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Ministério da Educação e do Desporto
Universidade Federal de Uberlândia - MG
Instituto de Economia
Curso de Mestrado em Desenvolvimento Econômico
Dissertação de Mestrado
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA
AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL:
Transformações, determinantes e impactos
ALUNO: LEVY REI DE FRANÇA
ORIENTADOR: Prof. Dr. JOSÉ FLÔRES FERNANDES FILHO
Uberlândia – Minas Gerais
2000
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
II
Universidade Federal de Uberlândia – UFU
Instituto de Economia - IE
Curso de Mestrado em Desenvolvimento Econômico – CMDE
Levy Rei de França
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA
AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL:
Transformações, determinantes e impactos
Dissertação de Mestrado apresentada à
Universidade Federal de Uberlândia – MG,
como parte das exigências do Curso de Mestrado
em Desenvolvimento Econômico. Orientador:
Prof. Dr. José Flôres Fernandes Filho
Uberlândia – Minas Gerais
2000
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
III
Aos meus pais Otacílio (in memorian) e Balduína
Aos meus filhos Gustavo e Felipe
A minha esposa Estela
Dedico
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
IV
Agradecimentos
A Deus, por mais essa oportunidade de continuar a minha formação profissional.
Ao Instituto de Economia da UFU, pela forma inovadora de oferecer instrução.
A FESURV, na pessoa do professor Sebastião Lázaro Pereira, pelo empenho na
implantação do mestrado institucional.
Ao Centro Educacional Quasar, pela concessão do tempo necessário para os meus estudos.
À equipe da empresa Rio Rações, por trilhar sozinha e com eficiência suas atividades,
durante o meu afastamento.
À Profa. Dra. Isabel Dias Carvalho, por ter assumido uma de minhas disciplinas durante o
mestrado.
Ao Prof. Dr. José Flôres Fernandes Filho, pela transferência de conhecimento e pela forma
objetiva com que orientou a construção desta dissertação de mestrado.
À minha irmã Vera, pelo auxílio na tradução do sumário para o inglês.
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
V
SUMÁRIO DE ITENS
INTRODUÇÃO 3
CAPÍTULO I – A EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE
NO BRASIL
I. 1 – Surgimento do Complexo Avícola Brasileiro 9
I. 2 – Evolução da Produção e do Consumo 11
I. 3 – Evolução das Exportações 17
I. 4 – Custos de Produção e Impactos Sociais 18
I. 5 – O Complexo Avícola Atual 21
I. 6 – Conclusão 23
CAPÍTULO II – AS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
II. 1 – Mudanças na Área da Genética 25
II. 2 – Mudanças na Nutrição 31
II. 3 – Mudanças dos Equipamentos de Alimentação 39
II. 4 – Mudanças na Indústria de Ração 42
II. 5 – Mudanças dos Equipamentos de Climatização 46
II. 6 – Mudanças nos Galpões 48
II. 7 – Mudanças no Processo Industrial de Abate 51
II. 8 – Mudanças na Área de Sanidade 53
II. 9 – Mudanças na Criação 57
II. 9. 1 – Criação com Lotes Sexados 57
II. 9. 2 – Criação em Alta Densidade 58
II. 10 – Mudanças no Padrão de Produção de Frangos de Corte 59
II. 10. 1 – Verticalização da Produção 60
II. 10. 2 – Mudanças no Modelo de Integração 62
II. 11 – Conclusão 65
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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VI
CAPÍTULO III - DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE
TÉCNICA
III. 1 – Desagregação do Complexo Rural e Formação dos Complexos
Agroindustriais
68
III. 2 – Apropriacionismo e Substitucionismo Industrial 74
III. 3 – Questões ligadas à Terra e ao Trabalho 77
III. 4 – Políticas Públicas e Financiamento 81
III. 4. 1 – A Participação do Estado nos Complexos Agroindustriais 81
III. 4. 2 – Políticas Públicas que Beneficiaram a Avicultura 83
III. 4. 3 – Financiamentos Recentes para a Avicultura 86
III. 5 – Conclusão 88
CAPÍTULO IV - OS IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE
TÉCNICA
IV. 1 – Relação Capital X Trabalho 90
IV. 1. 1 – Sistema de “Produção Independente” 90
IV. 1. 2 – Sistema de Produção “Cooperativo” 91
IV. 1. 3 – Sistema de Produção por “Integração” 92
IV. 2 – Pequena Propriedade e Mão-de-Obra Familiar 95
IV. 3 – Especialização da Produção 98
IV. 4 – Geração de Empregos 101
IV. 5 – Localização das Granjas 102
IV. 5. 1 – A Questão Locacional na Década de 70 102
IV. 5. 2 – A Questão Locacional Atual 104
IV. 6 – Impactos Previstos para Rio Verde 109
IV. 7 – Conclusão 110
CAPÍTULO V – CONSIDERAÇÕES FINAIS
V. 1 – Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia 112
V. 2 – Depreciação Tecnológica 114
V. 3 – Os Gargalos da Avicultura 116
V. 4 – A Emergência da Questão Ambiental 119
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
VII
V. 5 – Conclusão Final 120
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 127
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
VIII
SUMÁRIO DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 – Evolução da Produção Brasileira de Carne de Frango, 1000t, 1970–
1999.
13
GRÁFICO 2 – Produção de Carne de Frango, 1.000t, 1994-1999, por País: os 6
Maiores.
14
GRÁFICO 3 – Consumo Per Capita de Carne de Frango, Kg/Ano, 1998 – 2000, por
País: os 10 Maiores.
16
GRÁFICO 4 – Consumo de Carne de Frango. 1000 t, 1994 – 1999.
por País: os 6 maiores.
17
GRÁFICO 5 – Exportações Brasileiras de Carne de Frango e seu Valor, 1975-1998. 18
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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IX
SUMÁRIO DE TABELAS
TABELA 1 – Produção Mundial das Três Principais Carnes em 1997
(Milhões de Toneladas)
11
TABELA 2 – Mixing de Produção Mundial das Três Principais Carnes – 1973/1997
(em Milhões de Toneladas)
12
TABELA 3 – Consumo Per Capita de Ovos e Carne de Frango, de Bovino e de Suíno,
Brasil, 1970 – 1999
15
TABELA 4 – Comparação de Índices Zootécnicos de Custos dos Principais Países
Produtores de Frango de Corte
19
TABELA 5 – POF – Consumo das Carnes Bovina (de 1a) e de Frango 1989/1998 –
Kg Per Capita
20
TABELA 6 – Brasil – Evolução da População Urbana e Rural em Meio Século –
1940 e 1990 – em Milhões de Habitantes
21
TABELA 7 – Desempenho de Frangos de Corte Desde 1945 27
TABELA 8 – Peso Vivo de Frangos de Corte, Segundo a Idade e o Ano de Produção 28
TABELA 9 – O Frango como Resultado do Desenvolvimento Científico 28
TABELA 10 – Peso (g), Conversão (g/g), Rendimento de Carcaça (%), Rendimento
de peito (%) por Linhagem e Idade
29
TABELA 11 – Evolução do Uso de Alimentos para Aves 32
TABELA 12 – 40 Anos de Progresso na Nutrição de Frangos de Corte 32
TABELA 13 – Demonstração de Desperdício em Função da Forma de Abastecimento
da Ração no Comedouros
41
TABELA 14 – Estrutura e Evolução do CAI na Década de 70 72
TABELA 15 – Participação % dos Principais Clientes nos Financiamentos
Concedidos pela Política de Preços Mínimos no Brasil
83
TABELA 16 – Diferenciais de Preços do Milho e da Soja e Redução do Custo de
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
X
Produção do Frango em Comparação com Goiás – 1990/95 106
TABELA 17 – Variabilidade dos Rendimentos Físicos do Milho e da Soja por
Regiões e Estados do Centro-Sul – 1980/97
107
TABELA 18 – Balança Comercial da Avicultura Brasileira 1997 (Milhões de US$) 118
RESUMO
Analisou-se a evolução recente da avicultura de corte no Brasil, as transformações
da base técnica, os seus determinantes assim como os seus principais impactos. A análise
foi feita através dos seguintes instrumentos: coleta de dados estatísticos para constatação da
evolução da avicultura brasileira acumulada nos últimos 30 anos; leitura de contribuições
de autores da economia para entendimento das mudanças tecnológicas que afetam a área
rural; e levantamento dos dados sobre os impactos da avicultura de corte recente bem como
os novos investimentos no Centro-oeste. Foram identificadas transformações de base
técnica nas áreas da genética, nutrição, mecânica e sanidade; os determinantes das
transformações de base técnica foram atribuídos: à transformação do complexo rural em
complexo agroindustrial, ao apropriacionismo e substitucionismo industrial, a questões
ligadas à terra e trabalho e ao Estado, através de políticas públicas e financiamento
intervindo na economia; foram observados impactos: na relação capital x trabalho com a
emergência das integrações, na verticalização da produção surgindo grandes capitais
industriais na avicultura, no aumento do tamanho das propriedades integradas, na
intensidade da utilização de tecnologias, na geração de empregos em função desemprego
tecnológico e na mudança recente da localização das unidades produtoras para o Centro-
oeste, bem com o os prováveis impactos específicos para Rio verde.
SUMMARY
It was analyzed the recent evolution of poultry raising in Brazil, the transformation
of the technical basis, it determinants, as well as the main impacts that this economic
activity brought about through a series of actions. Among them, it was included gathering
statistic data in order to verify the evolution of the poultry-raising sector in Brazil for the
last 30 year. As well as extensive research on papers published on the economy of the rural
areas of Brazil, in order to understand the technological changes that have taken place. It
was also collected data on the impact caused hy new investments in the Center-West region
of the country on this economic sector. Several transformations were verified on both the
technical and genetic base, as well as in nutritional, mechanics and health-care procedures.
The determinant factors of the technical base were attributed to the transformation of the
rural complex into in agricultural and industrial complex, industrial appropriation and
substitution due to matters related to land issues and labor, as well as to the state through
the public and financing politics are established. Impacts were observed in the relationship
capital vs. Labor, the appearance of integrationist behaviors, in the verticalization and in the
production process itself. Large industrial capitals replaced the old economy, the size of
integrated properties increased and technology became more intensely used. Concerning to
jobs generations, the number of jobs has been steadily shrinring, whereas the advancement
in technology has been replacing them. And in recent changings of locations from units
productors to the Center-West region a well, as well as the likely impacts specific to Rio
Verde.
INTRODUÇÃO
A década de 70 marcou a decolagem da avicultura industrial brasileira, Até então a
produção de frango para industrialização se constituia em uma atividade sem muita
tecnologia incorporada. As estatísticas apontam que nesta época cada brasileiro consumia,
na média 35,6 kg das três principais carnes (bovina, suína e de frango), nesse total a
participação do frango não era mais do que 6%, pois cada brasileiro consumia menos de 2,3
kg per capita. Em 1999 o consumo per capita total de carnes foi estimado em 76,7 kg
(115% de aumento em relação a 1970), nessa expansão, a participação da carne bovina
subiu de 25,7 kg para 36,9 kg (cerca de 41% de aumento), e a carne de frango subiu para
29,1 kg, ou seja bem mais de 1000% de aumento em apenas 30 anos (GODOY, 2000).
A esse respeito ORTEGA (2000: 39) cita que “esse aumento no consumo de frango,
nas últimas décadas, é decorrente de diversos fatores: de um lado, as estruturas produtivas e
de distribuição vêm possibilitando elevadas taxas de conversão de proteína vegetal em
animal, a custos cada vez mais baixos. De outro, do ponto de vista da demanda, há vários
fatores, como: a) mudanças nos hábitos alimentares, em virtude da preocupação com a
redução do consumo de carnes de elevados teores de gordura, o que favorece a avicultura;
b) motivos religiosos, dado o crescimento do número de adeptos de religiões e seitas que
restringem o consumo de proteína animal a poucos animais e; c) produto com baixo preço e
produzido em larga escala, capaz de atender mercados gigantescos.”
Os números existentes são suficientes para demonstrar a verdadeira explosão de
crescimento experimentada pela avicultura de corte no Brasil. Para GODOY (1999)
existem duas frases, de épocas distintas, que retratam fielmente o que foi essa “explosão”:
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
4
PASSADO PRESENTE (E FUTURO)
“Pobre, quando come frango,
um dos dois está doente.”
“Barão” de Itararé
“O frango é a mais democrática das
proteínas.”
IBGE
A frase da esquerda foi dita pelo jornalista Aparício Torelly; o irreverente dito
refere-se a uma época que se estendeu até, praticamente, o fim dos anos sessenta, quando o
frango era realmente alimento escasso, prato típico de fim de semana ou, sobretudo, de
festas. Isso, além de ser considerado, também, “vitamínico” indicado para lactantes,
convalescentes ou panacéia para males corriqueiros como gripes e resfriados. Daí o dito, do
qual se apropriaram os laboratórios fabricantes de vitamina C, “caldo de galinha e cama”. A
afirmativa da direita provém do IBGE (1999), que constatou que o frango está presente,
com variações mínimas, tanto na mesa dos pobres quanto na mesa dos ricos.
Um setor que cresce com uma vitalidade tão grande, como a avicultura de corte, em
uma economia em recessão como a nossa, deve ser mais bem entendido, até por que
identificando seus contornos, podemos enxergar melhor a sua conformação e expectativas
para o futuro. Este tema é bastante estudado em termos produtivos, merecendo, portanto,
ser melhor explicado, enquanto seus determinantes, suas mudanças tecnológicas e seus
impactos, uma vez que conhecendo melhor suas caraterísticas é possível somá-la a outras
questões ligadas à indústria e à agricultura, resultando em uma contribuição na formulação
de um conjunto de políticas públicas que bem atendam à produção de proteína animal.
O problema para o qual procurei resposta nesta dissertação foi identificar quais
foram as transformações na base técnica da avicultura de corte no Brasil, assim como quais
foram seus determinantes e seus principais impactos. A partir dos dados pesquisados foi
possível perceber que a avicultura de corte brasileira, desde a sua constituição, vem
passando por transformações significativas em sua base técnica, tais como: a importação e
desenvolvimento de linhagens de aves com melhores qualidades zootécnicas (material
genético); a evolução das técnicas de determinação de exigências nutricionais das aves; a
utilização de modelos matemáticos informatizados na formulação de rações; a ampliação
INTRODUÇÃO
Levy Rei de França
5
do conhecimento acerca das restrições e composição química das matérias primas utilizadas
nas rações; a automação do manejo dos equipamentos do galpão; o desenvolvimento de
equipamentos de climatização dos galpões e nutrição das aves; a ampliação do tamanho dos
galpões; o desenvolvimento de substâncias químicas que contribuem para a sanidade
(vacinas, antibióticos, quimioterápicos, desinfetantes) e desempenho (promotores do
crescimento e eficiência alimentar, probióticos, vitaminas), decorrentes do
desenvolvimento tecnológico, das principais indústrias de tecnologia relacionadas aos
setores biológicos, mecânicos e químicos.
Foram utilizados como fonte de informações para as transformações acumuladas
nestes 30 anos de avicultura de corte brasileira: dados estatísticos de instituições como a
FACTA (Fundação Apinco de Ciência e Tecnologias Avícolas), APA (Associação Paulista
de Avicultura), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), UBA (União
Brasileira de Avicultura); livros de Zootecnia nas áreas de avicultura, melhoramento
genético, nutrição, construções rurais e ambiência; monografias, dissertações de mestrado e
teses de doutoramento em economia nas áreas de desenvolvimento tecnológico e economia
rural; e artigos de revista técnicas (avicultura industrial, aves & ovos, Agroanalysis) e
jornais (força ruralista). Para análise dos dados e informações, foram utilizados Gráficos e
Tabelas associadas a cálculos de taxa de crescimento geométrico e taxa de variação total.
O processo inicial de criação de frangos de corte no Brasil consistia em uma
constelação de produtores independentes que no momento mais recente foram
gradativamente substituídos pelas grandes empresas verticalizadas. Neste ambiente ocorreu
a emergência do sistema integração. Este mercado oligopolizado e dinâmico, representado
pelas grandes integradoras, adota tecnologia de ponta (nas áreas de nutrição, genética e
mecânica), induz os integrados a também adotarem novas tecnologias (galpões e
equipamentos) e a procurar regiões para instalar unidade de produção com incentivos
fiscais e matérias primas de menor custo. Estas transformações tiveram impactos
significativos em termos de exigência de capital mínimo para o produtor se tornar
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
6
integrado, em termos de número de empregos gerados por galpões e/ou milhares de frangos
produzidos e em termos de renda regional.
O objetivo geral deste estudo é analisar a evolução da base técnica da avicultura de
corte no Brasil, assim como os fatores determinantes que contribuíram diretamente para
estas transformações, bem como seus principais impactos. Tendo como objetivos
específicos a constatação e análise da evolução recente da produção, da produtividade, do
consumo, dos preços relativos e das exportações; a análise das transformações tecnológicas
recentes, bem como o processo atual de substituição de tecnologias; identificação e análise
dos principais fatores que determinaram as transformações recentes na base técnica; e a
identificação e análise dos principais impactos produzidos nos sistemas de produção, em
termos de retorno do capital aplicado, nível de emprego, produtividade do trabalho,
tamanho e localização das granjas.
Busca-se aprofundar aqui, de forma objetiva, os pontos fundamentais que cercam o
tema: No capítulo 1, apresenta-se o nascimento do complexo avícola brasileiro e analisa-se
a evolução recente da avicultura de corte no Brasil, através de dados estatísticos sobre a
evolução da produção, do consumo e das exportações, custos de produção e caracterização
do complexo avícola atual. Aponta-se, nesta parte, o crescimento da avicultura industrial a
partir da década de 70, a sua posição a nível mundial, os custos de produção em relação a
outros países, as expectativas de crescimento, a sua participação no PIB brasileiro, sua
importância social na geração de empregos e a produção de proteína de alta qualidade a
baixo custo para a população.
O capítulo 2 identifica as mudanças que ocorreram na base técnica durante este
período de evolução da avicultura de corte. Foram constatadas mudanças nas áreas da
genética, nutrição, nos equipamentos de alimentação, na indústria de ração, na
climatização, nos galpões, no processamento industrial, na sanidade, no manejo de criação
e no padrão de produção de frangos. Em sua conclusão tal capítulo aponta os ganhos
genéticos conseguidos no aumento do peso vivo ao abate, na nutrição com diminuição do
INTRODUÇÃO
Levy Rei de França
7
consumo de ração e da idade de abate, na automação dos equipamentos de alimentação, no
padrão de produção de ração, no aumento da utilização de equipamentos de climatização,
na mudança dos galpões, no aumento da eficiência e das técnicas que conferem sanidade,
no manejo de criação e no padrão de produção de frangos baseado em grandes empresas
verticalizadas integradas com produtores de médio e grande porte.
O capítulo 3 busca apresentar os determinantes das modificações da técnica que
foram atribuídos à desagregação do complexo rural e formação do complexo agroindustrial,
ou seja, uma estrutura com características auto-suficientes é substituída por outra ligada à
jusante e à montante a indústria; ao apropriacionismo e o substitucionismo industrial que
foram os responsáveis pelas modificações ocorridas no campo; defende a tese de que a
indústria se apropria das atividades do campo através do desenvolvimento tecnológico,
substituindo com eficiência atividades que no caso da avicultura se concentram na área da
genética, nutrição e mecânica; a questões ligadas à terra e ao trabalho, que baseia-se na tese
de que a economia de terra devido o seu custo, com a aplicação de tecnologia aumentando a
produtividade e à economia da mão-de-obra devido também ao custo e à baixa eficiência
humana que tem justificado as modificações poupadoras de terra e trabalho; e a políticas
públicas e financiamento, já que em vários momentos o Estado, também, foi um dos
elementos que contribuiu para o desenvolvimento da avicultura industrial, seja pela
regulamentação da importação de pintinhos avozeiros, seja por financiamento, pela
pesquisa através de instituições de pesquisa e universidades, subsídios, utilização do frango
como garoto propaganda em tempo recente e participação atual na montagem de novas
unidades produtivas no centro oeste
O capítulo 4 procura identificar os impactos das transformações da base técnica.
foram identificados impactos nos seguintes setores: na relação capital x trabalho, na
utilização de propriedades com mão-de-obra familiar, na utilização de tecnologias, na
geração de empregos e na localização das granjas. Apresenta também um item de impactos
previstos para Rio Verde, conforme Estudo de Impacto Ambiental e Relatório Impacto ao
Meio Ambiente (EIA-RIMA) aprovado pela FEMAGO.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
8
Finalmente no capítulo 5 são elencados alguns elementos estudados no corpo do
trabalho acrescidos de algumas contribuições para um melhor entendimento da avicultura,
de maneira que são apresentados: as características do desenvolvimento da ciência e
tecnologia como um elemento de subordinação dos processos de produção; a depreciação
tecnológica, que tem sido um dos elementos de constrangimento para a participação de
integrados em integrações ou de investimentos em nova capacidade produtiva; o novo
modelo de produção de maneira verticalizada integrada a produtores de médio e grande
porte, a nova localização dos investimentos na avicultura de corte; a emergência da questão
ambiental sinalizando para a necessidade de produção com desenvolvimento sustentado; e
termina com a conclusão final, analisando o recorte estudado e as suas possíveis
contribuições ao melhor entendimento da avicultura.
CAPÍTULO I
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO
BRASIL
Este capítulo apresenta o nascimento do complexo avícola brasileiro, analisa a
evolução recente da avicultura de corte no Brasil através de dados estatísticos sobre a
evolução da produção, do consumo e das exportações, custos de produção e caracteriza o
complexo avícola atual. Identifica o surgimento da avicultura industrial a partir da década
de 70, a sua posição a nível mundial, os custos de produção em relação a outros países, as
expectativas de crescimento, a sua participação no PIB brasileiro, sua importância social na
geração de empregos e proteína de alta qualidade a baixo custo para a população.
I. 1 - Surgimento do Complexo Avícola Brasileiro
Para GIANNONI & GIANNONI (1983), a avicultura nos moldes industriais teve
grande incentivo após 1940, em decorrência da fome provocada pela segunda guerra
mundial, aliado ao desenvolvimento de novas tecnologias1. MORENG & AVENS (1990)
também concorda que o desenvolvimento da indústria avícola comercial começou no início
de 1940, quando vários países do mundo começaram a se envolver com a II guerra
mundial. Cita ainda que nos EUA a avicultura cresceu independente de programas
governamentais e assim manteve um caráter competitivo que se caracterizava em procurar
uma produção eficiente em um mercado altamente disputado. Livre das medidas de
racionamento e outras restrições da II guerra mundial, a produção de carne e ovos
aumentou rapidamente. Os avanços tecnológicos que foram obtidos a partir dos resultados
das pesquisas científicas deram impulso para uma expansão industrial rápida. Estas
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
10
pesquisas aplicadas na tecnologia e no manejo de produção resultaram, finalmente, na
produção de carne para quase toda população, independente do rendimento econômico de
cada pessoa.
O complexo avícola brasileiro começou com a introdução de raças híbridas no país,
na década de 1940, mas que se intensificou somente no início da década de 1960, com o
programa dos galpões de mil frangos2 e a vinda de filiais de empresas norte-americanas e
canadenses, entre outras. Para a produção local de matrizes, essas empresas trouxeram suas
linhagens de avós, intensificando sua distribuição no país, que estava restrita a poucas
regiões e atendia à demanda de criação de “fundo de quintal” (ORTEGA,1988).
Interessante observar que estas empresas ofereciam também todo um pacote tecnológico
para viabilização da avicultura.
A partir dos anos 60, a avicultura de corte brasileira surge de maneira tímida3,
entendida como uma fonte de renda alternativa e subsistência familiar. No início de 70 se
verifica a consolidação da nova técnica, iniciando um processo contínuo e gradativo de
transformações que mudariam totalmente a concepção inicial da avicultura. A década de
setenta, portanto, entrou para a história como sendo a época da consolidação da avicultura
industrial no Brasil4, inclusive é a partir desta data que passamos a ter dados de
performance do setor.
1 Justificando o pensamento de SCHUMPETER (1943) já que nas crises é que aparecem novas tecnologias. 2 Resultado de convênio entre os Estados Unidos e o Ministério da Agricultura (SORJ et alli, 1982).
3 Na década de 1960 a avicultura de corte ganhou dinamismo, também entre outros fatores, graças a vinda
para o Brasil de um grupo de técnicos norte-americanos, e a criação de uma equipe brasileira para o
desenvolvimento do projeto do Escritório Técnico de Agricultura (ETA). É desta época a criação dos clubes 4
S que, trabalhando em nível de extensão rural, estimularam em jovens o interesse pela avicultura. O impulso
definitivo foi a visita de avicultores e técnicos brasileiros às granjas e indústrias avícolas dos Estados Unidos
(GIANNONI&GIANNONI, 1983). 4 Segundo MORENG & AVENS (1990), a base da indústria avícola começou a tomar forma em meados de
1930, com a agregação de pequenos produtores, nos EUA, para constituir grandes unidades comerciais
integradas de galinhas e perus. Estas unidades integradas (O sentido com que o autor emprega a palavra
integração não tem relação direta com o sistema de produção de frango atual chamado sistema integração)
produziam uma disponibilidade significante de alimentos e consumiam produtos industrializados e
ingredientes de rações, gerando empresas fornecedoras e vendedoras que propiciaram o surgimento de novas
fontes de renda para um segmento significante da população.
Cita ainda que durante os anos de 1929 a 1936, quando os EUA passaram por uma crise econômica, com
secas severas e tempestades de areia, muitas famílias da zona rural sobreviveram à custa da criação doméstica
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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11
I. 2 - Evolução da Produção e do Consumo
Quando se considera a produção e o consumo mundial de carnes bovina, suína e de
frango, a produção mundial em 1997, dessas três carnes, aproximou-se de 166 milhões de
toneladas, das quais 48,8%, 29,10% e 22,42% foram de carne suína, bovina e de frango
respectivamente, conforme os dados da Tabela 1. Para SALLE et alli (1998: 227),
analisando essas participações por um período amplo, observaram o seguinte
comportamento:
- a produção e o consumo de carne bovina evoluem abaixo do crescimento
vegetativo da população mundial, registrando portanto uma evolução real
negativa;
- a produção e o consumo de carne suína evoluem ao nível aproximado do
crescimento vegetativo da população mundial, portanto registrando estabilidade
de evolução, mas com tendência de decréscimo;
- a produção e o consumo de carne de frango evoluem a taxas substancial e
significativamente maiores que o crescimento vegetativo da população mundial.
TABELA 1 – Produção Mundial das Três Principais Carnes em 1997 (Milhões de
Toneladas). Carne Volume Participação
Suína 80,435 48,48%
Bovina 48,290 29,10%
De Frango 37,194 22,42%
Total 165,919 100,00%
Fonte: SALLE et alli (1998).
de galinhas, consumindo ou vendendo-as. Mesmo após 1936, os aviários domésticos davam uma renda para a
família do sitiante, que oferecia uma estabilidade econômica principalmente durante os períodos de tensão
financeira. A capacidade das galinhas produzirem produtos alimentares de grande valor nutritivo, com um
mínimo de investimento, seja em termos de tempo e capital investido, colocou na época a produção de aves
entre uma das atividades mais importantes de todas as famílias rurais americanas. Estas vantagens de
produção deram às aves o papel de fontes de alimentos nutritivos para famílias com recursos limitados,
principalmente nos países em desenvolvimento. É importante observar que a avicultura nasce como atividade
doméstica familiar, é incorporada pela indústria, mas conserva a criação na origem onde iniciou (quem cria
tem o mesmo perfil daqueles da sua instituição). O que mudou foi a forma verticalizada por força da
industrialização, já que neste nicho (criação) a indústria capitalista não teve interesse em assumir, sinalizado,
provavelmente, pelo excesso de não trabalho e grande risco já que trabalha com vida.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
12
Para SALLE et alli (1998: 227), a produção e o consumo de carne de frango devem
alcançar e até superar a carne bovina nos primeiros anos do próximo século, o mesmo deve
ocorrer em relação a produção e o consumo de carne suína por volta de 2020 a 2030. Essa
previsão foi feita baseado nos dados da Tabela 2, que mostra o mixing de produção das três
principais carnes durante o período 1973/1997. Os autores citam ainda que “a justificativa
mais simplista para a expansão do mercado de carne de frango é a de que é o produto de
origem animal que melhor responde aos desafios de alimentação do homem moderno
(qualidade nutricional e resposta eficiente aos problemas do sedentarismo, estresse, etc.)”.
Do ponto de vista técnico-científico, o frango é superior aos suínos e bovinos, por
apresentar um ciclo de vida bem mais curto, com características típicas de animal de
laboratório, sendo muito mais apto ao desenvolvimento de experimentos. Isso tem
proporcionado ganhos extraordinários ao setor, seja no ganho de peso, na redução do
período de criação, no mais eficiente controle de doenças e na melhor conversão alimentar.
Do ponto de vista econômico, o aumento na rapidez de resposta, aliado à alta
conversibilidade de matérias-primas vegetais, se traduz numa produção proporcionalmente
maior de carne ou de ovos, em menor espaço de tempo e a custos cada vez mais acessíveis.
TABELA 2 – Mixing de Produção Mundial das Três Principais Carnes – 1973/1997
(em Milhões de Toneladas). 1973 1997 Variação no
período Volume Participação Volume Participação
Carne suína 50,794 46,20% 80,435 48,48% 58,36%
Carne bovina 41,509 37,76% 48.290 29,10% 16,34%
Carne de frango 17,636 16,04% 37,194 22,42% 110,90%
TOTAL 109,939 100% 165,919 100,00% 50,92%
Fonte: SALLE et alli (1998).
Apesar das crises que freqüentemente assolam a economia brasileira, a avicultura de
corte, no que se refere à produção de carne de frango, vem evoluindo de maneira contínua,
com taxas de 11,39% ao ano. Isso resultou num crescimento acumulado de 2.446% de 1970
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
13
até 1999, onde a produção passou de 217.000 para 5..526.000 toneladas anuais, conforme
apresentado no Gráfico 1.
GRÁFICO 1 – Evolução da Produção Brasileira de Carne de Frango, 1000t, 1970–
1999.
Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor
No que se refere à produção mundial, o Brasil é um dos grandes produtores de
frangos de corte, ocupando a terceira posição a nível mundial, sendo superado apenas pela
China que é o segundo e os EUA, o líder do setor (Gráfico 2). Em uma análise desses
dados, GODOY (1999) argumenta que a produção de frangos dos chineses continua
irrisória frente à sua população (consumo de 5,1 Kg per capita/ano de carne de frango em
1998, praticamente 1/5 do consumo brasileiro). Na verdade esta constatação sinaliza para
um grande potencial de crescimento baseado na ampliação do mercado interno. Cita ainda
que o desempenho expressivo do México, ocupando a quarta posição, pode ser justificado
graças à indústria americana que passou a se servir das condições e da mão-de-obra
mexicana (mais barata) para aumentar sua produção e ampliar sua participação no mercado
externo.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
Produção (1000t)
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
14
Fazendo uma análise dos dados de produção de carne de frango, de 1994 a 1999, a
China foi o país campeão de crescimento com taxas anuais de 5,62%, contra 5,58% do
Brasil. Sendo que o crescimento acumulado do período foi de 46,66% para a China, e
46,29% para o Brasil. Para se ter uma idéia do crescimento da produção brasileira, os EUA
no mesmo período cresceu com taxas anuais de 3,18% e acumulou um crescimento de
24,5%.
GRÁFICO 2 – Produção de Carne de Frango, 1.000t, 1994-1999, por País: os 6
Maiores.
* Previsão
Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor
A participação do frango de corte na mesa do consumidor cresce a taxas de 8,08%
ao ano a partir da década de 70, acumulando um crescimento no consumo per capita, no
período de 1970 a 1999, em 930,4%. Para se ter uma noção da dimensão desse crescimento,
o consumo acumulado per capita de ovos, de carne de bovino e de suíno para o mesmo
período foi de 45,9%, 52,2% e 11,1%, respectivamente, conforme apresentado na Tabela 3.
