A Literatura Comparada No Brasil

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    A LITERATURA COMPARADA NO

    BRASIL

    Gilda Neves da Silva Bittencourt

    RESUMO: Comparatism followed the steps of Brazilian literatureinvestigation even before the establishment of Comparative Literature as a

    sistematic study, for it was a spontaneous practice which was present in thecritical essays by different scholars. Comparative Literature has beenintroduced in Brazilian University from the 30's onwards. The name ofAntonio Candido de Mello e Souza has contributed to its development andconsolidation, mainly through his renewed ideas of the concept of influence.His critical discourse was the starting point for the search of a decolonizedcomparativist model. The establishment of graduate courses in ComparativeLiterature on a regular basis has given a great impetus to the field in Brazil,producing in-depth studies which have shown the interliterary relationsthrough a new point of view, breaking with the tradicional concepts of debtsand influences. The ripening of Comparative Literature in Brazil can bemeasured by the creation of the National Association (ABRALIC) in 1986,and by the realization of four National Conferences.

    PALAVRAS-CHAVE: literatura comparada, histria do comparatismo noBrasil, conceito de influncia, modelo comparatista descolonizado.

    Os estudos de Literatura Comparada no Brasil no podem serdesvinculados dos estudos da prpria Literatura Brasileira, ou, maisespecificamente, da atividade crtica desenvolvida sobre ela desde oRomantismo. Esta constatao encontra respaldo nas palavras do professor ecrtico literrio Antonio Candido de Mello e Souza, quando afirma que

    "a nossa produo foi sempre to vinculada aos exemplosexternos, que insensivelmente os estudiosos efetuavam as suasanlises ou elaboravam os seus juzos tomando a esses comoponto de reparo."(MELLO E SOUZA, 1988, p. 17)

    Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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    Assim, muito antes de se instituir entre ns a noo de LiteraturaComparada como abordagem literria e estudo sistemtico, historiadores eexegetas da literatura brasileira, ainda no sculo XIX, j a praticavamespontaneamente. Esse o caso de Tobias Barreto, um apaixonado pelaliteratura e a cultura alems que, alm de abrir um curso de LiteraturaComparada em 1886 no Recife, publicou em jornais vrios ensaios crticos,os quais tencionava reunir num livro intitulado Traos de LiteraturaComparada do Sculo XIX. Infelizmente, o crtico sergipano no chegou aconcretizar o seu intento, mas graas ao esforo de Slvio Romero, seu amigoe testamenteiro literrio, o trabalho inacabado foi includo na segunda ediodos Estudos Alemes de Tobias, lanado em 1892, dois anos aps a sua

    morte. A fonte dos estudos de Tobias, como no poderia deixar de ser nosculo XIX, vinha da Europa, do crtico dinamarqus Georg Brandes, que opensador brasileiro leu na sua traduo alem. Brandes, seguindo a mesmalinha dos comparatistas europeus da poca, considerava somente as grandesobras como objetos de anlises comparatistas. Com base nessa idia deBrandes, Tobias considerava que a "Literatura Comparada s podia existirnas naes cultas, pois somente elas tinham obras capazes de resistir aoconfronto severo dos intercmbios culturais" (FARIA, 1991, p. 27). Assim,elegeu a literatura alem como o centro de suas operaes, demonstrando asua superioridade sobre as demais, revelando, nesse juzo valorativo quepressupe uma forte dependncia cultural, as mesmas distores encontradasnos comparatistas europeus do sculo XIX.

    Se em Tobias Barreto h uma inteno manifesta de fazercomparatismo, em outros crticos brasileiros do sculo passado isso ficaimplcito na metodologia de anlise adotada, que era invariavelmente a defazer referncias a obras e autores estrangeiros

    "como se a capacidade do brasileiro ficasse justificada pelaafinidade tranqilizadora com os autores europeus, participantesde literaturas antigas e ilustres, que, alm de influrem na nossa,vinham deste modo dar-lhe um sentimento confortante deparentesco." (MELLO E SOUZA, 1988, p. 17)

