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A Arte do Canto

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Técnica vocal.

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Page 1: A Arte do Canto
Page 2: A Arte do Canto

INTRODUÇÃO................................................................................................3AS PROPRIEDADES DO SOM.......................................................................3NOTAÇÃO MUSICAL.....................................................................................4VOZ.................................................................................................................4CANTO............................................................................................................5

Classificação das Vozes (Naipes Vocais)....................................................5RESPIRAÇÃO.................................................................................................7

Exercícios Básicos de Respiração...............................................................8IMPOSTAÇÃO X RESSONÂNCIA..................................................................9OS RESSONADORES....................................................................................9PASSAGGIO.................................................................................................10OS REGISTROS VOCAIS.............................................................................10

As Notas dos Passaggios..........................................................................11Exemplos de Registros Vocais...................................................................12

VIBRATO.......................................................................................................14Exercício de Vibrato Simples.....................................................................14

AQUECIMENTO............................................................................................15Exercícios de Alongamento/Relaxamento.................................................15Exercícios de Aquecimento Respiratório...................................................15Exercícios de Aquecimento Vocal..............................................................15

VOCALIZES..................................................................................................16O SISTEMA FACH........................................................................................18MELISMAS....................................................................................................20

WHISPER (Vento e Voz)............................................................................20CURVAS DE APOIO..................................................................................21DRIVE (Ataque).........................................................................................21TRINADO...................................................................................................21FADE OUT.................................................................................................21CRESCENTE (ou CRESCENDO)..............................................................21PORTAMENTO..........................................................................................22PONTE.......................................................................................................22

“A Arte do Canto é uma pequena apostila, fruto de meus estudos, que visa informar os tópicos básicos sobre a técnica vocal. Que ela possa lhe ser de grande valia, tal qual um instrumento

de ensino e de fácil consulta... Que Deus te abençoe.”

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A Arte do Cantopor Ricardo Mascaro

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INTRODUÇÃO

Antes de qualquer coisa, para que seja possível a compreensão de alguns termos técnicos musicais, preciso falar sobre "o que é Música". Poderia, resumidamente, definir como: "Música é a arte do Som", pois se obtém Música através da combinação sonora de forma harmônica e rítmica. Portanto, para começarmos a entender a Música e o que ela é precisamos, ao menos, conhecer as propriedades de sua unidade básica, o Som.

AS PROPRIEDADES DO SOM

O som é a impressão no cérebro através dos órgãos auditivos; portanto som é tudo aquilo que os ouvidos podem escutar/ouvir (toda onda sonora cuja freqüência esteja dentro das audíveis, compreendida entre a média de 20 a 20.000 Hz). Os sons distinguem-se em RUÍDO e SOM MUSICAL.

RUÍDO: é o resultado de vibrações sonoras irregulares, geralmente desagradáveis aos ouvidos (porque não são combinadas de forma harmônica).

SOM MUSICAL: é o resultado de vibrações regulares, uniforme. Ao contrário do ruído, pode-se ver gravado com exatidão através das notas musicais e da entoação correta das mesmas, sendo agradável aos ouvidos. Som musical é o que ouvimos quando uma pessoa canta, quando se toca piano, violino ou qualquer outro instrumento afinado (chama-se som determinado).

Todo o som possui características/propriedades elementares que sempre ocorrem em conjunto, as quais são:

ALTURA: Entoação ou elevação. É a propriedade do som que nos faz distinguir um som agudo de um outro grave; portanto, é a propriedade do som em ser mais grave ("grosso") ou mais agudo ("fino"). (Observação: não utilize mais os termos "fino" e "grosso", utilize os termos técnicos corretos, agudo e grave. Isso é para você já se ir acostumando e quando ler algo com os termos técnicos corretos saber imediatamente do que se trata).

INTENSIDADE: É o grau de maior ou menor força empregado na execução do som; ou seja, é a propriedade do som ser mais fraco ou mais forte.

TIMBRE: É a qualidade especial de cada som. É a propriedade que nos permite distinguir dois sons da mesma intensidade e altura, produzidos por instrumentos diversos ou pessoas diferentes; portanto, é através da propriedade do som “timbre” que reconhecemos a origem do som produzido. No caso da voz humana, cada pessoa já nasce com um timbre pré-determinado que é exclusivo dela, nenhuma outra pessoa tem o timbre idêntico ao de outra (da mesma forma como as digitais de uma pessoa são diferentes de qualquer outra no mundo).

DURAÇÃO: É o tempo pelo qual se prolonga o som; é o tempo de duração do som.

Todo e qualquer som têm/apresenta estas quatro propriedades simultaneamente.

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NOTAÇÃO MUSICAL

C = Dó - D = Ré - E = Mi - F = Fá - G = Sol - A = Lá - B = Si

A notação musical é usada para representar com letras e números as notas musicais. De grande veiculação (e de meu conhecimento), existem dois tipos de notação musical: a americana e a européia.

A notação Americana atribui exatamente a posição da nota no piano (C1 é o primeiro dó do piano, F6 é o sexto fá do piano, o dó-central do piano é o C4); a extensão completa do piano (com todas as notas naturais existentes) é essa: A B C1 D1 E1 F1 G1 A1 B1 C2 D2 E2 F2 G2 A2 B2 C3 D3 E3 F3 G3 A3 B3 C4 D4 E4 F4 G4 A4 B4 C5 D5 E5 F5 G5 A5 B5 C6 D6 E6 F6 G6 A6 B6 C7 D7 E7 F7 G7 A7 B7 C8

A notação Européia (que provavelmente surgiu na Alemanha é atribuía assim (exemplificando): o C5 (o famoso dó dos Tenores) da notação americana é o C2 da notação européia; o C6 da notação americana é o C3 da notação européia, e assim por diante).

Muita gente confunde muito isso; pensam que notação americana é uma oitava acima da européia mais não é assim...

A notação européia é assim: C a B, c a b, c1 a b1, c2 a b2 e c3 a b3.

Isso na notação americana fica assim: c2 a b2, c3 a b3, c4 a b4, c5 a b5 e c6 a b6.

Como você pode verificar, a notação européia literal começa no C2 e vai até o B6 da notação americana, isso porque a notação européia é muito empregada no canto lírico e não existe nenhuma ária com uma nota abaixo do segundo dó do piano (C européia/C2 americana) e nem acima do sexto sol do piano (G3 européia/G6 americana).

OBS.: Muitos utilizam-se de uma notação musical que é exatamente uma oitava abaixo da notação americana (nela atribui-se o C3 como o dó-central). Eu particularmente desconheço as bases dessa notação musical; contudo, nada impede o seu uso, pois ela não está errada. Devemos então sempre prestar atenção quando lemos um texto quanto a qual notação musical está sendo utilizada, para que não interpretarmos errado as notas ali representadas.

Aqui nesta apostila eu vou sempre utilizar a notação americana.

VOZ

O mais antigo “instrumento musical” é, naturalmente, a voz humana. Sabemos que as vozes não são iguais, pois cada pessoa possui o seu próprio timbre. A diferença mais notada ocorre entre as vozes femininas e as masculinas: as femininas são mais agudas e as masculinas, mais graves.

Porém, até mesmo pessoas do mesmo sexo apresentam diferentes timbres e tessituras (“disposição das notas para determinada voz, de moda a melhor convencioná-las na escala geral dos sons; ou seja, as notas que uma pessoa consegue emitir precisamente”).

Cada pessoa nasce com um timbre diferente de qualquer outra e também nasce com um R.V. (Registro Vocal “médio”) que compreende as notas que ela emite/alcança com facilidade, geralmente entre duas oitavas. Através dessa junção co-relativa (timbre/R.V.), podemos determinar o “tipo de voz” de uma pessoa que, através da prática correta de exercícios chamados vocalizes, passa a adquirir uma E.V. (Extensão Vocal), assim aumentando a quantidade de notas por ela alcançadas; essa extensão vocal está intimamente ligada às condições físicas do sistema fonador de cada indivíduo, limitando-a – cada pessoa tem, portanto, o seu próprio “limite natural”.

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A voz humana determina-se por completo a certa idade; a criança nasce com um timbre e R.V. próprio, “muda de voz” na adolescência e quando entra na fase adulta, “fixa-se” sua voz, o que chamamos de voz determinada ou “madura”, que vem a se constituir geralmente depois dos 21 anos de idade.

* A primeira coisa que digo aos meus alunos em sua primeira aula é que a partir daquele momento eles estarão entrando num mundo novo repleto de descobertas a serem feitas; no entanto, para que eles possam fazê-las, primeiro precisarão estar dispostos a mudar a forma como estão habituados a cantar e a ouvir música... Isso não significa que precisam mudar os seus gostos musicais; precisam começar a observar coisas que antes não eram percebidas, detalhes antes ignorados. Ouvir muita música – às vezes até mesmo aquilo que não é exatamente do seu gosto pessoal – é muito importante para a obtenção de técnica vocal. Mas é preciso aprender ouvir com um “ouvido musical”; não é colocando o som no último volume e sair berrando junto... Para se ouvir algo com um “ouvido musical” é necessário que se coloque o som num volume médio/baixo, sentando-se e dedicando a sua atenção somente a ouvir a música sem cantarolar junto; ouça-a mais de uma vez, num primeiro momento fixando-se somente na voz do cantor, no que ele faz com ela, e depois ouvi-la novamente observando todo o conjunto, toda a harmonia. Para aprender a falar é necessário saber ouvir, da mesma forma ocorre no canto – um bom cantor precisa ter uma aguçada percepção musical. Saiba que você é o seu maior crítico, você precisa o ser, sempre se atentando às coisas que acontecem internamente no seu corpo que são refletidas no seu canto. Se puder, grave os seus ensaios e depois os ouça atentamente, verificando os pontos que precisam ser mais trabalhados.

