Upload
others
View
5
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
A INFLUÊNCIA DA CULTURA EMPREENDEDORA NO
EMPREENDEDORISMO DOS PAÍSES DO BRICS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Área temática: Gestão Estratégica e Organizacional
Pedro Henrique Drummond Pecly
Priscilla Cristina Cabral Ribeiro
Resumo: Pode-se observar diversas similaridades entre os países do BRICS, principalmente relacionado ao
desenvolvimento econômico e o estágio de mercado emergente de cada um deles. Devido à atual situação em que esse
grupo se encontra, é possível questionar o quanto a cultura empreendedora de cada um dessas potências emergentes
leva à criação de empreendimentos que gerem ganhos econômicos e sociais para os membros desse grupo. Assim, o
objetivo geral contemplado por este artigo é analisar a cultura empreendedora dos BRICS por meio das dimensões
culturais de Hofstede, de Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e de Schwartz. O estudo foi realizado mediante uma
pesquisa bibliográfica sobre o empreendedorismo em cada um dos BRICS a fim de definir as dimensões culturais e
valores presentes em cada nação, para, então, justificar a cultura empreendedora nacional. Como resultado, percebeu-se
que a orientação empreendedora de uma população é, de fato, influenciada pelos traços culturais dessa nação.
Palavras-chaves:
ISSN 1984-9354
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
2
1. Introdução
BRICS é o acrônimo que se refere aos cinco países com as maiores economias nacionais
emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Esses países possuem similaridades em seus
desenvolvimentos econômicos, marcados por uma industrialização tardia e por seu estágio de mercado
emergente. Além de grandes e crescentes economias, os BRICS possuem influência significativa em
âmbito regional e global, dando aos cinco um posto no G-20 (BBVA EAGLEs Annual Report, 2012).
A soma da população dos BRICS, em 2014, consistiu em, aproximadamente, três bilhões de
indivíduos, representando cerca de 40% da população mundial. O PIB combinado desses países foi de
US$16.039 trilhões, representando cerca de 18% da economia mundial (IMF WORLD ECONOMIC
OUTLOOK, 2014). Atualmente, a sigla “BRICS” tem sido muito utilizada como um símbolo que
indica uma alteração no poder econômico global, visto que aproxima as economias emergentes das
desenvolvidas, os membros do G-7.
Devido ao rápido e grande crescimento econômico presenciado nos últimos anos por esses
países, pode-se questionar até que ponto a cultura empreendedora dessas nações contribuiu para esse
crescimento, por meio da ação e presença dos empreendimentos locais e o quanto essa ascensão
econômica favoreceu e motivou a criação e consolidação de novos empreendimentos. Nesse caso,
torna-se necessário analisar a cultura empreendedora de uma nação para justificar a participação,
criação e consolidação de empreendimentos no contexto vivido pelos BRICS visto que, apesar da
conjuntura econômica semelhante entre eles, os traços culturais característicos de cada país podem
tornar um ambiente propício ou não para o ato de empreender.
Assim, o principal objetivo deste estudo foi analisar a cultura empreendedora dos países do
BRICS por meio das dimensões culturais de Hofstede, de Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e
de Schwartz, a fim de se constatar como a cultura empreendedora afeta o desempenho empreendedor
de cada um dos BRICS. O artigo foi estruturado em seis partes, a primeira, essa introdução, apresentou
o artigo, o problema e a justificativa do tema; a segunda parte, o método empregado; a terceira parte
será constituída pela revisão teórica; e, por fim, as conclusões e referências bibliográficas.
2. Cultura Empreendedora e Dimensões culturais
2.1 Cultura Empreendedora
A cultura empreendedora de uma nação representa a essência do empreendedorismo e sua
manifestação pode ocorrer de diversas maneiras, como, por exemplo, por meio do perfil
empreendedor, do empreendedorismo coletivo, da gestão empreendedora, entre outras formas
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
3
(SCHMIDT e DREHER, 2008). A existência e a combinação de algumas dessas e outras
manifestações é o que, de fato, constroi uma cultura empreendedora (DREHER, 2004). Essa cultura,
por sua vez, possui um papel essencial no que diz respeito a tornar indivíduos de uma população mais
ou menos propensos a identificar novas oportunidades de negócio e os meios necessários para
capitalizá-las e elaborar uma estrutura que seja a mais próxima da ideal para aproveitar essas
oportunidades identificadas (STEVENSON e GUMPERT, 1985).
