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335 Hortic. bras., v. 26, n. 3, jul.-set. 2008 A abobrinha-italiana ( Curcubita pepo), planta da família das cucurbitáceas, situa-se entre as dez hor- taliças de maior valor econômico e de maior produção no Brasil. É uma cultu- ra de importância econômica principal- mente no centro e sul do País. Tem ci- clo de 50 a 80 dias, podendo ser culti- vada a campo tanto no verão, quanto na primavera (Camargo, 1981). Em culti- vo protegido, além desses períodos, LUCIO AD; CARPES RH; STORCK L; LOPES SJ; LORENTZ LH; PALUDO AL. 2008. Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana em múltiplas colheitas. Horticultura Brasileira 26: 335-341. Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana em múlti- plas colheitas Alessandro Dal’Col Lúcio; Ricardo H Carpes; Lindolfo Storck; Sidinei José Lopes; Leandro H Lorentz; André Luiz Paludo UFSM-Depto. Fitotecnia, Campus Universitário, Camobi, 97105-900 Santa Maria-RS; [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] pode ser produzida no outono e inver- no, quando o preço por quilo pode triplicar. Com isso, no Rio Grande do Sul, o cultivo da abobrinha-italiana em estufas plásticas é uma alternativa para os produtores aumentarem seus lucros, devido à redução de perdas e ao aumen- to da produtividade. De acordo com Streck (2002), a produtividade pode al- cançar mais que o dobro da relatada por Filgueira (2000), que cita um rendimen- to de cerca de oito toneladas para culti- vos a campo, além de apresentar vanta- gens, principalmente na qualidade su- perior dos produtos e produção em bai- xas temperaturas. A opção de produzir abobrinha-ita- liana em ambiente protegido acontece em função da grande expansão que esse sistema de cultivo vem experimentan- do. O uso cada vez mais freqüente de ambientes protegidos deve-se ao melhor RESUMO A variância associada à produção em plantas com colheitas múl- tiplas nem sempre é homogênea, o que compromete a precisão ex- perimental. Com o objetivo de identificar o comportamento da mé- dia e da variância da massa dos frutos de abobrinha-italiana (Curcubita pepo) com o passar das colheitas, entre as linhas de cul- tivo dentro de cada colheita e entre colheitas, e verificar a interfe- rência de diferentes manejos nesse comportamento, conduziu-se um trabalho nas estações sazonais inverno-primavera (I/P) e verão-ou- tono (V/O) 2004/2005. O experimento foi conduzido em dois túneis (T1 e T2), com três linhas de 25 plantas por túnel, com a cultivar Caserta. Em T1 utilizou-se irrigação por gotejamento, com mulching sobre os camalhões e menor aplicação de biocidas que em T2. Em T2 utilizou-se irrigação por aspersores, colocados a 1,8 m de altura, sem mulching sobre os camalhões. Aplicou-se o teste de Bartlett entre as seis variâncias das linhas de cultivo dentro de cada colheita e entre as variâncias médias das seis linhas para verificar a homogeneidade entre colheitas em cada estação de cultivo. Para com- paração das médias de produção de cada linha de cultivo, em cada colheita, dentro de cada túnel, e entre linhas de cultivo, com a mes- ma posição nos túneis, foi aplicado o teste t. Na estação V/O, as variâncias foram homogêneas em duas das onze colheitas e, na esta- ção I/P, em dez das treze colheitas, sendo que em ambas as estações houve maior homogeneidade das variâncias na primeira metade do ciclo. Na estação V/O, as variâncias em T1 foram, de modo geral, menores em todo o ciclo. Nas duas estações houve heterogeneidade na variância entre colheitas. Na estação V/O, ocorreram diferenças significativas em seis e três colheitas, respectivamente em T1 e T2, com as médias de produção atingindo 481,0 em T1 e 454,0 g planta -1 em T2. Na estação I/P ocorreram diferenças de produção na primei- ra (T1) e quarta e quinta colheitas (T2), com as médias atingindo 598,2 (T1) e 597,4 g planta -1 (T2). Palavras-chave: Curcubita pepo, ambiente protegido, planejamento de experimentos, tamanho de parcelas, homogeneidade de variância. ABSTRACT Variance and means of zucchini fruit mass in multiple harvests The variance associated to the production of plants with multiple harvests is not always homogeneous, what compromises the experimental precision. To address this issue, in this work we identified (1) the behavior of the means and variance for fruit mass in zucchini (Curcubita pepo) along harvests, between planting rows within and betweens harvests, and (2) the interference of different crop managements over these parameters. The experiment was carried out in two seasons, winter-spring (I/P) and summer-autumn (V/O), 2004/ 2005, using cultivar Caserta and two plastic tunnels (T1 and T2), with three 25-plant rows in each tunnel. In T1, drip irrigation was used, combined with mulching over the ridges, and less biocide spraying than in T2. In T2, sprinkler irrigation was used, placed 1,8 m height, without mulching. The Bartlett test was applied to the six planting row variances within each harvest and to the average variance of each row to check the homogeneity between harvests in each crop season. The t test was used to compare the production means in each planting row, in each harvest, in each tunnel, and also between planting rows, for plants with the same position in the tunnel. In the V/O season, variances were homogeneous in two out of the eleven harvests. In season I/P, variances were homogeneous in ten of the thirteen harvests. In both seasons, variance homogeneity was higher in the first half of the cycle. In V/O, variances in T1 were in general smaller than in T2 in the whole cycle. In both seasons there was variance heterogeneity between harvests. In V/O, significant differences were observed in six and three harvests, respectively in T1 and T2, with production means reaching 481.0 and 454.0 g plant -1 in T1 and T2, respectively. In I/P, significant differences were observed in the first (T1) and fourth and fifth harvests (T2), with the means for fruit mass reaching 598.2 (T1) and 597.4 g plant -1 (T2). Keywords: Curcubita pepo, greenhouse, experiment planning, size plot, homogeneity of variances. (Recebido para publicação em 10 de dezembro de 2006; aceito em 8 de agosto de 2008)

Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana em múltiplas colheitas

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A abobrinha-italiana (Curcubitapepo), planta da família das

cucurbitáceas, situa-se entre as dez hor-taliças de maior valor econômico e demaior produção no Brasil. É uma cultu-ra de importância econômica principal-mente no centro e sul do País. Tem ci-clo de 50 a 80 dias, podendo ser culti-vada a campo tanto no verão, quanto naprimavera (Camargo, 1981). Em culti-vo protegido, além desses períodos,

LUCIO AD; CARPES RH; STORCK L; LOPES SJ; LORENTZ LH; PALUDO AL. 2008. Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana emmúltiplas colheitas. Horticultura Brasileira 26: 335-341.

Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana em múlti-plas colheitasAlessandro Dal’Col Lúcio; Ricardo H Carpes; Lindolfo Storck; Sidinei José Lopes; Leandro H Lorentz;André Luiz PaludoUFSM-Depto. Fitotecnia, Campus Universitário, Camobi, 97105-900 Santa Maria-RS; [email protected], [email protected],[email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

pode ser produzida no outono e inver-no, quando o preço por quilo podetriplicar. Com isso, no Rio Grande doSul, o cultivo da abobrinha-italiana emestufas plásticas é uma alternativa paraos produtores aumentarem seus lucros,devido à redução de perdas e ao aumen-to da produtividade. De acordo comStreck (2002), a produtividade pode al-cançar mais que o dobro da relatada porFilgueira (2000), que cita um rendimen-

to de cerca de oito toneladas para culti-vos a campo, além de apresentar vanta-gens, principalmente na qualidade su-perior dos produtos e produção em bai-xas temperaturas.

A opção de produzir abobrinha-ita-liana em ambiente protegido aconteceem função da grande expansão que essesistema de cultivo vem experimentan-do. O uso cada vez mais freqüente deambientes protegidos deve-se ao melhor