CANTO

Canto é “a Arte da Voz”, portanto requer artistas com muita dedicação e treino.

Existem basicamente dois “tipos” de canto: o canto lírico e o canto popular. Na realidade temos dois métodos técnicos, cada um com suas características das quais podemos destacar a principal: a impostação. Impostar significa colocar corretamente a voz, ou seja, é o modo correto de emitir os sons musicais com a voz, o que envolve vários aspectos físicos. Muitas pessoas cantam da mesma maneira como falam porque não impostam a voz ao cantar; outras após cantarem ficam roucas, sentem dores, etc, isso é devido a impostação de modo incorreto e/ou ao mau uso vocal, o que resultará em problemas nas pregas vocais (“fendas vocais”, “calos vocais”, estes que podem com o tempo tornar-se até mesmo um câncer).

No canto lírico ("tipo ópera") utilizamos a impostação lírica e buscamos a perfeição técnica, seguindo rigorosamente as técnicas que são exploradas visando a máxima utilização vocal (sem esforço nas pregas vocais, obviamente). Já no canto popular utilizamos a impostação popular, temos certa “liberdade técnica”, sempre visando transmitir a emoção do cantor através da interpretação – esta pessoal.

Classificação das Vozes (Naipes Vocais)

Cada escola de canto (lírico e popular) tem seu método classificatório. No canto lírico é utilizado o sistema alemão denominado FACH. Nesse sistema para classificarmos uma voz consideramos: a extensão e tessitura vocal, as colorações e especificações do timbre (voz clara, escura, lírica, dramática, etc.), a passagem das notas e registros, a "capacidade técnica", etc. Sendo assim, este é o método mais específico para a classificação vocal. (Para saber mais, leia o tópico "O Sistema FACH").

No canto popular o sistema classificatório mais adotado é o SATB (Sopran=Soprano, Alto=Contralto, Tenor=Tenor e Bass=Baixo). Nesse sistema para classificarmos uma voz, consideramos somente a tessitura vocal (que abrange todas as notas que emitimos “timbradas” e “sem esforços”). A maioria dos professores de canto popular e regentes de coral utilizam-se também das vozes intermediárias (Mezzo-Soprano e Barítono) para uma melhor definição vocal.

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Agora quando dividimos vozes num grupo/coral, adotamos a divisão vocal SATB além de aplicar uma subdivisão de 1º (voz/notas mais agudas) e 2º (voz/notas mais graves); por exemplo, podemos ter uma divisão assim: Baixo – 2º Tenor – 1º Tenor – Contralto – 2º Soprano – 1º Soprano, em 6 vozes, ou podemos trabalhar em 8 vozes: 2º Baixo – 1º Baixo – 2º Tenor – 1º Tenor – 2º Contralto – 1º Contralto – 2º Soprano – 1º Soprano; podemos observar que as vozes intermediárias (Barítono e Mezzo-Soprano) são para classificação vocal, mas não são utilizadas na divisão vocal – elas são colocadas geralmente no 2º Tenor/Soprano numa divisão em 6 vozes.

É interessante ressaltar que o mais importante a ser classificado é o timbre de uma pessoa (podemos e devemos nos basear nas extensões vocais médias de cada naipe vocal, porém não podemos deixar de observar as colorações timbráticas de um indivíduo para uma melhor e correta classificação vocal). O timbre, como já mencionado, é definido/fixado após a puberdade e depende de características físicas. A característica determinante mais importante é o comprimento das pregas vocais. As pregas vocais masculinas são maiores que as femininas, fator que é responsável pela voz dos homens ser mais grave e a das mulheres mais aguda. As pregas vocais adultas seguem um padrão junto à classificação vocal onde as pregas vocais masculinas têm entre 11,5 a 16 mm e as femininas de 8 a 11,5 mm – quanto maior o comprimento, mais grave será o timbre.

A título de curiosidade, podemos falar resumidamente sobre três tipos de vozes masculinas especiais que atualmente não fazem mais parte do quadro de classificação vocal. São elas: os Sopranistas, os Castrati e os Contra-tenores. Nos séculos passados a mulher não tinha a oportunidade de participar da maioria das atividades sociais, dentre elas cantar em público; no entanto, existiam alguns homens que tinham um timbre feminino natural (devido à formação incomum de suas pregas vocais e laringe) que ficaram conhecidos como Sopranistas. Porém tal timbre era extremamente raro e as igrejas estavam ficando sem tais componentes em seus coros. No século VII foi descoberto que o homem, se castrado antes da puberdade, manteria a voz infantil aguda e poderia cantar as notas dos Sopranistas; então tal prática foi adotada e executada em algumas crianças que apresentavam um timbre de sopranino (classificação vocal infantil que remete a um Soprano infantil). Devido à castração surgiu o termo Castrati. Por causa da castração, as pregas vocais e o sistema laríngeno/respiratório não se desenvolviam por completo, fazendo com que eles alcançassem notas bem agudas e pudessem sustentar uma nota por mais de um minuto. Essa prática da castração estendeu-se até o final do século IX, quando foi proibida. (Obs.: eu recomendo o filme Farinelli: Il Castrato para aqueles interessados em saber como era a música e a vida dos famosos Castrati; para gravar a trilha sonora deste filme foi realizada uma mixagem das vozes de um Contra-tenor e de uma Soprano Coloratura a fim de aproximar-se do que seria o timbre de Farinelli, o maior de todos os Castrati’s) Os Contra-tenores são homens dotados de uma grande elasticidade natural em suas pregas vocais que através do desenvolvimento do seu registro vocal Falsetto (Falsete) conseguem cantar as notas dos Sopranistas/Castrati. (Para saber mais sobre o Falsetto (Falsete), leia o tópico "Os Registros Vocais"). É interessante ressaltar que, a princípio, estes são três "tipos de vozes", cada qual com suas características quanto à coloração timbrática.

RESUMINDO:

Vozes Femininas:

SOPRANO: é a voz mais aguda/clara, capaz de atingir as notas mais agudas e brilhantes. Apresenta uma extensão vocal entre C4 a C6.

MEZZO-SOPRANO: (mezzo em italiano significa meio) é a voz que intermedeia o Soprano do Contralto. A Mezzo-Soprano canta geralmente na oitava do Soprano porém apresenta um timbre mais escuro e volumoso. Apresenta uma extensão vocal entre A3 a A5.

CONTRALTO: é a voz mais grave/escura, capaz de atingir as notas mais graves (geralmente o timbre apresenta grande metal = "peso na voz"). Apresenta uma extensão vocal entre F3 a F5.

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Vozes Masculinas:

TENOR: é a voz mais aguda/clara. Apresenta uma extensão vocal entre C3 a C5.

BARÍTONO: é a voz que intermedeia o Tenor do Baixo. Pode cantar na oitava do Tenor (com timbre mais escuro) ou/e na oitava do Baixo (com timbre um pouco mais claro). Apresenta uma extensão vocal entre A2 a A4.

BAIXO: é a voz mais grave/escura, capaz de atingir as notas mais graves e "sombrias" (existem alguns Baixos capazes de atingir notas da primeira oitava do piano!). Tem um timbre com grande metal ("peso na voz"). Apresenta uma extensão vocal entre F2 a F4.

- Como medir as notas que eu alcanço/atinjo para eu poder me classificar em SATB ??? Primeiro, relembrando que o que classificamos primordialmente é o timbre de uma pessoa... Utilizando-se de um teclado ou violão tente encontrar a sua nota mais grave e a sua nota mais aguda (para maiores explicações, veja como fazer "a grande escala" lendo o tópico "Vocalizes" encontrado abaixo), assim "achando" a sua extensão vocal e comparando-a com as citadas acima, sempre observando as suas colorações timbráticas.

OBSERVAÇÕESReferente às informações do resumo da classificação vocal:- As definições e extensão vocais contidas nesse resumo são referente ao Canto Popular, muito bem aplicáveis em corais/grupos de canto. - Relembrando que a notação musical adotada para descrever as extensões vocais é a americana, cujo Dó Central do piano é o C4. Sendo assim, G2 é o segundo Sol (segunda tecla Sol) do piano; no teclado de cinco oitavas, é o primeiro Sol, visto que a primeira nota no teclado de cinco oitavas é o C2 (segundo Dó do piano). - OITAVA = intervalo musical que compreende oito notas, por exemplo: C2, D2, E2, F2, G2, A2, B2 e C3 (uma oitava completa), do C2 até o C4 (duas oitavas completas), e assim por diante.

RESPIRAÇÃO

A respiração é a base do canto. Podemos ir além: ela é a base da fala, pois é através da passagem do ar expirado que ocorre a vibração das pregas vocais, produzindo o som.