O efeito que a cultura empreendedora gera ao estimular as atividades desse segmento em
diversas regiões e países pode ser explicado pelo fato de que, desde o momento em que o
empreendedorismo surgiu, já era esperado que toda a conjectura e contexto cultural em que um
indivíduo se via presente causasse um impacto no desenvolvimento de atividades empreendedoras.
Isso explica o porquê de as tendências e características do empreendedorismo variarem ao se
analisarem locais com culturas distintas: cada uma influenciará a cultura empreendedora local a
possuir determinados traços, que nem sempre convergirão (SAFFU, 2003).
2.2 Dimensões Culturais
Com a globalização obteve-se, até certo ponto, um desaparecimento das fronteiras geográficas
e culturais, tão rígidas outrora (CANEN e CANEN, 2005). Devido a esse fato, tornam-se cada vez
mais comuns situações em que indivíduos de locais com culturas consideravelmente distintas devem
interagir e saber lidar com as diferenças do outro e, via interações comerciais, pode-se presumir que
aqueles que conseguem lidar de forma positiva com as diferenças culturais encontradas podem ser
beneficiados por tal feito (LACERDA, 2011).
Nesse contexto, pode-se analisar as características culturais de uma determinada região por
meio de dimensões culturais, que tentam explicar diversos traços e comportamentos da população que
lá habita. Dos diversos modelos de dimensões culturais existentes, quatro dos mais difundidos e
citados até os dias de hoje serão utilizados neste artigo. Eles são os modelos de Hofstede, de
Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e de Schwartz. A aplicação de diversos modelos se faz
necessária, visto que cada um deles foca em elementos culturais diferentes em sua maioria, o que
contribui para uma análise mais abrangente acerca das culturas dos países analisados neste estudo
(NARDON e STEERS, 2009).
2.2.1 Dimensões culturais de Hofstede
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
4
As pesquisas realizadas por Geert Hofstede tinham como finalidade levar à elaboração de um
modelo de dimensões culturais e tinham como enfoque “desenvolver uma terminologia comumente
aceitável, bem definida e empiricamente fundamentada para descrever culturas” e “analisar os dados
coletados de forma sistemática e sobre um significativo número de culturas, ao invés de utilizar apenas
impressões” (LACERDA, 2011, p. 1288). As dimensões culturais propostas por Hofstede serão
apresentadas a seguir, conforme a Tabela 1:
Tabela 1 – Dimensões culturais de Hofstede
Fonte: Adaptado de Lacerda (2011)
Hayton et al. (2002) propõem que, ao relacionar o nível de empreendedorismo de uma nação
com as dimensões culturais de Hofstede, percebe-se que culturas marcadas pela baixa distância do
poder, pela baixa resistência à incerteza, pelo individualismo e pela masculinidade favorecem esse
nível. Isso ocorre pelo fato de que uma alta resistência à incerteza e predominância de grande distância
do poder tendem a gerar obstáculos à inovação. A predominância do individualismo e da
masculinidade em uma cultura, por outro lado, fomentam atividades empreendedoras, sendo
responsáveis por uma maior tendência à abertura de novos negócios.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
5
2.2.2 Dimensões culturais de Trompenaars e Hampden-Turner
Fons Trompenaars e Charles Hampden-Turner acreditavam que para compreender uma cultura,
um indivíduo deveria compreender que o elemento principal que as difere é a maneira única que cada
uma delas busca soluções para solucionar problemas. Segundo os autores, existem três tipos de
problemas: aqueles provenientes do relacionamento entre pessoas, os provenientes da passagem do
tempo e aqueles oriundos da relação com o ambiente (LACERDA, 2011). Com base nessas questões,
Trompenaars e Hampden-Turner elaboraram sete dimensões de cultura, apresentadas na Tabela 2:
Tabela 2 – Dimensões Culturais de Trompenaars e Hampden-Turner
Fonte: Adaptado de Dias (2012)
Ao relacionar orientação empreendedora com as dimensões culturais de Trompenaars e
Hampden-Turner, Lee e Peterson (2000) sugerem que aquela é fortalecida pelo individualismo, pela
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
6
orientação à realização e pelo universalismo, que são responsáveis por gerar traços como
competitividade, autonomia e propensão à tomada de riscos em uma sociedade. Com base no estudo
dos mesmos autores, as demais dimensões não contribuem consideravelmente para o desenvolvimento
da orientação empreendedora.
