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UNISALESIANO
Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium
Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Metodologia do Ensino
Superior
Maria Regina Ferreira
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO ENSINO
SUPERIOR
LINS-SP
2009
2
MARIA REGINA FERREIRA
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO ENSINO SUPERIOR
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, como requisito parcial para obtenção do título de especialista em Metodologia do Ensino Superior sob a orientação dos Professores M.Sc. Fátima Eliana Frigatto Bozzo e M.Sc. Heloisa Helena Rovery da Silva.
Lins - SP
2009
3
Ferreira, Maria Regina A importância da leitura no ensino superior / Maria Regina Ferreira. – – Lins, 2009.
38p. il. 31cm.
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UNISALESIANO, Lins, SP para Pós-Graduação “Lato Sensu” em Metodologia do Ensino Superior, 2009
Orientadores: Fátima Eliana Frigatto Bozzo; Heloisa Helena Rovery da Silva
1. Leitura. 2. Conhecimento. 3. Pesquisa Educacional. I Título
CDU 37
4
MARIA REGINA FERREIRA
A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO ENSINO SUPERIOR
Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,
para obtenção do título de especialista em Metodologia do Ensino Superior.
Aprovada em: ____/____/____
Banca Examinadora:
Prof. M.Sc. Fátima Eliana Frigatto Bozzo
Mestre em Educação pela USC – Bauru/SP
Profª. Ms. Heloisa Helena Rovery da Silva
Mestre em Administração pela CNEC/FACECA – MG
LINS – SP
2009
5
Dedico este trabalho à minha
família, que durante todo tempo
demonstraram carinho e compreensão
comigo e que lutaram muito para
poderem agora aplaudirem esta vitória.
6
AGRADECIMENTOS
Aos professores e orientadores:
Pela paciência, dedicação e por passarem seus conhecimentos.
7
RESUMO
Apesar de todo o avanço tecnológico observado na área de comunicação, principalmente audiovisuais, nos últimos tempos, ainda é, fundamentalmente, pois com a leitura que se realiza o processo de transmissão/aquisição da cultura. Daí a importância capital que se atribui ao ato de ler, enquanto habilidade indispensável, nos cursos de graduação. O objetivo da pesquisa é descrever a importância da leitura no ensino superior. A leitura é o ato de se envolver, de se sensibilizar, de criar, de conhecer e de se atualizar. É um envolvimento tanto psicológico quanto prático, físico, que a pessoa adquire, pois sua sensibilidade de conhecimento ultrapassa todos os sentidos. Através dos livros, jornais, revistas, gibis, entre outros, o ser humano descobre um mundo esclarecedor. A leitura para formação do indivíduo é de muita importância nos dias de hoje, sendo primordial analisar os fatores que impedem e apresentar caminhos de renovação e qualificação. A leitura sempre teve um papel social de grande interferência na sociedade, como pesquisa educacional e sua evolução diante dos problemas sociais, políticos e econômicos. A leitura tem por finalidade levar outros mundos possíveis, seja a literatura ou as revistas e livros. Pode entreter ao mesmo tempo em que favorece a reflexão sobre a realidade ou a fuga de dificuldade que se enfrenta no cotidiano. Além disso, desperta sonhos, curiosidades e ativa a criatividade. Aprender a ler não é uma tarefa tão simples, pois exige uma postura crítica, sistemática e intelectual por parte do leitor, e esses requisitos básicos só podem ser adquiridos através da prática. Palavras-chave: Leitura. Conhecimento. Pesquisa Educacional.
8
ABSTRACT
Despite all the technological advances in the area of communication, especially media in recent times, it is still, fundamentally, because the reading takes place the process of transmission and acquisition of culture. Hence the importance it attaches to the act of reading as a skill essential in undergraduate courses. The purpose of the study is to describe the importance of reading in higher education. Reading is the act of getting involved, to raise awareness, to create, to learn and to upgrade. It is an involvement of both psychological and practical, physical, that the person acquires, for his sensitivity knowledge surpasses all directions. Through books, newspapers, magazines, comic books, among others, human beings discover a world enlightening. The reading for the formation of the individual is very important nowadays, and analyze the key factors that prevent and present ways of renewing and qualification. Reading has always had a social role as a great influence in society, such as educational research and developments on the social, political and economic. The reading is intended to bring other possible worlds, be it literature or magazines and books. Can entertain at the same time it promotes reflection on the reality or the escape of difficulties we face in everyday life. Moreover, waking dreams, curious and active creativity. Learning to read is not a simple task, since it requires a critical, systematic and intellectually from the reader, and these basic requirements can only be acquired through practice.
Keywords: Reading. Knowledge. Educational Research.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................. 10
CAPÍTULO I - LEITURA .................................................................................. 12
1 CONCEITO DE LEITURA E SUAS IMPLICAÇÕES................................. 12
1.1 O que é ler?........................................................................................... 12
1.2 A importância do ato de ler.................................................................... 13
1.3 A leitura na escola ................................................................................. 14
CAPÍTULO II - LEITURA PARA A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO................... 16
2 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO 16
2.1 Leitura infantil ........................................................................................ 19
2.1.1 Contos de fadas................................................................................. 21
2.2 Leitura infanto-juvenil ............................................................................ 21
CAPÍTULO III - LEITURA NO ENSINO SUPERIOR ....................................... 23
3 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO ENSINO SUPERIOR...................... 23
3.1 Práticas de leitura na graduação........................................................... 25
3.2 Leitura: compreensão e crítica .............................................................. 26
3.2.1 Textos ................................................................................................ 27
3.3 A aprendizagem do ensino e da leitura ................................................. 29
CONCLUSÃO .................................................................................................. 34
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 36
10
INTRODUÇÃO
Desde os tempos primitivos a escrita foi necessária para identificar
momentos, descobrimentos e com isso, no decorrer dos tempos ela se
desenvolve para dar continuidade aos avanços da humanidade.
Decorrência disso, a leitura torna-se uma mania, uma maneira de se
relacionar, de se informar em relação com outros pensamentos, outros países,
culturas diferentes, religiões, etc.
O processo de comunicação tornou-se a essência do mundo moderno,
como Freire (2005) disse: a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra, e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquela.
Com a leitura se pode compreender amplamente a noção das noticias,
dos acontecimentos, pois sem o saber da leitura, a pessoa começa a ter um
bloqueio na capacidade de entendimento, a se frustrar com isso, se tornando
impossibilitada de compreender, de conhecer tanto no contexto pessoal quanto
para o resto do mundo.
