05 - Abordagens Socioantropológicas Nas Organizações_mat_impresso

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  • ABORDAGENSSOCIOANTROPOLGICAS

    NAS ORGANIZAES

  • ABORDAGENS SOCIOANTROPOLGICAS

    NAS ORGANIZAES

  • copyright FTC EAD

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    da FTC EAD - Faculdade de Tecnologia e Cincias - Ensino a Distncia.

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    Presidente Superintendente Administrativo e Financeiro

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    Planejamento Acadmico Diretor Administrativo e Financeiro

    IMES Instituto Mantenedor de Ensino Superior Metropolitano S/C Ltda.

    FTC - EADFaculdade de Tecnologia e Cincias - Ensino a Distncia

    Diretor Geral Diretor Acadmico

    Diretor de Desenvolvimento e Inovaes Diretor Comercial

    Diretor de Tecnologia Gerente de Desenvolvimento e Inovaes

    Gerente de Ensino Gerente de Suporte Tecnolgico

    Coord. de Telecomunicaes e Hardware Coord. de Produo de Material Didtico

    Reinaldo de Oliveira BorbaMarcelo NeryRoberto Frederico MerhyMrio FragaJean Carlo NeroneRonaldo CostaJane FreireLuis Carlos Nogueira AbbehusenOsmane ChavesJoo Jacomel

    William OliveiraSamuel SoaresGermano Tabacof

    Pedro Daltro Gusmo da SilvaAndr Portnoi

    PRODUO ACADMICA Gerente de Ensino Jane FreireSuperviso Jean Carlo Bacelar, Leonardo Santos Suzart, Wanderley Costa dos Santos e Fbio Viana SalesCoordenao de Curso Ana Paula A. Matos MoreiraAutor (a) Eliete da Silva Barros PRODUO TCNICA Reviso Final Carlos Magno Brito Almeida Santos Mrcio Magno Ribeiro de MeloEquipe Andr Pimenta, Antonio Frana Filho, Amanda Rodrigues, Bruno Benn, Cefas Gomes, Cluder Frederico, Francisco Frana Jnior, Herminio Filho, Israel Dantas, Ives Arajo, John Casais, Mrcio Serafi m, Mariucha Silveira Ponte e Ruberval da Fonseca.Editorao John Maurcio Casais de MelloIlustrao John Maurcio Casais de MelloImagens Corbis/Image100/Imagemsource

    EQUIPE DE ELABORAO/PRODUO DE MATERIAL DIDTICO:

  • 3SOCIOLOGIA E A CONTRIBUIO PARA AS ORGANIZAES 7

    A SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAES 7

    MILE DURKHEIM E O PENSAMENTO POSITIVISTA 7

    KARL MARX E A CRTICA AO CAPITALISMO 11

    MAX WEBER E A ANLISE DAS ORGANIZAES 15

    AS ORGANIZAES SOB UM OLHAR SOCIOLGICO 19

    AS CONTRIBUIES DE ELTON MAYO 19

    O ESTADO E O PODER NAS ORGANIZAES 21

    CAPITALISMO E A GLOBALIZAO 29

    A ANLISE ANTROPOLGICA DAS ORGANIZAES 34

    CONTRIBUIES DOS CLSSICOS 34

    BRONISAW MALINOWSKI 34

    CLAUDE LVI-STRAUSS 36

    A CONTRIBUIO DE DOMENICO DI MASI PARA A ORGANIZAO CONTEMPORNEA 38

    ANTROPOLOGIA E ANTROPOLOGIA CULTURAL 42

    CULTURA ORGANIZACIONAL E AS RELAES DE TRABALHO 42

    INDIVDUO / TRABALHO E SOCIEDADE 56

    ROBERTO DAMATA E O JEITINHO BRASILEIRO 62

    Sumrio

  • 5Caro (a) Aluno (a)

    Estamos dando incio disciplina Abordagens Socioantropolgicas nas Organizaes, que visar aprofundar os estudos das principais correntes tericas da Sociologia, partindo dos clssicos e desenvolvendo as contribuies dos autores contemporneos, permitindo, assim, a atualizao das abordagens scio-antropolgicas, refl etindo acerca das principais questes e dos principais conceitos envolvendo as linhas das organizaes na atualidade.

    Esse mdulo disciplinar possui 60 horas e encontra-se dividido em quatro grandes blocos temticos, em que cada bloco ser trabalhado por semana.

    O primeiro bloco temtico intitula-se Sociologia e a contribuio para as organizaes e ser desenvolvido a partir dos temas que abordam a Sociologia das organizaes. No segundo bloco, A Anlise Antropolgica das Organizaes, trataremos dos temas que envolvem a Antropologia Cultural e seus principais tericos.

    Todo o material didtico dessa disciplina foi confeccionado e estruturado para potencializar sua aprendizagem. Para tanto, solicitamos a leitura atenta e rigorosa de todos os textos, assim como a realizao de todas as atividades propostas, a fi m de obter um excelente proveito de todo conhecimento disposto nesse mdulo disciplinar.

    Desejo discernimento para obter o melhor dos conhecimentos neste disponibilizados.

    Professora Eliete Barros

    Apresentao da Disciplina

  • 7SOCIOLOGIA E A CONTRIBUIO PARA AS

    ORGANIZAES

    A SOCIOLOGIA DAS ORGANIZAES

    MILE DURKHEIM E O PENSAMENTO POSITIVISTA

    mile Durkheim (Epinal, Frana, 1858 Paris, 15 de novembro de 1917), descendente de judeus franceses, cujo pai, av e bisav foram rabinos. Ainda moo decidiu no seguir o caminho dos familiares levando, pelo contrrio, uma vida bastante secular. Em sua obra, por exemplo, explicava os fenmenos religiosos a partir de fatores sociais e no divinos. Tal fato no o afastou, no entanto, da comunidade judaica. Muitos de seus colaboradores foram judeus e alguns, inclusive, seus parentes.

    Entrou na cole Normale Suprieure em 1879, juntamente com Jean Jaurs e Henri Bergson, e durante seus estudos teve contatos com as obras de Auguste Comte e Herbert Spencer, que o infl uenciaram signifi cativamente na tentativa de buscar a cientifi cidade no estudo das humanidades.

    Durkheim formou-se em Direito e Economia, porm sua obra inteira dedicada Sociologia. Seu principal trabalho na refl exo e no reconhecimento da existncia de uma Conscincia Coletiva.

    Ele parte do princpio que o homem seria apenas um animal selvagem que s se tornou humano porque se tornou socivel, ou seja, foi capaz de aprender hbitos e costumes caractersticos de seu grupo social para poder conviver no meio deste.

    A este processo de aprendizagem Durkheim chamou de Socializao. A conscincia coletiva seria, ento, formada durante a nossa socializao e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. A esse tudo ele chamou de Fatos Sociais e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia, com a teoria sociolgica. reconhecido amplamente como um dos melhores tericos do conceito da coeso social.

    Que ao dedicar-se a estudar Sociologia pela primeira vez muitos estudantes fi cam confusos com as diversas abordagens que encontram? Ento...

    O que a Sociologia?

    Voc sabia?

  • 8Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    Sociologia uma cincia que estuda o comportamento humano em funo do meio e os processos que interligam o indivduo em associaes, grupos e instituies. Enquanto o indivduo, na sua singularidade, estudado pela Psicologia, a Sociologia estuda os fenmenos que ocorrem quando vrios indivduos se encontram em grupos de tamanhos diversos e interagem no seu interior.

    O termo Sociologia foi criado pelo fi losofo francs Auguste Comte, que esperava unifi car todos os estudos relativos ao homem inclusive a

    histria, a Psicologia e a Economia. Seu esquema sociolgico era tipicamente positivista, (corrente que teve grande fora no sculo XIX), e ele acreditava que toda a vida humana tinha atravessado as mesmas fases histricas distintas e que, se a pessoa pudesse compreender este progresso, poderia prescrever os remdios para os problemas de ordem social.

    A multiplicidade de vises sociolgicas sobre a sociedade persiste ainda hoje, esta, preocupa-se em compreender o homem e o seu mundo social. Afi nal, os tempos mudam, mas a Sociologia acompanha o homem, ao longo do tempo. Homens tentando explicar os prprios homens em sociedade; talvez a esteja a fascinao que a Sociologia exerce sobre ns.

    A sociologia de mile Durkheim

    No sculo XVIII, Giambatista Vico dizia, em sua obra A Nova Cincia, que a sociedade se subordina a leis defi nidas que podem ser perfeitamente estudadas. Ele estava trazendo para a sociedade europia, dita civilizada, uma metodologia de estudo que os evolucionistas j usavam para estudar outros povos desde o incremento da colonizao de outros continentes.

    A idia de se dedicar ao estudo da sociedade europia no era nova, mas tampouco era uma cincia estabelecida. Vrios fi lsofos e economistas inclinavam-se cada vez mais ao estudo dos fenmenos sociais como determinantes em suas pesquisas. Entretanto, foi somente no sculo XIX que esta tendncia se tornou reconhecida como uma condio para o Conhecimento. Auguste Comte criou o termo Sociologia para denominar o estudo da sociedade que dava nfase aos fenmenos sociais, suas instituies e suas regras. Contudo, sua obra no era Sociologia, era mais uma cincia sociolgica, feita de muita inspirao e pouco rigor metodolgico.

    Foi somente na segunda metade do sculo XIX, com mile Durkheim, que a Sociologia realmente passou a existir, com objeto, mtodos e objetivos claros e defi nidos. Mesmo que de l para c estes tenham mudado bastante. Podemos dizer que se Durkheim no foi o pai da idia, com certeza ele foi o pai da cincia.

    A partir do fi nal do sc. XVII e incio do sc. XVIII grande o nmero de pessoas, principalmente entre os mais pobres, que so foradas a deixar seus lares no campo e rumarem para as cidades a fi m de encontrar novas formas de sobrevivncia. Durante estes dois sculos o nmero de indstrias localizadas dentro e na periferia das cidades aumenta assustadoramente, modifi cando a paisagem urbana, bem como seu estilo de vida.

    A cidade ganhou uma nova feio, caracterizada pelo modo de produo capitalista e pelo trabalho assalariado, refl etindo as suas contradies. A arrancada industrial no benefi ciou os assalariados, pois, enquanto o custo de vida nas cidades subiu em torno de 62% durante o sc. XVIII, o salrio mdio cresceu apenas em torno dos 26% no mesmo perodo, o que implica no aumento da misria e de todos os males que ela traz.

    O crescimento rpido e desordenado das cidades e a introduo das mquinas pioraram as condies de trabalho e de vida dos operrios, gerando a chamada questo social. Ou seja, o problema de ter de lidar com uma camada da populao que um enorme contingente de trabalhadores mal pagos ou desempregados que se encontram em situao de extrema desvantagem no sistema capitalista.

