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A INFLUÊNCIA DAS CANTIGAS NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
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INSTITUTO BRASILEIRO DE MEDICINA E REABILITAÇÃOCENTRO UNIVERSITÁRIO HERMÍNIO DA SILVEIRA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
A INFLUÊNCIA DAS CANTIGAS NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Monografia elaborada por:
ALINE NEGRÃO SANTOS
Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2009
INSTITUTO BRASILEIRO DE MEDICINA DE REABILITAÇÃOCENTRO UNIVERSITÁRIO HERMÍNIO DA SILVEIRA
COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
A INFLUÊNCIA DAS CANTIGAS NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Monografia elaborada por
ALINE NEGRÃO SANTOS
Por exigência curricular do curso de Pós-Graduação "Lato Sensu” em Psicomotricidade
Orientador(es): MARIA INÊSB. BARBOSA RAMOS
Especialista em Fonoaudiologia, Especialista em Psicomotricidadde,
Fonoaudióloga e Professora do IBMR
Rio de Janeiro, 25 de agosto de 2009
2
FOLHA DE APROVAÇÃO
ALINE NEGRÃO SANTOS
A INFLUÊNCIA DAS CANTIGAS NO DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR
Aprovada em_________de______________________de___________
_____________________________________
Prof._ MARIA INÊS B. BARBOSA RAMOS
CUHS – UNI-IBMR
3
AGRADECIMENTOS:
A minha melhor amiga, Danielle Costa, que me acompanha em todo meu
caminho escolar, por sua ajuda na minha graduação e pós, estando sempre ao meu
lado, me ajudando sempre que necessário com sua paciência divina.
A Flávia, secretária da Pós que esteve todos os sábados comigo
compartilhando experiências, por toda sua paciência com os alunos e toda sua
ajuda.
Ao Cláudio, meu namorado que junto comigo teve que abrir mão de estar
junto aos sábados, para que eu pudesse me especializar na minha área.
Ao Carlos Alberto e D. Terezinha, coordenadores do curso, por seus
ensinamentos e escolha dos profissionais que nos ajudaram em nossa formação.
Aos meus amigos do trabalho, em especial Alex e Amalia, pelas conversas e
idéias trocadas.
A minha orientadora , Profª Maria Inês, que contribuiu de forma significativa
na escolha do tema, auxiliando na organização de minhas idéias.
A todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a realização deste trabalho.
4
EPÍGRAFE:
A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a
vida, é a própria vida.
John Dewey
5
DEDICATÓRIA:
Aos meus pais Maria e Ronaldo,
pela minha vida, saúde e formação.
6
RESUMO:
Esse estudo procurou por meios bibliográficos verificar a influência das
cantigas infantis nas crianças e seu desenvolvimento psicomotor, ou seja: como as
cantigas infantis podem influenciar o desenvolvimento psicomotor na infância.
O presente tema foi escrito em função da atividade lúdica e pelas
observações feitas nos seus efeitos no desenvolvimento psicomotor desde a
gestação até infância.
Trata- se de um fenômeno observado que por tal motivo há relevância de sua
contribuição em uma melhor aplicabilidade na sua prática pedagógica com a
finalidade de auxiliar em um melhor desenvolvimento psicomotor na infância com
ajuda dos pais e professores envolvidos neste processo.
Palavras chaves: cantigas, infância
7
ABSTRACT:
The aim of this study is to check the influence of lullabies on children and their
psychomotor development. In other words, which influence lullabies have on
psychomotor development during childhood.
This theme was chosen based not only on some playful but also on the effect
such psychomotor development may have from conception until childhood.
It deals with a observed phenomenon that for such reason has relevance of its
contribution in one better applicability in pedagogical practical its with the purpose of
assisting in one better psychomotor development in infancy with aid of the parents
and involved professors in this process.
This is a phenomenon observed that for this reason there is relevance of its
contribution in better applicability in their educational practice to assist with a better
childhood psychomotor development with help from parents and teachers involved in
the process.
