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Um dever de Antígona: o nexo entre feminino e animal na obra de Lima Barreto 1 Nádia Farage All violence is but the agony Of caged things fighting blindly for the right To be and breathe and burn their little hour (Lola Ridge, Freedom. Mother Earth, 1911,VI,4:97) Mulheres, cães e um libertário Estabelecida em 1903, entre outras medidas higienizadoras, a recolha e extermínio de cães abandonados já se enraizara como prática biopolítica na cidade do Rio de Janeiro, em fins da década de dez, quando Lima Barreto publicou, nas páginas da revista Careta [(20.09.1919, in B.Resende & R.Valença, 2004,II:20], a crônica “A carroça dos cachorros”, que reproduzo em excerto: “(…) -- Lá vem a carrocinha! -- dizem. E todos os homens, mulheres e crianças se agitam e tratam de avisar os outros. Diz Dona Marocas a Dona Eugênia: --Vizinha! Lá vem a carrocinha! Prenda o Jupi! 1 Este artigo é parte de um projeto mais amplo de pesquisa sobre o naturismo libertário no Brasil moderno, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Agradeço a meus orientandos; a Joanna Overing, Margareth Rago e Paulo Santilli, pela interlocução inspiradora.

Um dever de Antígona

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Um dever de Antígona: o nexo entre feminino e animal

na obra de Lima Barreto1

Nádia Farage

All violence is but the agonyOf caged things fighting blindly for the rightTo be and breathe and burn their little hour(Lola Ridge, Freedom. Mother Earth, 1911,VI,4:97)

Mulheres, cães e um libertário

Estabelecida em 1903, entre outras medidas

higienizadoras, a recolha e extermínio de cães

abandonados já se enraizara como prática biopolítica na

cidade do Rio de Janeiro, em fins da década de dez,

quando Lima Barreto publicou, nas páginas da revista

Careta [(20.09.1919, in B.Resende & R.Valença,

2004,II:20], a crônica “A carroça dos cachorros”, que

reproduzo em excerto:

“(…) -- Lá vem a carrocinha! -- dizem.E todos os homens, mulheres e crianças seagitam e tratam de avisar os outros.Diz Dona Marocas a Dona Eugênia:--Vizinha! Lá vem a carrocinha! Prenda o Jupi!

1 Este artigo é parte de um projeto mais amplo de pesquisa sobre onaturismo libertário no Brasil moderno, financiado pela Fundação deAmparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Agradeço a meusorientandos; a Joanna Overing, Margareth Rago e Paulo Santilli, pelainterlocução inspiradora.

E toda a “avenida” se agita e os cachorrinhosvão presos e escondidos.Esse espetáculo tão curioso e especial mostrabem de que forma profunda nós homens nosligamos aos animais.Nada de útil, na verdade, o cão nos dá;entretanto, nós o amamos e nós o queremos.Quem os ama mais, não somos nós os homens; massão as mulheres e as mulheres pobres,depositárias por excelência daquilo que faz afelicidade e infelicidade da humanidade - oAmor.São elas que defendem os cachorros dos praçasde polícia e dos guardas municipais; são elasque amam os cães sem dono, os tristes edesgraçados cães que andam por aí à toa.Todas as manhãs, quando vejo semelhanteespetáculo, eu bendigo a humanidade em nomedaquelas pobres mulheres que se apiedam peloscães.A lei, com a sua cavalaria e guardasmunicipais, está no seu direito em persegui-los; elas, porém, estão no seu dever em acoitá-los.”

Dupla é a ambição deste artigo: pretende demonstrar,

de um lado, que esta crônica sumariza preocupações éticas

e políticas pervasivas na obra de Lima Barreto; de outro,

explorar o dever de solidariedade, que Lima Barreto

atribui às mulheres e, note-se, às mulheres pobres, com

relação aos animais, buscando circunscrevê-lo como tópica

das tendências naturistas no interior do anarquismo, à

época.

A fortuna crítica de Lima Barreto, a meu ver, não

explorou, ainda, em todas as suas implicações, a

proximidade do escritor às teses naturistas (A.Prado,

1989). As questões relativas ao gênero na produção

literária do autor, por sua vez, têm sido objeto de

análise recente (E.Vasconcellos, 1999, entre outros). Não

pretendo retomá-las; a leitura aqui empreendida busca,

tão somente, o nexo estabelecido entre as imagens do

feminino e do animal em sua obra, à luz das teses

libertárias abraçadas pelo autor. Em outras palavras,

debruço-me sobre a identificação, operada pela crônica,

entre mulheres e cães abandonados, na hipótese de que seu

solo comum seja a vulnerabilidade de seus corpos frente

ao biopoder, por força do controle reprodutivo, de que é

alvo tanto o corpo feminino, quanto o das espécies

domésticas.

