107
Cálculo II Licenciatura em Bioquímica António J. G. Bento [email protected] Departamento de Matemática Universidade da Beira Interior 2015/2016 António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 1 / 427 Bibliografia – Apostol, T.M., Cálculo, Vol. 1 e 2, Reverté, 1993 – Dias Agudo, F.R., Análise Real, Vol. I e II, Escolar Editora, 1989 – Demidovitch, B., Problemas e exercícios de Análise Matemática, McGrawHill, 1977 – Lima, E. L., Curso de Análise, Vol. 2, Projecto Euclides, IMPA, 1989 – Lima, E. L., Análise Real, Vol. 2, Colecção Matemática Universitária, IMPA, 2004 – Mann, W. R., Taylor, A. E., Advanced Calculus, John Wiley and Sons, 1983 – Sarrico, C., Cálculo Diferencial e Integral, Esfera do Caos, 2009 – Stewart, J., Calculus (International Metric Edition), Brooks/Cole Publishing Company, 2008 – Swokowski, E. W., Cálculo com Geometria Analítica, Vol. 2, McGrawHill, 1983 António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de Avaliação A avaliação ao longo das actividades lectivas será periódica, sendo efectuados dois testes. Os testes serão nos dias 19 de Abril de 2016 e 20 de Maio de 2016. Os dois testes serão cotados, cada um deles, para 10 valores. Designando por T 1 a nota do primeiro teste e por T 2 a nota do segundo teste, a classificação final será calculada da seguinte forma: se T 1 + T 2 for inferior a 17,5 valores, a classificação final será o arredondamento às unidades de T 1 + T 2 ; – se T 1 + T 2 for superior ou igual a 17,5 valores, terá de ser feita uma prova oral; nessa prova oral será atribuída uma nota, que designaremos por PO, entre 0 e 20 valores; a classificação final será o arredondamento às unidades de max 17, T 1 + T 2 + PO 2 . São aprovados os alunos com classificação final igual ou superior a 10 valores. Todos os alunos são admitidos a exame. Os alunos que no exame tiverem uma nota superior ou igual a 17,5 valores terão de realizar uma prova oral. Na prova oral será atribuída uma nota PO, entre 0 e 20 valores. Designando por EX a nota do exame, a nota final será o arredondamento às unidades de max 17, EX + PO 2 . António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 3 / 427 Atendimento O horário de atendimento será às segundas-feiras, das 17 horas às 19 horas, no gabinete 4.25 do Departamento de Matemática. Caso este horário não seja conveniente, pode ser combinado outro horário com o docente da cadeira através dos email [email protected] António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 4 / 427

A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

  • Upload
    others

  • View
    4

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Cálculo IILicenciatura em Bioquímica

António J. G. [email protected]

Departamento de MatemáticaUniversidade da Beira Interior

2015/2016

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 1 / 427

Bibliografia

– Apostol, T.M., Cálculo, Vol. 1 e 2, Reverté, 1993

– Dias Agudo, F.R., Análise Real, Vol. I e II, Escolar Editora, 1989

– Demidovitch, B., Problemas e exercícios de Análise Matemática, McGrawHill,1977

– Lima, E. L., Curso de Análise, Vol. 2, Projecto Euclides, IMPA, 1989

– Lima, E. L., Análise Real, Vol. 2, Colecção Matemática Universitária, IMPA, 2004

– Mann, W. R., Taylor, A. E., Advanced Calculus, John Wiley and Sons, 1983

– Sarrico, C., Cálculo Diferencial e Integral, Esfera do Caos, 2009

– Stewart, J., Calculus (International Metric Edition), Brooks/Cole PublishingCompany, 2008

– Swokowski, E. W., Cálculo com Geometria Analítica, Vol. 2, McGrawHill, 1983

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427

Critérios de Avaliação

• A avaliação ao longo das actividades lectivas será periódica, sendo efectuados doistestes.

• Os testes serão nos dias 19 de Abril de 2016 e 20 de Maio de 2016.• Os dois testes serão cotados, cada um deles, para 10 valores.• Designando por T1 a nota do primeiro teste e por T2 a nota do segundo teste, a

classificação final será calculada da seguinte forma:

− se T1 + T2 for inferior a 17,5 valores, a classificação final será oarredondamento às unidades de T1 + T2;

– se T1 + T2 for superior ou igual a 17,5 valores, terá de ser feita uma prova oral;nessa prova oral será atribuída uma nota, que designaremos por PO, entre 0 e20 valores; a classificação final será o arredondamento às unidades de

max{

17,T1 + T2 + PO

2

}

.

• São aprovados os alunos com classificação final igual ou superior a 10 valores.• Todos os alunos são admitidos a exame.• Os alunos que no exame tiverem uma nota superior ou igual a 17,5 valores terão

de realizar uma prova oral. Na prova oral será atribuída uma nota PO, entre 0 e20 valores. Designando por EX a nota do exame, a nota final será oarredondamento às unidades de

max{

17,EX + PO

2

}

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 3 / 427

Atendimento

O horário de atendimento será às segundas-feiras, das 17 horas às 19 horas, nogabinete 4.25 do Departamento de Matemática.

Caso este horário não seja conveniente, pode ser combinado outro horário como docente da cadeira através dos email

[email protected]

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 4 / 427

Page 2: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 5 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordináriasDefinição, exemplos e aplicaçõesCampo de direcções e método de EulerEquações de primeira ordem de variáveis separáveisEquações lineares de primeira ordem

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 6 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordináriasDefinição, exemplos e aplicaçõesCampo de direcções e método de EulerEquações de primeira ordem de variáveis separáveisEquações lineares de primeira ordem

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 7 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 1 – Reacção química de ordem zero

Uma reacção química do tipo

A → Produtosdiz-se de ordem zero se

a velocidade a que diminui a concentração do reagente A é

constante.

Assim, se CA(t) for a concentração do reagente A no instante t temos

C ′A(t) = −k

para algum k > 0. Esta última equação é uma equação diferencialordinária (EDO). Obviamente temos

CA(t) = −kt+ c ,

pelo que se CA0 for a concentração no instante t = 0, ou seja,CA(0) = CA0 resulta que c = CA0 e, portanto,

CA(t) = CA0 − kt.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 8 / 427

Page 3: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 1 – Reacção química de ordem zero (continuação)

Os gráficos das soluções são da seguinte forma.

t

CA

Uma vez que neste problema a concentração e o tempo não tomam valoresnegativos, temos a azul as soluções que tem significado físico para o problemaposto. No entanto, em termos matemáticos, podemos pensar na EDO semessas restrições, o que permite prolongar as soluções obtidas para t < 0 e paravalores de C0 negativos, que na figura estão representados a vermelho.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 9 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 2 – Reacção química de ordem um

Uma reacção química do tipo

A → Produtos

diz-se de ordem um sea velocidade a que diminui a concentração do reagente A é

directamente proporcional à concentração de A.

Assim, temosC ′A(t) = −kCA(t) ,

onde CA(t) é a concentração do reagente A no instante t e k é umaconstante positiva. Esta última equação é também um exemplo de umaequação diferencial ordinária (EDO).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 10 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 2 – Reacção química de ordem um (continuação)

Vejamos como resolver a equação (tendo em conta que tendo ematenção que CA(t) > 0):

C ′A(t) = −kCA(t) ⇔ C ′

A(t)CA(t)

= −k

⇔∫C ′A(t)

CA(t)dt = −

k dt

⇔ ln |CA(t)| = −kt+ c

⇔ |CA(t)| = e−kt+c

⇔ CA(t) = e−kt+c

⇔ CA(t) = ec e−kt,

pelo que se CA0 for a concentração do reagente A no instante inicialt = 0, temos

CA(t) = CA0 e−kt .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 11 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 2 – Reacção química de ordem um (continuação)

O gráfico das soluções desta EDO são da seguinte forma:

t

CA

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 12 / 427

Page 4: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 3 – Reacção química de ordem dois

Uma reacção química do tipo

A → Produtos

diz-se de ordem dois sea velocidade a que diminui a concentração do reagente A é

directamente proporcional ao quadrado da concentração de A.

Assim, temosC ′A(t) = −k (CA(t))2 ,

onde CA(t) é a concentração do reagente A no instante t e k é umaconstante positiva. Esta última equação é também um exemplo de umaequação diferencial ordinária (EDO).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 13 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 3 – Reacção química de ordem dois (continuação)

Assim, tendo em atenção que CA(t) > 0, resulta que

C′A(t) = −kC2

A(t) ⇔ C′A(t)

C2A(t)

= −k

⇔∫C′

A(t)C2

A(t)dt = −

k dt

⇔ − 1CA(t)

= −kt+ c

⇔ 1CA(t)

= kt− c

⇔ CA(t) =1

kt− c,

pelo que se CA0 for a concentração inicial do reagente A temos de terc = −1/CA0 e, por conseguinte, tem-se

CA(t) =1

kt+ 1/CA0

=CA0

kCA0t+ 1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 14 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 3 – Reacção química de ordem dois (continuação)

O gráfico das soluções desta EDO são da seguinte forma:

t

CA

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 15 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 4 – Crescimento populacional exponencial

O modelo de crescimento populacional mais simples baseia-se em que

“a taxa de variação do número de indivíduos de uma

população é proporcional ao número de indivíduos da mesma”

o que nos leva à equação diferencial ordinária

P ′(t) = kP (t)

onde P (t) é o número de indivíduos da população no instante t e k é aconstante de proporcionalidade (que depende das taxas de natalidade ede mortalidade).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 16 / 427

Page 5: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 4 – Crescimento populacional exponencial (continuação)

Assim,

P ′(t) = kP (t) ⇔ P ′(t)P (t)

= k

⇔∫P ′(t)P (t)

dt =∫

k dt

⇔ ln |P (t)| = kt+ c

⇔ |P (t)| = ekt+c

⇔ P (t) = ec ekt

pelo que se a população inicial for P0, ou seja, P (0) = P0 resulta

P (t) = P0 ekt .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 17 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 4 – Crescimento populacional exponencial (continuação)

P ′(t) = kP (t), k > 0

t

P

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 18 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 4 – Crescimento populacional exponencial (continuação)

P ′(t) = kP (t), k < 0

t

P

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 19 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 4 – Crescimento populacional exponencial (continuação)

P ′(t) = kP (t), k = 0

t

P

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 20 / 427

Page 6: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 5 – Crescimento populacional logístico

O modelo anterior não tem em linha de conta que o meio ambiente temrecursos limitados, o que faz com que a população só possa aumentaraté um certo valor L. Um modelo que incorpora esta questão foiproposto por Verhulst em 1838:

P ′(t) = kP (t)(

1 − P (t)L

)

que também pode ser escrito da seguinte forma

P ′(t) =k

LP (t) (L− P (t)) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 21 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 5 – Crescimento populacional logístico (continuação)

Então

P ′(t) =k

LP (t) (L− P (t)) ⇔ P ′(t)

P (t) (L− P (t))=k

L

⇔∫

P ′(t)P (t) (L− P (t))

dt =∫k

Ldt

⇔∫

P ′(t)P (t) (L− P (t))

dt =k

Lt+ c.

Para calcularmos ∫P ′(t)

P (t) (L− P (t))dt

fazemos a mudança de variável x = P (t), donde dx = P ′(t) dt, eportanto

∫P ′(t)

P (t) (L− P (t))dt =

∫1

x(L− x)dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 22 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 5 – Crescimento populacional logístico (continuação)

Deste modo, temos de calcular A e B tais que

1x(L− x)

=A

x+

B

L− x,

ou seja, temos de terA(L− x) +Bx = 1.

Fazendo x = 0 vem A = 1/L e fazendo x = L vem B = 1/L. Logo

∫P ′(t)

P (t) (L− P (t))dt =

∫1

x(L− x)dx =

∫1/Lx

+1/LL− x

dx

=1L

∫1x

− −1L− x

dx =1L

(ln |x| − ln |L− x|) + C

=1L

ln∣∣∣∣

x

L− x

∣∣∣∣+ C =

1L

ln∣∣∣∣

P (t)L− P (t)

∣∣∣∣+ C.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 23 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 5 – Crescimento populacional logístico (continuação)

Portanto∫

P ′(t)P (t) (L− P (t))

dt =k

Lt+ c ⇔ 1

Lln∣∣∣∣

P (t)L− P (t)

∣∣∣∣ =

k

Lt+ c

⇔∣∣∣∣

P (t)L− P (t)

∣∣∣∣ = ekt+cL

⇔ P (t)L− P (t)

= ecL ekt

⇔ P (t) = ecL ekt (L− P (t))

⇔ P (t)(

1 + ecL ekt)

= L ecL ekt

⇔ P (t) =L ecL ekt

ecL ekt +1

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 24 / 427

Page 7: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 5 – Crescimento populacional logístico (continuação)

Se P (0) = P0, fazendo t = 0 em

P (t) =L ecL ekt

ecL ekt +1,

temos

P0 =L ecL

ecL +1⇔ P0 ecL +P0 = L ecL

⇔ (L− P0) ecL = P0

⇔ ecL =P0

L− P0,

o que implica

P (t) =L

P0

L− P0ekt

P0

L− P0ekt +1

=LP0 ekt

P0 ekt +L− P0=

LP0

P0 + (L− P0) e−kt .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 25 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 5 – Crescimento populacional logístico (continuação)

Neste exemplo temos os seguintes gráficos.

t

P

L

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 26 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 6 – Oscilador harmónico simples

Consideremos uma mola de comprimento ℓ (em equilíbrio), fixa de umdos lados e com uma massa m na outra extremidade.

bm

Suponhamos que a mola é alongada y0 unidades e depois é largada.

bm

ℓ y0

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 27 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplo 6 – Oscilador harmónico simples (continuação)

Segundo a lei de Hooke a tensão na mola é proporcional aodeslocamento, ou seja, existe k > 0 (a constante de elasticidade damola) tal que

T = −ky.Supondo que não há mais nenhuma força a actuar (gravidade, atrito,resistência do ar), aplicando a segunda lei de Newton temos

T = my′′,

donde resulta a EDO que se segue

my′′ = −ky ⇔ y′′ = − k

my.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 28 / 427

Page 8: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Uma equação diferencial ordinária de ordem n é uma igualdadeque envolve uma função, a sua variável e as suas derivadas até à ordemn. É portanto uma equação do tipo

F(

x, y, y′, y′′, . . . , y(n))

= 0,

onde y é função da variável x e y′, y′′, . . . , y(n) são as derivadas de yaté à ordem n. Aqui F é uma função definida em algum subconjuntode Rn+2 e com valores em R.

Iremos usar a sigla EDO para abreviar “equação diferencial ordinária”.

Uma EDO de ordem n diz-se na forma normal se puder ser escrita daseguinte forma

y(n) = f(

x, y, y′, y′′, . . . , y(n−1))

.

Aqui f é uma função definida em algum subconjunto de Rn+1 e comvalores em R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 29 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplos

a) As equações

C′A(t) = −k, C′

A(t) = −kCA(t) e C′A(t) = −k (CA(t))2

,

que podem ser escritas de forma mais abreviada como

C′A = −k, C′

A = −kCA e C′A = −kC2

A,

são EDOs de ordem 1.

b) São também exemplo de EDOs de ordem 1

P ′(t) = kP (t) e P ′(t) = kP (t)(

1 − P (t)L

)

,

a quais podem ser escritas de forma abreviada por

P ′ = kP e P ′ = kP

(

1 − P

L

)

c) A equação

y′′ = − k

my

é uma EDO de ordem 2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 30 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Dada uma EDOF(

x, y, y′, y′′, . . . , y(n))

= 0 ,

dizemos que uma funçãoϕ : I → R ,

definida num intervalo de R, é solução da EDO em I, se ϕ fordiferenciável até à ordem n e

F(

x, ϕ(x), ϕ′(x), ϕ′′(x), . . . , ϕ(n)(x))

= 0

para qualquer x ∈ I.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 31 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Soluções de EDOs

a) Consideremos a EDOy′ = y.

É fácil verificar que as funções

y(x) = c ex

com c ∈ R, são soluções desta equação. De facto

y′(x) = (c ex)′ = c ex = y(x).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 32 / 427

Page 9: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Soluções de EDOs (continuação)

b) As funções da forma

y(x) = c1 cos x+ c2 senx,

com c1, c2 ∈ R, são soluções da EDO

y′′ + y = 0,

pois

y′′(x) = −c1 cos x− c2 sen x = − (c1 cos x+ c2 sen x) = −y(x),

ou seja,y′′(x) + y(x) = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 33 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Soluções de EDOs (continuação)

c) As funçõesy(x) = c ex −x− 1,

com c ∈ R, são soluções da EDO

y′ = x+ y,

poisy′(x) = c ex −1

e substituindo na EDO

y′ = x+ y ⇔ c ex −1 = x+ c ex −x− 1

⇔ c ex −1 = c ex −1

obtemos uma igualdade para todo x ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 34 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Por vezes, as EDOsF(

x, y, y′, y′′, . . . , y(n))

= 0 ,

são sujeita a condições iniciais. Normalmente, as condições iniciais exigemque a solução e, eventualmente, algumas das suas derivadas têm de ter umdeterminado valor em algum ponto pertencente ao domínio da solução.A forma de escrevermos uma EDO com condições iniciais é a seguinte

F(x, y, y′, y′′, . . . , y(n)

)= 0,

y(x0) = y0,

y′(x0) = y1,

. . .

y(n−1)(x0) = yn−1,

e, neste caso, procuramos soluções da EDO tais que x0 pertença ao domínio everifique

y(x0) = y0, y′(x0) = y1, . . . , y

(n−1)(x0) = yn−1,

onde x0, y0, . . . , yn−1 ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 35 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Neste curso iremos essencialmente considerar EDOs na forma normal,de primeira ordem e, eventualmente, com apenas uma condição inicial.

Assim, uma funçãoϕ : I → R,

onde I é um intervalo não vazio de R, é solução do problema

{

y′ = F (x, y),

y(x0) = y0,

se ϕ for diferenciável,ϕ′(x) = F (x, ϕ(x))

para todo o x ∈ I, x0 ∈ I e

ϕ(x0) = y0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 36 / 427

Page 10: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplos – EDOs com condições iniciais

a) A funçãoy(x) = 2 ex

é solução do problema{

y′ = y,

y(0) = 2,

porquey′(x) = (2 ex)′ = 2 (ex)′ = 2 ex = y(x)

ey(0) = 2 e0 = 2 · 1 = 2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 37 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplos – EDOs com condições iniciais (continuação)

b) O problema{

y′ = x+ y,

y(0) = 1,

admite como solução a função

y(x) = 2 ex −x− 1,

pois

y′(x) = (2 ex −x− 1)′ = 2 ex −1 = x+ 2 ex −x− 1 = x+ y(x)

ey(0) = 2 e0 −0 − 1 = 2 · 1 − 1 = 2 − 1 = 1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 38 / 427

§1.1 Definição, exemplos e aplicações

Exemplos – EDOs com condições iniciais (continuação)

c) A funçãoy(x) = cos x+ sen x

é solução do problema

y′′ = −y,y(0) = 1,

y′(0) = 1

porquey′(x) = (cos x+ sen x)′ = − senx+ cos x,

y′′(x) = (− sen x+ cos x)′ = − cosx− senx

= − (cos x+ sen x) = −y(x)e

y(0) = cos 0 + sen 0 = 1 + 0 = 1,

y′(0) = − sen 0 + cos 0 = −0 + 1 = 1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 39 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordináriasDefinição, exemplos e aplicaçõesCampo de direcções e método de Euler

Campo de direcçõesMétodo de Euler

Equações de primeira ordem de variáveis separáveisEquações lineares de primeira ordem

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 40 / 427

Page 11: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordináriasDefinição, exemplos e aplicaçõesCampo de direcções e método de Euler

Campo de direcçõesMétodo de Euler

Equações de primeira ordem de variáveis separáveisEquações lineares de primeira ordem

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 41 / 427

§1.2.1 Campo de direcções

Consideremos uma EDO de ordem 1 na forma normal

y′ = F (x, y).

Atendendo a que a derivada de uma função é o declive da rectatangente, a função F dá-nos o declive das rectas tangentes das soluções.

Por exemplo se considerarmos a equação

y′ = x+ y,

ou seja, F (x, y) = x+ y, se existir uma solução tal que y(0) = 0, odeclive da recta tangente ao gráfico dessa solução no ponto (0, 0) é 0porque F (0, 0) = 0.

Do mesmo modo, se existir uma solução tal que y(1) = 2, então odeclive da recta tangente ao gráfico dessa solução em (1, 2) é 3 porqueF (1, 2) = 3.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 42 / 427

§1.2.1 Campo de direcções

1

2

3

−1

−2

−3

1 2 3−1−2−3

bb

Continuando a considerar o problema

{

y′ = x+ y,

y′(0) = 1,

podemos desenhar um segmentode recta tangente no ponto (0, 1)ao gráfico da solução que passa noponto (0, 1). Como F (0, 1) = 0 + 1 = 1,o declive desse segmento é 1. Fazendoo mesmo para o ponto (1, 1), porqueF (1, 1) = 2, o declive é 2. No ponto (0, 0) o declive é 0. No ponto (1, 0)o declive é 1. E assim sucessivamente. Fazendo o mesmo para todos ospontos com coordenadas inteiras ou coordenadas com parte decimaligual a 0.5, obtemos um campo de direcções que nos permite esboçar ográfico da solução que verifica y(0) = 1. Aliás podemos esboçar outrassoluções com condições iniciais diferentes.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 43 / 427

§1.2.1 Campo de direcções

y′ = x+ y

1

2

3

4

5

−1

−2

−3

−4

−5

1 2 3 4 5−1−2−3−4−5

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 44 / 427

Page 12: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.2.1 Campo de direcções

y′ = x− y

1

2

3

4

5

−1

−2

−3

−4

−5

1 2 3 4 5−1−2−3−4−5

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 45 / 427

§1.2.1 Campo de direcções

y′ = −y/2

1

2

3

4

5

−1

−2

−3

−4

−5

1 2 3 4 5−1−2−3−4−5

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 46 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordináriasDefinição, exemplos e aplicaçõesCampo de direcções e método de Euler

Campo de direcçõesMétodo de Euler

Equações de primeira ordem de variáveis separáveisEquações lineares de primeira ordem

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 47 / 427

§1.2.2 Método de Euler

x

z

x0

y0 b

z = y(x)

bb

z = y0 + F (x0, y0)(x − x0)

x1

y(x1) b

b

by1

Consideremos o problema{

y′ = F (x, y),

y(x0) = y0.

A equação da recta tangenteao gráfico da solução desteproblema no ponto (x0, y0) é

z = y(x0) + y′(x0) (x− x0)

⇔ z = y0 + F (x0, y0) (x− x0) .

Dado x1 tal que x1 = x0 + h para algum h 6= 0, podemos usar a rectatangente para calcular um valor aproximado de y(x1) e, assim, obtemos

y(x1) ≈ y0 + F (x0, y0) (x1 − x0) = y0 + F (x0, y0)h.

Designando por y1 = y0 + hF (x0, y0), temos o seguinte{

x1 = x0 + h,

y1 = y0 + hF (x0, y0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 48 / 427

Page 13: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.2.2 Método de Euler

x

z

x0

y0 b

z = y(x)

bb

z = y0 + F (x0, y0)(x − x0)

x1

y(x1) b

b

by1

x2

b

z = y1 + F (x1, y1)(x − x1)

by2

by(x2)

Repetindo o processo agora com(x1, y1) em vez de (x0, y0) temos

{

x2 = x1 + h,

y2 = y1 + hF (x1, y1),

e, por conseguinte,y2 é uma aproximação de y(x2).Continuando este processo tem-se

{

xn+1 = xn + h,

yn+1 = yn + hF (xn, yn).

Este método designa-se por método de Euler e h chamamos passodo método.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 49 / 427

§1.2.2 Método de Euler

Consideremos o problema de valor inicial{

y′ = x+ y,

y(0) = 1,

e apliquemos o método de Euler com h = 0, 2.

{xn+1 = xn + h,yn+1 = yn + hF (xn, yn).

n xn yn F (xn, yn) hF (xn, yn) yn + hF (xn, yn)

0 0 1 1 0,2 1,2

1 0,2 1,2 1,4 0,28 1,48

2 0,4 1,48 1,88 0,376 1,856

3 0,6 1,856 2,456 0,4912 2,3472

4 0,8 2,3472 3,1472 0,62944 2,97664

5 1 2,97664 3,97664 0,795328 3,771968

6 1,2 3,771968 4,971968 0,9943936 4,7663616

7 1,4 4,7663616 6,1663616 1,23327232 5,99963392

8 1,6 5,99963392 7,59963392 1,519926784 7,519560704

9 1,8 7,519560704 9,319560704 1,8639121408 9,3834728448

10 2 9,3834728448 11,3834728448 2,276694569 11,6601674138

O método de Euler (com passo 0, 2) deu a aproximação y(2) ≈ 9, 3834728448.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 50 / 427

§1.2.2 Método de Euler

Para o problema{

y′ = x+ y

y(0) = 1

comparemos os valores aproximados de y(2) para diferentes passos.

passo h valor aproximado de y(2)

0,5 7,125

0,2 9,3834728448

0,1 10,4549998987

0,05 11,0799774242

0,01 11,6320357037

0,001 11,7633513071

É de referir que o valor exacto é

y(2) = 2 e2 −3 ≈ 11, 77811219.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 51 / 427

§1.2.2 Método de Euler

O método de Euler também nos permite aproximar o gráfico dasolução. Para isso basta marcarmos os pontos obtidos e uni-los comsegmentos de recta.