Toda e qualquer técnica vocal envolve um bom controle respiratório, para isso, o correto uso do sistema respiratório. Por exemplo, podemos dizer que a duração (prolongação) de uma nota cantada e a intensidade da mesma está intimamente ligada ao controle respiratório.

Existem quatro “tipos de respiração”, sendo eles: 1. Clavicular ou Superior (a expansão somente da parte superior da caixa torácica, ocasionando uma elevação visual dos ombros, e resultando uma tensão laríngea); 2. Média, Mista ou Torácica (pouca movimentação tanto da região inferior como da superior durante a inspiração, sendo insuficiente para o canto); 3. Inferior ou Abdominal (ausência de movimentos da região superior e expansão da região inferior); 4. Completa, Diafragmático-Abdominal ou Costo-Diafragmático-Abdominal (expansão harmônica de toda a caixa torácica, ou seja, sem excessos em nenhuma região, com a expansão da região costo-abdominal, permitindo o uso total da capacidade pulmonar). Sendo assim, o melhor “tipo de respiração” para a utilização profissional da voz (cantada e falada) é a Diafragmática/Completa (de base Costo-Diafragmático-Abdominal), diferente da que muitos apregoam erroneamente – a Inferior.

RESUMINDO:

Há muita discussão sobre esse tema: cada professor/escola costuma ter um critério para trabalhar a respiração. Porém, conforme estudos comprovam, a respiração que oferece maior suporte para o canto é a popularmente conhecida "Respiração Diafragmática". Ela consiste na elevação do músculo diafragma, na dilatação das costelas e numa pequena elevação do tórax, assim ampliando a caixa torácica e permitindo a "máxima" utilização da capacidade pulmonar.

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Como identificar se estou fazendo a respiração diafragmática corretamente?

Bem, vamos começar com "exercícios" simples: Respire normalmente (inspire pelo nariz = encha o pulmão com o ar e expire pela boca = jogue o ar para fora). Observe que quando você inspirou você encheu somente a parte superior dos seus pulmões; isso pode ser melhor observado se durante a respiração você colocar as suas mãos sobre seu tórax (ele se elevará). Esse tipo de respiração que você acaba de fazer é insuficiente para o canto, pois não fornece ar suficiente para frases longas, frases rápidas e longas duração de notas (você só utilizou, talvez, 50% de sua capacidade pulmonar/respiratória!).

Vamos então localizar o nosso diafragma... Coloque suas mãos sobre a sua barriga. Pense que você precisa parecer mais magro e encolha/murche a barriga; encolha-a mais ainda, solte-a completamente e a encolha novamente. Se você conseguiu você acaba de achar seu diafragma... Foi contraindo o diafragma que você ficou mais magro (isso não literalmente, mais só para você entender). Preste atenção no movimento de quando você encolhe a barriga; tente fazer o contrário, "empurrando-a para fora". Conseguiu ? É justamente isso que você precisará fazer juntamente com a retenção de ar (eu sei que no começo "dói" um pouco e para haver aperfeiçoamento é necessário fazer exercícios como os descritos logo mais abaixo diariamente; é como se fosse uma ginástica/musculação, pois estamos trabalhando com os músculos do nosso corpo). Tente agora inspirar lentamente e com a entrada do ar fazer esse mesmo movimento de "empurrar a barriga para frente" (atenção: não é empurrar a barriga para frente e depois inspirar; é “inspirar fazendo com que esse ar naturalmente empurre a barriga para frente”, num “mecanisma automático”). O que você está fazendo é elevar o músculo do diafragma permitindo com que os pulmões sejam cheios por completo com o ar... Observe também a dilatação das costelas, colocando suas mãos na cintura. Tente sentir o ar tomando por completo os seus pulmões! Inspire elevando o diafragma, dilatando as costelas e elevando um pouco o tórax (os movimentos ocorrem nessa seqüência, rapidamente) e expire relaxando-os, voltando ao normal... Muito bem, você está aprendendo a dominar o seu sistema respiratório e aquecendo-o para a atividade do canto... Lembre-se que na respiração diafragmática (de base Costo-Diafragmático-Abdominal) há uma expansão harmônica de toda a caixa torácica; não é para forçar todo o ar só para o abdômen, não movimentando as outras regiões harmonicamente.

Exercícios Básicos de Respiração

1) Inspirar lentamente, sempre utilizando a respiração diafragmática, e expirar lentamente, colocando as suas mãos ora sobre a região abdominal (sobre a barriga), ora sobre a região costo-abdominal (sobre as costelas/cintura), percebendo a movimentação/expansão dessas regiões;

2) Inspirar, “reter/conter” esse ar por cerca de dez segundos e expirar provocando os sons de: S, X, Z e F (atenção para manter sempre a mesma intensidade do som, não pode ficar oscilando);

3) Repetir o exercício 2 e, ao expirar “com sons”, utilizar-se de Staccato;

4) Repetir o exercício 2 e, ao expirar “com sons”, realizar variações uniformes na intensidade (mais forte e mais fraco).

OBSERVAÇÕES SOBRE OS EXCERCÍCIOS DE RESPIRAÇÃO:

Para fazer o exercício 2 você deve "morder os próprios dentes" (para colocá-los juntos/entrelinhados, pois o ar/som deve sair dentre o meio dos dentes). Os sons que devem ser produzidos são os sons somente das consoantes S, X, Z e F junto com um I "bem assoprado". Tente prolongar ao máximo a duração dos sons produzidos; pouco a pouco você estará conseguindo aumentar sua capacidade respiratória (se realmente fizer esses exercícios diariamente)...

Para fazer o exercício 3: STACCATO = movimentos rápidos de contração e relaxamento do diafragma. Lembre-se da conhecida ária da Rainha da Noite da Flauta Mágica de Mozart

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(aquela com os agudos U-U-U-Uuu-uuu-u, que o Edson Cordeiro gravou uma versão junto com I Can't Get No (Satisfaction)). Comece fazendo 4 staccatos e no 5 prolongando o som ao máximo como no exercício 2; gradativamente, vá aumentando o número de staccatos.

Para fazer o exercício 4: você deve oscilar gradativamente a intensidade do ar expirado, do fraco para o forte, tentando manter um nível, como se fossem ondas que vão crescendo e quebrando lentamente sempre nos mesmos lugares.

* Tudo no canto, ou melhor, nas nossas vidas, é uma questão de dedicação... Estes exercícios básicos acima descritos – bem como os demais exercícios propostos nessa apostila – estarão trabalhando os mecanismas envolvidos na produção vocal, assim refletindo o treino de sua voz/técnica; para que haja bons resultados, será primordial o seu empenho na execução diária deles, dedicando uns minutos do seu dia para fazê-los. Pouco a pouco você estará percebendo e colhendo os frutos de toda a dedicação dispensada à lapidação de seu natural e único instrumento musical, a sua voz.

IMPOSTAÇÃO X RESSONÂNCIA

Muitas pessoas costumam elogiar o “gogó” de um determinado cantor por suas notas fortes e brilhantes, porém o que elas desconhecem é que o canto envolve muito mais do que só o “gogó”. Para que tenhamos um bom e saudável desempenho vocal precisamos aprender a impostar corretamente a voz.

Impostação: impostar a voz significa preparar e adequar todo o sistema fonador (e ressonador, o qual estudaremos logo mais abaixo) para emitir corretamente as notas musicais com ele, notas essas que devem soar cheias, bonitas, bem timbradas... Um bom exercício para você aprender a impostar a voz corretamente é assim: provoque um “bocejo” com a vogal A; tente “trazer isso” para a sua voz cantada; perceba que o som deve ser cheio e puro; sinta uma leve vibração no céu da boca, uma vibração no tórax e no diafragma (na barriga). Esse é o sinal que você está impostando a voz corretamente...Lembre-se: você não pode cantar com o mesmo mecanisma com o qual você fala (a voz não pode sair da mesma maneira). Preste atenção para verificar se o som não está demasiadamente nasal (a princípio, não é bom que saia nasal) e se você está utilizando uma intensidade suficiente (não pode ser muito fraco nem muito forte), tem que ser numa boa intensidade e tem de ser, principalmente, confortável a você (nunca se esqueça: jamais force a voz; vontade constante de tossir e arranhadas na garganta são sinais que você certamente está além dos seus limites e/ou forçando a sua voz).

Além de a voz ter de estar corretamente impostada, é necessária a boa utilização dos ressonadores naturais do nosso corpo. Como disse no começo do tópico, não é somente fazer as pregais vocais vibrarem, assim emitindo sons. Agora que você aprendeu a impostar a voz, você precisa aprender a “jogá-la dentro do seu corpo” para que ela soe mais forte, cheia, com bastante brilho (ou seja, mais bonita).

OS RESSONADORES

Vamos agora “achar/localizar” os nossos ressonadores. Lembre-se de utilizar sempre a respiração diafragmática (explicada no tópico "Respiração" logo acima). Coloque suas mãos sobre o seu tórax e emita uma nota grave. Você consegui sentir uma vibração na região do tórax ? Emita novamente a mesma nota grave só que agora com mais intensidade e, em pensamento, jogue ela em direção ao seu tórax. A nota ficou mais brilhante e cheia/forte ? Percebeu uma vibração ainda maior na região do tórax ? Caso suas respostas sejam positivas, você acaba de encontrar e utilizar o seu ressonador para notas médio-graves, a sua caixa torácica.

