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102345440 a Nova Alquimia Osho

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OSHO

A Nova Alquimia

Editora Cultrix

NDICEIntroduo...........................................................................................7 Prefcio................................................................................................9 Captulo 1. Entregue-se ao que ..................................................13 Captulo 2. O sentimento de separao......................................21 Captulo 3. O desejo de sensao..................................................25 Captulo 4. Desejando o inacessvel...............................................32 Captulo 5. O poder que o tornar Nada....................................41 Captulo 6. Em busca do caminho................................................50 Captulo 7. Fragmentos sem coerncia.......................................57 Captulo 8. A quietude que sucede tormenta..........................60 Captulo 9. Voc tem colhido......................................................71 Captulo 10. Obedecendo ao guerreiro interior......................79 Captulo 11. A cano da vida......................................................92 Captulo 12. Lio de harmonia..................................................102 Captulo 13. Penetrando no corao dos homens...................112 Captulo 14. Soltar as amarras da personalidade.....................122 Captulo 15. O caminho foi encontrado......................................131 Captulo 16. O segredo derradeiro............................................141 Captulo 17. A voz silenciosa......................................................149

IntroduoEntre os trabalhos de Osho, este livro um tesouro especial. Embora as palestras tenham sido feitas em 1973, em Monte Abu e na Anand Shila, perto de Bombaim, elas continuam vivamente ligadas aos ensinamentos de osho. Suas palavras continuam a vibrar com vitalidade e frescor. Elas so a semente de um ensinamento que iria crescer e florescer na dcada seguinte, em centenas de volumes e numa biblioteca de material audiovisual que seria vista e ouvida por milharas de discpulos e de outras pessoas. Por certo, os primeiro discpulos, a maioria deles fazendo a primeira experincia das agora famosas tcnicas de meditao dinmicas de osho, no imaginavam que seriam a vanguarda de uma transformao da conscincia que seria sentida atravs de todo o mundo. Fica claro, a partir do texto, que a viso de osho abarcava tudo o que estava por vir. Ele era, nessa poca, e agora, um Mestre iluminado, cuja viso penetrante desconhece a barreira do tempo e do espao. Nessa poca eram organizados campos de meditao de oito e dez dias, nos quais a alegria de poder ouvir as palestras do Mestre em ingls era ansiosamente esperada. Alm disso, tinha-se a oportunidade de participar das meditaes superpoderosas dirigidas por osho e que eram feitas imediatamente aps as palestras. A primeira srie de palestras contidas neste volume, feita em Monte Abu em abril de 1973, baseia-se no trabalho teosfico Luz no Caminho, ditado por um dos Mestres a Mabel Collins. Com as palavras enigmticas ou mesmo paradoxais desse texto, Osho tece uma intricada tapearia de percepo, sabedoria, humor e 7

psicologia humana. Ele mais do que original. Ele muitas vezes ultrajante e provocador. O propsito do seu trabalho nos despertar como ele afirma muitas vezes. No entanto, existe uma pureza, uma beleza simples nessas palavras teosficas, que bordeiam poesia. Elas so bem usadas por Osho em toda a sua clareza e conciso; a natureza enigmtica de muitas delas coincide com a viso que osho tem da vida, que um mistrio a ser vivido e no um problema a ser resolvido. A segunda srie de palestras, contida no Apndice, basicamente uma elucidao sobre a natureza e os efeitos de suas tcnicas revolucionrias de meditao, bem como respostas e perguntas feitas por discpulos que passavam pelas "mudanas alqumicas" realizadas atravs do uso de suas tcnicas. Para o principiante, este livro ser uma perfeita introduo aos ensinamentos de Osho; para o leitor habitual, ou para o discpulo de longa data, A Nova Alquimia ser uma redescoberta dos primeiros princpios, uma oportunidade para revitalizar e esclarecer nossa viso acerca de uma verdade que est sendo descoberta continuamente. Sw. Anand Deepesh

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PrefcioChamei-os aqui. E vocs ouviram o meu chamado. E vieram. Mas essa vinda, essa vinda exterior, no basta. Agora, vou chamlos novamente para uma jornada diferente, para uma jornada interior. E se vocs cooperarem, se estiverem dispostos a se moverem para dentro, isso ajudar. A coisa mais importante a ser lembrada que a jornada interior requer profunda coragem. uma aventura no desconhecido, e o mar ainda no foi explorado. necessrio coragem para dar o mergulho. O que essa coragem? A coragem consiste em abandonar seu passado e dar o salto. Se voc no corajoso, continua prolongando seu passado. Continua sempre repetindo o passado. Voc se move numa roda, num crculo. Toda a sua vida torna-se apenas uma repetio. Coragem significa a coragem de sair desse crculo vicioso, de romper essa continuidade de ser descontnuo em relao ao passado, de ser novo, de renascer. Este campo de meditao ser a ocasio para um renascimento. Haver muita dor, muito sofrimento, pois todo nascimento fenmeno doloroso. Mas se voc estiver disposto, ento at mesmo essa dor torna-se a felicidade. Quando a madrugada torna-se mais escura, quando a noite torna-se mais sombria, o nascer do Sol est bem prximo. Quando seu sofrimento atinge o pice, voc est bem prximo do limite de onde se inicia a dimenso da felicidade e da bem-aventurana. Voc precisa passar pelo sofrimento; portanto, esteja pronto para ele; a menos que voc passe atravs dele, nunca ir alm dele. No suprima o sofrimento. Ao contrrio, mova-se atravs dele. 9

As experincias de meditao que sero feitas aqui traro seu sofrimento superfcie. Essas experincias traro seu sofrimento inconsciente para o consciente; e quando o sofrimento torna-se consciente, ele pode evaporar-se. Nada jamais se evapora do inconsciente. Voc continua a recalcar sua dor, sua raiva, sua angstia, sua violncia. Tudo que existe dentro de voc empurrado para o inconsciente. Seu inconsciente tornou-se uma ferida; transformou-se num inferno. Esse inferno precisa ser trazido para fora. Se voc quer realmente entrar na dimenso celeste, precisar atravessar o inferno. Ser necessrio coragem: coragem para passar pelo inferno, coragem para renascer. Quando digo renascer, isso mesmo o que quero dizer. Voc passar por uma morte e ento renascer. A meditao uma morte: morrer para o passado, morrer completamente enquanto ego. O que fazer? Como morrer para que uma nova vida nasa em voc? Como morrer para que voc possa ressuscitar novamente? Jesus diz que a menos que uma semente morra, no poder tornar uma rvore, no poder germinar. Vocs so semelhantes a sementes, sementes da flor divina e, a menos que morram enquanto sementes, o florescimento jamais ser possvel. Vocs tem carregado suas sementes por muitas vidas, por milhes e milhes de anos. Cada momento o momento certo, se voc est pronto. A semente pode morrer e uma nova vida pode ressurgir, uma nova vida pode nascer. Se voc veio, se ouviu meu chamado, agora, seja corajoso. No se detenha! No importa o que eu diga: entre nisso to totalmente quanto possvel. Se voc est disposto a ser corajoso, posso fazer muito. Muita coisa possvel se voc cooperar comigo. Basta que coopere e torne-se aberto; ento posso entrar em voc. Posso mud-lo; posso fazer ajustamentos, uma sintonizao. E, uma vez, sintonizado, toda existncia torna-se diferente, pois agora voc pode ouvir a harmonia csmica, a msica csmica. 10

Uma vez sintonizado com o infinito, voc nunca ser novamente o mesmo. Se entrar em sintonia, mesmo que seja por um nico momento, voc nunca ser novamente o mesmo. Atravs das experincias de meditao que estaremos fazendo aqui, meu esforo consistir em sintoniz-lo. Mas ser necessrio sua cooperao. Voc pode criar barreiras, pode criar obstculos, pode se opor a mim. Se voc resistir, nada acontecer. Ento voc dir que nada aconteceu, mas a responsabilidade sua. Se nada acontecer, voc ser o responsvel, pois isso significa que voc no permitiu, no se entregou, no deixou acontecer. Lembrese desta expresso durante todo o campo: deixe acontecer. Mas no apenas se lembre dela, sinta-a. Permanea numa atitude de entrega, disponvel a qualquer coisa que acontea, a qualquer coisa que eu faa. Permita, seja vulnervel, aberto. Mesmo que a morte ocorra, esteja pronto. Somente ento a vida acontecer em voc. Se voc puder confiar em mim, ento algo ser possvel. Confiar significa, fundamentalmente, que voc est deixando tudo em minhas mos. Mesmo se a morte ocorrer, voc no se queixar. E se puder chegar a este ponto, se estiver preparado para confiar em mim a esse ponto, ento voc no ser a mesma pessoa quando retornar do campo. E quando voc teve um vislumbre do infinito, o mundo todo torna-se novo. Durante todo o campo, sinta uma profunda entrega. A primeira coisa a ser lembrada : deixe acontecer, entregue-se. A segunda coisa a ser lembrada continuamente a palavra agora. A-G-O-R-A (agora). No se mova para o passado, no se mova para o futuro. Permanea com o momento. Sempre que voc sentir que sua mente est retrocedendo pensando no passado, vivendo de memrias traga-a outra vez de volta para o agora. Ou, se sentir que sua mente est se projetando em direo ao futuro, traga-a de volta para o agora. Se estiver comendo, ento coma no faa outra coisa. Se estiver ouvindo, ento oua no faa mais 11

nada. Se estiver meditando, ento medite nada mais. Permanea com o momento, aqui e agora. Isso dever ser seu esforo constante. No comeo voc o sentir como algo extenuante, devido aos seus velhos hbitos; mas quando voc entrar profundamente nisso, o esforo desaparecer. Pela primeira vez, voc se sentir totalmente no-tenso, pois no agora nenhuma tenso possvel. Assim, a segunda coisa a ser lembrada permanecer no agora. No v para c e para l; permanea no momento presente. difcil, mas, desde que voc o sinta uma vez, torna-se muito fcil, simples, natural. A terceira coisa: coloque toda sua energia nas tcnicas de meditao. Esforos pela metade no adiantaro. Voc estar simplesmente desperdiando tempo e energia. Um certo pico um mximo necessrio. S ento voc pode ser transformado numa outra dimenso. Assim, coloque toda a sua energia em cada tcnica que praticaremos aqui. S ento um determinado nvel alcanado e voc deixa de ser a antiga pessoa. O antigo desaparece, evapora, e um novo fenmeno passa a existir. Assim, no se retraia, no se divida. Entre totalmente em cada tcnica. Coloque nela toda a sua mente e corpo; no deixe nada para trs. E ento eu lhe prometo que voc no sair daqui como chegou. Voc estar novo, ressuscitado. O desconhecido ter acontecido a voc. Isso certo, cientfico mas voc precisa cumprir as condies.

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Captulo 1 Entregue-se ao que Trs sutras bsicos para a transformao da vida, que, de certa forma, so supremos. O primeiro: Seja no-ambicioso. Destrua totalmente a ambio. A menos que a ambio seja destruda, voc permanecer na misria. A ambio a fonte de todas as misrias. O que ambio? A quer ser B, o pobre quer ser rico, o feio quer ser lindo. Todo mundo ambiciona ser algo mais, algo diferente daquilo que . Ningum est contente consigo mesmo. Isso ambio. Voc nunca est contente com aquilo que voc , seja o que for. Isso ambio. Ento voc permanecer irremediavelmente miservel, porque voc no pode ser outra coisa. Voc s pode ser voc mesmo; nada mais possvel. Tudo o mais ftil, prejudicial, perigoso. Voc pode desperdiar sua vida inteira, toda a sua existncia. Aquilo que voc , seja o que for, voc. Aceite-o; no deseje ser diferente. A no-ambio significa isso. A ausncia de ambio fundamental a toda transformao espiritual, pois quando voc se aceita, muitas coisas comeam a acontecer. Mas a primeira coisa... se voc se aceitar totalmente, a primeira coisa que lhe acontecer ser uma vida no-tensa. No haver tenso. Voc no deseja ser algo mais; no h nenhum lugar para ir. Ento voc pode estar aqui e agora. No h comparao. Voc prprio nico. No pensa mais em termos de outros.