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

0 1 2

{

y′ = x+ y

y(0) = 1

bb

b

b

b h = 0, 5

b bb

bb

b

b

b

b

b

b h = 0, 2

b b b b b bb

bb

bb

bb

b

b

b

b

b

b

b

b h = 0, 1

b b b b b b b b b b b b b b b b b b b bbbbbbbbbbbbbbbbb

b

b

b

b

b h = 0, 05

solução

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 52 / 427

Page 14: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordináriasDefinição, exemplos e aplicaçõesCampo de direcções e método de EulerEquações de primeira ordem de variáveis separáveisEquações lineares de primeira ordem

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 53 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Uma EDO de primeira ordem diz-se de variáveis separáveis se puder serescrita na forma

y′ = f(x)g(y),

onde f e g são funções reais de variável real definidas em intervalos. Seg(y) 6= 0, reescrevendo a equação na forma

y′

g(y)= f(x) ⇔ y′(x)

g(y(x))= f(x)

e integrando temos∫

y′(x)g(y(x))

dx =∫

f(x) dx.

Fazendo a mudança de variável y = y(x) e atendendo a que

dy = y′(x) dx,

temos∫

1g(y)

dy =∫

f(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 54 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Como a derivada y′ também se representa pordy

dx, a EDO

y′ = f(x)g(y)

também pode ser escrita na forma

dy

dx= f(x)g(y).

Apesar dedy

dxnão ser uma fracção, se formalmente tratarmos

dy

dxcomo

tal, temosdy

dx= f(x)g(y) ⇔ 1

g(y)dy = f(x) dx

e integrando resulta a fórmula que obtivemos no slide anterior:

∫1

g(y)dy =

f(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 55 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de de primeira ordem de variáveis separáveis

a) Consideremos a equação

y′ =x+ ex

ey.

Esta equação é de variáveis separáveis pois pode ser escrita como

y′ = (x+ ex)︸ ︷︷ ︸

f(x)

1ey︸︷︷︸

g(y)

.

Assim, temos

y′ =x+ ex

ey⇔ ey y′ = x+ ex

⇔ y′(x) ey(x) = x+ ex

⇔∫

y′(x) ey(x) dx =∫

x+ ex dx

⇔ ey(x) =x2

2+ ex +c

⇔ y(x) = ln(x2

2+ ex +c

)

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 56 / 427

Page 15: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de de primeira ordem de variáveis separáveis (continuação)

a) (continuação) Também podíamos ter resolvido esta equação daseguinte forma

dy

dx=x+ ex

ey⇔ ey dy = (x+ ex) dx

⇔∫

ey dy =∫

x+ ex dx

⇔ ey =x2

2+ ex +c

⇔ y = ln

(

x2

2+ ex +c

)

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 57 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de de primeira ordem de variáveis separáveis (continuação)

b) Consideremos a equaçãoy′ = (1 + y) cosx.

Esta equação é de variáveis separáveis e, portanto,

y′(x) = (1 + y(x)) cosx ⇔ y′(x)1 + y(x)

= cosx

⇔∫

y′(x)1 + y(x)

dx =∫

cosxdx

⇔ ln |1 + y(x)| = senx+ c

⇔ |1 + y(x)| = esen x+c

⇔ |1 + y(x)| = ec esen x

⇔ 1 + y(x) = ± ec esen x

⇔ y(x) = −1 ± ec esen x

Na resolução apresentada atrás foi suposto y(x) 6= −1. Como y(x) = −1também solução da equação, as soluções da equação são as funções

y(x) = −1 + k esen x, k ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 58 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de de primeira ordem de variáveis separáveis (continuação)

b) (continuação) A equação também podia ser resolvida da seguinte forma

y′ = (1 + y) cosx ⇔ dy

dx= (1 + y) cosx

⇔ 11 + y

dy = cosxdx

⇔∫

11 + y

dy =∫

cosxdx

⇔ ln |1 + y| = senx+ c

⇔ |1 + y| = esen x+c

⇔ |1 + y| = ec esen x

⇔ 1 + y = ± ec esen x

⇔ y = −1 ± ec esen x

e tendo em conta que y(x) = −1 também é solução, temos

y = −1 + k esen x, k ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 59 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de de primeira ordem de variáveis separáveis (continuação)

c) Consideremos a equação xy′ = y. Supondo y 6= 0 e x 6= 0 temos

xy′ = y ⇔ y′

y=

1x

⇔ y′(x)y(x)

=1x

⇔∫y′(x)y(x)

dx =∫

1xdx

⇔ ln |y(x)| = ln |x| + c

⇔ |y(x)| = eln|x|+c

⇔ |y(x)| = ec |x|⇔ y(x) = ± ec |x|

Como a solução tem de ser diferenciável e atendendo a que a y(x) = 0também é solução, as soluções da equação são todas as funções da forma

y(x) = kx, k ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 60 / 427

Page 16: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Se tivermos um problema com valores iniciais em que a EDO é devariáveis separáveis, ou seja,

{

y′ = f(x)g(y),

y(x0) = y0,

podemos resolver este problema através de

∫ x

x0

y′(s)g(y(s))

ds =∫ x

x0

f(s) ds

ou, equivalentemente,

∫ y

y0

1g(s)

ds =∫ x

x0

f(s) ds.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 61 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de variáveis separáveis com condições iniciais

a) Já vimos anteriormente que a EDO

y′ =x+ ex

ey,

tem como solução as funções da forma

y(x) = ln(x2/2 + ex +c

), c ∈ R.

Assim, a solução do problema de valor inicial

y′ =x+ ex

ey,

y(0) = 1,

tendo em conta que

y(0) = 1 ⇔ ln(02/2 + e0 +c

)= 1 ⇔ ln (1 + c) = 1 ⇔ 1+c = e ⇔ c = e −1,

é a funçãoy(x) = ln

(x2/2 + ex + e −1

).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 62 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de variáveis separáveis com condições iniciais (continuação)

a) (continuação) Podíamos também resolver o problema de valor inicial daseguinte forma

y′(x) =x+ ex

ey(x)⇔ ey(x) y′(x) = x+ ex

⇔∫ x

0

ey(s) y′(s) ds =∫ x

0

s+ es ds

⇔[

ey(s)]x

0=[

s2

2+ es

]x

0

⇔ ey(x) − ey(0) =x2

2+ ex −02

2− e0

⇔ ey(x) − e1 =x2

2+ ex −1

⇔ ey(x) =x2

2+ ex + e −1

⇔ y(x) = ln(x2

2+ ex + e −1

)

.

y′ =x+ ex

ey,

y(0) = 1,

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 63 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de variáveis separáveis com condições iniciais (continuação)

a) (continuação) Também podíamos ter feito

dy

dx=x+ ex

ey⇔ ey dy = (x+ ex) dx

⇔∫ y

1

es ds =∫ x

0

s+ es ds

⇔[

es]y

1=[

s2

2+ es

]x

0

⇔ ey − e1 =x2

2+ ex −02

2− e0

⇔ ey − e =x2

2+ ex −0 − 1

⇔ ey =x2

2+ ex + e −1

⇔ y = ln(x2

2+ ex + e −1

)

.

y′ =x+ ex

ey,

y(0) = 1,

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 64 / 427

Page 17: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de variáveis separáveis com condições iniciais (continuação)

b) Consideremos o problema de valor inicial

{

3y′y2 = cos x

y(0) = 1.

Então

3y′(x)y2(x) = cos x ⇔∫ x

03y′(s)y2(s) ds =

∫ x

0cos s ds

⇔[

y(s)3]x

0=[

sen s]x

0

⇔ y(x)3 − y(0)3 = senx− sen 0

⇔ y(x)3 − 1 = senx

⇔ y(x)3 = 1 + senx

⇔ y(x) = 3√

1 + sen x.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 65 / 427

§1.3 Equações de primeira ordem de variáveis separáveis

Exemplos – EDOs de variáveis separáveis com condições iniciais (continuação)

c) Para o problema de valor inicial{

y′ = y(2x+ 1)y(0) = 1

temos

y′(x) = y(x)(2x+ 1) ⇔ y′(x)y(x)

= 2x+ 1

⇔∫ x

0

y′(s)y(s)

ds =∫ x

0

2s+ 1 ds

⇔[

ln(y(s))]x

0=[s2 + s

]x

0

⇔ ln(y(x)) − ln(y(0)) = x2 + x− (02 + 0)

⇔ ln(y(x)) − ln 1 = x2 + x

⇔ ln(y(x)) = x2 + x

⇔ y(x) = ex2+x .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 66 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordináriasDefinição, exemplos e aplicaçõesCampo de direcções e método de EulerEquações de primeira ordem de variáveis separáveisEquações lineares de primeira ordem

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 67 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Uma EDO linear de primeira ordem é uma equação da forma

y′ + p(x)y = q(x)

onde p e q são funções reais de variável real definidas em algumintervalo não vazio de R.

Por exemplo,y′ + xy = ex

é uma EDO linear de primeira ordem com

p(x) = x e q(x) = ex .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 68 / 427

Page 18: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Dada uma EDO linear de primeira ordem

y′ + p(x)y = q(x)

começamos por resolver a equação homogénea associada, que é a equação

y′ + p(x)y = 0.

Esta última EDO é de variáveis separáveis e, portanto,

y′+ p(x)y = 0 ⇔ y′

y= −p(x) ⇔ y′(x)

y(x)= −p(x)

⇔∫y′(x)y(x)

dx = −∫

p(x) dx + c ⇔ ln |y(x)| = −∫

p(x) dx + c

⇔ |y(x)| = e−

p(x) dx + c⇔ y(x) = ± ec e

p(x) dx

e como y(x) = 0 também é solução, as soluções da equação homogénea são asfunções da forma

y(x) = C e−

p(x) dx, com C ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 69 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Após calcularmos as soluções da equação homogénas, as soluções daequação y′ + p(x)y = q(x) são da forma

y(x) = k(x) e−∫p(x) dx, (∗)

onde k(x) é uma função que temos de descobrir. Derivando temos

y′(x) = k(x)(

e−∫p(x) dx

)′+ k′(x) e−

∫p(x) dx

= k(x)(

−∫

p(x) dx)′

e−∫p(x) dx +k′(x) e−

∫p(x) dx

= k(x) (−p(x)) e−∫p(x) dx +k′(x) e−

∫p(x)dx

= −p(x)y(x) + k′(x) e−∫p(x) dx

e, portanto, temos de ter

k′(x) e−∫p(x) dx = q(x) ⇔ k′(x) = q(x) e

∫p(x) dx

pelo que primitivando esta última igualdade descobrimos k(x).Substituindo k(x) em (∗) obtemos as soluções da equação.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 70 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem

a) Consideremos a equação

y′ = x+ y ⇔ y′ − y = x.

Esta EDO é linear de primeira ordem com p(x) = −1 e q(x) = x.Comecemos por resolver a equação homogénea:

y′ − y = 0 ⇔ y′ = y ⇔ y′

y= 1

⇔ y′(x)y(x)

= 1 ⇔∫y′(x)y(x)

dx =∫

1 dx

⇔ ln |y(x)| = x+ c ⇔ |y(x)| = ex+c

⇔ y(x) = ± ec ex

e atendendo a que y(x) = 0 também é solução da equaçãohomogéna, as soluções de y′ − y = 0 são as funções da forma

y(x) = C ex, com C ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 71 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

a) (continuação) Como

y′ − y = 0 ⇔ y(x) = C ex, com C ∈ R,

as soluções da equação

y′ − y = x

são funções da forma

y(x) = k(x) ex

onde k é uma função que temos de descobrir. Derivando temos

y′(x) = k(x) (ex)′ + k′(x) ex

= k(x) ex +k′(x) ex

= y(x) + k′(x) ex

e, portanto, para a equação ser satisfeita temos de ter

k′(x) ex = x ⇔ k′(x) = e−x x,

pelo que primitivando por partes obtemos k(x).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 72 / 427

Page 19: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

a) (continuação) Portanto, primitivando por partes temos

k(x) =∫

e−x xdx

= − e−x x−∫

− e−x x′ dx

= −x e−x x+∫

e−x · 1 dx

= −x e−x x− e−x +c.Assim, para obtermos as soluções da equação

y′ − y = x

temos de substituir k(x) em

y(x) = k(x) ex

o que dá

y(x) =(−x e−x x− e−x +c

)ex ⇔ y(x) = −x− 1 + c ex

⇔ y(x) = c ex −x− 1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 73 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

b) Consideremos a EDO

y′ − (cos x) y = − cosx.

Vamos começar por resolver a equação homogénea

y′ − (cos x) y = 0 ⇔ y′ = (cosx) y ⇔ y′

y= cos x

⇔ y′(x)y(x)

= cos x ⇔∫y′(x)y(x)

dx =∫

cos x dx

⇔ ln |y(x)| = senx+ c ⇔ |y(x)| = esenx+c

⇔ y(x) = ± ec esenx

e como y(x) = 0 também é solução da equação homogénea, assoluções da equação homogénea são as funções da forma

y(x) = C esen x, com C ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 74 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

b) (continuação) Assim, as soluções da equaçãoy′ − (cosx) y = − cosx

vão ser da formay(x) = k(x) esen x,

onde k é uma função que temos de descobrir. Derivando temos

y′(x) = k(x) (esen x)′ + k′(x) esen x

= k(x) (senx)′ esen x +k′(x) esen x

= k(x) cos x esen x +k′(x) esen x

= (cosx) y(x) + k′(x) esen x

pelo que

k′(x) esen x = − cosx ⇔ k′(x) = − cosx e− sen x ⇔ k(x) = e− sen x +c.

Portanto, as soluções da EDOy′ − (cosx) y = − cosx

são as funções da formay(x) =

(e− sen x +c

)esen x = 1 + c esen x = c esen x +1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 75 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

c) Um tanque contém 100 L de água. Uma solução com uma concentração de

sal de 0, 4 kg/L é adicionada a uma taxa de 5 L/min. A solução é mantida

misturada e é retirada do tanque a uma taxa de 3 L/min. Qual a

concentração ao fim de 20 minutos?

Seja y(t) a quantidade de sal (em quilogramas) ao fim de t minutos. Aderivada y′(t) é igual à diferença entre a taxa a que o sal entra no tanquee a taxa a que o sal sai do tanque e, portanto,

y′(t) = 0, 4 × 5 − y(t)100 + 2t

× 3

⇔ y′(t) = 2 − 3100 + 2t

y(t)

⇔ y′(t) +3

100 + 2ty(t) = 2,

ou seja, obtemos uma EDO linear de primeira ordem.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 76 / 427

Page 20: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

c) (continuação) Resolvendo a equação homogénea temos

y′(t) +3

100 + 2ty(t) = 0 ⇔ y′(t) = − 3

100 + 2ty(t)

⇔ y′(t)y(t)

= − 3100 + 2t

⇔∫y′(t)y(t)

dt = −32

∫2

100 + 2tdt

⇔ ln |y(t)| = −32

ln |100 + 2t| + c

⇔ ln (y(t)) = ln[

(100 + 2t)−3/2]

+ c

⇔ y(t) = ec eln[(100+2t)−3/2]

⇔ y(t) = ec (100 + 2t)−3/2

e como y(t) = 0 também é solução, as soluções da equação homogénea sãoas funções da forma

y(t) = C (100 + 2t)−3/2 , C ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 77 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

c) (continuação) Assim, as soluções de

y′(t) +3

100 + 2ty(t) = 2

são funções da forma

y(t) = k(t) (100 + 2t)−3/2,

para alguma função k que temos de determinar. Derivando temos

y′(t) = k(t)[

(100 + 2t)−3/2]′

+ k′(t) (100 + 2t)−3/2

= k(t)(

−32

)

· 2 · (100 + 2t)−5/2 + k′(t) (100 + 2t)−3/2

= − 3100 + 2t

k(t) (100 + 2t)−3/2 + k′(t) (100 + 2t)−3/2

= − 3100 + 2t

y(t) + k′(t) (100 + 2t)−3/2,

pelo quek′(t) (100 + 2t)−3/2 = 2 ⇔ k′(t) = 2 (100 + 2t)3/2

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 78 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

c) (continuação) Ora sek′(t) = 2 (100 + 2t)3/2

,

então

k(t) =∫

2 (100 + 2t)3/2 dt =(100 + 2t)5/2

5/2+ c =

25

(100 + 2t)5/2 + c

e, portanto,

y(t) = k(t) (100 + 2t)−3/2

=(

25

(100 + 2t)5/2 + c

)

(100 + 2t)−3/2

=25

(100 + 2t) + c (100 + 2t)−3/2 .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 79 / 427

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

c) (continuação) Atendendo que y(0) = 0 resulta

y(0) = 0 ⇔ 25

(100 + 2 · 0) + c (100 + 2 · 0)−3/2 = 0

⇔ 25

· 100 + c100−3/2 = 0

⇔ 40 + c(102)−3/2 = 0

⇔ 10−3c = −40

⇔ c = −40 · 103

⇔ c = −40000,

pelo que a quantidade de sal na água no instante t é dada por

y(t) =25

(100 + 2t) − 40000 (100 + 2t)−3/2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 80 / 427

Page 21: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§1.4 Equações lineares de primeira ordem

Exemplos – EDOs lineares de primeira ordem (continuação)

c) (continuação) Assim, a concentração de sal ao fim de 20 minutos é

y(20)100 + 2 · 20

=

25

(100 + 2 · 20) − 40000 (100 + 2 · 20)−3/2

140

=

25

· 140 − 40000 · 140−3/2

140

=25

− 40000 · 140−5/2

≈ 0, 2275195398 kg/L.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 81 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 82 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

Breves noções de topologia em Rn

Os espaços Rn

Distância, norma e produto internoBolas e conjuntos limitadosInterior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjuntoConjuntos abertos e conjuntos fechados

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 83 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

Breves noções de topologia em Rn

Os espaços Rn

Distância, norma e produto internoBolas e conjuntos limitadosInterior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjuntoConjuntos abertos e conjuntos fechados

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 84 / 427

Page 22: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.1 Os espaços Rn

Recordemos que se identifica o conjunto R dos números reais com arecta

0 a

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 85 / 427

§2.1.1 Os espaços Rn

Os elementos do conjunto

R2 = {(x1, x2) : x1, x2 ∈ R}

podem ser representados no plano da seguinte forma

x1

x2

b P (a, b)

a

b

Representação geométrica de um ponto de R2

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 86 / 427

§2.1.1 Os espaços Rn

Os elementos do conjunto

R3 = {(x1, x2, x3) : x1, x2, x3 ∈ R}

podem ser representados no espaço da seguinte forma

x2

x1

x3

bP (a, b, c)

a

b

c

Representação geométrica de um ponto de R3

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 87 / 427

§2.1.1 Os espaços Rn

Podemos generalizar este género de conjuntos para qualquer númeronatural n. Assim, definimos o conjunto Rn utilizando o produtocartesiano, ou seja,

Rn = R × R × · · · × R︸ ︷︷ ︸

n vezes

é o conjunto formado por todos os elementos da forma

x = (x1, . . . , xn)

onde xi é um número real para i = 1, . . . , n. A cada elemento xichamamos i-ésima coordenada de x.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 88 / 427

Page 23: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.1 Os espaços Rn

Em Rn vamos considerar duas operações, a adição (entre elementos deRn) e a multiplicação de um número real por um elemento de Rn,definidas, para cada

x = (x1, . . . , xn) e y = (y1, . . . , yn)

em Rn e para cada λ ∈ R, da seguinte forma:

x+ y = (x1, . . . , xn) + (y1, . . . , yn) = (x1 + y1, . . . , xn + yn)

eλx = λ (x1, . . . , xn) = (λx1, . . . , λxn) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 89 / 427

§2.1.1 Os espaços Rn

A adição e a multiplicação verificam, para cada

x = (x1, . . . , xn) , y = (y1, . . . , yn) e z = (z1, . . . , zn)

em Rn e para cada λ, µ em R, as seguintes propriedades:

a) x+ y = y + x;

b) x+ (y + z) = (x+ y) + z;

c) (0, . . . , 0) ∈ Rn é o elemento neutro da adição;

d) −x = (−x1, . . . ,−xn) é o simétrico de x = (x1, . . . , xn), já quex+ (−x) = (0, . . . , 0);

e) λ (µx) = (λµ)x;

f) λ (x+ y) = λx+ λy;

g) (λ+ µ) x = λx+ µx;

h) 1x = x.

Por se verificarem estas propriedades, é costume dizer que Rn é umespaço vectorial.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 90 / 427

§2.1.1 Os espaços Rn

Associada a estas operações está uma outra operação, a subtracção,que é definida, para cada

x = (x1, . . . , xn) e y = (y1, . . . , yn)

em Rn, por

x− y = (x1, . . . , xn) − (y1, . . . , yn) = (x1 − y1, . . . , xn − yn).

Sempre que não haja perigo de confusão, representaremos um elementogenérico de R2 por (x, y) em vez de (x1, x2). Da mesma forma, umelemento genérico de R3 será por vezes representado por (x, y, z) emvez de (x1, x2, x3).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 91 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

Breves noções de topologia em Rn

Os espaços Rn

Distância, norma e produto internoBolas e conjuntos limitadosInterior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjuntoConjuntos abertos e conjuntos fechados

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 92 / 427

Page 24: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Em R, observando a figura que se segue

x y

|x− y|

Distância entre dois números reais x e y

verificamos que a distância entre dois números reais x e y é dada por

d(x, y) = |x− y| .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 93 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Vejamos como calcular a distância entre dois elementos de R2. Paraisso consideremos dois pontos x = (x1, x2) e y = (y1, y2) e façamos asua representação geométrica.

x1

x2 b

y1

y2 bb

b

d(x,y)

b

b

x1 − y1

b

b

b

b

x2 − y2

b

b

Distância entre dois pontos de R2

Pelo teorema de Pitágoras concluímos que a distância entre x e y édada por

d(x, y) =√

(x1 − y1)2 + (x2 − y2)2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 94 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Do mesmo modo, a distância entre dois pontos x = (x1, x2, x3) ey = (y1, y2, y3) é dada por

d(x, y) =√

(x1 − y1)2 + (x2 − y2)2 + (x3 − y3)2.

b x = (x1, x2, x3)

by = (y1, y2, y3)

b

b

b

b

b

b

Distância entre dois pontos de R3

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 95 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

De um modo geral, dados x = (x1, . . . , xn) e y = (y1, . . . , yn) em Rn, adistância entre x e y calcula-se usando a seguinte fórmula:

d(x, y) =√

(x1 − y1)2 + (x2 − y2)2 + · · · + (xn − yn)2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 96 / 427

Page 25: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Associado à definição de distância temos o conceito de norma. Dadox = (x1, . . . , xn) ∈ Rn, a norma de x é dada por

‖x‖ =√

x21 + x2

2 + · · · + x2n.

Repare-se que se representarmos por 0 o vector nulo (0, . . . , 0) temos

‖x‖ = ‖x− 0‖ = d(x, 0)

pelo que a norma de x = (x1, . . . , xn) é apenas o comprimento do vector x, talcomo ilustra a figura seguinte no caso particular de R2:

x1

x2x = (x1, x2)

Além disso, dados x = (x1, . . . , xn) e y = (y1, . . . , yn) em Rn, temos

d(x, y) = ‖x− y‖.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 97 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Para quaisquer x, y ∈ Rn e para qualquer λ ∈ R, as seguintespropriedades são verdadeiras:

a) ‖x‖ > 0

b) ‖x‖ = 0 se e só se x = 0;

c) ‖λx‖ = |λ| ‖x‖;

d) ‖x+ y‖ 6 ‖x‖ + ‖y‖. (desigualdade triangular)

As três primeiras propriedades apresentadas anteriormente são fáceisde verificar. Já a última propriedade é mais difícil de provar.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 98 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Outro conceito importante nos espaços Rn é o de produto interno.Dados

x = (x1, . . . , xn) , y = (y1, . . . , yn) ∈ Rn,

define-se o produto interno da seguinte forma:

〈x, y〉 =n∑

i=1

xiyi

= x1y1 + x2y2 + · · · + xnyn.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 99 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Propriedades do produto interno

Para quaisquer x, y, z ∈ Rn e para qualquer λ ∈ R tem-se

a) 〈x+ y, z〉 = 〈x, z〉 + 〈y, z〉;b) 〈x, y + z〉 = 〈x, y〉 + 〈x, z〉;c) 〈λx, y〉 = λ 〈x, y〉;d) 〈x, λy〉 = λ 〈x, y〉;e) 〈x, y〉 = 〈y, x〉;f) 〈x, x〉 > 0;

g) 〈x, x〉 = 0 se e só se x = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 100 / 427

Page 26: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Para cada x = (x1, . . . , xn) ∈ Rn temos√

〈x, x〉 =√x1x1 + x2x2 + · · · + xnxn

=√

x21 + x2

2 + · · · + x2n

= ‖x‖ ,

ou seja, a norma pode ser definida à custa do produto interno.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 101 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

É de referir que para quaisquer x, y ∈ Rn se tem

|〈x, y〉| 6√

〈x, x〉√

〈y, y〉

ou seja,∣∣∣∣∣

n∑

i=1

xiyi

∣∣∣∣∣6

√√√√

n∑

i=1

x2i .

√√√√

n∑

i=1

y2i ,

ou ainda,|〈x, y〉| 6 ‖x‖ ‖y‖ .

Esta desigualdade designa-se por desigualdade de Cauchy-Schwarz.