2.2.3 Dimensões culturais de Hall
O modelo de dimensões culturais de Edward T. Hall foi proposto em 1959, com base em
estudos feitos em países como Alemanha, Japão, Estados Unidos e França. Esses estudos analisavam a
comunicação interpessoal, o uso pessoal do espaço, a percepção do tempo e a velocidade com que
mensagens são transmitidas em uma sociedade em cada um dos países observados (HALL e HALL,
1990). Com base nesses elementos pesquisados, as dimensões culturais deste modelo serão
apresentadas na Tabela 3:
Tabela 3 – Dimensões Culturais de Hall
Fonte: Adaptado de Nardon e Steers (2009)
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
7
De acordo com Steers (2005), os países mais empreendedores, logo, com uma cultura
empreendedora mais concretamente estabelecida, são marcados pelo baixo contexto, noção territorial
do espaço e abordagem monocromática do tempo, o que sugere que culturas com dimensões mais
próximas das indicadas tendem a ser mais empreendedoras do que as demais.
2.2.4 Dimensões culturais de Schwartz
Por meio de uma abordagem tendendo para o lado psicológico dos valores sociais que
permeiam uma cultura, Shalom Schwartz identificou valores humanos universais presentes em
qualquer cultura, que representam as necessidades universais da existência humana (NARDON e
STEERS, 2009). Com base nos valores universais identificados, Schwartz construiu seu modelo de
dimensões culturais que será apresentado na Tabela 4:
Tabela 4 – Dimensões Culturais de Schwartz
Fonte: Adaptado de Schwartz (2012)
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
8
Como sugerido por Godói-de-Sousa et al. (2014) e ao adaptar os argumentos de Lee e Peterson
(2000) e Hayton et al. (2002) para o âmbito das dimensões de Schwartz, pode-se perceber que alguns
fatores que fomentam o empreendedorismo em uma sociedade são o individualismo, marcado pela
autonomia de agir e pensar dos indivíduos, e a baixa distância do poder, existente em sociedades
igualitárias. No quesito Domínio-Harmonia, ambos podem colaborar para o empreendedorismo, porém
enquanto um motiva a busca por inovações, o outro incentiva o uso de ideias já difundidas.
3. Metodologia
Esse artigo tem uma pesquisa de caráter qualitativo, devido à análise e interpretação de
elementos culturais dos países do BRICS para alcançar o objetivo do estudo. Esse tipo de pesquisa foi
o mais adequado para a realização do estudo, pois os fenômenos estudados estão diretamente
relacionados com elementos da cultura de um país, dificilmente analisado através de uma abordagem
de análise puramente quantitativa. Segundo Vieira e Zouain (2006), uma pesquisa qualitativa apresenta
confiabilidade em relação ao que foi analisado e às informações obtidas e geradas e, também,
conclusões palpáveis e coerentes com os dados estudados.
Quanto ao tipo de pesquisa, nesse artigo foi utilizada a pesquisa bibliográfica e a documental.
Em relação à primeira, houve uma estruturação da revisão bibliográfica por meio do levantamento de
informações teóricas já analisadas e publicadas em meios escritos ou eletrônicos e documental, pelo
trabalho se valer de fontes mais diversificadas sem um tratamento analítico (SILVEIRA e CÓRDOVA,
2009).
Desse modo, como a pesquisa apresentada por este artigo, além de expressar conhecimento
racional e científico, possui papel informativo, não houve interferência nas interpretações e conclusões
por parte dos pesquisadores, nem utilização de expressões ambíguas (AMBONI, 1997).
4. Discussão e Análise dos Resultados: Empreendedorismo no BRICS
A realização de análises e estudos acerca da atividade empreendedora de países pode ser,
muitas vezes, imprecisa e subjetiva. Entretanto, a criação do Global Entrepreneurship Monitor (GEM)
tornou o acesso a dados precisos e atualizados sobre o empreendedorismo de diversas nações mais
simples e fácil. (FONTENELE et al., 2011).