    O sc. XIX , ao mesmo tempo, o apogeu e a crise da sociedade burguesa, o proletariado avana ameaando a ordem do sistema, que tem de se proteger ao mesmo

  • 9tempo que tenta se legitimar. Contudo, vale a pena atentar para a questo de que nascia um novo estilo de vida, baseado na vida urbana e na sociedade de consumo, que tornava a sobrevivncia de cada um totalmente dependente da produo dos outros, obrigando progressivamente ao consumo para esta sobrevivncia. Mesmo assim, deixava este consumo fora do alcance da maioria da populao trabalhadora.

    No de se estranhar que no meio deste contexto aparecessem homens dispostos a discutir sobre o que estava acontecendo, dispostos a tentar entender as mudanas sociais e individuais, a tentar estabelecer ordem e regras para um mundo que se modifi cava rapidamente e outros que quisessem acelerar ainda mais estas mudanas. Homens que no podiam mais se contentar com dogmas, com explicaes religiosas. Todos eles herdeiros do pensamento Iluminista, crticos racionais e laicos, muitos levados pelo pensamento positivista, fi is depositrios de suas esperanas na possibilidade ilimitada da cincia. Entre eles mile Durkheim.

    mile Durkheim era formado em Direito e Economia, porm sua obra inteira dedicada Sociologia. Seu trabalho principia na refl exo e no reconhecimento da existncia de uma Conscincia Coletiva. Ele parte do princpio que o homem seria apenas um animal selvagem que s se tornou humano porque se tornou socivel, ou seja, foi capaz de aprender hbitos e costumes caractersticos de seu grupo social para poder conviver no meio deste.

    A este processo de aprendizagem Durkheim chamou de Socializao. A conscincia coletiva seria ento formada durante a nossa socializao e seria composta por tudo aquilo que habita nossas mentes e que serve para nos orientar como devemos ser, sentir e nos comportar. A esse tudo ele chamou de Fatos Sociais e disse que esses eram os verdadeiros objetos de estudo da Sociologia.

    Nem tudo que uma pessoa faz um fato social, para ser um fato social tem de atender a trs caractersticas: generalidade, exterioridade e coercitividade. Isto , o que as pessoas sentem, pensam ou fazem, independente de suas vontades individuais, um comportamento estabelecido pela sociedade. No algo que seja imposto especifi camente a algum, algo que j estava l antes e que continua depois e que no d margem a escolhas.

    O mrito de Durkheim aumenta ainda mais quando publica seu livro As regras do mtodo sociolgico, no qual defi ne uma metodologia de estudo que embora sendo em boa parte extrada das cincias naturais, d seriedade nova cincia. Era necessrio revelar as leis que regem o comportamento social, ou seja, o que comanda os fatos sociais.

    Em seus estudos, ele concluiu que os fatos sociais atingem toda a sociedade, o que s possvel se admitirmos que a sociedade um todo integrado. Se tudo na sociedade est interligado, qualquer alterao afeta toda a sociedade, o que quer dizer que se algo no vai bem em algum setor da sociedade toda ela sentir o efeito. Partindo deste raciocnio ele desenvolve dois dos seus principais conceitos: Instituio Social e Anomia.

    A instituio social um mecanismo de proteo da sociedade, o conjunto de regras e procedimentos padronizados socialmente, reconhecidos, aceitos e sancionados pela sociedade cuja importncia estratgica manter a organizao do grupo e satisfazer as necessidades dos indivduos que dele participam. As instituies so, portanto, conservadoras por essncia, quer seja famlia, escola, governo, polcia ou qualquer outra, elas agem fazendo fora contra as mudanas, pela manuteno da ordem.

    Durkheim deixa bem claro em sua obra o quanto acredita que essas instituies so valorosas e parte em sua defesa, o que o deixou com uma certa reputao de conservador, que durante muitos anos causou antipatia sua obra. Mas Durkheim no pode ser meramente tachado de conservador, sua defesa das instituies se baseia num ponto fundamental: o ser humano necessita se sentir seguro, protegido e respaldado. Uma sociedade sem regras claras, sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicdio e da religio. O homem que inovou construindo uma nova cincia, inovava novamente, se preocupando com fatores psicolgicos,

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    antes da existncia da Psicologia. Seus estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da obra de outro grande homem: Freud.

    Basta uma rpida observao do contexto histrico do sculo XIX para se perceber que as instituies sociais se encontravam enfraquecidas. Havia muito questionamento, valores tradicionais eram rompidos e novos surgiam, muita gente vivendo em condies miserveis, desempregados, doentes e marginalizados. Ora, numa sociedade integrada essa gente

    no podia ser ignorada, porque de uma forma ou de outra toda a sociedade estava ou iria sofrer as conseqncias. Aos problemas que ele observou ele considerou como patologias sociais, e chamou aquela sociedade doente de Anomana. A anomia era a grande inimiga da sociedade, algo que devia ser vencido, e a Sociologia era o meio para isso. O papel do socilogo seria, portanto, estudar, entender e ajudar a sociedade.

    Na tentativa de curar a sociedade da anomia, Durkheim escreve A diviso do trabalho social, em que ele descreve a necessidade de se estabelecer uma solidariedade orgnica entre os membros da sociedade. A soluo estaria em seguir o exemplo de um organismo biolgico, no qual cada orgo tem uma funo e depende dos outros para sobreviver. Se cada membro da sociedade exercer uma funo na diviso do trabalho, ele ser obrigado, atravs de um sistema de direitos e deveres, e tambm sentir a necessidade de se manter coeso e solidrio aos outros. O importante para ele que o indivduo realmente se sinta parte de um todo, que realmente precise da sociedade de forma orgnica, interiorizada e no meramente mecnica.

    Refl etindo sobre a importncia da dependncia entre os membros da sociedade, inmeros estudiosos que se seguiram a Durkheim desenvolveram o que fi cou conhecido como Funcionalismo. Creio que no possvel chegar a esse ponto sem lembrar de Marx conclamando a unio dos trabalhadores. Uma unio consciente dos indivduos ou uma unio dependente. De um jeito ou de outro, ambos se ope ao individualismo possessivo, o que nos remete difi culdade de convivncia entre os homens. Mais de um sculo depois o confl ito ainda no est resolvido. Durkheim, se visse nossa sociedade, fi caria chocado com seu grau de anomia e talvez fi casse decepcionado ao saber que os socilogos j no querem mais salvar o mundo. Contudo, a Histria est cheia de durkheims e continuar estando.

    O pensamento de mile Durkheim

    Com o seu pensamento positivista e coletivista Durkheim contribuiu para o desenvolvimento da sociologia francesa. A escola sociolgica da qual ele fazia parte afasta-se da fi losofi a da histria e passa a explicar todos os fatos da vida humana como resultado da ao das foras sociais. Sua tese principal, De La division du travail social (1893), demonstrou que o desenvolvimento do indivduo tem relao de dependncia com o da sociedade. Defendeu seus princpios nas Rgles de la mthode sociologique (1984). Em Le Suicide, tude de sociologie (1897), provou que as causas que levam algum a querer se matar so de natureza sociolgica e no individual.

    Mas... O que Positivismo?

    O Positivismo uma corrente sociolgica cujo precursor foi o francs Auguste Comte (1798-1857).

    Surgiu como desenvolvimento sociolgico do Iluminismo e das crises social e moral do fi m da Idade Mdia e do nascimento da sociedade industrial. Teve grande repercusso na segunda metade do sculo XIX, mas perdeu infl uncia no sculo XX para outras correntes de pensamento.

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    O Positivismo pregava a cientifi zao do pensamento e do estudo humano, visando a obteno de resultados claros, objetivos e completamente corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade, isto , na separao entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opinies e julgamentos de seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus fatos, mas sem os analisar.

    Os positivistas crem que o conhecimento se explica por si mesmo, necessitando apenas seu estudioso recuper-lo e coloc-lo mostra. No foram poucos os que seguiram a corrente positivista: Auguste Comte, na Filosofi a; mile Durkheim, na Sociologia; Fustel de Coulanges, na Histria, entre outros, contriburam para fazer do Positivismo e da cientifi zao do saber um posicionamento poderoso no sculo XIX.

    Pode-se, inclusive, dizer que o Positivismo reduz o papel do homem enquanto ser pensante, crtico, para um mero coletor de informaes e fatos presentes nos documentos, capazes de fazer-se entender por sua conta. Os fatos histricos falam por si mesmos, dizia Coulanges, historiador francs. Assim, para os positivistas que estudaram a Histria, esta assume o carter de cincia pura: formada pelos fatos cronolgicos e o que realmente signifi cam em si. So objetivos medida que possuem uma verdade nica em sua formao (que o seu sentido e sua nica possibilidade de compreenso) e no requerem a ao do historiador para serem entendidos: como j dito, o papel deste colet-los e ajeit-los, constatando pela anlise minuciosa e liberta de julgamentos pessoais sua validade ou no. O saber histrico, dessa forma, provm do que os fatos contm e assume um valor tal qual uma lei da Fsica ou da Qumica, cincia exatas.

    KARL MARX E A CRTICA AO CAPITALISMO

    Karl Marx (Trveris, Alemanha 1818 Londres, 14 de maro de 1883). Idealizador de uma sociedade com uma distribuio de renda justa e equilibrada, o economista, cientista social, fi lsofo e revolucionrio socialista alemo Karl Heinrich Marx nasceu 5 de maio de 1818, numa famlia de classe mdia. Sua me (Henrietta) era judia holandesa e seu pai (Heinrich Marx), um advogado que teve de se converter ao cristianismo (quando Marx ainda tinha 6 anos) em funo das restries impostas presena de membros de etnia judaica no servio pblico. Cursou Filosofia, Direito e Histria nas Universidades de Bonn e Berlim e foi um dos seguidores das idias de Hegel.

    Em 1835, com dezessete anos, Marx ingressou na Universidade de Bonn para estudar Direito, mas, j no ano seguinte, transferiu-se para a Universidade de Berlim, onde a influncia de Hegel ainda era bastante sentida, mesmo aps a morte (em 1831) do celebrado professor e reitor daquela universidade. Ali, os interesses de Marx se voltam para a Filosofia, tendo participado ativamente do movimento dos Jovens Hegelianos. Doutorou-se em Jena, 1841, com uma tese sobre as Diferenas da filosofia da natureza em Demcrito e Epicuro.

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    Impedido de seguir uma carreira acadmica, tornou-se, em 1842, redator-chefe da Gazeta Renana. Com o fechamento do jornal pelos censores do governo prussiano, em 1843, Marx emigra para a Frana. Naquele mesmo ano, casou-se com Jenny Von Westphalen. Desse casamento, Marx teve cinco fi lhos: Franziska, Edgar, Eleanor, Laura e Guido. Franziska, Edgar e Guido morreram na infncia, provavelmente pelas pssimas condies fi nanceiras a que a famlia estava submetida. Marx j havia sido privado

    da oportunidade de seguir uma carreira acadmica na Alemanha pelo recrudescimento do absolutismo prussiano, que tornava suas posies como hegeliano de esquerda inaceitveis, e, com a Revoluo de 1848 e o exlio que se seguiu a ela, foi obrigado a abandonar o jornalismo na Alemanha e tentar ganhar a vida na Inglaterra como um intelectual estrangeiro desconhecido com meios de subsistncia precrios, sofrendo, assim, a sorte comum destinada pela poca s pessoas destitudas de meios independentes de subsistncia (isto , viver de rendas), e sua incapacidade de ter uma existncia fi nanceiramente desafogada no parece ter sido maior do que a dos seus contemporneos Balzac e Dostoievsky.