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Ento no h mais futuro. A ambio precisa de futuro, precisa de espao para crescer. Ela no pode crescer aqui e agora; no h espao. Este momento to pequeno, to atmico. A ambio precisa do futuro; quanto maior a ambio, maior o futuro de que se necessita. Se sua ambio for to grande a ponto de no poder ser satisfeita nesta vida, ento voc criar uma vida aps a morte. Criar o cu, criar moksha, criar a idia de renascimento. No quero dizer que o renascimento no exista. Estou dizendo que voc acredita no renascimento, no porque ele exista, mas devido a suas ambies serem to grandes que no podem ser satisfeitas numa nica vida. Sua crena no renascimento, na reencarnao, no deriva de que isso seja um fato. Deriva de sua ambio e desejo. A reencarnao pode ser um fato, mas, para voc, no passa de uma fico. Para voc apenas uma questo de futuro, de mais espao para se mover. Lembre-se: voc no pode ser ambicioso no momento presente. impossvel. No h espao. O momento presente to atmico, to pequeno, que voc no pode se mover nele. Voc pode estar nele, mas no pode desejar. Ele suficientemente amplo para o ser, mas no o para o desejo. Para desejar, voc precisa do futuro, do tempo. Na verdade, o tempo existe por causa do desejo. Para estas rvores, no h tempo. Para estes pssaros que cantam, no h tempo. Para as estrelas, para o Sol e para a Terra, no h tempo. O tempo existe por causa do desejo humano. Se a humanidade no estivesse na Terra, no haveria tempo; no haveria passado nem futuro. Seu desejo cria o futuro. Sua memria cria o passado. Ambos so partes de sua mente. No deseje, e o futuro desaparecer. E quando no h futuro, como voc pode ficar tenso? Como? No h possibilidade de se ficar tenso se no h futuro. E se no h passado se voc sabe que o passado apenas a memria, a poeira acumulada durante o caminho como pode haver qualquer 14

ansiedade? Com o passado vem a ansiedade. Com o futuro planos, imaginaes, projees surge a tenso. Quando o passado desaparece e o futuro no est aberto, voc est aqui, agora. Nenhuma ansiedade, nenhuma tenso, nenhuma angstia. A no-ambio significa aceitar-se tal como voc . Mas isso no quer dizer que no haja possibilidade de crescimento. Ao contrrio. Quando voc se aceita tal como , a transformao se inicia. Voc comea a crescer, mas em outra dimenso. Ento a dimenso no est no futuro, mas no eterno. Conhea bem essa distino. Voc pode se mover de dois modos. Se voc se move no futuro, est se movendo na mente; num mundo de fico, de sonho. Se voc no se move no futuro, ento uma dimenso diferente se abre para voc a partir desse exato momento. Voc est se movendo no eterno. O eterno oculta-se no momento. Se voc puder estar aqui, agora mesmo, no momento, voc penetrou no eterno. Se continua pensando no futuro e no passado, est vivendo no temporal. O temporal o mundo, o eterno o nirvana. Conta-se que Buda repetia frequentemente que, se voc puder permanecer no agora, no h necessidade de qualquer tcnica de meditao. Isso suficiente. No necessrio mais nada. Mas como voc poder permanecer no agora se for ambicioso? A mente ambiciosa no pode estar no agora. Pode estar em qualquer outra parte, mas no pode estar no agora. A mente ambiciosa sempre se move para longe do presente. Ela pensa no que est por vir; pensa no amanh. Pensa numa vida aps a morte; no se interessa pela vida que est aqui. Interessa-se por algo que poderia ser. No se interessa pelo que ; est sempre interessada pelo que deveria ser, pelo que poderia ser. Esse interesse no-religioso. Uma mente religiosa, uma conscincia religiosa, interessa-se pela existncia tal como ela . O primeiro sutra : Destrua totalmente a ambio para que voc possa penetrar no eterno. 15

Destrua o desejo pela vida - o segundo sutra. Destrua o desejo pela vida. As leis da vida so muito paradoxais. Se voc desejar a vida, a perder. Esse o caminho mais seguro para perd-la. Se voc desejar a vida, a perder; mas se voc no a desejar, vida abundante acontecer a voc. Atravs do desejo voc se move contra a vida. Parece paradoxal, e . Essa lei paradoxal precisa ser profundamente entendida. Por que que quando voc deseja a vida, voc a perde? Por qu? No deveria ser assim. Logicamente, matematicamente, no deveria ser assim. Se algum deseja a vida, por que a perderia? O mecanismo tal que, ao desejar, voc se moveu novamente para o futuro. E a vida est aqui! A vida j existe como voc pode desejla? Apenas aquilo que no existe pode ser desejado. Mas a vida . Como voc pode desej-la? Ela j ; j est acontecendo. Voc vida. Se voc desejar a vida, a perder. Atravs do desejo, voc se distancia da vida. Todo desejo a leva cada vez mais longe. Por isso h tanta insistncia na ausncia de desejo. Isso no significa que Buda ou todos aqueles que falam sobre a ausncia de desejo estejam contra a vida. Ao contrrio, eles so, de fato, a favor da vida. Mas dizem: No deseje e isso nos soa como se eles fossem contra a vida, como se fossem negadores da vida. Eles no o so. Atravs do desejo, estamos perdendo a vida. por isso que Buda diz: No deseje. Que acontece se voc no deseja? A vida acontece a voc. Ela j est acontecendo, mas voc no pode olhar para ela porque seus olhos esto fixados no futuro. Voc est em outro lugar; sua mente no est aqui. A vida est aqui e voc no est aqui; portanto, o encontro torna-se impossvel. Ento, voc ansiar pela vida, a desejar, mas continuar a perd-la.

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Permita que a vida acontea a voc. Como isso pode ser feito? Estando atento ao que se passa aqui. No tendo desejos de estar em outro lugar. No momento em que voc comea a desejar a vida, torna-se temeroso da morte. Isso inevitvel, porque o desejo pela vida cria o medo da morte. No existe nenhuma morte. Na verdade, nada morre; nada pode morrer. impossvel. A morte nunca acontece; a morte no existe. Ento por que sentimos tanto a morte e a tememos tanto? Por que tememos algo que no existe? Tememos a morte devido ao nosso desejo pela vida. O desejo pela vida cria um medo pelo oposto: o medo da morte. No conhecemos a vida, mas a desejamos. Ento surge o medo de que a vida seja destruda. Vemos a morte acontecendo... algum morre. Voc j reparou no fato de que sempre outra pessoa que morre, nunca voc? sempre outra pessoa. Voc v a morte do lado de fora; nunca a v do lado de dentro. Voc v algum morrendo, mas no sabe o que est acontecendo no fundo do seu ser. Sabe apenas o que est acontecendo na periferia. A periferia est morta; no est mais viva, a pessoa no pode mais respirar. Mas o que aconteceu no mago da pessoa, no prprio ser, no centro? Voc no sabe. Ningum testemunhou a morte. E isso no possvel, pois h apenas um modo de testemunh-la: voc precisa se mover at o ntimo de seu ser, e a testemunh-la. Mas a a morte nunca acontece. por isso que um Buda, um Krishna, riem da morte. Krishna diz a Arjuna no Gita: No receie. No pense que algum morrer. Ningum morre; voc no pode matar ningum. impossvel. Neste mundo, nada pode ser destrudo, nem mesmo um microorganismo pode ser destrudo. A destruio no possvel. S a mudana possvel. A vida continua a se mover. Uma onda morre (parece morrer) e ento uma outra se levanta. S as formas desaparecem e novas formas aparecem, mas nada morre e nada nasce. 17

Se nada morre, ento nada nasce, pois a morte s possvel se algo nasce. Nascimento e morte so duas iluses. Voc existiu antes do seu nascimento de outro modo o nascimento no teria sido possvel e voc existir aps a sua morte caso contrrio, no lhe seria possvel estar aqui e agora. Mas o desejo de se apegar vida cria o medo da morte. Se voc parar de desejar a vida, o medo da morte desaparecer imediatamente. E quando o medo da morte desaparece, voc pode saber o que a vida. Uma mente trmula, com medo e angstia, no pode saber. O saber requer uma conscincia calma e destemida. O desejo pela vida significa medo da morte. O sutra diz: Destrua o desejo pela vida, para que o medo da morte desaparea. E quando no houver morte, nem nenhum apego vida, voc saber o que a vida, pois ela est acontecendo a voc. Voc a vida! A vida no algo extrnseco; algo intrnseco. J est acontecendo. Voc est respirando nela. Voc exatamente como um peixe no oceano da vida, mas no est consciente disso porque sua ateno est obcecada pelo futuro. Desejo significa obsesso pelo futuro. No-desejo significa viver aqui e agora. E o terceiro sutra: Destrua o desejo de conforto, O desejo de felicidade. Destrua-o. Isso parece muito melanclico, triste, negativo. No . Quanto mais voc desejar conforto, mais desconforto estar criando para si mesmo, porque o desconforto proporcional ao desejo de conforto. 18

Quanto mais voc procurar felicidade, tanto mais sofrer. O sofrimento uma sombra. Quanto maior o desejo de felicidade, maior ser a sua sombra. Procure a felicidade e voc nunca a obter. Somente sentir frustrao. Por que? Porque h apenas um modo de ser feliz, que ser feliz aqui, agora. A felicidade no um resultado. um modo de vida. A felicidade no o resultado final do desejo. uma atitude, no um desejo. Voc pode ser feliz aqui e agora se souber como ser feliz, mas voc nunca ser feliz se no souber como ser feliz e continuar desejando ser feliz. A felicidade uma arte. um modo de vida. Neste exato momento, se voc puder permanecer calado e consciente da vida ao seu redor e no seu interior, voc ser feliz. Os pssaros esto cantando, o vento est soprando. As rvores esto felizes, o cu est feliz, todas as coisas existentes esto felizes, exceto voc. A existncia felicidade, uma celebrao eterna, uma festividade. Olhe para a existncia! Cada rvore est em festa, cada pssaro est em festa. Exceto o homem, tudo est em festa. Toda a existncia um festival, um constante e contnuo festival. Nenhuma tristeza, nenhuma morte, nenhuma misria existe em lugar nenhum, a no ser na mente humana. Algo est errado com a mente humana, no com a existncia. Algo est errado com voc, no com a situao. Por que o homem infeliz? Nenhum animal to infeliz, nenhum pssaro to infeliz, nenhum peixe to infeliz quanto o homem. Por que o homem to infeliz? Porque o homem deseja a felicidade, mas os pssaros esto felizes neste exato momento; as rvores esto felizes neste exato momento. O homem deseja a felicidade; ele nunca est feliz aqui e agora. Ele sempre deseja a felicidade e continua a perd-la. A felicidade est aqui. Ela est acontecendo ao seu redor. Permita que ela entre em voc. Faa parte da existncia. No se mova para o futuro. A existncia nunca se move para o futuro; apenas a mente se move. 19

a isso que chamo meditao: estar aqui, sem se mover para o futuro. No seja ambicioso, destrua todo desejo pela vida, no deseje a felicidade, e ento voc ser feliz e ningum poder destruir a sua felicidade. Ser-lhe- impossvel ser infeliz. Ento voc ser imortal e a vida eterna ter acontecido. Na verdade, ela j aconteceu, mas voc no est consciente dela. Ento voc estar realizado. Sem ambio, voc estar realizado. Voc nico. Tudo, toda experincia mxima que possvel a algum tambm possvel a voc; mas acontecer de um modo nico. Aconteceu a Buda, a Jesus, a Zaratustra, e acontecer a voc tambm. Mas nunca acontece do mesmo modo. No acontecer a voc do mesmo modo que aconteceu a Buda. No lhe acontecer assim como aconteceu a Jesus. Acontecer a voc de um modo nico, individual. Quando acontecer a voc, ser absolutamente nova. A essncia da experincia ser a mesma a mesma bemaventurana, o mesmo silncio, a mesma iluminao mas na periferia tudo ser diferente. Portanto, no imite ningum. Isso faz parte da ambio. No imite Buda, no imite Jesus. Tente ser voc mesmo. Ou melhor: seja voc mesmo, pois tentar ainda ftil. Quando voc voc mesmo, est aberto a todas as responsabilidades. Quando voc voc mesmo, toda a existncia comea a ajud-lo. Voc no briga com ela. Quando voc no est em luta... isso o que significa confiar. Quando voc no est em luta, a existncia acontece a voc. Se voc est lutando com a existncia, est simplesmente se destruindo, destruindo suas possibilidades, sua energia, sua vida, sua existncia. No lute! Entregue-se existncia. Aceite a si mesmo, do modo que o todo quer que voc seja; no tente ser outra coisa, e a iluminao pode acontecer a qualquer momento. Pode acontecer neste exato momento; no preciso esperar.

