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Uma identidade tripartida: Reflexões acerca do livro Cartas de um Nihonjin Uchinanchu do
Brasil
Ricardo Sorgon Pires (FFLCH/USP – NEHO)
RESUMO
Este trabalho propõe realizar uma análise da obra do professor Paulo Moriassu Hijo, Cartas
de um Nihonjin Uchinanchu do Brasil, a qual compõe-se de quinze cartas endereçadas a Dom
José de Aquino Pereira, primeiro bispo da cidade de Presidente Prudente, a quem auxiliou na
função de “coroinha” durante sua infância nessa cidade. Como o próprio título evidencia, a
vida do autor constituiu-se a partir da fusão de elementos de três matrizes culturais e sociais: a
japonesa (nihonjin), a uchinanchu (oriunda das ilhas Ryûkyû ou Okinawa, ao sul do Japão), e
a brasileira. A obra percorre variados temas, como: as histórias e lendas japonesas, a vida no
sítio, as festas, a alimentação, os costumes dos okinawanos, a educação, a mudança para a
cidade, dentre outros assuntos. Assim, partindo da abordagem desses temas e das
especificidades do gênero carta pretende-se perceber o processo e os recursos utilizados pelo
autor na construção de sua memória e identidade, relacionando tal obra com o contexto
histórico da imigração japonesa e okinawana no Brasil, sobretudo no interior do Estado de
São Paulo.
PALAVRAS –CHAVE : Carta, memória, identidade, imigração
O presente texto busca realizar uma análise da obra Cartas de um Nihonjin
Uchinanchu do Brasil (2009), livro de circulação restrita por ter sido publicado em pequena
tiragem por uma editora de São Caetano do Sul, em São Paulo. As cartas abordam um tema
ainda pouco explorado seja em obras de literatura ou mesmo em análises acadêmicas, a saber,
alguns aspectos relacionados à imigração okinawana no Brasil, em especial no Estado de São
Paulo.
Como destaca o apresentador do livro, Osvaldo Higa, o próprio título já permite uma
reflexão interessante e de certa forma condensa a ideia central que o autor pretende transmitir
aos leitores ao término da leitura, ou seja, a confluências de três matrizes culturais distintas
em sua experiência de vida, a qual, nesse aspecto, foi certamente análoga a de outros milhares
que indivíduos descendentes de imigrantes okinawanos no Brasil.
O título é propositadamente formado por palavras em três idiomas: o português,
simbolizando uma ideia de “brasilidade”; o japonês na palavra “nihonjin” que significa pessoa
japonesa e que nesse caso tem um significado complexo, pois expressa não somente a
influência cultural nipônica sobre autor, mas também remete à situação complicada da criação
de uma “japonesidade” para os indivíduos oriundos da ilha de Okinawa, que será explicado
detidamente em seguida; e por fim, a língua que era falada na ilha de Okinawa (uchinaguchi)
na palavra “uchinanchu”, que significa habitante da ilha de Okinawa (uchina), expressando as
peculiaridades culturais dos habitantes e imigrantes oriundos dessa ilha em relação aos demais
japoneses.
A presença dos três idiomas no título mostra não apenas que houve uma tripla
influência linguística e cultural na formação de Paulo, como também, se torna sintomática de
uma situação muito comum para os imigrantes japoneses e mais ainda para os okinawanos
marcada pelas dificuldades de comunicação, uma vez que desde criança havia-se a
necessidade de demarcar os diferentes contextos e as respectivas línguas apropriadas a eles1:
O uso do português como língua oficial, porém aprendida apenas normativamente na escola e
nos raros contatos com os “gaijins”2 fora do âmbito rural; o japonês com os outros imigrantes
e descendentes japoneses que não eram oriundos de Okinawa; e por fim, o uchinaguchi no
ambiente familiar. Comumente, muitos descendentes okinawanos percebiam que falavam e
ouviam uma língua diferente do japonês somente na vida adulta, pois na infância não havia
uma distinção clara entre as duas línguas.
Na capa do livro há duas imagens: um símbolo descrito na primeira página como
sendo representativo do antigo Reino de Ryûkyû e uma foto da colônia Mitsuwa, da qual o
autor fez parte, reunida para um evento festivo. As imagens completam visualmente a ideia de
diversas influências culturais.
Relações históricas entre Japão e Okinawa
Muitos aspectos relacionados à história japonesa e mesmo à imigração japonesa no
Brasil são pouco conhecidos, principalmente algumas questões básicas concernentes à relação
entre Japão e Okinawa, que repercutiram no contexto brasileiro e são expressos no livro em
análise.
1 A dificuldade com a língua portuguesa acabou dando origem ao fenômeno conhecido como “koronia-go”
(língua da colônia).