Além disso, a igualdade só se verifica quando x e y são linearmentedependentes, ou seja, se

x = λy

para algum λ ∈ R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 102 / 427

§2.1.2 Distância, norma e produto interno

Em R2 ou em R3 tem-se

〈x, y〉 = ‖x‖ ‖y‖ cos θ,

onde θ é o ângulo formado pelos vectores não nulos x e y.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 103 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

Breves noções de topologia em Rn

Os espaços Rn

Distância, norma e produto internoBolas e conjuntos limitadosInterior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjuntoConjuntos abertos e conjuntos fechados

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 104 / 427

Page 27: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.3 Bolas e conjuntos limitados

Seja a = (a1, . . . , an) um ponto de Rn. Chama-se bola aberta decentro a e raio r > 0 ao conjunto

Br(a) = {x ∈ Rn : d(x, a) < r}= {x ∈ Rn : ‖x− a‖ < r}

={

x ∈ Rn :√

(x1 − a1)2 + (x2 − a2)2 + · · · + (xn − an)2 < r

}

={

x ∈ Rn : (x1 − a1)2 + (x2 − a2)2 + · · · + (xn − an)2 < r2}

e bola fechada de centro a e raio r > 0 ao conjunto

Br[a] = {x ∈ Rn : d(x, a) 6 r}= {x ∈ Rn : ‖x− a‖ 6 r}

={

x ∈ Rn :√

(x1 − a1)2 + (x2 − a2)2 + · · · + (xn − an)2 6 r

}

={

x ∈ Rn : (x1 − a1)2 + (x2 − a2)2 + · · · + (xn − an)26 r2

}

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 105 / 427

§2.1.3 Bolas e conjuntos limitados

O conjunto

Sr(a) = {x ∈ Rn : d(x, a) = r}= {x ∈ Rn : ‖x− a‖ = r}

={

x ∈ Rn :√

(x1 − a1)2 + (x2 − a2)2 + · · · + (xn − an)2 = r

}

={

x ∈ Rn : (x1 − a1)2 + (x2 − a2)2 + · · · + (xn − an)2 = r2}

designa-se por esfera de centro a e raio r > 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 106 / 427

§2.1.3 Bolas e conjuntos limitados

Em R a distância entre dois elementos é dada pelo módulo da diferençae, por conseguinte, as bolas são intervalos e as esferas conjuntos comdois pontos:

aa− r a+ r aa− r a+ r aa− r a+ r

Bola aberta, bola fechada e esfera de centro a ∈ R e raio r

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 107 / 427

§2.1.3 Bolas e conjuntos limitados

A figura seguinte ilustra, em R2, os três conjuntos definidosanteriormente:

b

a1

a2 b

rb

rb

a1

a2

rbb

rb

a1

a2

rb

Bola aberta, bola fechada e esfera de centro (a1, a2) e raio r

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 108 / 427

Page 28: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.3 Bolas e conjuntos limitados

Em R3 a bola de centro a = (a1, a2, a3) e raio r pode ser representadapor

ba rba rb

Representação geométrica em R3 da bola de centro a = (a1, a2, a3) e raio r

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 109 / 427

§2.1.3 Bolas e conjuntos limitados

Um subconjunto A de Rn diz-se limitado se estiver contido emalguma bola centrada na origem, isto é,

A ⊆ Br[0] para algum r > 0,

ou seja, se existir r > 0 tal que

‖x‖ 6 r para cada x ∈ A.

Os subconjuntos de Rn que não são limitados dizem-se ilimitados

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 110 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

Breves noções de topologia em Rn

Os espaços Rn

Distância, norma e produto internoBolas e conjuntos limitadosInterior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjuntoConjuntos abertos e conjuntos fechados

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 111 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Seja A um subconjunto não vazio de Rn. Um ponto a ∈ Rn diz-seinterior a A

se existir ε > 0 tal que Bε(a) ⊆ A.

O ponto a diz-se exterior a A

se existir ε > 0 tal que Bε(a) ⊆ Rn \ A.

Um ponto a ∈ Rn diz-se fronteiro a A

se para cada ε > 0, Bε(a) ∩A 6= ∅ e Bε(a) ∩ (Rn \ A) 6= ∅.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 112 / 427

Page 29: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

A figura que se segue ilustra estes três conceitos.

aa

bb

cc

Pontos interiores, pontos exteriores e pontos fronteiros

O ponto a é um ponto interior ao conjunto, o ponto b é um pontoexterior ao conjunto e o ponto c é um ponto fronteiro ao conjunto.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 113 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

O conjunto dos pontos interiores a A designa-se por interior de A erepresenta-se por intA ou A◦.

O conjunto dos pontos exteriores a A chama-se exterior de A erepresenta-se por extA.

O conjunto dos pontos fronteiros de A diz-se a fronteira de A erepresenta-se por frA.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 114 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Observações

a) Da definição resulta imediatamente que intA, extA e frA sãoconjuntos disjuntos dois a dois e que

Rn = intA ∪ extA ∪ frA.

b) Outra consequência imediata da definição é a seguinte

intA = ext (Rn \ A) e frA = fr (Rn \ A) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 115 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Exemplos

a) Consideremos os conjuntos

A ={

(x, y) ∈ R2 : 1 < x < 2 ∧ 1 < y < 2}

B ={

(x, y) ∈ R2 : 3 6 x 6 4 ∧ 1 6 y 6 2}

C ={

(x, y) ∈ R2 : 5 6 x 6 6 ∧ 1 < y < 2}

Estes conjuntos estão representados na figura seguinte

1

2

1 2 3 4 5 6x

y

A B C

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 116 / 427

Page 30: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Exemplos

a) (continuação) Então o interior destes três conjuntos é dado por

intA ={

(x, y) ∈ R2 : 1 < x < 2 ∧ 1 < y < 2}

intB ={

(x, y) ∈ R2 : 3 < x < 4 ∧ 1 < y < 2}

intC ={

(x, y) ∈ R2 : 5 < x < 6 ∧ 1 < y < 2},

o exterior é dado por

extA ={

(x, y) ∈ R2 : x < 1 ∨ x > 2 ∨ y < 1 ∨ y > 2}

extB ={

(x, y) ∈ R2 : x < 3 ∨ x > 4 ∨ y < 1 ∨ y > 2}

extC ={

(x, y) ∈ R2 : x < 5 ∨ x > 6 ∨ y < 1 ∨ y > 2},

e a fronteira é dada por

frA ={

(x, y) ∈ R2 : ((y = 1 ∨ y = 2) ∧ 1 6 x 6 2) ∨ ((x = 1 ∨ x = 2) ∧ 1 6 y 6 2)}

frB ={

(x, y) ∈ R2 : ((y = 1 ∨ y = 2) ∧ 3 6 x 6 4) ∨ ((x = 3 ∨ x = 4) ∧ 1 6 y 6 2)}

frC ={

(x, y) ∈ R2 : ((y = 1 ∨ y = 2) ∧ 5 6 x 6 6) ∨ ((x = 5 ∨ x = 6) ∧ 1 6 y 6 2)}.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 117 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Exemplos

b) Dada a bola aberta Br(a) de centro a e raio r > 0 tem-se

int (Br(a)) = Br(a)

ext (Br(a)) = Rn \Br[a]

fr (Br(a)) = Sr(a).

O interior, o exterior e a fronteira da bola fechada Br[a] de centro ae raio r > 0 coincidem, respectivamente, com o interior, o exterior ea fronteira de Br(a).

c) É óbvio que intRn = Rn, extRn = ∅ e frRn = ∅.

d) Também temos int∅ = ∅, ext∅ = Rn e fr∅ = ∅.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 118 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Um ponto a ∈ Rn diz-se aderente a um subconjunto A ⊆ Rn

se para cada ε > 0, Bε(a) ∩A 6= ∅.

O conjunto dos pontos aderentes de um conjunto A designa-se poraderência ou fecho de A e representa-se por A.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 119 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Exemplos

a) Considerando novamente os conjuntos

A ={

(x, y) ∈ R2 : 1 < x < 2 ∧ 1 < y < 2}

B ={

(x, y) ∈ R2 : 3 6 x 6 4 ∧ 1 6 y 6 2}

C ={

(x, y) ∈ R2 : 5 6 x 6 6 ∧ 1 < y < 2}

temos

A ={

(x, y) ∈ R2 : 1 6 x 6 2 ∧ 1 6 y 6 2}

B ={

(x, y) ∈ R2 : 3 6 x 6 4 ∧ 1 6 y 6 2}

C ={

(x, y) ∈ R2 : 5 6 x 6 6 ∧ 1 6 y 6 2}

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 120 / 427

Page 31: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Exemplos (continuação)

b) Seja Br(a) a bola aberta de centro a e raio r > 0. Então

Br(a) = Br[a].

c) Também se tem Rn = Rn e ∅ = ∅.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 121 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

É evidente que para qualquer subconjunto A de Rn se tem

A = intA ∪ frA

eintA ⊆ A ⊆ A.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 122 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Sejam A um subconjunto de Rn e a ∈ Rn. Diz-se que a é um pontode acumulação de A

se para cada ε > 0, Bε(a) ∩ (A \ {a}) 6= ∅.

O conjunto dos pontos de acumulação de um conjunto A representa-sepor A′ e designa-se por derivado.

Os pontos de A que não são pontos de acumulação de A designam-sepor pontos isolados.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 123 / 427

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Exemplos

a) Seja

A ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 < 1}

∪ {(2, 2) , (−2, 2)} .

O conjunto A tem a seguinte representação geométrica

x

y

2

2

-2 1

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 124 / 427

Page 32: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.1.4 Interior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjunto

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Então se

A ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 < 1}

∪ {(2, 2) , (−2, 2)}tem-se

intA ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 < 1},

extA ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 > 1}

\ {(2, 2) , (−2, 2)} ,frA =

{(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 = 1

}∪ {(2, 2) , (−2, 2)} ,

A ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y26 1}

∪ {(2, 2) , (−2, 2)} ,A′ =

{(x, y) ∈ R2 : x2 + y2

6 1}.

Os pontos (2, 2) e (−2, 2) são pontos isolados de A. Além disso o conjuntoA é limitado porque

A ⊆ B3[0].

b) É óbvio que (Rn)′ = Rn e que (∅)′ = ∅.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 125 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

Breves noções de topologia em Rn

Os espaços Rn

Distância, norma e produto internoBolas e conjuntos limitadosInterior, exterior, fronteira, aderência e derivado de um conjuntoConjuntos abertos e conjuntos fechados

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 126 / 427

§2.1.5 Conjuntos abertos e conjuntos fechados

Um subconjunto A de Rn diz-se aberto se A = intA e diz-se fechadose A = A.

aa

conjunto aberto

bb

conjunto fechado

Conjuntos abertos e conjuntos fechados

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 127 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

Definição e exemplosGráfico, curvas de nível e superfícies de nível

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 128 / 427

Page 33: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

Definição e exemplosGráfico, curvas de nível e superfícies de nível

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 129 / 427

§2.2.1 Definição e exemplos

Seja D um subconjunto não vazio de Rn. Uma função

f : D ⊆ Rn → Rm

associa a cada elemento x = (x1, . . . , xn) de D um e um só elemento deRm que representaremos por f(x). Como f(x) ∈ Rm, tem-se

f(x) = (f1(x), f2(x), . . . , fm(x))

onde

f1 : D ⊆ Rn → R

f2 : D ⊆ Rn → R

...

fm : D ⊆ Rn → R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 130 / 427

§2.2.1 Definição e exemplos

Assim, cada função f : D ⊆ Rn → Rm pode ser definida por m funções

f1 : D ⊆ Rn → R

f2 : D ⊆ Rn → R

...

fm : D ⊆ Rn → R,

funções essas que se designam por funções coordenadas de f . Nestascondições escreve-se

f = (f1, f2, . . . , fm) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 131 / 427

§2.2.1 Definição e exemplos

As funçõesf : D ⊆ Rn → R

designam-se por funções escalares e as funções

f : D ⊆ Rn → Rm, m > 1,

designam-se por funções vectoriais.

O conjunto D no qual está definida a função designa-se por domíniode f e o conjunto de todas as imagens de uma função designa-se porcontradomínio de f , ou seja, o contradomínio de uma função

f : D ⊆ Rn → Rm

é o conjuntof(D) = {f(x) ∈ Rm : x ∈ D} .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 132 / 427

Page 34: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.2.1 Definição e exemplos

Exemplos de funções f : D ⊆ Rn → R

m

a) Seja f a função dada por

f(x, y) = (f1(x, y), f2(x, y), f3(x, y))

= (ln(y − x), sen x, 1) .

O domínio de f é o conjunto

D ={

(x, y) ∈ R2 : y − x > 0}

={

(x, y) ∈ R2 : y > x}

Obviamente, f : D ⊆ R2 → R3 e o seu contradomínio é o conjunto

f(D) ={

(a, b, c) ∈ R3 : − 1 6 b 6 1, c = 1}

.

Esta função é uma função vectorial pois o seu contradomínio é umsubconjunto de R3.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 133 / 427

§2.2.1 Definição e exemplos

Exemplos de funções f : D ⊆ Rn → R

m (continuação)

a) (continuação) Façamos a representação geométrica do domínio

D ={

(x, y) ∈ R2 : y > x}

da função f :

x

y

1

1

y = x

D

1

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 134 / 427

§2.2.1 Definição e exemplos

Exemplos de funções f : D ⊆ Rn → R

m (continuação)

b) Consideremos a função escalar dada por

f(x, y) = x ln(

y2 − x)

.

O domínio de f é o conjunto

D ={

(x, y) ∈ R2 : y2 − x > 0}

={

(x, y) ∈ R2 : y2 > x}

Assim, f : D ⊆ R2 → R e o contradomínio de f é R.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 135 / 427

§2.2.1 Definição e exemplos

Exemplos de funções f : D ⊆ Rn → R

m (continuação)

b) (continuação) Façamos a representação geométrica do domínio

D ={

(x, y) ∈ R2 : y2 > x}

da função f :

x

y

1 2

1

√2

x = y2D

1

√2

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 136 / 427

Page 35: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

Definição e exemplosGráfico, curvas de nível e superfícies de nível

LimitesContinuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 137 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Dada uma função f : D ⊆ Rn → Rm designa-se por gráfico de f oconjunto

G (f) = {(a, f(a)) : a ∈ D} .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 138 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Gráfico da função dada por f(x, y) = x2 + y2

Seja f a função dada porf(x, y) = x2 + y2.

O domínio desta função é R2 e o seu contradomínio é [0,+∞[. O gráfico destafunção é o conjunto

G (f) ={

((x, y), f(x, y)) : (x, y) ∈ R2}

={(

(x, y), x2 + y2)

: (x, y) ∈ R2}

Costuma identificar-se o ponto((x, y), x2 + y2

)de R2 × R com o ponto

(x, y, x2 + y2

)de R3. Assim,

G (f) ={(x, y, x2 + y2

)∈ R3 : (x, y) ∈ R2

}

={

(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ R2 ∧ z = x2 + y2}.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 139 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Gráfico da função dada por f(x, y) = x2 + y2 (continuação)

Façamos a representação geométrica do gráfico de f .

x

y

zz = f(x, y)

⇔ z = x2 + y2corte pelo plano x = 0

y

z z = y2

corte pelo plano y = 0

x

z z = x2

corte pelo plano z = 1

x2 + y2 = 1

corte pelo plano z = 2

x2 + y2 = 2

Os cortes por planos z = k ou são circunferências, ou um ponto ou o vazio

1

2

b

f(1, 2) = 5

5

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 140 / 427

Page 36: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Gráfico da função dada por f(x, y) =√

x2 + y2

Seja f a função dada por

f(x, y) =√

x2 + y2.

O domínio desta função é R2 e o seu contradomínio é [0,+∞[. Ográfico desta função é o conjunto

G (f) ={

((x, y), f(x, y)) : (x, y) ∈ R2}

={(

x, y,√

x2 + y2

)

∈ R3 : (x, y) ∈ R2}

={

(x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ R2 ∧ z =√

x2 + y2

}

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 141 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Gráfico da função dada por f(x.y) =√

x2 + y2 (continuação)

x

y

z

z = f(x, y)

⇔ z =√x2 + y2

corte pelo plano x = 0

z = |y|

corte pelo plano y = 0

z = |x|

corte pelo plano z = 1

x2 + y2 = 1

corte pelo plano z = 2

x2 + y2 = 4

Os cortes por planos z = k ou são circunferências, ou um ponto ou o vazio

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 142 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Sejam f : D ⊆ Rn → R uma função e k ∈ R. O conjunto

Ck = {x ∈ D : f(x) = k}

designa-se por conjunto de nível k. Em R2 os conjuntos de níveldesignam-se por curvas de nível e em R3 designam-se porsuperfícies de nível.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 143 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Curvas de nível da função dada por f(x, y) = x2 + y2

Consideremos novamente a função f : R2 → R dada por

f(x, y) = x2 + y2.

As curvas de nível desta função são

Ck ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 = k}

.

Assim, se k < 0 temos Ck = ∅. Se k = 0 temos C0 = {(0, 0)}.Finalmente, para k > 0 a curva de nível é uma circunferência centradaem (0, 0) e de raio

√k.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 144 / 427

Page 37: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Curvas de nível da função dada por f(x, y) = x2 + y2 (continuação)

As curvas de nível 1, 2 e 3 estão representadas na figura seguinte

x

y

1√

2√

3

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 145 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Curvas de nível da função dada por f(x, y) = x2 + y2 (continuação)

As curvas de nível podem ajudar a representar geometricamente ográfico da função:

x

y

z z = f(x, y) = x2 + y2

1

2

3

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 146 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Curvas de nível da função dada por f(x, y) =√

x2 + y2

Para a função f : R2 → R dada por

f(x, y) = x2 + y2,

as curvas de nível são dadas por

Ck ={

(x, y) ∈ R2 :√

x2 + y2 = k

}

.

Assim, se k < 0 temos Ck = ∅. Para k = 0 resulta C0 = {(0, 0)}.Finalmente, para k > 0 a curva de nível é uma circunferência centradaem (0, 0) e de raio k.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 147 / 427

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Curvas de nível da função dada por f(x, y) =√

x2 + y2 (continuação)

As curvas de nível 1, 2 e 3 estão representadas na figura seguinte

x

y

1 2 3

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 148 / 427

Page 38: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.2.2 Gráfico, curvas de nível e superfícies de nível

Curvas de nível da função dada por f(x, y) =√

x2 + y2 (continuação)

As curvas de nível podem ajudar a representar geometricamente ográfico da função:

x

y

z z = f(x, y) =√

x2 + y2

1

2

3

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 149 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

LimitesDefinição, propriedades e exemplosLimites relativos e limites direccionais

Continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 150 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

LimitesDefinição, propriedades e exemplosLimites relativos e limites direccionais

Continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 151 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Comecemos por recordar a definição de limite para funções

f : D ⊆ R → R,

ou seja, quando n = m = 1.

Sejam D um subconjunto de R, f : D → R uma função, a um ponto deacumulação de D e b ∈ R. Diz-se que b é o limite (de f) quando xtende para a, e escreve-se

limx→a

f(x) = b,

se para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que

|f(x) − b| < ε para qualquer x ∈ D tal que 0 < |x− a| < δ.

Simbolicamente, tem-se o seguinte

limx→a

f(x) = b ⇔ ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (0 < |x− a| < δ ⇒ |f(x) − b| < ε)

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 152 / 427

Page 39: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

A figura seguinte ilustra o conceito de limite de funções

f : D ⊆ R → R.

x

y

bb

a

b

f(a)

b−ε

b+ε

b

b

a−δ a+δ

b

a−δ a a+δ

b

a−δ a a+δ

b

xa

b−ε

b+ε

b

b

a−δ a a+δ

b

a−δ a a+δ

b

a−δaa+δ

b

a−δ a a+δ

b−ε

b

b+ε

b

Interpretação geométrica do conceito de limite de uma função real de variável real

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 153 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Para generalizarmos o conceito de limite para funções

f : D ⊆ Rn → Rm

temos de utilizar normas em vez de módulos.

Deste modo, sejam D um subconjunto de Rn,

f : D ⊆ Rn → Rm

uma função, a um ponto de acumulação de D e b ∈ Rm. Dizemos que bé o limite de f quando x tende para a, e escreve-se

limx→a

f(x) = b,

se para cada ε > 0, existe δ > 0 tal que

‖f(x) − b‖ < ε para qualquer x ∈ D tal que 0 < ‖x− a‖ < δ.

Simbolicamente, tem-se o seguinte:

limx→a

f(x) = b ⇔ ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (0 < ‖x− a‖ < δ ⇒ ‖f(x) − b‖ < ε) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 154 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Para interpretar geometricamente a definição de limite basta observar que

‖f(x) − b‖ < ε é equivalente a f(x) ∈ Bε(b)

e que0 < ‖x− a‖ < δ é equivalente a x ∈ Bδ(a) \ {a} .

Rn

DRm

f(D)

f

a

f(a)

bbε

δ a

x f(x)

Interpretação geométrica do limite em a de uma função f : D ⊆ Rn → Rm

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 155 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Se a for um ponto isolado do domínio D, então a definição dada atrásnão se pode aplicar porque, quando a é um ponto isolado de D, épossível escolher δ > 0 tal que

0 < ‖x− a‖ < δ

é falso para qualquer x ∈ D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 156 / 427

Page 40: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Propriedades

a) O limite de uma função (quando existe) é único.

b) Sejam D um subconjunto de Rn,

a = (a1, . . . , an) ∈ Rn

um ponto de acumulação de D e

b = (b1, . . . , bm) ∈ Rm.

Sef : D ⊆ Rn → Rm

uma função tal que

f = (f1, . . . , fm) ,

entãolimx→a

f(x) = b se e só se limx→a

fi(x) = bi, i = 1, . . . ,m.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 157 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Propriedades (continuação)

c) Sejam D ⊆ Rn, f, g : D → Rm, α : D → R e a um ponto de acumulaçãode D. Suponhamos que existem

limx→a

f(x), limx→a

g(x) e limx→a

α(x).

Então

i) existe limx→a

[f(x) + g(x)] e

limx→a

[f(x) + g(x)] = limx→a

f(x) + limx→a

g(x);

ii) existe limx→a

[α(x)f(x)] e

limx→a

[α(x)f(x)] =[

limx→a

α(x)]

·[

limx→a

f(x)]

;

iii) se limx→a

α(x) 6= 0, existe limx→a

1α(x)

e

limx→a

1α(x)

=1

limx→a

α(x).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 158 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Propriedades (continuação)

d) Sejam D um subconjunto de Rn, a um ponto de acumulação de D e

f, g : D ⊆ Rn → R.

Suponhamos quelimx→a

f(x) = 0

e g é uma função limitada numa bola centrada em a. Então

limx→a

[f(x) · g(x)] = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 159 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Propriedades (continuação)

e) Sejamf : Df ⊆ Rn → Rm

eg : Dg ⊆ Rm → Rk

duas funções tais quef(Df ) ⊆ Dg.

Suponhamos que a ∈ Rn é um ponto de acumulação de Df e queb ∈ Dg é um ponto de acumulação de Dg. Se

limx→a

f(x) = b e limx→b

g(x) = g(b),

entãolimx→a

(g ◦ f)(x) = limx→a

g(f(x)) = g(b).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 160 / 427

Page 41: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Rn Rm

Df

f

f(Df

)

a b = f(a)b b

Rk

bb = f(a)

f(Df

) Dg

g

g (Dg)

g ◦ f

bg(b) = g(f(a))

Composição de funções

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 161 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplos

a) Seja f : R2 → R3 a função definida por

f(x, y) = (x+ y, sen(x+ 2y), cosx) .

Entãof = (f1, f2, f3)

ondef1, f2, f3 : R2 → R

são as funções definidas por

f1(x, y) = x+ y, f2(x, y) = sen(x+ 2y) e f3(x, y) = cos x.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 162 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Como

lim(x,y)→(π/2,0)

f1(x, y) = lim(x,y)→(π/2,0)

x+ y = π/2 + 0 = π/2

lim(x,y)→(π/2,0)

f2(x, y) = lim(x,y)→(π/2,0)

sen(x+ 2y)

= sen(π/2 + 2.0) = sen(π/2) = 1

lim(x,y)→(π/2,0)

f3(x, y) = lim(x,y)→(π/2,0)

cosx = cos(π/2) = 0,

temos

lim(x,y)→(π/2,0)

f(x, y)

=(

lim(x,y)→(π/2,0)

f1(x, y), lim(x,y)→(π/2,0)

f2(x, y), lim(x,y)→(π/2,0)

f3(x, y))

= (π/2, 1, 0) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 163 / 427

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplos (continuação)

b) Seja f : R2 → R a função dada por

f(x, y) =

xy2

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

Esta função pode ser escrita, quando (x, y) 6= (0, 0), da seguinteforma

xy2

x2 + y2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 164 / 427

Page 42: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.3.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Como lim(x,y)→(0,0)

x = 0 ey2

x2 + y2é limitada, pois

0 6y2

x2 + y26 1 para cada (x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} ,

podemos concluir que

lim(x,y)→(0,0)

xy2

x2 + y2= 0.

e, consequentemente,

lim(x,y)→(0,0)

f(x, y) = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 165 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

LimitesDefinição, propriedades e exemplosLimites relativos e limites direccionais

Continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 166 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Seja A um subconjunto de D ⊆ Rn e a um ponto de acumulação de A.Chama-se limite relativo a A da função

f : D ⊆ Rn → Rm

no ponto a (ou limite quando x tende para a no conjunto A) aolimite em a (quando exista) da restrição de f a A e usa-se a notação

limx→ax∈A

f(x).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 167 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

É evidente para qualquer função

f : D ⊆ Rn → R

se existelimx→a

f(x),

então também existelimx→ax∈A

f(x)

para qualquer subconjunto A de D tal que a é ponto de acumulação deA e

limx→ax∈A

f(x) = limx→a

f(x).

Assim, se existirem dois limites relativos distintos, o limite não existe.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 168 / 427

Page 43: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Além disso, dada uma função

f : D ⊆ Rn → Rm,

se A1 e A2 são dois subconjuntos de Rn tais que a é ponto deacumulação de A1 e de A2,

D \ {a} ⊆ A1 ∪A2

e existem e são iguais os limites

limx→ax∈A1

f(x) e limx→ax∈A2

f(x),

então também existelimx→a

f(x)

elimx→a

f(x) = limx→ax∈A1

f(x) = limx→ax∈A2

f(x).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 169 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Exemplo

Seja f : R2 \ {(0, 0)} → R a função definida por

f(x, y) =x2 − y2

x2 + y2.