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Captulo 2 O Sentimento de SeparaoDestrua todo sentimento de separao. A mente pensa em termos de separao, diviso, anlise. Por intermdio da mente, a vida se fragmenta. A vida, em si mesma, no dividida; a vida, em si mesma, uma unidade. A vida, em si mesma, permanece indivisvel, mas a mente pensa em termos de fragmentos; portanto, tudo o que a mente afirma, com certeza falso. Aquela rvore, o cu l no alto, a Terra, voc e todas as coisas esto numa profunda unidade. A rvore parece estar separada de voc, mas no est; no pode estar. O Sol est muito distante, mas voc no pode existir aqui se o Sol morrer. Imediatamente, voc cessar de existir aqui. Sem o Sol ali a cem milhes de milhas de distncia , voc no pode existir aqui. Se o Sol deixasse de existir, nunca seramos capazes de saber que ele no mais existiria, pois no haveria ningum para saber. Somos parte de seus raios. Todo o universo uma unidade csmica. Voc no est isolado; no como uma ilha. Voc est ligado; est enraizado no oceano da existncia, como uma onda. A menos que isso seja sentido profundamente, ningum poder entrar em samadhi, ningum poder entrar no xtase total da existncia; pois se voc se considera separado, no pode se fundir; se voc se considera separado, no pode se entregar. Se voc pensa que no est separado, a entrega torna-se fcil; ela acontece. Se sentir que um com a vida, pode confiar nela. Ento no haver medo. Voc poder morrer nela, alegremente, extaticamente. Ento no haver morte. 21

O medo da morte surge porque voc pensa que est separado. Ento voc comea a lutar, comea a se proteger. Comea a se ver como um inimigo, em conflito. Voc pensa em termos de conquistar, de ser vitorioso. Mas ento ser derrotado; sua derrota certa. Voc uma parte do todo, mas continua a lutar com o todo. por isso que, por toda parte, voc observa que todo mundo um fracasso: derrotados, frustrados. No fim, todo mundo vem a saber que a vida foi uma longa derrota e nada mais. Isso sentido no apenas pelos que no foram bem-sucedidos. Os bem-sucedidos tambm o sentem. Um Napoleo, um Alexandre, at mesmo eles se sentem derrotados. Por que isso ocorre? Porque voc no est separado do todo. Considero irreligioso o homem que pensa que est separado da vida, e considero religioso o homem que sabe que uma parte orgnica da vida. Digo uma parte orgnica, no uma parte mecnica, pois a parte mecnica pode ser arrancada; a parte orgnica no pode ser extirpada. Ela no realmente uma parte est em profunda unidade com o todo. Um homem religioso vai alm da ansiedade, alm do medo da morte, porque agora sabe que ele no e o todo . Ento, como pode haver medo? At mesmo a morte torna-se uma comunho, um encontro. No uma dissoluo. Ao contrrio, uma fuso. No se trata de alguma coisa que est contra voc. Antes, um profundo relaxamento para voc. A vida tenso, ansiedade. A morte bela. Voc simplesmente entra num profundo relaxamento. Retorna novamente fonte. A onda se erguer outra vez, mas por enquanto ela cessou; foi para o oceano descansar. A morte um profundo repouso. E antes de um novo nascimento, esse repouso necessrio. A partir do momento em que voc compreende isso, no h mais medo. Desde que voc aceite e se torne consciente da profunda unidade, a unidade orgnica, ocenica, aceitar todas as coisas. 22

Voc saber que tudo um, que a existncia uma. Ela se manifesta em diferentes formas, em milhes de formas, mas s as formas so diferentes. A substncia, a essncia, permanece uma. Essa atitude o ajudar a entrar muito facilmente na meditao. Lembre-se, se voc temer a morte, temer tambm a meditao. Esse um corolrio lgico. Se voc tiver medo da morte, voc no se permitir entrar totalmente na meditao, pois a meditao uma espcie de morte, um tipo de morte. Consciente e voluntariamente, voc imerge no todo. Morre enquanto indivduo, enquanto ego torna-se um com a existncia no-egtica. Se voc temer a morte, temer tambm a meditao. Mas se amar a meditao, no temer a morte. Se entrar na meditao, sem temor, sem medo, tornar-se- imortal, pois no haver mais nenhuma morte para voc. Voc j estar morto, portanto, como poder morrer novamente? Aquele que entra em meditao, j morreu. Agora voc no pode morrer novamente; a morte no pode destru-lo. Voc j se rendeu; voc no mais. A morte entrar numa casa vazia. Voc no ser encontrado nela. Apenas o ego morre, no voc. Sua vida eterna, mas o ego transitrio. O ego somente um fenmeno criado, formado. Voc o criou. Ele necessrio, tem alguma utilidade. Na sociedade, voc precisa de um ego; mas na vida, na existncia, esse mesmo ego torna-se uma barreira. Sannyas significa ir alm da sociedade, pois quer dizer entregar o ego. Na sociedade, o ego necessrio. Voc precisa ter um ponto de referncia para indicar quem voc . No sannyas esse ponto de referncia no necessrio. No h necessidade de dizer quem voc ; voc pode simplesmente ser. Voc , isso tudo. No h necessidade de contar a ningum quem voc . Esse quem uma necessidade social. A existncia nunca lhe pergunta quem voc . Quando voc abandona o ego, est pronto a tornar-se um com o todo. H, na verdade, duas maneiras de se dizer a mesma 23

coisa: ou se concebe toda a existncia como uma, ou se concebe que no h nenhum ego em voc. a mesma coisa, o resultado ser o mesmo. Voc vir para uma unidade ocenica. E essa unidade, uma vez conhecida, nunca mais ser perdida. Destrua todo sentimento de separao. Torne-se apenas uma gota uma gota de gua que caiu no oceano e tornou-se uma com ele. E no tema a morte, porque, na verdade, no h morte para voc. Aquele que teme um fenmeno falso, uma entidade falsa uma entidade criada pelo sentimento de separao. Em meditao, lembre-se, voc est retornando fonte, saltando para a fonte. Est se movendo do ego para uma existncia sem ego. Na meditao, esteja pronto para morrer. Se voc puder morrer em meditao, obter a vida eterna. Tornar-se- imortal.

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Captulo 3 O Desejo de SensaoDestrua o desejo de sensao. ...Aprenda a partir da sensao e observe-a, pois somente assim voc poder se iniciar na cincia do autoconhecimento e galgar o primeiro degrau da escada. Destrua o desejo de sensao. Vivemos em busca de sensaes, ansiamos por sensaes. Estamos sempre procura de sensaes cada vez mais novas; toda a nossa vida um esforo para obter novas sensaes. Mas o que acontece? Quanto mais sensaes voc busca, menos sensvel voc se torna. A sensibilidade perdida. Parece paradoxal. Nas sensaes, a sensibilidade perdida. Ento voc necessita de mais sensaes, e esse mais aniquila cada vez mais a sua sensibilidade. Ento voc necessita de mais ainda e, finalmente, chega um momento em que todos os seus sentidos ficam embotados e mortos. O homem nunca foi to insensvel e morto quanto nos dias atuais. Antigamente, o homem era mais vivo, porque no havia tantas possibilidades de usufruir tantas sensaes. Mas agora a cincia, o progresso, a civilizao, a educao criaram inmeras oportunidades de se penetrar cada vez mais no mundo da sensao. E no final, voc se torna uma pessoa morta; sua sensibilidade est perdida. Saboreie mais comidas com mais temperos, mais picantes e seu paladar se perder. Se voc andar pelo mundo sempre procura de coisas cada vez mais bonitas, acabar cego; a sensibilidade de seus olhos se perder.

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Mude diariamente o objeto de seu amor sua namorada ou namorado, sua esposa ou marido. Se mud-los a cada dia, sua sensibilidade para amar morrer. Voc estar se movendo num terreno perigoso. Nunca ir fundo; permanecer apenas na superfcie, na periferia. Quanto mais coisas voc experimentar, menor se tornar a sua capacidade de experimentar. E ento, finalmente, quando todas as coisas ao seu redor estiverem mortas, voc desejar o divino, a bem-aventurana, a verdade. Mas um homem morto no pode experimentar o divino. Para experimentar o divino, voc precisa de total sensibilidade; precisa estar vivo. Lembre-se: apenas o semelhante pode atrair o semelhante. Se voc quer o divino o divino significa o mais vivo, o sempre-vivo, sempre-jovem, sempre-verde , se voc quer encontrar o divino, precisar estar mais vivo. Como fazer isso? Destrua todo desejo de sensao. No busque a sensao; busque a sensibilidade, torne-se mais sensvel. Essas duas coisas so diferentes. Se voc procura sensaes, procurar coisas; acumular coisas. Mas, se procura a sensibilidade, todo o trabalho dever ser feito em seus sentidos, no nas coisas. Voc no precisar acumular coisas. Voc ter que aprofundar seus sentimentos, seu corao, seus olhos, seus ouvidos, seu nariz. Cada sentido dever ser intensificado de tal modo que se torne capaz de sentir o sutil. No podemos nem sentir o grosseiro e precisamos nos tornar capazes de sentir o sutil. O mundo parece grosseiro apenas porque no podemos sentir o sutil. O invisvel oculta-se no visvel. Olhe para essas rvores. Voc olha para o grosseiro; o corpo da rvore. Voc nunca olha, nunca sente a vida interior. O crescimento! A rvore em si mesma no est crescendo; a rvore apenas um corpo. Uma outra coisa o invisvel est crescendo nela. E por causa disso, a rvore cresce. O interior est crescendo e, por causa dele, o exterior est crescendo. Mas voc olha apenas para a rvore, e assim, s o exterior visto. 26