2 O termo gaijin que literalmente significa “pessoa de fora, forasteiro” atualmente é evitado por possuir uma conotação negativa e associada ao imperialismo japonês e à xenofobia. Contudo, como a maioria dos imigrantes japoneses vieram antes da Segunda Guerra, esse termo era de uso corrente. Gaijin não significa, porém, somente o estrangeiro, mas também se aplica às pessoas desconhecidas, em quem não se pode confiar, que não partilha dos mesmos costumes, que estão fora da vida comunitária. É nesse sentido que gaijin é aplicado aos “brasileiros” pelos descendentes de japoneses, remetendo às dificuldades de adaptação dos primeiros imigrantes à sociedade brasileira.
Cabe destacar que Okinawa é o nome da maior ilha de um arquipélago chamado Ilhas
Ryûkyû, localizado próximo a Taiwan no extremo sul do Japão (figura 1). Tal arquipélago,
entre os séculos XIV ao XIX, integrava um reino semi-independente de mesmo nome que, por
fatores econômicos, geográficos, políticos, constituiu-se - sobretudo em termos sociais e
culturais - a partir de trocas e contatos com China, Japão, Coreia, Filipinas, o que contribuiu
para a formação de uma população cultural e linguisticamente distinta (YAMASHIRO, 1997;
MIYAGUI, 1998).
Tal situação modifica-se drasticamente no final do século XIX quando o Japão do
Período Meiji (1867-1912), com seu projeto de construção de Estado-nação aos moldes
europeus, inicia uma política de consolidação e defesa territorial decidindo, ao fim, invadir e
em 1879 anexar o Reino de Ryûkyû (passando a partir desse momento a ser chamado de
província de Okinawa) por sua vital importância na geopolítica da região, bem como pelo
receio de uma possível pretensão chinesa sobre o mesmo.
Motivado pelas mesmas diretrizes nacionalistas, à anexação segue um processo de
japonização do novo território de modo a transformar sua população em “fiéis súditos do
imperador”. Nesse processo, dentre algumas medidas adotadas estão: proibição de festivais,
comemorações e costumes não japoneses, escolarização básica obrigatória em língua
japonesa; conscrição militar compulsória e a proibição do uso da língua de Okinawa, o
uchinaguchi3 (BARCLAY, 2001; BAIRON, BRENZINGER, HEINRICH, 2009).
Nesse processo de construção de nacionalidade e da ideia de um “povo japonês”, há
inevitavelmente a invenção de uma nova alteridade composta pelos demais povos asiáticos,
representados pelos discursos oficiais nipônicos como atrasados, primitivos, sujos, corruptos.
Cabe lembrar que nesse período estavam em voga na Europa as ideias do racismo científico,
da eugenia e do darwinismo social os quais criavam modelos de alteridades necessários e
convenientes aos projetos imperialistas dos países europeus (DIWAN, 2012).
Tais discursos chegam ao Japão que os apropria e os utiliza de acordo com seus
interesses nacionais e logo adiante imperiais, inferiorizando os povos asiáticos perante o
japonês. Assim, os okinawanos, apesar de oficialmente japoneses, são vistos como cidadãos
de segunda classe por serem etnicamente distintos dos demais japoneses e considerados como
3 Apesar de a língua de Okinawa hoje estar desaparecendo em decorrência da anexação do arquipélago há mais
de 100 anos, ela ainda é falada e, curiosamente, persiste com mais vitalidade no Brasil (há escolas de uchinaguti
em São Paulo) do que em sua terra natal. Apesar de ser reconhecida pela Unesco como uma das seis línguas
oficiais das Ilhas Ryûkyû, o tema é ainda controverso visto que alguns pesquisadores no Japão ainda a denominam como sendo um dialeto do japonês. Muitos imigrantes okinawanos no Brasil seguem essa
perspectiva devido à educação recebida no Japão. (BAIRON, Fija; BRENZINGER Matthias; HEINRICH,
Patrick, 2009).
“achinesados”, ignorantes, rústicos, sujos, etc. Essa visão predomina até o fim da Segunda
Guerra Mundial, repercutindo também no Brasil, uma vez que a grande maioria dos
imigrantes japoneses aportou antes da guerra, muitos dos quais reproduzindo esses discursos
oriundos da educação na terra natal4 (HOOK, SIDDLE, 2003; BARCLAY, 2001; VIEIRA,
1973).
.
Um diálogo intimista
O livro em questão é uma coletânea de quinze cartas enviadas pelo autor a D. José de
Aquino Pereira, bispo da diocese de Presidente Prudente durante sua infância na década de
1960, época em que Paulo auxiliava o bispo como coroinha na catedral. O autor, Paulo
Moriassu Hijo, nasceu no interior paulista em Presidente Prudente em 1953 lá permanecendo
em um sítio dos avós, até que em 1964 ele juntamente com sua família muda-se
definitivamente para Santo André na Grande São Paulo. Tendo se formado em três graduações
(Educação Física, Letras e Filosofia), atua como professor de inglês, entre outras atividades.