Quanto à análise do desempenho empreendedor dos países, o Global Entrepreneurship Index
(GEI) é outra fonte e, apesar de possuir semelhanças com o GEM, possui a vantagem de organizar
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
9
diversos fatores cruciais para a avaliação do empreendedorismo de uma nação em apenas um,
fornecendo uma pontuação para cada país a partir do Desempenho Empreendedor.
A Tabela 5, além de apresentar o desempenho dos países do BRICS em relação ao quesito explorado
pelo GEI, indica, de maneira geral, o nível de empreendedorismo dessas nações:
Tabela 5 – Empreendedorismo no BRICS
Fonte: Adaptado de Ács et al. (2015), Amorós e Bosma (2013), Herrington e Kew (2013), Matos (2013) e Nogami e
Machado (2010)
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
10
5. Análise das culturas empreendedoras dos países dos BRICS
As Tabelas 6, 7, 8 e 9 reúnem as informações referentes à análise da cultura empreendedora dos
BRICS, a partir das dimensões culturais de Hofstede, de Trompenaars e Hampden-Turner, de Hall e de
Schwartz, respectivamente:
Tabela 6 – Dimensões culturais de Hofstede aplicadas aos BRICS
Fonte: Adaptado de De Beer (1997), Hofstede (2015a, 2015b, 2015c, 2015d) e Smit et al. (2004)
No Brasil, a grande discrepância na distribuição do poder pela população faz com que seja
proporcional poder do indivíduo e benefícios que ele detém. Na resistência à incerteza, o Brasil
assume um comportamento semelhante à maioria dos países latino-americanos, marcados por um alto
grau de aversão às situações ambíguas. Quanto ao individualismo e coletivismo, no Brasil as pessoas
tendem a estar integradas a grupos por fortes ligações desde o nascimento, principalmente à família,
onde seus integrantes se protegem em troca de lealdade. Isso demonstra que a sociedade se encontra
em uma posição intermediária no quesito masculinidade/feminilidade (HOFSTEDE, 2015a). A cultura
brasileira é orientada ao longo prazo.
Na Rússia a distribuição de poder na sociedade ocorre de forma bastante desigual. Em relação à
aversão à incerteza, os russos tendem a se sentir ameaçados por situações ambíguas. Para evita-las,
além de terem o costume de planejarem detalhadamente as ações, estabeleceram uma das burocracias
mais complexas do mundo. Esse fato não impede que a sociedade russa esteja disposta a adaptar suas
tradições a novas tendências, visando um futuro próspero. Apesar da importância do status para os
russos, eles consideram família, amigos e até mesmo vizinhos importantes para os desafios do dia-a-
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
11
dia, por isso tendem a se apegar e fortalecer os grupos aos quais pertencem (coletivismo)
(HOFSTEDE, 2015b).
A sociedade indiana demonstra um apreço pela hierarquia, muitas vezes como consequência do
regime de castas, que é uma realidade no país. A comunicação ocorre de cima para baixo e o
verdadeiro poder é altamente centralizado. A aversão à incerteza é baixa em seus habitantes porque o
país é marcado pela aceitação à imperfeição e as regras impostas são burladas via soluções criativas
para contornar problemas. Um fator que intensifica ainda mais a busca por sucesso individual são
alguns princípios do hinduísmo, religião predominante no país, que prega um ciclo de morte e
renascimento, sendo este dependente de como o indivíduo viveu a vida anterior. O País é muito
masculino, em termos de sucesso e poder. Como contraponto a esse fenômeno, os indianos dão grande
valor à família, fazendo com que eles busquem aliar suas conquistas individuais com aquelas que
levarão benefícios ao grupo como um todo (HOFSTEDE, 2015c). Contudo, devido ao conceito de
“karma”, os indianos premeditam muitas de suas ações, temendo os impactos que seus atos podem
causar, por isso o tempo não é linear e, portanto, não é tão importante quanto para sociedades
ocidentais.