Keywords: singing, childhood
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO:.......................................................................................................................10
CAPÍTULO I: HISTÓRIA DAS CANTIGAS.........................................................................13
1.1 FOLCLORE....................................................................................................................15
1.2 CANTIGAS DE RODA..................................................................................................18
CAPITULO II: CANTIGAS E DIÁLOGO TÔNICO.............................................................21
2.1 CANTIGAS NA GESTAÇÃO:......................................................................................21
2.2 CANTIGAS PARA RECÉM NASCIDOS:....................................................................21
2.3 CANÇÕES DE NINAR:.................................................................................................22
2.4 CANTIGAS DE RODAS E A JUVENTUDE:...............................................................23
2.5 CANTIGAS E INFLUENCIA NO DESENVOLVIMENTO.........................................24
CAPÍTULO III: CANTIGAS: SOCIAL E EDUCAÇÃO........................................................27
3.1 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA............................27
3.2 CANTIGAS NA EDUCAÇÃO:.....................................................................................28
CONCLUSÃO..........................................................................................................................31
BIBLIOGRAFIA:.....................................................................................................................32
9
INTRODUÇÃO:
O presente estudo foi motivado diante do questionamento sobre a influência
das cantigas infantis no desenvolvimento psicomotor, abordando a origem das
cantigas como chegaram até nós, partindo dos traumas de infância que foram
causados segundo as cantigas que ouvimos, até a sua estimulação através do
movimento que as cantigas impulsionam.
O primeiro capítulo aborda a origem das cantigas. Surgido na forma de
canções folclóricas no período da escravidão brasileira. É importante destacar que
as cantigas tinham letras obscuras, cantado por mães cuja realidade era dura as
quais tinham que encarar sua condição de escravo e sobreviver em um regime tão
difícil, tendo que transformar a sua realidade em uma bela melodia em forma de
acalanto, para não perder o seu filho.
No primeiro capitulo também é dado importância ao surgimento das cantigas
de roda. De acordo com GAINZA(1998, p 22/ 23) “a música e o som, enquanto
energia estimula o movimento interno e externo do homem; impulsionando- o a ação
e promovendo nele uma multiplicidade de condutas de diferente qualidade e grau”.
O segundo capítulo mostra as cantigas e como o diálogo tônico ocorre como
um processo, partindo do principio que ritmo e o movimento constituem uma
expressão natural do estado de animo de cada individuo. Se a cantiga amedrontra a
criança, o medo faz com que ela não tenha como se expressar e para não ser
castigada ou levada de casa como a cantiga “nana neném que a cuca vem pegar ”
não se torna prazeroso. Segundo Ana Cavani Jorge (1988) em seu texto, cantigas
10
de ninar assinala, a presença constante de seres assustadores, terroríficos – a
Cuca-que-vem-pegar e suas variações – presentes lado a lado aos conteúdos de
cunho narcisante (menininho da mamãe e outros) e da melodia suave e calmante.
Intuindo seu possível valor de elaboração, pergunta-se por que e de que forma o
terror e o terrível comparecem na hora de dormir. É abordado também sua forma na
juventude, culminando com a abordagem da influência destes aspectos no
desenvolvimento psicomotor por meio das atividades motoras e afetivas provocadas
pela cantiga.
O terceiro e ultimo capítulo, trata-se da necessidade das cantigas no
desenvolvimento social das crianças e, quando ela passa para uma fase de mais
entendimento cultural e social. Irá associar não só a melodia mais sim o que a
música quer dizer para ela que ao invés de seu estado de relaxamento ela terá que
se conter e obedecer e também da sua aplicabilidade na educação.
Na pesquisa bibliográfica observaram-se vários relatos de traumas de infância
que foram causados segundo as cantigas que ouvimos na infância, onde fazem a
criança acreditar que se ela não fizer o que foi mandado, será punida. Também
foram vistos a importância e os benefícios trazidos por cantigas desde o feto até seu
nascimento, onde as elas são capazes de relaxar e de terem prazer reconhecendo
uma cantiga que lhe é cantada. Observa-se que os aspectos perturbadores das
cantigas não sobrepõem os aspectos positivos que facilitam a interação e
socialização da criança, tornando ela mais integrada ao grupo e, portanto
prontamente ao seu desenvolvimento psicomotor.
11
“A raiz dos problemas brasileiros está na formação moral construída a partir das
letras das canções de ninar! Mensagem subliminar, incutida na mais tenra idade.
Precisamos apenas trocar as canções de ninar, e as futuras gerações estarão
salvas.”
Angellos
12
CAPÍTULO I: HISTÓRIA DAS CANTIGAS
As cantigas também chamadas de acalanto são usadas para fazer adormecer
as crianças, principalmente os bebês. As cantigas de ninar possuem uma melodia
simples, que tem partes repetidas e uma letra feita para favorecer a necessária
monotonia, que leva a criança a adormecer. A maioria das cantigas de ninar
brasileiras veio de Portugal. Com a chegada do escravo africano e a participação da
mulher negra na vida familiar do colonizador português, as cantigas de ninar
portuguesas tiveram influência africana. Nossos indígenas também tinham canções
de ninar, que influenciaram a criação dessas canções. Assim, nossas cantigas
foram, pouco a pouco, se adaptando aos costumes e ao falar próprio de cada local.