O prólogo relata o reencontro acidental com o bispo, em 2004, o contato por telefone e
a decisão de se corresponderem por cartas, nas quais Paulo conta suas experiências juvenis,
informando ao leitor que decidiu publicar algumas dessas cartas pensando em pessoas
interessadas em saber mais sobre os costumes e a cultura transmitida pelos imigrantes
japoneses no Brasil. Assim, o autor decide contar suas experiências do período de sua infância
até a mudança para a cidade.
Os quinze capítulos (cartas) tratam dos mais variados aspectos da infância de Paulo
como a vida no sítio, os relacionamentos, as festas e entretenimentos, as comidas, questões
sobre identidade, a mudança e a vida na cidade. Dom José pede a Paulo que envie as cartas
contando não somente de suas memórias junto à igreja, mas também o modo como ele chegou
até a igreja.
Paulo escreve ao menos uma carta ao mês durante mais de cinco anos. Assim, apenas
uma pequena parcela das cartas foram publicadas neste livro que têm apenas 89 páginas.
Paulo não menciona nada sobre as respostas do bispo, nem se houve interrupção da
correspondência.
4 A questão das relações entre japoneses e okinawanos no Brasil ainda é um tema pouco discutido, contudo
algumas referências importantes são os livros de (VIEIRA, 1973) e mais recentemente o romance de (OKUBARO, 2008).
É interessante considerar que todos os capítulos que tratam da infância, dos costumes
okinawanos, da alimentação, das dificuldades de comunicação e assim por diante, foram
originalmente escritos como forma de explicar as “origens” de Paulo antes de seu batismo e
participação na Catedral de São Sebastião pela qual Dom José era responsável.
A obra se encerra com o batismo, o ingresso na igreja e a mudança para a cidade. Tais
acontecimentos são o clímax da história de Paulo e o ponto de chegada para onde apontam
todas as cartas. A questão que salta aos olhos desde a capa do livro, ou seja, a complicada
questão da identidade para uma criança imersa em tais “multiversos” culturais é resolvida
precisamente no desenrolar desses momentos críticos.
A carta é sempre uma narrativa de si. Porém, no caso das cartas de Paulo Hijo, elas
não se caracterizam por pedidos de conselhos, relatos de histórias cotidianas atuais ou de
interpelações casuais (ao menos não nas cartas selecionadas pelo autor para a composição do
livro), mas sim, de um esforço memorialístico, cujo objetivo, ainda que informado por Paulo
como sendo o de informar os leitores curiosos sobre aspectos da imigração japonesa, trata-se
de uma tentativa de reinvenção de si mesmo a partir de projeções do presente sobre seu
passado.
De acordo com Vanessa Martins (2011, p.66), um primeiro ponto a ser levantado sobre
a escrita da carta é que ela demanda um distanciamento entre os interlocutores (em termos
temporal e espacial) e também entre o autor e os acontecimentos narrados na carta. No caso, o
distanciamento é bem grande tendo em vista que todos os acontecimentos narrados se passam
na década de 1960. É por esse motivo que é bastante perceptível o processo de reelaboração
memorialística, uma vez que no processo de rememorar acontecimentos remotos o trabalho de
ressignificação da memória se dá de modo mais completo. No caso de Paulo, esse processo
tem como meta elaborar uma determinada “origem” no período de sua infância.
Outro aspecto relevante é que a escrita da carta sempre é reveladora tanto de quem
escreve quanto do destinatário. Assim, é importante saber que o interlocutor de Paulo é um
ex-bispo e que ambos partilham da fé católica. Tal circunstância é sine qua non para
compreender, por exemplo, o modo como Paulo afirma ter superado seus dilemas de
pertencimento identitário a partir da fé cristã; ou sua posição um tanto nostálgica quanto ao
desuso dos casamentos arranjados (miai), ambos tratados mais adiante.
Uma possível indagação seria se os valores cristãos presentes no julgamento do autor
em casos como os acima citados são resultado apenas de sua crença nos mesmos e seu desejo
de partilhar isso com seu amigo José de Aquino ou se não haveria um interesse de passar tais
valores para os leitores promovendo uma forma de aconselhamento, caso o leitor (em
especial, descendente de imigrantes japoneses) partilhe de alguns dos dilemas enfrentados por
Paulo.
No primeiro capítulo intitulado “As mais remotas lembranças”, o autor afirma que
contará sua infância ao modo de José de Alencar - que em duas de suas obras teve sua prima
como interlocutora – ressaltando a diferença de não haver ficção, de tratar-se de pessoas reais.