Considerando os conjuntos

A ={

(x, 0) ∈ R2 : x ∈ R \ {0}}

e B ={

(0, y) ∈ R2 : y ∈ R \ {0}}

temos

lim(x,y)→(0,0)

(x,y)∈A

f(x, y) = limx→0

f(x, 0) = limx→0

x2

x2= lim

x→01 = 1

e

lim(x,y)→(0,0)

(x,y)∈B

f(x, y) = limy→0

f(0, y) = limy→0

−y2

y2= lim

y→0−1 = −1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 170 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Exemplo (continuação)

Comolim

(x,y)→(0,0)(x,y)∈A

f(x, y) 6= lim(x,y)→(0,0)

(x,y)∈B

f(x, y),

não existelim

(x,y)→(0,0)f(x, y).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 171 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Para funções reais de variável real, f : D ⊆ R → R, considerando osconjuntos

D+a = {x ∈ D : x > a} = D∩ ]a,+∞[

eD−a = {x ∈ D : x < a} = D∩ ] − ∞, a[,

obtemos os limites laterais à direita e à esquerda da seguinteforma

limx→a+

f(x) = limx→ax∈D+

a

f(x)

elimx→a−

f(x) = limx→ax∈D−

a

f(x),

desde que a seja ponto de acumulação de D+a e de D−

a , respectivamente.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 172 / 427

Page 44: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

A generalização natural dos limites laterais a funções

f : D ⊆ Rn → Rm

é dada pelos limites direccionais. Se a e v são elementos de Rn, com v 6= 0,então

{x ∈ Rn : x = a+ tv, t ∈ R+

}

é a semi-recta de origem a e com a direcção e o sentido de v. Dada uma função

f : D ⊆ Rn → Rm,

fazendoA =

{x ∈ D : x = a+ tv, t ∈ R+

},

e supondo que a é ponto de acumulação de A, chama-se a

limx→ax∈A

f(x)

limite (direccional) de f no ponto a segundo v. Este limite obtém-secalculando

limt→0+

f(a+ tv).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 173 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Observações

a) Sejam D um subconjunto de Rn,

f : D ⊆ Rn → R

uma função e a, v ∈ Rn. Se existe

limt→0+

f(a+ tv),

então, fazendo u = λv, λ ∈ R+, também existe

limt→0+

f(a+ tu)

e

limt→0+

f(a+ tv) = limt→0+

f(a+ tu).

b) Tendo em conta a observação anterior, para calcular os limitesdireccionais basta considerar vectores de norma um. Assim, para funções

f : D ⊆ R2 → R,

basta considerar vectoresv = (cosα, senα) , α ∈ [0, 2π[.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 174 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Exemplo

Consideremos novamente a função f : R2 \ {(0, 0)} → R definida por

f(x, y) =x2 − y2

x2 + y2.

Fazendov = (cosα, sen α) ,

com α ∈ [0, 2π[, temos

limt→0+

f(0 + t cosα, 0 + t senα) = limt→0+

t2 cos2 α− t2 sen2 α

t2 cos2 α+ t2 sen2 α

= cos2 α− sen2 α

e, como os limites direccionais dependem do vector v, podemos concluirque não existe

lim(x,y)→(0,0)

f(x, y).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 175 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Para funções f : D ⊆ R → R é fácil provar que se existem

limx→a+

f(x) e limx→a−

f(x)

elimx→a+

f(x) = limx→a−

f(x),

então também existelimx→a

f(x)

elimx→a

f(x) = limx→a+

f(x) = limx→a−

f(x).

No entanto, para funções

f : D ⊆ Rn → Rm, n > 1,

é possível existirem e serem iguais todos os limites direccionais, sem queo limite da função exista. Vejamos um exemplo em que isso acontece.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 176 / 427

Page 45: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Exemplo – f(x, y) = x2y/(x4 + y2)

No ponto (0, 0) todos os limites direccionais da função

f : R2 \ {(0, 0)} → R

definida por

f(x, y) =x2y

x4 + y2

são iguais a zero. De facto, fazendo

v = (cosα, sen α) ,

com α ∈ [0, 2π[, temos, para α ∈ ]0, π[ ∪ ]π, 2π[,

limt→0+

f((0, 0) + tv) = limt→0+

f(t cosα, t sen α) = limt→0+

t3 cos2 α senαt4 cos4 α+ t2 sen2 α

= limt→0+

t cos2 α senαt2 cos4 α+ sen2 α

=0

0 + sen2 α= 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 177 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Exemplo (continuação) – f(x, y) = x2y/(x4 + y2)

Se α = 0 vem

limt→0+

f(t, 0) = limt→0+

t20t4 + 02

= limt→0+

0 = 0

e se α = π temos

limt→0+

f(−t, 0) = limt→0+

(−t)20(−t)4 + 02

= limt→0+

0 = 0.

Assim, todos os limites direccionais são iguais a zero.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 178 / 427

§2.3.2 Limites relativos e limites direccionais

Exemplo (continuação) – f(x, y) = x2y/(x4 + y2)

No entanto, considerando o conjunto

A ={

(x, y) ∈ R2 \ {(0, 0)} : y = x2}

temos

lim(x,y)→(0,0)

x∈A

f(x, y) = limx→0

f(x, x2) = limx→0

x2 · x2

x4 + (x2)2

= limx→0

x4

2x4= lim

x→0

12

=12

que é diferente dos limites direccionais. Logo não existe

lim(x,y)→(0,0)

x2y

x4 + y2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 179 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

Definição, propriedades e exemplosTeorema de Weierstrass

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 180 / 427

Page 46: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

Definição, propriedades e exemplosTeorema de Weierstrass

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 181 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Sejam D um subconjunto de Rn,

f : D ⊆ Rn → Rm

uma função e a ∈ D. Diz-se que f é contínua no ponto a se paracada ε > 0, existir δ > 0 tal que

‖f(x) − f(a)‖ < ε para qualquer x ∈ D tal que ‖x− a‖ < δ.

Simbolicamente,

f é contínua em a

⇔ ∀ε > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D (‖x− a‖ < δ ⇒ ‖f(x) − f(a)‖ < ε) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 182 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Assim temos a seguinte interpretação geométrica de continuidade numponto.

Rn

DRm

f(D)

f

a

f(a)f(a)ε

δ a

x f(x)

Função de Rn em Rm contínua no ponto a

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 183 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Dizemos que a ∈ D é um ponto de descontinuidade de

f : D ⊆ Rn → Rm

se f não é contínua em a.

Uma funçãof : D ⊆ Rn → Rm

é contínua se for contínua em todos os pontos de D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 184 / 427

Page 47: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Observações

a) Ao contrário do que acontece na definição de limite, só faz sentidoconsiderar pontos do domínio D quando estamos a investigar acontinuidade de uma função.

b) Se a é um ponto isolado de D, então a função f : D → Rm é contínua ema. De facto, dado ε > 0, basta escolher δ > 0 tal que

Bδ(a) ∩D = {a} .Assim, a condição

x ∈ D ∧ ‖x− a‖ < δ é equivalente a x = a

e, por conseguinte,

‖f(x) − f(a)‖ = 0 < ε.

Em particular, se D só tem pontos isolados, então qualquer funçãof : D → Rm é contínua.

c) Se a ∈ D é um ponto de acumulação de D, então f : D → Rm é contínuaem a se e só se

limx→a

f(x) = f(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 185 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplos

a) Num exemplo anterior estudamos a função

f : R2 → R3

dada porf(x, y) = (x+ y, sen(x+ 2y), cos x)

e vimos quelim

(x,y)→(π/2,0)f(x, y) = (π/2, 1, 0) .

Comof(π/2, 0) = (π/2, 1, 0) ,

a função é contínua no ponto (π/2, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 186 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplos (continuação)

b) Seja f : R2 → R a função é definida por

f(x, y) =

x2 − y2

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0)

0 se (x, y) = (0, 0).Fazendo

A ={

(x, y) ∈ R2 : x = 0}

e B ={

(x, y) ∈ R2 : y = 0},

temos

lim(x,y)→(0,0)

x∈A

f(x, y) = limy→0

f(0, y) = limy→0

02 − y2

02 + y2= lim

y→0

−y2

y2= lim

y→0−1 = −1

e

lim(x,y)→(0,0)

x∈B

f(x, y) = limx→0

f(x, 0) = limx→0

x2 − 02

x2 + 02= lim

x→0

x2

x2= lim

x→01 = 1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 187 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Como

lim(x,y)→(0,0)

x∈A

f(x, y) 6= lim(x,y)→(0,0)

x∈B

f(x, y),

não existe

lim(x,y)→(0,0)

x2 − y2

x2 + y2.

Logo a função não é contínua em (0, 0).

No entanto, em qualquer ponto (a, b) 6= (0, 0) esta função é contínuaporque

lim(x,y)→(a,b)

f(x, y) = lim(x,y)→(a,b)

x2 − y2

x2 + y2=a2 − b2

a2 + b2= f(a, b).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 188 / 427

Page 48: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Propriedades

a) Sejamf : D ⊆ Rn → Rm

uma função tal quef = (f1, . . . , fm)

e a um elemento de D. Então

f é contínua em a

se e só se todas as suas funções coordenadas

fi são contínuas em a.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 189 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Propriedades (continuação)

b) Sejamf, g : D ⊆ Rn → Rm

duas funções contínuas em a ∈ D e

α : D → R

uma função contínua em a. Então

f + g e αf são contínuas em a

e, se α(a) 6= 0, então

é contínua em a.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 190 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Propriedades (continuação)

c) Sejamf : Df ⊆ Rn → Rm

eg : Dg ⊆ Rm → Rk

duas funções tais que f(Df ) ⊆ Dg. Se

f é contínua em a ∈ Df

eg é contínua em f(a),

entãog ◦ f é contínua em a.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 191 / 427

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplo

Seja f : R2 → R a função dada por

f(x, y) =

x2y

x4 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

Já vimos num exemplo anterior que fazendo

A ={

(x, y) ∈ R2 : y = 0}

e B ={

(x, y) ∈ R2 : y = x2},

temoslim

(x,y)→(0,0)x∈A

f(x, y) = limx→0

f(x, 0) = limx→0

x2 0x4 + 02

= limx→0

0x4

= limx→0

0 = 0

e

lim(x,y)→(0,0)

x∈B

f(x, y) = limx→0

f(x, x2) = limx→0

x2 x2

x4 + (x2)2= lim

x→0

x4

2x4= lim

x→0

12

=12.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 192 / 427

Page 49: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.4.1 Definição, propriedades e exemplos

Exemplo (continuação)

Comolim

(x,y)→(0,0)x∈A

f(x, y) 6= lim(x,y)→(0,0)

x∈B

f(x, y),

não existe

lim(x,y)→(0,0)

x2y

x4 + y2

e, portanto, a função não é contínua em (0, 0).

No entanto, em qualquer ponto (a, b) 6= (0, 0) esta função é contínuaporque pode ser escrita como a composição de funções contínuas.

Outra forma de provarmos que f é contínua em qualquer pontos(a, b) 6= (0, 0) é observarmos que

lim(x,y)→(a,b)

f(x, y) = lim(x,y)→(a,b)

x2y

x4 + y2=

a2b

a4 + b2= f(a, b).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 193 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidadeBreves noções de topologia em Rn

Funções de Rn em Rm

LimitesContinuidade

Definição, propriedades e exemplosTeorema de Weierstrass

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 194 / 427

§2.4.2 Teorema de Weierstrass

Sejaf : D ⊆ Rn → R

uma função escalar e A um subconjunto não vazio de D.

Dizemos que f tem um máximo (absoluto) no ponto a ∈ A ou quef(a) é um máximo (absoluto) de f em A se

f(x) 6 f(a) para todo o x ∈ A.

Quandof(x) > f(a) para todo o x ∈ A,

dizemos que f tem um mínimo (absoluto) no ponto a ∈ A ou quef(a) é um mínimo (absoluto) de f em A.

Os máximos e mínimos (absolutos) de f em a dizem-se extremosabsolutos de f em A.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 195 / 427

§2.4.2 Teorema de Weierstrass

Teorema de Weierstrass

Sejaf : D ⊆ Rn → R

uma função contínua num subconjunto não vazio, fechado e limitadoA ⊆ D. Então f tem máximo e mínimo em A.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 196 / 427

Page 50: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§2.4.2 Teorema de Weierstrass

Exemplo

SejamA =

{

(x, y) ∈ R2 : |x| 6 1, |y| 6 1}

e f a função dada por

f(x, y) = x+ y sen x.

A função f é contínua em R2 e, portanto, é contínua em A. Como A éfechado e limitado, f tem máximo e mínimo no conjunto A.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 197 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em Rm

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 198 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDerivadas parciaisDerivadas parciais de ordem superiorGradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacionalDerivadas direccionais

Diferenciabilidade de funções de Rn em Rm

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 199 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDerivadas parciaisDerivadas parciais de ordem superiorGradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacionalDerivadas direccionais

Diferenciabilidade de funções de Rn em Rm

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 200 / 427

Page 51: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.1 Derivadas parciais

Comecemos por recordar como se define derivada de funções reais devariável real. Sejam D um subconjunto não vazio de R,

f : D → R

e a ∈ D um ponto de acumulação de D. Diz-se que f é derivável oudiferenciável em a se existe (e é finito) o limite:

limx→a

f(x) − f(a)x− a

.

Tal limite (quando existe) diz-se a derivada de f no ponto a e

representa-se por f ′(a), Df(a) ou ainda pordf

dx(a).

Fazendo a mudança de variável x = a+ h, temos

f ′(a) = limh→0

f(a+ h) − f(a)h

.

Aqui têm apenas de se considerar os valores de h tais que a+ h ∈ D.António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 201 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Diz-se que a funçãof : D ⊆ R → R

é derivável ou diferenciável em D se for derivável em todo o pontode D e à nova função

f ′ : D ⊆ R → R,

que a cada ponto x ∈ D faz corresponder f ′(x), chama-se derivada def e representa-se também por

Df oudf

dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 202 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

O quocientef(a+ h) − f(a)

h

representa o declive da recta que passa pelos pontos

(a, f(a)) e (a+ h, f(a+ h)) .

Fazendo h tender para zero, a recta que passa nos pontos

(a, f(a)) e (a+ h, f(a+ h)) ,

vai tender para a recta tangente ao gráfico de f e que passa no pontos(a, f(a)). Assim, geometricamente, a derivada de uma função numponto do domínio é o declive da recta tangente ao gráfico da função noponto considerado. Portanto, a recta tangente ao gráfico de umafunção f no ponto (a, f(a)) é a recta de equação

y = f(a) + f ′(a)(x − a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 203 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

b

a

f(a)

b

a+ h

f(a + h)

b

b

a

f(a)

b

b

bb

a+ h

f(a + h)

b

b

a

f(a) b

bb

b

a+ h

f(a + h)

b

b

a

f(a) b

bb

b

b

a+ h

f(a + h)

b

b

b

y = f(a) + f ′(a)(x − a)

α

f ′(a) = tgα

Interpretação geométrica do conceito de derivada

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 204 / 427

Page 52: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.1 Derivadas parciais

Pretendemos generalizar o conceito de derivada a funções

f : D ⊆ Rn → Rm.

Por uma questão de economia de escrita, consideraremos, inicialmente,funções

f : D ⊆ R2 → R.

Como habitualmente, escreveremos (x, y) em vez de (x1, x2) pararepresentar os elementos de R2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 205 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Sejam D um subconjunto não vazio de R2 e

f : D ⊆ R2 → R

uma função. A derivada parcial de f em relação a x (ou em ordem a

x) é a função∂f

∂xque se obtém derivando (caso a derivada exista) f em

relação a x, tratando y como se fosse uma constante. Por exemplo, sef : R2 → R é a função definida por

f(x, y) = 2x3y − 4x sen(πy),

temos∂f

∂x(x, y) = 6x2y − 4 sen(πy).

De igual modo, a derivada parcial de f em relação a y (ou em ordem a

y) é a função∂f

∂yque se obtém derivando (caso a derivada exista) f em relação

a y, tratando x como se fosse uma constante. Assim, no exemplo dado temos

∂f

∂y(x, y) = 2x3 − 4πx cos(πy).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 206 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Vejamos como definir de modo mais formal as derivadas parciais.Sejam D um subconjunto de R2,

f : D ⊆ R2 → R

uma função e (a, b) ∈ D. Suponhamos que (a, b) é um ponto deacumulação de

{(x, y) ∈ D : y = b} .Representa-se por

∂f

∂x(a, b), f ′

x(a, b) ou Dxf(a, b),

a derivada parcial de f em relação a x (ou em ordem a x) noponto (a, b) e define-se da seguinte forma

∂f

∂x(a, b) = lim

h→0

f(a+ h, b) − f(a, b)h

quando este limite exista e seja finito.António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 207 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Analogamente, se (a, b) ∈ D é ponto de acumulação de

{(x, y) ∈ D : x = a} ,

representa-se por

∂f

∂y(a, b), f ′

y(a, b) ou Dyf(a, b),

a derivada parcial de f em ordem a y no ponto (a, b) e define-seda seguinte forma

∂f

∂y(a, b) = lim

k→0

f(a, b+ k) − f(a, b)k

,

quando este limite existe e é finito.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 208 / 427

Page 53: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.1 Derivadas parciais

x

y

z

b

a

b

f(a, b)

bb

α

∂f

∂x(a, b) = tgα

b

β

∂f

∂y(a, b) = tg β

Interpretação geométrica das derivadas parciais

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 209 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Sejaf : D ⊆ R2 → R

uma função. A função que a cada (x, y) associa∂f

∂x(x, y) designa-se por

(função) derivada parcial de f em ordem a x e representa-se por

∂f

∂x, f ′

x ou Dxf.

Obviamente, o seu domínio é o conjunto{

(x, y) ∈ D : existe∂f

∂x(x, y)

}

.

Do mesmo modo, define-se (função) derivada parcial de f emordem a y que se representa por

∂f

∂y, f ′

y ou Dyf.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 210 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Exemplos de derivadas parciais

a) Considerando a funçãof : R2 → R

definida porf(x, y) = x2 + y2 + sen(xy)

temos∂f

∂x(x, y) = 2x+ y cos(xy)

e∂f

∂y(x, y) = 2y + x cos(xy).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 211 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Exemplos de derivadas parciais (continuação)

b) A funçãof : R2 → R

definida por

f(x, y) = sen(

x2 + y3)

+ ex−cos(xy)

tem as seguintes derivadas parciais

∂f

∂x(x, y) = 2x cos

(

x2 + y3)

+ (1 + y sen (xy)) ex−cos(xy)

e∂f

∂y(x, y) = 3y2 cos

(

x2 + y3)

+ x sen (xy) ex−cos(xy) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 212 / 427

Page 54: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.1 Derivadas parciais

Exemplos de derivadas parciais (continuação)

c) Seja f : R2 → R a função definida por

f(x, y) =

(x− 1)y2

(x− 1)2 + y2se (x, y) 6= (1, 0),

0 se (x, y) = (1, 0).

Então

∂f

∂x(1, 0) = lim

h→0

f(1 + h, 0) − f(1, 0)h

= limh→0

(1+h−1)02

(1+h−1)2+02 − 0

h

= limh→0

0h2

h= lim

h→0

0h

= limh→0

0 = 0

e

∂f

∂y(1, 0) = lim

k→0

f(1, 0 + k) − f(1, 0)k

= limk→0

(1−1)k2

(1−1)2+k2 − 0

k

= limk→0

0k2

k= lim

k→0

0k

= limk→0

0 = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 213 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

Exemplos de derivadas parciais (continuação)

d) Seja f : R2 → R a função dada por

f(x, y) =

x2

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

Então

∂f

∂x(0, 0) = lim

h→0

f(0 + h, 0) − f(0, 0)h

= limh→0

h2

h2+02 − 0

h= lim

h→0

h2

h2

h= lim

h→0

1h

e este limite não existe. Logo f não tem derivada parcial em ordem a x noponto (0, 0). Por outro lado,

∂f

∂y(0, 0) = lim

k→0

f(0, 0 + k) − f(0, 0)k

= limk→0

02

02+k2 − 0

k

= limk→0

0k2

k= lim

k→0

0k

= limk→0

0 = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 214 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

No caso geral em que temos uma função

f : D ⊆ Rn → Rm

definimos, para a = (a1, . . . , an), as seguintes derivadas parciais:

∂f

∂x1(a) =

∂f

∂x1(a1, . . . , an) = lim

h→0

f(a1 + h, a2, . . . , an) − f(a1, . . . , an)h

∂f

∂x2(a) =

∂f

∂x2(a1, . . . , an) = lim

h→0

f(a1, a2 + h, a3, . . . , an) − f(a1, . . . , an)h

...

∂f

∂xn(a) =

∂f

∂xn(a1, . . . , an) = lim

h→0

f(a1, . . . , an−1, an + h) − f(a1, . . . , an)h

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 215 / 427

§3.1.1 Derivadas parciais

A função que a cada x = (x1, . . . , xn) associa∂f

∂x1(x) designa-se por

(função) derivada parcial de f em ordem a x1 e representa-se por

∂f

∂x1, f ′

x1ou Dx1f.

Obviamente, o seu domínio é o conjunto{

x ∈ D : existe∂f

∂x1(x)}

.

Do mesmo modo, define-se (função) derivada parcial de f emordem a xi, i = 2, . . . , n, que se representa por

∂f

∂xi, f ′

xiou Dxi

f.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 216 / 427

Page 55: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.1 Derivadas parciais

Das propriedades dos limites resulta imediatamente que se

f : D ⊆ Rn → Rm e f = (f1, . . . , fm) , m > 1

temos

∂f

∂x1(a) =

(∂f1

∂x1(a),

∂f2

∂x1(a), . . . ,

∂fm∂x1

(a))

∂f

∂x2(a) =

(∂f1

∂x2(a),

∂f2

∂x2(a), . . . ,

∂fm∂x2

(a))

...

∂f

∂xn(a) =

(∂f1

∂xn(a),

∂f2

∂xn(a), . . . ,

∂fm∂xn

(a))

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 217 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDerivadas parciaisDerivadas parciais de ordem superiorGradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacionalDerivadas direccionais

Diferenciabilidade de funções de Rn em Rm

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 218 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Sejam D um subconjunto de R2 e

f : D ⊆ R2 → R

uma função. Suponhamos existe a derivada parcial (de primeira ordem)de f em relação a x. Designaremos por

f ′′x2, f ′′

xx,∂2f

∂x2, D2

x2f ou D2xxf

a derivada(f ′x

)′x =

∂x

(∂f

∂x

)

,

caso exista, e chamar-lhe-emos derivada parcial de segunda ordemda função f duas vezes em ordem a x.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 219 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Do mesmo modo se definem a derivada de segunda ordem de fduas vezes em relação a y:

f ′′y2 ≡ f ′′

yy ≡ ∂2f

∂y2≡ D2

y2f ≡ D2yyf =

(

f ′y

)′

y=

∂y

(∂f

∂y

)

;

a derivada de segunda ordem de f em relação a x e depois emrelação a y:

f ′′xy ≡ ∂2f

∂y∂x≡ D2

xyf =(f ′x

)′y =

∂y

(∂f

∂x

)

;

a derivada de segunda ordem de f em relação a y e depois emrelação a x:

f ′′yx ≡ ∂2f

∂x∂y≡ D2

yxf =(

f ′y

)′

x=

∂x

(∂f

∂y

)

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 220 / 427

Page 56: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

A partir das derivadas de segunda ordem podemos definir as derivadas deterceira ordem, e assim sucessivamente como é ilustrado no esquema seguinte.

f

f ′x ≡

∂f

∂x

f ′y ≡

∂f

∂y

f ′′x2 ≡

∂2f

∂x2

f ′′xy ≡

∂2f

∂y∂x

f ′′yx ≡

∂2f

∂x∂y

f ′′y2 ≡

∂2f

∂y2

f ′′′x3 ≡

∂3f

∂x3

f ′′′x2y ≡

∂3f

∂y∂x2

f ′′′xyx ≡

∂3f

∂x∂y∂x

f ′′′xy2 ≡

∂3f

∂y2∂x

f ′′′yx2 ≡

∂3f

∂x2∂y

f ′′′yxy ≡

∂3f

∂y∂x∂y

f ′′′y2x ≡

∂3f

∂x∂y2

f ′′′y3 ≡

∂3f

∂y3

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 221 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Sejam D um subconjunto de Rn, n > 1, e

f : D ⊆ Rn → Rm

uma função. Dados dois inteiros positivos i e j inferiores ou iguais a n,

supondo que existe∂f

∂xi, representaremos por

∂2f

∂xj∂xiou f ′′

xixj

a derivada parcial de∂f

∂xiem ordem a xj, caso exista, e

chamar-lhe-emos derivada parcial de segunda ordem de fprimeiro em relação a xi e depois em relação a xj .

De forma semelhante podemos definir as derivadas de ordem três, deordem quatro, etc.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 222 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Exemplos – derivadas parciais de segunda ordem

a) Seja f : R2 → R a função dada por

f(x, y) = x4 + 3xy2 + 4y3.

Então∂f

∂x(x, y) = 4x3 + 3y2 e

∂f

∂y(x, y) = 6xy + 12y2.

Assim,∂2f

∂x2(x, y) = 12x2 e

∂2f

∂y∂x(x, y) = 6y,

enquanto que

∂2f

∂x∂y(x, y) = 6y e

∂2f

∂y2(x, y) = 6x+ 24y.

