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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE UBIRATAN NELSON CRIVELARI A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL “CAPELÃO”: FORÇA VITAL NA CONSOLIDAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO São Paulo 2008

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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

UBIRATAN NELSON CRIVELARI

A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL “CAPELÃO”:

FORÇA VITAL NA CONSOLIDAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

São Paulo 2008

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UBIRATAN NELSON CRIVELARI

A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL “CAPELÃO”:

FORÇA VITAL NA CONSOLIDAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como um dos requisitos para obtenção do título de mestre no curso de pós-graduação em Ciências da Religião.

Orientadora: Profa. Dra. Márcia Mello Costa De Libe ral

São Paulo

2008

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UBIRATAN NELSON CRIVELARI

A IMPORTÂNCIA DO PROFISSIONAL “CAPELÃO”:

FORÇA VITAL NA CONSOLIDAÇÃO DO EXÉRCITO BRASILEIRO

Dissertação apresentada à Universidade Presbiteriana Mackenzie, como um dos requisitos para obtenção do título de mestre no curso de pós-graduação em Ciências da Religião.

Aprovada em ________ de _______________ de 2009

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Márcia Mello Costa De Liberal

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Paulo Rodrigues Romeiro

Universidade Presbiteriana Mackenzie

Prof. Dr. Paulo Roberto de Camargo

Pontifícia Universidade Católica – PUCSP

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Dedicatória

À minha esposa, Eliane Aparecida Matheus

Crivelari, mais que um braço direito em minha

vida, e aos meus filhos Léa Matheus Crivelari,

Rúben Matheus Crivelari e Lívia Matheus

Crivelari, que completam minha felicidade, pois,

sem eles minha vida seria vazia.

À minha cunhada Maria Rosa Matheus, pessoa

de quilate imensurável que ajudou em minha

estada em São Paulo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus que me sustentou até aqui, pois, dEle

procede toda vida e inteligência dando-me capacidade para concluir este Curso de

Mestrado.

À UPM – Universidade Presbiteriana Mackenzie, que pela história marcante

que tem em nosso país proporcionou-me uma bolsa de estudos viabilizando minha

conclusão no Curso de Mestrado em Ciências da Religião.

À Professora e Doutora Márcia Mello Casta De Liberal, uma profissional de

alto gabarito que tem demonstrado pelo trabalho que exerce junto à Universidade

Mackenzie (pessoa que é impossível não ter afeto após a primeira conversa), pelos

profícuos conselhos dados e pela amizade, minha eterna gratidão por ter sido minha

orientadora.

À Igreja Presbiteriana Filadélfia de Ribeirão Preto, que entendeu meu desejo

de dar um passo a mais em minha vida acadêmica. Permitiu que subisse nas costas

de um gigante para enxergar mais longe.

Ao Reverendo, Mestre e amigo Silas Daniel dos Santos que me incentivou e

apoiou a realizar o Curso de Mestrado em Ciências da Religião. Sem seu apoio não

poderia escrever tal agradecimento. “Vosso caráter é o resultado do vosso

procedimento” (Aristóteles).

Ao Tenente Coronel Capelão do Exército Brasileiro Walter Pereira Mello,

subchefe do SAREx no Comando Militar do Planalto, Brasília-DF, permitindo-me

acompanhá-lo em visitas aos quartéis, reuniões e, especialmente, no encontro com

o Chefe do SAREx o Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes Neto. Um

comandante a serviço do general Jesus Cristo. Um Capelão digno da insígnia que

leva na farda.

Ao Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes Neto que me recebeu para uma

entrevista de forma cordial.

À minha família, Eliane, Léa, Rúben e Lívia, que me auxiliaram em todos os

momentos, compreendendo a importância deste passo dado, não medindo esforços

para que pudéssemos chegar até o final do Mestrado. E você, Rosa, que me

acolheu em seu lar, me auxiliando de todas as maneiras para a conclusão do Curso.

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“Imolando-se pela pátria, adquiriram uma glória

imortal e tiveram soberbo mausoléu, não na

sepultura em que repousam, mas na lembrança

sempre viva de seus feitos. Os homens ilustres

têm como túmulo a terra inteira”.

Péricles

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RESUMO

Este trabalho visa investigar o trabalho do capelão Militar junto ao Exército

Brasileiro. Este ministério pode ser visto desde a chegada dos portugueses ao Brasil

e com o passar do tempo ele amadurece chegando hoje como uma estruturação

bem desenvolvida em que fica patente que é um trabalho conspícuo nas mãos de

homens que têm o interesse em apoiar espiritual e emocionalmente os militares bem

como suas famílias. O trabalho religioso é de vital importância dentro da vida militar,

pois, possibilitará ao soldado ter uma vida mais equilibrada. Percebe-se no decorrer

desta obra que, além do trabalho realizado pela Igreja Católica Romana, tem-se

realizado um ótimo trabalho pelos capelães Evangélicos, pois, segundo estatísticas

levantadas o número de soldados evangélicos vem crescendo de forma acentuada.

Esta pesquisa consta de partes de entrevistas feitas com dois capelães do Exército

Brasileiro, um padre e um pastor que mencionarão o gigantesco trabalho exercido

nesta Força Armada. O Capelão é vital na consolidação do Exército Brasileiro.

PALAVRAS-CHAVE : Capelão, Capelania Militar, Exército Brasileiro, Assistência

Religiosa.

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ABSTRACT

This work aims to investigate the military chaplain’s work in the Brazilian Army.

This ministry has been seen since the Portuguese arrival to Brazil and as the time

pass it ripens and became a well developed structure. It is obvious that it has a

conspicuous work in the men’s hands who have the interest in giving spiritual and

emotional support to the militaries as well as to their families. The religious work has

a vital importance in military life since the soldier will have the chance to have a more

balanced life. We can also realize through this work that besides the job carried out

by the Catholic Roman Church, a great job has been done by the Evangelical

chaplains. According to the statistics, the number of evangelical soldiers has been

growing in an outstanding way. This research is based on parts of interviews with two

Brazilian Army chaplains, a priest and a pastor who will mention the gigantic work

done in this Army. The chaplain is vital in the consolidation of Brazilian Army.

KEY WORDS: Chaplain, Chaplain, Brazilian Army, Religious Assistance.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figuras

Figura 1 – Símbolo do Exército Brasileiro .................................................................19

Figura 2 – Frei Orlando – Patrono do SAREx ...........................................................23

Figura 3 – Frei Orlando ministrando a Comunhão em pleno Front ...........................24

Figura 4 – Frei Orlando Pregando .............................................................................24

Figura 5 – Fragmento do quadro "A Primeira Missa no Brasil" .................................33

Figura 7 – Pastor João Filson Soren – Capelão Evangélico .....................................39

Figuras 8 e 9 – Distintivos dos Capelães...................................................................43

Figuras 10 e 11 – Visita do Ten. Coronel Capelão Walter Mello ao 1º RCGd –

Regimento de Cavalaria de Guarda (Dragões da Independência) – DF ...................79

Figuras 12 e 13 – Instrução Religiosa Ten.Cel. Capelão Walter Mello Guarda

(Dragões da Independência) – Brasília – DF.............................................................79

Figuras 14 e 15 – UMCEB – União de Militares Cristãos Evangélicos .....................80

Figuras 16 e 17 – Grupo de Senhoras da I.Presbiteriana Nacional de Brasília ........80

Figuras 18 e 19 – Cel. Capelão Antonio Emídio Gomes Neto Chefe do SAREx ......84

Figuras 20 e 21 – Templo Ecumênico do Soldado – Brasília-DF ..............................90

Figura 22 – Cel. Cap. Antonio Emídio Gomes Neto e Ten. Cel. Cap. Walter Mello ..91

Figura 23 – Ten. Cel. Capl. Walter Mello e mestrando Ubiratan Nelson Crivelari.....94

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QUADROS

Quadro 1 – Hierarquia do Exército Brasileiro ............................................................19

Quadro 2 – Requisitos – Quadro de Capelães Militares (Capelão Temporário) .......45

Quadro 3 – Requisitos – Quadro de Capelães Militares (Capelão Militar de Carreira).....................................................................................................................46

Quadro 4 – Temas utilizados para as atividades de Instrução Religiosa ................. 50

Quadro 5 – Estrutura do SAREx .............................................................................. 51

Quadro 6 – Censo Religioso do SAREx ................................................................... 55

Quadro 7 – Crescimento Evangélico no Brasil ......................................................... 55

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ABREVIATURAS

11º RI: Décimo Primeiro Regimento de Infantaria

1º RCGd: Primeiro Regimento de Cavalaria de Guarda

Asp: Aspirante

Capl: Capelão

Cel: Coronel

CMA: Comando da Amazônia

CML: Comando do Leste

CMNE: Comando do Nordeste

CMO: Comando do Oeste

CMP: Comando do planalto

CMS: Comando do Sul

CMSE: Comando do Sudeste

Cmt Mil A: Comandante Militar da Área

DEP: Departamento de Ensino e Pesquisa

EDIPE: Enciclopédia Didática de informação e Pesquisa Educacional

EIA: Estágio de Instrução e Adaptação

EME: Estado Maior do Exército

EsPCEx: Escola de Preparação de Cadetes do Exército

FEB: Força Expedicionária Brasileira

FFAA: Forças Armadas

MG: Minas Gerais

OM: Organização Militar

QCM: Quadro de Capelães Militares

SAREx: Serviço de Assistência religiosa do Exército

Ten. Coronel: Tenente Coronel

TO: Tocantins

UMCEB: União de Militares Cristãos do Brasil

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................13

1. O QUE A HISTÓRIA NOS CONTA SOBRE A CAPELANIA MIL ITAR .....................17

1.1. O Patrono da Assistência Religiosa do Exército Brasileiro......................................20

1.2. A Assistência Religiosa Dentro da História do Exército Brasileiro...........................25

1.3. A Assistência Religiosa na História do Exército Brasileiro a Partir de 1939..........266

2. A CAPELANIA MILITAR E SUA ESTRUTURA ............. ...........................................29

2.1. A Capelania Militar ..................................................................................................29

2.1.1. A Legislação Brasileira .........................................................................................29

2.1.2. A Capelania Militar Católica .................................................................................30

2.1.3. A Capelania Militar Evangélica.............................................................................35

2.1.4. Processo Seletivo do Capelão .............................................................................44

2.1.5. O que é SAREx e qual sua finalidade ................................................................466

2.1.6. Sobre a Instrução Religiosa .................................................................................49

2.1.7. A Estrutura Organizacional do SAREx .................................................................50

2.1.8. Um Pouco de Estatística ......................................................................................53

3. O MINISTÉRIO PASTORAL DO CAPELÃO ................ .............................................58

3.1. O Capelão Como Modelo ........................................................................................58

3.2. O Psicoterapeuta Verde-Oliva.................................................................................62

3.2.1. Drogas e Álcool ....................................................................................................64

3.2.2. Doença.................................................................................................................66

3.2.3 A Morte..................................................................................................................71

3.2.4 O cuidado consigo mesmo, a saúde do psicoteraupa verde-oliva ........................78

4. A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA E DA RELIGIÃO...... .............................................83

4.1. A Ética do Capelão..................................................................................................83

4.2. A Importância da Religião .......................................................................................84

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................... ............................................................92

REFERÊNCIAS..............................................................................................................96

ANEXOS ........................................................................................................................99

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre a importância que o capelão

tem dentro do Exército Brasileiro. No decorrer de sua explanação demonstrar-se-á

que o capelão não é apenas um militar, com sua patente e evolução dentro da

hierarquia, mas alguém que tem um papel fundamental para consolidar a opção do

soldado em ser um militar melhor como também firmar a fé em Deus.

Pela historicidade da matéria que é muito ampla, a presença do capelão

sempre foi notória entre os exércitos bem como oferecendo auxílio em hospitais,

enfermos e famílias. A presença do capelão no Brasil tem início com a chegada dos

portugueses em 22 de abril de 1500, pois, junto com Pedro Álvares Cabral vieram os

padres representantes da Igreja Católica e de Deus para abençoar a viagem, bem

como, as futuras terras que seriam descobertas. A missa oficial em terras brasileiras

se deu no dia 1 de maio do mesmo ano.

Pela imensidão do território brasileiro foi necessário formar um exército para

proteger a colônia de invasores. No século XVII, pela primeira vez mobilizou-se

grandes efetivos no país e, particularmente, começou a haver um sentimento de

defesa nacional, independentemente, da influência da coroa. A primeira Batalha de

Guararapes (19 de abril de 1648) marca o início da organização do exército como

força genuinamente brasileira e, no decorrer da história, as forças de defesas foram

apoiadas pela Igreja Católica.

Após um bom desenvolvimento do Exército Brasileiro surgindo praticamente

na época do Brasil Colônia, passando pela época do imperio até aos dias de hoje

onde pode-se observar uma estrutura muito bem organizada em todas as áreas. A

presença do capelão é de suma relevância, além do auxilio pretado na área religiosa

a social não fica aquem, visto ser um homem capaz de gerar amizades e influenciar

a irmandade dentro das Forças Armadas.

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A presente dissertação responderá a problematização central da pesquisa: Há

relevância no trabalho exercido pelo capelão dentro do EB? A visão de vida e o

preparo teológico somados à preparação militar chegar-se-á a conclusão de que no

corpo do Exército Brasileiro sem a figura do capelão o mesmo ficaria sem um de

seus membros caso a Capelania não existisse.

A pesquisa contribuirá de forma positiva, relatando a importância dos

capelães dentro do Exército Brasileiro. Na verdade, muito pouco se sabe sobre a

importância deste trabalho visto não ser divulgado na sociedade. Após a divulgação

crê-se poder despertar não só a curiosidade mas, também, criar interesse em

pessoas habilitadas e capacitadas a concorrer pela Capelania dentro desta Arma.

Num mundo de tantas tragédias, guerras e instabilidade social, os soldados

se vêem numa situação em que não só a área moral, mas também espiritual se

encontram desgastadas. É imprescindível para as Forças Armadas, especialmente

para o Exército Brasileiro, possuir um grupo de soldados não só preparados para a

guerra, mas também fortalecidos espiritualmente. Estar preparado para a guerra e

suas conseqüências é uma situação, estar preparado espiritualmente para encarar

tanto a vida como a morte, é outra.

Neste trabalho observar-se-á que a Capelania consiste em preparar o homem

a ter uma vida moral decente, proporcionando-lhe o entendimento do que é ser um

soldado melhor e espiritualmente fortalecido para não temer a vida e o que ela

poderá gerar em sua alma. Se o espírito do soldado for forte, a sua motivação e

desempenho aumentarão consideravelmente.

Capelania é o trabalho que pode ser realizado em hospitais, asilos, orfanatos,

fábricas e empresas. O capelão visita hospitais, enfermos, sejam eles militares ou

seus familiares, oferece apoio espiritual e religioso ostensivo nas campanhas

militares e em treinamentos para todos os níveis, fortalecendo as almas para que os

mesmos sejam homens de verdade e que estejam espiritualmente preparados para

tratar com qualquer problema que lhe sobrevenha, seja ele no campo de batalha ou

na vida cotidiana.

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Ao longo da história muitas cortes e famílias nobres tiveram também o seu

capelão. O apoio religioso concedido ao ser humano através do capelão, somados

ao tratamento psicológico, conduzirá o soldado a uma vida bem mais preparada seja

ele atuando numa guerra bem como participando de uma tropa de elite em tempos

de crises dentro do próprio país. Uma vitória em campo de batalha não dependerá

somente de armas e preparos, mas de homens totalmente equilibrados.

O procedimento utilizado para o desenvolvimento do trabalho discorreu sobre

artigos, livros que relataram os fatos, história e trabalho do capelão. Foram

pesquisados, também, editais, portarias e normas que regem a vida não só do

capelão mas, também, do militar em geral. Entrevistas foram realizadas e visitas

feitas em companhia de um capelão a Comandos do Exército, em reuniões de apoio

às famílias bem como um encontro com o Comandante Chefe do SAREx objetivando

uma aproximação maior com a Capelania, lugares, soldados e comandantes, pois o

autor desta obra não é militar.

Para um maior esclarecimento foi desenvolvida no primeiro capítulo a

historicidade da Capelania tendo como marco desta história a vida do patrono da

Capelania Militar Antonio Álvares da Silva, o Frei Orlando, homem notável pelo

carinho que tinha em tudo o que realizava. Verdadeiro amparo aos pracinhas que

lutaram na Itália.

Em seguida, verifica-se a estruturação da Capelania por meio de normas,

editais e portarias tendo como pano de fundo o SAREx que coordena o trablaho do

capelão nos quartéis. Levantamentos estatísticos e um Censo Religioso são

regisrados com o objetivo de uma visão ampla e concreta do número dos militares

bem como a porcentagem das religiões que compõe Exército. Além da Capelania

Militar Católica, destaca-se a Capelania Militar Evangélica, tendo como seu maior

representante o Pastor João Filson Soren, homem notável que trabalhou,

incansavelmente, atuando também na Segunda Guerra Mundial como verdadeiro

amparos aos pracinhas.

Na sequência trata-se do trabalho do capelão como um homem modelo para

os militares, isto é, que trata a todos com empatia, respeitando a instituição, agindo

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como um psicoterapeuta visitando enfermos, presos, amparando na hora do medo

especilamente diante da morte de um militar.

Por fim, retrata-se a importãncia da religião e da ética do capelão ao ministrar

a Instrução Religiosa, trabalho realizado frequentemente nos quartéis. Neste

momento levanta-se a questão da situação do homem diante do “numinoso” tendo a

religião como forma de conscientiar o homem diante de Deus e os resultados

benéficos que a religião causa no ser humano.

O objetivo da pesquisa foi levantar dados que comprovem a importância do

capelão dentro do âmbito militar, pois este ministério jamais poderia ficar fora do

Exército Brasileiro. Historicamente, a presença da capelania entre os militares

sempre trouxe resultados práticos, pois ao logo dos anos a assistência espiritual

elevou o moral dos soldados do EB, possibilitando o homem viver de forma

harmônica e fraternal em sua comunidade, lapidando-o a uma vida mais equilibrada

seja em combate seja dentro de seu próprio lar.

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CAPÍTULO 1

O QUE A HISTÓRIA NOS CONTA SOBRE A CAPELANIA MILITA R

O termo capelão vem do latim “capellanus”, isto é, cabo. Dentro do nosso

contexto moderno, usualmente, refere-se a um tipo de ministro religioso que serve

as forças armadas com o objetivo primário de orientação espiritual aos homens.

Além de ser conselheiro religioso é responsável pela vida religiosa de todos aqueles

que estão debaixo de seu comando. “Parece que o termo foi aplicado, pela primeira

vez, ao padre que tomava conta da capa (cappela) de São Martinho de Tour”

(CHAMPLIN & BENTES, 1999, p.625). Com o crescimento e desenvolvimento de

vários tipos de capela, o ofício de capelão também cresceu e se fortaleceu,

tornando-se um grande líder com poderes eclesiásticos.

Antes dos tempos contemporâneos esse ofício incluía homens que serviam à

realeza e nobres. Na era contemporânea esses homens, clérigos passaram a ser

nomeados para servirem em quartéis, hospitais, prisões e instituições de ensino.

Quando se fala de Capelania militar, entende-se que esse ofício é antigo.

