela, entretanto, nesse texto não analisaremos
essa representação.
Infelizmente, um grande número de estudantes não conseguiu realizar uma
análise sobre a classificação realizada pelo colega de forma adequada (11/18). Apenas 7
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(sete) estudantes ao explicarem oralmente a análise que haviam realizado, para a turma,
referiram-se ao descritor, classes e elementos. No exemplo 1 podemos ver que o
graduando refere-se ao descritor (natureza do personagem), as classes (menino, menina
e animal) e aos elementos (“apesar do Bob esponja não ser de verdade um animal”).
Exemplo 1 - Hum, em relação à classificação,
hum, foi repartido segundo hum, hum, a
natureza do personagem. Então, está escrito
menino, menina ou animal. Então,
menino/menina, eu concluo que é uma
categorização humana e deduzo que isso tá bom,
apesar do Bob esponja não ser de verdade um
animal. Por isso eu escrevi “quase”, porque é
verdade que o Bob esponja é um, um
personagem masculino, mas não é mesmo um,
um menino humano, como eu já disse. E, hum,
eu então decidi repartir isso hum, segundo hum
seus tamanhos. Então, você tem como exemplo
Mickey que vai estar no tamanho médio e
Super-homem, por exemplo, estará nos de
tamanho grande, Piu-Piu nos pequenos. (suj 16)
A Tabela 1 apresenta a distribuição dos participantes em função do tipo de
análise realizada. Como pode ser observado, 10 estudantes não analisam o descritor.
Destes, 3 (três) só analisam os elementos e os outros 7 (sete) analisam as classes sendo
que alguns também analisam os elementos.
O exemplo 2 apresenta uma análise apenas dos elementos. A pessoa afirma que
não entendeu a classificação, entretanto, deveria argumentar que o colega não fez uma
classificação e sim buscou unir personagens com uma mesma propriedade, segundo
quem buscou classificar. O estudante que analisa apenas discorda de colocar o Shrek
como bonito e termina sugerindo uma classificação.
Exemplo 2 - Eu não entendi muito bem
não, mas...eu não entendi muito bem a
classificação que ela fez. É... porque
bonito...bonito pra mim seria outra coisa.
Ela botou o Shrek aí... (risos). Eu só
mudaria isso mesmo. Assim, em vez de
colocar aquático, ela colocou preguiçosos
e bonitos, eu colocaria aquático, terrestre
e os que voam. (sujeito 4)
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Em relação ao discurso oral, ou seja, a explicação dada pelos futuros
professores, podemos observar na Tabela 2 que há uma diversidade de discursos os
quais categorizamos em quatro categorias, considerando o tipo de linguagem e sua
extensão.
Não analisa o descritor Analisa o descritor
Não analisa as
classes
Analisa as classes Não analisa as
classes
Analisa as classes
Não
analisa os
elementos
Analisa os
elementos
Não
analisa os
elementos
Analisa os
elementos
Não
analisa os
elementos
Analisa os
elementos
Não
analisa os
elementos
Analisa os
elementos
Suj 2 Suj 1 Suj 3 Suj 6 Suj 9
Suj 4 Suj 10 Suj 5 Suj 13
Suj 12 Suj 7 Suj 14
Suj 8 Suj 15
Suj 11 Suj 16
Suj 17
Suj 18
Tabela 1 - Frequência por tipo de análise da classificação
Qualidade da língua oral Língua pobre e
explicação pouco
desenvolvida
Língua pobre e
explicação bem
desenvolvida
Língua rica e explicação
pouco desenvolvida
Língua rica e explicação
bem desenvolvida
Suj 14 Suj 17 Suj 13 Suj 16
Suj 1 Suj 2 Suj 15 Suj 18
Suj 5 Suj 7 Suj 3 Suj 9
Suj 6 Suj 8 Suj 4 Suj 10
Suj 11
Suj 12
Tabela 2 - Frequência da qualidade da língua
Entretanto, o resultado mais interessante pode ser observado quando cruzamos
essas duas tabelas: análise da classificação e qualidade da língua oral. De fato, notamos
que certos sujeitos que analisaram a classificação de maneira correta, considerando
todos os critérios, no momento de explicar essa análise utilizam uma linguagem pobre e
uma explicação pouco desenvolvida (sujeito 14). Por outro lado, certos sujeitos utilizam
uma linguagem rica e uma explicação bem desenvolvida, mas não fazem uma análise da
classificação correta ou completa (sujeito 10).
Essas diferenças mostram que o domínio conceitual não é suficiente para uma
boa explicação oral, da mesma forma que ter um bom discurso oral sem domínio
conceitual fica vazio de significados. Esse resultado é preocupante porque, como já
argumentamos, a explicação oral é o primeiro instrumento de trabalho de um professor
em sala de aula.
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CONCLUSÃO
Nesse estudo buscamos investigar como futuros professores criavam critérios
para classificar, como analisavam a classificação de um colega e como as explicavam
oralmente. Os resultados mostraram que futuros professores conseguem classificar uma
quantidade pequena de figuras de desenhos animados em 2 grupos, mas apresentam
maior dificuldade quando solicitados a classificar em 3 grupos, pois acabam utilizando
mais de um critério simultaneamente. Acrescido a isso, poucos consideraram necessário
explicitar o critério de classificação, apenas nomeando as classes. Esse resultado reforça
a ideia que classificar não é um ato tão simples quanto se costuma pensar, uma vez que
investigamos em diferentes países, culturas e idiomas e as dificuldades apresentadas
foram às mesmas.
Esse resultado nos leva a questionarmos sobre: Se futuros professores
apresentam dificuldades para classificar, como poderão ensinar a seus futuros alunos?
Assim, acreditamos que o processo de formação de professores precisa levar os
mesmos a uma reflexão sistemática que permita a aprendizagem de criar critérios para
classificar um conjunto qualquer e a respeitar a exaustividade e a exclusividade.
Acrescido a isso, para que uma explicação oral em Matemática possa propiciar a
aprendizagem é necessária uma articulação entre o domínio do discurso oral e o
domínio do conceito matemático. O domínio de um só desses aspectos é insuficiente
para assegurar uma explicação de qualidade. Assim, é fundamental que professores
tenham consciência que o discurso oral que realizam vai propiciar uma menor ou maior
qualidade de aprendizagem dos alunos e que este prescinde de um domínio e articulação
entre linguagem corrente, linguagem Matemática e o conceito matemático.
REFERÊNCIAS
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