O educador que trabalha no processo de iniciação da leitura,
principalmente com crianças, tem que possuir sensibilidade ao ler, pois através
da voz, gera emoções, gestos que tornam a leitura interessante e
conseqüentemente começa a dar impulso para o aprendizado.
O objetivo do trabalho é descrever a importância da leitura, tanto para a
formação no indivíduo, como para alunos que cursam o ensino superior.
Durante a pesquisa levantou-se o questionamento: quais os benefícios
que a leitura traz para o indivíduo durante a sua formação escolar?
Em resposta, procurou-se demonstrar, através de uma revisão
bibliográfica entre os anos de 1974 a 2009, a verdadeira importância do ato de
ler e suas implicações na formação do indivíduo, principalmente quando este
cursa o ensino superior.
O trabalho está assim dividido:
Capítulo I: descreve o que é a leitura, seus conceitos, implicações e sua
importância.
Capítulo II: fala sobre a importância da leitura para a formação do
indivíduo.
12
CAPÍTULO I
LEITURA
1 CONCEITO DE LEITURA E SUAS IMPLICAÇÕES
1.1 O que é ler?
Segundo Orlandi (1988), a leitura pode ter vários sentidos como na
escola que significa o aprender a ler e escrever, em termos acadêmicos as
várias formas de compreender um texto, a leitura também pode ser uma
ideologia ou uma atribuição de sentidos, entre outras definições.
Ler é saber compreender, interpretar, e essa interpretação não é única,
depende de cada pessoa, de seu contexto de vida, de sociedade, de trabalho,
de família, de época, entre outros. Um texto para ser legível depende desses
fatores e também do leitor virtual que se insere dentro do texto, pois se a
relação entre leitor virtual (leitor para que o autor destina o texto) e leitor real
(pessoa que lê o texto) é muito distante e fica difícil haver a compreensão.
E o que é compreensão? Para Freire (1992), a compreensão do texto a
ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o
texto e o contexto, ou seja, se entende a partir de que se conhece o contexto
do que é falado no texto, então a compreensão do texto é mais importante do
que simplesmente decodificar as palavras, a compreensão faz com que a
leitura seja um momento crítico.
Um texto pode ter vários sentidos escondidos que somente com essa
leitura crítica pode-se compreender. Um mesmo texto pode ser lido de várias
formas: comparando com outro; procurando saber o que o autor quis dizer
(dessa forma de leitura não se pode abster de saber o contexto histórico do
autor); procurando saber o que o professor quer que se compreenda do texto;
ou ler procurando uma multiplicidade de sentidos no texto.
Martins (1994), conceitua a leitura não somente para decifrar as
palavras, mas para refletir o que esta sendo abordado. O ato de ler está
13
extremamente relacionado com a escrita, trazendo a si o texto e elevando o
pensamento. A reflexão da leitura organiza e eleva o grau de conhecimento,
proporcionando assim, um conhecimento mais amplo.
A leitura é tão importante que desde o início das civilizações, quem
detém a palavra, ou a capacidade de comunicação é quem está com o poder, e
até hoje continua assim, o governo não quer que o povo saiba realmente ler,
ele quer pessoas alfabetizadas de letras, para não ser categorizado como país
subdesenvolvido, mas quer analfabetas de compreensão, para poder continuar
no poder.
A leitura nada mais é do que uma forma de absorver a cultura, pois ela
tanto pode ser feita assistindo a uma peça, quanto a um pagode ou a leitura de
um livro. Ou seja, a leitura, vista de um aspecto mais amplo e completo, traz a
cultura, e há a necessidade de se conhecer a cultura, para haver a realidade da
escolha; não há preferência se não há o conhecimento da opção.
Ler é prazer e não dever.
1.2 A importância do ato de ler
O ato de ler é muito importante, pois, através da leitura pode-se adquirir
vários conhecimentos tanto antigos como modernos.
A leitura permite viajar através de mundos, culturas e religiões
diferentes, tornando-nos pessoas mais informadas e interadas do que acontece
ao redor.
Ganhar o gosto pela leitura é como provar o vinho pela primeira vez, ao
principio parece amargo, mas depois se habitua ao gosto e [...] passado algum
tempo, quem não sente um enorme prazer em saborear um bom cálice de
vinho?[...] ora, com a leitura é a mesma coisa, quando se está iniciando, ler um
livro faz sono, não se tem muita paciência, nem tempo, mas depois de se
ganhar o hábito de ler, então se olhará o livro como uma paixão, uma
necessidade, uma companhia, um amigo inseparável, como um hábito de que
não se pode nem se quer fugir. (NOGUEIRA, 2001)
Os livros, de um modo geral, expressa a forma pela qual seus autores
vêem o mundo, para entendê-los é indispensável não só penetrar em seu
14
conteúdo, mas ter a sensibilidade, para identificar, vários níveis de significação
e várias interpretações das idéias expostas.
Segundo Freire (1988), a leitura do mundo foi sempre fundamental para
a compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e
transformá-lo através de uma prática consciente.
O processo de ler implica vencer as etapas de interpretação e depois à
aplicação. A interpretação baseia-se na continuidade da leitura do mundo, isto
é, na apreensão e interpretação das idéias, nas relações entre o texto e o
contexto.
Ler é saber ver, enxergar o mundo com todas as suas belezas e
mistérios, e querer cada vez mais desvendá-lo e deixá-lo mais bonito ainda,
querer crescer para o mundo também crescer.
1.3 A leitura na escola
O objetivo maior da maioria das escolas, principalmente nas primeiras
séries, é assegurar o domínio da leitura e da escrita, esse também é o da
maioria dos pais ao colocar seus filhos na escola. O aluno é pressionado pela
escola, família e sociedade para cumprir esse objetivo, às vezes não tendo
nem noção do porquê dessa meta.
Mas qual é o papel da escola no ensino da leitura? A escola deve
entender que a leitura tem um sentido mais amplo e deve dar liberdade para o
professor ensinar para seus alunos sua importância, e todo o tipo de leitura. A
leitura de textos, de desenhos, de charges, de mímicas, de gestos, de danças,
deve também valorizar o que acontece na sociedade, tudo isso é importante
para que se amplie a visão de mundo da criança, para que ela possa
interpretar qualquer coisa.