Olhe ao seu redor. Olhe dentro dos olhos do seu amigo. Voc apenas olha para os olhos, no para aquele que v atravs deles. Toque o corpo de seu amigo. Voc apenas toca o grosseiro; nunca sente o sutil interno. Apenas o corpo, o externo sentido, pois seus olhos (seus sentidos) ficaram to embotados que no podem sentir o interno, o invisvel. Precisamos de mais sensibilidade. Busque menos sensao e cresa em sensibilidade. Quanto tocar; torne-se o toque. Quando olhar, torne-se os olhos. Quando ouvir, deixe que toda a sua conscincia venha aos ouvidos. Ao ouvir uma msica, ao escutar os pssaros, torne-se os ouvidos. Esquea tudo o mais, como se voc fosse apenas os ouvidos. V para os ouvidos com todo o seu ser. Ento, seus ouvidos tornar-se-o mais sensveis. Quando estiver olhando para alguma coisa uma flor, um belo rosto ou as estrelas torne-se os olhos. Esquea tudo o mais, como se o restante de seu corpo tivesse cessado de existir e sua conscincia tivesse se transformado apenas em olhos. Ento, seus olhos sero capazes de olhar mais profundamente e voc ser capaz de olhar tambm para o invisvel. O invisvel tambm pode ser visto, mas voc precisa de olhos mais penetrantes para v-lo. Destrua todo o desejo de sensao e cresa em sensibilidade. Preocupe-se menos com o mundo e mais com seus sentidos. Purifique-os. Quando voc no busca sensaes, seus sentidos se purificam. Ao desejar cada vez mais sensaes, estar destruindo seus sentidos. O homem que descobre o divino aquele cujos sentidos esto totalmente vivos, em sua capacidade mxima. Ento, voc no apenas pode ver o divino, mas tambm pode prov-lo, pode cheirlo. O divino pode entrar em voc atravs de qualquer um dos sentidos. S quando o divino penetrar em voc por todos os sentidos, acontecer a realizao suprema. Se voc pode apenas ver o divino, trata-se apenas de uma realizao parcial. Neste caso, voc 27

no est realmente iluminado. Se voc no pode tocar o divino, se no pode prov-lo, voc est apenas parcialmente iluminado. O uso dessas palavras parece ilgico. Saborear Deus? Ele um alimento? Sim, ele tudo. Voc pode sabore-lo, mas para isso necessita de uma capacidade muito sutil. Seu alimento simples tornar-se- divino. Atravs do alimento, o divino ser sentido. Os rishis upanishdicos disseram que o alimento Brahma. Anna Brahma. Eles devem t-lo saboreado, devem t-lo comigo. Ns pensamos que Deus um problema lgico; assim, continuamos a questionar quanto a isso, a favor ou contra. Continuamos a discutir se Deus existe ou no. Isso irrelevante. Deus no uma questo de argumento, de lgica, de raciocnio. Na verdade, Deus uma questo de sensibilidade. Se voc no o sente, torne-se mais sensvel. Nenhum pensamento lgico ser de qualquer ajuda. Torne-se mais sensvel! Se voc sensvel, ele est a. Ele sempre esteve a, mas voc no sensvel. As coisas o tornam entorpecido, as sensaes o tornam entorpecido. Destrua todo desejo de sensao. Destrua o desejo de crescimento. Este sutra muito revolucionrio, muito perigoso. Destrua o desejo de crescimento. Parece absurdo, pois se voc destruir todo o desejo de crescimento, que necessidade haver ento de crescer para o divino? Como algum poder ento alcanar a verdade, tornar-se iluminado? De que servir a meditao e todo este rebulio? Precisamos mergulhar profundamente neste sutra. Destrua o desejo de crescimento. H dois tipos de crescimento. Um, a respeito do qual voc pode fazer algo; e outro, a respeito do qual voc nada pode fazer. Para um, seu esforo necessrio; para o outro, a ausncia de esforo necessria. 28

O crescimento espiritual do segundo tipo. Seu esforo no ser de nenhuma ajuda; apenas criar barreiras. Voc nada pode fazer quanto ao crescimento espiritual. A nica coisa que voc pode fazer entregar-se, e isso um no-fazer. Voc pode apenas fazer uma coisa: permitir que o divino aja em seu interior. Pode simplesmente cooperar; isso tudo. Pode simplesmente flutuar, no necessrio nadar um profundo deixar acontecer. este o significado de Destrua o desejo de crescimento. ... Cresa como cresce a flor, inconscientemente, mas ansiosamente desejosa de abrir sua alma ao ar. Assim voc tambm deve compelir sua alma para se abrir ao eterno. Mas necessrio que seja o eterno! Mas deve ser o eterno quem induz sua fora e beleza a se expandirem, no o desejo de crescimento. Pois, no primeiro caso, voc se desenvolve na exuberncia da pureza, e no outro, voc se torna insensvel pela paixo impetuosa pelo desenvolvimento pessoal. Repetirei: Mas deve ser o eterno quem induz sua fora e beleza a se expandirem, no o desejo de crescimento porque todo desejo um obstculo, at mesmo o desejo de alcanar o divino; todo desejo uma escravido, mesmo o desejo de ser libertado. O desejo, como tal, o problema; portanto voc no pode desejar o divino. Isso contraditrio. Voc s pode desejar o mundo, no pode desejar o divino; porque o desejo o mundo, o desejo sansar. Voc no pode desejar mokcha. Quando voc est num estado de no-desejo, mokcha acontece a voc; quando voc est num estado de ausncia de desejo, a liberao acontece a voc, o divino acontece a voc.

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Permita que o divino gere tudo o que est oculto em voc. No busque o crescimento. Entregue-se, para que o crescimento acontea. O crescimento ocorrer, mas no atravs de seu esforo, e sim, de sua prpria graa. Vir por intermdio dele mesmo. H razes para que seja assim. O que for que voc fizer, nunca ser maior do que voc. No pode ser. Qualquer coisa que voc fizer ser sempre menor do que voc. O agente sempre superior ao ato. O contrrio no possvel. O pintor superior sua pintura, o meditador superior sua meditao. Tudo o que voc fizer ser sempre inferior a voc; portanto, como voc poder alcanar o divino? O divino no inferior a voc, assim, voc no pode alcan-lo atravs da qual voc pudesse alcanar Deus por seus prprios esforos, esse Deus seria inferior a voc, no superior; esse Deus no passaria de um objeto utilizvel algo que voc no seguraria em suas mos, algo que voc teria conquistado. Assim sendo, lembre-se, Deus no pode ser alcanado atravs de seus esforos. Deus pode acontecer a voc, mas no se trata de uma conquista. Assim sendo, o que pode ser feito? O que voc pode fazer por seu lado? Voc precisa fazer apenas um esforo negativo. Esse esforo negativo significa: no criar barreiras, no criar obstculos. Permanecer aberto, esperando, e pronto a se mover, pronto a ir. Se o m comear a agir, voc permitir que ele aja. Dessa maneira, qual a funo da meditao que eu tanto enfatizo? Ela serve apenas para destruir suas barreiras; um esforo negativo. Atravs da meditao voc no alcanar o divino. Atravs da meditao voc se tornar acessvel ao do divino. Atravs da meditao, voc se tornar aberto; sua prece chegar at ele. Voc estar dizendo que est pronto, que, a partir de agora, cooperar. Isso tudo o que necessrio de sua parte. Permitir, deixar acontecer, entregar-se. Atravs da vontade, nada pode ser feito. Na 30

dimenso do divino, nada pode ser feito atravs da vontade; somente atravs da entrega. E ento tudo acontece. Atravs das meditaes que estamos fazendo aqui, voc est apenas derrubando suas barreiras. por isso que enfatizo que voc deveria ser como as crianas. Volte a ser criana. Esquea sua civilizao, sua cultura, seus modos, suas posturas, sua personalidade, suas faces. Tudo isso uma fachada. Jogue-a fora! Torne-se como as criancinhas. Parecer loucura. Abandonar sua mente e retornar sua infncia parecer loucura. Pois seja louco! Seja qual for o preo, seja novamente como as crianas. Jesus diz que somente aqueles que so como crianas entraro no reino do meu Deus. Eu tambm digo o mesmo. Retorne ao ponto onde a civilizao comeou a corromplo, ao ponto onde a educao comeou a corromp-lo, ao ponto onde a sociedade penetrou em voc. Volte ao ponto onde voc era no-social, onde no havia sociedade coagindo voc. At esse ponto voc era inocente e puro e, a menos que retorne novamente at esse ponto, as barreiras permanecero. Torne-se criana novamente. Durante esse processo, voc sentir que enlouqueceu, pois estar jogando fora todos os seus valores de adulto: educao, cultura, religio, escrituras, comportamentos. Estar jogando tudo fora. Estar retornando ao ponto onde voc era voc mesmo, onde ainda nenhuma sociedade o havia corrompido. O processo todo parecer loucura, mas no . uma catarse. E se voc puder atravess-la, sair mais so, menos louco. A loucura ser jogada fora. Voc se tornar mais puro, mais so.

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Captulo 4 Desejando o inacessvelDeseje apenas o que est dentro de voc Parece absurdo, paradoxal, ilgico: Deseje apenas o que est dentro de voc. Desejamos, basicamente, aquilo que no est em ns. Desejar significa querer algo que no est em ns. Se j estivesse em ns, qual seria ento a necessidade de desej-lo? Ns nunca nos desejamos tal como somos. Sempre desejamos algo mais. Ningum deseja a si mesmo; no h necessidade. Voc j isso; no est faltando nada. Voc deseja aquilo que est faltando. O sutra diz: Deseje apenas o que est dentro de voc por muitas razes. Em primeiro lugar, se voc desejar algo que no est dentro de voc, poder obt-lo, mas ele nunca ser seu. No pode ser. Na verdade, voc nunca poder ser o senhor dele; tornar-se- apenas um escravo. O possuidor sempre possudo por suas posses. Quanto maior a quantidade de coisas possudas, maior a escravido criada. Voc possudo por suas posses e deseja ser o senhor. A frustrao se inicia porque toda a sua esperana foi frustrada. Voc chega a um ponto no qual as coisas que desejava esto presentes, tudo o que voc desejou aconteceu, mas voc se tornou o escravo. Agora, o reino parece ter se tornado uma priso, e tudo o que voc possui, ou pensa possuir, no realmente possudo, pois lhe pode ser tomado a qualquer momento. Mesmo se ningum o tomar, a morte certamente o tomar. 32

Na terminologia religiosa, aquilo que pode ser tomado pela morte no lhe pertence. A morte o critrio. H apenas um critrio para julgar se voc realmente possui alguma coisa. Julgue levando em considerao a morte, e veja se voc ainda possuir aquela coisa aps a morte. Se a morte a tomar de voc, voc nunca a possuiu. Era apenas uma iluso. H algo que a morte no lhe pode tirar? Se no h nada, ento a religio intil, sem sentido. Mas h algo que a morte no pode tomar, e esse algo est oculto dentro de voc. Voc j o possui. Se a possusse, ela poderia ser tomada. Voc ela; ela o seu prprio ser. a sua prpria base, sua existncia. isso que chamado de atman. Atman significa aquilo que voc j . Ningum pode tom-lo de voc; nem mesmo a morte pode destru-lo. O sutra diz: Deseje apenas o que est dentro de voc. Deseje o atman, deseje seu eu mais profundo, deseje o centro que voc j possui, mas do qual se esqueceu completamente. Por que o homem se esquece? Isso uma necessidade. Para sobreviver, precisa-se prestar ateno ao mundo exterior. Para sobreviver, existir, permanecer vivo, voc precisa continuar prestar ateno s coisas: comer, abrigar-se. O corpo necessita de ateno. Ele fica doente, est propenso a sofrer. O corpo est continuamente se esforando para sobreviver, porque, para o corpo, h morte. O corpo est em constante luta com a morte; portanto, uma ateno permanente deve ser dada a ele. O corpo sempre se encontra em estado de emergncia, porque a morte pode ocorrer a qualquer momento. Voc precisa estar ininterruptamente atendo e consciente acerca dessa luta contra a morte; portanto, toda a sua ateno se move para o exterior. No sobra nenhuma energia para se mover para dentro. Trata-se de uma necessidade de sobrevivncia. Por esse motivo, continuamos a esquecer que existe dentro de ns um centro imortal, um centro eterno, um centro de bem-aventurana absoluta. 33