Prosseguindo, vamos achar o nosso ressonador para notas médio-agudas. Com a boca fechada, faça um som de “humnn”; vá fazendo uma escala ascendente (“subindo a nota”,

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tornando-a mais aguda); perceba que a maçã do rosto vibra levemente (perceba isso colocando suas mãos sobre as suas bochechas); em pensamento, tente jogar esse som para o nariz (perceba uma grande vibração no nariz e na maçã do rosto). Vá abrindo a boca e expandindo esse som, aumentando a intensidade; sinta esse som envolvendo todo a sua caixa craniana (cabeça); tente, em pensamento, jogar esse som para a sua testa. Você consegui um bom agudo, forte e limpo ? Se conseguiu, pode usar e concluir que o ressonador para notas médio-agudas é a nossa caixa craniana.

No começo é “meio esquisito”, mas você deve treinar esses exercícios básicos diariamente, fazendo “experiências” com eles; com o tempo você vai adquirindo prática e essa impostação/ressonância vai ocorrendo normalmente e automaticamente quando você cantar.

PASSAGGIO

Passaggio é um termo técnico do canto que em italiano significa passagem ou ponte. Ele é usado para descrever a passagem vocal quando a ressonância desloca-se de uma área/região para outra (por exemplo, se você emite uma nota grave, ressonando no peito, e for subindo a escala, deixando-a mais aguda, acabando por ressoná-la na cabeça – observe que duas ou três notas ficam exatamente nessa “passagem transitória” – se você não trabalha legal, dá uma “quebrada na voz” nessas notas do passaggio). Para ser um bom cantor você precisa aprender a dominar essas passagens de maneira confortável para que não dê essas “quebradas no som”.Os exercícios de vocalizes do tópico "Vocalizes" (que segue mais abaixo) estarão ajudando-o a desenvolver e aperfeiçoar os seus Passaggios e Registros Vocais, trabalhando-os.

OS REGISTROS VOCAIS

Antigamente, a definição de registros vocais estava sedimentada sobre os ressonadores, compreendendo somente a movimentação ressonante refletida na qualidade vocal. Com o advento da Fonoaudiologia, observou-se a ação dos músculos intrínsecos que atuam na movimentação das pregas vocais os quais, antes mesmo da ressonância, são responsáveis pela qualidade vocal visto que estabelecem o modo de produção sonora de acordo com dominâncias musculares. Os registros vocais existentes são divididos em registro Basal (Fry), Modal (Chest/Middle/Head), Falsetto (Falsete) e Sobreagudos (Flageolet/Whistle/Super-Head). Abaixo, descrevo os registros vocais (obs.: possuir esses registros requer uma “pré-disposição natural”; nenhuma pessoa possui todos eles. As siglas CT e TA são abreviações dos nomes dos músculos intrínsecos atuantes na movimentação das pregas vocais, CT (músculo cricotireóideo) e TA (músculo tireoaritenóideo); vale ressaltar que estudos recentes mostram que há ação de ambos em todos os registros vocais, havendo uma dominância de um em determinados registros vocais – quanto maior for a altura sonora, maior será a ação proporcional do CT; quanto maior for a intensidade sonora, maior será a ação proporcional do TA):

1) Basal ou Glottal Register ou Vocal Fry: é o termo usado para descrever a parte mais grave da voz humana. Os Baixo-profundos o utilizam para alcançar notas da primeira e começo da segunda oitava do piano. Apresenta um aspecto sonoro semelhante ao de um “arroto”.

2) Chest Register ou Chest Voice: é a chamada “voz de peito” (porque é na região torácica que são ressonadas as notas). Apresenta um som cheio, forte/firme, e é onde são cantadas/produzidas as notas com maior intensidade. Há quase que total dominância do TA nesse registro. (Curiosidades e esclarecimentos: os chamados “dós-de-peito” dos tenores, pelos quais ficou conhecido o tenor Luciano Pavarotti, são na realidade um certo misto entre a voz de peito (Chest Voice) e a voz de cabeça (Head Voice), que é o Middle Register (conhecido também como “voz mista”), provocando notas fortes, cheias e brilhantes; as notas saem com essas qualidades porque não ressonam somente no peito e nem somente na cabeça, mas sim um pouco em cada um deles, sendo aí também observável a grande proporção de CT e de TA

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empregues no Middle Register; o comentado BELTING consiste em executar em Chest Voice notas que, naturalmente, já estariam em outro registro vocal, ou seja, o “topo do Chest Voice”).

3) Falsetto: o tão discutido falsete (que em italiano quer dizer “falso tom/nota”). Muitos o confundem com o Head Voice e até mesmo afirmam que são um, porém não o são. O falsete consiste em “vibrar somente a metade das pregas vocais” produzindo assim notas agudas que, naturalmente, não fazem parte da tessitura vocal literal. Ele apresenta um certo volume de ar (vazagem) na sua produção e é ressonado na maçã do rosto e, principalmente no nariz (mas o som não sai e nem deve sair nasal, “fanho”), e a ressonância concentra-se no palato mole. O CT está bastante ativo nesse registro, enquanto que o TA fica quase que desativado. (Observação: há muitas controversas quando a terminologia “falsete feminino”; se analisarmos a origem da palavra Falsetto veremos que indica uma “falsa voz feminina”, uma “imitação da voz feminina”, ou seja, uma mulher não imita uma voz feminina porque ela já a possui naturalmente, daí conclui-se que o Falsetto seria um registro vocal exclusivo dos homens, porém, se formos analisar a produção sonora do falsete, fisiologicamente tanto homens como mulheres utilizam o seu mecanisma básico, cuja concentração ressonante se dá no palato mole...)

4) Head Register ou Head Voice: a “voz de cabeça” (porque é na caixa craniana onde há ressonância dos sons). Acrescentando a diferença descrita no tipo 3, as notas alcançadas em Head Voice são mais cheias e brilhantes, facilmente acessíveis, e elas fazem parte da tessitura vocal. As notas ressonam na máscara facial (maçã do rosto e testa) e tem grande intensidade (que pode/deve ser controlada). Não é um som tão cheio e volumoso como o do Chest Voice, mas é mais cheio e forte do que o do Falsete. Tanto o CT como o TA estão bem ativos nesse registro.

5) Super-Head Register ou Super-Head Voice: Algumas Sopranos o apresentam. Ele é uma extensão do Head Voice que compreende notas acima do C6 (daí muitos não o consideram como um registro vocal, mas somente como uma extensão superior do Head Register, como se fosse o BELTING do Head Voice). É através dele que as Sopranos emitem seus C6, D6, E6 e E6# fortíssimos e cheios de vibrato. As notas são resultados de uma enorme vibração das pregas vocais e são ressonadas intensamente pela caixa craniana e pela caixa torácica, provocando um som muito cheio e forte, visto a ação em grandes proporções do CT e TA. É interessantes ressaltar que o Super-Head Voice pode ser usado dinamicamente com os demais registros vocais e tem fácil “ligação” com eles. (Curiosidade: um caso fenomenal e raríssimo de Super-Head Voice é o da Soprano Mado Robin; ela deixou registrado um C7 em Super-Head Voice e em todas as suas apresentações ao-vivo interpolava um B6 ou B6#; de acordo com amigos, ensaiando/treinando em sua casa, Mado Robin atingia um D7 em Super-Head Voice. Se você puder ouvi-la testemunhará um dos maiores fenômenos vocais de todos os tempos, e além disso ela tem um timbre belíssimo, delicado, que passa uma inocência explêndida. Eu não poderia deixar aqui também registrado os méritos da Soprano Maria Callas que estremecia os teatros com os seus E6# poderosos...)

6) Flageolet Register: o “registro de flauta ou registro de assovio”. Apenas uma pequena parte/porção das pregas vocais vibra (pois ocorre um “damping”), assim produzindo-se as notas agudas. O CT fica extremamente ativo nesse registro vocal. (Curiosidade: mais um fenômeno vocal é o caso da Soprano Acuto Sfogato Erna Sack, o “Rouxinol Alemão” (título que foi-lhe dado pelos cidadãos alemães e críticos da época), famosa por atingir o C7 e por sustentar longas notas agudíssimas em Flageolet Register – percebam também que seus agudos têm o aspecto sonoro semelhante aos de um Flautim (um “tipo de flauta aguda”)) 7) Whistle Register: o “registro de apito ou assobio laríngeo”. Ele caracteriza-se pela extrema tensão das pregas vocais (onde não há vibração das pregas vocais) e há uma pequeníssima fenda (em torno de 1 milímetro) por onde o ar passa, exatamente como em um assovio.