Antiqüíssimo é o ofício do capelão em hospitais. Quando se refere ao trabalho do

capelão em instituições de ensino usualmente fazem parte deste trabalho ministros

evangélicos, rabinos ou padres católicos romanos, que tomam conta de uma capela

centralizada no campus onde a instituição cuja denominação religiosa é fundadora.

A sociedade moderna gerou um outro tipo de capelão, aquele que trabalha em

indústrias (CHAMPLIN & BENTES, 1999, p. 625):

Na sociedade moderna, encontramos o aparecimento dos capelães industriais. Os sacerdotes operários da França servem de exemplo desse conceito. Esses ministravam enquanto trabalhavam, mantendo alguma posição de respeito na indústria onde servem.

Para enriquecer este trabalho, faz-se necessário conhecer um pouco sobre a

história do Exército Brasileiro:

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No período colonial o rei D. Manuel I, mandou organizar expedições militares com a finalidade de proteger os domínios portugueses na América, então recém-descobertos. À medida em que colonização avançou em Pernambuco e São Vicente, as autoridades militares nativas e bases da organização defensiva da colônia começaram a ser construídas para fazer frente às ambições dos franceses, ingleses e holandeses. Basicamente a História do exército brasileiro se iniciou em 1548 quando D. João III resolveu criar um governo-geral com sede na Bahia. As primeiras intervenções de vulto ocorridas foram a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, no século do descobrimento, e do Maranhão, em 1615. À medida em que avançou a interiorização através do amplo movimento de expansão territorial no século XVII e do início do século XVIII, as Entradas e Bandeiras forçaram a organização da defesa do território recém conquistado. As forças expedicionárias de caráter eminentemente militar iniciaram a utilização da população local, particularmente de São Paulo, pelos capitães-mór, em busca de riquezas ou da escravização dos índios. A guerra contra os holandeses, no século XVII, pela primeira vez mobilizou grandes efetivos no país, e particularmente começou a haver um sentimento de defesa nacional, independentemente da influência da coroa. A primeira Batalha de Guararapes (19 de abril de 1648) marca o início da organização do exército como força genuinamente brasileira formada por brancos locais, liderados por André Vidal de Negreiros, índios, liderados por Felipe Camarão e negros/mulatos, liderados por Henrique Dias. Esta data é comemorada como o aniversário do Exército Brasileiro. O Exército Brasileiro (EB) é uma das três Forças Armadas responsável, no plano externo, pela defesa do país em operações eminentemente terrestres, e, no interno, pela garantia da lei, da ordem e dos poderes constitucionais. O seu comandante é supremo o Presidente da República. Wikipédia, a enciclopédia livre Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ex% C3%A9rcito_ Brasileiro #Antecedentes. Acesso em: 21 out. 2008.

O Exercito Brasileiro é regido por uma hierarquia, isto é, um cadeia de

comando que pode-se chamar de coluna vertebral. Cada posto tem suas

prerrogativas, atividades e objetivos sejam eles burocráticos ou não. A força do

Exército Brasileiro e toda sua estrutura está na forçao de comando.

A hierarquia militar é a base da organização das Forças Armadas e compõe a cadeia de comando a ser seguida por todos os integrantes das forças em sua estrutura organizacional. No Brasil, a constituição preve que o Presidente da República é o posto mais alto da hierarquia das forças armadas. A hierarquia se divide entre os postos, denominação dada às diversas categorias de oficiais, e as graduações, como são chamadas as categorias de praças. Disponível em: http://pt. wikipedia.org/wiki/Hierarquia_militar_(Brasil). Acesso em: 22 out. 2008.

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Complementando a história do Exército Brasileiro, há mais de 120 (cento e

vinte anos) o Brasil vive em paz com seus vizinhos de fronteiras. É o pais da paz, da

tranquilidade onde todos os habitantes se sentem seguros, pois além da presença

do EB em todo território nacional, o Brasil é um pais pacificador. Se porventura a

paz nacional for colocada em risco o pais estará preparado para agir prontamente.

Caso ocorra uma guerra o que muda na hierarquia do EB é o surgimento da patente

de Marechal como segue:

O cargo mais alto na hierarquia do Exército brasileiro é o de Marechal que, segundo a lei, só existirá no caso de o Brasil entrar em guerra. Assim, a patente mais alta em tempos de paz é a de General-de-Exército, nível no qual está Enzo Martins Peri, atual comandante do Exército, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 8 de março de 2007. Veja abaixo toda a hierarquia do Exército:

Quadro 1- Disponível em: http://www.oragoo.net/qual-e-a-hierarquia-do-exercito-brasileiro/. Acesso em: 22 out.2008

Figura 1 - Símbolo do

Exército Brasileiro

Oficiais Generais Marechal General-de-Exército General-de-Divisão General-de-Brigada

Oficiais Superiores Coronel Tenente-Coronel Major

Oficiais Intermediários Capitão

Oficiais Subalternos 1º Tenente 2º Tenente Aspirante-a-Oficial

Graduados Subtenente 1º Sargento 2º Sargento 3º Sargento Taifeiro-Mor Cabo Taifeiro de 1ª classe Taifeiro de 2ª classe

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1.1. O Patrono da Assistência Religiosa do Exército Brasileiro

O termo patrono, conforme o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Ed Nova

Fronteira, em sua 1ª edição, significa:

Patrono. [Do lat. patronu] S.m. 5. Bras. Chefe militar ou personalidade civil escolhida como figura tutelar de uma força armada, de uma arma, de uma unidade, etc., cujo nome mantém viva as tradições militares e o culto cívico dos heróis.

Figura primorosa e digna de ser citada foi o Frei Orlando. Nasceu num

pequeno povoado no interior de Minas Gerais, à margem do Rio São Francisco, de

nome Morada Nova, em 13 de fevereiro de 1913. Seu nome de batismo foi Antonio

Álvares da Silva. Desde a infância tinha prazer pela fé católica, tendo um apreço

pelas coisas da Igreja e pelos humildes.

Freqüentava assiduamente o catecismo, ao qual – afirmam seus irmãos – comparecia sob intenso fervor religioso, vocação que lhe era inerente. Às vezes, ao ser procurado pelo pai, era encontrando no alto da torre da Igreja Matriz de Abaeté para, dizia ele, aprender a repicar e dobrar os sinos. É que, à medida que ia tomando idade, notavam todos, também ia-se-lhe desabrochando uma visível inclinação para as coisas da Igreja, acentuado pendor para a vida clerical, lampejos para um destino que seria, mais tarde, concretizado. (PALHARES, 1982, p. 11)

Iniciou seus estudos em Divinópolis (MG), seguiu para Holanda, de onde

retornou para a sua ordenação como sacerdote. Não era mais Antonio Álvares da

Silva e sim Frei Orlando. Aos 24 anos de idade foi para São João Del Rei, onde

lecionou no Colégio de Santo Antônio, estabelecimento dirigido pela Ordem dos

Franciscanos Menores. Preocupado com os pobres, o jovem padre instituiu a “Sopa

dos Pobres”. Desenvolveu trabalho árduo, difícil, pois possuía trezentos pratos, mas

o número era de quinhentos dos que lhe batiam à porta e os mesmos trezentos se

alimentavam pela misericórdia de Deus, como um milagre devido a falta de material.

Neste trabalho honroso, recebeu grande apoio de voluntários dos integrantes do 11º

Regimento de Infantaria (11º RI) após uma conversa com o comandante deste

regimento. Foi seu primeiro contato com a caserna e ali se deparou com os

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preparativos da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para a Segunda Guerra

Mundial.

A guerra gerou seus efeitos fora e dentro do Brasil. Em costas brasileiras

embarcações foram afundadas pelos alemães. Frei Orlando passou a se preocupar

com a situação beligerante, deixando de lado, em certo ponto a “Sopa dos Pobres”.

São João Del Rei se tornara uma praça de guerra, especialmente quando seus

habitantes escutavam canhões e metralhadores rugindo nas alturas dos campos em

torno do Quartel. Diante de tais fatos, Frei Orlando não se conformava em

permanecer impassível ante a situação nacional. Certo dia recebeu um convite do

Cel. Delmiro Pereira de Andrade, Comandante do 11º RI para comparecer ao

Quartel e ali foi convidado a integrar-se na Expedição Brasileira. Jubiloso,

providenciou com rapidez autorização de seus superiores para seguir em uma

missão nobre: o de ser missionário sem fronteiras, ir a qualquer parte do mundo para

multiplicar os discípulos de Deus. “Estava, pois, o filho de Morada Nova incluído no

Estado Efetivo do nosso regimento, no posto de 1º Tenente, consoante Decreto-lei

nº 6.535, de 26 de maio de 1944” 1. Ingressou à FEB e sua primeira missa foi na

Catedral de Pisa para os pracinhas brasileiros.

Diante do front, em meio ao fogo de inimigos, Freio Orlando fazia questão

absoluta de se posicionar nas primeiras linhas. Os amigos e companheiros

necessitavam de auxílio espiritual.

Todo encapotado, galochões contra a neve, capacete enterrado na cabeça, saía ele pelos campos, deitando-se aqui e ali, para ocultar-se das vistas inimigas. Fazia questão de ver de perto as nossas posições avançadas e o estado moral dos soldados, a nimando-os com o seu idealismo sempre posto à prova . (PALHARES, 1982, p. 131-132, grifo nosso)

Frei Orlando não se acovardara diante de tanto horror, fosse pela frieza da

guerra e sua gélida arte de matar, como pela temperatura no campo de batalha,

companheiras aliadas que lutavam contra os pracinhas, necessitados de um alento

espiritual e um ombro amigo para fortalecer não só o coração como a alma.

1 PALHARES, Gentil. Frei Orlando, o Capelão Que Não Voltou. Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército, 1982, p. 91

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Estavam numa temperatura de 25 graus abaixo de zero, somados o sangue,

gemidos, dores, lágrimas e confusão.

Em sua última carta à mãe, relatou sobre a visita feita em Roma, da visita feita

ao Papa, um terço bento que ganhara do Santo Padre e a bênção que recebera da

maior autoridade da Igreja Católica. Narrou também a visita feita à prisão de São

Pedro, às catacumbas de São Sebastião, à Igreja de Santa Inês e seu retorno ao

Vaticano. Nesta mesma carta, agora Capitão Frei Orlando, fez promessas de viajar

com a mãe.

Viveu tempos difíceis na tomada do Monte Castelo. Durante uma visita feita à

linha de frente, Frei Orlando foi vítima de um tiro acidental de um partisam (membro

da Resistência italiana ao nazifascismo). A carta enviada à sua mãe datada de 2 de

fevereiro de 1945 chegou às mãos de D. Emirena no dia 21 do mesmo mês. Para a

tristeza do 11º RI, neste dia, na Itália, o Capelão Frei Orlando estava sendo

sepultado em Pistóia. O boletim n° 52, do 11º RI, de 22 de fevereiro de 1945,

impresso em Docce, na Itália, registrou o passamento do capelão:

Foi recebida, com dolorosa surpresa, a notícia do falecimento do capelão capitão Antônio Álvares da Silva (Frei Orlando), vítima de um tiro, quando se dirigia de Docce para Bombiana, a fim de levar sua assistência espiritual aos homens em posição, no dia 20, quando do ataque ao Monte Castelo. O sacerdote, que desapareceu da face da Terra após ter servido com a sua pureza de sentimento à religião e à Pátria, deixa imensa saudade no seio da organização católica a que pertencia. (...) No 11o Regimento de Infantaria, como chefe da Capelania, conquistou a todos pelas qualidades apostolares. Convidado por este Comando para presta serviços religiosos nessa Unidade, quando ainda em São João del-Rei, não demorou a acompanhá-lo para a guerra, e uma vez no teatro de operações, nos dias de maiores atividades bélicas, jamais deixou de levar o seu conforto espiritual ou o santo sacrifício da missa em qualquer circunstância, mostrando-se, além de religioso, um forte, um bravo, um verdadeiro soldado da Cruz de Cristo. (PALHARES, 1982, p. 171-172)

A galeria do Exército Brasileiro ficaria incompleta se faltasse a figura desse

capelão, que levou uma vida simples, mas cheia de atividades voltadas para o ser

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humano, demonstrando sua fé na pessoa de Jesus. Um homem, conforme o

General-de-Divisão Octávio Pereira da Costa relatou:

[...] não apenas por estar completando a galeria dos Patronos do Exército, mas porque a vida de um homem simples e puro, como a de Antonio Álvares da Silva, é fonte permanente de edificação. Poderá servir-nos, a todos nós – e aos que virão depois de nós – pois a vida consagrada a um ideal, a uma causa, a uma fé, amar e servir a Deus ao próximo é uma vida que vale a pena ser vivida.” (PALHARES,1982, p.VII)

O Decreto nº. 20.680, de 28 de janeiro de 1946, concedeu a Frei Orlando, o

título de Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército, em virtude de sua

morte em plena guerra e pelos serviços inestimáveis prestados à Força

Expedicionária Brasileira, nas fileiras do regimento Tiradentes. Em 22 de dezembro

de 1960 o Patrono do SAREx e seus restos mortais foram trasladados para

Monumento aos Mortos na Segunda Guerra Mundial, na cidade do Rio de Janeiro.

Frei Orlando

Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exér cito

Figura 2. Capelão Católico, Patrono do SAREx. Fonte- Sarex - Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em: 15 jan.2008

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Figura 3 – Frei Orlando ministrando a Comunhão em pleno Front. Fonte: Frei Orlando – O Capelão que Não Voltou – (PALHARES, p. 125).

Figura 4: Frei Orlando Pregando Fonte: Frei Orlando – O Capelão que Não Voltou – (PALHARES, p. 125).

No Artigo 1º, parágrafo II, da Portaria nº 211, de 03 de maio de 2001, o

Comandante do Exército relata que:

A assistência espiritual visa a elevar o moral individual dos integrantes do Exército e a possibilitar um convívio fraternal e harmônico do homem em sua comunidade, de forma a desenvolver e estimular, particularmente no militar, a determinação, a coragem, o

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equilíbrio emocional e o espírito de corpo, atributos imprescindíveis em operações de combate.

Mesmo sendo uma portaria atual, cinqüenta e sete anos entre sua publicação

e a vida de Frei Orlando na II Guerra mundial, via-se neste Capelão um espírito

forte, dinâmico, determinado a estimular coragem em seus companheiros de

batalha. Frei Orlando cumpria algo que ainda não tinha sido estabelecido. Este

mesmo espírito será visto mais adiante com o Capelão Evangélico Pastor João

Filson Soren. Atitudes proféticas na eleboração da portaria.

1.2. A Assistência Religiosa Dentro da História do Exército Brasileiro

O assunto em epígrafe remete-se para os anos de 1850, mais precisamente

no dia 24 de dezembro, quando, por decreto, o de nº 747, o Governo Imperial

aprovou o Regulamento da Repartição Eclesiástica do Exército. Foram efetivadas

quatro classes de capelães: os da Ativa, os Agregados, os Avulsos e os

Reformados. Esses capelães tiveram uma importante missão e atuação destacada

na Guerra contra o Paraguai. Dentre eles podemos citar Frei Fidelis D´Avola, Frei

Salvador de Nápoles e outros.

O Visconde de Taunay comenta em suas “Memórias” sobre a atuação dos

capelães na Guerra do Paraguai, como no caso do Frei Fidelis D´Avola:

“... tinha grande coragem e sangue frio e ar eminentemente caridoso e abnegado . Digno de grande respeito , distinguia-se pelo espírito cristão e sacerdotal , quer no campo de ação , que na prática da dedicação hospitalar. E com ele, se apontavam diversos...” (apud PALHARES, 1982, p.193, grifo do autor)

Quando o General Luís Alves de Lima e Silva, (Caxias) deixou o

comando das Armas Brasileiras, na ordem do dia, a de nº 272, referindo-se aos

capelães, externou sua gratidão ao trabalho desempenhado por estes eclesiásticos.

Enalteceu a fibra, o caráter, bem como o amor à pátria no cumprimento da missão

quando os mesmos abnegaram-se nos hospitais e até mesmo no campo de batalha.

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Finda a Guerra, o Serviço Religioso do Exército conhecido como Repartição

Eclesiástica do Exército passa ser chamado pelo Decreto nº 5.679 de 27 de junho de

1874 de Corpo Eclesiástico do Exército. Esse corpo era composto por: um Capelão-

mor com a graduação de Coronel, um Capelão tenente-coronel, um capelão major,

dezesseis capelães capitães e sessenta capelães tenentes. Além dos trabalhos

dentro do Exército deveriam catequizar os índios, os presidiários e os militares que

trabalhavam nas fronteiras. Os capelães tinham suas promoções de duas maneiras:

metade por merecimento e metade por tempo de serviço.

Catorze meses após a proclamação da República, os positivistas

separaram a Igreja do Estado e automaticamente veio a extinção do Corpo

Eclesiástico do Exército. Preocupados em manter a unidade religiosa, na primeira

década do Século XX, um grupo de cadetes católicos, na Escola Militar do

Realengo, liderados por Juarez Távora, Francisco José Pinto e outros, fundaram a

Conferência Vicentina de São Maurício sobre as bênçãos do Padre Miguel de Santa

Maria Mouchon. Já oficiais fundaram a União Católica dos Militares. Os cadetes

foram corajosos em criar o Serviço Religioso numa época de espírito liberal como

declara Palhares (1982, p.195):

Não seria demais dizer que o atual Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas nasceu da fé inerente daqueles abnegados e corajosos cadetes que, em meio ao espírito liberal da época, souberam guardar, incólume, a formação religiosa que lhes fora plasmada n´alma.

1.3. A Assistência Religiosa na História do Exércit o Brasileiro a Partir de 1939

Deflagrada a Segunda Guerra Mundial, não teve como o Brasil ficar fora de

tão grande crise. O país ingressou nas linhas aliadas depois dos alemães terem

torpedeado trinta e um navios da nossa marinha Mercante, com a perda de 971

vidas brasileiras. O território pátrio fora ameaçado e ultrajado. A partir desse ato

beligerante o Brasil rompeu relações com a Alemanha, Japão e a Itália. O ato de

guerra declarado contra as três nações elencadas veio com o decreto nº 10.358 de

31 de agosto de 1942.

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O Brasil tentou de várias formas manter-se na neutralidade, mas diante da

felonia do inimigo, acarretando reflexos para a economia, nasce em 9 de agosto de

1943 a FEB, a Força Expedicionária Brasileira. Antes dos pracinhas se dirigirem à

Europa, ocorreu um desfile na cidade do Rio de Janeiro e diante de milhares de

brasileiros, os futuros combatentes desfilam encerrando com as enfermeiras. Após

gritos, palmas e vivas à tropa, no palanque presidencial o Chefe de Estado, doutor

Getúlio Dornelles Vargas, questionou o Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jayme de

Barros Câmara, que estivera ao seu lado, se gostara do desfile. Dom Jayne, diante

do Chefe do Brasil, disse que faltavam os capelães. No dia seguinte, 25 de maio de

1944, Getúlio Vargas cria o Corpo de Capelães tendo em mente o que disse Rui

Barbosa em um de seus discursos: “Não pode haver disciplina na terra sem a do

céu”2.

Assim, em 26 de maio de 1944, foi assinado o Decreto-lei nº 5.573 que criava

o Serviço de Assistência Religiosa. Dentre os capelães destacamos o Frei Orlando

supracitado. A assistência religiosa foi de tamanha relevância que terminada a

guerra foi assinado o Decreto-lei nº 8.921, de 26 de janeiro de 1946, estendendo a

Assistência Religiosa à Marinha e à Força Aérea.