Muitas coisas que se aprende na escola são esquecidas com o tempo,
pois não se pratica e, através da leitura rotineira tais conhecimentos se fixariam
de forma a não serem esquecidos posteriormente. Dúvidas que se tem ao
escrever poderiam ser sanadas pelo hábito de ler, talvez nem as teriam, pois a
leitura torna o conhecimento mais amplo e diversificado. (PERCILIA, 2009)
O professor deve ver que o livro didático não é um professor, e não é
15
feito para todos os alunos, então ele não pode limitar-se somente a ele, e sim
tentar compreender o aluno, ensinando de uma maneira que ele possa
entender, compartilhar seu saber, pois o conhecimento se constrói com a
relação na sala de aula.
A alfabetização deve ter sentido para o aluno. O professor deve
estimulá-la trazendo a escrita para a sala de aula, lendo e escrevendo para as
crianças e demonstrando que a alfabetização é algo lógico e simples.
16
CAPÍTULO II
LEITURA PARA A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO
2 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA PARA A FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO
Vista como um instrumento de poder, a leitura vem através dos tempos
assumindo seu papel na sociedade, que é o de contribuir como decodificadora
de signos, embora vá além deste nível. Freire (1992) comenta que os signos
são os próprios fatos, acontecimentos, situações reais ou imaginárias em que
os sons, paisagens, imagens tendem a melhorar a relação homem-meio-
mundo.
A importância de trabalhar nesta investigação é por crer que o hábito de
ler exerce uma grande força num contexto social, político, econômico e cultural,
uma nova perspectiva de vida e visão de mundo.
Kleiman (2000) aborda a leitura de mundo através da atuação do
conhecimento prévio, essencial à compreensão, pois é o conhecimento que o
leitor tem sobre o assunto, mundo, que lhe permite fazer as inferências
necessárias para relacionar partes de um texto num todo coerente.
A realidade está aí para mostrar a problemática existente na sociedade
quando Pinheiro (1988) afirma que o desinteresse pela leitura é um grave
problema, pois a falta de informação leva à preguiça mental e conduz a
humanidade ao caos social e cultural; infelizmente, nos meios acadêmicos
também. Ora, se o contingente universitário apresenta sérios problemas no que
diz respeito à leitura, linguagem, sendo ele considerado parte da elite pensante
do país, isso nada mais é do que o reflexo de uma organização desestruturada
em termos de formação de futuros leitores e incentivadores da leitura.
A leitura, tomada como problema social se relacionada com maus
leitores, raramente é vista como leitura de prazer. Evidentemente, algumas
perguntas surgem: é preciso ler? Por que? Para que? Muitas respostas
existem, como por exemplo: para estudar; para instruir-se; para ser alguém na
vida, enfim, uma série de respostas que têm como conseqüência à ação. Ação
17
esta que proporcione vantagens, não uma ação que resulte em prazer; uma
leitura comparada à alimentação que se saboreia conforme a fome e a
disposição momentânea, em que se engole, devora, mastiga. (BARTHES,
1974)
Não se pode ser omissos, quanto à afirmação de que as diferenças de
nível econômico acarretam, geralmente, diferenças de possibilidades
educativas. Nesse sentido, a ação da leitura de prazer também é afetada por
essa diferença, pois o acesso a instrumentos culturais e o tempo de lazer não
são estimulados nem entendidos como lazer, hobby, ou simplesmente
ignorados como direito ou como necessidade.
A leitura amplia os conhecimentos do ser humano. É através dela ou
mesmo pelo hábito de ler que o indivíduo habilita-se a exercer os
conhecimentos culturalmente construídos e dessa forma escala com maior
facilidade os novos degraus do ensino, e em conseqüência atinge também sua
realização profissional.
O ato de ler é função primordial da escola, e é esta que possibilita o
educando a ler o mundo, de construir a sua própria história.
Se observar a realidade, não existe outro caminho senão investir na
educação para todos sem discriminação, há necessidade de que se ultrapasse
a estrutura educacional atual.
Escola, na medida mesma em que trabalha com indivíduos diferentes,
com valores, crenças, hábitos lingüísticos e comportamentais diferentes, é
também um campo de batalha – luta de idéias e de linguagens, como
expressão da luta de classes. (ZIBERMAN et al, 1982)
Colocada como base da educação, a leitura assume seu papel político
democrático ou não, dependendo do grupo social a que está submetida.
Portanto se a escola pretende participar no processo democrático do país deve
estimular a leitura nas séries iniciais, partindo em primeiro lugar de uma
metodologia de ensino da leitura que fomente no educando o prazer de ler,
desenvolvendo o senso crítico diante do que foi lido, relacionando com a
realidade.
Freire (1980) enfatiza: a leitura do mundo precede sempre a leitura da
palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele.
De alguma maneira, porém, pode-se ir mais longe e dizer que a leitura
18
da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa
forma de escrevê-lo ou de reescrevê-lo, quer dizer, de transformá-lo através da
prática consciente.
A leitura constitui-se num instrumento de produção e reprodução. É esta
um bem cultural onde o ser humano se constrói como sujeito de sua própria
história, interagindo no seu mundo ou na sociedade em que vive.
Assim a leitura propiciará a mudança almejada pela sociedade, porque
se privará de seus obstáculos que impedem a popularização do livro.
Portanto, pode-se reconhecer que a literatura é um válido e precioso
recurso para desenvolver na escola a democracia, esta necessita empenhar-se
para que a literatura faça parte efetiva em sala de aula. Ela desenvolve o
respeito, atitudes de solidariedade, sentimentos de valorização dos laços
familiares, e auxiliam a criança a satisfazer suas necessidades de segurança,
de natureza emocional, espiritual e intelectual.
Através das histórias, nas mais variadas situações resolvem seus
problemas, inclusive como lutaram para superar perigos e ameaças. Elas
desenvolvem o senso crítico, o senso do humor e ampliam os conhecimentos,
favorecendo as relações e a vida em sociedade.
A preocupação quanto à formação estética deve estar presente desde o
primeiro dia de aula e acompanhar todo desenvolvimento das aptidões, quer
lingüísticas, quer propriamente literárias. O caminho da arte não é um passeio
domingueiro que leva os alunos até um formoso parque, mas, sim, uma
peregrinação de todos os dias. (ZIBERMAN et al, 1982)
A capacidade de perceber o belo, amar o belo, tem de ser adquirida na
convivência com o belo. Concluí-se aí pela necessidade de dar ao aluno muita
literatura relacionada. Quem se habitua às boas leituras não aceita livros de
trabalho mal acabado, sabe por de lado o joio. A orientação, durante o período
escolar, na escolha de bons livros, preserva o aluno na sua integridade estética
e ética.
O que se constata hoje, diante das problemáticas sociais, econômicas e
políticas, é um verdadeiro duelo elite/massa, ou seja, opressor/oprimido.