Na ponta da língua

À primeira leitura, como bem mostrou E.Vasconcellos

(1999:194), a crônica barretiana é contraditória e, não

raro, ofensiva quanto às mulheres. Com efeito, várias

crônicas são vazadas de imagens preconceituosas quanto à

“inteligência curta” das mulheres que, segundo o autor,

as fazia competentes apenas para trabalhos repetitivos,

como tocar piano, bordar e decorar poemas :

“(...) Nas salas e salões, desde Botafogo ao Méier,não há quem não admire uma moça que saiba recitar.Todos os meninotes e mais dançarinos de taisparagens ficam embasbacados quando uma menina deolheiras põe-se no meio da sala e diz o “Quiseraamar-te (...)” (Careta, 19.02.1921, B.Resende & R.Valença 2004,II:316)

As mulheres teriam, pela matemática, “uma fascinação

de ídolo inacessível”, compensando tal déficit por “um

cursivo irrepreensível, com todos os tracinhos, todas as

filigranas (...)” (Gazeta da Tarde, 28.06.1911, B.Resende

& Valença, 2004,I:93).

Ou, como explicita outra passagem:

“ (...) As moças são habilíssimas nessas coisas defazer exames; elas sempre têm a matéria na ponta dalíngua, elas não se preocupam de achar o nexo entreas noções científicas que absorvem o mundo.A ciência, o saber, a arte, são adornos e enfeitespara as suas pessoas naturalmente necessitadas decasamento (...)”[Correio da Noite, 16.03.1915, B.Resende &R.Valença, 2004,I:176]

Em 1921, Lima Barreto [Rio-Jornal, 26 e 27/09/1921,

B.Resende & R.Valença 2004,II:422] repetiria, teimoso,

sua diatribe contra a repetição feminina:

“(...) As mulheres têm muita aptidão para a retençãoe para a repetição, sobretudo nas primeiras idades;mas não filtram os conhecimentos através do seutemperamento, não os incorporam à inteligência (...)Daí, a sua pouca capacidade de invenção e criação;mas daí também os seus sucessos nos exames econcursos. Tudo está na ponta da língua (...)”

Lima Barreto investiu, entre as décadas de dez e

vinte, contra a demanda pelo direito ao voto e ao

trabalho femininos, bem como satirizou, sistematicamente,

o ativismo de Leolinda Daltro ou Berta Lutz pelo que

considerava seu “feminismo de secretaria” (Rio-Jornal, 26

e 27/09/1921, 2004,II:421). Alinhava-se, assim, a Emma

Goldman e a outros pensadores anarquistas do período, que

se opunham ao sufragismo; a posição anarquista quanto ao

direito ao voto e ao trabalho, foi sumarizada por Goldman

em Tragedy of Women’s Emancipation (1906, n.p), em que a

autora, levando os argumentos ao extremo, afirma: “(...)

A demanda por vários direitos iguais, em qualquer vocação

na vida, é justa, mas, acima de tudo, o direito mais

vital é o de amar e ser amada (...)”. Contra tal

feminismo, o escritor sublinhava a refração de classe

que fazia enganosa a unidade da categoria mulher:

“(...) Certa noite, há três anos, um amigo meu, oengenheiro Noronha Santos, levou-me à Fábrica deTecidos Rink (...)Havia muitas mulheres junto aos teares e outrosmaquinismos cujos nomes não sei. Uma delas, porém,chamou-me a atenção: era uma negra velha que,sentada no chão, tinha diante de si um monte de lã,limpa, alva, recentemente lavada quimicamente, e oseu cabelo, o da negra, era já tão branco eencaracolado que desafiava a alvura da lã que estavadiante dela.Pergunto: esta mulher precisou do feminismoburocrata para trabalhar, e não trabalhava ainda,apesar de sua adiantada velhice? (...)” [Rio-Jornal, 26 e 27/09/1921, B.Resende & R.Valença,2004,II: 420]

Como bem apontou E.Vasconcellos (1999: 230ss), na

ficção de Lima Barreto, entretanto, a figuração do

feminino é bem mais sutil e, em medida significativa,

contradiz as posições assumidas na crônica. Gostaria de

examinar, à partida, Clara dos Anjos (Lima Barreto,

2001:635-748), seu primeiro romance, cujo primeiro

capítulo só foi publicado em 1922 [B.Resende & R.Valença,

2004,II:595]. O romance tematiza a sedução de Clara,

jovem mulata e pobre, por um tipo desocupado, suburbano,

decerto, mas branco e filho de classe média, que porta o

nome impagável de Cassi Jones. Interessa-me sublinhar a

sedução de Clara, assombrada por inexorável desonra, pois

tal sedução é longamente estudada, calculada, como se

fora a tocaia de um caçador:

“escolhia bem a vítima, simulava amor, escreviadetestavelmente cartas langorosas, fingia sofrer,empregava, enfim, todo o arsenal do amor antigo, queimpressiona tanto a fraqueza de coração das pobresmoças daquelas paragens, nas quais a pobreza, aestreiteza de inteligência e a reduzida instruçãoconcentram a esperança de felicidade num Amor, numgrande e eterno Amor, na Paixão correspondida…(…)” [Clara dos Anjos, Lima Barreto, (1922) 2001:657]

Note-se que a estreiteza de inteligência, apontada

duramente na crônica, aqui comparece temperada de

simpatia pela fraqueza de coração. Não se trata de um

coração qualquer, é o coração das trabalhadoras, das

“pobres moças daquelas paragens”.

Ao destinatário suposto, o texto não se detém em

explicar, trata-se de um acordo tácito de que o casamento

significaria um meio de vida para as mulheres sem

recursos e, ainda, que o sexo, fora do casamento, seria

desonra, a levar, inexoravelmente, à prostituição, como

único meio de vida.

A prostituição encontra-se delineada no romance por

outra personagem, uma mulher negra, anteriormente

seduzida por Cassi Jones, que termina seus dias nas ruas

do Rio de Janeiro, a fim de sustentar o filho que lhe

deixou o sedutor. Seu exato contraponto é a vizinha de

Clara, uma viúva, de ascendência européia, capaz de

repelir os avanços do sedutor à ponta de sua sombrinha.

Na sexualidade delineada pelo romance, imbricam-se,

assim, cor, classe e gênero e, em seu espectro, a mulata

Clara é um ponto médio, cujo destino queda em aberto.

Abandonada e grávida, Clara diz a sua mãe: “não somos

nada nessa vida”. Esta frase constitui a conclusão

abrupta do romance.

Além da reflexão sobre racismo, Clara dos Anjos

ensaia uma visada sobre a condição feminina em que, de

modo contraditório em relação à crônica, Lima Barreto

parece propor que o nada que devora as vidas pequenas e

suburbanas de mulheres poderia ser superado, se um passo

fosse dado além da esfera doméstica. Nesta linha, a ação

da figura da viúva em Clara dos Anjos amplia-se em outro

romance, O triste fim de Policarpo Quaresma, na figura da

afilhada, Olga que, vinda de um casamento infeliz –

esta réplica fraca, afinal, da viuvez –, entra na cena

pública, por força da prisão de seu tio Policarpo.

Contrariando o marido arrivista, a afilhada visita o tio

na prisão, bem como faz sua defesa diante das

autoridades: pequeno movimento, decerto, que, no entanto,

constitui uma entrada do feminino no espaço público e

responde, note-se, pela grandeza humana no romance.

Importa reter que tal movimento se faz em nome do amor,

não de convicções políticas.

Há que acrescentar outras nuances quanto ao

casamento. Em Triste Fim de Policarpo Quaresma, ainda,

outra personagem encarna o casamento como nume feminino;

Ismênia, rompido o noivado, enlouquece, porque a

possibilidade de casamento e, com ela, sua razão de

existir, se fora:

“ (...) cada vez mais se embrenhava o seu espíritonaquela obsessão de casamento, alvo que fizeram serda sua vida, a que não atingira, aniquilando-se,porém, o seu espírito e a sua mocidade em plenoverdor (...)” [Triste Fim de Policarpo Quaresma,Lima Barreto (1911) 2001:367]

Em polo oposto, situa-se Edgarda – em Numa e a

Ninfa – , burguesa que, pela posição de classe, consegue

senão escapar, driblar tal destino: Eduarda trai o marido

medíocre e interessadamente complacente com o primo e

amante, pensador radical e culto que lhe escreve os

discursos conservadores para sua bem-sucedida carreira

parlamentar.

Desejo sublinhar que, se em Clara dos Anjos, a

sedução amorosa se insinua como armadilha de caça, as

imagens de fracasso, por excesso ou carência, levam a

pensar que, ao contrário do que entrevêem as moças pelas

frestas acanhadas de suas janelas no subúrbio, o

casamento é, por sua vez, prisão.