Para que o Quadro de Assistência Religiosa pudesse ter um corpo de Serviço

Militar, foi necessário criar uma escala hierárquica que servisse de estrutura, ter

princípios e dar fundamento ético. Todos esses aspectos supracitados foram

regulamentados com a promulgação da Lei nº 6.923 de junho de 1981. Com a nova

legislação, o Serviço Religioso determinava: 1 Coronel Capelão-Chefe, 6 Tenentes-

Coronéis Capelães para as subchefias dos Comandos de Exércitos e Militares de

Área, 7 Majores Capelães, 16 Capitães Capelães e 1º e 2º Tenentes Capelães – 20.

De acordo com a Lei acima citada, Palhares (1982, p. 198) a resume devido a sua

complexidade:

Os candidatos à Capelania Militar serão submetidos a um estágio de instrução e adaptação, com duração de até 10 meses. Este estágio contará de: a) um período de instrução militar geral na Escola de Formação de Oficiais da Ativa da Força Singular respectiva (AMAN); b) um período como observador em uma Escola de Formação de

2 PALHARES, Gentil. Frei Orlando, o Capelão Que Não Voltou. Rio de Janeiro:Biblioteca do Exército, 1982, p. 197

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Sargentos da Ativa da Força Singular (ErSA); c) um período de adaptação num Corpo de tropa, durante o qual, o candidato será observado no desempenho de suas atividades pastorais. Durante o estágio, o candidato será equiparado a Aspirante-a-Oficial, e fará jus, somente, à remuneração correspondente. [...] Pelo artigo 10, da nova Lei [...] cada Ministério Militar atentará para que o exercício de religiões seja proporcional ao número de praticante s na área a ser atendida pela assistência religiosa. (grifo nosso)

A Assistência Religiosa não só leva o homem a ter amor à pátria, mas

também a sua religião de origem.

Para que fique marcada na história da Capelania Militar, o Exército Brasileiro

comemora, no dia 13 de fevereiro, o Dia do Serviço de Assistência Religiosa e, com

respeito e admiração profundos, homenageia a pessoa do Capitão Capelão Antônio

Álvares da Silva, Frei Orlando, seu patrono.

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CAPÍTULO 2

A CAPELANIA MILITAR E SUA ESTRUTURA

2.1. A Capelania Militar

Também chamada de capelania castrense3. O capelão militar é um ministro

religioso encarregado de prestar assistência religiosa a alguma corporação militar

(exército, marinha, aeronáutica, Polícias Militares e aos Corpos de Bombeiros

Militares). Nas instituições militares existem as capelanias evangélicas e católicas,

as quais desenvolvem suas atividades buscando assisitir aos integrantes das Forças

nas diversas situações da vida. O atendimento é extendido também aos familiares. A

atividade de capelania é importante no meio militar, pois contribui na formação

moral, ética e social dos integrantes das Unidades Militares em todo o Brasil. Para

tornar-se um Capelão Militar, o interessado deve ser Ministro Religioso - Padre,

Pastor etc, com experiência comprovada no Ministério Cristão, e ainda ser aprovado

em concurso público de provas e títulos. Ao ser aprovado no concurso específico, o

militar capelão é matriculado em curso militar de Estágio e Adaptação de Oficial

Capelão.

2.1.1. A Legislação Brasileira

Segundo a Constituição Federal / 1988 – artigo 5º e inciso VII:

Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência nas entidades civis e militares de internação coletiva.

3Castrense- Relativo à classe militar; pertencente ou relativo a acampamento militar. Pequeno Dicionário Brasileiro da língua Portuguesa

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A Carta Magna, (Constituição Federal de 1988), prevê e assegura a prestação

do Serviço de Assistência Religiosa:

A Constituição Federal de 1988 prevê em seu art. 5º, inciso VII que «é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva.» A lei 6.923, de 29/6/1981, alterada pela lei 7.672, de 23/9/1988, organizou o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas. A partir desta legislação temos definido que: 1) «O Serviço de Assistência Religiosa tem por finalidade prestar assistência religiosa e espiritual aos militares, aos civis das organizações militares e às suas famílias, bem como atender a encargos relacionados com as atividades de educação moral realizadas nas Forças Armadas.» (Lei 6.923, art. 2º) 2) «O Serviço de Assistência Religiosa será constituído de Capelães Militares, selecionados entre sacerdotes, ministros religiosos ou pastores, pertencentes a qualquer religião que não atente contra a disciplina, a moral e as leis em vigor.» (Lei 6.923, art. 4º) 3) «Cada Ministério Militar atentará para que, no posto inicial de Capelão Militar, seja mantida a devida proporcionalidade entre os Capelães das diversas regiões e as religiões professadas na respectiva Força.» (Lei 6.923, art. 10) Disponível em: http://pt.wkipedia.org/wiki/ capelania_militar. Acesso em: 1 abr.2008.

2.1.2. A Capelania Militar Católica

A Capelania Militar Católica no Brasil é garantida por força do acordo

diplomático celebrado entre o Brasil e a Santa Sé, assinado no dia 23/10/1989.

Segue transcrito apenas o Artigo 1º do Estatuto do Ordinariado Militar do Brasil que

menciona o acordo feito entre a Santa Sé e a República Federativa do Brasil:

Art. 1 - O Vicariato Castrense no Brasil, ereto canonicamente, em 6 de novembro de 1950 e que, por força da Constituição Apostólica “Spirituali Militum Curae”4 de 21 de Abril de 1986, passou a ser Ordinariado Militar, depois do Acordo entre a Santa Sé e a República Federativa do Brasil, assinado em 23 de outubro de 1989, recebeu nova estrutura homologada pelo Decreto “ Cum Apostolicam Sedem”5, de 2 de Janeiro de 1990, da Congregação dos Bispos. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ordinariado_Militar_do_ Brasil. Acesso em: 20 jan.2008.

Criou-se então um Ordinariado Militar para dar assistência religiosa aos

membros das Forças Armadas Brasileiras de confissão católica. Ordinariado Militar é 4 Traduz-se por Cúria da espiritualidade (capelania) militar. 5 Traduzir-se por Com Sede Apostólica

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nomeado por Roma e sustentado pela União. A sede da Arquidiocese e sua Cúria

localizam-se em Brasília-DF, numa repartição do Estado Maior das Forças Armadas.

Este Ordinariado Militar é canonicamente assimilado às dioceses e é dirigido por um

Ordinário Militar. Este prelado goza de todos os direitos e está sujeito a todos os

deveres dos bispos diocesanos. O Ordinário Militar deve ser brasileiro nato, ter a

dignidade de Arcebispo e estar vinculado administrativamente ao Estado-Maior das

Forças Armadas, sendo nomeado pela Santa Sé, após consulta ao Governo

brasileiro. O Estatuto do Ordinariado Militar foi homologado pelo decreto Cum

Apostolicam Sedem6, de 02/01/1990, da Congregação dos Bispos. O cargo é

ocupado por um arcebispo nomeado pelo Papa que tem jurisdição sobre todo

trabalho das Capelanias militares em território nacional, sejam das FFAA (Forças

Armadas) ou da Forças Auxiliares, sejam de Capelania católicas ou evangélicas.

A partir do acordo diplomático realizado três Arcebispos já chegaram a este

posto de maior autoridade eclesiástica militar no Brasil. O atual Ordinário Militar é

dom Osvino José Both, que assumiu suas atribuições em agosto de 2006. Além do

Ordinário Militar, a arquidiocese militar conta ainda com a presença de um bispo

auxiliar para exercer suas funções episcopais em apoio ao arcebispo nas suas

obrigações pastorais pelo país afora. De acordo com o censo de 1990 dos atuais

efetivos das Forças Armadas e Forças Auxiliares, constata-se um grande percentual

de católicos e evangélicos. Destaca-se que só dentro do Exército Brasileiro a

“porcentagem do efetivo é de 68.3% de católicos e 23,22% de evangélicos”7. Se

também forem considerados os familiares desses militares e os funcionários civis

dos Ministérios, Policiais Militares Estaduais e Corpo de Bombeiros, chega-se ao

universo de cerca de três milhões de pessoas (tabulação ainda do censo de 1990).

Estes fiéis são atendidos por cento e setenta e duas Capelania militares, segundo

dados de Macedo (1994).

A(s) história(s) da(s) capelania(s) teve início com a Igreja Católica Romana.

Ao olhar para a história, seja por meio de quaisquer óculos (livros históricos),

notaremos a presença da Igreja Romana em 90% dos setores relacionados com o

estado, governos, assembléias e outras. Não há como negar essa realidade, já que

6 Traduz-se por Com Sede Apostólica 7 Fonte Sarex. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em 27 mar.2008

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a igreja católica ainda possui o maior número de fiéis. Ela sempre teve um poder

imensurável na Idade Média, hoje um pouco ofuscada, mas mesmo assim tem

grande poder de decisão e influência no meio onde age.

Embora seja difícil datar precisamente a história de quando começou a

assistência religiosa, moral e espiritual em terras brasileiras, pode-se dizer que:

[...] o ato Oficial de posse de nossa terra para a Coroa Portuguesa foi a missa do dia 1º de maio de 1500. Este ato religioso caracterizou a primeira atividade de assistência religiosa aos militares. Integrando as Entradas e Bandeiras, prestando assistência espiritual, apoio e orientação moral aos grupamentos que as integravam, estavam os sacerdotes: Jesuítas, Franciscanos e Carmelitas. A História do Brasil por VALTAIRE. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/ 500br/missa1.htm. Acesso em: 27 mar. 2008.

Conforme registros, a carta enviada por Pero Vaz de Caminha ao Rei de

Portugal retrata a oficialização deste ato sagrado como prova da assistência

religiosa em nosso país:

E quando veio ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos levantadas, eles (os índios) se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando assim, até ser acabado: e então tornaram-se a assentar como nós... e em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção. - Carta de Caminha a El-Rei, 1º de maio de 1500. Ibid.

Embora o objetivo não seja discutir a oficialização da primeira missa no

Brasil, como já foi dito, segundo os registros, a primeira bênção dada em terras

brasileiras ocorreu em:

No dia 26 de abril de 1500, num banco de coral na praia da Coroa Vermelha no litoral sul da Bahia, foi rezada uma missa de Páscoa, a primeira de tantas que desde então foram celebradas naquele que veio a tornar-se o maior país católico do mundo. Acompanhe os passos iniciais dos padres evangelizadores e as etapas das missões católicas no Brasil Colonial. A História do Brasil por VALTAIRE. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/missa1. htm. Acesso em: 27 mar.2008.

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A bênção ocorreu no dia 26 de abril de 1500, mas a oficialização foi em 1º de

maio de 1.500, após esse ato Cabral tomou posse da terra. Desembarcados nas

terras batizadas de Vera Cruz, acompanhava os descobridores a ampla assistência

da Igreja Romana, como forma de abençoar não só o trajeto que seria percorrido

pelos mares, mas também as terras descobertas; assim, junto com as possíveis

descobertas, além de expandir o império português em conjunto, a igreja expandia

também suas tendências religiosas.

[...] esta é a razão porque as caravelas de Portugal que zarpavam para mares nunca dantes navegados, conduziam em suas brancas velas, de direito e de fato, a cruz da Ordem de Cristo, pintada de vermelho vivo, cor original da Entidade, cujas finalidades maiores eram a expansão do Império e a propagação da fé-teológica entre infiéis. (apud MACEDO, 1994, p.55).

Assim o estado português dependia da bênção da Deus, tendo a igreja

católica como mediadora dessa graça e, ao mesmo tempo, a igreja dependia do

crescimento do estado para estender suas tendas religiosas.

Quando Pedro Álvares Cabral aportou na Ilha, logo batizada de Ilha de Vera Cruz ordenou a celebração, em 26 de abril de 1500, de uma missa como ato de posse da nova terra. Esta missa foi oficiada por Frei Henrique Soares de Coimbra, superior dos Franciscanos missionários que compunham a frota Cabralina. Vale notar que esses religiosos eram Capelães da Armada de Pedro Álvares Cabral. Sendo assim,o ato religioso da Primeira Missa pode ser considerado como o primeiro serviço de assistência religiosa prestada a militares da Ordem de Cristo em nosso país. (COELHO, 2006, p.20 – 21)

Figura 5 - Fragmento do quadro "A Primeira Missa no Brasil"- Disponível em:

pt.wikipedia.org/wiki/Descobrimento_do_Brasil. Acesso em: 27 mar.2008.

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Mesmo tendo uma dominação católica romana, não se pode fechar os olhos

para os trabalhos realizados por jesuítas, franciscanos e outras ordens em solo

pátrio. O trabalho de assistência religiosa cresceu com a chegada de outros barcos

advindos de Portugal como, por exemplo, nos barcos de Tomé de Souza que

aportaram em 1549, quando chegaram “os soldados de Cristo, os homens-de-preto

da recém fundada ordem de Santo Inácio de Loyola”8. Esses soldados de Cristo

eram quatro: o Padre Manoel da Nóbrega e o Padre Aspicuelta Navarro foram os

mais famosos, depois, é claro, do Padre José de Anchieta que arribou mais tarde. A

eles juntaram-se mais dois: Antônio Rodrigues, um ex-soldado mestre nos idiomas

nativos, e Pêro Correia, um ricaço que decidira-se pelo hábito talar, e que, para

Nóbrega, "era a melhor língua do Brasil". O trabalho era gigantesco, pois, consistia

em evangelizar, visitar, catequizar, educar aquela gente, oferecer um pouco de

cultura (eles tinham cultura, mas não aquela que pudesse gerar comunicação) para

aquela massa de gentios, com mil falas, que se espalhava por aquele território com

dimensões continentais. Era uma tarefa para gigantes, de pessoas comprometidas

com a disseminação da religião em prol dos homens.

No trabalho árduo conquistas foram alcançadas. Depois de muita luta,

capelas, santuários e igrejas foram erguidos. Junto às construções, escolas e

instituições de ensino surgiram. A fé católica cresceu necessitando de mais padres

de várias ordens (carmelitas, franciscanos e beneditinos). Junto à educação veio a

doutrinação, os batismos e “uma Santa Casa aqui, um Colégio acolá, uma cama de

lençóis para um doente, [...] somados aos oceânicos sermões do Padre Vieira9,

fizeram com que se mantivesse em mãos católicas uma das maiores extensões de

terras do mundo ocidental”10.

8 SCHILLING, Voltaire - História do Brasil. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/ missa1.htm: Acesso em : 4 abr.2008. 9 Padre ANTONIO VIEIRA- (Lisboa, 6 de fevereiro de 1608 — Bahia, 18 de Julho de 1697) foi um religioso, escritor e orador português da Companhia de Jesus. Um dos mais influentes personagens do século XVII em termos de política, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu infatigavelmente os direitos humanos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização. Era por eles chamado de "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi). Wikipédia, a enciclopédia livre. Disponível em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Ant%C3%B3nio_Vieira. Acesso em: 22 out.2008. 10 SCHILLING, Voltaire - História do Brasil. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/ missa1.htm. Acesso em: 4 abr.2008.

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2.1.3. A Capelania Militar Evangélica

A história da capelania no Brasil nem sempre foi marcada pela presença

católica. Embora seu patrono tenha sido o Frei Orlando, pode-se noticiar um pouco

da vida de capelães evangélicos que fizeram também diferença, marcando a

história, dando início à mesma e fincando suas raízes em solo pátrio para servir de

esteio aos soldados que não eram de confissão católica romana.

A chegada da Igreja Católica Romana em terras brasileiras ocorreu de

imediato, fincando bandeiras junto com o colonizador Pedro Alvares Cabral no

momento em que colocaram os pés em uma terra desconhecida logo batizada de

Ilha de Vera Cruz com a celebração, em 26 de abril de 1500, de uma missa como

ato de posse da nova terra. Por outro lado a inserção do protestantismo foi de forma

bem pausada devido a preocupação da igreja oficial na manutenção da fé

precavendo-se da dissiminação de heresias que poderiam criar divisões e

rachaduras dentro da igreja, fato ocorrido em vários países da Europa.

A palavra protestantismo é um termo coletivo, usado para aludir àquele movimemnto religioso e aqueles grupos que vieram a fazer oposição à Igreja Católica Romana, o que produziu um séro cisma na Igreja Católica, no século XVI. O grupos que mantêm essa atitude cismática são chamado de “protestantes. (CHAMPLIN; BENTES, 1999, p.475).

A resistência portuguesa se deu, além de questões comerciais, mas tamtém

de soberania política e religiosa. Antes do protestantismo fincar raizes em difinitivo

no Brasil, algumas tentatias foram realizadas no curso da história do Brasil Colônia e

Império. A primeira tentativa deu-se com a “expedição de Villegaignon em 1555, que,

sob o amparo de Coligny, pretendia fundar a França Antártica e constlrurir refúgio

onde os hugenotes11 pudessem praticar livremente o culto reformado” (MENDONÇA,

1995, p.23). Associavam à nova terra a idéia de paraíso onde poderiam pregar e

viver o evangelho genuinamente. O primeiro culto protestante realizado no Brasil foi

11 Huguenote é a denominação dada aos protestantes franceses (quase sempre calvinistas), pelos seus inimigos, nos séculos XVI e XVII. O antagonismo entre católicos e protestantes resultou nas guerras religiosas, que dilaceraram a França do século XVI. Wikipédia. Disponível em: http:// pt.wikipedia.org/wiki/Huguenote. Acesso em: 22 out.2008.

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em 10 de março de 1557, mas com a expulsão de Villegaignon e a destrução da

colônia da Guanabara em 1560, expira o intento dos huguenotes.

Outra tentavia ocorreu que durou quinze anos (1630-1645) com os

holandeses no nordeste do Brasil. Não há indicios de que o objetivo era de ordem

religosa no sentido de terra prometida. “O mais simples, no entanto, é ver no grande

empreendimento holandês na época do Brasil filípico a expansão colonialista e

capitalsita da Companhia das Índias, visando o comércio do açucar” (Ibid).

Mesmo ocorendo o comércio do açucar, aproveitaram neste tempo todo de

colonia no Brasil, pregar a fé reformada. Houve um êxito muito grande por parte dos

holandeses como narra Mendonça (1995, p.25):

Consoante às normas refromadas foram organizadas duas classes (presbitérios), uma no Recife e outra na Paraíba, e, unindo ambas, o Sínodo, o primeiro a ser instituído no Brasil. Com os consistórios (conselhos) das congregações locais, estava implantada, de modo completo, a organização eclesiástica calvinista.

A diferença de resultados entre franceses e holandeses está no fato de

aqueles vieram com o objetivo de criar um paraíso em solo brasileiro e estes como

comerciantes, se instalaram primeiro e depois com o passar do tempo implantaram o

protestantismo no nordeste. Todo trabalho realizado ao longo dos quinze anos

desapareceu em 1645 com a extinção do domínio holandês após a segunda batalha

dos Guararapes12 .

O tema liberdade religiosa foi motivo de grandes debates na Constituinte de

1823. Era inevitável acordos políticos entre o Brasil católico com países protestantes

por exemplo Inglaterra para o estreitamento comercial. A partir deste momento

ocorre uma tolerância aos protestantes, claro com algumas restrinções como por

exemplo a proselitismo e constlrução de templos.