As cantigas de roda integram o conjunto das canções anônimas, que fazem
parte da cultura espontânea, decorrente da experiência de vida de qualquer
coletividade humana. Elas se dão numa sequência natural e harmônica com o
desenvolvimento humano.
Em um artigo de sua autoria, Godinho (1996) ao citar as cantigas de roda,
reflete:
“... Quem é esta que me estimula a sair deste mesmo colo e a buscar o mundo lá
fora arriscando mais um rompimento, me oferecendo a chance de partilhar com os
outros iguais a mim..."
13
Segundo Câmara Cascudo (1988), as brincadeiras de roda referem-se a
brincadeiras do folclore dançadas ou cantadas apresentando melodias e
coreografias simples. Grande parte delas se apresentam com os participantes se
colocando em roda e de mãos dadas, mas existem também variações, como os
brinquedos-de-roda assentada, de fileira, de marcha, de palmas, de pegar, de
esconder, incluindo também as chamadas para brinquedos e as cantigas para
selecionar jogadores. As rodas infantis que se apresentam no Brasil - e que são o
foco deste trabalho - têm origem portuguesa, francesa e espanhola. Porém com a
força do cantar e ouvir abrasileiraram-se muitos destes cantos, sendo eles hoje tão
nossos como se aqui nascidos.
Ainda de acordo com Cascudo (1988), em relação às outras modalidades de
canções populares, as cantigas e brincadeiras de Roda se destacam pela sua
constância "(...) apesar de serem cantadas uma dentro das outras e com as mais
curiosas deformações das letras, pela própria inconsciência com que são proferidas
pelas bocas infantis." (ibid. p 676) elas são transmitidas oralmente, abandonadas em
cada geração e reerguidas pela outra "numa sucessão ininterrupta de movimento e
de canto quase independente da decisão pessoal ou do arbítrio administrativo."
(ibid., p. 146)
14
1.1 FOLCLORE
As manifestações folclóricas nascem dos impulsos criadores, tanto individuais
como coletivos. O folclore é adversário do número em série, do produto estampado
e do padrão patenteado. De mão-em-mão, de boca-em-boca ele se faz: cada um
improvisa, recria, deixa a sua marca, introduz novos padrões.
Assim, a música folclórica é aquela que se transmite e se preserva oralmente,
expandindo-se por isso com toda a naturalidade, e possuindo uma aceitação
coletiva. Ela diferencia-se da música chamada erudita por nela não ter procurado o
rebuscamento ou o aperfeiçoamento de forma intencional, e, da música chamada
popular, por não ser produzida em série ou ter destinação comercial. Em sua
simplicidade, a música folclórica torna-se mais autêntica e espontânea, e assume
um poder de comunicação e uma ressonância imediata no espírito do povo que a
pratica. (Lamas, 1992, p.p. 15, 16)
Enquanto criação artesanal e comunitária, a música folclórica está
condicionada a padrões aceitos por todos, sendo-lhe uma característica peculiar a
adaptação às circunstâncias. Assim, é comum, por exemplo, que uma mesma
melodia sofra as mais variadas deformações, e apresente diversas versões,
podendo também ser encontrada ao mesmo tempo numa cantiga de roda infantil e
numa dança de adultos num terreiro fetichista. Em geral, pode-se dizer que a música
folclórica não é executada independentemente, ela se condiciona a algum fim, pois
atende às necessidades do ambiente onde se propaga.
15
Segundo Camera Cascudo, "O folclore inclui nos objetos e fórmulas uma
quarta dimensão sensível ao seu ambiente" (Cascudo,1988, p.334 ). O seu valor
ultrapassa largamente o ângulo do funcionamento racional, compreendendo muito
mais, uma afirmação ou ampliação do emocional. Assim, as suas manifestações
conformam a "fisionomia espiritual das gentes" (Brandão e Milleco, 1992, p.21) e, se
esquecidas ou desprezadas, "(...) os povos acabam perdendo a consciência do seu
próprio destino." (ibid. p 147)
A oportunidade de reviver, experimentar, ou lembrar as manifestações do
folclore, implica em entrar em contato com forças vitais ancestrais e também em
reviver conteúdos arquetípicos que estão na base da construção da identidade dos
povos. O folclore de determinado local vai sendo construído aos poucos através não
só de antigas de roda, mas também de histórias populares contadas oralmente,
cantigas de ninar e lendas.