Este exemplo parece sugerir que as derivadas cruzadas (ou mistas)∂2f

∂y∂xe∂2f

∂x∂ysão iguais.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 223 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Exemplos – derivadas parciais de segunda ordem (continuação)

b) Seja f : R2 → R a função definida por

f(x, y) =

x3y

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

Vamos calcular f ′′xy(0, 0) e f ′′

yx(0, 0). Como

f ′′xy(0, 0) = lim

k→0

f ′x(0, k) − f ′

x(0, 0)k

e

f ′′yx(0, 0) = lim

h→0

f ′y(h, 0) − f ′

y(0, 0)

h,

temos de calcular f ′x(0, y) e f ′

y(x, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 224 / 427

Page 57: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Exemplos – derivadas parciais de segunda ordem (continuação)

b) (continuação) Atendendo a que, para y 6= 0,

f ′x(0, y) = lim

h→0

f(h, y)−f(0, y)h

= limh→0

h3y

h2+y2−0

h= lim

h→0

h2y

h2+y2=

0y2

= 0

e

f ′x(0, 0) = lim

h→0

f(h, 0) − f(0, 0)h

= limh→0

h3.0h2 + 02

− 0

h= lim

h→0

0h

= limh→0

0 = 0

temosf ′x(0, y) = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 225 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Exemplos – derivadas parciais de segunda ordem (continuação)

b) (continuação) Por outro lado, para x 6= 0, tem-se

f ′y(x, 0) = lim

k→0

f(x, k)−f(x, 0)k

= limk→0

x3k

x2+k2−0

k= lim

k→0

x3

x2+k2=x3

x2= x

e

f ′y(0, 0) = lim

k→0

f(0, k) − f(0, 0)k

= limk→0

03.k

02 + k2− 0

k= lim

k→0

0k

= limk→0

0 = 0

temosf ′y(x, 0) = x.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 226 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Exemplos – derivadas parciais de segunda ordem (continuação)

b) (continuação) Usando o facto de

f ′x(0, y) = 0 e f ′

y(x, 0) = x,

tem-se

f ′′xy(0, 0) = lim

k→0

f ′x(0, k) − f ′

x(0, 0)k

= limk→0

0 − 0k

= limk→0

0k

= limk→0

0 = 0

e

f ′′yx(0, 0) = lim

h→0

f ′y(h, 0) − f ′

y(0, 0)

h= lim

h→0

h− 0h

= limh→0

h

h= lim

h→01 = 1,

o que prova que as derivadas mistas (ou cruzadas) f ′′xy e f ′′

yx podemser diferentes!

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 227 / 427

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Exemplos – derivadas parciais de segunda ordem (continuação)

b) (continuação) Para esta função f : R2 → R, que, recorde-se, é dadapor

f(x, y) =

x3y

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0),

tem-se

f ′x(x, y) =

x4y + 3x2y3

(x2 + y2)2 se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0),

e

f ′y(x, y) =

x5 − x3y2

(x2 + y2)2 se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 228 / 427

Page 58: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.2 Derivadas parciais de ordem superior

Exemplos – derivadas parciais de segunda ordem (continuação)

b) (continuação) Além disso,

f ′′xx(x, y) =

6xy5 − 2x3y3

(x2 + y2)3se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0),

f ′′xy(x, y) =

x6 + 6x4y2 − 3x2y4

(x2 + y2)3se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0),

f ′′yx(x, y) =

x6 + 6x4y2 − 3x2y4

(x2 + y2)3se (x, y) 6= (0, 0),

1 se (x, y) = (0, 0),

f ′′yy(x, y) =

2x3y3 − 6x5y

(x2 + y2)3se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 229 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDerivadas parciaisDerivadas parciais de ordem superiorGradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacionalDerivadas direccionais

Diferenciabilidade de funções de Rn em Rm

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 230 / 427

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Sejamf : D ⊆ Rn → R

uma função e a ∈ D. Chama-se gradiente de f no ponto a, erepresenta-se por

(∇f) (a) ou (grad f) (a),

ao vector

(∇f) (a) =(∂f

∂x1(a), . . . ,

∂f

∂xn(a))

e designa-se por laplaciano de f no ponto a, e representa-se por

(∆f) (a) ou(

∇2f)

(a),

a expressão

(∆f) (a) =∂2f

∂x21

(a) + · · · +∂2f

∂x2n

(a)

desde que existam as derivadas parciais envolvidas nas definições.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 231 / 427

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Exemplos – gradiente e laplaciano

Seja

f : R3 → R

a função definida por

f(x, y, z) = sen(xy2z3).Então

∇f =(∂f

∂x,∂f

∂y,∂f

∂z

)

=(y2z3 cos(xy2z3), 2xyz3 cos(xy2z3), 3xy2z2 cos(xy2z3)

)

e

∆f =∂2f

∂x2+∂2f

∂y2+∂2f

∂z2

= −y4z6 sen(xy2z3) +(2xz3 cos(xy2z3) − 4x2y2z6 sen(xy2z3)

)

+(6xy2z cos(xy2z3) − 9x2y4z4 sen(xy2z3)

)

= −(y4z6 + 4x2y2z6 + 9x2y4z4

)sen(xy2z3) +

(2xz3 + 6xy2z

)cos(xy2z3).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 232 / 427

Page 59: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Dada uma funçãof : D ⊆ Rn → Rm

e a ∈ D, à matriz

Ja(f) =

∂f1

∂x1(a) · · · ∂f1

∂xn(a)

.... . .

...∂fm∂x1

(a) · · · ∂fm∂xn

(a)

chamamos matriz jacobiana de f no ponto a, desde que as derivadasenvolvidas na definição existam.

Quando n = m, o determinante de J diz-se o jacobiano da função f erepresenta-se por

∂ (f1, . . . , fn)∂ (x1, . . . , xn)

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 233 / 427

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Exemplo – matriz jacobiana

Sejaf : R3 → R2

a função definida por

f(x, y, z) =(

xy + z2, exy + senx)

.

Então a matriz jacobiana de f é dada por

J(x,y,z)(f) =

∂f1

∂x(x, y, z)

∂f1

∂y(x, y, z)

∂f1

∂z(x, y, z)

∂f2

∂x(x, y, z)

∂f2

∂y(x, y, z)

∂f2

∂z(x, y, z)

=

y x 2z

y exy + cos x x exy 0

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 234 / 427

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Dada uma funçãof : D ⊆ Rn → Rn

e a ∈ D, a divergência de f no ponto a representa-se por

(div f) (a),

e é definida por

(div f) (a) =∂f1

∂x1(a) +

∂f2

∂x2(a) + · · · +

∂fn∂xn

(a),

desde que as derivadas envolvidas na definição existam. Das definiçõesresulta imediatamente que o laplaciano é a divergência do gradiente.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 235 / 427

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Exemplo – divergência

Sejaf : R3 → R3

a função definida por

f(x, y, z) =(

x2 + xyz2, exz + sen y, x− 3y + z4)

.

Então a divergência de f é dada por

(div f) (x, y, z) =∂f1

∂x(x, y, z) +

∂f2

∂y(x, y, z) +

∂f3

∂z(x, y, z)

= 2x+ yz2 + cos y + 4z3.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 236 / 427

Page 60: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Dada uma funçãof : D ⊆ R3 → R3

e a ∈ D, designa-se por rotacional de f no ponto a, e representa-se por

(rot f) (a),

o vector

(rot f) (a)

=

(∂f3

∂y(a) −

∂f2

∂z(a),

∂f1

∂z(a) −

∂f3

∂x(a),

∂f2

∂x(a) −

∂f1

∂y(a)

)

=

(∂f3

∂y(a) −

∂f2

∂z(a)

)

e1 +(∂f1

∂z(a) −

∂f3

∂x(a))

e2 +

(∂f2

∂x(a) −

∂f1

∂y(a)

)

e3,

desde que as derivadas parciais envolvidas na definição existam e onde

e1 = (1, 0, 0) , e2 = (0, 1, 0) e e3 = (0, 0, 1) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 237 / 427

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

A fórmula do rotacional pode ser dada pelo desenvolvimento segundo aprimeira linha do determinante formal

rot f =

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣

e1 e2 e3

∂x

∂y

∂zf1 f2 f3

∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣

que é precisamente igual a(∂f3

∂y− ∂f2

∂z

)

e1 +(∂f1

∂z− ∂f3

∂x

)

e2 +(∂f2

∂x− ∂f1

∂y

)

e3.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 238 / 427

§3.1.3 Gradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacional

Exemplo – rotacional

Sejaf : R3 → R3

a função definida por

f(x, y, z) =(

x2 + xyz2, exz + sen y, x− 3y + z4)

.

Então o rotacional de f é dado por

(rot f) (x, y, z)

=(∂f3

∂y− ∂f2

∂z

)

e1 +(∂f1

∂z− ∂f3

∂x

)

e2 +(∂f2

∂x− ∂f1

∂y

)

e3

= (−3 − x exz) e1 + (2xyz − 1) e2 +(

z exz − xz2)

e3

=(

−3 − x exz, 2xyz − 1, z exz −xz2)

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 239 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDerivadas parciaisDerivadas parciais de ordem superiorGradiente, laplaciano, matriz jacobiana, divergência e rotacionalDerivadas direccionais

Diferenciabilidade de funções de Rn em Rm

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 240 / 427

Page 61: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.4 Derivadas direccionais

Nas definições de derivadas parciais, dadas atrás, consideramosacréscimos da função quando o ponto do domínio percorre segmentosparalelos aos eixos. Este facto sugere que generalizemos a definição dederivadas parcial segundo qualquer direcção.

Dados um subconjunto D de R2, uma função

f : D ⊆ R2 → R,

a = (a1, a2) ∈ D e u = (u1, u2) um vector de R2, chama-se derivadade f no ponto a segundo o vector u ao limite, quando existe,

limt→0

f(a+ tu) − f(a)t

= limt→0

f(a1 + tu1, a2 + tu2) − f(a1, a2)t

e representa-se porf ′u(a) ou Duf(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 241 / 427

§3.1.4 Derivadas direccionais

Quando‖u‖ = 1

as derivadas segundo vectores costumam designar-se por derivadasdireccionais, se bem que será mais correcto falar em derivada dirigidaou derivada radial segundo u pois a derivada, para além de dependerda direcção, também depende do sentido de u.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 242 / 427

§3.1.4 Derivadas direccionais

x

y

z

b

a

b

f(a, b)

b

uu

b

α

f ′u(a, b) = tgα

Interpretação geométrica da derivada segundo um vector u com ‖u‖ = 1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 243 / 427

§3.1.4 Derivadas direccionais

Exemplo – derivadas direccionais

Consideremos a função f : R2 → R definida por

f(x, y) =

xy2

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0)

0 se (x, y) = (0, 0)

Fazendo u = (cosα, senα), α ∈ [0, 2π[, temos

f ′u(0, 0) = lim

t→0

f(0 + t cosα, 0 + t senα) − f(0, 0)t

= limt→0

t cosα t2 sen2 α

t2 cos2 α+ t2 sen2 αt

= limt→0

t3 cosα sen2 α

t3 (cos2 α+ sen2 α)

= sen2 α cosα.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 244 / 427

Page 62: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.1.4 Derivadas direccionais

Dada uma função f : D ⊆ R2 → R e considerando os vectorese1 = (1, 0) e e2 = (0, 1), temos

f ′e1

(a) = limt→0

f(a+ te1) − f(a)t

= limt→0

f(a1 + t, a2) − f(a1, a2)t

=∂f

∂x(a)

e

f ′e2

(a) = limt→0

f(a+ te2) − f(a)t

= limt→0

f(a1, a2 + t) − f(a1, a2)t

=∂f

∂y(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 245 / 427

§3.1.4 Derivadas direccionais

Também podemos definir derivadas segundo vectores para funções

f : D ⊆ Rn → Rm.

Assim, sef : D ⊆ Rn → Rm

e a = (a1, . . . , an) ∈ D chama-se derivada de f no ponto a segundoo vector u = (u1, . . . , un) ∈ Rn ao limite, caso este exista,

limt→0

f(a+ tu) − f(a)

t= lim

t→0

f(a1 + tu1, a2 + tu2, . . . , an + tun) − f(a1, a2, . . . , an)

t

e representa-se porf ′u(a) ou Duf(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 246 / 427

§3.1.4 Derivadas direccionais

Quando‖u‖ = 1,

as derivadasf ′u(a)

designam-se por derivadas direccionais, se bem que o mais correctoseria falar em derivada dirigida ou derivada radial segundo u, pois estaderivada para além de depender da direcção também depende dosentido de u.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 247 / 427

§3.1.4 Derivadas direccionais

Se considerarmos em Rn os vectores

e1 = (1, 0, 0, . . . , 0)

e2 = (0, 1, 0, . . . , 0)...

en = (0, 0, . . . , 0, 1)

temos

f ′e1

(a) =∂f

∂x1(a)

f ′e2

(a) =∂f

∂x2(a)

...

f ′en

(a) =∂f

∂xn(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 248 / 427

Page 63: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em R

m

Definição e exemplosPropriedades elementaresHiperplano tangente e aproximação linearDerivada da função compostaTeorema de SchwarzTeorema da função implícita

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 249 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em R

m

Definição e exemplosPropriedades elementaresHiperplano tangente e aproximação linearDerivada da função compostaTeorema de SchwarzTeorema da função implícita

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 250 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Uma das primeiras propriedades do cálculo diferencial de funções reaisde variável real diz que se uma função tem derivada num ponto, entãoa função é contínua nesse ponto. Para funções com mais do que umavariável isso não acontece. É possível existirem todas as derivadasdireccionais, sem que a função seja contínua nesse ponto. Vejamos umexemplo em que isso acontece.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 251 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplo

Consideremos a função f : R2 → R definida por

f(x, y) =

x2y

x4 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

Comecemos por calcular as derivadas parciais

∂f

∂x(0, 0) = lim

h→0

f(h, 0) − f(0, 0)h

= limh→0

0 − 0h

= limh→0

0h

= limh→0

0 = 0

e

∂f

∂y(0, 0) = lim

k→0

f(0, k) − f(0, 0)k

= limk→0

0 − 0k

= limk→0

0k

= limk→0

0 = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 252 / 427

Page 64: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplo (continuação)

Por outro lado, fazendou = (cosα, senα) , α ∈ [0, 2π[,

temos

f ′u(0, 0) = lim

t→0

f(0 + t cosα, 0 + t senα) − f(0, 0)t

= limt→0

t2 cos2 α t senαt4 cos4 α+ t2 sen2 α

t

= limt→0

cos2 α senαt2 cos4 α+ sen2 α

=

cos2 α

senαse α ∈ [0, 2π[\ {0, π},

0 se α ∈ {0, π}.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 253 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplo (continuação)

Vejamos que a função f não é contínua em (0, 0). Fazendo

A ={

(x, y) ∈ R2 : y = 0}

e B ={

(x, y) ∈ R2 : y = x2}

,

temos

lim(x,y)→(0,0)

x∈A

f(x, y) = limx→0

f(x, 0) = limx→0

x2 0x4 + 02

= limx→0

0x4

= limx→0

0 = 0

e

lim(x,y)→(0,0)

x∈B

f(x, y) = limx→0

f(x, x2) = limx→0

x2 x2

x4 + (x2)2= lim

x→0

x4

2x4= lim

x→0

12

=12,

o que mostra que não existe limite no ponto (0, 0) e, portanto, a funçãonão é contínua nesse ponto.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 254 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Este exemplo mostra que uma função ter derivadas parciais ouderivadas direccionais não é uma condição suficiente para que umafunção seja contínua num ponto. É, portanto, necessário um conceitomais forte.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 255 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Pode-se provar que

Uma função f : D ⊆ R → R tem derivada no ponto a ∈ D de

acumulação de D se e só se existem um número real c e uma

função r : D∗ → R tais que

f(a+ h) = f(a) + ch+ r(h) para cada h ∈ D∗

e

limh→0

r(h)h

= 0,

onde

D∗ = {h ∈ R : a+ h ∈ D} .Além disso, nas condições anteriores tem-se c = f ′(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 256 / 427

Page 65: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.1 Definição e exemplos

Assim, dados uma função

f : D ⊆ R2 → R

e um ponto (a, b) interior a D, dizemos que f é diferenciável em (a, b)se existirem as derivadas parciais de f no ponto (a, b) e existir umafunção

r : D∗ → R,

ondeD∗ =

{

(h, k) ∈ R2 : (a+ h, b+ k) ∈ D}

,

tal que

lim(h,k)→(0,0)

r(h, k)‖(h, k)‖ = 0

e

f(a+ h, b+ k) = f(a, b) +∂f

∂x(a, b)h+

∂f

∂y(a, b)k + r(h, k)

para quaisquer (h, k) ∈ D∗.António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 257 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Fazendo (h, k) → (0, 0) em

f(a+ h, b+ k) = f(a, b) +∂f

∂x(a, b)h+

∂f

∂y(a, b)k + r(h, k)

temos

lim(h,k)→(0,0)

f(a+ h, b+ k)

= lim(h,k)→(0,0)

[

f(a, b) +∂f

∂x(a, b)h +

∂f

∂y(a, b)k + r(h, k)

]

= f(a, b)

o que mostra que uma função é contínua nos pontos onde édiferenciável!

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 258 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplos

a) Seja f : R2 → R a função definida por

f(x, y) =

x2y2

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0),

e estudemos a diferenciabilidade de f no ponto (0, 0). Para f serdiferenciável em (0, 0) tem de existir r : R2 → R tal que

lim(h,k)→(0,0)

r(h, k)√h2 + k2

= 0

e

f(h, k) = f(0, 0) +∂f

∂x(0, 0)h +

∂f

∂y(0, 0) k + r(h, k)

para qualquer (h, k) ∈ R2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 259 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Assim, calculemos as derivadas parciais de f noponto (0, 0):

∂f

∂x(0, 0) = lim

h→0

f(h, 0) − f(0, 0)h

= limh→0

h2.02

h2 + 02− 0

h= lim

h→0

0h

= limh→0

0 = 0,

∂f

∂y(0, 0) = lim

k→0

f(0, k) − f(0, 0)k

= limk→0

02.k2

02 + k2− 0

k= lim

k→0

0k

= limk→0

0 = 0.

De

f(h, k) = f(0, 0) +∂f

∂x(0, 0)h +

∂f

∂y(0, 0) k + r(h, k)

resulta queh2k2

h2 + k2= r(h, k).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 260 / 427

Page 66: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Como

lim(h,k)→(0,0)

r(h, k)√h2 + k2

= lim(h,k)→(0,0)

h2k2

h2+k2√h2 + k2

= lim(h,k)→(0,0)

h2k2

(h2 + k2)√h2 + k2

= lim(h,k)→(0,0)

kh2

h2 + k2

k√h2 + k2

= 0

pois as funçõesh2

h2 + k2e

k√h2 + k2

são limitadas, podemos

concluir que a função é diferenciável em (0, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 261 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplos (continuação)

b) Estudemos no ponto (0, 0) a diferenciabilidade da funçãof : R2 → R dada por

f(x, y) =

x2y

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0).

Comecemos por calcular as derivadas parciais de f no ponto (0, 0):

∂f

∂x(0, 0) = lim

h→0

f(h, 0) − f(0, 0)h

= limh→0

h2.0h2 + 02

− 0

h= lim

h→0

0h

= limh→0

0 = 0

e

∂f

∂y(0, 0) = lim

k→0

f(0, k) − f(0, 0)k

= limk→0

02.k

02 + k2− 0

k= lim

k→0

0k

= limk→0

0 = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 262 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Para f ser diferenciável no ponto (0, 0) tem de existir

r : R2 → R tal que lim(h,k)→(0,0)

r(h, k)√h2 + k2

= 0 e

f(h, k) = f(0, 0) +∂f

∂x(0, 0)h +

∂f

∂y(0, 0) k + r(h, k).

Desta última igualdade vem

r(h, k) =h2k

h2 + k2.

Vejamos que não existe

lim(h,k)→(0,0)

r(h, k)√h2 + k2

= lim(h,k)→(0,0)

h2k

(h2 + k2)√h2 + k2

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 263 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Fazendo A ={

(h, k) ∈ R2 : h = k}

temos

lim(h,k)→(0,0)

(h,k)∈A

r(h, k)√h2 + k2

= limh→0

r(h, h)√h2 + h2

= limh→0

h3

2h2√

2h2= lim

h→0

h

2√

2|h|

e este último limite não existe porque

limh→0+

h

2√

2|h|=

1

2√

2e lim

h→0−

h

2√

2|h|= − 1

2√

2.

Logo não existe

lim(h,k)→(0,0)

r(h, k)√h2 + k2

e, portanto, f não é diferenciável em (0, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 264 / 427

Page 67: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.1 Definição e exemplos

Uma função f : D ⊆ Rn → R diz-se diferenciável num ponto interiora = (a1, . . . , an) de D se existirem todas as derivadas parciais de f noponto a e uma função r : D∗ → R, onde

D∗ = {h = (h1, . . . , hn) ∈ Rn : a+ h ∈ D} ,tal que

lim‖h‖→0

r(h)‖h‖ = 0

e

f(a+ h) = f(a) +∂f

∂x1(a)h1 + · · · +

∂f

∂xn(a)hn + r(h),

isto é,f(a1 + h1, . . . , an + hn)

= f(a1, . . . , an) +∂f

∂x1(a1, . . . , an)h1 + · · · +

∂f

∂xn

(a1, . . . , an)hn + r(h1, . . . , hn),

para cada vector h = (h1, . . . , hn) ∈ D∗.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 265 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Tal como acontecia para funções de R2 para R, se f é diferenciável ema ∈ D, então f é contínua em a.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 266 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Uma função f : D ⊆ Rn → Rm, com f = (f1, . . . , fm), diz-sediferenciável num ponto a = (a1, . . . , an) interior a D se todas asfunções f1, . . . , fm são diferenciáveis em a.Assim, f é diferenciável em a se as funções f1, . . . , fm admitem, noponto a, derivadas parciais em relação a todas as variáveis e existemfunções r1, . . . , rm : D∗ → R tais que

f1(a+ h) = f1(a) +∂f1

∂x1(a)h1 + · · · +

∂f1

∂xn(a)hn + r1(h)

...

fm(a+ h) = fm(a) +∂fm∂x1

(a)h1 + · · · +∂fm∂xn

(a)hn + rm(h)

para cada h = (h1, . . . , hn) ∈ D∗ = {h = (h1, . . . , hn) ∈ Rn : a+ h ∈ D}e

lim‖h‖→0

r1(h)‖h‖ = · · · = lim

‖h‖→0

rm(h)‖h‖ = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 267 / 427

§3.2.1 Definição e exemplos

Usando matrizes temos que f é diferenciável em a = (a1, . . . , an) se e sóse as funções f1, . . . , fm admitem, no ponto a, derivadas parciais emrelação a todas as variáveis e existem funções

r1, . . . , rm : D∗ → R

tais que

f1(a+ h)

...

fm(a+ h)

=

f1(a)

...

fm(a)

+

∂f1

∂x1(a) · · · ∂f1

∂xn(a)

.... . .

...∂fm

∂x1(a) · · · ∂fm

∂xn(a)

.

h1

...

hn

+

r1(h)

...

rm(h)

para cada h ∈ D∗ e

lim‖h‖→0

r1(h)‖h‖ = · · · = lim

‖h‖→0

rm(h)‖h‖ = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 268 / 427

Page 68: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.1 Definição e exemplos

Já vimos que a matriz

Ja(f) =

∂f1

∂x1(a) · · · ∂f1

∂xn(a)

.... . .

...∂fm∂x1

(a) · · · ∂fm∂xn

(a)

se designa por matriz jacobiana de f no ponto a.

Quando f é diferenciável em a a matriz jacobiana de f em a designa-sepor derivada de f no ponto a e representa-se por

f ′(a) ou Df(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 269 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em R

m

Definição e exemplosPropriedades elementaresHiperplano tangente e aproximação linearDerivada da função compostaTeorema de SchwarzTeorema da função implícita

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 270 / 427

§3.2.2 Propriedades elementares

Propriedades

a) Se f, g : D ⊆ Rn → Rm são diferenciáveis num ponto a interior a D,entãoi) f + g é diferenciável em a e

(f + g)′(a) = f ′(a) + g′(a);

ii) para qualquer λ ∈ R, λf é diferenciável em a e

(λf)′(a) = λf ′(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 271 / 427

§3.2.2 Propriedades elementares

Propriedades

b) Se f, g : D ⊆ Rn → R são diferenciáveis num ponto a interior a D,entãoi) fg é diferenciável em a e

(fg)′(a) = f ′(a)g(a) + f(a)g′(a);

ii) se g(a) 6= 0,f

gé diferenciável em a e

(f

g

)′(a) =

f ′(a)g(a) − f(a)g′(a)

[g(a)]2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 272 / 427

Page 69: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.2 Propriedades elementares

Propriedades

c) Se f : D ⊆ Rn → Rm é diferenciável em a e u = (u1, . . . , un) ∈ Rn,então existe f ′

u(a) e

f ′u(a) =

[f ′(a)

].u =

∂f1

∂x1(a) · · · ∂f1

∂xn(a)

.... . .

...∂fm∂x1

(a) · · · ∂fm∂xn

(a)

.

u1

...

un

d) Sejam D um subconjunto de Rn e f : D ⊆ Rn → R uma funçãopara a qual existem todas as derivadas parciais. Então f édiferenciável em todos os pontos em que n− 1 dessas derivadasparciais são contínuas. Em particular, se todas as derivadas parciaissão contínuas num ponto, a função é diferenciável nesse ponto.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 273 / 427

§3.2.2 Propriedades elementares

É de notar que se f : D ⊆ Rn → R é uma função diferenciável numponto a interior a D, a propriedade c) que vimos anteriormente fica

f ′u(a) =

[∂f

∂x1(a) · · · ∂f

∂xn(a)]

·

u1

...

un

=∂f

∂x1(a)u1 + · · · +

∂f

∂xn(a)un.