12 As Batalhas dos Guararapes foram duas batalhas travadas entre as tropas invasoras holandesas e os defensores portugueses, nos Montes Guararapes, actual município de Jaboatão dos Guararapes, ao Sul do Recife, no Estado de Pernambuco, no Brasil. A primeira batalha ocorreu em 19 de Abril de 1648, e a segunda em 19 de Fevereiro de 1649. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Batalha_dos_Guararapes. Acesso em: 23 out.2008.

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É certo, portanto, que foram os prostestantes aproveitando as oportunidades que o clima de tolerância oferecia e, no final do século XIX, já estavam praticamente implantadas no Brasil todas as denominações clássicas do protestantismo. (MENDONÇA, 1995, p. 27)

A partir de 1810 chegam ao Brasil Anglicanos e Alemães que tinham em suas

igrejas capelães. “Em 1835, chegou o primeiro missionário metodista ao Rio de

Janeiro o rev. Foutaim E. Pitts [...] em 1937 chegou Daniel P. Kidder, o distribuidor

de Bíblias. [...] Mas, em 1835, chega ao Rio de Janeiro o médico escocês Robert

Reid Kalley” (Ibid). Os anos se passaram e outros missionários chegaram no Brasil

com o objetivo de estabecer suas igrejas. Pode-se destacar o missionário, o Rev.

Ashbel Green Simonton. “Enviado ao Brasil pela grande Igreja Presbiteriana dos

Estados Unidos, a 12 de outubro [sic] de 1859 desembarcou no Rio o primeiro

desses missionários, o Rev. Ashbel Green Simonton, de Dauphin (Pen)” (LÉONARD,

1963, p.54). O trabalho foi tomando corpo; igrejas foram formadas no Rio de Janeiro,

São Paulo e em cidades de seu interior como Brotas.

Entre a chegada de Simonton (1859) e o fim do Império, já tinham os presbiterianos mais de cinquenta igrejas, quatro presbitérios (unidades regionais eclesiásticas), um seminário para preparar pastores nacionais, dois colégios e diversos periódicos. (MENDONÇA, 1995, p. 31)

O primeiro registro que se tem de um pastor protestante que serviu entre os

militares brasileiros foi Friedrich Christian Klingelhöffer, pastor luterano, de

nacionalidade alemã. O Pastor Friedrich foi líder da Comunidade Evangélica Alemã

na cidade de Campo Bom, no Rio Grade do Sul. Veio para o Brasil em 1825 para dar

assistência ao alemães enraizados no sul e substituiu o pastor Carl Leopold Voges,

quando este se transferiu para Três Forquilhas em outubro de 1826, passando a

atender Campo Bom e arredores. Foi em Campo Bom, em 1827, que construiu a

primeira igreja evangélica do sul do Brasil, tornando-se seu primeiro pastor. Cerca

de dez anos depois, Klingelhöffer aderiu ao movimento “Farroupilhas”, integrando-se

aos “Farrapos”, pois achava que a revolução seria melhor para os luteranos.

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Por ocasião da Revolução Farroupilha o Pastor Klingelhoefer aderiu ao movimento ao lado dos revoltosos, por achá-la vantajosa aos protestantes. O projeto de constituição farroupilha previa igualdade e liberdade religiosa, ao contrário do Governo Imperial que prometia liberdade religiosa aos evangélicos, mas a constituição determinava que a religião oficial era a católica-romana. Por isso ficou conhecido como "o Pastor farrapo". O Governo Imperial ao tomar conhecimento do seu apoio aos farrapos suspendeu o pagamento dos seus subsídios. IMIGRAÇÃO ALEMÃ AO BRASIL E RIO GRANDE DO SUL Disponível em: http://www.mluther.org.br/Imigracao/ imigracao_ i.htm. Acesso em: 4 abr.2008.

O “Pastor Farrapo”, como era conhecido, caiu em combate diante de um

conflito sanguinário contra a colônia alemã, após tentativa de dar segurança à sua

família, levando-a para Rio Pardo, cidade refúgio dos rebeldes. Foi morto quando se

envolveu contra as tropas imperiais na localidade de Arroio dos Ratos, sendo

sepultado ali mesmo no dia 6 de novembro de 1838. Segundo Boanerges Ribeiro

(1973, p.80) Klingelhöffer morreu como capelão do exército legalista. Mais tarde

seus restos mortais foram levados para Porto Alegre e sepultados no Cemitério

Evangélico.

Os dois primeiros capelães evangélicos do Brasil foram o pastor metodista

Juvenal Ernesto da Silva e o batista João Filson Soren (1908-2002), ambos atuaram

na Segunda Guerra Mundial, servindo a Força Expedicionária Brasileira (FEB) entre

1944 e 1945. A Capelania Militar Evangélica foi organizada pela extinta

Confederação Evangélica do Brasil em conjunto com o governo brasileiro para

assistir os militares protestantes.

Entre os dois capelães elencados que participaram da Segunda Guerra

Mundial, destaca-se o Pastor Batista João Filson Sorem, pois seu trabalho foi tão

majestoso em campos de batalha, marcando um período de 341 dias, participando

do 1º Regimento de Infantaria – “Regimento Sampaio” , levando a vereadora do Rio

de Janeiro, Liliam Sá, a entrar com um projeto de lei para instituir uma data para que

se comemorasse o “Dia do Capelão”.

A data escolhida foi 21 de junho, Lei Municipal nº 3983/2005, em memória ao

nascimento do ilustre Combatente de Cristo, o Pastor João Filson Sorem, primeiro

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Capelão Militar Evangélico do Brasil. Disponível em: http://www.revife.com.br/?

dinamico/745//1663 Revifé. Acesso em: 7 abr.2008.

Figura 7 - Pastor João Filson Soren

Disponível em: http://www.revife.com.br/?dinamico/745//1663 Revifé. Acesso em: 7 abr.2008.

O Pastor João Filson Soren, homem notável, bom caráter, serviu por mais de

cinqüenta anos como pastor à frente da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro

(1935 – 1985). Nascido em 21 de junho de 1908 e falecendo no dia 2 de janeiro de

2002 o tempo que esteve à frente da Primeira Igreja Batista na cidade do Rio de

Janeiro, batizou cerca de 3.345 novos membros. Faleceu aos 93 anos, após

comemorar seu 67º aniversário de ordenação ao sagrado ministério. Seu histórico

como ministro do evangelho demonstra que sua preocupação era ensinar a Palavra

de Deus bem como a educação moral. O currículo do Pastor Soren se torna estímulo

para todo ministro evangélico a seguir seus passos para que seja feita a diferença

no seio da sociedade.

Ocupou por onze vezes o cargo de presidente da Convenção Batista Brasileira e presidente da Ordem dos Pastores do Distrito Federal (hoje Rio de Janeiro), foi reitor do Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, orador e presidente da Aliança Batista Mundial, fundador da Sociedade Bíblica do Brasil, pertenceu a Academia Brasileira Evangélica de Letras e foi membro do Conselho de Administração do Hospital Evangélico do Rio de Janeiro. A Faculdade Georgetown, em Kentucky – USA lhe conferiu o Doutorado em Divindade, em 1955 e a Faculdade Batista William Jewell, em Missouri - USA, o Doutorado

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em Letras, em 1960. Por sua incomum capacidade de tradução simultânea, serviu como interprete no Estádio do Maracanã, do grande pregador norte-americano Billy Graham, em 1960. Disponível em: http:// www. revife.com.br/?dinamico/745//1663 Revifé . Acesso em: 7 abr.2008.

Completando o currículo:

Foi professor do Colégio Batista do Rio de janeiro, nos anos de 1933 e 1934 das seguintes disciplinas: Inglês, História da Civilização, Química e Física. Foi também instrutor de Educação Física. Militar Cristão. Disponível em: http://militarcristao.nom.br/casernait php?id=. 351.Acesso em: 21 mar.2008.

Diante da beligerante situação da Segunda Guerra Mundial ofereceu-se como

voluntário para servir no front como Capelão, sendo convidado para estruturar o

Serviço de Capelania Evangélica, que até o momento não existia dentro das Forças

Armadas Brasileiras. Somente um homem de visão, conforme sua vida nos conta

poderia estar à frente de tamanha missão. Era corajoso, não perdeu o azo que lhe

fora oferecido. Foi nomeado Capelão Militar em 13 de julho de 1944. Além de

Capelão, foi combatente, cumprindo sua missão de soldado diante de um caos

mundial. “Se não fosse como capelão, iria como um outro tipo de voluntário...”13

Podemos notar que embora a guerra seja um mal para a nação, ela se torna um

ofício divino para se manter a paz. Todo soldado de boa consciência tem por

objetivo lutar para salvar o maior número de civis possível, conforme pode-se ler nas

palavras de Martinho Lutero (2008, p. 6):

Em poucas palavras, ao pensar no ofício do soldado, não se deve levar em conta o assassinato, a queima, a violência física, o saque etc.:[...] Desse modo, é preciso também olhar para o ofício do soldado, ou para a espada, com olhos maduros, e ver o porquê dela agir e matar com tanta crueldade. Assim esse ofício vai provar por si que ele, em si mesmo, é piedoso, tão necessário e útil para o mundo quanto comer, beber ou qualquer outro trabalho.

O Capelão Soren partiu para a Itália no 2º escalão da FEB no dia 22 de

setembro de 1944, retornando ao Brasil somente após o término da Guerra, no dia

13 AZEVEDO, Israel Belo de: João Filson Soren O Combatente de Cristo. Rio de Janeiro: Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, 1995, p.63.

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22 de agosto de 1945. Cerca de 600 soldados de confissão evangélica integraram a

FEB. Para atender, pastorear, animar, fortalecer as almas daqueles homens e tantos

outros que com certeza participavam dos cultos, o Pastor Soren preparou um hinário

do expedicionário, tendo como título propício à fase difícil em que estavam vivendo

de “O Cantor Cristão do Soldado”, hinos que começaram a ser cantados no quartel

do Regimento Sampaio, em agosto de 1944, antes mesmo de seguirem para o

combate. Com certeza, o Capelão Soren sabia da importância da música como

estímulo para o combatente, levando-o a confiar em Deus como em seus irmãos de

armas.

Foi organizado pelo Capelão Soren um coro com cerca de quarenta militares.

Foi o primeiro coro Militar Evangélico no Brasil, dirigido pelo Sargento Júlio

Andermann. Esse coro ficou parado durante as operações de guerra, voltou a se

apresentar no fim da guerra no Brasil e em solo europeu. Uma das apresentações

ocorreu em Francolise, nas proximidades de Nápoles quando estavam aguardando

a volta para o Brasil.

Nesse local realizou-se a cerimônia de encerramento formal do serviço religioso da FEB em solo italiano, era domingo, 5 de agosto de 1945, nesta oportunidade a [sic] Coral Evangélico do Regimento Sampaio entoou [sic] pala primeira vez o Hino da Vitória, preparado pelo seu capelão, pastor João Soren. Militar Cristão. Disponível em: http://militarcristao.nom.br/casernait.php?id=351. Acesso em: 21 mar. 2008.

Os cultos eram realizados geralmente todos os dias. Dependendo das

circunstâncias eram formados pequenos grupos que se reuniam nos pelotões. Os

cultos aos domingos eram dirigidos pelos capelães dos regimentos. Por esses fatos

é que se pode notar a importância do Capelão dentro das Forças Armadas.

Entende-se que um soldado não é só forjado pela preparação e instrução militar

para poder ter sucesso em combate. Crê-se que a instrução religiosa, seja ela

católica ou protestante, tem um valor inestimável na preparação psicológica e

emocional do soldado. A presença do Capelão, assistindo suas ovelhas, cria e

desenvolve nelas a coragem e a força para se chegar à vitória. A instrução militar só

será autêntica com a presença do capelão dentro e fora da batalha.

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Diante desses fatos praticados pelo Capelão Soren, seguem registradas as

condecorações recebidas pelo esforço, coragem e fé transmitidas a todos os

soldados que lutaram ao seu lado independente da confissão religiosa:

A contribuição cívica com que ele honrou sua pátria na condição de Capelão Evangélico das Forças Expedicionárias Brasileiras lhe rendeu as seguintes condecorações militares: `Medalha do Esforço de Guerra´, `Medalha da Campanha da FEB´, `Cruz de Combate Primeira Classe´, e a `Silver Star´ (do Exército Norte Americano). Posteriormente, receberia ainda as seguintes medalhas, pelos mesmo motivos: `Mascarenhas de Moraes´, `Monumento aos Mortos da Segunda Guerra Mundial´, Amigos da Marinha´ e `Monte Castelo´, entre outras. O trabalho do Capelão Soren no front de batalha foi tão importante, que o General Mascarenhas de Moraes, comandante da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial, lhe prestou um elogio, publicado no `Boletim da Divisão´, de 28 de fevereirode1945. Revifé. Disponível em: http://www.revife. com.br/? dinamico/745// 1663. Acesso em: 7 abr.2008.

Diante de tantos feitos realizados em vida e condecorações recebidas por

causa de uma vida dedicada a Deus e de presteza ao próximo, dificilmente na

história da Capelania Militar Evangélica será encontrado alguém tão marcante como

foi o Capelão João Filson Soren. Como já existe uma Lei Municipal na cidade do Rio

de Janeiro, a de nº 3983/2005, em que se comemora no dia 21 de junho o Dia do

Capelão Evangélico, seria de grande avanço na abertura dos horizontes brasileiros a

instituição do referido Ministro do Evangelho como Capelão dos Evangélicos no

Exército Brasileiro.

Encontra-se nos registros do SAREx que no ano de 2004 (números

defasados) evangélicos correspondiam a 23,22% dos 143.787 soldados

recenseados, isto é, 33.387 militares eram evangélicos. Comparados aos militares

católicos, 98.301 soldados são a segunda força religiosa dentro do exército

brasileiro. Segundo fonte do IBGE (também defasada) que enquanto o número de

evangélicos cresceu entre os anos de 1940 – 2000 o de católicos reduziu:

Quanto à religião, nesses 60 anos de pesquisas realizadas pelo IBGE, enquanto os evangélicos cresceram para 15,4% da população, os católicos apostólicos romanos registraram uma expressiva redução entre seus adeptos - de 95% para 73,6% da população no

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período 1940/2000. Junta de Missões Mundiais – JMM. Disponível em: http:// www.jmm.org.br/index.php?option=com_content&task= view&id=1191&Itemid=275. Acesso em: 5 abr. 2008.

Como é notória nos uniformes, em que há diferenças de patentes

determinando a ascensão dentro do quadro dos militares, há também distintivos que

denotam o tipo de Armas. No caso dos Capelães também não fogem as regras. O

Capelão Militar Católico usa o distintivo de uma “Cruz Latina” (figura 8) e o Capelão

Militar Protestante utiliza o distintivo “Livro aberto com um facho em chamas” (figura

9):

Figura 8 Figura 9

Como existe distinção de distintivos, deveria haver distinção de “Patronos”,

mesmo havendo um só Chefe do SAREx.14

Hoje no Brasil os evangélicos perfazem cerca de 40 milhões, número

considerado alto, com poderes quase que plenos para escolher um presidente da

república e que poderiam ser lembrados nas Forças Armadas por um Capelão

Patrono próprio. Segundo o crescimento dos evangélicos e a proporção como se

desenvolvem dentro da sociedade brasileira, há uma estimativa de que em 2010

eles chegarão a aproximadamente 55 milhões e em 2022 poderão chegar a 50% da

14 Quanto ao SAREx será discutido mais adiante, mencionando sua finalidade a partir da pagina 38.

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população brasileira. As autoridades militares precisam pensar desde já sobre a

questão apontada. Outras estatísticas serão exibidas com maior minúcia no decorrer

do trabalho.

2.1.4. Processo Seletivo do Capelão

Segundo fonte SAREx (disponível em: dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html,

Acesso em: 1/04/2008), o Capelão Militar é um Sacerdote, tanto de confissão

Católica Romana como Protestante, responsável destinado a oferecer assistência

religiosa, espiritual e moral à tropa. Essa assistência é prestada aos integrantes do

Exército em sua área de atuação conforme organograma elaborado pelo Chefe

Comandante do SAREx. As atividades religiosas não ficam confinadas somente ao

quartel, mas estendem-se aos presos pela Justiça Militar, aos enfermos em hospitais

das Forças Armadas, aos necessitados, bem como às famílias de militares

residentes ou não nas vilas militares.

Quanto ao processo utilizado para a admissão de um sacerdote, seja ele de

confissão católica ou protestante, ao Quadro de Capelães Militares do Exército, dá-

se por intermédio de concursos públicos regulamentado por edital próprio para cada

processo seletivo. Existem duas maneiras para se adentrar ao Quadro de Capelães

Militares via concurso: 1) Para Capelão Militar Temporário; 2) Capelão Militar de

Carreira. Mesmo ambos prestando assistência religiosa igualmente, há diferenças no

que diz respeito aos requisitos para o concurso e como o próprio termo já diferencia,

o Capelão Temporário tem um período curto no trabalho que exerce dentro do

Exército.

Os Capelães Militares temporários do Exército são admitidos por análise de

currículo e são contratados por período determinado. Ao adentrar ao Quadro de

Capelães Militares (QCM) ingressa com o posto de Segundo Tenente, podendo

chegar ao máximo a Tenente-Coronel. O Capelão Militar temporário é aquele

sacerdote de confissão católica ou protestante selecionado por títulos e que pode

exercer a sua função dentro do Exército Brasileiro até, no máximo, sete anos. Este

capelão é avaliado anualmente quanto ao seu desempenho na função e se for

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aprovado permanecerá por mais um ano. Os requisitos necessários não são tão

rígidos como o Capelão de Carreira, ele tem que ter trinta e oito anos de idade

completos em 31 de dezembro do ano da incorporação nesse estágio. Seguem

anexos os itens necessários para se adentrar ao QCM:

Quadro 2 - Fonte- Sarex - Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html - Acesso em: 1

abr.2008.

O Capelão Militar de Carreira adentra ao Quadro de Capelães Militares

mediante concurso. Como a admissão é por concurso, independente se o sacerdote

é de confissão católica ou protestante, o mesmo adentra ao QCM com a patente de

Segundo Tenente podendo chegar até o posto de Coronel. Seguem abaixo os

requisitos necessários para aspirante à Capelania Militar no Exército:

a) Ser brasileiro nato;

b) ser voluntário;

c) ter menos de 38 (trinta e oito) anos de idade, em 31 de dezembro do ano da incorporação

nesse estágio;

d) ser sacerdote ou pastor;

e) ter curso de formação teológica regular de nível universitário, reconhecido pela

autoridade eclesiástica de sua religião;

f) possuir pelo menos 3 (três) anos de atividades pastorais;

g) ter consentimento expresso da autoridade eclesiástica da respectiva religião;

h) ser julgado apto em inspeção de saúde;

i) no caso dos Católicos, deverá ser obtida, anteriormente, a aprovação eclesiástica do

Bispo de origem e daquele em cuja Diocese estiver atuando ou do Superior Provincial, no

caso dos sacerdotes pertencentes às Ordens Religiosas.

