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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
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A APLICABILIDADE DO ESTUDO DE CASO EM PESQUISAS DE COMUNIDADES CAMPONESAS AFETADAS POR PROJETOS DE
INVESTIMENTOS RURAIS
A CASE STUDY OF THE APPLICABILITY IN RESEARCH PEASANT COMMUNITIES AFFECTED IN RURAL INVESTMENT PROJECTS
EDUARDO ROZETTI DE CARVALHO1 VICENTE DE PAULO DA SILVA2
Resumo: No campo científico o enveredamento de diferentes estratégias para a realização de pesquisas, esbarra nas fragilidades que alguns métodos possuem em sua aplicação. Motivo esse que afasta os pesquisadores do uso do estudo de caso como ferramenta na representação e modelo. Pensando nisso, apresentamos esse artigo que tem por objetivo destacar e sugerir caminhos para a superação das fragilidades metodológicas desse tipo de estudo. Metodologicamente esse artigo está sustentado em debates e revisões acerca da temática. Com isso foi possível aprofundarmos na necessidade de criação de maior rigor metodológico quando destacamos a importância do caso nas pesquisas, permitindo uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos em análise. Outro ponto de destaque no estudo reside na descrição das fases metodológicas de sua implementação, fator de sustentação na adoção desse método.
Palavras-chave: Estudo de Caso; Comunidades Camponesas; Metodologia de estudo.
Abstract: In the scientific field research of different strategies for conducting research, bumps nas weaknesses que some methods have in your application . Reason that the que away researchers make use of the case study as a tool in representation and model. thinking this, we present that article which aims to highlight paths and pará suggest an overcoming of methodological weaknesses in this type of study. Methodologically that is article sustained in discussions and review about the theme. With possible that was deepen nd need of greater methodological rigor creation when we emphasize the importance case nas research, enabling an investigation paragraph to preserve as holistic and meaningful characteristics of the events in analysis. Another important point in the study reside in the description of the methodological phases of its implementation , support factor in adoption in this method.
Key-words: Case study; Peasant Communities; Study methodology.
1 – Introdução
Estudos de caso vêm sendo usados há muito tempo em diferentes áreas
científicas com variações quanto aos métodos e finalidades. O conhecimento gerado
por eles tem um valor em si mesmo, sendo uma forma particular de estudo. Todavia
1 Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Bolsista
Capes, Membro do NEPERGE. E-mail de contato: [email protected] 2 Docente Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Uberlândia. Coordenador do
NEPERGE. E-mail de contato: [email protected]
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o estudo de caso por si só não é uma escolha metodológica ao acaso, mas uma
escolha que parte do objeto a ser estudado, ou seja, a problemática que se
apresenta permite, ou mesmo oferece, esse procedimento como caminho de
resposta.
Todavia a esse procedimento metodológico são apresentados críticas em sua
aplicação, como falta de delineamento metodológico, generalização e tempo de
implementação. Motivos esses que afastam os pesquisadores de seu uso como
ferramenta na representação e modelo de análise.
Pensando nisso o presente trabalho visa apresentar e sugerir caminhos para
a superação das fragilidades metodológicas ligadas ao método de estudo de caso,
com vista a o oferecer como estratégia de pesquisa possível na compreensão dos
efeitos e riscos do capital sobre as comunidades no campo.
Metodologicamente esse artigo está sustentado em debates e revisões
acerca da temática, bem como direcionamentos reflexivos das realidades (re)criadas
pelo avanço dos Grandes Projetos de Investimento em comunidades camponesas.
Para tanto, este trabalho e seus debates estão estruturados inicialmente com
a apresentação do procedimento como estratégia de pesquisa para as comunidades
camponesas afetadas pelos projetos de investimento no campo, seguido de
reflexões dos caminhos para superação dos preconceitos e fragilidades dessa
estratégia, sendo finalizado pelos delineamento metodológico de investigação
necessários a ele.
2 – O estudo de caso como estratégia de pesquisa
De acordo com Oliveira (1999) a adoção de um método é um momento em
que é destacado um conjunto de processos pelos quais se torna possível conhecer
uma determinada realidade, produzir determinado objeto ou desenvolver/entender
certos procedimentos.