Paulo defende que sua obra não seria literária, pressupondo que a memória estaria ligada não
à ficção e sim à realidade. De fato, a memória está imbricada à realidade, porém, como
determinada percepção e representação dela, não como descrição objetiva ou como uma
“prova”. A memória é sempre uma construção e uma projeção do presente sobre o passado.
Nas palavras de Ecléa Bosi, “na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer,
reconstruir, repensar, com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória
não é sonho é trabalho” (BOSI, 1994, p. 55).
Sempre unido com a memória está o fenômeno da identidade, Joël Candau faz suas as
palavras de Anne Muxel: “O trabalho da memória é o trabalho de reapropriação e negociação
que cada um deve fazer em relação ao seu passado para chegar à sua própria individualidade”
(MUXEL, apud CANDAU, 2011, p. 16).
Devido à temática centrar-se no período da infância do autor, as questões, fatos, e
sensações descritas nas cartas fazem parte de um jogo de construção de memória e, portanto,
de identidade, as quais podem ser pensadas como sendo individuais, fruto da experiência de
Paulo, mas igualmente não deixam de ter um caráter coletivo, visto que muitas situações são
análogas a de outros descendentes. Para esse publico leitor, a obra pode produzir um grande
sentimento identificação.
As primeiras lembranças que Paulo descreve se referem ao sítio, à vida familiar, como
quando sua mãe costurou para ele um desejado boné de pano, ao fato de ter ficado com os
avós, enquanto os pais e o irmão mais velho se mudaram para a cidade para que esse pudesse
estudar, e o retorno em todos os anos para a colheita durante as férias. Ao fim desse capítulo,
o autor resume para o reverendo as três histórias folclóricas mais contadas por sua mãe na
hora de dormir, explicando também a “moral” de cada uma delas. Tais histórias são muito
conhecidas entre os japoneses ainda hoje, são elas: Momotarô5, Urashima-tarô
6 e O macaco e
5 História de um menino nascido de um pêssego criado por um casal de idosos. Partindo aos 15 anos, Juntamente com algumas criaturas como aliadas que momotarô vai fazendo no caminho, ele vai à luta e ao fim derrota um grupo de ogros que constantemente atacavam a aldeia onde o herói morava.
a água-viva7. A escolha de Paulo demonstra uma forte influência da cultura nipônica, em sua
infância, relacionada à educação.
Os capítulos II ao VI são dedicados a algumas especificidades do cotidiano e do modo
de vida no interior. Destaca diversos aspectos, como a relação com os vizinhos (descendentes
ou não), a paisagem, os animais, a casa e a propriedade rural. Em tais descrições percebem-se
experiências comuns relacionadas à vida no interior, sobretudo em momentos marcados por
uma crescente urbanização, pelo êxodo rural e pelo contato com novas tecnologias e bens de
consumo8.
Do individual para o coletivo
Ainda que a escritura de cartas esteja sempre indissociada de uma perspectiva
individual e íntima, ela igualmente não deixa de revelar as relações que os interlocutores
mantêm com o mundo social circundante, seja por meio de opiniões e julgamentos emitidos
ou por meio de memórias e experiências socialmente significativas. No caso de Paulo Hijo,
diversas cartas relatam suas experiências e memórias envolvendo certas práticas culturais
okinawanas no Brasil.
As cartas são apresentadas como sendo narrativas de suas memórias, contudo, é
preciso ter em mente que a memória para além de uma faculdade mental e individual, é
também coletiva (HALBWACHS, 2004). É uma instância viva, criadora e em constante
reformulação. Desse modo, muitas das memórias de Paulo fazem parte de uma experiência
coletiva, ainda que sejam, em outro sentido, únicas e individuais. Muitas vezes há uma
confusão entre essas duas instância da memória, quando se observa, por exemplo, fenômenos
como “memória herdada”, ou acontecimentos “vividos por tabela” (POLLAK, 1989; 1992).
Assim, alguns dos temas abordados por Hijo serão analisados a seguir tendo em vista seus
significados enquanto práticas sociais e culturais, mas também como elementos importantes
na formação de parte da identidade de Paulo Hijo.
6 Trata de um humilde pescador que após salvar uma tartaruga é levado por ela para um luxuosos reino subaquático. Ao voltar recebe uma caixa mágica que não deveria ser aberta. Quando chega não encontra mais ninguém, pois os dias passados no mar foram anos na terra. Ao abrir a caixa envelhece na hora pois nela estava guardada sua juventude. 7 Nessa história uma água viva tinha ordens de capturar um macaco para o Deus da água que precisava de seu fígado como remédio. A água viva ludibria o macaco e o leva ao fundo do mar, porém acaba contando suas verdadeiras intenções. Nisso, o macaco a engana convencendo-a a voltar a terra então retorna mais avisando os demais macacos. A água viva leva uma sova que quebra seus ossos deixando-a molenga até os dias de hoje. 8 Um breve panorama sobre a urbanização e industrialização da região do Oeste Paulista pode ser encontrado em: (BIZELLI, 1995).