A sociedade chinesa aceita as desigualdades entre as pessoas, tendo a relação entre
subordinados e superiores polarizada e o abuso de poder é um fenômeno frequente. Quanto à aversão à
incerteza, os chineses tendem a não se importar com situações ambíguas. Pode-se perceber que
questões referentes ao bem comum dos que pertencem a ele são consideradas mais importantes do que
o sucesso individual de um de seus membros, indicando que a cultura chinesa é altamente coletivista.
Apesar disso, o sucesso individual, tanto no trabalho quanto nos estudos, ainda é de grande
importância na sociedade e um dos principais motivadores dos indivíduos, indicando um caráter
masculino dessa cultura. Isso se reflete na adaptação de tradições às novas condições, mostrando que a
cultura está em constante mudança rumo ao futuro (HOFSTEDE, 2015d).
O caso da África do Sul se mostra mais complexo do que os demais analisados, visto que os
efeitos do Apartheid ainda contribuem para que o país possua uma cultura dividida: de um lado a
afrocêntrica e, do outro, a eurocêntrica, como destacado por De Beer (1997) e Smit et al. (2004). A
cultura afrocêntrica é marcada por uma aceitação das desigualdades, os indivíduos são coletivistas,
essa cultura de caracteriza como feminina e há uma maior orientação ao presente.
A cultura eurocêntrica também aceita as desigualdades, mas, diferentemente do caso anterior,
gera um caráter individualista na população cujo objetivo consiste em crescimento e sucesso pessoal,
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
12
demonstrando o caráter masculino dessa cultura, os indivíduos agem no presente com foco em um
futuro mais próspero. Além disso, há uma baixa aversão a situações ambíguas por parte da população.
Tabela 7- Dimensões culturais de Trompenaars e Hampden-Turner aplicadas aos BRICS
Fonte: Adaptado de De Beer (1997), Chan (1999), Gilbert (2001), Overgaard (2010), Smit et al. (2004) e Trompenaars e
Hampden-Turner (1997)
Há outras características que devem ser explicitadas relacionadas à cultura brasileira, segundo
os autores apresentados na Tabela 7, como a aplicação de regras gerais somente para alguns, fazendo
com que relações pessoais e particularidades de cada situação alterem as normas vigentes. A abertura
para indivíduos expressarem seus sentimentos em público, a mistura frequente da relação profissional
e pessoal no ambiente de trabalho e, finalmente, o sentimento de que não se deve tentar controlar o
ambiente e a natureza, apenas se deixar levar por eles (TROMPENAARS e HAMPDEN-TURNER,
1997).
Em relação à Rússia, há foco no particularismo (apesar de regras e normas rígidas), no
comportamento afetivo em locais públicos, na mistura de relações pessoais e públicas em situações
variadas, e em não tentar controlar a natureza e o ambiente. Além disso, a cultura russa é marcada pela
atribuição, onde a condição financeira e família de origem de um indivíduo são fatores de grande
importância (GILBERT, 2001).
A cultura indiana é baseada fortemente em atribuição, devido ao regime de castas do país. As
relações pessoais e profissionais se misturam em situações diversas do dia-a-dia dos indivíduos, regras
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
13
e normas podem ser alteradas, dependendo de cada situação e os indianos apenas observam a natureza;
não tentam controlá-la. A definição entre cultura afetiva e neutra, entretanto, é difícil de ser indicada
nesse caso, visto que o comportamento dos indianos ocorre de uma maneira intermediária aos dois
extremos (OVERGAARD, 2010).
Na China há a separação entre relações pessoais e profissionais em locais de trabalho, pelo
cumprimento das regras de forma igual, pela repressão dos sentimentos e emoções em locais públicos,
pela maior importância dada a atribuição do que a conquistas e, finalmente, pela submissão em relação
à natureza (CHAN, 1999).
Na África do Sul, segundo De Beer (1997) e Smit et al. (2004), os indivíduos são
particularistas, ou seja, normas e regras variam de caso a caso e têm seu foco no bem-estar, mostrando
que essa cultura de caracteriza como feminina. Esse fator explica a maior abertura que essas pessoas
têm para expressar seus sentimentos em locais públicos e também a mistura de relações pessoais e
profissionais que ocorrem em situações diversas. Além disso, o status de uma pessoa é julgado pelas
realizações desse indivíduo e não tenta controlar o ambiente e a natureza, sendo apenas guiada por
eles.