    Durante a maior parte de sua vida adulta sustentou-se com artigos que publicava ocasionalmente em jornais alemes e estadunidenses, bem como por diversos auxlios fi nanceiros vindos de seu amigo e colaborador Friedrich Engels. Tentava angariar rendas publicando livros que analisassem fatos da histria recente, tais como O 18 Brumrio de Lus Bonaparte , mas obteve pouco retorno com essas empreitadas.

    Marx foi herdeiro da fi losofi a alem, considerado, ao lado de Kant e Hegel, um de seus grandes representantes. Foi um dos maiores pensadores de todos os tempos, tendo uma produo terica com a extenso e densidade de um Aristteles, de quem era admirador.

    Dentro das duas ordens de pensamento existente na Alemanha, o racionalismo (idealismo lgico) e o romantismo (idealismo sensvel), e como evoluo e crtica do materialismo contemplativo de Ludwig Feuerbach, Marx defendia a prxis (ou prtica) ou um materialismo ativo. Seu materialismo no pode se defi nir como meramente empirista, primeiro porque julga Marx que o empirismo ainda muito abstrato, e segundo porque seu materialismo dialtico. Ou seja, matria e idia so categorias que, de forma oposta, se interelacionam, ou, em termo tradicional, trata-se de uma unidade de opostos. Tendo por a priori a prpria matria (realidade), o princpio materialista, mas no um materialismo absoluto.

    Seu pensamento poltico criticou todas as correntes socialistas por no ter um carter decididamente transformador, mas somente reformador.

    Criticou tambm o anarquismo por sua viso ingnua do fi m do Estado, por querer acabar com o Estado por decreto, ao invs de acabar com as condies que fazem do Estado uma necessidade e realidade. Criticou o blanquismo com sua viso elitista de partido (muito parecida com a teoria de partido de Lenin), a vanguarda proletria, por ter uma tendncia autoritria e superada. Se posicionou a favor do liberalismo, no como soluo para o proletariado, mas como premissa para maturao das condies positivas e negativas da emancipao proletria, como a da homogenizao da condio proletria internacional gerada pela globalizao do capital. Sua viso poltica era profundamente marcada pelas condies que o desenvolvimento econmico ofereceria para a emancipao proletria, tanto em sentido negativo (desemprego), como em sentido positivo (em que o prprio capital centralizaria a economia, exemplo: multinacionais).

    A grande obra de Marx O Capital, que predominantemente um livro de Economia Poltica, mas no s. Nesta obra monumental, Marx discorre desde a

    Voc sabia?

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    economia at a sociedade, cultura, poltica, fi losofi a. uma obra analtica, sinttica, crtica, descritiva, cientfi ca, fi losfi ca, etc. Uma obra de difcil leitura, ainda que suas categorias no tenha a ambigidade especulativa prpria da obra de Hegel. No entanto, uma linguagem pouco atraente e nem um pouco fcil. O Capital no apenas uma grande obra por ser a obra que Marx se dedicou com mais profundidade e extenso, ela uma extensa anlise da sociedade capitalista.

    Defendendo idias igualitrias, Karl passou a sofrer perseguies do regime de Frederico Guilherme IV. No incio de 1842 encontra-se como professor desempregado em Bonn, sem meios de se casar. No podendo expressar suas idias na universidade, resolve apresent-las nos jornais.

    Seu primeiro artigo, sobre a censura imprensa, foi censurado, ento passou a enviar seus textos para o jornal liberal A Gazeta Renana. Obteve grande sucesso e assumiu a direo do jornal em Colnia. Porm, aps violento texto contra o regime czarista de Nicolau I na Rssia, o mesmo pressiona com sucesso o governo prussiano a fechar o jornal. Ento, em 1844, Marx combina a criao de uma nova revista com o amigo Arnold Ruge. Publica um nico nmero - Anais-Franco-Alemes. Muito perseguido na Prssia, muda-se para Paris logo aps sua lua-de-mel. L se envolve no movimento dos operrios franceses e reencontra seu futuro maior amigo, Friedrich Engels, depois de conhec-lo no muito profundamente em Colnia.

    Na capital francesa, passa necessidades, escassamente supridas pela retribuio recebida pelo trabalho na revista Vorwts! Em portugus: Avante! Porm, por seus artigos sobre a situao poltica na Alemanha, expulso da Frana por presso de Guilherme IV. De l parte para Bruxelas, onde pde entrar mediante a assinatura de um documento comprometendo-se a no redigir artigos sobre a atualidade poltica nacional ou internacional. L se associa Liga Socialista pela Justia, posteriormente denominada Liga Comunista. Logicamente no cumpriu a determinao de no escrever artigos polticos e acabou sendo expulso da Blgica, voltando para Paris. Em 1848, aproveitando a morte de Guilherme IV, pde voltar com Engels e sua mulher para Colnia, onde iniciam a publicao da Nova Gazeta Renana, fechada no ano seguinte. Engels acabou sendo exilado em Londres devido a um mandato de priso expedido contra ele. O mesmo aconteceu com Marx mais tarde. Exilou-se em Londres, onde permaneceu at o fi m de sua vida.

    Segundo o marxismo, o capitalismo encerra uma contradio fundamental entre o carter social da produo e o carter privado da apropriao, que conduz a um antagonismo irredutvel entre as duas classes principais da sociedade capitalista: a burguesia e o proletariado (o empresariado e os assalariados).

    O carter social da produo se expressa pela diviso tcnica do trabalho, organizao metdica existente no interior de cada empresa, que impe aos trabalhadores uma atuao solidria e coordenada. Apesar dessas caractersticas da produo, os meios de produo constituem propriedade privada do capitalista. O produto do trabalho social, portanto, se incorpora a essa propriedade privada. Segundo o marxismo, o que cria valor a parte do capital investida em fora de trabalho, isto , o capital varivel. A diferena entre o capital investido na produo e o valor de venda dos produtos, a mais-valia (lucro), apropriada pelo capitalista, no outra coisa alm de valor criado pelo trabalho.

    Segundo os marxistas, o sistema capitalista no garante meios de subsistncia a todos os membros da sociedade. Pelo contrrio, condio do sistema a existncia de uma massa de trabalhadores desempregados, que Marx chamou de exrcito industrial de reserva, cuja funo controlar, pela prpria disponibilidade, as reivindicaes operrias. O conceito de exrcito industrial de reserva derruba, segundo os marxistas, os mitos liberais da liberdade de trabalho e do ideal do pleno emprego.

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    A experincia marxista: Depois de setenta anos de vigncia e muitas difi culdades internas decorrentes, principalmente, da instalao de burocracias autoritrias no poder, os regimes

    Voc sabia?

    socialistas no tinham conseguido estabelecer a sociedade justa e de bem-estar que pretendiam seus primeiros idelogos.

    J o capitalismo, apesar de duramente criticado pelos socialistas (marxistas), mostrou uma notvel capacidade de adaptao a novas circunstncias, fossem elas decorrentes do progresso tecnolgico, da existncia de modelos econmicos alternativos ou da crescente complexidade das relaes internacionais.

    A Unio Sovitica, maior potncia militar do planeta, exauriu seus recursos na corrida armamentista, mergulhou num irrecupervel atraso tecnolgico e fi nalmente se dissolveu em 1991. A Iugoslvia socialista se fragmentou em sangrentas lutas tnicas e a China abriu-se, cautelosa e progressivamente, para a economia de mercado.

    Para Marx os trabalhadores estariam dominados pela ideologia da classe dominante, ou seja, as idias que eles tm do mundo e da sociedade seriam as mesmas idias que a burguesia espalha. O capitalismo seria atingido por crises econmicas porque ele se tornou o impedimento para o desenvolvimento das foras produtivas. Seria um absurdo que a humanidade inteira se dedicasse a trabalhar e a produzir subordinada a um punhado de grandes empresrios. A economia do futuro, que associaria todos os homens e povos do planeta, s poderia ser uma produo controlada por todos os homens e povos. Para Marx, quanto mais o mundo se unifi ca economicamente mais ele necessita de socialismo.

    No basta existir uma crise econmica para que haja uma revoluo. O que decisivo so as aes das classes sociais pois, para Marx e Engels, em todas as sociedades em que a propriedade privada existem lutas de classes (senhores x escravos, nobres feudais x servos, burgueses x proletariados). A luta do proletariado do capitalismo no deveria se limitar luta dos sindicatos por melhores salrios e condies de vida. Ela deveria tambm ser a luta ideolgica para que o socialismo fosse conhecido pelos trabalhadores e assumido como luta poltica pela tomada do poder. Neste campo, o proletariado deveria contar com uma arma fundamental, o partido poltico, o partido poltico revolucionrio que tivesse uma estrutura democrtica e que buscasse educar os trabalhadores e lev-los a se organizar para tomar o poder por meio de uma revoluo socialista.

    Marx tentou demonstrar que no capitalismo sempre haveria injustia social, porque para ele o nico jeito de uma pessoa fi car rica e ampliar sua fortuna seria explorando os trabalhadores.Ou seja, o capitalismo, de acordo com Marx, selvagem, pois o operrio produz mais para o seu patro do que o seu prprio custo para a sociedade, e o capitalismo se apresenta necessariamente como um regime econmico de explorao, sendo a mais-valia a lei fundamental do sistema.

    A fora vendida pelo operrio ao patro vai ser utilizada no durante 6 horas, mas durante 8, 10, 12 ou mais horas. A mais-valia constituda pela diferena entre o preo

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    MAX WEBER E A ANLISE DAS ORGANIZAES

    O principal objetivo de Weber era compreender o sentido que cada pessoa d a sua conduta e perceber, assim, a sua estrutura inteligvel e no a anlise das instituies sociais, como dizia Durkheim.

    Saiba mais!

    Max Weber (Erfurt, Alemanha 1864 Munique, Alemanha, 14 de junho de 1920), intelectual alemo, historiador, socilogo, poltico, economista e considerado um dos fundadores da Sociologia. Seu irmo foi o tambm famoso socilogo e economista Alfred Weber. Sua esposa era a sociloga e historiadora de Direito Marianne Schnitger.

    Foi o mais velho dos sete fi lhos de Max Weber e sua mulher Helene Fallenstein. Seu pai, protestante, era uma fi gura autocrata. Sua me, uma calvinista moderada

    Ele foi, juntamente com Karl Marx, Vilfredo Pareto e mile Durkheim, um dos modernos fundadores da Sociologia,e conhecido sobretudo pelo seu trabalho sobre a Sociologia da religio.

    Para Weber, a Sociologia uma cincia que procura compreender a ao social, por isso considerava o indivduo e suas aes como ponto chave da investigao evidenciando o que para ele era o ponto de partida para a Sociologia, a compreenso e a percepo do sentido que a pessoa atribui sua conduta.