Nesse sentido, a questão da alimentação é significativa uma vez que por meio dela se
cria fortes vínculos familiares, nesse caso, entre Paulo, sua mãe e sua avó9. Além dos produtos
e das comidas regionais, o autor destaca a influência da culinária japonesa: gohan (arroz
branco sem tempero); mochi (termo que engloba grande variedade de doces feitos à base de
arroz triturado); tofu (espécie de queijo feito com soja); shoyû (molho fermentado de soja);
misô (pasta de soja); ankô (doce de feijão azuki); e manju (bolinho doce de farinha de trigo
recheado com ankô).
Essa alimentação é dada a partir das peculiaridades da alimentação dos imigrantes
okinawanos, como por exemplo, o tofu nu kashi (uma espécie de farofa de tofu); hija nu shiru
(sopa de cabrito); umuni (purê doce feito com inhame e batata doce); sata andagui (espécie de
bolinho de chuva); oburu (sopa de ovo); jushime (semelhante a um risoto de legumes);
irichame (arroz colorido e frito); umbuça (prato feito à base de tiras de nabo reidratados);
andainssu (fritura de missô com toucinho, ovo, alho poró e outros condimentos); nabera (tipo
de abobrinha da família da bucha que é comestível enquanto nova, sobretudo em ensopados).
Há uma diferença marcante na alimentação okinawana em comparação com a
japonesa, visto que na primeira há uma preferência maior pela carne vermelha (como no hija
nu shiru) e pela carne de porco em especial (como no andainssu), sendo que o prato
okinawano mais famoso nas feiras e festivais é o Okinawa soba10
(espécie de sopa de
macarrão com legumes, tiras de tofu e pé de porco), cuja diferença para com o seu equivalente
japonês é precisamente a carne de porco.
Era também pela alimentação que algumas peculiaridades culturais dos okinawanos
se manifestavam: todos os pratos estão em uchinaguchi; o consumo de alguns pratos, como o
nabera, era motivo de chacota por parte dos demais japoneses; práticas alimentares (maior
consumo da carne, principalmente, porco, está historicamente relacionado à influência
gastronômica da China, além de questões geoecológicas da ilha de Okinawa).
Outra questão importante é sobre as danças e músicas típicas. Nas palavras do autor:
9 Sobre a questão da importância das mães e avós (oba) na transmissão de valores culturais japoneses por
meio da alimentação, ver: (KUBOTA, 2008).
10 É curioso destacar que esse prato teve enorme aceitação entre o público não descendente de Okinawa, o
Okinawa soba se tornou um patrimônio imaterial de Campo Grande, cidade que abriga uma grande
comunidade okinawana e uma famosa feira onde é servido esse prato. (GOMES, LE BOURLEGAT, MACIEL 2012;
GOMES, 2012).
Minha família, como todos os imigrantes okinawanos, tinha uma vitrola e vários
discos, duros e quebradiços, de músicas folclóricas da sua terra. Quando meu pai
colocava um disco e a música começava, se era alegre, cantavam juntos, mas, se era
lenta, todos ouviam em silêncio. Eu era pequeno, mas quando a música era de um
andamento lento, interpretada de uma forma melódica, mesmo sem ter nascido em
Okinawa, a canção me causava uma certa nostalgia11. Percebia nas feições dos meus
avós e convidados que aquelas músicas davam muitas saudades neles. Muitos
japoneses tinham a esperança de retornar à sua pátria, mas poucos tiveram seus
sonhos realizados. (HIJO, 2009, p. 23)
Em seguida, Paulo comenta que ainda quando criança inventava “músicas folclóricas”
misturando a língua japonesa e o uchinaguchi. Muitas das músicas que o autor denomina de
lentas ou tristes referem-se a despedidas, saudades da terra natal, histórias de amor impossível
ou sobre perdas, Quando criança, ele adaptava a melodia e o estilo musical aos seus
sentimentos e aflições. Seus avós ficavam bravos por ele tentar inventar “músicas típicas”
fazendo composições, por vezes, “sem sentido”. Ele cita um exemplo:
Minha mãe, meu pai, meus irmãos,
Cade vocês que não vejo,
Devem estar bem na cidade,
O lugar que tanto desejo,
E eu, coitado, sozinho nesse triste chão,
Venham me buscar, por piedade!