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Quadro 3 - Fonte- Sarex. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html - Acesso em: 1

abr. 2008

2.1.5. O que é SAREx e qual sua finalidade

O SAREx, Serviço de Assistência Religiosa do Exército, tem por finalidade

assistir espiritualmente os militares e os civis em serviço nas Organizações militares,

bem como as famílias, atendendo também os encargos relacionados às atividades

de educação moral realizadas no Exército. Os capelães dão assistência em hospitais

e em prisões levando alento e força ao necessitado. Cada capelão em sua ordem

religiosa, além das funções citadas, possibilita através de sua assistência, criar e

possibilitar um clima de convívio fraternal e harmônico entre os soldados bem como

a) Ser brasileiro nato; b) ser voluntário; c) completar, até 31 de dezembro do ano da matrícula, no mínimo, 30 (trinta) anos e, no máximo, 40 (quarenta) anos de acordo com o inciso I do art. 37 e o inciso X do parágrafo 3º do art. 142 da Constituição Federal, combinado com os artigos 10 e 11 da Lei 6.880, de 09 Dez 80 (Estatuto dos Militares) e com o inciso III do art. 18 da Lei nº 6.923, de 29 Jun 81; d) possuir o curso de formação teológica regular, de nível universitário, reconhecido pela autoridade eclesiástica de sua religião; e) ter sido ordenado sacerdote católico romano ou consagrado pastor evangélico; f) possuir pelo menos 3 anos de atividade pastoral como padre ou pastor, comprovada por documento expedido pela autoridade eclesiástica do candidato; g) ter sua conduta abonada pela autoridade eclesiástica de sua religião; h) ter o consentimento expresso da autoridade eclesiástica competente da respectiva religião; i) o documento da autoridade eclesiástica, abonando a conduta do candidato católico romano deve constar de: - para o clero secular, uma via assinada pelo Bispo que ordenou o candidato, e outra assinada pelo Bispo, em cuja diocese o candidato estiver trabalhando. - para o clero religioso, uma via assinada pelo Superior Provincial do candidato; j) estar em dia com as suas obrigações militares e eleitorais. Se reservista, ter sido excluído da última Organização Militar (OM) em que serviu, no mínimo, no comportamento “BOM”; l) não estar “subjudice”; m) ter, no mínimo, 1,60 m de altura; n) ter pago a taxa de inscrição; o) não ter sido reprovado em Estágio de Instrução e Adaptação (EIA/QCM) anteriores por insuficiência de grau, de conceito ou por haver incorrido em falta disciplinar incompatível com o oficialato; p) não ser ex-integrante do Quadro de Capelães Militares (QCM); q) se militar da ativa do Exército, deve possuir parecer favorável do seu Comandante, Chefe ou Diretor; e r) se militar de outra Força Singular, Corpo de Bombeiros Militar ou Polícia Militar, ter autorização das respectivas autoridades competentes para prestar o concurso.

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na sociedade, levando-os também a ter coragem, equilíbrio emocional e amor à

pátria, atributos imprescindíveis em operações de combate (SAREx, 2008).

É difícil datar com precisão o momento que surge a Capelania religiosa em

terras brasileiras. Toma-se como ponto de partida o descobrimento do Brasil em 22

de abril de 1.500 e a primeira missa realizada em nossa terra, 1º de maio do mesmo

ano, pelos descobridores enviados pela Coroa Portuguesa. Este ato religioso

caracterizou a primeira atividade de assistência espiritual, pois nas embarcações

estavam presentes jesuítas, franciscanos e carmelitas.

“ Oficialmente, a assistência religiosa às Forças Armadas foi criada no

Império, pelo Decreto nº 747, de 24 de dezembro de 1850”.15. Com o advento da

República o corpo eclesiástico criado por D. Pedro II foi instinto, sendo restabelecido

na 2ª Guerra Mundial com o Decreto Lei nº 5.573 de 26 de maio de 1964. Era

necessário que os Pracinhas que lutariam em regiões tão distantes tivessem não só

o amparo do Estado como armamento, alimentação etc, mas também a presença de

homens de Deus para auxiliar espiritualmente a tropa bem como trazer paz de

espírito diante da guerra tão fria. A bravura foi uma arma que aqueceu aqueles

corações tão distantes da terra calorosa – Brasil, como diz a Canção do

Expedicionário16 (Letra Guilherme de Alemeida / Música: Spartaco Rossi):

Você sabe de onde eu venho ? Venho do morro, do Engenho,

Das selvas, dos cafezais, Da boa terra do coco,

Da choupana onde um é pouco, Dois é bom, três é demais, Venho das praias sedosas, Das montanhas alterosas, Dos pampas, do seringal,

Das margens crespas dos rios, Dos verdes mares bravios

Da minha terra natal.

Estribilho

15 Fonte- Sarex - Disponível em:http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso em:24 mar.2008 16 Militar Cristão. Disponível em: http://www.militarcristao.com.br/dmus.php. Acesso em: 1 dez.2008.

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Por mais terras que eu percorra, Não permita Deus que eu morra

Sem que volte para lá; Sem que leve por divisa Esse "V" que simboliza

A vitória que virá: Nossa vitória final,

Que é a mira do meu fuzil, A ração do meu bornal, A água do meu cantil, As asas do meu ideal, A glória do meu Brasil.

Estribilho

Eu venho da minha terra, Da casa branca da serra E do luar do meu sertão; Venho da minha Maria

Cujo nome principia Na palma da minha mão,

Braços mornos de Moema, Lábios de mel de Iracema

Estendidos para mim. Ó minha terra querida Da Senhora Aparecida E do Senhor do Bonfim!

Estribilho

Você sabe de onde eu venho ? É de uma Pátria que eu tenho

No bojo do meu violão; Que de viver em meu peito

Foi até tomando jeito De um enorme coração.

Deixei lá atrás meu terreno, Meu limão, meu limoeiro,

Meu pé de jacarandá, Minha casa pequenina Lá no alto da colina, Onde canta o sabiá.

Estribilho

Venho do além desse monte Que ainda azula o horizonte, Onde o nosso amor nasceu; Do rancho que tinha ao lado Um coqueiro que, coitado,

De saudade já morreu. Venho do verde mais belo, Do mais dourado amarelo, Do azul mais cheio de luz,

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Cheio de estrelas prateadas Que se ajoelham deslumbradas,

Fazendo o sinal da Cruz !

Compartilhar a fé cristã tanto em tempos de paz como em guerra sempre foi

um serviço prestado pela Assistência Religiosa do Exército.

Foram assim integrados à FEB, em seus diversos escalões, trinta padres católicos e dois pastores protestantes. Desde então, o Serviço de Assistência Religiosa do Exército vem prestando os mais relevantes serviços ao bem-estar espiritual da Força Terrestre. Compartilhando a fé divina com os militares que professam outras crenças religiosas, os capelães militares têm acompanhado e confortado nossas tropas em todas as situações em que se fazem necessários. Fonte Sarex. Disponível em: dgp.eb.milbr/sarex/html. http:dapnet. Acesso em: 24 mar.2008.

A história do SAREx é complementada pelos seguintes decretos:

A Lei nº 5.711, de 08 out 71 reestrutura o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas (SARFA). A Portaria Ministerial nº 995, de 09 out 72 cria o Serviço de Assistência Religiosa do Exército (SAREx). Finalmente, a Lei nº 6.923, de 29 de junho de 1981, dispõe sobre o Serviço de Assistência Religiosa nas Forças Armadas. Fonte- Sarex. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil. br/sarex/sarex.html. Acesso em: 24 mar.2008.

A partir do último decreto, Lei nº 6.923, dentro das Forças Armadas, os

Capelães Militares passaram a integrar a oficialidade a carreira dentro das

respectivas Forças, que regulamentam através de portarias específicas seus

Quadros de Capelães militares.

2.1.6. Sobre a Instrução Religiosa

Todo Capelão em sua preparação para assistir à tropa em seu comando

segue diretrizes que não ofendem os princípios cristãos e religiosos dos soldados.

Para isso foi estabelecido, conforme quadro abaixo, um parâmetro de como o

Capelão deve se portar ante os homens, tendo ética pastoral, respeito aos colegas

de ordens diferentes, aos seus superiores, bem como aos subalternos.

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Quadro 4 –Fonte SAREx. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html - Acesso em: 24 mar. 2008.

As diretrizes acima elencadas resumem praticamente todas as áreas em que

o Capelão irá trabalhar.

2.1.7. A Estrutura Organizacional do SAREx

É de praxe dentro das Forças Armadas, que o trabalho exercido pelos

Capelães dentro do Exército, orientado pelo SAREx, segue uma estrutura bem

elaborada e dinâmica que mesmo se houver deficiência na execução ou assistência

De acordo com as determinações contidas nas IG 10–50 “Instruções Gerais para o Funcionamento do Serviço de Assistência Religiosa do Exército”, aprovadas pela Port nº 211–EME, de 03 Mai 01, nas “Diretrizes Gerais para Prestação da Assistência Religiosa nas Capelanias do Exército” e na regulamentação da “Admissão de Candidatos ao Quadro de Capelães Militares da Reserva do Exército”, aprovadas pela Port nº 075–DGP, de 24 Jun 02, os seguintes temas gerais serão utilizados para as atividades de instrução religiosa: a. Deus – a importância da crença e da fé ; b. Jesus Cristo – sob o enfoque ecumênico, apresentar a importância vital do conhecimento da pessoa e da doutrina do Mestre para os cristãos; c. família – levar o militar a conscientizar-se sobre a responsabilidade de bem se preparar para que a família seja solidamente constituída; mostrar que a educação mais conveniente é a da família, e a sua melhor escola, a casa materna; ensinar a cultivar, na família, a afeição, a convivência feliz, a união, o respeito, o bom relacionamento e a responsabilidade recíproca entre pais, mães e filhos na manutenção da integridade do lar; d. relacionamento humano – expor aos militares os vários ângulos do relacionamento humano que levam à maturidade psicológica, à convivência harmônica e à sadia camaradagem; e. vocação e trabalho – explicar aos militares como também é vital ter uma habilitação, um trabalho e(ou) uma profissão que se ajustem ao indivíduo e permitam uma boa remuneração para a sua subsistência e para o estabelecimento de uma família bem estruturada; f. a fé cristã e a vida militar – sob enfoque ecumênico, explicar aos militares que não há oposição entre ser um bom militar e um bom cristão; g. o militar e a religião nos dias atuais – esclarecer os militares, com enfoque ecumênico, sobre a importância da prática religiosa como fator atenuante das tensões do mundo moderno; h. virtudes militares e virtudes cristãs – sob um prisma ecumênico, apresentar aos militares como muitas das virtudes militares que enobrecem a carreira militar encontram correspondência nas virtudes cristãs; e i. drogas lícitas e ilícitas – conscientizar os militares sobre os grandes malefícios que elas trazem para a saúde física e mental e, também, que elas se constituem numa das maiores causas de desajustes familiares; mostrar os princípios religiosos que as condenam e a força da fé para combater e afastar os vícios. (SAREx, 2008, grifo nosso)

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dos Capelães, todas as Ordens Militares receberão auxílio pastoral. A estrutura é

rígida, inicialmente, por causa da visão militar em que todos cumprem seus deveres

e, segundo, para que todos sejam beneficiados.

Segue abaixo um quadro resumido da Estrutura do SAREx demonstrando

sua coluna vertebral e suas ramificações até as Ordens Militares (OM). (SAREx,

2008)

Quadro 5 – Estrutura do SAREx – Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html - Acesso em: 24 mar.2008.

Esta Estrutura Organizacional é patente num só olhar quando se toma ciência

do Organograma do SAREx (ANEXO I). Este quadro dá-nos uma visão global de

onde estão as subchefias, bem como seus Comandantes e Adjuntos em todo o

território nacional. Pelo Organograma somam-se no total sete subchefias.

O SAREx é constituído de: I - Chefia; II - Subchefias; e III - Capelanias Militares. A Chefia é o órgão de Direção do SAREx, subordinada à Diretoria de Assistência ao Pessoal (DAP), exercida por um Coronel Capelão, tendo por auxiliar um Capelão-Adjunto do posto de Capitão ou Major. As Subchefias, denominadas “Subchefias de Assistência Religiosa”, são órgãos de coordenação das atividades do SAREx, exercidas por Tenentes-Coronéis Capelães ou Major Capelães, subordinadas aos Comandos Militares de Área, sob a supervisão e a orientação técnicas da Chefia do SAREx. As Capelanias Militares são órgãos de execução das atividades do SAREx, criadas pelo Estado-Maior do Exército (EME), mediante proposta do DGP, e subordinadas aos Grandes Comandos e Grandes Unidades, bem como a outras OM a critério do Chefe do EME. As Capelanias Militares prestarão assistência religiosa a todas as OM subordinadas aos Grandes Comandos e Grandes Unidades a que pertencem. Nos Grandes Comandos, Grandes Unidades e outras OM, não assistidos por Capelães Militares, será autorizado o apoio religioso-pastoral da Capelania Militar mais próxima, após entendimento direto entre os Comandantes interessados. Nas guarnições desses Comandos, se necessário, será autorizada a utilização, sem ônus para o Exército, dos serviços de assistência religiosas de sacerdotes, ministros religiosos ou pastores da localidade, por proposta dos Comandantes, através dos canais de comando, e aprovação do Comandante Militar de Área (Cmt Mil A).

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Até o presente momento as subchefias do SAREx estão sob comando dos

seguintes oficiais: COMANDO DO LESTE (CML) Ten. Coronel Capelão Lindenberg

Freitas Muniz (Padre) – Adjunto da Subchefia - Major Capelão Ivan Xavier (Pastor);

COMANDO DO SUDESTE (CMSE) Tem. Coronel Vanderlei Valentin da Silva

(Padre) – Adjunto da Subchefia – 2º Ten. Capelão Christian David Soares Bitencout

(Pastor); COMANDO SO SUL (CMS) Ten. Coronel Capelão Estevão Rosa do

Espírito Santo (Padre) - Adjunto da Subchefia – 1º Ten. Capelão Ronaldo Hasse

(Pastor); COMANDO DO NORDENSTE (CMNE) Ten. Coronel Capelão José Eudes

da Cunha (Padre) – Adjunto da Subchefia – Capitão Capelão James V. Mesquita

(Pastor); COMANDO DA AMAZÓNIA (CMA) Ten, Coronel Capelão Celso Boerger

Rohling (Padre) – Adjunto da Subchefia – (Vacante); COMANDO DO OEST (CMO)

Capitão Capelão Gilberto Álvaro (Padre) – Adjunto da Subchefia – 1º Ten. Capelão

Rogério de Carvalho Lima (Pastor); COMANDO DO PLANALTO (CMP) Ten.

Coronel Capelão Walter Pereira Mello (Pastor) – Adjunto da Subchefia – Major

Capelão Hércules Antonio de Lima (Padre). Fonte – SAREx. Disponível em:

http://dapnet.dgp.eb.mil. br/sarex/organograma_sarex.php. Acesso em: 24 mar.

2008.– (grifo nosso).

Conforme se encontra a situação dos Capelães do SAREX nos dias atuais,

divididos entre Capelães de Carreira e Temporários temos o seguinte quadro: 1)

Total Previstos – 67; 2) Total de Capelães Existentes – 54; 3) Total de Capelães

de Carreira – 39; 4) Padres de Carreira – 30; 5) Pastores de Carreira – 09;

Capelães Temporários – 15. Fonte-SAREx. Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.

br/sarex/ situacao_sarex.php. Acesso em: 27 mar.2008. Não se tem conhecimento

dos quinze capelães temporários, quantos deles são padres ou pastores.

Abaixo seguem somente os nomes dos Capelães Evangélicos, seus

respectivos postos, bem como, as igrejas a que pertencem:

1. Ten Cel Capl. WALTER PEREIRA DE MELLO (Igreja Presbiteriana do Brasil)

2. Maj Capl. IVAN XAVIER (Convenção Batista Brasileira)

3. Cap Capl. JOÃO LUÍS BOLLA (Igreja de Confissão Luterana no Brasil)

4. Cap Capl. JAMES V. MESQUITA (Igreja Assembléia de Deus)

5. 1º Ten Capl. DANIEL PEDRO DA SILVA (Igreja Assembléia de Deus)

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6. 1º Ten Capl. RONALDO HASSE (Igreja Luterana do Brasil)

7. 2º Ten Capl. ROGÉRIO DE CARVALHO LIMA (Igreja Assembléia de Deus)

8. 2º Ten Capl. EDNALDO DA COSTA PEREIRA (Convenção Batista Brasileira)

9. 2º Ten Capl. CHRISTIAN DAVID SOARES BITENCOURT (Igreja Presbiteriana do

Brasil).

10. Asp.Capl. YURE SOUZA GOMES (Igreja Assembléia de Deus)

A relação completa dos Capelães do SAREx, os postos que lhes cabem, bem

como onde estão lotados, encontram-se no final deste trabalho. (ANEXO II) Deve-se

observar que no quadro anexado o número de Capelães é de cinqüenta e quatro no

total, isto é, faltam sete nomes que ainda não foram inseridos no quadro atual.

Analisando o Organograma do SAREx (ANEXO I) pode-se notar que dos

cinqüenta e quatro sacerdotes que compõem o Quadro de Capelães Militares (QCM)

somente um Capelão Evangélico o Pastor Walter Pereira Mello é subchefe do

SAREx no Comando do Planalto, na cidade de Brasília; 5 (cinco) estão no posto de

adjuntos das Subchefias, exceto o Comando da Amazônia (CMA) que está em

vacância e o Comando do Planalto que é um Padre. Os outros três Capelães estão

lotados em grandes centros como na cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e

Manaus.

Diante do quadro exposto fica uma pergunta: Por que os capelães

evangélicos são destacados apenas para os Grandes Comandos? Qual o objetivo

de não deixá-los nos quartéis onde o trabalho de assistência é bem maior do que ser

adjunto de chefias? Essas perguntas e outras mais serão feitas ao Comandante

Chefe do SAREx, Cel. Capelão Antonio Emídio Gomes Neto em entrevista

agendada para o mês de outubro/2008.

2.1.8. Um Pouco de Estatística

A Constituição Federal / 1988 – artigo 5º e inciso VII afirma:

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Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência nas entidades civis e militares de internação coletiva.

Ressalta-se que a Força Aérea Brasileira e a Polícia Militar do Estado de São

Paulo possuem um quadro de capelães evangélicos bem reduzido, fato que causa

até indignação por parte da liderança da Igreja Presbiteriana (ANEXO III),

desrespeitando a própria Constituição Federal acima citada. Por outro lado o

Exército Brasileiro, ainda que tímido em seus concursos, tem dado uma atenção

maior aos militares evangélicos, abrindo concursos nesta área. Ao fazer referência

ao termo “tímido”, recorre-se aos editais para os concursos de Capelães do Exército,

de 1994 a 2006 houve pouca evolução e ainda há uma abertura maior para os

Sacerdotes Católicos. A média sempre é de três para um, isto é, para cada vaga

aberta para um pastor evangélico abrem-se três vagas para padres.