0
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000*
Estados Unidos China Brasil
México França Reino Unido
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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15
TABELA 3 – Consumo Per Capita de Ovos e Carne de Frango, de Bovino e de Suíno,
Brasil, 1970 – 1999. Ano Ovos (Unidades) Frangos (Kg) Bovinos (Kg) Suínos (Kg)
1970 61 2.3 22.8 8.1
1971 62 2.4 23.4 7.9
1972 63 3.0 24.1 6.6
1973 60 4.0 26.2 7.0
1974 58 4.7 27.7 7.0
1975 57 4.9 29.8 7.2
1976 57 5.4 35.6 7.2
1977 57 6.0 40.0 7.4
1978 58 7.1 40.0 7.5
1979 62 8.7 34.9 7.7
1980 77 8.9 32.4 8.2
1981 72 8.9 29.0 8.0
1982 92 8.5 30.2 7.7
1983 84 9.3 27.7 7.4
1984 79 8.1 23.0 7.1
1985 87 8.9 22.8 6.9
1986 94 10.0 22.6 7.3
1987 109 12.4 22.2 8.0
1988 103 11.8 24.5 7.0
1989 83 12.4 24.7 6.6
1990 89 13.4 23.6 7.0
1991 88 15.0 22.8 7.0
1992 88 16.0 25.8 7.3
1993 86 17.0 33.4 7.8
1994 92 18.3 33.7 7.9
1995 101 22.8 36.2 8.7
1996 101 22.0 35.6 9.4
1997 83 23.6 35.1 8.9
1998* 81 24.0 34.7 9.0
1999** 89 23.7 34.7 9.0
Variação
total %
45,9 930,4 52,2 11,1
Variação
anual %
1,26 8,08 1,40 0,35
*Estimativa
** Previsão
Fonte: IBGE/IEA/APA in Aves & Ovos (1999:4). Modificado pelo Autor.
O maior consumo per capita de carne de frango no Brasil deverá ser atingido em
2000, quando se espera que cada brasileiro consuma aproximadamente 25,7 quilos de carne
de frango por ano. Essa quantidade poderia ser entendida como o limite máximo de
consumo do nosso mercado interno, entretanto, quando comparado com dados de outros
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
16
países, como Hong Kong, é possível perceber grandes possibilidades de crescimento. O
Brasil atualmente ocupa a 10a posição em termos de consumo per capita a nível mundial
com 25,7 Kg /ano, isso representa 49,7% do consumo do lo colocado que é Hong Kong com
51,7 Kg/ano. Entretanto percebemos uma certa estabilidade no consumo de 1998 a 2000,
conforme apresentado no Gráfico 3.
GRÁFICO 3 – Consumo Per Capita de Carne de Frango, Kg/Ano, 1998 – 2000, por
País: os 10 Maiores.
(P) preliminar/(e) estimativa
Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor
O consumo de carne de frango no Brasil cresceu a uma razão de 5% ao ano, de 1994
a 1999, acumulando neste mesmo período um crescimento 34%. Essa performance coloca o
Brasil que é o terceiro maior consumidor mundial em segundo lugar em nível de
crescimento, sendo superado apenas pela China que cresceu a taxas de 9,2% ao ano e
acumulando um consumo no mesmo período de 70%. Para se ter noção desse crescimento,
os EUA maior consumidor do mundo, têm para o mesmo período taxas anuais de
crescimento e total acumulado de 2,7% e 17,8, respectivamente (Gráfico 4), manifestando
característica de mercado maduro próximo ao seu limite máximo de consumo.
0
10
20
30
40
50
60
Hong K
ong
Kuw
ait
Estados U
nidos
Arábia
Sau
dita
Emira
dos Ára
bes
Taiw
an
Canad
a
Cingap
ura
Argen
tina
Brasil
1998 1999(p) 2000 (e)
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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17
GRÁFICO 4 – Consumo de Carne de Frango. 1000 t, 1994 – 1999. por País: os 6 maiores.
(P) preliminar/(e) estimativa
Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor
I. 3 - Evolução das Exportações
As primeiras exportações de carcaças de frangos foram realizadas em meados da
década de setenta, o que contribuiu para uma maior expansão desta atividade. A quantidade
e o valor das exportações podem ser apreciados no Gráfico 5. Observa-se um rápido
crescimento da quantidade exportada a taxas de 74,75% ao ano entre 75 e 82. Ficam
estagnados com tendência de queda até 87, quando então passam a apresentar um
crescimento significativo a taxa anuais de 10,33% até 99, contra taxa de 37,33% de 75 a 87.
Fazendo uma avaliação total de 75 a 99, observa-se um crescimento das exportações de
22.113,34% na quantidade (t) e 26.427,27% no valor FOB (US$ MILHÃO), com taxas
anuais de crescimento de 24,12% e 25,01%, respectivamente. Atualmente o Brasil é o
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1994 1995 1996 1997 1998* 1999**
Estados Unidos China Brasil México japão Reino Unido
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
18
segundo maior exportador5 de carne de frango do mundo, sendo os EUA o líder em
exportações.
GRÁFICO 5 – Exportações Brasileiras de Carne de Frango e seu Valor, 1975-1998.
Fonte: Dados obtidos in APA (2000). Elaboração do Autor
I. 4 – Custos de Produção e Impactos Sociais
Comparativamente aos principais países produtores de frango, o Brasil tem se
destacado tanto pelos índices zootécnicos quanto pelos índices de custos, conforme
apresentado na Tabela 4. Verifica-se por meio dos índices zootécnicos que o Brasil. EUA,
Holanda e França, sob o ponto de vista de eficiência técnica, apresentaram os melhores
resultados, bem acima daqueles obtidos pela China e Tailândia.
5 Em 1985 a exportação de frango em partes representava 14% do total da carne de frango exportada,
enquanto em 1999 já alcançava 54,8%. Atualmente são exportados mais de 60 tipos de cortes (ORTEGA,
2000).
0
100200
300400
500
600700800
9001.000
1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999
Quantidade (1000t) Valor FOB (US$ milhão)
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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19
TABELA 4 – Comparação de Índices Zootécnicos de Custos dos Principais Países
Produtores de Frango de Corte. Brasil Holanda China EUA Tailândia França
Índices
zootécnicos
Conversão 2,0 1,9 2,3 2,0 2,0 2,0
Idade (dias) 41,9 42,0 56,0 42,0 45,0 43,0
Eficiência 227 232 201 230 211 225
Peso limpo (Kg) 1,4 1,4 2,0 1,5 1,4 1,4
Custo
Ração 100 153,9 119,5 102,5 143,5 159,1
Pintinho 100 170,4 106,5 98,8 104,3 152,3
Abatedouro 100 188,7 118,3 112,8 136,8 179,4
Total 100 191,2 109,9 109,0 124,7 185,7
Fonte: GOMES & ROSADO (1998). Adaptado pelo Autor.
Onde:
(peso médio x viabilidade) x 100
__________________________
idade de abate Consumo de ração (Kg)
Eficiência= __________________________ Conversãor=__________________________
conversão alimentar Peso vivo da ave (Kg)
No tocante aos custos totais é visível a diferença existente entre o Brasil e demais
países. A Tailândia mesmo apresentando custos superiores ao brasileiro (24,7%), tem
ampliado a sua participação no mercado internacional. Segundo GOMES & ROSADO
(1998), isso ocorre em razão de sua proximidade com os mercados consumidores. Citam
ainda que, a França e a Holanda produzem a um custo quase que o dobro do brasileiro, só
se mantendo no mercado externo, devido aos subsídios dados aos produtores, que chegam,
às vezes, em 85% em função das barreiras alfandegárias no mercado internacional. Os
subsídios americanos às exportações, por outro lado, chegam a US$ 360 por tonelada.
O consumo do frango industrial produziu modificações nos hábitos de consumo
popular. Anteriormente, o frango caipira6 era o preferido pelo consumidor, que considerava
o frango industrial com sua pele muito branca, sem gorduras, um frango inferior. SORJ et
6 Devido aos elevados índices de produtividade que consegue a avicultura intensiva, a avicultura tradicional
fica marginalizada, sem condições de atender às necessidades de qualidade, controle sanitário e quantidade
regular, impostas pelos segmentos de processamento e comercialização do complexo agroindustrial (CAI)
avícola (Sorj et alli, 1982).
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
20
alli (1982) sublinha que o frango industrial impõe-se primeiro nos supermercados, e com
um público fundamentalmente de classe média. Com o tempo, seja por oferta sistemática na
maioria dos centros de vendas de carnes, seja pelo preço relativamente inferior à carne de
boi, terminou por ingressar inclusive no consumo popular.
Os resultados da última Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), feita IBGE,
concluiu que, a carne de frango está igualmente presente, com variações mínimas no
tocante à quantidade, tanto na mesa de pobres como na de ricos. Conforme pode ser
observado na Tabela 5 a classe de renda de até 2 SM consomem 18% da carne bovina e
75% da carne de frango consumida pela renda acima de 20 SM.
TABELA 5 – POF - Consumo das Carnes Bovina (de 1a) e de Frango 1989/1998, Kg
Per Capita
Classe de renda Carne bovina Carne de frango
1989 1998 1989 1998
Até 2 SM 2,3 3,4 10,9 14,4
15 a 20 SM 14,1 14,3 14,1 16,8
+ de 20 SM 21,2 18,8 16,3 19,2
Fonte: IBGE (1999).
O baixo valor do frango de corte, com reflexos positivos sobre o aumento de seu
consumo, tem efeitos positivos sobre o custo do valor da força de trabalho dos
trabalhadores. Se considerarmos, conforme comenta GRAZIANO DA SILVA (1988), que
o valor da força de trabalho equivale ao valor dos meios de subsistência que são
necessários, inclusive do ponto de vista moral e histórico, para manter o nível de vida
normal dos trabalhadores e garantir a sua procriação, a avicultura contribui para elevar a
taxa geral de mais-valia e, assim, a acumulação de capital.
Para GODOY (1999: 3) a atual indústria avícola brasileira é resultado direto do
processo de urbanização ocorrido no país nestes últimos 50 anos (Tabela 6), onde essa
urbanização atuou de duas maneiras distintas na criação de um novo e amplo mercado
consumidor:
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
21
1. Ao transferir, do campo para as cidades, maciças levas da população, aqui inclusos os
que produziam frangos e poedeiras para a própria subsistência e/ou para o atendimento,
eventual ou contínuo, de terceiros;
2. Ao valorizar os espaços urbanos, eliminando não só os “cinturões verdes” que
cercavam os grandes centros urbanos mas, sobretudo, as criações domésticas (são
poucos os que, nascidos antes dos anos 50, não conviveram com o galinheiro no fundo
do quintal, de onde saíam os ovos para consumo diário e o “franguinho” do fim de
semana).
TABELA 6 – BRASIL, Evolução da População Urbana e Rural em Meio Século, 1940
e 1990. em Milhões de Habitantes.
Ano População urbana
(A)
População rural
(B)
% do total
A B
1940 12,8 28,4 31% 69%
1990 110,2 34,8 76% 24%
VAR. 40/90 760% 22% - -
Fonte: IBGE (1999).
I. 5 - O Complexo Avícola Atual
Essa evolução pode ser constatada, também, pela enorme rede de atividades
correlatas ligadas à avicultura e suas inovações tecnológicas7, incluindo atividades de
intermediação na comercialização, beneficiamento e prestação de serviços de seus
produtos. Neste escopo geral, devem ser incluídos: as indústrias de rações; de equipamentos
para granjas, incubatórios, matadouros e frigoríficos; de equipamentos de classificação,
beneficiamento e transformação dos produtos avícolas; de laboratórios na produção de
vacinas, drogas, antibióticos e desinfetantes; a produção de matérias primas para rações
como vitaminas, elementos minerais e subprodutos industriais; a rede de intermediários
entre o produtor e o consumidor responsáveis pela comercialização, beneficiamento,
prestação de serviços e industrialização de produtos avícolas; os agrônomos, veterinários e
zootecnistas; universidades e centros de pesquisas; e muitas outras atividades aqui não
7 SCHUMPETER (1943) cita que a inovação de um setor potencializa e dinamiza o aparecimento ou o
crescimento de outros setores com novas inovações.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
22
relacionadas. Para COTTA (1997) este setor agro-industrial gerou mais de 2 milhões de
empregos diretos e indiretos em 1997 e dinamiza outros setores produtivos do país,
especialmente a produção de soja e de milho.
Para se ter uma noção da dimensão do setor avícola, o agronegócio representa US$
300 bilhões dos US$ 850 bilhões do PIB brasileiro (35% do total), o setor agropecuário
responde por cerca de US$ 60 bilhões (7% do PIB) e desse montante a avicultura de corte
participa com US$ 6 bilhões. As exportações do setor agropecuário somam US$ 16 bilhões
enquanto as da avicultura de corte chegam US$ 0,9 bilhões (SCHORR, 2000).
Caracterizando a avicultura em relação aos outros produtos agropecuários, SORJ et
alli (1982: 10) sublinham que:
1 - Apresenta um altíssimo grau de subordinação da produção rural à moderna
tecnologia produzida pelo complexo agroindustrial, fazendo com que o complexo avícola
seja um campo privilegiado para análise das transformações das relações sociais no campo
sob a liderança do capital industrial;
2 – Passa por um crescimento vertiginoso, no bojo da expansão do conjunto do setor
agroindustrial, baseado, em boa parte, em tecnologia estrangeira, possibilitando, desse
modo, esclarecer certos problemas de caráter do setor agroindustrial, suas perspectivas, e a
inserção do Brasil no mercado mundial de produtos alimentícios; e
3 – Permite análise dos problemas da representação política das novas camadas
sociais de produtores rurais ligados ao complexo agroindustrial e que se distinguem
claramente dos antigos produtores agrícolas.
No contexto da produção animal, a avicultura no Brasil tem se caracterizado como o
setor que mais se organizou em termos empresariais, pela formação de grandes empresas
verticalizadas e em termos associativos pela representação de interesses através de varias
associações8. Para ORTEGA (2000: 7) a especialização da avicultura nacional resultou na
8 Como por exemplo: UBA – União Brasileira de Avicultura, APA - Associação Paulista de Avicultura, AGA
– Associação Goiana de Avicultura, ABEF- Associação Brasileira de Exportadores de Frangos, APINCO –
EVOLUÇÃO RECENTE DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
23
emergência de formas de representação de interesses mais especializadas. A UBA por
exemplo é uma interprofissão, que mais do que ser uma dentre muitas entidades
representativas congrega uma espécie de federações estaduais, essa representação tem
como característica uma dupla função: de um lado, encaminha politicamente as
reivindicações do coletivo que representa, e, de outro, acaba desempenhando importante
papel de difusor de tecnologias.
O nascimento do associativismo na avicultura, levantando a bandeira pelo setor,
permitiu ganhos consideráveis nos últimos anos, tanto no que se refere à produtividade
como no que tange a parte comercial. Atualmente o complexo avícola é um dos complexos
agroindustriais brasileiros de maior dinamismo, com atividade primária extremamente
intensiva e integrada entre os elos da cadeia produtiva. Em virtude das fortes relações a
montante e a jusante da produção agropecuária é considerado um complexo agroindustrial
completo (KAGEYAMA & GRAZIANO DA SILVA, 1987)
I. 6 - Conclusão
Portanto, a avicultura brasileira se consolida industrialmente a partir da década de
70. Atualmente a carne de frango é a terceira carne mais consumida no mundo e a terceira
carne mais produzida no mundo e também no Brasil. No mercado interno é a segunda carne
mais consumida, tendo o consumo per capita aumentado 930,4% de 1970 para 1999, sendo
atualmente consumida com variações mínimas no tocante à quantidade, por ricos e pobres.
A produção interna cresceu 2.446% de 1970 para 1999, sendo que parte dessa
produção é destinada a exportação, de maneira que o Brasil ocupa o 2o lugar nas
exportações, tendo acumulado no período de 1975 a 1999 um crescimento de 22.113,34%
na quantidade de carne exportada.
Associação dos Produtores de Pintos de Corte, FACTA - Fundação Apinco de Ciência e Tecnologia Avícolas,
e outros.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
24
Na verdade, três fatores essenciais embasaram o desenvolvimento da avicultura
brasileira e sua consolidação como um dos mais modernamente constituídos: uma intensa
integração vertical, a expansão do mercado interno e o incentivo à busca do mercado
externo (MATOS, 1996b).
Este setor tão novo da economia é responsável pela circulação anual de cerca de 6
bilhões de dólares, gera mais de 2 milhões de empregos e é reconhecido por ser o mais
tecnificado e organizado da pecuária. Nos próximos capítulos, a minha tarefa será tentar
oferecer uma contribuição para o entendimento deste setor tão dinâmico da produção
animal.
CAPÍTULO II
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Este Capítulo procura identificar as mudanças que ocorreram na base técnica da
avicultura de corte durante o seu processo evolutivo. Foram constatadas mudanças nas
áreas da genética, da nutrição, nos equipamentos de alimentação e climatização, nos
galpões, no processamento industrial, na sanidade, nas técnicas de criação e no padrão de
produção de frangos de corte. Em sua conclusão tal Capítulo aponta os ganhos conseguidos
em função dos avanços da genética, nutrição e sanidade aliados a novos equipamentos de
alimentação, produção de rações e climatização. São apresentados também o aumento do
tamanho dos galpões, o aumento da quantidade de aves criadas por metro quadrado, o
aumento da utilização de equipamentos de climatização e a mudança das técnicas e do
padrão de produção de frangos de maneira verticalizada e integrada a produtores de médio
e grande porte.
II. 1 - Mudanças na Área da Genética
As modificações na área genética resultaram no desenvolvimento do popular
frango9 de granja, que desde sua constituição encontra-se em um dinâmico processo de
melhoramento, superando-se em termos de índices zootécnicos a cada ano. Fazendo uma
9Provavelmente as aves atuais tiveram origem na Índia a partir do gênero Archaeopterix. A galinha doméstica,
segundo DARWIN, citado por GIANNONI& GIANNONI (1983), ter-se-ia originado do Gallus bankiva da
Ásia. Porém outros autores consideram que sua origem foi polifilética a partir de cruzamentos entre essa
espécie e as Gallus sonnerati (galinha parda da Ásia), Gallus lafayetti (galinha do Ceilão) e Gallus varius
(galinha de java). Os primeiros indícios de domesticação datam de 3200 a.C. a 1400 a.C., onde já se criavam
na China como animais de adorno e de briga. A introdução de galos de briga na Europa ocorreu no século
XVI. Esse esporte se popularizou rapidamente, atingindo tais proporções que em 1849 o Vaticano o proibiu.
GIANNONI & GIANNONI (1983) citam ainda que atualmente das 31 espécies de animais domésticos, 11
são aves e destas a mais importante economicamente é a Gallus gallus.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
26
revisão sobre as inovações genéticas de 45 até 70, GIANNONI & GIANONNI (1983)
citam que as primeiras raças de aves de corte surgiram na Ásia e na Europa, porém a
produção industrial de frango de granja (broiler) teve início em New England nos Estados
Unidos da América do Norte. Desenvolveram-se as raças de dupla aptidão por volta de
1945 e uma delas, a New Hampshire, passou a ser gradualmente especializada para corte
como raça pura. Em seguida surgiram cruzamentos dessa raça com a Plymouth Rock
Barrada, cujos produtos se destinavam ao corte.
Em seguida surgiu a revolucionária raça Red Cornish, em 1948, desenvolvida por
Charles Vantress e pouco depois a White Cornish dominante. Ao mesmo tempo outra
mudança ocorria: o aparecimento do tipo corte White Rock melhorada por Henri Saglio,
tanto como raça pura, como paternal. A partir deste período praticamente todos os
“broilers” são produtos de cruzamentos entre Cornish e White Rock.
Na década de 50 as fêmeas “broiler” parentais eram formadas por cruza simples,
utilizando-se o vigor híbrido para as características reprodutivas. Surgiram então as marcas
de híbridos selecionadas pela capacidade combinante entre linhagens.
Em 1965 nova mudança ocorreu com a introdução do gene recessivo sexoligado
“dwarf” (dw) descrito por HUTT, citado por GIANNONI & GIANONNI (1983), na
linhagem paternal fêmea. A partir de 1970 linhagens parentais portadoras de “dw”
substituíram algumas linhagens comerciais e semi comerciais da Europa. Essas linhagens
apresentavam as seguintes vantagens: (a) 30% de redução no peso do corpo da linhagem
materna, em conseqüência requeriam em média 40 gramas a menos de alimentos por dia,
fato que reduziu o custo dos ovos de incubação e (b) a densidade populacional nos
galinheiros podia ser aumentada de 20 a 30%. Por outro lado condicionavam algumas
desvantagens como: (a) maior dificuldade de acasalamento, resultante da diferença de
tamanho entre fêmeas dw (pequenas) e machos (grandes), necessitando geralmente de
inseminação artificial, (b) diminuição da eclodibilidade total e (c) a maioria das linhagens
dw ainda não se encontra estabilizada geneticamente e adaptada para a comercialização.
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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27
Os ganhos decorrentes do melhoramento genético foram surpreendentes. Um
exemplo disto é o progresso conseguido nas aves de postura, que produziam 150 ovos por
ano e passaram as linhagens comerciais mais recentes para a produção média de 300 ovos
em 52 semanas. Esta tecnologia iniciou-se nos EUA e rapidamente se expandiu para outros
países.
A conversão alimentar também foi atingida pelo melhoramento genético. Uma
revisão a partir de 1945, feita por COTTA (1997), está apresentada na Tabela 7. Baseado
nestes dados, um frango de corte atingia o peso de 1,6 Kg com cerca de 98 dias, realizando
uma conversão em torno de 3. Atualmente os frangos atingem o mesmo peso com apenas
um mês de idade, com uma conversão alimentar em torno de 1,66.
TABELA 7 – Desempenho de Frangos de Corte Desde 1945. Ano Idade a 1,6 Kg de PV (dias) Conversão Alimentar
1945 98 3,00
1955 70 2,50
1965 56 2,25
1975 49 2,00
1990 30 1,66
Fonte: COTTA (1997)
Outro fato importante para a economia avícola foi a redução na idade de abate dos
frangos10
. Em 1912, eram necessários 112 dias para se produzir um frango com 1.500g de
peso vivo, e hoje se obtêm 2.160g em 42 dias apenas (TEIXEIRA, 1997a). A Tabela 8
mostra o peso vivo médio de frangos de corte, segundo a idade e o ano de sua produção.
Considerando o período de 1930 a 1999, conforme os dados da Tabela 9, o frango
aumenta em 73% o seu peso, passando de 1,5 Kg para 2,6 Kg na idade de abate, a
conversão alimentar passa de 3,5 para 1,8. Isso significa uma economia de 48% na
10
Além do melhoramento e sanidade, a nutrição constitui o sustentáculo mais importante da produção animal
e o principal responsável pelo sucesso desta exploração. Atualmente as pesquisas são dirigidas para
determinar requerimentos nutricionais a níveis mais econômicos e procurar alimentos alternativos, para
alimentar os animais e produzir a custos economicamente viáveis.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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28
necessidade de ração. A idade de abate passa de 105 para 42 dias, portanto 60% a menos de
tempo necessário para a época de abate.
TABELA 8 – Peso Vivo de Frangos de Corte Segundo a Idade e o Ano de Produção. Ano Idade (dias) Peso Vivo
1912 44 520
1930 56 750
1938 56 850
1946 56 980
1954 56 1280
1958 44 1450
1972 56 1760
1980 56 1850
1988 49 2080
1997 42 2200
Fonte: TEIXEIRA (1997a)
TABELA 9 – O Frango como Resultado do Desenvolvimento Científico.
Fator produtivo 1930 1999 Variação
Peso vivo (kg) 1,5 2,6 73%
Conversão* 3,5 1,8 (48%)
Idade** 105 42 (60%)
* Kg de ração necessários à produção de 1 kg de frango (peso vivo);
** Número de dias necessários para alcançar o peso especificado.
Fonte: GODOY (1999).
Para se ter uma noção da intensidade das mudanças genéticas, até a década de
oitenta, os programas de melhoramento genético apresentam a seguinte performance
(GIANNONI & GIANNONI 1983):
Ganho de peso – obtinha-se melhoramento de 4 a 5% ao ano;
Conversão alimentar – diminuía a razão de 1% ao ano;
Gordura abdominal (na avaliação por ultra-som) – já fazia parte do melhoramento
genético a diminuição dos depósitos de gordura;
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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29
Porcentagem de cortes nobres (coxa e peito) – o melhoramento já era direcionado
para o aumento do rendimento dos cortes nobres; e a seleção já considerava a necessidade
de resistência ao estresse, em função da sua importância em face dos métodos mais
intensivos e industrializados de produção.
Apesar do melhoramento genético considerar a resistência ao estresse os resultados
conseguidos não são significativos, a redução da mortalidade observada nos últimos anos
deve ser atribuída em grande parte à melhoria do ambiente e das práticas de manejo.
Conforme apresentado na Tabela 10 observa-se uma diferença de mortalidade de 18,37%
no período de 42 a 56 dias quando se compara frango de corte de 1997 com frango de
menor evolução genética (diferença de 12 anos) em condições de desafio de alta
temperatura a partir de 50 dias de idade (TORRES, 1998).
TABELA 10 – Peso (g), Conversão (g/g), Rendimento de Carcaça (%), Rendimento de
Peito %) por Linhagem e Idade. Características* Frango de menor evolução Frango de corte 1997
42 dias 56 dias 42 dias 56 dias
Peso 1306 2044 2232 3293
Conversão 1,877 2,064 1,769 1,992
Mortalidade 0,92 1,38 2,77 21,60
Rend. Carcaça 68,07 68,39 70,86
Rend. Peito 17,75 18,88 20,85
* Experimento com 12 boxes de 54 aves por tipo de ave.
Fonte: TORRES (1998).
Atualmente para LANA (2000) os ganhos genéticos anuais esperados são os
seguintes: 2,5% no peso corporal; 0,02 unidades de diminuição na conversão alimentar;
0,25% no aumento do rendimento de carcaça; 0,1% de diminuição na gordura abdominal,
0,15% de aumento no rendimento de peito; e 0,4 dias de diminuição na idade de abate.
Espera-se que sejam mantidos nos níveis atuais à idade a maturidade sexual, o pico de
produção, a eclodibilidade, a qualidade do ovo e a viabilidade dos frangos.
Para GRAZIANO DA SILVA (1988: 35), a seleção genética é um método de se
obter em alguns anos aquilo que as forças da natureza levariam milênios para fazer e que
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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30
jamais chegariam a um resultado tão perfeito, do ponto de vista do processo de produção
capitalista. Segundo o autor “algumas aves, como por exemplo, a galinha poedeira, a
codorna japonesa e o peru americano, após anos de seleção genética, encontram-se tão
distantes dos seus ancestrais nativos, que parecem novas espécies, e a reprodução não é
mais possível a não ser quando conduzida artificialmente, dado que essas raças já perderam
todos os instintos que não aqueles que se destinem à missão de fabricar ovos e carne”.
Para OTA citado por GOODMAN et alli(1990) existem as previsões de que em
tempo recente as atividades de melhoramento animal estarão bem de frente das
transformações qualitativas de curto prazo na agricultura, iniciadas pelas biotecnologias.
Um exemplo disto é utilização em fase experimental de hormônio do crescimento para
galinhas produzido por bactérias desenhadas por engenharia genética. Esse hormônio não
tem a finalidade de fazer as galinhas maiores, mas sim o de fazer galinhas normais
crescerem mais rápido.
Segundo SORJ et alli (1982: 31), “a avicultura moderna é filha das mais avançadas
técnicas de engenharia genética aplicadas à produção industrial de carnes animais. Pelo alto
grau de conversão de cereal em carne, é o frango o animal que melhor se adapta à produção
maciça de carnes a menores preços. A partir do controle genético, confinamento e
regulação alimentar, reduzem-se (quando não eliminam) os determinantes naturais do ciclo
de reprodução biológica do animal”.
A esse respeito GRAZIANO DA SILVA (1988: 16), em um breve resumo sobre o
progresso técnico na agricultura, cita o seguinte “na agricultura devido ao fato do período
produtivo estar condicionado por processos biológicos, dificilmente se consegue reduzi-los
significativamente através de inovações que não as biológicas; e ainda assim com
resultados bastante limitados.”
Dessa forma as mudanças na área da genética permitiram a substituição de raças
puras de aves por híbridos sintéticos de alta performance produzidos pela indústria da área
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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31
genética denominada no meio técnico por “avozeiro”. Os ganhos genéticos permitiram: a
diminuição da idade de abate de 105 dias para 42 dias; a melhora na conversão alimentar
passando de 3,5 para 1,8 ao abate e aumentar o peso vivo de 1,5 kg para 2,6 kg a idade de
abate.
II. 2 - Mudanças na Nutrição
A criação em ambiente confinado permitiu a diminuição dos riscos de mortalidade e
maior controle da criação. Isto foi possível graças ao fornecimento de todos os nutrientes
necessários à produção via rações balanceadas. Um dos fatores responsáveis pelo
melhoramento das rações das aves e, conseqüentemente, pela possibilidade de criar aves em
escala industrial, ou seja em grandes números e totalmente confinadas, foi a descoberta da
vitamina D311
sintética, em 1932, que permitiu a criação de aves na ausência de raios
solares (ENGLERT, 1978).
As mudanças na nutrição têm oferecido a sua contribuição ao progresso genético do
frango de corte. Para ENGLERT (1978), a nutrição é uma ciência deste século, pois foi por
volta de 1900 é que se começou a usar pela primeira vez rações à base de grãos cereais e
alguns subprodutos de origem vegetal e animal. Até então, as aves eram criadas à solta e
elas supriam suas deficiências alimentares ingerindo vegetais, insetos e minhocas, além dos
grãos de milho e outros que recebiam do criador. Naquela época ainda se acreditava que
para criar bem uma ave bastava mantê-la com o papo cheio.
A evolução do uso de alimentos para as aves pode ser vista na Tabela 11. Nesta
apresentação de valores de aproximadamente 30 em 30 anos, é possível observar as
mudanças no uso de alimentos para as aves, iniciando com pasto e milho até formulação de
rações balanceadas acrescidas de minerais, vitaminas e aditivos.
11
Essa vitamina em condições naturais é sintetizada na pele a partir de provitaminas presente em alguns
alimentos, a partir da radiação solar
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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32
TABELA 11 – Evolução do Uso de Alimentos para Aves 1900 1930 1960 1997 Pasto + farinha de ossos + ração balanceada + minerais
Milho + aveia + vitaminas
+ aditivos Fonte: TEXEIRA (1997a), Adaptado pelo autor
Segundo TEIXEIRA (1997a), no campo da avicultura houve um progresso
marcante na área de nutrição, a Tabela 12 mostra 40 anos de progresso na nutrição de
frangos de corte, comparando as rações de 1929, 1956 e 1969. De 1929 para 1969 houve
um aumento de 138,4% no peso médio dos frangos aos 28 dias. O autor atribui parte desta
melhora à qualidade da ração que diminuiu o gasto com alimento por quilo de frango
produzido em 41%. Tal fato trouxe um grande benefício para o setor avícola, pois a ração é
o principal responsável pelo custo de produção, sendo que este custo teve uma grande
queda naquele período.
TABELA 12 – 40 Anos de Progresso na Nutrição de Frangos de Corte. Resultados Ração – ano
1929 1956 1969
Peso aos 28 dias (g) 255 590 608
Conversão alimentar 2,56 1,60 1,51
Custo relativo 215 112 100
Fonte: TEIXEIRA (1997a)
Dentre vários pontos fundamentais no progresso obtido nos últimos anos, destacam-
se três: 1 – identificação e determinação dos requerimentos de minerais, vitaminas e
aminoácidos essenciais; 2 – reconhecimento da importância de equilíbrio entre o nível de
energia e os demais nutrientes da dieta; 3 – relacionamento do custo da alimentação para a
produção de um quilo de carne. Embora a nutrição animal seja considerada uma das
ciências mais desenvolvidas no campo da zootecnia, ainda existem muitos fatores de
produção para serem pesquisados. Muitos nutrientes requeridos pelos frangos de corte que
já foram isolados e identificados, como os solúveis secos de destilarias, o soro em pó de
leite, a levedura seca de cerveja, a farinha de miscélias de antibiótico, outros solúveis de
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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33
fermentação e certos alimentos naturais; têm sido mencionados como boas fontes de fatores
de crescimento não identificados (TEIXEIRA,1997a).