As músicas são um elemento de construção identitária muito importante na
comunidade okinawana (SATOMI, 2005). A velha vitrola e os discos de músicas folclóricas
de Okinawa eram comuns entre todos os imigrantes uma. A ilha, inclusive, é conhecida como
“A terra da música e das danças”, título que foi dado pelo imperador Chinês no século XVI
que recebia delegações artísticas de Okinawa em sua homenagem (YAMASHIRO, 1997).
Muitas das músicas retratam tempos muito antigos e o próprio vestuário utilizado nas
apresentações passa a impressão de tratar-se de algo “milenar”. Quase a totalidade das
expressões artísticas de Okinawa no Brasil ambientam-se numa época anterior à anexação do
arquipélago pelo Japão no final do século XIX. Nesse sentido, é possível interpretar tais
manifestações como uma forma de resistência cultural ao projeto de homogeneização levado a
cabo pelo governo japonês desde a anexação. Apesar da importância das músicas no âmbito
11 A tese em andamento do autor desse artigo é baseada no uso de entrevistas com descendentes de okinawanos na cidade de São Paulo. Por meio dessas, notou-se a frequência das falas sobre o sentimento de saudade e nostalgia mesmo entre aqueles que não nasceram em Okinawa.
familiar promovendo ligações profundas entre os mais velhos e mais novos, servindo de
prática pedagógica, dentre outros, elas tem igualmente uma enorme importância na
coletividade, principalmente quando das suas execuções durante festividades. (SATOMI,
1998)
O capítulo VIII é dedicado exclusivamente às descrições das festividades vividas pelo
autor em sua infância no sítio. Paulo comenta que pela distância da família e pelo isolamento
do sítio, foi uma criança um tanto quanto solitária, e que por isso mesmo as atividades festivas
eram momentos de grande alegria por permitirem a reunião de muitas pessoas, sobretudo de
sua família. O autor cita a festa de Ano Novo realizada alguns dias de Janeiro (oshogatsu),
durante a qual se visitavam vizinhos e se recebiam parentes em casa. Em tais reuniões se
preparavam fartos banquetes e Paulo cita a empolgação de ser um dos raros momentos onde
se comiam doces (não japoneses) e se podia beber refrigerante. Eram também frequentes as
festas de aniversário, de casamento e de longevidade (homenagem aos idosos).
Paulo também comenta da fama dos okinawanos de ser um povo muito festeiro e
alegre. Muitos ocidentais estranham o comportamento desses “japoneses” devido ao
estereótipo de os nipônicos serem muito reservados, frios, fechados e comportados. A
importância e frequência das festas são muito importantes, pois em tais ocasiões ocorre uma
profunda socialização e fortalecimento de vínculos da comunidade, além de serem momentos
onde se expressam diversos elementos culturais, como as danças, as músicas (notadamente os
tocadores de sanshin e de taiko), a gastronomia, o vestuário, a possibilidade de maior
liberdade para o uso da língua okinawana, dentre outras. Segundo Sato, as festas realizadas
por imigrantes podem ser encaradas como “processos reprodutivos” que:
[...] traz à memória as recordações da ancestralidade imaginada, os quais usam do
paladar, odor e visual para legitimar a pretensa autenticidade étnico-cultural. Além
de que, a repetição cíclica do evento festivo reconfigura- se na produção memorial,
cujo ritual de alimentar-se junto aos outros “semelhantes” remete às lembranças de
um suposto passado em comum, e, concomitantemente confere uma intimidade
familiar (SATO, 2011, p. 10).
Mais adiante, o autor descreve de maneira mais breve sobre o relacionamento entre os
okinawanos e sobre os velórios. Assim, o autor explica o funcionamento do chamado miai ou
casamento arranjado, no qual os pais ou os avós procuravam uma pessoa ideal para o
casamento. Paulo, talvez em decorrência de sua formação familiar e religiosa, cita com certa
nostalgia tais casamentos que em sua opinião davam certo, pois nunca eram desfeitos e
permitiam uma construção afetiva conjunta por parte do casal por meio da convivência, ao
contrário dos casamentos de hoje que são mais livres, de iniciativa por parte do casal, mas que
são frívolos e instáveis.
Com relação ao velório, o autor inicia expondo o estereótipo comum entre os
“brasileiros” de que os japoneses fazem festa nos velórios. O autor explica tal confusão pelo
fato de sempre comparecer muita gente nos funerais e, em respeito a tais pessoas, sempre é
montado uma mesa com fartura de comida e chá.
Durante o velório, numa mesa, ao lado da cabeceira do caixão, os familiares a foto e
uma pequena placa de madeira fraca com o nome do finado (ihai); um pote branco
com areia bem fina; e uma pequena caixa encapada com papel branco.