O casamento como prisão para as mulheres é,

certamente, uma tópica destacada na produção panfletária

sufragista, desde a campanha britânica iniciada em meados

do século XIX. A sufragista inglesa Frances Power Cobbe ,

em Wife-Torture in England [(1878), in S.Hamilton,

1995:132-171], uma abordagem pioneira da violência

doméstica, ainda em 1878, aconselhava as mulheres que, se

dispusessem de meios suficientes, evitassem o casamento,

como os pássaros fogem das gaiolas. No quadro do

movimento social britânico, tal metáfora operou pela

solidariedade de mulheres, em especial sufragistas, em

relação aos animais. Com efeito, Coral Lansbury (1985)

demonstrou, magistralmente, como, entre fins do século

XIX e as primeiras décadas do século XX, tendo por

referência pioneira o duplo ativismo de Francis Power

Cobbe, o movimento sufragista aderiu à causa anti-

vivissecção, reconhecendo que o biopoder atingia,

igualmente, o corpo dos animais e o das mulheres pobres,

usualmente exibido em aulas públicas; a pornografia da

época para tanto concorria, fazendo referência às

primeiras mesas ginecológicas, que utilizavam amarras, do

mesmo modo que as pranchas de vivissecção, a que eram

atados os animais.

No Brasil, nas páginas do Rio Nu, jornal satírico-

pornográfico publicado no Rio de Janeiro, já nos

primeiros anos do século, a analogia entre mulheres e

animais era, igualmente, mobilizada para produzir efeitos

picantes. No caso do Rio Nu, sobretudo, a analogia se

estabelecia entre prostitutas ou coquetes e o gado

bovino, desdobrando-se em uma série de metáforas

correlatas: a cópula era designada por “abate”; casas de

prostituição eram “abatedouros”; e cáftens, os marchantes

(Rio Nu, 25 e 28.02.1903).

O atributo comum, para a analogia, como se vê, era

o consumo de seus corpos, o de mulheres e o de animais

domésticos, ambos sob a condição de mercadoria. Este é,

certamente, um tema forte no conto Cló (Lima Barreto,

2010: 166-176), quando a personagem homônima, havendo

ganho, por intermédio do pai, um vestido novo de um

burguês, dança para ele, repetindo, lânguida, o

estribilho da canção: mi compra, ioiô”. Lima Barreto

refere-se, por vezes, ao nexo entre mulheres e animais,

dizendo as primeiras “rebaixadas a condição de coisas,

animais domésticos”, mas vários outros textos sugerem

simetria entre mulheres e animais domésticos, cuja

condição comum é uma ambígua domesticidade, que supõe, a

um só tempo, convívio e servidão.

A causa comum

É sobejamente conhecido o resíduo de natureza que o

realismo literário, no século XIX, atribuiu à mulher,

imagem que foi radicalizada e medicalizada,

subsequentemente, pelo naturalismo, conforme apontou

F.Süssekind (1984:120-150; veja-se também S.Carrara,

1996). Evoquemos, tão somente, L.Tolstoi, de quem Lima

Barreto foi leitor assíduo (F.A.Barbosa,1981:311), em

dois de seus retratos femininos: Ana, em Ana Karenina, e

Natasha, em Guerra e Paz. Ana Karenina, a judiciosa Ana,

conhece a paixão – aquela que lhe “inflama o sangue nas

veias” – e torna-se coquete… O impulso alegre e

expontâneo de amor torna-se, ato contínuo e textualmente

inexplicado, uma lascívia difusa, sem alvo certo. Sem

alvo certo quer dizer todo alvo, é o que se vê na

passagem em que Natasha, em Guerra e Paz, demonstra seu

desejo a Pedro que, ainda casado, a repele com

perplexidade. A disciplinarização de tal transbordamento,

que não ocorre no caso de Ana – o excesso de paixão é uma

linha de fuga só interrompida pela morte -, se verifica

em Natasha, a quem o ímpeto juvenil para o sexo e o amor

é disciplinarizado pelo casamento e, sobretudo, pela

maternidade: Natasha se transforma em uma parideira gorda

e avarenta. Honesta, porém.2

Claramente, tais retratos propõem, entre outros

aspectos, o problema do controle da fertilidade feminina.

Não obstante o molde tolstoiano de sua ficção, Lima

Barreto, a meu ver, escolhe politizar o controle da

fertilidade feminina, no quadro da pensamento libertário.

Em uma famosa crônica de 1915, intitulada Não as

matem, faz uma corajosa defesa daquilo que o pensamento

social anarquista, à época, designava por amor livre,

contra os crimes motivados por adultério, frequentes no

país:

“(...) O esquecimento de que elas são, como todos

2 Para a primeira década do século, não se pode deixar de elencar aspreocupações similares de Franz Kafka, em Um Relato para umaAcademia, em que um símio, tornado humano, relata sua transformaçãoao círculo científico. O resíduo, nesta transformação total, é obrilho selvagem nos olhos de sua fêmea, que ele não conseguesuportar.