Os editais abaixo relacionados dão as seguintes informações sobre os

concursos para a formação do Quadro de Capelães Militares:

A Portaria Ministerial nº 033-DEP (Departamento de Ensino e Pesquisa), de

17 de novembro de 1994: O Manual dos Candidatos não menciona o número de

vagas tanto para pastores e padres. O mesmo fato ocorre com as Portarias: Número

72-DEP de 9 de setembro de 2002; Número 94-DEP de 24 de dezembro de 2003;

Número 183 de 2 de julho de 2005; Regulamentado pelas Portarias 110 e 111- DEP

de 14 de agosto de 2006. Ao deixarem de mencionar o número de vagas tanto para

sacerdotes católicos como evangélicos tais portarias deixam de expressar a verdade

e a igualdade conforme prescreve a Lei Federal de 1988. As duas portarias que

mencionam o número de vagas são: Números 05 e 06 DEP de 14 de abril de 1998

que abrem 14 (catorze) vagas para Sacerdotes Católicos Romanos e apenas uma

vaga para Pastor Evangélico e as Portarias números 72-73-DEP, de 9 de setembro

de 2002 que abrem 3 (três) vagas para Sacerdotes Católicos e apenas uma vaga

para Pastor Evangélico. O quadro abaixo, revela o censo religioso dentro do Exército

Brasileiro no ano de 2004:

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Censo religioso do militar da ativa, por prática religiosa, em 2004:

TOTAL DO EFETIVO RECENSEADO

143.787 100%

CATÓLICOS 98.301 68,37% EVANGÉLICOS 33.387 23,22% ESPÍRITAS 5.674 3,95% ORTODOXOS 126 0,09% IGREJAS BRASILEIRAS 191 0,13% IGREJAS LIVRES 527 0,37% AFRO-BRASILEIRAS 567 0,39% OUTRAS RELIGIÕES 719 0,50% ATEUS 1.491 1,04% SEM RELIGIÃO 2.804 1,95%

Quadro 6 – Fonte SAREx – Disponível em: http://dapnet.dgp.eb.mil.br/sarex/sarex.html. Acesso

em: 1 abr. 2008

O mesmo está defasado já que o número de evangélicos no Brasil aumentou

desde a formulação do censo dentro desta Força Armada. Segue gráfico que ilustra

o aumento do número de cidadãos evangélicos no Brasil e sua projeção:

Quadro 7 – Disponível em: http://www.semipa.org.br/brasil/censo2000/index.php. Acesso em: 5 abr. 2008.

CENSO RELIGIOSO DO SAREX

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Segundo a projeção, praticamente no ano de 2022, o Brasil terá uma

população de 50% de evangélicos.

Colocando todos esses dados num gráfico, como mostra o modelo acima, iremos perceber que o crescimento dos Evangélicos no Brasil não segue uma trajetória linear, mas faz uma curva em ascensão. [...] Somando-se a isso, verifica-se que os novos crentes têm cada vez mais conduzido outras pessoas a conhecerem o Evangelho e estes, por sua vez, também levam outros, como uma multiplicação em larga escala. Esse fator é que provoca a curva em ascensão do gráfico. A linha escura do gráfico mostra o ritmo de crescimento ano-após-ano entre 1980 e 2000. A linha branca mostra a projeção de crescimento até 2010, quando deverá atingir aproximadamente 55 milhões de evangélicos. Se a igreja continuar a crescer nesse ritmo, alcançará 50% da população no ano de 2022. Disponível em: http://www.semipa.org.br/brasil/censo2000/index.php. Acesso em: 5 abr. 2008.

Os evangélicos no Brasil tiveram um crescimento de 2,5 vezes maior que a

população na década de oitenta e mais de 4 vezes acima da taxa do crescimento

populacional na década de 90 e, pelo último censo realizado pelo IBGE, no ano de

2002, os evangélicos somam 26 milhões, 184 mil e 977 pessoas. Atualmente os

evangélicos representam aproximadamente 18% da população brasileira. Somados

a esta estatística temos que lembrar que as responsabilidades do Capelão vão além

do quartel, pois como já foi mencionado, sua área de atuação se estende aos

familiares dos militares, o que representa um aumento considerável de ovelhas a

pastorear. Com isto, podemos perceber um crescimento grande nas atividades do

Capelão e quando mencionamos que a evolução dos concursos para o Quadro de

Admissão de Capelães no Exército é tímida é porque nos concursos realizados a

média sempre foi de três por um, isto é, para cada três vagas abertas para os

Padres só uma é para Pastor.

O mesmo censo mostra que se houve uma evolução no crescimento

evangélico, por outro lado, nos últimos 20 anos o número de adeptos da

Religião Católica caiu 14 pontos percentuais e a cada década a chance de

um brasileiro se tornar católico cai 28%. Disponível em: Jornal Zero Hora–

21/04/2005.

Com esses dados patentes entende-se que se automaticamente cresce o

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número de Evangélicos no País, automaticamente cresce dentro da Força Armada

em questão. O Exército Brasileiro precisa, na atual conjuntura, repensar em como

solucionar tal questão, pois em momento azado deverá se pronunciar, visto que não

tem mais como se fazer de mouco para a realidade nacional. Acredita-se que

além de concursos com vagas reais cumprindo a Legislação Federal supracitada,

com o passar do tempo será necessário estabelecer um novo capelão dentro do

Exército Brasileiro para os evangélicos. As leis, concursos e estrutura do SAREx

são imprescindíveis para o bom andamento do trabalho da capelania. Não haveria

como alcançar os objetivos se não fosse desta forma. Se existe uma instituição que

caminha coordenamente, ela é o Exército Brasileiro.

Mas, há um outro lado importante desta história de capelania é a vida do

capelão diante de situações que o levam a uma vida de dedicação ao ministério que

desenvolve e somente tendo contato com eles pode-se ver a riqueza e a beleza

deste ministério, fato que será tratado no próximo capítulo.

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CAPITULO 3

O MINISTÉRIO PASTORAL DO CAPELÃO

3.1. O Capelão Como Modelo Vale definir o termo modelo para que possa entender não só com mais afinco

o trabalho do capelão, bem como a importância que o mesmo tem na formação do

caráter de um soldado como criar conceitos que possam ser valorizados e imitados

pela tropa. Conforme o Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, Ed

GAMMA, em sua 11ª edição, o termo “modelo” significa:

Objeto para ser reproduzido por imitação; molde; representação, em pequena escala, de um objeto que se pretende executar em grande ´[...] tipo (fig) aquilo que serve de exemplo ou norma; pessoa exemplar.

Como um tipo de arquétipo, o capelão tem o dever de se comportar como

padrão a ser imitado dentro e fora do quartel. Como um homem divinamente

chamado tem um poder grande para modelar indivíduos e para isso precisa ser

patente em seus conceitos. Todo capelão deve olhar o indivíduo como alguém que

tem capacidade e desenvolver nele potencialidades. Para tal não só utilizará a

comunicação como a própria vida.

O indivíduo não é modelado como uma coisa passiva, inerte. Ao contrário, ele é formado no curso de uma prolongada conversação (uma dialética, na acepção literal da palavra) em que ele é participante. Ou seja, o mundo social (com suas instituições, papéis e identidades apropriados) não é passivamente absorvido pelo indivíduo, e sim apropriado ativamente por ele. (BERGER, 2004, p.31)

Fica expresso que o Patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército,

Frei Orlando, tinha essa qualidade. Dias antes do embarque do 11º Regimento de

Infantaria para a Itália, após realizar atos religiosos ensinava juntamente com outros

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capelães cantos religiosos, patrióticos e canções populares com grande entusiasmo,

alimentando os ânimos dos soldados num clima de fé, segurança, paz e otimismo.

Pela experiência de vida, sabia que aqueles militares necessitavam ser modelados

por alguém que cria que poderia voltar à pátria mãe. Antes mesmo da viagem longa,

difícil às plagas européias, sobretudo amenizava os corações que já estavam cheios

de saudades.

E Frei Orlando, alma jovem, sacerdote alegre e modelar, não se cabia de contente, diante da alegria, quase celeste naquelas plagas do Rio. Diante dele ninguém ficava triste. (PALHARES, 1982, p. 204).

Tanto Frei Orlando como o Pastor Soren foram homens notáveis que

desempenharam muito bem suas missões. Ambos tiveram uma influência muito

grande e marcante entre os militares. A empatia é percebida nos relatos sobre estes

capelães. Dentro do campo religioso como do psicológico a empatia é a identificação

emocional de uma pessoa com outra ou situações, isto é alguém que participa nos

problemas, tristezas, frustrações e etc. não só para se compadecer como para tentar

trazer um resultado eficiente à pessoa. O capelão tem essa missão dentro de seu

campo de ação. Ele não vai eliminar os problemas, mas sim levar seu “paciente” a

um fortalecimento emocional, ocorrendo uma reestruturação em pensamentos e

atitudes.

Exige-se do capelão ter um bom desenvolvimento nos relacionamentos

interpessoais. Os relacionamentos sociais aperfeiçoam e amadurecem o homem

mesmo havendo diferenças de pensamentos. O ser humano é diferente no modo de

pensar, de sentir e de agir. As diferenças existem e o capelão deverá reconhecê-las

e lidar melhor com elas, especialmente no ambiente de seu trabalho. Quando se

respeita as diferenças se conquista grandes amizades bem como relacionamentos.

No que diz respeito aos relacionamentos, sabe-se que as diferenças existem,

sejam elas de cunho cultural, normas e religiosas. Como o capelão tratará com

vários militares de confissões diferenciadas é necessário que o faça sem acepção ou

diferença. O bom relacionamento dos capelães de confissões diferentes trará

estabilidade tanto à tropa como a eles mesmos. Com a troca de experiências e as

diferenças de cada um os capelães aprendem e crescem.

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As vezes as diferenças no ambiente de trabalho podem gerar conflitos. Diante

deste fato, é necessário todo cuidado para que isto não ocorra. Esses conflitos

produzem em muitos casos atitudes preconceituosas ou até mesmo intolerância

criando barreiras para a comunicação e a troca de ideais.

Nas relações interpessoais o ser humano influencia e recebe influência, por

isso, o bom relacionamento entre os capelães é de fundamental importância para

própria unidade entre os militares. PETER BERGER (2004, p.34) retrata a sociedade

como guardiã das estruturas:

[...] viver num mundo social é viver uma vida ordenada e significativa. A sociedade é guardiã da ordem e do sentido não só objetivamente, nas estruturas institucionais, mas também subjetivamente, na sua estruturação da consciência individual.

Este relacionamento pode ser visto na vida de Frei Orlando. Além de culto,

piedoso, inteligente e exemplar, sempre gozou de alta estima e confiança dos

Chefes Militares.

Impressionante era a atuação de Frei Orlando, como Capelão-Chefe, no Regimento Tiradentes; conhecia pelo nome a quase todos, graduados ou não [...] Sempre brincalhão e bem-humorado, de todos se fazia amigo, ganhando-os como militar e como sacerdote, para Deus, o Senhor dos Exércitos (PALHARES, 1982, p. 206).

Calvino (2003, p. 31, 32), comentando sobre como se deve tratar as pessoas

e buscar o bem de todas sem distinção de cultura e religião disse:

Ademais, nós que formamos parte da família da fé, somos os que mais podemos apreciar a imagem de Deus [...] De modo que se alguém aparece diante de vocês necessitando de seus amáveis serviços, não há razão alguma em recusar-lhes tal ajuda. Suponhamos que seja um estranho que necessita de nossa ajuda; mesmo por ser estranho, o Senhor tem posto nele Seu próprio selo e lhe tem feito como alguém de tua própria família; portanto, te proíbe de desprezar tua própria carne e sangue.

Essa é a formação do verdadeiro capelão, independentemente de qualquer

situação sempre está pronto a atender a todos.

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O capelão é alguém que se relaciona com as pessoas servindo de modelo e

modelando vidas, mas há outra questão de suma importância: a vocação religiosa.

Num Brasil plural, onde vários seguimentos religiosos surgem a cada dia, questiona-

se muito sobre a vocação religiosa dessas lideranças. Deve-se questionar tais

lideranças, pois, segundo BERGER a religião está em crise, pois devido a

pluralidade ocorreu a secularização e automaticamente a própria teologia entrou em

crise:

A crise de credibilidade na religião demonstra o quanto ela se secularizou. O homem por natureza não costuma ser seguro em questões religiosas. Assediado por vários conceitos religiosos gerou-se o fenômeno da pluralidade e com isso a secularização. O palco original da secularização é o econômico. A crise da teologia na situação religiosa contemporânea tem base na pluralidade. A religião tradicional tem sido questionada por pessoas sem nenhum conhecimento de teologia. A crise da teologia cresce na mesma proporção que o pluralismo e a secularização. (BERGER, 2004)

A crise é tão grande no meio religioso que BERGER (2004, p. 149) retrata a

religião como algo a ser vendido como um grande mercado:

A situação pluralista é, acima de tudo, uma situação de mercado. Nela, as instituições religiosas tornam-se agências de mercado e as tradições religiosas tornam-se comodidades de consumo. (grifo do autor).

Hoje o mercado oferece não vocação e sim cargos. Antes os líderes religiosos

eram vistos como sacerdotes (pastores e padres), hoje o que voga é o cargo. Pastor

de ovelhas não é mais visto como sacerdote, pois não dá status. Hoje tem

autoridade o bispo, apóstolo, autoridades máximas nos milagres e experiências

transcendentais. Cremos que este tipo de líder não serve para ser capelão dentro

das Forças Armadas, pois não tem mostrado ao longo dos anos vocação religiosa.

MERVAL ROSA (1979, p.211) citando o Professor Henlee H. Barnette, retrata

o que é uma vocação religiosa, bem como sua importância dentro da sociedade:

Uma vocação cristã é aquela em que se presta genuíno serviço à humanidade. [...] A vocação cristã é aquela que atende a uma real necessidade da sociedade. [...] A vocação cristã é aquela que está em harmonia com o amor e a justiça humana. É a vocação que exige

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do homem o senso de integridade, criatividade, imaginação e utilidade social. Finalmente, uma vocação cristã é aquela em que há um senso de propósito naquele que a pratica ou segue.

A vocação é para pessoas compromissadas com Deus e com o social.

Vocação não é promoção, marketing, mas é para pessoas maduras visto que é um

trabalho interminável. Na vida religiosa ninguém pode ou tem autonomia para se

autonomear. “O que torna válido um ofício é a vocação de modo que ninguém pode

exercê-lo correta ou legitimamente sem antes ser eleito por Deus” (Apud

HERMISTEM, 2005, p. 20).

João Calvino sempre teve em mente que a vocação, o chamado divino ocorre

com a pessoa que tem uma larga experiência com Deus e preocupado com este

assunto como se fosse uma profecia recomenda que tais homens não deveriam

ultrapassar os limites da vocação.

Ninguém deve ser tentado por sua própria jactância a levar acabo nada que não seja compatível com o seu chamamento, porque tem que saber que é incorreto ultrapassar os limites impostos por Deus . (CALVINO, 2003, p.76, grifo nosso).

Para o cristianismo a vocação tem uma imensurável significação e ela deve

ser desenvolvida com seriedade porque ela reflete a experiência entre o

vocacionado com aquele que vocacionou.

Na Epístola de Diagoneto , escrita, aproximadamente, no ano 130 da nossa era, a doutrina da vocação é apresentada em termos de uma dupla cidadania. O cristão deve ser bom cidadão da pátria terrena, porque é bom cidadão do Reino de Deus. (ROSA, 1979, p. 210, grifo do autor).

3.2. O Psicoterapeuta Verde-Oliva

O homem não é um ser acabado. Ele nasce necessitando de todos os que estão ao seu redor e com isso o faz adaptar-se a qualquer lugar onde for. Seu mundo é aberto e não fechado como a dos animais irracionais. (BERGER 2004)

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Existem muitas possibilidades em se conceituar o termo aconselhamento

partindo do pressuposto que no geral significa uma série de contatos entre um

profissional, seja ele da área psicológica como religiosa que tem por objetivo

oferecer auxílio com vistas a mudança de comportamentos e atitudes daqueles que

os buscam. O capelão não é um médico (a não ser que seja formado) que presta

assistência religiosa oferecendo saúde espiritual aos militares bem como oferecer

um nível de ajustamento mais elevado, conduzindo pessoas a uma estruturação

emocional interior como exterior.

Na visão de BERGER olhando para dentro do Exército Brasileiro, o capelão

tem uma missão importante, pois ele será o instrumento para fazer com que alguns

consigam se adaptar melhor dentro dessa nova vida bem como servirá de ombro

amigo quando surgir algum infortúnio.

[...] o aconselhamento procura estimular o crescimento da personalidade, desenvolvê-la, ajudando-as a lidar com mais eficácia com os problemas da vida, com seus conflitos interiores, com as emoções e sofrimento [sic], encorajando e orientado a todos que sofrem perdas e desapontamentos, dando assistência aos que têm padrões de vida que conduzem à derrota e infelicidade. (LOTUFO NETO, 1984, p. 36).

O capelão psicoterapeuta é aquele que exerce sua missão de acordo com a

visão de LOTUFO NETO e produz uma terapia bem sucedida por desenvolver

qualificações básicas para tal. Entende-se por básico aquele conselheiro que tem: a)

Cordialidade, isto é respeito, cuidado e preocupação sincera pelas pessoas; b)

Sinceridade, uma pessoa aberta, franca e honesta em suas colocações; c) Empatia,

se coloca no lugar do aconselhado para tentar sentir o que o paciente sente e

mostrar-se sensível a todas as questões que são colocadas pelos aconselhados; d)

Saber ouvir, esta qualidade é a mais importante de todas, pois se o conselheiro não

a desenvolver bem e ter ouvidos clínicos ele não alcançará seus objetivos.

Aquele que não é capaz de prestar atenção longa e pacientemente, acabará falando fora de propósito e nunca falará realmente a outros, embora disso não esteja consciente. (VASSÃO, 2006, p. 99)

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E mais, LOTUFO NETO (1984 apud, p. 36) citando Bonhoeffer disse que

“devemos ouvir com os ouvidos de Deus, para que possamos falar com suas

palavras”.

O pscoterapeuta verde-oliva deve ter em mente que quando um indivíduo

vem buscar auxílio para um determinado problema, ao apresentá-lo, ele apresenta a

si mesmo. Ele está preocupado com sua qualidade de vida, em como desenvolver

melhor sua personalidade, crescer como indivíduo, saber tomar decisões. Feliz do

capelão quando o soldado faz as colocações de forma patente. Quando não se torna

tão evidente terá que interpretar a situação por meio dos temores, frustrações,

dúvidas e ansiedade que ele traz.

Por muitas maneiras um militar pode demonstrar suas crises e há certos

casos que o capelão apenas será um instrumento para detecção de situações em

que terá que enviar a pessoa a um profissional especializado. Em muitos casos o

paciente não busca um profissional da área por medo ou lassidão. A busca pelo

auxilio do capelão é devido a sua proximidade e o bom relacionamento que tem com

a tropa.

3.2.1. Drogas e Álcool

Esta é uma das situações que além de trazer problemas de saúde traz

transtornos para a vida militar. Não há nada de novo neste assunto. Historicamente

falando, este problema sempre existiu. O assunto é tão amplo que quase seria

impossível apresentar estatísticas concretas, pois os números não param de crescer

e praticamente seriam obsoletos no término deste trabalho caso fixássemos

qualquer estatística. Algumas pessoas têm dificuldades de relacionar-se com outras

pessoas, com Deus e consigo mesmas e precisam ligar-se a alguma coisa

colocando alguns objetos em seu lugar e isto se torna vício. Apegar-se ao objeto

sempre que algo está errado é ter posse de algo que traz satisfação momentânea.

Apegar-se a um objeto para compensar a nossa necessidade de amor insatisfeita pode funcionar, mas temporariamente. A euforia

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que extraímos da posse de certos objetos pode nos fazer esquecer que na verdade precisamos de algo mais profundo. No entanto, como o objeto é apenas um substituto do amor que trocamos nos relacionamentos, essa satisfação nunca é duradoura. Precisamos retornar repetidas vezes ao objeto para afastar os sentimentos de vazio e insatisfação. (BAKER, 2005, p. 101)

Esta é a questão do álcool. Ele vem ou tenta compensar algo que está

perdido e que precisa ser resgatado. Entendemos que em muitos casos é

necessária medicação o que foge às mãos do capelão, mas ele pode trabalhar para

trazer equilíbrio ao paciente.

