5. 5 HISTRIADOESPIRITISMO
APNDICE2Notasaocaptulo6BicodepenadolagoHarrisporLaurence Oliphant
pag.339 APNDICE 3 Notas ao captulo 7 Testemunho adicional do
professor e da senhorade Morganpag.341
APNDICE4Notasaocaptulo10OsDavenportseramjograisouespritas? pag.344
APNDICE5 notasaocaptulo16Amediunidadedoreverendo StaintonMoses
pag.345 APNDICE 6 Notasaocaptulo25 Escritaautomticade Mr. Wales
pag.347
6. 6 ArthurConanDoyle CONAN DOYLE E A HISTRIA DO ESPIRITISMO
onanDoyle,cujonomerepercuteportodoomundo,umdosescritoresmais lidos
da moderna literatura inglesa. O poder extraordinrio de sua
imaginao, a comunicabilidade natural do seu estilo, a
espontaneidade de
suascriaes,fizeramdeleumescritoruniversal,admiradoeamadoportodos os
povos.NoBrasil,nossagenteoincluiu,hmuito,entreosseusdolosliterrios.
tanto assim, que ainda agora a Melhoramentos est lanando as obras
de Conan Doyle em edies sucessivas, divididas em trs linhas de
lanamentos: a Srie
SherlockHolmes,aSrieFicoHistricaeaSrieContoseNovelasFantsticas. No
se precisaria de mais nada para demonstrar o interesse do pblico
brasileiro pelas obras de Conan Doyle. Nem de mais nada para se
demonstrar a
grandezaliterriadesseverdadeirogigantedasletrasinglesas.Noobstante,astrs
sriesacimanoabrangemtodaaobradeConanDoyle. Ofamosoprecursordos
mtodos cientficos de pesquisa policial foi tambm umhistoriador,
tendo escrito obrascomoTheGreatBoerWare Historyof
theBritishCampaigninFranceand
Flanders.Foiaindaumdosmaioresemaislcidosescritoresespritasdosltimos
tempos,emtodoomundo,revelandoadmirvelcompreensodoproblemaesprita
emseuaspectoglobal,comocincia,filosofiaereligio. Vemos, assim, queh
mais duas series de obras a dehistria e a de espiritismo que podem
ser consideradas como os afluentes diretos deste
verdadeirodeltaliterriodavidadeConanDoyle,queaHistriadoEspiritismo.
C
7. 7 HISTRIADOESPIRITISMO UMA CHAVEDEABBADA este livro,
realmente, todas as qualidades do escritor e do homem esto
presentes.Neleconfinemosresultadosdetodososseusestudos,detodas
assuasexperincias.Tratase,pois,deumlivrodeinteressefundamental,
paraoestudodavidaedaobradograndeescritor.Esnoochamaremosbsico,
porque ele no est no alicerce, mas na cpula. aquilo a que os
engenheiros
chamamchavedeabbada.Paraqueoleitornopensequeestamosexagerando,
vamostentarumarpidaexplicao desse fenmeno deconvergncia. Conan
Doyle aplica neste livro as suas qualidades de escritores estilo
direto, vivo, objetivo, extraordinria capacidade de sntese, preciso
descritiva e narrativa,agilidadequase
nervosanoencadeamentodoenredo,brilhoecoloridonas expresses.
Aplicaaindaa capacidade de anlise e a perspiccia sherloquianas, o
rigordomtodohistrico,acapacidadedevisopanormicadosacontecimentos.
Aoladodissotudo,temosagrande compreensohumanadosnumerososepisdiose
problemas enfrentados, essa compreenso que o leva a explicar as
quedas
medinicasdealgunspersonagenseaperdoargenerosamenteosquenosouberam
expliclas.Oescritoreohomem,depoisdeumavidaeumaobra,sefundemneste
livro,quefeitoaomesmotempodepapeletinta,msculosesangue,crebroe
nervos. O historiador est presente neste livro, que sobretudo uma
obra de
histria,Oromancistaeonovelistaaquiesto,namltiplatessituradasnarrativas
quesesucedem,captuloporcaptulo.Oautorpolicial,naperspicciadeapreenso
dosfatos,namaneiraseguracomquevaiconduzindooleitoratravsdosenigmas
doenredo.Ocriadordeficohistrica,noaproveitamentodosfatosreaisparaa
construodagrandetramadolivro,Oautordehistriasfantsticas,nacapacidade
depenetraromistrio,deinvadiroreinodoinvisvel,deenxergaroqueapenasse
entremostranoslampejosdasmanifestaesmedinicas.Oespritasemanifestano
interesse pelos fatos e pela sua interpretao, na compreenso da
grandeza e da importncia do movimento espiritista mundial, O mdico
Arthur Conan Doyle, o homem voltado para os problemas cientficos, o
pensador, debruado sobre as questes filosficas, e o religioso, que
percebe o verdadeiro sentido da palavra religio todos eles esto
presentes nesta obra gigantesca, suficiente para
imortalizarumescritorque jnosehouvesseimortalizado. Esta, pois, uma
obra de confluncia. Um delta literrio, no qual o
fenmenoConanDoyleseconsuma,epeloqual,afinal,setranscendeasimesmo,
paraseexpandirna
universalidadedomovimentoesprita,comorevelaodivina. N
8. 8 ArthurConanDoyle CRITRIO HISTRICO
osairaprimeiraediodestaobra,arevistainglesaLightcomentouo
equilbrioeaimparcialidadecomqueoautorseportounotratodoassunto
Umaextensanota,assinadaporD.N.G.,acentuouque oscrticoshaviam sido
agradavelmente surpreendidos, pois Conan Doyle, conhecido ento como
ardoroso propagandista esprita, no a colorira com os mais
carregados preconceitosa favordoassuntoedos
seuscorifeusEacrescentavaoarticulista: Uma obra dehistria, escrita
com prejuzos favorveis ou contrrios, seria, pelo
menos,antiartstica,pecadojamaiscometidopeloautordeTheWhiteCompany,
emnenhumdosseustrabalhos.
Essaopinioconfirmaplenamenteoquedissemosacima,quantoaocritrio
histrico seguido por Conan Doyle na elaborao deste livro. Alis, ele
mesmo acentua essecritrio, ao falar do seu desejo de contribuirpara
que o Espiritismo
tivesseasuahistria,apontandoinclusiveasdeficinciasdetentativasanteriores,
como vemos no prefcio. Seu intuito, ao elaborar este livro, no era
o de fazer
propagandadesuasconvices,masodehistoriaromovimentoesprita.Paratanto,
colocase numa posio serena e imparcial, como observador dos fatos
que se desenrolamaosseusolhos,atravsdotempoedoespao. Reconhece a
amplitude do trabalho a realizar e pede auxlio a outros.
EncontraemMrs.LesiieCurnowumacolaboradoraeficienteededicada,ecoma
sua ajuda prossegue nas investigaes necessrias, at completar a
obra. o primeiro a reconhecer que no fez um trabalho completo, pois
no dispunha de
tempoerecursosparatanto.Mastemasatisfaodeverificarquefezoquelheera
possvel,emaisdoqueisso,oqueerapossvelnomomento,diantedaextensoe
complexidadedoassuntoedascondiesdoprprio movimentoespritadeento.
A
9. 9 HISTRIADOESPIRITISMO A NOVA REVELAO
onanDoyle,quenasceua22demaiode1859,emEdimburgo,faleceua7de
julhode1930,emCowborough(Sussex).Emjunhode1887escreveuuma
cartaaoeditordarevistaLight,explicandoosmotivosdasuaconversoao
Espiritismo.Essacartafoipublicada
naediode2dejulhodomesmoano,daquela
revista,queareproduziumaistarde,naediode27deagostode1927.A15de
julho de 1929, a Revista Internacional de Espiritismo, de Mato,
dirigida por
CairbarSchutel,publicounoBrasilaprimeiratraduointegraldessacarta,que
umdocumentovalioso,mostrando,comoacentuaarevista,queojovemmdicoem
1887jrevelavaamaisamplacompreensodoEspiritismoedasuasignificao
paraomundo. Alm desse
documento,ConanDoyleescreveuumpequenolivro,traduzido
paraanossalnguaporGuillonRibeiroejemsegundaedio,intituladoANova
Revelao, em que descreve minuciosamente o processo da sua converso.
Posteriormente, escreveu outras obras doutrinrias de grande valor,
como A
ReligioPsquica,naqualrevelaperfeitacompreensodoproblemareligiosodo
Espiritismo,afirmandoacondioessencialmente psquicadareligioesprita.
OleitorbrasileiroestranharqueConanDoylecomeceasuahistriapela
vidaeaobradeSwedenborg,eque,depoisdepassarpeloepisdiodeHydesville,
sserefiraaAllanKardecaotratar,nocaptulovinteeum,doEspiritismofrancs,
alemoeitaliano. Kardec aparece, assim, como uma espcie de figura
secundria, de influnciareduzida aombitonacional do movimento
esprita francs. que,no
movimentoesprita,comoemtodososmovimentos,ascoisasvosedefinindoaos
poucos, atravs do tempo, no se mostrando logo com a preciso
necessria. Somente
agora,quasetrintaanosdepoisdamortedeConanDoyle,queafigurade Kardec,
reconhecida h muito, nos pases latinos, como o codificador do
Espiritismo, vai se impondo tambm, nas suas verdadeiras dimenses,
ao mundo anglosaxo. Conan Doyle fez o que pde, como dissemos atrs,
procurando traar a histria do Espiritismo de acordo com as
perspectivas que a sua posio lhe proporcionava.Hoje,comosepode
verpelaexcelenteediodarevistaargentina
Constancia,comemorativadoprimeirocentenriodoEspiritismo,acompreenso
exatadaposiodeKardecse
generaliza.EscritoresdaInglaterra,daAlemanha,dos
EstadosUnidosedoCanadproclamam,nascolaboraesparaaquelenmero,a
significaofundamentaldaobrado codificador. C
10. 10 ArthurConanDoyle O PROBLEMA DA REENCARNAO bastante
conhecida a divergncia entre o que se convencionou chamar o
Espiritismolatinoeoanglosaxo.Essadivergnciaseverificouemtornode um
ponto essencial: a doutrina da reencarnao. Os anglosaxes,
particularmente os ingls e americanos, aceitaram a revelao esprita
com uma
restrio,noadmitindooprincpioreencarnacionista.Pormuitotempo,essefato
serviu de motivo a ataques e crticas ao Espiritismo, o que no
impediu que o movimentoseguissenaturalmenteoseucurso.
Acodificaokardequiana,cujosprincpiosgirampraticamenteemtorno da lei
da reencarnao, foi repelida pelos antireencarnacionistas. Vejase
como ComamDoylese
refereaoEspiritismofrancs,logonoinciodocaptulovinteeum
destelivro:OEspiritismonaFranaseconcentranafiguradeAllanKardec,cuja
teoria caracterstica consiste na crena dareencarnao.No obstante, o
prprio Conan Doyle, e outros grandes espritas ingleses e
americanos, admitiam a
reencarnao.Earesistnciadomeiotemsidobastanteminada,naInglaterraenos
EstadosUnidos,principalmentedepoisda ltimaguerra. Em A Nova
Revelao, Conan Doyle se coloca numa posio curiosa, que dar ao
leitor brasileiro uma ideia exata da sua atitude neste livro. Logo
no
prefcio,declaraquemuitosestudiosostmsidoatradospeloaspectoreligiosodo
Espiritismo, e outros pelo cientfico, acrescentando: At agora,
porm, que eu saiba, ainda ningum tentou demonstrar a exata relao
que existe entre os dois
aspectosdoproblema.Entendoque,semefossedadolanaralgumaluzsobreesse
ponto, muito teria eu contribudo para a soluo da questo que mais
importa humanidade.
Istoeraescritoentre1927e28,cercadesessentaanosapsopassamento de
Kardec. E todos sabemos que Kardec deixou perfeitamente solucionado
o problema, ao apresentar o Espiritismo como uma doutrina trplice:
filosfica,
cientficaereligiosa.Vemos,assim,queConanDoyle,nestepontocomoemtantos
outros,pensavaparalelamenteaKardec,esperando,porassimdizer,omomentoem
queacodificaokardequianaaparecesseno
mundo,semsuspeitarqueelajexistia
eestavaalimesmo,aoseulado,paraldoEstreito daMancha.
Emnada,porm,essesfatosprejudicamovaloreasignificaodestaobra.