As Notas dos Passaggios

Abaixo está um quadro relacional das notas que podem ser alcançadas pelos registros descritos acima; vale ressaltar que os Passaggios não ocorrem necessariamente no C para

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todos os registros vocais (só lembrando que C4 é o dó central do piano (o quarto dó do piano) e C1 é o primeiro dó do piano – notação americana):

C1 D1 E1 F1 G1 A1 B1 [Glottal Register]C2 D2 E2 F2 G2 A2 B2 [Chest Register (ou Glottal Register nas primeiras notas)]C3 D3 E3 F3 G3 A3 B3 [Chest Register]C4 D4 E4 F4 G4 A4 B4 [Chest Register ou Falsetto]C5 D5 E5 F5 G5 A5 B5 [Falsetto ou Head Register]C6 D6 E6 F6 G6 A6 B6 [Super-Head Voice ou Flageolet Register ou Whistle Register]C7 D7 E7 F7 G7 A7 B7 [Flageolet Register ou Whistle Register]

* C8 = a última nota do piano, ou seja, a última “nota natural”. (Curiosidade: A cantora brasileira Georgia Brown é a atual detentora do record de “a maior extensão vocal” registrado no Guinness Book. De acordo com a medição do Guinness, o registro vocal dela compreende de G2 a G10 (nove oitavas!). Já o cantor australiano Adam Lopez está na publicação oficial do Guinness após atingir ao-vivo um C8#, obtendo assim o registro como “a nota mais aguda já atingida por um homem”.)

Exemplos de Registros Vocais

Entre no site (em inglês) abaixo. Vou utilizar as mp3’s nele contidas para exemplificar os Registros Vocais (quero salientar que nesse site estão registrados casos vocais fenomenais, no mínimo curiosos):

http://www.dutchdivas.net/frames/highC.html

o primeiro mp3 é o do Baixo Matti Salminen: ele canta a ária em Chest Voice, mas para atingir o D2 que a ária exige ele utiliza o Glottal Register;

o seguinte é o Baixo-Profundo Viktor Wichniakov: ele canta a ária do oratório toda em Glottal Register; atingindo o C2;

o próximo é o do Tenor John van Kesteren: ele canta a ária e atinge as cinco notas C5 com muita facilidade em Middle Register (Curiosidade: esse é a ária que tornou Luciano Pavarotti mundialmente conhecido/renomado – ele executou (executava) as cinco notas C5 com muito brilho, notas cheias com grande intensidade, e por último sustentava/prolongava o último C5 por cerca de 10 segundos);

seguindo vem o Tenor Nicolai Gedda: ele canta a ária em Middle Register e atinge um formidável D5 também em Middle Register;

o próximo é o Tenor-Ligeiro William Matteuzzi: ele canta a ária e atinge um formidável F5 em Middle Register;

na seqüência vem novamente o Tenor Nicolai Gedda: ele canta a ária em Middle Register e atinge um F5 em Head Voice;

continuando vem o Tenor Luciano Pavarotti: esta gravação contém a sua nota mais aguda já gravada, um F5 em Head Voice;

agora temos o Tenor Gregory Kunde: ele emite um G5b em Head Voice nessa gravação;

depois vem o Sopranista David Newman: ele canta a ária toda em Head Voice;

agora seguem duas mp3 da Soprano Mado Robin: nas duas mp3 ela canta em Head Voice e, testemunhem, atinge um inacreditável B6 em Super-Head Voice;

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a próxima é a Soprano Acuto Sfogato Erna Sack: ela canta em Head Voice e atingem várias notas agudas em Flageolet Register (observem logo no começo o “show” da escala agudíssima em staccato) – detalhe, a nota mais aguda atingida aí foi um B6 em staccato, as notas sustentadas são G6#;

na seqüência vem a grande diva da música lírica, a Soprano Maria Callas: observem como ela consegue facilmente fazer o Passaggio entre o Head Register e o Super-Head Voice (atingido durante a seqüência em staccato e no final da ária, no qual ele sustenta a nota E6#, que é a sua nota mais aguda já gravada);

depois vem a Soprano Natalie Dessay: esse é a ária que contém a nota mais aguda realmente escrita pelo compositor, o G6 atingido por ela em Flageolet Register;

a seguinte é a grande Contralto Marian Anderson: ela canta a ária toda em Chest Voice, atingindo um incrível F2 também em Chest Voice;

seguindo vem o “showcase” Yma Sumac: nessa música ela demonstra toda a sua extensão vocal (5 oitavas) e passeia pelos registros vocais para mostrá-la (Chest Voice, Head Voice e Flageolet Register); a nota mais grave atingida é um “abafado” C2 em Chest Register (mas não está neste trecho da música) e a nota mais aguda atingida é um B6 em Flageolet Register (esse é bem perceptível) – observem como ela faz o Passaggio do Flageolet Register para o Head Register na escala descendente depois do B6;

depois vem outro “showcase”, Mariah Carey: nesta versão de Emotion ao-vivo ela alcançou a sua nota mais aguda, o G7# que a colocou no Guinness Book; todos os seus agudos são em Whistle Register;

na seqüência vem a brasileira Georgia Brown: a palavra absurdo resume o seu áudio onde nos 56 segundos atinge um F8 em Whistle Register;

para finalizar, Adam Lopez: isso é um trecho de uma entrevista para uma rádio na qual ele aproveitou para demonstrar seus “dotes vocais”. Todos os agudos são em Whistle Register, culminando num B7 incrível.

OBS.: Sempre que mostro esses trechos para os meus alunos ou para alguém, costumam me fazer as perguntas que seguem abaixo, por isso desde já vou respondê-las antes que alguém também as faça (mesmo porque acho que assim esclarecerei melhor o assunto):

O Tenor John van Kesteren não faz falsete nessa ária ??? Os agudos C5 não são em Head Register???

R.: Não há falsete e os agudos são feitos em Middle Voice (misto de Chest Voice e Head Voice). Acontece que ele não emprega muita intensidade nos C5, contrário ao que a maioria dos tenores faz.

O Tenor William Matteuzzi não usa só o Head Register nessa ária ?R.: Em termos de proporção, ele usa mais o Head Register do que o Chest Register, mas mesmo assim há um misto dos dois, por isso Middle Register (seria Head Register puro se ele só ressonasse a nota na cabeça). Para um exemplo de Head Register puro, escute o agudo F5 do Tenor Nicolai Gedda.

O Sopranista David Newman não é na realidade um Contra-tenor ? Não é Falsete o que ele faz ???

R.: Não. Ele é Sopranista porque ele canta realmente em Head Register (assim como uma Soprano Lírico o faz). O que ele faz não é falsete; escute o Edson Cordeiro para ter um exemplo de Contra-tenor (obs.: o Edson Cordeiro usa falsete até o C6 e depois entra no Flageolet Register até o G6, sua nota mais aguda já gravada, que pode ser ouvida na música Naturtrane).

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O Adam Lopez atinge notas mais agudas do que a Mariah Carey ??? Um homem pode ter o Whistle Register ??? O que ele faz não é um tipo de falsete agudo ???

R.: Um homem pode sim (ainda que muito raro) atingir notas em Whistle Register e é o caso de Adam Lopez. A nota que ele alcançou foi um B7, enquanto que a Mariah foi um G7, então ele alcança duas notas acima do que alcança a Mariah. A nota máxima proporcionada pelo Falsetto é o C6.

VIBRATO

Vibrato são pequenas oscilações de uma nota (a famosa “tremidinha”). Ele é muito usado no canto, tanto lírico como popular, onde cada estilo/gênero vocal/musical têm sua forma própria quanto ao tamanho da oscilação de amplitude e velocidade do vibrato. Ele dá uma sonoridade mais harmônica para notas prolongadas/sustentadas (uma nota pura, “sem efeito vocal”, quando sustentada, torna-se cansativa e costuma soar muito “forçada”). O vibrato é produzido quando da correta colocação da laringe que em estado de relaxamento oscila (conforme a pressão de ar que por ela passa), assim produzindo-o. Há uma necessidade de um certo "apoio" do diafragma para que se controle essa oscilação/vibração de forma uniforme e gradual (Observação: existe uma maneira de se criar um “falso vibrato” apenas pela manipulação do diafragma, porém a ressalva que eu faço aqui é quanto ao “apoio diafragmático”, ou seja, o vibrato será produzido pela oscilação laríngea, você utilizará o diafragma apenas como um “apoio” que ajuda-o a “controlar o vibrato”). O vibrato simples consiste na junção de uma nota e um semi-tom unificados. Para entendermos melhor precisamos aprender a noção de Pitch.

PITCH é a habilidade de emitir uma nota como ela é emitida exatamente no piano. Para explicar/exemplificar melhor: os tons/notas são as teclas brancas e os semi-tons são as teclas pretas. Se você estiver cantando uma nota um semi-tom mais agudo então você está cantando o SHARP da nota (ex. de notação: C#, F# e G#); se você estiver cantando uma nota um semi-tom mais grave então você está cantando o FLAT da nota (ex. de notação: Eb e Bb).

Exercício de Vibrato Simples

Relembrando que o vibrato simples é constituído/formado por uma nota e seu semi-tom SHARP (#). Para começar o exercício, com a vogal A emita uma nota nem muito grave nem muito aguda, que lhe seja confortável. Na seqüência, emita o SHARP dessa nota (meio-tom acima). Vá oscilando entre a primeira e a segunda nota (por ex.: C e C# - A, Ah, A, Ah...) e vá aumentando a velocidade dessa oscilação até que os dois sons se tornem um só. Coloque suas mãos sobre sua barriga e sinta uma leve e rápida vibração do diafragma (perceba que todo o seu corpo vibra, inclusive a testa). Sentiu essa “vibração geral” ? Se você sentiu está fazendo o vibrato simples corretamente. Preste atenção: não pode haver tensão na região da garganta (ela tem que estar relaxada) e não é necessário vibrar a boca nem os lábios.