O levantamento da evolução das exigências nutricionais das aves apresenta
componentes bastante diferenciados. Existe um processo dinâmico de inovações nas áreas
de determinação das exigências nutricionais. Um exemplo disto é a questão do nível de
proteína na ração das aves de corte. As primeiras rações apresentavam altos níveis de
proteína bruta (altos níveis de farelo de soja para suprir aminoácidos essenciais). Essas
foram sucedidas pela utilização de mistura de ingredientes protéicos, permitindo a
diminuição do nível total proteína bruta (já que a mistura de ingredientes diferentes permite
que um ingrediente supra a deficiência de aminoácidos do outro), sendo assim a mistura de
farelo de soja mais farinha de carne e farinha de sangue permite a diminuição de proteína
bruta em relação ao farelo de soja considerado isoladamente. Em seguida, a utilização de
aminoácidos essenciais sintéticos, somada aos critérios anteriores, resultou na utilização da
“proteína ideal”. Essa forma inovadora de formulação de rações é feita não mais a partir da
proteína bruta, mas pelo balanceamento em nível ideal dos aminoácidos necessários para as
aves.
Para ALBINO (1991), a utilização recente dos valores de aminoácidos digestíveis
resultou na formulação de rações de maior eficiência, atendendo de maneira adequada
exigências nutricionais, além de proporcionar resultados econômicos superiores aos obtidos
com rações formuladas para atender às exigências em aminoácidos totais.
Atualmente a crescente tendência mundial de elevação dos preços das fontes
protéicas tem direcionado os nutricionistas a formular rações que atendam adequadamente
às exigências nutricionais, mesmo quando se utiliza os mais variados tipos de ingredientes
em rações complexas, no intuito de reduzir o custo de produção sem alterar os resultados de
desempenho. Desta maneira, considerando que a utilização dos nutrientes dos alimentos é
substancialmente variável, o conhecimento da fração digestível dos aminoácidos é
particularmente importante na formulação de rações, uma vez que permite a utilização de
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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34
uma grande gama de alimentos, entre eles os subprodutos industriais e os alimentos
alternativos ou não convencionais, dispensando a utilização de margens de segurança, que
muitas vezes não é suficiente para garantir máximo desempenho (SILVA & ROSTAGNO,
1998).
A solução para os déficits dos chamados aminoácidos essenciais, como a lisina e a
metionina que os animais precisam para formar as proteínas, tem atraído firmas de
pesquisas biotecnológicas a pesquisar técnicas de engenharia genética para melhorar o
balanceamento desses aminoácidos em proteínas de cereais. Outros projetos procuram
diminuir os custos desses aditivos nutricionais via incremento da eficiência dos métodos de
fermentação bacteriana usados para produzir aminoácidos. Dessa forma seria possível
diminuir o custo das rações, já que as necessidades metabólicas dos animais poderiam ser
atendidas por uma alimentação de baixa proteína, combinada a uma mistura bem
balanceada de aminoácidos (GOODMAN et alli, 1990).
No caso das necessidades de vitaminas para as aves, a quase totalidade foi definida
na década de 40 e desta época para cá não foi feita mais nenhuma modificação mais
profunda nos níveis recomendados, apenas uma aproximação teórica em 1994 pelo NRC12
(PENZ, 1995). Deve-se destacar que a produção de vitaminas está diretamente relacionada
à atividade de multinacionais13
, como as européias Roche e Basf, detentoras de maior
parcela do mercado.
12
National Research Council 13
Essas empresas adotam a estratégia de importação dos princípios ativos e dos fármacos utilizados pelas
filiais instaladas no Brasil. Na verdade essas empresas têm reduzida participação do capital nacional, e
dependem de importação da grande maioria dos produtos de que necessita. Segundo ORTEGA (1988), esse
setor de química fina tem sua filial aqui no Brasil e importa as matérias-primas da matriz. Essa estratégia
atende a dois objetivos. O primeiro é o de dificultar a concorrência de empresas nacionais que formulam e
embalam produtos farmacêuticos, através de pequena margem de lucro na venda de fármaco, mantendo
preços baixos, distribuição de amostras e supervalorização do preço de compra do fármaco à matriz. O
segundo é a questão da propriedade industrial. Como o Brasil não reconhece patente de produtos
farmacêuticos, as empresas que detêm a tecnologia preferem manter o desenvolvimento tecnológico a cargo
da matriz no exterior.
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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35
O mercado brasileiro de vitaminas é o terceiro maior mercado mundial, controlado
fortemente por empresas multinacionais dos setores químico e farmacêutico. Existem,
entretanto, empresas nacionais de médio porte que controlam mais de 50% do mercado.
Dos microelementos que compõem as rações balanceadas, a grande maioria é importada,
como é o caso das vitaminas A, D3, E, K e B12, Riboflavina, Niacina, Ácido Pantotênico,
Piridoxina, Biotina, Ácido Fólico, etc., e mesmo os produtos nacionais são elaborados a
partir da importação de alguns substratos (AVICULTURA INDUSTRIAL citada por
ORTEGA, 2000).
Para BERTECHINI (1997: 5) quatro fases mostram a evolução da qualidade das
rações no Brasil: A primeira fase correspondeu ao período de predomínio de moinhos de
trigo, onde o subproduto desta indústria, o farelo de trigo, compunha mais de 50% das
rações, influindo de forma negativa na eficiência alimentar e no desempenho dos animais,
além dos problemas de excesso de fibra com este tipo de dieta.
A segunda fase data entre as décadas de 60 e 70, onde houve a entrada das grandes
indústrias de ração no Brasil, trazendo consigo novos conceitos de nutrição e alimentação
animal. A partir deste período, o termo ração balanceada14
se fixava e a idéia de equilíbrio
de nutrientes também foi introduzida nesta época. Pode-se considerar que esta foi uma fase
de grande evolução na produção de aves no Brasil.
A terceira fase desta evolução correspondeu à expansão da produção de milho e
soja, proporcionando maior estabilidade às rações balanceadas. A partir desta data as rações
tornaram-se cada vez mais eficientes e uniformes. O valor nutricional destes dois nutrientes
ficou bem conhecido, o que permitiu a suplementação de suas deficiências, para assim,
conseguir o desempenho máximo desejável das aves modernas. A expansão da produção do
farelo de soja, subproduto da extração do óleo de soja, também veio contribuir pela oferta
14
Ração balanceada é uma mistura de alimentos convenientemente equilibrada para fornecer todos os
nutrientes exigidos pelos animais (TEIXEIRA, 1997a)
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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36
de uma fonte de proteína de alta qualidade e relativamente barata, diminuindo o custo das
rações.
A quarta fase foi o uso da programação linear no cálculo de rações de mínimo custo.
O computador facilitou o cálculo de rações equilibradas com bastante eficiência e rapidez.
Este fato permitiu que houvesse mudanças pequenas nas fórmulas das rações, em função da
matéria prima disponível e os seus preços.
Para PERES & MARQUES (1988), a avicultura industrial se diferenciou das demais
no uso da programação linear para o cálculo de suas rações, de maneira que se considera
impossível balancear uma ração para aves sem utilização deste instrumento de pesquisa
operacional. Mesmo antes da disseminação do uso dos microcomputadores, já existiam
programas “fechados” de cálculo de rações, especialmente para aves. Estes programas eram
utilizados nas fábricas de rações, sendo de uso relativamente fácil, embora de alto custo.
Por serem fechados, a introdução de novos tipos de restrições ficava dificultada ou mesmo
impossibilitada em alguns casos.
Várias instituições brasileiras também contribuíram para a evolução da nutrição das
aves. A Universidade Federal de Viçosa15
foi a primeira na determinação das exigências
nutricionais de aves e suínos bem como na digestibilidade e disponibilidade dos nutrientes
de alguns alimentos. Em 1983 sob coordenação do professor ROSTAGNO, é lançada a
primeira publicação brasileira sobre composição de alimentos e exigências nutricionais de
aves e suínos. Nesta época a tecnologia de formulação de rações era baseada em
informações de composição de alimentos e de exigências nutricionais estabelecidas no
exterior, principalmente nos EUA e na Europa.
15
Desde o início da década de 70 que a Universidade Federal de Viçosa iniciou uma série de trabalhos de
experimentação e pesquisa, visando construir, com dados obtidos no país, uma tabela de composição de
alimentos e de exigências nutricionais de aves e suínos. A quase totalidade dos dados já tinha sido publicada,
principalmente para a comunidade técnica e científica nacional da época, através de artigos científicos,
dissertações de Mestrado, teses de Doutorado e de comunicações em encontros e congressos (ROSTAGNO et
alli, 1983).
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
37
As tabelas usadas até aquela época para cálculo de rações, tanto nas indústrias
quanto nas instituições de pesquisa, eram tabelas estrangeiras ou tabelas publicadas no país
com base em dados de tabelas provenientes do exterior. Neste aspecto ROSTAGNO et alli
(1983) argumentam que não há dúvida de que o uso destas tabelas representou a adoção de
tecnologia de alto nível, que permitiu ao país atingir o desenvolvimento observado.
Entretanto, para ele, estas tabelas sob certos aspectos, deixam a desejar quanto à sua
perfeita aplicabilidade nas condições brasileiras, de maneira que a grande evolução
brasileira nas décadas de 70 e 80 contribuiu para que se chegasse a resultados de
desempenho de aves, comparáveis aos dos países altamente desenvolvidos neste setor.
De 1983 até o ano 2000, as pesquisas continuaram e permitiram o acúmulo de uma
quantidade significativa de informações científicas sobre composição de alimentos e de
exigências nutricionais de aves e suínos que resultaram na publicação de uma nova tabela
brasileira de exigências nutricionais. Para confecção dessas tabelas foram realizados
milhares de análises de alimentos, produzidos no Brasil, conduzidas em dezenas de ensaios
com frangos de corte, poedeiras, reprodutores e suínos nas diversas fases da criação e sob
variadas condições de ambiente e de temperaturas em laboratórios de nutrição animal,
desenvolvidos em linhas de pesquisa de dissertações de mestrado e teses de doutorado
(ROSTAGNO, 2000).
A biotecnologia aplicada ao setor de rações desenvolveu à produção da PCU16
(proteína de célula única), um substituto industrial da fermentação para os grãos
forraginosos, que pode crescer em substratos de hidrocarbonos fósseis, dejetos industriais e
outros materiais não-agrícolas. Quando fermentado com o melaço o lêvedo-semente
original quintuplica em cerca de 12 horas, uma produção de proteína muitíssimo mais
rápida do que é possível através da alimentação de qualquer animal doméstico. Na
alimentação animal, a PCU pode ser usada no lugar do farelo de soja e de peixe como
suplemento protéico, e possui uma função semelhante na alimentação humana, embora
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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38
neste caso seja necessário um processo adicional para reduzir as concentrações
relativamente altas de ácidos nucléicos (OTA citado por GOODMAN et alli, 1990).
As perspectivas comerciais das rações animais de PCU dependem dos preços
relativos das tortas de soja e de peixe, e eles continuam a favorecer as fontes tradicionais de
proteína. Entretanto a utilização de dejetos orgânicos e dos efluentes que necessitam de
tratamento, por razões ambientais ou de recursos hidrocarbônicos subsidiados, podem criar
circunstâncias especiais que facilitem o seu desenvolvimento comercial. GOODMAN et
alli (1990), considera que uma ameaça adicional aos mercados exportadores mundiais de
soja vem das aplicações de engenharia genética aos processos de fermentação bacteriana
com o objetivo de reduzir os custos industriais de produção de aminoácidos estratégicos,
dessa forma, a lisina, a metionina, o triptofano, e a treonina podem ser combinados com o
farelo de milho para que este alcance o mesmo valor nutritivo da soja. Cita ainda que, a
produção desses aminoácidos a baixo custo faria as rações animais de baixo teor de
proteínas mais competitivas e intercambiáveis, minando a atual proeminência da proteína
de soja.
Dessa forma podemos ver a ameaça direta e imediata representada pela
biotecnologia às fontes convencionais de proteína animal. Para GOODMAN et alli (1990) o
“calcanhar-de-aquiles” do sistema convencional de produção de proteína animal é a sua
dependência da ineficiente conversão de proteína vegetal em proteína animal, pelos
animais. Da mesma forma os substitutos de proteína vegetal, especialmente análogos de
carne baseados em soja, representam uma ameaça inicial à indústria de proteína animal.
Com micoproteínas, no entanto, este setor enfrenta agora o desafio de um processo
exclusivamente industrial capaz de reproduzir as qualidades texturais, nutricionais e outras
características da carne fresca e desengordurada.
16
Células secas de microorganismos como algas, actinomicetos, bactérias, fermentos, mofos e fungos mais
elevados, cultivados em sistemas culturais de larga escala para uso como fontes de proteínas para alimentação
humana e animal (GOODMAN et alli, 1990).
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
39
Portanto, as mudanças na nutrição se iniciaram em 1900, quando se usou ração pela
primeira vez. Em 1932 foi possível a criação de aves em ambiente confinado, em função da
independência da vitamina D3, mas foi na década de 60 que realmente apareceram as
rações balanceadas no Brasil. O oferecimento de proteína para as aves iniciou com elevados
níveis de farelo de soja na ração, mas ao longo do tempo as pesquisas mostraram técnicas
mais eficientes.
Os avanços apareceram também nas misturas de ingredientes protéicos, na adição
de aminoácidos essenciais e mais recentemente a utilização de aminoácidos digestíveis,
aumentando a precisão dos cálculos de ração e diminuindo a necessidade de elevados níveis
de segurança. Aliado a esses aspectos o aumento da precisão no levantamento das
exigências nutricionais associados a programação linear permitiram o cálculo de rações de
mínimo custo, diminuindo o custo e aumentando a estabilidade do preço das rações.
Atualmente espera-se novidades no campo da biotecnologia e a possibilidade de sua
utilização no mercado da nutrição
II. 3 - Mudanças dos Equipamentos de Alimentação
São considerados equipamentos de alimentação os comedouros e bebedouros. Os
comedouros são usados para fornecer a ração e os bebedouros para fornecer água. Existem
vários tipos de comedouros, segundo a idade da ave e o tipo de funcionamento. Para
pintinhos, na década de 70, eram recomendados os comedouros de bandeja17
e comedouros
lineares18
. Para frangos, após as primeiras duas semanas, eram recomendados os
comedouros definitivos lineares19
, tubulares20
e automático21
.
17
São recipientes rasos, de madeira ou fibra prensada, nas dimensões de 50 cm x 54 cm e com uma borda de
1cm de altura. Uma bandeja é o suficiente para cada 100 pintos nos primeiros dias de vida (ENGLERT,1978). 18
São constituídos por um cocho com aproximadamente 100 cm de comprimento, cada um é o suficiente para
100 pintos, nas duas primeiras semanas (ENGLERT,1978). 19
Um comedouro linear de 1,50m de comprimento é o suficiente para 60 frangos, já que são usados os dois
lados. 20
Também são chamados de semi-automáticos, são constituídos por um prato e um depósito de ração na
forma de cone ou cilindro. Este depósito, normalmente, pode armazenar ração suficiente para três dias, já que
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
40
Atualmente, nas instalações avícolas os comedouros de bandeja e comedouros
lineares não são mais utilizados, porque ambos representam mão-de-obra excessiva e
desperdício de ração. Normalmente nos primeiros dias para estimular o consumo, o que se
faz é forrar o círculo de proteção com jornal e jogar um pouco de ração neste forro,
enquanto os pintinhos aprendem a comer no comedouro tubular automático.
Os comedouros lineares, desde a década de 70, já eram substituídos pelos tubulares,
por exigir muita mão-de-obra para abastecimento e permitir muito desperdício de ração. Na
época a automação já era sugerida, mas dependia de uma avaliação preliminar para
instalação de comedouros automáticos. Um exemplo disto é a sugestão de ENGLERT
(1978), que considerava uma vida útil de cinco anos, tanto para os comedouros automáticos
como para os tubulares. A decisão de comprar dependia do salário pago ao tratador. Como
regra prática o investimento num comedouro automático não poderia ser superior a 5 vezes
o valor da economia de mão-de-obra em um ano.
Atualmente os comedouros tubulares foram substituídos pelos comedouros
automáticos tubulares22
, devido a economia de mão-de-obra. Atualmente nem se cogita em
utilizar equipamentos manuais; deve-se considerar que: os galpões aumentaram de
tamanho, foram automatizados, os equipamentos são mais acessíveis pelos ganhos de
escala e oferecem um melhor controle do manejo das aves.
a ração desce sob pressão e mantém o prato do comedouro sempre cheio. Um comedouro com 1,20 m de
circunferência é o suficiente para 40 frangos desde 2 semanas de idade até o abate (AVEMARAU, S/D). 21
Os comedouros automáticos ou mecânicos existem em duas formas básicas, uma de corrente dentro de
comedouros lineares e outra de tubos que transportam a ração para comedouros tubulares. O comedouro
mecânico de corrente consta de um depósito de ração central e de um motor que aciona uma corrente com
elos transportadores que conduzem a ração através do comedouro linear em circuito fechado por dentro de
todo o galpão. Já o comedouro automático tubular conduz a ração por correntes transportadoras dentro de
tubos aéreos que desembocam diretamente no depósito dos comedouros tubulares, estrategicamente dispostos
dentro do galpão (ENGLERT,1978). 22
No caso de matrizes utiliza-se atualmente comedouro automático do tipo corrente, com proteção da parte
superior para que o galo não coma (cabeça do galo é maior que das galinhas) e comedouro tubulares manuais
mais altos para os galos, assim as galinhas não podem alcançar (as galinhas são menores que os galos), isto
permite uma alimentação nutricionalmente diferenciadas para machos e fêmeas.
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
41
A importância do controle do nível da ração pode ser apreciada na tabela 13, quando
se avalia o desperdício em função da forma de abastecimento da ração nos comedouros,
observa-se que o nível mais recomendável é aquele onde fornecemos rações até a altura de
1/4 do comedouro23
. Uma das grandes vantagens dos comedouros tubulares sobre os
lineares é permitir o controle do nível da ração.
TABELA 13 – Demonstração de Desperdício em Função da Forma de Abastecimento
da Ração nos Comedouros. Nível de alimento no comedouro % de perda
Até ¼ 2 a 3
Até ½ 4 a 5
Até ¾ 8 a 10
Completamente cheio 12 a 20
Fonte: ANDRIGUETO (1996)
Com relação aos bebedouros, na década de 70 ENGLERT (1978) distribuía esses
equipamentos em três tipos: o bebedouro de pintinhos24
, o de bóia25
e o de água corrente26
,
TEIXEIRA (1997b) acrescenta ainda o tipo pendular com válvula27
e o tipo nipple28
. Os
bebedouros de água corrente foram substituídos pelos bebedouros com bóia devido ao
excessivo consumo de água; os bebedouros do tipo calha por exigirem maior observação e
mão-de-obra para evitar trasbordamentos foram substituídos por bebedouros tipo pendular
com válvula; estes atualmente estão sendo substituídos pelos bebedouros do tipo nipple
devido à necessidade de higienização constante. Segundo AVEMARAU (S/D),
comparativamente, o bebedouro nipple é mais eficiente que o pendular porque:
23
O nível mais encontrado e recomendado na literatura é de 1/3, com um desperdício em torno de 1 a 2%. 24
O bebedouro de pintinhos ou tipo copo de pressão, são usados nas duas primeiras semanas, são do tipo
pressão com um copo invertido e prato, com capacidade de 3 a 4 litros e cada um é suficiente para 100
pintinhos (MALAVAZZI, 1990). 25
Os de bóia podem ser lineares de calha ou tipo fonte circular. O nível de água destes bebedouros é
controlado automaticamente por uma bóia que abre e fecha a válvula de entrada da água (MALAVAZZI,
1990). 26
Os bebedouros de água corrente constam apenas de uma calha que entra por um lado do galpão, no sentido
transversal, e sai pelo outro, indo desaguar na rede de esgotos (MALLAVAZI, 1990). 27
Apresentam a cúpula em forma de sino, são ligados a uma fonte de água fresca, dotados de válvulas,
enchem por si só, mantendo um nível de água constante a medida que a ave bebe, são utilizados na proporção
de um para cada 100 frangos (TEIXEIRA, 1997b). 28
Este tipo é automático, não requer manejo de higienização. Alguns modelos são indicados para todas as
idades das aves, com fácil regulagem. São utilizados na proporção de um bico para cada 12 a 15 frangos de
corte (ZIGGITY, S/D).
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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42
- Tem menor gasto de água, já que não é necessário lavar todos os dias;
- Tem maior higiene e controle de doenças, já que uma ave ingere pouca ou
nenhuma secreção salivar ou nasal deixada na água por outra ave,
eventualmente doente;
- Tem menor gasto com limpeza e desinfecção, por dois motivos: economia de
mão-de-obra e de desinfetantes; e
- Não há acúmulo de restos de ração, propiciando o desenvolvimento de
patógenos.
Segundo TEIXEIRA (1997b), os bebedouros tipo pendular com válvula são os mais
utilizados na atualidade, mas para ele existe a possibilidade do bebedouro tipo nipple tornar
o mais utilizado no Brasil. Esta projeção é o que está acontecendo na prática, pois todos os
galpões que foram construídos em Jataí e os que estão sendo construídos em Rio verde são
equipados com bebedouro do tipo nipple29
.
Dessa forma observa-se que as mudanças de base técnica atingiram os
equipamentos de alimentação de maneira intensa na área de automação. Hoje o
funcionamento dos comedouros e dos bebedouros não depende de mão-de-obra humana,
são mais eficientes em termos de limpeza e melhoram o ganho de peso e diminuem a
mortalidade em função da ausência de pessoas andando com freqüência dentro do galpão.
II. 4 - Mudanças na Indústria de Ração
A origem da indústria de rações está ligada ao aproveitamento de resíduos
industriais do trigo nos início da década de 40, nessa época atendia a demanda de um
mercado pequeno representado pelas criações de fundo de quintal das grandes cidades e
eventualmente uma ou outra produção intensiva.
29
O primeiro galpão equipado em Rio Verde já tem o nipple acrescido de uma concha abaixo do bico para
evitar molhar a cama (CASP, S/D).
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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43
O setor ganhou dinamismo com introdução em massa de raças híbridas, de frangos
de corte, aves de postura e suínos tipo corte na década de 60, ocasião em que ocorreu um
grande crescimento no setor e com a instalação de inúmeras plantas no país. O grande
dinamismo ocorreu mesmo no início da década de 70 com a introdução de modernas
plantas trazidas pelas multinacionais, atraídas pelo potencial do mercado em ascensão e
pelo desenvolvimento do complexo soja. A partir dessa época é que se passa a utilizar a
informática (com a programação linear) na formulação de rações e novas técnicas de
nutrição adequadas a atender aos requisitos das raças híbridas geneticamente aprimoradas.
Segundo ORTEGA (1988), as primeiras plantas utilizadas no Brasil foram
importadas dos EUA. Essas plantas eram representadas por grandes unidades de produção
(25.000 a 30.000t/mês) visando à economia de escala e instalaram-se no eixo São Paulo-
Campinas em função da logística de distribuição de rações aos consumidores. Essa
produção com base em uma tecnologia avançada em grandes plantas e com grande escala,
criou um certo grau de barreira a entrada de concorrentes no setor, dessa forma foi criado
um padrão centralizado de produção de rações.
No final da década de 70 esse padrão centralizado de produção entra em crise. Os
motivos são atribuídos a elevação dos custos de transporte, afetando a distribuição da
produção, já que a produção da pecuária intensiva começou a se interiorizar e afetando
também o transporte de matérias-primas como é o caso do milho, que passou a ser
produzido em locais cada vez mais distantes. Associado a isso em virtude da crise do
petróleo, ocorre elevados aumentos do preço dos combustíveis.
As barreiras à concorrência também foi diminuindo em função da implantação no
Brasil da indústria de bens de capital construiu fábricas de ração do tamanho que o cliente
desejasse. Também a miniaturização dos computadores tornou acessível a sua aquisição
para formulação de rações e a indústria químico-farmacêutica facilitou a produção em
pequena escala através da venda de premix. Para ORTEGA (1988) todos esses fatores,
aliados à queda no volume do crédito agrícola subsidiado, para a compra de rações e
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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44
aquisição de estoques de matérias-primas pelos grandes fabricantes de rações balanceadas,
propiciou a reorganização do padrão de produção desse setor.
Atualmente temos um novo padrão de produção de rações associado a diferentes
formas de produção de proteína animal. Existe desde a produção de rações por empresas
especializadas, só que com produtos mais diversificados e mais regionalizados, atendendo
produtores independentes de aves, suínos, bovinos e animais domésticos, até a produção em
alta escala por empresas verticalizadas de produção de aves e suínos, na forma de
cooperativas e integrações.
Paralelamente à evolução das plantas para industrialização das rações, observa-se
uma mudança na forma de sua forma de aquisição. Na década de 70 ENGLERT (1978)
recomendava para pequenos produtores com consumo abaixo de 100 toneladas mensais, a
compra das rações prontas30
, de indústrias idôneas ou participar das integrações avícolas
que produzissem estas rações. Essa sugestão era feita baseada no argumento de que a
ciência da nutrição, formulação e controle de qualidade na fabricação de rações, eram
complexos e deveria ter assessoria de técnicos especializados em nutrição, compra de
matérias-primas e análises químicas de laboratório.
O surgimento dos concentrados associados a plantas de fábrica de ração de menor
tamanho permitiu a mistura de parte do processo de produção de rações na granja. Neste
caso o produtor adquire o concentrado31
e acrescenta o milho. Depois dos concentrados foi
a vez do surgimento do premix, permitindo maior liberdade na formulação de ração na
granja. Neste caso o granjeiro acrescenta ao premix, além do milho (eventualmente uma
parte de sorgo) o farelo de soja e/ou outras fontes protéicas, uma fonte de cálcio e uma
fonte de fósforo.
30
Ração pronta é a quantidade total de alimento fornecido e consumido por um animal num período de 24
horas (TEIXEIRA,1997a). 31
Os concentrados são vendidos para o produtor que tenha uma fonte mais barata de cereais e que deseja
adicioná-los às fontes energéticas (milho e às vezes parte de sorgo).
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
45
Para GRAZIANO DA SILVA et alli (1973), a produção de rações em pequena
escala e regionalizada foi viabilizada com a utilização do premix, pois sem ele seria muito
difícil o ajuste na programação de pequenas quantidades de alguns produtos químicos,
como vitaminas, aminoácidos e antibióticos. Em uma abordagem a respeito da evolução do
premix ORTEGA (1988) cita que a indústria produtora de premix assume um papel
fundamental na dinâmica técnico-econômica do setor de rações, o seu desenvolvimento
calcou-se nos avanços das pesquisas em nutrição animal, especialmente no que diz respeito
à determinação das necessidades de micronutrientes, como vitaminas, minerais e
aminoácidos.
ORTEGA (1988: 70) sublinha ainda que “até o final da década de 1970, a produção
de premix era realizada por poucas empresas, grande parte das indústrias de rações
adquiriam as matérias-primas das indústrias químicas e químico-farmacêutica e formulava
o seu próprio premix. Com a crise das empresas especializadas do setor de rações, no início
dos anos 80, simultânea ao crescimento da produção própria de ração por parte de
integrações e criadores independentes, foi induzido o crescimento do ramo de premix,
surgindo novas indústrias para atender a uma demanda crescente de suplementos
vitamínicos e minerais”.
Portanto, com a evolução da produção de rações, observa-se a reorganização do
setor da indústria de rações, que fragilizado pelo aumento dos custos da ração, em função
da logística de transporte cede espaço para a regionalização e diversificação da produção
associada a tecnologia mais acessíveis de menores plantas, miniaturização da informática e
acesso ao premix em pequenas escalas. Por outro lado, com a emergência da verticalização
aparecem as grandes integrações que passam a produzir um volume de rações maior que a
própria produção do setor da indústria de rações.
Na verdade, em virtude do relacionamento monopólio/monopsônio para com os
integrados, a produção de ração por parte das firmas integradoras acaba colocando outras
vantagens que influem nos custos de matéria-prima. A primeira dessas vantagens, vis-à-vis
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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46
a produção pelas empresas especializadas, é o fato de que a produção por parte da
integração pode ser mais bem planejada em virtude de uma demanda previamente
estabelecida, o que torna desnecessária a manutenção de grandes estoques. Isso além de
significar enormes volumes de recursos em capital de giro ainda pode implicar em perdas,
já que a ração estocada por um longo período provoca queda na atividade vitamina e
rancificação de gorduras.
II. 5 - Mudanças dos Equipamentos de Climatização
A ambiência em uma instalação atual de frangos de corte é de grande importância.
Em um ambiente de conforto térmico podemos criar mais animais por metro quadrado de
galpão e com melhor desempenho. Essa condição de conforto térmico está sendo
conseguida pelo desenvolvimento e utilização dos equipamentos de climatização. Dois
tipos de equipamentos são utilizados neste sentido, as campânulas para aquecer na fase
inicial (até 20 dias aproximadamente), e os ventiladores, exaustores e nebulizadores para
refrigerar na fase final (a partir de 20 dias).
As campânulas podem ser a carvão, à eletricidade e a gás simples ou com
queimador infravermelho. As primeiras campânulas utilizadas foram as campânulas a
carvão, numa época de grande disponibilidade de madeira como na década de 70 elas de
difundiram, entretanto a dificuldade de controle da temperatura, a possibilidade de
intoxicação dos pintinhos pelo monóxido de carbono desprendido na combustão e o risco
de incêndio do galpão, justificam a diminuição de sua utilização (MALAVAZZI,1990). As
campânulas a eletricidade, que poderiam oferecer vantagens em relação ao modelo a
carvão, sempre foram de uso restrito. Os motivos estão ligados ao alto custo relativo da
energia elétrica e a possibilidade de falha no fornecimento de calor, devido a falta de
energia elétrica. Durante muito tempo as mais utilizadas foram as campânulas a gás tipo
chapéu mexicano (com capacidade de 500 pintinhos de 1 dia cada). Atualmente elas estão
sendo substituídas por campânulas a gás com aquecedores tipo infravermelho (mais usados
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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47
atualmente). Esse equipamento é mais eficiente, econômico e tem capacidade de aquecer
1000 pintinhos (LANA, 2000).
Os equipamentos para refrigeração dos galpões são de uso popularizado em época
recente; deve-se considerar também que os galpões eram menores (portanto mais fácil a
refrigeração) e a avicultura estava basicamente concentrada no Sul e Sudeste, cujo clima é
mais ameno. Os ventiladores, segundo MARQUEZ (1994), oferecem sua contribuição
dispersando altas concentrações de amônia, umidade e calor no nível das aves; como efeito
secundário o ventilador também move o ar diretamente abaixo do telhado, provocando
diminuição de sua temperatura e da radiação de calor sobre os frangos. Os modelos mais
atualizados de ventiladores apresentam menor nível de ruído e durabilidade, entretanto as
granjas montadas atualmente têm trocado os ventiladores (ventilação positiva) pelos
exautores (ventilação negativa32
). Isso está relacionado a maior uniformidade da velocidade
do ar e não formarem bolsões de ar quente na instalação. Na ventilação negativa o ar entra
por uma extremidade do galpão e em sistema de túnel percorre toda parte interna sendo
succionado pelos exaustores localizados na outra extremidade do galpão, (SANTINI, S/D).