nós, sujeitas a influências várias que fazem flutuaras suas inclinações, as suas amizades, os seusgostos, os seus amores, é coisa tão estúpida, que sóentre selvagens deve ter existido.Todos os experimentadores e observadores dos fatosmorais têm mostrado a inanidade de generalizar aeternidade do amor. Pode existir, existe, mas,excepcionalmente; e exigi-la nas leis ou a cano derevólver, é um absurdo tão grande como quererimpedir que o sol varie a hora do seu nascimento.Deixem as mulheres amar à vontade.Não as matem, pelo amor de Deus! “(Correio da Noite, 27.01.1915, B. Resende &R.Valença, 2004,I:169)

Ainda em 1915, Lima Barreto levanta, em crônica, o

tema tabu do aborto, em conexão à reprodução fora do

casamento:

“Este caso da parteira merece sérias reflexões quetendem a interrogar sobre a serventia da lei (...)Acontece que sua intervenção foi desastrosa e lá vema lei, os regulamentos, a polícia, os inquéritos, osperitos, a faculdade e berram: você é uma criminosa!Você quis impedir que nascesse mais um homem paraaborrecer-se com a vida!Berram e levam a pobre mulher para os autos, para ajustiça, para a chicana, para os depoimentos, paraessa via-sacra da justiça, que talvez o próprioCristo não percorresse com resignação.A parteira, mulher humilde, temerosa das leis, quenão conhecia, amedrontada com a prisão, onde nuncaesperava parar, mata-se.Reflitamos, agora: não é estúpida a lei que, paraproteger uma vida provável, sacrifica duas? Sim,duas, porque a outra procurou a morte para que a leinão lhe tirasse a filha. De que vale a lei? “ (Correio da Noite, 07.01.1915, B. Resende &R.Valença 2004, I:141)

Em “Os matadores de mulheres” (Lanterna,18.03.1918,

B.Resende & R.Valença, 2004, I:325), abordando, mais uma

vez, os assim chamados crimes de honra, o escritor

sustenta o direito feminino ao controle de seu poder

reprodutivo, afirmando, sem rodeios:

“(...) Por exemplo, este Senhor Faceiro, que, ontemou anteontem, matou a mulher, porque teve a franca,a franca franqueza orgulhosa de dizer que a suagravidez era do seu amor e não dele, não me merece amínima piedade; mas há tantos outros que euestimo...Adiante.A mulher não é propriedade nossa e ela está no seupleno direito de dizer donde lhe vêm os filhos(...)”

Lima voltaria outras vezes ao tema, como nessa

crônica sem data precisa, mas, certamente, do ano de

1920, em que reprova Evaristo de Moraes, advogado que,

apesar de sua trajetória socialista, aceitara a defesa de

um assassino da própria esposa:

“O liberal, o socialista Evaristo, quase-anarquista,está me parecendo uma dessas engraçadas feministasdo Brasil, gênero professora Daltro, que querem aemancipação da mulher unicamente para exercersinecuras do governo e rendosos cargos políticos,mas que, quando se trata desse absurdo costume nossode perdoar os maridos assassinos de suas mulheres,por isto ou aquilo, nada dizem (...)(...) O crime em si não me interessa, senão no quetoca à minha piedade por ambos; mas, se tivesse deescrever um romance, e não é o caso, explicaria,ainda me louvando nos jornais, a cousa de modotalvez mais satisfatório. (...) [(A.B.C.,1920) B.Resende & R.Valença, 2004,II:252]

Tais excertos bem ilustram a interlocução de Lima

Barreto com as teses anarquistas, em particular das

tendências naturistas, em que a matrifocalidade, o

controle da concepção e o amor livre, liberado das

amarras institucionais do casamento, constituíram temas

fundamentais, sobretudo nas duas primeiras décadas do

século, quando vários periódicos naturistas são editados

na Europa e nas Américas. No Rio de Janeiro, no mesmo

ano de 1915, o periódico naturista libertário Na

Barricada defendia a divulgação de contraceptivos, à

época criminalizados, tanto quanto o aborto:

O que é preciso que se diga desassombradamente éque, na classe burgueza, são usados todos osprocessos conhecidos para evitar a concepção. Umassenhoras por higiene, outras por comodidade, outrasainda para conservarem concentradas as fortunas oupara não se privarem dos prazeres mundanos, o que écerto é que quasi todas evitam a concepção,limitando o numero dos filhos. Portanto, só por hipocrisia e por calculo, é que sepóde pretender prohibir a divulgação dessesprocessos entre as classes proletarias, que são osque fornecem os escravos do salariado e os soldados,ou a carne para os canhões.(Na Barricada, 1915,6:101-104)

A conexão com as teses naturistas enquadra, ainda, o

debate sobre controle reprodutivo sob a controvérsia mais

ampla do controle demográfico, uma vez que o naturismo

libertário foi, em larga medida, influenciado pela tese

neo-malthusiana de que a reprodução humana descontrolada

levaria ao desastre global. Em que pesem suas diferenças

teóricas, naturistas e feministas anarquistas, nas

primeiras décadas do século XX, lançaram-se à campanha

pela educação sexual das mulheres, pela contracepção e

pelo que então designavam por “maternidade consciente”

(M.Rago, 2008:9-18; G.B.Levai,2013). Tratava-se de não

fornecer “escravos e carne para os canhões do sistema

capitalista” (H.Havel, 1911,10:316).