No canto lírico moderno existem “tipos de vibrato” mais complexos que funcionam com o mesmo mecanismo básico, porém são feitos com dois semi-tons e uma nota (ex.: Bb, C e C#) e/ou são ressonados fortemente na região torácica frontal (o que dá um aspecto mais “fechado”) e/ou são obtidos através de uma vibração labial coordenada (que faz com que ele fique um pouco mais rápido). Para ouvir esses três tipos de “vibrato lírico” (não que o vibrato simples não seja usado no canto lírico, aliás, ele é o mais usado) sugiro que você procure e ouça uma gravação da Soprano Coloratura Dramático Joan Sutherland da ária “Caro Nome” da ópera Rigoletto de Verdi (gravação de 1960): no final da ária é feita uma seqüência com os três tipos de vibrato. Esta é uma das melhores gravações que eu já ouvi dessa ária (na minha opinião, Sutherland é a maior cantora de todos os tempos no quesito técnica vocal).

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AQUECIMENTO

A realização de aquecimentos é indispensável para o canto, bem como cuidados especiais com a saúde vocal (nada anormal, por exemplo, o cuidado mais essencial de todos e o principal é o de não tomar nada gelado nem antes e nem depois do exercício vocal. Por que ? Se você logo após de cantar tomar um copo de água gelada você estará provocando um certo choque térmico nas suas pregas vocais, visto que elas, quando em uso, podem chegar a até 40ºC).Os aquecimentos além de lhe prepararem para a atividade vocal, relaxam (algo indispensável antes de uma apresentação, visto que qualquer cantor fica naturalmente nervoso antes de entrar num palco; controlar esse nervosismo é algo que você precisa aprender – se você for tomado pelo nervosismo, com certeza ele atrapalhará e muito a sua performance). Os exercícios podem até parecer engraçados ou “bobos”, mas garanto que fazem uma grande diferença.

A rotina diária do cantor deve começar assim: primeiro ele deve fazer exercícios de alongamento/relaxamento corporal, depois exercícios de aquecimento respiratório e por fim exercícios de aquecimento vocal, para só depois disso ele poder cantar uma música.Abaixo seguem alguns exercícios básicos que são muito simples de se fazer:

Exercícios de Alongamento/Relaxamento

Como já mencionei, cantar não é simplesmente “soltar o gogó”; todo o nosso corpo, de certa forma, auxilia o canto (você já pode perceber isso no tópico "Ressonadores"), portanto ele tem de estar aquecido e relaxado. Lembrando também que a POSTURA é muito importante; por isso, em pé, deixe mais ou menos o espaço de um palmo entre os seus pés e mantenha-se alinhado (a cabeça tem de estar reta, formando um ângulo de 90º em relação ao chão).

Esses exercícios são aqueles que aprendemos (ou não) durante as aulas de educação física:

- Relaxe todo o seu corpo, balance as pernas e os braços;

- Rotacione os ombros para a frente e para trás lentamente;

- Gire a cabeça da esquerda para a direita lentamente, agora faça o movimento contrário, também lentamente, sempre abrindo a boca quando a ponta do nariz estiver para o alto, isso é para não esticar a pele do pescoço que pode, talvez, pressionar a região - e abrindo a boca você também já começa a aquecer o seu maxilar;

- Relaxe/alongue o seu maxilar abrindo e fechando a boca lentamente, movendo-a para a esquerda e para a direita lentamente;

- Com a boca fechada, mova sua cabeça gesticulando SIM e NÃO.

Exercícios de Aquecimento Respiratório

Vide e execute os exercícios propostos no tópico "Exercícios Básicos de Respiração", lembrando que você deve sempre utilizar a respiração diafragmática, inspirando pelo nariz, retendo o ar por cerca de dez segundos, e expirar pela boca, controlando ao máximo o fluxo/passagem de ar, ficando o máximo tempo possível na expiração.

Exercícios de Aquecimento Vocal

Preste atenção em todas as observações e siga as instruções corretamente, sempre respeitando os seus limites, sem "forçar" a voz para ir além do que fisicamente lhe é possível/permitido (todas as notas que você for tentar alcançar tem de sair confortavelmente):

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- Para "limpar" as pregas vocais, faça um som de "trator" (TRRR - TRU ou TRA) elevando a lingua até o céu da boca e com a boca quase que fechada. Isso deve ser feito num tom médio com pouca intensidade e tem de ser sentida uma vibração no pescoço (atenção: não faça com muita intensidade e nem num tom muito agudo nem muito grave, caso contrário você começará a tossir e estará sendo prejudicial ao invés de ser benéfico);

- Faça novamente o exercício do "trator" só que agora fazendo uma escalas rápidas ascendentes (do grave para o agudo) e descendentes (do agudo para o grave) – não é pra ir aos extremos de sua voz!;

- Com a boca fechada, faça um som de "humnn" (sem muita intensidade) primeiro em Chest Voice (observe a vibração no peito) e depois em Head Voice (observando a vibração na maçã do rosto);

- Ainda com a boca fechada, faça o som da vogal U (obviamente por estar com a boca fechada não sairá o som de Ú, sairá um som de û/ô) em staccato (perceba o movimento do diafragma - não pode haver tensão na região da garganta).

VOCALIZES

Agora vamos aprender a fazer uns vocalizes simples que servem para "treinar" os nossos registros vocais e para "prolongar" a nossa extensão vocal, assim, treinando/desenvolvendo a nossa voz. Os vocalizes são exercícios que devem ser feitos com o auxílio de um instrumento musical para se ter exatidão nas notas atingidas e para a melhor e correta realização dos exercícios.

Os vocalizes consistem em realizar escalas diversas emitindo-se o som das vogais (A, E, I, O, U). Atenção quando você for cantar as vogais: você estará cantando-as e não falando-as – os mecanismas são diferentes. Outra coisa importante é que há duas maneiras de cantar as vogais: numa você trabalha com os “sons abertos” (á, é, í, ó, ú) e noutra, com os “sons fechados” (â, ê, î, ô, û); eu acredito que é melhor começar a treinar os vocalizes utilizando-se dos “sons fechados” e depois, com os “sons abertos”, sempre estando muito atento à forma como você está impostando a sua voz (se está falando ou cantando as vogais).

Vamos começar realizando um exercício fundamental conhecido como "a grande escala": primeiro, com o som da vogal A ou U, emita uma nota que lhe seja confortável e tente localizá-la no teclado (sendo que a nota do teclado tem que ser igual a nota que você está emitindo - se você estiver com dificuldade nisso, tente mudar o som do teclado, isso poderá lhe ajudar – atenção quanto a essa exatidão nas notas tocadas/cantadas em todos os exercícios abaixo!);agora vá descendo as notas no teclado e vá acompanhando-as com a sua voz com exatidão (lembre-se de usar os ressonadores!), assim você localizará o seu limite mais grave (sem "forçar" a voz!). Localizada a sua nota mais grave, vá subindo nota por nota no teclado, sempre acompanhando-as com a sua voz em exatidão, até encontrar o seu limite mais agudo (passei pelos seus registros vocais/ressonadores, prestando bastante atenção em onde estão os Passaggios e como você os está fazendo). Você acaba de descobrir e utilizar todo a sua extensão vocal (toda até o presente momento!).

Façamos um outro exercício básico de vocalizes: começando pela sua nota mais grave, você cantando uma vogal, fará a seguinte escalinha: supondo que a sua nota mais grave é um C3, você cantará (em uma única respiração, ficando por cerca de um segundo em cada nota): C3 – C3 D3 E3 D3 C3 (respire) D3 – D3 E3 F3 E3 D3 (respire) E3 – E3 F3 G3 F3 E3, assim sucessivamente até chegar na sua nota mais aguda. Obs.: a primeira nota é para “indicação”, você pode cantá-la ou não; se for cantá-la, faça assim como o exemplo: A (fique por dois segundos na nota e pare/cale-se por um segundo, depois prossiga fazendo a escala) AAAAA; o “travessão” ( – ) foi colocado justamente pra simbolizar essa pausa/parada. Depois você pode/deve trabalhar com uma escala maior, passando pelas notas SHARP, assim: C3 – C3 D3 E3 F3 G3 F3 E3 D3 C3 (respire) C3# – D3 E3 F3 G3 A3 G3 F3 E3 D3 (respire) D3# – E3 F3 G3 A3 B3 A3 G3 F3 E3 (respire) F3 – F3 G3 A3 B3 C4 B3 A3 G3 F3 (respire) F3#

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– G3 A3 B3 C4 D4 C4 B3 A3 G3 (respire) G3# – A3 B3 C4 D4 E4 D4 C4 B3 A3 (respire) A3# – B3 C4 D4 E4 F4 E4 D4 C4 B3 (respire) C4 – C4 D4 E4 F4 G4 F4 E4 D4 C4, assim sucessivamente até a extremidade aguda de sua extensão vocal. Vamos agora para um outro exercício de vocalizes, semelhante ao exercício anterior: começando pela sua nota mais grave, você subirá quatro notas e descerá uma, pulando uma nota no final de cada seqüência (ex.: se sua nota mais grave fosse um C3 você faria (em uma única respiração, ficando mais ou menos um segundo em cada nota) C3 – C3 D3 E3 F3 E3 (respire) D3 – D3 E3 F3 G3 F3 (respire) E3 – E3 F3 G3 A3 G3, isso sucessivamente até chegar ao topo de sua voz); depois você fará o mesmo exercício ao contrário, descendo a escala a partir de sua nota mais aguda (ex.: (em uma única respiração ficando por cerca de um segundo em cada nota) A3 – A3 G3 F3 E3 F3 (respire) G3 – G3 F3 E3 D3 E3 (respire) F3 – F3 E3 D3 C3 D3, também sucessivamente até chegar a sua nota mais grave). Obs.: fazer o exercício inverso, em escala descendente (do agudo para o grave) é muito mais difícil do que fazê-lo em escala ascendente (do grave pra o agudo) – trabalhe bem o exercício normal em escala ascendente para depois fazê-lo ao inverso em escala descendente.