    Para ele, deve-se compreender, interpretar e explicar respectivamente o signifi cado, a organizao e o sentido e evidenciar irregularidade das condutas.

    pelo qual o empresrio compra a fora de trabalho (6 horas) e o preo pelo qual ele vende o resultado (10 horas, por exemplo). Desse modo, quanto menor o preo pago ao operrio e quanto maior a durao da jornada de trabalho, tanto maior o lucro empresarial.

    No capitalismo moderno, com a reduo progressiva da jornada de trabalho, o lucro empresarial seria sustentado atravs do que se denomina mais-valia relativa (em oposio primeira forma, chamada mais-valia absoluta), que consiste em aumentar a produtividade do trabalho atravs da racionalizao e aperfeioamento tecnolgico. Mas ainda assim no deixa de ser o sistema semi-escravista, pois o operrio cada vez se empobrece mais quando produz mais riquezas, o que faz com que ele se torne uma mercadoria mais vil do que as mercadorias por ele criadas. Assim, quanto mais o mundo das coisas aumenta de valor, mais o mundo dos homens se desvaloriza. Ocorre, ento, a alienao, j que todo trabalho alienado na medida em que se manifesta como produo de um objeto que alheio ao sujeito criador. O raciocnio de Marx muito simples: ao criar algo fora de si, o operrio se nega no objeto criado. o processo de objetifi cao. Por isso, o trabalho que alienado (porque cria algo alheio ao sujeito criador) permanece alienado at que o valor nele incorporado pela fora de trabalho seja apropriado integralmente pelo trabalhador. Em outras palavras, a produo representa uma negao, j que o objeto se ope ao sujeito e o nega na medida em que o pressupe e at o defi ne. A apropriao do valor incorporado ao objeto, graas fora de trabalho do sujeito-produtor, promove a negao da negao. Ora, se a negao alienao, a negao da negao a desalienao. Ou seja, a partir do momento que o sujeito-produtor d valor ao que produziu, ele j no est mais alienado.

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    Com este pensamento, no possua a idia de negar a existncia ou a importncia dos fenmenos sociais, dando importncia necessidade de entender as intenes e motivaes dos indivduos que vivenciam essas situaes sociais.Ou seja, a sua idia que no domnio dos fenmenos naturais s se podem aprender as regularidades observadas por meio de proposies de forma e natureza matemtica. preciso explicar os fenmenos por meio de proposies confi rmadas pela experincia, para poder ter o sentimento e compreend-las.

    Weber prognosticou a burocracia como forma de se ordenar as relaes humanas entre si e com a organizao, propiciando que objetivos explcitos sejam atingidos. A burocracia, segundo Weber, uma forma prescritiva de delegar responsabilidades e padronizar a comunicao de acordo com normas pr-defi nidas e impessoais.

    O socilogo Max Weber inaugurou o estudo da Sociologia aplicado s organizaes. Tambm saudava o desenvolvimento de leis de propriedade e de instituies de direito em seu tempo, criando o que seria o princpio do hoje denominado ambiente propcio aos negcios e dos marcos regulatrios.

    Vale notar que burocracia, para Weber, no carregava o signifi cado negativo de sua meno usual, por exemplo, em reclamaes sobre fi las de bancos ou na demora no atendimento em servios pblicos. A defi nio de Weber precede a conotao presente e at mesmo a motivou, visto que esta advm de uma opinio negativa sobre o funcionamento da burocracia.

    A viso de tericos atuais das organizaes, como Henry Mintzberg, destoa da weberiana por dar importncia preponderante s relaes interpessoais formadas no ambiente de trabalho e aos objetivos individuais dos participantes de uma organizao. Para Mintzberg, a formao de grupos de interesse dentro da organizao assim como subverte a ordem burocraticamente predita, tambm transforma a prpria burocracia sua imagem quando de posse do poder para tanto.

    Anterior a Mintzberg a viso de Michael Porter, que desdenha dos aspectos sociolgicos da administrao, pondo uma nfase maior nas relaes econmicas entre organizaes como fatores preponderantes para sua formao e evoluo.

    Esta descrio sociolgica das organizaes, bem como todas as anteriores, sofrem fortes crticas de tericos marxistas. So por eles consideradas uma justifi cao cientifi cista da dominao do indivduo ou, em outras palavras, a reifi cao de um ideal burgus inconsistente. De acordo com Istvan Meszaros, as instituies do Estado moderno (Weber) foram construdas junto com o processo de apropriao capitalista de bens comunitrios e a instituio de antes inexistentes relaes de propriedade, necessrias para propiciar a expanso da produo capitalista.

    Na concepo dos autores Weber e Durkheim, h uma separao entre cincia e ideologia. Para Weber tambm h uma separao entre poltica e cincia, pois a esfera da poltica irracional, infl uenciada pela paixo, e a esfera da cincia racional, imparcial e neutra. O homem poltico apaixona-se, luta, tem um princpio de responsabilidade, de pensar as conseqncias dos atos. O poltico entende por direo do Estado, correlao de fora, capacidade de impor sua vontade a demais pessoas e grupos polticos. luta pelo poder dentro do Estado. J o cientista deve ser neutro, amante da verdade e do conhecimento cientfi cos, no deve emitir opinies e sim

    Saiba mais!

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    pensar segundo os padres cientfi cos, deve fazer cincia por vocao. Se o cientista apaixonar-se pelo objeto de sua investigao no ser nem imparcial nem objetivo. Para Durkheim poltica a relao entre governantes e governados.

    A contribuio da Sociologia para as organizaes

    A compreenso do mundo atual apresenta muitos desafi os para a Sociologia. compreensvel, portanto, que num ambiente econmico em que o mercado estabelece as caractersticas fundamentais das economias nacionais as empresas se tornem alvo de ateno de socilogos, pela sua expressiva participao no desempenho econmico de um pas. Entretanto, pouco adiantaria fazer esta afi rmao se no dispusssemos de instrumentos satisfatrios para compreender e explicar as empresas sob uma tica sociolgica.

    A partir do desenvolvimento da Sociologia do Trabalho, o instrumental terico da Sociologia da Organizao no permitiu pensar a empresa apenas como local de combinao de trabalho e organizao.Preenchendo este vazio, nos anos oitenta muitas pesquisas foram realizadas sobre a cultura e identidade das empresas e trouxeram tona a existncia de redes formais e informais.

    A partir destas evidncias, a empresa pode ser tratada como construto social e objeto sociolgico. Assim, capaz de autonomia e criadora do social no sentido literal do termo, isto , daquilo que une os indivduos e constitui uma sociedade.

    O papel da Sociologia comea a ser contestado nos anos oitenta, quando a empresa passa por transformaes to profundas que modifi cam substancialmente a relao empresa/sociedade, verifi cou-se a necessidade de outros instrumentos tericos para explicar a mudana que est sob nossos olhos.

    Segundo Bernoux, uma empresa no existe sem o reconhecimento mtuo, sem uma certa comunidade, sem relaes privilegiadas entre seus membros, ainda que permeadas pelo confl ito; a violncia do confl ito traduz a esperana decepcionada de uma relao privilegiada. Assim defi nida, a empresa pode ser vista como um lugar de aprendizado e de cooperao, mesmo quando palco de aes ou atitudes confl itantes.

    A contribuio da Sociologia nas organizaes vai alm dos modelos que defi nem o espao fabril como espao de relaes antagnicas de classe. A empresa tem uma funo identifi cadora na sociedade e constitui, portanto, verdadeira instituio social: ela instaura um conjunto de relaes sociais e culturais e produz, assim, identidades novas. Nela se desenvolvem relaes de oposies e de alianas e o ator vivencia as relaes de trabalho de forma interativa e estratgica.

    O instrumental terico e metodolgico utilizado no estudo da Sociologia nas organizaes tem permitido estabelecer relaes entre famlia, propriedade e administrao com resultados muito interessantes. O avano de pesquisas ligadas a temas como mudana da propriedade em grupos econmicos tradicionais; formao de um novo tipo de empresrio; formao e trajetria de grandes dirigentes; processo sucessrio em empresas familiares; reconstituio da histria de grupos econmicos; papel dos empresrios nas economias nacionais globalizadas, tudo isto abriu novas perspectivas no estudo de fenmenos sociais e econmicos da dcada de noventa . Este

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    estudo se estende at os dias de hoje, considerando que os indivduos so seres humanos com infi nitas possibilidades. Logo, as relaes dos indivduos so transformadas a todo momento, abrindo, ento novas possibilidades de estudos.

    Sites de consulta para ampliao do contedo

    http://www.culturabrasil.pro.br/durkheim.htm http://www.mundodosfi losofos.com.br/comte.htm http://www.administradores.com.br/noticias/a_sociologia_das_organizacoes/6142/

    AtividadesComplementares

    1. Quais as relaes que podemos estabelecer entre o pensamento positivista e a dinmica das organizaes?

    2. Explique como a ferramenta Sociologia pode contribuir para o entendimento da dinmica organizacional.

    3. Ao defender a classe trabalhadora (proletrios) e criticar a classe empresarial (donos dos meios de produo) Marx aponta a luta de classes: Em que medida o entendimento desses conceitos ajuda a entender a dinmica organizacional?

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    George Elton Mayo (Adelaide, Dezembro de 1880 Polesden Lacey, Reino Unido, 7 de setembro de 1949) foi um socilogo australiano, um dos fundadores e principais expoentes da sociologia industrial estadunidense.

    Formou-se em Medicina na Universidade de Adelaide, trabalhou na frica e lecionou na Universidade de Queensland. Ainda na Austrlia, estuda as sociedades aborgenes, que o tornam sensvel s mltiplas dimenses da natureza humana. Durante a Primeira Guerra Mundial, trabalha na anlise psicolgica de soldados em estado de choque.

    George Elton Mayo chefi ou uma experincia em uma fbrica da Western Eletric Company , situada em Chicago, no bairro de Hawthorne. Foi um movimento de resposta contrria Abordagem Clssica da Administrao, considerada pelos trabalhadores e sindicatos como uma forma elegante de

    explorar o trabalho dos operrios para benefcio do patronato. Essa alta necessidade de se humanizar e democratizar a Administrao nas frentes de trabalho das indstrias, aliada ao desenvolvimento das cincias humanas Psicologia e Sociologia, dentre outras e as concluses da Experincia de Hawthorne fi zeram brotar a Teoria das Relaes Humanas.

    4. Freqentemente burocracia entendida como um entrave dinmica organizacional: Explique o conceito de burocracia na perspectiva weberiana.

    5. notria a transformao dos modos de produo capitalista gerando conseqentemente um processo de readaptao de gesto organizacional: Posicione a sociologia das organizaes neste novo momento organizacional.

    AS ORGANIZAES SOB UM OLHAR SOCIOLGICO

    AS CONTRIBUIES DE ELTON MAYO

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    A Experincia de Hawthorne tinha por objetivo inicial estudar a fadiga, os acidentes, a rotao do pessoal (turnover) e o efeito das condies fsicas de trabalho sobre a produtividade dos empregados. Essa experincia tambm foi motivada por um fenmeno apresentado de forma severa poca na fbrica: conflitos entre empregados e empregadores, apatia, tdio, alcoolismo, dentre outros.