A dor atrai a ateno; o sofrimento atrai a ateno. Se voc est com dor de cabea, sua ateno se dirige para a cabea; voc se torna consciente de que possui uma cabea. Se no h dor, voc se esquece de sua cabea. Torna-se sem cabea como se voc no tivesse cabea. O corpo sentido apenas quando est doente. Se seu corpo est absolutamente saudvel, voc no o sente. Voc fica leve. Na verdade, voc se torna incorpreo. Esse o nico critrio da autntica sade: o corpo no absolutamente sentido. Sempre que o corpo sentido, significa que h alguma doena, algum distrbio. Sua ateno reclamada. H tantos problemas oriundos do exterior que sua ateno est constantemente ocupada com ele. Por isso, voc se esquece de que alguma coisa existe exatamente no centro do seu ser, alguma coisa imortal, divina, bem-aventurada. O sutra diz: Deseje apenas o que est dentro de voc. ...Pois dentro de voc est a luz do mundo a nica luz que pode iluminar o Caminho. Se voc incapaz de perceb-la em seu interior, intil procur-la em outra parte. O sutra seguinte: Deseje apenas o que est alm de voc. Deseje apenas o que est alm de voc. Deseje sempre o impossvel, porque s atravs desse desejo voc cresce. E o que impossvel? Escalar o Monte Everest no impossvel; tampouco ir Lua. Ambos tornaram-se possveis. Algum j escalou o Everest. Mesmo se ningum o tivesse escalado, isso no seria impossvel. Difcil, mas no impossvel. Est ao alcance da capacidade humana escal-lo. Ir Lua tambm est dentro de nossa capacidade e, em 34

breve, o homem alcanar igualmente outros planetas. Isso no impossvel, apenas difcil. Algum dia tornar-se- possvel. Somente uma coisa impossvel, est alm de voc: seu eu mais profundo. Por qu? Afirmo que a Lua no to difcil de se alcanar, embora esteja to distante; e afirmo que seu eu mais profundo mais impossvel de se alcanar, embora esteja exatamente dentro de voc. Por que ento to difcil alcan-lo? Porque est dentro de voc, justamente por isso. Voc sabe apenas alcanar o que est fora. Suas mos podem alcanar o que est fora, seus olhos podem ver o que est fora. Seus sentidos abrem-se para o exterior; voc no possui sentidos que possam ajud-lo a olhar para dentro. Sua mente se move para fora; no pode se mover para dentro. por isso que a mente precisa ser abandonada. Somente ento voc pode entrar em meditao. A mente basicamente um movimento para fora. Voc pode observar isso muito facilmente. Sempre que voc pensa, est pensando em algo que est fora de voc. Seja qual for o seu pensamento, ele sempre a respeito de algo que est fora. Voc j pensou sobre alguma coisa que est dentro de voc? No h necessidade de pensar sobre algo interior, pois voc pode experiment-lo. No h necessidade de pensar a seu respeito; o pensamento um substituto. Voc pode perceber o que est dentro de voc. Est bem prximo. Basta mudar sua atitude, mudar sua direo. De fora, voc se volta para dentro, e pode experiment-lo. Qual a necessidade de pensar sobre ele? Porm, estamos sempre pensando sobre o de dentro. Pensamos sobre o que atman. Pensamos: O que o eu? Criamos filosofias e sistemas. Criamos teorias de que o eu significa isto, de que a definio esta e de que ningum tenta senti-lo. Ele est to perto de voc qual a necessidade de teorias? Teorias so necessrias para o que est distante, pois voc no pode alcan-lo neste exato momento. Precisa criar uma ponte. Precisa-se de teorias para se alcanar a Lua, mas elas no so 35

necessrias para alcanar o seu centro interior, pois no h nenhuma distncia. No h nada para se transpor; voc j est ali. necessrio apenas uma mudana de atitude, e voc pode perceber esse centro. No h necessidade de teorizar, de filosofar. Mas continuamos a criar filosofias. Criamos milhares e milhares de filosofias, e os filsofos continuam desperdiando suas vidas a pensar sobre aquilo que j se encontra dentro deles. Eles poderiam saltar para dentro a qualquer momento. Mas isso est alm. Alm dos sentidos, pois os sentidos no podem se abrir para aquilo que est dentro; eles se abrem na direo oposta. E tambm est alm da mente, pois a mente no pode conduzi-lo at ali; ela sempre o conduz a outro lugar. A mente um instrumento para o mundo; um mecanismo que permite o movimento para fora, para longe de voc. Ela serve para isso. Por essa razo, enfatiza-se tanto que em samadhi no h mente. Samadhi um estado de no-mente; a mente cessa. Nas tcnicas de meditao que estamos fazendo, todo o esforo consiste em se deixar de ser uma mente, em abandonar a mente, em parar de pensar, em atingir um instante onde no exista nenhum pensamento, onde apenas a ateno, apenas a conscincia existe. No pensar significa que no h nenhuma nuvem no cu; apenas o cu est ali. No pensar significa que no h nuvens na mente, apenas a conscincia. Nessa conscincia, voc est dentro. Quando voc est na mente, est fora; quando voc est na no-mente, est dentro. Nessa transferncia, da mente para a nomente, consiste toda a jornada. Se voc puder acrescentar no sua mente, voc alcanou o conhecimento. Por isso denominado alm. Deseje apenas o que est alm de voc alm de seus sentidos, alm da sua mente, alm de seu ego. Voc no estar ali. Seu centro mais profundo no voc; voc apenas a periferia. A periferia no pode estar no centro. Quando voc se move em 36

direo ao centro, abandona a periferia. A periferia no pode existir no centro. Ela pertence ao centro, mas existe fora do centro, ao seu redor. Tudo quanto voc conhece a seu respeito apenas a periferia: seu nome, sua identidade, sua imagem. Voc hindu ou maometano ou cristo; voc negro ou branco; voc isto ou aquilo. Seu pas, raa, cultura tudo isso pertence apenas periferia; todos os seus condicionamentos esto apenas na periferia. O mundo no pode penetrar em seu centro. Ele s pode cultivar a periferia, s pode atingir voc em sua superfcie. Apenas a sua superfcie pode ser hindu, apenas a sua superfcie pode ser crist, apenas a sua superfcie pode ser jaina. Voc no ; voc no pode ser. Somente sua superfcie pertence ndia, ou ao Paquisto, ou Amrica. Voc no pode pertencer a nenhuma nao, a nenhuma raa. Voc pertence prpria existncia. No centro, todas as divises so falsas; elas s do significantes na periferia. Tudo quanto voc conhece a respeito de si mesmo refere-se ao seu ego. Ego apenas uma palavra utilitria. Toda a sua periferia significa voc. Mas esse voc desaparecer quando voc comear a ir para dentro; esse voc se desvanecer aos poucos; esse voc desaparecer; esse voc se evaporar. Ento, surgir um momento em que voc ser, autenticamente, voc mesmo; seu velho eu no estar mais presente. Por isso que se diz: Deseje apenas o que est alm de voc... Est alm de voc, pois quando voc o alcana, voc se perde. Deseje apenas o que inacessvel. O que inacessvel? Olhe ao redor todas as coisas so acessveis. Pode ser que voc no as tenha conseguido, mas elas so acessveis. Se voc fizer o esforo necessrio, poder obt-las. Potencialmente, elas so acessveis. Alexandre construiu um grande imprio. Pode ser que voc no tenha construdo um, mas o que Alexandre pde fazer, voc tambm pode. No impossvel; no inacessvel. Pode ser que 37

voc no tenha acumulado tanta riqueza quanto Rockefeller ou algum outro, mas o que Rockefeller pde fazer, voc tambm pode. Isso humano; est ao alcance da sua capacidade. Voc pode fracassar, pode no ser capaz de obter essa riqueza, mas ela alcanvel. Seu fracasso o seu prprio fracasso; potencialmente voc poderia ter sido um sucesso; portanto, um objeto no pode ser considerado inacessvel. Assim sendo, o que inacessvel? Aquilo que no pode ser atingido? Se esse o significado, ento qual a finalidade de se desej-lo? Se algo no pode ser alcanado, ento o desejo ftil. Por que desejar o que inacessvel? O que isso significa? O significado muito profundo, muito esotrico. O significado que seu eu mais profundo inacessvel porque ele j foi alcanado. Voc no pode alcan-lo porque voc ele. No pode tornar isso uma conquista. No se trata de algo a ser alcanado. Ele j est a, voc nunca esteve longe dele. Nunca o perdeu; ele a sua prpria natureza. Ele voc, o seu ser mais profundo. Voc no pode alcan-lo; pode apenas descobri-lo. No pode chegar at ele; pode apenas reconhec-lo. No possvel invent-lo; ele j est a. No para ser adquirido; j est a. No para ser adquirido; j est a. Voc precisa apenas lhe dar a sua ateno. Precisa focar sua conscincia nele e, subitamente, aquilo que nunca foi perdido encontrado. Quando Buda alcanou a iluminao, algum lhe perguntou: O que voc alcanou?". Buda disse: Nada, porque qualquer coisa que eu tenha alcanado, sei agora que sempre esteve presente. Nunca foi perdida. Simplesmente, eu a descobri. Tomei conhecimento de um tesouro que sempre esteve dentro de mim. ... inacessvel porque reflui continuamente. penetrar a luz, mas nunca tocar a chama. Voc

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tambm inacessvel num outro sentido. Voc nunca ser capaz de dizer: Eu o alcancei (o conhecimento) pois quem dir que o alcanou? Aquele eu que pode reivindicar no existe mais. Aquele ego a periferia no existe mais. Para alcanar o conhecimento, para descobri-lo, ele precisa ser perdido. O ego precisa ser jogado fora, abandonado. Voc s pode alcanar o conhecimento quando se tornou sem ego. No pode alcanar o conhecimento com o ego, porque o prprio ego a barreira. Dessa forma, quem estar ali para reivindicar? Diz-se nos Upanishades que se algum afirma que alcanou o conhecimento, no tenha dvidas, ele no o alcanou, pois a prpria afirmao egostica. Se algum diz: Conheci Deus no tenha dvidas, ele no conheceu Deus; pois quando Deus conhecido, quem est ali para afirmar? O conhecedor se perde no prprio fenmeno do conhecimento. O conhecimento s ocorre quando o conhecedor no est presente. Quando o conhecedor est ausente, o conhecimento ocorre assim, quem lhe afirmar? Havia um monge zen, Nan-in. Algum lhe perguntou: Voc conhece a verdade?". Ele riu, mas continuou em silncio. O homem disse: No posso compreender esse riso misterioso. Tampouco posso compreender seu misterioso silncio. Use palavras. Diga-me. E seja claro. Diga-me sim ou no. Voc conhece a verdade, o divino?". Nan-in disse: Voc est tornando as coisas difceis para mim. Se eu disser sim, as escrituras dizem: Aquele que diz, Eu conheo, no conhece. Portanto, se eu disser sim, significar no. E se eu disser no, isso no ser verdadeiro. Assim, o que devo fazer? No me obrigue a usar palavras. Tornarei a rir e a manter silncio. Se voc puder compreender, timo. Se no puder compreender, timo tambm. Mas no usarei palavras. No me obrigue a isso, porque se eu disser sim, significar que no conheo, e se eu disser no, isso no ser verdade.". 39

Voc alcanar o conhecimento, mas em sua pureza. Nessa pureza, seu ego no estar presente. O ego o elemento impuro, estranho, dentro de voc apenas a poeira acumulada ao seu redor. Ele no voc. Nu, voc alcanar o conhecimento. Seu ego exatamente como suas roupas. Ele no estar presente. Deseje apenas o que inacessvel.