É possível que ações isoladas possam dar resultados a curto prazo, mas
seus resultados não serão suficientes, pois ter mais bibliotecas, mais livros e
tecnologias de ponta para organização de documentos em diversas
19
instituições, não é o suficiente, embora seja fundamental para desenvolvimento
cultural do país. Mas, o fundamental mesmo será fazer com que a população
leia mais, e faça da leitura um instrumento para que cada indivíduo empreenda
a conquista da cidadania. Só se terá resultados duradouros quando a leitura for
um hábito que se reproduza naturalmente.
Partindo desse pressuposto pode-se assegurar que o o aluno sentirá
interesse e ficará motivado à leitura.
2.1 Leitura infantil
A prática da leitura se faz presente em todos os níveis educacionais
desde o período da alfabetização. A escola concebe o livro didático como
instrumento básico, como um complemento primeiro às funções pedagógicas
exercidas pelo professor. É por essa razão que o texto escrito é colocado no
centro da vivência professor-aluno, despontando como mediador dessa relação
e veículo para instigar discussões, reflexões ou novas práticas.
A idéia de que a leitura vai fazer bem à criança ou o jovem, leva-nos a obrigá-los a ler, como lhes impomos a colher de remédio, a injeção, a escova de dentes, a escola. Assim, é comum o menino sentir-se coagido, tendo de submeter-se a uma avaliação, e sendo punido se não cumprir as regras do jogo que ele não definiu, nem entendeu. É a tortura sutil e sem marcas observáveis a olho nu, de que não nos damos conta. (CUNHA, 1997, p.51)
Segundo Zilberman et al (1985), a leitura passa a ser valorizada a partir
da ascensão da burguesia, nesta época a escola e a educação se
desenvolveram, devido à organização da sociedade burguesa. À escola cabia
transmitir os ideais da burguesia e promover a união familiar.
A literatura infantil, por muito tempo, foi vista sob um segundo plano
dentro da literatura. Como coloca Coelho (apud CUNHA, 1997), a valorização
da literatura infantil, como fenômeno significativo de amplo alcance na
formação das mentes infantis e juvenis, bem como dentro da vida cultural das
sociedades, é conquista recente.
A expressão literatura infantil vulgarmente, sugere de imediato a idéia de
belos livros coloridos destinados à distração e ao prazer das crianças em lê-los,
20
folheá-los ou ouvir suas histórias contadas por alguém.
Para compreender as razões desse ponto de vista, é preciso voltar no
tempo e resgatar a história do surgimento da literatura infantil.
A primeira função da literatura infantil foi pedagógica.
A literatura infantil surgiu da necessidade de se criar um gênero capaz
de educar as crianças através de histórias.
A literatura é, sem dúvida, uma das expressões mais significativas que
garante a transmissão de valores e conhecimentos em qualquer época da
história.
Segundo Ziberman et al (1985), a Literatura Infantil passa a ser
valorizada a partir da acessão da burguesia. No Brasil, teve início por volta da
metade do século XIX e sua formação ocorre simultaneamente com as
transformações sociais porque passava o país daquele período. Entre essas
mudanças: estão a implantação, no Rio de Janeiro, de um setor burocrático,
provocando um inchaço do funcionalismo; a expansão administrativa do
Império; a interrupção do tráfico negreiro, que permitiu a utilização do dinheiro
nas indústrias; a presença do Barão de Mauá, fazendo a ligação ferroviária
entre a capital e Petrópolis; o crescimento do Rio de Janeiro e São Paulo,
graças à economia agrícola do café; a expansão do ensino universitário e a
organização do exército.
Aponta Ziberman et al (1985) que a própria ascensão da escola e da
educação ocorreu devido à organização da burguesia. À escola cabia transmitir
os ideais da burguesia e promover a união familiar.
Assim, o Segundo Reinado presencia e estimula, de um lado a regimentação da sociedade burguesa, de outro, a emergência de seus instrumentos de ação: uma ideologia das famílias, patrocinada na sua privacidade e isolada das influências dos laços de parentesco, os quais constituíam, no período colonial, um sistema de relações bastante forte e autônoma; e a organização da escola, lugar de integração do ser humano aos padrões burgueses e urbanos da vida. (ZIBERMAN et al, 1985, p. 96)
Nesse contexto, a criança passa a ter um valor maior no núcleo familiar,
núcleo este super valorizado para a ascensão e manutenção da classe
burguesa que se formava. Costa (apud ZIBERMAN et al, 1985), resgata o
surgimento naquele momento de uma nova valorização da infância, a exemplo
do que aconteceu nos demais países da Europa.
21
2.1.1 Contos de fadas
Os contos de fadas nem sempre foram da maneira como se conhece
hoje, eles foram adaptados pela literatura infantil para ajudar na educação das
crianças, pois os contos de fadas mostravam as dificuldades da vida para os
seres humanos, principalmente os mais pobres.
O conto de fadas tradicional tem sua origem na adaptação de contos
folclóricos. Os heróis eram ajudados por forças sobrenaturais e, na
transformação dos relatos folclóricos para os contos de fadas da literatura
infantil que se tem atualmente, manteve-se esse componente fantástico.
Os heróis dos contos de fadas vivem uma situação de desespero pela
ausência de perspectivas de melhora, a menos que ocorra a interferência de
algum elemento mágico.
Trata-se do conto maravilhoso, formas de narrativa maravilhosa surgidas de fontes bem distintas, dando expressão a problemáticas bem diferentes, mas que, pelo fato de pertencer ao mundo do maravilhoso, acabaram identificadas entre si como formas iguais. (COELHO apud CUNHA, 1997, p.11)
2.2 Leitura infanto-juvenil
O professor deve procurar oferecer ao aluno os mais variados textos, a
fim de que ele tenha contato com discursos de características e registros de
linguagem diversos. No entanto, como a compreensão é tanto mais facilitada
quanto mais denotativa for a linguagem, cabe ao trabalho com o livro de
literatura infanto-juvenil, na escola, um papel fundamental e privilegiado na
formação de leitores proficientes, em função do caráter específico de sua
estrutura de sua linguagem.
Segundo Ziberman et al (1985), três justificativas fundamentais
alicerçam esta idéia.