    Na primeira fase se pretendia confi rmar a infl uncia da iluminao sobre o desempenho dos operrios. Os observadores no encontraram correlao direta entre as variveis, no havendo comprovao do objetivo inicial, e sim a preponderncia do fator psicolgico sobre o fi siolgico.

    Na segunda fase ocorreu o desenvolvimento dos seguintes campos: social, gerado pelo trabalho em equipe; e de liderana, gerado pelos objetivos comuns. As condies da sala experimental permitiam que se trabalhasse com liberdade e menor ansiedade: superviso branda (sem temor ao supervisor, desempenhando um papel mais para orientador), ambiente amistoso e sem presses, proporcionando um desenvolvimento social e a integrao do grupo entre si. Seguiu-se a terceira fase, na qual foi verifi cada, por meio do programa de entrevistas que compreendia entrevistas com os empregados para conhecer suas opinies e sentimentos, onde foi constatada a existncia de uma organizao informal de operrios em que existia lealdade e liderana de certos funcionrios em relao ao grupo.

    A punio no era formalizada, mas aplicada pelo grupo ao membro. Houve grande aprovao e, em conseqncia disso, criou-se a Diviso de Pesquisas Industriais. Conseqentemente veio quarta fase, tendo como foco de observao a igualdade de sentimentos entre os membros do grupo e a relao de organizao formal e informal, que tinha por fi nalidade a proteo contra o que o grupo considerava ameaas da Administrao.

    As concluses da experincia foram:- Nvel de produo resultante de Integrao Social: a capacidade social do

    trabalhador que estabelece o seu nvel de competncia e efi cincia; quanto mais integrado socialmente no grupo de trabalho, tanto maior ser a disposio de produzir;

    - Comportamento Social dos empregados: verifi ca-se que o comportamento do indivduo se apia totalmente no grupo. Os trabalhadores no agem ou reagem individualmente, mas como membros de um grupo. Amizade e agrupamento social devem ser considerados aspectos relevantes para a Administrao;

    - Recompensas e Sanes sociais: so simblicas e no-materiais, porm infl uenciam decisivamente a motivao e a felicidade do trabalhador. As pessoas so motivadas pela necessidade de reconhecimento, de aprovao social e participao.

    - A motivao econmica secundria na determinao da produo do empregado; - Grupos Informais: definem suas regras de comportamento, suas formas de

    recompensas ou sanes sociais, punies, seus objetivos, sua escala de valores sociais, suas crenas e expectativas, que cada participante vai assimilando e integrando em suas atitudes e comportamento;

    - As Relaes Humanas: so as aes e atitudes desenvolvidas pelos contatos entre as pessoas e o grupo, permitindo uma atmosfera em que onde cada pessoa encorajada a exprimir-se livre e sadiamente. Cada pessoa procurar se ajustar s demais pessoas do grupo para que seja compreendida e tenha participao ativa, a fi m de atender seus interesses e aspiraes;

    - A Importncia do Contedo do Cargo: o contedo e a natureza do trabalho tm enorme infl uncia sobre o moral do trabalhador, tornando-o produtivo ou desmotivado. Trabalhos repetitivos tendem a se tornar montonos e maantes afetando negativamente as atitudes do trabalhador e reduzindo sua efi cincia;

    - nfase nos aspectos emocionais: a preocupao com as emoes e sentimentos

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    dos funcionrios. Elementos emocionais no-planejados e at mesmo irracionais do comportamento humano devem ser considerados dentro da organizao.

    Aps esse estudo, a empresa passou a ser visada tambm como um conjunto de indivduos e de relaes de interdependncias que estes mantm entre si, em funo de normas, valores, crenas e objetivos comuns e de uma estrutura tecnolgica subjacente. O homem social um ser complexo, que ao mesmo tempo condicionado pelos sistemas sociais em que se insere e motivado a agir por necessidade de ordem biolgica, de ordem psicosocial.

    Os valores que orientam o comportamento de cada indivduo so, de um lado, derivados das necessidades que constituem a fonte de valores sociais; de outro, transmitidos ao indivduo pelos sistemas sociais de que participa. Motivado pela organizao, mediante a satisfao de suas necessidades, o indivduo no focaliza o salrio ou benefcios fi nanceiros como ponto central, mas a remunerao no ciclo motivacional um componente integrante.

    Para Elton Mayo: O confl ito uma chaga social, a cooperao o bem-estar social . Conclui-se que: comprovada a existncia de uma organizao informal, a Experincia de Hawthorne contrape o comportamento social do empregado ao comportamento do tipo mquina, proposto pela Teoria Clssica, abrindo, assim, portas para um novo campo de abordagem da Administrao: as Relaes Humanas.

    O ESTADO E O PODER NAS ORGANIZAES

    Estado uma instituio organizada poltica, social e juridicamente, ocupando um territrio definido, normalmente onde a lei mxima uma Constituio escrita, e dirigida por um governo que possui soberania reconhecida tanto interna como externamente. Um Estado soberano sintetizado pela mxima Um governo, um povo, um territrio. O Estado responsvel pela organizao e pelo controle social, pois detm, segundo Max Weber, o monoplio legtimo do uso da fora (coero, especialmente a legal).

    Normalmente, grafa-se o vocbulo com letra maiscula, a fi m de diferenci-lo de seus homnimos. H, entretanto, uma corrente de fi llogos que defende sua escrita com minscula, como em cidadania ou civil. No com o objetivo de ferir a defi nio tradicional de Estado, mas a fi m de equiparar a grafi a a outros termos no menos importantes.

    Saiba mais!

    O reconhecimento da independncia de um Estado em relao aos outros, permitindo ao primeiro fi rmar acordos internacionais, uma condio fundamental para estabelecimento da soberania. O Estado pode tambm ser defi nido em termos de condies internas, especifi camente (conforme descreveu Max Weber, entre outros) no que diz respeito instituio do monoplio do uso da violncia.

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    O conceito parece ter origem nas antigas cidades-estados que se desenvolveram na Antiguidade, em vrias regies do mundo, como a Sumria, a Amrica Central e no Extremo Oriente. Em muitos casos, estas cidades-estados foram, a certa altura da Histria, colocadas sob a tutela do governo de um reino ou imprio, seja por interesses econmicos mtuos, seja por dominao pela fora. O Estado, como unidade poltica bsica no mundo tem, em parte, evoludo no sentido de um supranacionalismo, na

    forma de organizaes regionais, como o caso da Unio Europia.Os agrupamentos sucessivos e cada vez maiores de seres humanos procedem de tal

    forma a chegarem idia de Estado, cujas bases foram determinadas na histria mundial com a Ordem de Wetsfalia (Paz de Vestflia), em 1648. A instituio estatal, que possui uma base de prescries jurdicas e sociais a serem seguidas, evidencia-se como casa forte das leis que devem regimentar e regulamentar a vida em sociedade.

    Desse modo, o Estado representa a forma mxima de organizao humana, somente transcendendo a ele a concepo de Comunidade Internacional.

    A palavra Estado foi empregada pela primeira vez, em sentido prximo ao moderno, por Maquiavel, que a defi ne como a sociedade poltica organizada, o que implica a existncia de uma autoridade prpria e de regras defi nidas para a convivncia de seus membros. O pensamento poltico de Maquiavel rompe com o tradicionalismo e seculariza o Estado, ou seja, torna-o laico. Assume a independncia estatal em relao religio.

    Voc sabia?

    Teorias sobre a origem do Estado

    Origem familiar ou patriarcal Se inspira em Aristteles. Para ele, o homem um animal poltico que vive em grupo e

    naturalmente social. A prpria famlia j uma espcie de sociedade (sociedade domstica), na qual j surge uma autoridade, a quem cabe estabelecer as regras.

    Origem em atos de foraBaseia-se na imposio de regras de um grupo por meio da coero fsica. a lei

    do mais forte, tpica do estado de natureza.

    Origem em causas econmicasEncontra as origens do Estado na dominao atravs da acumulao primitiva de

    excedentes de produo e na apropriao. Est normalmente associada teoria marxista.

    Origem no desenvolvimento interno da sociedadeLocaliza o aparecimento do rgo estatal como efeito da complexidade de relaes

    sociais estabelecidas pelo homem. formulada por Weber dentro dos conceitos de solidariedade mecnica e orgnica.

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    Evoluo histrica

    1. Sociedade nmade: nmades e caadores que viviam em grupo e tinham uma organizao muito primitiva;

    2. Estado-cidade ou cidade-estado: surge com a Grcia Antiga, onde h uma diviso do trabalho e uma sociedade bem sofi sticada;

    3. Imprio burocrtico: modelo utilizado na China, p ex., em que um grande territrio controlado pela burocracia;

    4. Estado feudal: a atividades essencial a agricultura para subsistncia, mas tambm h alguns excessos de produo que potencializaram a dinmica de mercado. O produto mais requisitado eram os soldados.

    5. Estado Moderno: O Estado Moderno serve de base Cincia Poltica. Esta uma conseqncia da prpria modernizao da sociedade que comea no sculo XVI e culmina com a Revoluo Industrial. Este processo tem um elemento central, a tecnologia. Esta modernizao possibilita igualmente uma maior mobilidade social. A sociedade moderna caracterizada pela tecnologia, pelo aumento da produtividade, pela mobilidade da populao e pelo aparecimento de novos grupos sociais. a poca da ascenso da burguesia. Outra novidade do Estado Moderno a nova forma de legitimao de poder. Antes quem legitimava o poder era um Deus Absoluto, mas quem vai se tornar o novo elemento legitimador o povo. Assim, surgem novas Instituies, como os parlamentos, onde o povo se faz representar.

    Este Estado Moderno no nasceu de uma s vez, mas foi o resultado de um longo processo de mais de trs sculos. A fase mais antiga a monarquia. A monarquia acompanha o desenvolvimento do Estado Moderno e vai, pelo processo de burocratizao, lanar a primeira forma de Estado Moderno. Por isso se diz que D. Joo II foi o primeiro monarca moderno em Portugal.

    A segunda fase do Estado Moderno o Estado Liberal, conseqncia direta das revolues liberais na Frana e na Inglaterra. Este Estado representativo e oligrquico, mas potenciou, entre outras coisas, o aparecimento do ideal dos Direitos do Homem e pela separao de poderes. No sculo XIX o Estado Liberal tornou-se imperial e vai dominar globalmente o mundo graas ao processo chamado imperialismo.

    A terceira fase do Estado Moderno assenta na crise do Estado Liberal, que surge nos fi nais do sculo XIX, j que este no tem capacidade para responder s exigncias sociais. Surgem assim as ideologias extremistas de direita (Fascismo) e de esquerda (Comunismo).

    A quarta fase fi ca marcada pelo aparecimento do Estado Democrtico Liberal, conseqncia da grande crise econmica e social de 1929.

    Hoje em dia temos na Europa, no mundo ocidental, o Estado-providncia, resultado da segunda metade da II Guerra Mundial, mas fi lho direto da crise de 1929.