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Captulo 5 O Poder que o Tornar NadaDeseje ardentemente o poder. ...E o poder pelo qual o discpulo ansiar aquele que, aos olhos dos homens, o far parecer nada. Estaremos entrando cada vez mais em contradies. A linguagem da religio , obrigatoriamente, contraditria. Aparentemente, isso parece irracional. De certo modo, a religio irracional, pois vai alm da razo, transcende a razo. Este sutra diz: Deseje ardentemente o poder mas aquele poder que o torna nada. Voc se torna inexistente. Desejamos o poder a fim de nos tornarmos alguma coisa. O poder que a riqueza pode oferecer, o poder que a poltica pode fornecer, o poder que o prestgio pode fornecer. Desejamos o poder para sermos alguma coisa, e esse sutra diz: Deseje ardentemente o poder mas aquele poder que o tornar ningum, nada. H dois tipos de poder. Primeiro, aquele poder que voc pode acumular a partir dos outros aquele poder que lhe pode ser dado pelos outros ou que voc pode tomar dos outros. Ele depende dos outros. O poder que depende dos outros far com que voc se torne algum aos olhos dos outros. Voc permanecer o mesmo de antes mas, aos olhos dos outros, tornar-se- algum. Esse ser algum uma pretenso do ego. E o ego a barreira. Deseje esse poder o do segundo tipo que lhe faz sentirse ningum. difcil sentir que eu sou ningum. Todo mundo pensa que algum, quer os outros concordem ou no. Todo mundo pensa que algum! Isso ser comum; toda mente comum 41

pensa que algum. No momento em que voc compreender que ningum, tornar-se- extraordinrio, raro, uma flor nica, incomparvel. O sentimento de ser ningum cria um espao dentro de voc. O ego se dissolve, seu falso centro deixa de existir. Voc se torna espaoso. Agora, o eterno pode entrar em voc. Esse espao, esse vazio, pode permitir que a existncia floresa em voc. Voc est repleto desse sentimento de ser algum. Voc isto, voc aquilo. A mente to astuta que voc pode at mesmo tornar o ser ningum em algo importante. Vou contar-lhes uma historieta. Um imperador, um imperador maometano, estava rezando numa mesquita, num dia santificado. Ele estava orando a Deus e dizia: Eu sou ningum. Sou nada. Tenha piedade de mim. Ento, subitamente, ele ouviu um mendigo que tambm estava rezando prximo a ele. O mendigo tambm dizia: Eu sou ningum. Tenha piedade de mim. O imperador sentiu-se ofendido! Olhou para o mendigo e disse: Oua, quem voc para competir comigo? Quando eu digo, Eu sou ningum, quem mais se atreve a dizer Eu sou ningum? Quem voc para tentar competir comigo?. At mesmo no estado de ser ningum voc pode ser um competidor. Ento, o essencial, o ponto principal, perdido. O imperador no podia tolerar que um outro, diante dele, reivindicasse para si o ser ningum. Quando ele dizia para Deus que era ningum, ele no queria dizer que era ningum. Atravs do ser ningum ele estava criando o ser algum. Voc tambm pode criar o ego a partir do nada. Lembre-se de que o ego poder em relao ao mundo, mas impotncia no que se refere ao divino. Tudo o que parece ser poder no mundo impotncia na dimenso divina. Nessa dimenso, a ausncia de poder poder. Jesus sempre dizia a seus discpulos: Seja pobre de esprito. No apenas pobre, pois voc pode ser pobre sem ser pobre de riqueza. Se voc tiver um sentimento 42

egostico em relao pobreza, ento sua pobreza no pobreza. Ela no pobreza de esprito. Por isso, Jesus sempre repetia: Seja pobre, pobre de esprito. Do contrrio, voc pode ser um mendigo na rua, pode ter abandonado tudo, mas ento, voc se apega a esse fato de ter abandonado tudo; apega-se sua renncia. Transforma sua pobreza em riqueza; orgulha-se dela. Olhe para os sannyasins, os monges, os bhikkhus. Olhe em seus olhos. Eles possuem um profundo orgulho pelo fato de terem abandonado o mundo, de terem renunciado. Eles renunciaram ao mundo, mas agora sua renncia tornou-se um crdito bancrio. Orgulham-se disso; sentem-se superiores. Quando Jesus diz: Seja pobre de esprito ele quer dizer: no seja superior a ningum. Mas, lembre-se: ele no quer dizer para voc ser inferior. Esse o problema. Ele no quer dizer: seja inferior, porque se voc for inferior se sentir que inferior isso ser, outra vez, uma superioridade de cabea pra baixo, nada mais. Superioridade de ponta-cabea torna-se inferioridade. Se voc se sente inferior, a nsia de ser superior est presente. Quando Jesus diz: Seja pobre de esprito ele no quer apenas dizer: no seja superior. Ele quer dizer isso, mas tambm quer dizer: no seja inferior; seja apenas voc mesmo. No se compare aos outros; fique tranqilo consigo mesmo. Ento, voc ser ningum, porque para ser algum necessrio comparao. Como voc pode ser algum se no h comparao: Voc mais bonito, nunca simplesmente bonito. Voc jamais pode ser simplesmente bonito; sempre bonito em comparao a algum outro. Voc rico em comparao a algum outro, mais inteligente em comparao a algum outro. A superioridade e a inferioridade so sempre comparaes. Voc algum quando comparado a outros. Se no houver comparao, quem voc ser? Voc no pode ser apenas bonito, pode? Voc no pode ser apenas inteligente, pode? 43

Imagine o seguinte: Voc est sozinho na Terra; toda a humanidade desapareceu. O que voc ser? Inteligente ou tolo? Bonito ou feio? Um homem notvel ou apenas um homem comum? O que voc ser? Sozinho na Terra toda a humanidade desapareceu voc ser apenas voc mesmo. No ser capaz de dizer: Eu sou isto ou aquilo. Voc no ser algum. Voc ser ningum. O verdadeiro sannyas, a verdadeira renncia significa que voc est totalmente sozinho, como se todo o universo, toda a humanidade tivesse desaparecido. No h possibilidade de comparao. Nesse caso, quem voc? Ningum. Esse estado de ser ningum poder poder no mundo divino. Jesus diz: Aqueles que so os primeiros neste mundo, sero os ltimos no reino de Deus, e aqueles que aqui so os ltimos, sero os primeiros no reino de Deus. Aquilo que neste mundo poder, na jornada divina ausncia de poder, e aquilo que neste mundo a ausncia de poder, poder na jornada divina. Este sutra diz: Deseje ardentemente o poder mas lembrese do significado de poder. Significa uma ausncia de poder. um sentimento de ser ningum, de nada, de vazio. E o poder pelo qual o discpulo ansiar aquele que, aos olhos dos homens, o far parecer nada. Deseje fervorosamente a paz. ...A paz que voc desejar aquela paz sagrada que nada pode perturbar e na qual a alma floresce como o faz a flor sagrada nas lagoas calmas. Deseje fervorosamente a paz. Ningum deseja a paz. Voc vive falando de paz e se iludindo dizendo que a deseja, mas

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ningum a deseja porque quando a paz desejada, ela acontece, e ela no aconteceu para voc. Ningum deseja a paz. Mesmo que voc diga que deseja a paz, voc no a deseja, porque uma das leis supremas afirma: se voc deseja a paz, ela acontece. Ento, onde est o erro? Muitas pessoas me procuram. Um estudante procurou-me ele estava indo prestar seu exame final de mestrado. Perguntou-me: Como posso manter-me em paz? Como posso manter-me calmo? Ajude-me. Desejo a paz. Ando to inquieto, to tenso.". Eu lhe perguntei: Por que voc deseja a paz?". Ele disse: Desejo conseguir a melhor nota. O exame ser em breve. Sempre obtive as melhores notas, mas este ser meu ltimo exame e eu desejo obter a melhor nota. Mas se minha mente est to tensa, como vou consegui-la? Assim, ajude-me a ficar em paz.". Veja a contradio! E isso est acontecendo com todo o mundo. Eu disse ao jovem: Se no houvesse nenhum exame, se voc no sentisse nenhum desejo de tirar a melhor nota, se no tivesse nenhuma ambio de ser o melhor da classe, haveria alguma inquietao em seu interior? Sua paz seria perturbada?. Ele disse: No. No haveria motivo. No haveria nenhum problema. Eu estaria em paz. Mas agora, o exame est prximo e desejo obter a melhor nota. Assim, ajude-me a ficar em paz.". A ambio estava destruindo a sua paz. Ele permanecia preso sua ambio e ao mesmo tempo desejava a paz. A paz no pode estar a servio da ambio; impossvel, contraditrio. A ambio no pode ser pacfica. A ganncia de ser bem-sucedido no pode ser pacfica. Se voc desejar a paz, deseje-a por si mesma. No faa dela um meio para obter algo mais. Ela no pode tornar-se um meio. Quando este sutra diz: Deseje fervorosamente a paz ele se refere paz como um fim e no como um meio. Ningum deseja os meios. Os fins que so desejados e, por causa dos fins, os meios so desejados. Mas a paz no pode jamais ser um meio. Na existncia, 45

tudo aquilo que belo, verdadeiro, bom, profundo, no pode ser transformado num meio. sempre o fim. Mas at mesmo Deus desejado como um meio. Ningum deseja Deus por si mesmo; desejamos Deus por algum outro propsito. Ento, o desejo falso. isso o que quero dizer quando afirmo que ningum deseja verdadeiramente a paz, a no ser que a deseje por si mesma. Voc pode alcan-la facilmente se desej-la como um fim. Deseje-a por si mesma e ela acontece, pois no verdadeiro desejo pela paz a ambio se extingue; no verdadeiro desejo pela paz, a ansiedade desaparece; no verdadeiro desejo pela paz, a angstia desaparece. Se voc continuar a ser ambicioso desejando o sucesso, desejando ser isto ou aquilo, ser algum ento a paz no lhe acontecer. Voc continuar inquieto, dominado pela ansiedade, tenso. Continuar angustiado e nada do que fizer poder lhe ser de alguma ajuda. Assim, esteja ciente disso. Se voc quer a paz, deseje-a diretamente, como um fim. Nesse caso, o prprio desejo pela paz transformar voc. Na verdade, a paz natural. No se trata de algo que precise ser desejado. Voc, voc mesmo, a perturba. Ela j est presente. A paz natural em voc; ela o seu prprio ser. Voc a perturba devido ambio, ganncia, raiva, violncia. Ela j est presente, mas voc a perturba. No a perturbe! Se voc a deseja realmente, no a perturbe. E ento, voc comear a senti-la. Para se alcanar a paz, preciso remover tudo aquilo que a est obstruindo. Descubra por que voc no est em paz. Por qu? Ento, remova a causa. Se a ambio estiver perturbando a paz, livre-se da ambio e a paz acontecer. A paz j est presente; voc no precisa aspir-la. Torne-se apenas consciente de como voc a est perturbando, e no a perturbe; isso tudo. E ela acontecer. por isso que eu digo que quando a paz realmente desejada, ela acontece imediatamente. No se precisa esperar nem mesmo um nico instante. 46