RESUMOA variância associada à produção em plantas com colheitas múl-

tiplas nem sempre é homogênea, o que compromete a precisão ex-perimental. Com o objetivo de identificar o comportamento da mé-dia e da variância da massa dos frutos de abobrinha-italiana(Curcubita pepo) com o passar das colheitas, entre as linhas de cul-tivo dentro de cada colheita e entre colheitas, e verificar a interfe-rência de diferentes manejos nesse comportamento, conduziu-se umtrabalho nas estações sazonais inverno-primavera (I/P) e verão-ou-tono (V/O) 2004/2005. O experimento foi conduzido em dois túneis(T1 e T2), com três linhas de 25 plantas por túnel, com a cultivarCaserta. Em T1 utilizou-se irrigação por gotejamento, com mulchingsobre os camalhões e menor aplicação de biocidas que em T2. EmT2 utilizou-se irrigação por aspersores, colocados a 1,8 m de altura,sem mulching sobre os camalhões. Aplicou-se o teste de Bartlettentre as seis variâncias das linhas de cultivo dentro de cada colheitae entre as variâncias médias das seis linhas para verificar ahomogeneidade entre colheitas em cada estação de cultivo. Para com-paração das médias de produção de cada linha de cultivo, em cadacolheita, dentro de cada túnel, e entre linhas de cultivo, com a mes-ma posição nos túneis, foi aplicado o teste t. Na estação V/O, asvariâncias foram homogêneas em duas das onze colheitas e, na esta-ção I/P, em dez das treze colheitas, sendo que em ambas as estaçõeshouve maior homogeneidade das variâncias na primeira metade dociclo. Na estação V/O, as variâncias em T1 foram, de modo geral,menores em todo o ciclo. Nas duas estações houve heterogeneidadena variância entre colheitas. Na estação V/O, ocorreram diferençassignificativas em seis e três colheitas, respectivamente em T1 e T2,com as médias de produção atingindo 481,0 em T1 e 454,0 g planta-1

em T2. Na estação I/P ocorreram diferenças de produção na primei-ra (T1) e quarta e quinta colheitas (T2), com as médias atingindo598,2 (T1) e 597,4 g planta-1 (T2).

Palavras-chave: Curcubita pepo, ambiente protegido, planejamentode experimentos, tamanho de parcelas, homogeneidade de variância.

ABSTRACTVariance and means of zucchini fruit mass in multiple

harvests

The variance associated to the production of plants with multipleharvests is not always homogeneous, what compromises theexperimental precision. To address this issue, in this work we identified(1) the behavior of the means and variance for fruit mass in zucchini(Curcubita pepo) along harvests, between planting rows within andbetweens harvests, and (2) the interference of different cropmanagements over these parameters. The experiment was carried outin two seasons, winter-spring (I/P) and summer-autumn (V/O), 2004/2005, using cultivar Caserta and two plastic tunnels (T1 and T2), withthree 25-plant rows in each tunnel. In T1, drip irrigation was used,combined with mulching over the ridges, and less biocide sprayingthan in T2. In T2, sprinkler irrigation was used, placed 1,8 m height,without mulching. The Bartlett test was applied to the six plantingrow variances within each harvest and to the average variance of eachrow to check the homogeneity between harvests in each crop season.The t test was used to compare the production means in each plantingrow, in each harvest, in each tunnel, and also between planting rows,for plants with the same position in the tunnel. In the V/O season,variances were homogeneous in two out of the eleven harvests. Inseason I/P, variances were homogeneous in ten of the thirteen harvests.In both seasons, variance homogeneity was higher in the first half ofthe cycle. In V/O, variances in T1 were in general smaller than in T2in the whole cycle. In both seasons there was variance heterogeneitybetween harvests. In V/O, significant differences were observed insix and three harvests, respectively in T1 and T2, with productionmeans reaching 481.0 and 454.0 g plant-1 in T1 and T2, respectively.In I/P, significant differences were observed in the first (T1) and fourthand fifth harvests (T2), with the means for fruit mass reaching 598.2(T1) and 597.4 g plant-1 (T2).

Keywords: Curcubita pepo, greenhouse, experiment planning, sizeplot, homogeneity of variances.

(Recebido para publicação em 10 de dezembro de 2006; aceito em 8 de agosto de 2008)

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controle das condições de crescimentoe à aceleração de vários aspectos queregulam o crescimento e a maturaçãodas plantas. Paralelamente a essa expan-são, aumenta a demanda do setor pro-dutivo por resultados de pesquisa queauxiliem não só na solução dos proble-mas enfrentados, mas também no incre-mento da eficiência do sistema. Em con-seqüência, surge a necessidade de au-mentar a confiabilidade dos resultadosde pesquisa obtidos em experimentosconduzidos em ambientes protegidos.Experimentos neste sistema de cultivo,assim como em outras áreas, devem serbem compreendidos e executados, poisa precisão caracteriza a qualidade dasinferências dos resultados.