Recordando que dados b = (b1, . . . , bn) e c = (c1, . . . , cn) em Rn, oproduto escalar ou interno entre b e c é dado por

〈b, c〉 = b1c1 + b2c2 + · · · + bncn,

tem-se

f ′u(a) =

∂f

∂x1(a)u1 + · · · +

∂f

∂xn(a)un = 〈(∇f)(a), u〉 .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 274 / 427

§3.2.2 Propriedades elementares

Assim, sef : D ⊆ Rn → R

é uma função diferenciável num ponto a interior a D, pela desigualdadede Cauchy-Schwarz, temos

∣∣f ′u(a)

∣∣ = |〈(∇f)(a), u〉| 6 ‖(∇f)(a)‖ ‖u‖,

verificando-se igualdade apenas se os vectores (∇f)(a) e u sãolinearmente dependentes.

Daqui podemos concluir que, se o gradiente num dado ponto é não nuloe a função é diferenciável nesse ponto, de entre todas as derivadasdireccionais nesse ponto, é na direcção e no sentido do gradiente que aderivada direccional é maior e é na direcção e no sentido contrário aodo gradiente que a derivada direccional é menor.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 275 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em R

m

Definição e exemplosPropriedades elementaresHiperplano tangente e aproximação linearDerivada da função compostaTeorema de SchwarzTeorema da função implícita

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 276 / 427

Page 70: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.3 Hiperplano tangente e aproximação linear

Dada uma funçãof : D ⊆ Rn → R

diferenciável num ponto a = (a1, . . . , an) interior a D, chama-sehiperplano tangente ao gráfico de f no ponto (a1, . . . , an, f(a)) aoconjunto dos pontos de Rn+1 definido pela equação

xn+1 = f(a) +∂f

∂x1(a)(x1 − a1) + · · · +

∂f

∂xn(a)(xn − an).

Quando n = 2 o hiperplano tangente designa-se simplesmente porplano tangente, ou seja, dada uma função

f : D ⊆ R2 → R

diferenciável num ponto (a, b) interior a D, chama-se plano tangenteao gráfico de f no ponto (a, b, f(a, b)) ao plano definido pela equação

z = f(a, b) +∂f

∂x(a, b)(x− a) +

∂f

∂y(a, b)(y − b).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 277 / 427

§3.2.3 Hiperplano tangente e aproximação linear

Exemplo

Para a funçãof : R2 → R

definida por

f(x, y) =

x2y2

x2 + y2se (x, y) 6= (0, 0),

0 se (x, y) = (0, 0),

que já vimos ser diferenciável em (0, 0), o plano tangente ao gráfico def no ponto (0, 0, f(0, 0)) é dado pela equação

z = 0,

pois

f(0, 0) =∂f

∂x(0, 0) =

∂f

∂y(0, 0) = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 278 / 427

§3.2.3 Hiperplano tangente e aproximação linear

Sejaf : D ⊆ Rn → R

diferenciável num ponto a = (a1, . . . , an) interior a D. A

L(x) = f(a) +∂f

∂x1(a)(x1 − a1) + · · · +

∂f

∂xn(a)(xn − an)

chamamos aproximação linear ou linearização de f no ponto a ecostuma escrever-se

f(x) ≈ f(a) +∂f

∂x1(a)(x1 − a1) + · · · +

∂f

∂xn(a)(xn − an).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 279 / 427

§3.2.3 Hiperplano tangente e aproximação linear

Exemplo

Seja f : R2 → R a função dada por f(x, y) = x ey + sen y. Esta função édiferenciável no ponto (0, 0). Como

∂f

∂x(x, y) = ey e

∂f

∂y(x, y) = x ey + cos y

temos∂f

∂x(0, 0) = 1 e

∂f

∂y(0, 0) = 1.

Tendo em conta que f(0, 0) = 0, uma equação do plano tangente aográfico de f no ponto (0, 0, f(0, 0)) = (0, 0, 0) é

z = f(0, 0) +∂f

∂x(0, 0)(x − 0) +

∂f

∂y(0, 0)(y − 0)

= x+ y.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 280 / 427

Page 71: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.3 Hiperplano tangente e aproximação linear

Exemplo (continuação)

A aproximação linear de f no ponto (0, 0) é dada por

f(x, y) ≈ f(0, 0) +∂f

∂x(0, 0)(x − 0) +

∂f

∂y(0, 0)(y − 0)

≈ x+ y.

Usando a aproximação linear temos

f(0.1, 0.2) ≈ 0.1 + 0.2 = 0.3 e f(1, 1) ≈ 1 + 1 = 2.

De facto,

f(0.1, 0.2) = 0.3208096066... e f(1, 1) = 3.559752813...

ou seja, a primeira aproximação é bastante melhor do que a segunda.Tal deve-se ao facto de a distância de (0.1, 0.2) a (0, 0) ser menor doque a distância de (1, 1) a (0, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 281 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em R

m

Definição e exemplosPropriedades elementaresHiperplano tangente e aproximação linearDerivada da função compostaTeorema de SchwarzTeorema da função implícita

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 282 / 427

§3.2.4 Derivada da função composta

Derivada da função composta

Sejamf : Df ⊆ Rn → Rm e g : Dg ⊆ Rm → Rk

funções tais que f(Df ) ⊆ Dg. Suponhamos que a é um ponto interiorde Df . Se

f é diferenciável em a e g é diferenciável em f(a),

entãog ◦ f é diferenciável em a

e(g ◦ f)′ (a) = g′ (f(a)) · f ′(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 283 / 427

§3.2.4 Derivada da função composta

Fazendo

x = (x1, . . . , xn) , f(x) = y = (y1, . . . , ym) e g(y) = z = (z1, . . . , zk)

resulta que a matriz jacobiana de f no ponto a é

Ja(f) =

∂f1

∂x1(a) · · · ∂f1

∂xn(a)

.... . .

...∂fm∂x1

(a) · · · ∂fm∂xn

(a)

e a matriz jacobiana de g no ponto b = f(a) é a matriz

Jb(g) =

∂g1

∂y1(b) · · · ∂g1

∂ym(b)

.... . .

...∂gk∂y1

(b) · · · ∂gk∂ym

(b)

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 284 / 427

Page 72: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.4 Derivada da função composta

Pondo h = g ◦ f , como

h′(a) = (g ◦ f)′ (a) = g′ (f(a)) · f ′(a) = g′(b) · f ′(a),

tem-seJa(h) = Jb(g) · Ja(f).

Assim,

∂h1

∂x1(a) · · · ∂h1

∂xn(a)

.... . .

...∂hk

∂x1(a) · · · ∂hk

∂xn(a)

=

∂g1

∂y1(b) · · · ∂g1

∂ym(b)

.... . .

...∂gk

∂y1(b) · · · ∂gk

∂ym(b)

.

∂f1

∂x1(a) · · · ∂f1

∂xn(a)

.... . .

...∂fm

∂x1(a) · · · ∂fm

∂xn(a)

e, portanto,

∂hi

∂xj(a) =

∂gi

∂y1(b)

∂f1

∂xj(a) +

∂gi

∂y2(b)

∂f2

∂xj(a) + · · · +

∂gi

∂ym(b)

∂fm

∂xj(a).

para i = 1, . . . , k e j = 1, . . . , n.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 285 / 427

§3.2.4 Derivada da função composta

Omitindo os pontos onde estamos a calcular as derivadas parciais esubstituindo as notações

∂hi∂xj

,∂gi∂yℓ

e∂fℓ∂xj

por∂zi∂xj

,∂zi∂yℓ

e∂yℓ∂xj

,

respectivamente, a última igualdade do slide anterior fica

∂zi∂xj

=∂zi∂y1

∂y1

∂xj+∂zi∂y2

∂y2

∂xj+ · · · +

∂zi∂ym

∂ym∂xj

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 286 / 427

§3.2.4 Derivada da função composta

Exemplo

Sejam f : R2 → R3 e g : R3 → R2 as funções dadas por

f(x, y) =(

x2, 3xy, sen(x+ y))

e g(u, v,w) = (u+ v − w, 2uv) .

Estas duas funções são diferenciáveis em todo o seu domínio. Então∂f1

∂x(x, y) = 2x,

∂f1

∂y(x, y) = 0,

∂f2

∂x(x, y) = 3y,

∂f2

∂y(x, y) = 3x,

∂f3

∂x(x, y) = cos(x+ y),

∂f3

∂y(x, y) = cos(x+ y),

pelo que

J(x,y)(f) =

2x 03y 3x

cos(x+ y) cos(x+ y)

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 287 / 427

§3.2.4 Derivada da função composta

Exemplo (continuação)

Quanto à função g, atendendo que g(u, v,w) = (u+ v − w, 2uv), temos

∂g1

∂u(u, v,w) = 1,

∂g1

∂v(u, v,w) = 1,

∂g1

∂w(u, v,w) = −1,

e∂g2

∂u(u, v,w) = 2v,

∂g2

∂v(u, v,w) = 2u,

∂g2

∂w(u, v,w) = 0

e, consequentemente,

J(u,v,w)(g) =

[

1 1 − 12v 2u 0

]

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 288 / 427

Page 73: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.4 Derivada da função composta

Exemplo (continuação)

Fazendo h = g ◦ f , temos

J(x,y)(h) = Jf(x,y)(g) · J(x,y)(f)

e, portanto, vem

J(x,y)(h) =

[

1 1 −16xy 2x2 0

]

.

2x 03y 3x

cos(x+ y) cos(x+ y)

=

[

2x+ 3y − cos(x+ y) 3x− cos(x+ y)18x2y 6x3

]

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 289 / 427

§3.2.4 Derivada da função composta

Exemplo (continuação)

Este resultado pode ser confirmado directamente pois, mantendoh = g ◦ f , temos

h(x, y) = (g ◦ f)(x, y)

= g(f(x, y))

= g(x2, 3xy, sen(x+ y))

= (x2 + 3xy − sen(x+ y), 6x3y)

pelo que

J(x,y)(h) =

[

2x+ 3y − cos(x+ y) 3x− cos(x+ y)18x2y 6x3

]

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 290 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em R

m

Definição e exemplosPropriedades elementaresHiperplano tangente e aproximação linearDerivada da função compostaTeorema de SchwarzTeorema da função implícita

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 291 / 427

§3.2.5 Teorema de Schwarz

Já vimos que as derivadas mistas podem não ser iguais. No entanto, hácasos em que é possível garantir à partida que as derivadas mistas sãoiguais. O próximo teorema, conhecido como teorema de Schwarz ou deClairaut, dá-nos condições em que tal facto acontece.

Teorema de Schwarz

Sejam D um subconjunto aberto de Rn, n > 1, e

f : D ⊆ Rn → R

uma função. As derivadas

f ′′xixj

e f ′′xjxi

são iguais em todos os pontos em que f ′xi

e f ′xj

sejam diferenciáveis.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 292 / 427

Page 74: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.5 Teorema de Schwarz

Seja D um subconjunto aberto de Rn. Uma função

f : D ⊆ Rn → R

diz-se de classe Ck, k ∈ N, se existem todas as derivadas parciais de faté à ordem k e todas essas derivadas são contínuas.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 293 / 427

§3.2.5 Teorema de Schwarz

Corolário do Teorema de Schwarz

Seja D um subconjunto aberto de Rn. Se

f : D ⊆ Rn → R

é uma função de classe C2, então

f ′′xixj

(x) = f ′′xjxi

(x)

para qualquer x ∈ D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 294 / 427

§3.2.5 Teorema de Schwarz

Corolário do Teorema de Schwarz

Sejam D um subconjunto aberto de Rn e

f : D ⊆ Rn → R

uma função de classe Ck. Então é indiferente a ordem de derivação atéà ordem k.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 295 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em R

m

Definição e exemplosPropriedades elementaresHiperplano tangente e aproximação linearDerivada da função compostaTeorema de SchwarzTeorema da função implícita

Aplicações

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 296 / 427

Page 75: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.6 Teorema da função implícita

Existem funções que não são definidas explicitamente, são apenasdefinidas implicitamente. Por exemplo, a equação

(1 + x2)y + sen x = 0

define implicitamente y como função de x, aliás podemos inclusivedefinir explicitamente y como função de x pois a equação dada éequivalente a

y = − senx1 + x2

.

Será que a equação(1 + x2)y + sen(xy) = 0

também define y como função de x? Neste segundo caso nãoconseguimos resolver a equação em ordem a y e, por conseguinte, nãopodemos fazer o que fizemos no caso anterior.

O teorema da função implícita permite-nos responder a este tipo dequestões. Além disso, permite-nos também calcular a derivada dafunção.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 297 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Teorema da função implícita (n = 2)

Sejam D um subconjunto aberto de R2 e

F : D ⊆ R2 → R

uma função com derivadas parciais de primeira ordem contínuas.Suponhamos que existe (a, b) ∈ D tal que

F (a, b) = 0 e∂F

∂y(a, b) 6= 0.

Então existem um aberto O ⊆ R que contém a e uma e uma só função

f : O ⊆ R → R

com derivada contínua tal que

f(a) = b

e

F (x, f(x)) = 0 para qualquer x ∈ O.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 298 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Nas condições do teorema anterior diz-se que

F (x, y) = 0

define implicitamente y como função de x e usa-se a notação

y(x),dy

dxou y′

em vez de

f(x),df

dxou f ′,

respectivamente.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 299 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Além disso, comoF (x, y(x)) = 0

temos pela derivada da função composta

∂F

∂x(x, y) +

∂F

∂y(x, y)

dy

dx(x) = 0

pelo que

dy

dx(x) = −

∂F

∂x(x, y(x))

∂F

∂y(x, y(x))

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 300 / 427

Page 76: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.6 Teorema da função implícita

Exemplo

Consideremos a função F : R2 → R definida por

F (x, y) = x3 + 2xy + y4 − 4.

As derivadas parciais de F são

∂F

∂x(x, y) = 3x2 + 2y e

∂F

∂y(x, y) = 2x+ 4y3.

Como as derivadas parciais de F são funções contínuas,

F (1, 1) = 0 e∂F

∂y(1, 1) = 2 · 1 + 4 · 13 = 6 6= 0,

pelo teorema da função implícita, F (x, y) = 0 define implicitamente y comofunção de x num aberto O ⊆ R ao qual 1 pertence e y(1) = 1. Além disso,

dy

dx(1) = −

∂F

∂x(1, y(1))

∂F

∂y(1, y(1))

= −∂F

∂x(1, 1)

∂F

∂y(1, 1)

= −56.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 301 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Vamos agora generalizar o teorema da função implícita para funções

F : D ⊆ Rn+1 → R, n > 1.

Por uma questão de simplicidade de escrita vamos escrever

F (a1, . . . , an, b) e F (x1, . . . , xn, y)

em vez de

F (a1, . . . , an, an+1) e F (x1, . . . , xn, xn+1),

respectivamente.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 302 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Teorema da função implícita

Sejam D um subconjunto aberto de Rn+1 e

F : D ⊆ Rn+1 → R

uma função com derivadas parciais de primeira ordem contínuas.Suponhamos que existe (a1, . . . , an, b) ∈ D tal que

F (a1, . . . , an, b) = 0 e∂F

∂y(a1, . . . , an, b) 6= 0.

Então existem um aberto O ⊆ Rn que contém (a1, . . . , an) e uma euma só função

f : O ⊆ Rn → R

com derivadas parciais contínuas tal que

f(a1, . . . , an) = b

e

F (x1, . . . , xn, f(x1, . . . , xn)) = 0 para qualquer (x1, . . . , xn) ∈ O.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 303 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Tal como no caso n+ 1 = 2 dizemos que

F (x1, . . . , xn, y) = 0

define implicitamente y como função de (x1, . . . , xn) e usamos a notação

y(x1, . . . , xn) e∂y

∂xi,

em vez de

f(x1, . . . , xn) e∂f

∂xi,

respectivamente.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 304 / 427

Page 77: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.2.6 Teorema da função implícita

Da equaçãoF (x1, . . . , xn, y(x1, . . . , xn)) = 0,

pela derivada da função composta tem-se

∂F

∂xi

(x1, . . . , xn, y(x1, . . . , xn)) +∂F

∂y(x1, . . . , xn, y(x1, . . . , xn))

∂y

∂xi

(x1, . . . , xn) = 0

e, portanto,

∂y

∂xi(x1, . . . , xn) = −

∂F

∂xi(x1, . . . , xn, y(x1, . . . , xn))

∂F

∂y(x1, . . . , xn, y(x1, . . . , xn))

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 305 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Exemplo

Vejamos que a equação

xyz sen(x+ 2y − z) = π

define implicitamente z como função de x e de y numa vizinhança do ponto(π/2, 1, 2). Para isso consideremos a função

F (x, y, z) = xyz sen(x+ 2y − z) − π.

Calculemos as derivadas parciais de F :

∂F

∂x(x, y, z) = yz sen(x+ 2y − z) + xyz cos(x+ 2y − z),

∂F

∂y(x, y, z) = xz sen(x+ 2y − z) + 2xyz cos(x+ 2y − z),

∂F

∂z(x, y, z) = xy sen(x+ 2y − z) − xyz cos(x+ 2y − z).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 306 / 427

§3.2.6 Teorema da função implícita

Exemplo (continuação)

Como as derivadas parciais de F são contínuas,

F(π

2, 1, 2

)

= π sen(π

2+ 2 · 1 − 2

)

− π = π − π = 0

e∂F

∂z

2, 1, 2

)

= π/2 sen(π

2+ 2 · 1 − 2

)

− π cos(π

2+ 2 · 1 − 2

)

= π/2,

pelo teorema da função implícita, a equação F (x, y, z) = 0 defineimplicitamente z como função de x e de y. Além disso,

∂z

∂x

2, 1)

= −∂F

∂x

2, 1, 2

)

∂F

∂z

2, 1, 2

) = − 2π/2

= − 4π

e

∂z

∂y

2, 1)

= −

∂F

∂y

2, 1, 2

)

∂F

∂z

2, 1, 2

) = − π

π/2= −2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 307 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em Rm

AplicaçõesExtremos locais e extremos absolutosExtremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 308 / 427

Page 78: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em Rm

AplicaçõesExtremos locais e extremos absolutosExtremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 309 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Recordemos os conceitos de máximo e de mínimo absoluto.

Sejaf : D ⊆ Rn → R

uma função escalar e A um subconjunto não vazio de D. Dizemos quef tem um máximo (absoluto) no ponto a ∈ A ou que f(a) é ummáximo (absoluto) de f em A se

f(x) 6 f(a) para todo o x ∈ A.

Quandof(x) > f(a) para todo o x ∈ A,

dizemos que f tem um mínimo (absoluto) no ponto a ∈ A ou quef(a) é um mínimo (absoluto) de f em A.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 310 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Recordemos também o Teorema de Weierstrass.

Teorema de Weierstrass

Sejaf : D ⊆ Rn → R

uma função contínua num subconjunto não vazio, fechado e limitadoA ⊆ D. Então f tem extremos absolutos em A.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 311 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Sejam D um subconjunto não vazio de Rn e

f : D ⊆ Rn → R

uma função escalar. Dizemos que f tem um máximo local no pontoa ∈ D se existir ε > 0 tal que

f(x) 6 f(a) para qualquer x ∈ D ∩Bε(a)

e que f tem um mínimo local no ponto a ∈ D se existir ε > 0 tal que

f(x) > f(a) para qualquer x ∈ D ∩Bε(a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 312 / 427

Page 79: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Um ponto do domínio de uma função em que é atingido um valor demáximo designa-se por ponto de máximo ou ponto maximizante.

Do mesmo modo, um ponto do domínio de uma função em que éatingido o valor de mínimo designa-se por ponto de mínimo ouponto minimizante.

Os máximos e os mínimos de uma função dizem-se extremos dafunção e os pontos onde a função atinge os extremos designam-se porpontos de extremo ou extremantes.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 313 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Teorema de Fermat

Sejaf : D ⊆ Rn → R

uma função diferenciável num ponto a interior a D. Se f(a) é umextremo local de f , então

∂f

∂x1(a) =

∂f

∂x2(a) = · · · =

∂f

∂xn(a) = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 314 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Os pontos a ∈ D tais que

∂f

∂x1(a) =

∂f

∂x2(a) = · · · =

∂f

∂xn(a) = 0

designam-se por pontos de estacionaridade ou por pontos críticos.

Os pontos de estacionaridade que não são extremantes designam-se porpontos de sela.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 315 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Assim, a primeira coisa que temos de fazer para determinar osextremos locais de uma função

f : D ⊆ Rn → R

diferenciável é resolver o sistema

∂f

∂x1(a) = 0,

∂f

∂x2(a) = 0,

...

∂f

∂xn(a) = 0.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 316 / 427

Page 80: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplo

Seja f : R2 → R a função definida por

f(x, y) = x3 + 3x2 − y2.

Esta função é diferenciável em todo o seu domínio. Atendendo a que

∂f

∂x(x, y) = 3x2 + 6x e

∂f

∂y(x, y) = −2y,

calculemos os seus pontos de estacionaridade:

∂f

∂x= 0

∂f

∂y= 0

3x2 + 6x = 0

−2y = 0⇔

3x(x + 2) = 0

y = 0⇔

x = 0

y = 0∨

x = −2

y = 0

Assim, os pontos de estacionaridade de f são (0, 0) e (−2, 0). Será quealgum deles é extremante?

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 317 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplo (continuação)

Fazendo y =√

3x em

f(x, y) = x3 + 3x2 − y2.

temosf(x,

√3x) = x3 + 3x2 − 3x2 = x3

e, comof(x,

√3x) > 0 se x > 0

ef(x,

√3x) < 0 se x < 0,

tendo em conta que f(0, 0) = 0, concluímos que (0, 0) não é extremante,ou seja, é um ponto de sela.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 318 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplo (continuação)

Por outro lado,

f(x, y) − f(−2, 0) = x3 + 3x2 − y2 − 4

= x3 + 2x2 + x2 − 4 − y2

= x2(x+ 2) + (x− 2)(x+ 2) − y2

= (x2 + x− 2)(x+ 2) − y2

= (x− 1)(x+ 2)(x + 2) − y2

= (x− 1)(x+ 2)2 − y2

e, como

(x− 1)(x+ 2)2 − y26 0 para qualquer x ∈ B1((−2, 0)),

o ponto (−2, 0) é um ponto de máximo.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 319 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

A forma como no exemplo anterior verificámos que (0, 0) não eraextremante e que (−2, 0) era um maximizante não é muito prática.

Vejamos uma forma mais prática de o fazer. Para isso precisamos damatriz hessiana. Dada uma função f : D ⊆ Rn → R de classe C2

chama-se matriz hessiana de f num ponto a ∈ D à matriz

Hf (a) =

∂2f

∂x1∂x1(a)

∂2f

∂x2∂x1(a) · · · ∂2f

∂xn∂x1(a)

∂2f

∂x1∂x2(a)

∂2f

∂x2∂x2(a) · · · ∂2f

∂xn∂x2(a)

......

. . ....

∂2f

∂x1∂xn(a)

∂2f

∂x2∂xn(a) · · · ∂2f

∂xn∂xn(a)

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 320 / 427

Page 81: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Suponhamos que a é um ponto de estacionaridade de f e por facilidadede escrita representemos a matriz hessiana de f no ponto a por

Hf (a) =

a1,1 a1,2 · · · a1,n

a2,1 a2,2 · · · a2,n

......

. . ....

an,1 an,2 · · · an,n

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 321 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Façamos

∆0 = 1

∆1 = a1,1

∆2 = det[a1,1 a1,2

a2,1 a2,2

]

=∣∣∣∣

a1,1 a1,2

a2,1 a2,2

∣∣∣∣

∆3 = det

a1,1 a1,2 a1,3

a2,1 a2,2 a2,3

a3,1 a3,2 a3,3

=

∣∣∣∣∣∣

a1,1 a1,2 a1,3

a2,1 a2,2 a2,3

a3,1 a3,2 a3,3

∣∣∣∣∣∣

...

∆n = det

a1,1 a1,2 · · · a1,n

a2,1 a2,2 · · · a2,n

......

. . ....

an,1 an,2 · · · an,n

=

∣∣∣∣∣∣∣∣∣

a1,1 a1,2 · · · a1,n

a2,1 a2,2 · · · a2,n

......

. . ....

an,1 an,2 · · · an,n

∣∣∣∣∣∣∣∣∣

= detHf (a).

Os ∆i, i = 1, . . . , n, chamam-se menores principais da matriz Hf (a).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 322 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Então

a) se em∆0 = 1, ∆1, ∆2, . . . , ∆n

só houver permanências de sinal, ou seja, todos os ∆i, i = 1, . . . , n,são positivos, então f(a) é um mínimo local de f ;

b) se em∆0 = 1, ∆1, ∆2, . . . , ∆n

só houver variações de sinal, ou seja, (−1)i∆i > 0, i = 1, . . . , n,então f(a) é um máximo local de f ;

c) se em∆0 = 1, ∆1, ∆2, . . . , ∆n

houver permanências de sinal e variações de sinal, então a é umponto de sela.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 323 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplos

a) Voltando ao exemplo inicial da função definida por

f(x, y) = x3 + 3x2 − y2

já vimos que∂f

∂x(x, y) = 3x2 + 6x e

∂f

∂y(x, y) = −2y

e que os pontos de estacionaridade são (0, 0) e (−2, 0) pois

∂f

∂x= 0

∂f

∂y= 0

3x2 + 6x = 0

−2y = 0⇔

3x(x+ 2) = 0

y = 0⇔

x = 0

y = 0∨

x = −2

y = 0.

Além disso, a matriz hessiana de f é

Hf (x, y) =

[6x+ 6 0

0 −2

]

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 324 / 427

Page 82: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Assim,

Hf (0, 0) =

[

6 0

0 −2

]

e, como

∆0 = 1, ∆1 = 6 e ∆2 =

∣∣∣∣∣

6 0

0 −2

∣∣∣∣∣

= −12,

o ponto (0, 0) é um ponto de sela. Por outro lado

Hf (−2, 0) =

[

−6 0

0 −2

]

e atendendo a que

∆0 = 1, ∆1 = −6 e ∆2 =

∣∣∣∣∣

−6 0

0 −2

∣∣∣∣∣

= 12

o ponto (−2, 0) é um ponto de máximo local.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 325 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplos (continuação)

b) Seja f : R3 → R a função dada por

f(x, y, z) = x2 + y2 + 3z2 + yz + 2xz − xy.