Na Homenagem ao morto, a pessoa coloca um envelope com dinheiro na caixa
branca, acende um incenso (senko) que é fincado no pote com areia e, voltando-se
em direção ao finado, com as mãos juntas, faz-lhe uma oração (HIJO, 2009, p.37)
Segundo Paulo esse dinheiro é uma contribuição dos amigos e parentes para os custos
do funeral (algo tradicional em todo o Japão). Em seguida à cremação se espera um período
de 49 dias (tempo em que ocorre o desligamento total da alma com o corpo) para finalmente
as cinzas do ihai que é queimado serem depositadas no altar doméstico (butsudan) que fica na
casa do primogênito da família. A partir desse momento os demais parentes e amigos
próximos comparecem apenas no dia de finados (obon) apara acender incenso e fazer
oferendas12
.
A questão dos rituais funerários e da parte religiosa como um todo entre a comunidade
okinawana é bastante complexa, uma vez que envolve um hibridismo de matrizes religiosas
diversas, como o budismo, as religiosidades populares de Okinawa, e mesmo práticas
incorporadas do catolicismo e de outras religiões. Assim, o universo religioso okinawano no
Brasil é constituído por uma intensa hibridização entre tradições culturais, simbólicas e
religiosas japonesas, okinawanas e brasileiras, cada uma das quais, evidentemente, já com
suas próprias hibridizações.
Uma identidade resolvida
12 Segundo Koichi Mori, cerca de 90 % das famílias okinawanas no Brasil possuem totome (tabuleta com o registro do nome do ancestral) para realização do culto doméstico aos ancestrais (MORI, 2004, p. 278).
Nos três últimos capítulos do livro a ênfase recai sobre a questão da identidade do
autor, na explicação sobre aspectos históricos e culturais de Okinawa e, por fim, no processo
de mudança do autor para a cidade deixando para sempre a vida rural.
No que concerne à questão da identidade, Paulo cita que apesar da confusão, o fato de
saber um pouco das três línguas o ajudou no relacionamento com a família e com a
comunidade, porém, com os brasileiros, a comunicação foi mais difícil, principalmente, após a
mudança para a cidade.
O autor resolve seu problema de identidade de forma criativa, explicando que o São
Paulo bíblico de onde deriva seu nome também possui três origens, uma vez que nasceu em
Tarso (Ásia Menor), cidade de origem grega; foi educado em uma sinagoga, portanto era
também judeu, e ainda tinha cidadania romana. Nas palavras do autor: “São três as origens de
Paulo, para depois ter uma só cidadania, a universal, a do mundo”.
Ou seja, para Paulo Moriassu, a resolução de sua questão identitária se deu por meio
da criação de outra identidade, uma que se sobrepusesse e incorporasse as demais, uma
identidade cristã. Paulo agradece que logo aos oito anos quando chegou à cidade foi batizado
a com isso pôde melhorar seu entendimento de sua própria identidade, nas palavras do autor:
“[...] tornei-me espiritualmente universal. Assim, ao menos minha alma já está identificada:
ela é universal, pois participa do Deus verdadeiro. Aquele problema de identidade já não me
aflige mais” (HIJO, 2009, p. 53).
O caso de Paulo é interessante por elucidar o quanto podem ser variadas as estratégias
dos descendentes de imigrantes para “negociarem” sua identidade13
. Alguns resolvem essa
questão procurando fugir e negar suas origens imigrantes, procurando se inserir o máximo
possível na sociedade abrangente, outros procuram afirmar suas origens e se engajar em
atividades culturais da comunidade. Outros ainda, como Paulo, tentam transcender tais
questões por meio da aceitação de novas identidades que suplantam as demais e com isso os
seus dilemas e conflitos.
O que há de comum, porém, em todos esses casos é que ocorre sempre uma
negociação identitária, uma vez que apenas alguns elementos das diversas matrizes culturais
formadora do indivíduo são negociáveis, enquanto outros não o são. Tal negociação é
necessária, pois nenhuma das estratégias como as acima descritas são totalmente eficientes,
ainda mais no caso do imigrante e descendente de japoneses que são identificados
13 Um estudo já “clássico” sobre algumas das diversas formas pelas quais os imigrantes japoneses
“negociaram” sua identidade no Brasil é o trabalho de (LESSER, 2001; 2008).
automaticamente pela sociedade brasileira como japoneses por seu fenótipo,
independentemente de terem ou não nascido no Brasil, falarem ou não o japonês, e assim por
diante (LESSER, 2001; 2008).
