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Depois de longa espera e muitos pedidos, sai da gráfica o novo livro da Infância e Adolescência Missionária – Subsídio para Assessores e Coordenadores de grupos de crianças.O livro, com 250 páginas (bem maior que os anteriores), traz novos e mais numerosos temas, novas ilustrações, nova diagramação mas mantém o mesmo método (quatro áreas integradas), mesmo carisma (formação da consciência missionária universal) e mesmo preço (R$ 5,00).Este subsídio substitui a série “Animando a Infância Missionária”, cujo nível I atingiu mais de 100 mil exemplares impressos.

Informações e pedIdos:Tel.: (61) 3340.4494 (falar com Renato ou Conceição)ou pelo e-mail [email protected]ícias Obras MissionáriasSGAN 905 – Conj. B – Brasília70790-050 - DF

da Teoria à PráticaNo mês missionário, a Missão:

ulminando o mês missionário, finalizou-se o Curso de Formação Missionária da Diocese de Santo Amaro, "Missão: da Teoria à Prática" iniciado em maio de 2006 no Convento Santíssima Trindade. O curso teve a assessoria de várias representantes de congrega-ções missionárias que partilharam as experiências

vividas no anúncio do Evangelho pelos cinco continentes. O Estágio Missionário foi uma experiência de partilha e prática dos conhecimentos adquiridos ao longo de seis meses, e foi reali-zado na Associação Reciclázaro (www.reciclazaro.org.br), uma entidade que acolhe a população de rua, sugerindo uma série de atividades, visando a reinserção do acolhido na sociedade. Entre

as atividades que a Associação oferece aos assistidos há uma clínica para tratamento de dependentes químicos e alcoólicos, um centro de triagem e um albergue para acolhimento do morador de rua, uma casa para acolhimento das mulheres em situação de violência, outro para acolhimento do idoso, um galpão para coleta seletiva e um espaço para oficinas de artesanato. Segundo padre José Carlos Spínola, fundador da entidade, o sucesso da Reciclázaro “se deve às diversas parcerias, quer comunitárias, sociais e governamentais que ajudaram a ONG a crescer e com ela a população que participa dos programas sociais”.

Os participantes do curso acolheram, na prática, o Cristo Vivo que existe em cada pessoa nas diferentes realidades sociais. Puderam testemunhar sua fé na convivência com os irmãos, comungar suas alegrias e tristezas, levando a esperança e a paz como sinal da presença libertadora de Jesus.

Para saber mais sobre o Curso de Formação Missionária e as datas para 2007

entre em contato com a

no telefone (11) 5660.6800 ou pelo e-mail: [email protected]

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3- Novembro 2006

SUMÁRIOnoVemBro 2006/09

MURAL DO LEITOR -------------------------------------04 Cartas

OPINIÃO -------------------------------------------------05 Recasados e Eucaristia Joaquim Justino Carreira

PRÓ-VOCAÇÕES ---------------------------------------07 Se você ama a vida, valorize o tempo Rosa Clara Franzoi

VOLTA AO MUNDO ------------------------------------08 Notícias do Mundo Fides / ZENIT

ESPIRITUALIDADE ---------------------------------------10 Renascer em Cristo para uma vida nova! Rogério Gomes

TESTEMUNHO ------------------------------------------12 O preço da Missão Rosa Clara Franzoi

FÉ E POLÍTICA ------------------------------------------14 Ignorância: o mal maior Humberto Dantas

FORMAÇÃO MISSIONÁRIA ---------------------------15 Pelos caminhos da América - Medellín Ramón Cazallas Serrano

MISSÃO HOJE ------------------------------------------19 Diálogo e Inculturação Regina da Costa Pedro

DESTAQUE DO MÊS (Entrevista dom Odilo) -------20 Campanha para Evangelização Patrícia Silva

ATUALIDADE ---------------------------------------------22 Missão com a mulher em situação de prostituição Corina de Assis

INFÂNCIA MISSIONÁRIA ------------------------------24 Nkosi sikelele Afrika! Roseane de Araújo Silva

CONEXÃO JOVEM -------------------------------------25 Quem é Deus para você? Júlio César Caldeira

ENTREVISTA DANIEL LAGNI ---------------------------26 Quando superaremos o amadorismo Jaime Carlos Patias

AMAZÔNIA ----------------------------------------------28 Cartas da Amazônia Entidades pastorais e movimentos indígenas

VOLTA AO bRASIL --------------------------------------30 Notícias do Brasil CNBB / CIMI / ITEPES

E D I T O R I A L

COMpROMISSO dOS CRIStãOS

1 - Participante do 11º Intereclesial das CEBs, Ipatinga, MG.

Foto: Jaime C. Patias

2 - Padre Daniel LagniFoto: Arquivo POM

o mês de outubro, com especial destaque para o Dia Mundial das Missões, realizou-se a Campanha Missio-nária. Fomos envolvidos por um tempo forte de fé e solidariedade em favor da Missão universal da Igreja. Tivemos a oportunidade de agradecer a Deus o dom da fé e de nos tornarmos co-responsáveis na evangelização,

aqui e além-fronteiras. Essa atitude foi acompanhada de uma coleta pelas obras de evangelização e especialmente pelas necessidades das Igrejas mais carentes (ver nessa edição entrevista com o pa-dre Daniel Lagni, p.26). Todos os países, também os mais pobres, deram a sua contribuição para este fundo de caridade, expressão concreta da verdadeira comunhão e participação entre os povos. Apesar das nossas necessidades, o “Dia das Missões” é sempre um teste de nosso amor a Deus e de nossa solidariedade para com os missionários e as missionárias que testemunham o Evangelho mundo afora. Agora, reunidas em um único fundo, as contribuições são repartidas, conforme as necessidades de cada país. Este era o espírito das primeiras comunidades: “todos os que abraçavam a fé eram unidos e colocavam em comum todas as coisas” (At 2, 44).

Na sua mensagem para a ocasião, o papa Bento XVI destacou a Caridade. Definindo-a como a “alma da Missão”, ele apontou para a raiz do espírito missionário. De fato, todas as grandes religiões apre-sentam o amor como cerne de sua doutrina. Jesus resumiu no amor a Deus e ao próximo a lei e os profetas. O apóstolo Paulo proclama: “Toda a lei se resume num só mandamento: Ame aos outros como

você ama a você mesmo” (Gl 5, 14). Na mensagem, o papa afirma: “Quem ama com o coração de Cristo não busca o próprio interesse, mas unicamente a glória do Pai e o bem do próximo. Aqui reside o segredo da fecundidade apostólica da ação missionária, que ultrapassa fronteiras e culturas, alcança os povos e se difunde até os extremos confins do mundo” (nº 3). Essa atitude, tão solicitada durante as Campanhas Missionárias, deve ser uma constante na vida dos cristãos.

No Brasil, desde o Advento de 1998, a CNBB realiza também, a Campanha de Evangelização, destina-da à sensibilização de todos os católicos sobre a participação na sustentação das atividades pastorais da Igreja no Brasil, de muitas maneiras. Uma delas é através do engajamento nas ações pastorais da comunidade. Outra é através da partilha fraterna para sustentar o trabalho evangelizador. A Campanha esse ano tem como lema “Discípulos e Missionários”, será lançada na festa de Cristo Rei, 26 de novembro, e se estende até o 3º domingo do Advento, quando será feita a coleta em todo o Brasil, nos dias 16 e 17 de dezembro (ver entrevista com Dom Odilo P. Scherer, p.20). O espírito é o mesmo: a participação e o compromisso dos fiéis na missão evangelizadora da Igreja. O fruto do gesto concreto de cada um será partilhado entre os organismos nacionais da CNBB, os seus 17 regionais e as dioce-ses. Em tempos de globalização e domínio generalizado do sistema neoliberal que privilegia, entre outras coisas, o individualismo e o acúmulo, é importante avaliar a prática missionária dos cristãos e das comunidades. Precisamos recuperar o sentido de sermos Igreja “Povo de Deus”, reunida em torno de Jesus e, ao mesmo tempo, enviada com a missão de garantir que o Evangelho ilumine a vida das pessoas e transforme a sociedade.

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Ano XXXIII - Nº 09 Novembro 2006

Rua Dom Domingos de Silos, 11002526-030 - São Paulofone/fax: (11) 6256.8820site: www.revistamissoes.org.bre-mail: [email protected]

Redação

Diretor: Jaime Carlos Patias

Editor: Maria Emerenciana Raia

Equipe de Redação: Joaquim F. Gon-çalves, Ramón Cazallas, José Tolfo e Rosa Clara Franzoi

Colaboradores: Vitor Hugo Gerhard, Lírio Girardi, Luiz Balsan, Roseane de Araújo Silva, Júlio César, Manoel Apare-cido Monteiro, Humberto Dantas, Luiz Carlos Emer, Giovanni Crippa

Agências: Adital, Adista, CIMI,CNBB, Dom Hélder, IPS, MISNA,Pulsar, Vaticano

Diagramação e Arte: Cleber P. Pires

Jornalista responsável:Maria Emerenciana Raia (MTB 17532)

Administração: Eugênio Butti

Sociedade responsável: Instituto Missões Consolata(CNPJ 60.915.477/0001-29)

Impressão: Edições LoyolaFone: (11) 6914.1922

Colaboração anual: R$ 40,00BRADESCO - AG: 545-2 CC: 38163-2Instituto Missões Consolata(a publicação anual de Missões é de 10 números)

MISSõES é produzida pelosMissionários e Missionárias da ConsolataFone: (11) 6256.7599 - São Paulo/SP (11) 6231.0500 - São Paulo/SP (95) 3224.4109 - Boa Vista/RR

Membro da PREMLA (Federação de Imprensa Missionária Latino-Americana) e da UCBC (União Cristã Brasileira de Comunicação Social)

Mural do LeitorPessoas especiais

Meu marido e eu estamos gostando demais da revista MISSÕES. Que diver-sidade de assuntos! É uma verdadeira riqueza para quem quer se aprofundar. Como professora, vou poder fazer muito bom uso de tudo. Aproveitando o encer-ramento do ano, em que na Campanha da Fraternidade se refletiu sobre “pessoas especiais”, envio-lhes uma pequena e simples experiência pessoal, vivida no contato diário com crianças portadoras da Síndrome de Down. Estar no meio delas é para mim, ter a oportunidade, todos os dias, de dar e receber muito amor. É en-tender profundamente o que é a doçura, a meiguice, porque o carinho delas é sem tamanho. É perceber um sorriso puro, embalado com os olhos brilhantes. É ter o maior respeito por um ser, que tem, sim, alguma diferença, mas que no fundo se iguala a qualquer criança, porque “todas as crianças são especiais”. É vibrar com elas, por cada pequena vitória e festejá-la como uma grande conquista, porque para elas, cada dia é uma grande etapa vencida. Eu amo minha profissão. Amo muito estas crianças, que refletem em mim o amor, a ternura e a graça do Criador.Tatiani e AlexandreItaquera, São Paulo.

Rompendo barreirasarquidiocese de Curitiba ordenasegundo padre surdo do Brasil

O dia 26 de novembro vai se tornar uma data histórica para a Igreja no Brasil. Wilson Czaia será ordenado sacerdote, tornando-se o segundo padre natisurdo (nascido com surdez profunda) do país. A cerimônia ocorre na Paróquia São Fran-cisco de Paula, pela imposição das mãos de dom Moacyr José Vitti, arcebispo me-tropolitano de Curitiba, Paraná.

Ordenado diácono no último dia 10 de junho, Wilson iniciou fazendo um discer-nimento vocacional em 1999 e atuando na Pastoral dos Surdos da capital. Em 2000 ingressou no Seminário Filosófi-co Bom Pastor. Desde então, a equipe de formadores dos seminários da Arqui-diocese vem acompanhando o caso de Wilson como uma verdadeira inclusão. Ele morou no seminário, conviveu com outros seminaristas, foi tratado como igual e teve as adaptações necessárias naquilo que lhe era próprio. Na Teologia

teve um colega de turma que interpretava todas as aulas.

Czaia demonstrou interesse em tudo, o que facilitou sua integração, e mais ain-da, provou que a surdez não é obstáculo para nada. Ele dirige muito bem, domina computador, se comunica com linguagem de sinais e com leitura labial, conversa com os outros surdos via internet e celular (enviando mensagens) e ministra curso de Batismo e de linguagem de sinais para os que querem trabalhar com surdos.

De acordo com o diácono Wilson, o maior desafio é superar preconceitos. “As pessoas confundem deficiência com incapacidade. Muitos perguntam aos meus pais: Como ele vai rezar missa? Como vai confessar? Digo que tudo isso é possível quando as pessoas estão dispostas a nos conhecer. Poderei ser padre para surdos e para ouvintes. Com os surdos é mais fácil para mim, porque é minha cultura. Mas, nada impede de atender os ouvintes. A missa não deixará de ser missa porque um surdo vai rezá-la: basta que tenham um ouvido paciente para aceitar a minha voz”, conclui.

A ordenação diaconal de Wilson Czaia também foi marcada, em Curitiba, pelo lançamento da Pastoral das Pessoas com Deficiência, que ocorreu na mesma data e local, como fruto das ações desenvolvidas pela Campanha da Fraternidade 2006 que discute a questão das pessoas com deficiência. Nascido em Curitiba, Wilson Czaia tem 37 anos. Após a ordenação, dia 26 de novembro, ele celebra com surdos de diversas regiões do país.

O último padre surdo profundo a ser ordenado foi o monsenhor Vicente Bur-nier, em 1951, em Juiz de Fora. Ele foi o primeiro do Brasil e o segundo do mundo. O primeiro do mundo foi um francês, padre Jean de La Fonta em 1921. No mundo há padres natisurdos nos Estados Unidos, Coréia e África do Sul.

De acordo com o IBGE, há cerca de 26 mil surdos em Curitiba. No Brasil, são cerca de 5,7 milhões. No Paraná, das 16 dioceses, 10 já trabalham com comunida-des de surdos na catequese, ensinando a linguagem de sinais para interpretar as missas e ajudando na promoção humana e conquista de seus direitos.

Assessoria de Imprensa da Arquidiocese de Curitiba.

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Recasados e Eucaristiamatrimônio e a família são obras de Deus com a Criação, cuja essência e deveres são definidos pelo amor e cujas propriedades essenciais são a unidade e a indissolubilidade. O pacto matrimonial por sua índole natural é ordenado para o bem dos cônjuges e deve ser aberto à geração e educação da prole. A

unidade significa que uma pessoa não pode estar ligada simul-taneamente por dois vínculos conjugais. A indissolubilidade é a impossibilidade da dissolução do vínculo conjugal, a não ser pela morte de um dos cônjuges. A poligamia é contrária à igualdade e dignidade do amor conjugal, que é único e exclusivo.