Inicialmente, a literatura, uma vez que não tem comprometimento com a
realidade, mas com o real que ela mesma cria, é ficção e, por natureza, da
ordem da fantasia. Assim, fomenta no leitor a curiosidade e o interesse pela
descoberta; permite que ele vivencie situações pelas quais jamais passou,
22
alargando seus horizontes e tornando-o mais capaz de enfrentar situações
novas. Ou seja, ao romper com as barreiras da realidade, possibilita ao leitor o
acúmulo de experiências só vividas imaginariamente, o que o torna mais crítico
e mais criativo, além de ensiná-lo a reagir a situações desagradáveis e de
ajudá-lo a resolver seus próprios conflitos.
Em segundo lugar, a literatura possibilita a internalização, além do
registro padrão da Língua, de estruturas lingüísticas mais complexas,
desenvolvendo de modo globalizado o desempenho lingüístico do falante.
Desta forma, por meio da leitura é possível dominar, de acordo com o que a
norma culta preconiza, a acentuação gráfica, a colocação de pronomes, o
emprego dos verbos impessoais, das conjunções subordinativas, além da
regência e da concordância. Tudo isso sem a necessidade de obrigar o aluno à
árdua e infrutífera memorização de regras gramaticais, nunca utilizadas a não
ser no momento em que faz a prova, e com a imensa vantagem de que a
assimilação deste aspecto funcional da linguagem terá repercussões não só na
escrita, mas também na fala e na própria leitura.
O último dos aspectos diz respeito à importância da leitura no
desenvolvimento de estruturas de pensamento, com evidentes repercussões
no desenvolvimento do raciocínio lógico do aluno. Embora as relações de
interdependência entre linguagem e pensamento, ou entre pensamento e
linguagem, há décadas venham originando polêmicas entre lingüistas,
psicólogos e pedagogos de diversas correntes teóricas, que privilegiam, neste
processo, ora o pensamento ora a linguagem.
Uma vez que o desenvolvimento da linguagem se traduz como elemento
essencial ao crescimento intelectual do indivíduo, e como o desenvolvimento
da linguagem depende, intrinsecamente, ao domínio de habilidades de leitura,
tal fator acaba por interferir de forma substantiva no desenvolvimento de
estruturas de pensamento, tornando-se, conseqüentemente, essencial ao
desempenho intelectual do falante, durante a vida inteira.
23
CAPÍTULO III
LEITURA NO ENSINO SUPERIOR
3 A IMPORTÂNCIA DA LEITURA NO ENSINO SUPERIOR
A importância da leitura pode ser considerada um manual para
principiantes em graduação, que através de uma linguagem clara e objetiva
mostra que o ato de ler exige uma consciência crítica, sistemática, adquiridos
através da prática.
Segundo Rios (1999), a leitura não deve ser confundida com o simples
ato de descodificar sinais gráficos, pelo contrário, é necessário passar pelos
planos da intelecção, da interpretação para finalmente chegar a aplicação,
podendo ser: icônica, gestual, sonora, além de ter o código verbal, tem como
finalidade três tipos específicos: formativa, que está ligada à cultura geral, às
notícias e informações genéricas; distração ou entretenimento e laser,
dispensando comentários; e a informativa, que deve seguir fases distintas, a
leitura de reconhecimento ou pré-leitura, que é uma visão global do assunto
para verificar a existência das informações úteis para o seu objetivo especifico,
a leitura seletivas ou seja, seleciona as informações pertinentes à elaboração
do trabalho, a leitura critica ou reflexiva que compreende reflexão, comparação
diferenciação e julgamento das idéias do texto e a interpretativa que foi
subdividida em três fases: identificação das informações, correlacionamento
das informações identificadas com problema a ser investigado, julgamento da
veracidade das mesmas.
A importância da leitura no ensino superior tem sido objeto de estudo
nos dia atuais.
Esses estudos falam sobre os caminhos que levam o aluno ao acesso e
à produção do conhecimento, enfatizando a leitura crítica como forma de
recuperar todas as informações acumuladas historicamente e de utilizá-las de
forma eficiente. Entretanto, tem sido demonstrado que os alunos ingressam no
curso superior apresentando grandes dificuldades em relação à leitura, isto é,
24
não conseguem compreender os textos lidos, textos esses que são solicitados
pelos professores e, portanto, imprescindíveis para uma sólida formação
acadêmica.
A dificuldade de ler na graduação pode ser perfeitamente compreendida.
Ela se deve, principalmente, à ausência de tradição no ensino do país de
práticas docentes que conduzam à formação de um leitor proficiente.
Se a dificuldade existe, não adianta reclamar, ou atribuir a culpa aos
professores do Ensino Básico, esperar que a dificuldade desapareça como
num passe de mágica, ou ignorar o fato e prosseguir com a aula acreditando
que se está ensinando e o aluno aprendendo.
É necessário que se ofereça condições para que o aluno tenha
oportunidades para sanar suas deficiências e isso não acontecerá por acaso,
depende do professor.
O ato de aprender já se tornou um ponto fundamental na Educação, mas
para tanto é imprescindível um leitor proficiente, um leitor que seja capaz de
compreender um texto escrito, que seja capaz de se posicionar diante dele com
uma crítica e que tenha autonomia intelectual. Senão, o aluno não conseguirá
buscar novos conhecimentos, aprender sem a leitura, encontrar soluções para
os problemas sem a fundamentação teórica proporcionada através da leitura.
É importante refletir sobre a dimensão da importância da leitura no
contexto universitário para que se conduza a uma análise de conceitos e
objetivos que servem de referência para o professor em sala de aula.
O saber fazer bem tem uma dimensão técnica, a do saber e do saber fazer, isto é, do domínio dos conteúdos de que o sujeito necessita para desempenhar o seu papel, aquilo que se requer dele socialmente, articulado com o domínio das técnicas, das estratégias que permitam que ele, digamos, dê conta de seu recado em seu trabalho. (RIOS, 1999, p.47)
Com todas as transformações que estão ocorrendo no mundo, é preciso
desenvolver a autonomia nos alunos levando-os a aprender a aprender. Isso
implica oferecer-lhes a condição de refletir, analisar e tomar consciência do que
sabe e a mudar os conceitos, seja para processar novas informações, substituir
conceitos adquiridos no passado e adquirir novos conhecimentos.
Nessa concepção, a educação visa a preparar o aluno para a vida sócio-
política e cultural, cumprindo seu ideal político que é a emancipação do
homem.
25
(...) a compreensão da natureza da educação enquanto um trabalho não material cujo produto não se separa do ato de produção nos permite situar a especificidade da educação como referida aos conhecimentos, idéias, conceitos, valores, atitudes, hábitos, símbolos sob o aspecto de elementos necessários à formação da humanidade em cada indivíduo singular, na forma de uma segunda natureza, que se produz, deliberada e intencionalmente, através de relações pedagógicas historicamente determinadas que se travam entre os homens. (SAVIANI, 1992, p. 29)
A leitura é essencial para o aprendizado do aluno, e, conseqüentemente,
tem implicações na sua formação acadêmica e no seu desempenho como
futuro profissional e, além disso, de ser a base de toda ação pedagógica.