Tabela 8 - Dimensões culturais de Hall aplicadas aos BRICS
Fonte: Adaptado de Fernandes (2008), Gelfand e Brett (2004), Iacob e Dumitrescu (2012), Lewis (1999), Nishimura et al.
(2009) e Steers (2005)
Enquanto as culturas brasileira, russa e indiana são marcadas pelo alto contexto de suas
comunicações, pela noção comunal de espaço e pela abordagem policromática do tempo
(FERNANDES, 2008; STEERS, 2005; GELFAND e BRETT, 2004; LEWIS, 1999 e NISHIMURA et
al., 2009), a cultura chinesa é marcada pelo alto contexto de suas comunicações, pela noção territorial
de espaço e pela abordagem monocromática do tempo (FERNANDES, 2008). A cultura sul-africana
afrocêntrica é caracterizada pelo alto contexto, pela noção comunal de espaço e pela abordagem
policromática do tempo, ao passo que a eurocêntrica é marcada pelo baixo contexto, pela noção
territorial de espaço e pela abordagem monocromática do tempo (IACOB e DUMITRESCU, 2012).
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
14
Tabela 9 - Dimensões culturais de Schwartz aplicadas aos BRICS
Fonte Adaptado de De Beer (1997), Nardon e Steers (2009) e Smit et al. (2004)
Ao analisar a Tabela 9, percebe-se que todas as culturas são caracterizadas pelo
conservadorismo, por estruturas hierárquicas e por ser baseada na harmonia, com exceção da cultura
eurocêntrica da África do Sul.
6. Conclusão
Os BRICS vêm obtendo notoriedade global devido ao seu crescimento de suas economias
locais e relevância geopolítica. Ao relacionar as dimensões culturais de cada um dos BRICS com as
dimensões ideais para a prática empreendedora em um país, percebe-se que esses países possuem
características culturais que os distanciam das ideais.
Os elementos culturais de um país - abordados por meio dos modelos de dimensões culturais
utilizados neste artigo - contribuem para justificar a cultura empreendedora de uma nação,
corroborando a ideia de que atitudes empreendedoras são afetadas por traços culturais de um local, que
exercem influência sobre os indivíduos inseridos nesse ambiente.
Tendo como base essa informação, deve-se ressaltar, mais uma vez, as baixas pontuações,
levando a baixas colocações dos BRICS no ranking dos países mais empreendedores do GEI 2015,
indicando uma cultura empreendedora ainda pouco desenvolvida nesses locais. Das nações aqui
analisadas, a África do Sul foi a que obteve melhor posição no ranking, sendo ela, justamente, o país
do BRICS com características culturais mais próximas do considerado ideal para a existência de uma
orientação empreendedora em um país, mas com pontuação consideravelmente inferior aos primeiros
colocados.
Finalmente, constatou-se que os BRICS que possuíam dimensões culturais mais distantes das
consideradas ideais tiveram pior desempenho no ranking dos países mais empreendedores do GEI,
enquanto que a África do Sul, país com dimensões mais similares às ideais, obteve o melhor
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
15
desempenho. Portanto, com base no estudo e na análise realizados, pôde-se perceber o importante
papel que elementos culturais possuem na formação da cultura empreendedora de uma nação,
indicando que atitudes empreendedoras em uma sociedade são afetadas pelos traços culturais que lá
existem.
Referências Bibliográficas
ÁCS, Z. J.; SZERB, L.; AUTIO, E. Global Entrepreneurship Index 2015. Disponível em:
<http://thegedi.org/2015-global-entrepreneurship-index/> Acesso em: 25 de janeiro de 2015.
AMBONI, N. O Caso CECRISA S/A: uma aprendizagem que deu certo. 1997. 315f. Tese (Doutorado
em Engenharia de Produção) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997.
AMORÓS, J. E.; BOSMA, N. GEM 2013 Global Report. Disponível em:
<www.gemconsortium.org/docs/3106/gem-2013-global-report> Acesso em: 8 de janeiro de 2015.
BBVA. EAGLEs Annual Report 2012. Disponível em:
<https://www.bbvaresearch.com/KETD/fbin/mult/120215_BBVAEAGLES_Annual_Report_tcm348-
288784.pdf?ts=1642012> Acesso em: 5 de janeiro de 2015.