E os católicos que se separam e se casam novamente?Ensina-nos o Catecismo da Igreja Católica no n. 1650: “são

numerosos os católicos que recorrem ao divórcio segundo as leis civis e que contraem nova união. A Igreja por fidelidade à palavra de Jesus Cristo (“todo aquele que repudiar a sua mulher e desposar outra comete adultério contra a primeira; e se essa repudiar o seu marido e desposar outro comete adultério”; Mc 10, 11-12), mantém-se firme em não reconhecer válida uma nova união, se o primeiro casamento foi válido. Se os divorciados tornam a casar-se no civil, ficam numa situação que contraria objetivamente a lei de Deus. Portanto, não podem ter acesso à comunhão eucarística, enquanto perdurar esta situação”.

Essa norma não é algo desumano. É apenas decorrência da verdade sobre os sacramentos cuja infidelidade a um, ex-clui a possibilidade dos outros. Não é discriminação, pois os sacramentos não são direitos nossos, mas dons de Deus que supõem as devidas disposições e coerência com os significados e finalidades de cada um deles.

Podem e devem participar da missa, ouvir a Palavra de Deus, perseverar na oração, fazer a sua comunhão espiritual, educar os seus filhos na fé, fazer obras de caridade e de justiça.

Ode Joaquim Justino Carreira Tanto os sacerdotes, como toda a comunidade cristã devem

dar prova de amor e solicitude para com todos os batizados, para que ninguém se considere excluído e separado da Igreja, apesar de sua situação conjugal estar em desacordo com o projeto de Deus sobre o matrimônio e a família. A Igreja deve trabalhar muito na evangelização e não apenas na sacramentalização. Todas as dificuldades da vida podem ser vencidas através de uma vida cristã coerente que envolve o físico, o psíquico e o espiritual, envolve a pessoa toda e todas as pessoas. É preciso que as paróquias tenham a Pastoral Familiar com seus três se-tores: pré-matrimonial, pós-matrimonial e situações especiais. Assim as pessoas poderão entender melhor o que vão fazer ao casar-se, ter ajuda para viver bem o casamento e ter o apoio necessário nas dificuldades.

A Igreja anula casamentos?Não. Um casamento válido e consumado é para toda a vida.

O que pode acontecer é que o casamento, por circunstâncias diversas, seja nulo. Para isso existem os Tribunais Eclesiásticos que, analisando as circunstâncias concretas em questão podem declarar que “houve casamento” ou que “não houve casamento”. Entre os motivos de declaração de nulidade matrimonial estão: falta do uso da razão, imaturidade, causas de natureza psíqui-ca, exclusão da comunhão de vida, condições colocadas, dolo, erro de pessoa, medo reverencial, violência e outros. A parte interessada procura o Tribunal Eclesiástico que estudará caso por caso e dará as devidas orientações. Concluindo: a Igreja não anula e nem pode anular um casamento válido. Porém, se não houve casamento, a Igreja declara que esse casamento é nulo, ou seja, não houve um casamento verdadeiro por falta de elementos necessários que caracterizam a união matrimonial: união de amor para sempre, através do consentimento livre, aberto à vida e à educação dos filhos.

Joaquim Justino Carreira é bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, Região Santana.

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X Encontro de Pastoral

Igreja da América Latina e do Caribe celebra 25 anos da Pastoral Afro. Esta vem se fortalecendo através dos Encontros de Pastoral Afro (EPA), realizados nos diferentes países do continente desde 1980. Eles são uma iniciativa da Igreja que peregrina na América Latina, orientada a incrementar o processo de inculturação do

Evangelho no seio das culturas afro-americanas e caribenhas, propiciando assim o surgimento e fortalecimento de uma Igreja com rosto próprio dos povos nos quais se encontram as sementes do Reino, como nos recorda a Encíclica Redemptoris Missio.

O X EPA será realizado de 5 a 10 de novembro, na cidade de Río Chico, diocese de Guarenas - Estado Miranda - Venezuela. Ele é organizado pelo Secretariado de Pastoral Afro-Americano, da Conferência Episcopal Latino-Americana (SEPAFRO-CE-LAM), que tem como integrantes dom Gustavo Garcia, bispo de

Guarenas e anfitrião, e representantes de vários países do con-tinente.

O Encontro tem como tema “Jovens afro-americanos: her-deiros e construtores de uma sociedade in-cludente, a partir da sua identidade e seus

valores religiosos e socioculturais”. Este tema se fundamenta na Boa Nova de Jesus Cristo, que foi acolhida em primeiro lugar pelos jovens negros que ao entrar em contato com este movimento (EPA), sentiram-se chamados a se unir à sua causa libertadora, reconhecendo-se como agentes de mudanças num mundo que continua praticando a exclusão humana e cultural. Relendo sua história pessoal e de seus povos, os jovens op-taram por seguir Jesus, solidário com sua causa, confirmada pelo testemunho dos ancestrais. Esses Encontros despertam a consciência e a identidade dos afrodecendentes que por séculos foram silenciados e segregados, vivendo em situações de marginalização e exclusão.

O que se espera do X EPAOs objetivos deste X EPA são dois: conscientizar e acom-

panhar dentro da comunidade os jovens negros e as jovens negras no crescimento de sua fé, trabalho eclesial e iniciativas de transformação, necessárias numa sociedade com desigualda-des sociopolíticas, econômicas e culturais (Cfr. SD, 112; Linhas Pastorais Afro-Continentais, desafio 4, pág 17, da tradução brasileira); e refletir e elaborar contribuições, necessidades, urgências e compromissos da Pastoral Afro-Americana-Caribe-nha, a fim de serem apresentadas aos bispos na V Conferência Episcopal Latino-Americana-Caribenha.

Diante deste evento eclesial, a Igreja Latino-Americana e do Caribe, e a Igreja particular ve-nezuelana, vivem um momento de kairós, de graça do Senhor. Através dele, os jovens afros, herdeiros e construtores de uma sociedade includente, desde a sua própia identidade, querem viver seu compromisso como Igreja que responde ao convite do saudoso papa João Paulo II, para avançar mar adentro, contando com a força do Espírito, o qual foi enviado no Pentecostes e que hoje nos impele a partir, animados pela esperança “que não engana” (Rom. 5,5) (Novo Millenio Ineunte nº 58).

representatividade Para poder garantir uma maior participação e representa-

tividade proporcional, as vagas foram distribuídas da seguinte maneira: Bolívia 5; Brasil 40; Colômbia 30; Costa Rica 5; Equador 30; Estados Unidos 5; Haiti 10; Honduras 5; Panamá 30; Peru 20; Uruguai 5; Venezuela 80; México, Guatemala, El Salvador, Cuba, Antilhas, República Dominicana, Paraguai, Chile, Argentina e Porto Rico 1 pessoa por país. TOTAL: 275

Serão convidados: bispos, CELAM, SEPAC, AFRO-CLAR e africanos. Pela distribuição percebe-se a importância dada ao Brasil, já que o país é a maior nação negra fora do continente africano e a segunda do mundo.

Joakim Kamau e Lisandro Rivas, com informações da organização do X EPA.

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Encontro da Pastoral Afro, SP.

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Se você ama a vida,valorize o tempo

de Rosa Clara Franzoi

ocê já reparou que há pessoas que vivem a vida como meros espectadores, vendo a banda passar? E também, há pessoas que vivem a vida dos outros: “não faço isso, não vou àquele lugar, não compro o que gosto... porque o que dirão de mim, o que pensarão, como me julgarão?” Quanto tempo desperdiçado! As

pessoas que assim agem, é como se estivessem paralisadas e nunca chegarão a lugar algum. O dom da vida que recebemos gratuitamente está em nossas mãos, e Deus, o seu autor, quer que lhe demos direção e sentido. Nós só conseguiremos isso, se vivermos atentos, se soubermos tirar lições de vida de tudo o que vai acontecendo ao longo do caminho e se soubermos aproveitar as chances que favorecem a construção do nosso futuro. Quando você sente em seu coração que é capaz, que tem condições para fazer algo, não espere! Crie coragem e comece já. Deixar sempre para depois pode ser tarde!

Oportunidade desperdiçadaNuma de suas solitárias viagens à Antártida, Amyr Klink

certo dia começou a ouvir ruídos que se assemelhavam à fritura. Prestou bem atenção e logo descobriu que aqueles sons eram emitidos por cristais congelados de água doce quando entravam em contato com a água salgada do mar. E mais: o efeito visual daquela cena era simplesmente deslumbrante. A primeira reação do navegador foi a de ir buscar a filmadora e imortalizar aquela beleza, difícil de se descrever. Mas, logo pensou: calma, você tem pela frente muitos meses para fazer isso. Depois de alguns instantes aquele encanto desapareceu. Ele mesmo conta que em todos os sete meses que lá permaneceu, aquele fenômeno nunca mais se repetiu.

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Quer ser um missionário/a?

Irmãs Missionárias da Consolata - Ir. Dinalva MoratelliAv. Parada Pinto, 3002 - Mandaqui02611-001 - São Paulo - SPTel. (11) 6231-0500 - e-mail: [email protected]

Centro Missionário “José Allamano” - Pe. José TolfoRua Itá, 381 - Pedra Branca02636-030 - São Paulo - SPTel. (11) 6232-2383 - e-mail: [email protected]

Missionários da Consolata - Pe. César AvellanedaRua da Igreja, 70-A - CXP 325369072-970 - Manaus - AMTel. (92) 624-3044 - e-mail: [email protected]

Você viu o que pode acontecer quando se tem o costume de deixar tudo para depois? Não é verdade que isso também acontece com a gente, especialmente quando nos encontramos diante de uma decisão importante a tomar? Dizemos a nós mesmos: “ah, agora não... mais adiante... no próximo ano...” Acontece, porém, que o tempo não fica esperando; ele vai adiante de maneira vertiginosa e aquelas oportunidades que poderiam ser a hora exata de um salto corajoso em direção ao futuro, dando vida e sentido... já se foi, e não mais voltará. Poderão vir outras chances, mas aquela, nunca mais.

Determinação e ousadiaO que faltou? Faltou mais determinação, coragem, ousadia.

A insegurança, o medo do novo, a acomodação, geralmente são fatores que retardam decisões importantes na vida das pessoas. Precisamos ser mais ousados, mais corajosos. Lair Ribeiro escreveu: “A ousadia traz sempre consigo um pouco de genialidade”. Isto deve nos animar no esforço para nos libertar de tanta coisa que nos mantém na mesmice de sempre. Vida parada, sem desafios, sem crescimento, não tem graça nenhuma. Pense nisso e use esta frase como uma injeção de coragem e determinação, especialmente, quando estiver diante de algo importante para ser decidido e assumido. Dê o primeiro passo e outros se seguirão. Você irá até se surpreender de si mesmo. Ame a vida, valorizando mais o tempo; porque é desse material que ela é feita. Pode ajudar na reflexão o texto da segunda carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 2, versículos 24-26.

Rosa Clara Franzoi é irmã missionária e animadora vocacional.

Quando você acha que pode fazer algo, não espere, comece já!

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Malauí A Igreja cresce e enfrenta desafios

“A Igreja está crescendo, o número de fiéis está aumentando e todos os anos são criadas novas paróquias. Mas, ao mesmo tempo, devemos fazer frente a desafios sempre novos, porque os problemas da população são os nossos, como as catástrofes naturais”, afirmou o padre Joseph Mpinganjira, Se-cretário-Geral da Conferência Episcopal de Malauí. “Nos últimos três anos, o país sofreu com uma penúria gravíssima, que colocou em perigo a vida de quase metade da população”, continuou o padre Joseph. “Graças à ajuda de organizações como Caritas Inter-nationalis e outros organismos católicos, conseguimos oferecer uma ajuda concreta à população. A nossa preocupação atual é tornar as pessoas capazes de enfrentar novas emergências alimentares com seus próprios meios, sem depender da ajuda externa. Um outro problema muito grave é a difusão do vírus HIV. Vemos demasiadas pessoas morrer todos os dias por causa da pandemia. Também muitos católicos estão infectados com o vírus. Nesse sentido, podemos dizer, infelizmente, que também a Igreja, enquanto comu-nidade de pessoas, está infectada por essa terrível doença. Mas, a própria Igreja produziu anticorpos para tentar, ao menos, limitar os danos do HIV. Refiro-me aos hospitais dos missionários que cuidam das pessoas infectadas e aos orfanatos que acolhem as crianças que perderam os pais por causa da doença. Há também os soropositivos, que perderam o traba-lho. Tentamos criar empregos para estas pessoas que ainda não desenvolveram a doença, mas que já estão perdendo as esperanças e a dignidade, porque não trabalham. Temos também o problema daqueles que não foram contagiados: como prevenir a ulterior difusão da doença, especialmente entre os jovens?” – questionou padre Joseph. “A única prevenção difundida no país é o uso do preservativo. Mas esta não é a resposta. É preciso mudar o comportamento sexual das pessoas, explicando-lhes a importância da sexualidade vivida de modo responsável e numa verdadeira dimensão de amor, segundo o desígnio de Deus”. Em relação ao futuro da missão em Malauí, padre Joseph explicou: “olhando o passado, não po-demos ignorar o papel fundamental desempenhado pelos missionários em nosso país, mas hoje, notamos Fontes: Fides, ZENIT.

a forte redução de sua presença. A Igreja local deve assumir seu lugar. Isto pressupõe a promoção das vocações. Notamos um forte sucesso neste campo: as vocações estão aumentando. Por outro lado, surge a questão da formação de novos sacerdotes. Precisamos de recursos para manter os seminários. É um desafio que deve ser enfrentado primeiramente por nós, pela Igreja local”.

EspanhaCongresso Mundial de Televisões

No I Congresso Mundial de Televisões Católicas, em Madri, de 10 a 12 de outubro, foram analisados os desafios tecnológicos do presente e do futuro e iniciaram-se ou fortaleceram-se redes de cooperação concreta com produtos de televisão. O “Banco de Programas” é um exemplo. Reuniu, durante os três dias de Congresso, 139 reportagens ou documentários provenientes de diferentes partes do mundo. Uma equipe do Conselho Pontifício para as Comunicações Sociais agrupou esses títulos e colocará em andamento, num futuro próximo, o intercâmbio com as televisões ou canais que deixaram programas no “Banco”. O projeto “quer agilizar a cooperação entre os parceiros, utilizando a banda larga para o envio e recepção de programas de televisão”. Outra proposta que ilustra a rede é o Centro Televisivo Vaticano (CTV). Seu dire-tor, padre Federico Lombardi, apresentou os serviços que pode prestar: captação, ao vivo, das celebrações no Vaticano e reportagens de audiências do papa e momentos significativos da Cúria Romana. Depois, o CTV “precisa” dos canais de televisão, católicos ou não, para fazer chegar ao público de todos os continentes o que acontece no Vaticano.