O campo das ciências sociais, conforme Gil (2008) proporciona um leque de
escolhas de métodos que fornece ao pesquisador a opção que mais se enquadre ao
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objeto em foco, todavia sua escolha gera um novo esforço investigativo que deve ser
muito bem pensado. Assim, refletir na natureza do objeto torna-se uma necessidade
nessa tomada de decisão, principalmente quando a escolha está ligada a um
procedimento que teoricamente possue críticas, como é a do tipo estudo de caso.
Assim, os pesquisadores devem ter atenção e cuidado na escolha do estudo
de caso como método, pois “pesquisadores inexperientes, entusiasmados pela
flexibilidade metodológica dos estudos de caso, ao final de sua pesquisa,
conseguem apenas amontoados de dados que não conseguem analisar e
interpretar” (GIL, 2008, p.59), principalmente na utilização de procedimentos que
possuam segundo algumas vertentes fragilidades metodológicas.
É importante mencionar que, essa estratégia se diferencia não na hierarquia
do estudo, mas sim em caráter “pluralístico” (YIN, 2001), que podem normalmente
ter três propósitos: exploratório, descritivo e/ou explanatório. O importante, já que
essas proposições possuem grandes áreas de sobreposições entre elas, é que
sua(s) escolha(s) seja(m) realizada(s) de forma clara e bem delimitadas, evitando
desajustes ao perceber que uma estratégia é mais vantajosa que outra. Ainda sobre
isso Gil menciona que o estudo de caso pode ser utilizado “tanto em pesquisas
exploratórias quanto descritivas e explicativas.” (GIL, 2008, p.58), fundamentando o
foco “pluralístico”.
Pensando nisso entendemos que, durante os períodos que antecedem a
preparação de um estudo, a elaboração de questões vinculadas a adoção de uma
estratégia de pesquisa deve ser foco do pesquisador, para que se consiga escolher
o processo mais adequado a responder a problemática do objeto. Entre algumas
dessas questões importantes temos: Por que realizar um estudo? O estudo de caso
seria uma opção? Deve-se realizar no local um experimento, um levantamento, uma
pesquisa histórica ou um estudo etnográfico? Devo optar pelas fontes secundárias
como a opção para entender o caso estudado?.
Essas questões tornam-se pilares de sustentação ou talvez direcionamentos
para novos caminhos. Essas etapas são necessárias no percurso do pesquisador,
exigindo a necessidade de definição e sustentação do(s) caminho(s) do estudo,
sendo importante sua justificação e validade, principalmente quando existirão
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pessoas e/ou grupos organizados em avaliação, como o de comunidades
camponesas a que propomos.
Devemos pensar nisso porque a estratégia de pesquisa orientada por um
estudo de caso, em muitas investigações na área de Ciências Sociais, não tem sido
aplicada de acordo com o que se espera de um trabalho científico desse modelo,
deixando de lado sua essência, mas que deve estar vinculada basicamente na
construção de uma investigação empírica que pesquise fenômenos dentro de seu
contexto real, sustentada por uma ampla e exaustiva plataforma teórica e disciplina
metodológica.
É por isso que destacaremos, mais adiante, como superar algumas das
fragilidades e caminhos para implementação do delineamento da pesquisa,
principalmente em comunidades afetadas por projetos de investimentos rurais,
adotando então o estudo de caso como ferramenta.
Dando continuidade, percebemos que esse procedimento metodológico se
enquadra muito bem para as pesquisas sobre esse objeto, frente sua representação
e modelo. Destaca-se, conforme Gil, que a importância do estudo de caso quando
comparado a outras pesquisas reside em que ele “é caracterizado pelo estudo
profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu
conhecimento amplo e detalhado, tarefa praticamente impossível, mediante os
outros tipos de delineamentos considerados” (GIL, 2008, p.57-58).
Assim, o estudo de caso aplicado em comunidades camponesas e o setor
agrícola, do entorno do empreendimento canavieiro, é um dos delineamentos que se
encaixa nesse propósito, pois se enquadra como destaca Gil, em suas vertentes de
análise:
a) explorar situações da vida real cujos limites não estão claramente definidos; b) descrever a situação do contexto em que está sendo feita determinada investigação; e c) explicar as variáveis causais de determinado fenômeno em situações muito complexas que não possibilitam a utilização de levantamentos experimentais. (GIL, 2008, p.58)
Pois bem, percebemos assim que nesse universo em análise, o estudo de
caso, apresenta-se como um procedimento que por si só se apresenta como uma
forma escolhida e adequada ao entendimento dos efeitos do capital, no caso os
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projetos de investimentos rurais, sobre as comunidades camponesas. Permitindo
explicar as variáveis que causam riscos e fenômenos sobre esse contexto social.