    Essa busca de uma filiao segura, capaz de confirmar o statusliterrio dos nossos autores, era igualmente uma manifestao de uma ticadependente que buscava sempre o referencial europeu como parmetro de

    avaliao.Nos incios do sculo XX, os estudos comparatistas dispersos nas

    obras de crticos brasileiros adquirem uma feio ligeiramente diferenciada,no que tange s orientaes da chamada Escola Francesa. O nome de JooRibeiro cronologicamente o primeiro a deslocar essa perspectivatradicional, ao encarar a literatura comparada como uma atividade de crticahistrica, e ao pensar a produo cultural nas suas relaes entre o estrato

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    culto (a literatura erudita) e o estrato espontneo (a literatura popular),sobretudo no ensaioLiteratura Comparada, includo em Pginas de Esttica(1905), evidenciando uma postura precursora das teses defendidas anos maistarde por Ren Wellek e Austin Warren em sua Teoria da Literatura(1949)(Cf. CARVALHAL, 1986, p. 23).

    Mais adiante, crticos como Otto Maria Carpeaux, Eugnio Gomes eAugusto Meyer desenvolveram trabalhos onde o comparatismo ressalta comouma prtica quase inevitvel, como se os prprios textos os conduzissem aisso. O primeiro caracterizou-se sempre pela postura comparatista,evidenciada por uma viso crtica onde ressaltam a inclinao ao confronto e insero de cada obra no conjunto das produes textuais. Faziam parte de

    seu projeto intelectual a universalizao do conhecimento e a totalizao defenmenos atravs de seu inter-relacionamento, razo pela qual OttoCarpeaux buscava invariavelmente, nos textos analisados, parentescos,afinidades, elementos comuns e convenes. A chave encontrada paraestabelecer tais relaes no processo de transformao literria foi a anliseestilstico-sociolgica, que pode ser identificada em especial na sua Histriada Literatura Ocidental(1959), mas que se faz presente em inmeros outrosensaios que compem sua vasta obra crtica. Em estudo sobre a obra deCarpeaux, a profa. Tania Carvalhal reconhece, na atividade do crticoaustraco naturalizado brasileiro, uma funo considerada decisiva nosestudos comparatistas: a do intermedirio. Atravs de sua atuao contnua naimprensa e nas vrias publicaes, "revelou ao leitor brasileiro inmerosautores europeus aqui desconhecidos" (CARVALHAL, 1990, p. 92),

    estabelecendo vnculos entre a nossa literatura e as literaturas estrangeiras.Eugnio Gomes rastreou as fontes da obra de Machado de Assis, embusca de suas influncias inglesas. Nesse trabalho, identifica tanto os termosde contato, de coincidncia com autores ingleses, mas aponta tambm asmodificaes e adaptaes introduzidas pelo autor brasileiro, refutando assimas acusaes de mera imitao s obras de Swift e Sterne, feitas obra deMachado, sobretudo por Slvio Romero.

    Augusto Meyer dedicou-se pesquisa das fontes, sob a inspirao dotrabalho realizado por Ernst Robert Curtius em Literatura Europia e IdadeMdia Latina (1948), cuja traduo fora editada pelo Instituto Nacional doLivro por iniciativa do prprio Meyer. O crtico gacho, porm, relativiza aimportncia de tal metodologia, pois, para ele, o mais importante no eramostrar a filiao passiva, ou a coincidncia com um determinado modelo,

    mas sobretudo destacar as divergncias, as ultrapassagens criativas, atravsde uma profunda anlise estilstica das obras. O que ressalta na viso crticade Meyer , sobretudo,

    "a justeza da desconfiana que demonstra em relao spesquisas de influncias e, principalmente, como se retrai diantedos paralelismos binrios sem carter interpretativo to freqentes

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    nos estudos tradicionais de crenologia" (CARVALHAL, 1986, p.27).

    O que se v, portanto, na histria do comparatismo no Brasil, umaprtica difusa e espontnea a percorrer os ensaios crticos muito antes dosurgimento da Literatura Comparada como um determinado ramo dos estudosliterrios, fixado por princpios tericos especficos, ou mesmo de suainstitucionalizao como disciplina acadmica.