PeruCurso de atualização missionária

O Centro Nacional Missionário (CENAMIS), or-ganismo da Comissão Episcopal das Missões da Conferência Episcopal Peruana, promoveu um curso de “Atualização Missionária”, nos 40 anos do Decreto Conciliar Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja. O objetivo principal é oferecer orientação e formação missionária a sacerdotes, religiosos, religio-sas, agentes pastorais, catequistas e leigos de todo o país, que de alguma forma são engajados no trabalho missionário. O curso realizou-se entre os dias 2 e 6 de outubro, na sede das Pontifícias Obras Missionárias do Peru. Entre os temas abordados estavam: a Missão Ad Gentes na história da Igreja da América Latina e do Caribe; dimensão da Igreja local diante da Missão: a Missão na dimensão catequética, a Missão na dimensão litúrgica, a Missão no empenho transformador; Novos desafios da Missão Ad Gentes: os meios de Comuni-cação Social, globalização e opção pelos pobres.

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INTENÇÃO MISSIONÁRIAPara que com o esforço dos crentes, unidos às forças vivas da sociedade, se possam quebrar

as novas e velhas correntes que impedem o desenvolvimento do continente africano.

de Vitor Hugo Gerhard

Decreto Conciliar Ad Gentes não pode ser esque-cido, pois não perde sua atualidade. Quando fala da presença dos cristãos leigos no mundo, nos dá uma série de pistas interessantes. Vejamos:“O principal dever dos homens e mulheres, é o teste-

munho de Cristo, que eles têm obrigação de dar, pela sua vida e palavras, na família, no grupo social, no meio profissional. É necessário que se manifeste neles o homem novo criado segun-do Deus em justiça e santidade verdadeiras. Devem exprimir esta novidade de vida no meio social e cultural da sua pátria, em conformidade com as tradições nacionais. Devem conhecer esta cultura, purificá-la, conservá-la, desenvolvê-la segundo as novas situações, enfim, dar-lhe a sua perfeição em Cristo, a fim que a fé em Cristo e a vida da Igreja deixem de ser estranhas à sociedade em que vivem, mas, comecem a penetrá-la e a trans-formá-la. Devem unir-se aos seus concidadãos com caridade sincera, a fim de que no seu comportamento apareça um novo laço de unidade e de solidariedade universal, haurida no mistério de Cristo. Devem transmitir a fé em Cristo também àqueles a quem estão ligados pela vida e profissão; esta obrigação impõe-se tanto mais quanto a maior parte dos homens não pode ouvir o Evangelho e conhecer a Cristo senão pelos seus vizinhos leigos” .

Lido com atenção, este parágrafo pode nos ajudar a entender melhor a segunda parte na formulação da intenção missionária. As velhas e novas correntes que amarram o continente africano são conhecidas. Mesmo não sendo sociólogo ou analista da realidade, posso sugerir que: o desenvolvimento econômico e a justa distribuição das riquezas por ele geradas necessitam ser levados adiante em toda a África, para que as profundas

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I Congresso Missionário Asiáticontre os dias 18 e 22 de outubro, realizou-se o I Congres-so Missionário Asiático em Chiang Mai, na Tailândia. Segundo o padre Saturnino Dias, sacerdote indiano de Goa e Secretário Executivo do Departamento para a Evangelização da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas “o ano de 2006 tem particulares motivações

missionárias, que requerem um empenho maior por parte de bispos, sacerdotes, religiosos e leigos, mais do que o normal”. Estiveram presentes no Congresso observadores do Líbano, de Jerusalém e da Síria, mostrando uma Igreja capaz de tes-temunhar a fé em Jesus Cristo, não obstante dificuldades e incompreensões. Destacou-se também a presença de delega-

Edos de países de grande maioria islâmica como Paquistão e Malásia, ou de países da ex-União Soviética como Uzbequistão e Cazaquistão, ou testemunhos de uma pequena comunidade cristã como a da Mongólia, presente no Congresso com 14 delegados e uma mostra sobre as atividades da Igreja naquele país. O Congresso se inspirou na riqueza das diversidades reunidas na consciência de ser uma única Igreja. De fato, não houve uma temática específica, com exceção da comunicação recíproca da História de Jesus. A participação não foi diversa apenas nas nacionalidades, mas também pelo fato de que dos 1.047 participantes, 74 eram cardeais, bispos e arcebispos, 385 sacerdotes,190 religiosos/as e 398 leigos. Fonte: Fides

desigualdades sociais e econômicas possam, aos poucos, ser diminuídas; moradia, educação e saúde são direitos inalienáveis dos povos e nações e de cada cidadão singular. Nestes campos da promoção humana, cristãos e não-cristãos têm muito a contri-buir para que as gerações de hoje e aquelas que virão, possam ser elevadas àquela dignidade inerente a todo o ser humano; a articulação e a convivência harmônica e pacífica entre os grupos étnicos no continente africano carecem ainda de muito trabalho. É bem verdade que a história passada e recente deixou marcas e feridas abertas. Entretanto, sem esta busca sincera de fra-ternidade entre povos não se alcançará a vocação deste conti-nente diante da aldeia global que o nosso mundo passou a ser.

Estes são apenas alguns pequenos pontos de reflexão de alguém que não é especialista no campo das relações interna-cionais, mas de um crente que procura sempre olhar o mundo com os olhos da fé, da esperança e da caridade, na firme certeza que um dia “haverá um só rebanho e um só Pastor”.

Vitor Hugo Gerhard é sacerdote e coordenador de pastoral da Diocese de Novo Hamburgo, RS.A

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Refugiados no Sudão.

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Novembro 2006 -

Somente quem tem profunda fé na vida, consegue renunciar a ela e se preparar para morrer com

serenidade e sabedoria.

de Rogério Gomes

odo ser humano convive com a vida e com a morte. Estas duas realidades opostas fazem parte da experiência humana. Só é possível a vida, passando-se pela crise da morte. Ao sair do ventre

materno, morre-se para aquele mundo seguro, protegido, mas que, ao seu tempo, expulsa a vida, senão ela morre. A criança ao se tornar adolescente e adulta expe-

trimenta uma morte, caso contrário, está fadada a ser eternamente imatura. Estas “mortes” são compreendidas de um modo tranqüilo por todas as pessoas, pois não implicam experiência existencial profunda, diferentemente do deixar de existir neste mundo, fenômeno que afeta todos os seres humanos. A morte é algo que interrompe a vida, projetos, sonhos de uma pessoa e afeta todo o círculo relacional de quem conviveu com ela – familiares, amigos etc. Faz parte das perdas existenciais significativas.

Um mistérioEsta é a maior certeza que podemos

ter na vida: a incerteza de quando e como a morte vem. Se uma pessoa se apegasse a essa realidade seria um passo para a neurose. Portanto, a morte coexiste com a vida e consiste num dos grandes mistérios que ao ser humano não é possível des-vendar. Não conseguimos dar uma palavra final sobre o que acontece depois, está na dinâmica do mistério, porque aqueles que já morreram nunca se comunicaram conosco. Há um silêncio abissal, angus-

para uma vida nova!Renascer em Cristo

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bem como compartilhá-la com o próximo, na sua profunda totalidade. A existência inautêntica é a banalização da vida, des-valorizada, sem sentido, legada ao vazio existencial.

Totalidade do ser humanoDiante disso, a crença na vida pós-

morte, ressurreição, não seria apenas um subterfúgio, uma metáfora ou um eufemismo para nos livrar da dura reali-dade que é a morte? Não, conforme os ensinamentos da fé cristã! A verdade é que a nossa fé arremessa-nos para a crença na vida nova, de modo que a morte não passa a ser o abismo intransponível, mas o desvelamento de um novo ser humano habitante em Deus e que tem nele uma vida nova. Deste modo, a experiência da morte é a da semente lançada na terra que desaparece para gerar uma vida nova. Somos esta semente que um dia voltará à terra para florescer nos jardins do Criador e Nele, ser recriada de uma maneira que não se compreende a não ser pela dinâmica da fé.

Na concepção bíblica, a morte é algo que abrange a totalidade do ser humano e a transformação inteira do seu ser. A

idéia de vida após a morte começa a ficar clara no século II a.C, embora as Escrituras sempre mencionem a realidade da morte. Em Dn 12, 2 há uma afirmação clara da ressurreição, onde encontramos a expressão vida eterna: “e muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão: uns para a vida eterna e outros para a vergonha e a infâmia eterna”. Em 2Mc 7, 9 aparece esta afirmação: “ao exalar o último suspiro, disse: tu, ó criminoso, nos excluis da vida presente, mas o Rei do universo nos fará ressurgir para uma vida eterna a nós que morremos por suas leis”. É em Jesus que tudo isso se plenifica ao afirmar: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais (Jo, 11, 25s). Paulo nos diz que se morremos com Cristo, viveremos com Ele (Rm, 8).

Arte de viver e de morrerAo afirmarmos crer na vida pós-morte e

isso professarmos, devemos perguntar-nos como estamos preparando-nos para a res-

surreição. Caímos no risco de deixá-la para o amanhã e esquecermos das experiências de ressurreição em nosso cotidiano: o sol que todos os dias se levanta no horizonte, o despertar de cada dia, a flor que desabrocha, a vida que nasce, o sorriso que se abre, a doença curada, a esperança de um dia melhor, a utopia do amor que dispensamos a quem amamos e perdoamos. Assim, a ressurreição acontece, em primeiro lugar, na simplicidade das pequenas coisas da vida. Afinal, somente quem tem profunda fé na vida, consegue viver, e somente quem a torna dádiva, a ars vivendi (arte de viver), sabe renunciá-la e se prepara para a ars moriendi (arte de morrer) na serenidade e na sabedoria. Portanto, a intensidade da ars vivendi projeta-nos para o kairós da ars moriendi!

Muitas pessoas compreendem a res-surreição como algo distante – algo para o futuro. Ao contrário, ela começa a partir do momento de nossa existência, com as nossas atitudes que geram vida. São as pequenas ressurreições cotidianas. É a partir delas que compreendemos a nossa grande ressurreição em Jesus Cristo, Vida Plena, que jamais será aniquilada. A ressurreição é a transformação de uma maneira de ser para outra, isto é, a forma muda, mas o ser da pessoa permanece e a forma exterior não é a do corpo atual. Não se pode entendê-la como revitali-zação de um cadáver. A experiência da morte-ressurreição é o momento que nos tornamos definitivos, adquirimos a plenitude da liberdade e do conhecimento, porque passamos a ver a realidade com o olhar de Deus. À luz da própria Ressurreição de Jesus devemos compreender a nos-sa ressurreição. Ela é um processo em que somos assumidos no próprio Cristo Jesus, na sua morte e ressurreição e, sem jamais esquecer-nos das nossas ressurreições cotidianas que acontecem em nossa vida. As atitudes de bondade, de acolhimento e de amor ao próximo são evidências da ressurreição na vida humana! “A ressurreição está acontecendo; é um processo em curso. Um coração se abriu ao outro coração no amor e no perdão? Aí aconteceu a ressurreição! Criaram os homens relações entre si mais justas e fraternas? Aí se realizou a ressurreição! Houve algum crescimento da vida, espe-cialmente dos oprimidos e condenados? Aí se manifestou a ressurreição! Morreu alguém na bondade da vida ou sacrificado em favor de seus irmãos? Aí se inaugurou plenamente a ressurreição!”, conforme interpretou Leonardo Boff.

Rogério Gomes é sacerdote redentorista, autor de vários artigos em jornais e revistas de Teologia e trabalha na formação dos semina-ristas, no Instituto Filosófico São Clemente, Campinas, SP.

tiante e a saudade prolonga-se pelo tempo com a esperança do encontro.

O filósofo alemão contemporâneo, Heidegger (1889-1976), afirma que o ser humano é um ser-para-a-morte e que podemos ter uma existência autêntica ou inautêntica. A morte nos faz refletir sobre a vida, e quanto mais intensamente vivermos, mais teremos uma existência autêntica perante o mundo que habita-mos. Do ponto de vista da fé cristã, viver autenticamente consiste em valorizar a vida como dádiva e vivê-la dignamente,

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Nossa fé arremessa-nos para a crença na vida nova, de modo que a morte não passa a ser o abismo

intransponível, mas o desvelamento de um novo ser humano habitante em Deus e que tem nele uma vida nova.

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O preço da Missãode Rosa Clara Franzoi

a manhã de 21 de setembro de 2006, a igreja da Consolata no Quênia estava repleta de gente para a missa de 7º dia de Ir. Leonella. Presentes autori-dades do país, representantes

da Comunidade Européia e das Nações Unidas, o embaixador da Itália, os res-ponsáveis pelo “SOS Children Village” da Somália, o secretário do Núncio Apostólico, um grande número de religiosas, sacer-dotes e três bispos. O enviado especial do governo italiano na Somália tomou a palavra e fez referência a um telegrama enviado pelas Cortes Islâmicas à família de Ir. Leonella e ao governo italiano. O teor era de repúdio ao ato brutal contra a missionária, julgando-o intolerável e contra o esforço no processo de paz do país. Os chefes islâmicos agradeceram o incansável e precioso trabalho de Ir. Leonella desen-volvido na Somália. Prometeram fazer o possível para a elucidação do episódio e a tomada de providências. Autoridades e povo, em silencioso respeito, todos estavam com o olhar dirigido ao centro da igreja onde, numa urna branca, jazia o corpo

da missionária tragicamente assassinada enquanto desempenhava sua missão em favor dos somalis.

Quem foi Ir. Leonella?Nascida em Piacenza, norte da Itália,

em 1940, estava na Somália apenas há quatro anos. No Quênia havia desenvolvi-do, por muitos anos, uma intensa atividade

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missionária, entre outras, a formação de novos enfermeiros e enfermeiras. Exercia esta profissão com verdadeira paixão. Ao chegar na Somália, como fizera no Quênia, mesmo enfrentando muitas dificuldades, organizou e deu início a um curso de enfermagem. Teve que lutar muito junto às autoridades locais para o reconhecimento do curso e para

“Se foi possível morrer junto, por que não deve ser possível

viver junto, em harmonia?”

Funeral de irmã Leonella, Igreja Nossa Senhora Consolata, Quênia.

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que se pudesse conferir um diploma aos concluintes. Ir. Leonella amava seus alunos e, continuamente os incentivava a se preparar bem, para depois poderem trabalhar com competência. Repetia-lhes: “Os médicos e os pacientes devem ver em vocês profissionais capazes, dispostos a fazer o possível e o impossível para salvar vidas”. Isto era o que ela sempre fazia, e por isso, podia exigir o mesmo dos seus alunos. A missionária era uma pessoa serena, muito alegre, de fácil relacionamento com todos, sem distinção. Embora vivesse no meio dos seguidores de Maomé, nunca fez disso um problema. Como missionária experiente, procurava conhecer sempre mais a cultura e o livro sagrado deles, o Alcorão. Nas aulas de enfermagem, muitas vezes fazia alusão aos ensinamentos do profeta, incenti-vando-os a praticar seus ensinamentos. Respeitava o dia considerado sagrado para eles, a sexta-feira, fazendo daquele a sua folga. No domingo, assumia o plantão no hospital para que as outras irmãs pudessem descansar.