Segundo Menezes, "(...) A identidade quer pessoal, quer social, é sempre
socialmente atribuída, mantida e transformada (...). O processo de identificação é
um processo de construção de imagem. e o suporte fundamental é a memória,
através da qual se obtém informações, conhecimentos, experiência e, por isso
mesmo, a possibilidade de dar lógica, sentido e inteligibilidade aos vários aspectos
da realidade." (Menezes, apud. Garcia, Souza e Silva e Ferrari, 1989, p. 14)
Ao tecer comentários sobre as cantigas de roda, Fagundes afirma: (...)
“Algumas revelam padrões historicamente esperados pelas mulheres: caladas,
corpo bem feito e dotados das chamadas prendas domésticas “ (...) (Fagundes,
2001, p. 74). Dessa forma, ilustra o comentário acima com alguns trechos extraídos
de uma canção popular:
16
“ Menina, minha menina,
Carocinho de dendê,
Se queres casar comigo
Cala a boca e deixa vê”
“ Essas meninas de agora
Todos querem se casar
Botam panela no fogo
Mas não sabem esperar”. (versos de La Condesa)
Assim, ocorre que, cantando e dançando no grupo de brincadeiras, a criança
traz elementos do passado da humanidade para o seu presente, "A partir da vivência
deste passado relacionado aos conteúdos do seu presente, encontra-se em
condições de projetar o seu futuro" (ibid, p.15 )
"Neste processo a criança tem a possibilidade de transformar o desconhecido em
conhecido, o inexplicável em explicável, e reforçar ou alterar o mundo. Pode levantar
questões, discutir, inventar, criar, transformar." (Heller, p.14)
17
1.2 CANTIGAS DE RODA
Cantigas de roda, cirandas ou brincadeiras de roda são brincadeiras infantis,
onde tipicamente as crianças formam uma roda de mãos dadas e cantam melodias
folclóricas, podendo executar ou não coreografias acerca da letra da música. É uma
grande expressão folclórica e, acredita-se que pode ter origem em músicas
modificadas de um autor popular ou nascida anonimamente na população. São
melodias simples, tonais, com âmbito geralmente de uma oitava e sem modulações.
O compasso geralmente utilizado é o binário, outras vezes o quaternário. Entre as
cantigas de roda mais conhecidas estão roda pião, escravos de jó, rosa juvenil, sapo
cururu, o cravo e a rosa e atirei o pau no gato.
Cantigas de Roda é um tipo de canção popular, que está diretamente
relacionada com a brincadeira de roda. A prática é comum em todo o Brasil e faz
parte do folclore brasileiro. Consiste em formar um grupo com várias crianças, dar as
mãos e cantar uma música com características próprias, como melodia e ritmo
equivalentes à cultura local, letras de fácil compreensão, temas referentes à
realidade da criança ou ao seu universo imaginário e geralmente com coreografias.
Elas também podem ser chamadas de cirandas, e têm caráter folclórico.
Esta prática, hoje em dia não tão presente na realidade infantil como antigamente
devido às tecnologias existentes, é geralmente usada para entretenimento de
crianças de todas as idades em locais como colégios, creches, parques, etc.
Há algumas características que elas têm em comum, como por exemplo,
a letra. Além de ser uma letra simples de memorizar, é recheada de rimas,
repetições e trocadilhos, o que faz da música uma brincadeira.
18
Muitas vezes fala da vida dos animais, usando episódios fictícios, que
comparam a realidade humana com a realidade daquela espécie, fazendo com que
a atenção da criança fique presa à história contada pela música, o que estimula sua
imaginação e memória. São os casos das músicas “A barata diz que tem”, “Peixe
vivo” e “Sapo cururu”.
Em outros casos, algum objeto cria vida, ou fala-se de amor, que para as
crianças é representado principalmente pelo casamento, já que o exemplo mais
próximo delas é o dos pais. Há ainda as que retratam alguma história engraçada e
divertida. Contudo, não podemos deixar de destacar as cantigas que falam de
violência ou de medo. Apesar de esse ser um tema da realidade da criança, em
algumas cantigas ele parece ser um estímulo à violência ou ao medo. Atualmente
algumas canções vêm sendo alteradas por pessoas mais preocupadas com a
influência das músicas na mente infantil. Não há como detectar o momento em que
as cantigas de roda, já que além de terem autoria anônima, são continuamente
modificadas, adaptando-se à realidade do grupo de pessoas que as canta. São
também criadas novas cantigas naturalmente em qualquer grupo social.