    A introduo da Literatura Comparada na Universidade brasileira sedeu ainda na dcada de 30, com a fundao da Faculdade Paulista de Letras eFilosofia, que previa uma disciplina de Histria Comparada das LiteraturasNovo-Latinas. Nos anos 40, aparece pela primeira vez a cadeira de LiteraturaComparada, ministrada por Tasso Silveira na Faculdade de Filosofia doInstituto Lafayette (depois Faculdade de Filosofia e Letras do Estado daGuanabara). Tasso autor do primeiro manual de Literatura Comparadaeditado no Brasil (1964), onde condensou os ensinamentos que realizou comodocente, revelando igualmente a sua perfeita adeso aos princpios do francsVan Tieghen, expressos na obra de 1931 - La Littrature Compare. Assimsendo, o manual de Tasso Silveira assimilou inteiramente as orientaes dosmestres franceses,

    "cuja receita era pesquisar influncias, buscar identidades oudiferenas, restringindo o alcance da literatura comparada aoterreno das aproximaes binrias e constituio de famliasliterrias." (CARVALHAL, 1986, p. 20)

    Ainda no mbito universitrio, data de 1945 o aparecimento daprimeira tese em Literatura Comparada, realizada por Antnio de SallesCampos, que estudou as origens e a evoluo dos temas da primeira geraode poetas romnticos brasileiros. Nos anos 50, o conhecido professorFidelino de Figueiredo orientou uma tese sobre temas ingleses na literaturaportuguesa e publicou, na Revista da Universidade de So Paulo, um ensaiosobre Shakespeare e Garrett. ( Cf. NITRINI, 1986, p. 42)

    No quadro da Literatura Comparada brasileira, tanto na sua vertenteacadmica, como na prtica crtica, merece destaque o nome de AntonioCandido de Mello e Souza. Candido foi o introdutor da disciplina naUniversidade de So Paulo e o criador do setor de Teoria da Literatura eLiteratura Comparada, em 1962, tendo ministrado inmeros cursos e

    orientado dissertaes de mestrado e teses de doutorado em LiteraturaComparada. Por outro lado, em sua atividade crtica e ensastica, Candidotambm revela uma forte inclinao comparatista, manifesta desde os seusprimeiros escritos, mas explicitada quando da realizao de seu conhecidotrabalho de histria literria, em Formao da Literatura Brasileira -Momentos Decisivos - (1957). Ao definir o conceito de influncia, o autorressalta a sua importncia, por consider-lo o instrumento "mais delicado,falvel e perigoso de toda crtica, pela dificuldade em distinguir coincidncia,

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    influncia e plgio" (MELLO E SOUZA, 1975, p. 37). O problema atingepropores mais significativas, segundo Candido, quando a influncia assumesentidos variveis, exigindo um tratamento tambm diverso, j que ela podeaparecer "como transposio direta, mal assimilada, permanecendo na obraao modo de um corpo estranho de interesse crtico secundrio" (MELLO ESOUZA, 1975, p. 38), mas pode igualmente adquirir um significadoorgnico, perdendo o carter de emprstimo, j que assimilada comoelemento prprio, constituinte de um novo conjunto ntegro. O que preocupao crtico Antonio Candido so sobretudo os modos de absoro, detransformao e de afastamento dos modelos europeus, preocupaes que sefazem presentes em inmeros trabalhos disseminados em sua extensa obra,

    caracterizando assim "uma atitude comparatista intimamente ligada com oBrasil e que encontra, por isso, uma maneira peculiar e nossade examinar aquesto" (CARVALHAL, 1988, p. 15).

    Seu conhecimento profundo da literatura brasileira e sua inteno deexplicar o seu funcionamento como sistema articulado levou-o a formular adialtica do localismo e do cosmopolitismo, espcie de lei de evoluo danossa vida espiritual. Tal dialtica se manifesta, segundo Candido, de modosdiversos:

    "ora a afirmao premeditada e por vezes violenta donacionalismo literrio, com veleidades de criar at uma lnguadiversa; ora o declarado conformismo, a imitao consciente dospadres europeus" (MELLO E SOUZA, 1976, p. 109).

    Nesse processo, em que se integram experincia literria e espiritual,manifesta-se uma tenso permanente entre o dado local ( a substncia daexpresso) e os modelos herdados da tradio europia ( a forma daexpresso).