Mais recentemente surgiram os nebulizadores para auxiliar na refrigeração dos
galpões, os nebulizadores são utilizados em regiões com altas temperatura e baixa umidade
relativa do ar, podendo também ser utilizados em regiões com alta umidade, porque nestas
regiões nos horários que ocorrem temperaturas elevadas, geralmente a umidade relativa é
baixa. Possibilitando seu uso, geralmente utilizados associados aos ventiladores
(TEIXEIRA, 1997b), atualmente são de uso generalizado. Os nebulizadores pulverizam
água fria na parte superior do galpão, o ar quente provoca a evaporação da água fria
espalhada e os ventiladores movimentam essa massa de ar aquecida para fora do galpão.
32
Define-se como ventilação negativa, quando ao invés de soprar ar, o mesmo é succionado através de
extratores ou exaustores de ar. Neste caso, a velocidade do ar é mais uniforme dentro do galpão. É
fundamental em casos de ventilação negativa o perfeito isolamento do galpão na cobertura, nas laterais e na
posição dos extratores de ar. Em sistemas de ventilação negativa podemos controlar melhor as condições
ambientais internas do galpão, com zonas mais “iguais” dentro do galpão (SANTINI, S/D).
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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48
A inovação na área de refrigeração que apresenta o maior nível de tecnificação é o
sistema de resfriamento adiabático evaporativo. Este sistema geralmente usa o princípio de
funcionamento da ventilação negativa, portanto com aberturas de um lado do galpão e
exaustores do outro lado, consiste em um painel de fibras diversas (como celulose ou argila
expandida), tipo colméia, na extremidade que entra o ar, sendo este umedecido com água
fria e resfriado e sai succionado pelos exautores na outra extremidade do galpão. Entretanto
em função do custo são de uso restrito.
Portanto, na climatização atual o aquecimento é feito por campânulas a gás com
queimador de infravermelho, que além de mais eficientes são de baixo custo e aquecem o
dobro de pintinhos (1000 pintinhos). Quanto a refrigeração o sistema mais utilizado é a
combinação de nebulizadores e exaustores movimentando o ar de um lado a outro do
galpão, este sistema é denominado de semi-climatizado. Quanto ao sistema adiabático
evaporativo, apesar de mais eficiente ainda tem uso bastante restrito devido ao custo
benefício e ser uma tecnologia nova e pouco difundida.
II. 6 - Mudanças nos Galpões
Os galpões sugeridos na década de 60 tinham uma área interna de aproximadamente
100m2, eram os chamados “galpões de mil frangos”; na década de setenta os galpões
recomendados tinham cerca de 1030 a 1050m2 de área
33, tinham a capacidade de abrigar
10.000 aves; atualmente o tamanho mais recomendado está em torno de 1600m2, isso
equivale a um galpão com 12,8m de largura por 125m de comprimento, com a capacidade
de abrigar 24.000 aves, conforme palestra dos técnicos da Perdigão.
A cobertura dos galpões apresenta uma característica interessante, as telhas de barro
sempre foram recomendadas, em função do menor aquecimento do galpão e por
apresentarem muitas frestas que atuam como pequenas bolsas de ar que permitem certa
33
Alguns exemplos de sugestão: 8 m, 10 m, 12 m de largura por 129 m, 104 m, 87,5 m de comprimento,
respectivamente (ENGLERT,1978).
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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49
ventilação, mas as telhas de amianto sempre foram as mais usadas, apesar de esquentarem
muito os galpões elas apresentam a seu favor o baixo custo e a facilidade da construção
com sua utilização. Atualmente com a mudança do sistema de ventilação positiva
(ventiladores) para ventilação negativa (exaustores) a cobertura mais recomendada e a de
alumínio34
, por permitir a formação de um túnel de movimento de ar, já que o exaustor é
colocado em uma extremidade do galpão, puxando o ar que entra pela outra extremidade.
Os larternins35
sempre foram recomendados para galpões com larguras iguais ou
superiores a 8 metros, sua utilização está relacionada a liberação do ar quente, contendo
amônia e gás carbônico, de dentro do galpão pela parte superior do telhado. Com os sistema
atuais de ventilação negativa a sua presença não é mais necessária.
Com relação aos materiais de construção do galpão deve ser destacado que: com
aumento do tamanho dos galpões as estruturas de madeira foram substituídas por estruturas
de cimento pré-moldado e metálicas. A alvenaria continua sendo utilizada para fazer a
mureta lateral do galpão e eventualmente paredes internas e oitões dependendo do modelo
do galpão. Com relação ao piso, permanece a recomendação de que seja feito de cimento,
apesar de que no início das atividades é comum a utilização de chão batido.
As cortinas36
são feitas de lona em ráfia revestida com fibra de polietileno. As
mudanças no cortinado estão relacionadas ao tamanho em função do aumento dos galpões e
à possibilidade de implantação de sistema de roda dentada que manejar em um só ponto até
120 m de cortinas, podendo ser de acionamento manual ou automático, com sistemas
34
LANA (2000) comenta que o alumínio é sensível a danos pelo granizo e ventos, é menos quente que o
amianto, porém mais caro, quando novos há referências de que são melhores que as telhas de barro, entretanto
oxidam com o tempo perdendo a vantagem inicial. Cita ainda que é muito barulhento, gerando assim, as
maiores controvérsias quanto a sua recomendação. Alguns avicultores relatam experiências de sucesso na
utilização desta telha, alegando que as aves se acostumam com elevado barulho quando chove. Logo sua
utilização ainda deve ser criteriosa, especialmente porque não existe praticamente nenhuma pesquisa
conclusiva. 35
É uma abertura na parte superior do telhado, tendo 10% da largura do galpão e ocupa todo o comprimento
do galpão (LANA, 2000). 36
As cortinas são os equipamentos de menor vida útil dentre todos os equipamentos do galpão, para efeito de
cálculos a sua depreciação é calculada em 3 anos.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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50
eletromecânicos e termostato. Em ambiente de alta temperatura as cortinas abertas
(abaixadas) permitem resfriamento do galpão em sistemas com ventilação positiva e as
cortinas fechadas (levantadas) permitem uma melhor movimentação de ar também
resfriando os galpões com os atuais sistemas de ventilação negativa.
Quanto a iluminação, as lâmpadas incandescentes foram substituídas pelas
lâmpadas fluorescentes, que oferecem uma melhor claridade com um menor gasto de
energia elétrica. Atualmente os galpões apresentam dois tipos de lâmpadas: as fluorescentes
com a luz branca para viabilizar programas de luz no galpão e a luz negra para permitir o
apanhe das aves a noite (a ave não enxerga a luz azul e por serem brancas ficam destacadas
sob efeitos da luz negra, facilitando o apanhe).
Para melhorar o desempenho das aves existem os programas de iluminação37
noturna. Mesmo em condições de conforto térmico no passado era utilizada iluminação 24
horas (luz natural + luz artificial), atualmente existe o programa de luz intermitente (mais
eficiente), onde a luz fica apagada e a cada 3 horas o galpão é iluminado por 15 a 30
minutos, esse tempo está relacionado à necessidade da ave de 3 horas para digestão e 15 a
30 minutos para consumir ração e água, o controle é automático feito por um timer. Em
condições de estresse calórico a luz fica ligada a noite toda já que as aves vão ter que
consumir neste horário a ração que não foi consumida durante o dia.
Para forrar o piso do galpão é utilizada a cama de frango. Na década de 70 era
recomendada a utilização de 1 kg de cama por ave alojada, sendo os materiais mais usados
a maravalha e o sabugo de milho moído, cobrindo o piso com aproximadamente 10 cm de
espessura. Atualmente a recomendação da quantidade permanece a mesma, o que mudou
foi a possibilidade de reutilização38
da cama por até 4 a 5 vezes e a existência de mais
opções de materiais para serem utilizados com essa finalidade. A cama de frango sempre
37
A iluminação associada a cortinas e ventilação negativa permite atender a recomendação européia de as
aves devem recebem no máximo 16 horas de luz por dia. 38
A reutilização é possível desde que não tenha ocorrido problemas sanitários severos no lote anterior e no
local onde são alojados os pintinhos sempre se usa cama nova (LANA,2000).
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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51
foi considerada uma fonte de renda alternativa para o avicultor, entretanto atualmente esta
realidade está mudando, com o aumento da quantidade de aviários elevando o consumo de
materiais utilizados como cama de frango, portanto diminuído oferta de materiais que se
prestam para essa função e o excesso de cama ofertada no mercado saturando a oferta de
cama para o consumo bovino aliado a concorrência com resíduos amoniados de restos de
cultura, a cama de frango passa a enfrentar problemas de comercialização ficando sua
utilização em futuro próximo mais restrita a ao consumo da própria granja39
. Atualmente as
integrações recomendam que se faça feno de capim napier, já que com essa medida
aumentaria a qualidade do material e poderia ser consumido em maior quantidade pelos
bovinos, e não prejudicando em futuro próximo o desenvolvimento sustentado. Entretanto
essa recomendação ainda não está sendo executada na prática, aspectos relacionados à
escala, custo de produção, mão-de-obra e a técnica de fenação devem ser considerados para
consolidar essa sugestão.
Portanto, as mudanças nos galpões resultaram no aumento de sua capacidade
interna, passando de 100 m2 para 1.600 m
2, na troca das telhas de barro e amianto para a
telha de alumínio, na ausência da utilização de lanternins, na mudança da estrutura de
madeira para estrutura de cimento pré-moldado ou metálica, na automação das cortinas
(apesar de uso ainda restrito), na iluminação passando de lâmpadas incandescentes para
lâmpadas fluorescentes e na diversificação e reutilização da cama de frango.
II. 7 - Mudanças no Processo Industrial de Abate
As primeiras inovações no processo industrial de abate40
, ainda pouco
automatizado, ocorreram durante os anos 50, com a introdução de equipamentos de
escaldagem (os tanques de imersão e túneis de depenagem). A automação do transporte
39
A reutilização da cama de frango manifesta a situação de transição onde ela está deixando de ser uma fonte
de lucro para ser um elemento de constrangimento da produção sustentada. 40
O processo de abate das aves compreende as seguintes fases: recepção das aves, atordoamento através de
choque elétrico no animal já pendurado na correia transportadora (nória), sangria, escaldagem e depenagem,
escaldagem dos pés e evisceração, gotejamento das carcaças, embalagem, estocagem e distribuição (MATOS,
1996a).
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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52
aéreo ocorre antes dos anos 70 com a introdução das nórias e nos anos 70 automatizou-se a
evisceração inicialmente o corte das pernas e posteriormente o rabo e o pescoço. Mais
tarde, começaram a surgir os extratores automáticos de vísceras e o separador de moelas. A
introdução do eviscerador totalmente automatizado permitiu a unificação dessas operações
em uma única atividade, o que certamente elevaria a produtividade dessa etapa do processo.
Nos anos 80, foram introduzidos o sistema de vácuo para o transporte de refugos, o coletor
de moelas, a automatização dos cortes, o sistema de empacotamento automático e a
pesagem eletrônica na própria linha de corte, o que possibilitaria uma melhor
uniformização dos produtos para o mercado. Atualmente verifica-se a introdução e
ampliação dos produtos industrializados de segundo processamento, ou seja, empanados,
marinados, nuggets e processados.
Neste sentido, MATOS (1996a: 103) cita que “a automação do processo de corte é
uma opção interessante para as empresas que operam com grandes volumes de aves, uma
vez que ela é muito compacta e exige reduzida quantidade de mão-de-obra. No entanto, os
resultados em termos de produto, exigem maior consciência da importância do contínuo
controle do produto e dos equipamentos e maior atenção à manutenção. Consequentemente,
o fator humano transforma-se no maior responsável pela qualidade e rendimentos dos
cortes”.
Para DOSI citado por MATOS (1996a), a introdução de um conjunto de inovações
na indústria de carnes de aves possibilitou sua transformação na mais moderna desse
segmento. Os diferenciais de oportunidade, cumulatividade e de apropriabililidade,
definiram uma estrutura industrial caracterizada por descontinuidades a assimetrias entre as
firmas. Consequentemente, as empresas líderes atuaram integrando todas as etapas do
processo, geralmente os grandes conglomerados. Essas empresas diferenciam seus
produtos, introduzindo frangos em partes, marinados, cozidos e empanados, visando
alcançar faixas de elevado poder aquisitivo, no mercado interno, e países de elevada renda
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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53
per capita, no exterior. Nos últimos anos, a concorrência dessas empresas líderes41
alterou
os padrões alimentares da população com o crescimento da alimentação-serviço, quanto em
decorrência de investimentos em importação de máquinas e equipamentos para a produção
de carnes mecanicamente separadas e outros embutidos.
Isso é uma resposta aos anseios crescentes dos consumidores por produtos mais
elaborados que o frango inteiro, como o frango em pedaços (coxas, sobrecoxas, peito, à
passarinho, etc.) e semiprontos (industrializados), pratos congelados e outros. O grande
mercado do frango nos próximos anos será a facilidade com sabor. Na Europa, os alimentos
processados já constituem um terço da oferta total, enquanto os produtos frescos são
responsáveis pela metade do consumo e ameaçam a liderança dos congelados. A indústria
alemã oferece peito de frango já empanado e resfriado, para ser consumido aquecido ou
frio. No mercado belga, o consumidor pode comprar asas temperadas, cozidas e
supercongeladas, prontas para ser aquecidas em fornos de microondas (PINAZZA &
LAUANDOS, 2000).
Dessa forma, identifica-se que as mudanças no processo industrial permitiram uma
intensa automação no abate das aves e a agregação de valor às carcaças com o segundo
processamento. Observa-se, também, uma diversificação de produtos industrializados em
momento mais recente com o surgimento dos empanados, marinados, nuggets e
processados.
II. 8 - Mudanças na Área de Sanidade
A preocupação com sanidade acompanha o desenvolvimento da avicultura desde a
sua concepção. As primeiras mudanças de base técnica nesta área ocorreram nos EUA por
ocasião da constituição do Plano Nacional de Melhoramento Avícola.
41
atualmente, na produção dessas empresas é crescente a participação dos produtos industrializados ao
mesmo tempo em que decai sensivelmente a das carnes resfriadas e congeladas (MATOS,1996b: 72)
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
54
O Plano Nacional de Melhoramento Avícola foi um programa voluntário
cooperativo, federal e estadual, que efetuou o controle de algumas doenças aviárias
transmitidas pelo ovo ou disseminadas no incubatório. O plano começou a operar em 1935,
quando a indústria avícola começou sua expansão para o empreendimento agrícola
gigantesco que ela viria a ser. Naquela época, uma doença bacteriana das aves, conhecida
como pulorose42
era muito comum na indústria. Se a indústria pretendia expandir-se, a
doença tinha que ser dominada. Assim, o plano foi estabelecido, sob a coordenação do
Departamento de Agricultura dos EUA que teria uma agência em cada estado que seria
responsável pela execução das normas do programa dentro da indústria. Este procedimento,
associado com práticas sanitárias melhoradas aplicadas nos plantéis e nos incubatórios,
praticamente erradicou a pulorose dos planteis avícolas dos EUA. Aproximadamente 90%
de todo plantel avícola de reprodutoras dos EUA estava sob vigilância do Plano Nacional
de Melhoramento Avícola na década de 1970, inclusive incluindo várias outras doenças43
MORENG & AVENS (1990).
As antigas granjas no Brasil tinham instalações compostas de um galpão com 3
divisões: uma para o pinteiro, uma para recria e uma para o acabamento. Os pintos ficavam
de 25 a 30 dias no pinteiro, 30 dias na recria e no acabamento até a venda. Todos eram
cuidados pelo mesmo tratador e a transmissão de doenças se fazia de forma rápida e
intensa. O desconhecimento de procedimentos para controlá-las agravava ainda mais a
situação. Na verdade havia pouca ou quase nenhuma preocupação com a profilaxia. Em
1945 foram registradas 15 doenças diferentes e esse quadro quadruplicou atualmente. Se
essas doenças assustavam, a descoberta da doença de Marek44
caiu como uma bomba na
avicultura. O mal chegou ao Brasil após introdução de uma linhagem de aves de corte,
42
Esta doença é causada pela Salmonella pullorum e produzia uma mortalidade de 60 a 80% dos pintinhos
recém-nascidos que eclodiam de ovos produzidos por planteis de reprodutoras infectadas (MILLEN, 1985). 43
Como o tifo aviário e a D.C.R ou doença crônica respiratória (MILLEN, 1985). No Brasil o final da década
de 50 marca o surgimento de uma intensa atuação do Instituto Biológico de São Paulo, no sentido de melhorar
o combate às doenças e o controle sanitário em geral (SORJ et alli, 1982). 44
É uma doença tumoral causada um vírus da família herpesviridae, sendo o sorotipo 1 patogênico para as
aves, a infecção ocorre o por via aérea e causa a paralisia, geralmente assimétrica, dos membros e
emagrecimento. Na forma aguda ocorrem morte súbita, apatia e formação de tumores viscerais (LANA,
2000).
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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55
bastante produtiva mas extremamente vulnerável à doença. o desenvolvimento da vacina
contra Marek salvou a linhagem de frangos no mundo todo e a atividade pôde usufruir uma
linhagem genética altamente produtiva, apesar da sensibilidade (PINAZZA &
LAUANDOS, 2000).
As inovações tecnológicas recentes na área da sanidade podem ser percebidas pelo
desenvolvimento de técnicas de laboratório para diagnóstico e monitoramento de doenças,
medicamentos com efeito preventivo e curativo, promotores de crescimento e eficiência
alimentar, desinfetantes e vacinas. Essas inovações associadas a: isolamento sanitário,
mantendo pessoas estranhas, animais e veículos afastados dos galpões; cerca viva com
plantação de eucaliptos ao redor da granja; desinfecção de veículos e utensílios para
entrarem na granja; criação de frangos de mesma idade, sistema “tudo dentro, tudo fora”; e
controle de transmissores de doenças, como moscas, mosquitos, ratos, pássaros e aves
caipiras; oferecem as condições necessárias na área da sanidade para produção atual do
frango de corte (LANA, 2000).
Embora tenham ocorrido avanços na área da sanidade, SALLE et alli (1998: 234)
argumentam que a situação desta área ainda deixa a desejar. Excetuando-se as
enfermidades previstas no PNSA45
(Plano Nacional de Sanidade Avícola), não há uma
padronização oficial das técnicas laboratoriais nem o processamento das informações
geradas pelos diagnósticos com vistas à medidas epidemiológicas. Para os autores, os riscos
decorrentes das carências de controle sanitário se manifestam pela carência de um
adequado:
- serviço de diagnóstico avícola nacional incluindo, também, a caracterização
molecular dos agentes;
- controle de material genético avícola importado e/ou produzido no País;
- serviço de controle e certificação sanitária das granjas avícolas brasileiras e
igualmente, de trânsito avícola;
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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56
- controle e padronização dos insumos biológicos avícolas (vacinas e antígenos);
- padrão de reagentes de diagnóstico; e
- programa político de sanidade avícola.
Atualmente, para oferecer maior qualidade sanitária ao produto avícola brasileiro,
foi criado o Grupo de Sanidade Avícola, composto por especialistas representantes de
universidades, de instituições de pesquisa, de instituições oficiais e da iniciativa privada. Os
projetos e parcerias apresentam como objetivo desenvolver:
- Controle sanitário sobre importação, trânsito e exportação de material genético;
- Formas de monitoração e critérios de interpretação para controle das principais
doenças das aves;
- Análise de risco e controle de pontos críticos de doenças e/ou produtos avícolas
para Salmonella enteritidis e Escherichia coli;
- Integração da rede de laboratórios, oficial e privada, treinamento de recursos
humanos, uniformidade de insumos e análises, estabilização de atribuições e
integração virtual dos mesmos;
- Terceirização da assistência técnica na avicultura;
- Marcadores epidemiológicos para Salmonella enteritidis e Escherichia coli;
- Marcadores epidemiológicos para Mycoplasmas de interesse para a avicultura;
- Marcadores epidemiológicos para o vírus da Doença de New Castle e Influenza
Aviária;
- Implantação da rotina diagnóstica para anemia infecciosa das galinhas;
- Controle das doenças transmissíveis que afetam a produtividade avícola;
- Caracterização epidemiológica e molecular dos vírus oncogênicos das aves; e
- Desenvolvimento e caracterização de reagentes, de imunógenos e Kits de
diagnósticos das doenças das aves
45
o PNSA criado pelo ministério da agricultura e abastecimento, propõe uma série de ações com objetivo de
erradicar ou controlar algumas das enfermidades avícolas. Desta forma, a erradicação e/ou o controle da
doença de Newcastle, das micoplasmoses aviárias e das salmoneloses foram normatizadas pelo programa.
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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57
Pode-se concluir que pela quantidade de sugestões, ainda temos muito que avançar
na área da sanidade. Do que foi feito destaca-se o controle da doença de marek, manejo
sanitário, incluindo isolamento, cerca viva, vacinas, diagnóstico e monitoramento de
doenças.
II. 9 - Mudanças na Criação
Este item apresenta duas técnicas atualmente bastante difundidas na criação de
frangos de corte, principalmente nas integrações. São as técnicas de criação de lotes com
sexos separados e a criação em alta densidade.
II. 9. 1 - Criação com Lotes Sexados
A partir de meados da década de 60, se popularizou as linhagens Sex-linked
primeiramente pela cor e posteriormente pelo mais rápido crescimento das penas primárias
das asas, notou-se haver um grande diferencial de peso vivo entre os frangos, sobretudo a
partir da metade final do ciclo criatório. O diferencial, de imediato foi identificado como
sendo correlacionado ao sexo da ave, os machos criados nas mesmas condições que as
fêmeas ficam mais pesados, enquanto as fêmeas acumulam mais gordura abdominal
prejudicando o rendimento de carcaça. Atualmente é bastante disseminado a criação de
aves sexadas.
A separação46
de machos e fêmeas (sexagem) é feita pela análise das penas da ave
no primeiro dia de vida. Pintinhos com empenamento rápido (precoce) são fêmeas e com
empenamento lento (tardio) são machos. Abrindo a asa do pintinho comparara-se o
tamanho das penas primárias em relação as penas de cobertura. Nos machos as penas
46
Existem 3 métodos para sexagem: o método de exame da cloaca do pinto no primeiro dia de via, a sexagem
é feita pelo exame da cloaca, é utilizado para matrizes e aves de postura comercial de ovos brancos; método
do exame dos caracteres sexoligados a cor, machos e fêmeas nascem de cores diferentes, utilizados para
sexagem de aves de postura comercial de ovos vermelhos e; método do caracteres sexoligados ao
empenhamento, onde a fêmeas tem empenamento rápido e os machos empenamento lento, utilizado para
sexagem em frangos de corte, conforme dados de estágio na granja Rezende.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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58
primárias são do mesmo comprimento que as de cobertura e nas fêmeas as penas primárias
são maiores que as de cobertura.
Atualmente, o interesse pelas raças autossexáveis se estende à exploração de
frangos de corte em decorrência do abate mecanizado em larga escala. Isto porque nos
abatedouros automáticos, as depenadouras são reguladas para um determinado tamanho de
carcaça, o que exige lotes de aves uniformes e portanto, sendo as fêmeas mais leves que os
machos, surgem problemas relativos à limpeza das carcaças.
Com a separação de machos e fêmeas consegue-se ainda as seguintes vantagens:
possibilita diferenciar rações para machos e fêmeas, de maneira que são utilizadas rações de
alta energia para os machos e rações menos protéicas e energéticas (com até 3000 kcal/kg
de energia metabolizável) a partir dos 21 dias para as fêmeas, diminuindo a tendência a
acumulação de gorduras e melhorando a eficiência de utilização dos nutrientes reduzindo os
custos da criação; proporciona maior uniformidade e melhor ajuste da densidade dos lotes
e; propicia o aproveitamento mais racional das instalações e dos equipamentos, pela melhor
adequação de bebedouros e comedouros (LANA, 2000).
II. 9. 2 - Criação em Alta Densidade
Considera-se criação em alta densidade quando temos mais de 30 kg de aves/m2.
Hoje é muito comum, no inverno, encontrarmos criadores e empresas que passam suas
criações de uma densidade de 10 para 18 a 20 aves/m2, admitindo que as aves atinjam o
mesmo peso a determinada idade, por exemplo 2,250 kg aos 44 dias, serão cerca de 22,50
kg e 40,50 kg de carne para 10 aves e 18 aves/m2, respectivamente.
Com desenvolvimento tecnológico dos equipamentos foi possível estender o
aumento da quantidade de aves criadas/m2 para todo ano. A presença de equipamentos de
climatização e o tipo de equipamento utilizado é que vai determinar a quantidade de
frangos criados/m2 de galpão. No princípio quando não se utilizavam esses equipamentos
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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59
(galpão tradicional), a recomendação para criações era de 20 Kg/m2
de aves47
(ISA, S/D);
nos sistemas mais utilizados atualmente, com ventilador, nebulizador e resfriador de água
(galpão semiclimatizado), a densidade recomenda é de 30 Kg/m2; atualmente já existe
tecnologia para criação de 40 Kg de aves/m2 (galpão climatizado), sendo cara, pouco
difundida e utilizada. Para utilização desse sistema, SANTIN (S/D) recomenda a adequação
das necessidades de comedouro, bebedouros e aquecimento com relação à distribuição,
densidade e tipos de equipamentos. Isso é feito com comedouros automáticos, bebedouro
tipo nipple, campânulas termostáticas e um bom sistema adiabático evaporativo, para
refrigeração do galpão.
Para LUCHESI (1998), a análise desta técnica mostra que o lucro cresce com o
aumento da densidade, a passagem de 10 aves/m2 para 20 aves/m
2 permitiu um aumento
58,9% na lucratividade na época de inverno e 66,7% na época do verão.
Portanto as duas técnicas beneficiam a criação. A sexagem permite mais
uniformidade com reflexos positivos tanto no abate, como na criação e a alta densidade
permite a otimização da utilização dos galpões aumentando os lucros.
II. 10 - Mudanças no Padrão de Produção de Frangos de Corte
Será abordada, neste item, a mudança no padrão de produção de frangos,
apresentando a emergência das grandes empresas verticalizadas, integradas a médios e
grandes produtores, substituindo o padrão de produção baseado em uma constelação de
produtores independentes e empresas especializadas em incubação, abate e fabricação de
rações.
47
Se as aves forem abatidas com 2 Kg colocar-se-á 10 aves/m2, pois 20 Kg/aves/m
2 dividido por 2 é igual a
10.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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60
II. 10. 1 - Verticalização da Produção
A verticalização da agroindústria pode ser justificada pela emergência gradativa de
grandes empresas, concentrando e verticalizando a produção, devido a:
- Absorção da tecnologia de ponta, aumento da escala de produção e diminuição dos
custos nas áreas de nutrição, genética, automação, abate e processamento;
- Transferência da criação do frango de corte para pequenos proprietários de terra,
em um processo gradativo de automação, utilizando principalmente mão de obra familiar;
- Grande capital de giro disponível para comercialização e suportar as épocas de
crise da economia;
- Eficiência na administração de recursos humanos, comercialização, marketing e
agregação de valor ao produto final; e
- Não ocorrência das características citadas acima nos sistemas de produção
independente e cooperativo.
Para MATOS (1996a), a integração vertical permitiu às firmas integradoras uma
sensível economia de custos nas áreas de atuação conjunta, como o controle, as compras, a
produção, as vendas e a distribuição. A coordenação das atividades também tem grande
redução de custo, pelo fato da proximidade, agilizando a tomada de decisão. Além disso,
ela permitiu uma maior certeza quanto ao fornecimento de insumos nos períodos de
escassez generalizada, mantendo a posição competitiva da empresa. De outro lado, garantiu
mercado, (escoamento) para os produtos finais nos momento de redução da demanda.
A integração vertical eleva, também, significativamente as barreiras à entrada em
uma indústria, uma vez que reduz os custos da empresa integrada engendrando vantagens
em termos de poder de negociação, por redução de margens e dando maior grau de certeza
a essas empresas, pela redução de riscos.
A redução efetiva no poder de negociação dos fornecedores ou clientes
preferenciais é outra grande vantagem da integração. Dessa forma, as atividades a montante
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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61
reduzem o poder de negociação dos fornecedores, possibilitando maior certeza quanto aos
custos do insumo básico. Já as atividades a jusante, reduzem o poder de compra do
distribuidor ou das grandes redes de distribuição.
Na indústria da fase do capitalismo concorrencial, o progresso técnico era uma arma
mortífera, pois possibilitava a uma determinada empresa eliminar suas concorrentes, à
medida que, aumentando sua eficiência, podia produzir a preços inferiores e aumentar seus
lucros. Na fase monopolista, entretanto, o progresso técnico permite às empresas líderes de
cada setor manterem uma renda diferencial pela sua eficiência em relação aos concorrentes,
sem interesse em eliminá-los, pois isso implicaria numa guerra de preços e perda do lucro
suplementar. Assim, por exemplo, se o mercado estiver crescendo, as unidades marginais
poderão permanecer, tendendo a serem excluídas apenas quando da retração da demanda
por aquele produto específico, daí a importância das crises de superprodução periódicas na
agricultura para configuração das estruturas de mercado (GRAZIANO DA SILVA,1988).
A avicultura se insere perfeitamente neste contexto, pois no momento atual e futuro
próximo, teremos unidades produtivas de variados tamanhos no Brasil, considerando as
regiões Sul e Centro-oeste; desta forma, se imaginarmos a possibilidade de retração da
demanda de frango, a estrutura fundiária do Centro-oeste apresentará grandes vantagens em
função dos custos de produção, devidos aos ganhos de escala.
Portanto, nesse novo modelo de produção que surge com o processo de
verticalização48
da produção, as grandes empresas avícolas se apropriaram da tecnologia da
genética, nutrição, abate e processamento e da comercialização dos produtos avícolas,
aumentaram intensamente suas produções, pelo aumento de suas plantas e de
consumidores, além de atenderem ao mercado nacional passaram a atender também o
mercado internacional. Esse padrão de crescimento, considerados os vários componentes do
custo de produção, acabou sinalizando para a aproximação das plantas produtoras (a partir
48
Em 1982 SORJ et alli assinalavam a existência de indícios de que os níveis de automação e os ganhos de
escala tornariam cada vez mais viável à granja avícola em moldes de grande empresa capitalista.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
62
do final da década de 80) da região no Centro-oeste; um exemplo disso é a instalação da
Perdigão em Rio Verde.
II. 10. 2 - Mudanças no Modelo de Integração
Em 1982, o Cebrae-Ceag, citado por SORJ et alli, (1982: 41) fazia o seguinte
recorte: “...produtores integrados não são produtores comuns, são escolhidos, em função de
possuírem um número de hectares de terra acima da média dos produtores da região, de
terem condições de obter crédito e de se situarem a uma distância relativamente próxima à
indústria, diminuindo, assim, os custos de transporte. É fundamental que os produtores
possuam certas características para que o projeto global da integração seja viabilizado,
segundo a estratégia estabelecida pelo frigorífico”. Portanto a tendência na época já era a
diminuição do número de avicultores com pequenos plantéis e o aumento e concentração da
produção em maiores produtores.
Neste aspecto SORJ et alli citam que “ a tendência à diminuição de produtores de
pequenos plantéis e o aumento de produtores maiores são o resultado tanto do sucesso e
capitalização de alguns empreendimentos, como da real eliminação dos que não conseguem
fazer frente aos aspectos técnicos e econômicos da produção, de modo a suportar situações
de oscilações nos fatores de produção e comercialização”.
Para ORTEGA (1988: 112), a estrutura fundiária da região onde se constitui uma
integração é fundamental, por serem necessárias propriedades que permitam aos criadores a
produção de seu produto principal e ainda outro produto que complemente a sua renda.
Quando considerado esse modelo de pequenos agricultores integrados no Sul, é
reconhecido que contribuiu por um determinado tempo, no crescimento da produção e da
produtividade, mas agora está sendo visto como um obstáculo para a continuação do
crescimento e da redução de custos.