Identificar as habilidades e estratégias envolvidas na leitura é decisivo
para se realizar um bom trabalho em sala de aula, pois essa é uma ação que
poderá contribuir para corresponder às necessidades emergentes do ensino
atualmente, isto é, conduzir o aluno à produção de conhecimentos novos, sem
perder de vista o conhecimento já elaborado.
Embora a leitura tenha muitos aspectos, lê-se por muitas razões como,
por exemplo, para obter informações ou para entretenimento. Sua importância
é dada por considerá-la fundamentalmente como fonte de conhecimento
indispensável para a formação acadêmica e, posteriormente, para o exercício
profissional.
3.1 Práticas de leitura na graduação
Após a indicação da bibliografia, o professor solicita aos alunos a leitura
dos textos que serão discutidos na sala de aula. A aula do professor está
diretamente articulada à realização dessa leitura prévia dos textos.
Porém, como os alunos demonstram dificuldades para compreendê-los,
o que se percebe é que não há propriamente uma discussão em sala de aula
sobre as idéias apresentadas pelo autor e sim a exposição, pelo professor,
daquilo que considera importante. Ou então, a partir da leitura do texto, passa-
se a discutir um tema; porém não se dialoga com as idéias do autor. O aluno
afasta-se do texto lido passando a comentar o tema conforme o seu
conhecimento prévio, extrapolando para outras questões paralelas.
26
Além disso, a leitura dos textos também é utilizada para a realização de
resumos, sendo que, muitas vezes, não há explicitação de um objetivo para
essa atividade, bem como não há o retorno para o aluno sobre o texto que
produziu.
O problema se agrava quando o professor solicita uma resenha. Não há
como o aluno posicionar-se criticamente diante de um texto quando ele sequer
compreendeu as idéias apresentadas. O texto do aluno, geralmente, revela a
sua incompreensão e se caracteriza como uma colagem do texto original, isto
é, revela que ainda não se constituiu como um leitor proficiente.
Em relação a não compreensão dos textos pelos alunos, não há uma
ação pedagógica planejada para orientá-los quanto ao desenvolvimento das
suas habilidades e de estratégias cognitivas utilizadas na leitura proficiente.
Não é realizado nenhum trabalho pedagógico com desenvolvimento de
atividades cognitivas de reflexão, com ativação do conhecimento prévio e
análise crítica do conteúdo lingüístico que possa levar os alunos à
compreensão do texto.
Os resultados obtidos das práticas empregadas parecem conduzir o
aluno à reprodução e à memorização, não ocorrendo a aprendizagem
significativa.
Certamente, o professor tem papel fundamental no processo ensino-
aprendizagem, pois deve conhecer os conceitos teóricos sobre processamento
de textos escritos para uma ação pedagógica bem informada e fundamentada.
Sendo assim, se o aluno ainda não desenvolveu as habilidades
necessárias e não sabe utilizar estratégias para a compreensão de textos, o
professor deve criar oportunidades em sala de aula para que isso ocorra. O
professor tem um papel determinante na formação e no desenvolvimento das
habilidades e competências que os alunos ainda não adquiriram. Deve criar
situações para despertar a curiosidade, desenvolver a autonomia; e condições
necessárias para a formação de um leitor proficiente. (SEVERINO, 1998)
3.2 Leitura: compreensão e crítica
A dificuldade dos alunos para compreender os diferentes textos que são
27
necessários para a sua formação acadêmica, principalmente os propostos nos
trabalhos de leitura em sala de aula, requer uma reflexão sobre a prática
efetiva de ler, compreender e criticar.
Os diversos conceitos de leitura existentes podem ser agrupados em
duas grandes concepções, geralmente vistas como antagônicas.
Uma primeira tendência é a que prioriza o texto, conseqüentemente, a
leitura é vista como produto, como reconhecimento de sentidos materializados
na superfície textual. Essa posição não considera a importância do leitor e
preconiza a noção de texto como objeto autônomo e fechado de sentidos
estáveis. (SEVERINO, 1998)
Essa postura provém de uma visão estruturalista e mecanicista da
linguagem, entendendo que o sentido está no texto. Portanto, caberia ao leitor
a tarefa de decodificar e reconhecer os elementos lingüísticos já conhecidos e
descobrir o significado dos elementos desconhecidos.
Uma segunda tendência prioriza o leitor, ele é visto como fonte de
sentidos. Segundo essa posição, a leitura consiste justamente em um processo
de atribuição de sentidos ao texto cuja materialidade lingüística tem a
significação que lhe for atribuída pelo leitor. (SEVERINO, 1998)
Essa segunda concepção de leitura está fundamentada na psicologia
cognitivista e considera que o leitor é a fonte de sentido, portanto opõe-se, em
parte, à concepção anterior.
O que se pode perceber é que essas duas tendências têm se revelado
incapazes de produzir um leitor crítico, um leitor capaz de construir sua
compreensão a partir das palavras do autor e posicionar-se com sua contra-
palavra.
3.2.1 Textos
O texto não pode ser considerado como um objeto lingüístico cujos
sentidos existem fora de contexto. Koch (1997) define texto como evento
discursivo, que vai além da sua materialidade lingüística, encaminhando-se,
assim, para uma perspectiva interacional com inclusão do aspecto
sóciohistórico.
28
Kleiman (1998), ao discutir sobre questões de letramento, adota uma
concepção de texto escrito como evento discursivo que não pode ser
desvinculado do contexto sócio-cultural em que é produzido. Assim, reivindica
a necessidade de se legitimar outros modos de ler, diferentes do padrão
escolar, os quais se constituem em função do contexto em que seus
participantes estão inseridos.
Sendo assim, é através da leitura e sua compreensão que se consegue
entender a realidade. Compreender um texto é estabelecer uma relação
dinâmica com um determinado contexto, bem como perceber criticamente a
objetividade dos fatos desse contexto. Dessa maneira, a leitura de um texto
precisa transcender os limites dele mesmo e remeter o leitor à percepção e
análise da realidade.
Discorrendo sobre a importância do ato de ler - a realidade e a palavra,
Freire (1999) enfatiza que a leitura não deve ser apenas um processo
mecânico de repetição das palavras, mas da compreensão destas e do
contexto que as envolve. Para ele, o aprendizado da leitura está presente em
todas as fases da vida, iniciando-se na infância, quando se tem a primeira
percepção de mundo e segue através da leitura da palavra propriamente dita.