O assassinatoNo domingo, 17 de setembro, ao

sair do hospital para almoçar, três tiros disparados por homens de um grupo fundamentalista islâmico, truncaram a vida desta missionária que, pelo seu testemunho de caridade, preocupação pela formação e promoção humana dos somalis, superava o simples espírito hu-manitário... Socorrida imediatamente, Ir. Leonella chegou a ser levada para a sala de cirurgia, mas não resistiu. Apertando a mão da colega Ir. Márcia, que estava apreensiva ao seu lado, reunindo suas últimas forças, morreu repetindo por três vezes: “eu os perdôo”. É importante ressaltar que, com Ir. Leonella, também foi morto o muçulmano Mohamad Mahm-mud, o guarda das irmãs. Na tentativa de protegê-la, ele se atirou à sua frente como escudo, sendo atingido por vários tiros, morrendo na hora. O sangue dele misturado ao sangue da missionária... Pai de quatro filhos, Mohamad encerrou sua vida terrena sendo extremamente fiel ao seu dever. Um gesto de extrema grandeza!

Interpretação evangélicaComo na Somália não havia clima, os

restos mortais de Ir. Leonella foram trans-ladados para o país vizinho – o Quênia, que é o berço das primeiras missões da Consolata na África. O rito fúnebre foi oficiado por dom Giorgio Bertin, bispo de Djibuti e Administrador Apostólico na Somália. Diante de uma imensa assem-bléia estarrecida - mais de mil pessoas

- o bispo fez uma leitura evangélica do delito. Disse: “eu tenho a plena convicção de que um novo mundo, onde se possa viver junto e em paz, como aquele vivido pela Ir. Leonella, é possível. E agora eu lhes pergunto: será que estas duas mortes são apenas mera coincidência? O assassinato de uma mulher italiana e de um homem somali; de uma européia e de um africano; de uma branca e de um negro; de uma cristã e de um muçul-mano... Isto não nos diz mesmo nada? Muitas vezes os fatos, especialmente quando trágicos, capazes de arrancar lágrimas e ferir o coração, chegam até nós carregados de mensagem. Será que esse doloroso episódio, não está querendo

nos dizer que se é possível morrer junto, por que não deve ser possível, também viver junto, na paz e na harmonia, não obstante sejam diferentes os caminhos de encontro com Deus?” Um profundo silêncio perpassou toda a assembléia por alguns instantes; silêncio, que foi quebrado pelo canto das noviças. Por fim, foi lida a mensagem do papa Bento XVI, enviada à superiora geral do Instituto das Missionárias da Consolata, Madre Gabriella Bono, através do secretário de Estado, o cardeal Tarcisio Bertone. O papa pediu a Deus que o sangue der-ramado pela missionária Ir. Leonella se transforme em sementes de diálogo para a humanidade. O livro de condolências, à porta da entrada, encheu-se das mais variadas assinaturas e mensagens. Uma delas, deixada por um funcionário inter-nacional muçulmano chamou a atenção: Salama!, que quer dizer "paz".

Rosa Clara Franzoi é irmã missionáriae animadora vocacional.

Informações sobre a Somália

A Somália situa-se na parte leste do continente africano, no chamado “chifre da África”. É um país muito pobre, social e politicamente confuso e desorganizado, cujos habitantes são muçulmanos na sua maioria. Em 1960, Aden Abullah Osman tornou-se presidente da nação O país enfrenta-va contínuos conflitos internos e com seus vizinhos, Quênia e Etiópia. Suas fronteiras sempre foram frágeis e inse-guras. Assim mesmo, conseguiu acor-dos bilaterais, que pareciam pôr fim à situação. Mas, isso não aconteceu. Em 1969, o presidente da Assembléia Legislati-va – Abderrachid Alí Shermak – foi assas-sinado e, alguns dias depois, o general Mo-hamed Siyad Barre, liderando um golpe militar proclamou a Somália uma Repú-blica Democrática de ideologia socialista. Continuaram as guer-ras e os conflitos in-ternos entre clãs, que disputavam o poder. Em 1972 o Supremo Conselho da Revo-lução, nacionalizou todas as obras da Igreja Católica. Vá-rias missões foram fechadas, e um bom número de missioná-rios e missionárias retornou aos países de origem. Em 1989 foi assinada uma trégua entre as tribos, que não foi res-peitada. Isto ocasionou uma guerra civil que deixou um saldo de 14 mil mortos, 27 mil feridos e várias centenas de re-fugiados. A ONU decretou a “Operação Esperança”, enviando tropas militares para fins humanitários. Com o recru-descimento das desordens da guerra civil, em 1990 todos os missionários e missionárias foram obrigados a deixar o país, com exceção de um frei, padre Pietro Turati, que tomava conta de um leprosário, e quatro missionárias da Consolata, enfermeiras num hospital fundado e defendido pelos guerrilhei-ros. Em 1991, também o padre Pietro foi morto e, a partir desse fato, as qua-tro missionárias passaram a ser a única presença da Igreja Católica, em todo o território nacional. Uma presença feita de testemunho e caridade para com os doentes e no trabalho de promoção humana das mulheres e crianças. Foi neste contexto desastroso, que Ir. Leonella Sgorbati foi martirizada, no dia 17 de setembro de 2006.

Ir. Leonela com estudantes da escola de enfermagem S.O.S Mogadíscio, Somália.

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os governantes e as facções mudam e o cenário continua de-primentemente inabalável.

Nada de novoNo que diz respeito ao nível das campanhas e da forma

como os políticos e suas equipes de marketing pedem nossos votos - e nós os damos - nada parece mudar. Se os governan-tes deixassem de lado a tradicional prepotência - reforçada pela sensação de que o povo é sábio porque os colocou onde desejavam – eles seriam capazes de notar que foram eleitos por contingentes enormes de ignorantes que são conduzidos e convencidos pelas mesmas fórmulas capazes de banalizar processos eleitorais que muitos têm a capacidade de chamar de “símbolo maior da democracia brasileira”.

Em 2002 assistimos a uma campanha sórdida do PSDB. Atores globais - impedidos de prestarem serviços em 2006 - foram aos programas eleitorais dizer que votar em Lula era apostar no incerto e, principalmente, no medo. Corroborando o discurso terrorista, os mercados reagiram negativamente e o dólar ultrapassou a casa dos quatro reais, o risco país atingiu a quarta casa à esquerda da vírgula e muitos apostaram na ruptura com o sistema financeiro, no descontrole da inflação e na moratória da dívida externa.

O trauma do império dos desejos pessoais - ainda vivo em nossa cultura - ignorava o império das leis, ainda tão instável no país. O que assistimos nos últimos quatro anos foi um equilíbrio econômico ortodoxo, muito distante do medo anunciado e próximo do que vimos no governo FHC. Tudo estaria aparentemente es-tável se não chegássemos às eleições presidenciais e a fórmula não fosse repetida pela situação. O atual presidente, de vítima se tornou algoz. Não foram poucos os discursos de membros do PT afirmando o terror causado pela eleição de Alckmin, marcado por uma fantasiosa venda da Amazônia, a privatização do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e da Petrobrás.

Não importa nesse momento discutirmos os vencedores. Mas sim o que motivou as escolhas de milhões de brasileiros. Nossa ignorância não pode ser usada para traduzir vitórias que julgamos legítimas. Enquanto o povo não for capaz de dimen-sionar o exato poder que tem, e principalmente os limites dos poderes que delega a seus representantes, viveremos sob a pior de todas as reais ameaças ao país: a ignorância. A educação política suprapartidária nas escolas é uma questão mais que urgente, ela representa a verdadeira reforma política. Em nome de nossa democracia.

Humberto Dantas é cientista político, professor do centro Universitário São Camilo e coordenador de cursos de formação Política na Região Episcopal Lapa e na Diocese de Osasco, SP.

hegamos a novembro. Para muitos falta pouco mais de um mês para o Natal, e dentro de menos de 60 dias estaremos em 2007. O tempo voa. Para cientistas políticos é hora de avaliar. O país passou por mais uma eleição, objeto de pesquisa predileto da maioria desses profissionais, que se desdobram para entender o que muitas vezes parece inexplicável: o voto e os

resultados das eleições. Escrevo esse texto no dia 12 de outubro, portanto antes dos resultados finais de alguns pleitos estaduais e da escolha presidencial.

Estou a caminho de Maceió, onde fui convidado para um ciclo de palestras numa importante universidade local (CES-MAC). Para minha “surpresa”, no estado o governador eleito no primeiro turno é do PSDB, e Lula venceu Geraldo. Dividindo o avião, distante algumas fileiras, a candidata derrotada He-loísa Helena - senadora em final de mandato por Alagoas (será substituída por Fernando Collor), eleita pelo PT, fundadora do PSOL e a mulher mais votada da história do país para o cargo de presidente da República.

A despeito dos vencedores: presidente, 54 governadores e senadores, 513 deputados federais e mais de mil estaduais, o que podemos tirar de lição das eleições de 2006? Algo de-primente: a ignorância do eleitor brasileiro continua figurando como variável expressiva para o resultado. E que me perdoem os otimistas que acham que a cada processo eleitoral temos um amadurecimento de nossa democracia. Independentemente dos benefícios ou malefícios dos últimos governos, é flagrante que Montesquieu, no século XVIII, tinha razão ao afirmar que

Ignorância: o mal maior

de Humberto Dantas

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A importância de se investir na educação política suprapartidária.

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Cidade de Medellín na Colômbia, sede da II Conferência do CELAM em 1968.

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

A Igreja na atual transformação da América Latina,à luz do Concílio Vaticano II.

de Ramón Cazallas Serrano

a edição de setembro inau-guramos a série de artigos “Pelos caminhos da Améri-ca”, com a finalidade de fazer memória das Conferências Gerais do Episcopado Lati-

no-Americano. A Igreja em nosso conti-nente faz uma caminhada de conjunto na realização da missão evangelizadora. Nossos povos possuem características comuns, por isso, procura discernir em conjunto os caminhos da missão. O maior ganho das Conferências - Rio de Janeiro (1955), Medellín (1968), Puebla (1979) e Santo Domingo (1992) - foi o fortalecimento da comunhão eclesial na América Latina.

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A Conferência de MedellínPelos caminhos da América

A II Conferência Episcopal foi realizada em 1968, na cidade colombiana de Medellín, tornando-se conhecida com o mesmo nome da cidade. Talvez seja pura coincidência o nome e o resulta-do da Conferência. Medellín, cidade primaveral, rica em folclore, religiosa em todos os âmbitos e com problemas próprios de uma grande metrópole lati-no-americana, como o contraste entre ricos e pobres. Assim foi a Conferência do CELAM: uma primavera para o continente latino-americano, rica em criatividade e respostas pastorais às situações que a região vivia naquela época, descobridora das suas pobrezas e das suas riquezas. A Igreja latino-americana olhava para o chão onde pisava. A Assembléia se realizou num momento histórico determinado que

influiu nas reflexões e nas decisões teológicas e pastorais.

Contexto políticoNaqueles anos dominavam, em qua-

se todas as nações latino-americanas, os regimes militares ou as oligarquias tradicionais. Ambos se apoiavam mu-tuamente para impor as próprias leis sem consultar o povo. Por outro lado, os países, chamados “democráticos” vi-viam tutelados pelas grandes potências estrangeiras, não podiam esconder sua verdadeira natureza elitista e opressi-va... Surgem ao mesmo tempo certos grupos revolucionários que querem uma mudança da situação. Os grupos dominantes lançam os alarmes para assustar o povo e freiam os nascentes movimentos populares.

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Contexto socialNos anos 60 temos um grande

desenvolvimento das cidades latino-americanas, metrópoles com grandes massas de migrantes que se instalam nas periferias em situações de gran-de pobreza ou miséria. No campo os grandes proprietários dominarão as políticas agrícolas e os camponeses viverão numa economia de subsistência. Aumentam as camadas de miseráveis e empobrecidos e o capital vai se con-centrando em poucas mãos.

Contexto eclesialA Igreja se encontra vivendo os

primeiros anos do pós-Concílio, num momento de renovação eclesial profun-da. Existe o anseio de aplicar o Vaticano II neste contexto histórico e nesta terra concreta que é América Latina. Não se trata mais de “romanizar”, mas, que a Igreja aqui e agora possa ter um próprio rosto perante a situação social e política em que vive o nosso povo. Medellín marcou uma vivência latino-americana do Concílio Vaticano II. A Assembléia, olhando para dentro, descobre a sua colegialidade fundamentada na Constitui-ção Dogmática sobre a Igreja, que é um corpo, o corpo de Cristo e olhando para fora, inspirada na Constituição Pastoral “A Igreja no mundo contemporâneo” descobre que “as alegrias e esperanças do mundo, são as alegrias e esperanças

da Igreja”. Já o título da Conferência vai unir estas duas realidades “A Igreja na atual transformação da América Latina à luz do Concílio”. Enumeramos, a seguir, alguns pontos essenciais do documento final da II Assembléia.

A Igreja é interpeladaNormalmente os documentos da

Igreja começam todos com a parte doutrinal tirada das Sagradas Escri-turas, da Tradição ou do Magistério dos Concílios, ou dos escritos papais, deixando para o final as aplicações pastorais ou referentes à vida do povo ou organização. Medellín faz o caminho inverso: parte da realidade social, se serve do conhecido método ver-julgar e agir (nascido na JOC, Juventude Católica Operária) e aproxima a Igreja da vida do povo que vê ao seu redor. O que diferencia profundamente o Vaticano II de Medellín é o método de trabalho adotado.

Partindo da teologia dos sinais dos tempos, Medellín foi sempre o estudo atento da realidade tanto econômica, política e social, quanto eclesial do continente latino-americano e caribenho. O segundo passo consistiu em iden-tificar as interpelações que brotavam da realidade, analisando-as à luz da Palavra de Deus, do Vaticano II e do Magistério e da experiência de toda a Igreja. O terceiro passo, talvez o mais

importante, foi o de propor pistas de ação pastoral, visando transformar no sentido do Reino de Deus e da libertação dos pobres, a realidade atravessada por estruturas de pecado e pelo clamor e esperança dos pequenos.

A ação dos pastores começa pelo conhecimento da realidade, hoje diríamos que é o primeiro passo para contextua-lizar o Evangelho do Senhor. Pastoral-mente falando, devemos situar-nos bem no lugar onde estamos, analisarmos o que vemos ao nosso redor, para que a Palavra anunciada não caía no vazio. E abrindo os olhos, os pastores da América Latina viram que suas igrejas se encontravam em situações de injus-tiça institucionalizada e daí concluíram que a pobreza não é fruto da preguiça, do azar ou dos elementos geográficos. As situações de violência, pobreza e

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Papa Paulo VI.

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Representação do migrante no Primeiro Congresso dos Migrantes na cidade da Guatemala, maio de 2006.