Os pesquisadores, ao realizaremseus experimentos, esperam que a va-riabilidade ocorrida entre as parcelasseja atribuída à média e, no caso de par-celas de diferentes tratamentos, ao efei-to destes. Porém, por mais cuidado quese tenha, ocorrem sempre variaçõesaleatórias entre as parcelas com mesmotratamento. Estas variações são denomi-nadas de erro experimental (Steel et al.,1997). Diversas fontes de erro experi-mental estão presentes em experimen-tos e aqueles conduzidos em ambienteprotegido também são afetados por es-sas fontes de heterogeneidade, entre elasa heterogeneidade do material experi-mental utilizado, a aplicação não com-pletamente uniforme de tratos culturais,o ataque de pragas e doenças e as injú-rias causadas por sucessivas colheitas namesma planta (Lorentz et al., 2004,2005).

As formas de controlar o erro expe-rimental são a utilização adequada dodelineamento experimental, a determi-nação do tamanho e forma das parcelase o uso de observações auxiliares (Steelet al., 1997). Estas formas de controleexperimental vêm sendo estudadas prin-cipalmente nas grandes culturas, comomilho (Rezende & Souza Júnior, 1997;Martin et al., 2005b), sorgo (Lopes etal., 2005) e soja (Martin et al., 2005a),enquanto para culturas olerícolas, prin-cipalmente aquelas cultivadas em am-bientes protegidos, as informações a esterespeito são escassas (Marodin et al.,2000; Lúcio et al., 2003; Mello et al.,2004). Atualmente, os trabalhos com

olerícolas são realizados, na sua maio-ria, em parcelas experimentais cujo ta-manho foi escolhido empiricamente,determinado pela necessidade oupraticidade ou, ainda, baseado em ex-periências anteriores, seguindo tendên-cias a partir de trabalhos já realizados.O mesmo acontece com o delineamen-to, número de repetições e a intensida-de de amostragem dentro das parcelas.

Em experimentos conduzidos emcultivo protegido sem aplicação de tra-tamentos, compostos de linhas de culti-vos bem definidas e cujas plantas sãotratadas de modo individual e não ten-dencioso, espera-se que as médias deprodução das linhas e suas respectivasvariâncias não difiram entre si. No en-tanto, este último pressuposto pode nãoestar sendo atendido para os experimen-tos realizados em estufas plásticas, in-duzindo a conclusões errôneas a respei-to das diferenças entre os tratamentos.Souza et al. (2002) relataram a grandevariabilidade existente para crescimen-to dos frutos de abobrinha-italiana. Damesma forma, Lúcio et al. (2003) ob-servaram colheitas de pimentão 100%heterogêneas. Já Lorentz et al. (2004),trabalhando com pepineiro, verificaramque sete em treze das colheitas se mos-traram com variâncias homogêneas,observando também grandes oscilaçõesdas médias da produção por colheita.Estudando a variabilidade da produçãode tomate em função das colheitas,Lopes et al. (1998) verificaram queocorreram mudanças na concentração daprodução no decorrer das colheitas econstataram diferenças de produção en-tre as linhas de cultivo.

A falta de homogeneidade dasvariâncias passa a ser problemáticaquando se utilizam testes de compara-ção de médias, já que a homogeneidadeentre as variâncias é um dos pressupos-tos para realização da análise davariância e, portanto, necessária paraassegurar o nível de significância dostestes F e de comparação das médias.Em análises de dados experimentaiscom variâncias heterogêneas, o nível designificância passa a ficar acima do es-pecificado (Conagin et al., 1993). As-sim, o estudo do comportamento damédia e da variância dentro do ambien-te protegido ao longo de diferentes co-

lheitas se faz necessário, bem como ainterferência direta dos diferentes ma-nejos nessas estatísticas, pois são fato-res que podem alterar as conclusões detrabalhos científicos.