Servemmesmoparadocumentarumafasedoimensoprocessodedesenvolvimento
doEspiritismo. Os estudiosos da doutrina e da sua histria tero
neste livro uma viso panormica desse fato histrico extraordinrio,
ainda no compreendido pelo
mundo,queoaparecimentoeapropagaodeumanovarevelaoespiritual,nos
temposmodernos.Enadamelhorparaexprimilodoqueaadmirvelimagemusada
por Conan Doyle, logo no captulo primeiro, ao comparar as
modernas
12. 12 ArthurConanDoyle A INVASO ORGANIZADA
onanDoylesedefronta,nessecaptulo,comadificuldadedefixarumadata
paraoaparecimentodoEspiritismo.LembraqueOsfatosespritasexistiram
desde todos os tempos, e que os espritas ingleses e americanos
costumam
indicarcomodatainicialdomovimentomodernoade31demarode1848,que
assinalaoepisdiomedinicode Hydesville.
Prefere,entretanto,comearasuahistriaporSwedenborg,considerando
queumainvasopodeserprecedidapelosexploradoresdevanguarda.Reconhece,
assim, a existncia de uma poca a que podemos chamar a prhistria do
Espiritismo, com os fatos da Antigidade e da Idade Mdia, e uma poca
de preparaodo adventodoEspiritismo,j nostemposmodernos.
Nessapocaaparecemospatrulheiros,oselementosqueexercemafuno
depontasdelana,osqueefetuamumaespciedereconhecimentodoterrenoede
preparaodainvasoorganizada,quevirlogomais.EssaconcepodeConan
DoyleestdeplenoacordocomasexplicaesqueosEspritosderamaKardec,a
respeito do assunto. S faltou a Conan Doyle, portanto, para bem
colocar o problema, o conhecimento completo da codificao. Com esse
conhecimento, o
grandeescritornoteriadvidasemadmitirqueoEspiritismo,comodoutrina,s
apareceunomundoa18deabrilde1857numadataexataaquelaemque
surgiramnaslivrariasdeParisosprimeirosvolumesdeOLivro dosEspritos.
FazendojustiaaSwedenborg,aEduardoIrving,aAndrJacksonDavis,
oprofetadanovarevelao,sirmsFox,cujadolorosahistriacontadanestas
pginas de maneira compreensiva e ampla, Conan Doyle historia, a
seguir, a
propagaodomovimentoespritanosEstadosUnidos,naInglaterra,naFrana,na
Alemanha, na Itlia e nos demais pases, dedicando vrias pginas a
mdiuns notveis como Home, os irmos Davenport, Eddy e Holmes, Slade,
Eusapia Palladinoeoutros.
Acompanhaodesenvolvimentodointeressepelosfatosespritasnosmeios
cientficos,arealizaodasgrandesexperinciasderepercussomundial,comoas
de Crookes, e trata, por fim, do papel do Espiritismo em face da
guerra, do seu
aspectoreligiosoedasdescriesdoAlmpelosEspritos.Temos,assim,umaobra
monumentalsobreoEspiritismoeomovimentoesprita,escritaporumdosmais
notveis autores do nosso tempo. A publicao desta obra em portugus
vir contribuir grandemente para maior compreenso do Espiritismo em
nosso pas, inclusivenosmeiosespritas. C
13. 13 HISTRIADOESPIRITISMO O PRECONCEITO CULTURAL o
lanarem,pois,estaedio,oseditoresestoprestandoumgrandeservio
aopblicobrasileiroemgeraleaosespritasemparticular.Ascampanhas de
difamao que se tm feito no Brasil contra o Espiritismo, a atitude
sistemticadeoposioassumidapelosreligiososepelos
cientistas,easprprias deficincias culturais do nosso meio, fazem
que ainda prevaleam entre ns Os
preconceitosantespritas,quemuitasvezessemanifestamdemaneiraaguda.Obras
como esta, escritas por homens da envergadura intelectual de Conan
Doyle, contribuiro forosamente para modificar essa situao,
quebrando, com o seu poderoso impacto, sedimentaes e cristalizaes
mentais pouco recomendveis entrepovoscivilizados.
DiantedovastoevariadopanoramaqueConanDoylenosapresentaneste
livro,acomearpelasideiasaindadelirantesdeSwedenborg,que,noobstante,era
umdoshomensdotadosdemaiorcabedaldeconhecimentosqueomundojviu,at s
experinciasrigorosamente cientficas de sbios da envergadura de
Crookes, o
leitorminadopelasideiasfeitas,pelospreconceitosreligiososoucientficos,terde
reconheceraimportnciado movimentoesprita. Existe um tipo especial
de preconceito que dificulta a compreenso do
Espiritismoemnossopas.oquepodemoschamarpreconceitocultural.Numa
naonovacomoanossa,semtradioculturalsuficiente,comimensamassade
analfabetos,pontilhadaaquiealidepequenasilhasculturais,grandeoreceiodos
intelectuais, de caremno ridculoperante os seus colegas do
exterior. Por outro lado, a difuso das doutrinas materialistas,
como o marxismo, em meios de
insuficienteformaofilosficaeadifuso,nemsempreemcondiesadequadas, de
princpios cientficos objetivos erroneamente considerados
materialistas afastam muitas pessoas do conhecimento esprita. Um
livro como este servir, e
muito,paramostrarqueoshomenscultos,nomundointeiro,noosomenosporse
interessarempeloEspiritismo. A
14. 14 ArthurConanDoyle NOTA DO TRADUTOR aiparamaisdeumsculo,os
fenmenosespritas,antesespordicos,mal interpretados e causadores de
perseguies religiosas, entraram numa segunda fase a das manifestaes
acintosas e sistemticas, pblicas e teimosas, abalando cpticos,
acordando conscincias e amedrontando criminosos
impunesemarginaisdoCdigoPenal.Foiem 1848,nosEstadosUnidos. O
contacto entre dois mundos, antes separados pela divisria da Morte,
deixavadeteroaspectomacabro,quelheemprestaramfolhetinistasecriadoresde
fantasias,pararevestirodesuaveconversaentrecriaturasqueridasdeumedooutro
ladodaVida.Comeou,entretanto,pelaschamadasmesasgirantesefalantesque,
infelizmente,seprestaramzombariadosquetudoprocuramdenegriroucobrirde
ridculo inclusive o sentimento que nutrimos pelos que nos deixaram.
Transportadas para a Europa, as mesas girantes e falantes
constituram, durante
algumtempo,umdivertimentodesalo,naslongasefrias noitesdeinverno.
Umhomemsisudo,entretanto,novianelasmerodivertimento,masuma
coisamuitosria. E pagou arras ao esprito francs, tirando da dana
das mesas uma
filosofia,domesmomodoquedadanadasrsGalvanihaviatiradoprincpios
fundamentaisdaeletricidadeedomagnetismo.Esse
homem,tpicorepresentanteda
culturafrancesamdicoeastrnomo,filsofoepoliglota,telogoematemtico,
fillogo e biologista passeou o seu Esprito equilibrado sobre todos
os departamentosdosaberhumanodeseutempo,tudo
referindoaoseixoscoordenados de um sistema, de modo que os seus
variados conhecimentos no apresentavam fissuras nem hiatos,
paradoxos nem incongruncias. Vale dizer que, luz dos
conhecimentosmodernos,elesistematizouumacincianova,captouosprincpios
basilaresdeumanovafilosofiaumafilosofiaespiritualistaque,aocontrriode
suascongneres,tudoestabeleciaaposteriori,isto,basedefatosverificadose
verificveis, assim oferecendo s criaturas honestas queremos dizer
cientificamentehonestasoselementosparaasuperaodomaterialismoclssico
edoagnosticismo
comteano,queestavamavassalandomentesnobres,maslimitadas e presas
aospreconceitosreligiosos,ouaestesfanaticamenteantagnicas.
Ecomoabasedafenomenologiaeraofatodasmanifestaesdasalmas dos mortos
e, por vezes, dos vivos tambm aconteceu uma coisa
singularssima.DeumladoaIgreja,cujosdirigentesensinavamumavidaalmda
morte, mas que nunca souberam, puderam ou quiseram provar, passou a
atacar ferozmente os fatos e os nicos indivduos atravs dos quais
essa prova
cientificamentepossvel,equeofaziameofazemsemqualquerintuitodecombate
oudedesdourosorganizaesreligiosas.PerdiaaIgrejaagrandeoportunidadede
demonstrar a existncia da alma e o seu cortejo de conseqncias e, do
mesmo V
15. 15 HISTRIADOESPIRITISMO
passo,delevarosseusprofitentesparaumanovaetapa,almdeaelesanexarosque
em nada criam passandoos de f imposta, do credo quia absurdum, ou
do desinteresse e da negao sistemtica para uma f sistemtica, para
uma f raciocinada,naqualosprpriosdogmase osritos
viriamaserrespeitadoscomo valoreshistricos e
comosmbolosquetinhamtidoasuafunonoespaoeno tempo e dos quais os
Espritos se iam emancipando, medida de sua mesma
evoluo.Dooutrolado,atradaspelosfatos,tomandocontactocomosseusmortos
queridos,asmassasmenoscultas,oumesmoincultas,foram,porumcompreensvel
sincretismoreligioso,queaortodoxianotolerava,masque,finafora,aquelas
queriamquesubsistisse,transformandooEspiritismonuma
religioritualstica. Se, de um lado, o despreparo geral as empurrava
nessa direo, foram
acorooadaspelosantemas,pelasexcomunhes,pelapressopolticaexercidapela
Igreja contra as massas espritas e principalmente contra os mdiuns.
E o
Espiritismo,quedeincioatraraaatenodascamadasmaiscultas,poucoapouco
foi sendo por estas abandonado, ou praticado s ocultas, para que se
no
comprometesseminteressesmateriaissobretudoospolticosdadooprestgio
que a Igreja desfrutava junto ao poder civil, mesmo nos pases em
que havia separaolegalentreelaeoEstado.
Entoadoutrinacaiunasmosdopovoeasuaprticaseabastardou. Mashouve
umadiferenciaoentreneolatinoseanglosaxes.
Nospasesdeorigemlatina,ondepredominamaIgrejaCatlica de todas
amaisintoleranteosespritasforamexcludosdeseuseio.E,teimosamente,ela
apresentouaqueledoqualpoderiaterfeitooseumelhoraliadocomoumadversrio
temvel,comoumanovareligio,emboralhefaltassemosrequisitosessenciaisde
uma religio, a saber: um conjunto de dogmas, um ritual e uma
hierarquia sacerdotal. De maneira que, se luta existe entre ela e o
Espiritismo, no foi este quemaprovocou.
Masnospasessaxnicosacoisadiferente. Com a predominncia do
Protestantismo, os profitentes da religio esto mais ntima
esolidamente ligados sua igreja: soeles e no os pastores que a
administram e desenvolvem as obras assistenciais com um ritual mais
pobre,
enriquecemoEspritopeloestudo.Assim,airrupodosfenmenosespritasno
foiignoradanemamaldioada,masrecebidacomoumaprovadasobrevivnciada
almaeumaconfirmaodosensinosbblicos. Por isso, pouco proliferam os
centros espritas. Em compensao, h na lngua inglesa maisdecincomil
ttulosdeobras sobre oEspiritismo. * Os estudiosos desses problemas
no tm projetado a ateno sobre essa
diferenciaododesenvolvimentodoEspiritismoentreneolatinoseanglosaxes,
paralhepenetrarascausaseoferecerelementosparaacompreensodointeressante
fenmeno. Oassuntomereceateno. Na Frana, o Doutor Gustave Geley, a
quem tanto deve a Medicina,fez
notveisestudossobreoectoplasmaessenovoelementocujaimportnciacresce
16. 16 ArthurConanDoyle dia a dia e que vem correndo parelha
com o proto plasma na explicao dos fenmenos da vida que fez
demonstraes insofismveis das materializaes parciais, atravs das
moldagens em cera fervente, impossvel de obterse por
qualqueroutroprocessoquenoodamaterializaodemosqueconvidou cem
cientistasparaassistiremssuasexperinciasmuitasdasquaisemplenaluze
todas sob o mais rigoroso controle cientfico que foi presidente do
Instituto de Metapsquica de Paris, onde se afirmou um legtimo
pioneiro que fez avanar enormemente os conhecimentos da Psicologia
com o seu Do Inconsciente ao Consciente o Doutor Geley, amos
dizendo, assiste ao terrvel drama ntimo do Doutor Paul Gibier, essa
outra figura de cientista, a quem tanto devem a Microbiologiae
ostrabalhosiniciadospeloilustrePasteur,dadaaintolernciada
chamadacinciaoficial.Gibierteveque
abandonaroslaboratrioseaprpriaptria, ondeoseutrabalhosehaviatornado
impossvel,efoiabrigarsenosgrandescentros
norteamericanos,deixandoumatristeadvertnciaaoutrafiguraaindamaisnotvel
CharlesRichet. Comefeito,esse
grandemestre,talvezomaiordeseutempo,que investigou tanto os
fenmenos espritas, que, alm da sua obra clssica sobre
Metapsquica,legounosTrintaAnosdePesquisasPsquicasqueassistiuaos
testes de Geley com Kluski e com Eusapia Palladino que teve as mais
notveis
provasatravsdacorrespondnciacruzadaquecunhouovocbuloectoplasma,por
foradetantoestudaressasubstncia,queumverdadeiroproteueumnovoestado
da matria a responder pelos fenmenos fsicos, ou melhor,
hiperfsicos, que se
passamatravsdosmdiunsessehomem,quedesfrutavadorespeitodeseuspares
comoumlegtimomestreeumadasglriasdaculturafrancesa,convenceuseda
legitimidadedospontosdevistaespritas,mastemeuaquelasforasnegativasque
haviam sacrificado o Doutor Gibier. No teve a coragem de o
confessar. Flo
apenasemcartareservadaaoseuamigoeopositorErnestoBozzano,depoisdeter
tido a franqueza de erigir dezenas de hipteses que jamais se
prestariam a uma generalizao amplssima,comoahipteseesprita. Do
outrolado,vemosnaInglaterrahomensdecinciadomelhorquilate
organizandoumaSociedadedePesquisasPsquicasque,desde1882,vemfazendo
estudos rigorosos, com muita circunspeco e que toma, por vezes, uma
atitude hostil aos princpios espritas, mas acaba dando o testemunho
dos fatos
supranormais,emborafujasistemticamentedasgeneralizaesfilosficas.