“A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a
percepção das relações entre o texto e o contexto”. (FREIRE, 1999, p.11)
Ao narrar suas primeiras experiências de leitura como momentos em
que os textos se ofereciam à nossa inquieta procura, Freire (1999) coloca uma
outra idéia interessante que é a do ato de ler como engajamento, como busca
interessada e significativa por parte do leitor em oposição à recepção passiva e
indiferente que caracteriza a leitura no contexto escolar.
Essas duas noções são fundamentais para configurar uma leitura crítica.
São igualmente necessárias a percepção das relações texto-contexto e a ida
ao texto com uma disposição de procura significativa, em uma atitude de
engajamento reflexivo. Faz-se necessário ressaltar que a palavra contexto está
sendo utilizada em um sentido bastante abrangente, isto é, como contexto
sócio-histórico (situação social, cultural, histórica e ideológica que envolve a
produção), discursivo (situação de enunciação) e intertextual (relação do texto
lido com outros textos com os quais ele dialoga).
Para Freire (1982) não se pode fazer apenas uma leitura mecânica do
29
texto, na qual se memoriza o conteúdo, sem compreendê-lo. É imprescindível
ter postura crítica para que o estudo possa ser produtivo.
Essa postura crítica necessária ao ato de estudar requer que se assuma
o papel de sujeito desse ato. Logo, um determinado trecho de um texto pode
suscitar reflexões no sujeito que o levem a novos caminhos, às novas
descobertas.
É, portanto, necessário, na leitura de um texto, além da compreensão do
seu conteúdo, ter postura constante de busca.
Também o ato de estudar um texto implica numa relação dialógica com
o seu autor, em que se evidencia seu posicionamento histórico-sociológico e
ideológico.
É função do leitor perceber esse posicionamento que, muitas vezes, está
implícito no texto.
Leitura e compreensão são atividades de grande importância na
aprendizagem; portanto, o trabalho em sala de aula desencadeado a partir da
leitura deve privilegiar o desenvolvimento do processo de compreensão e da
crítica. A leitura dos alunos não pode limitar-se à decodificação. Formar um
aluno que realize uma leitura proficiente e seja crítico, supõe formar alguém,
cuja compreensão da leitura ultrapasse a simples decodificação, alguém que
construa um significado através dos elementos lingüísticos e dos elementos
implícitos no texto, que estabeleça relações com outros textos já lidos
posicionando-se diante das idéias do autor.
3.3 A aprendizagem do ensino e da leitura
Kleiman (1989) abordando aspectos da leitura e da compreensão de
textos afirma que esta é uma atividade complexa, pois envolve uma
multiplicidade de processos cognitivos, nos quais o leitor se engaja para
construir o sentido de um texto escrito. A autora enfatiza a importância de
conhecer tais aspectos, pois são eles que constituem e contribuem na
formação do leitor.
Dessa forma, os esclarecimentos sobre o conhecimento prévio que se
tem no ato de ler são seus objetivos e suas expectativas, suas estratégias de
30
processamento do texto e a interação na leitura.
Os conhecimentos que o aluno possui são denominados de
conhecimentos prévios, como um dos fatores essenciais para a compreensão
de um texto.
O leitor, ao ler um texto, utiliza-se do conhecimento que ele já tem, como
o conhecimento lingüístico, o textual e o conhecimento de mundo para construir
o significado desse texto. Dessa forma, a compreensão de um texto é um
processo que se caracteriza pela utilização do conhecimento já adquirido pelo
leitor, pois sem esse conhecimento ou com a sua limitação, não haverá
compreensão, ou pelo menos, haverá um comprometimento em relação ao seu
significado.
Fazem parte desse conhecimento prévio do leitor o conhecimento
lingüístico, o conhecimento textual e o conhecimento de mundo. Segundo
Kleiman (1989), é na interação desses níveis de conhecimento que o leitor
consegue construir o sentido do texto; por isso, esses conhecimentos devem
ser ativados durante a leitura para se atingir o momento da compreensão.
Aquilo que é individual na leitura, os aspectos que são únicos e que são
determinados pelos objetivos e propósitos específicos do leitor também são
relevantes no processo de compreensão.
(...) uma das atividades do leitor, fortemente determinada pelos seus objetivos e suas expectativas é a formulação de hipóteses de leitura. Essas atividades são de natureza metacognitiva e opõem-se aos automatismos e mecanismos típicos de uma leitura superficial. (KLEIMAN, 1989, p. 36)
Ao se entender leitura como um ato individual de construção de
significado num contexto que se apresenta mediante a interação entre autor e
leitor, Kleiman (1989) considera necessário o ensino de estratégias de leitura,
entendendo-as como operações regulares para abordar o texto. Estratégias em
leitura é uma ação, ou uma série de ações, utilizadas com a finalidade de
construir significados.
Kleiman (1989) e Koch (1997) conceituam estratégias como formas
deliberadas de construção de significado, quando a compreensão é
interrompida. Classificando-as em estratégias metacognitivas e estratégias
cognitivas, o ensino estratégico de leitura consistiria no desenvolvimento
dessas e na modelagem daquelas.
31
As estratégias metacognitivas são definidas como operações (não regras) realizadas com algum objetivo em mente, sobre as quais tem-se controle consciente, no sentido de ser capazes de dizer e explicar a ação. (KLEIMAN, 1998, p. 50)
Se o leitor tiver controle consciente sobre essas operações, saberá dizer
para que ele está lendo um texto e saberá dizer quando não está entendendo
um texto. Essas são as características básicas apontadas para que um leitor
seja considerado proficiente.
As estratégias cognitivas da leitura regem os comportamentos
automáticos, inconscientes do leitor, sendo aqueles processos através do qual
o leitor utiliza elementos formais do texto para fazer as ligações necessárias à
construção de um contexto.
É através de estratégias de processamento de texto que o leitor
interpreta as suas marcas formais, que são percebidas como elementos de
ligação entre as formas contíguas de suas micro e macroestruturas. É uma
tarefa que pode ser complexa em função da rede de relações (sintáticas,
lexicais, semânticas e pragmáticas) que se sustentam no texto e que o tornam
um objeto rico demais para uma percepção rápida, imediata e total. Essas
relações estabelecem o processo de compreensão e orientam o leitor na
organização de formas e regras utilizadas para o estabelecimento da coesão e
da construção de uma macroestrutura.