Os pontos de estacionaridade de f são dados por

∂f

∂x= 0

∂f

∂y= 0

∂f

∂z= 0

2x+ 2z − y = 0

2y + z − x = 0

6z + y + 2x = 0

2x− y + 2z = 0

−x+ 2y + z = 0

2x+ y + 6z = 0

x = 0

y = 0

z = 0

e a matriz hessiana é

Hf (x, y, z) =

2 −1 2− 1 2 12 1 6

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 326 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Para esta matriz hessiana

Hf (0, 0, 0) =

2 −1 2−1 2 12 1 6

,

temos

∆0 = 1, ∆1 = 2, ∆2 =∣∣∣∣

2 −1−1 2

∣∣∣∣

= 3, ∆3 =

∣∣∣∣∣∣

2 −1 2−1 2 12 1 6

∣∣∣∣∣∣

= 4,

pelo que f tem um mínimo local no ponto (0, 0, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 327 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Observações

a) Se f(a) é um mínimo local de f , então

∆1 > 0, ∆2 > 0, . . . , ∆n > 0.

b) Se f(a) é um máximo local de f , então

∆1 6 0, ∆2 > 0, . . . , (−1)n∆n > 0.

c) O recíproco das duas alíneas anteriores é falso.

d) Outro processo de determinar se um ponto de estacionaridade éextremante utiliza os valores próprios da matriz hessiana.

i) Se os valores próprios da matriz hessiana são todos positivos, entãotemos um ponto de mínimo.

ii) Se os valores próprios da matriz hessiana são todos negativos, entãotemos um ponto de máximo.

iii) Se a matriz hessiana tiver valores próprios positivos e valores própriosnegativos, então temos um ponto de sela.

iv) Se a matriz hessiana tiver valores próprios nulos, e os valores própriosnão nulos tiverem todos o mesmo sinal nada se pode concluir.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 328 / 427

Page 83: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplo

Calculemos os pontos de estacionaridade da função dada por

f(x, y) = x2y − y.

Para isso temos de resolver o sistema

∂f

∂x= 0

∂f

∂y= 0

2xy = 0

x2 − 1 = 0⇔

y = 0

x = 1∨

y = 0

x = −1.

Assim, os pontos de estacionaridade de f são (1, 0) e (−1, 0). A matrizhessiana de f é

Hf (x, y) =[

2y 2x2x 0

]

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 329 / 427

§3.3.1 Extremos locais e extremos absolutos

Exemplo (continuação)

Assim,

Hf (1, 0) =[

0 22 0

]

e, portanto,∆0 = 1, ∆1 = 0 e ∆2 = −4.

Pelas alíneas a) e b) das observações concluímos que (1, 0) é um ponto de sela.Por outro lado,

Hf (−1, 0) =[

0 −2−2 0

]

e para este caso também temos

∆0 = 1, ∆1 = 0 e ∆2 = −4

o que permite concluir do mesmo modo que (−1, 0) é um ponto de sela.Podíamos ter chegado à mesma conclusão verificando que os valores própriosde ambas as matrizes são −2 e 2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 330 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

Derivadas parciais e derivadas direccionaisDiferenciabilidade de funções de Rn em Rm

AplicaçõesExtremos locais e extremos absolutosExtremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

4 Cálculo integral em Rn

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 331 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Suponhamos que pretendemos determinar quais as dimensões dorectângulo de perímetro igual a 2 que tem a área máxima. Designemosos comprimentos dos lados do rectângulo por x e y,

x

y

O que pretendemos é determinar o valor máximo da função

A(x, y) = xy

no conjunto dos pontos (x, y) (ambos não negativos) que verificam

2x+ 2y = 2,

ou sejax+ y = 1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 332 / 427

Page 84: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Como x+ y = 1 é equivalente a y = 1 − x, obtemos para os pontos queverificam esta condição A(x, y) = A(x, 1 − x) = x(1 − x). Bastaportanto determinar o valor de x ∈ [0, 1] que maximiza a funçãoA(x, 1 − x). Como

A′(x, 1 − x) = 0 ⇔ [x(1 − x)]′ = 0 ⇔ 1 − 2x = 0 ⇔ x =12,

podemos construir o seguinte quadro

0 1/2 2A′(x, 1 − x) + + 0 − −A(x, 1 − x) ր max ց

Concluímos que x = 1/2 corresponde a um ponto de máximo da funçãocuja segunda coordenada é y = 1 − 1/2 = 1/2. O tal rectângulo é umquadrado de lado 1/2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 333 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Na resolução anterior foi fundamental conseguirmos resolver a equação

x+ y = 1

em ordem a y. Como fazer se tal não for possível? A resposta é dadapelo método dos multiplicadores de Lagrange. Vejamos umexemplo.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 334 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplo

Pretendemos determinar os extremos absolutos da função

f(x, y) = x2 + ysujeita à condição

x2 + y2 = 1.

Para isso consideramos uma nova função

F (x, y, λ) = x2 + y + λ(x2 + y2 − 1),

e calculamos os seus pontos de estacionaridade:

∂F∂x (x, y, λ) = 0∂F∂y (x, y, λ) = 0∂F∂λ (x, y, λ) = 0

2x+ 2xλ = 01 + 2yλ = 0x2 + y2 − 1 = 0

2x(1 + λ) = 0——–——–

x = 0——–y2 = 1

λ = −1y = 1/2x2 = 3/4

x = 0λ = −1/2y = 1

x = 0λ = 1/2y = −1

λ = −1y = 1/2x = ±

√3/2

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 335 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplo (continuação)

Os candidatos a extremo absoluto são

(0, 1), (0,−1), (√

3/2, 1/2) e (−√

3/2, 1/2).

Como sabemos que o conjunto

C ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y2 = 1}

é fechado e limitado e a função

f(x, y) = x2 + y

é contínua, o Teorema de Weierstrass garante-nos que temos um máximo eum mínimo absoluto de f em C. Como

f(0, 1) = 1, f(0,−1) = −1 e f(−√

3/2, 1/2) = f(√

3/2, 1/2) = 5/4,

concluímos que o máximo absoluto é 5/4 e o mínimo absoluto é −1.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 336 / 427

Page 85: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Vamos agora descrever um método geral para determinar os pontoscandidatos a extremo. Dada uma função de classe C1,

f : D ⊆ Rn → R,

para determinar os extremos desta função sujeita às m 6 n condições

ϕ1(x1, . . . , xn) = 0, . . . , ϕm(x1, . . . , xn) = 0,

com ϕ1, . . . , ϕm funções de classe C1, consideramos a função

F (x1, . . . , xn, λ1, . . . , λm)

= f(x1, . . . , xn) + λ1ϕ1(x1, . . . , xn) + · · · + λmϕm(x1, . . . , xn).

Determinamos os pontos de estacionaridade desta nova função. Entreestes pontos encontram-se pontos tais que as primeiras n coordenadascorrespondem às coordenadas dos pontos de extremo da função f , casoestes existam.Os λi que surgem na função F designam-se por multiplicadores deLagrange.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 337 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos

a) Pretendemos determinar, utilizando os multiplicadores de Lagrange,os extremos absolutos da função

f(x, y, z) = x+ 2ysujeita às restrições

x+ y + z = 1 e y2 + z2 = 4.Como o conjunto

A ={

(x, y, z) ∈ R3 : x+ y + z = 1 ∧ y2 + z2 = 4}

é um conjunto limitado e fechado e a função f é contínua, peloTeorema de Weierstrass, f tem máximo e mínimo absolutos nesteconjunto.Vamos determiná-los usando o método dos multiplicadores deLagrange. Escrevemos a nova função

F (x, y, z, λ, µ) = x+ 2y + λ(x+ y + z − 1) + µ(y2 + z2 − 4).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 338 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Temos

∂F∂x (x, y, z, λ, µ) = 0∂F∂y (x, y, z, λ, µ) = 0∂F∂z (x, y, z, λ, µ) = 0∂F∂λ (x, y, z, λ, µ) = 0∂F∂µ (x, y, z, λ, µ) = 0

1 + λ = 0

2 + λ+ 2µy = 0

λ+ 2µz = 0

x+ y + z = 1

y2 + z2 = 4

λ = −1

2µy = −1

2µz = 1

λ = −1

——

z = −yx = 1

2y2 = 4

λ = −1

µ = −√

2/4

z = −√

2

x = 1

y =√

2

λ = −1

µ =√

2/4

z =√

2

x = 1

y = −√

2

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 339 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Obtivemos dois candidatos a ponto de extremo:

(1,√

2,−√

2) e (1,−√

2,√

2).

Uma vez quef(1,

√2,−

√2) = 1 + 2

√2

ef(1,−

√2,

√2) = 1 − 2

√2,

concluímos que 1 + 2√

2 é máximo absoluto e que 1 − 2√

2 é mínimoabsoluto.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 340 / 427

Page 86: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

b) Pretendemos determinar os extremos absolutos da função

f(x, y) = x2 + 2xy − 4x+ 8yno conjunto

C = {(x, y) : 0 6 x 6 1 ∧ 0 6 y 6 2} .Como o conjunto C é um conjunto limitado e fechado e a função f écontínua, pelo Teorema de Weierstrass f tem máximo e mínimo absolutosneste conjunto. Os extremos absolutos podem estar no interior ou nafronteira de C.Começamos por determinar todos os extremos locais de f no interior doconjunto C. Para tal começamos por determinar os pontos deestacionaridade de f que estão em C:

{∂f∂x (x, y) = 0∂f∂y (x, y) = 0

⇔{

2x+ 2y − 4 = 02x+ 8 = 0

⇔{

y = 6x = −4

.

Como o ponto (−4, 6) não está no interior de C concluímos que não háextremos no interior de C.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 341 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Vamos agora determinar os pontos de estacionaridade nafronteira recorrendo ao método dos multiplicadores de Lagrange.

Para o segmento de recta

S1 = {(x, y) : y = 0 ∧ 0 6 x 6 1}escrevemos a função

F1(x, y, λ) = x2 + 2xy − 4x+ 8y + λy.

Temos

∂F1

∂x (x, y, λ) = 0∂F1

∂y (x, y, λ) = 0∂F1

∂λ (x, y, λ) = 0

2x+ 2y − 4 = 02x+ 8 + λ = 0y = 0

x = 2λ = −12y = 0

.

Obtivemos o ponto (2, 0) no entanto (2, 0) /∈ S1 pelo que não o devemosconsiderar.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 342 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Para o segmento de recta

S2 = {(x, y) : y = 2 ∧ 0 6 x 6 1}

escrevemos a função

F2(x, y, λ) = x2 + 2xy − 4x+ 8y + λ(y − 2).

Temos

∂F2∂x (x, y, λ) = 0∂F2∂y (x, y, λ) = 0∂F2∂λ (x, y, λ) = 0

2x+ 2y − 4 = 0

2x+ 8 + λ = 0

y − 2 = 0

x = 0

λ = −8

y = 2

.

Obtivemos o ponto (0, 2) e, como (0, 2) ∈ S2, este ponto é umcandidato a extremo global.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 343 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Para o segmento de recta

S3 = {(x, y) : x = 0 ∧ 0 6 y 6 2}

escrevemos a função

F3(x, y, λ) = x2 + 2xy − 4x+ 8y + λx.

Temos

∂F3∂x (x, y, λ) = 0∂F3∂y (x, y, λ) = 0∂F3∂λ (x, y, λ) = 0

2x+ 2y − 4 + λ = 0

2x+ 8 = 0

x = 0

——

x = −4

x = 0

.

O sistema é impossível pelo que não obtemos candidatos a extremoneste caso.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 344 / 427

Page 87: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Para o segmento de recta

S4 = {(x, y) : x = 1 ∧ 0 6 y 6 2}

escrevemos a função

F4(x, y, λ) = x2 + 2xy − 4x+ 8y + λ(x− 1).

Temos

∂F4∂x (x, y, λ) = 0∂F4∂y (x, y, λ) = 0∂F4∂λ (x, y, λ) = 0

2x+ 2y − 4 + λ = 0

2x+ 8 = 0

x− 1 = 0

——

x = −4

x = 1

.

O sistema é impossível pelo que não obtemos candidatos a extremoneste caso.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 345 / 427

§3.3.2 Extremos condicionados: método dos multiplicadores de Lagrange

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Assim, temos apenas como candidatos a extremos ospontos de intersecção de cada par de segmentos, isto é os vérticesdo rectângulo C:

(0, 2), (0, 0), (1, 0) e (1, 2).

Como referimos, de acordo com o Teorema de Weierstrass, entre asimagens destes quatro pontos estão os extremos absolutos de f emC.Atendendo a que

f(0, 2) = 16, f(0, 0) = 0, f(1, 0) = −3 e f(1, 2) = 17,

concluímos que o máximo absoluto é 17 e o mínimo absoluto é −3.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 346 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadasAplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 347 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadasAplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 348 / 427

Page 88: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Para definirmos o conceito de integral é necessário explorar primeiro oconceito de partição de um intervalo fechado e limitado de Rn.

Dados a = (a1, . . . , an), b = (b1, . . . , bn) ∈ Rn, com ai < bi, i = 1, . . . , n,designamos os conjuntos da forma

[a, b] = {(x1, . . . , xn) ∈ Rn : ai 6 xi 6 bi, i = 1, . . . , n}= [a1, b1] × · · · × [an, bn]

por intervalo fechado e limitado de Rn.

É fácil de verificar que quando n = 1, os intervalos fechados e limitadoscoincidem com os habituais intervalos fechados e limitados de R;quando n = 2 os intervalos fechados e limitados são rectângulos equando n = 3 os intervalos fechados e limitados são paralelepípedosrectângulos.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 349 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Dado um intervalo (fechado e limitado) I = [a, b] de Rn, coma = (a1, . . . , an) e b = (b1, . . . , bn), definimos o volume elementar deI, que denotamos por vol(I), por

vol(I) =n∏

i=1

(bi − ai).

Verifica-se imediatamente que quando n = 1 o volume elementar é ocomprimento do intervalo, para n = 2 o volume elementar é a área dorectângulo e que quando n = 3 o volume elementar é o volume usual doparalelepípedo.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 350 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Dado um intervalo fechado e limitado I de Rn, designa-se porpartição ou subdivisão de I qualquer colecção

P = {I1, . . . , Ik} ,

onde os Ij são intervalos fechados e limitados de Rn não sobrepostos(i.e. sem pontos interiores comuns) e cuja reunião é I, ou seja,

int Ii ∩ int Ij = ∅ para i, j = 1, . . . , n e i 6= j

e

I =k⋃

i=1

Ii.

É evidente que nestas condições se tem

vol(I) =k∑

i=1

vol(Ii).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 351 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Exemplo

O conjuntoP = {I1, I2, I3, I4, I5}

onde I1 =[

0, 14

]

×[

0, 13

]

, I2 =[

0, 14

]

×[

13 ,

23

]

, I3 =[

0, 14

]

×[

23 , 1]

,

I4 =[

14 , 1]

×[

0, 13

]

e I5 =[

14 , 1]

×[

13 , 1]

constitui uma partição dointervalo [0, 1] × [0, 1].

I1

I2

I3

I4

I5

0 1

1

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 352 / 427

Page 89: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Sejam I um intervalo (fechado e limitado) de Rn, P = {I1, . . . , Ik} umapartição de I e f : I ⊆ Rn → R uma função limitada. Chama-se somasuperior de Darboux de f relativa à partição P ao número real

S(f, P ) =k∑

i=1

M(f, Ii) vol(Ii),

ondeM(f, Ii) = sup {f(x) : x ∈ Ii} = sup

x∈Ii

f(x).

Analogamente, chama-se soma inferior de Darboux de f relativa àpartição P ao número real

s(f, P ) =k∑

i=1

m(f, Ii) vol(Ii),

ondem(f, Ii) = inf {f(x) : x ∈ Ii} = inf

x∈Ii

f(x).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 353 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

x

y

a b

b

b

qx0

x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7qx8

m1

m2=m4=m8

m3

m5

m6

m7

b

b

Interpretação geométrica das somas inferiores de Darboux para funçõesf : I ⊆ R → R

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 354 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

x

y

a b

b

b

qx0

x1 x2 x3 x4 x5 x6 x7qx8

b

b

Interpretação geométrica das somas superiores de Darboux parafunções f : I ⊆ R → R

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 355 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

M(f, B)

m(f, B)

B

M(f, B)

m(f, B)

B

Interpretação geométrica das somas inferiores e das somas superioresde Darboux para funções f : I ⊆ R2 → R

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 356 / 427

Page 90: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Exemplos de somas superiores e de somas inferiores

a) Seja I um intervalo de Rn e consideremos a função

f : I ⊆ Rn → R

definida por

f(x) = c.

Dada uma partição P = {I1, . . . , Ik} de I temos

m(f, Ii) = c e M(f, Ii) = c

e, consequentemente,

s(f, P ) =k∑

i=1

m(f, Ii) vol(Ii) =k∑

i=1

c vol(Ii) = ck∑

i=1

vol(Ii) = c vol(I)

e

S(f, P ) =k∑

i=1

M(f, Ii) vol(Ii) =k∑

i=1

c vol(Ii) = c

k∑

i=1

vol(Ii) = c vol(I).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 357 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Exemplos de somas superiores e de somas inferiores (continuação)

b) Sejam I um intervalo de Rn ef : I ⊆ Rn → R

a função definida por

f(x) =

{

0 se x ∈ I ∩ Qn,

1 se x 6∈ I ∩ Qn.

Para qualquer partição P = {I1, . . . Ik} de I temos

m(f, Ii) = 0 e M(f, Ii) = 1,

pelo que

s(f, P ) =k∑

i=1

m(f, Ii) vol(Ii) =k∑

i=1

0 vol(Ii) = 0

e

S(f, P ) =k∑

i=1

M(f, Ii) vol(Ii) =k∑

i=1

1 vol(Ii) = vol(I).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 358 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Seja I um intervalo fechado e limitado de Rn. Uma função

f : I ⊆ Rn → R

limitada diz-se integrável à Riemann em I se existir um e um sónúmero A tal que

s(f, P ) 6 A 6 S(f, P ) para qualquer partição P de I.

O único número A que verifica a desigualdade anterior designa-se porintegral de Riemann de f em I e representa-se por

If(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 359 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Exemplos do integral de Riemann

a) Consideremos novamente a função f : I ⊆ Rn → R definida por

f(x) = c.

Já vimos que para qualquer partição P de I se tem

s(f, P ) = c vol(I) = S(f, P ).

Assim,s(f, P ) 6 c vol(I) 6 S(f, P ) para qualquer partição P de I

ec vol(I)

é o único número real que verifica estas desigualdades. Logo f éintegrável à Riemann em I e

If(x) dx = c vol(I).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 360 / 427

Page 91: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Exemplos do integral de Riemann (continuação)

b) Já vimos que para a função

f : I ⊆ Rn → R,

definida por

f(x) =

{

0 se x ∈ I ∩ Qn,

1 se x 6∈ I ∩ Qn,

se tems(f, P ) = 0 e S(f, P ) = vol(I)

qualquer que seja a partição P de I. Portanto, se A ∈ [0, vol(I)]tem-se

0 = s(f, P ) 6 A 6 S(f, P ) = vol(I)

para qualquer partição P de I, o que mostra que f não é integrávelà Riemann em I.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 361 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

É também comum escrever∫

If(x1, . . . , xn) dx1 · · · dxn

para designar o integral de Riemann de f no intervalo fechado I. Éainda usual escrever

∫ bn

an

· · ·∫ b1

a1

f(x1, . . . , xn) dx1 · · · dxn

para designar∫

[a1,b1]×···×[an,bn]f(x1, . . . , xn) dx1 · · · dxn.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 362 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Em dimensão dois é habitual escrever f(x, y) em vez de f(x1, x2) edenota-se assim o integral de Riemann em I por

∫∫

If(x, y) dx dy.

Analogamente em dimensão três usa-se frequentemente a notação∫∫∫

If(x, y, z) dx dy dz.

Facilmente se verifica que, no caso n = 1, o conceito de integral aquiapresentado coincide com o conceito de integral de Riemann definidoem Cálculo I.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 363 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Propriedades dos integrais

Seja I um intervalo fechado e limitado de Rn.

a) Sef, g : I ⊆ Rn → R

são funções integráveis em I, então f + g é integrável em I e∫

I[f(x) + g(x)] dx =

If(x) dx+

Ig(x) dx.

b) Se λ é um número real e

f : I ⊆ Rn → R

é uma função integrável em I, então λ f é integrável em I e∫

Iλ f(x) dx = λ

If(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 364 / 427

Page 92: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Propriedades dos integrais (continuação)

c) Sejam I1 e I2 dois intervalos (fechados e limitados) de Rn nãosobrepostos e tais que

I = I1 ∪ I2

e sejaf : I ⊆ Rn → R.

Entãof é integrável em I

se e só seé integrável em I1 e em I2.

Além disso, nas condições anteriores, temos∫

If(x) dx =

I1

f(x) dx+∫

I2

f(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 365 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Propriedades dos integrais (continuação)

d) Sef, g : I ⊆ Rn → R

são duas funções integráveis em I tais que

f(x) 6 g(x) para cada x ∈ I,

então ∫

If(x) dx 6

Ig(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 366 / 427

§4.1 Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedades

Propriedades dos integrais (continuação)

e) Sejaf : I ⊆ Rn → R

uma função integrável. Então |f | é integrável em I e∣∣∣∣

If(x) dx

∣∣∣∣ 6

I|f(x)| dx.

f) Sef : I ⊆ Rn → R

é uma função contínua, excepto num número finito de pontos, entãof é integrável. Em particular, as funções contínuas são integráveis.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 367 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadasAplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 368 / 427

Page 93: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.2 Teorema de Fubini

Teorema de Fubini

Sejam I um intervalo fechado e limitado de Rn, J um intervalo fechadoe limitado de Rm e

f : I × J ⊆ Rn × Rm → R

uma função limitada e integrável. Se f é integrável (como função de x)em I para qualquer y ∈ J , então

I×Jf(x, y) dx dy =

J

[∫

If(x, y) dx

]

dy.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 369 / 427

§4.2 Teorema de Fubini

Teorema de Fubini para funções contínuas

Sejam I um intervalo fechado e limitado de Rn, J um intervalo fechadoe limitado de Rm e

f : I × J ⊆ Rn × Rm → R

uma função contínua e, consequentemente, integrável à Riemann emI × J . Então

a) f é integrável (como função de x) em I para qualquer y ∈ J ;

b) a função

g(y) =∫

If(x, y) dx

é integrável em I e∫

I×Jf(x, y) dx dy =

J

[∫

If(x, y) dx

]

dy.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 370 / 427

§4.2 Teorema de Fubini

Exemplos

a) Calculemos o integral∫

[0,1]×[2,3]xy2 dx dy. Então

[0,1]×[2,3]xy2 dx dy =

∫ 3

2

∫ 1

0xy2 dx dy

=∫ 3

2

[

x2y2

2

]x=1

x=0

dy

=∫ 3

2

y2

2− 0 dy

=

[

y3

6

]y=3

y=2

=276

− 86

=196.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 371 / 427

§4.2 Teorema de Fubini

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Este integral também pode ser calculado da seguinteforma:

[0,1]×[2,3]

xy2 dx dy =∫ 1

0

∫ 3

2

xy2 dy dx

=∫ 1

0

[xy3

3

]y=3

y=2

dx

=∫ 1

0

27x3

− 8x3dx

=∫ 1

0

19x3

dx

=[

19x2

6

]x=1

x=0

=196

− 0 =196.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 372 / 427

Page 94: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.2 Teorema de Fubini

Exemplos (continuação)

b) Calculemos∫

[0,1]×[0,2]×[1,3]xy2z dx dy dz:

[0,1]×[0,2]×[1,3]xy2z dx dy dz =

∫ 3

1

∫ 2

0

∫ 1

0xy2z dx dy dz

=∫ 3

1

∫ 2

0

[

x2y2z

2

]x=1

x=0

dy dz

=∫ 3

1

∫ 2

0

y2z

2dy dz =

∫ 3

1

[

y3z

6

]y=2

y=0

dz

=∫ 3

1

8z6dz =

[

8z2

12

]z=3

z=1

=7212

− 812

=163

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 373 / 427

§4.2 Teorema de Fubini

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Outro processo seria

[0,1]×[0,2]×[1,3]xy2z dx dy dz =

∫ 3

1

∫ 2

0

∫ 1

0xy2z dx dy dz

=∫ 3

1z dz

∫ 2

0y2 dy

∫ 1

0x dx

=

[

z2

2

]z=3

z=1

[

y3

3

]y=2

y=0

[

x2

2

]x=1

x=0

=(

92

− 12

)83

12

=163

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 374 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadasAplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 375 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Sejaf : D ⊆ Rn → R

uma função limitada definida num subconjunto limitado D ⊆ Rn.Sejam I um intervalo de Rn fechado e limitado tal que D está contidono interior de I e

f̃ : I ⊆ Rn → R

a função dada por

f̃(x) =

{

f(x) se x ∈ D

0 se x ∈ I \D

Dizemos que f é integrável em D se f̃ for integrável em I e definimos ointegral de f em D por

Df(x) dx =

If̃(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 376 / 427

Page 95: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Verifica-se facilmente que a escolha do intervalo I não influencia adefinição anterior, nem o valor

Df(x) dx.

As propriedades que vimos para integrais de funções definidas emintervalos também se verificam para este tipo de integrais. Veremos emseguida essas propriedades.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 377 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Propriedades dos integrais

Seja D um subconjunto limitado de Rn.

a) Sef, g : D ⊆ Rn → R

são funções integráveis em D, então f + g é integrável em D e∫

D[f(x) + g(x)] dx =

Df(x) dx+

Dg(x) dx.

b) Se λ é um número real e

f : D ⊆ Rn → R

é uma função integrável em D, então λ f é integrável em D e∫

Dλ f(x) dx = λ

Df(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 378 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Propriedades dos integrais (continuação)

c) Sejam D1 e D2 dois subconjuntos limitados de Rn tais que

int (D1 ∩D2) = ∅ e D = D1 ∪D2

e sejaf : D ⊆ Rn → R.