CANEN, Alberto G.; CANEN, Ana. Organizações multiculturais. Rio de Janeiro: Ciência Moderna,
2005.
CHAN, S. The Chinese Learner: a question of style. Education and Training, v. 41, 6/7, 1999.
DE BEER, J. South African Myers-Briggs Type Contribution: A comparative study. Rand Afrikaans
University. 1997.
DIAS, G. Dimensões Culturais: A Percepção de Dimensões da Cultura Brasileira a Partir de um Olhar.
Tese (Mestrado em Administração) – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2012.
DREHER, M. T. Empreendedorismo e responsabilidade ambiental: uma abordagem de
empreendimentos turísticos. Tese (Doutorado em Engenharia da Produção) – Universidade Federal de
Santa Catarina. Florianópolis, 2004.
FERNANDES, M. F. G. Negociação Brasil e China: seus principais aspectos culturais. Rio de Janeiro:
FGV, 2008.
FIORIN, M. M. B.; MELLO, C. M.; MACHADO, H. V. Empreendedorismo e Inovação: Análise dos
índices de inovação dos empreendimentos brasileiros com base nos relatórios do GEM de 2006, 2007 e
2008. In: XII SEMEAD, 2009, São Paulo. Anais do SEMEAD. São Paulo: USP, p. 1-14. 2009.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
16
FONTENELE, R. E. S.; SOUSA, P. F. B.; LIMA, A. O. Empreendedorismo, Crescimento Econômico
e Competividade dos BRICS: Uma Análise Empírica a partir dos Dados do GEM e GCI. ANPAD,
2011.
GELFAND, M. J.; BRETT, J.M. The Handbook of Negotiation and Culture. Stanford: Stanford
University Press, 2004.
GILBERT, K. In search of Russian culture: the interplay of organizational, environmental and cultural
factors in Russian-Western partnerships. Working Paper Series, WP 003/01, Wolverhampton Business
School, Management Research Centre, 2001.
GODÓI-DE-SOUSA, E.; BUENO, J. M.; SOUSA, M. G.; SANTOS, L. T. O Perfil do Empreendedor
Social e suas Dimensões de Atuação: seis casos no município de Uberlândia. Revista Interdisciplinar
de Gestão Social, Bahia, v.3, n.1, p. 33-56, 2014.
GOMES, J. S.; SILVA, A. F. S. Consideração do elemento cultural no desenho de sistemas de
controle de gestão das empresas estrangeiras: estudo de caso. Belo Horizonte. Contabilidade Vista &
Revista, v. 22, 2011.
HALL, E. T.; HALL, M. R. Understanding Cultural Differences: Germans, French and Americans.
Yarmouth: Intercultural Press, 1990.
HAYTON, J.; GEORGE, G.; ZAHRA, S. National culture and entrepreneurship: a review of
behavioral research. Entrepreneurship Theory and Practice. v. 26, n. 4, p. 33-52. 2002.
HERRINGTON, M.; KEW, J. GEM 2013 South African Report. Disponível em:
<www.gemconsortium.org/docs/3336/gem-south-africa-2013-report> Acesso em: 8 de janeiro de
2015.
HOFSTEDE, G.a Brazil’s Cultural Dimensions. Disponível em: <http://geert-
hofstede.com/brazil.html> Acesso em: 18 de janeiro de 2015.
HOFSTEDE, G.b Russia’s Cultural Dimensions. Disponível em: <http://geert-
hofstede.com/russia.html> Acesso em: 18 de janeiro de 2015.
HOFSTEDE, G.c India’s Cultural Dimensions. Disponível em: <http://geert-hofstede.com/india.html>
Acesso em: 18 de janeiro de 2015.
HOFSTEDE, G.d China’s Cultural Dimensions. Disponível em: 18 de janeiro de 2015. <http://geert-
hofstede.com/china.html> Acesso em: 18 de janeiro de 2015d.
HOFSTEDE, G.; McCRAE, Robert R. Personality and culture revisited: linking traits and dimensions
of culture. Cross-Cultural Research, v. 38, n. 1, p. 52-88, 2004.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
17
HOFSTEDE, G. Cultures and Organizations: Software of the Mind. 1 ed. New York: McGraw-Hill,
1997.