Desta forma, os objetivos deste tra-balho foram identificar o comportamen-to da média e da variância da massa dosfrutos de abobrinha-italiana com o pas-sar das colheitas, entre as linhas de cul-tivo dentro de cada colheita e entre co-lheitas, e verificar a interferência domanejo nesses parâmetros.

MATERIAL E MÉTODOS

Os experimentos com abobrinha-ita-liana, cultivar Caserta, foram conduzi-dos no Departamento de Fitotecnia daUniversidade Federal de Santa Maria(29o41’S, 53o41’W e altitude de 95 m).O clima é classificado como Cfa,subtropical úmido sem estação seca de-finida e com verões quentes e, o solo,como Argissolo Vermelho DistróficoArênico.

Foram utilizados dois túneis comdimensões de 25 m de comprimento por4 m de largura, com 3,5 m de altura naparte central, coberto com filme de plás-tico PeBD (Polietileno de baixa densi-dade) de 200 µ (Figura 1), sendo as plan-tas em cada túnel submetidas a um ma-nejo cultural específico. No primeiro(T1), foi realizada irrigação porgotejamento e foram utilizadoscamalhões, com 0,1 m de altura e 0,4 mde largura, com mulching preto de PeDBde 35 µ. Neste túnel, as laterais não fo-ram fechadas para irrigação e houve umamenor aplicação de fungicidas e inseti-cidas em relação ao outro manejo. Fo-ram realizadas desfolhas sempre quenecessário para o melhor desenvolvi-mento da cultura, mas em menor quan-tidade se comparado ao realizado nooutro túnel. No segundo túnel (T2) a ir-rigação foi realizada utilizandoaspersores fixados a 1,8 m acima do soloe os camalhões permaneceram semmulching. Para aumentar a uniformida-de na distribuição de água, o túnel eratotalmente fechado no momento da ir-rigação. Foram realizadas capinas entreas linhas e dentro das linhas, sendo apli-cados fungicidas e inseticidas eefetuadas desfolhas sempre que neces-

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sário. Em ambos os túneis as plantasforam conduzidas em três linhas de cul-tivo, com 25 plantas por linha eespaçamento entre plantas de 0,8 m e,entre filas, de 1,2 m.

A produção das mudas foi efetuadavia sistema de bandejas de isopor de 144células, em substrato comercialPlantmax®, suspensas sobre armaçãometálica. A semeadura foi realizada em28/08/04 e em 25/02/05 no interior deuma estufa-sementeira, com coberturaplástica e irrigação commicroaspersores. O transplante foi rea-lizado em 14/09/04 e em 15/03/05 paraas estações sazonais inverno-primavera(I/P) e verão-outono (V/O), respectiva-mente, quando as mudas apresentavamseis folhas definitivas ou 15 cm de esta-tura. As plantas que após o transplanteapresentavam crescimento inferior àsdemais foram substituídas por plantasreservas, a fim de assegurar um adequa-do e homogêneo estande de plantas.Todos os tratos culturais foram realiza-dos com base na recomendação para acultura (Filgueira, 2000). A unidade bá-sica (UB) foi composta por uma plantae resultou, portanto, em 25 UB linha-1.As plantas foram identificadas com onúmero de ordem da linha e da plantadentro de cada linha. A definição domomento da colheita baseou-se no ta-manho dos frutos, onde estes foram co-lhidos quanto apresentavam compri-mento acima de 18 cm, sendo coloca-dos em sacos de papel e identificados,para posterior determinação da massafresca em balança digital com precisãode um grama.

Em cada colheita realizada, estimou-se a média e a variância entre as plantascom produção dentro de cada linha.Aplicou-se o teste de Bartlett (Steel etal., 1997) entre as seis variâncias daslinhas de cultivo (três linhas de cultivoem cada túnel) obtidas em cada colhei-ta, para verificar a homogeneidade en-tre as linhas de cultivo dentro de cadacolheita. Posteriormente, aplicou-se oteste de Bartlett entre as variâncias mé-dias das seis linhas em cada colheita,para verificar a homogeneidade entrecolheitas em cada estação sazonal decultivo. Para comparação das médias deprodução de cada linha de cultivo, emcada colheita dentro de cada túnel, e