Quemso esseshomens? Dos mais categorizados: fsicos, qumicos,
fisiologistas, matemticos, Membros da Sociedade Real, honraria
rarssima concedida na Inglaterra a um homemdecincia.
DaaatitudedeLordDowding.MarechaldoArdaInglaterra,primodo ltimorei,
LordDowding comandou a RAF (Royal Air Forces) durante a ltima
guerra. Protestante, os fatos o convenceram das verdades espritas.
Tanto bastou paraquetomasseatitudepblica.
Comobomingls,nocompreendiaquenacomunidadebritnicaalgum
sofresserestriesnasualiberdade,daqualumafacetaimportantealiberdadede
crena. Em consequncia, e liderados por ele, os Espritas ingleses
conseguiram que o Parlamento Ingls, o mais respeitvel do mundo,
votasse uma lei,
17. 17 HISTRIADOESPIRITISMO reconhecendo o direito ao exerccio
da mediunidade, com o que os sensitivos
ficavamsubtradosasperseguiesreligiosas,exercitadasnostermosdeduasleis
obsoletas,masnoprescritas:oVagrancyActeoWitchcraftAct,atravsdasquais
maisde50.000mdiunsjhaviamsidomultadosoucondenadospenadepriso.
Continuandoasuacampanha,isto,procurandolevarpordianteasconseqncias
danovalei,foiobtidopelosespritasqueoEstadoMaiordasForasArmadasda
Inglaterradeterminassequeemtodososcorposdetropaondehouvesseinstalaes
paraoservioreligioso,tambmashouvesseparaoficiaisesoldadosespritas.
* A obra que tivemos a honra de traduzir de autoria de um membro da
Sociedade de Pesquisas Psquicas da Inglaterra, geralmente conhecido
do nosso
pblicoporsuasnovelaspoliciais.Comoathojenoseescreveu,nogneroeem
qualquer lngua, um trabalho semelhante, julgamonos no dever de
escrever uma ligeira biografia de Sir Arthur Conan Doyle, para que
o leitor brasileiro possa aquilatardo valor e das cogitaes de um
dos maisnobres caracteres da passada
geraodeescritoresedehomensdecincia.
Aobranopoderiaserminuciosaecompleta.Passa,porm,emrevistaos maiores
mdiuns da Europa e dos Estados Unidos, desde o sculo passado at o
comeo deste sculo., assim,umroteiromagnfico.
Afenomenologiaespritaaaparecebemdividida,porcaptulososmaiores
mdiunssoapresentadosdivididosemgrupos,conformeassuaspeculiaridades.
feitaumacrticamuitoequilibradaamdiunsepesquisadores.Oleitoratentover
queoautornosaideumalinhadecentro,deumperfildeequilbrio,demodoque no
ser nunca confundido com um crente fantico, de vez que , em todas
as circunstncias, o observador percuciente, o filsofo sereno e o
cientista que est
convencidodaleidoprogresso,dosentidoamplssimodaevoluogeraldaVida.
Ele no teme aquelas coisas que se apresentam na zona de penumbra do
pesquisador,porqueusaaquiloquesabe,afimdeavaliaraquiloque
lhefaltasaber. Sir Arthur Conan Doyle no nos apresenta uma histria
puramente descritivado
Espiritismo,mas,naverdade,umahistriafilosficadoEspiritismo. A sua
obra nica no gnero preenche uma lacuna na estante dos
espritasestudiososmostralhesummundodecoisasimportantesdireimesmo,
indispensveis que ignoravam. E, nessa fase do nosso desenvolvimento
intelectual,desbitovalorparaosestudantesdasnossasFaculdadesdeFilosofia.
Achamola, sobretudo, inestimvel para os dirigentes de sociedades
espritas.Maisesclarecidosporela,certamentedaronovorumoaostrabalhosditos
de efeitos fsicos, j selecionando os mdiuns, j excluindo essa
prejudicial assistncia de curiosos, j e nisto reside a sua melhor
lio colocando a
pesquisapsquicanumplanoisentodefanatismoreligioso,deintolernciapseudo
cientfica, sem o que to cedo esses fenmenos no entraro nos
ambientes universitrios, onde nem o professor Richet serve de
exemplo, porque a atitude acadmica continua sendo a do avestruz:
enterrar a cabea na areia e negar a tempestade. Este
umlivroquenosfazpensar.
18. 18 ArthurConanDoyle Que o leiam os nossos homens de cincia
que o leiam os nossos
pensadoresqueoleiamaquelesquepensamquepensam.Os frutosnose faro
esperar. JulioAbreuFilho
19. 19 HISTRIADOESPIRITISMO SIR ARTHUR CONAN DOYLE ESBOO
BIOGRFICO autor da obra que se vai ler era muito conhecido da
juventude de uns cinquenta anos passados, como o criador de
Sherlock Holmes. Naquele tempo lamos literatura neolatina no
original e anglosaxnica atravs de
boastraduesfrancesasouemnossalngua.
Hojeamocidadelhistriasemquadrinhos,ondeovocabulriorepresenta
apenasum dcimodoquemanejvamos.
Onvelbaixou.Se,ento,eramasbiografiasumaspectopoucoexplorado
emliteratura,hojepoucoseconhecedasvidasgrandesenobres.Tantoque,quando
o autor destas linhas disse que estava traduzindo uma HISTRIA DO
ESPIRITISMOdeSirArthurConanDoyle,despertouatenoporestascoisas:que
ocriadordeSherlockHolmestivessesidoknighted,comosedizeminglsque
fosse algomaisqueumescritorde
contospoliciaisquetivessetidoacachimniade
levarasriooEspiritismoefazer,comaquelaproverbialseriedadedosescritores
ingleses,umaHistriadoEspiritismo.
Estavamcertosrelativamentecertososinterlocutoresdequemtraa
estaslinhas.Pordoismotivos:oprimeiroqueonveldoscontospoliciaisbaixou
osegundoqueemgeralseignora,nospaseslatinos,queosinglesesdecultura
universitrianotomamcursosdetcnicasuperiorcomoemgeraloslatinose
particularmenteosbrasileirosafimdeseremchamadosdoutores,oucomoum
meiofcildefazerdinheiro.umaquesto deeducao,hmuitoaliresolvidaena
qualandamostateando,semcoragemdemodificaronossofigurino.Sobre
oassunto bastaria recomendar trs livros de um nico escritor ingls,
representativo de
brilhanteperododaculturainglesaoperodovitorianoSirJohnRuskina
saber:SesameandLulies,TheSevenLampsofArchitectureeTheStoneofVenice.
Na verdade o ingls de certa classe, mesmo de qualquer classe, que
houvesse atingido mais alto grau de cultura atravs da universidade,
no tinha apenas um
verniz:osconhecimentoseoambientelhehaviamlapidadooesprito,transformado
acompreenso daVidaecriadonovosrumosparaoseucomportamentosocial.
Porissooinglsdessesnveismaisaltosexerciaaprofisso,parcialmente,
paraganhardosquepodiampagarsemseremexplorados,parcialmente,paraservir
aosquenopodiampagar,masdeviamsentirqueasolidariedadehumananoera
mero tema para discursos polticos de campanhas eleitorais.
Paralelamente, esses
homensdepadrouniversitrioexercemumaatividadeextraque,seporumlado
contribuiparaoseuprprioprogressoespiritual,poroutroajudaolevantamentoda
culturadopovo. O
20. 20 ArthurConanDoyle Isto , sem dvida, um dos mais belos
efeitos da concepo inglesa de religio esta no se separa da vida e a
vida considerada como que vascular, segundo a expresso doReverendo
Stanley Jones, que assim explica: onde quer queafiramos,elasangrar.
Destejeitotemoinglsumsentidoprticodereligio,quedeixadeser
umafugaparaosplanosabstratos,queficamdepoisdostmulos,domesmopasso
quetemuma noo maisobjetivadehumanismo quedeixadeserumaverbiagem
excitante para ser uma soma de conhecimentos de imprescindvel
aplicao Humanidade. Assim, no de admirar que um Churchill cultive a
pintura ainda aos
oitentaanosqueumJohnRuskinvparaocampocomosuniversitriostrabalhar
nareparaodeestradasquesehaviamtornadointransitveisqueFredericMyers,
Lord Balfour, Sir William Crookes, Sir Oliver Lodge e tantos
outros, que se
encontramnotopodasgraduaescientficasdevriasespecialidades,seapliquem,
paralelamente, a outras atividades monetriamente improdutivas, mas
que contribuemlargamenteparaobemestarespiritualdopovo.
Ora,todosestesnomesdoltimogrupoderamexemplodecompreensode quanto o
conhecimento do porqu da vida, do porqu da diversificao das
existncias pode contribuir para o bemestar geral, depois de ter
criado aquela serenidade espiritual que nos torna altamente
conscientes e nos subtrai daquele fatalismo da massa muulmnica, que
amesquinha a criatura. Mas no quiseram basearse em sermes mais ou
menos sonoros nem nas citaes mais ou menos
papagaiadasdetextosbblicos:basearamsenosfatos.Eseofenmenoespritaera
umfatodanatureza,atentopoucoestudado,estudaramnobuscaramapreendera
leiqueosrege.Enissonadaviramdaqueleridculoquepseudosbiosoupseudo
religiososprocuramlanarsobrecoisasqueignoram.Paraeles,verdadeirossbios,
noexisteridculonemimoralidadenasleisdaNatureza,quesoasmesmasleisde
Deus. Ridculo e imoralidade esto em ns, na nossa maneira de ver a
vida constituem,porassimdizer,osculosdanossaobservao.
MasvoltemosaSirArthurConanDoyle. *
Estamosdizendoqueonveldocontopolicialhaviabaixado.Baixou,pelo menos
daquela cota em que Conan Doyle havia elevado a produo do suposto
criador desse gnero literrio o escritor francs Gaboriau. Mostranos
a cronologia que o iniciador desse tipo de literatura foi um
escritor americano, tambm esprita e certamente um mdium
inconsciente de suas faculdades criptopsquicas o grande poeta
americano Edgard Allan Poe, autor do Mary
RogerCaseeoutroscontospoliciais.Masnodesgarremosfrisemosumcontraste
essencial:enquantoopolicialatualviolento,Sherlocksuaveaqueleusaafora
muscular, este o vigor do raciocnio. Dirseia que, mesmo antes de se
tornar
esprita,SirArthurmarcava,nasuaobrapopularssima,asuperioridadedoEsprito
sobre a Matria, da Inteligncia sobre a Fora Fsica, do Conhecimento
sobre a PistolaColt.
21. 21 HISTRIADOESPIRITISMO E j que entramos por esteraciocnio,
sejanos permitido admitir que as cidades, como as famlias, parece
que tm um certo poder atrativo para determinadostiposdeEspritos.
Dirseia que elas possuem aquilo que os orientais chamam de karma
coletivo, como o possuem as famlias, e que nos indivduos uma espcie
de magnetismo espiritual. No ser isso que cerca de encanto a vida
de certas universidadesedecertascidades,como,porexemplo,Florena?
NoestarnomesmocasoacidadeescocesadeEdimburgo?Deondeoseu
nome?DeumcertoreiEdwin,deNorthumberland,queafundounosculoVII?