Para encerrar, faremos um exercício – o mais difícil de todos – que além de trabalhar a sua voz, trabalhará um pouco mais a sua Respiração e ainda trabalhará a sua PERCEPÇÃO (que é muitíssimo importante no canto e na música em geral, é a verdadeira habilidade/noção de PITH (citada/descrita no tópico "Vibrato"), o tal do "ouvido aguçado" – obviamente que todos os demais exercícios acima também já estão trabalhando bem estes dois outros aspectos técnicos). Vamos trabalhar com uma escala rápida em staccato, ascendente e depois descendente, que "pula" sempre uma nota, começando da sua nota mais grave até a sua nota mais aguda (ex.: (deve ser executada numa única respiração, ficando por cerca de meio segundo em cada nota) C3 E3 G3 B3 D4 F4 A4 C5 e depois B4 G4 E4 C4 A3 F3 D3). Como disse no começo, esse é o mais difícil dos exercícios de vocalizes... Sugiro que primeiro você treine muito bem os exercícios anteriores para que você tenha condições de fazê-lo – acredito que só depois de um mês treinando diariamente os exercícios anteriores será bom e possível fazer este último exercício corretamente. (Resumindo: você tem de fazer toda a sua extensão vocal, da sua nota mais grave a sua nota mais aguda, em uma única respiração, dando os "pulos" conforme o exemplo; é muito bom – quase que indispensável – antes de realizar este exercício, só tocar a escala completa das notas e depois a escala com os “pulos” repetidas vezes, prestando muita atenção nelas).

Observação: depois de já ter treinado bem os primeiros exercícios de vocalizes, você pode e deve fazê-los em staccato, trabalhando a velocidade do staccato gradativamente. Existem muitos outros métodos/exercícios de vocalizes que, basicamente, são variações desses apresentados acima; tente você mesmo fazer variações nas escalas propostas, criando novos exercícios (só cuidado com a criatividade hein!).

Para alongar a sua extensão vocal, aumentando assim o número de notas por ela atingido, é necessário repetir diariamente os exercícios acima descritos buscando cada vez mais apoio nos ressonadores para se alcançar notas mais graves e notas mais agudas; embora isso teoricamente pareça fácil, saiba que na prática não é: serão necessários meses para ir-se obtendo resultados; somente com muita dedicação e treino você começa a dominar bem a relação impostação X ressonância que lhe possibilita aumentar sua extensão vocal. Lembrando também que a sua extensão vocal tem tudo a ver com a elasticidade das suas pregas vocais e de quanto você as domina; esse é um fator físico que, naturalmente, limita a extensão vocal. Não queira ser o super homem e nem a mulher maravilha! A extensão vocal que a maioria das pessoas apresentam (inclusive a maioria dos cantores profissionais) é de duas oitavas = 16 notas musicais obtidas com a voz.Quanto a emitir notas além da sua extensão vocal básica (localizada com o exercício "a grande escala") eu gostaria de fazer uma ressalva importante: não é "forçar" a voz nos graves (e nem fazê-los de forma "abafada") nem "gritar" nos agudos... Como já expliquei, é buscar apoio nos ressonadores, passeando pelos registros vocais, aperfeiçoando os seus Passaggios, e descobrindo/inventando efeitos sonoras com auxílio dos ressonadores – tudo isso leva tempo para ser aprendido na prática...

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O SISTEMA FACH

FACH é o sistema adotado pelo canto lírico para a classificação vocal. Esse sistema foi desenvolvido na Alemanha em meados do século VIII; os alemães adoravam admirar particularidades vocais dos cantores líricos e então criaram um sistema classificatório que descriminasse ao máximo todos os atributos do timbre e da extensão vocal das vozes, bem como suas habilidades técnicas. O sistema era tão completo que em pouco tempo foi adotado em todo o mundo.Não é difícil entender o porque desse sistema ter dado tão certo: na ópera, via de regra, o mais importante não é o texto, mas sim a música e sua expressão pura, principalmente a música vocal (onde há a busca da "perfeição técnica/sonora"); o timbre do cantor tem de impactar e remeter o espectador a todo o clima/ambiente vivido pelo seu personagem e transcorrido durante a ópera. Logo, se há, por exemplo, um personagem de uma mulher forte, talvez uma rainha poderosa, ele não poderia ser interpretado por uma soprano cujo timbre fosse doce, cristalino, porque ele remeteria a uma jovem frágil e não uma mulher poderoso... Daí o êxito do sistema FACH: conseguir classificar as vozes e distribuir os papéis para cada uma delas de forma que um espectador só ouvindo o timbre do cantor pudesse ligá-lo à descrição do personagem vivido pelo cantor, bem como a situação/cenário em que ele se encontra, sem contar que essa distribuição também tem tudo haver com a tessitura e extensão vocal exigidas em determinados papeis para uma determinada voz. (Curiosidade: o êxito da Soprano Maria Callas, dentre outros aspectos, deve-se à sua grande versatilidade vocal e artística, que rompeu as “barreiras” do sistema FACH interpretando papéis de FACHER diferentes – desafio que já havia sido vivido pela Soprano Lilli Lehmann em meados do século XIX; costumam utilizar o termo Soprano Absoluto para descrever essas Sopranos de grande extensão vocal e com facilidades na interpretação de todo o repertório para Soprano e alguns papéis de Mezzo-Soprano)

Abaixo está uma lista descritiva com quase todos os FACHER existentes (apresentando os termos correspondentes em outros idiomas):

Soprano SoubretteCostumeiramente este termo faz referência às cantoras jovens com vozes ainda indefinidas e pouco treinadas. Agora o Soprano Deutsche Soubrette refere-se a uma Soprano de voz cálida, com extensão de C4 a C6, boa atriz e de delicada aparência física, que é aproveitada em algumas óperas e operetas alemãs.

Soprano Ultraleggero / Soprano Acuto SfogatoÉ o timbre mais agudo de todos, com um registro raríssimo que alcança notas extremamente agudas. Apresenta um timbre muito claro, leve, semelhante a uma flauta. Tal qual a Soprano Leggero mais com uma extensão aguda superior, atingindo as mais agudas notas com bastante brilho. Tem graves muito fracos e “abafados”, sem brilho.Escala: do médio E4 ao agudo G6 ou A6

Soprano Leggero / Soprano LigeiroVoz clara, timbre agudo e leve, geralmente de pouca intensidade. Apresenta graves muito fracos e "abafados". Escala: do médio D4-fraco ou E4 ao agudo E6 ou F6Soprano Leggero Coloratura: uma Soprano Ligeiro com grande agilidade e virtuosismo vocal(quase todos os papéis escritos para Soprano Ligeiro possuem algum tipo de coloratura).Soprano Lírico Leggero: uma Soprano Ligeiro com um pouco mais de intensidade e graves um pouco mais timbrados.Soprano Lírico Leggero Coloratura: uma Soprano Leggero Coloratura com um pouco mais de intensidade e graves um pouco mais timbrados, ou seja, uma Soprano Lírico Leggero com habilidades de coloratura.

Koloratursopran / Soprano Coloratura Diz-se de uma Soprano dotada de grande técnica, com muita habilidade vocal para realizar as mais difíceis cadenzas (“ornamentos”, fioraturas). Escala: do médio C4 ao agudo F6 ou G6

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Lyrischer Koloratursopran / Soprano Coloratura Lírico: como uma Soprano Lírico Ligeiro com uma voz mais cheia, mais aveludada e igual em todos os registros, com maior intensidade. Geralmente apresentando graves fracos. Dramatischer Koloratursopran / Soprano Coloratura Dramático: voz de qualidade similar ao Soprano Lírico, mas com uma extensão superior até E6# ou F6, com habilidade de coloratura sustentado e um bom registro grave.