Sob tal ângulo, iluminam-se as posições de Lima

Barreto. Como libertário, ele, consistentemente, negou

que o direito ao voto ou o direito ao trabalho levassem à

libertação feminina. Um aspecto relevante de sua reflexão

seria, antes, o controle da própria fertilidade, ponto em

que, a meu ver, consistente também com outros autores

naturistas do período, o pensamento de Lima Barreto

conecta e politiza as figuras do feminino e do animal,

apontando, em ambos os casos, a domesticidade como

escravidão, baseada no controle de seus poderes

reprodutivos.

Volto ao romance Clara dos Anjos. Se Cassi Jones, o

sedutor desenhado por Lima Barreto, é um perverso, o

dêitico de sua perversidade é a rinha de galos: Cassi

Jones era rinheiro, ou seja, criava e negociava galos de

rinha, “o bicho mais hediondo, mais antipático, mais

repugnantemente feroz que é dado a olhos humanos ver”

(Clara dos Anjos, Lima Barreto, 2001:651). Galos malaios,

“rixentos e malsãos”, são a extensão metonímica do

sedutor:

“Incapaz de um trabalho continuado, causava pasmovê-lo cuidar todas as manhãs daqueles horripilantesgalináceos, das ninhadas, às quais dava milho moído,triguilho, examinando os pintainhos (…)Fosse se deitar a hora que fosse, pela manhã lá

estava ele atrapalhado com os galos malaios e suadescendência de frangos e pintos (…)” (Clara dos Anjos, Lima Barreto, 2001:651)

Incapaz de paternidade, o sedutor apresenta uma

espécie de fertilidade masculina invertida, alimentando e

criando aqueles que ele levará ao sofrimente e à morte.

Este tema, a meu ver, preside, ainda, o conto “O Caçador

Doméstico”, em que um aristocrata decadente criava cães

de caça e os açulava contra as aves domésticas da

vizinhança; seu destino foi morrer estraçalhado por seus

cães, tal como os “incautos frangos” (Lima Barreto,

2001:1187-88).

Não será, também, uma fertilidade perversa a que o

autor vê na produção de animais para consumo? Com efeito,

Lima Barreto parece ter acompanhado, atento, o escopo da

reprodução de animais, com surpreendente detalhe, como se

vê desse breve apontamento:

“(...) possui, dizia, um número da Gazeta de Uberabaem que há uma entusiástica crônica sobre a chegadade reprodutores zebus.Lia-a, guardei-a, porque nunca vi tão entusiásticaspalavras aplicadas a tristes touros com missãodeterminada e rigorosa, destino que bem pode seragradável, mas não deixa por isso de ser aborrecido,visto ser um tanto coercitivo (...) (Correio da noite, 14.01.1915, in B. Resende &R.Valença, 2004, I:151-152)

Tal fertilidade perversa perpassa as crônicas

enfeixadas em “Hortas e Capinzais”, que utilizam

referências da agricultura e da zootecnia para a sátira.

Vejamos o seguinte trecho, da crônica intitulada Criação

de gado, de 24 de janeiro de 1920:

“(…) Temos agora, até, sobre a mesa, duascartas muito interessantes que, não tratandoabsolutamente de coisas estritamente agrícolas,merecem, contudo, ser levadas ao conhecimentodos leitores.A primeira é do doutor Fausto Ferraz que expõepor alto a criação de bois em gaiolas decanários, e a outra é do comandante FredericoVilar que descreve em linhas gerais um processonovo aperfeiçoado de se obter cardumes desardinhas dentro de uma corriqueira talhad’água.Diz o doutor Fausto Ferraz que é muito simpleso seu processo e muito barato porquanto pondo-se os bois em gaiolas ou em viveiros dereprodução de canários, quando se os querprocriar – neste caso um touro e uma vaca –eles logo saltam para os poleiros, dão paracantar, chilrear e trinar, comer alpiste efolhas de couve ou alface, como se pássarosfossem.Está a entrar nos olhos de toda a gente, comoos métodos de criação de gado vão serrevolucionados, e também como o tratamento dosrebanhos vai exigir despesas mínimas.(...)O boi sai da gaiola de flecha e bambu ou demadeira e arame, para o matadouro. (…)” (Lima Barreto, 2001:978-979)