Elas são transmitidas oralmente, abandonadas em cada geração e
reerguidas pela outra "numa sucessão ininterrupta de movimento e de canto quase
independente da decisão pessoal ou do arbítrio administrativo." (ibid. p.146) Como
podemos confirmar é de acordo com a sua utilização pelas crianças que a cantiga
vai se tornando popular.
19
Não é notável, porém, esta origem, pois as mesmas já se adaptaram
tanto ao folclore brasileiro que são o retrato do país. As cantigas de roda são de
extrema importância para a cultura de um local. Através dela dá-se a conhecer
costumes, cotidiano das pessoas, festas típicas do local, comidas, brincadeiras,
paisagem, flora, fauna, crenças, dentre muitas outras coisas.
20
CAPITULO II: CANTIGAS E DIÁLOGO TÔNICO
2.1 CANTIGAS NA GESTAÇÃO:
Pesquisas desenvolvidas em várias partes do mundo confirmam que a música
tem influência no desenvolvimento da criança. Alguns estudos comprovam,
inclusive, que o bebê, ainda no útero materno, desenvolve reações a estímulos
sonoros.
Os sons que estimulam os neurônios dos bebês, mesmo quando ainda estão
no útero materno, são muitos, incluindo as conversas que a gestante mantém com o
filho, os cantos que ela entoa quando acaricia a barriga, além de outros, incluindo a
música propriamente dita. Tudo o que o bebê experimenta desde sua concepção
contribui na construção de seu cérebro.
2.2 CANTIGAS PARA RECÉM NASCIDOS:
Mc Dowell (1995) fez um estudo no qual concluiu que o trabalho musical no
momento do parto pode auxiliar, pois o aumento do volume da música no princípio
contrações diminui e acalma a dor, o que foi medido pelas respostas galvânicas da
pele, diminuição do ritmo cardíaco, do pulso, da pressão sangüínea tônus muscular.
Gabriel Federico (2004) coloca em sua pesquisa que os bebês estimulados
prenatalmente com música sugam ao ritmo da música, tendo uma amamentação
mais completa e desfrutando plenamente do ato: sugando por mais tempo e obtendo
uma melhor digestão favorecida pelo ritmo e pela vibração da música.
21
Deste modo, a voz da mãe (falas, cantigas, etc.) e o ambiente sonoro que é
proporcionado ao bebê (músicas, som ambiente, etc.), possibilitam um espelho
sonoro e, consequentemente, que o bebê seja estimulado e emita respostas em eco.
Delabary (2001) coloca em sua dissertação de mestrado que experiências
realizadas na França demonstraram que o uso da música na gestação e no trabalho
de parto possibilita uma relação mais positiva da gestante com sua imagem corporal,
uma melhor aceitação e vivência da gestação, um contato mais intenso com o feto e
um parto um pouco mais tranquilo.
2.3 CANÇÕES DE NINAR:
As canções de ninar fazem parte do gênero lírico-narrativa e são em geral,
caracterizadas por melodias suaves e repetitivas, com letras simples e rimadas,
advindas dos primeiros habitantes do Brasil.
Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala, nos remete aos tempos coloniais,
quando as amas de leite embalavam os filhos de seus senhores com cantigas, que
mais serviam para amedrontar as crianças, do que para adormecê-las, visto que,
tais cantos apelavam para entidades míticas e bichos aterradores, acentuado ainda
pela transformação que as letras sofriam de acordo com a etnia, a região e a crença
de quem as entoava. Fato esse abordado também por Antônio H. Weytzel. Como
veremos nos versos cantados em Juiz de Fora, assinalando a questão do medo, da
segurança e da alimentação.
Algumas letras, não enfocam somente os seres fantásticos e arrepiantes, elas
abordam também a alimentação, o trabalho e a segurança imposta pela presença
dos pais, como podemos observar nas quadrinhas abaixo:22
1- Tutu marambá, não venha mais cá
Que o pai do menino, te manda matá.
2- Nana nenê, que a cuca vem pegá
Papai foi na roça, mamãe volta já.
3- Vem gato preto, de cima do telhado.
Comer esta criança, que não quer dormir calado.
4- João corta lenha, Maria mexe angu.