Lyrischer Sopran / Soprano Lírico Um som cheio e aveludado, igualmente timbrado em todos os registros, com um médio sólido, florido no médio superior e sem muito peso nos graves.Escala: do grave B3-fraco ao agudo C6 ou D6

Jugendlich-dramatischer Sopran / Soprano Lírico-SpintoComo uma Soprano Lírico, porém com um timbre mais “cheio”, denso, potente e volumoso, além de graves mais sólidos.Escala: do grave B3 ao agudo C6

Charaktersopran / Dramatischer Sopran / Soprano SpintoMédios e agudos de spinto ("empurrados" ou "pressionados", no italiano). É uma voz mais grave que a do Soprano Lírico, com um pouco mais de peso e volume. Escala: do grave A3 ou B3 ao agudo B5Utilizado no trabalho mais pesado de Puccini e de Verdi e em algumas óperas de Wagner

Hochdramatischer Sopran / Soprano Dramático/HeróicoA voz mais pesada e poderosa do Soprano. Apresenta um timbre escuro e "bem encorpado", com médios e graves bem sólidos e dotada de uma grande intensidade.Escala: do grave G3-fraco a um agudo C6 “empurrado”Utilizado nos mais pesado dos trabalhos italianos, as óperas de Wagner (daí o termo Soprano Dramático Wagneriano)

Mezzo-SopranoLiteralmente um "soprano médio". Com um timbre mais escuro e uniforme do que o Soprano Dramático, com uma tessitura um terço mais baixa do que o Soprano Lírico.Escala: de um grave A3 ou G3 a um agudo A5 ou B5-fracoLyrischer Mezzosopran / Mezzo-Soprano Lírico: voz mais clara do Mezzo-Soprano, com uma escala até o B5; é considerada como o padrão. Dramatischer Mezzosopran / Mezzo-Soprano Dramático: praticamente uma Mezzo-Soprano Lírico com a voz ligeiramente mais grave, delgada, tendo um som mais cheio.

Alt / Dramatischer Alt / Contralto (Dramático)A voz feminina mais grave. Muito confortável no grave e “bem empurrado” no agudo. Apresenta um timbre intensamente escuro e "pesado". Escala: de um grave G3 a um agudo G5 ou A5 Usado na maior parte em Oratório/Réquiem. Poucos papéis na ópera, onde representa sempre uma pessoa mais velha, como, por exemplo, mãe da Soprano.Tiefer Alt / Contralto Profundo: uma Contralto de timbre muito escuro, com graves densos e bem sólidos; algumas conseguem atingir até um gravíssimo C3.

Tenor A voz masculina mais aguda.Escala: do grave C3 ou D3 a um agudo C5 ou D5 Tenor Leggero / Tenor Ligeiro: Chamado às vezes de "tenor limitado" (de graves de difícil acesso e de pouca intensidade), com um timbre doce, claro e agudo – extremamente confortável e de fácil acesso nos agudos, cantando as mais elevadas notas do tenor, podendo chegar até um F5.Lyrischer Tenor / Tenor Lírico: apresenta um médio florido, com uma voz sólida e com uma escala até um agudo C5-forte. Jugendlicher Heldentenor / Tenor Spinto: voz forte e cheia, de muito "peso", com um médio-grave escuro e com uma escala que abrange do grave C3 até um agudo C5 “empurrado”.

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Charaktertenor: como um Tenor Dramático, com um timbre menos escuro, possuindo uma extensão que vai do grave B2 ao agudo B4.Heldentenor / Tenor Dramático/Heróico: um tenor expressamente forte, graves com muita intensidade; é o timbre/tessitura mais grave do tenor, por vezes semelhante a um Barítono Lírico, com uma extensão até o B4-forte. É a voz ideal para interpretar OTELLO. Há ainda quem considere esse FACH como Tenorbariton/Baritenor, ou seja, um Tenor-Barítono.

BarítonoA voz masculina média, muito destacada nas óperas de Verdi. Reflete as qualidades do baixo e do tenor, com um timbre/tessitura mais grave e volumoso do que o do tenor. Escala: um grave G2 ou A2 até um G4 ou A4 Lyrischer Bariton / Barítono Lírico: a voz mais clara do Barítono. Muito perto de um Tenor Dramático no timbre vocal, mas com uma tessitura mais grave. Seu registro agudo chega ao G4 ou A4. Kavalierbariton / Cavalier: timbre um pouco mais escuro do que o do Barítono Lírico; seus papéis exigem grande intensidade nas notas do registro médio e com grandes oscilações entre grave e médio. Possui uma extensão de A2 a G4#.Charakterbariton / Barítono Dramático/Heróico: voz mais escura, forte e cheia, chegando a até um agudo G4. Faz quase que todos os antagonistas na maioria das óperas italianas. Heldenbariton / Baixo-Barítono: diretamente entre o barítono e o baixo. Freqüentemente canta papéis de Barítono de Wagner, mas com um timbre ligeiramente mais escuro. Perfeito para papéis dos baixos franceses como Mefistofeles em FAUST. Apresenta uma extensão de G2 a F4#.

BaixoA mais grave das vozes masculinas. Tem um timbre extremamente escuro, por vezes "sombrio". Escala: de um grave E2 ou F2 a um médio E4 ou F4Charakterbass / Baixo Cantante: Um baixo real, com um timbre bem "escuro", mas com a fluidez e a sustentação do baixo-barítono. O rei Phillip em DON CARLO de Verdi e o papel principal em MEFISTOFELE de Boito são perfeitos para essa voz.Seriöser Bass / Baixo Profundo: O timbre mais "escuro/sombrio" de todos, dotado de uma extensão grave incomum.Escala do Baixo Profundo: do médio C4 ou D4 ao grave C2 ou B1-fraco

Spieltenor / Spielbass/Schwerer Spielbass / Tenor ou Baixo BuffoA palavra "buffo" significa o tolo ou o palhaço. O lado cômico do mundo da ópera é encarregado a eles. Geralmente tem uma voz de escala indeterminada mas com enorme personalidade e extensão de cores.

MELISMAS

Os melismas são os "floreios" através dos quais o cantor colore as frases de uma música.São muito utilizados no canto Black/Soul (na realidade os negros americanos são especialistas no assunto e foram eles que criaram e/ou adaptaram alguns “melismas” do canto lírico).

BEBOPS: são palavras usadas para improviso e/ou arranjo vocal (exs.: "aha, dap, dara, daw, dhup, dhura, dhuru, doum, ehe, hei, heion, hoo, ieiê, naraná).

Abaixo estão alguns tipos de melismas utilizados no canto popular:

WHISPER (Vento e Voz)

Whisper = sussurrar. É uma técnica onde produzimos/emitimos o som com uma grande vazagem/passagem de ar, dando uma estética aveludada, suave ao timbre vocal. É muitíssimo utilizado por cantores/cantoras POP e Soul/Black.

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Geralmente é muito usada para interpretar canções que necessitem de suavidade, na maioria das vezes músicas com ritmo lento.Pode ser empregue (ainda que já é um pouco empregado “naturalmente”) junto com o Falsete, fazendo um som a lá Bee Gees.É importante ressaltar que para utilizarmos essa técnica temos de ter um bom controle respiratório, visto que requer maior demanda de ar.

CURVAS DE APOIO

São pequenos desvios da linha melódica que servem para dinamizar o trecho a ser entoado. Geralmente são notas paralelas que precedem o último tom a ser entoado ou antecedem a última nota. É importante ressaltar o cuidado que devemos ter quando nos utilizamos das curvas de apoio, prestando muita atenção para não sair do contexto musical, ou seja, da melodia, e temos de saber o quanto podemos “florear” determinada música ou trecho, para não ficar cansativo e nem soar desarmônico.

DRIVE (Ataque)

De acordo com a força empregada no diafragma, pregas vocais e garganta, podemos obter vários tipos de ataque (“pegada de garganta” = palavra "arranhada", “ataque de glote” = mais forte e intenso que a pegada de garganta, sendo muito utilizado no Rock “Gutural”) que servem para enfatizar alguns sentimentos, como raiva, autoridade, alegria, etc., ressaltando sempre uma palavra na música (ou as palavras às quais você empregar essa técnica).Essa técnica não deve ser executada muitas vezes seguidas, pois pode causar sérios problemas, como rouquidão, cansaço, laringite traumática, etc.; portanto, saiba utilizar a técnica para que você não prejudique a sua saúde vocal.Ressaltando que é conhecido como a "técnica da voz rouca" que não tem nada haver com um problema sério de "rouquidão natural da voz" (embora, como citado acima, se aplicada de forma errônea e/ou intensiva, pode gerar esse e outros problemas vocais).

TRINADO

É a execução rápida de várias notas de apoio em um trecho musical e precedem a última nota a ser entoada, dando um aspecto de gorjeio na música. São "escalinhas" de três notas, que podem ser “imendadas”. Para realizarmos corretamente essa técnica, necessitamos ter um domínio em curvas de apoio. Salientando novamente a atenção quando formos empregar essa técnica para não sairmos do contexto harmônico.

FADE OUT

Emissão sonora que no decorrer do trecho vai diminuindo gradativamente o volume (intensidade).É diferente da técnica lírica do Pianíssimo (especialidade da Soprano Montserrat Cabelle, aquele que cantou a música Barcelona com o Freddy Mercury) que consiste em executar de imediato qualquer nota na mais fraca intensidade possível.

CRESCENTE (ou CRESCENDO)

Emissão sonora que no decorrer do trecho vai intensificando o volume (intensidade) gradativamente.

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PORTAMENTO

É a ligação de um som a outro, explorando rapidamente os graus diatônicos e cromáticos intermediários; ou seja, é uma rapidíssima escala ascendente ou descendente.

PONTE

É a ligação imediata entre uma e outra nota distantes (ex.: fazer um C4 e logo em seguida um A4 sem fazer nenhuma escala). Pode ser feito uma Ponte Oitavada (ex.: fazer um F4 e direto ir para um F5 sem fazer nenhuma escala intermediária).

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