EdimburgoquefoielevadaacidadeporCarlos3em1633,consideradamaisuma
cidadeintelectualdoqueindustrial,postoquesejaumimportantecentrodetecidos
de l, algodo e seda tinha fbricas de cristais, destilarias e
fundies, alm de
importanteindstrialivreira.Masosseusestabelecimentosdeensinoentreosquais
sedestacamauniversidade,aescolademedicina,oconservatriodebelasartesea
escoladearteseofcios,lhevaleramoepteto deNovaAtenas. Entre os
filhos notveis que a honram e dos quais Sir Arthur Conan Doyle no
dos menos celebrados contamse John Ogilby, nascido em 1600,
tradutor e editor das obras de Virglio e de Homero e das Fbulas de
Esopo a
famliaBlair,entrecujosmembrossobressaemJohnBlair,ligadohistriadesua
independncia e Hugh Blair (1718, 1800), notvel orador e professor
na universidade de Saint Andrews, onde seunome foi ligado cadeira
deretrica e belas letras a clebre famlia Napier ou Neper, segundo a
grafia latina, onde
aparecemdestacadosvultosnaMarinhaenoExrcito,mascujotroncoilustrefoi
JohnNapierouJoannisNeper,grandematemticoeinventordoslogaritmosditos
neperianos, cuja publicao apareceu com este longo ttulo, ao gosto
da poca:
LogarithmorumcanonisdescriptoseuArithmeticorumsupginasutatwnummarabilis
abbreviatio, ejusque usus in utraque trigonometria, ut etiam in
omni logistica matemtica amplissimi, jacilimi et expeditissimi
explicatio, auctore ac inventore JoanneNepero,barone
Merchistonii,Scoto(1614).
NoesqueamosDavidHume,filsofoehistoriador(1711.1776),quenos
deixouumTratadosobreaNaturezaHumana,EnsaiosMoraisePolticos,Histria
NaturaldaReligio,EnsaiosSobreaImortalidadedaAlma,almdevriosoutros
trabalhossobremoralereligioe,deparceriacomoutrosadvogados,umaHistria
daInglaterra.PorfimdestaquemosumtpicoescritorescocsSirWalterScott
(17711832).Iniciandoseem1802,comoCantodaFronteiraEscocesa,escreveu
maistrintaobras,entreasquaissomundialmenteconhecidaseapreciadasADama
doLago,queinspirouaRossiniaperadomesmonome,GuyManneringAPriso
deEdimburgoANoivadeLammermoor,deondefoiextradoolibretodaperade
Donizetti,LuciadeLanrmermoorAFormosaDonzeladePenheIvanhoe,talvez,
desuasobrasamaisconhecidaequecontamaiornmerode tradues. Toda essa
tradio magnfica de sua cidade deve ter infludo poderosamente na
formao espiritual de Sir Arthur. Sabese que seu av era o
caricaturista de nomeada John Doyle, sobre o qual, entretanto,
temos poucas indicaes. Os traos genealgicos de que dispomos dizem
que seu pai, Charles
Doyle,eraumartista.Quemseriaesseartista?CertamenteeraSirFrancisHastings
CharlesDoyle,poetanascidonoCondadodeYork,em1810emortoem1888.Foi
22. 22 ArthurConanDoyle funcionrio da administrao e publicou
vrias obras, entre as quais Poemas
DiversosDoisDestinosdipo,ReideTebasOsFirneraisdoDuqueAvoltados
Guardas, etc. Foi professor de potica na Universidade de Oxford,
entre 1867 e 1872.
Teve,assim,ojovemArthurumambientepropcio,queremsuacasaeem
suaptria,quernoestrangeiro,ondeseupaiesteveaserviodogoverno,poisse
sabequeonossobiografadofezpartedesuaeducaonaAlemanha.Nascidoa22
demaiode1859,suaeducaofoifeitasucessivamentenoStonyhurstCollege,na
AlemanhaenaUniversidadedeEdimburgo,onde,em1881,terminouocursode
medicina(M.B.)equatroanosmaistardeodoutoradoemmedicina(M.D.)Sabese
queviajoumuitopelasregiesrticasepelacostaocidentaldafrica.
Escreveualgumasobrasnajuventude,quedevemterpassadoinadvertidas ou
que ele prprio teria retirado da circulao, pois a primeira citada
cronologicamente A Study in Scarlet, publicada em 1887, quando j
estava
clinicandoemSouthsea.NoanoseguintepublicououtroromanceMicahClarck.
AhistriadarebeliodeMonmouth.ThesignofFour,em1889eem1891The
WhiteCompany,queobtevegrandesucesso,equefoiseguidaporumromanceda
pocadeDuGuesclin. Nesse ano de 1891 Sir Arthur Conan Doyle
conquistou imensa popularidade com as Aventuras de Sherlock Holmes,
que apareciam em The Strend Magazine. Como indicamos pouco antes,
dizem que o seu inspirador foi
EmileGaboriau,escritorfrancsquehaviafracassadonogneroromanceequeem
1866 publicara, com estrondoso sucesso, em folhetim em Le Pays, um
romance
judiciriopolicialintituladolAffaireLevouge,quelhevaleragrandenomeadaeo
sucessoparamaisdezoutrasobrasnognero. possvel. Mas mais provvel
que, dadas as inclinaes artsticas e
literriasdeSirArthur,tivesseeleconhecidotodaaobradeEdgardAllanPoe,que
,aonossover,overdadeirocriadordocontoedoromancepolicial,querquantos
caractersticasliterrias,querquantoprecednciahistrica.Emnossaopinio,o
criadordeSherlockestmaisprximodosmtodosderaciocniodePoe,quedosde
Gaboriau.
ComaimportncialiterriaeapopularidadedeSherlock,cujasaventuras se
iniciam em A Study in Scarlet, a prtica da medicina de Sir Arthur
Conan Doylepassaparasegundo
plano,medidaquecresceoescritor.Em1893reaparece oherinasMemriasde
SherlockHolmes,seguidasdeOCodosBaskervilles, em1902edeAVoltade
SherlockHolmesem1905.
Enganamse,porm,osquepensamqueSirArthurhajacultivadoapenas este
gnero literrio. J em 1896 publicava ele estudos histricos em As
ExploraesdoGeneralGerardeemAsAventurasdeGerard.Antes,porm,em
1894,havia publicadoA Histria de Waterloo, na qual Sir Henry
Irvinghavia tomadopartetosaliente.Em1909
lanouTheFiresojFateeTheHouseofTem perieyeem1913outrovolume
interessante ThePoisonBelt.
ApenadeSirArthurConanDoyleesteve,entretanto,aoserviodaptria,
nosmomentoscrticos.Semserumpoltico,naacepolimitadadovocbulo,soube
eleprestar valiosos servios polticos ao seu pas. Pode a gente
discordar de seu ponto de vista particular, em relao tese por ele
defendida mas h que
23. 23 HISTRIADOESPIRITISMO reconhecerseque ele
noprocurouserviraum partido,mascomunidadebritnica. E o fez com
honestidade e com elegncia. assim que, em defesa do Exrcito
BritniconafricadoSul,publicouem1900TheGreatBoerWare,doisanos
depois, um estudo mais minucioso dessa guerra, intitulado The War
in South AfricaitsCausesandConduct.
DuranteaprimeiraGrandeGuerrasuapenaesteveaoserviodosAliados.
Escreveuabundantemente.Entreoutrostrabalhos,largamentetraduzidos,podemos
citarCauseand ConductoftheWorldWar,quelogroutraduesemdozelnguas.
Suas preocupaes pelas colnias inglesas no eram do tipo das de um
agentedogoverno,masdasdeumpensadorderaa.Iniciandosenessegnerocom
aguerradosboers,podearigordizersequeaquelesdoislivrospoucoantescitados
foramprecedidosporTheTragedyoftheKorosko,em1898,queumapequena
histria do Sudo angloegpcio e The Green Flag, que versa ainda
assuntos africanos.
Nestegruposeincluiumaobralanadaem1906,consideradaasuaobra prima
SirNigel. Comoobrasmenoresedetemasvariadostodas,porm,defendendouma
tese de subido interesse, podem citarse, cronologicamente, a partir
de 1894, at
1912,asseguintes:RoundtheRedLamp,TheStarkMumroLetters,ADuet with an
Occasional Chorus, Tlironglt the Magic Door, A Modern Morality
Plity,TheCrimeof theCongo, SongsoftireRadeTireLastWorld. Entre as
suas ltimas obras uma se conta, de grande importncia e que alcana
seis volumes, publicados entre 1915 e 1920: History of the Britislr
CompaigninFranceandFlandersequerepresentaasualtimacontribuioparaa
suaterraeparaasuagenteno setorpolticopropriamentedito. * que, a
essa altura, grandes mdiuns ingleses, americanos e da Europa
continentalhaviamchamadoaatenodeconspcuasfigurasdomundocientfico
ingls. Os fenmenos que em ingls se diziam do neoespiritismo
provocavam
estudosepolmicas,entusiasmoserevoltas.Em1882,fundarase,emrazodisto,a
Society for Psychical Research os nomes mais brilhantes dos cus da
cincia se haviamligadoaessacriteriosaorganizaoque,se
crticasmerece,certamentepor sua teimosia em no querer reconhecer
numa fenomenologia amplssima e constatada sob os mais rigorosos
mtodos de ensaio, que a geratriz de tantos fenmenos eram os
Espritos dos mortos e, por vezes tambm, os Espritos dos vivos.
QuenomesprestigiavamaSOCIETYFORPSYCHICALRESEARCH?
Osmaisbrilhantes,comefeito,entreoutrasnotabilidades,oProfessor
Sidgwick,SirWilliamCrookes,F.W.H.Myers,FrankPodmore,ProfessorJomes
H. Hyslop, Doutor R. Hodgson, Professor Charks Richet, Sir Oliver
Lodge,
ProfessorC.G.Jung,SirWilliamBarrett,DoutorGustaveGeley,DoutorEdmund
Gurney,ProfessorVonSchrenckNotzing,ProfessorHenryBergsonetantosoutros,
muitosdosquaiserammembrosdaSociedadeRealedaAcademiaFrancesa,vale
dizer,portadoresdasmaisaltasdistineshonorficas.
24. 24 ArthurConanDoyle Sir Arthur Conan Doyle ingressou na
Sociedade de Pesquisas Psquicas.
ConvencidodofenmenodamanifestaodoEspritodosmortos,aderiucausado
Espiritismo.Fezpesquisas,porcontaprpria,comosmaioresmdiunsdaEuropa.
Lobrigandooalcancereligiosoefilosficodetaisfenmenos,aelessededicoue
procurouservircomahonestidadeecomaseguranaquelhepermitiamumcarter
inteirioeumaenorme bagagemdeconhecimentoscientficos.
Noselimitouavereouvir.Viajou,fazendoconfernciasdepropaganda.
EstevemaisdeumaveznosEstadosUnidos,nafrica,naEuropacontinentaleno
Oriente,ataAustrliaeaNovaZelndia. Entre outros escritos sobre o
assunto publicou em 1918 A New
Revelation,doisvolumesderecordaesdessasviagens,dosquaisoltimo,sado
em1924,temporttuloMy MemoriesandAdventures. Em 1926 lanou em dois
volumes History o! the Spiritualism, que tivemos o ensejo
detraduzir agora paraa editora O Pensamento, precedendoa
destasligeirasnotasbiogrficasedeumprefcioediobrasileira.
PodedizersequeanicaHistriadoEspiritismosurgidaatagora.Fora
delaoqueapareceuataquinopassadeestudolimitadonotempoenoespaoe que,
de formaalguma pode emparelharse com o presente volume onde, alm da
histria descritiva, se encontra, realmente, muito de filosofia da
histria do Espiritismo.
Estasnotasforamescritasparamostraraoleitormenosfamiliarizadocom
asletrasinglesasqueSirArthurConanDoylenoapenasocriadordeSherlockeo
escritordecontospoliciais:umafiguraexpressivanasletrasinglesaseumadas
figurasaqueoEspiritismoinclusiveoEspiritismodefeioreligiosamuito
deve.EmplanointernacionalasuaobraseinscrevelogodepoisdadeAllanKardec
esealinhacomadessesluminaresquesechamaramErnestoBozzano,LonDenis,
CamilleFlammarion,AlexanderAksakof,Vale OweneStaintonMoses.
Osespritasdefalaportuguesaestodeparabnscomaapresentaoem
nossalngua,daobramagnficadeSirArthurConanDoyle.