Preocupados com este problema, o “Manual do Soldado” que trata de varias

questões tem seu artigo próprio que menciona a questão do álcool. Ele é incisivo,

claro para que o militar possa andar com dignidade e ser modelo para colegas como

para subalternos. Em relação à embriaguez no serviço, em seu Artigo 202 ele diz:

“Embriagar-se o militar, quando em serviço, ou apresentar-se embriagado para

prestá-lo: PENA – detenção, de seis meses a dois anos”. O mesmo manual explica

sobre algumas situações que ocorrem nesta questão e como o militar deve portar-

se e suas conseqüências caso um soldado seja pego infringido as normas :

A punição por embriaguez em serviço faz-se necessária porque, além de preservar a integridade física e psíquica do militar, procura também resguardá-lo de acidentes consigo mesmo, como em terceiros, ferindo ou até podendo tirar a vida de um companheiro ou colocar em perigo a estabilidade da Organização Militar. Essa modalidade de delito divide-se em duas formas: na primeira o militar já se encontra de serviço e embriaga-se; (se após a ingestão de bebida alcoólica o agente não ficar embriagado não existe crime e responderá disciplinarmente). Na segunda forma o militar apresenta-se embriagado para prestar o serviço. (cabe ressaltar que o militar tem que ter ciência de estar escalado para tal). Manual do Soldado – Disponível em: http: //www. militar.cristao.nom.br/. Acesso em: 8 set.2008.

Muito mais que penalidades, o álcool faz o ser humano perder a dignidade, o

equilíbrio e a sensatez. Neste ponto o capelão faz a diferença, pois não é a

medicação que trará o paciente à dignidade; ela ajuda, mas é o auxílio do

psicoterapeuta verde-oliva que servirá de instrumento para a recuperação da

pessoa. O motivo pelo qual as pessoas não conseguem deixar os vícios é que elas

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sempre podem voltar para eles, pois dão ao dependente prazer momentâneo.

Sempre existirá volta se a pessoa não se libertar totalmente. O vício é a satisfação

na hora da dor, da tristeza e como ele, o vício se torna uma roda viva, a pessoa

sempre necessitará de uma dose maior ou uma droga mais forte. A cada círculo ela

fica mais deprimida, mais fraca para si mesma e mais forte para uma nova

experiência. No caso de drogas ilícitas, isto é “Tráfico, Posse ou uso de

entorpecentes ou Substância de Efeito Similar” o “Manual do Soldado” em seu Artigo

290 :

TRÁFICO, POSSE OU USO DE ENTORPECENTE OU SUBSTÂNCIA DE EFEITO SIMILAR - Art. 290 CPM – Receber, preparar, produzir, vender, fornecer, ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, ainda que para uso próprio, guardar, ministrar ou entregar de qualquer forma a consumo substância entorpecente, ou que determine dependência física ou psíquica, em lugar sujeito ‘a administração militar, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, até cinco anos. Ibid.

Comentando o artigo elencado o Manual esclarece:

Crime militar que pode ser cometido por militar ou civil, desde que seja praticado em local sob administração militar. Pelo entendimento do Superior Tribunal Militar não se leva em conta a quantidade de substância entorpecente em posse do agente, pode ser um decigrama ou até mesmo um centigrama de substância que irá configurar o delito. É importante ressaltar que não existe no CPM distinção entre traficante e usuário, tratando-se assim as duas modalidades com o mesmo rigor. Não se considera o princípio da bagatela (insignificância) existente na lei penal comum. Manual do Soldado. Disponível em: http://www. militar.cristao.nom.br/ - Acesso em: 8 set. 2008.

Em casos de dependência deve-se tentar conduzir o dependente a um

tratamento médico.

3.2.2. Doença

O corpo não vive para sempre neste mundo. Ele é composto de tecidos,

músculos, variedade de órgãos que vão se enfraquecendo ou com o passar dos

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anos ou se a pessoa é acometida de uma enfermidade determinada. Só lembra-se

da saúde quando se fica doente, especialmente quando ela se torna séria.

Eventualmente o corpo se desgasta e tenta-se repor as forças quando se passa por

tais momentos.

A doença, escreve um capelão, é mais do que falta de saúde. Trata-se de uma expressão de nossas limitações físicas, emocionais e espirituais. Ela é uma indicação viva de que somos seres humanos, habitando um corpo destinado a morrer. (COLLINS, 1995, p. 329)

Com relação ao paciente terminal a impotência contra a enfermidade bem

como a importância do capelão dentro do hospital assistindo o enfermo objetivando

auxílio para a alma em muito enriquece o trabalho do capelão. A enfermidade seja

ela causada por um acidente ou por qualquer alteração do estado físico da pessoa

sempre provoca e provocará no ser humano uma surpresa desagradável,

perturbadora, desanimadora que extrai do homem suas forças com poder imenso de

mudar os planos e sonhos.

Entende-se que o trabalho com o paciente terminal difere do tipo de

psicoterapia tradicional, isto é, dependendo do alto grau da evolução do quadro do

enfermo o capelão terá que visitar o moribundo no hospital ou na residência. Há

casos em que o enfermo poderá se deslocar para o ambulatório ou mesmo para

uma clínica.

As entrevistas são realizadas no próprio leito do doente ou em uma sala do ambulatório, quando o paciente pode se deslocar. Elas duram tanto quanto o paciente quiser conversar ou suas condições físicas o permitirem. De preferência não devem ser muito longas para não cansar o paciente. Podem durar alguns minutos, ou podem ser de quase uma hora. (KLAFKE, 1984, p. 9)

“A ansiedade no coração do homem o abate, mas a boa palavra o alegra”

(PROVÉRBIOS, 12:25). “Palavras agradáveis são como favo de mel: doces para a

alma e medicina para o corpo. (PROVÉRBIOS, 16:24). A medicina tem um poder

muito grande para a reabilitação da saúde física dos pacientes, mas em certos casos

é a palavra do capelão que irá tranqüilizar, amenizar o momento traumático vivido

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pelo paciente. Dependendo do paciente, isto é de seu histórico de vida, saúde e

militar sempre ativo o grau de intranqüilidade pode ser maior, pois aprendeu a

suportar a dor, o medo e dificuldades encontra-se no atual momento diante da maior

batalha: a luta contra a morte em favor da vida. “...a língua dos sábios é medicina”

(PROVÉRBIOS, 12:18).

TERESINHA E. KLAFKE (1984, p. 9) em sua palestra “O Paciente à Morte”

apresentada no I Congresso Brasileiro de Evangelização Belo Horizonte – Minas

Gerais, dissertando sobre momentos que um psicoterapeuta passa com um paciente

em fase terminal relatou:

Conversamos sobre o que o paciente quiser conversar, procurando criar um clima de aceitação, onde ele possa colocar suas dúvidas, medos, raivas e esperanças. Enfatizamos sempre a qualidade de vida, tentando descobrir com ele o que pode fazer para viver melhor o tempo que lhe resta. [...] Se ele quiser falar sobre a sua morte conversamos sobre isso, se quiser fazer planos para o futuro, o ouvimos. Temos o cuidado de não forçar a negação, mas respeitamos o momento em que a usa. Às vezes o paciente passa muito tempo sem falar sobre a gravidade de sua doença e muitas vezes parece-nos que não está consciente do que está acontecendo. Notamos que quando o estado físico piora, ele entra em depressão e então fala mais livremente de suas angústias.

O trabalho do capelão não se limita ao paciente seja ele em estado terminal

ou não. Atrás desse enfermo sempre existe uma família que sofre junto com o

paciente, que as vezes não se conformando com a situação. A rotina da família se

interrompe, as finanças ficam abaladas e muitas vezes ela terá que enfrentar a

realidade da morte. Diante deste fato, o Capelão tem uma missão importantíssima,

pois será necessário trabalhar com a família do enfermo, aconselhando-a a entender

o momento presente. Assistindo a família do paciente, o mesmo poderá enfrentar

melhor a sua enfermidade. Outro aspecto do valor do Capelão é o auxílio que presta

a junta médica quando assiste o enfermo.

[...] é importante lembrar que o pessoal do hospital talvez se beneficie através do aconselhamento periódico. Não é fácil lidar com o sofrimento ou a morte e os empregados do hospital, inclusive os médicos, podem tirar proveito de aconselhamento casual, de apoio, que os auxilie a tratar com suas emoções e perguntas não respondidas. (COLLINS, 1995, p. 339).

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Essa mesma idéia nos transmite ELENY VASSÃO em seu Manual Técnico de

Capelania Hospitalar (1997) relatando o bom trabalho do capelão dentro do hospital

e reconhecido pelos médicos onde os mesmos defendem o papel curador cuidando

da vida espiritual dos enfermos. O enfermo que tem seu espírito fortalecido tende a

uma recuperação mais rápida em sua doença física e caso seja uma paciente

terminal entenderá que a vida tem um fim.

A obra do capelão de hospital tem muito em comum com a obra do psiquiatra do hospital. Foi Platão quem disse: ‘Nenhuma tentativa se deve fazer para curar o corpo sem a alma, e se a cabeça e o corpo devem ser sadios, tereis que começar, curando a mente’. O hospital moderno é um estabelecimento impressivo e dispendioso. Há uma média de nove pessoas e meia cuidando de cada paciente, mas a maioria não tem contato com ele. Entretanto, malgrado todas as pessoas que correm para cá e para lá a fazer o bem, o paciente, que é quem recebe o benefício de todos estes esforços, pode julgar que o grande hospital moderno deve ser para ele um dos locais mais solitários e infelizes do mundo! Em primeiro lugar porque se acha separado do lar, da família e dos amigos. Em segundo lugar, porque sofre dores ou virá a sofrê-las. Em terceiro lugar, todos os temores básicos, que ele pode controlar quando sadio, despertam-se ao internar-se no hospital. Estes são os temores da morte ou de tornar-se mutilado fisicamente ou de perder o controle emocional. Num hospital, estes temores têm muito mais probabilidade de sobrevir do que fora dele. Há grande ligação entre doença emocional física e espiritual. Consideremos, por exemplo, a depressão. É uma doença emocional comum. A pessoa deprimida pode ter várias queixas quanto a males físicos, que podem envolver qualquer órgão do corpo. Estas pessoas não têm apetite, sofrem de prisão de ventre ou de diarréia, podem sentir dor no peito ou palpitação, não têm sono, perdem o interesse em tudo e retraem-se do mundo, muitas vezes sentindo-se desprezadas por todos. Muitas vezes lhes sobrevém uma mórbida sensação de ter agido mal ou cometido o pecado imperdoável, e que Deus as abandonou, e que a doença seja castigo por seus pecados passados. Penso que nós, os que trabalhamos em hospitais de clínicas, temos nos desviado muito do alvo de Rahere, que era prover hospitalidade aos doentes. O hospital de clínicas moderno não é lugar muito hospitaleiro. Nossos empenhos dirigem-se mais no sentido da doença da pessoa do que da pessoa do doente. Interessando-nos mais pelos rins do que pelos donos dos rins, mais no coração como uma bomba do que no coração como sede das emoções, mais pelo cérebro como um computador do que órgão que aloja a consciência. Temos levado longe demais a especialização. Agora temos que restaurar o toque pessoal – a hospitalidade – aos nossos hospitais. Temos de tratar a pessoa toda– corpo, espírito e alma, e não apenas alguns órgãos que funcionam mal. Ministros e psiquiatras, enfim, todos os que assistem os doentes têm singular oportunidade de servir ao homem todo. E o homem hospitalizado aí está porque chegou a uma encruzilhada na vida. Pode ele estar enfrentando a morte ou uma mutilação cirúrgica,

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ou pode ter perdido temporariamente o contato com a realidade, ou perdido o controle de suas emoções. O doente está extremamente necessitado de ajuda não somente de remédios, cirurgias, curativos [...] mas, ele precisa de alguém que seja usado por Deus para curar a sua alma: o capelão, o visitador evangélico. Oliver Wendell Holmes disse: “é privilégio do médico curar às vezes, aliviar muitas vezes, confortar sempre”. Nós, médicos, nos empolgamos tanto com a primeira parte que muitas vezes passamos por alto a última. O capelão eficiente pode ajudar-nos a tratar do indivíduo todo, corpo, espírito e alma. Ele pode ajudar-nos a tornar o hospital mais uma vez, um lugar onde se encontra a hospitalidade. (Souza Lima apud VASSÃO, 1997, p.51).

Para que se mantenha uma boa discrição e tenha respeito pelos médicos, é

necessária uma integração entre o capelão e os profissionais da saúde (médicos,

enfermeiros, atendentes e etc.). Existem pastores, ministros e obreiros religiosos que

pelo fato de serem líderes acham que podem agir de acordo com a idéia que tem de

conselheiros e adentrar a um hospital só porque a lei lhe dá permissão para tal –

“Entrada em Hospitais e Presídios: Art. 5º - VII – É assegurada, nos termos da lei, a

prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação

coletiva” (CONSTITUIÇÃO – 1998 – República Federativa do Brasil). Por outro lado

outros acham que a Bíblia lhe dá tal autoridade, ocorrendo certos conflitos,

prejudicando outros conselheiros, tudo por falta de conhecimento e discernimento

sobre como agir como pastor. Existem regras básicas de visitação hospitalar,

retiradas do Manual prático de Capelania contido no livro “No Leito da Enfermidade”

- Normas para Visitação Hospitalar (VASSÃO, 2006, p.115):

1. Não entre em qualquer quarto sem antes bater na porta. 2. Verifique se há qualquer sinal expresso proibindo visitas. 3. Tome cuidado com qualquer aparelhagem ao redor dacama. 4. Evite esbarrar na cama ou sentar-se nela. 5. Avalie a situação logo ao entrar, a fim de poder agir objetivamente quanto ao tipo e duração da visita. 6. Procure colocar-se numa posição confortável para o paciente, ao seu nível visual, para que ele possa conversar com você sem se esforçar. 7. Se a pessoa não o conhece, apresente-se com clareza. 8. Não pergunte sobre a gravidade da doença. 9. Não leve qualquer tipo de alimento. 10. Não dê água ao paciente sem a permissão da enfermagem. 11. Não apresente fisionomia emotiva ou de comiseração (piedade). 12. Não manifeste nojo de suas feridas, nem medo de contágio. 13. Não lhe estenda a mão (só se o paciente tomar a iniciativa).

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14. Não aceite pedido do paciente para obter resultados de exame médico, ou dar-lhe notícia de diagnósticos. 15. Fale num tom de voz normal. Não cochiche com outras pessoas no quarto. Ore em tom normal. 16. Dê prioridade ao atendimento dos médicos e enfermeiras, assim como ao horário de refeições. Ceda sua vez. 17. Concentre-se em atender as necessidades daquela pessoa diante de você. Não adianta falar de outros enfermeiros nem de si mesmo. 18. Não tente movimentar o doente sem a autorização da enfermagem. 19. Saiba que a dor e a medicação podem alterar o humor do paciente. 20. Não queira forçar o doente a sentir-se alegre, nem o desanime. Aja com naturalidade, pois se você se sentir à vontade, ele terá maior probabilidade de sentir-se também. 21. Não dê a impressão de estar com pressa, nem demore até cansar o enfermo. Com bom senso, encontre a duração ideal para cada situação. 22. Se você estiver doente, não faça visitas. 23. Não use perfume. 24. Sapatos de tecido e sandálias não devem ser usados no hospital. 25. Se gostar de usar jóias ou bijuterias que elas sejam discretas. 26. Use sempre um jaleco ou roupas brancas para fazer as visitas. 27. Se estiver visitando áreas infectadas, lave o jaleco separado das outras roupas. 28. Nunca se esqueça do seu crachá. 29. Use uma Bíblia pequena, de bolso.

Tais requisitos são imprescindíveis para uma boa visitação e atendimento

hospitalar. Um capelão agindo desta forma além de ser útil ao paciente levando ao

mesmo humanização, solidariedade e conforto, apóia o trabalho dos profissionais do

hospital e serve de modelo para os demais conselheiros.

3.2.3 A Morte

A maioria dos dicionários define morte como o fim a vida. De forma sintética é

o “Ato de morrer; fim da vida” 17. Analiticamente a Enciclopédia EDIPE define:

17 FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Gamma, 11º Edição.

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“Simplesmente definida, a morte é a quebra do equilíbrio físico-químico que mantém

vivo o organismo animal ou vegetal”18.

[...] Para quem nos escutava, estávamos preparados para afirmar que a morte era o final necessário e inevitável da vida, uma dívida natural que todos temos que um dia pagar. Todavia, na realidade, estávamos acostumados a agir com se assim não fosse. Mostrávamos uma tendência inconfundível a colocar a morte de lado, eliminando-a de nosso pensamento. (FREUD, 1984, p.202)

Este trecho é parte de uma carta que Sigmund Freud19 enviou para o Dr.

Frederik Eeden revelando sua visão da morte. Muitos ao se depararem com a morte,

tentam afastar-se dela para amenizar um pouco os sofrimentos. Seja qual for a

melhor definição que possamos ter ou fazer da morte, ela não aliviará o sofrimento

do moribundo, pelo contrário, mais próximos dela estaremos.

A morte de um líder pode comover toda uma nação trazendo um sentimento

de pesar, mas será totalmente diferente experimentada por uma viúva ou pela perda

de um filho. A dor será maior se ela chegar inesperadamente, isto é, de forma súbita

(acidente, uma bala perdida e etc.) o que difere se a pessoa for idosa e se estiver

num leito, doente há muito tempo. O desenvolvimento da medicina não alterou a

realidade da morte, apenas tenta prolongar a vida, estabilizar o quadro clínico do

paciente. Para o moribundo esse prolongar é imprescindível por dois motivos:

primeiro por causa do medo que a morte produz a todos e segundo o medo que o

doente tem nas conseqüências de sua morte, isto é, da instabilidade seja ela

financeira ou emocional que sua família passará. A morte mata, é algoz; neste

momento azado que a presença do capelão verde-oliva fará diferença. A morte é

feroz, mas o acompanhamento do capelão trará à família e ao enfermo certa

tranqüilidade que todos necessitam.

18 EDIPE. Enciclopédia Didática de Informação e Pesquisa Educacional. São Paulo: livraria Editora Iracema LTDA, 1987. p. 2428. 19 Nota. Sigmund Freud (Príbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939) foi um médico neurologista judeu-austríaco, fundador da psicanálise. Interessou-se inicialmente pela histeria e, tendo como método a hipnose, estudou pessoas que apresentavam esse quadro. Mais tarde, com interesses pelo inconsciente e pulsões, entre outros, foi influenciado por Charcot e Leibniz, abandonando a hipnose em favor da associação livre. Estes elementos tornaram-se bases da psicanálise. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Sigmund_freud. Acesso em: 18 set.2008.

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Ao reportar os olhos para a guerra a morte se torna mais real para o soldado.

Ele se vê apequenado diante da imensidão da batalha. A guerra se torna

onipresente, para onde o soldado se mover lá estará ela e ele desprotegido,

impotente mesmo tendo sido treinado para viver.

A morte não pode mais ser negada; somos forçados a crer nela. As pessoas realmente morrem, não mais uma a uma, mas muitas, às vezes dezenas de milhares num só dia. A morte não é mais um evento casual. (FREUD, 1984, p.202).

