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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação
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A INTEGRAÇÃO DE RECURSOS SEMIÓTICOS EM BLOGS JORNALÍSTICOS E A PRODUÇÃO DE SENTIDOS
DAGLÉCIA DOS SANTOS PINTO1 (UFBA)
Resumo: Este trabalho pretende abordar a integração de recursos semióticos em
posts de blogs jornalísticos para a produção de sentidos. Objetiva-se analisar como se dá o processo de leitura e compreensão desses textos, demonstrando a contribuição dos vários recursos semióticos à produção de sentido. Para tanto, serão analisados três posts de blogs jornalísticos. Será considerada a perspectiva dialógica bakhtiniana e a noção de gêneros discursivos. Uma das características do blog é a intergenericidade, pois nota-se uma mistura de gêneros que, por conseguinte, dialogam entre si. Vale salientar que o exercício com este gênero textual em sala de aula possibilita o trabalho com a linguagem em uso, contextualizada. Palavras-chave: recursos semióticos, dialogismo, construção de sentido.
Abstract, Resumen ou Resumé: This paper intends to approach the integration of semiotic resources in
journalistic blog posts for the production of meanings. This study aims to analyze how is the process of reading and understanding these texts, demonstrating the contribution of the various semiotic resources to the production of meaning. To do that, three posts of journalistic blogs will be analyzed. It will be considered Bakhtin's dialogic perspective, and the notion of speech genres. One feature of the blog is the intergenericity, because it is observed a mixture of genres that interact with each other. It’s worth mentioning that work with this genre in the classroom allows working with language in use, contextualized. Keyword: semiotic resources, dialogism, meaning construction.
Introdução
A língua é um fenomeno social da interação verbal, se concretiza na
comunicação, na interação entre interlocutores, na qual participam sujeitos
históricos e concretos. Portanto, para o estudo da língua, é necessário considerar o
1 Daglécia PINTO, Mestranda
Universidade Federal Da Bahia (UFBA) [email protected]
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seu uso real, haja vista que a produção de sentido jamais será eficaz se não estiver
inserida em um contexto comunicativo.
O sujeito, nesta concepção de língua, é um sujeito discursivo, que se
posiciona ideologicamente, conforme as crenças e/ou posições de um determinado
grupo social. Por isso, sua fala é iminentemente construída pela dos outros
(CAMPOS, 2012). Já que no momento da produção e/ou compreensão, os sujeitos
interagem com outros discursos, outras vozes sociais. Neste sentido, os enunciados
podem ser vistos como uma resposta ativa às vozes interiorizadas, vozes sociais que
se encontram em circulação na sociedade.
O texto, como materialidade discursiva, é o “[...] produto da criação
ideológica ou de uma enunciação, [...] não existe fora da sociedade, só existe nela
e para com ela [...]” (BARROS, 2005, p. 27). Seu sentido é construído de forma
dialógica em uma situação comunicativa, na qual o sujeito tem uma atitude
responsiva ativa diante do que lhe foi exposto no momento da interação. Tal
atitude responsiva não está livre de conflitos, pois o sujeito pode não concordar,
fazer adaptações, acrescentar ou retirar informações, por exemplo.
De acordo com Bakhtin (2003, p. 261) “[...] todos os diversos campos da
atividade humana estão ligados ao uso da linguagem”, a qual se realiza por meio de
gêneros, todo falante já tem guardado os tipos de enunciados necessários a cada
situação interativa.
Os sons, as palavras e as orações são as unidades da língua, fora de
contexto, não possuem sentido, não se tornam um ato comunicativo. Masao
carregarem sentido, quando representam a intenção do locutor e provocam no
interlocutor uma atitude responsiva, pautadas em uma situação comunicativa, se
tornam enunciados, imbricados de elos histórico-ideológico.
Os avanços na área da tecnologia digital possibilitaram, e possibilitam, o
surgimento de novos gêneros em ambientes virtuais, o que caracteriza as novas
formas de comportamento comunicativo em uma sociedade pós-moderna.
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Atualmente, a informação circula em tempo real devido ao desenvolvimento da
comunicação virtual, e como consequência deste proesso, estes novos gêneros
permitem a inserção de variados recursos semióticos.
Conforme Marcuschi (2004, p. 13), “[...] a Internet é uma espécie de
protótipo de novas formas de comportamento comunicativo”. Considerando que os
gêneros são formas sociais e pré-estabelecidos de comunicação, inseridos em uma
cultura, pode-se afirmar, conforme Marcuschi (2004, p. 20), que “[...] o meio
eletrônico oferece peculiaridades específicas para usos sociais, culturais e
comunicativos que não se oferecem nas relações interpessoais face a face.”