JulioAbreuFilho
25. 25 HISTRIADOESPIRITISMO PREFCIO sta obra surgiu de pequenos
captulos sem conexo, terminando numa narrativa que abrange, de
certo modo, a histria completa do movimento esprita1
.Suagneserequerumaligeiraexplicao.Euhaviaescritoalguns
estudossemqualquerobjetivoulterioranoserodemeproporcionar,eaoutras
pessoas,umavisoclaradoquesemeafiguravaepisdiosimportantesnomoderno
desenvolvimentoespiritualdognerohumano. Compreendiam estudos sobre
Swedenborg, Irving, A. I. Davis, sobre o
incidentedeHydesville,sobreahistriadasirmsFox,sobreosEddysesobrea
vidadeD.D.Home.Estesjseachavamprontos,quandomeocorreuaideiadeir
mais adiante, dando uma histria mais completa do movimento esprita,
mais completadoqueasatentopublicadasumahistriaquetivesseavantagemde
ser escrita de dentro e com um pessoal conhecimento ntimo dos
fatores caractersticosdesse modernodesenvolvimento.
realmentecuriosoqueessemovimento,quemuitosdensconsideramos como o
mais importante nahistria do mundo desde o episdio de Jesus Cristo,
jamaistenhatidoum historiador,entreosqueaeleestavamligados,eque
possusse
umalargaexperinciapessoaldeseudesenvolvimento.Mr.FrankPodmorereuniu
um grande nmero de fatos e, desprezando os que no se ajustavam aos
seus propsitos, esforouse por sugerir a desvalia dos restantes,
especialmente os fenmenos fsicos que, no seu modo de ver, eram
principalmente tidos como
produtodafraude.HumahistriadoEspiritismoporMr.McCabe,quereduztudo
afraudeeque,elamesma,umafraude,desdequeopblicocomprariaumlivro com
esse ttulo certo de que era um registro ao invs de uma mistificao.
H
tambmumahistriaporJ.ArthurHill,escritadopontodevistaestritamenteda
pesquisa psquica e que se acha muito longe dos fatos reais
provveis. A seguir
temos:ModernoEspiritismoAmericano:umRegistrodeVinteanoseMilagres do
Sculo XIX, pela grande e esplndida propagandistaque a SenhoraEmma 1
Em ingls a forma corrente spiritualism e suas derivaes, para
significar o Espiritismo e outros vocbulos derivados. Allan Kardec
criou a voz do espiritismo e as suas derivaes, para exprimir,
evitandoasnaturaisconfusesquealinguagemcientficaefilosficanopoderiapermitir,umramodo
espiritualismo,Isto,dadoutrinaqueadmiteDeus eaalma.Esteramo,
almdeadmitirDeus,causa primeira, e a alma ou esprito, fora atuante
e inteligente da natureza, instrumento do Criador para a evoluo
geral da vida, admite, ainda, que o ser humano tem vidas
sucessivas, solidrias e sempre
progressivas,aomenosnasuafeiomoralequeDeusnocastiganempremia:anossaexistncia,boa
ou m, consequncia de uma existncia anterior. Os vocbulos cunhados
por Allan Kardec hoje se
achamemtodososgrandeslxicons,muitoemboranaInglaterraenosEstadosUnidostambmseusem,
emrelaoaoEspiritismo,eparaevitarconfuses,aformanewspiritualismesuasderivaes.Nota
doTradutor E
26. 26 ArthurConanDoyle
HardingeBritten,masesteslivrosapenasseocupamdefases,emborasejammuito
valiosos. Finalmente eomelhordetodoshaSobrevivnciadoHomemaps
aMorte,peloReverendoCharlesL.Tweedale.Massetrata,antes,deumabela
exposiorelacionadacomaverdadedocultodoqueumahistriacontinuada.H
histrias gerais do Misticismo, como as de Ennetnoser e Howitt, mas
no h nenhuma histria clara e compreensiva dos desenvolvimentos
sucessivos desse movimento universal. Quando este entrava para o
prelo apareceu um utilssimo compndio de fatos psquicos, por
CampbellHolms. O seu ttulo Os Fatos da Cincia Psquica e a Filosofia
indica, entretanto, que no pode ser apresentado
comoumahistriametdica. claro que semelhante trabalho necessitava
muito de investigao
muitomaisdoquelhepoderiadedicaremminhavidaocupadssima.verdadeque,
dequalquermodo,omeutempoeradedicadoaele,masaliteraturavastaehavia
muitos aspectos do movimentoque me atraam aateno. Emtais
circunstncias
soliciteieobtivealealcooperaodeMr.W.LeslieCurnow,cujosconhecimentos
do assunto e cuja habilidade demonstravam ser inapreciveis. Ele
trabalhou assiduamente nessa vasta mina separou minrios e escria e
deume enorme assistncia em todos os sentidos. Inicialmente euno
esperava maisquematria
prima,masocasionalmenteelemeapresentavametalpuro,doqualmeservi,apenas
alterandoodemaneiraateromeupontodevistapessoal.Nopossoexprimiraleal
assistnciaquemefoidadaesenoincluioseunomecomomeunotopodeste
livro,foipormotivosque ele compreendeecomosquaisconcorda.
ArthurConanDoyle ThePsychicBookshop, AbbeyHouse,
VictoriaStreet.S.W.
27. 27 HISTRIADOESPIRITISMO 1 A HISTRIA DO ESPIRITISMO A
Histria de Swedenborg
impossvelfixarumadataparaasprimeirasapariesdeumaforainteligente
exterior, de maior ou menor elevao, influindo nas relaes humanas.
Os espritastomaramoficialmenteadatade31demarode1848comoocomeo
dascoisaspsquicas,porqueomovimentofoiiniciadonaqueladata.Entretantono
hpocanahistriadomundoemquenoseencontremtraosdeinterferncias
preternaturais e o seu tardioreconhecimento pelahumanidade. A nica
diferena entre essesepisdioseomoderno movimentoque
aquelespodemserapresentados
comocasosespordicosdeextraviadosdeumaesferaqualquer,enquantoosltimos
tm as caractersticas de uma invaso organizada. Como, porm, uma
invaso
poderiaserprecedidaporpioneirosembuscadaTerra,tambmoinfluxoesprita
dosltimosanospoderiaseranunciadoporcertonmerodeincidentes,susceptveis
deverificaodesdeaIdadeMdiaeatmaisparatrs.Umadatadeveserfixada para
incio da narrativa e, talvez, nenhuma melhor que a da histria do
grande
videntesuecoEmmanuelSwedenborg,quepossuibonsttulosparaserconsiderado
opaidonossonovoconhecimentodosfenmenossupranormais. Quando os
primeiros raios do sol nascente do conhecimento espiritual
caramsobreaTerra,iluminaramamaioreamaisaltaintelignciahumana,antes
que a sua luz atingisse homens inferiores. O cume da mentalidade
foi o grande
reformadoremdiumclarividente,topoucoconhecidoporseusproslitos,qualfoi
oCristo. ParacompreendercompletamenteumSwedenborgprecisopossuirseum
crebrodeSwedenborgeistonoseencontraemcadasculo.Eainda,pelanossa
fora de comparao e por nossa experincia dos fatos desconhecidos
para
Swedenborg,podemoscompreender,maisclaramentedoqueele,certaspassagens
desuavida.Oobjetodopresenteestudonotratarohomemcomoumtodo,mas
procurarsitulonoesquemageraldodesdobramentopsquicoaquiabordado,do
qualasuaprpriaIgreja,nasua estreiteza,oimpediria.
Swedenborgera,sobcertosaspectos,umavivacontradioparaasnossas
generalizaes psquicas, porque se costuma dizer que as grandes
inteligncias
esbarramnocaminhodaexperinciapsquicapessoal.Umalousalimpa,porcerto,
maisaptaparanelaescreverseumamensagem.OcrebrodeSwedenborgnoera uma
lousa limpa, mas um emaranhado de conhecimentos exatos de
susceptvel
aquisionaqueletempo.Nuncaseviutamanhoamontoadodeconhecimentos.Ele
era, antes de mais nada, um grande engenheiro de minas e uma
autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro militar que mudou a
sorte de uma das muitas campanhas de Carlos 12, da Sucia. Era uma
grande autoridade em Fsica e em
28. 28 ArthurConanDoyle
Astronomia,autordeimportantestrabalhossobreasmarsesobreadeterminao
das latitudes. Era zoologista e anatomista. Financista e poltico,
antecipouse as
conclusesdeAdamSmith.Finalmente,eraumprofundoestudiosodaBblia,que
se alimentara de teologia com o leite materno e viveu na austera
atmosfera
evanglicaalgunsanosdevida.Seudesenvolvimentopsquico,ocorridoaosvintee
cinco anos, no influiu sobre a sua atividade mental e muitos de
seus trabalhos cientficosforampublicadosapsessadata.
Comumatalmentalidade,muitonaturalque fosse chocadopelaevidncia
dasforassupranormais,quesurgemnocaminhodetodopensador,masoqueno
natural quedevesse ele ser o mdium para tais foras. Em certo
sentido a sua mentalidade lhe foi prejudicial e lhe adulterou os
resultados, postoque, de outro lado,lhetivessesidodegrande
utilidade.Paraodemonstrarbastaconsiderarosdois
aspectossobosquaisoseutrabalho podeserencarado. O primeiro o
teolgico. maioria das pessoas que no pertencem ao
rebanhoescolhidoafiguraseoladointileperigosodeseutrabalho.Porumlado,
aceitaaBbliacomosendo,demodomuitoparticular,umaobradeDeusporoutro
lado,sustentaquea
suaverdadeirasignificaointeiramentediferentedeseubvio
sentidoequeeleeseleajudadopelosanjos,capazdetransmitiraquele
verdadeirosentido.Essapretensointolervel.AinfalibilidadedoPapaseriauma
insignificncia comparada com a infalibilidade de Swedenborg, se tal
fosse admitido.PelomenosoPapainfalvelquandoprofereum
veredictoemmatriade doutrina exctedra, acolitado por seus cardeais.
A infalibilidade de Swedenborg
seriauniversaleirrestrita.Almdissosuasexplicaesnemaomenosseacomodam
razo. Quando, visando apreender o verdadeiro sentido de uma
mensagem de
Deus,temosqueadmitirqueumcavalosimbolizaumaverdadeintelectual,queum
burro significa uma verdade cientfica, uma chama quer dizer
melhoramento, e
assimpordiantecomumainfinidadedesmbolos,parecequenosencontramosno
reino da imaginao, que apenas pode ser comparado com as cifras que
alguns crticos engenhosos pretendem ter descoberto nas peas de
Shakespeare. No assim que Deus manda a Sua verdade a estemundo. Se
tal ponto de vista fosse aceito,ocredodeSwedenborgseria
apenasamatrizdemilheresiasregrediramose iramos encontrarnos
novamente entre as discusses e os silogismos dos escolsticos
medievais. As coisas grandes e verdadeiras so simples e
compreensveis.AteologiadeSwedenborgnemsimplesneminteligvel.Eisto
representaasuacondenao.
Entretanto,quandoentramosnasuafatiganteexegesedasEscrituras,onde
cada coisa significa algo diferente daquilo que obviamente
significa, e quando chegamos a alguns dos resultados gerais de seu
ensino, eles no se acham em desarmonia com o moderno pensamento
liberal, nem com o ensino recebido do
OutroLado,desdequeseiniciaramascomunicaes.Assim,aproposiogeralde
queestemundoumlaboratriodealmas,umcampodeexperincias,noqualo
material refina o espiritual, no sofre contestao. Ele repele a
Trindade no seu sentido comum, mas a reconstitui de maneira
extraordinria, que tambm seria
impugnadaporumUnitrio.Admitequecadasistematemasuafinalidadeequea
virtudenoprivativadoCristianismo.Concordacomoensinoespritaemprocurar
overdadeirosentidodavidadeJesusCristonoseupodercomoexemploerepelea
29. 29 HISTRIADOESPIRITISMO
expiaoeopecadooriginal.Vnoegosmoaraizdetodoomaleadmitecomo
essencialumegosmosadio,naexpressodeHegel.Quantoaosproblemassexuais,
suas ideias so liberais at ao relaxamento. Considera a Igreja de
absoluta
necessidade,semoqueningumseentenderiacomoCriador.Emtamanhaconfuso
de ideias, espalhadas a torto e a direito em grandes volumes,
escritos num latim obscuro, cada intrprete independente seria capaz
de encontrar sua nova religio
particular.MasnoaqueresideomritodeSwedenborg.Essemritorealmente
seria encontrado em suas foras psquicas e nas suas informaes
psquicas, que teriam sido muito valiosas se jamais de sua pena
houvesse brotado uma palavra sobre Teologia. para essas foras e
para essas informaes que nos voltamos agora.
Aindamenino,Swedenborgteveassuasvises.Masessedelicadoaspecto
desuanaturezafoiabafadopelaextraordinariamenteprticaeenrgicaidadeviril.
Entretanto,porvezesveioelatona,emtodaasuavidaemuitosexemplosforam
registrados, para mostrar que possua poderes geralmente chamados
vidncia
distncia,noqualparecequeaalmadeixaocorpoevaibuscarumainformao
distncia,voltandocomnotciasdoquesepassaalhures.Noumapeculiaridade
rara nos mdiuns e pode ser comprovada por milhares de exemplos
entre os
sensitivosespritasmasraranosintelectuaisetambmraraquandoacompanhada
porumestadoaparentementenormaldocorpoquandoocorreo fenmeno.