Educação libertadora

Nossa reflexão sobre este pa-norama conduz-nos a propor uma visão da educação mais conforme com o desenvolvimento integral que propugnamos para nosso continen-te; chamá-la-íamos de "educação libertadora", isto é, que transforma o educando e sujeito de seu pró-prio desenvolvimento. A educação é efetivamente o meio-chave para libertar os povos de toda servidão e para fazê-los ascender "de condi-ções de vida menos humanas para condições mais humanas", tendo-se conta que o homem é o responsável e "o artifície principal de seu êxito e de seu fracasso" (p.50).

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

instabilidade encontram suas raízes profundas nessa injustiça social. Esta situação não se resolve com remendos ou paliativos, mas, deve-se trabalhar por uma verdadeira transformação para chegar a esse Reino de justiça e paz que Jesus veio instaurar.

A Igreja no Brasil esteve atenta à realidade nos seus documentos e nas suas assembléias. As chamadas “análises” de conjuntura foram sempre um material precioso para fundamen-tar a sua ação evangelizadora e dar respostas concretas ao dia-a-dia da nossa sociedade.

A opção pelos pobres Certamente a opção pelos pobres

não é uma novidade na história da Igreja. De diversas formas esteve presente desde o seu começo, ainda mais, es-tava já presente na vida e na atividade de Jesus. Através dos séculos houve instituições, homens e mulheres que fizeram dos pobres os seus preferidos. A “Igreja dos pobres” foi uma voz forte do papa João XXIII e o Concílio falou também na Lumen Gentium que a Igreja, a exemplo de seu Senhor, deve fazer dos pobres os preferidos da sua ação evangelizadora, e ela mesma, procurar a simplicidade longe das riquezas e dos poderes deste mundo.

Os bispos em Medellín “atentos ao clamor e sofrimento dos pobres” explici-taram a opção fundamental pelos pobres como aquela tipicamente evangélica e que deveria nortear todas as opções da Igreja no mundo, porque a opção pelos pobres é a própria opção de Jesus de Nazaré. A Igreja universal deve a Medellín

por ter desenvolvido e explicitado este conceito tão essencial com opções claras com, para e pelos pobres. Escolher os pobres não é só escolhê-los como objetos da ação da Igreja. Escolher os pobres significa que eles sejam sujeitos e pro-tagonistas da própria história. Não serão mais objetos da nossa beneficência, mas atores vivos do próprio destino. Significa também que a Igreja deve procurar um certo distanciamento dos poderes deste mundo, com os quais estava amarrada em quase todos os países desde tempos antigos. A proximidade da Igreja deve ser com os pobres. As suas alianças e compromissos devem ser com eles. Medellín passa depois a descrever as queixas que chegam até os bispos de que “hierarquia, - clero e religiosos são ricos e aliados dos ricos”. Convida a revisar

o próprio estilo de vida nos edifícios, casas paroquiais e até na maneira de vestir que podem afastar os pobres da vida da Igreja. Compartilhar a sorte dos pobres, viver com eles e trabalhar com as próprias mãos estimula os vocacio-nados a fazer o caminho da “inserção” que se desenvolverá principalmente na Vida Religiosa.

Libertação do EvangelhoA Igreja na sua prática pastoral e

social procurou sempre a libertação integral da pessoa e da sociedade. O tema da “libertação” está presente em Medellín. Nas suas análises da situação da América Latina, constata, sobretudo, nos documentos sobre a justiça e a paz, que se vive uma época de libertação no continente.

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Crianças participam da marcha de abertura do II FSM em Porto Alegre, janeiro de 2001.

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Imigrantes nordestinos jogando cartas embaixo de uma ponte em Brasília, onde vivem.

Preferênciae solidariedade

Devemos tornar mais aguda a consciência de dever de solidarie-dade para com os pobres; exigência da caridade. Esta solidariedade implica em tornar nossos seus problemas e suas lutas e em saber falar por eles.

Isto há de se concretizar na denúncia da injustiça e da opressão, na luta contra a intolerável situação suportada freqüentemente pelo po-bre, na disposição de dialogar com os grupos responsáveis por essa situação, para fazê-los compreender suas obrigações (p.147).

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FORMAÇÃO mISSIONÁRIA

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A Igreja se sente comprometida com a libertação do homem e essa libertação deve ser como “obra de Deus” que “liberta todos os homens de todas as escravidões”. Neste sentido o Docu-mento fala dos “direitos dos pobres e oprimidos” de denunciar energicamente os abusos e desigualdades entre ricos e pobres e na missão da Igreja: favorecer o povo para que “crie e desenvolva suas próprias organizações de base”.

Valorização das CEBsUma das novidades mais marcantes

de Medellín foi a formação, organização e vitalização das Comunidades Ecle-siais de Base (CEBs). Elas nascem antes do ano de 1968, mas o impulso que deu a elas a Conferência fez com que se expandissem por toda América Latina, não isentas de dificuldades e até do martírio de pessoas, muitos ani-madores e animadoras. A preferência pelos pobres e os anseios de libertação impulsionam a opção pelas pequenas comunidades onde o pobre pode ter voz e vez, onde a Palavra de Deus e a religiosidade popular se unem à vida que grita continuamente à sensibilidade da Igreja. Medellín vai recomendar que

se divulguem e coordenem em todos os âmbitos da Pastoral. Fé e vida ca-minharão juntas e questionadas pela Palavra de Deus se organizarão em pequenos grupos, sempre em comu-nhão com a hierarquia, na celebração da Eucaristia, na recepção dos sacra-mentos, na instituição de ministérios, na oração, preocupando-se ao mesmo tempo com a prática religiosa e com a ação social e política.

É nas CEBs que os leigos e leigas se sentirão sujeitos da própria história. São os pobres das CEBs, que na união de fé e vida, lutarão por um mundo novo onde reine a justiça e a paz. Estas comunidades estão abertas ao mundo e nele inseridas. É o “primeiro e fundamental núcleo eclesial” e as lideranças devem ser, possivelmente, da própria comunidade. E encontramos uma norma muito interessante em re-lação à formação do clero “ ...que os seminaristas tenham uma preparação para a iniciação e assistência das co-munidades de base...” (n. 13,21).

A vitalidade das CEBs chegou até os confins do Brasil: nos bairros populares das periferias das grandes cidades, nas pequenas comunidades rurais, entre

os povos indígenas, nas comunidades ribeirinhas dos nossos grandes rios e no sertão nordestino.

ConclusãoOutras muitas reflexões têm a As-

sembléia de Medellín. O que é certo é que a Conferência marca um antes e um depois na Igreja latino-americana. Fazemos memória não por saudosismo barato, mas, como reconhecimento de uma caminhada da nossa Igreja. Seria interessante conhecer os profetas de Medellín, esses homens que fizeram a Conferência antes, durante e depois da celebração. Homens aos quais o teólogo José Comblin chama de verdadeiros padres da Igreja no seu significado teológico. Medellín foi um “kairós” para todos, um momento de Deus, um tempo que obrigou a Igreja a colocar os pés no nosso chão e os pobres a olhar para o alto porque com Deus, com a força da sua Palavra e a companhia da Igreja, outro mundo poderia ser possível, onde a paz e a justiça se abraçariam num continente mais fraterno.

Ramón Cazallas Serrano é missionário e diretor do Centro Missionário José Allamano em São Paulo.

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Peregrinos recebem bênção na Basílica de Nossa Senhora Aparecida.

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Diálogontre os dias 8 de setembro e 14 de outubro, nós, Mis-sionárias da Imaculada – PIME, estivemos reunidas para a realização do nosso Capítulo Geral, em Roma. Nossa Congregação foi fundada por duas mulheres que se inspiraram no carisma do PIME (Giuseppina Dones e Giuseppina Rodolfi), através do beato Paolo Manna, figura de relevo na história da missionariedade da Igreja

italiana. O co-fundador é dom Lorenzo Maria Balconi, italiano, missionário do PIME na China, que ajudou muitíssimo o início da Congregação, quando foi eleito Superior Geral em 1934, dois anos antes da fundação de nossa família. Somos missionárias Ad Gentes e nos caracterizamos pela viva paixão pelo anúncio do Reino de Deus a todos os povos.

O Capítulo Geral é uma reunião que acontece a cada seis anos para a qual são chamadas representantes da Congregação vindas das diferentes partes do mundo. No nosso caso, éramos 39: italianas, indianas, bangladeshis e brasileiras. Chegamos de oito diferentes países dos quatro cantos do mundo para avaliar a caminhada feita nos últimos seis anos, estudar para compreender melhor os desafios que nos interpelam, eleger a nova equipe que animará o grupo todo no próximo período e determinar as metas que se deseja alcançar. Todas nós tínhamos sido convidadas a avaliar a caminhada feita através da chave do diálogo.

InculturaçãoQuando as irmãs apresentavam a realidade da qual vinham,

dava para perceber muito bem qual era o matiz que dava um tom especial ao seu modo de dialogar. Para uma brasileira que trabalha em Hong Kong há 18 anos, entrar em diálogo com uma sociedade rica e metropolitana, significa descobrir como o Evangelho é luz que dá sentido para a vida. Para uma indiana da zona cristã do Kerala que dedicou mais de uma década da sua vida aos povos tribais do Rajastão no norte do seu próprio país, o diálogo passa através do conhecimento dos valores de uma cultura muito diferente da sua, mas também através dos serviços básicos de educação e saúde nas aldeias onde falta tudo. Para uma irmã bangladeshi vivendo no seu país prepon-derantemente muçulmano, o diálogo acontece no dia-a-dia, na solidariedade, na hora da dor e da alegria, na capacidade de exaltar em particular as mulheres, numa sociedade que ainda as olha com desdém.

Estas coisas causam surpresa e maravilha. Somos mulhe-res tão comuns! Santas e pecadoras, boas e más, egoístas e altruístas. Não estou falando de duas categorias entre nós: cada

Religiosas reafirmam compromisso com o diálogo e com a inculturação como

forma de evangelizartodos os povos.

ETexto e foto de Regina da Costa Pedro

e Inculturação

- Novembro 2006

uma de nós é tudo isso junto, e tão bem misturado que não dá para separar. E, no entanto, nós, mulheres comuns, vivemos coisas que são bem maiores do que nós mesmas. Contemplando esta realidade, só sentia vontade mesmo de “tirar as sandálias”, ficar em silêncio e reconhecer que estava entrando em terreno santo. Só mesmo o diálogo assíduo, humilde e amoroso com o Pai pode transformar mulheres como nós em “filhas” capazes de entrar em diálogo amoroso com o mundo.

A hora da escolha da nova equipe foi interessante. Quais critérios para eleger o grupo que é chamado a coordenar uma família tão particular como a nossa? Uma Madre Geral e quatro Conselheiras que durante seis anos devem formar uma equipe apta a nos ajudar a viver com fidelidade e criatividade a nossa paixão pelo anúncio do Reino a todos os povos. Uma equipe de cinco mulheres capazes de ajudar mais de 900 mulheres espalhadas pelo mundo a dar o melhor de si para promover a vida, testemunhar o amor que liberta e criar relações novas e bonitas por onde passarem. A nova Madre geral se chama Rosilla, é indiana, era uma das Conselheiras gerais do mandato anterior. Junto com ela estão Rosangela e Alessandra, italianas que trabalharam na Guiné Bissau, Marinei, brasileira missionária em Hong Kong e Theresa, indiana que trabalha na formação das noviças. Perguntei a Ir. Rosilla o que ela escreveria para iniciar o novo volume da história das Missionárias da Imaculada que começará com o seu mandato. “Caminhar juntas para as fontes de água viva: a radicalidade do Evangelho e a originalidade do nosso Carisma, para vivê-lo com criatividade no contexto do mundo de hoje em contínua transformação”, afirmou.

Regina da Costa Pedro é missionária da Imaculada, trabalhou 8 anos em Camarões, é mestra das noviças e postulantes e foi secretária do Capítulo.

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or decisão da 44ª Assembléia Geral da CNBB, realizada em maio, em Indaiatuba, SP, a Campanha para a Evangeliza-ção 2006 tem início no domingo de Cristo Rei, 26 de novembro e

se estende até o 3º domingo do Advento, quando se faz a Coleta em todo o Brasil (dias 16 e 17 de dezembro). A Campanha tem como lema “Discípulos e Missioná-rios”. Em uma carta enviada aos bispos do Brasil, o coordenador da Comissão da Campanha para a Evangelização, dom Raymundo Damasceno e o presidente da CNBB, dom Geraldo Majella Agnelo, afirmam que “com uma semana a mais de duração, espera-se que haja melhores condições para a moti-vação e o envolvimento das comunidades ca-tólicas na Campanha e na Coleta”.

Do fruto da coleta, 45% ficam nas arqui/dioceses/prelazias; 20% são repassados para o respectivo Re-gional da CNBB e 35% são destinados à CNBB Nacional.

A CNBB Nacional utiliza a sua parte para financiar a confecção dos subsídios da Cam-panha, cada ano (cerca de 25%), para subsi-diar pequenos projetos de evangelização em todo o Brasil (15%) e para as atividades das Comissões Episcopais e do Secretariado Ge-ral da CNBB (60%). O lançamento em âmbito nacional acontecerá na Basílica Nacional de

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Entrevista com dom Odilo Pedro Scherer, Secretário-Geral da CNBB, sobre a Campanha para a Evangelização.

Novembro 2006 -

Discípulos e MissionáriosCampanha para a Evangelização

de Patrícia SilvaAparecida, no domingo de Cristo Rei, na missa das 8h00 e será transmitido pela televisão para todo o país. Cada diocese e paróquia também poderá fazer seu lança-mento, mantendo o assunto vivo na mídia local durante toda a duração da Campanha. Pode-se designar comissões ou grupos de animação da Campanha. O material será encaminhado para todas as dioceses e prelazias do Brasil. O cartaz e os folhetos estão disponíveis no site da CNBB: www.cnbb.org.br no link Campanhas.

Dom Odilo, o que é a Campanha para a Evangelização?

É uma Campanha da CNBB, destinada à sensibilização de todos os católicos sobre a necessidade de colaborar na ação evan-gelizadora da Igreja, de muitas maneiras.

Uma delas é através da partilha fraterna para sustentar o trabalho evangelizador. A CNBB realiza a Campanha desde o Advento de 1998.