Deseje, acima de tudo, posses. Este sutra parece muito perigoso: Deseje, acima de tudo, posses. Posses? A prpria palavra produzir uma perturbao em sua mente, pois todos os grandes mestres ensinam: no deseje posses. Buda diz: Seja no-possessivo. Mahavir diz: Aparigraha: nenhuma posse. Jesus diz: Abandone todas as riquezas, todas as posses. Jesus diz: At mesmo um camelo pode passar atravs do orifcio de uma agulha, mas um homem rico no pode passar atravs da porta do reino de meu Deus. E este sutra diz: Deseje, acima de tudo, posses. Mas o sutra belo. Ele quer dizer a mesma coisa que Mahavir, Buda e Jesus esto dizendo, mas o diz de uma maneira muito contraditria. Ele diz que todas aquelas coisas que voc considera posses no so posses, porque voc no pode possu-las realmente. Voc pode possuir as coisas? Pode possuir os outros? Pode possuir alguma coisa no mundo? Voc pode apenas se iludir de que possui alguma coisa. Na verdade, voc no pode possuir nada, pois a morte destruir tudo. Outra coisa: tudo o que voc possui, seja o que for, torna-se o seu possuidor. O possuidor possudo pelas suas posses. Voc se torna um escravo; voc no o senhor. Assim, o que adianta dizer que voc possui o mundo? Ningum possui coisa alguma. Somente uma coisa pode ser possuda: o seu prprio eu. Nada mais pode ser possudo. Voc s pode tornar-se o senhor do seu prprio eu. Se tentar ser o senhor de qualquer outra coisa, ser apenas um escravo. Voc pode considerar esta escravido como um domnio, pode rotulla de domnio, mas estar apenas se enganando. Mentiras so mentiras. O fato de se alterar o rtulo no muda nada. Olhe para as suas posses. Voc as possui? Se sua casa for destruda, voc chorar, gritar, ficar furioso; mas se voc morrer, 47

sua casa no chorar, No ficar furiosa. Assim, quem era o verdadeiro proprietrio? A casa possui voc. Ela no est nem um pouco preocupada se voc mora nela ou no. Na verdade, ela se sentir muito melhor se voc for embora. Ser mais tranqilo. Ela no depende de voc. Voc est justamente perturbando a sua paz. Se voc morrer, a casa se sentir tima. Assim, quem o possuidor? Nesse sentido, este sutra significativo: somente o eu pode ser possudo, nada mais. E se voc no pode possuir o seu eu, que mais voc pretende possuir? Assim, seja um senhor o senhor do seu prprio eu e no faa nenhum esforo para possuir coisa alguma. No quero dizer que voc deva abandonar todas as coisas. Essa no a questo. Use todas as coisas, mas no pense em termos de posse. Use a casa, mas no seja o proprietrio. Use a riqueza, mas no seja o dono dela. Use o mundo todo, mas no pense que voc o possui. Voc apenas um viajante de passagem. Quando cansado, voc descansa sob uma rvore. Mas voc no possui a rvore. E se voc no a possuir, sentir uma profunda gratido pela rvore. Ao anoitecer, quando estiver de partida, voc a agradecer. Sentir-se- agradecido porque, quando estava cansado e a estrada estava quente, a rvore deu-lhe abrigo; a rvore estava fresca. Mas no procure possuir a rvore, pois assim, voc no se sentir agradecido. Quando voc possui, no sente gratido. No possua a sua esposa, no possua o seu marido. Quando estiver cansado, sua esposa lhe dar amor. Sinta-se grato. E se voc no possuir a sua esposa, no ser possudo por ela. O relacionamento s acontece quando no h posse. Se h posse, h sempre conflito. Maridos e esposas esto sempre brigando; voc no encontrar inimigos mais profundamente envolvidos. Eles so inimigos ntimos; vivem juntos apenas para brigar um com o outro. Todo o relacionamento fica envenenado porque o marido tenta possuir a esposa e a esposa tenta possuir o marido, mas ningum pode possuir ningum; a posse impossvel. Voc pode apenas 48

possuir a si mesmo; somente isso possvel, tudo o mais impossvel. Mas quando se tenta possuir e fazer o impossvel, tudo vai mal; o relacionamento fica envenenado. A vida torna-se uma misria. Deseje, acima de tudo, posses. Mas essas posses devem pertencer somente alma pura e, portanto, serem igualmente possudas por todas as almas puras, sendo, dessa maneira, propriedade especial do todo, apenas quando unido. Deseje essas posses que podem ser possudas pela alma pura, e voc acumular riqueza para aquele esprito unido de vida que o seu nico eu verdadeiro.

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Captulo 6 Em Busca do CaminhoBusque o caminho. "... Pare e reflita um pouco. o caminho que voc deseja ou, h, em suas vises, uma vaga perspectiva de grandes alturas a serem escaladas por voc mesmo, um grande futuro a ser alcanado? Cuidado. Saiba que o caminho deve ser buscado por causa dele mesmo e no como algo que seus ps trilharo. Busque o caminho. O caminho no conhecido. Ningum pode ensinar-lhe o caminho; ele no lhe pode ser dado. O caminho no pode ser mostrado, no pode ser transmitido. Voc precisa busc-lo. Pensamos, geralmente, que devemos buscar a meta, mas que o caminho j se encontra determinado. H tantos caminhos que no h razo de se continuar a falar sobre eles; e todos levam mesma meta. A meta que precisa ser encontrada, a meta que precisa ser alcanada, no o caminho. O caminho j est mo. Na verdade, est totalmente mo, pois existem muitssimos caminhos. Mas isso no verdade, porque a meta e o caminho no so duas coisas. O prprio caminho torna-se a meta. O primeiro passo tambm o ltimo, pois o caminho e a meta no so duas coisas. O caminho, medida que se avana atravs dele, transforma-se na meta. O mais importante no pensar sobre a meta. O pensamento bsico deve ser a respeito do caminho. Descubra o caminho: Busque o caminho. Porm, nossas mentes encontram-se de tal modo condicionadas que pensamos ter recebido um caminho de nascena. 50

Uma pessoa crist, outra, hindu, e outra, maometana. Elas pensam que o caminho lhes foi dado pela sociedade, pela cultura, por sua educao. No verdade; o caminho no pode ser dado por ningum. Nem a sociedade, nem a cultura, nem a educao podem lhe dar o caminho. Voc precisar busc-lo, pois atravs da busca voc ser transformado. Um caminho que se tomou emprestado um caminho morto. Atravs dele, voc no conseguir avanar; ele no o levar a lugar algum. Voc pode acreditar nele, pode consolar-se nele, pode adiar sua jornada por causa dele pois como voc o conhece, poder trilh-lo qualquer dia , mas quando voc iniciar sua marcha, ver que o caminho que se toma emprestado, que dado, no ser de nenhuma ajuda. Voc precisar buscar o seu prprio caminho. difcil busclo; muitos erros so possveis. Mas nada se obtm sem erros; portanto, seja suficientemente corajoso para errar. Voc poder enveredar por caminhos errados, mas prefervel andar por caminhos errados do que permanecer absolutamente parado, pois pelo menos voc aprender a caminhar, aprender o que um caminho errado. Isso tambm bom, pois a excluso ser til. Voc andar por um caminho e descobrir o que est errado. Andar por outro caminho e descobrir o que est errado. Desse modo, sabendo o que est errado, voc chegar a compreender o que est certo. Portanto, no tenha medo de errar, de percorrer caminhos errados. Aqueles que tm muito medo de cometer erros e de percorrer caminhos errados ficam paralisados. Permanecem onde esto; jamais se movem. Seja corajoso e busque o seu caminho. Jamais imite o caminho de algum. A imitao no o levar liberdade. No se trata de seguir um caminho ou outro; trata-se de buscar. Seja um buscador e no um seguidor. E conhea bem a diferena. Um seguidor um imitador. Um buscador tambm segue, mas no um imitador. Um buscador tambm segue, mas segue a 51

fim de buscar, de descobrir. Ele permanece atento, permanece consciente. Um seguidor torna-se cego, torna-se dependente espiritualmente, um escravo. Joga sua responsabilidade sobre os ombros de um outro e a se pendura. Um buscador responsvel por si mesmo. Est atento, responsvel descobrindo algo novo a cada dia, experimentando algo novo a cada dia. Ele destemido, vulnervel, aberto a qualquer luz nova, pronto a ser mover em qualquer dimenso que se apresente sua viso. Se sente que o caminho no qual se move est errado, no dir: Mas investi tanto neste caminho. Agora no posso mudar. Ele abandonar o caminho, abandonar tudo que investiu nele, retornar para onde estava antes, e comear a aprender novamente o ABC. Um buscador est sempre pronto a mudar, mas um seguidor teimoso, inflexvel. Diante da luz, preferir cerrar os olhos em vez de v-la, pois ele investiu muito. Um monge jaina me procurou. Disse que fora um monge jaina durante trinta anos. Hoje eu sei que escolhi um caminho que no me serve, mas agora no posso abandon-lo porque, se o abandonar, o que farei? No tenho instruo. Fui iniciado no mosteiro quando ainda era uma criana. Estes trinta anos de vida monstica tornaram-me totalmente dependente dos outros. No posso fazer nada; no posso fazer nenhum trabalho fsico. Eu sou to respeitado! At mesmo pessoas importantes vm at mim e curvam suas cabeas. Se eu deixar de ser monge e sei agora que isso no me serve essas mesmas pessoas que hoje tocam os meus ps, no me empregaro nem mesmo como criado. Assim, o que posso fazer? H muito investimento. Todo o prestgio, respeito, honra, esto agora em jogo. Ento eu lhe disse: Se voc realmente um buscador, jogue tudo isso fora. Seja um mendigo ou um louco, mas no seja falso. Se voc sabe que esse caminho no lhe serve, ento abandone tudo aquilo que obteve atravs dele. No seja falso, no seja inautntico. 52

Ele disse: Pensarei a respeito. Mas acho difcil.". H trs anos ele vem pensando a respeito. No me procurou mais. No me procurar. Ele um seguidor, no um buscador. Um buscador abandona tudo no instante em que percebe que algo no lhe serve. No h hesitao. Este sutra diz: Busque o caminho. Seja um buscador, no um crente. Busque o caminho retirando-se para dentro. E sempre que voc se deparar com alguma coisa que o atrai, algo que seja atraente sua razo, sua lgica, sua mente que parea racional, parea ser verdadeiro lembre-se: no suficiente. Pode parecer verdadeiro sua razo, mas isso no significa que seja verdadeiro. A no ser que voc o experimente, que voc experimente algo atravs dele, nada foi descoberto. Atravs da lgica, no se descobre nada. A lgica um instrumento til, mas no a considere o critrio supremo. O critrio supremo encontra-se sempre em seu ntimo. Experimente e sinta. E, a menos que voc experimente alguma coisa, no acredita que a encontrou, que o caminho lhe foi revelado. Somente atravs da experincia que as teorias se transformam em verdade. Busque o caminho retirando-se para dentro. Sempre que voc descobrir uma tcnica, um caminho, recolha-se, v para dentro de si. Experimente-o a: em sua subjetividade, em seu corao. Experimente-o. No fique apenas refletindo sobre o que meditao. Medite! Somente assim voc poder saber o que a meditao. Uma tcnica pode no lhe servir. Abandone-a e tente outra. H centenas de tcnicas de meditao. Uma delas certamente lhe servir. A humanidade vem se esforando por sua libertao h milhares de anos e todos os tipos de homem alcanaram a libertao. Todos os tipos de homens alcanaram a libertao. Todos os tipos de tcnica foram encontradas. Voc no novo; j esteve 53

aqui antes. Muitos iguais a voc j estiveram aqui antes e trilharam o caminho. Muitas tcnicas foram descobertas. Tente. Mas seja autntico; quando tentar, tente seriamente. E tente com toda a sua energia. Se uma tcnica no lhe trouxer resultado, abandone-a e comece outra. Antigamente, quando um discpulo procurava um mestre, a primeira coisa que o mestre tentava observar era se o discpulo lhe convinha ou se ele convinha ao discpulo. Se o mestre achasse que o discpulo no devia ficar com ele, se sentisse que o discpulo poderia ser mais bem auxiliado por algum outro mestre mesmo se esse outro lhe fosse contrrio ele dizia ao discpulo: Procure aquele mestre!. O discpulo poderia dizer: Mas ouvi contar que ele contra voc; diz que tudo o que voc est fazendo errado. O mestre diria: No se incomode com o que ele diz. Ele lhe ser conveniente, o caminho dele convir a voc. Procure-o. Tente com ele. Continue tentando diferentes tcnicas, mas faa isso de todo o corao. Caso contrrio, voc poder desistir de uma tcnica que lhe serviria. Assim, tente de todo o corao. Se algo acontecer, timo. Entre nisso, entre profundamente. Porm, se voc se dedicar totalmente a ela, com toda a sua energia, e nada acontecer, ento, abandone essa tcnica; ela no lhe serve. Mas no a abandone antes de tent-la antes de entregar-se totalmente a ela. Busque o caminho retirando-se para dentro. Busque o caminho avanando corajosamente para fora. Mesmo que voc experimente uma tcnica e sinta alguma coisa em seu interior, h toda a possibilidade de se tratar apenas de uma iluso. Talvez no passe de uma projeo da mente, ou seja apenas um sonho, um desejo de realizao. No pense que voc encontrou o caminho. Seja o que for que voc tenha alcanado 54