Assim,noconhecidssimocasodeGothenburg,ondeovidenteobservoue
descreveuumincndioemEstocolmo,atrezentasmilhasdedistncia,comperfeita
exatido, estava ele num jantar com dezesseis convidados, o que e um
valioso
testemunho,OcasofoiinvestigadonadamenosquepelofilsofoKant,queeraseu
contemporneo. No obstante, esses episdios ocasionais eram meros
indcios de foras
latentes,quedesabrocharamsbitamenteemLondres,emabrilde1744.denotar
seque,conquantoovidentefossedeboafamliasuecaeeducadoentreanobreza
sueca, foi nada menos que em Londres que os seus melhores livros
foram publicados, que a sua iluminao se iniciou e, finalmente, que
morreu e foi sepultado. Desde o dia de sua primeira viso at a sua
morte, vinte e sete anos
depois,esteveeleemcontnuocontatocomooutromundo. Namesmanoitediz
deomundodosEspritos,docu.edoinferno,abriuseconvincentementepara
mim,eaencontreimuitaspessoasdemeuconhecimentoedetodasascondies.
Desde ento diariamente o Senhor abria os olhos de meu Esprito para
ver, perfeitamente desperto, o que sepassava nooutro mundo e para
conversar, em plenaconscincia,com anjoseEspritos.
EmsuaprimeiravisoSwedenborgfaladeumaespciedevaporquese
exalavadosporosdemeucorpo.Eraumvaporaquosomuitovisvelecaianocho,
sobreotapete.umaperfeitadescriodaquelesectoplasmasqueconsideramosa
basedosfenmenosfsicos.Asubstnciafoichamada,tambm,ideoplasma,porque
instantaneamentetomaaformaquelhedoEsprito.Noseucaso,conformeasua
descrio,elasetransformavaemvermes,oquerepresentavaumsinaldequeos
seusGuiaslhedesaprovavamoregimealimentareeraacompanhadaporumaviso
pelaclarividncia,dequedeviasermaiscuidadosoaesse respeito.
30. 30 ArthurConanDoyle
Quequepodefazeromundocomessanarrativa?Dizerquetalhomem
eraumloucomas,nosanosqueseseguiram,suavidanodeusinaisdefraqueza
mental. Ou podiam dizer que ele mentia. Mas este era famoso por sua
estrita
vivacidade.SeuamigoCuno,banqueiroemAmsterdam,assimdiziadele:Quando
meolhava,comossorridentesolhosazuis,eracomoseelesestivessemfalandoa
prpriaverdade.Seriaentoautosugestionadoehonestamenteenganado?Temos
que enfrentar a circunstncia de que, em geral, as observaes que
fazia eram
confirmadasdesdeentopornumerososobservadoresdosfenmenospsquicos.A
verdadequefoioprimeiroe,sobvriosaspectos,omaiormdium,deummodo geral
que estava sujeito a erros tanto quanto aos privilgios decorrentes
da mediunidadequespeloestudodamediunidadeseuspoderessero
compreendidos
eque,noesforodeoseparardoEspiritismo,asuaNovaIgrejamostrouabsoluta
incompreenso de seus dons e da posio que a ela cabia no esquema
geral da Natureza. Como um grande pioneiro do movimento esprita,
sua posio tanto compreensvel quanto gloriosa. Como uma figura
isolada com poderes incompreensveis, no h lugar para ele em
qualquer esquema do pensamento religioso,pormaislargamente
compreensivoqueseja. interessante notar que ele considerava os seus
poderes intimamente relacionados com o sistema respiratrio. Como o
ar e o ter nos envolvem,
possvelquealgunsrespiremmaisterdoqueare,assim,alcancemumestadomais
etreo.Semamenordvidaestaumamaneiraelementaregrosseiradeconsiderar
ascoisas.Masessaideiasederramanotrabalhodemuitasescolasdepsiquismo.
LourenceOliphant,quealisnotinhaligao comSwedenborg,escreveuumlivro,
Sympneumata,paraoprovar,OsistemaindianodeIoga,repousasobreamesma
ideia.Entretanto,quemquerquetenhavistoummdiumcair emtranse,deveter
notadoacaractersticainspiraodearcomqueseiniciaoprocessoeasprofundas
expiraescomquetermina.ParaaCinciadofuturoaquiestumpromissorcampo
deestudos.Nisto,comoemqualqueroutroassuntopsquico,necessriocautela.O
autorconheceumuitoscasosemqueocorreramlamentveisresultadosqueforama
consequncia de um desavisado emprego da respirao profunda nos
exerccios psquicos.
Comoaforaeltrica,ospoderesespirituaistmumempregovariado,mas
oseumanejo requerconhecimentoseprecaues.
Swedenborgresumeoassuntodizendoquequandosecomunicavacomos Espritos,
durante uma hora respirava profundamente, tomando apenas a
quantidade de ar necessria para alimentar os seus pensamentos. De
lado essa
peculiaridade,Swedenborgeranormalduranteassuasvises,conquantopreferisse,
naocasio,estars.Parecequeteveo
privilgiodeexaminarvriasesferasdooutro mundo e, conquanto as suas
ideias sobre teologia tivessem marcado as suas
descries,poroutroladoasuaimensaculturalhepermitiuexcepcionalpoderde
observaoedecomparao.Vejamosquaisosprincipaisfatosquesuasjornadas
nostrouxerameatondeelescoincidemcomosque,desdeento,tmsidoobtidos
pelosmtodospsquicos.
Verificouqueooutromundo,paraondevamosapsamorte,consistede vrias
esferas,representando outros tantos graus deluminosidade e de
felicidade
cadaumdensirparaaquelaaqueseadaptaanossacondioespiritual.Somos
31. 31 HISTRIADOESPIRITISMO julgados automaticamente, por uma
lei espiritual das similitudes o resultado
determinadopeloresultadoglobaldenossa vida,demodoqueaabsolvio ou o
arrependimentonoleitodemortetmpoucoproveito. Nessas
esferasverificouque o cenrioeas condiesdestemundoeram reproduzidas
fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade. Viu casas
ondeviviamfamlias,templosondepraticavamoculto,auditriosondesereuniam
parafinssociais,palciosondedeviammoraroschefes. A morte era suave,
dada a presena deseres celestiais que ajudavam os recmchegados na
sua nova existncia. Esses recmvindos passavam
imediatamenteporumperododeabsolutorepouso.Reconquistavamaconscincia
empoucosdias,segundoanossacontagem.
Haviaanjosedemnios,masnoeramdeordemdiversadanossa:eram
sereshumanos,quetinhamvividonaTerraequeoueramalmasretardatrias,como
demnios,oualtamentedesenvolvidas,comoanjos.Demodoalgummudamoscom
amorte.Ohomemnadaperdepelamorte:sobtodosospontosdevistaaindaum
homem,conquantomaisperfeitodoquequandonamatria. Levou consigo no s
as suas foras, mas os seus hbitos mentais
adquiridos,assuaspreocupaes,osseuspreconceitos. Todas as crianas
eram recebidas igualmente, fossem ou no batizadas.
Cresciamnooutromundojovenslhesserviamdemes,atquechegassemasmes
verdadeiras.
Nohaviapenaseternas.Osqueseachavamnosinfernospodiamtrabalhar para a
sua sada, desde que sentissem vontade. Os que se achavam no cu no
tinhamlugarpermanente: trabalhavamporumaposiomaiselevada. Havia o
casamento sob a forma de unio espiritual no mundo prximo,
ondeumhomemeumamulherconstituamumaunidadecompleta.denotarse
queSwedenborgjamaisse casou. No havia detalhes insignificantes para
a sua observao no mundo
espiritual.Faladearquitetura,doartesanato,dasflres,dosfrutos,dosbordados,da
arte,damsica,daliteratura,dacincia,dasescolas,dos
museus,dasacademias,
dasbibliotecasedosesportes.Tudoissopodechocarasintelignciasconvencionais,
conquantosepossaperguntarporquetoleramoscoroasetronosenegamosoutras
coisasmenosmateriais. Os que saram deste mundo velhos, decrpitos,
doentes, ou deformados, recuperavam a mocidade e, gradativamente, o
completo vigor. Os casais
continuavamjuntos,seosseussentimentosrecprocososatraam.Casocontrrio,
eradesfeitaaunio.Doisamantesverdadeirosnososeparadospelamorte,de
vezqueoEspritodomortohabitacomodosobrevivente,atmortedesteltimo,
quandoseencontrameseunem,amandosemais ternamentedoqueantes.
Eisalgumasamostrastiradasdamassaenormedeinformaesmandadas
porDeusatravsdeSwedenborg.Elastmsidoreiteradaspelabocaepelapenados
nossos iluminados espritas. O mundo as desprezou, taxandoas de
concepes insensatas. Contudo, estes novos conhecimentos vo abrindo
caminho quando forem aceitos inteiramente, a verdadeiragrandeza
damisso de Swedenborg ser reconhecida,desdequeseponhade
ladoasuaexegesebblica.
32. 32 ArthurConanDoyle A Nova Igreja, fundada para divulgar os
ensinos do mestre sueco,
converteuseemelementonegativo,emvezdeocuparoseuverdadeirolugar,como
fonte e origem do conhecimento psquico. Quando, em 1848,
desabrochou o movimento esprita quandohomens como Andrew Jackson
Davss o sustentavam atravsdeescritosfilosficosede
poderespsquicos,quedificilmentesedistinguem
dosdeSwedenborg,aNovaIgrejateriafeitobememsaudaressedesenvolvimento,
quecoincidiacomasindicaesdeseuchefe. Em vez disso preferiram, por
motivos difceis de compreender, exagerar
cadapontodivergenteedesconhecertodosospontoscoincidentes,atqueosdois
corposfossemimpelidosparaofrancoantagonismo.Naverdade,todososespritas
deveriamhomenagearSwedenborg,cujobustoeraparaencontrarseemcadatemplo
esprita,porseroprimeiroe omaiordosmodernosmdiuns.Poroutrolado,aNova
Igreja deveria afogar as pequenas diferenas e integrarse de corao
no novo
movimento,contribuindoassuasigrejaseassuasorganizaesparaacausacomum.
Examinando a vida de Swedenborg difcil descobrir as causas que
levaram os seus atuais sectrios a encarar com receio as outras
organizaes psquicas. Aquele fez ento aquilo que estas fazem agora.
Falando da morte de
Polhem,dizovidente:Elemorreusegundafeiraefaloucomigoquintafeira.Eu
tinhasidoconvidadoparaoentrro.Eleviuocochefnebreepresenciouquandoo
fretrobaixousepultura.Entretanto,conversandocomigo,perguntouporqueo
haviamenterrado,seestavavivo.Quandoosacerdotedissequeeleseergueriano
DiadoJuzo,perguntouporqueisso,seelejestavadep.Admirousedeumatal
coisa, ao considerar que, mesmo agora, estava vivo. Isto est
perfeitamente concorde com a experincia de um mdium atual. Se
Swedenborg estava certo,
tambmosmdiunsesto.Denovo:Brahefoidecapitados10damanhefalou
comigos10danoite.Estevecomigo,quasequeininterruptamente,durantealguns
dias. Tais exemplos mostram que Swedenborg no tinha mais escrpulos
em conversarcomosmortosdoqueoCristo,quandonomontefalouaMoisseElias.
Swedenborghaviaexpostoassuasideiascommuitaclareza.Considerando as,
entretanto, h que levarse em conta a poca em que viveu e a sua
falta de
experincianadireoenosobjetivosdanovarevelao.Essepontodevistaque
Deus,porbonsesbiospropsitos,tinhaseparadoomundodosEspritosdonosso,
equeacomunicao noerapermitida,salvorazespoderosasentreasquaisno se
poderia contar a mera curiosidade. Cada estudante zeloso do
psiquismo concordar com isto e cada esprita zeloso opese a que a
coisa mais sria do
mundosejatransformadanumaespciedepassatempo.Soboimpriodepoderosas
razes,nossarazoprincipalquenumapocadematerialismocomoSwedenborg
jamaisimaginou,estamosnosesforandoporprovaraexistnciaeasupremaciado
Espritodemaneiratoobjetivaqueosmaterialistassejamencontradosebatidosno
seuprprioterreno.Seriadifcilimaginarumarazomaisfortequeestaentretanto
temosodireitodeproclamarque,seSwedenborgvivesse agora,seriaochefedo
nossomodernomovimento psquico. Alguns de seus proslitos, entre os
quais o Doutor Garth Wilkinson,
fizeramaseguinteobjeo:OperigoparaohomemdefalarcomosEspritos que ns
todos estamos ligados aos nossos semelhantes e, estando cheios
de
33. 33 HISTRIADOESPIRITISMO maldades, teramos que enfrentar
esses Espritos semelhantes, e eles apenas
confirmariamonossopontodevista.
Aistoresponderemosapenasque,conquantoespecioso,estprovadopela
experinciaque falso.Ohomemnonaturalmentemau.Ohomemmdiobom.
Osimplesatodacomunicaoesprita,nasuasolenidade,despertaoladoreligioso.