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
63
Analisando esse assunto observa-se que, nos últimos anos o padrão tradicional
começou a dar mostras de esgotamento. De um lado, os custos logísticos e de
gerenciamento de um grande número de integrados (a Perdigão por exemplo tem cerca de
7.000) vêm crescendo excessivamente. Levar ração, coletar frangos, prestar assistência
técnica e supervisionar os contratos de milhares de pequenos integrados, tudo isso é fonte
de custos pouco compatíveis com um negócio de margens reduzidas (FAVERET FILHO &
PAULA, 1998).
A estrutura fundiária em Rio Verde é um exemplo dessa mudança. O tamanho da
propriedade integrada será bem maior que as existentes no sul, isso está ocorrendo devido
às garantias bancárias necessárias ao financiamento49
e à viabilidade da produção de
frangos nas condições do projeto. GRAZIANO DA SILVA (1988: 29), atribui esse fato ao
caráter incrustado das inovações tecnológicas na concorrência intercapitalista, de maneira
que “as inovações funcionam como um tipo de barreira à entrada de concorrentes naquelas
condições específicas, ao nível de região e dos produtos, na medida em que configura um
dado padrão produtivo que define inclusive uma certa escala mínima para permanecer
naquele determinado ramo de atividade. Em outros termos, o próprio desenvolvimento
capitalista de um ramo da produção agropecuária impõe continuamente a elevação de um
patamar mínimo, definido em função das tecnologias disponíveis, para um produtor
determinado permanecer naquela atividade. É como uma corrida onde determinado
indivíduo para manter a sua posição relativa tem que mover-se no ritmo do conjunto”.
A estrutura agrária do Centro-Oeste, baseada na média e grande propriedades, pode
facilitar essas transformações técnicas, de outro impossibilita que as relações agricultura-
indústria se organizem nos mesmos moldes do Sul, onde predomina a propriedade familiar
(HELFAND & RESENDE, 1998).
49
A quantidade de terra disponível pelo pecuarista é fundamental para que ele seja aceito como integrado,
porque esse é um pré-requisito para obtenção de crédito agrícola e porque o integrado deve ter uma
quantidade de terra tal, que seja possível diversificar sua produção.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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64
O novo projeto50
da Perdigão em Rio Verde terá mais de 800 agricultores
integrados. Cada agricultor terá a capacidade de para alojar 24 mil frangos de corte por
galpão (sendo recomendado 4 galpões por propriedade), e não 6 a 15 mil, como é o caso
dos produtores em Santa Catarina. Os equipamentos que estão sendo implantado
apresentam tecnologia mais avançada, incluindo alimentação automática e controles
climáticos. O valor financiado, segundo técnico da Perdigão para construção dos quatro
galpões é de R$ 379.510,77, com taxa real de juros de 10,5% e redução de adimplência de
20%. A garantia necessária para acessar esse volume de financiamento limita a participação
do pequeno produtor. Mesmo os médios e grandes produtores tem mostrado um certo
constrangimento quando consideram o rendimento previsto de R$ 355,36/galpão/mês (R$
1.421,44 para os 4 galpões/mês).
Portanto, a produção atomizada de carne de aves por parte de muitos milhares de
pequenos produtores está sendo substituída nas últimas 3 décadas por grandes
empreendimentos, altamente capitalizados, que utilizam as mais sofisticadas técnicas
associadas aos sistemas de confinamento ambientalmente controlados, de maneira que o
mercado atual é formado por um mix de grandes grupos verticalizados e numerosas
unidades de produtores independentes, principalmente nas proximidades das grandes
metrópoles, configurando esse padrão monopolista de produção. Para GOODMAN (1990)
isto é o resultado direto da exploração das inovações nas áreas da genética e da nutrição das
aves por parte dos capitais apropriacionistas.
Dessa forma, a mudança do modelo de produção está aliada à adoção de uma nova
tecnologia, com novas formas de organizar a produção, no Centro-Oeste, que oferece a
oportunidade de diminuir custos da carne aos consumidores de várias formas:
- a construção de mega abatedouros que integrarão grandes criadores de animais
poderia proporcionar economias de escala na produção e no abate.
50
Os índices técnicos são: 6,87 lotes por ano, 3,4% de mortalidade, 2.350 g de peso médio do frango, idade
média ao abate de 45 dias e um consumo de 25 g de gás por pinto alojado.
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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- A integração com um número menor de produtores poderia contribuir para
redução dos custos de logística associados ao suprimento de insumos, à provisão
de ração e assistência técnica, e à coleta dos animais quando eles estiverem
prontos para abate.
II. 11 - Conclusão
Em resumo, a análise das modificações da base técnica mostra que a tecnologia
promoveu várias mudanças nas relações de produção de frango de corte. A área da genética
permitiu a substituição de raças puras de aves por híbridos sintéticos de alta performance
produzidos pelos “avozeiro”. Os ganhos genéticos, por exemplo, permitiram a diminuição
da idade de abate de 105 dias para 42 dias; a melhora na conversão alimentar, passando de
3,5 para 1,8 ao abate e aumento do peso vivo de 1,5 kg para 2,6 kg a idade de abate.
Os avanços na nutrição iniciaram em 1900, quando se usou ração pela primeira vez,
mas foi na década de 60 que realmente apareceram as rações balanceadas no Brasil. Os
avanços apareceram também nas misturas de ingredientes protéicos, na adição de
aminoácidos essenciais e mais recentemente a utilização de aminoácidos digestíveis,
aumentando a precisão dos cálculos de ração e diminuindo a necessidade de elevados níveis
de segurança. Aliado a esses aspectos, o aumento da precisão no levantamento das
exigências nutricionais, associados à programação linear, permitiram o cálculo de rações a
mínimo custo, diminuindo o custo e aumentando a estabilidade do preço das rações.
A área de equipamentos de alimentação foi atingida de maneira intensa pela
automação. Hoje, o funcionamento dos comedouros e dos bebedouros não depende de mão-
de-obra humana, são mais eficientes em termos de limpeza, melhoram o ganho de peso e
diminuem a mortalidade em função da ausência de pessoas andando com freqüência dentro
do galpão.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
66
A indústria de rações, se reorganiza em função da logística de transporte se
regionaliza e diversifica sua produção associada a tecnologia mais acessíveis de menores
plantas, miniaturização da informática e acesso ao premix em pequenas escalas. Por outro
lado, com a emergência da verticalização aparecem as grandes integrações que passam a
produzir um volume de rações maior que a própria produção do setor da indústria de
rações.
A climatização passa ser um dos elementos mais importante na produção de
frangos, a tecnologia atual oferece o aquecimento por campânulas a gás com queimador de
infravermelho, que são mais eficientes, de baixo custo e aquecem o dobro de pintinhos
(1000 pintinhos). A refrigeração passa a fazer parte dos galpões, o sistema mais utilizado é
a combinação de nebulizadores e exaustores movimentando o ar de um lado a outro do
galpão (sistema e semi-climatizado). Quanto ao sistema adiabático evaporativo, apesar de
ser mais eficiente ainda tem uso bastante restrito, em função do custo benefício e ser uma
tecnologia nova e pouco difundida.
Os galpões aumentam a sua capacidade interna, passando de 100 m2 para 1600 m
2,
trocam cobertura de telhas de barro e amianto por telhas de alumínio, não utilizam mais
lanternis em função da ventilação negativa, mudam a estrutura de madeira para estrutura de
cimento pré-moldado ou metálica, as lâmpadas incandescentes são trocadas pelas lâmpadas
fluorescentes, diversificam o material utilizado como cama de frango passam a fazer a
reutilização desse material por até 4 a 5 vezes.
A área da sanidade se apresenta como o ponto frágil da cadeia produtiva da
avicultura de corte, isso pode ser percebido pelo volume de tecnologias existentes e ainda
não utilizadas. Do que foi feito destacam-se o controle da doença de marek, manejo
sanitário, incluindo isolamento, cerca viva, vacinas, diagnóstico e monitoramento de
doenças.
TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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67
A eficiência na criação é aumentada pela sexagem que permite mais uniformidade
com reflexos positivos tanto no abate como na criação e pela alta densidade que permite a
otimização da utilização dos galpões aumentando os lucros.
E, um novo modelo de produção de frangos surge baseado no processo de
verticalização51
da produção. As grandes empresas avícolas se apropriaram da tecnologia
da genética, nutrição, abate e processamento e da comercialização dos produtos avícolas,
aumentaram intensamente suas produções, pelo aumento de suas plantas e de consumidores
e, além de atender ao mercado nacional, passaram a atender também o mercado
internacional. Associado a essa mudança observa-se que a produção atomizada de carne de
aves por parte de muitos milhares de pequenos produtores está sendo substituída nas
últimas 3 décadas por um pequeno número médios e grandes produtores integrados,
utilizando as mais sofisticadas técnicas apresentadas no corpo deste capítulo.
51
Em 1982 SORJ et alli assinalavam a existência de indícios de que os níveis de automação e os ganhos de
escala tornariam cada vez mais viável a granja avícola em moldes de grande empresa capitalista.
CAPÍTULO III
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE
TÉCNICA
As modificações da base técnica da avicultura apresentadas de maneira descritiva
têm a importância primordial de comprovar através de dados as alterações temporais
sofridas no processo tecnológico de produção. Entretanto, numa visão mais reflexiva, deve-
se procurar entender por que ocorrem essas mudanças, ou seja, quais são seus
determinantes. A avicultura não foi o único setor da agricultura a se modificar. Na verdade
está inserida em um contexto maior que atingiu a produção rural de maneira global.
Este capítulo apresenta os determinantes das modificações da técnica, que foram
atribuídos: a desagregação do complexo rural e formação do complexo agroindustrial; ao
apropriacionismo e o substitucionismo industrial; as questões ligadas à terra e ao trabalho; e
ao Estado através de políticas públicas e financiamento. Caracteriza cada um dos
determinantes, apresenta a forma de como eles atuam estimulando a utilização de
tecnologias e discute sobre as suas respectivas contribuições para o desenvolvimento
tecnológico.
III. 1 - Desagregação do Complexo Rural e Formação dos Complexos Agroindustriais
As transformações na base técnica passaram a ocorrer com maior ênfase a partir da
proletarização do camponês e da destruição de sua economia natural, quando se criaram as
bases para o desenvolvimento do modo capitalista de produção (GRAZIANO DA SILVA,
1996). MARX (1982), explica que o fundamental de toda divisão do trabalho desenvolvida
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
69
e processada através da troca de mercadorias é a separação entre a cidade e o campo. Pode-
se dizer que toda história econômica da sociedade se resume na dinâmica dessa antítese.
Cita ainda que o modo de produção capitalista completa a ruptura dos laços primitivos que
no começo uniam a agricultura e a manufatura. Mas, ao mesmo tempo, cria as condições
materiais para uma síntese nova, superior, para a união da agricultura e da indústria, na base
das estruturas que se desenvolvem em mútua oposição.
A separação da cidade/campo só se dá por inteiro quando a indústria se muda para a
cidade; a reunificação, quando o próprio campo se converte numa fábrica. Quando isso
ocorre, a agricultura entendida como um setor autônomo desaparece; ou melhor, converte-
se num ramo da própria indústria. Essa opinião de GRAZIANO DA SILVA (1996)
complementa a reflexão de 1982, quando cita que o longo processo de transformação da
base técnica – chamado de modernização – culmina, pois, na própria industrialização da
agricultura. Esse processo representa na verdade a subordinação da natureza ao capital que,
gradativamente, liberta o processo de produção agropecuária das condições naturais dadas,
passando a fabricá-las sempre que se fizerem necessárias. Assim, se faltar chuva, irriga-se;
se não houver solos suficientemente férteis, aduba-se; se ocorrerem pragas e doenças,
responde-se com defensivos químicos ou biológicos; e se houver ameaças de inundações,
estarão previstas formas de drenagem. Dessa forma cita ainda que “A produção
agropecuária deixa, assim, de ser uma esperança ao sabor das forças da Natureza para se
converter numa certeza sob o comando do capital” (GRAZIANO DA SILVA, 1996: 4).
Na verdade, a separação cidade/campo, segundo uma citação mais antiga de
GRAZIANO DA SILVA (1981: 44), é “a forma aparente que assume o próprio processo de
industrialização da produção no seu sentido amplo, incluindo aí a própria agricultura.
Usando uma imagem bíblica, pode-se dizer que no princípio tudo era agricultura, no
sentido que o artesanato doméstico não era senão um complemento das atividades da
família camponesa. A industrialização, em última instância, nada mais é do que a
destruição, num primeiro momento, dessa harmonia para recriá-la, posteriormente, não
mais com base nas condições naturais em que ela ocorria – habilidade do camponês em
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
70
utilizar as dádivas da natureza – mas sob condições artificiais, fabricadas pelo próprio
homem. Em suma, a industrialização é a própria reprodução da natureza pelo capital”.
Deve-se considerar que essas contribuições têm ao seu tempo a manifestação de
uma das faces do processo histórico de passagem da agricultura brasileira do chamado
complexo rural52
para dinâmica comandada pelos complexos agroindustriais (CAI), que
contribui como determinante das modificações na base técnica. Para PAIM, citado por
ORTEGA (1988), complexos rurais são propriedades rurais que se reproduzem de maneira
quase auto-suficiente, sendo que seu vínculo com o mercado é apenas o da venda de um ou
poucos produtos, às vezes até transformados dentro da fazenda. Enquanto que complexos
agroindustriais são propriedades que apresentam um alto nível de interdependência entre a
agricultura e indústria, devido ao alto nível de tecnificação, característico da avicultura de
corte atual.
A passagem da agricultura brasileira do chamado complexo rural para uma
dinâmica comanda pelos complexos agroindustriais – CAIs marcam o processo histórico da
substituição da economia natural por atividades agrícolas integradas à indústria, à
intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, à especialização da
produção agrícola e à substituição das exportações pelo consumo produtivo interno como
elemento central da alocação dos recursos produtivos no setor agropecuário.
A partir da crise dos complexos rurais e da mudança dos determinantes da
agricultura, GRAZIANO DA SILVA (1996: 5) cita que ocorre a passagem do mercado
externo para o mercado interno e não se pode falar mais em um único determinante, nem
numa única dinâmica geral, nem num único setor agrícola. A agricultura brasileira hoje é
uma estrutura complexa, heterogênea e multideterminada. Só se pode entendê-la a partir de
52
Nas palavras de GRAZIANO DA SILVA (1996) o que caracterizava o complexo rural era “a sua incipiente
divisão do trabalho”. As fazendas para produzir um determinado produto, tinham que produzir todos os bens
intermediários e os meios de produção necessários, e ainda assegurar a reprodução da própria força de
trabalho ocupada nessas atividades. O complexo rural internaliza nas fazendas um departamento de produção
de meios de produção (insumos, máquinas e equipamentos), mas “um D1 em bases artesanais” como o
ferreiro, o carpinteiro, o pedreiro, o mecânico, o domador de animais, o seleiro etc”.
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
71
seus variados segmentos (como os CAIs, por exemplo) com suas dinâmicas específicas e
interligadas aos setores industriais fornecedores de insumos e processadores de produtos
agrícolas.
Para GRAZIANO DA SILVA (1996: 87) a internalização do D1 com a implantação
no país de indústrias químicas e mecânicas, fabricantes de insumos e máquinas agrícolas,
são a base para o aprofundamento do processo de industrialização da agricultura e a
constituição dos vários complexos agroindustriais. pois somente se estabelecem relações
específicas para trás com a indústria de insumos e máquinas agrícolas quando se tem um
CAI completo. Definindo o tripé formado pela indústria para a agricultura, pela
agroindústria e pela agricultura moderna em torno de uma determinada cadeia produtiva
com vínculos específicos entre si. Esse ambiente com uma dinâmica particular determinado
internamente nesses complexos é que são responsáveis por formular demandas específicas
junto ao Estado.
Tais complexos surgem nos espaços nacionais e podem eventualmente se
internacionalizar, o que é sempre um momento de expansão conflitiva de aliança, de
modificações importantes nas relações de forças internas e, evidentemente, externas.
A estrutura e o crescimento do CAI na década de 70, coincidindo com a
consagração da avicultura industrial, ou seja, quando a avicultura passou a ser um
componente do CAI, pode ser apreciado pelos dados da Tabela 14, abaixo.
Algumas conclusões de GRAZIANO DA SILVA (1996: 25) servem para
comprovar que as indústrias de bens de capital e insumos determinaram modificações na
agricultura: 1- o período de arranque dos complexos pode ser localizado no início da
década de 70; em 75 as taxas de crescimento dos três grandes setores do CAI ultrapassaram
15% ao ano e, considerando toda a década, a indústria para a agricultura foi o setor que
mostrou o maior dinamismo; 2- a produção agropecuária propriamente dita teve uma
participação declinante no total do CAI, chegando a representar apenas 38% do valor total
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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72
produzido pelo CAI, em 1980, indicando a perda do peso da agricultura (em sentido estrito)
no total do sistema53
; e 3- por sua vez, a indústria para a agricultura (tratores, defensivos,
fertilizantes, produtos veterinários e rações) aumentou sua participação no CAI (de 9,3%
para 12,7% do total entre 1970 e 1980).
TABELA 14 – Estrutura e Evolução do CAI na Década de 70 Indústria para a
Agricultura (a)
Agricultura
(b)
Agroindústria
(c)
CAI
Anos Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e) Taxa (d) % (e)
1970 - 9.3 - 40.4 - 50.2 - 100
1975 19.7 11.1 15.6 39.4 15.8 49.6 16.2 100
1980 7.2 12.7 3.7 38 4.3 49.4 4.4 100
1970/80 13.5 - 9.5 - 9.9 - 10.1 -
Notas: a) dois sub-setores do setor mecânico; 3 sub-setores da química; um sub-setor de produtos
alimentares (rações)
b) lavouras, horti-floricultura, silvicultura, produção animal e extração vegetal
c) nove setores agroindustriais (22 sub-setores).
d) taxa geométrica anual nos períodos, em porcentagem.
e) participação no total do CAI em cada ano, em valor.
Fonte: MULLER citado por GRAZIANO DA SILVA (1996)
Para DAVIS & GOLDBERG citado por GRAZIANO DA SILVA (1996) o
fazendeiro moderno é um especialista que teve suas operações reduzidas a cultivar plantas e
criar animais. As demais atividades têm sido transferidas, em larga medida, para fora da
porteira da fazenda, urbanizadas e industrializadas. Para esses autores, a economia do
agribusiness54
reúne hoje essencialmente as funções que eram devotadas ao termo
agricultura há 150 anos atrás. A verdade é que a agricultura foi gradativamente
subordinando-se à indústria e perdendo importância pela redução da sua contribuição ao
valor agregado.
Finalmente, quanto a dimensão política dos CAIs, BERTRAND citado por
GRAZIANO DA SILVA (1996: 102) faz uma longa síntese sublinhando que “O complexo
53
Hoje gira em torno de 10% do PIB do país. 54
DAVIS & GOLDBERG citados por GRAZIANO DA SILVA (1996: 65) o agribusiness é “a soma de todas
as operações envolvidas no processamento e distribuição dos insumos agropecuários, as operações de
produção na fazenda, e o armazenamento, processamento e a distribuição dos produtos agrícolas e seus
derivados”
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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73
não é um dado a priori, um cômodo recorte estatístico ou um instrumento descritivo; ele é
o resultado de uma análise histórica, genética da constituição de uma (eventual)
organização. Essa organização nasce nas condições particulares (um jogo de contrários), na
busca convergente de um objeto dado, partilhado por um grupo de agentes cujos interesses
não são necessariamente convergentes em todos os pontos. A constituição do complexo
necessita de um consenso entre os participantes. O complexo pode desaparecer ou se
expandir se as condições mudam ou não são mais satisfeitas”.
O complexo, uma vez que se organiza, define um modelo de relações internas e com
o seu contexto (meio ambiente). Esse modelo é o resultado de decisões tomadas em comum
que tendem a definir regras de conduta, um ou mais produtos a valorizar, em função de uma
finalidade. Ele incorpora tanto uma maneira de produzir, como de consumir (ou de utilizar)
os produtos do trabalho de cada membro do complexo. Ele implica uma certa divisão de
tarefas entre os membros que o produzem; e entre esses últimos e seu meio ambiente.
Tarefas materiais – primeiro, de transformação dos produtos; mas igualmente um trabalho
informacional de seleção entre os possíveis interlocutores e de submissão à experiência das
diversas alternativas disponíveis, que são renovadas incessantemente pelo próprio
progresso do conhecimento.
Portanto, como resultado da industrialização, a agricultura se transforma em um elo
de uma cadeia, diferentemente do ambiente fechado do complexo rural, o resultado é a
constituição dos complexos agroindustriais. Aplicando o raciocínio de GRAZIANO DA
SILVA (1982) para o fato em questão, o que interessa realçar aqui é que a avicultura, assim
com a agricultura, industrializa-se nesse processo, isto é, torna-se um setor subordinado ao
capital, integrado à grande produção industrial. Dito de outra maneira, a avicultura se
transforma num ramo de aplicação do capital em geral e, de modo particular, do capital
industrial que lhe vende insumos e compra as mercadorias aí produzidas.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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74
III. 2 - Apropriacionismo e Substitucionismo Industrial
Os determinantes das transformações de base técnica, para GOODMAN et alli
(1990), se encontram na apropriação e substituição industriais do processo de produção
rural. Quando o processo de desenvolvimento tecnológico vai para a indústria, é ele que
impõe o ritmo de incorporação de inovações, e a indústria por sua vez passa a ser uma
determinadora do ritmo e intensidade de inovações tecnológicas na agricultura. É a
indústria que fez o melhoramento genético do frango de corte55
, desenvolveu remédios,
vacinas, a nutrição e alimentação, e os equipamentos e sua progressiva automação.
Além de desenvolver a tecnologia, a indústria determina o frango que quer comprar
e a tecnologia que vai ser empregada no mesmo, de maneira que o criador de frango de
corte não desenvolve a tecnologia e nem tem autonomia de utilizar esta ou aquela
tecnologia. Isto ocorria antes do apropriacionismo ocorrer. O certo é que a tecnologia não
deixa margens de escolha sobre que parte utilizar ou não, pelo contrário, se deixa, diz
claramente onde está a autonomia, na verdade é um pacote fechado ou semifechado, mas
quem fecha, quem dá o “caminho” são as indústrias do setor.
Para SORJ et alli (1982: 32) esse processo apresenta dupla dinâmica “o capital
industrial passa a se apropriar de atividades que anteriormente eram realizadas no interior
da empresa rural, e, com base nessa apropriação, passa a impor aos produtores rurais os
padrões e ritmos de transformação do processo produtivo. Os produtores rurais, ou seja,
aqueles cuja atividade ainda dependem em boa medida dos determinantes naturais no
processo produtivo – em particular do uso extensivo da terra – ingressam, assim, num
processo em que suas condições de reprodução estão superditadas e subordinadas à
dinâmica do complexo avícola industrial”.
55
As inovações biológicas colocam a natureza a serviço do capital, possibilitando a transformação das
atividades agrícolas em verdadeiros ramos da indústria (GRAZIANO DA SILVA, 1981).
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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75
A tese central do trabalho de GOODMAN et alli (1990) é a incapacidade histórica
do capital industrial em transformar o sistema agroalimentício, da produção agrícola até o
consumo final do alimento, como um todo unificado. A indústria se apropriou de frações
parciais do processo produtivo rural, no caso do frango de corte, a parte que sobrou para o
campo foi a criação. Se a criação não fosse mais necessária na fazenda, a indústria teria
completado seu processo de apropriação. Desta forma ele cita que os capitais industriais
têm-se restringido a apropriações parciais da atividade rural, conduzindo em diferentes
conjunturas históricas à mecanização da agricultura e ao desenvolvimento de inovações
químicas e genéticas. SHIKI (1996: 34) também concorda que, apesar dos avanços
tecnológicos, o domínio sobre o trabalho pelo capital agroindustrial é ainda parcial e
discreto devido aos constrangimentos naturais da produção agroalimentar. Cita ainda que
“... no caso brasileiro, criou-se um espaço de reprodução da agricultura familiar e um
sistema de produção altamente competitivo. A agricultura familiar tem se mostrado como
estrutura organizativa da produção que melhor se adapta aos requerimentos tecnológicos e
às condições de risco de produção e de mercado. No caso da avicultura, o domínio das
técnicas de manejo é a chave do sucesso e é possível somente para aqueles que têm um
mínimo de capacidade de investimento e absorção do conhecimento”.
A apropriação industrial56
, por exemplo, pode ser percebida quando constatamos
que a produção de galinhas não ocorre mais na fazenda. No caso do frango de corte, ele vai
para a fazenda quando nasce e volta para a indústria cerca de um pouco mais de 40 dias
depois, quando então é abatido e processado. Para tornar-se parte de uma sofisticada
indústria de reprodução, no nível comercial, as galinhas foram as primeiras a serem
exploradas comercialmente pela aplicação de técnicas de hibridação, tal como se fez antes
com o milho, assim como pelos métodos de aperfeiçoamento seletivo usando os princípios
da genética quantitativa (NORDSKOG citado por GOODMAN et alli,1990).
56
Para se ter uma noção mais concreta da apropriação das atividades produtivas pelo complexo agroindustrial,
SORJ et alli (1982) cita que, no preço final do frango, em 1976, o custo da mão-de-obra numa granja de 12
mil frangos representava apenas 1,5% (3,85% se incluir a previdência social).
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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76
Para GOODMAN et alli (1990) dois tipos de capitais interferem na agricultura. Os
capitais apropriacionistas, associados principalmente com o processo de produção rural e
com a transformação primária das safras, e os capitais substitucionistas associados a etapas
de fabricação dos alimentos. Dessa forma percebemos um movimento competitivo dos
capitais industriais a fim de criar setores de acumulação através da restruturação do
processo recebido da produção pré-industrial. Um exemplo desse processo é instabilidade
provocada pelas biotecnologias criando uma ameaça à base rural da agricultura, colocando
em cheque a própria definição de agricultura e de indústria.
O caso da farinha de trigo ilustra como a substituição industrial pode transformar
um produto rural num insumo industrial, de tal modo que a qualidade ou o valor são dados
por critérios de processamento e manufatura antes que por considerações nutricionais. Esta
tendência de avaliar os produtos rurais principalmente como insumos para o processamento
industrial e para a comercialização está no âmago dos debates correntes sobre alimentos
processados e nutrição. Um outro exemplo foi a produção do leite evaporado e o leite em
pó que, embora produzidos por métodos de produção em massa, eles tinham as
características que os tornavam substitutos diretos do produto natural e dos meios
tradicionais de preservação do leite como, como a manteiga e o queijo.
No que se refere a perspectiva mais ampla e de longo prazo, GOODMAN et alli
(1990: 120) cita que “... a ação do substitucionismo via microbiologia industrial é
novamente a de reduzir a importância da agricultura, definida como a produção de culturas
nos campos, associada com sistemas específicos de alimentos e fibras para o processamento
e distribuição”. Sublinha ainda que “as novas biotecnologias exporão crescentemente a
redundância dessa concepção tradicional. Em essência, essas técnicas avançadas ameaçam
trivializar a agricultura, transformando-a em uma entre diversas fontes competitivas de
matéria orgânica para conversão e fracionamento da biomassa. Assim, a posição
privilegiada das culturas convencionais de campo, nos padrões atuais de uso da terra, serão
crescentemente desafiados”.
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
77
Para GOODMAN et alli (1990) o efeito cumulativo dessa tendência é obscurecer a
especificidade ou identidade dos bens produzidos no meio rural, reforçando o movimento
de longo prazo do substitucionismo para reduzir a parcela da agricultura e da terra no valor
agregado gerado pelo sistema alimentar. Finalmente, é provável que as fronteiras do
substitucionismo sejam definidas tanto pelos gostos e pela lealdade dos consumidores aos
alimentos orgânicos completos quanto pelas restrições técnicas e de engenharia.
Portanto, o apropriacionismo e o substitucionismo constituem um movimento de
interação combinado do capital no processo gradual e ininterrupto de troca das atividades
rurais por atividades industriais. Neste aspecto ainda que o apropriacionismo transforme as
atividades rurais em atividades industriais e, assim, afrouxe as limitações impostas pela
natureza, os capitais constituídos por esta dinâmica, entretanto, retêm laços simbióticos
com o processo de produção de base rural. Estes laços também caracterizam os setores de
processamento primário. A ação tendencial do substitucionismo, entretanto, é reduzir o
produto rural a um simples insumo industrial, abrindo caminho para a eliminação do
processo rural de produção, seja pela utilização de matérias primas não-agrícolas. Seja pela
criação de substitutos industriais dos alimentos e fibras.
Dessa forma, o setor rural fragilizado e subordinado ao apropriacionismo e
substitucionismo industrial passa a seguir a tecnologia de criação recomendada pela
indústria, isso é mais forte nas integrações devido a intensa modernização na procura de se
manter competitiva. A bem da verdade, as grandes empresas também recebem pressão
semelhante, só que o elemento subordinador é o desenvolvimento tecnológico que oferece
vantagens nas relações de produção, de maneira só permanece no mercado quem se
mantém atualizado, principalmente em um mercado globalizado.
III. 3 - Questões Ligadas à Terra e ao Trabalho
As explicações para a adoção de inovações tecnológicas, segundo ROMEIRO
(1998), era preocupação de muitos analistas na década de 60. Baseado no diagnóstico dos
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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78
baixos níveis de tecnificação e uso de insumos modernos pela agricultura brasileira, duas
correntes de pensamento eram apresentadas para explicar o nosso atraso tecnológico. A
primeira, representada pelos analistas de corte marxista ou estruturalista, admitia a
existência de obstáculos de ordem estrutural, bloqueando o processo de modernização
capitalista da agricultura brasileira, sendo a reforma agrária considerada condição
necessária para o rompimento deste bloqueio representado pela polarização da estrutura
agrária brasileira entre o grande latifúndio arcaico (de caráter feudal) e o minifúndio
impossível de se modernizar. Diante da consumação do processo de modernização nos anos
70, a proposta de explicação dessa corrente de pensamento privilegia o processo de
modernização agrícola como fruto da lógica do processo de acumulação do capital urbano-
industrial. Sob essa ótica, modernização da agricultura passaria a ser uma necessidade
objetiva do capital a partir do momento em que o processo de diversificação e
complexificação do parque industrial brasileiro se completa, no final dos anos 50, através
do Plano de Metas. Para ROMEIRO esta abordagem privilegia a instância
macroeconômica, a lógica do processo de acumulação capitalista, mostrando o setor
agrícola como um setor subordinado e passivo no processo de modernização.
A segunda corrente de pensamento, representada pelos especialistas de corte
neoclássico, atribuia o baixo nível tecnológico da agricultura brasileira à ausência de
estímulos para a introdução de insumos e máquinas poupadoras de terra e trabalho, dado
que estes eram fatores até então abundantes. A ênfase deveria ser posta nos fatores de
estímulo endógenos, isto é, naqueles fatores que afetam a decisão de investir do empresário
agrícola. Quando ocorreu a modernização nos anos 70, a proposta explicativa foi que a
elevação do preço da terra, fruto do processo de desenvolvimento urbano-industrial e do
distanciamento da fronteira agrícola, estimulou a introdução de insumos que poupassem a
terra, como os fertilizantes químicos. No que concerne à mecanização poupadora de
trabalho, esta teria sido estimulada pela alta dos salários. Essa alta dos salários, por sua vez,
resultara ou da extensão da legislação de proteção social ao trabalhador rural (salário
mínimo, férias remuneradas, etc.) ou da escassez relativa de mão-de-obra provocada pelo
êxodo rural. Esta abordagem privilegia a instância microeconômica, os agentes produtivos
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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79
do setor agrícola tomam a iniciativa nesse processo em função de fatores adversos que
afetam as margens de lucro.