    Na atualidade, novos Estados surgem a partir de outros pr-existentes. Dois processos so tpicos: o fracionamento e a unio. Um caso atpico a criao de Estados como resultado de guerras. Os principais fatores que levam criao de Estados hoje so os interesses econmicos, as identidades culturais e o resgate da tradio.

    CONCEITO: O Estado uma organizao destinada a manter, pela aplicao do Direito, as condies universais de ordem social. E o Direito o conjunto das condies existenciais da sociedade que ao Estado cumpre assegurar.

    Saiba mais!

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    Poder

    Poder um conceito sociolgico fundamental, com vrios signifi cados, em torno dos quais h grande divergncia. O mais comum entre eles a defi nio de Max Weber, que conceitua o poder como a capacidade de controlar indivduos, eventos ou recursos fazer com que acontea aquilo que a pessoa quer, a despeito de obstculos, resistncia ou oposio. Essa

    defi nio s vezes chamada, especialmente por feministas, como poder-sobre (power-over). Alm de usado para controlar pessoas ou eventos, o poder pode ser tambm utilizado de maneiras mais sutis e indiretas, como a capacidade de no agir (quando um pai nega amor a um fi lho ou um governo nega ajuda fi nanceira aos pobres), bem como a de moldar crenas e valores de outras pessoas atravs de controle sobre a mdia ou instituies educacionais.

    Por ser defi nido como poder-sobre aplica-se a sistemas sociais organizados hierarquicamente e o considera como uma substncia ou recurso que indivduos ou sistemas sociais podem possuir. O poder seria algo que pode ser conservado, cobiado, capturado, retirado, perdido ou roubado; e que usado basicamente em relaes de antagonismo, envolvendo confl itos entre os que o tm e os que no o tm. Esse tipo de poder assume vrias formas.

    A noo de poder envolve aspectos mais amplos e complexos do que o mero exerccio da autoridade sobre outrem. O poder pode ser exercido desde as formas mais sutis at aos nveis mais explcitos e comumente identifi cveis.

    Uma pessoa em situao desvantajosa que saiba identifi car em que aspectos tem poder, pode usar de artifcios abusivos para sair da posio desvantajosa. Isso pode ser facilmente identifi cado em pases democrticos, nos quais os direitos das minorias so salvaguardados e os indivduos pertencentes a estas minorias aproveitam-se do argumento do politicamente correto para neutralizar seus adversrios em questes jurdicas, por exemplo. Nestes casos, o direito adquirido legitimamente e ideologicamente correto, aceito socialmente, passa a ser uma forma de poder nas mos de quem o detm. Poder este que pode ser exercido da forma genuna ou da forma abusiva, dependendo do caso.

    O poder, em determinadas situaes e circunstncias, muda de mos e ganha nuances implcitas que difi cultam a identifi cao do abuso do mesmo. Assim sendo, caracterizar o abuso de poder deixa de ser uma tarefa de simples identifi cao da ao do forte sobre o fraco para ser um direito adquirido usado abusivamente.

    Abuso de poder o ato ou efeito de impor a vontade de um sobre a de outro, tendo por base o exerccio do poder, sem considerar as leis vigentes. A democracia direta um sistema que se ope a este tipo de atitude. O abuso de poder pode se dar em diversos nveis de poder, desde o domstico entre os membros de uma mesma famlia, at aos nveis mais abrangentes. O poder exercido pode ser o econmico, poltico ou qualquer outra forma a partir da qual um indivduo ou coletividade tem infl uncia direta sobre outros. O abuso caracteriza-se pelo uso ilegal ou coercivo deste poder para atingir um determinado fi m. O expoente mximo do abuso do poder a submisso de outrem s diversas formas de escravido.

    Voc sabia?

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    Econmico: Quando o indivduo ou coletividade tira vantagem ilcita do dinheiro ou bens materiais em detrimento de outrem.

    Poltico: O uso da autoridade legtima ou da infl uncia para sobrepujar o mais fraco de modo ilegtimo.

    No domnio da informao: Recurso utilizado por quem detm o conhecimento ou a informao e o nega aos demais como forma de proteger-se ou de tirar vantagem.

    Ideolgico: Quando se utiliza ilicitamente da ideologia socialmente aceita como forma de tirar vantagens ou de vencer opositores.

    Apadrinhamento (nepotismo): Uso de notoriedade, conhecimentos ou autoridade para favorecer outrem de forma ilcita.

    Voc sabia?

    Poder associado Autoridade

    Este o poder associado ocupao de um dado status social, tal como o exercido por pais sobre fi lhos, ofi ciais sobre soldados ou professores sobre estudantes. Trata-se de uma forma de poder defi nida socialmente como legtima, o que signifi ca que tende a ser apoiada pelos que a ela esto sujeitos. Em contraste, o poder de coero carece de legitimidade social e se baseia, em vez disso, no medo e no uso da fora. o poder exercido por naes conquistadoras sobre as conquistadas ou pelo valento da escola sobre os colegas mais fracos. Ao contrrio da autoridade, o poder de coero muito instvel, motivo pelo qual at o governo mais autoritrio no pode perdurar sem algum tipo de legitimidade aos olhos daqueles que governa.

    O poder relacionado s Classes

    Ao contrrio de Weber, Karl Marx, utilizou o conceito de poder em relao s classes socias e sistemas sociais, e no a indivduos. Marx argumentava que o poder tem origem em uma posio de classe social nas relaes de produo, como na posse e controle dos meios de produo pela classe capitalista. Dessa perspectiva, a importncia do poder reside no nas relaes entre indivduos, mas na dominao e subordinao de classes sociais baseadas nas relaes de produo.

    O poder individual no associado ocupao de um status social denominado de poder pessoal. Este a capacidade de infl uenciar ou controlar outras pessoas, tendo por fundamento caractersticas individuais como fora fsica ou habilidade de argumentar convincentemente. Entre as vrias formas de poder, o pessoal sociologicamente o menos importante, uma vez que tem menos a ver com os sistemas sociais e suas caractersticas.

    Funcionalistas, como Talcott Parsons afi rmam que poder no uma questo de coero ou dominao social, mas sim que se origina do potencial dos sistemas sociais de coordenar atividades humanas e recursos a fi m de atingir objetivos. Dessa perspectiva, por exemplo, o poder do Estado assenta-se em um consenso de valores e interesses, em nome dos quais ele age com vistas a produzir o benefcio mximo para todos.

    Questes sociolgicas fundamentais sobre poder focalizam-se na maneira como este distribudo nos sistemas sociais, de pequenos grupos democrticos, baseados no consenso, a organizaes formais burocrticas e sociedades organizadas em torno de autoritarismo poltico. Desse ponto de vista, o poder um componente importante da estratifi cao social,

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    tanto como recurso quanto como recompensa, que desempenha um papel relevante na desigualdade e no confl ito.

    Uma segunda maneira de pensar em poder surgiu mais recentemente com o feminismo. O conceito de poder-de (power-to) considera-o como algo baseado no em hierarquia ou dominao e subordinao, mas na capacidade de fazer coisas, de atingir metas, especialmente em colaborao com outras pessoas. Enquanto que a tese do poder-sobre tende a focalizar

    a ateno na competio pelo poder e dominao, o poder-de destaca o potencial de cooperao, consenso e igualdade. Quando fazendeiros se renem para construir um celeiro para o vizinho, por exemplo, a colaborao entre eles gera um grande volume de poder (como comprovado pelo resultado), sem que ningum domine ningum. Ao contrrio o poder-sobre, um aumento do poder-de no requer que algum o perca. Em teoria, o poder-de infi nitamente expansvel, o que no acontece com o poder-sobre.

    O conceito de poder controvertido, no s porque pode assumir diferentes formas, mas porque a maneira como o encaramos afeta profundamente o modo como pensamos em sistemas sociais e a forma como eles funcionam. A predominncia do poder-sobre na maior parte do pensamento contemporneo sobre poder torna difcil trabalhar no desenvolvimento de alternativas.

    Observaes de Michel Foucault sobre o Poder

    Michel Foucault, em seus estudos e teorias sobre a expanso progressiva dos dispositivos de disciplina ao longo daqueles sculos, observa que sua multiplicao no corpo social determina, dessa forma, o desenvolvimento de uma microfsica do poder. Por que, para Foucault, o poder no se exerce de um ponto central como o indivduo, o grupo, a classe ou qualquer instncia do Estado, mas est difundido em uma rede de instituies disciplinares. So as prprias pessoas, nas suas relaes recprocas (pai, professor, vizinho, mdico), que, baseando-se no discurso constitudo, fazem o poder circular.

    O Estado parece ser produzido como uma sntese que emana da prpria articulao dos elementos do todo social. Se o poder, antes do Estado, existia difuso, distribudo mais ou menos eqitativamente entre os membros da sociedade, depois ele se concentra numa nica agncia que adquire o monoplio desse poder. Portanto, o Estado surge da concentrao de um poder j existente. Quer dizer, para que transitem e se realizem socialmente determinadas prticas de subordinao e explorao preciso que a distribuio das possibilidades de implement-las tenha antes sido alterada, isto , tenha se concentrado nas mos de uma parcela da sociedade. A grande questo como e por que isso aconteceu. Pelo que indicam as pesquisas etnogrfi cas, alguns fenmenos sociais parecem intimamente ligados ao surgimento do Estado ou, pelo menos, so quase sempre paralelos ao seu aparecimento: o crescimento demogrfi co, o desenvolvimento das foras produtivas, o aumento da diviso do trabalho e da especializao de certas funes, o processo de redistribuio da produo a partir de um centro e, inevitavelmente, o nascimento das diferenciaes sociais, da opresso e da explorao.

    A maior difi culdade que o Estado parece ser, tanto lgica como historicamente um resultado, e ao mesmo tempo um pressuposto do dilaceramento sofrido pela sociedade.

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    E nada mais sensato, portanto, que obedecer-lhe as leis e os mandamentos bsicos, naturais...

    Voc feliz vivendo no Estado, com o Estado? Vamos analisar rapidamente dois fi lmes, Nell e Matrix, e ento conheceremos o Estado em que vivemos (http://www.culturabrasil.org/nellematriz.htm#matrix#matrix)

    O selvagem encontra-se com o civilizado. Expressa seu medo e sua angstia de forma nervosa, s vezes at mesmo violenta. Ningum sabe ao certo como reagir nesse momento em que se reuniram ao acaso. O homem e a mulher se medem, palmo a palmo, como a examinar as possibilidades que teriam no caso de um confronto direto, corpo a corpo. O que voc faria se estivesse na situao do personagem de Liam Neeson (Dr. Jerome Lovell) ao se encontrar com uma mulher, de aproximadamente 30 anos, que no sabe ao certo como se relacionar com outro ser humano?

    E como no saber? Simples, basta se isolar no meio de uma floresta com seus filhos, ser a nica referncia viva prxima deles, no se preocupar em transmitir-lhes conhecimentos estabelecidos entre seres humanos (a no ser calor humano) e morrer sem dar-lhes a mnima noo de que, l fora, para alm das fronteiras que delimitam a mata por eles habitada, h toda uma vasta e complexa fauna de seres humanos...