entre linhas de cultivo, com a mesmaposição nos túneis plásticos, foi aplica-do o teste t utilizando as respectivas es-timativas de variâncias e graus de liber-dade. Em todas as análises estatísticasfoi adotado 5% de probabilidade de erro,utilizando os aplicativos Excel e SAEG,versão 9.1.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O teste de Bartlett aplicado nasvariâncias das seis linhas (dois túneis),dentro de cada colheita, na estação sa-zonal verão-outono (V/O), evidenciouque houve homogeneidade em duas(18,2%) das onze colheitas realizadas.Já na estação sazonal inverno-primave-ra (I/P), as variâncias foram homogê-neas em dez (76,9%) das treze colhei-tas realizadas (Tabela 1). Na estação V/O, duas das seis primeiras colheitasmostraram-se homogêneas (33%), en-quanto na estação I/P, em três das seisprimeiras colheitas, a homogeneidadedas variâncias foi detectada (50%). Issodemonstra que, mesmo mudando a es-tação de cultivo, houve pouca alteraçãono comportamento na primeira metadedo ciclo, o que pode ter acontecido emfunção da similaridade entre a tempera-

tura média do ar (de 18 a 25°C na esta-ção V/O; 15 a 23°C na estação I/P) ebrilho solar (menos de um a 8,5 horas,na estação V/O; menos um a 11,1 ho-ras, na estação I/P), nas duas estações(Figura 2). Por sua vez, aheterogeneidade observada na fase ini-cial do experimento pode ser conseqüên-cia de variações na semeadura ou naobtenção e transplante das mudas, fatotambém observado em experimentoscom pimentão (Lorentz et al., 2005).

Ao se visualizar a segunda metadedo ciclo produtivo, a partir da sétimacolheita, houve um comportamento di-ferenciado entre as variâncias das linhasde cultivo nas diferentes estações sazo-nais (Tabela 1). Na estação V/O, 100%das colheitas apresentaram variânciasheterogêneas entre linhas, enquanto naestação I/P 100% das colheitas apresen-taram variâncias homogêneas. Asheterogeneidades da estação V/O ocor-reram provavelmente em função do de-créscimo da temperatura do ar e do bri-lho solar com o avanço do ciclo de cul-tivo nesta época. A temperatura médiado ar oscilou de 21 para 13°C e, o bri-lho solar, entre menos de 1 e 8,4 horas,entre a sétima e a última colheitas (Fi-gura 2).

Figura 1. Identificação e localização dos túneis plásticos, linhas de cultivo e unidades bási-cas (UB) utilizadas no estudo (identification and location of the plastic tunnels, plantingrows, and basic units (UB) used in the study). Santa Maria, UFSM, 2005.

Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana em múltiplas colheitas

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Tabela 1. Número de plantas colhidas e variância da massa dos frutos de abobrinha-italiana dentro da colheita, em cada linha de cultivo,para sistema conduzido em túneis plásticos, em duas estações (number of harvested plants and fruit mass variance within harvests inzucchini, in each planting row, under plastic tunnels, in two stations). Santa Maria, UFSM, 2005.

*N = número de plantas colhidas em cada colheita, em cada linha de cultivo (number of plants harvested in each harvest, in each planting row);**s2 = variância da massa dos frutos (g) dentro da colheita, em cada linha de cultivo (variance of fruit mass (g) within harvests, in each plantingrow); ***Variâncias heterogêneas entre as seis linhas de cultivo, teste de Bartlett, p<0.05 (heterogeneous variances among the six planting rows,Bartlett test, p<0.05); ns: Não significativo (non significant); 1/Túnel 1: irrigação por gotejamento, camalhões cobertos com mulching preto,laterais sem fechamento para irrigação e menor aplicação de fungicidas e inseticidas (drip irrigation, ridges with black mulching, opened sidesduring irrigation, and less spraying of biocides); 2/Túnel 2: irrigação por aspersão, sem mulching e laterais fechadas no momento da irrigação(sprinkler irrigation, no mulching, and opened sides during irrigation).