interiormente, transforme-o agora em seu carter, viva-o. Voc j teve a experincia. Agora viva-a, transforme-a em sua prpria vida. Se sentir que a tranqilidade lhe aconteceu atravs dessa experincia, permita que ela se mova, permita que as ondulaes da tranqilidade ao redor de voc movam-se para alm de voc. Deixe que a sua tranqilidade alcance os outros. Deixe que os sonhos tambm sintam que voc se tornou aquilo. Se voc continuar exteriormente irado, mas disser: Sou um grande meditador estar apenas iludindo a si mesmo. No se iluda, no se engane, porque voc ser o nico perdedor, ningum mais. Tudo o que acontecer dentro de voc se voc achar que sentiu a luz interior... Qual o critrio para saber se iluso ou realidade? O critrio que a sua vida exterior mudar em conformidade com a interior. Se voc realmente experimentou a luz interior, o sexo desaparecer. O amor lhe acontecer, mas o sexo desaparecer; a sexualidade desaparecer. O amor, uma personalidade muito amorosa, a substituir. No haver mais desejo sexual. Se o desejo sexual permanece, voc no experimentou a luz interior. Nesse caso, a luz interior nada mais que uma projeo da mente. E assim por diante. Seja o que for que voc tenha experimentado interiormente, isso precisa ser exteriorizado. preciso que isso se mostre em sua vida, pois esse o verdadeiro teste, o verdadeiro critrio. Se voc alcanou uma profunda tranqilidade, o dio desaparecer. Se ele permanece, se no se transformou totalmente em amor, ento voc no sentiu a tranqilidade interior. Se h dio, a tranqilidade interior impossvel. Voc deve ter sentido algo cultivado, deve ter cultivado uma tranqilidade... Se voc continuar repetindo um mantra, criar uma tranqilidade que cultivada, falsa, mas sua vida exterior permanecer a mesma. Se o interior muda, o exterior tambm muda, mas o contrrio no verdadeiro. Voc pode mudar o 55

exterior e no h necessidade de que o interior mude. Esse o significado da hipocrisia. Voc pode mudar o exterior pode ser muito amoroso exteriormente e continuar cheio de dio em seu interior. Voc muda o exterior, cria uma mscara falsa, uma fachada. Pode-se observar isso por toda parte, especialmente neste pas onde tanta religio tem sido ensinada. O nico resultado final este: uma sociedade hipcrita. Mscaras, e no rostos verdadeiros. Olhe para qualquer rosto e descobrir que no verdadeiro. Alguma outra coisa se oculta por trs dele, alguma coisa inteiramente diversa. Voc pode mudar o exterior e no h necessidade de que o interior mude. Porm, se o interior muda, a mudana exterior inevitvel. Quando o interior muda, o exterior muda automaticamente. Se ele no est mudando, ento sua mudana interna no passa de uma iluso. Estes trs sutras so muito significativos: Busque o caminho Busque o caminho retirando-se para dentro. Busque o caminho avanando corajosamente para fora.

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Captulo 7 Fragmentos Sem Coerncia...Toda a natureza humana precisa ser usada sabiamente por aquele que deseja ingressar no caminho. Cada homem absolutamente por si mesmo, o caminho, a verdade e a luz. ...Busque-a pelo estudo das leis da existncia, das leis da natureza, das leis do sobrenatural: e busque-a atravs da profunda reverncia da alma pequena estrela que ilumina o interior. medida que voc observar e venerar essa luz, com serenidade e firmeza, ficar mais forte. Ento voc saber que encontrou o incio do caminho. E quando encontrar o fim, sua luz se transformar, repentinamente, na luz infinita. "... No se apavore nem se aterrorize diante da escurido interior; mantenha seus olhos fixos na pequena luz e ela crescer. Mas permita que essa escurido o ajude a compreender o desamparo dos que no vem a luz, cujas almas se encontram em profunda depresso. Toda a natureza humana precisa ser usada sabiamente por aquele que deseja ingressar no caminho. Isso muito significativo. Voc todo precisa ser usado. Qualquer fragmento que for usado criar um problema, qualquer fragmento que no for usado criar um problema. Voc pode rejeitar alguma coisa em seu interior, mas, nesse caso, nunca ser um homem total. Voc pode rejeitar a raiva, por exemplo; ou o sexo, por exemplo. Muitos mestres, muitas religies, ensinam que se deve rejeitar o sexo. Dizem que o sexo o inimigo: 57

Rejeite-o! Voc pode rejeit-lo, mas estar rejeitando uma parte bastante significativa do seu ser. E se voc a rejeita, como ela poder ser transformada? Assim, voc sempre ser um homem pela metade. Seja o que for que voc se torne, voc nunca ser total. E, no sendo total, voc nunca poder ser livre. A parte rejeitada se vingar. A parte reprimida continuar borbulhando em seu interior, tentando encontrar uma sada, e voc estar sempre inquieto. A sabedoria dos antigos diz: Use toda a sua energia. Crie uma harmonia em seu interior. Cada energia pode ser tanto destrutiva como criativa. No h nada que seja mau em si mesmo. Cada coisa pode ser usada de tal modo que at mesmo o veneno pode tornar-se um remdio. A sabedoria nunca rejeitar coisa alguma. Ela usar tudo de um modo criativo. Usar a sua raiva, o seu sexo, o seu dio. Como voc pode us-los? Como voc pode usar o seu sexo? Ele parece ser o seu inimigo mortal. Como voc pode us-lo? Trs coisas significativas devem ser lembradas. Em primeiro lugar, por que essa nsia pelo sexo? Por que o desejamos ardentemente? O que ganhamos atravs dele? Observe-o. Em breve, medida que a observao se aprofundar, o sexo se dissolver. Qual o verdadeiro significado disso tudo? Por que voc deseja tanto o sexo? Porque ele lhe proporciona um momento de profunda meditao. Ele um processo natural de meditao. No sexo, seus pensamentos cessam, sua mente se dissolve; por um instante, voc no se encontra mais na mente. Voc est ali, sem a mente. Essa ausncia de mente lhe proporciona um vislumbre da bem-aventurana. Observe o sexo; no o rejeite. Conhea-o. Entre nele com plena conscincia e procure descobrir o que ele , em sua essncia. Voc chegar at essa essncia: o sexo lhe proporciona uma espcie de instante de meditao natural. Voc fica sem pensamentos, e isso lhe traz bem-aventurana. A partir do momento em que voc descobrir essa essncia, poder entrar nesse estado sem 58

pensamentos, sem precisar do sexo. Essa essncia, esse centro profundo, poder ser alcanado sem a necessidade de sexo. Ento, aos poucos, o sexo desaparecer. A partir desse momento, a mesma energia se mover para a meditao, a mesma energia se tornar espiritual. Toda energia precisa ser usada sabiamente. Nada deve ser rejeitado. Essa uma das coisas fundamentais que ensino: nada deve ser rejeitado, nada, seja o que for. Voc tem de ingressar na espiritualidade com o seu ser total. Ns transformaremos as suas energias, transformaremos a sua disposio. Faremos novas disposies, novas harmonias. Novas sintonias sero criadas, mas nada ser rejeitado. Neste exato momento, voc um quebra-cabea: fragmentos sem nenhuma coerncia, sem nenhuma unidade interior. E cada fragmento est lutando com um outro. Voc uma multido; muitas notas musicais, mas nenhuma melodia. Essas notas podem ser dispostas numa melodia. E a menos que voc faa isso, permanecer na misria. Este sutra diz: Toda a natureza humana precisa ser usada sabiamente por aquele que deseja ingressar no caminho. Se voc quer realmente ingressar no caminho que conduz ao supremo, tem que usar toda a sua energia. Nada pode ser reprimido ou rejeitado. Cada coisa precisa ser aceita com profunda gratido.

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Captulo 8 A Quietude que Sucede TormentaEspere a flor florescer na quietude que sucede tormenta: no se adiante. Uma das leis mais fundamentais da vida precisa ser entendida. A vida baseia-se na polaridade; cada coisa existe com o seu plo oposto. De outro modo, no possvel. A mente existe devido matria; a mente o plo oposto. A conscincia existe devido inconscincia, o dia existe devido noite, a vida existe devido morte, a felicidade existe devido infelicidade, e assim por diante. Cada coisa existe devido ao seu plo oposto. Voc no pode experimentar a felicidade a no ser que tenha experimentado profundamente a infelicidade, e no pode alcanar o xtase supremo se no tiver passado pela agonia suprema. Esse o significado do mundo, o sentido de todo esse sofrimento. Ele no sem sentido. As pessoas que procuram e me perguntam por que Deus criou este mundo de sofrimento. Por que h tanto sofrimento se Deus compaixo? Sim, Deus compaixo. Por esse motivo h tanto sofrimento. A menos que voc passe atravs do sofrimento, no alcanar o xtase supremo. O sofrimento o aprendizado bsico. A infelicidade o aprendizado bsico para o florescimento supremo da felicidade. Como voc pode alcanar o xtase se no conhece a agonia? Se voc alcanar o mundo do xtase sem saber o que a agonia, no ser capaz de reconhec-lo. O reconhecimento impossvel. Somente atravs da escurido se pode reconhecer a luz. Voc pode 60

estar vivendo na luz, mas, se no conhece a escurido, no pode saber que est vivendo na luz. Um peixe do mar no pode saber que o mar existe. Somente se o peixe for lanado fora do mar que poder reconhec-lo. Se for jogado outra vez para dentro do mar, esse peixe ser totalmente diferente e o mar tambm ser totalmente diferente. A partir de ento o peixe ser capaz de reconhec-lo. Sansar, o mundo, apenas um local de aprendizado. Voc precisa entrar profundamente na matria. S assim poder retornar ao outro plo, ao pico da conscincia. Este sutra diz: Espere a flor florescer no silncio que sucede tormenta; no se adiante. O silncio real, autntico, ocorre somente depois de voc ter passado pela tormenta. Apenas quando cessa a tormenta que o silncio pode explodir dentro de voc; nunca antes. Voc pode criar uma quietude falsa, antes da tormenta; mas nesse caso estar apenas se iludindo. Voc pode criar uma quietude artificial, cultivada, imposta a partir do exterior mas ela no ser espontnea, no pertencer ao seu ser interior. H muitos artifcios para se aquietar a mente. Voc pode usar um mantra. Pode sentar-se calado na postura de Buda e ficar repetindo aum, aum, aum. Se continuar repetindo esse mantra uma, duas, trs, muitas vezes, acabar entediado. Esse tdio ter o aspecto de uma quietude. Quando voc se entediar, o mantra cessar. Uma espcie de sono interno surgir. Hipnose uma espcie de sono. Voc se sentir bem, mas esse sono no dhyana, esse sono no silncio. Esse sono simplesmente negativo. Voc se torna entorpecido em virtude da repetio. Toda repetio cria entorpecimento. Voc se torna simplesmente entorpecido. Atravs do entorpecimento voc no pode experimentar a misria, no pode 61

experimentar o sofrimento. O entorpecimento um anestsico. Ele torna voc inconsciente. Isso negativo. Sem dvida, voc ficar menos tenso, mas no estar mais vivo. A quietude autntica surge somente depois da tormenta. No force a tormenta a desaparecer. Antes, viva-a; permita que ela acontea. Traga-a p