Apresentando algumas considerações sobre o caráter interacional da
leitura, Kleiman (1989) afirma que existe uma responsabilidade mútua entre
autor e leitor, pois ambos devem zelar para que os pontos de contato sejam
mantidos, apesar das possíveis divergências de opiniões.
Esse caráter interacional da leitura pressupõe a presença do autor no
texto, caracterizado pelas marcas formais, que atuam como pistas para a
reconstrução do caminho percorrido por ele durante a produção do texto. A
competência do leitor para análise dessas pistas é considerada como pré-
requisito para o seu posicionamento crítico frente ao texto.
A leitura deve estar fundamentada numa concepção teórica consistente
sobre os aspectos cognitivos envolvidos na compreensão de textos.
Kleiman (1989) diz que sua proposta para o ensino de leitura consiste no
modelamento de estratégias metacognitivas, mediante a formulação de
objetivos prévios à leitura e à elaboração de hipóteses sobre o conteúdo do
32
texto. No início, ou até que o aluno adquira autonomia, o professor pode
elaborar atividades visando a ensinar o aluno, através de um modelo, a ler com
objetivos prédeterminados.
Para Koch (1997), o processamento textual deve ser visto como uma
atividade tanto de caráter lingüístico, como de caráter sociocognitivo. Para o
seu processamento contribuem três grandes sistemas de conhecimento: o
lingüístico, o enciclopédico e o interacional. As estratégias de processamento
textual implicam na mobilização on-line dos diversos sistemas de conhecimento
e podem ser divididas em três tipos: estratégias cognitivas, sócio-interativas e
textuais.
Segundo Kleiman (1989), uma boa leitura seria aquela em que o leitor
conseguisse perceber que além da significação explícita, existe a significação
implícita que está ligada a intencionalidade do emissor. Assim, defende a idéia
de que o texto apresenta uma multiplicidade de interpretações ou de leituras,
não sendo possível atribuir apenas uma interpretação como única e verdadeira.
Porém, nem toda compreensão é válida; pois a compreensão de um texto
consiste na apreensão das significações possíveis que são representadas
através de marcas lingüísticas que funcionam como pistas para que o leitor
faça a decodificação adequada.
Assim sendo, o aluno precisa ser preparado para reconhecer essas
marcas e alertado para o fato de que elas estão inseridas na própria gramática
da língua. É preciso também fazer com que o aluno saiba que através das
pistas que são fornecidas pelo texto é possível não só reconstruir o evento da
enunciação, como também recriá-lo a partir do conhecimento e da visão de
mundo de cada um. Conseqüentemente, em cada nova leitura de um texto
poder-se-á descobrir novas significações.
Kleiman (1989) enfatiza que se essas habilidades forem desenvolvidas
elas constituir-se-ão na competência de leitura e, conseqüentemente, o aluno
deixará de ser um elemento passivo e participará como sujeito ativo.
Koch (1996) ressalta a importância do ensino da leitura para que o aluno
se torne sujeito do ato de ler e seja capaz de ler o mundo, demonstrando crítica
diante da realidade em que está inserido. Para que o aluno torne-se apto para
isso, o professor exerce papel fundamental. Durante as atividades na sala de
aula, o professor deve mostrar ao aluno que um texto apresenta diversos níveis
33
de significação.
Orlandi (1996) diz que para quem a leitura deve ter uma importante
função no trabalho intelectual, considera-a como uma questão lingüística,
pedagógica e social ao mesmo tempo. Diz também que a leitura não deve ficar
restrita ao seu caráter mais técnico, pois isso conduziria o seu tratamento em
termos de estratégias pedagógicas imediatistas.
Assumindo a perspectiva da análise do discurso, na leitura de um texto
não há apenas a decodificação e a constatação de um sentido que já está dado
nele. Para Orlandi (1996) o texto não deve ser entendido apenas como um
produto, mas sim observando o processo de sua produção e da sua
significação.
Como consequência, o leitor não aprende um sentido que está no texto,
mas sim atribui sentidos ao texto. Portanto, a leitura é produzida e procura-se
determinar o processo e as condições de sua produção.
São mencionados como componentes das condições de produção da
leitura: os sujeitos (autor e leitor), a ideologia e os diferentes tipos de discurso.
34
CONCLUSÃO
Sendo a palavra escrita o instrumento mais eficiente para a expressão e
fixação da cultura e dos conhecimentos científicos e técnicos da sociedade, a
leitura constitui a mais importante atividade de aquisição de saberes.
O processo de comunicação tornou-se a essência do mundo moderno.
Deve-se ler sempre livros que interessem e que favoreçam a mudança
da prática, procurando se interar dos textos.
Desde muito pequenos se aprende a entender o mundo, por isso mesmo
antes de começar a ler e escrever as palavras já se está lendo, criando aos
poucos uma disciplina intelectual que levará enquanto professores e
estudantes não somente fazer uma leitura do mundo, mas escrevê-lo, ou seja,
transformá-lo através da prática consciente.
Se melhorar o hábito de ler, terá condições de formar as bibliotecas
populares, incentivando os grupos populares e a escrever seus textos desde o
início da alfabetização; assim aos poucos se formariam acervos históricos
escritos pelos próprios educados, através da cultura popular o que se quer é a
afetiva participação do povo, pois quanto mais consciente o povo faça sua
história, tanto mais que o povo perceberá com lucidez as dificuldades que tem
a enfrentar, no domínio econômico, social e cultural, no processo permanente
de sua libertação.
O educador que trabalha no processo de iniciação da leitura, tem que
possuir sensibilidade ao ler, pois através da voz, gera emoções, gestos que
tornam a leitura interessante e conseqüentemente começa a dar impulso para
o aprendizado.
As formas de se envolver na leitura dependem de preliminares no caso
sensorial, a visão, o tato, a audição, o olfato e o paladar, revelam emoções,
tristezas alegrias, imaginações. O livro é um objeto que possui formar, cores,
cheiros, são atrações que impulsionam o leitor. O nível emocional é o que
mostra, na verdade que, gostar de ler não é privilégio de todos, pois através do
emocional que se fantasia, que abusa da imaginação para proceder a leitura.
O conhecimento da prática não basta, precisa-se ir além dele, estudar é
um dever.
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É de conhecimento de todos que a leitura é um processo de contínuo
aprendizado, mas além disso, é ainda uma ferramenta que desenvolve a
reflexão e o espírito crítico, sendo uma fonte inesgotável de assuntos para
melhor se compreender e ao mundo em que se vive.
36
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