Assim,viaderegra,noaminfluncia,masaboa,queencontrada,comoo
provamosbelosemoralizadosregistrosdassesses.Oautorpodedarotestemunho
dequeemcercadequarentaanosdetrabalhopsquico,duranteosquaisassistiua
inmerassessesemmuitoslugares,jamais, numanicaocasio,ouviuumapalavra
obcena ou qualquer mensagem que pudesse ferir os ouvidos da mais
delicada mocinha.Outrosveteranosespritasdoomesmotestemunho. Assim,
enquanto absolutamente certo que os maus Espritos sejam
atradosparaumambientemau,naprticaatualmuitoraroquealgumsejapor
elesincomodado.SetaisEspritosaparecerem,oprocedimentocorretonorepeli
losantesconversarrazovelmentecomeles,esforandoseporquecompreendam
sua prpria condio e o que devem fazer por seu melhoramento. Isto
ocorreu muitasvezes naexperinciapessoaldo
autor,ecomosmaisfelizesresultados. Algumasinformaespessoais sobre
Swedenborgcabemcomo termo a este
ligeirorelatodesuasdoutrinas.Visase,assim,antesdetudo,indicarasuaposio
noesquema geral.
Deveeletersidomuitofrugal,prticoetrabalhadorumrapazenrgicoe
umvelhomuito amvel.Parecequeavidaoconverteunumacriaturamuitobondosa
e venervel. Era plcido, sereno e sempre disposto conversao, que no
descambavaparaopsiquismo
senoquandoqueriaoseuinterlocutor.Otemadessas
conversaserasemprenotvel,masele
seafligiacomagagueiraquelhedificultavaa pronunciao. Era alto,
delgado, de rosto espiritual, olhos azuis, peruca at os
ombros,roupasescuras,calescurtos,fivelasnossapatosebengala.
SustentavaSwedenborgqueumadensanuvemsehaviaformadoemredor
daTerra,devidogrosseriapsquicadahumanidadeequedetemposemtempos
havia um julgamento e uma limpeza, assim como a trovoada aclara a
atmosfera
material.Viaqueomundo,jemseusdias,entravanumasituaoperigosa,devido
semrazodasIgrejasporumlado,eareaocontraaabsolutafaltadereligio,
causada por isto. As modernas autoridades em psiquismo,
especialmente Vale
Owen,falaramdessanuvemcrescenteehumasensaogeraldequeonecessrio
processodelimpezageralnotardar. Uma notcia sobreSwedenborg, do
ponto de vista esprita,no pode ser melhor conduzida do que por
estas palavras, extradas de seu dirio: Todas as
afirmaesemmatriadetecilogiaso,comosempreforam,arraigadasnocrebro
edificilmentepodemserremovidaseenquantoaestiverem,averdadegenuna no
encontrar lugar. Era ele um grande vidente, um grande pioneiro do
conhecimento psquico e sua fraqueza reside naquelas mesmas palavras
que escreveu.
Ageneralidadedosleitoresquequiseremirmaisadianteencontrarosmais
caractersticos ensinos de Swedenborg em suas obras: Cu e Inferno, A
Nova
JerusalmeArcanaCoelestia.SuavidafoiadmiravelmentedescritaporGarth
Wilkinson, Trobridge e Brayley Hodgetts, atual presidente da
Sociedade Inglsa
34. 34 ArthurConanDoyle
Swedenborg.Adespeitodetodooseusimbolismoteolgico,seunomedeveviver
eternamente como o primeiro de todos os homens modernos que
descreveram o
processodamorteeomundodoalm,oquenosebaseianovagoextticoenas
visesimpossveisdasvelhasIgrejas,mascorresponde
atualmentesdescriesque
nsmesmosobtemosdaquelesqueseesforampornostrazerumaideiaclaradesua
novaexistncia.
35. 35 HISTRIADOESPIRITISMO 2 Edward Irving: os shakers histria
de Edward Irving e sua experincia, entre 1830e1833, com as
manifestaes espritas, so de grande interesse para o estudante de
psiquismo e ajuda a vingar o abismo entre Swedenborg, de um lado e
AndrewJacksonDavis,dooutro. Osfatossoosseguintes:
EdwardIrvingpertencequelamaispobreclassedetrabalhadoresbraais
escoceses, que produziu tantos homens de valor. Da mesma origem e
da mesma poca de Thomas Carlyle, Irving nasceu em Annan, em 1792.
Depois de uma juventude dura e aplicada ao estudo, desenvolveuse
como um homem muito
singular.FsicamenteeraumgiganteeumHrculesemforaseufsicoesplndido
seraestragadopelahorrvelsalinciadeumolho,defeitoque,comoopaleijado
deByron,decertomodopareciaapresentarumaanalogianasesquisiticesdocarter.
Sua inteligncia era mscula, ampla e corajosa, mas destorcida pela
primeira
educaonaacanhadaescoladaIgrejaEscocesa,ondeosdurosecruispontosde
vistadosvelhosConvencionaisumProtestantismoimpossvel,querepresentava
areaocontraumCatolicismoimpossveljamaisenvenenouaalmahumana. Sua
atitude mental era estranhamente contraditria, pois, se havia
herdado essa
atrapalhadateologia,deixaradeherdarmuitodaquiloqueopatrimniodomais
pobre escocs. Opunhase a tudo quanto fosse liberal e at mesmo
elementares
medidasdejustia,comoaLeideReformade1832,queneleencontrouumaforte
oposio. Esse homem estranho, excntrico e formidvel tinha tido o
prprio
ambientenosculoXVII,quandoosseusprottipossereuniamnascharnecasde
Galloway e exterminavam ou, possivelmente, atacavam a brao os
drages de Claverhouse. Mas a vida continuou e ele teve que escrever
o seu nome de certa
maneiranosanaisdesuapoca.SabemosdesuaextremamocidadenaEsccia,da
rivalidadecomseuamigoCarlylenoafetopelainteligenteevivaJaneWelsh,de
seusgiroseexibiesdefora,desuacurtacarreiracomo
violentomestreescolaem Kirkcaldy, de seu casamento com uma filha de
um ministro naquela cidade e,
finalmente,desuanomeaoparacura,ouassistentedograndeDr.Chalmers,que
era ento o mais famoso clrigo da Esccia e cuja administrao na
parquia de
GlasgowumdosmaisinteressantescaptulosdahistriadaIgrejaEscocesa.Neste
cargo ele adquiriu, no trato dos homens, o conhecimento com as
classes mais
pobres,oqueconstituiamelhoreamaisprticapreparaoparaavida.Semisto
ningumrealmente completo. Aesse
tempohaviaumapequenaigrejaescocesaemllattonGarden,forade
Holborn,emLondres,quetinhaperdidooseupastoreseachavaemposiocrtica,
quer espiritual, quer financeiramente. A vacncia foi oferecida ao
assistente do A
36. 36 ArthurConanDoyle Doutor Chalmers que, depois de alguma
reflexo, aceitoua. A a sua eloquncia
sonoraeassuasluminosasexplicaesdoEvangelhocomearamaatrairaateno e,
sbitamente, o estranho gigante escocs ficou na moda. A rua humilde,
nas
manhsdedomingo,ficavaatravancadadecarruagens,ealgunsdosmaisnotveis
homens de Londres, bem como senhoras, acotovelavamse dentro do
pequeno
templo.evidentequetamanhapopularidadenopodiadurarequeocostumedo
pregador de expor o texto durante uma hora e meia era muito para a
elegncia
londrina,emboraaceitvelaonortedeTweed.Finalmentefoiremovidoparauma
igrejamaioremRegentSquare,comcapacidadeparaduasmilpessoaseondehavia
assentossuficientesparaseacomodaremdemaneiradecente,emboraopregadorj
nodespertasseointeressedosprimeirosdias.Deladoasuaoratria,pareceque
Irvingfoiumpastorconscienciosoemuitotrabalhador,quelutavacontinuamente
para satisfazer as necessidades materiais dos mais humildes
elementos de seu rebanho,semprepronto,diaenoite,nocumprimentode
seudever.
Noobstante,logocomearamaslutascomasautoridadesdesuaIgreja.O
assuntoemdisputaconstituiuumabonitabaseparaumaquerelateolgicadaquele
tipoque fezmaismalaomundodoqueavarola.AquestoeraseoCristotinhaem
Siapossibilidadede
pecar,ouseaDivinaPorodoSeuSerconstituaumabarreira absolutacontraas
tentaesfsicas.
SustentavamunsqueaassociaodeideiascomoCristoepecadoerauma
blasfmia,Oteimosoclrigo,entretanto,replicava,comalgumasmostrasderazo,
que a menos que o Cristo tivesse a capacidade de pecar e a ela
resistisse
vitoriosamente,oseudestinoterrenonoeraomesmoqueonossoesuasvirtudes
despertavammenosadmirao.OassuntofoidiscutidoforadeLondrescommuita
seriedadeeporumtempoenorme,tendocomoresultadoumadeclaraounnime do
presbitrio, condenando o ponto de vista do pastor. Entretanto,
tendo a sua congregao, por sua vez, manifestado uma inqualificvel
aprovao, ele pde desprezaracensuradeseusirmosoficiais.
Masummaiorobstculoseachavasuafrente.OencontrodeIrvingcom
elelevouoseunomeavivercomovivemtodososnomesaqueseassociamreais
xitosespirituais.. Inicialmente h que considerar que Irving estava
profundamente
interessadonasprofeciasbblicas,especialmentenasvagaseterrveisimagensde
SoJoo,eosestranhosvaticniosdeDaniel.Refletiumuitosobreosanoseosdias
marcantesdoperododeiraquedeviaprecederaSegundaVindadoSenhor.Por
aquelapocapelasalturasde1830haviaoutrosprofundamenteimersosnas
mesmassombriasespeculaes.Entreestescontavaseumricobanqueiro,chamado
Drumond,donodegrandecasadecampoemAlbury,pertode Guildford.Nessacasa
aquelesestudiososdaBbliacostumavamreunirsedevezemquando,discutindoe
comparando seus pontos de vista to minuciosamente que no era raro
que suas
sessessealongassemporumasemana,sendoosdiasinteiramenteocupadosdesde
oalmooat o jantar. Este grupo era chamado os profetas de Albury.
Excitados pelos sucessos polticos que haviam levado Lei da Reforma,
todos eles
consideraramqueasbasesmaisprofundastinhamsidoabaladas.difcilimaginar
qualteriasidoasuareaosetivessemchegadoatestemunharaGrandeGuerra.
Seja como for, estavam convencidos de que estaria prximo o fim de
tudo e
37. 37 HISTRIADOESPIRITISMO
buscavamimpacientessinaiseportentos,torcendoasvagasesinistraspalavrasdos
profetasde todasasmaneirasemfantsticasinterpretaes.
Porfim,acimadomontonohorizontedosacontecimentosapareceuuma
estranhamanifestao. Havia umalenda de que os dons espirituais dos
primeiros
diasreapareceriamantesdofim,eentreelesaparentementeestavaoesquecidodom
daslnguas,voltandocomopatrimniodahumanidade.Comeouem1830aooeste
daEsccia,ondeossensitivosCampbelleMacDonalddiziamqueosanguecltico
sempre tinha sido mais sensvel s influncias espirituais do que a
mais pesada
correnteteutnica.OsProfetasdeAlburyexerciamamaioratividadeintelectuale
umemissriofoimandadopelaIgrejadeMr.Irvingparainvestigarerelatarocaso.
Verificousequeacoisaeraexata.Aspessoastinhamboareputaoeumadelas,na
verdade uma senhora cujo carter poderia antes ser descrito como de
santa. As estranhas lnguas em que ambos falavam, por vezes eram
ouvidas e suas
manifestaeseramacompanhadaspormilagresdecuraeoutrossinais.claroque
no havia fraude ou mistificao, mas um verdadeiro influxo de alguma
fora estranhaquelevavaagentede retorno aostemposapostlicos.
Osfiisesperavamansiososnovosacontecimentos.
Estesnosefizeramesperar:irromperamnaprpriaIgrejadeIrving.Foi
emjulhode1831quecorreuoboatodequecertosmembrosdacongregaotinham
sido tomados de maneira estranha em suas prprias residncias e que
discretas
manifestaesocorriamnasacristiaeoutrosrecintosfechados.Opastoreosseus
conselheirosestavamperplexos,semsaberseumademonstraomaispblicairia
sertolerada,Ocasoresolveuseporsimesmo,porumaespciedeacordocomos
Espritose,emoutubrodomesmoano,oprosaicoserviodaIgrejadaEscciafoi
sbitamente interrompido pelos gritos de um possesso. Foi to rpido e
com
tamanhaviolncia,tantonoserviomatinal,quantonodanoite,queseestabeleceuo
pniconaigrejadetalmodoque,senofossepelatrovejantesplicadogigante
pastor: Oh! Senhor serena o tumulto do povo! talvez se tivesse
seguido uma
tragdia.Tambmhouvemuitosussurroemuitosbradosdosvelhosconservadores.