3 – Preconceitos e caminhos para implementação de Estudo de
Caso
Claro que existem preconceitos contra o estudo de caso e Carlos Gil (2008)
menciona os principais:
Falta de rigor metodológico: procedimentos metodológicos não rígidos;
Dificuldade de generalização: a análise de um ou múltiplos casos gera
uma estrutura frágil para a generalização;
Tempo destinado à pesquisa: tempo muito longo e resultados pouco
consistentes
Sobre a questão da falta de rigor da pesquisa de estudo de caso Yin destaca
que ela ocorre porque,
O pesquisador de estudo de caso foi negligente e permitiu que se aceitassem evidências equivocadas ou visões dispendiosas para influenciar o significado das descobertas e das conclusões [...] Cada pesquisador de estudo de caso deve trabalhar com afinco para expor todas as evidências de forma justa (YIN, 2001, p.29)
Já a cerca da pouca base para generalização que o estudo de caso fornece o
mesmo autor menciona que,
[...] da mesma forma que os experimentos, são generalizáveis a proposições teóricas, e não as populações ou universos. Nesse sentido, o estudo de caso, como o experimento, não representa uma „amostragem‟, e o objetivo do pesquisador é expandir e generalizar teorias [...] e não freqüências (YIN, 2001, p.29)
Em referência ao terceiro problema do estudo de caso, a necessidade de um
grande tempo e os diversos resultados ilegíveis, o autor estabelece que “nem os
estudos de caso precisam demorar muito tempo. Isso confunde incorretamente a
estratégia de estudo de caso com um método específico de coleta de dados, como
etnografia ou observação participante.” (YIN, 2001, p.29)
Em contraponto o autor destaca sua importância ao mencionar que este se
apresenta,
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como esforço de pesquisa, o estudo de caso contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticas.[...] permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões. (YIN, 2001, p.21).
Todavia para superação das fragilidades definimos alguns caminhos,
apoiados nos referenciais do próprio Robert K. Yin (2001) e outros autores, como a
criação de um rigor metodológico, expansão de proposições teóricas e planejamento
metodológico, que estão melhores descritos no quadro 1.
FRAGILIDADE DESCRIÇÃO DA FRAGILIDADE CAMINHO PARA SOLUÇÃO
Pouco rigor metodológico
Procedimentos metodológicos flexíveis, diferentes de experimentos e levantamentos, o que resulta no comprometimento da qualidade dos seus resultados.
Os procedimentos metodológicos não são prerrogativas, mas exigem um cuidado no planejamento, coleta e análise dos dados em posse do pesquisador, afim de expor as evidências de forma justa.
Fragilidade na generalização
A análise de múltiplos ou um único caso pode ser frágil para definir proposições e resultados, o que esbarra na generalização, ou, falsa verdade.
Como o procedimento não é de fornecer um conhecimento a partir de procedimentos estatísticos, ele é válido por expandir proposições teóricas.
Tempo para implementação
O estudo único ou de múltiplos casos desencadearia a necessidade de um tempo maior para coleta eficaz, satisfatória e real da realidade pesquisada. Tanto é que historicamente os trabalhos de estudo de caso demandaram muito tempo e deixaram a desejar em seus resultados.
Experiências na contemporaneidade demonstram que estudos de caso em períodos mais curtos, frente a utilização de planejamentos metodológicos, geraram resultados confirmáveis por outros estudos.
Quadro 01 – Estudo de Caso: Fragilidades e caminhos para sua implementação Fonte: GIL, 2008; YIN, 2001.
Org.: CARVALHO (2015)
Portanto, a adoção desses caminhos colaborará para a sustentação desse
procedimento como ferramenta valida e com fragilidades superáveis de uma forma
geral pelo desenvolvimento de um maior rigor metodológico.
Assim, metodologicamente o nível de pesquisa que propomos aliado ao
direcionamento de estudo de caso, como opção viável é possível no
desenvolvimento são as do tipo descritivas e explicativas. Essas, permitirão a
descrição das características e fenômenos de resistência da comunidade em foco,
com utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados e informações, a fim de
estabelecer as relações entre as diferentes variáveis, como a social e econômica, e
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a natureza dos modos de morar, viver e trabalhar. Já a segunda, pesquisa
explicativa, torna-se relevante por existir uma preocupação central em identificar os
fatores que determinam a realidade social em comunidades camponesas.