Marcuschi (2004, p. 16) aponta que o sucesso dessa nova tecnologia “[...] deve-se
ao fato de reunir num só meio várias formas de expressão, tais como, texto, som e
imagem, o que lhe dá maleabilidade para a incorporação simultânea de múltiplas
semioses, interferindo nos recursos linguísticos utilizados.”.
A leitura e a compreensão de textos é uma atividade complexa, pois
envolvem tanto fatores linguísticos quanto extralinguísticos, a qual requer o
estabelecimento de diversas relações e conhecimentos. A fim de se observar a
contribuição dos recursos semióticos à produção de sentidos, toma-se como objeto
de análise três posts de blogs jornalísticos da Bahia, com vista à análise da
interação entre os recursos linguísticos e o não linguístico.
Parte-se do princípio de que para compreender tal gênero é necessário
analisar conjuntamente estes recursos. Pretende-se com este trabalho evidenciar
uma nova abordagem nas atividades de leitura e compreensão de textos nas aulas
de língua portuguesa.
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Os blogs jornalísticos
O blog surgiu em agosto de 1979 com a utilização do Blogger, software
lançado pela empresa do norte-americano Evan Williams (KOMESU, 2004),
inicialmente tratado como um diário pessoal online, no qual se escrevia sobre as
diversas experiências do escritor.
O software para criação de um blog permite que o criador/administrador
produza textos tanto no Word quanto em HTML, os textos produzidos em HTML
permitem a inserção não apenas de textos escritos, como também a inserção de
imagens, vídeos, links etc., o que o caracteriza como multimodal.
Nota-se que o gênero diário é um dos principais ancestrais do blog, do qual
também herdou do diário a organização cronológica e cumulativa, suas publicações
(posts) são organizadas cronologicamente a partir da mais atual e, à medida que a
página for rolando para baixo, pode-se chegar às publicações anteriores.
Segundo Ormundo (2004, p. 68), os blogs atualmente “[...] podem ser
considerados como um sistema padronizado de publicação na internet.” As
publicações podem tratar de diferentes temas, podendo abarcar desde a vida
pessoal a questões sociais e políticas, por exemplo. Sua estrutura é leve,
geralmente apresenta textos breves, descritivos e opinativos; e ainda permite que
o seu leitor faça comentários sobre as publicações, o que o torna interativo e
participativo.
Um ponto importante em relação aos blogs é a constante interação com os
seus leitores – percebe-se que em alguns há seguidores assíduos. Esta interação
pode ocorrer através de links, curtidas (ferramenta do Facebook), twitadas
(ferramenta do Twiter), o post também pode ser compartilhado por e-mail para
outros leitores, além de permitir que o leitor teça comentário sobre o post com o
auxílio da ferramenta comentários, o que o torna interativo e participativo.
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Dentre as possibilidades de interação, destacam-se os comentários, visto que
se pode notar o quanto a compreensão é uma atividade responsiva, pois com esta
ferramenta o leitor pode acrescentar informações, refutá-las, concordar etc., e, a
depender da polêmica do texto publicado, é possível perceber um verdadeiro
debate sobre seu tema.
De acordo Marcuschi (2004, p. 60), “[...] os blogs têm uma história própria,
uma função específica e uma estrutura que os caracteriza como um gênero,
embora extremamente variados nas peças textuais que albergam.”, já que esta
ferramenta permite a inserção de variados recursos semióticos. Podem assumir
várias formas, a depender das escolhas feitas no momento em que é construído.
Dentre os diversos blogs, destaca-se neste trabalho os blogs jornalísticos,
que visam divulgar informações de cunho noticioso e opinativo, podendo-se afirmar
que se trata de novos modos de produzir e divulgar notícias, visto que sua
atualização é constante, o que o caracteriza como uma ferramenta para
atualização ou publicação de novas informações em tempo atual, sem a
necessidade de aguardar a impressão da próxima edição do jornal impresso. Sua
atualização periódica lhe confere o caráter de imediatidade, garantindo-lhe o valor
de verdadeiro e real.
Considerando que os blogs jornalísticos exercem uma função específica e
social, assim como os gêneros jornalísticos, podemos afirmar que se trata de um
gênero discursivo caracterizado pela multimodalidade e por carregar uma série de
gêneros. Todo o conjunto de elementos que compõe o blog como as publicações, os
links, os hiperlinks, as curtidas etc. não podem ser considerados isoladamente.
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Os recursos semióticos e a produção de sentidos
O post a seguir, intitulado “O fim dos e-mails”, foi publicado no blog Visão
de Mercado de Paulo Mello, no dia 8 de outubro de 2012. Nota-se que este post
dialoga com uma reportagem sobre o fim do uso dos e-mails como ferramenta para
enviar mensagens, percebido no enunciado “Li em uma reportagem esses dias que
a ferramenta das mensagens via e-mail vão acabar.”, percebe-se que o autor deste
post tem uma atitude responsiva perante a reportagem lida, visto que o enunciado
verbal é desenvolvido com base na suposição de que as mensagens não serão mais
enviadas por e-mail.