IACOB, D.; DUMITRESCU, V. M. Cultural Awareness, Sensitivity and Competence: basic
requirements for business success in Nepal and South Africa. Synergy, Bucharest, v. 8, n.2, p. 121-134,
2012.
International Monetary Fund. World Economic Outlook Database, April 2013. Disponível em:
<http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2013/01/weodata/weorept.aspx?pr.x=91&pr.y=5&sy=2011
&ey=2018&scsm=1&ssd=1&sort=country&ds=.&br=1&c=223%2C924%2C922%2C199%2C534&s=
NGDPD%2CNGDPDPC%2CPPPGDP%2CPPPPC&grp=0&a=> Acesso em: 5 de janeiro de 2015.
LACERDA, D. P. Cultura organizacional: sinergias e alergias entre Hofstede e Trompenaars. Revista
de Administração Pública. v.45, n.5, p. 1285-1301. 2011.
LEE, S. M.; PETERSON, S. J. Culture, entrepreneurial orientation, and global competitiveness.
Journal of World Business, v. 35, n. 4, p. 401–416. 2000.
LEWIS, R. D. When Cultures Collide: managing successfully across cultures. London: Nicholas
Brealey, 1999.
MATOS, M. M. GEM Empreendedorismo no Brasil: 2013. Disponível em:
<www.gemconsortium.org/docs/3378/gem-brasil-2013-report> Acesso em: 8 de janeiro de 2015.
MINAYO, M. C. S. (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 7. ed. Rio de Janeiro:
Vozes, 1997.
NARDON, Luciara; STEERS, Richard M. The Culture Theory Jungle: divergence and convergence in
models of national culture. Cambridge Handbook of Culture, Organizations, and Work, Cambridge:
Cambridge University Press, 2009.
NISHIMURA S.; NEVGI A.; TELLA S.; Communication Style and Cultural Features in High/Low
Context Communication Cultures: a case study of Finland, Japan and India”. Helsinki: University of
Helsinki, 2009.
NOGAMI, V. K. C.; MACHADO, H. V. Atividade Empreendedora nos Países do BRIC: uma análise a
partir dos relatórios GEM no período de 2000 a 2010. Revista da Micro e Pequena Empresa, São
Paulo, n. 5 n 3. FACCAMP. 2011.
OVERGAARD, L. An analysis of Indian Culture in an Era of Globalisation. Aarhus University, 2010.
SAFFU, K. The role and impact of culture on South Pacific island entrepreneurs. International Journal
of Entrepreneurial Behaviour & Research, Canadá, v. 9, n. 2, p. 55-73, 2003.
XI CONGRESSO NACIONAL DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO 13 e 14 de agosto de 2015
18
SCHMIDT, C. M.; DREHER, M. T. Cultura Empreendedora: Empreendedorismo Coletivo e Perfil
Empreendedor. Revista de Gestão USP, São Paulo, v. 15, n. 1, p. 1-14, janeiro/março, 2008.
SCHWARTZ, S. H. An Overview of the Schwartz Theory of Basic Values. The Hebrew University of
Jerusalem, 2012.
SILVEIRA, D. T; CÓRDOVA, F. P. A Pesquisa Científica. In: GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T.
(org.). Métodos de Pesquisa. Porto Alegre: UFRGS, 2009.
SMIT. P. J.; BREVIS, T.; CRONJE, G. J. De J.; VRBA, M. J. Management Principles: A
Contemporary Edition for Africa. 3 ed. Claremont: Juta Academic, 2004.
STEERS, R. M. Managing in the Global Economy. Ney York: M.E. Sharpe, 2005.
STEVENSON, H. H.; GUMPERT, D. E. The Heart of Entrepreneurship. Harvard Business Review, v.
1, n. 63, p. 85-94, mar.-abr. 1985.
TROMPENAARS, F.; HAMPDEN-TURNER, C. Riding the Waves of Culture: Understanding
diversity in global business. 1 ed. Londres: Nicholas Brealey Publishing, 1997.
VIEIRA, M. M. F.; ZOUAIN, D. M. Pesquisa qualitativa em administração. 2. ed. Rio de Janeiro:
FGV, 2006.