Para ROMEIRO (1998) os principais fatores que contribuíram para as mudanças
dos métodos de produção podem ser reunidos em duas hipóteses: A primeira é que os
agentes produtivos no setor agrícola não foram induzidos a se modernizar, mas agiram
principalmente em função de seus próprios interesses na busca de soluções para os
problemas concretos de cada unidade produtiva. A segunda hipótese é a de que os
aumentos dos preços dos fatores de produção não foram importantes como fator de
estímulo à mudança tecnológica; em especial, o aumento de custo do trabalho não decorreu
do aumento dos salários, mas principalmente da redução da qualidade da mão-de-obra.
Em pesquisa feita no Paraná, através de um questionário complementar anexo
àquele destinado a avaliar o rendimento médio das principais culturas do Estado,
promovido pela fundação IBGE, os motivos citados para inovar, segundo ROMEIRO
(1998: 220) foram:
- Em primeiro lugar, atribuídos ao aumento da produtividade da terra;
- Em segundo lugar, atribuídos ao aumento da produtividade da terra, somado
com o aconselhamento técnico de agentes extensionistas ou de vendedores de
insumos;
- Em terceiro lugar, atribuídos ao aumento da produtividade da terra mais os
problemas relacionados a mão-de-obra.
Considerando os estratos por área, a produtividade da terra aparece como principal
motivo da adoção de novas tecnologias. A diferença mais significativa entre
estabelecimentos pequenos e grandes é que, para os primeiros, os problemas relacionados
com a mão-de-obra são pouco importantes, visto que nestes predomina o trabalho familiar,
enquanto, para os últimos, estes representam o segundo motivo mais importante para adotar
novas tecnologias.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
80
Com relação à mão-de-obra, se analisado por período, a maioria dos
estabelecimentos tem como força de trabalho principal a mão-de-obra familiar. A partir de
1965 ocorre um forte aumento do trabalho temporário e a queda do trabalho permanente,
bem como a inversão dessa tendência a partir de 1980. Sendo o principal motivo apontado
para substituição do trabalho temporário por máquinas foi a redução da qualidade da mão-
de-obra57
, entre 1965 e 1980, e somado à dificuldade de recrutamento divide o lugar de
principal estimulador da mecanização, a partir de 1980.
A criação ou destruição das condições de existência de múltiplas formas de
produção rural é determinada, segundo SHIKI (1996), pelo grau e forma através do qual os
capitais agroindustriais superam limitações da terra e outros fatores naturais que
caracterizam o processo de trabalho rural. Cita ainda que a barreira à acumulação
representada pela terra e natureza biológica do processo produtivo é removida através das
inovações tecnológicas.
O progresso técnico, na opinião de GRAZIANO DA SILVA (1988), tem seu efeito
determinante de transformações da base técnica a partir do momento em que interfere
diretamente sobre o uso da terra. As terras58
são bens naturais relativamente não-
reprodutíveis e limitados em sua disponibilidade física, tanto do ponto de vista quantitativo,
como qualitativo. Assim, um papel fundamental do progresso técnico (tecnologias) na
agricultura é o de “fabricar terras apropriadas” aos ramos de atividade. Para exemplificar
esse efeito, GRAZIANO DA SILVA (1988) cita que, quando adubamos uma certa gleba e
obtemos dela o dobro de produção esperada, é como se tivéssemos fabricado uma outra
parcela equivalente de terras. Cita ainda que, o mesmo ocorre quando damos ração ao gado
57
A problemática da mão-de-obra teve na especialização, segundo Taylor, a forma de ganhar eficiência
(departamentalização), entretanto o ritmo do trabalho, de maneira a integrar a equipe como se fosse uma
orquestra sinfônica, tem em Ford (Fordismo) a solução a partir do princípio da esteira. O momento atual
destrói paradigmas do passado, pois o intenso processo de automação recente permitindo a diminuição da
mão-de-obra, caracteriza a produção flexível (Toyotismo) se apresenta como novidade no presente
(COUTINHO, 1992). 58
Em certas produções industriais, como a de flores, cogumelos e aves, a terra funciona como mero suporte
físico, a semelhança de uma indústria. Nessas condições, a alimentação das plantas e animais são
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
81
e conseguimos obter uma produção que necessitaria de uma área de pastos muito maior,
caso não fosse suplementada a sua alimentação.
Portanto, quando se analisa a mudança tecnológica, entende-se que os incentivos
para aquisição de novas tecnologias são econômicos, dessa forma, deixa claro que a
tecnologia que foi desenvolvida e adotada é por que era mais rentável, contribuindo para a
resolução da questão do aumento do valor da terra e/ou eficiência do trabalho. Neste
aspecto SALTER citado por ROMEIRO (1998: 129), afirma claramente que “o empresário
tem interesse na redução global dos custos e não apenas do custo de um fator de produção
isoladamente. Quando o custo do trabalho aumenta, toda inovação que reduza o custo total
é bem-vinda, seja ela poupadora de trabalho ou de capital”.
III. 4 - Políticas Públicas e Financiamento
Neste item é apresentada a participação do Estado como agente integrador e
regulador nos complexos agroindustriais, a sua contribuição para o crescimento da
avicultura através de políticas públicas desde a década de 60 e os financiamentos recentes
com a participação pública no Centro-Oeste.
III. 4. 1 - A Participação do Estado nos Complexos Agroindustriais.
O sistema de crédito patrocinado pelo Estado é quem possibilita a integração, entre
a propriedade territorial, o capital industrial e o “grande capital” em um movimento de
integração de capitais no complexo agroindustrial. Na verdade o agente integrador por
excelência é o Estado quando assume o papel de “grande capitalista” financeiro.
Para DELGADO (1985), o CAI brasileiro opera como se estivesse totalmente
integrado verticalmente, com uma cabeça financeira que é o próprio Estado. A unidade
artificialmente fabricadas, bem como o próprio espaço físico, na medida em que é possível sucessivos andares
sobre o mesmo substrato (GRAZIANO DA SILVA, 1988)
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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82
analítica que deriva daí não é a dos ramos de atividade nem a das cadeias produtivas, mas
sim a dos próprios grupos econômicos de capitais integrados. O Estado aparece como o
regulador desses grupos de capitais, administrando os financiamentos, redirecionando esses
capitais para distintos ramos através de penalizações/incentivos, etc. O Estado59
fica acima
dos interesses dos capitais particulares, administrando a competição intercapitalista.
O espaço do mercado para a consolidação do complexo agroindustrial só foi
possível graças a uma política expansionista, que aumentou a demanda por insumos
modernos. O principal mecanismo de articulação do Estado para atender os interesses
agroindustriais foi a concessão de crédito a taxas de juros negativas, além de outras
condições, favoráveis de financiamento (prazos e carências elásticas). No ramo da pecuária,
as industrias frigoríficas, de laticínios e avicultura (ramos caracterizados por maior
concentração e integração de capitais) são, de longe, os grandes beneficiários do crédito de
comercialização rural.
Nas palavras de DELGADO (1985: 87) “a própria política de garantia de preços
mínimos, que isoladamente compreende mais de 40% do crédito de comercialização
agrícola, atingindo 65% em 1982, está também fortemente vinculado ao critério de
integração de capitais, para efeito de acesso aos seus benefícios”. Conforme apresentado na
Tabela 15, quase todo o crédito de comercialização rural, concedido no período de 1977 a
1980, foi direcionado aos setores capitalistas de alta integração de capitais, como, como as
cooperativas e principalmente as agroindústrias.
59
Um dos efeitos negativos do Estado que dificulta o progresso técnico na agricultura é o próprio capital, em
função da contradição entre a necessidade de garantir apropriação privada dos seus benefícios. Isso faz com
que as pesquisas biológicas nos países capitalistas sejam públicas ou de associações de empresas e raramente
dos capitalistas tomados individualmente. Para GRAZIANO DA SILVA (1988), isso ocorre pelo fato de
exigirem grandes investimentos e prazos relativamente longos para os retornos desejados, ou seja, porque é
muito difícil a apropriação privada desses resultados por capitais individuais. Constitui exemplo bem
sucedido de apropriação o milho híbrido que tem suas sementes adquiridas anualmente pelo agricultor, já que
a utilização de sementes produzidas na fazenda por gerações sucessivas leva à perda do vigor inicial. Um caso
semelhante ocorre na avicultura, onde as matrizes de alta linhagem necessitam de tal sofisticação para serem
reproduzidas, que esses métodos passam a constituir um segredo, ou a patente daquela raça. Alguns países
europeus e os Estados Unidos já possuem até mesmo uma legislação de proteção aos cultivares ou lei de
patentes vegetais, que estabelece que toda nova variedade obtida por meio de pesquisa somente pode ser
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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83
TABELA 15 – Participação % dos Principais Clientes nos Financiamentos
Concedidos pela Política de Preços Mínimos no Brasil. Safras Produtores individuais Cooperativas de
Produtores rurais
Agroindústrias comércio
e outros
1977-78 13,3 21,9 64,8
1978-79 4,8 22,5 72,7
1979-80 7,8 23,0 69,2
Fonte: DELGADO (1985).
Dessa forma a reunião do conjunto de mudanças e inovações sintetizadas pelo
desenvolvimento do sistema de crédito, a consolidação do complexo agroindustrial60
, o
surgimento das formas específicas de conglomeração de capitais na agricultura e,
finalmente, a transformação do mercado de terras num ramo especial do mercado
financeiro estão fortemente imbricadas com o desenvolvimento da regulação estatal da
economia rural.
Portanto, o Estado se apresenta como o grande integrador e regulador da economia,
um exemplo disso pode ser percebido pela concessão de créditos a taxas de juros negativas
e as políticas de garantia de preços mínimos que favoreceram o dinamismo dos complexos
agroindustriais.
III. 4. 2 - Políticas Públicas que Beneficiaram a Avicultura
A presença do setor público na atividade avícola pode ser constatada em várias
épocas e sobre vários aspectos, incluindo incentivos via pesquisa, financiamentos e
políticas públicas para o setor, desde a década de 60.
multiplicada ou comercializada pelo seu criador, entendido este como o que tenha registrado a sua patente
(GRAZIANO DA SILVA, 1981). 60
No seio do complexo não coexistem, portanto, apenas os agricultores, as firmas, os comerciantes, mas
também forças intelectuais: a pesquisa, as agencias de divulgação de técnicas ou a publicidade e o crédito.
Nessa concepção, o Estado não é apenas o lócus onde essas diferentes forças se confrontam e se aliam, mas
também um ator mais ou menos forte na configuração e na polarização dos interesses que se organizam.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
84
Para SORJ et alli (1982), a avicultura industrial é um setor inexplicável se for
abstraída do componente Estado, já que ao recriar as condições sócio-econômicas para a
acumulação, o Estado cria também as condições para a associação ou a articulação com o
capital externo e para o avanço no sentido de centralização e dinamização do moderno
capital. Citam, ainda, que o complexo avícola brasileiro teve a sua expansão apoiada no
crédito público subsidiado que permitiu o ingresso, no setor, dos mais variados tipos de
produtores. Mais especificamente em dois grandes tipos de produtores rurais avícolas, as
unidades produtivas familiares de pequeno e médio porte e as grandes empresas, fundadas
no trabalho assalariado
Em 1965, o Governo Federal, inicia sua participação no complexo avícola,
publicando o decreto no 55.981 de 22 de abril, proibindo a importação de matrizes a partir
de 1968 e instalando o plano de melhoramento de aves de postura e corte, no Instituto de
Pesquisas Agropecuárias do Centro Sul61
, a partir de tal decreto deixou-se de importar
matrizes, que passaram a ser produzidas internamente, em conseqüência, o setor avícola
especializou-se em granjas de aves “avós” de matrizes e de produção final.
Para GODOY (1999), o efeito positivo desse decreto do governo foi a limitação da
entrada no país, somente de pintos e/ou ovos férteis das linhagens “avós”. Resultado ou não
de lobbies de multinacionais da avicultura, a medida não só ordenou o desenvolvimento da
atividade, mas também trouxe para cá a mais moderna tecnologia então disponível para
produção de matrizes (multinacionais aqui presentes precisavam assegurar-se de que seu
produto atingiria os melhores índices de produtividade; daí a transferência dessa
tecnologia).
Na década de 1970 o governo implanta a federalização nos abatedouros. Uma
medida que, embora abrangendo abatedouros de aves, bovinos ou suínos, levou a indústria
avícola a buscar novas tecnologias também para o processamento. Isso contribuiu para
61
Onde segundo GIANNONI&GIANNONI (1983), ocorreram os primeiros e únicos “testes de amostragem
ao acaso” para frangos de corte.
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
85
colocar o setor de vez à frente dos demais segmentos produtores de carnes. É nessa mesma
década (1975) que o setor iniciou as exportações de carne de frango, e a necessidade de
atender às exigências dos países importadores impulsionou ainda mais o avanço
tecnológico da atividade.
Na década de 1980 sob a égide do congelamento geral de preços do Plano Cruzado
(1986, do presidente José Sarney), os governos (federal, estaduais e municipais) saem “à
caça do boi no pasto”. Mas a “caça” foi infrutífera e os meios de comunicação se
incumbiram de criar uma verdadeira aversão aos pecuaristas e ao seu produto, direcionando
o consumidor para o frango. Começou a firmar-se, então, a definitiva modificação de
hábitos dos brasileiros, da carne bovina para o frango62
.
Na década de 1990 o presidente Fernando Henrique Cardoso faz do frango o garoto-
propaganda (“âncora”) do Plano Real, lançado em 1994 por seu antecessor, Itamar Franco.
Posteriormente, a avicultura reconheceria que essa opção pelo frango foi negativa, pois
estigmatizou o produto como a “carne de 1 real”, impedindo que tivesse os necessários
ajustes de preço no decorrer do tempo. Ainda assim, é inegável que essa “eleição”
favoreceu a avicultura, na medida em que gerou, em toda a mídia brasileira, uma ampla
campanha de divulgação do frango, algo que até hoje o próprio setor foi incapaz de realizar.
Com ela, enraizou-se ainda mais o hábito de consumo do frango, a ponto de ser considerada
a proteína mais democrática do país, já que está presente sem muitas diferenças na mesa
dos ricos e pobres (IBGE, 1999).
Portanto a presença do Estado beneficiando a avicultura pôde ser percebida: através
da proibição da importação de matrizes, internalizando parte da produção genética do
frango na década de 60, federalizando o abate, levando os abatedouros a buscarem novas
62
É interessante observar que, naquela época, de certa forma desmoralizado com o desaparecimento do boi
que, assim, não se sujeitou ao congelamento de preços, o governo federal convocou a avicultura para
preencher a lacuna existente e assegurar o abastecimento de carnes do País. E a avicultura se ampliou. Só que,
quando a expansão da produção chegou ao “ponto de maturação”, o Plano Cruzado já havia acabado. Como
resultado, a avicultura amargou, em 1988, a perda de uma produção da ordem de 500 milhões de pintos de
corte (GODOY, 1999).
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
86
tecnologias, permitindo inclusive a exportação a partir desta época, já que foram atendidas
as exigências dos países importadores e nas duas últimas décadas onde o frango recebeu
grande impulso do governo ora pela propaganda negativa contra os bovinos na década de
80 ou pelo rótulo de carne de 1 real na década de 90.
III. 4. 3 - Financiamentos Recentes para a Avicultura
Observa-se, em momento recente, a mudança da localização dos novos
investimentos na área da avicultura de corte. O Centro-Oeste tem sido a região que mais
tem recebido empresas nessa área. A respeito deste aspecto HELFAND & RESENDE
(1998) citam que as políticas públicas nesta região estão favorecendo os investimentos. O
FCO63
(Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste) beneficia investimentos
nesta região relativamente ao Sul (local onde tradicionalmente estão os grandes
investimentos avícolas). Incentivos ficais em nível estadual estão, também, induzindo as
empresas a se expandirem nesta direção. Além dos incentivos, a mudança para o Centro-
Oeste permite às grandes empresas começarem do zero no redesenho das instituições de
integração e tem a vantagem adicional de evitar custo de relocalização do que poderia ser
um processo penoso, e politicamente explosivo, de ajustamento no Sul.
ORTEGA (2000) cita que os governos dos Estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e
o do Distrito Federal têm atuado mais agressivamente na atração de empresas, a partir de
incentivos fiscais. Mato Grosso do Sul por exemplo atualmente oferece 67% de isenção de
ICMS por até 15 anos, prorrogável por outros 15 anos e, para o período posterior, existe
uma previsão de financiamento de parte do ICMS, a partir de regulamentação a ser
elaborada. Mesmo com as isenções dessa política já houve um aumento da arrecadação de
ICMS de 40%, entre 1998 e 1999, devido principalmente ao combate da sonegação.
63
O FCO (Fundo Constitucional de Financiamento do Centro Oeste), foi o responsável pelo desenvolvimento
da avicultura de corte, com recursos subsidiados, na região de Dourados - MS (SHIKI,1996).
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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87
Em Goiás, o incentivo fica por conta do financiamento de 70% do ICMS por 15
anos, com prazo de 15 anos para pagamento, a juros de 2,4% a.a., sem atualização
monetária. O mesmo incentivo é concedido no Distrito Federal. No caso específico da
instalação do complexo agroindustrial da Perdigão em Rio Verde (Projeto Buriti), a
implantação teve a sua atratividade baseada na concessão, pelo Estado de Goiás, do
diferimento do ICMS para atrair o investimento, em detrimento do Estado de Minas Gerais.
Como têm acontecido, nos últimos anos, os Governos de Minas Gerais e Goiás
envolveram-se em uma acirrada guerra fiscal, para atrair este empreendimento. Embora não
fosse um fator imprescindível, pesou bastante na decisão final da Perdigão, o diferimento
do ICMS concedido por Goiás. Todavia o que realmente teve maior relevância foi a
possibilidade de utilização de financiamento com utilização de recursos do Fundo
Constitucional do Centro-Oeste (FCO) a taxas de juros reduzidas como incentivo de
desenvolvimento da região Centro-Oeste, fator inexistente no Estado de Minas.
O projeto Buriti da Perdigão em Rio Verde consiste na implantação de um sistema
completo de integração avícola e suinícola envolvendo um investimento de US$ 300
milhões. O empreendimento é constituído por:
- Um frigorífico de aves com capacidade para abater 281 mil cabeças/dia;
- Um frigorífico de suínos para 3.500 cabeças/dia;
- Uma fábrica de rações para 60.000 t/mês;
- Duas granjas de matrizes de aves (1.738.000 ovos/semana);
- Um incubatório de aves (1.460.000 pintos/semana); e
- 834 módulos de integração (aves e suínos). Cada galpão de frangos de corte terá a
capacidade de alojar 24 mil aves64
.
No estado do Tocantins, além da possibilidade de financiamento através dos
recursos da Sudam e do FCO, existe o Programa de Incentivo ao Desenvolvimento
Econômico do Estado do Tocantins (Prosperar), com recursos do ICMS, que é liberado em
64
Sendo recomendado no mínimo 4 galpões de por propriedade em função da viabilidade para o integrado.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
88
70% do recolhimento mensal para implantação de novos projetos e 50% no caso de
expansão de projetos.
Os principais projetos em instalação no Estado são os seguintes: Da Brazialian
Chicken Alimentos, que em Porto Nacional está investindo US$ 45 milhões num
abatedouro para 140 mil frangos/dia a partir de 2001, com aves produzidas por 300
integrados. Toda a produção será dirigida à empresa italiana Gramilini SPA. Outro
empreendimento importante é o do Grupo Asa Alimentos, de Brasília, que está investindo
R$ 1 milhão para duplicar sua capacidade de 60 mil frangos/dia na planta de Paraíso de
Tocantins e instalando um abatedouro com capacidade para abater 150 mil frangos/dia no
município de Aguiarnópolis, na divisa com Maranhão, com a integração de 60 pequenos
produtores. Esses projetos contam, ainda, com a ampliação recente da produção de soja e
milho no estado, para utilização como matéria prima na produção de ração (ORTEGA,
2000: 15).
As mesmas forças econômicas (preços relativos) que induzem as mudanças técnicas
tendem a induzir também as mudanças institucionais necessárias para viabilizar a
introdução das novas técnicas. Do mesmo modo, as respectivas ofertas de inovações
técnicas e de inovações institucionais são geradas por forças similares: os avanços nos
conhecimentos científicos em geral
Portanto, os governos dos Estados de Mato Grasso do Sul, Goiás e do Distrito
Federal têm sido mais agressivos na atração de empresas a partir de incentivos fiscais e a
existência de recursos do FCO, a taxas de juros reduzidas para o desenvolvimento do
Centro-Oeste.
III. 5 - Conclusão
Em resumo, as transformações da base técnica podem ser explicadas sob a
inspiração de GRAZIANO DA SILVA pela desagregação do complexo rural e formação
DETERMINANTES DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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89
dos complexos agroindustriais, ou seja, uma estrutura com características auto-suficientes é
substituída por outra ligada a jusante e a montante a indústria. Para GOODMAN o
apropriacionismo e substitucionismo industrial foram os responsáveis pelas modificações
ocorridas no campo; ele se baseia na tese de que a indústria se apropria das atividades do
campo através do desenvolvimento tecnológico, substituindo com eficiência atividades, que
no caso da avicultura, se concentram na área da genética, nutrição e mecânica. Esse
processo é tão intenso que sobrou para o campo apenas a criação do frango (por isso a
apropriação é dita parcial). Questões ligadas à terra e ao trabalho para ROMEIRO explicam
o que ocorreu no campo. Segundo o autor, a economia de terra, devido o seu custo, com a
aplicação de tecnologia aumentando a produtividade e à economia da mão-de-obra, devido
também ao custo e a baixa eficiência humana, tem justificado as modificações poupadoras
de terra e trabalho. Cita ainda que existe um ambiente de crise agrícola, não apenas pelo
desequilíbrio entre a oferta e procura, mas pela diminuição da flexibilidade de ajuste face às
pressões que tendem a comprimir a renda do agricultor, seja pelo lado da demanda
(tendência à queda dos preços), seja pelo lado da oferta (tendência à elevação dos custos
devido à degradação do ecossistema agrícola).
Em vários momentos o Estado, também, foi um dos elementos que contribuiu para o
desenvolvimento da avicultura industrial, seja pela regulamentação da importação de
pintinhos avozeiros, seja por financiamento, pela pesquisa através de instituições de
pesquisa e universidades, políticas públicas beneficiando o setor, utilização do frango como
garoto propaganda do plano real e participação atual no financiamento de novas unidades
produtivas de frangos de corte no Centro-Oeste
CAPÍTULO IV
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Este capítulo apresenta os impactos identificados pelas transformações da base
técnica. Foram identificados impactos: na relação capital X trabalho, na utilização de
propriedades com mão-de-obra familiar, na especialização da produção, na geração de
empregos e na localização das granjas. Apresenta também um item de impactos previstos
para Rio Verde conforme Estudo de Impacto Ambiental e Relatório Impacto ao Meio
Ambiente (EIA-RIMA) aprovado pela FEMAGO65
.
IV. 1 - Relação Capital x Trabalho
A relação capital x trabalho na avicultura de corte se estabelece na forma de três
sistemas de produção, são eles: a produção independente, o cooperativo e a integração
(parceria).
IV. 1. 1 - Sistema de “Produção Independente”
O sistema de produção independente é aquele onde o produtor é responsável por
todo o processo de produção do frango, toda e qualquer decisão tendo caráter pessoal. Os
riscos envolvidos na produção e comercialização são de inteira responsabilidade de tal
produtor. Devido às características próprias de tal sistema, ele é mais encontrado nas
proximidades de cidades pequenas e médias. Os criadores independentes produtores de
frango de corte nem sempre possuem abatedouros e frigoríficos, já que essa atividade
65
Fundação Estadual do Meio Ambiente de Goiás.
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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91
significa um grande investimento, impondo dificuldades aos pecuaristas em integrar toda a
sua produção. Raros são os casos em que criadores independentes conseguem esse grau de
verticalização, desde a produção da ração até o abate (ORTEGA,1988).
São os criadores independentes produtores de ovos que mais comumente
conseguem integrar sua produção, mesmo porque os investimentos com separação e
embalagem dos ovos são bem menores que com instalação de abatedores. Para os criadores
que vendem sua produção, seja para abate, seja para selecionadores, embaladores e
distribuidores de ovos, sua independência está restrita ao não-controle de sua produção por
uma integração e estão menos subordinados à indústria a montante da agricultura caso
produzam sua própria ração. Entretanto, sua subordinação se faz junto às indústrias à
jusante, no caso os abatedouros ou comercializadores de ovos. Portanto estão apenas
parcialmente verticalizados.
Para GODOY (2000) este sistema de produção, apesar de ter diminuído bastante,
não desaparecerá. Para ele existe muito espaço disponível, principalmente em áreas não
exploradas pela grande indústria, sem mencionar outras potencialidades como a crescente
busca por alimentos naturalmente produzidos, atendendo demanda específica, que
poderiam ser direcionados a pequenos e médios produtores, sem o compromisso de manter
seu mercado mediante volume produzido.
IV. 1. 2 - Sistema de Produção “Cooperativo”
O sistema cooperativo é aquele onde o criador participa da organização e das
decisões, correndo os riscos de um eventual fracasso comercial das operações. A
cooperativa muitas vezes produz os seus insumos, como pintinhos e rações, consumidos
dentro do próprio sistema, estes são repassados aos cooperados pelo custo de produção. No
final do ciclo do lote, os frangos têm, agregado aos insumos, as demais despesas do lote
(aquecimento, cama, mão-de-obra do cooperado, etc.). As despesas administrativas,
técnicas e operacionais também são agregadas ao custo e rateadas entre o total de frangos
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
92
produzidos. Os lucros obtidos podem ser destinados a novos investimentos pela
cooperativa, com distribuição de quotas entre os cooperados; ou mantidos em reserva, para
aplicação no mercado financeiro; ou finalmente, distribuídos entre os cooperados, com
dividendos proporcionais às quotas de participação (COTTA, 1997).
A produção por parte das cooperativas, em função da necessidade de centralizar a
produção e competir com grupos privados, possibilidade de garantir escoamento da
produção, sobrevivência com atuação característica de grande empresa capitalista, atuação
distanciada do conjunto dos associados e encastelamento de um grupo dirigente no poder,
agindo de formas a garantir interesses próprios, para ORTEGA (1988), acaba justificando
sua inclusão no mesmo item da produção integrada. De maneira que apresentando um
comportamento semelhante ao de uma empresa privada, as vantagens apresentadas pelas
cooperativas são também semelhantes às apresentadas pela integração privada
A diferença básica entre o sistema cooperativo e o sistema privado de integração,
está na participação do produtor na construção do capital social da empresa e no processo
de decisão dos destinos da cooperativa. Quanto ao futuro deste sistema, COUTINHO
(1995) sublinha que haverá necessidade de uma grande transformação no cooperativismo
de produção, dessa forma o aumento da competitividade num ambiente econômico cada
vez mais liberal vai direcionar as cooperativas a reverem diversos pontos de sua doutrina.
Neste aspecto ORTEGA (2000) cita que essa forma de produção vem sendo muito
desacreditada nos últimos anos e sugere que devem ser procuradas novas formas de
associação66
para os pequenos e médios produtores ganharem competitividade.
IV. 1. 3 - Sistema de Produção por “Integração”
O sistema integração na avicultura, consiste em incorporar à atividade principal de
uma empresa, todas aquelas outras que a ela se ligam no ciclo de produção do frango
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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93
abatido. O contrato de integração é feito principalmente entre empresas que se
complementam no processo produtivo. De um modo geral, a empresa maior (integradora)
fornece o material de base, ou seja os pintinhos de um dia, a ração, os medicamentos, as
vacinas e desinfetantes, a assistência técnica, além de se encarregar do transporte, do abate
e da comercialização. Enquanto o criador67
(integrado) aporta as suas instalações,
equipamentos, aquecimento, forração do galpão (cama) e o seu trabalho. No final do ciclo,
o lote é retirado pelo abatedouro (faz parte da integradora), o qual se encarrega da
comercialização do frango e o integrado recebe uma remuneração68
pela criação das aves
(COTTA, 1997).
Este sistema é regido por um contrato de integração feito entre as partes
interessadas, contendo os direitos e deveres recíprocos. Ele apresenta cláusulas gerais e
muitas vezes mal definidas, não se confundindo, entretanto com um simples contrato de
fornecimento, tendo por única cláusula um preço combinado (COTTA, 1997).
66
Uma alternativa sugerida por ORTEGA (2000) é a utilização, via associação em condomínios, de um selo
de garantia e marca, com o marketing destacando as qualidades do frango, por exemplo: frango sem
antibióticos, hormônios e alimentado com ração que não utiliza produtos transgênicos como matéria prima. 67
As integrações no Sul têm incentivado os seus integrados a cultivarem algum produto que seja matéria-
prima na composição da ração utilizada na criação. O milho é o produto preferencial, caso o integrado tenha
um misturador a integração lhe fornece o concentrado ao qual se adiciona o milho. Não possuindo o
equipamento, a firma integradora pode comprar sua produção de milho, resolvendo parte do seu problema na
aquisição de matéria-prima, fundamental na produção de rações balanceadas e que tem apresentado
problemas de oferta, mesmo porque sua produção não tem acompanhado o aumento da demanda. Essa
condição é imposta pela firma integradora, para que o produtor tenha uma renda adicional além da criação, o
que lhe permite pagar menos pela sua matéria-prima, sem com isso “não matar sua galinha dos de ovos de
ouro”. No Centro-Oeste as integrações pesquisadas oferecem a ração entregue pronta para o integrado não
existindo nenhuma relação entre ser integrado e produção de grãos, isso foi constatado na frango Gale em
Jataí e na Perdigão em Rio Verde.. 68
A remuneração é definida através do uso de um indicador de eficiência da produção, o Fator Europeu de
Produção, que assim se expressa:
(peso médio x viabilidade) x 100
__________________________
idade de abate
FEEP= __________________________
conversão alimentar
Existem outras formas de parceria em que o fornecimento dos insumos é computado como venda vinculada
cuja fatura é debitada numa conta sujeita a correção monetária e saldada no momento da venda ou entrega do
frango gordo ao abatedouro, ou da liquidação do lote (SHIKI, 1999).
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
94
Cita ainda que o criador de frangos encontra neste tipo de contrato com a indústria,
vantagens importantes. Entre elas se tem a garantia do escoamento da produção, facilidades
de crédito sem recorrer ao sistema bancário, uma indispensável assistência técnica, além da
certeza de uma renda no final da criação. Entretanto, ele apresenta o inconveniente de
tornar o produtor dependente da indústria integradora, economicamente mais forte.
Para GRAZIANO DA SILVA citado por SHIKI (1996), o contrato de integração na
avicultura surge como modelo de relacionamento entre a indústria e os pequenos
agricultores familiares, e teoricamente critica a idéia de subordinação69
do agricultor à
agroindústria que o transforma em um verdadeiro trabalhador a domicílio. O argumento
para essa crítica está na autonomia do agricultor familiar em organizar o processo de
trabalho, diferentemente dos assalariados, pois o ritmo do trabalho seria determinado não
pelo patrão ou pela máquina programada, mas pelas necessidades biológicas do próprio
processo produtivo. Neste sentido BERNSTEIN também citado por SHIKI (1996), sublinha
que não são uma classe de explorados desde que suas condições gerais de reprodução são
as mesmas que regulam as empresas capitalistas. Mesmo assim, em virtude de suas
debilidades, são sujeitos a todas as formas de extorsões e pressões por capitais diversos e
pelo Estado.
O contrato de integração é normalmente individual, podendo, ser celebrado
coletivamente, entre vários produtores interessados. Ele é um ato jurídico misto, ou seja
civil e comercial, devendo conter certas cláusulas que ofereçam maiores garantias ao
produtor, que deve ter pelo menos a certeza de uma renda mínima. A renovação do contrato
69
As formas para se definir o pecuarista variam conforme o autor considerado, entretanto todos concordam
que ele invariavelmente é um pequeno criador. Para MILLER é um trabalhador em domicílio; para
WANDERLEY é um trabalhador para o capital; para GRAZIANO DA SILVA é um produtor tecnificado
(autores citados por ORTEGA, 1988: 111) e na linguagem popular da avicultura, nas grandes empresas desse
setor, assim como em Rio Verde Goiás onde a Perdigão esta se instalando utiliza-se a expressão “integrado”.