No capítulo dedicado a explicar um pouco sobre Okinawa (XIV), Paulo começa
relatando a grande falta de informações sobre esse arquipélago no Brasil e que ele mesmo
pouco sabia de Okinawa exceto as coisas que os avós e outras pessoas falavam. Somente após
a publicação do livro do jornalista Shosei Miyagui14
é que Paulo afirma que passa a entender
mais sobre a história, lendas e tradições de Okinawa.
O que mais chama atenção entre essas informações que Paulo quis transmitir ao seu
amigo é o fato de afirmar que o povo japonês curiosamente é fruto de três “raças” a amarela
(dos mongóis que vieram da China e Coreia); a brancos (os ainu, povos do norte de provável
origem siberiana) e a “morena” (oriundos do sul, da polinésia). Ademais, o autor chama a
atenção para a existência de uma lenda que afirma que o primeiro imperador japonês teria
nascido em Okinawa.
Tais informações são reveladoras de diversas tensões latentes tanto no que concerne à
imigração japonesa no Brasil, quanto à relação Japão Okinawa. A afirmação da suposta tripla
origem racial japonesa remete aos momentos críticos da imigração japonesa no Brasil, nos
anos 1930, quando havia um intenso debate acerca da viabilidade ou não dessa imigração. Um
dos argumentos a favor se sustenta em teorias propagadas pelo próprio governo japonês do
período, as quais afirmam que o Japão é uma nação fruto de miscigenação de diversas “raças”
e tal fato foi um dos fatores que fizeram com que os japoneses se tornassem um povo singular
e superior aos demais países asiáticos.
Cabe lembrar que tal argumento foi construído precisamente em um momento
marcado por um lado, pela formação do império japonês o qual necessitava de uma teoria de
legitimação pautado na ideia de que a cultura e os valores japoneses poderiam ser assimilados
pelos povos ocupados (ODA, 2011); e por outro lado, no Brasil, era o momento da
popularização dentro das diretrizes do governo Vargas da ideia de uma suposta “democracia
racial” brasileira, tese já longamente discutida, baseada nos argumentos expostos por Gilberto
Freyre em Casa Grande & Senzala de 1933.
Assim sendo, os argumentos levantados por Paulo explicitam essas tensões e de como
em parte elas ainda permanecem ainda que de forma latente. Ao terminar esse capítulo sobre
Okinawa, o autor retoma a questão da importância das músicas e danças como algo muito
14 (MIYAGUI, 1998).
marcante além de destacar outras artes e saberes típicos desse arquipélago como o karate, a
cerâmica e a tecelagem. Por fim, destaca o respeito aos mais velhos, o caráter hospitaleiro e
alegre dos okinawanos, e sua religião “animista” com influências budistas e xintoístas.
O livro encerra com mudança de Paulo para a cidade de Santo André. Há uma breve
explicação do ideal de educação japonesa (sacrifício dos pais, em especial da mãe, para a
educação dos filhos, apego com relação aos pais, respeito aos mais velhos, respeito à
hierarquia), a experiência temerosa na escola, marcada por algumas situações de preconceito e
estereótipos e o gradual processo de adaptação à língua portuguesa.
Considerações finais
O objetivo deste texto foi promover uma reflexão sobre alguns aspectos do livro de
cartas de Paulo Moriassu Hijo, cuja leitura bastante rica em detalhes permite a construção de
um panorama bastante peculiar acerca de diversos aspectos do cotidiano de um garoto imerso
em um ambiente social e familiar marcado por uma verdadeira encruzilhada cultural onde
transitam conjuntamente referências culturais, simbólicas, artísticas, religiosas, linguísticas
tão diversas quanto a japonesa, a brasileira e a okinawana.
Ainda que tais situações descritas nas cartas sejam comuns a experiências de outras
pessoas, elas conformam a vivência única e particular de Paulo, e no processo de
rememoração e escritura no formato de cartas de tais lembranças e vivências, décadas depois,
essas se tornam matéria prima para a construção de uma identidade pessoal tendo um papel de
legitimação à posteriori deste projeto de identidade.
O exemplo de Paulo demostra a complexidade do fenômeno da construção identitária
em especial para aquelas pessoas que como ele situam-se em um “entre lugar” (BHABHA,
1998), dentro de um universo como o brasileiro tão historicamente marcado por “culturas
híbridas” (CANCLINI, 1997). Como visto, Paulo resolveu tais dilemas de pertencimento a
partir de uma crença e prática religiosa e é possível que suas cartas tenham também como
objetivo servir como “testemunho” de uma experiência de vida que teve êxito em superar tais
angústias comuns a tantos outros inseridos nas complexas dinâmicas de processos
imigratórios.
Figura1: Mapa do Japão com destaque para as ilhas de Ryûkyû na Província de Okinawa
Disponível em: http://www.welt-atlas.de/map_of_japan_politically_6-856
Acessado em 15/07/2011
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