Tereza vai na horta, buscar o cariru.
Compadre vem jantá. Carne seca com angu.
2.4 CANTIGAS DE RODAS E A JUVENTUDE:
Atualmente, algumas pessoas vêm questionando as canções de ninar que
trazem em suas letras elementos que “assustam” as crianças, como: Há pessoas
que dizem, por exemplo, que essas canções causam traumas nas crianças, porque
elas encaram tragédias mostradas pelas letras desde o berço. Outras que elas
fazem com que os brasileiros se sintam ameaçados e inferiores desde pequenos e,
conseqüentemente, tenham uma baixa auto-estima.
Da mesma forma que as cantigas foram trazidas para cá pelos nossos
colonizadores, influenciadas e mudadas pelos negros e indígenas e outros povos
que vieram para cá, podem também continuar a serem mudadas.
23
Boi, boi, boi,
Boi da cara preta.
Pega este menino
Que tem medo de careta.
Bicho tutu
Sai de cima do telhado
Deixa o meu nenê
Dormir sossegado.
2.5 CANTIGAS E INFLUENCIA NO DESENVOLVIMENTO
As brincadeiras de roda constituem um elemento importante ao provocar por
meio da atividade motora da verbalização ou da fantasia o desenvolvimento
psicomotor. Tal se constata ao observarem brincadeira de roda em que suas
variações e de movimentação onde cada participante é convidado a rodar: “... roda,
roda, roda caranguejo peixe é..."; "... roda, ô pinhão, bambeia ô pinhão!..."; rebolar:
"... rebola chuchu, rebola, rebola que se não eu caio!..."; "... rebola pai, rebola mãe
rebola filho eu também sou da família também quero rebolar..."; sambar: "... samba,
samba, samba ô Lelê, pisa na barra da saia ô Lelê..."; remexer: "... dá um remelexo
no corpo..."; requebrar: "... Como ele vem todo requebrado, parece um boneco
desengonçado!..."; mover a cabeça e o pescoço: "... Olhai pro céu, olhai pro chão,
pro chão, pro chão..."; se ajoelhar: "... Para todos se ajoelharem..."; se deitar: "...
Para todos se deitarem..."; e a se levantar novamente: "... Para todos se 24
levantarem!..." ; bater palmas e pés: "...palma, palma, palma ô fulana, pé, pé, pé, ô
Fulana...", pular: "Ora vai pulando, ora vai pulando, ora vai pulando até parar!...";
correr: "...O tempo passou a correr, a correr, a correr..."; e ainda a se agachar e a
gritar: "...do berrô, do berrô que o gato deu: MIAU!!!!!!!" e outras variações
mobilizadoras do corpo todo, e, por conseqüência, também da emoção.
Também, observa-se ainda que algumas cantigas apresentam em sua
dinâmica convites implícitos ou explícitos, para que os participantes se abracem: "...
e abraçais a quem quiser..."; " ai me dá um abraço que eu desembaraço esta
pombinha que caiu no laço..."; beijem: "...da morena mais bonita quero um beijo e
um abraço..." ou puxem a orelha uma das outras: "...puxa lagarta no pé da
orelha!..."; se toquem com os pés: "...tira, tira o seu pezinho, bota aqui no pé do meu,
e depois não vá dizer que você se arrependeu...". O contato corporal e a troca de
afetos tão necessários ao pleno desenvolvimento infantil ocorrem de forma natural e
prazerosa dentro da segurança dos limites das próprias brincadeiras.
São várias as Brincadeiras que também têm em sua dinâmica um espaço
especial para a manifestação da singularidade de cada criança. Este destaque se dá
ao escolher outra criança para ser o seu par; "sozinha eu não fico, não hei de ficar,
porque tenho a fulana para ser meu par!...”; ou para mostrar afetos e desafetos: “...
entrai, entrai ó linda roseira, fazei careta pra quem não gostais e abraçais quem
gostas mais... esta não me serve, esta não me agrada, esta hei de amar, hei de
amar até morrer..."; seja ao fazer o som de um bicho ou com a tarefa de reconhecer
o outro através da sua voz apenas: "Senhor caçador preste bem atenção, não vá se
enganar quando o gato miar: MIAU"; seja ao aceitar ou ao negar algo para si próprio
(exercer o poder de escolha) "... Este ofício não me agrada, de marré, marré, marré,
25
este ofício não me agrada de marré de si..."; seja ao recitar ou improvisar um verso:
"...Por isso dona fulana entre dentro desta roda diga um verso bem bonito diga
adeus e vá se embora...". Diversas vezes este destaque também fica patente pela
própria coreografia, pois a criança é convidada a se colocar no centro da roda: "...Ô
dona fulana, ô dona fulana, entrarás na roda e ficarás sozinha!..."; "...Entrai na roda,
ó linda princesa..." ; "O pinhão entrou na roda ô pinhão...amostra a tua figura ô
pinhâo!";"...Pai Francisco entrou na roda..."