Há também a inserção de outras vozes no discurso em “de acordo com um
levantamento feito pela ComScore, em 2011, mais de 80% da população mundial
conectada à internet mantêm uma conta ativa em um site de rede social”, trata-se
de “[...] maneiras externas e visíveis de demonstrar outras vozes no discurso”
(FIORIN, 2008, p. 32), nas quais se inserem os discursos direto, indireto e o indireto
livre.
Observa-se no enunciado imagético (A1) a concorrência entre o E-mail e a
Social Media, ou redes sociais, no que concerne ao envio de mensagens,
articulando-se com enunciado verbal do post, visto que simboliza o embate sobre
qual ferramenta ficará responsável pelo envio das mensagens. O envelope
encontra-se fechado, sugerindo que esta é uma mensagem nova, ainda não lida,
que precisa ser entregue ao seu destinatário, e que se encontra no meio do duelo
das ferramentas que podem ser utilizadas para seu envio. Dentre as linguagens
utilizadas no ambiente virtual, o envelope amarelo e fechado indica que esta
mensagem é nova e que não foi lida pelo usuário, como forma de chamar a atenção
para este quesito, o envelope se encontra em amarelo, cor usada para chamar
atenção. Ao abrir a mensagem, o envelope assume outra forma e cor, fica aberto e
branco, indicando que a mensagem já foi lida.
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No enunciado imagético (A2), percebe-se o diálogo entre a imagem de uma
correspondência, caracterizada pelo envelope, com selo e dados do destinatário, e
o símbolo de atualização da Web Page, que nos remete a atualização de novas
formas de comunicação atuais. Uma das formas de comunicação, há alguns anos
atrás, era feita por intermédio de cartas, que dispendiam de tempo para serem
entregues aos destinatários, atualmente, com as exigências do mundo atual
somado ao advento da internet, a comunicação passou a ser mais rápida,
independente da distância existente entre os interlocutores.
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Figura 1: Post “O fim dos e-mails”
Fonte: <http://www.ibahia.com/a/blogs/visaodemercado/2012/10/08/o-fim-dos-e-mails/>. Acesso em: 29 out. 2012.
A1)
A2)
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A seta em forma redonda indica a atualização de uma Web Page e, também
é utilizado para atualização da Caixa de Entrada dos e-mails, para verificar se
novas mensagens chegaram, e em alguns aplicativos, que quando se encontram na
cor vermelha, indica que tal aplicativo está desatualizado. Seu formato redondo
significa que este processo é continuo e infinito, a cor azul soa de forma agradável,
pois transborda tranquilidade e, somado ao branco do envelope, sugere que este
processo de atualização das formas comunicativas em ambiente virtual em
conjunto com as novas necessidades comunicativas ocorre de maneira harmônica.
Portanto, este enunciado dialoga com o enunciado verbal à medida que se
refere ao aperfeiçoamento das possibilidades comunicativas permitidas pelas novas
formas de comunicação social em rede.
O enunciado imagético (B) a seguir, retirado do post “Desengaveta
Prefeito!”, foi publicado no dia 22 de agosto de 2012 no blog de Cristina Aragon,
que trata especificamente sobre trânsito, corresponde ao gênero charge.
A charge é considerada um texto híbrido, pois pode abarcar tanto o
enunciado imagético quanto o verbal, sendo o exagero nas características do
problema abordado seu principal meio de manifestação, seu conteúdo é posto de
forma satírica, com o intuito de criticar algum aspecto politico e/ou social e
despertar uma reflexão por parte de quem a ler.
A charge em questão é de autoria do cartunista e chargista Angeli, e retrata
o problema do sistema de trânsito da cidade de São Paulo, os longos
engarrafamentos em virtude do excesso de veículos particulares na rua e a
deficiência do transporte público. Este problema, nos últimos anos, também está
sendo vivenciado em Salvador, o que justifica a sua retomada no post, percebe-se
então um diálogo entre o contexto paulistano e o contexto soteropolitano.
Observa-se também o diálogo entre o enunciado que constitui o título do
post “Desengaveta Prefeito!” e o enunciado imagético, já que no canto direito
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encontra-se uma pilha de veículos, deixando implícito que o prefeito precisa
resolver este problema e desengavetar o trânsito.
Figura 2: Post “Desengaveta Prefeito”!
Fonte: <http://www.ibahia.com/a/blogs/transito/2012/08/22/desengaveta-prefeito/>. Acesso em: 29 out. 2012.