Sef é integrável em D1, em D2 e em D,

então ∫

Df(x) dx =

D1

f(x) dx+∫

D2

f(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 379 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Propriedades dos integrais (continuação)

d) Sef, g : D ⊆ Rn → R

são duas funções integráveis em D tais que

f(x) 6 g(x) para cada x ∈ D,

então ∫

Df(x) dx 6

Dg(x) dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 380 / 427

Page 96: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Propriedades dos integrais (continuação)

e) Sejaf : D ⊆ Rn → R

uma função integrável. Então

|f | é integrável em D

e ∣∣∣∣

Df(x) dx

∣∣∣∣ 6

D|f(x)| dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 381 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Seja D um subconjunto limitado de R2 da forma

D ={

(x, y) ∈ R2 : a 6 x 6 b ∧ ϕ1(x) 6 y 6 ϕ2(x)},

ondeϕ1, ϕ2 : [a, b] ⊆ R → R

são funções limitadas em [a, b].

x

y

a b

y = ϕ2(x)

y = ϕ1(x)

D

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 382 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Sef : D ⊆ R2 → R

é uma função limitada e integrável em

D ={

(x, y) ∈ R2 : a 6 x 6 b ∧ ϕ1(x) 6 y 6 ϕ2(x)}

,

recorrendo ao teorema de Fubini, temos

∫∫

Df(x, y) dx dy =

∫ b

a

(∫ ϕ2(x)

ϕ1(x)f(x, y) dy

)

dx,

desde que a função f(x, y) seja (como função de y) integrável em[ϕ1(x), ϕ2(x)] para qualquer x ∈ [a, b]. Este integral também secostuma representar por

∫∫

Df(x, y) dA.

É de referir que se as funções ϕ1, ϕ2 e f são contínuas, excepto numnúmero finito de pontos, então f é integrável em D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 383 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Analogamente, se D é um subconjunto limitado de Rn da forma

D ={

(x, y) ∈ R2 : ψ1(y) 6 x 6 ψ2(y) ∧ c 6 y 6 d}

,

ondeψ1, ψ2 : [c, d] ⊆ R → R,

tem-se∫∫

Df(x, y) dx dy =

∫ d

c

(∫ ψ2(y)

ψ1(y)f(x, y) dx

)

dy.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 384 / 427

Page 97: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplos

a) Seja D ⊆ R2 o conjunto dos pontos de [0, 1] × [0, 1] que estão entre aparábola de equação y = x2 e a recta de equação y = x.

x

y

b

1

1 by = x

b

y = x2

b

Então

D ={

(x, y) ∈ R2 : 0 6 x 6 1 ∧ x26 y 6 x

}

={

(x, y) ∈ R2 : 0 6 y 6 1 ∧ y 6 x 6√y}

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 385 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Calculemos∫∫

D

xy2 dA.

ComoD =

{(x, y) ∈ R2 : 0 6 x 6 1 ∧ x2

6 y 6 x},

tem-se∫∫

D

xy2 dA =∫ 1

0

∫ x

x2

xy2 dy dx =∫ 1

0

[

xy3

3

]y=x

y=x2

dx

=∫ 1

0

x · x3

3− x(x2)3

3dx =

∫ 1

0

x4

3− x7

3dx

=[

x5

15− x8

24

]x=1

x=0

=115

− 124

− (0 − 0)

=24 − 1515 · 24

=9

15 · 24=

15 · 8

=140.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 386 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplos (continuação)

a) (continuação) Atendendo a que

D ={

(x, y) ∈ R2 : 0 6 y 6 1 ∧ y 6 x 6√y},

o integral também podia ter sido calculado da seguinte forma:

∫∫

D

xy2 dA =∫ 1

0

∫ √y

y

xy2 dx dy =∫ 1

0

[

x2y2

2

]x=√

y

x=y

dy

=∫ 1

0

(√y)2y2

2− y2y2

2dy =

∫ 1

0

y3

2− y4

2dy

=[

y4

8− y5

10

]y=1

y=0

=18

− 110

− (0 − 0)

=540

− 440

=140.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 387 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplos (continuação)

b) Seja f : D ⊆ R2 → R a função dada por f(x, y) = xy3, onde

D ={

(x, y) ∈ R2 : x > 0 ∧ y > 0 ∧ x 6 −4y2 + 3}.

x

y

x = −4y2 + 3

3

√3/2

−√

3/2

O conjunto D também pode ser também definido por

D ={

(x, y) ∈ R2 : 0 6 y 6√

3/2 ∧ 0 6 x 6 −4y2 + 3}

.

e como f é continua, f é integrável em D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 388 / 427

Page 98: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Assim,∫∫

Df(x, y) dx dy =

∫√

32

0

∫ 3−4y2

0xy3 dx dy

=∫

√3

2

0

[12x2y3

]x=3−4y2

x=0dy

=∫

√3

2

0

(92

− 12y2 + 8y4)

y3 dy

=∫

√3

2

0

92y3 − 12y5 + 8y7 dy

=[

98y4 − 2y6 + y8

]√

32

0

=27256

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 389 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplos (continuação)

b) (continuação) Também podíamos ter definido D da seguinte forma

D =

{

(x, y) ∈ R2 : 0 6 x 6 3 ∧ 0 6 y 6

3 − x

4

}

e, portanto,

∫∫

Df(x, y) dy dx =

∫ 3

0

∫√

3−x4

0xy3 dy dx =

∫ 3

0

[

xy4

4

]y=√

3−x4

y=0

dx

=∫ 3

0

x

4

(3 − x

4

)2

dx =∫ 3

0

9x64

− 3x2

32+x3

64dx

=

[

9x2

128− x3

32+

x4

256

]x=3

x=0

=27256

.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 390 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Situações semelhantes às anteriores ocorrem noutras dimensões. Emparticular, em R3, por exemplo numa região da forma

D ={

(x, y, z) ∈ R3 : a 6 x 6 b ∧ ϕ1(x) 6 y 6 ϕ2(x) ∧ ψ1(x, y) 6 z 6 ψ2(x, y)},

ondeϕ1, ϕ2 : [a, b] → R

eψ1, ψ2 : {(x, y) ∈ R2 : a 6 x 6 b ∧ ϕ1(x) 6 y 6 ϕ2(x)} → R

são funções limitadas. Temos nesse caso

∫∫∫

Df(x, y, z) dx dy dz =

∫ b

a

(∫ ϕ2(x)

ϕ1(x)

(∫ ψ2(x,y)

ψ1(x,y)f(x, y, z) dz

)

dy

)

dx

desde que os integrais interiores existam.

Podemos estabelecer resultados semelhantes para regiões como a acimaonde os papeis das variáveis “estejam trocados”.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 391 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplo

A função f : R3 → R dada por f(x, y, z) = xy é contínua em R3 e, portanto, éintegrável na região

D ={

(x, y, z) ∈ R3 : 0 6 y 6 1 ∧ 0 6 x 6 y ∧ 0 6 z 6 x+ 2y}.

Além disso,

∫∫∫

D

f(x, y, z) dx dy dz =∫ 1

0

∫ y

0

∫ x+2y

0

xy dz dx dy

=∫ 1

0

∫ y

0

[xyz

]z=x+2y

z=0dx dy =

∫ 1

0

∫ y

0

xy(x+ 2y) dx dy

=∫ 1

0

∫ y

0

x2y + 2xy2 dx dy =∫ 1

0

[

x3y

3+ x2y2

]x=y

x=0

dy

=∫ 1

0

y4

3+ y4 dy =

[

y5

15+y5

5

]y=1

y=0

=415

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 392 / 427

Page 99: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Situações semelhantes podem ser resolvidas de forma correspondenteem Rn, n > 4.

Muitas vezes queremos calcular integrais em regiões que se podemdecompor-se em regiões mais simples. Naturalmente, se em cada umadestas regiões mais simples conseguirmos calcular o integral, apelandoà linearidade do integral relativamente à região de integração, podemoscalcular integral original. O próximo exemplo ilustra esta forma deproceder.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 393 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplo

A função f : R2 → R dada por

f(x, y) = 2x2y

é contínua em R2 e, portanto, é integrável no conjunto

D ={

(x, y) ∈ R2 : |x| 6 y 6 2 − x2}

pois as funções|x| e 2 − x2

são contínuas.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 394 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplo (continuação)

A representação geométrica do conjunto é

x

y

y = |x|

y = 2 − x2

1−1

11

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 395 / 427

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplo (continuação)

Para calcularmos o integral de f em D vamos dividir D em duasregiões:

D1 ={

(x, y) ∈ R2 : 0 6 x 6 1 ∧ x 6 y 6 2 − x2}

eD2 =

{

(x, y) ∈ R2 : − 1 6 x 6 0 ∧ −x 6 y 6 2 − x2}

ComoD = D1 ∪D2

eint (D1 ∩D2) = ∅,

podemos calcular o integral de f em D à custa dos integrais de f emD1 e D2.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 396 / 427

Page 100: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.3 Integrais em conjuntos mais gerais

Exemplo (continuação)

Assim, porque∫∫

D1

f(x, y) dx dy =∫ 1

0

∫ 2−x2

x

2x2y dy dx =∫ 1

0

[x2y2

]y=2−x2

y=xdx

=∫ 1

0

4x2 − 5x4 + x6 dx =[

4x3

3− x5 +

x7

7

]x=1

x=0

=1021

e∫∫

D2

f(x, y) dx dy =∫ 0

−1

∫ 2−x2

−x

2x2y dy dx =∫ 0

−1

[x2y2

]y=2−x2

y=−xdx

=∫ 1

0

4x2 − 5x4 + x6 dx =[

4x3

3− x5 +

x7

7

]x=0

x=−1

=1021

concluímos que∫∫

D

f(x, y) dx dy =∫∫

D1

f(x, y) dx dy +∫∫

D2

f(x, y) dx dy =2021.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 397 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadas

Teorema de Mudança de CoordenadasCoordenadas PolaresCoordenadas CilíndricasCoordenadas Esféricas

Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 398 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadas

Teorema de Mudança de CoordenadasCoordenadas PolaresCoordenadas CilíndricasCoordenadas Esféricas

Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 399 / 427

§4.4.1 Teorema de Mudança de Coordenadas

Muitas vezes, é necessário recorrer a outros sistemas de coordenadaspara calcular determinados integrais, pois a geometria da região deintegração, ou determinadas simetrias da função que queremos integrar,tornam o cálculo consideravelmente mais fácil numas coordenadas, enão noutras.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 400 / 427

Page 101: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.4.1 Teorema de Mudança de Coordenadas

Seja U ⊆ Rn um conjunto aberto. Dizemos que uma função

g : U ⊆ Rn → Rn

é uma mudança de coordenadas em U se verificar as seguintescondições:

a) g é de classe C1;

b) g é injectiva;

c) det g′(x) 6= 0 para todo o x ∈ U .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 401 / 427

§4.4.1 Teorema de Mudança de Coordenadas

Teorema de mudança de coordenadas

Sejam U ⊆ Rn um conjunto aberto,

f : D ⊆ Rn → R

uma função integrável em D e

g : U ⊆ Rn → Rn

uma mudança de coordenadas tal que

g(U) = D.

Então

f ◦ g : U ⊆ Rn → R

é integrável em U e∫

Df(y) dy =

Uf(g(x))

∣∣det g′(x)

∣∣ dx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 402 / 427

§4.4.1 Teorema de Mudança de Coordenadas

No caso particular n = 1 recuperamos a fórmula de integração porsubstituição, que vimos no Cálculo I. De facto, sejam

f : [a, b] → R

uma função integrável em [a, b] (com a < b) e

g : [c, d] → R

uma mudança de coordenadas com

g([c, d]) = [a, b], g(c) = a e g(d) = b.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 403 / 427

§4.4.1 Teorema de Mudança de Coordenadas

Como g é uma mudança de coordenadas, temos que

det g′(x) = g′(x) 6= 0 para todo x ∈ D.

Porque g′ é continua (uma vez que g é de classe C1 em U) concluímosque g não muda de sinal em [c, d].

Atendendo a queg(c) = a < b = g(d)

temos g′(x) > 0 para todo o x ∈ [c, d]. Assim,

|g′(x)| = g′(x)

e portanto

∫ b

af(x) dx =

∫ d

cf(g(t))|g′(t)| dt =

∫ d

cf(g(t))g′(t) dt.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 404 / 427

Page 102: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadas

Teorema de Mudança de CoordenadasCoordenadas PolaresCoordenadas CilíndricasCoordenadas Esféricas

Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 405 / 427

§4.4.2 Coordenadas Polares

bb

x

y

r

θ

As coordenadas polares sãocoordenadas em R2 definidas por

{

x = r cos θ

y = r sen θ

com

r ∈ ]0,+∞[ e θ ∈ ]0, 2π[.

As variáveis r e θ correspondem, respectivamente, à distância à origeme ao ângulo formado pelo vector (x, y) e o semi-eixo positivo dos xx.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 406 / 427

§4.4.2 Coordenadas Polares

SejaU =

{

(r, θ) ∈ R2 : r > 0 e θ ∈ ]0, 2π[}

eg : U ⊆ R2 → R2

dada porg(r, θ) = (r cos θ, r sen θ) = (x, y).

Em U podemos concluir que g é injectiva notando que para cada r0 > 0fixo, a função

h(θ) = (r0 cos θ, r0 sen θ)

é injectiva (descreve a circunferência de raio r0 com excepção do ponto(x, y) = (r0, 0)). Note-se que quando r = 0 perdemos a injectividade.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 407 / 427

§4.4.2 Coordenadas Polares

Temos ainda

det g′(r, θ) = det

[

cos θ −r sen θsen θ r cos θ

]

= r(cos2 θ + sen2 θ) = r

pelo que podemos concluir que g é de classe C1 em U e que

det g′(r, θ) 6= 0 para todo o (r, θ) ∈ U.

Obtemos o seguinte caso particular do teorema de mudança decoordenadas para o caso das coordenadas polares

∫∫

Df(x, y) dx dy =

∫∫

D1

f(r cos θ, r sen θ)r dr dθ

com D1 tal queg(D1) = D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 408 / 427

Page 103: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.4.2 Coordenadas Polares

Exemplo de mudança para coordenadas polares

Consideremos a região

D ={

(x, y) ∈ R2 : x2 + y26 4 e x > y e y > 0

}

,

cuja representação geométrica é

x

y

x2 + y2 = 4

2

2 y = x

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 409 / 427

§4.4.2 Coordenadas Polares

Exemplo de mudança para coordenadas polares (continuação)

Temos que

∫∫

Dex

2+y2dx dy =

∫ π/4

0

∫ 2

0er

2r dr dθ =

∫ π/4

01 dθ

∫ 2

0r er

2dr

=[

θ]θ=π/4

θ=0

[

er2

2

]r=2

r=0

=(π

4− 0

) (

e4

2− e0

2

)

8(e4 −1).

É de notar que a mudança de coordenadas que fizemos não está nascondições do Teorema de mudança de coordenadas. No entanto, paraestarmos nas condições do Teorema de mudança de coordenadasbastaria considerar um conjunto “ligeiramente” mais pequeno e, porisso, o valor do integral não se altera.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 410 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadas

Teorema de Mudança de CoordenadasCoordenadas PolaresCoordenadas CilíndricasCoordenadas Esféricas

Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 411 / 427

§4.4.3 Coordenadas Cilíndricas

b

x

y

z

b

As coordenadas cilíndricassão coordenadas em R3 definidas por

x = r cos θ

y = r sen θ

z = z

com

z ∈ R, r ∈ ]0,+∞[ e θ ∈ ]0, 2π[

e que correspondem de alguma forma aconsiderar coordenadas polares em cada plano z = z0. As variáveis r, θcorrespondem, respectivamente, à distância do ponto (x, y, 0) à origeme ao ângulo que vector (x, y, 0) faz com o semi-eixo positivo dos xx. Avariável z continua a corresponder à coordenada cartesiana z.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 412 / 427

Page 104: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.4.3 Coordenadas Cilíndricas

SejaU =

{

(r, θ, z) ∈ R3 : r > 0 ∧ θ ∈ ]0, 2π[ ∧ z ∈ R}

eg : U ⊆ R3 → R3

dada porg(r, θ, z) = (r cos θ, r sen θ, z) = (x, y, z).

Em U podemos concluir que g é injectiva notando que para cada r0 > 0e z0 fixos, a função

h(θ) = (r0 cos θ, r0 sen θ, z0)

é injectiva (descreve no plano z = z0 a circunferência de raio r0

centrada em (0, 0, z0) com excepção do ponto = (r0, 0, z0)). Note-se quese r = 0 perdemos a injectividade. Além disso, que não poderíamos porexemplo considerar θ ∈ [0, 2π[ uma vez que deixaríamos de ter umconjunto aberto.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 413 / 427

§4.4.3 Coordenadas Cilíndricas

Atendendo a que

det g′(r, θ, z) = det

cos θ −r sen θ 0sen θ r cos θ 0

0 0 1

= r(cos2 θ + sen2 θ) = r

concluímos que g é de classe C1 em U e que

det g′(r, θ, z) 6= 0 para todo o (r, θ, z) ∈ U.

Obtemos assim o seguinte caso particular do teorema de mudança decoordenadas para coordenadas cilíndricas:

∫∫∫

Df(x, y, z) dx dy dz =

∫∫∫

D1

f(r cos θ, r sen θ, z)r dz dr dθ

onde D1 é tal queg(D1) = D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 414 / 427

§4.4.3 Coordenadas Cilíndricas

Exemplo de mudança para coordenadas cilíndricas

Consideremos a região

D ={

(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y26 4 ∧ 1 6 z 6 2

}.

x

y

z

1

2

2−2

Temos que a função f : R3 → R dada por

f(x, y, z) = cos(x2 + y2 + z)

é integrável em D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 415 / 427

§4.4.3 Coordenadas Cilíndricas

Exemplo de mudança para coordenadas cilíndricas (continuação)

Assim, tendo em conta que a projecção de D no plano z = 0 é um círculocentrado em (0, 0) e de raio 2, usando coordenadas cilíndricas temos

∫∫∫

D

cos(x2 + y2 + z) dx dy dz =

∫ 2π

0

∫ 2

0

∫ 2

1

cos(r2 + z)r dz dr dθ

=

∫ 2π

0

∫ 2

0

r

∫ 2

1

cos(r2 + z) dz dr dθ =

∫ 2π

0

∫ 2

0

r[

sen(r2 + z)]z=2

z=1dr dθ

=

∫ 2π

0

∫ 2

0

r(sen(r2 + 2) − sen(r2 + 1)

)dr dθ

=

∫ 2π

0

1 dθ

∫ 2

0

r sen(r2 + 2) − r sen(r2 + 1) dr

=[θ]θ=2π

θ=0

[

−cos(r2 + 2)

2+

cos(r2 + 1)

2

]r=2

r=0

= (2π − 0)(

−cos 6

2+

cos 5

2−(

−cos 2

2+

cos 1

2

))

= π (cos 5 + cos 1 − cos 6 − cos 1) .

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 416 / 427

Page 105: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.4.3 Coordenadas Cilíndricas

Tal como aconteceu com o exemplo da mudança para coordenadaspolares, é de notar que a mudança de coordenadas que fizemos noexemplo anterior não está nas condições do Teorema de mudança decoordenadas. No entanto, para estarmos nas condições do Teorema demudança de coordenadas bastaria considerar um conjunto“ligeiramente” mais pequeno e, por isso, o valor do integral não sealtera.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 417 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadas

Teorema de Mudança de CoordenadasCoordenadas PolaresCoordenadas CilíndricasCoordenadas Esféricas

Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 418 / 427

§4.4.4 Coordenadas Esféricas

x

y

z

b

r

θ

ϕ

As coordenadas esféricas sãocoordenadas em R3 definidas por

x = r cos θ senϕ

y = r sen θ senϕ

z = r cosϕ

com

r ∈ ]0,+∞[,

θ ∈ ]0, 2π[,

ϕ ∈ ]0, π[.

As variáveis r, θ e ϕ correspondem, respectivamente, à distância doponto (x, y, z) à origem, ao ângulo que o vector (x, y, 0) faz comsemi-eixo positivo dos xx e ao ângulo que o vector (x, y, z) faz com osemi-eixo positivo dos zz.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 419 / 427

§4.4.4 Coordenadas Esféricas

SejaU =

{

(r, θ, ϕ) ∈ R3 : r > 0 ∧ θ ∈ ]0, 2π[ ∧ ϕ ∈ ]0, π[}

eg : U ⊆ R3 → R3

dada por

g(r, θ, ϕ) = (r cos θ senϕ, r sen θ senϕ, r cosϕ) = (x, y, z).

Em U a aplicação g é injectiva. De facto, para cada r0 > 0 fixo, asvariáveis θ ∈ ]0, 2π[ e ϕ ∈ ]0, π[ geram uma esfera de raio r0 comexcepção do meridiano que passa pelo ponto (x, y, z) = (r0, 0, 0).

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 420 / 427

Page 106: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.4.4 Coordenadas Esféricas

Atendendo a que

det g′(r, θ, ϕ) = det

cos θ senϕ −r sen θ senϕ r cos θ cosϕsen θ senϕ r cos θ senϕ r sen θ cosϕ

cosϕ 0 −r senϕ

= −r2 senϕ

concluímos que g é de classe C1 em U e que

det g′(r, θ, ϕ) 6= 0 para todo o (r, θ, ϕ) ∈ U.

Obtemos portanto o seguinte caso particular do teorema de mudançade coordenadas para o caso das coordenadas esféricas:

∫∫∫

Df(x, y, z) dx dy dz

=∫∫∫

D1

f(r cos θ senϕ, r sen θ senϕ, r cosϕ) r2 senϕdr dϕdθ

com D1 tal queg(D1) = D.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 421 / 427

§4.4.4 Coordenadas Esféricas

Exemplo de mudança para coordenadas esféricas

Se D ={(x, y, z) ∈ R3 : 1 6 x2 + y2 + z2 6 4

}, então usando

coordenadas esféricas temos∫∫∫

D

(x2 + y2 + z2)2 dx dy dz =∫ 2π

0

∫ π

0

∫ 2

1

r4r2 senϕdr dϕdθ

=∫ 2π

0

1 dθ∫ π

0

senϕdϕ∫ 2

1

r6 dr =[θ]θ=2π

θ=0

[− cosϕ

]ϕ=π

ϕ=0

[

r7

7

]r=2

r=1

= (2π − 0)[

− cosπ − (− cos 0)](

1287

− 17

)

= 2π · 2 · 1277

=5087π.

Também neste exemplo se verifica algo de semelhante ao que aconteceunos exemplos de coordenadas polares e de coordenadas cilíndricas, ouseja, não estamos nas condições do Teorema de mudança decoordenadas, mas isso não causa problemas pelas mesmas razões quetambém não causava nas duas outras mudanças de coordenadas.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 422 / 427

Índice

1 Equações diferenciais ordinárias

2 Funções de Rn em Rm: limites e continuidade

3 Cálculo diferencial em Rn

4 Cálculo integral em Rn

Integrais em Rn: definição, exemplos e propriedadesTeorema de FubiniIntegrais em conjuntos mais geraisMudança de coordenadasAplicações ao cálculo de áreas e de volumes

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 423 / 427

§4.5 Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

Como se deduz da construção feita na primeira secção deste capítulo, ointegral de uma função f não negativa com n variáveis, x1, . . . , xn,integrável numa dada região limitada R é numericamente igual aovolume ((n + 1)-dimensional) da região (n+ 1)-dimensionalcompreendida entre o seu gráfico e o plano n-dimensional de equação

xn+1 = 0.

Assim concluímos que o volume VR de uma região R ⊆ Rn limitada édado por

VR =∫

R1 dx1 · · · dxn,

caso o integral exista.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 424 / 427

Page 107: A avaliação ao longo das actividades lectivas será ...webx.ubi.pt/~bento/Calc-II/2015-2016/Calc-II... · António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 2 / 427 Critérios de

§4.5 Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

Em particular, se C ⊆ R2 é uma região limitada, a sua área AC é dadapor

AC =∫∫

C1 dx dy

e se D ⊆ R3 é um sólido limitado, o seu volume VD é dado por

VD =∫∫∫

D1 dx dy dz,

desde que os integrais considerados existam.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 425 / 427

§4.5 Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

Exemplos

a) SejaC =

{

(x, y) ∈ R2 : x2 + y26 1 e y > |x|

}

.

A área da região C é dada por

AC =∫∫

C1 dx dy =

∫ 3π/4

π/4

∫ 1

0r dr dθ

=∫ 3π/4

π/41 dθ

∫ 1

0r dr =

[

θ]θ=3π/4

θ=π/4

[

r2

2

]r=1

r=0

=(

3π4

− π

4

)(12

− 0)

2· 1

2

4.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 426 / 427

§4.5 Aplicações ao cálculo de áreas e de volumes

Exemplos (continuação)

b) Seja D a região compreendida entre as esferas de raio 1 e de raio 2.O volume da região D é dado por

VD =∫∫∫

D1 dx dy dz =

∫ 2π

0

∫ π

0

∫ 2

1r2 senϕdr dϕdθ

=∫ 2π

01 dθ

∫ π

0senϕdϕ

∫ 2

1r2 dr

=[

θ]θ=2π

θ=0

[

− cosϕ]ϕ=π

ϕ=0

[

r3

3

]r=2

r=1

= (2π − 0) (− cos π − (− cos 0))(

83

− 13

)

= 2π · 2 · 73

=28π3.

António J. G. Bento (UBI) Cálculo II 2015/2016 427 / 427