Nas brincadeiras de roda, o convite ao canto ocorre de maneira natural.
Normalmente canta-se em coro, ocorrendo algumas cantigas com espaço para solos
vocais. Existe margem para as mais variadas explorações de dinâmica, timbre e,
registros vocais. Logo, música, corpo e emoção se integram naturalmente no canto
das brincadeiras de roda.
26
CAPÍTULO III: CANTIGAS: SOCIAL E EDUCAÇÃO
3.1 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO SOCIAL DA CRIANÇA
27
A música também traz efeitos muito significativos no campo da maturação
social da criança. É por meio do repertório musical que nos iniciamos como
membros de determinado grupo social. Por exemplo: os acalantos ouvidos por um
bebê no Brasil não são os mesmos ouvidos por um bebê nascido na Islândia; da
mesma forma, as brincadeiras, as adivinhas, as canções, as parlendas que dizem
respeito à nossa realidade nos inserem na nossa cultura.Além disso, a música
também é importante do ponto de vista da maturação individual, isto é, do
aprendizado das regras sociais por parte da criança. Quando uma criança brinca de
roda, por exemplo, ela tem a oportunidade de vivenciar, de forma lúdica, situações
de perda, de escolha, de decepção, de dúvida, de afirmação. Fanny Abramovich, em
memorável artigo, afirma:Ò ciranda–cirandinha, vamos todos cirandar, uma volta,
meia volta, volta e meia vamos dar, quem não se lembra de quando era pequenino,
de ter dados as mãos pra muitas outras crianças, ter formado uma imensa roda e ter
brincado cantado e dançado por horas? Quem pode esquecer a hora do recreio na
escola, do chamado da turma da rua ou do prédio, pra cantarolar a Teresinha de
Jesus, aquela que de uma queda foi ao chão e que acudiram três cavalheiros, todos
eles com chapéu na mão? E a briga pra saber quem seria o pai, o irmão e o terceiro,
aquele pra quem a disputada e amada Teresinha daria, afinal, a sua mão? E aquela
emoção gostosa, aquele arrepio que dava em todos, quando no centro da roda, a
menina cantava: “sozinha eu não fico, nem hei de ficar, porque quero o. (Sérgio?
Paulo? Fernando? Alfredo?) para ser meu par”. E aí, apontando o eleito, ele vinha
ao meio pra dançar junto com aquela que o havia escolhido... Quanta declaração de
amor, quanto ciuminho, quanta inveja, passava na cabeça de todos. (1985, p. 59).
28
Essas cantigas e muitas outras que nos foram transmitidas oralmente, através
de inúmeras gerações, são formas inteligentes que a sabedoria humana inventou
para nos prepararmos para a vida adulta. Tratam de temas tão complexos e belos,
falam de amor, de disputa, de trabalho, de tristezas e de tudo que a criança
enfrentará no futuro, queiram seus pais ou não.
3.2 CANTIGAS NA EDUCAÇÃO:
A música na Educação Infantil deve vir a possibilitar o desenvolvimento de
diversas habilidades ligadas tanto às áreas motoras, cognitivas e afetivas,
promovendo a formação integral das crianças.
(...) A iniciação musical deve ter como objetivo durante a idade pré-escolar, estimular na
criança a capacidade de percepção, sensibilidade, imaginação, criação, bem como age como uma
recreação educativa, socializando, disciplinando e desenvolvendo a sua atenção (...) (WINN, 1975,
p.32)
Na primeira fase da educação infantil o contato com a música deve simbolizar
a apreensão de certos movimentos corporais, acompanhamentos de sons, balanços,
sapateados, além de permitir o aguçamento da audição e emissão dos sons, cujas
habilidades são imprescindíveis para a apreciação musical.
Sendo a escola um ambiente, onde o indivíduo passa grande parte de sua
vida, a mesma deve constituir-se como um local de vivências prazerosas e alegres.