Assim, esses dois níveis de pesquisa permitirão ao pesquisador a
identificação de fatores que determinam o fenômeno de resistência local e as
influências pela chegada do grande empreendimento canavieiro, que por sua vez
exigem uma profunda descrição e detalhamento.
4 – O delineamento do estudo de caso como metodologia de
investigação
Vários autores destacam que o estudo de caso não aceita um delineamento
rígido de investigação, como Gil (2008), mas é possível definir quatro principais
fases para desenvolvimento dessa proposta, que auxiliaram o pesquisador em evitar
a perda do direcionamento metodológico, algo comum e criticado nos estudos de
caso.
A primeira fase podemos considerar como o momento de delimitação da
unidade de análise, ou seja o objeto, fator que exige habilidades na percepção do
que é suficiente para se chegar à sua compreensão. A cerca disso, Ventura (2007)
menciona que algumas recomendações devem ser seguidas,
[...] buscar casos típicos (em função da informação prévia aparentam ser o tipo ideal da categoria); selecionar casos extremos (para fornecer uma idéia dos limites dentro dos quais as variáveis podem oscilar); encontrar casos atípicos (por oposição, pode-se conhecer as pautas dos casos típicos e as possíveis causas dos desvios). (VENTURA, 2007, p.385, grifo do autor).
Assim, durante o processo de investigação, e estudo de caso, o
enveredamento no universo de estudos perfaz a necessidade de um conhecimento
exaustivo e profundo da realidade em análise a fim de conhecer a unidade em
análise, ou seja, o caso propriamente dito.
Já a segunda fase consiste na coleta de dados, Gil (2008) e Ventura (2007)
observam que esse processo é realizado com a adoção de procedimento
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quantitativos e qualitativos que podem ser realizados com uma pluralidade de
ferramentas, entre as quais destacamos: observação, análise de documentos,
entrevista, história de vida, aplicação de questionário e levantamentos de dados.
Esse é o momento que pela estratégia de estudo de caso caberia a
incorporação de diferentes caminhos, desde que rigidamente organizados,
planejados e desenvolvidos.
A terceira fase compreenderia um dos momentos chaves no estudo de caso
pois se caracteriza pela tríade seleção, análise e interpretação dos dados
adquiridos na fase anterior.
Ventura (2007), entre outros autores, destaca a necessidade de cautela nesse
momento, pois ela deverá sempre estar norteada pelo objetivo. “A seleção dos
dados deve considerar os objetivos da investigação, seus limites e um sistema de
referências para avaliar quais dados serão úteis ou não” (VENTURA, 2007, p.385).
Outro fator de extremo cuidado nos estudos de caso é a de generalizações
não fundamentadas. Uma vez que nesse momento de delineamentos da pesquisa, o
caminho consiste na superação dessa fragilidade, como mencionado anteriormente,
para que o estudo seja composto de falsas ou incorretas afirmações de sustentação
na análise do objeto.
A cerca desse direcionamento importante a ser tomado pelo pesquisador
Ventura menciona que,
O pesquisador deve definir antecipadamente seu plano de análise e considerar as limitações dos dados obtidos, sobretudo no referente à qualidade da amostra, pois se a amostra é boa, há uma base racional para fazer generalizações a partir dos dados. Em caso contrário, deve apresentar os resultados em termos de probabilidade (VENTURA, 2007, p.385).
Além disso, ainda nessa fase, é importante e necessário a formação de
categorias de análise reconhecidas no campo de conhecimento a fim de que “a
interpretação dos dados não envolva julgamentos implícitos, preconceitos, opiniões
de senso comum” (VENTURA, 2007, p.385).
A quarta etapa está vinculada não somente a elaboração de relatório final,
mas também dos relatórios parciais. Ele deve ser conciso e direto, mas não
deixando de especificar como foram coletados os dados; que teoria sustentou suas
categorias, além de apresentar fidedignamente os dados obtidos. Claro que a
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formação das estruturas desses relatórios deverá ser pensada de acordo com o
pesquisador e seu objeto, mas nunca deixando de lado os direcionamentos
metodológicos que nortearam a pesquisa.
5 – Desafios e cuidados para com estudo de caso
É importante destacar que, Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004),
mencionam que existem no decorrer da implementação dos estudos de casos
alguns pontos de necessidade de cuidados, pois eles poderiam levar a uma ruptura
da proposta e dos direcionamentos de formação do conhecimento pelo método de
investigação do caso.