Qual é o objetivo da Campanha? Sensibilizar a Igreja para o compromis-

so evangelizador e para a responsabilidade de todos na sustentação das atividades pastorais da Igreja no Brasil. A colabora-ção dos fiéis precisa repercutir; é por isso que o fruto do gesto concreto de cada um será partilhado solidariamente entre os organismos nacionais da CNBB, os seus 17 regionais e as dioceses, visando à execução das atividades evangelizadoras programadas segundo as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora e dos Planos Bienais. É preocupante que ainda hoje

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grande parte das atividades pastorais e das estruturas da vida eclesial no Brasil dependam da ajuda externa. Temos, certamente, maneiras de prover melhor a nossa própria sustentação, sem depender tanto da ajuda externa. Mas isso precisa ser divulgado e preci-samos nos conscientizar melhor sobre o nosso compromisso evangelizador e que isso também tem custos, que pre-cisam ser partilhados generosamente por todos os fiéis. A fé adulta passa do receber ao dar e à partilha generosa. Além disso, as comunidades católicas já bem estabelecidas precisam pensar em como ajudar as comunidades de periferia ou nas áreas de povoamento recente, onde a Igreja precisa colocar suas estruturas de evangelização e de atendimento religioso. As comunidades de todo o Brasil precisam estar atentas às necessidades das regiões mais pobres e necessitadas, como a Amazônia ou as periferias das metrópoles, ajudando com recursos materiais para que a Igreja das áreas mais desprovidas de recursos também possa cumprir bem sua missão.

Como se faz a Coleta da Campa-nha?

Faz-se no 3° domingo do Advento, em todas as celebrações e missas do fim de semana, em todas as comunidades católicas. É distribuído um envelope para recolher a Coleta, mas a doação também pode ser feita sem ele. A Coleta se faz uma vez por ano; trata-se de um gesto extraordinário de partilha para as neces-sidades da Igreja e não substitui o Dízimo, que é para as necessidades ordinárias da comunidade local. É importante educar e habituar também as crianças e os jovens para o gesto de partilha fraterna; seria bom que a oferta pudesse ser discutida e combinada em família, refletindo sobre os motivos que temos para ajudar na sus-tentação das atividades evangelizadoras da Igreja.

Como se aplica o fruto da Coleta da Campanha?

O valor recolhido pela Coleta Nacional para a Evangelização constitui o Fundo para a Evangelização, que é administrado pelo Conselho Econômico da CNBB e destinado a apoiar as iniciativas evan-gelizadoras da Igreja em nível diocesa-no, regional e nacional. Esta Campanha precisa ser vista como proposta de uma forma de globalização da solidariedade eclesial. O que se espera é que a Igreja no Brasil possa, num futuro próximo, al-cançar sua auto-sustentação e também partilhar seus recursos com outras Igrejas

mais necessitadas. Tudo isso se inspira no exemplo das primeiras comunidades cristãs, entre as quais São Paulo fazia coletas para ajudar outras comunidades mais necessitadas (cf 1Tm 6, 1; e 2Cor 8, 12). Enquanto os recursos da Campanha da Fraternidade são aplicados em projetos de solidariedade e de pastoral social, o fruto da Campanha para a Evangelização é aplicado nas iniciativas de pastoral e evangelização, como a formação de ca-tequistas e outros agentes de pastoral, de seminaristas, de liturgia, de organização de estruturas de pastoral etc.

Por que a Campanha para a Evange-lização é feita no tempo do Advento?

O Advento, de modo especial, nos lembra do grande dom e alegria que Deus nos fez, enviando-nos seu Filho. Jesus Cristo é a Boa Nova e o presente de Deus Pai para o mundo. Quem já tem a alegria e a consolação de crer nele, não pode ficar parado e indiferente diante de tantas pessoas que ainda não chegaram a conhecê-lo como luz do mundo, caminho, verdade e vida. Quem crê e põe valor na sua fé, deseja que também outros possam chegar a crer. Por isso apóia as iniciativas e trabalhos de evangelização da Igreja.

Quem é solidário com a evangelização percebe as necessidades da própria comu-nidade e faz algo por ela; dispõe-se para um serviço concreto, como a animação litúrgica, a catequese, a promoção dos pobres; e também oferece sua colaboração financeira através do Dízimo e as coletas que a Igreja prescreve para as necessidades locais e universais. A alegria de crer e de

ser cristão traz a inquietação missionária, como aconteceu com Jesus: não ficou somente nos povoados e aldeias que já o conheciam, mas disse que devia anunciar a Boa Nova do Reino para outras cidades, pois para isto fora enviado. A alegria de ter sido agraciada por Deus levou Maria a correr apressadamente à casa de sua prima Isabel, para anunciar a ela o que Deus tinha feito por ela e para colocar-se a serviço de sua prima. A alegria da fé leva a partilhar a alegre notícia do Evangelho. Nem todos podem sair de sua comunidade para serem missionários na Amazônia ou nas periferias das grandes cidades; mas todos podem colaborar de várias formas na Evangelização. Uma delas é a ajuda com dinheiro, através da Coleta da Evangelização.

A Campanha para a Evangelização tem um lema a cada ano. O senhor pode falar deles, e, especificamente, do deste ano?

Os lemas geralmente estão rela-cionados com algum tema mais em evidência a cada ano: 1998 – Solida-

riedade na Evangelização; 1999 – Abri as portas ao Redentor; 2000 – Evangelho para todos; 2001 – Somos Igreja que evangeliza; 2002 – Lançando as redes com o Cristo; 2003 – Solidários na Evan-gelização; 2004 – Participar é Evangelizar; 2005 – Anuncia-me; 2006 – Discípulos e missionários. O lema da Campanha de 2006 já nos faz pensar na Conferência Geral de Aparecida, dos bispos da Amé-rica Latina e do Caribe, em 2007, com a presença do papa Bento XVI.

Há uma oração para a CE neste ano? Qual é seu conteúdo e sentido?

Cada ano a Campanha tem uma oração própria. Esta oração ajuda a despertar nossa consciência para as necessidades da Evangelização e nos compromete, diante de Deus, a fazer a nossa parte. A oração da Campanha deste ano é a seguinte: “Senhor Jesus Cristo, Vós deixastes aos apóstolos a missão de evangelizar. Enviai também a nós, como anunciadores, para que vosso Evangelho continue penetrando na vida das pessoas e transformando a sociedade. Despertai em nós a consciência sobre a grandeza da missão e a responsabilidade em participar no anúncio do Evangelho. Dai-nos um coração generoso para cola-borar espiritual e materialmente na missão. Com a nossa doação, feita com alegria, queremos ser discípulos e missionários para ajudar outros a receberem a luz do vosso Natal. Amém!”

Patrícia Silva, fsp, é jornalista e Assessora de Imprensa do Secretariado Geral da CNBB.

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de Corina de Assis

om um forte apelo para o volun-tariado jovem em favor da mulher em situação de prostituição, as irmãs Oblatas do Santíssimo Re-dentor e sua equipe de Pastoral Juvenil Vocacional, ocuparam

com excelência o novo espaço aberto para a exposição das ordens religiosas na Expo Católica. Além de folhetos e sacolas com informações sobre seu trabalho, as Oblatas também lançaram mão de um comercial de 30 segundos, gravado especialmente para a feira, a fim de atrair os jovens para sua missão.

No comercial, as Oblatas resumem a situação que encontram nas ruas de diver-sas capitais onde o trabalho de abordagem com as mulheres é essencial. As Oblatas do Santíssimo Redentor estão no Brasil há 70 anos. Atualmente, além das religiosas, essa missão também conta com a cola-boração de leigos, agentes e voluntários em projetos pastorais nas cidades de São Paulo, Juazeiro da Bahia, Salvador e Belo Horizonte. Além do Brasil, as irmãs atuam em favor da mulher em situação de prosti-tuição em 15 países, incluindo a Espanha, onde a Congregação foi fundada.

Nessas cidades, o compromisso com a mulher em situação de prostituição está diretamente ligado às ações pastorais que possibilitem apoiá-la e ajudá-la a ver e construir novos caminhos. Por isso, em São Paulo, outro projeto com a juventude detém a atenção das Oblatas. Elas estão empenhadas na formação de um grupo de voluntariado jovem para trabalhar com a causa da mulher. Com o desafio de conscientizar os jovens maiores de 18 anos sobre sua responsabilidade social e política num contexto extremamente indi-vidualizado, as Oblatas querem despertar o jovem e a jovem para essa missão tão especial. A coordenadora dessa atividade, Ir. Lúcia Alves revela que, segundo pes-

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de reuniões mensais de formação sobre o assunto, a PJVO também dá seminários e palestras sobre a realidade da prostituição de mulheres, esclarecendo jovens e es-tudantes a respeito, o que também ajuda no combate à exploração da mulher. Para solicitar essas palestras de esclarecimento sobre o assunto ou saber mais sobre o projeto de voluntariado Oblata em favor da mulher em situação de prostituição, basta ligar para 11 6991-9649 ou escrever para [email protected]

Missão com a mulherem situação de prostituição

quisas recentes sobre os jovens, hoje há uma grande tendência deles se engajarem em causas sociais concretas. “Os jovens e as jovens acreditam em mudanças”, disse a religiosa.

Com base nesses dados, e também na própria demanda de seus projetos com a mulher em outros estados, as Oblatas organizam a Pastoral Juvenil Vocacional Oblata (PJVO), um grupo de sensibilização de jovens para a causa da mulher em situação de prostituição. Além

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Irmãs Oblatas fizeram trabalho vocacional na Expo Católica 2006 e convidaram

jovens para a missão com a mulher em situação de

prostituição.

Missão com a mulherem situação de prostituição

Fuga da pobrezaO fluxo migratório no Brasil, impulsiona-

do em parte por fortes fatores econômicos, como a falta de emprego, reforça a prosti-tuição, especialmente nas grandes capitais. Aí, mulheres sem qualificação profissional acabam comercializando o próprio corpo por comida e moradia, engrossando os índices de prostituição local.

Segundo Ir. Manoela Rodríguez, que atua no projeto Força Feminina, em Sal-vador, é importante apoiar essa mulher na

sua capacidade de se reorganizar. Para isso, após uma ação de aproximação e acolhida realizada muitas vezes nos locais de prostituição, começa a etapa de vínculo, onde a mulher que aceita ir ao projeto é inserida no programa de atenção integral. Nele, recebe uma série de acompanhamentos, incluindo o psico-lógico e de espiritualidade. Esse processo se repete, com características locais, em outros projetos das Oblatas, como a Pastoral da Mulher de Juazeiro, ligada à Diocese de Juazeiro, Bahia, que atende cerca de 200 mulheres em situação de prostituição e a Associação Pastoral da Mulher Marginalizada (APMM) de Belo Horizonte, Minas Gerais, um trabalho multicongregacional que atende cerca de 75 mulheres por mês, com diversos encaminhamentos.

Ir. Zenaide Rodrigues que atua em Juazeiro, coordenando 13 projetos em favor da mulher, alerta para a importância da valorização das articulações e parce-rias que podem impulsionar a economia solidária entre as mulheres atendidas. “Sem capacitação e apoio, é praticamente impossível uma pessoa visualizar outras possibilidades”, diz a irmã. Para isso, todos os projetos das Oblatas atuam na dimensão da capacitação da mulher, com cursos e oficinas, além de articulações para que a organização delas em torno de novos negócios se torne uma chance real e concreta de deixar a vida de pros-tituição para trás.

Trabalho em parceriaEm todos os projetos das Oblatas há

a presença de psicólogos, educadores com especialização em artes, assisten-tes sociais e advogados, na falta de um desses profissionais, as irmãs buscam parcerias com universidades, escolas técnicas e outras entidades para avançar no atendimento às mulheres. Em Juazeiro da Bahia, por exemplo, o projeto Pastoral da Mulher trabalha em parceria com a Universidade do Vale do São Francis-co (UNIVASF) e com a Faculdade de Direito, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Ir. Zenaide, da Pastoral da Mulher de Juazeiro, ressalta ainda a importância do espaço a ser conquistado pela própria mulher, onde as Oblatas são cooperadoras. “A mulher está no centro das mudanças de sua própria vida”, completa a religiosa. Essa postura é mantida em todas as ações pastorais. Onde as Oblatas entendem que a mulher precisa se firmar, ela recebe apoio, onde se percebe a vontade de mudança, essa mulher é convidada a interagir no projeto, ajudando a fazer escolhas, dando idéias e se posicionando. A pedagogia Oblata

usa a imagem do Redentor para acolher e ouvir, a presença de Maria para inter-ceder, e conta com a força do Espírito Santo para impulsionar criativamente mudanças verdadeiras.

Tráfico humano e violência contra a mulher

A Congregação trabalha no Brasil com a realidade da prostituição gerada pelo fluxo migratório interno, porém, não pode fechar os olhos à realidade do trá-fico humano que tem vitimado inúmeras pessoas. Por isso apóia e, em âmbito internacional, participa de ações de com-bate a essa prática criminosa. No Brasil, a última pesquisa sobre o assunto é de 2002, Pesquisa sobre Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual Comercial (Pestraf) e já apontava 241 rotas internas usadas por traficantes, e outras 131, internacionais, utilizadas por aliciadores da Espanha, Portugal, Holanda, Japão, Itália, Suriname, Argentina, Bolívia e Paraguai.

A Pesquisa identificou também que as vítimas brasileiras das redes internacionais de tráfico de seres humanos são, em sua maioria, adultas. Elas saem principalmente das cidades litorâneas (Rio de Janeiro, Vitória, Salvador, Recife e Fortaleza), mas há também registros consideráveis de casos nos estados de Goiás, São Paulo, Minas Gerais e Pará.

Religiosas se capacitamCom a colaboração da Organização

Internacional para Migração, OIM e o apoio da Conferência dos Religiosos do Brasil, CRB, a União Internacional das Superioras Gerais, UISG realizou em outubro de 2006 o curso de formação sobre a luta contra o tráfico de mulheres e crianças, na Casa São Paulo de Encontros e Retiros, das Irmãs Oblatas. Cerca de 34 religiosas atenderam ao convite da CRB, algumas porque já trabalham com a questão e outras porque querem avançar no atendimento às crianças e mulheres, vítimas dessa prática criminosa em todo o mundo.

A iniciativa da UISG e da OIM também revela uma preocupação em capacitar mais pessoas de diferentes origens, para que o trabalho de combate ao tráfico hu-mano aconteça cada vez mais em redes de ações organizadas. Segundo seus representantes, o curso dado em São Paulo vem sendo ministrado há três anos em outros países e já atingiu religiosas e agentes leigos na Europa, Ásia, África, Albânia, Tailândia e Santo Domingo.

Corina de Assis é jornalista e assessora de Comunicação das Irmãs Oblatas. Para conhecer melhor sobre as Oblatas acesse: www.oblatas.org.br

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o que fazer na superação dos estereótipos racistas. Lembrando o apóstolo Paulo, um missionário exemplar que conseguiu unir povos de diferentes regiões pela fé em Cristo: “o que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Jesus Cristo” (Gl 3, 26-28). O desafio de construir com todas as nossas crianças e adolescentes o Reino de Deus em nosso meio, é partilhar de fato o acolhimento ao outro, independente da cor da pele ou religião, porque “a criança missionária olha todas as pessoas com olhos de irmão e irmã” (1º Mandamento da Infância Missionária). Das crianças do mundo – sempre amigas! t

Roseane de Araújo Silva é missionária leiga e pedagoga da Rede Pública do Paraná.