É com essa perspectiva que a música, na Educação Infantil, precisamente as
cantigas de roda e, as cantigas infantis são elementos lúdicos vitalizadores do
processo ensino-aprendizagem.
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As cantigas de roda, as parlendas e as brincadeiras apresentam-se como
recurso para a leitura “lúdica” (os jogos) e para a introdução da criança no mundo da
leitura. As parlendas contêm de certa forma, um enunciado lúdico pedagógico pela
sua forma, ritmo, desenvolvendo o aspecto psicossocial da criança, pois a sua
linguagem é simples e atraente. Em contato com as parlendas, a criança poderá dar
os primeiros passos para a comunicação verbal. A convivência com as parlendas, as
cantigas de roda e as brincadeiras, remete a criança a uma relação com a
linguagem lúdica (os jogos) e poética.
Vê-se dessa forma que, ao trabalhar “as parlendas” em sala de aula, o
professor coloca a criança em contato com o saber popular, esse popular que muitas
vezes é imprescindível no avanço da literatura infantil, pois, muitos dos clássicos da
Literatura Infantil “nasceram no meio popular (ou em meio culto e depois se
popularizaram em adaptações)” Nelly Novaes Coelho; p. 20, 1982.
Pode-se dizer que o primeiro contato que a criança tem com a poesia
ocorre no berço, através das cantigas de ninar e prosseguir com as cantigas de roda
e quadrinhas populares. Através da repetição, a criança memoriza quadrinhas e
canções inteiras, muitas vezes sem entender-lhes o significado, pois o que importa
nesse momento é a sonoridade, a cadência e o ritmo dessas composições.
Fica evidente que parlendas, cantigas de roda podem ter um papel
importante no processo de alfabetização, não só pela sua familiaridade com o
discurso da criança, mas também porque permite à criança conquista de linguagem.
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A influência das cantigas de roda no universo infantil é inquestionável. As
mesmas se perpetuaram de geração em geração através do tempo, sendo passadas
pelas as gerações mais velhas às mais novas.
As origens das cantigas de roda são diversas, na sua maioria, de caráter
imigratório. Podemos confirmar isto nos vestígios encontrados nas próprias canções
da cultura de origem principalmente na pronúncia das palavras.
Para Garcia (1992, p. 35), a maior parte do repertório de canções, é de
origem lusitana. No entanto, a influência francesa também se faz presente em
algumas cantigas, por exemplo, “Eu sou pobre “está relacionada com “Je suis
Pouvre”, “Passa, passa gavião “com “Sur le Pont d”Avignon”, cujos vocábulos devido
ao processo de difusão oral, sofreram certas modificações, a partir da eufonia.
É preciso destacar que as cantigas de roda e as músicas infantis, estão
imbuídas de valores e idéias as quais, refletem o contexto sócio-histórico de um
povo. Sendo a música imbricada de concepções ideológicas, cabe assim, ao
educador, especificamente, o professor da Educação Infantil, munir-se de cuidados
para não perpetuar certas idéias, por sua vez, muitas vezes estereotipadas, relativas
à raça, gênero e classe.
CONCLUSÃO
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Pode parecer curioso para alguns falar-se em brincadeiras de roda nos dias
de hoje, onde estas manifestações da cultura popular espontânea estão com o seu
espaço tão diminuído. Nas ruas, nas praças, nos quintais está mais raro de se ver
ou ouvir-se das bocas infantis aquelas canções que, na simplicidade das suas
melodias ritmos e palavras, guardam séculos de sabedoria e a riqueza condensada
do imaginário popular.
Porém, sem estarem em alta, também não estão extintas. E configurando
uma situação contrastante e quase contraditória - é certo que muitas vezes tendo
partes omitidas ou formas esquecidas e transformadas, elas sobrevivem a era do
computador. Talvez como um reflexo da busca do contato com a expressão genuína
e ancestral que é, em última instância, insubstituível.
O fato é que toda esta conjuntura não altera em nada o teor valoroso
intrínseco às Cantigas e brincadeiras de roda. Elas continuam contendo símbolos
fecundadores de toda a vida subjetiva, e continuam funcionando como pretextos
maravilhosos para a criança experimentar o seu corpo, a linguagem, e para
descobrir-se a si própria ao mesmo tempo se revelando ao outro e inserindo-se no
convívio social.
De acordo com a pesquisa bibliográfica realizada, observamos que as
cantigas, de um modo geral, têm grande influência no desenvolvimento psicomotor.
Teoria que foi abordada, sendo a base que corroborou para que chegássemos a tal
conclusão.
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