    A propsito, depois de algum tempo vivendo em isolamento, os rudimentos de cultura passados de pai (ou me) para filho (a) so aos poucos esquecidos ou abandonados por absoluta falta de uso, guardando-se apenas o que elementar para a sobrevivncia. Pronto, est em suas mos a frmula para o surgimento de Nell (Jodie Foster), a tal selvagem mencionada no incio desse texto e que d nome ao filme de Michael Apted (O mesmo de Nas Montanhas dos Gorilas).

    A trama do filme acaba propondo uma reflexo acerca da necessidade do convvio entre seres humanos para a configurao ou caracterizao humana das pessoas.

    No basta, para tal, a herana gentica acumulada em nossos bancos de dados internalizados, passados dos pais para os filhos (o que, a princpio, no descarta a importncia dessa informao transmitida; nos diz apenas que ela no suficiente para que estejamos preparados para enfrentar o mundo em que viveremos).

    Em Nell, apresenta-se uma eremita crist que havia sido violentada na juventude, teve duas filhas gmeas como resultado daquele seu nico contato com um ser humano do sexo masculino e, logo ao incio do filme, morre, sem que ningum nunca houvesse sequer sabido da existncia de outra pessoa a viver com ela.

    O mdico da pequena cidade (que para l fora acompanhado do chefe de polcia) atesta o bito da eremita em sua prpria casa, ficando espantado com o fato de ser possvel a algum viver em tal isolamento, sem gua corrente em casa, sem telefone, luz eltrica ou qualquer dos confortos do mundo moderno. Pior, era afsica, pois tinha metade do rosto paralisado por um acidente vascular cerebral em tenra idade...

    Ao entrarem na choupana, surpreendentemente, encontram Nell, que desenvolvera

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    uma linguagem prpria e estava em idade estimada entre 26 e 30 anos. O interesse em caso to pitoresco por parte da comunidade acadmica obriga o mdico humanista a judicial e judiciosamente conseguir o direito de fazer uma tentativa na direo de aprender-lhe o idioma e buscar saber se ela deseja sair da condio em que se encontra ou no.

    Impregnado de momentos de rarssima beleza, com mensagens filosficas tremendamente profundas, dentro do processo de ensino/aprendizagem em que se envolvem uma mdica da comunidade acadmica, o

    mdico humanista da cidadezinha e a mulher selvagem, como alguns a chamam, percebemos prolas como: Voc est certa, Nell, viver entre as pessoas desvantajoso: primeiro elas te confundem, depois te abandonam...

    Este o resultado final da trama no julgamento em que se vai decidir o futuro de Nell: viver em sociedade, aprendendo as coisas grandiosas que lhe foram negadas pela me ou optar por seguir reclusa, como o foi desde o nascimento.

    Outro que mexe com a cabea da gente Matrix: este mundo no real, virtual. As mquinas tomaram conta do mundo e todos seguem os esquemas por elas montado no sentido de uma vida suave e feliz, mas sem liberdade.

    A busca da liberdade o cerne da trama. Poucos heris anti-aparato-estatal tomam a si a dificultosa incumbncia de reencaminhar o mundo do caos em que se encontra na direo da verdadeira ordem em paz, felicidade e muita liberdade. As dificuldades de praxe no lidar com as coisas do Estado autoritrio so aqui recolocadas, mas num patamar e segundo uma perspectiva totalmente diferente.

    Se em Nell h a eterna discusso da luta por um lugar ao sol longe e revelia do Estado, em Matrix vemos uma guerra declarada ao Leviat estatal...

    Este mundo no real, virtual. As mquinas, basicamente computadores de ponta, que atingiram inteligncia artificial, tomam conta do planeta e tudo o que acontece monitorado para que seja satisfatrio mquina, no ao humano.

    Poucos tm acesso realidade em computadores no submissos ao sistema. Um tremendo jogo de espelhos que tende a dificultar a mera compreenso do filme, que se precisa assistir pelo menos duas vezes para captar-lhe a essncia. O mundo real somente acessvel a poucos que detm a tecnologia necessria a simul-lo em computadores. Fora desta realidade o virtual eivado de realidade existente no mundo prtico-pragmtico.

    Um jovem programador passa noites a fio procurando alguma coisa, sentindo que h algo de muito errado com o mundo (a empatia com o jovem, rebelde por definio, imediata). Quem chega a intuir que h algo de muito errado com o mundo sente-se imediatamente em casa neste trabalho primoroso. Tanto busca que acaba sendo encontrado pelo grupo de guerrilheiros anti-estatais comandados por um ativista cognominado Morfeu. Alcunha perfeita, pois em sua luta, esto todos adormecendo nos braos dos computadores que resistem ao sistema para que toda a espcie humana possa despertar do sono em que se encontra.

    Sio novamente a terra prometida, a nica cidade que resiste nova ordem impessoal das mquinas que tomam conta do mundo. Cidadelas isoladas, distantes e livres de qualquer possibilidade de acesso a no humanos ao longo do filme. Ponto de chegada e de partida de quantos ainda so humanos neste mundo.

    O jovem programador convidado a conhecer mais (conhecer poder, controle, domnio) e lutar pela libertao do mundo. Fica sabendo que ele, Neo, O Escolhido, aquele que, por ser capaz de atuar operacionalmente contra a ordem capaz de lutar e mostrar aos homens o caminho da libertao. Morfeu o seu mestre, que o reconhece e que logo ser superado.

    Como lutar contra a escravido se, h sculos, o homem nasce escravizado? Esta questo, antiga como o Estado, foi excepcionalmente trabalhada pelo Renascentista Etienne de La Botie. A sede pela liberdade j assombrava os sonhos de Esprtaco no Imprio Romano. A atualidade desta inquietao no mundo globalizado, neoliberal e todo em rede desassossega.

    Neste filme, h a reflexo em torno da luta do homem pela sua emancipao em face de um poder massacrante contra o qual no h acordo possvel.

    Contra toda a evidncia e at porque a alternativa para aquele que despertou a insuportvel Servido Voluntria a luta do humano para emancipar-se segue plena e eficaz. No importa

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    tanto ter sucesso na luta. Importa no capitular, pois capitular transformar-se no prprio algoz. A atividade humana desapegada tem um potencial revolucionrio raramente to bem explicitada.

    O aprendiz tem de morrer e ressuscitar, precisa dominar tcnicas novas, precisa dominar, acima de tudo, o seu prprio medo e conformismo. Precisa viver e deixar viver em permanente luta contra os algozes da vida plena e real.

    Matrix o nome do Estado, da nova ordem mecnica a que os seres humanos devem submeter-se. Trata-se de um conjunto de mquinas capazes de fazer crer em qualquer coisa, atuando diretamente no nvel neuronal das pessoas. Contra esta, somente uma outra mquina, a servio do humano, no mais servindo-se dele.

    O embate final, entre o humano imaginativo, criador, de um lado e, de outro os representantes da ordem, os agentes da mquina, um primor de alegorias. Faz-nos recordar de todos os momentos histricos em que a nossa espcie avanou na direo certa, sempre sob a orientao de um lder carismtico a servio de um poder superior que por vezes nem ele entende, a princpio. Feita a harmonizao entre o guerrilheiro da inovao e o poder superior a que pertence e o mundo inteiro pode ser reconduzido paz, verdadeira ordem e harmonia, a partir de preceitos humanos.

    Matrix o Capital. Neo, Morfeu e os lutadores pela emancipao so os libertadores humanos, so os guerrilheiros humanistas que restauram a ordem, a harmonia universal. Uns poucos seres humanos idealistas lutando pelo que bom, justo, correto dobram, jugulam a autocracia dominante. Tal no tem sido assim na histria da humana espcie?

    CAPITALISMO E A GLOBALIZAO

    UM POUCO DE HISTRIA...

    O capitalismo teve seu incio na Europa. Suas caractersticas aparecem desde a Baixa Idade Mdia (do sculo XI ao XV), com a transferncia do centro da vida econmica, social e poltica dos feudos para a cidade. Depois de uma profunda estagnao o comrcio saiu da inanio com o aparecimento de excedentes oriundos das descobertas de novas terras.

    As Cruzadas (do sculo XI ao XII) tambm contriburam muito para o reativamento comercial. Ainda no sculo XIV o feudalismo passava por uma grave crise decorrente da catstrofe demogrfi ca causada pela Peste Negra, que dizimou 40% da populao europia e pela fome que assolava o povo. Com a unio de todos esses fatores a Europa passou por um intenso desenvolvimento urbano e comercial e, conseqentemente, as relaes de produo capitalistas se multiplicaram, minando, aos poucos, as bases do Feudalismo.

    Os lucros dos senhores feudais reduziram-se e eles tiveram de aumentar os impostos sobre os servos. Estes comearam a rebelar-se e enfraqueceram o poder dos nobres. Os reis, para manterem-se no poder, apegaram-se ainda mais idia de que eram designados por Deus.

    O Absolutismo teve defensores ideolgicos, como os fi lsofos Jean Bodin (os reis tinham o direito de impor leis aos sditos sem o consentimento deles), Jacques Bossuet (o

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    rei est no trono por vontade de Deus) e Nicclo Machiavelli (a unidade poltica fundamental para a grandeza de uma nao).

    Com o Absolutismo e com o Mercantilismo o Estado passava a controlar a economia e a buscar colnias para adquirir metais atravs da explorao (metalismo). Isso para garantir o enriquecimento da metrpole.

    Esse enriquecimento favorece a burguesia - classe que detm os meios de produo e passa a contestar o poder do rei, resultando

    na crise do sistema absolutista.Com as revolues burguesas, como a Revoluo Francesa e a Revoluo Inglesa,

    estava-se garantido o triunfo do capitalismo. A partir da segunda metade do sculo XVIII, com a Revoluo Industrial, inicia-se um processo ininterrupto de produo coletiva em massa, gerao de lucro e acmulo de capital. Na Europa Ocidental, a burguesia assume o controle econmico e poltico. As sociedades vo superando os tradicionais critrios da aristocracia (principalmente a do privilgio de nascimento) e a fora do capital se impe. Surgem as primeiras teorias econmicas: a fi siocracia e o liberalismo. Na Inglaterra, o escocs Adam Smith (1723-1790), precurssor do liberalismo econmico, publica Uma Investigao sobre Naturezas e Causas da Riqueza das Naes, em que defende a livre-iniciativa e a no-interferncia do Estado na economia.

    O capitalismo traduzido num sistema de mercado baseado na iniciativa privada, monopolizao dos meios de produo e explorao de oportunidades de mercado para efeito de lucro. Exatamente no lucro concentra-se toda a crueldade e irracionalidade do capitalismo, que destina o sacrifcio do trabalho de todos para o enriquecimento de uma minoria. A burguesia provoca guerras e destri ticas para seu enriquecimento material.

    Saiba mais!