Acompanha de perto esta crônica, como sua variante,

a impressionante “Plantação de galinhas”, que trata de um

método moderno, alemão e científico – o que, decerto, vem

a dar no mesmo -, de cultivar galinhas:

“(…) Vejam só no que se refere à criação degalinhas. Até hoje, não temos dado um passo,enquanto a Alemanha, conforme observou o

operoso Cincinato Braga já conseguiutransformar essa simples indústria doméstica emuma grande fonte de renda, dando a ela oaspecto de uma grande atividade industrial.Nós continuamos a criá-las caseiramente,fazendo ninhos de palha, em que elas choquem osovos; alguns, mais adiantados, usam mesmoincubadeiras aquecidas a álcool ou a petróleo;os alemães, porém, desprezam esses métodosobsoletos e vulgares e plantam as referidasgalinhas.O processo do plantio é o mais simplespossível. Consiste ele em enterrar a galinha,depois de uma postura de uma dúzia de ovos,numa cova de vários metros de profundidade. Aofim de dois meses, a ave germina e, aocompletar dez, nós temos um arbusto frondosoque nem um pé de jabuticaba, dando galinhasgordas ao cabo de ano e meio. Podem ser feitosenxertos convenientes.Convém usar-se adubos de primeira qualidade e oindicado como mais próprio é a terra doscemitérios.(…)” (Lima Barreto,2001:997-998).

Detectamos aqui, obviamente, o riso escarninho de

Lima Barreto diante de uma elite provinciana, deslumbrada

pelas novas tecnologias, e pelo cientificismo que as

acompanhavam. Tal é o aspecto que ressalta, ainda, na

novela As aventuras do doutor Bogóloff ( ), em que um

imigrante russo, depois de tentar, infrutiferamente,

cultivar um trato de terra no sul do país, busca a sorte

na capital federal e a obtém, porque é branco, letrado e

estrangeiro. A um ministro basbaque oferece o projeto de

diminuir drasticamente o gado bovino, com o que é

agraciado com o cargo de diretor da pecuária nacional e

verbas condignas.

A personagem do doutor Bogóloff reaparece em “Numa e

a Ninfa” (2001:495), novamente propondo a diminuição do

gado, bem como, note-se, sua multiplicação rápida, em

larga escala, e ainda mais radicalmente, a “completa

extração dos ossos”, que transformaria “em carne no

animal vivo”, todas técnicas derivadas da ciência de

H.G.Wells !

Deste modo, a atenção redobrada de Lima Barreto aos

processos de diminuição e multiplicação de animais, bem

como a referência à teratologia científica tematizada por

H.G.Wells em A Ilha do Dr Moreau, leva-me a sugerir que o

fulcro de tais textos parece, antes, se encontrar na

incidência do cientificismo sobre a vida dos animais;

nesse sentido, a diminuição do gado, a criação em

gaiolas, o cultivo de galinhas, constituem caricatura

premonitória da produção industrial de animais, que se

sucederia, propriamente, décadas depois, após a II

Guerra, quando a sintetização dos agrotóxicos e das

vitaminas vieram permitir o confinamento estrito dos

animais (R.Harrison, 2013).

Os sintomas da produção industrial já estavam dados,

entretanto, no confinamento em pequena escala, nos

métodos de matança (veja-se W.Cronon, 1991; J.V.Gomes

Dias, 2009), bem como na sobrexploração do animal, sob a

tríplice acepção de trabalho, meio de produção e produto,

que os naturistas libertários combateram arduamente,

entre fins do século XIX e as duas primeiras décadas do

século XX, na convicção de que a exploração capitalista,

igualmente, os vitimava, trabalhadores e animais. Na

produção periodista e panfletária dos naturistas, de

diferentes tendências, as condições abjetas do criatório

de animais foram, desde sempre, denunciadas, lado a lado

das condições abjetas do trabalho nas minas, nas

fábricas, no campo ou na cidade. A concepção de uma

unidade política-existencial entre trabalhadores e

animais só viria a se acirrar durante a primeira guerra,

quando a carne para os canhões tornou-se a realidade

terrível para milhões.