Como quer que seja, a sensao foi considervel e os jornais do dia
apareceram cheiosdecomentrios,que
estavamlongedeserfavorveiserespeitosos.
Osgritosvinhamdehomensedemulherese,noprimeirocaso,sereduziam a
rudos ininteligveis, que tanto eram meros grunhidos quanto
linguagem inteiramente desconhecida. Sons rpidos, queixosos e
ininteligveis, diz uma
testemunha,Haviaumaforaeumsomcheio,dizumaoutra,dequepareciam
incapazesosdelicadosrgosfemininos.Rebentavamcomassombroeterrvel
fragor, diz uma terceira. Muitos, entretanto, ficavam fortemente
impressionados com aqueles sons entre eles, Irving. H na voz um
poder de impressionar o
coraoedominaroEspritodemaneiraquejamaissenti.Humacadncia,uma
majestadeeumaconstantegrandezaquejamaisouvifalardecoisasemelhante.
muitoparecidocomosmaissimpleseosmaisantigoscantosnoserviodacatedral
de tal modo que cheguei a pensar que aqueles cantos, cuja
reminiscncia pode
chegaraAmbrso,StoasinspiradasprecesdaIgrejaprimitiva.
Entretanto,embreve,palavrasininteligveiseminglsforamadicionadas aos
estranhos rudos. Em geral eram jaculatrias e preces, sem bvios
sinais de carter supranormal, salvo que se manifestavam em momentos
inadequados e
38. 38 ArthurConanDoyle independentes da vontade de quem as
proferia. Nalguns casos, entretanto, essas foras atuavam at que o
sensitivo fosse, sob sua influncia, capaz de longas
arengas,deexporaleidamaisdogmticamaneira,sobrepontosdedoutrinaefazer
censurasque,incidentementeeramcarapuasparaosofrido pastor.
Podeterhavidodefatohouve,provvelmenteumaverdadeiraorigem
fsicaparataisfenmenosmaselessetinhamdesenvolvidonumterrenodeestreita
e fantica teologia, destinada a levlos a runa. O prprio sistema
religioso de
Swedenborgerademasiadamenteacanhadoparareceberaplenitudedessesdonsdo
esprito.Demodoquepodeimaginarseaquesereduziram,quandorecebidosnos
estreitos limites de uma igreja escocesa, onde cada verdade h de
ser virada e revirada at ajustarse a algum xitofantstico. O bom
vinhonovo no pode ser guardado em insuficientes odres velhos.
Tivesse havido uma revelao mais
completa,ecertamenteoutrasmensagensteriamsidorecebidasdeoutrasmaneiras,
as quais teriam apresentado o assunto em suas justas propores e um
dom espiritual teria sido comprovado por outros. Mas ali no havia
desenvolvimento: havia o caos. Alguns daqueles ensinosno se
acomodavam ortodoxia e,assim, foram considerados obra do diabo.
Alguns dos sensitivos condenavam os outros como herticos.
Levantavasevozcontravoz.Opiordetudoquealgunsdosoradoresse
convenceramdequeseusdiscursoseramdiablicos.Parecequesuarazoprincipal
queosdiscursosnoseacomodavamssuasprpriasconvicesespirituais,oque
nospoderiaparecerantesumaindicaodequeeramanglicos.Tambmentravam
pelo escorregadio caminho da profecia e ficavam envergonhados
quando suas profeciasnoserealizavam. Algunsfatos
constatadosatravsdessessensitivosequechocavamasua
sensibilidadereligiosa poderiam ter sido melhor compreendidos por
uma gerao maisesclarecida. Assim, admitese que tenha sido um dos
estudiosos da Biblia que tenha dito, em relao Sociedade Bblica, que
ela era um curso em toda a Terra, cobrindo o Esprito de Deus, pela
letra da palavra de Deus. Certo ou errado,
parecequeoenunciadoindependedequemoanunciaeseachadepleno acordo com
osensinosespirituaisqueatualmenterecebemos.
Enquantoaletraforconsideradasagrada,tudopodeserprovadoporaquele
livro,inclusive opuromaterialismo.
UmdosprincipaisiniciadoseraumtalRobertBaxterequenodeveser
confundidocomoBaxter,que,unstrintaanosmaistarde,estavaligadoanotveis
profecias.ParecequeesseRobertBaxtereraumcidadoslido,zelosoeprosaico,
queviaasEscriturasmaisdopontodevistadeumdocumentolegal,comumvalor
exato para cada frase especialmente para aquelas frases que serviam
ao seu prprio esquema hereditrio da religio. Era um homem honesto,
com uma conscincia inquieta, que o preocupava continuamente com os
menores detalhes,
enquantoodeixavaimperturbvelemrelaolargaplataforma,sobreaqualeram
construdasassuasopinies.Essehomemerafortementeafetadopeloinfluxodo
Espritoou,parausarasprpriaspalavras,asuabocaeraabertapelafora.De
acordocomele,odia14dejaneirode1832foiocomeodaquelesrsticos1260,
diasquedeveriamprecederaSegundaVindaeofimdomundo.
39. 39 HISTRIADOESPIRITISMO Tal profecia deveria ter sido
particularmente simptica a Irving, com os
seussonhosmilenrios.Masmuitoantesqueaquelesdiassetivessemcompletado,
IrvingestavaemseujazigoeBaxtertinharepudiadoaquelasvozesque,aomenos
naquelecaso,ohaviam enganado.
BaxterhaviaescritoumfolhetocomopomposottulodeANarrativade
FatosCaractersticosdeManifestaesSupranaturais,emMembrosdaCongregao
de Irving e outras pessoas, na inglaterra e na Esccia, e
inicialmente no Prprio
Autor.Averdadeespiritualnopoderiaviratravsdeumatalmente,domesmo
modonoopoderiaaluzbrancaatravsdeumprismae,aindanessecaso,hque
admitiraocorrnciademuitascoisasaparentementesobrenaturais,demisturacom
muitas duvidosas e algumas absolutamente falsas. O objetivo do
folheto
principalmenteabjurarosseusmausguiasinvisveis,demodoapodervoltarsoe
salvoaoseiodaIgrejaEscocesa.Observese,entretanto,queumoutromembroda
congregao de Irving escreveu um panfleto de resposta com um ttulo
enorme,
mostrandoqueBaxterestavacertoenquantoinspiradopeloEsprito,esatniconas
suas errneas concluses. Esse folheto interessante por conter cartas
de vrias
pessoasquepossuiamodomdaslnguas,mostrandoqueeramgentedeculturae
incapazesdeumamistificaoconsciente.
Quedirdetudoissoumimparcialestudiosodopsiquismo,familiarizado
comosdoismodernosaspectos?Pessoalmentepareceaoautorquetenhasidoum
verdadeiro influxo psquico, mascarado por uma acanhada teologia
sectarista da descrio literal, pelo que foram censurados os
Fariseus. Se lhe permitido aventurarumaOpinio,estaqueo
perfeitorecipientedoensinoespritaohomem culto, que abriu caminho
atravs de todos os credos ortodoxos e cuja mente receptiva e
ardente uma superfcie limpa e pronta para registrar uma nova
impresso exatamente como a recebe. Tornase, assim, um verdadeiro
filho e
discpulodosensinosdooutromundoetodososoutrostiposdeespritasparecem
acomodados.Istonoalteraofatodequeanobrezapessoaldocarterpodefazerdo
iniciadohonestoumtipomuitssimomaiselevadodoque osimplesespritamas
istosseaplicaatualfilosofia.OcampodoEspiritismoimensamentevastoe
nele cadavariedade decristo,comodemaometano,de
hinduoudeparsipodeviver
emfraternidade.MasasimplesadmissodoretornodoEspritoedacomunicao
nosuficiente.Muitosselvagensoadmitem.Necessitamostambm,umcdigode
moral.EseconsideramosoCristocomoummestrebenevolenteoucomoumdivino
embaixador,Seuensinoticoatual,deumaformaoudeoutra,mesmoquandono
conjugadocomoseunome,umacoisaessencialaosoerguimentodahumanidade.
Mas deve ser sempre controlado pelarazo e aplicado conforme o
esprito eno conformealetra.
Isto,porm,umadigresso.Nasvozesde1831hsinaisdeverdadeira
forapsquica.
umareconhecidaleiespiritualquetodamanifestaoPsquicasofreuma
distoroquandoapreciadaatravsdeummdiumdeestreitosectarismoreligioso.
tambm uma lei que as pessoas presunosas e infatuadas atraem
Espritos
malvolosesoalvodoespritodomundo,dosquaissetornamjoguetesatravsde
grandes nomes e de profecias que as tornam ridculas. Tais foram os
guias que
40. 40 ArthurConanDoyle desceramsobreorebanhodeMr.Irvinge
produziramdiversosefeitos,bonsemaus, conformeoinstrumentoempregado.
A unidade da Igreja, que tinha sido sacudida pela prvia censura do
presbitrio,noresistiuaessenovogolpe.Houveumagrandecisoeoprdiofoi
reclamado pelos administradores. Irvng e os partidrios que lhe
ficaram fiis
andaramprocuradeumnovolocal,evieramencontrlonasalaqueusavaRobert
Owen,osocialista,filantropoelivrepensador,destinado,vinteanosmaistarde,aser
umdospioneirosconversosdoEspiritismo.A,noGraysInnRoad,Irvingreuniu
osfiis.NosepodenegarqueaIgreja,talqualaorganizou,comoseuanjo,os
seus presbteros, seus diconos, suas lnguas e suas profecias, era a
melhor reconstituio da primitiva Igreja Crist jamais realizada. Se
Pedro ou Paulo se
reencarnassememLondresteriamficadoconfusose,at,horrorizadosanteaIgreja
de So Paulo ou a Abadia de Westminster mas certamente teriam
sentido uma atmosfera perfeitamente familiar na reunio presidida
por Irving. Um sbio
reconhecequehinmerasdireesparanosaproximarmosdeDeus.Amentedos
homenseoespritodostemposvariamdereaesgrandecausacentraleapenas
podemos insistirnuma caridademuito ampla para consigo mesmo e para
com os outros.Parecequeeraissooquefaltavaa Irving.
Erasemprepelomodelodaquiloqueeraumaseitaentreseitasquemediao
universo. Haviaocasiesemque ele
eravagamenteconscientedissoepossvelque aquelas lutas com Apollyon,
de que ele se lamenta, com o Bunyan e os velhos Puritanos que
costumavam lamentarse, tenham sido uma estranha explicao.
Apollyonera,realmente,oEspritodeVerdadeealutainteriornoeraentreaFe
oPecado,masrealmenteentreaobscuridadedodogmaherdadoealuzinerente
razo instintiva, dom de Deus erguendose para sempre em revolta
contra os absurdosdohomem.
MasIrvingviveumuitointensamenteeassucessivascrisesporquepassou o
esgotaram.
Essasdiscussescomtelogosteimososecomrecalcitrantesmembrosde
seurebanhosenosafiguramcoisastriviais,quandovistasadistnciamasparaele,
comaquelaalmadevotada,ardenteetempestuosa,eramvitaiseterrveis.Parauma
intelignciaemancipada,umaseitaououtraindiferentemasparaIrving,querpela
herana,querpelaeducao,aIgrejaEscocesaeraaArcadeDeuseeleoseufiele
zeloso filho que, conduzido pela sua prpria conscincia, tinha
avanado e
encontradoaslargasportasqueconduzemSalvaofechadasssuascostas.Era
umgalhocortadodarvoreeiasecando.umacomparaoe maisqueisto,porque se
tornou, fsicamente, uma verdade. Aquele gigante da meiaidade
murchou e
encolheu.Seuarcabouovergou.Asfacestornaramsecavadaseplidas.Osolhos
brilhavamdefebrefatalqueoconsumia.Eassim,trabalhandoatofim,tendonos
lbiosaspalavras:Seeumorrer,morrereicomoSenhor,asuaalmapassoupara
aquela luz mais clara e mais dourada, na qual o crebro encontra
repouso e o Espritoansiosoentra
numapazenumaseguranajamaisencontradasnavida. Alm desse incidente
isolado da Igreja de Irving, houve uma outra manifestao psquica
naqueles dias, que levou mais diretamente revelao de Hydesville.
Foi o desabrochar de fenmenos espritas nas comunidades dos
41. 41 HISTRIADOESPIRITISMO shakers, nos Estados Unidos, e que
despertou menos ateno do que merecia. Parece que de um lado essa
boa gente se ligava aos shakers, e do outro aos
refugiadosdasCevennes,vindosparaaInglaterraparasesubtrairemperseguio
deLuisXIV. Mesmo na Inglaterra as suas vidas inofensivas no os
livraram da perseguio dos fanticos e eles se viram forados a
emigrar para os Estados Unidos, durante a Guerra da Independncia. A
fundaram estabelecimentos em