Para PAULILO (1990), do produtor integrado fala-se apenas como “o explorado”, “o subordinado”, enfim
como o lado passivo, sem que haja uma preocupação maior com o que esses agricultores pensam de si
mesmos e das empresas, com opções que eles possam ter, mesmo que reduzidas, e com o lugar que a relação
de integração ocupa em seu mundo.
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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95
pode ser feita tacitamente, o rompimento, mediante aviso prévio, não dá lugar a nenhuma
indenização.
A empresa integradora deve se responsabilizar pela boa qualidade dos serviços
prestados e dos insumos fornecidos, assim como pela retirada dos lotes combinados. O
integrado tem o dever de executar os trabalhos segundo as condições previstas, de se
abastecer de insumos junto à integradora, de aceitar a assistência técnica, etc.
No início do processo, para SORJ citado por SHIKI (1996), o sistema consistia
numa estrutura composta pela indústria de rações e uma constelação de produtores
“independentes” de frango. A partir de 1961 surge o sistema integração importado do
Estados Unidos, este sistema cresce bastante a ponto em 1980 representar 35% da produção
nacional e desta data até 2000 dobra a participação, sendo atualmente responsável por 70%
do frango produzido no Brasil70
.
Comparando os três sistemas de produção, a participação da produção independente
deverá ser menor e restrita a áreas não exploradas pela grande indústria, o sistema
cooperativo bastante desacreditado atualmente também deverá diminuir a sua participação
em função de não suportar a concorrência do sistema integração. Para GODOY (2000) a
produção na forma de integração deverá ser ainda maior por apresentar a competitividade
necessária pela avicultura em ambiente globalizado.
IV. 2 - Pequena Propriedade e Mão-de-Obra Familiar
Na avicultura nacional, as experiências consideradas mais bem sucedidas de
integração entre agroindústria e avicultura são aquelas em que os avicultores constituem-se
de pequenos produtores familiares. Através desse modelo de integração, os contratos de
parceria têm dado à cadeia produtiva da avicultura, a partir de uma base tecnológica
70
Na região Sul, mais de 80% da produção de frango é feita pelo sistema integração.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
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desenvolvida, grande competitividade para enfrentar a concorrência de multinacionais
americanas e européias, no cenário internacional (ORTEGA, 2000).
Com relação a este aspecto observa-se que é uma atividade explorada
principalmente pela pequena propriedade71
. Em Videira-SC, por exemplo, terra natal da
grande empresa integradora Perdigão, 94% das propriedades rurais tem áreas menores que
50 ha. A esse respeito, SOUZA (1997) cita que ocorreu uma crescente expansão do
capitalismo nas grandes propriedades, através de uma progressiva agroindustrialização e
uma reversão da penetração do capitalismo em terras com tamanho médio de cerca de 20
hectares. Foi o que ocorreu na Europa e nos EUA, essas propriedades são geridas por mão-
de-obra familiar. NAKANO citado por SOUZA (1997), explica que os baixos lucros,
inviabilizam a empresa capitalista. Contudo, tornam possível a produção familiar, em que
as receitas totais apenas cobrem os custos, incluindo a remuneração da família, a educação
e um fundo de capitalização da atividade.
Para MATOS (1996a), dentre as razões que explicam a decisão de terceirizar a
criação de frangos, estão, em primeiro lugar, uma demanda dos próprios produtores rurais
pela instalação de aviários na propriedade e a empresa aproveita essa necessidade para
impor seus requisitos e obter aves mais padronizadas e, em segundo lugar, a existência de
um grande contingente de pequenos produtores familiares na região com elevado
compromisso por esta atividade. Pelo lado da agroprocessadora, há uma economia de
recursos ao evitar os investimentos em infra-estrutura de criação e em áreas territoriais”,
ocorrendo ainda a diluição dos riscos de produção.
Dentre as estratégias desenvolvidas pelas empresas integradoras, MATOS (1996a)
cita que existe uma seleção72
disfarçada dos interessados na atividade, uma vez que elas
procuram priorizar o pequeno proprietário rural, cujo processo produtivo apoia-se na mão-
71
Entretanto os investimentos mais recentes têm privilegiado propriedades maiores que aquelas inicialmente
utilizadas, devido as garantias necessárias aos financiamentos de galpões de maior porte. 72
O critério das integradoras para escolherem seus integrados era um grande número de membros da família
no trabalho de criação, pois somente a atenção integral e dedicada do criador viabilizaria a atividade.
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
97
de-obra familiar devido à maior atenção e dedicação aos lotes. Nesses módulos, é muito
mais fácil a aceitação da diversificação da produção segundo um padrão sistêmico em que
as atividades desenvolvidas estão articuladas entre si e produzem uma renda complementar
ao produtor.
Para ORTEGA (1988: 112) a preocupação da firma integradora quando selecionava
as pequenas e médias propriedades era que fossem capazes de sustentar uma família sem
ser necessária a utilização de mão-de-obra assalariada de maneira substancial. A
justificativa das integrações ao selecionar os criadores era de que os assalariados, sem
“tradição” na criação animal e sem interesse pelo bom desenvolvimento dos animais, “não
teriam a dedicação que a produção animal requer”. Entretanto a utilização de mão-de-obra
familiar reduz os custos produção ainda mais, colaborando dessa maneira para o êxito da
atividade criatória.
SHIKI (1999: 162) também concorda que as empresas do Sul do país selecionavam
as propriedades em que tinham abundante trabalho familiar. Cita ainda que, para o filho ou
filha que casa, o aviário representa uma parte da herança e um emprego mantido na mesma
exploração, dessa forma a avicultura representa uma alternativa a reprodução da agricultura
familiar de pequenos agricultores, criando uma outra exploração familiar sem ter que
comprar mais terra. Todavia, a explicação para a restrição ao assalariamento parece estar
relacionada ao fato da propriedade não atingir um tamanho mínimo para suportar a despesa
de funcionários e o fato do trabalho ser leve porém contínuo, com vigilância 24 horas por
dia, incluindo domingos e feriados. Segundo SHIKI é uma verdadeira prisão domiciliar
durante todo o ciclo do frango, os poucos momentos de folga ficam muito ao sabor da
natureza ou das condições climáticas. Uma outra questão a ser considerada é que, entre
explorações menores ocorre o assalariamento, mas, nas propriedades dos profissionais
liberais com emprego urbano, pequenos comerciantes, industriais e funcionários públicos
que se dedicam a avicultura como atividade complementar de renda.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
98
Nesse sentido SORJ et alli (1982: 112) concluem que a questão básica não é sua
subordinação ao capital industrial, mas a possibilidade e ameaça presente de sua exclusão
definitiva das mínimas condições de produção representada fundamentalmente pela ameaça
da perda total da terra que se constitui no principal meio de produção numa agricultura
desse tipo. Por outro lado, citam que “...para os produtores em bases familiares, a
integração não se apresenta de imediato em seu aspecto de exploração, posto que esses
produtores sempre estiveram subordinados ao capital comercial tradicional, e por isso, sua
integração e subordinação ao moderno capital industrial-financeiro se apresenta de imediato
como a possibilidade de desenvolvimento da produção, através do desenvolvimento
tecnológico e da melhoria das condições de realização da produção. Em outras palavras, e a
grosso modo, a espoliação na compra da produção pelo capital industrial-financeiro é mais
sistemática e previsível e menos espoliativa que o capital comercial tradicional, pelo menos
em sua manifestação, além de estar mais estritamente vinculada à coordenação e mediação
do Estado”.
Os limites da integração são impactados por dois fatores segundo SORJ et alli
(1982: 112). Sublinham eles que a capacidade de resistência do produtor rural e os limites
objetivos que este apresenta a certos níveis de concentração da produção, tem no primeiro
caso a capacidade de resistência (organizada ou não) que o produtor familiar pode opor à
integradora, seja se retirando, seja exigindo maiores margens de ingresso, levando a
empresa a optar pela integração vertical. No segundo, a integração se imporia porque os
ganhos de escala que ela permitiria seriam superiores às vantagens do uso da integração de
produtores familiares. Contra para eles, existiriam, as imobilizações necessárias de terra e
capital fixo e as perdas de produtividade pelo uso de trabalho assalariado frente à
responsabilidade individual e ao autocontrole da produção familiar.
Este padrão de produção, baseado na utilização de pequena propriedade e mão-de-
obra familiar, está sendo substituído por outro padrão, baseado em médias e grandes
propriedades com mão-de-obra assalariada. Um exemplo disso é o modelo que vem se
consolidando no Brasil Central, baseado na constituição de grandes projetos de integração,
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
99
com verticalização completa ou a participação de criadores, modificando a imagem que
antes prevalecia, sobre a participação dos pequenos agricultores. Esse novo modelo de
integração, com base nos grandes criadores, por um lado reduz o espaço para a atividade da
agricultura familiar, ou deixa-a ainda mais na “marginalidade” do mercado; por outro lado,
introduz a mão-de-obra assalariada, até então um tabu, particularmente no setor avícola.
Portanto, o impacto atual da mudança no padrão de produção de frango de corte
sobre a utilização da pequena propriedade com mão-de-obra familiar foi a sua exclusão do
processo de produção e a emergência da utilização de médias e grandes propriedades com a
utilização de mão-de-obra assalariada.
IV. 3 - Especialização da Produção
A integração na avicultura de corte promoveu uma absorção e subordinação da
pequena propriedade rural a empresa integradora, de forma que a relação entre integrado e
integradora, foi de um lado, responsável pela propagação da elevada especialização técnica
que passou a caracterizar a criação intensiva e, de outro lado restringiu a liberdade dos
criadores quanto ao fornecimento de matérias primas, como insumos ao comprador de sua
produção (ORTEGA, 1988).
O impacto do desenvolvimento tecnológico sobre a especialização, nas palavras de
LIMA (1984:176), está na subordinação total de granjas de engorda à indústria, permitindo
uma velocidade muito maior de difusão do progresso técnico, já que a penalização
(exclusão da integração) pela não adaptação a novos padrões de especialização da produção
passa a ser muito mais rápida e contundente do que o mercado o tem feito tradicionalmente.
Também os mecanismos de verificação e correção dos erros e indução de novos padrões
passam a ser muito mais eficazes.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
100
Esse aspecto também é ressaltado por SHIKI (1999: 162). Para ele o domínio
tecnológico requer um constante aprendizado. Por isso é que entre os avicultores existe uma
intensa troca de informações sobre o manejo, principalmente considerando que “cada lote é
uma história”. A questão é levada tão a sério que, alguns avicultores chegam a manifestar
que o criador precisa “sentir” o frango, no que se refere a dificuldades de respirar, se estão
crescendo bem, momento de intervir estimulando o consumo de ração, etc.
Um exemplo de especialização nas relações de produção pode ser apreciado a partir
dos critérios preliminares apresentados pela Perdigão, para admitir integrados, que são os
seguintes:
- A propriedade deve estar na faixa de interesse da Perdigão, sendo em torno de 50
km de suas unidades processadoras;
- Ser produtor de milho, soja, sorgo, etc., critério utilizado no Sul mas ainda
ignorado no Centro-Oeste;
- Que assine o contrato de parceria, garantindo a formalidade do contrato;
- Tenha a sua ficha aprovada pela Perdigão, considerando os interesses da
integradora em função da vocação potencial do proponente;
- Que tenha patrimônio suficiente ou garantia para suportar o financiamento de 90%
do investimento;
- Que a propriedade ofereça condições de infra-estrutura, tais como, água potável
suficiente, energia elétrica, estradas de acesso em qualquer época do ano; e
- Que seja uma pessoa idônea e que tenha bom relacionamento em sua comunidade.
Para ROMEIRO (1998), a especialização do pequeno produtor, torna-o dependente
do capital industrial que lhe impõe a venda de produtos com preços acima de seus valores
(a indústria de insumos e equipamentos agrícolas) e compra a sua produção por preços
menores (a indústria agroalimentar). Na análise do autor tudo isso faz parte de um processo
pelo qual o mercado de produção capitalista, depois de ter feito nascer o sistema de
policultura associado à criação animal, o obriga a se transformar.
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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101
Dessa forma, o sistema integração foi o responsável pela intensa especialização e
utilização de tecnologia na produção de frango de corte, isso ocorreu em função da
subordinação dos integrados aos critérios e a tecnologia dessa atividade, conforme a
necessidade da integradora.
IV. 4 - Geração de Empregos
O impacto sobre a geração de empregos podem ser vistos de duas maneiras:
Primeiro, porque o número de empregos aumenta em função do crescimento da avicultura e
segundo, porque o número de empregos diminui pela automação do processo produtivo. Os
reflexos provocando desemprego tecnológico73
podem ser acompanhados desde a década
de 70. A este respeito ENGLERT (1978), recomendava nesta época, no mínimo de 10.000
frangos por granja, sendo que o ideal seria que todas essas aves ficassem em um único
galpão. A partir da análise de uma proposta, do autor citado, para criação de 30.000 frangos
era sugerido três tratadores e um encarregado, todos morando na propriedade, e o
proprietário morando na cidade, portanto fica claro que era necessário quatro avicultores74
para cuidar de 30.000 aves (1 homem/7.500 aves) em um “sistema de produção
independente”, onde as rações eram feitas na granja, adquirindo os pintinhos de 1 dia e
todos os insumos no mercado e comercializadas as aves vivas com os abatedouros.
Atualmente, a Associação Paulista de Avicultura considera como referência para as
granjas de São Paulo 1 homem para cada 25.000 aves. A primeira instalação de frangos da
Perdigão em Rio verde apresenta numa mesma propriedade, quatro galpões de 24.000 aves
sendo considerado um avicultor o suficiente, isso significa 1 avicultor para cada 96.000
aves. Portanto, sinaliza para a característica marcante do capitalismo contemporâneo que é
o aumento do desemprego tecnológico
73
Observa-se uma progressiva diminuição de trabalhadores para cuidar de um progressivo aumento da
quantidade de frangos, devido a tecnologia da automação.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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102
O número de integrados também tende a diminuir em função do aumento dos custos
logísticos e do gerenciamento de um grande número de produtores, um exemplo deste
impacto pode ser percebido na Perdigão que tem cerca de 7.000 integrados no Sul, terá
menos de 900 agricultores integrados no projeto Buriti em Rio verde. O caráter excludente
da avicultura por sua própria seletividade estratégica já era observado por SORJ et alli em
1982, quando elegia um determinado grupo de produtores e impunha suas exigências
tecnológicas.
Portanto, a avicultura tem provocado um intenso desemprego tecnológico em
função da automação, já que com aumento da escala tem favorecido a aplicação de
tecnologias que substituem a mão-de-obra humana.
IV. 5 - Localização das Granjas
Para analisar os impactos sobre a localização devemos separar o antigo modelo de
produção utilizado principalmente no Sul na década de 70 do novo modelo que está sendo
implantado no Centro-Oeste atualmente. Na verdade, a questão locacional é mais bem
entendida quando consideramos a época em que foram feitos os investimentos e as
finalidades do sistema de produção.
IV. 5. 1 - A Questão Locacional na Década de 70
Na década 70 era recomendado que a instalação da granja deveria, na medida do
possível, estar próxima de abatedouros, sendo desejável que o abatedouro estivesse o mais
próximo possível da granja, mas distante pelo menos uns 5 Km, para evitar a contaminação
por aves doentes que chegassem ao abate, e num raio máximo de 60 Km, tendo em vista
que a maior distância aumenta a perda de peso e mortalidade das aves no transporte
(ENGLERT, 1978). Fica claro pela proposta que esse granjeiro deveria ser um produtor
74
Entendendo por avicultor o trabalhador que cuida das aves, portanto representa o trabalho, o capital é
representado pelo proprietário. No passado as grandes empresas integradoras tinham preferência pelas
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
103
independente, pois não tinha abatedouro e comercializava as aves vivas, na época era
sugerido também que procurasse o setor de compras do abatedouro sobre a possibilidade de
efetuar um contrato de compra total ou parcial da produção da granja, para assim ter a
garantia de colocação do produto no mercado mesmo em época de crise (sendo este um dos
maiores estímulos atualmente a participação da integração).
A proximidade de incubatório75
idôneo era sugerida em função da qualidade dos
pintinhos e da idoneidade reconhecida do incubatório, com práticas de manejo, higiene e
desinfecção rigorosas e que executasse uma boa seleção nos pintinhos ao nascer. Quanto
menos viajassem os pintinhos, em melhores condições chegariam à granja, considerando
um tempo ideal de 24 horas e até no máximo de 48 horas após a eclosão, usando os mais
variados meios de transporte, tais como avião ou trem.
A proximidade de fábrica de ração ou distribuidor de rações e concentrados, era
sugerida tendo em vista a diminuição dos custos de frete, facilidade de aquisição,
adquirindo produtos de maneira mais freqüente e portanto mais frescos, já que não seria
necessário armazenamento, predispondo o produto a deterioração e intoxicação das aves. A
proximidade dos integrados das unidades de produção de ração significava, também, uma
assistência técnica mais eficiente, pois qualquer necessidade de modificação na formulação
da ração, após constatação da equipe de assistência técnica da necessidade da inclusão de
um outro componente, por exemplo, um medicamento poderia ser rapidamente elaborado e
distribuído. Em outras palavras, por conhecer perfeitamente seus consumidores e por estar
localizada próxima, a firma integradora poderia atender prontamente a requerimentos
nutricionais da criação, com maior eficiência.
A proximidade da zona produtora de milho ou sorgo (matérias-primas), era
justificada pelo fato de que o milho representa 60 a 70% do volume das rações e, por isso, é
um forte componente do custo das rações, principalmente se considerado o efeito do frete
propriedades onde o avicultor era o proprietário.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
104
sobre o custo do quilo de carne de frango. Considerando a variação do preço desses grãos,
era sugerido a aquisição na safra de tudo aquilo que seria utilizado na entressafra e
armazenados em silos ou depósitos na própria granja ou arredores.
Dos motivos elencados os grãos tem grande peso na localização das granjas, mas
nas décadas de 60 e 70 não encontrávamos com a proximidade e freqüência de hoje as
empresas que produzissem farelo de soja, farinha de carne e ossos e outras matérias-primas
limitando o espectro de ingredientes para fabricação de rações, e portanto a instalação de
fabricas de rações e granjas de frangos de corte em determinadas regiões.
Portanto, nesse padrão de produção existe uma grande quantidade de produtores
independentes e empresas especializadas para incubação, fabricação de rações, abate e
outras atividades necessárias para viabilizar o processo de produção. Observa-se que os
motivos locacionais estão ligados as relações que se estabelecem entre essas empresas e os
produtores cuja meta era o atendimento do mercado regional.
IV. 5. 2 - A Questão Locacional Atual
A partir de 1975, e até 1985, é percebido um processo de desconcentração espacial
da atividade econômica no país. Em princípio, esse processo de desconcentração foi
interpretado como parte integrante de uma reconcentração em uma área industrial maior, ou
seja, um polígono que vai do Sul de Minas passando pelo interior de São Paulo, abrangendo
áreas industriais do Paraná e de Santa Catarina até atingir a área metropolitana de Porto
Alegre. A expansão agrícola do Centro-Oeste foi um dos fatores apontados, como
responsáveis por essa expansão. Neste aspecto, atrativos como o preço da terra, a solução
tecnológica desenvolvida para expansão agrícola dos cerrados, a presença do Distrito
Federal e os efeitos de encadeamento para a frente e para trás desse desenvolvimento
75
A produção pintinhos de um dia que era considerada a atividade avícola mais lucrativa da época e o setor de
maior concorrência o de produção de frango e ovos (produtos de consumo popular).
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
105
agrícola foram apontados como responsáveis pela intensificação dos investimentos
(HELFAND & REZENDE,1998).
Para MATOS (1996b), a necessidade de contar com fornecimento constante
e contínuo da matéria prima para o abate impõe, às empresas produtoras, estratégias de
ocupação espacial, voltadas para as regiões onde são mais fáceis e abundantes os insumos
agrícolas e pecuários. Nessas áreas elas instalam suas unidades de primeiro processamento.
De outro lado, instalações de segundo processamento, logicamente aquelas que geram
produtos finais mais sofisticados e de maior agregação de valor, são colocadas junto aos
grandes centros consumidores. Outros fatores, como as expectativas futuras sobre a
diminuição dos preços dos grãos no Centro-Oeste em função do maior potencial de
produção, e a diminuição dos preços dos transportes através de caminhões mais eficientes,
melhor infra-estrutura, melhor desregulamentação das ferrovias e melhor utilização dos
contêiners, a médio e longo prazo, poderiam estar contribuindo para esta mudança
locacional. Na verdade, ainda não se consegue estabelecer um modelo de integração da
agroindústria com o setor agrícola nos Cerrados, o que é mais um aspecto relevante para a
análise da questão locacional.
Neste aspecto, segundo HELFAND & RESENDE (1998), existe uma opinião
generalizada de que a região Centro-Oeste, por produzir grãos mais baratos que os estados
onde hoje se concentram as atividades de aves e suínos (especialmente Rio Grande do Sul e
Santa Catarina), poderia ter vantagem comparativa nessas atividades da agroindústria.
Assim, por exemplo, o projeto Buriti da Perdigão estaria acompanhando a marcha das
empresas avícolas e suinícolas para o cerrado, criando uma nova geografia para o setor,
baseada na proximidade com as áreas fornecedoras de matérias-primas a baixo custo,
principalmente do milho para ração. A localização geográfica do Estado de Goiás e sua
proximidade a grandes centros consumidores, também, conferem grande vantagem no
processamento e na produção de alimentos, aproveitando a produção de matéria-prima da
região.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
106
A preocupação com o custo do grão está relacionada aos dois mais importantes
ingredientes da ração, o milho (aproximadamente 67%) e a soja (aproximadamente 33%),
representando portanto a quase totalidade do conteúdo das rações76
. A redução do custo de
produção do frango em Goiás em comparação com outros estados é mostrada na Tabela 16.
Observa-se, por exemplo que no Paraná o preço do milho era 3,7% menor do que em Goiás
no período 1990 a 1995, enquanto que o preço da soja era 10,5% maior. HELFAND &
RESENDE (1998: 30) combinaram estes dados sobre participação do milho, farelo de soja
e ração no custo do frango abatido e chegaram à conclusão de que “uma empresa poderia
economizar menos de 1% do custo do frango abatido deslocando-se do Paraná para Goiás.
Como a distância dos mercados consumidores de São Paulo ou do Rio de Janeiro é maior
em Goiás do que no Paraná, diferença no custo do transporte mais do que contrabalançaria
a redução de custo devido à ração mais barata”. Os mesmos cálculos revelam uma redução
de custo de 2,4% para o Rio Grande do Sul, com relação a Santa Catarina a redução do
custo foi calculada em 4,5% no frango abatido, entretanto uma parte dessa vantagem seria
perdida devido aos maiores custos de transporte. Dessa forma os autores concluem que “os
ganhos devido a custos menores de ração no Centro-Oeste em comparação com o Sul
representam, quase sempre, uma pequena percentagem no custo de um animal abatido”. A
economia do custo da ração seria maior, mas aumentaria o custo do transporte do produto
final.
TABELA 16 – Diferenciais de Preços do Milho e da Soja e Redução do Custo de
Produção do Frango em Comparação com Goiás – 1990/95. Estados Diferenciais de preços do
milho
Diferenciais de preços da
soja
Redução do custo de
produção do frango abatido
Minas Gerais 28,0 10,8 12,3
São Paulo 19,8 8,7 8,9
Paraná -3,7 10,5 0,5
Santa Catarina 6,8 11,2 4,5
Rio Grande do Sul 5,0 3,3 2,4
Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)
Analisando os custos de produção do suíno e do frango nos estados, TALAMINI et
alli (1998) verificaram que as vantagens de uma região sobre outra não são muito
76
Representa cerca de 67% do custo da produção do frango vivo e 55% do custo do frango abatido.
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
107
evidentes, em razão das diferenças dos preços dos fatores de produção. Dessa forma
também concordam que as constantes especulações sobre as vantagens regionais na
produção de suínos e aves devem ser atribuídas a outros fatores.
Conforme apresentado na Tabela 17, a maior variabilidade de rendimentos físicos
na região Sul, com destaque para o Rio Grande do Sul, cria, evidentemente, um problema
de competitividade para a produção animal localizada nessa região, vis-à-vis as demais
regiões. A produção de grãos no Centro-Oeste se diferencia fortemente da região Sul, já
que naquela região o milho parece ser uma lavoura consolidada, enquanto no Centro-Oeste
é uma lavoura que tem crescido rapidamente, mas de forma totalmente dependente da soja.
Segundo HELFAND & RESENDE (1998), esta constatação explica por que o milho
continua sendo produzido mesmo com problemas crônicos de comercialização, refletindo
na contínua formação de estoques e redução do preço mínimo pelo Governo no Centro-
Oeste, como no ano agrícola de 1997/98.
TABELA 17 – Variabilidade dos Rendimentos Físicos do Milho e da Soja por Regiões
e Estados do Centro-Sul – 1980/97. Regiões Milho Soja
Sudeste 0,12 0,08
Centro-Oeste 0,08 0,09
Sul 0,14 0,15
Rio Grande do Sul 0,23 0,21
Santa Catarina 0,16 0,15
Paraná 0,13 0,11
Nota: A variabilidade é medida pelo coeficiente de variação nos resíduos em relação à tendência exponencial.
Fonte: HELFAND & RESENDE (1998)
Para esses autores, a análise dos diferenciais de preço sugere que pode haver
economia considerável de custos, resultado da transferência da produção de animais do
Sudeste para o Centro-Oeste. Em Goiás, o preço do milho nos anos 90 foi em média 25 a
80 reais mais barato que nos quatro estados do Sudeste, mas o mesmo não pode ser dito
sobre o Sul. No Paraná os preços do milho tenderam a ser menores que em Goiás nos anos
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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108
9077
. Dessa forma, se a produção animal deve migrar do Sul para o Centro-Oeste, é
provável que não seja em função do preço do milho.
As conclusões dos trabalhos HELFAND & RESENDE (1998), são as seguintes.
Primeiro, mostram que a produção de milho no Centro-Oeste tem características bem
diferentes das demais regiões. Considerando-se a distância dos mercados consumidores, só
a peculiar relação com a soja explica o crescimento da produção de milho no Centro-Oeste,
especialmente em vista da menor atuação da Política Geral de Preços Mínimos (PGPM) na
década de 9078
; segundo, não há evidência de um êxodo em massa da produção de aves e
suínos do Sul para Centro-Oeste, apesar de o Sul ter sete vezes mais estoques de aves que o
Centro-Oeste, os estoques cresceram apenas marginalmente mais rápido no centro-Oeste
nos anos 90 (55% contra 50%); terceiro, o rápido crescimento da produção comercial de
aves no Centro-Oeste levou a um dramático crescimento no abate. De 1990 a 1995, o abate
comercial cresceu por um fator 13 no Mato Grosso do Sul, 7,5 no Mato Grosso e apenas 1,5
no Sul. Entretanto, nenhum estado no Centro-Oeste já atingiu 2% do abate doméstico;
quarto, a análise dos diferenciais de preços sugere que poderia haver considerável redução
de custos de produção decorrentes de uma mudança da produção animal do Sudeste para o
Centro-Oeste. O mesmo não pode ser dito sobre uma mudança da produção animal do Sul
para o Centro-Oeste. Especialmente no caso do Sul, a redução do custo da ração é
insuficiente para compensar o maior custo de transporte entre o Centro-Oeste e os
mercados consumidores do sudeste.
Entretanto, outros aspectos não podem ser menosprezados para compreender esse
movimento, como é o caso da perspectiva de redução dos custos de transportes através da
melhoria da malha rodo-hidro-ferroviária, eleita pelo programa Avança Brasil como
prioritária para a redução do chamado “custo Brasil” para a Região. Não menos importantes
são os incentivos fiscais e creditícios concedidos pelos governos estaduais, que têm atraído
77
Com exceção de alguns anos, a diferença com Santa Catarina e Rio Grande do Sul não tem sido muito
grande, por exemplo, os diferenciais de preços entre Santa Catarina e Goiás foram só 0, 9, 4, e 3 reais. Com o
Rio Grande do Sul, os diferenciais para o mesmo período foram –6, 2, 9, 7 (HELFAND & RESENDE, 1998),
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
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109
os maiores abatedouros do País para o Centro-Oeste. Outros fatores importantes de atração
são os recursos do Fundo Constitucional do Centro-Oeste, que, apesar de conceder crédito a
taxas de juros elevadas, se comparadas às de outras realidades internacionais, ao menos
representa uma alternativa, numa conjuntura em que os produtores rurais não têm mais
acesso a grandes volumes de crédito subsidiado, como no passado.
Dessa forma, o padrão atual de produção de frangos de corte está baseado em um
número menor de integrados, sendo formado por médios e grandes produtores integrados.
A integradora é uma grande empresa verticalizada, englobando o incubatório, indústria de
ração, abatedouros e outras atividades necessárias a produção em massa de frangos, para
atender o mercado interno e externo. Portanto os motivos locacionais estão ligados a
produção em grande escala e neste momento Centro-Oeste foi escolhido para desenvolver
esta função.
Na verdade a escolha da região para os novos investimentos em avicultura de corte
estão ligadas ao que foi apresentado aliado a um ambiente transnacional, mostrando a face
da globalização impactando sobre os processos de produção de frango.
IV. 5 - Impactos Previstos para Rio Verde
Fazendo referência ao novo modelo de produção que está sendo implantado
atualmente em Rio Verde, uma equipe multidisciplinar composta por advogados,
sanitaristas, engenheiros ambientais, biólogos e sociólogos, foi montada para estudar os
possíveis impactos. Esta equipe foi responsável também pela elaboração dos programas de
acompanhamento e monitoramento dos impactos79
e pelo cronograma de medidas
78
Segundo HELFAND & RESENDE (1998), esse quadro pode mudar, naturalmente, na medida em que se
gere uma demanda local pelo milho, como se espera com a expansão da agroindústria de aves e suínos. 79
A caracterização do meio físico da região mostrou as condições do solo, lençol freático e clima e a
caracterização do meio biótico fez um levantamento sobre a fauna e flora locais. Foram também pesquisados
o meio sócio-econômico com as populações rural e urbana analisando a evolução da populacional e a
estrutura urbana de serviços, água, esgoto, tráfego de veículos, energia, limpeza pública, sistema de
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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110
mitigadoras, otimizadoras ou compensadoras conforme o caso. O Estudo de Impacto
Ambiental e Relatório de Impactos ao Meio Ambiente (EIA-RIMA), aprovado pela
FEMAGO, detectou vários impactos positivos e negativos da implantação do projeto Buriti
no distrito agroindustrial de Rio Verde. Para cada impacto negativo foi apresentada uma
sugestão de medida mitigadora, otimizadora ou compensadora, buscando o
desenvolvimento sustentado (FORÇA RURALISTA 1999:57).
Foram detectados os seguintes impactos positivos: a geração de empregos, a
diminuição de poeiras fugidias do distrito, a preservação de fisionomias de matas de
galerias, o aumento de arrecadação de impostos, o maior desenvolvimento tecnológico, os
efeitos paisagistas, a oferta de serviços (posto de saúde, creche, etc.), a higienização do
ambiente de trabalho, a dinamização econômica, a redução de preços de bens de consumo
produzidos no Estado *, a valorização de imóveis rurais, a fixação do homem no campo, a
capacitação da mão-de-obra e a melhoria do nível educacional. Os impactos negativos
detectados foram os seguintes: a instabilidade do meio físico, a poluição ambiental, a
redução da vegetação, a impermeabilização do solo de forma definitiva, a diminuição a
camada orgânica, as modificações no fluxo pluvial *, os acidentes de trabalho/risco à saúde
*, a fuga da fauna ainda existente, a compactação do solos, o escorregamento de solo em
área de aterro *, o sistema viário deficiente *, as perdas de solos, a captação de água
contaminada *, a instabilidade da rede elétrica, o rebaixamento do lençol freático *, as
falhas no sistema de esgoto *, a fonte geradora de água insuficiente * e a contaminação de
solo com óleos, graxas e combustíveis * (a presença do asterisco indica impactos
apresentados com possibilidades de ocorrência na região).