Esses cuidados ao quais os autores apresentam certa preocupação residem
principalmente na elaboração dos relatórios de estudos de caso, tanto os parciais
como o final. Para tanto, os autores mencionados, como também Yin (2001), Stake
(1978) e Martins (2006), apresentam uma série de descrições, mesmo que
postulados de diferentes formas, dos cuidados que o pesquisador deve ter para a
formação do conhecimento, que poderíamos organizar nos seguintes pontos:
Equilibrar e integrar a apresentação dos dados e a fundamentação
teórica;
Separação entre as evidências e as interpretações do pesquisador;
Levar o leitor a acompanhar as inferências do pesquisador a partir das
evidências;
Selecionar os aspectos a serem incorporados ao relato, para não serem
extensos e volumosos;
O pesquisador deve entender que o caso só passa a existir depois de
escrito.
Ressaltando o cuidado também de utilização de uma estrutura analítica linear
para constituição do estudo de caso pois,
[...] estruturas analíticas lineares: compreendem a apresentação do tema e do problema, a revisão de literatura, os métodos utilizados, as descobertas feitas a partir da coleta e análise dos dados e, finalizando, as conclusões e
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possíveis implicações decorrentes das descobertas. Como se pode ver, representa um modelo padrão de relatório (YIN, 2001, p. 170)
Fica evidente então que as indicações dos cuidados estão voltados
novamente aos procedimentos metodológicos tomados durante a pesquisa, as
questões teóricas que orientaram a busca das evidências que o pesquisador reuniu
e o tratamento que lhes deu, para submissão ao leitor. O estudo de caso poderá
fornecer subsídio na compreensão de uma realidade expropriada não deixando de
lado o cuidado de apresentar elementos descritivos quando se relata alguma
situação da vida real, já que o estudo de caso interessa às organizações, grupos ou
comunidades que foram “sujeitos” da pesquisa, que poderão utilizar os relatórios, ou
o estudo, para práticas documentais.
6 – Considerações Finais
Com vistas a sintetizar as etapas sobre o modo de se aplicar estudos de
caso, levantando também algumas discussões que se dão no campo do método,
percebemos a necessidade de um aprofundamento metodológico, para a
implementação do procedimento de análise do objeto com a criação de um rigor
metodológico, expansão de proposições teóricas e planejamento metodológico para
a utilização do estudo de caso. Já que pensar no método é um dos maiores
problemas na pesquisa, principalmente se o objeto for focado no caminho
metodológico escolhido. O objeto por si só pode exigir a adoção de um
procedimento, e para a análise das comunidades camponesas, nesse sentido, o
estudo de caso é uma opção importante e cabível, desde que seja acompanhado de
um rigor metodológico que proporcionará a superação de suas fragilidades e com
isso a consolidação do método em uso.
Mesmo flexível o estudo de caso necessita da adoção de um delineamento de
investigação. Esse procedimento deve em essência seguir o primeiro passo de
formação da unidade de análise, ou seja, o objeto deve ser reconhecido e
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perseguindo a fundo, em seguida a realização propriamente dita de coletas de
dados mesmo que para isso exista uma pluralidade de opções.
Ainda sobre o delineamento passa-se a um momento crucial com a
necessidade de seleção, análise e interpretação dos dados sempre voltados ao
objeto com fins de evitar as generalizações. Fator esse que nos leva ao “ultimo”
caminho que é o de elaboração de relatórios parciais ou finais, que por si só
representam o momento de união integração de dados e as fundamentações, que
exigem a formação de estrutura analítica linear.
Mesmo com essas exigências, percebemos que o estudo de caso possui sua
importância como esforço de pesquisa, contribuindo de forma diferenciada, para a
compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos, ao
permitir uma investigação para se preservar as características holísticas e
significativas dos eventos da vida real em análise, tais como ciclos de vida
individuais, processos organizacionais e administrativos, fatores de importância na
compreensão dos efeitos do capital sobre comunidades camponesas.
Por fim, esperamos que esse artigo venha a colaborar no incentivo da escolha
do estudo de caso como caminho, ou ferramenta, aplicável em pesquisas de
comunidades camponesas afetadas por projetos de investimentos rurais, desde que
sustentado no rigor metodológico que ele exige.
7 – Agradecimentos
Agradecimento a CAPES, pela concessão de bolsa de estudo.
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