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Em condições de cultivo menos pro-pícias, como na estação V/O, mesmo emambiente protegido as diferenças domanejo podem ser melhor expressas. Deum modo geral, as variâncias no túnel 1foram menores em todo ciclo. Isto sedeve a um melhor e mais rápido estabe-lecimento da cultura em relação ao tú-nel 2, proporcionando uma produçãomais homogênea em condições desfa-voráveis de cultivo. Por outro lado, oestabelecimento das plantas no túnel 2pode ter sido mais lento em decorrênciadas variações climáticas relatadas, o quereduz a produção inicial, mas resulta emaumento da produção quando todo o ci-clo de cultivo é considerado. Já na esta-ção sazonal I/P houve homogeneidadedas variâncias dentro de cada colheita.Concomitantemente, observou-semelhoria das condições climáticas nodecorrer do experimento, com aumentoda temperatura e do brilho solar. Nestaépoca, a temperatura média do ar osci-lou de 20 a 27°C e, o brilho solar, de 2até 12 horas, mas com uma menor va-riação em relação à outra época, o quetorna menos marcantes as diferenças demanejo e melhora conseqüentemente ascondições gerais de cultivo (Figura 2).

Observou-se que as duas estaçõessazonais apresentaram variâncias hete-rogêneas entre colheitas (Tabela 2), oque se deve principalmente à variabili-dade do crescimento dos frutos entre ascondições ambientais favoráveis (cres-cimento rápido) da estação I/P e as con-dições desfavoráveis (crescimento len-to) da estação V/O. As principais con-dições ambientais que influenciam ocrescimento são a temperatura, radiaçãosolar global, nebulosidade e umidaderelativa do ar, como também constata-do por Souza et al. (2002). A cultura daabobrinha desenvolve-se melhor, deacordo com Filgueira (2000), em climassecos com temperatura entre 18 e 35°C,com limites mínimo de 10°C e máximode 32°C e umidade relativa do ar media-na (40 a 50%), condições estas obser-vadas na estação V/O, na segunda me-tade do ciclo produtivo.

Na comparação das médias entre li-nhas de cultivo, na estação V/O, dentrode cada túnel (Tabela 3), verificou-seque ocorreu diferença significativa emseis das onze colheitas no túnel 1 e em

Tabela 2. Variâncias médias da massa de frutos de abobrinha-italiana entre as plantas daslinhas, em cada colheita, para sistema conduzido em túneis plásticos, em duas estações(average variance between plants within the row for zucchini fruit mass, in each harvest,under plastic tunnel, in two seasons). Santa Maria, UFSM, 2005.

*Variâncias heterogêneas entre colheitas, dentro de cada estação sazonal de cultivo, teste deBartlett, p<0,05 (heterogeneous variances between harvests within seasons, Bartlett test, p<0.05).

Figura 2. Temperatura média (°C) (A) e brilho solar (B) no decorrer das colheitas de abo-brinha-italiana nas estações sazonais verão-outono (V/O) inverno-primavera (I/P) (averagetemperature (°C) (A) and sunshine (B) along zucchini harvests in summer-autumn (V/O)and winter-spring (I/P) seasons). Santa Maria, UFSM, 2005.

Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana em múltiplas colheitas

três das 11 colheitas no túnel 2, sendoque a linha A2 apresentou médias supe-riores em três das seis colheitas e nãodiferiu da linha A1 em oito das 11 co-lheitas no túnel 1. Já no túnel 2, a linhaB3 foi a que apresentou maior média emtrês colheitas, diferindo apenas em umacolheita das outras linhas, com diferen-ça significativa das linhas A2 e A1 e ain-da B1 e B2 em relação às linhas A3 e

B3. Comparando as linhas com mesmaposição dentro de T1 e T2, verificou-seque não houve diferença entre A1 e B1nas 11 colheitas do V/O. Já para as li-nhas A2 e B2 a diferença significativafoi verificada apenas na primeira colhei-ta, sendo também observada entre as li-nhas A3 e B3 na terceira, quarta e sextacolheitas, com um comportamento demaior média de produção na linha A3

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do que a linha B3. Na segunda metadedo ciclo produtivo no túnel 2, as médiasdas colheitas foram maiores pelo fatodas plantas do túnel 2 terem sofrido maiscom as variações de temperatura no iní-cio do ciclo, que vêm ao encontro docomportamento das variâncias.