B)
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Já o último enunciado do post, “Desengaveta Candidato!”, dialoga com o
contexto atual da cidade, que se encontrava em período de eleição municipal do 2º
turno para prefeito, deixando explicito a solicitação para que o candidato eleito
tire da gaveta e execute os projetos para melhora no trânsito soteropolitano, e que
por sua vez retoma outra voz presente no discurso, por meio de discurso direto – a
voz de José Antônio Gomes de Pinho – e indireto – a voz de Valter Gordilho –
presentes no enunciado verbal do post.
Acrescenta-se ainda à análise do conteúdo imagético a inserção de outros
problemas enfrentados pelas grandes capitais do nosso país, como a poluição,
observável no canto direito da charge, onde saem fumaças de chaminés das
fábricas, e no esgoto que é despejado no rio/mar; obras inacabadas e/ou
abandonadas, a exemplo do viaduto que se encontra pela metade, refletindo
também no trânsito; o crescimento urbano desordenado, com os inúmeros edifícios
e a pequena favela que se encontra embaixo do viaduto, o que remete aos
problemas sociais não resolvidos. Observa-se então que há inserção de outas vozes
na charge, visto que esta representa as diversas vozes sociais que relatam os
problemas das grandes cidades e o descaso das autoridades responsáveis.
O enunciado imagético (C) a seguir foi retirado do post de Samuel Celestino
intitulado “A mente obscura de um vereador”, publicado no dia 18 de outubro de
2012. Trata-se de uma imagem contendo o raio-X do crânio de um dos personagens
da família Simpsons, o Homer Simpson, caracterizado por alguns de ignorante,
incompetente e pouco inteligente.
Esta imagem encontra-se em relação dialógica com todo o enunciado verbal,
contribuindo para a argumentação do texto. Como se pode observar na sua relação
com o enunciado “A mente obscura de um vereador”, título do post, em que se
relaciona a mente do personagem Homer Simpson à do vereador em questão.
Relação esta motivada por uma declaração do tal vereador quando afirma que os
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ministros condenaram os políticos envolvidos nos escândalos de corrupção porque
precisavam servir os interesses da mídia.
Figura 3: Post “A mente obscura de um vereador”
Fonte: <http://www.bahianoticias.com.br/principal/samuel-celestino/2875-a-mente-obscura-de-
um-vereador.html>. Acesso em: 29 out. 2012.
C)
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Observa-se também que o tamanho do cérebro da imagem é pequeno em
relação ao seu tamanho normal, esta associação, conforme senso comum, diz
respeito ao baixo QI, percebe-se então o diálogo com outra voz, a do senso comum.
Provavelmente relacionada com o fato de que o vereador não percebe as mudanças
sócio-históricas pela qual o judiciário brasileiro está passando.
Pode-se afirmar também que há um diálogo entre as vozes do vereador e do
autor do post, e que estas estão em conflito, visto que a opinião do vereador é
refutada pelo autor do blog quando afirma que este desconhece “o recente período
iluminista do Supremo Tribunal Federal”. Nota-se que a voz do vereador em
questão é retomada por meio do discurso direto em “os ministros condenaram
porque precisam servir os interesses da mídia”, e também pelo acesso ao
enunciado completo permitido através do link “(ler nota)”.
Considerações finais
Por meio deste trabalho, evidencia-se a complexidade que envolve a
construção de sentidos de um texto. Vimos que a atribuição de sentidos necessita
de processos que vão além da leitura e interpretação dos mecanismos linguísticos,
os quais compõem a superfície textual. É necessário ir além, fazendo inferências e
estabelecendo relações entre os elementos linguísticos, imagéticos e contextuais,
relações que são orientadas por complexos processos cognitivos e mentais, que não
são ensinados, mas sim desenvolvidos por cada locutor no processo de compreensão
textual.
Com o advento da Internet e o surgimento de novos gêneros, ressalta-se a
importância em se trabalhar com estes novos gêneros, pois, conforme aponta
Marcuschi (2004, p. 62), “a escola não pode passar à margem dessas inovações sob
pena de não estar situada na nova realidade dos usos linguísticos”.
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O exercício com o gênero blog jornalístico, por exemplo, em sala de aula,
possibilita o trabalho com a linguagem em uso, contextualizada, bem como o
desenvolvimento da leitura crítica, visto que o leitor, ao dialogar com todos os
aspectos constituintes do texto, efetuará estratégias para a produção de sentido do
mesmo.
Comunicamo-nos por meio de gêneros, portanto, o não domínio do gênero
significa a falta de vivência com as diferentes esferas comunicativas da língua. A
escola deve estar atenta a este fato e possibilitar ao aluno a convivência com os
diferentes campos da atividade humana, visto que essa vivência o orientará quanto
à construção e compreensão de textos produzidos em diferentes situações.
Possibilitando, desta forma, a inserção do indivíduo às práticas sociais de forma
crítica e consciente.
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