Deus abençoe a África! (língua Zulu)

s diferentes culturas que formaram a cultura brasileira estão fortemente presentes em nosso cotidiano, in-corporadas naturalmente. Abordarei especificamente a cultura africana a partir de dois questionamentos: o que sabemos do continente africano? De quantos países se compõe? Talvez pelo fato de sermos

um país com dimensões continentais, acostumamos a ver o continente africano como um grande país e não como ele ver-dadeiramente é, com suas 55 nações, mais de 1.000 línguas faladas, reli giões, culturas diversas e uma dura história marcada pelo braço forte de colonizadores franceses, belgas, ingleses, alemães e portugueses.

Neste mês em que comemoramos a Consciência Negra e o herói nacional Zumbi dos Palmares, mártir da resistência negra, enfatizarei a importância da cultura africana em nosso país através do jeito de falar. De norte a sul do Brasil falamos uma língua brasileira. Como é que é isso? Marcadamente plural, os sotaques regionais caracterizam este ou aquele estado, mas a herança africana em nossa língua é um traço diferencial, bem como as línguas indígenas. Depois de terem sido arrancados de seu chão natal, os africanos trazidos ao Brasil pertenciam basicamente a duas grandes regiões: Sub-Saariana (desde o litoral do Atlântico até o império do Sudão) e a chamada África Austral (Congo, Tanzânia, Moçambique e demais). Por esta razão, o vocabulário falado no Brasil foi enriquecido com duas raízes lingüísticas africanas: o iorubá (nagô) e o bantu (quimbundo). Em palavras como canjica, fubá, quitute, carimbo, marimbondo, inhame, maracatu, samba, mungunzá estão presentes a marca deste continente-irmão, que nos põe a refletir e agir no com-bate à discriminação étnica e ao racismo, práticas que servem apenas para reforçar a desigualdade social em que vivemos. A cultura africana por outro lado nos ensina que “eu não sou sem o outro”.

Na animação missionária desenvolvemos o espírito solidário com o continente africano através das nossas orações, intenções missionárias e também, por exemplo, com a coleta do Dia Mun-dial das Missões. Em 2005 quase alcançamos 450 mil dólares destinados à Igreja africana, porém, em nosso dia-a-dia há muito

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“Ô Mãe África, Mãe negra de coração

teu canto é como a chuvafecunda este chão!”

de Roseane de Araújo Silva

Sugestão para o grupoacolhidamotivação (objetivo): trazer à memória das nossas crianças e adolescentes a importante presença africana no Brasil.oração: Rezemos ao Deus da Vida por todas as crianças do continente africano e por todas as crianças afro-brasileiras, que convivem diariamente com a violência do preconceito.partilha dos compromissos semanais.Leitura da palavra de deus: João 13, 33-35. A expressão de fé em Jesus é o amor.Compromissos missionários: Jesus, consciente do momento em que vivia nos propõe o novo, convidando-nos a ser missio-nário ou missionária onde estivermos sem preconceito e sem diferenças. Somos chamados a tornar outras crianças amigas de Jesus, sem fazer nenhuma distinção. Vamos refletir em grupo este nosso chamado?momento de agradecimento ao deus pai pela vida de mi-lhares de crianças do continente-irmão.Canto e despedida.

Nkosi sikelele Afrika!

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Menino lê a Bíblia em orfanato missionário, Bouake, Costa do Marfim.

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omo você pensa Deus?É interessante observar que muitos o vêem a partir de alguns quantitativos, como: “Deus-juiz” = seria uma espécie de deus escrupuloso, que está sentado em seu trono, vigiando-nos para nos condenar ou absolver. È

um deus que não respeita a liberdade humana; “Deus-polícia” = está sempre no nosso pé, pronto para nos prender quando cometemos algum erro que vai contra a lei; “Deus-light” = seria uma espécie de deus “paz e amor”, que sempre se adapta aos nossos próprios interesses e caprichos e que não os reprime. É a popular figura do “meu deus” (intimista), que me pertence! “Deus-careta” = deixe para pensar nele depois, pois esta coisa de Deus é coisa para “gente velha”. O que interessa agora é aproveitar a vida enquanto se pode e pronto! “Deus-cientista” = que só pode ser descoberto racionalmente. É um deus crânio, “CDF”, ao qual as pessoas devem se adaptar e pronto.

É galera, poderíamos dar ainda vários outros exemplos das visões mais freqüentes de Deus...

Mas afinal, quem é Deus?Como vimos anteriormente, é difícil definir Deus a partir de

uma coisa. O que sabemos é que Ele não é nada disso que foi citado. Sendo assim, surge um grande problema para nós: “quem é o Deus verdadeiro?”

Sem procurar defini-lo, mas atribuindo-lhe os valores que demonstra ter, é misericordioso, nos perdoa sempre que o ofen-demos (cf. Lc 15, 11-32); justo, que ouve o clamor do seu povo e o defende na injustiça (cf. Dn 13); alegre, que zela pela felicidade de seu povo (cf. Jo 2, 1-12); esperança, que restaura nossas forças e nos ajuda a ter perspectivas na vida (cf. Lc 24, 13-35); amor e nosso amigo (cf. 1Jo 4, 7-21). Além destas, poderíamos refletir sobre muitas outras qualidades e formas de expressão que são próprias do Deus no qual podemos confiar.

Como apresentar este Deus aos jovens?Neste mundo pós-moderno, onde cada vez mais se valo-

riza a vivência sem comprometimento e sem relacionamento com os demais jovens, onde passaram a existir as chamadas amizades “virtuais e líquidas”, ou seja, sem concretude, só poderemos vivenciar este Deus numa vida fraterna e autêntica, tornando-nos amigos e respeitando sua forma de pensar e de se expressar. Como jovens, somos convidados e convocados a buscar a Deus e ir ao encontro dos nossos amigos na busca da felicidade para todos.

Surge também o desafio de estarmos inseridos junto a outros jovens, não com discursos prontos e com imposição de nossas idéias como as únicas verdadeiras, mas, através da valorização e divulgação das próprias expressões jovens, seja na música (nos ritmos mais variados: rock, rap, eletrônica ou outras) que expresse nossa forma de ser jovem saudável, através de diver-sões (esporte, passeios, brincadeiras...), sabendo que “tudo é permitido, menos o pecado” (São Felipe Néri), ou seja, Deus não proíbe nada, mas não quer que nada nos escravize.

Fica aberta uma grande discussão que vale a pena refletir-mos: como você pensa e vê Deus? A partir de sua realidade, como compreender esta presença de Deus na juventude?

Júlio César Caldeira é seminarista imc e estudante de Filosofia em Curitiba.

Quem é Deuspara você?

Hoje em dia, talvez mais do que nunca, ouvimos muitos jovens dizendo: “não

tenho religião, mas acredito em Deus”. A partir de um bate-papo com alguns

deles, notamos a diversidade de visões que têm acerca de Deus.

de Júlio César Caldeira

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26 Novembro 2006 -

de Jaime Carlos Patias

cabamos de celebrar o mês missionário e o Dia Mundial das Missões no domingo, 22 de outubro. O tema da Campa-nha Missionária “A fé não tem fronteiras” nos levou a pensar

nos povos pelo mundo que ainda não são alcançados pelo Evangelho.

No dia 30 de novembro de 1919, Bento XV publicava sua Carta Apostólica Maximum Illud “sobre a propagação da fé católica no mundo inteiro”. Nela, o papa se declarava “dolorosamente surpreso” ao constatar que, depois de 1900 anos e não obstante “a imensa tarefa realizada pelos missionários para a difusão da fé através do mundo, do zelo incansável por eles desenvolvido, e dos sublimes exem-plos de invencível coragem que eles nos deixaram”, somava ainda a um bilhão o número das pessoas não atingidas pela Boa Nova do Evangelho.

Um bilhão de pessoas, em 1919, re-presentava 53% da população mundial. Em 2006, 87 anos depois, o número de pessoas que não receberam a Boa No-tícia do Evangelho é de quatro bilhões e trezentos milhões. Em 1919 os cristãos eram 47% da população mundial, hoje são menos de 20%. Por certo, não se pode colocar em estatísticas uma realidade espiritual como é a adesão a Jesus Cristo. No entanto vale a pena deixar-se ques-tionar também pelos números e sobre a participação da Igreja do Brasil na Missão além-fronteiras.

Padre Daniel, qual a sua avaliação da Campanha Missionária de 2006, que teve como tema “A fé não tem fronteiras”?

No ano de 2003, as Pontifícias Obras Missionárias, fizeram uma sondagem e pesquisa a nível nacional sobre a Campa-nha Missionária, enviando mais de nove mil questionários para todas as Paróquias do Brasil. Recebemos de volta cerca de 1.800 respostas. Isto representa mais ou menos 20% dos questionários. Parece pouco, mas para os entendidos em estatís-ticas foi um bom índice. Geralmente, nós,

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Quando superaremos o amadorismo?

agentes e membros da Igreja, não temos uma boa prática em responder pesquisas. As coisas ficam na gaveta ou vão para o cesto do lixo. Depois de receber e tabular as respostas desta pesquisa, verificamos com grata surpresa que a Campanha Mis-sionária, os subsídios oferecidos para a animação missionária do mês de outubro de cada ano, têm muito boa aceitação. A pesquisa revelou que, teoricamente, há um trabalho de formação, animação, e cooperação missionária. Porém, na vida prática, a incidência nas ações concretas da pastoral, revela que a Missão ainda parece ser um tema e assunto para alguns poucos sonhadores. É verdade que a vida, a ação, a consciência missionária no Bra-sil, cresceu. Mas estamos longe de uma Igreja toda ela missionária. Em relação à CM de 2006, com o tema: “A fé não tem fronteiras”, quisemos resgatar o grande e imortal missionário além-fronteiras, São Francisco Xavier, nos seus 500 anos de nascimento (1506 - 2006). De fato a fé, o Evangelho, a Salvação, a pessoa de Jesus Cristo, não têm fronteiras, são universais, dons oferecidos a todos.

A Igreja no Brasil está preocupada com a Missão no interior das paróquias.

O senhor não acha que priorizando a Missão interna e local, a Igreja deixa os batizados com uma identidade cristã e católica ainda mais fraca?

Em termos de Missão é preciso, pelo menos, agir localmente e pensar, ver, olhar, sonhar universalmente. A Missão e o Reino ultrapassam os estreitos limites geográficos, sociológicos, étnicos e até mesmo religio-sos da nossa comunidade local, paróquia, diocese, país etc...O horizonte da Missão é o mundo. Ou ela é universal, ou deixa de ser católica. A tentação é sempre querer justificar que aqui é o lugar da Missão. É, e não é. Ela não se restringe a nenhum tipo de limite. Ela é anúncio, diálogo, ser-viço, testemunho. Na ação missionária é preciso ousar, partir, sair de nós mesmos, deixar de dar voltas ao redor do nosso pequeno mundo. O documento de Puebla (1979), no seu número 368, diz claramente que “é preciso dar de nossa pobreza”. A maturidade eclesial de uma paróquia ou diocese não se dá quando todos os seus quadros e pastorais estiverem totalmente realizadas, mas pela sua capacidade de abertura missionária. A Missão estimula, cria, revigora, não deixa acomodar. Nossa identidade católica só será de fato católica, se for missionária, isto é, universal. Temos muito caminho a percorrer, uma longa estrada está à nossa frente. É preciso avançar, isto se faz com uma boa formação, animação e vida missionária nas famílias, comunidades, seminários etc...

Os documentos pastorais editados a nível nacional quase não falam da dimensão missionária Ad Gentes. E o documento 80 da CNBB já tem quase 20 anos de vida. Não seria o caso de sugerir aos bispos que o tema seja tratado de uma maneira mais profunda e explícita?

Não sei se os documentos resolvem lá muita coisa. A CNBB, em suas “Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil” (DGAE) para o período 2003-2006 fala claro: a formação missionária – voltada para a Missão além-fronteiras – deve ocupar um lugar central na vida cristã e a tarefa especificamente missionária não deve tornar-se “uma realidade diluída na Missão

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27- Novembro 2006

Padre Daniel Lagni, Diretor Nacional das Pontifícias Obras Missionárias (POM) do Brasil, representante dos Diretores Nacionais das POM da América Latina e Caribe e membro da Congregação para a Evangelização dos Povos faz uma avaliação da Campanha Missionária.Quando superaremos o amadorismo?

global de todo o povo de Deus”. (nº 94) Caberá à comunidade eclesial promover a consciência missionária e a cooperação com a Missão Ad Gentes... A formação missionária ocupe um lugar central na vida cristã (nº 102). Nossas comunidades eclesiais, apesar de sobrecarregadas de tarefas e muitas vezes contando com escassos recursos, devem “dar de sua pobreza” também para a evangelização Ad Gentes ou para as Missões em outras regiões e além-fronteiras. Uma Igreja local não pode esperar atingir a plena maturidade eclesial e, só então, começar a preocupar-se com a Missão para além de seu território. A maturidade eclesial é conseqüência e não apenas condição de abertura missionária (nº 138). Estamos no final da vigência destas diretrizes. Alguma diocese, alguma paróquia pode honesta-mente dizer que a formação missionária – voltada para a Missão além-fronteiras – ocupa um lugar central na vida cristã? É só olhar para a ‘ferramenta ordinária’ da formação: textos de catequese, folhetos litúrgicos, subsídios homiléticos, jornais paroquiais ou diocesanos... Onde está a preocupação, nem digo a centralidade, pela formação missionária?

Não lhe parece que os bispos e o clero em geral delegam a questão missio-nária demais para as POM e para outros organismos missionários regionais ou locais que têm pouca incidência sobre as opções pastorais locais e não podem trabalhar adequadamente a questão da Missão além-fronteiras?

entre povos ou grupos humanos, onde elas ainda não existem, porque esta é a tarefa primária da Igreja, que é enviada a todos os povos, até os confins da terra. Sem a Missão Ad Gentes, a própria dimensão missionária da Igreja ficaria privada do seu significado fundamental e do seu exemplo de atuação (Rmi, nº 34). Não se trata, portanto, de uma tarefa que pode ser delegada às POM ou aos Institutos Missionários, nem a uns abnegados vo-luntários. Trata-se de tarefa primária da Igreja, de toda ela, de qualquer um dos seguidores de Jesus Cristo. Sendo, como é, tarefa primária, sua omissão só pode ser considerada grave.

A consciência missionária depende da informação e formação. A imprensa missionária tem muita dificuldade para divulgar suas publicações e aumentar os seus leitores. Como enfrentar essa apatia nos cristãos em relação à leitura missionária?

Estamos num círculo vicioso. Não há procura pela imprensa missionária porque falta interesse pela Missão; e falta interes-se pela Missão porque falta informação e formação missionária. É uma situação lamentável sob todos os aspectos. Nos Atos dos Apóstolos lemos mais de uma vez (11,18; 15,3; 16,5) que o relato das maravilhas que Deus operava pelos seus missionários, enchia a comunidade cristã de alegria e entusiasmo... Exatamente a alegria e o entusiasmo que fazem falta a nossas entediadas comunidades.