Já na comparação entre as médiasnas linhas de cultivo nas treze colheitasna estação sazonal I/P dentro de cadatúnel (Tabela 3), ocorreu diferença en-tre as médias na primeira colheita dotúnel 1 e na quarta e quinta colheitas dotúnel 2, mas sempre os menores valoresde médias estavam na primeira ou ter-ceira linhas dos túneis. Isso evidencia

melhores condições na linha do meio emrelação à das extremidades. Já no túnel2, na segunda metade do ciclo produti-vo, as médias da linha B3 tiveram, nasua maioria, valores menores em rela-ção às outras duas linhas. Na compara-ção entre as linhas A1 e B1, ocorreu di-ferença significativa na terceira e nadécima colheitas; entre as linhas A2 eB2, na primeira, terceira, sétima e nonacolheitas e; entre A3 e B3, na quarta,sexta e nona colheitas, sendo que a li-nha A3 do túnel 1 atingiu a maior mé-dia nas quarta e sexta colheitas. Estasdiferenças ocorreram pela localizaçãodas linhas, tanto no túnel 1, quanto no

túnel 2, o que foi agravado pela dife-rença de manejo, demonstrando que aslinhas na posição A3 e B3 foram as maisprejudicadas. Esse resultado são concor-dantes com Feijó et al. (2005) que ob-servou um menor desenvolvimento dasplantas localizadas na fila oeste, pois,por haver grande intensidade de ventosno lado leste, este permaneceu com aslaterais fechadas, enquanto o lado oestepermaneceu com as laterais abertas, oque contribuiu para o não tombamentodas plantas de abobrinha-italiana.

As diferenças apresentadas entre aslinhas de cultivo, dentro de cada túnel eentre linhas com a mesma posição em

Tabela 3. Produção de frutos de abobrinha-italiana por planta, em cultivo em túneis plásticos com diferentes manejos culturais, em duasestações sazonais de cultivo (production of zucchini fruits per plant, grown under plastic tunnels with different management systems, in twoseasons). Santa Maria, UFSM, 2005.

*Médias seguidas de mesma letra, dentro de cada túnel em cada colheita, não diferem entre si pelo teste t, p<0,05 (means followed by sameletter, within each tunnel in each crop, did not differ from each other, t test, p<0.05); 1/Túnel 1: irrigação por gotejamento, camalhõescobertos com mulching preto, laterais sem fechamento para irrigação e menor aplicação de fungicidas e inseticidas (drip irrigation, ridgeswith black mulching, opened sides during irrigation, and less spraying of biocides); 2/Túnel 2: irrigação por aspersão, sem mulching elaterais fechadas no momento da irrigação (sprinkler irrigation, no mulching, and opened sides during irrigation).

341Hortic. bras., v. 26, n. 3, jul.-set. 2008

Variância e média da massa de frutos de abobrinha-italiana em múltiplas colheitas

túneis diferentes, mostram que com opassar do ciclo e as múltiplas colheitasrealizadas, as plantas vão expressando-se de forma diferenciada, sendo influen-ciadas diretamente pelas condições cli-máticas, pelo tipo de manejo, bem comopela proximidade da linha de cultivocom as laterais do túnel plástico e a po-sição daquela na área cultivada. Em con-dições de limitações de temperatura doar e brilho solar, as plantas nas linhascom camalhões sem mulching e comrecebimento de água na irrigação poraspersão, tendem a apresentar variânciasheterogêneas e diferenças significativasentre médias, comportamento este nãoevidenciado em condições favoráveis aocrescimento e desenvolvimento dasplantas.

Tanto as médias quanto às variânciasdo peso da massa de frutos de abobri-nha italiana oscilaram de forma signifi-cativa entre as linhas de cultivo com opassar do ciclo produtivo e das múlti-plas colheitas realizadas, independente daestação sazonal de cultivo. Plantas deabobrinha-italiana, cultivadas em siste-ma de irrigação por aspersão e sem co-bertura do camalhão por mulching, ten-dem a apresentar médias e variâncias sig-nificativamente diferentes entre as linhasde cultivo, quando em condições de li-mitação de fatores climáticos como tem-peratura do ar e horas de brilho solar.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq e FAPERGS/RS, pelosrecursos financeiros para a realização do

trabalho e bolsas de produtividade empesquisa e de iniciação científica.

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