IV. 8 - Conclusão
As transformações das condições sociais dos trabalhadores agrícolas no complexo
avícola industrial são extremamente complexas, por abrangerem uma série de formas de
comunicação, transporte, educação, saúde, atividade econômicas e estrutura fundiária (FORÇA
RURALISTA, 1999:57)
IMPACTOS DAS TRANSFORMAÇÕES DA BASE TÉCNICA
Levy Rei de França
111
subordinação do trabalho agrícola ao capital. Para SORJ et alli (1982), as duas formas
básicas são representadas pela subordinação do campesinato, através da integração
horizontal, e pela sua proletarização, através da integração vertical, de maneira que os
camponeses canalizam seus interesses juntamente com o mesmo capital que os subordina.
Portanto, do que foi apresentado, constatamos impactos: nas relações de produção,
com a emergência do sistema integração de produção de frango, substituindo o sistema de
produção independente e subordinando as propriedades à lógica dos grandes capitais
industriais da avicultura; no tamanho dos integrados, já que hoje são médios e grandes
produtores em função do oferecimento de garantias bancárias ao financiamento de galpões
de maior tamanho e com elevado nível automação, utilizando um menor número de
integrados; na eficiência da produção, já que da forma como o sistema integração remunera
o integrado, a eficiência aumenta e não existe pagamento de não trabalho, o que é muito
comum na atividade pecuária; na geração de empregos, pois a cada dia, graças à
automação, 1 homem cuida demais frangos e mais galpões, contribuindo para desemprego
tecnológico e passando de um sistema de produção de frangos com base na mão-de-obra
familiar para a utilização de mão-de-obra assalariada; na localização das granjas pois
atualmente as novas plantas de produção de frangos são montadas no Centro-Oeste, região
produtora de grãos e fornecedora de grandes incentivos fiscais; e na escala de produção, já
que para viabilizar a produção é necessário criar, cada vez mais aves, para permitir um
ganho razoável na criação de frangos.
CAPÍTULO V
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste último capítulo são elencados alguns elementos estudados no corpo do
trabalho e acrescidos de algumas contribuições para um melhor entendimento da avicultura.
São apresentados: as características do desenvolvimento da ciência e tecnologia como um
elemento de subordinação dos processos de produção; a depreciação tecnológica, que tem
sido um dos elementos de constrangimento para a participação de integrados em
integrações ou de investimentos em nova capacidade produtiva; os gargalos da avicultura,
expressando os pontos frágeis da sua cadeia produtiva, a emergência da questão ambiental,
sinalizando para a produção com desenvolvimento sustentado; e termina com a conclusão
final, analisando o recorte estudado e as suas possíveis contribuições ao melhor
entendimento da avicultura.
V. 1 - Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia
O desenvolvimento social, econômico e cultural da humanidade, desde os tempos
mais remotos até os nossos dias, está baseado na existência de um tempo excedente de
trabalho. Para GRAZIANO DA SILVA (1988: 2), quando o homem passou a dispor de
uma “sobra” do tempo de trabalho necessário à sua perpetuação é que alguns dos membros
da sua espécie puderam dedicar-se a outros afazeres ou até mesmo não fazer nada. Ou seja,
a própria divisão social do trabalho que daí se seguiu iria permitir inclusive que alguns
trabalhassem e outros não, que uns se tornassem escravos e outros senhores.
Para MATOS (1996b), a mudança técnica como resultado da introdução no sistema
econômico de máquinas para substituição do trabalho humano, reduz o esforço despendido
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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113
na produção, diminui custos, eleva a relação capital-trabalho e substitui o trabalho vivo por
trabalho morto. Neste aspecto, o objetivo do capital quando emprega maquinaria tem por
finalidade baratear as mercadorias, encurtar a parte do dia de trabalho do trabalhador para si
mesmo (trabalho necessário) para ampliar a outra parte (trabalho excedente) que ele dá
gratuitamente ao capitalista (MARX, 1982)
Na verdade o autor deixa claro que sob determinadas condições históricas e sociais,
o tempo de trabalho necessário para a sobrevivência e reprodução, pode ser tomado como
uma constante. Assim, o aumento da produtividade estará no aumento do produto
excedente por unidade de tempo do trabalho total. Sendo que, o aumento da capacidade
produtiva de um conjunto de pessoas pode ser conseguido pela cooperação entre esses
trabalhadores, pela sua especialização em determinadas atividades através de uma adequada
divisão de tarefas e, pelo uso de ferramentas e máquinas apropriadas.
A partir desse raciocínio, GRAZIANO DA SILVA (1988: 4) define ciência e
tecnologia. Para o autor, o conjunto de conhecimentos disponíveis, que permite uma ou
mais maneiras de se fazer uma determinada tarefa com mais eficiência constitui o que
chamamos de ciência, e a aplicação desses conhecimentos a uma determinada atividade
produtiva é o que se denomina de tecnologia. Esse conjunto de conhecimentos disponíveis
num determinado momento é um produto social: ou seja, a própria ciência depende do nível
de desenvolvimento e das necessidades técnicas da sociedade.
Cita ainda que, a própria ciência tem um caráter de classe na sociedade capitalista,
já que a tecnologia é a aplicação da ciência ao processo produtivo. A tecnologia é, portanto,
uma relação social e não um conjunto de coisas como poderíamos pensar ao olhar as
máquinas, os adubos químicos, as sementes etc. A tecnologia é o conjunto dos
conhecimentos aplicados a um determinado processo produtivo com objetivo de lucro,
portanto, a tecnologia adequada ao sistema capitalista é aquela que permite gerar mais
lucros.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
Levy Rei de França
114
Numa sociedade capitalista, que é uma sociedade de classes, a ciência destina-se a
colocar à disposição da sociedade o saber necessário para garantir a produção e reprodução
dos processos vitais da sociedade na forma em que foi determinado pela classe dominante.
A reprodução da força de trabalho exige não só uma reprodução da qualificação desta às
regras da ordem estabelecidas, isto é, uma reprodução da submissão desta à ideologia
dominante para os operários e uma reprodução da capacidade de manejar bem a ideologia
dominante para os agentes da exploração e da repressão, a fim de que possam assegurar
também, pela palavra, a dominação da classe dominante (IANNI, 1976).
Portanto, as classes subordinadas não escolhem as tecnologias, elas recebem as
pressões para aplicação das ciências mais intensamente nos setores de maior tecnificação,
mais capitalizados e complementares às necessidades das classes dominantes numa
condição relativa de falta de melhores alternativas. Dessa forma, a indústria, valendo-se da
ciência e desenvolvendo a tecnologia, não dá autonomia para o produtor utilizar esta ou
aquela tecnologia; o processo é imposto, já que está determinado o padrão de galpão a ser
implantado, a genética do frango a ser usado, a ração a ser consumida, o manejo a ser
aplicado, as medicações e vacinas necessárias, as normas de climatização a serem seguidas
e, inclusive, as regras para remuneração também já estão definidas.
V. 2 - Depreciação Tecnológica
Utilizando as considerações teóricas sobre ciência e tecnologia é possível focalizar
o objeto de estudo deste trabalho e extrair algumas reflexões. A avicultura vem passando
por um intenso desenvolvimento tecnológico, de maneira que as estruturas produtivas de
criação de frangos têm sido superadas em um intervalo de tempo cada vez menor. Esse
ambiente de intensa depreciação tecnológica tem representado uma grande instabilidade e
limitado a decisão de investimento do avicultor80
, por ocasião da aquisição de
financiamento para construção de nova capacidade produtiva.
80
Essa situação tem sido observada em Rio Verde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levy Rei de França
115
O grau de mudança tecnológica poderá ser influenciado também por fatores
relativos ao ambiente econômico, principalmente o protecionismo e o aproveitamento de
vantagens comparativas baseadas em mão-de-obra barata, recursos naturais abundantes,
subsídios e políticas cambiais que retardam a competição. Portanto, as estruturas de
mercado são definidoras e selecionadoras das novas tecnologias.
Considerando que a introdução de máquinas e instrumentos de trabalho mais
aperfeiçoados, possibilita aumentar relativamente à fração do trabalho excedente sobre o
trabalho necessário (elevando os lucro da empresa inovadora em relação à média das
outras, pelo rebaixamento do preço unitário), o agricultor integrado na hora de investir deve
considerar que o equipamento adquirido tem que produzir o custo do seu investimento mais
um determinado lucro, enquanto não for superado por outro mais eficiente81
.
Neste aspecto MATOS (1996a: 30) sublinha que, “... a expectativa de um elevado
ritmo de obsolescência tecnológica estaria positivamente relacionada a um maior ritmo de
introdução de inovações. Os custos incorridos no abandono da tecnologia anterior
determinariam a cautela do empresário quanto à introdução, muito embora, na verdade, isso
também se refira ao volume de capital imobilizado na técnica anterior ou à vida útil, ainda
rentável, que se espera dos equipamentos envolvidos. A expectativa de redução dos custos
de produção e outros custos, associados à nova tecnologia a partir dos melhoramentos da
inovação, também condiciona o atraso na sua introdução”.
Cita ainda que “Isso sugere que a análise da inovação se constitui em um processo
de aperfeiçoamento sucessivo através do qual ela passe a ser vista como um conjunto de
inovações articuladas. Às vezes, o inovador inicial obteria maiores lucros se esperasse um
pouco mais de tempo para introduzir uma inovação. Sendo assim, a espera por inovações
secundárias ou por aperfeiçoamentos na inovação primária certamente produziria maior
81
Uma das maneiras de aumentar a taxa de lucro, é aumentar a velocidade de rotação do capital (D-M),
segundo GRAZIANO DA SILVA (1988), isso pode ser conseguido através do progresso técnico.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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116
rentabilidade, levando-se a concluir que o lucro não está associado somente à audácia, mas
também à cautela”.
Portanto com relação a esse aspecto GRAZIANO DA SILVA (1988) sublinha que,
o que interessa é usar tanto mais intensamente quanto possível as suas máquinas para que
possa tanto mais rapidamente substituí-las por outras mais modernas82
, certamente mais
aperfeiçoadas e, possivelmente, mais baratas. Há duas razões para esse tipo de
comportamento: primeira, que a depreciação mais rápida minimiza as perdas de
obsolescência; segunda, devido à competição (concorrência) entre os capitais privados pelo
maior lucro, um determinado capitalista sempre procura sair na frente dos outros, para com
novas máquinas mais aperfeiçoadas, baratear seu produto e obter um lucro extraordinário
antes que seus concorrentes consigam também trocar os equipamentos antigos.
V. 3 - Os Gargalos da Avicultura
Dentre os gargalos da atividade, a despeito da exuberância dos números de
produção, SALLE et alii (1998) consideram que a avicultura brasileira opera sobre uma
verdadeira “corda bamba” devido aos desequilíbrios que podem obstar sua cadeia
produtiva. As raízes desse desequilíbrio se encontram, preponderantemente, nos seguintes
pontos: dependência, quase absoluta, de material genético importado e carências no sistema
de controle sanitário.
Em relação a dependência de material genético importado, a avicultura brasileira
depende, quase totalmente, da importação de material genético básico. Este procedimento é
histórico e decorre do fato de que os EUA e alguns países da Europa, desde a primeira
metade deste século, desenvolvem trabalhos de melhoramento genético que resultaram na
obtenção de novas linhagens “híbridos” cuja produtividade resultante é superior à das
82
As novas máquinas, quando introduzidas pela primeira vez, são ineficientes uma vez que o modelo novo
não teve oportunidade de passar por uma rigorosa análise de seu funcionamento, o que faz com que se espere
o surgimento de novos métodos e aperfeiçoamentos de suas funções, portanto fica implícito um certo ciclo
vital de desenvolvimento de novas técnicas de produção (MARX, 1982)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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linhagens puras. Dispor de linhagens mais produtivas permitiu que essas empresas privadas
expandissem seus mercados a nível mundial, fator que assegurou a aplicação de
investimentos contínuos no melhoramento e, por decorrência, melhoras também contínuas
nas respectivas linhagens83
(SALLE et alii, 1998).
COTTA (1997) argumenta que, do ponto de vista genético, os cruzamentos foram
feitos de maneira a não se poder ir além da produção do frango de corte. Essa situação
coloca a avicultura brasileira na incômoda dependência dos países detentores das linhagens
puras. Cita ainda que o Brasil importa, na área de frango de corte, principalmente as
linhagens Hubbard, Arbor Acres, Cobb, Isa-vedette, Avian Farms, Ross e Hibro, todas
produzindo pintos de um dia com possibilidade de separação de sexo.
Durante tempos, acreditou-se que essa dependência representava o grande gargalo
do setor, não só pelo dispêndio de divisas, mas, sobretudo, por colocar a produção brasileira
submissa a fornecedores externos. Para SALLE et alii (1998: 232) não é bem assim. O
dispêndio de divisas chega a ser desprezível se considerados os benefícios da importação, já
que representam menos de 2% das divisas arrecadadas (exclusivamente) com as
exportações de frango e apenas alguns milésimos da produção bruta brasileira, conforme
apresentado na Tabela 18. Observa-se também que, os benefícios internos alcançados com
a importação de US$ 17 milhões de material genético em 1997, foram de US$ 6,5 bilhões
(US$ 883 milhões em exportação + US$ 5,624 bilhões consumidos internamente = US$
6,507 bilhões).
No que se refere à submissão do setor a outros países SALLE et alii (1998: 231)
consideram isso pouco provável, já que sendo o Brasil um dos principais produtores
mundiais, é também um dos grandes consumidores de material genético melhorado. Dessa
83
Na área de frangos de corte essa dependência ultrapassa os 70% e se baseia nas linhagens Hubbard,
Peterson, Arbor Acres, Cobb, Aviam Farms (todas americanas), Indian River (européia), Shaver (canadense),
Isa, MPK (franco-americanas) e Hybro (holandesa). A dependência só não é absoluta porque, a Agroceres
mantém uma joint-venture com a empresa escocesa Ross, através da qual produzem no Brasil avós da
linhagem AgRoss, a Perdigão que mantêm o seu próprio trabalho de melhoramento genético para a produção
de Chester e a Sadia que também iniciou, mais recentemente, trabalho de melhoramento genético no País.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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118
forma é um mercado respeitado disputado. Além disso, a disponibilidade interna de
linhagens cujo desempenho é reconhecido mundialmente, coloca o Brasil em pé de
igualdade com as melhores aviculturas do mundo. Cita ainda que “... curiosamente – e por
conta da alimentação natural, do clima e, também, das condições de manejo – há linhagens
que, no Brasil, apresentam melhor desempenho que o registrado em seus países de origem
ou em qualquer outro país, fator que destaca ainda mais a avicultura brasileira no panorama
avícola internacional”.
TABELA 18 – Balança Comercial da Avicultura Brasileira 1997 (Milhões de US$) Importações (Material Genético)
Exportações (Carne de Frango*)
17
900
Saldo 883
Valor da produção consumida internamente (carne de frango e ovos) 5.624
* Não inclui as exportações de ovos férteis, pintos de um dia, ovos in natura e ovos industrializados.
Fonte: SALLE et alii (1998),
Mesmo considerando o custo da produção interna desta genética, inferior à média
do mercado internacional, os benefícios internos da importação são grandes, já que se não
tivesse importado o material genético, seria necessário mais divisas para atender à demanda
interna de carne de frango. Entretanto o risco de ocorrência de um surto de doenças em um
dos países fornecedores ou a introdução no país de doenças aviárias exógenas, colocaria o
Brasil numa desconfortável condição de não poder atender a rotineira e indispensável
demanda interna e externa.
Dessa forma, o segundo problema, o problema sanitário, se agrava pela falta de
resolução do problema genético. Neste aspecto SALLE et alii (1998: 233) citam que “o
controle sanitário constitui-se no maior (e no iminente) risco enfrentado pela avicultura
brasileira, podendo desestruturá-la completamente, o que ocasionaria reflexos negativos
imensuráveis para o Brasil – quer em termos econômicos (valor econômico da produção,
captação de divisas), quer em termos sociais (abastecimento da população e inclusive,
maciça geração de empregos; não se pode ignorar, a propósito, que como atividade rural
não sazonal, a avicultura é mantenedora permanente de mão-de-obra no campo; e que, ao
tornar viável o minifúndio, permitiu a redução do êxodo rural)”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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119
Portanto, é necessidade premente estabelecer capacidade e conhecimento para
resguardar a produção avícola nacional contra a entrada e disseminação de agentes de
doenças que possam vir a comprometer o comércio interno e as exportações de produtos
avícolas. Qualquer falha no sistema que possibilite a passagem de problemas sanitários
pode ser utilizada, por países importadores ou concorrentes, na solicitação de suspensão das
exportações de carnes frescas de aves pelo Brasil. Fatos recentes, como a gripe do frango
em Hong Kong e México, são exemplos das difíceis fissuras que podem ocorrer no sistema
de produção devido a problemas sanitários.
A impossibilidade parcial ou total de importação de material genético, impõe ao
Brasil que disponha de suas próprias linhagens produtoras de frangos e ovos, ao menos para
o atendimento estratégico da atividade nas ocorrências excepcionais. Assim, programas
oficiais de melhoramento, como o que vem sendo realizado pelo Centro Nacional de
Pesquisa de Suínos e Aves da Embrapa, devem ser mantidos e incentivados, buscando-se,
inclusive, a participação privada, sendo a única forma de dar escala comercial a tais
programas, já que o grande objetivo desses programas é a geração de tecnologias e de
recursos humanos para suprir as necessidades da iniciativa privada.
V. 4 - A Emergência da Questão Ambiental
A questão ambiental na Europa tem merecido grande preocupação atualmente, a
temperatura baixa do clima temperado inibe a fermentação e dessa forma diminui a
decomposição de resíduos orgânicos, isso limita a ampliação da produção animal nesta
região. Uma opção que se apresenta no momento é a produção de aves e principalmente de
suínos no clima tropical, diminuindo o problema ambiental na Europa e dinamizando a
produção animal em clima tropical. Considerando este aspecto o Centro-Oeste se apresenta
como a nova fronteira de produção. Portanto, a nossa capacidade de produção está
determinada pela nossa capacidade de destruir os dejetos das aves e suínos e de controlar os
impactos negativos, dando sustentabilidade a estes sistemas de produção.
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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120
A cama de frango vai ser produzida em alta escala para um consumo estável ou até
declinante em função da tendência de especialização dos bovinos, resultando na diminuição
do plantel e mudança para uma alimentação mais eficiente e menos grosseira. Além disso é
possível que restrições ambientais relacionadas com o odor, com a poluição da água e com
o manejo dos dejetos estimulem mais ainda o abandono das regiões mais densamente
povoadas do Sul (TALAMIN et alli, 1998).
ORTEGA (2000) cita que cada vez mais é exigido por parte dos importadores que a
produção seja feita sem causar danos ambientais, mesmo porque, passaram a utilizar esse
instrumento em substituição às barreiras alfandegárias, combatidas pela Organização
Mundial do Comércio (OMC) como forma de discriminar a importação de países que não
os priorizam. Para o autor, em função das condições climatológicas e ambientais atuais é
possível produzir frangos de corte com excelente qualidade no Centro-Oeste. É preciso
explorar melhor o marketing desses aspectos. Em nível internacional a criação de um selo
de qualidade, reconhecendo as características sanitárias dos produtos de empresas de
associações da região é importante nesse sentido.
Entretanto, é necessário ter a audácia para aproveitar o momento atual, mas é
preciso, também, cautela com uma visão de longo prazo no sentido ampliar a produção em
ambiente sustentado. Para que tenhamos desenvolvimento sustentado é necessário resolver
o problema futuro do excesso de produção de cama de frango, já que é possível que a sua
utilização para bovinos e no solo não seja o suficiente para consumir todo o volume
produzido, por isso é necessário intensificar estudos sobre opções de materiais utilizados
como cama de frango, bem como a sua reutilização por mais vezes em um galpão.
V. 5 - Conclusão Final
Procuramos analisar em nossa dissertação a evolução da base técnica avicultura de
corte no Brasil. Pudemos identificar a consolidação desta atividade industrial a partir da
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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121
década de 70, de maneira que a grande quantidade de dados estatísticos desta época até o
momento atual mostra uma grande superioridade de crescimento desse setor em relação à
produção de outras fontes de proteína animal. Junto com o crescimento percebemos a
emergência do Brasil como um dos destaques mundiais na produção de frangos de corte.
Internamente a importância desse setor econômico cresce tanto pela função social, já que é
consumido com variações mínimas no tocante à quantidade, por ricos e pobres, quanto por
gerar a circulação de cerca de 6 bilhões de dólares e mais de 2 milhões de empregos, sendo
reconhecido por ser o setor mais tecnificado e organizado da pecuária.
Percebemos na avicultura de corte brasileira uma intensa mudança da base técnica,
resultante da aquisição de tecnologias de ponta, de maneira que:
- Identificamos modificações de base técnica na área da genética brasileira
permitindo a substituição de raças puras de aves pela importação de material genético de
produção de híbridos sintéticos de alta performance;
- Na área da nutrição, identificamos mudanças que permitem hoje a possibilidade de
formulação de rações utilizando aminoácidos digestíveis, aumentando a precisão dos
cálculos de ração e diminuindo a necessidade de elevados níveis de segurança;
- Na área da informática, os avanços permitem atualmente a formulação de rações
em microcomputadores com o auxílio da programação linear, permitindo o cálculo de
rações de mínimo custo, diminuindo custos e aumentando a estabilidade do preço das
rações;
- Na área de equipamentos, identificamos intensa automação de maneira que hoje o
funcionamento dos comedouros e dos bebedouros não depende mais da mão-de-obra
humana, são mais eficientes em termos de limpeza, melhoram o ganho de peso e diminuem
a mortalidade em função da ausência de pessoas andando com freqüência dentro do galpão;
- Na área da indústria de rações, vimos a sua reorganização em função da logística
de transporte, regionalizando-se e diversificando sua produção associada a tecnologia mais
acessíveis de menores plantas, miniaturização da informática e acesso ao premix em
pequenas escalas. Por outro lado, com a emergência da verticalização apareceram as
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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122
grandes integrações que passaram a produzir um volume de rações maior que a própria
produção do setor da indústria de rações;
- Na área da climatização, os equipamentos também passaram por intensa
automação. Atualmente, para aquecimento, as campânulas mais utilizadas são a gás com
queimador de infravermelho, sendo mais eficientes, de baixo custo e aquecem o dobro de
pintinhos. Na refrigeração, passa a fazer parte dos galpões o sistema de nebulizadores e
exaustores movimentando o ar de um lado a outro do galpão (sistema semi-climatizado),
permitindo a criação de frangos em alta densidade, sendo que tanto o aquecimento quanto a
refrigeração podem controlados automaticamente;
- Muitas mudanças foram identificadas também nos galpões de maneira que neste
período estudado os galpões aumentaram a sua capacidade interna, passando de cerca de
1000 m2 para 1600 m
2. As coberturas de telhas de barro e amianto foram substituídas por
telhas de alumínio e os lanternis não são mais utilizados em função da implantação
ventilação negativa nos galpões. A estrutura de madeira é substituída pela estrutura em
cimento pré-moldado ou metálica, permitindo a diminuição dos custos de galpões de
grande porte e a iluminação feita por lâmpadas incandescentes cedeu lugar para as
lâmpadas fluorescentes, diminuindo custos com energia elétrica e aumentando a eficiência
da iluminação;
- Em relação às técnicas de criação, vimos os avanços conseguidos com a técnica
criação de lotes sexados, permitindo mais uniformidade dos lotes de frangos com reflexos
positivos tanto no abate como na criação, e na técnica de criação de frangos em alta
densidade, que permite a otimização da utilização dos galpões; e
- Identificamos um novo modelo de produção de frangos. A produção atomizada de
carne de aves por parte de muitos milhares de pequenos produtores, está sendo substituída
recentemente por um pequeno número médios e grandes produtores integrados, utilizando
as mais sofisticadas técnicas de criação.
As explicações para essas mudanças de base técnica puderam ser mais bem
entendidas pelas contribuições de vários autores, merecendo destaque as contribuições:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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123
- de GRAZIANO DA SILVA, que atribui essas mudanças à desagregação do
complexo rural e formação dos complexos agroindustriais, ou seja, uma estrutura com
característica auto-suficiente é substituída por outra ligada à jusante e à montante a
indústria;
- de GOODMAN, que apresenta a tese de que o apropriacionismo e
substitucionismo industrial foram os responsáveis pelas modificações ocorridas no campo.
Ele se baseia na tese de que a indústria se apropria das atividades do campo através do
desenvolvimento tecnológico, substituindo com eficiência atividades que no caso da
avicultura se concentram na área da genética, nutrição e mecânica. Esse processo é tão
intenso que sobrou para o campo apenas a criação do frango (por isso a apropriação é dita
parcial);
- de ROMEIRO, que acredita que questões ligadas à terra e ao trabalho explicam o
que ocorreu no campo. Segundo o autor, a economia de terra devido o seu custo, com a
aplicação de tecnologia aumentando a produtividade e à economia da mão-de-obra devido
também ao custo e a baixa eficiência humana tem justificado as modificações poupadoras
de terra e trabalho; e
- de vários autores que identificaram na atuação do Estado o incentivo para o
crescimento do setor através de políticas públicas. Para GODOY (1999) coube ao Estado a
regulamentação da importação de pintinhos avozeiros e o incentivo a pesquisa em
instituições de pesquisa e universidades públicas. Os benefícios no passado com
financiamentos são descritos por DELGADO (1985) e em tempo recente por ORTEGA
(2000), que destaca a participação atual do Estado no financiamento de novas unidades
produtivas de frangos de corte no Centro-Oeste.
Com relação aos impactos constatamos seus efeitos:
- nas relações de produção, com a emergência do sistema integração de produção de
frango substituindo o sistema de produção independente e subordinando as propriedades à
lógica dos grandes capitais industriais da avicultura;
- no tamanho dos integrados, visto que a tendência atual é de que os integrados
sejam, cada vez maiores e em menor número em função do oferecimento de garantias
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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124
bancárias ao financiamento de galpões de maior tamanho, com elevado nível automação, e
do aumento da escala para viabilizar a produção;
- na eficiência da produção, já que da forma como o sistema integração remunera o
integrado, a eficiência aumenta e não existe pagamento de não trabalho, o que é muito
comum na atividade pecuária;
- na geração de empregos, pois a cada dia, graças à automação, 1 homem cuida de
mais frangos e mais galpões, contribuindo para desemprego tecnológico e passando de um
sistema de produção de frangos com base na mão-de-obra familiar para a utilização de
mão-de-obra assalariada;e
- na localização das granjas, pois atualmente as novas plantas de produção de
frangos são montadas no Centro-Oeste, região produtora de grãos e fornecedora de grandes
incentivos fiscais.
No nosso entendimento, o recorte estudado é mais transparente quando interpretado
pelo foco da ciência e tecnologia. As classes subordinadas não escolhem as tecnologias,
elas recebem as pressões para aplicação das ciências mais intensamente nos setores de
maior tecnificação, mais capitalizados e se tornam complementares às necessidades das
classes dominantes em função uma condição relativa de falta de melhores alternativas.
Dessa forma a indústria, ao valer-se da ciência e desenvolvendo a tecnologia, não dá
autonomia para o produtor utilizar esta ou aquela tecnologia. O processo é imposto já que
está determinado o padrão de galpão a ser implantado, a genética do frango ser usado, a
ração ser consumida, o manejo a ser aplicado, as medicações e vacinas necessárias, a
normas de climatização a serem seguidas e, inclusive as regras para remuneração do serviço
prestado.
Diante desse quadro a busca de financiamentos para construção de galpões com
tecnologias de ponta tem criado constrangimentos para o produtor em função uma intensa
depreciação tecnológica e do montante elevado do financiamento. Entretanto, baseado no
que foi estudado acreditamos que a recomendação mais prudente é aquela que diz que, o
que interessa, é usar tanto mais intensamente quanto possível às máquinas para que possa
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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tanto mais rapidamente substituí-las por outras mais modernas, certamente mais
aperfeiçoadas e, possivelmente, mais baratas. Há duas razões para esse tipo de
comportamento: primeira, que a depreciação mais rápida minimiza as perdas de
obsolescência; segunda, que devido à competição (concorrência) entre os capitais privados
pelo lucro, um determinado capitalista sempre procura sair na frente dos outros, para com
novas máquinas mais aperfeiçoadas, baratear seu produto e obter um lucro extraordinário
antes que seus concorrentes consigam também trocar os equipamentos antigos.
Diante da exuberância dos números da avicultura de corte, o elo mais frágil de sua
cadeia produtiva é o problema sanitário. O controle sanitário se constitui no maior (e no
iminente) risco enfrentado pela avicultura brasileira, podendo desestruturá-la
completamente, o que ocasionaria reflexos negativos imensuráveis para o Brasil, quer em
termos econômicos (valor econômico da produção, captação de divisas), quer em termos
sociais (abastecimento da população e, inclusive, maciça geração de empregos). Não se
pode ignorar, a propósito, que como atividade rural não sazonal, a avicultura é mantenedora
permanente de mão-de-obra no campo; e que, ao tornar viável o minifúndio, permitiu a
redução do êxodo rural.
Portanto, é necessidade premente estabelecer capacidade e conhecimento para
resguardar a produção avícola nacional contra a entrada e disseminação de agentes de
doenças que possam vir a comprometer o comércio interno e as exportações de produtos
avícolas. Qualquer falha no sistema que possibilite a passagem de problemas sanitários
pode ser utilizada, por países importadores ou concorrentes, na solicitação de suspensão das
exportações de carnes frescas de aves pelo Brasil. Fatos recentes, como a gripe do frango
em Hong Kong e México, são exemplos das difíceis fissuras que podem ocorrer no sistema
de produção devido a problemas sanitários.
A possibilidade de restrições parciais ou totais de importação de material genético,
impõe ao Brasil que disponha de suas próprias linhagens produtoras de frangos e ovos, ao
menos para o atendimento estratégico da atividade nas ocorrências excepcionais. Assim,
A EVOLUÇÃO DA BASE TÉCNICA DA AVICULTURA DE CORTE NO BRASIL
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programas oficiais de melhoramento como o que vem sendo realizado pelo Centro Nacional
de Pesquisa de Suínos e Aves da Embrapa, devem ser mantidos e incentivados, buscando-
se inclusive a participação privada, sendo a única forma de dar escala comercial a tais
programas, já que o grande objetivo desses programas é a geração de tecnologias e de
recursos humanos para suprir as necessidades da iniciativa privada.
No momento atual, com a queda das barreiras comerciais decorrente da
globalização, é cada vez mais é exigido, por parte dos importadores, que a produção seja
feita sem causar danos ambientais. Os importadores passaram a utilizar esse instrumento
em substituição às barreiras alfandegárias, combatidas pela Organização Mundial do
Comércio (OMC), como forma de discriminar a importação de países que não os priorizam.
O Centro-Oeste se apresenta como o grande potencial para produção de frangos de
corte em ambiente globalizado. É necessário ter a audácia para aproveitar o momento atual,
mas é preciso também cautela com uma visão de longo prazo no sentido ampliar a
produção em ambiente sustentado. Para que tenhamos desenvolvimento sustentado é
necessário resolver o problema futuro do excesso de produção de cama de frango, já que é
possível que a sua utilização para bovinos e no solo não seja o suficiente para consumir
todo o volume produzido, por isso é necessário intensificar estudos sobre opções de
materiais utilizados como cama de frango, bem como a sua reutilização por mais vezes em
um galpão.
À luz do que foi apresentado sobre o recorte estudado é possível identificar uma
contribuição para que se possa formular um conjunto de políticas públicas que bem
atendam à produção de proteína animal, mas que identifique prioritariamente a
possibilidade de melhor investir no ser humano e diminuir a desigualdades sociais.
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