Sob a bandeira do retorno à natureza, como forma de

combate radical ao capitalismo, o naturista carioca

Eugênio George, nos anos vinte, denunciava as formas

vigentes do criatório animal, baseadas no confinamento e

na aglomeração de animais; mais do que isso, estabelecia

a conexão necessária entre a degradação de toda a vida

animal, a do animal humano inclusive, no contexto

industrial. Assim, perguntava o autor

(E.George,1927a:35):

“(...) Para que podem servir thesouros disputados,na velocidade dos expressos e das aeronaves, pormumias vivas, minadas pelas peiores enfermidades edestinadas á morte prematura? E os progressos da architectura, manifestados naconstrucção de predios de muitas dezenas de andares,colossaes viveiros onde se amontoam milhares deindividuos, privados de contacto com a Natureza,condemnados ao estiolamento e ao infortunio? (...)”

Não surpreende, portanto, o laivo amargo de Lima

Barreto, ao se referir à terra dos cemitérios como melhor

adubo para o cultivo de galinhas. O escritor afirmaria

explicitamente, à mesma época:

“(…) podemos afirmar que os animaisirracionais, desta ou daquela forma, entrammais na nossa vida do que supomos. É sobre seusofrimento, sobre suas próprias vidas que nóserguemos a nossa.” (Lima Barreto, 2001:1020)

Busquei apontar, em trabalho anterior (Farage,

2011), que a unidade humano-animal, teorizada pelo

naturismo, constituiu, historicamente, metáfora operativa

que desencadeou a solidariedade aos animais –

notadamente, as espécies domésticas em espaço urbano – na

resistência biopolítica de trabalhadores no começo do

século XX. Além da circulação de tais idéias, por meio de

panfletos e periódicos naturistas, a obra de P.Kropotkin

terá, em larga medida, contribuído para tanto, ao

postular a solidariedade entre as espécies. Transposta ao

ambiente urbano e fabril, tal solidariedade terá se

ancorado na luta contra a crueldade e a hiperexploração

das espécies domésticas.

A inspiração kropotkiana, na visada de Lima Barreto

às relações sociais entre humanos e animais, pode-se

entrever, em outra passagem de Contos e Histórias de

Animais (Lima Barreto, 2001:1020):

“Quando, há meses, estive no Hospital Central doExército, e vi em uma sua dependência, em gaiolas,coelhos de olhar meigo e cobaias de grandeesperteza, para pesquisas bacteriológicas, lembrei-me daquele “Manoel Capineiro”, português carreiro decapinzais da minha vizinhança, que chorou, quando,

certa vez, ao atravessar a linha da estrada de ferrocom o seu carro, a locomotiva matou-lhe os burros, a“Jupepa” e o “Garoto”.-“Antes fosse eu! Ai mô gado – disseram-me quepronunciara ao chorar.Na sua manifestação ingênua, o pobre portuguêsmostrava como aquelas humildes alimáriasinteressavam o seu destino e o seu viver…”

Podemos, assim, retomar a crônica de que partimos,

em que as mulheres, no subúrbio do Rio de Janeiro, se

empenham em defender cães da sanha exterminadora do

Estado. Construída sobre os compromissos libertários do

autor, a crônica opera o reconhecimento de uma

semelhança, que produz a solidariedade entre a condição

feminina e aquela do animal, ou, nos termos do autor, o

amor.

Detenho-me, finalmente, nesse dever de amor. Lima

Barreto disse, certa vez, que todo pedante nestas plagas

tem sua Grécia; ainda que corando, não resisto a traduzi-

lo por um dever de Antígona, a que preferiu cumprir seu

dever de amor, descumprindo a lei. Que outra coisa fazem

as “pobres mulheres que se apiedam pelos cães”, quando

afrontam a guarda municipal, para salvar-lhes a vida?

O ensaio clássico de J.S.Mill (1995:77), sobre a

sujeição das mulheres, afirma que, se o julgamento

feminino é afetado por simpatias pessoais, isto se deve

ao fato de que sua socialização as tornava estranhas aos

interesses mais amplos ou moralmente mais elevados, em

suma, à cena pública.

Sugiro que Lima Barreto, a partir do horizonte

libertário, que vimos examinando, inverte tal leitura,

fazendo da solidariedade, do vínculo moral e individual à

convivialidade extensiva aos animais, uma tarefa que

garante a humanidade. Alijadas da esfera pública e do

poder, ao contrário do que supunha S.Mill, as mulheres

portariam, para Lima Barreto, o potencial de tal

transformação.

“Tente amor”, disse Grace Potter (1906, n.p ), nas

páginas de Mother Earth, em 1906: reivindicava, assim, o

amor por bandeira política, antes que experiência

individual. Nessa linha, penso que Lima Barreto propõe

fazer da experiência do amor generalizado,

interespecífico, o projeto político para um mundo futuro

igualitário. Ao leitor cético, responde o próprio

escritor: “Estamos sempre dispostos a ver no passado

lutas; por que não havemos de ver solidariedade?”

(Correio da Noite, 21.01.1915, in B.Resende & R.Valença,

2004,I:160)

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