    O quadro no qual o capitalismo se apresenta o de crescente deteriorao social, com desemprego, fome e profunda misria. Gera subdesenvolvimento, promove guerras por interesses fi nanceiros e por elas investe gigantesca quantidade de dinheiro na indstria blica. Essa corrida armamentista fi nancia foras terroristas que lutam contra regimes democrticos (como os contra, na Nicargua, e inmeros outros golpes de Estado fi nanciados pelos maiores capitalistas, os EUA).

    A militarizao da sociedade uma conseqncia cruel do capitalismo, bem como a crescente concentrao de riqueza nas mos da oligarquia fi nanceira. a velha histria de que poucos tm muito e muitos tm pouco. Esse o legado bsico do capitalismo.

    O capital fi nanceiro rege nossas vidas.

    GLOBALIZAO O QUE ?

    o conjunto de transformaes na ordem poltica e econmica mundial que vem acontecendo nas ltimas dcadas. O ponto central da mudana a integrao dos mercados numa aldeia-global, explorada pelas grandes corporaes internacionais. Os Estados abandonam gradativamente as barreiras tarifrias para proteger sua produo da concorrncia dos produtos estrangeiros e abrem-

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    se ao comrcio e ao capital internacional. Esse processo tem sido acompanhado de uma intensa revoluo nas tecnologias de informao - telefones, computadores e televiso.

    As fontes de informao tambm se uniformizam devido ao alcance mundial e crescente popularizao dos canais de televiso por assinatura e da Internet. Isso faz com que os desdobramentos da globalizao ultrapassem os limites da economia e comecem a provocar uma certa homogeneizao cultural entre os pases.

    A globalizao no um acontecimento recente. Ela se iniciou j nos sculos XV e XVI, com a expanso martimo-comercial europia, conseqentemente a do prprio capitalismo, e continuou nos sculos seguintes. O que diferencia aquela globalizao ou mundializao da atual a velocidade e abrangncia de seu processo, muito maior hoje. Mas o que chama ateno na atual , sobretudo, o fato de generalizar-se em vista da falncia do socialismo real. De repente, o mundo tornou-se capitalista e globalizado.

    Um ponto importante desse processo so as mudanas signifi cativas no modo de produo das mercadorias, auxiliadas pelas facilidades na comunicao e nos transportes. As transnacionais instalam suas fbricas em qualquer lugar do mundo onde existam as melhores vantagens fi scais, mo-de-obra e matrias-primas baratas.

    Essa tendncia leva a uma transferncia de empregos dos pases ricos - que possuem altos salrios e inmeros benefcios - para as naes industriais emergentes, como os Tigres Asiticos.

    A globalizao marcada pela expanso mundial das grandes corporaes internacionais d-nos a impresso de viver de fato numa nova poca, em que os parmetros conhecidos esto sendo questionados: o papel do Estado, o emprego e a qualifi cao dos trabalhadores, assim como a diminuio de seu poder de negociao devem ser analisados sob outra tica.

    O resultado desse processo que, atualmente, grande parte dos produtos no tem mais uma nacionalidade defi nida, pois um automvel de marca norte-americana pode conter peas fabricadas no Japo, ter sido projetado na Alemanha, montado no Brasil e vendido no Canad.

    A crescente concorrncia internacional tem obrigado as empresas a cortar custos, com o objetivo de obter preos menores e qualidade alta para os seus produtos. Nessa reestruturao esto sendo eliminados vrios postos de trabalho, tendncia que chamada de desemprego estrutural.

    Uma das causas desse desemprego a automao de vrios setores, em substituio mo-de-obra humana. Caixas automticos tomam o lugar dos caixas de bancos, fbricas robotizadas dispensam operrios, escritrios informatizados prescindem de datilgrafos e contadores.

    Nos pases ricos, o desemprego tambm causado pelo deslocamento de fbricas para os pases com custos de produo mais baixos. Em contrapartida, o fi m de milhares de empregos, no entanto, acompanhado pela criao de outros pontos de trabalho. Novas oportunidades surgem, por exemplo, na rea de informtica, com o surgimento de um novo tipo de empresa, as de inteligncia intensiva, que se diferencia das indstrias de capital ou mo-de-obra intensivas. Dessa forma, o desemprego tende a se concentrar nas camadas menos favorecidas, com baixa instruo escolar e pouca qualifi cao.

    RESUMINDO...

    As caractersticas da globalizao podem ser assim resumidas: Internacionalizao da produo; Internacionalizao ou globalizao das fi nanas; Alterao na diviso internacional do trabalho, ou, antes, criao de uma nova

    diviso de trabalho dentro das prprias empresas transnacionais, e que a distribuio

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    das funes produtivas no se encontra mais concentrada num nico pas, mas espalhada por vrios pases e continentes (por exemplo, um pas fabrica um componente do produto, um segundo fabrica outro, um terceiro faz a montagem, enquanto o centro fi nanceiro e contbil da empresa est sediado num quarto pas);

    O grande movimento migratrio do hemisfrio sul para o norte; A questo ambiental e a sua importncia nas discusses internacionais; O Estado passa, de protetor das economias nacionais e provedor do bem-

    estar social, a adaptar-se economia mundial ou s transformaes do mundo que ela prpria e a exaltao do livre mercado provocam;

    Nesse quadro de globalizao, hoje, as empresas transnacionais: Atuam em vrios pases ao mesmo tempo; Compram a melhor matria-prima por menor preo em qualquer lugar do mundo; Instalam-se onde os governos oferecem mais vantagens (terrenos, infra-

    estrutura, iseno ou reduo de impostos, etc.) e a mo-de-obra mais barata; Com um efi ciente sistema de distribuio, enviam seus produtos para todos

    os cantos do mundo; Fazem uma intensa publicidade, convencendo-nos da necessidade de adquiri-

    los, criando necessidade humanas inimaginveis, num mundo em que no foram resolvidas questes bsicas de sobrevivncia de centenas de milhes ou bilhes de seres humanos (fome, emprego, moradia, educao, sade, etc.);

    Tm um faturamento gigantesco, que chega a ser superior soma do PIB de vrios pases.

    AtividadesComplementares

    1. Explique, em linhas gerais, a percepo sociolgica de Elton Mayo sobre as organizaes.

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    2. O capitalismo e, posteriormente, o neoliberalismo tm como uma de suas premissas a diminuio do papel do Estado na economia. Neste sentido explique qual o papel do Estado na economia do sculo XXI.

    3. A globalizao um processo irreversvel na economia global, que gere posies favorveis ou no. Explique a infl uncia da globalizao nos novos modelos de gesto organizacional.

    4. Globalizao: ameaa ou oportunidade? Discorra sobre este questionamento.

    5. Embora o socialismo represente uma alternativa ao capitalismo, evidente a supremacia deste ltimo na economia global, demonstrando o tamanho do seu poder, alm do econmico, tambm no mbito poltico e social, embora tenha causado extremas desigualdades econmicas. Discorra sobre a sua percepo do futuro do capitalismo.

    SITES DE CONSULTA PARA AMPLIAO DO CONTEDO

    http://catatau.informal.com.br/artigos/a01072002_001.htmhttp://www.bresserpereira.org.br/papers/1998/84PublicoNaoEstataRefEst.p.pg.pdfhttp://globalization.sites.uol.com.br/as22.htm

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    Abordagens Socioantropolgicas

    nas Organizaes

    A ANLISE ANTROPOLGICA DAS

    ORGANIZAES

    CONTRIBUIES DOS CLSSICOS

    BRONISAW MALINOWSKI

    Bronisaw Kasper Malinowski (Cracvia, abril de 1884 New Haven, 16 de maio de 1942) foi um antroplogo polons. Ele considerado um dos fundadores da antropologia social, tambm conhecida como a escola funcionalista, suas grandes infl uncias incluam James Frazer e Ernst Mach.

    De descendncia aristocrata nasceu no seio de uma famlia com interesses culturais e acadmicos que certamente, contriburam para o xito que este teve nas reas em que se envolveu.

    Comeou por estudar matemtica e fsica, mas ao ler The Golden Bough, de James Frazer, o seu interesse por antropologia despertou. Foi j em Londres, na Escola de Economia e Estudos Polticos que Malinowski procurou desenvolver o seu trabalho neste campo.

    Entre 1915-1918 realizou a sua primeira monografi a etnogrfi ca na Nova Guin, em que o mtodo (trabalho de campo e observao participante) constituiu um importante passo para o estudo antropolgico. Deste trabalho surgiu, em 1922, o livro Argonautas do pacfi co oeste. Apesar de ser este o seu maior e mais valioso trabalho de campo, Malinowski trabalhou tambm com tribos da Austrlia, do Arizona, da frica Oriental e do Mxico.

    Dividindo-se entre o trabalho de campo e o de professor, passou pela Universidade de Londres, Universidade de Cornell, Universidade de Harvard e pela Universidade de Yale. Ainda no desenvolvimento do seu trabalho, na rea da antropologia cultural, formulou uma tese sobre o Funcionalismo.

    Segundo o antroplogo Ernest Gellner, Malinowski tomou uma posio original em relao aos confl itos de idias do seu tempo. Ele no repudiou o nacionalismo, uma das ideologias nascentes e marcantes do sculo XIX, mas fusionou o romantismo com o positivismo de uma nova maneira, tornando possvel investigar as velhas comunidades, mas, ao mesmo tempo, recusando conferir autoridade ao passado.

    Bronislaw Malinowski obteve tambm grande infl uncia nos estudos sobre mitos da segunda metade do sculo XX. Ele reuniu suas idias sobre mito no ensaio Myth in Primitive Psychology, publicado pela primeira vez em 1926, do qual existe traduo para o espanhol no volume Estudios de Psicologia Primitiva (Buenos Aires: Paidos, 1949).

    Malinowski inicia esse trabalho distinguindo trs conjuntos de teorias referentes a mitos. Um deles seria a escola de mitologia da natureza, segundo a qual os mitos constituiriam

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    tentativas de explicar os fenmenos naturais. Dentro dessa escola havia divergncias, admitindo certos pesquisadores que a Lua seria o principal motivo estimulador dos mitos; entre eles se contaria Paul Ehrenreich (que no sculo passado esteve no alto Xingu, na ilha de Bananal e no rio Purus). Outros, entre os quais o africanista Leo Frobenius, tinham o Sol como foco da ateno dos mitos. E havia ainda os estudiosos que associavam os mitos a fenmenos meteorolgicos. Esses pequisadores faziam parte da Sociedade de Estudos Comparados do Mito, fundada em Berlim em 1906.

    Havia tambm uma escola histrica, presente na Alemanha e nos Estados Unidos, da qual Rivers seria o representante na Inglaterra, que tomava o mito como um relato sagrado equivalente a um repositrio verdico do passado.

    Malinowski se coloca num terceiro conjunto de pesquisadores, que faz uma ntima associao entre mito e ritual, entre a tradio sagrada e as normas da estrutura social, ao qual tambm pertenceriam o psiclogo Wundt, o socilogo Durkheim, o antroplogo Mauss, o historiador Hubert, todos, de algum modo, infl uenciados por James Frazer. Porm, Malinowski quer mais, quer trazer a ateno do leitor para as contribuies do trabalho de campo, no caso o seu, nas ilhas Trobiand, para o cotidiano da vida dos nativos que co