Jaime Carlos Patias é missionário, mestre em comunicação e diretor da revista Missões.

O papa João Paulo II, na Redemptoris Missio já alertava (e as DGAE conhecem esse alerta do papa) que: “É preciso evitar que esta tarefa especificamente missionária, que Jesus confiou e continua cotidianamente a confiar à Sua Igreja, se torne uma realidade diluída na Missão global de todo o Povo de Deus, ficando desse modo descurada ou esquecida” (nº 34). Realidade diluída. Essa é a palavra certa. Tudo é missionário, todos somos missionários. Vamos dormir em paz. A Encíclica de João Paulo II, já em 1990, explicava que do ponto de vista da evangelização, podemos distinguir três situações distintas:

a) povos, grupos humanos, contextos socioculturais onde Cristo e o seu Evan-gelho não são conhecidos, onde faltam comunidades cristãs suficientemente amadurecidas para poderem encarnar a fé no próprio ambiente e anunciá-la a outros grupos. Esta é propriamente a Missão Ad Gentes.

b) as comunidades cristãs que possuem sólidas e adequadas estruturas eclesiais, são fermento de fé e de vida, irradiando o testemunho do Evangelho no seu ambien-te, e sentindo o compromisso da Missão universal. Nelas se desenvolve a atividade ou cuidado pastoral da Igreja.

c) a situação intermédia, especialmen-te nos países de antiga tradição cristã, mas, por vezes, também nas Igrejas mais jovens, onde grupos inteiros de batizados perderam o sentido vivo da fé, não se reconhecendo já como membros da Igreja e conduzindo uma vida distante de Cristo e do Seu Evangelho. Neste

caso, torna-se necessária uma “nova evangelização”, ou “re-evangelização” (RMi, nº 33). E o papa arremata:

Os confins entre o cuida-do pastoral dos fiéis, a nova evangelização e a atividade missionária específica não são facilmente identificáveis, e não se deve pensar em criar entre esses âmbitos barreiras ou compartimentos estanques. Não se pode, no entanto, perder a tensão para o anúncio e para a fundação de novas Igrejas

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Celebração do Dia Mundial das Missões 2006, Catedral da Sé, SP.

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28 Novembro 2006 -

Carta aos povos da AmazôniaEntidades manifestam solidariedade a dom Erwin Kräutler e defensores dos direitos humanos.

m repúdio à perseguição aos defensores e defensoras dos direitos humanos na Amazônia. A Igreja na Amazônia historicamente vem se comprometendo na defesa da vida, da justiça e da paz para os povos dessa região. A sua missão principal é o compromisso com o Reino de Deus para que ele se concretize, especialmente no meio

daqueles e daquelas que são espoliados de sua dignidade humana como filhos e filhas de Deus e, portanto, relegados aos porões da nossa sociedade de forma marginalizada e excluída.

Os defensores e as defensoras dos direitos humanos, com-prometidos, verdadeiramente, com o Reino de Deus e a sua justiça, incomodam os inimigos do povo e, lamentavelmente, têm sido atacados de forma leviana, caluniosa, maldosa e difamadora através de cartas anônimas, manifestações públicas, declarações em jornais, além de uma gama variada de outras ameaças.

Ameaças a dom ErwinMais uma vez dom Erwin Kräutler e a Igreja em geral, foram

atacados de forma pública pelo seu compromisso com o Reino de Deus e serviço aos pobres e pequenos da região do Xingu. Foram desferidas inúmeras acusações infundadas que têm a finalidade clara de desarticular e enfraquecer a missão incansável e profética do bispo do Xingu, que tem dado para todo o Brasil um forte testemunho de anúncio e denúncia em favor de uma sociedade justa e igualitária.

A questão é que existe em toda a Amazônia um consórcio criminoso de pessoas grileiras de terras públicas, muitos fazen-deiros que utilizam o trabalho escravo, muitos madeireiros que exploram a floresta de forma ilegal, pessoas que praticam o trabalho infantil e abuso sexual de menores, que querem fazer desaparecer todas as pessoas que lutam e se comprometem em defesa da vida. São esses inimigos perigosos, exploradores da nossa região que estão incomodados pela atuação dos que denunciam tais crimes, por conseguinte também com o bispo.

Interesses econômicosHá, na verdade, dois modelos em debate sobre a Amazônia:

o agronegócio e o desenvolvimento sustentável. Os grandes proprietários, através de suas organizações vendem a falsa idéia de que a região somente será desenvolvida com a monocultura da soja, exploração de minério e madeira, como recentemente no último dia 8 de outubro foi apresentado em jornais de grande circulação na cidade de Belém. Essas pessoas defendem um desenvolvimento de forma depredatória, sem estudos prévios e sem considerar não só a própria geografia da Amazônia, mas, também os seus povos os quais por meio de suas entidades e organizações vêm lutando pela implementação de um desen-volvimento sustentável, que garanta a vida para a presente e futuras gerações.

Insultam a Igreja Católica na pessoa do bispo dom Erwin, que escolheu ser brasileiro por amor aos excluídos e excluídas deste chão, e que há mais de 40 anos está na Prelazia do Xingu se doando pela construção do Reino de Deus, defendendo a vida, e dignidade da pessoa humana, obedecendo o mandato de Jesus que nos manda trabalhar “para que todos tenham vida e vida em abundância”. E quem são seus algozes? De onde eles vêm? O que fazem em defesa da vida e dos povos amazônicos? Visam o bem comum ou o enriquecimento próprio a qualquer custo?E

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Dança ritual na comemoração do Kuarup, Rio Xingu.

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29- Novembro 2006

Lembremos que no ano de 2007, a Campanha da Fraternidade da nossa Igreja Católica será Fraternidade e Amazônia: Vida e Missão Neste Chão, portanto, nós, filhas e filhos de Deus, temos o compromisso de sermos multiplicadores da prática da justiça, da verdade e da paz e de defendermos as pessoas que corajosamente colocam a sua vida a serviço daqueles e daquelas que são ultrajados na sua dignidade humana.

Queremos manifestar o nosso total apoio e solidariedade a dom Erwin e tantos outros e outras que estão sendo atacados de forma injusta (...).

Exigimos das autoridades competentes as providências devidas para os autores das ameaças e campanhas difamató-rias, além de prosseguir na condenação daqueles que tiveram a cruel ousadia de assassinar Ir. Dorothy, Bartolomeu Morais da Silva – o Brasília, José Dutra da Costa – o Dezinho, Ademir Alfeu Federicci – o Dema, e tantos outros e outras defensores dos direitos humanos e da vida na Amazônia.

Belém, 14 de outubro de 2006.

Entidades, pastorais e participantes do encontro da CF 2007.

ós, povos indígenas do Xingu, vimos por meio desta, manifestar toda nossa indignação e angústia diante de decisão liminar proveniente do Tribunal, na qual foi permitida a continuidade da obra da Pequena Central Hidrelétrica de Paranatinga II, até a decisão de mé-rito sobre a questão. A comunidade indígena se vê

ameaçada por esta realidade alarmante que reflete uma política governamental focada em interesses da elite econômica, a qual vai flagrantemente de encontro aos direitos sócio-ambientais constitucionalmente assegurados.

É desesperadora a perspectiva dos graves impactos que serão gerados se a hidrelétrica vier a se efetivar. Somos Povos da Flo-resta e a relação de respeito que mantemos com o meio ambiente propicia a manutenção da vida e da biodiversidade. A tão falada sustentabilidade, que os não-índios colocam como fundamental à sobrevivência e a existência das próximas gerações, mas poucos fazem para efetivar, foi, por nossos antepassados, e é por nós, naturalmente buscada, pois, nossos modos e cultura não se pau-tam por práticas degradantes, visando interesses utilitaristas de uma classe, e sim ações que atendam aos interesses do coletivo e que não ocasionem danos ao meio natural que nos envolve e nos fornece toda a riqueza que necessitamos para viver.

Logo, contraditório nos parece, que o Estado brasileiro, do qual fazemos parte, realize ou legitime práticas que atentam contra a existência de nossa coletividade. (...)

Não queremos que o Rio Kuluene seja poluído com o óleo eliminado pelas turbinas. (...)

NNão queremos ter nosso regime alimentar fique comprometido pela falta dos peixes;Não queremos que o restante da fauna terrestre desapareça;Não queremos que espécies da flora desapareçam;Não queremos que o local ‘sagrado’ do primeiro surgimento de Kuarup seja inundado;Não queremos uma obra que está voltada para os interesses de um empresariado que somente objetiva acumular riquezas às custas da morte.NÃO QUEREMOS A PCH PARANATINGA II!E sim queremos que a Constituição Federal, a Convenção n°

169 da OIT e a Carta da Terra, com seu conjunto de Princípios - entre eles, Princípio do Direito à Vida Saudável, Princípio da Dignidade, Princípio da Participação Social, Princípio do Res-peito à Diversidade, Princípio da Proteção do Meio Ambiente -, sejam efetivados! (...)

Finalizamos esta carta atentando para a responsabilidade e o compromisso do Poder Judiciário com a justiça social, a fim de que práticas abusivas e desumanas não se tornem lugar comum em nosso país. Amigos e amigas, autoridades do país, defensores da natureza, solicitamos apoio de todos para preservamos juntos a nossa grande riqueza: rios, matas, peixes e flora, que ainda restam em nossa reserva do Parque do Xingu.

Parque do Xingu, 18 de outubro de 2006.

Comissão Indígena do Movimento do Parque do Xingu, PA.

Carta do XinguÍndigenas solicitam apoio para impedir construção de Hidrelétrica de Paranatinga.

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BrasíliaPrograma de TV da Igreja no brasil

Com duração de 30 minutos, o programa semanal de TV da CNBB, “Igreja no Brasil”, pretende divulgar o pensamento oficial da Igreja. Além disso, propõe criar laços de comunhão, participação e colaboração entre as TVs católicas.

Dias e horários de exibição do programa: do-mingo, às 7h00 - TV Aparecida; domingo, às 9h30 - TV Horizonte; segunda-feira, às 7h - TV Horizonte; segunda-feira, às 19h30 - TV Nazaré; terça-feira, às 21h30 - Rede Vida; quarta-feira,às 19h30 - TV Horizonte; sexta-feira, às 16h30 - TV Canção Nova; sexta-feira, às 20h30 - TV Século 21.

AlagoasFaleceu Maninha Xukuru-Kariri

Em Palmeira dos Índios, no dia 11 de outubro, em função de problemas respiratórios e parada car-díaca. Maninha participou da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme) desde as primeiras reuniões para a criação da entidade. Ela foi a primeira mulher a fazer parte da coordenação da Apoinme, e lá permaneceu por 16 anos. Maninha esteve entre as 52 brasileiras indicadas pelo Projeto 1000 Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz de 2005. “A sociedade tenta negar suas origens indígenas. Eles tomaram nossas terras, nossas lín-guas e nossas crenças. Hoje, nós sabemos quem nós somos, quais são os nossos direitos e a posição que queremos ocupar na história”, disse, ao ser indicada ao prêmio. Lembraremos de Maninha como uma grande mulher lutadora, preocupada com a vida dos povos, engajada em todos os aspectos da luta, atuante na conquista da terra, da educação, da saúde. A morte de Maninha é uma perda irreparável para o movimento indígena e para os movimentos sociais.

Mato GrossoJustiça após 19 anos

Após 19 anos do bárbaro assassinato de Vicente Cañas Costa, missionário jesuíta que vivia com o povo Enawenê-Nawê no estado de Mato Grosso, um mandante e dois executores do crime sentaram-se no banco dos réus. O julgamento se realizou em 24 de outubro, em Cuiabá, Mato Grosso e significou um grande avanço na luta contra a impunidade. O crime ocorreu porque Cañas apoiava a demarcação da terra Enawenê-Nawê e trabalhava pela saúde deste povo. Dois mandantes denunciados já morreram. A ação contra o terceiro acusado prescreveu pela sua idade avançada. Assim, Ronaldo Antônio Osmar, ex-delegado de polícia de Juína, localidade do crime,

Martinez Abadio da Silva e José Vicente da Silva foram julgados pelo Tribunal do Júri pelos crimes de homicídio duplamente qualificado, mediante pagamento e em emboscada. O ex-delegado Ronaldo responde ainda pelo agravante por ter promovido ou organizado a cooperação no crime, dirigindo a atividade criminosa dos demais envolvidos.

Vicente Cañas viveu com os Enawenê por 10 anos. Participou dos primeiros contatos do grupo com não-índios, em 1974. Ele os acompanhava em suas atividades tradicionais de pesca, agricultura e na vida cotidiana. A população dos Enawenê-Nawê era de 97 pessoas quando foram contatados. Hoje, são 430. Lutava ainda pela demarcação de suas terras tradicionais, cobiçadas pelos fazendeiros que se instalavam na região, e participava oficialmente de um grupo de trabalho da Funai para identificação do território indígena.

Ameaçado de morte por seu comprometimento com a sobrevivência do povo Enawenê-Nawê, Vicente Cañas foi vítima da ambição e violência dos fazen-deiros, que o mataram a facadas em 1987, quando se preparava para atender uma aldeia, levando medicamentos. Foi abandonado, agonizante, à porta de seu barraco, pelos assassinos que fugiram pelas picadas abertas na mata em direção à fazenda de um dos mandantes. Seu corpo só foi encontrado cerca de 40 dias depois. O inquérito tramitou durante seis anos, e a revelação do envolvimento dos acusados se deu por testemunhos de indígenas da etnia Rik-baktsa (canoeiros), habitantes das terras vizinhas à dos Enawenê-Nawê.

AmazonasCurso de Realidade Amazônica

O Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino Superior da Amazônia (ITEPES) promove o Curso de Realidade Amazônica. O curso será realizado de 22 de janeiro a 16 de fevereiro de 2007, com aulas pela manhã e tarde, perfazendo um total de 160 horas. Tem como objetivo geral ajudar os agentes de evangelização comprometidos com a construção de uma nova so-ciedade, na compreensão da realidade amazônica em que estão inseridos para que possam transformá-las a partir das exigências éticas e da fé cristã. Pretende também informar os agentes sobre a realidade am-biental, sócio-político-econômica, cultural e eclesial da Amazônia; levar os agentes a refletir criticamente sobre a realidade em que vivem; subsidiá-los com um instrumental teórico-metodológico, necessário para o conhecimento da realidade e para o planejamento de suas atividades; levá-los a descobrir à luz da fé, pro-postas concretas de ação libertadora; promover uma articulação maior entre as “pastorais” comprometidas com a construção de uma nova sociedade; socializar os conhecimentos. O curso destina-se a agentes de pastoral inseridos nas comunidades eclesiais e serviços pastorais na região amazônica e a leigos e leigas, religiosos e religiosas, e presbíteros vindos de outras regiões para atuar na Amazônia. Informações: [email protected] pelo telefone(092) 3642 5635.

Fontes: CNBB, CIMI, ITEPES.

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