O homem por melhor preparado que esteja para o combate existe um aspecto

em sua vida que não há nada que lhe possa preparar para morte. Ela sempre

desestabiliza o combatente. O medo do sofrimento se torna um inimigo patente. A

guerra ameaça o soldado de morte e sofrimento. “Se o exército não é capaz de

persuadir um homem a se preparar para a morte, que série de imaginável de

circunstâncias poderia fazê-lo?” (LEWIS, 2005, p.332).

Nem o “homem animal ou instintivo” e muito menos o “homem psicológico ou intelectual” aceitam a morte. Quando estamos correndo risco de vida, seja por uma dor, um ferimento, a ameaça de uma arma, um acidente, o “homem animal” surge com intensidade: os instintos são aguçados, o coração acelera, a freqüência respiratória aumenta e surge uma série de mecanismos. Quando o homem animal aparece, o homem intelectual diminui [...] (CURY, 2006, p.104)

Na guerra diante da iminente morte não é só a preparação do soldado que

fará diferença no campo de batalha. Além do seu conhecimento intelectual, terá que

obter uma motivação a mais para que medo seja amortizado. Daí a presença

marcante do capelão neste preparo. A presença do ministro de Deus fortalece a

alma do militar seja ele de qualquer patente. O respeito pelo sacerdote é muito

grande. Nesta pesquisa verificou-se que os capelães militares são respeitados e

admirados pelos membros da caserna. Segundo o 1º Tenente Capelão João Batista

Alves de Almeida Júnior, de Confissão Católica, lotado na (EsPCEx) Escola de

Preparação de Cadetes do Exército, na cidade de Campinas-SP, até os oficiais

superiores têm pelos Capelães respeito, não só pela patente, mas pelo ofício

sacerdotal. Os homens da caserna vêem nos capelães os representantes de Deus.

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A presença do sacerdote em meio aos homens traz paz em meio a guerra,

tranqüilidade na execução da missão, coragem frente ao medo e esperança para a

vida. Frei Orlando não se acovardara diante de tanto horror, fosse pela frieza da

guerra e sua gélida arte de matar, como pela temperatura no campo de batalha,

companheiras aliadas que lutavam contra os pracinhas, necessitados de um alento

espiritual e um ombro amigo para fortalecer não só o coração como a alma.

Todo encapotado, galochões contra a neve, capacete enterrado na cabeça, saía ele pelos campos, deitando-se aqui e ali, para ocultar-se das vistas inimigas. Fazia questão de ver de perto as nossas posições avançadas e o estado moral dos soldados, a nimando-os com o seu idealismo sempre posto à prova . (PALHARES, 1982, p. 131-132, grifo nosso).

.

Infelizmente as guerras ocorrem e muitas delas não têm como evitar. Ela por

natureza é desanimadora e ao mesmo tempo desafiadora para os soldados.

Tratando-se de religião sempre se questiona até que ponto a guerra é válida ou

como deve se portar um soldado entre matar ou morrer. A guerra em determinados

casos deve ser declarada especialmente quando ela for justa.

Platão faz pelo menos três colocações e mais duas subtendidas sobre que o

homem não deve negar-se participar da guerra. Nas penas de Platão os itens abaixo

têm como pano de fundo a prisão e morte de Sócrates tendo sido acusado de

impiedade e sentenciado a beber veneno:

1 – O Governo é o Pai do Homem – foi sob o patrocínio do governo que o indivíduo veio ao mundo; 2 – O Governo é o Educador do Homem – O governo é o autor da educação do homem, o que leva o homem ser o que é hoje, especialmente seu conhecimento da justiça e injustiça; 3 – O Cidadão Comprometeu-se a Obedecer ao Seu Governo – Há um acordo do governando obedecer as leis estabelecidas pelo governo, devendo-lhe fidelidade e caso não o faça que se responsabilize pelas conseqüências; 4 – O Governado Não Está Compelido a Permanecer Sob Seu Governo – isto é, se alguém não estiver disposto a obedecer a Pátria , deve achar outra que possa obedecer; 5 – Sem Governo Haveria Caos Social – Qualquer governo é melhor do que nenhum governo e se os homens não obedecerem seu governo será instaurado um caos social . Onde se estabelece a anomia reina-se a desordem. (GEISLER, 1991, p.139-141).

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Numa guerra o soldado não deve se preocupar sobre a morte do inimigo

como sendo ele culpado por matar alguém. O Estado é responsável pelo sangue

dos inimigos, por isso, num combate a função do soldado não é morrer pelo seu país

e sim matar por ele. O grande reformador Martinho Lutero20 em seu livro “Os

Soldados Podem ser Salvos Também” retrata uma série de textos que faz menção

sobre vários assuntos relacionados à guerra. Sobre o fato dela ser justificável, na

apresentação deste trabalho Charles M. Jacobs disse:

Lutero era da opinião de que a guerra é um mal necessário. Ela tem um lugar próprio no mundo, mas apenas como um meio para a repressão do que é errado: quando utilizada para se obter esse efeito, é justificável. (LUTERO, 2008, p. V).

Sobre a consciência da batalha:

[...] pois quando um homem vai para a batalha com uma consciência boa e bem instruída, ele vai lutar bem, uma vez que uma consciência tranqüila nunca deixa de provocar uma grande coragem e um coração cheio de ousadia; mas quando o coração está cheio de ousadia e o espírito confiante, a força está toda no pulso, cavalo e homem se aceleram; tudo sai melhor, e todas as chances sustentam melhor a vitória que Deus dá em seguida. (Ibid p.2).

A guerra como um ato de amor em busca da paz:

Pelo simples fato de ter sido instituída a espada de Deus para punir o mal, proteger os bons e preservar a paz [...] é que se prova, de modo vigoroso e suficiente, que lutar, matar e praticar outros atos, que o tempo de guerra e a lei marcial trazem consigo, foram instituídos por Deus. Que mais é a guerra do que o castigo daquilo que é mal e errado? [...] De maneira que, se a espada não estivesse em guarda para preservar a paz, tudo no mundo iria à ruína, em virtude da falta de paz. (Ibid, p. 5,6).

Mesmo que não pareça um ato de amor matar, um cristão deve assim fazê-lo,

pois estará protegendo sua família e as demais. “A paz queremos com fervor, a

guerra só nos causa a dor. Porém, se a Pátria amada for um dia ultrajada lutaremos 20 Nota: Martinho Lutero (Eisleben, 10 de novembro de 1483 — Eisleben, 18 de fevereiro de 1546) foi um teólogo alemão. É considerado o pai espiritual da Reforma Protestante. Precursor da Reforma Protestante na Europa, fez parte da ordem agostiniana. Em 1507, ele foi ordenado padre, mas devido as suas idéias que eram contrárias as pregadas pela igreja católica, ele foi excomungado. Disponível em: http://pt.wikipedia. org/wiki/Martinho_lutero. Acesso em: 19 set.2008.

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sem temor” (CANÇÃO DO EXÉRCITO).21 Este espírito de luta, consciência, amor se

vê no comandante não só de armas, mas pela motivação dada pelo Capelão verde-

oliva. A idéia daquilo que é justificável terá uma influência maior no espírito do

guerreiro.

A guerra é a espada de Deus, seu julgamento:

Por isso mesmo Deus honra a espada de modo tão elevado que Ele a chama de Seu próprio decreto22. [...] Certamente a mão que detém esta espada, e com ela mata, não é mais a mão do homem, mas de Deus, que enforca, tortura, degola, mata e combate. Tudo isso é obra e julgamento de Deus. (LUTERO, 2008, p.6).

Na visão de Lutero quem abusa de seu ofício, mata e degola pela própria

desnecessariamente vontade se torna culpado pelo ato. A culpa não recai sobre o

Estado e sim sobre o soldado.

A guerra justa:

Pois o que é a guerra justa, senão o castigo dos iníquos e a manutenção da paz? Se alguém castiga um ladrão, ou um assassino, ou uma adúltera, isso é castigo infligido a um único dos iníquos, mas numa guerra justa alguém castiga, ao mesmo tempo, toda uma grande multidão dos iníquos, que estão a causar danos em proporção ao tamanho da multidão. Se, portanto, um trabalho de espada é bom e direito, todos os demais também o são, pois a espada é uma espada e não um canivete, e é chamada, em Romanos 13:4, de “a ira de Deus”. (Ibid, p.8).

Antes de irem para a guerra, na visão do Reformador Lutero os soldados não

deveriam conduzir-se com fraqueza sentimental. O posicionamento era de alguém

confiante. Deveriam ter em mente a família, esposa, o lar, o país. Este espírito

deveria estar enraizado no coração, pois em combate sempre lembrariam que nunca

estariam sozinhos. Um soldado mesmo estando com seus companheiros tiver um

21 Canção do Exército – Letra: Ten. Cel. Alberto Augusto Martins / Música: T. de Magalhães . Disponível em: http:// www.militar.cristao.nom.br/letra.php?id=5. Acesso em: 17 ago.2008. 22 Romanos 13:1

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espírito solitário terá duas batalhas a travar: o inimigo próximo e o medo de não

voltar para os seus. Lutar sozinho com a morte é desesperador.

Ao tratar sobre a Capelania católica e evangélica pude-se observar a

presença marcante daquela com o Frei Orlando e desta com o Pastor João Filson

Soren nos campos de batalha em meio a rajadas de balas, frio e morte. Tanto um

como o outro sempre aqueceram o moral dos soldados. O Frei Orlando ministrou o

sacramento da eucaristia, visitou as linhas de frente, encorajando os soldados. Por

outro lado o Pastor Soren sabia da importância da música como estímulo para o

combatente, levando-o a confiar em Deus como em seus irmãos de armas. O fazer

relembrar da família, lar, pátria fez com que os pracinhas desempenhassem bem a

missão.

O espírito narrado é próprio do capelão, do pastor que cuida das ovelhas, do

conselheiro que abraça na hora da dor, que ministra os sacramentos no momento da

morte e como psicoterapeuta verde-oliva incentiva os homens a cumprirem a missão

seja ela dolorida ou não. Lutero era um homem que tinha esse proceder. Além da

preparação que teve como soldado

e o pensamento na família, ele os exortavam a depender da graça divina e

confeccionou uma oração para que fizessem antes da batalha e orienta após a

mesma, caso quisessem proferir o Credo e o Pai-Nosso.

Pai Celestial, aqui estou de acordo com a Tua divina vontade, no trabalho externo e serviço de meu senhor, que eu devo primeiro a Ti e, em seguida, ao meu senhor pelo Teu amor. Agradeço a Tua graça e misericórdia que tens por mim, em um trabalho do qual tenho a certeza que não há pecado, mas é reto e cuja obediência é agradável à Tua vontade. Mas sei e aprendi a partir da Tua graciosa Palavra que nenhuma das nossas boas obras pode nos ajudar e ninguém é salvo como soldado, mas apenas como um cristão, por isso, não vou contar a todos sobre esta obediência como um trabalho meu, mas vou me colocar livremente a serviço da tua vontade e crer de todo coração que só o sangue inocente de Teu Filho querido, o meu Senhor Jesus Cristo, me redime e me salva, e que Ele derramou por mim em obediência à Tua santa vontade. Nisso me fundamento; sobre isso vou viver e morrer; por isso luto, e tudo faço. Querido Senhor Deus e Pai, preserva e fortaleça essa confiança em mim pelo Teu Espírito. Amém. (LUTERO, 2008, p. 48).

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3.2.4 O cuidado consigo mesmo, a saúde do psicotera upa verde-oliva.

O trabalho dos capelães é gigantesco. Em visita aos quartéis (unidades

militares) os mesmos precisam passar a “instrução religiosa”, isto é, não podem falar

das doutrinas de sua confissão. Tal permissão só ocorre quando ocorrem as missas

(Igreja Católica) onde os sacramentos são ministrados e da mesma forma nos cultos

(evangélicos) quando a assistência é oferecida diretamente a eles. No geral o

capelão em tais visitas dá assistência, conversa com os soldados e toda essa rotina

traz um desgaste muito grande. De acordo com o Pastor Walter Pereira de Mello

Tenente Coronel Capelão do Exército Brasileiro lotado em Brasília-DF em entrevista

dada a este mestrando o mesmo revelou que “a maior dificuldade é o pequeno

número de capelães para atender a um rebanho tão grande. Hoje, há cerca de 200

mil militares no Exército Brasileiro assistidos por 57 capelães (10 pastores e 47

padres)”.

O Capelão Walter Mello revela o seu imenso trabalho e a extensão que o

mesmo tem que percorrer para assistir os militares:

“42 Quartéis (Unidades Militares) dispostos geograficamente no Distrito Federal, Goiás, Tocantins e Triângulo Mineiro. Assim distribuídos: - O Comando Militar do Planalto, com sede em Brasília e 6 Quartéis diretamente subordinados; - O Comando da 11ª Região Militar, com sede em Brasília e 6 Quartéis diretamente subordinados; - O Comando da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada, com sede em Cristalina, GO, e 11 Quartéis diretamente subordinados; - O Comando de Operações Especiais, com sede em Goiânia e 8 Quartéis diretamente subordinados; e - Mais 7 quartéis em Brasília vinculados ao Comando Militar do Planalto”.

O Capelão Walter ao ser questionado sobre o número de soldados sob sua

responsabilidade e a maior distância que percorria para visitar os comandos disse:

- “ Cerca de 13 mil militares. - Cerca de 900 Km, em Palmas, TO, o que é feito via aérea ou terrestre”.

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Figuras 10 e 11 - Visita do Ten. Coronel Capelão Walter Mello1º RCGd – Regimento de Cavalaria de

Guarda (Dragões da Independência)- Brasília – DF - . Fotos de propriedade do pesquisador (2008)

Conforme Organograma do SAREx (Anexo I) o Tenente Coronel Capelão

Walter Mello é Subchefe do SAREx no Comando do Planalto. Nas fotos, abaixo,

pode-se notar o referido Capelão ministrando instrução religiosa a um grupo de

soldados. Nas instruções religiosas os capelães não podem falar sobre doutrinas,

igreja ou religião, somente orientações espirituais.

Figuras 12 e 13. Fotos Capelão Walter Mello– Instrução Religiosa no 1º RCGd – Regimento de Cavalaria de Guarda (Dragões da Independência)- Brasília – DF .

Fotos de propriedade do pesquisador (2008).

O trabalho do capelão não se limita aos quartéis. Ele visita hospitais, presos e

também as famílias dos militares. No caso do Capelão Walter Mello o trabalho com

as famílias são realizados de duas maneiras: 1- Assiste a UMCEB – União de

Militares Cristãos do Brasil – trabalho realizado com as mulheres dos militares, isto

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é, apoio que ocorre nas várias vilas militares ou na área de concentração das

residência dos militares. Este trabalho é realizado semanalmente no período da

tarde e a noite ocorre reuniões com as famílias dos militares feitas através de

agendamento.

Figuras 14 e 15. Fotos – UMCEB- União de Militares Cristãos Evangélicos – Grupo de apoio às mulheres Brasília DF. - Fotos de propriedade do pesquisador (2008).

Além destes trabalhos mencionados o capelão também tem suas ovelhas nas

igrejas onde congregam assistindo-as em seus trabalhos semanais. Nas fotos,

abaixo, pode-se notar o Capelão Walter Mello dando assistência a um dos grupos de

senhoras da Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília onde é Pastor e ao mesmo

tempo Capelão, pois não tem como separar uma função da outra. Neste grupo

também há mulheres de oficiais militares. Nas fotos acima nota-se a ausência do

Capelão Walter Mello, pois, o mesmo estava dando assistência a um outro grupo

(abaixo) no mesmo horário.

Figuras 16 e 17. Fotos – Grupo de Senhoras Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília – Brasília DF. Reunião ocorrida na residência do Coronel André Buarque.

Fotos de propriedade do pesquisador (2008).

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Pelos dados acima elencados e comentados pelo Capelão Walter Mello pode-

se observar que o trabalho é grande, mas o número de capelães é insuficiente.

Segundo o Capelão Walter as visitas aos quartéis se repetem após dois meses pela

extensão do território e número de quartéis. Essa carga horária e o desejo de

realizar os trabalhos somados aos problemas existentes nos quartéis e questões

individuais podem levar o capelão a um stress muito grande. O número reduzido

desses capelães leva-os a uma jornada maior, por isso é necessário que os mesmos

tenham cuidado com a saúde. No ensejo de cuidar da saúde espiritual dos militares

e de suas famílias, presos e outros ele mesmo pode acabar tendo um desgaste

físico, mental e até espiritual. O próprio Coronel Capelão Antonio Emídio Gomes

Neto Chefe do SAREx (Serviço de Assistência Religiosa do Exército) em entrevista

declarou a sua própria dificuldade em atender os capelães:

“As dificuldades encontradas são: as distâncias para visitar os capelães, de estar presentes com eles para orientá-los quanto a vida pastoral castrense e a outra dificuldade está na questão da transferência do capelão para outra localidade, pois ele cria um certo apego, vínculo ao lugar onde está lotado e terá que começar tudo de novo em outro quartel. Outra dificuldade que encontramos também está na relação de temperamento de cada um. Eu tenho que entender o temperamento de cada um. (entrevista: Coronel Capelão Emídio – 26/10/08 – SAREx – Brasília-DF)

As dificuldades encontradas pelo capelão são muitas se tornando em

condições adversas para ministrar seu próprio trabalho. Além do que já foi descrito o

anuncio da morte de um soldado à família requer do capelão uma atitude de

sabedoria para notificá-la.

Após ser informado do fato, tomar conhecimento aprofundado da situação em que ocorreu o acidente, dos procedimentos já adotados e, se possível, procurar se fazer acompanhar de algum conhecido da família, daí então comparecer à casa do falecido e agir de acordo com a situação local, sempre sob a orientação de Deus. Não há nada diferente de um Pastor na vida civil. (entrevista: Capelão Walter Mello, Brasília-DF, 2008)

São situações que vão se somando e o que realmente pode acontecer é o

stress levando assim o psicoterapeuta verde-oliva a ter um desgaste generalizado.

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O stress intenso rouba energia do córtex cerebral, energia esta que será usada nos órgãos da economia do corpo, por exemplo, a musculatura. O resultado desse roubo de energia é um cansaço físico exagerado e inexplicável. Grande parte das pessoas [...] ou que tem trabalho intelectual intensivo vive essa sintomatologia. Por pensarem e se estressarem muito, estão sempre roubando energia do cérebro, por isso estão continuamente fatigadas e não sabem o motivo. [...] Quando a fadiga é intensa, gera-se uma sonolência, que é um recurso de defesa cerebral, pois dormindo repomos a energia biopsíquica. (CURY, 2006, p.118)

O número defasado de capelães não só no Exército Brasileiro como nas

Forças Armadas no geral deixa a desejar a importância do trabalho dos capelães,

isso ocorre por falta de visão dos comandantes das referidas forças. Mesmo

havendo um número aquém de sacerdotes diante da imensidão do trabalho, a

presente dissertação não é arranhada, pois a insuficiência do número de capelães

não altera a importância da missão. Se houvesse um empenho maior pelos

comandantes das três forças o trabalho de assistência religiosa seria muito mais

eficaz especialmente aos soldados, pois muitos deixam suas casas longínquas,

passando muito tempo longe da família. A presença da pessoa do capelão faz muita

diferença.