    Assim, tanto a nossa produo literria como a atividade crticamanifestaram sistematicamente essa postura dialtica de apreenso do real.Tal atitude, identificada e definida por Antonio Candido, tem orientado boaparte dos trabalhos comparatistas desenvolvidos no Brasil. Desse modo,

    "sua obra ilustra exemplarmente uma forma legtima decomparatismo no Brasil: a do esforo empenhado na anlise dosprocessos de transformao da colaborao europia, examinandocomo o individual se cruza com o coletivo, para que se possa

    perceber o que peculiar literatura aqui produzida, na expressode seu vnculo com o pas e a cultura atravs da qual ele se fazpresente no mundo" (CARVALHAL, 1988, p. 16)

    Assim, o seu discurso crtico pode se constituir num importanteponto de partida para a busca de um modelo comparatista descolonizado,justamente por se propor a analisar os mecanismos atravs dos quais uma

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    literatura responde criativamente aos impactos recebidos de fora (Cf.NITRINI, 1986, p.44).

    Alm de pensar as relaes interliterrias Brasil/Europa, Candidotambm tem se preocupado com a insero da literatura brasileira no contextolatino-americano, fato que constitui uma importante vertente docomparativismo aqui praticado. Para o crtico, a natureza dessa relaestranscende o meramente literrio por incluir motivaes tambm de ordempoltico-ideolgica, pois antes de tudo preciso buscar uma unio entre asnaes para nos fortalecer como um conjunto onde coexistam idiasharmnicas e contrastantes. E,

    "ao sugerir que a busca das diferenas to essencial quanto a dassemelhanas, salienta que importa pensar as relaes em termosde Amrica Latina com a finalidade de criar outras categorias demediaes, que nos possibilitem o encontro, no fora, mas dentrode nosso prprio territrio" (CARVALHAL, 1988, p.16)

    Fica superada, dessa forma, uma viso colonizada, orientada pelasdicotomias centro/periferia, colonizador/colonizado, substituda por umasituao de equilbrio interno.

    No final dos anos 60 e incio dos 70, houve um importante impulsonos estudos de Literatura Comparada no Brasil com a introduo dos cursosregulares de ps-graduao, determinando uma produo mais sistemtica detrabalhos de maior flego. Caracteriza essa fase sobretudo a ausncia de umabibliografia terica consistente em lngua portuguesa, j que as obras

    disponveis eram a traduo de La littratura Compare, de Guyard, e omanual Literatura Comparada, de Tasso Silveira, que, como vimosanteriormente, seguia estritamente os princpios de Van Tieghen.

    Entre os trabalhos desenvolvidos nessa poca, alguns se destacampelo registro de transformaes e diferenas no confronto da literaturabrasileira com a europia, sobretudo por contrariarem uma noo tradicionalde influncia, oriunda do comparativismo francs, encarada como dbito,filiao, dentro de uma perspectiva etnocntrica que privilegia a obraprimeira e que considera somente a direo unilateral no sentido do original copia, ou do influenciador ao influenciado. Em estudo sobre a histria daLiteratura Comparada no Brasil, a profa. Sandra Nitrini, da USP, aponta doistrabalhos apresentados como teses de doutoramento, onde esses aspectos sefazem presentes. O primeiro,Byron no Brasil, Tradues, de Ondia Barbosa

    (1969), estuda a voga do byronismo no romantismo brasileiro; o segundo,Astarte e a Espiral, de Maria Alice Faria (1970), analisa a presena deMusset em lvares de Azevedo. No primeiro, a autora consegue mostrar queo byronismo estava mais na imaginao dos tradutores do que no textooriginal, caracterizando uma verdadeira aclimatao de Byronno Brasil, jque, nas suas vrias tradues brasileiras, "o poeta ingls sofre uma completametamorfose que se processa sob a ao do classicismo, romantismo,simbolismo e realismo brasileiros" (NITRINI, 1991, p.214). No segundo, a

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    autora tenta, sem xito, utilizar como suporte terico o conceito de influnciatradicional (escola francesa), vindo a constatar, em sua anlise contrastiva dostextos do poeta brasileiro e do francs, que eles mostravam mais as diferenasdo que as semelhanas. Este fato levou-a a mudar a orientao antes adotadae optar pelo conceito de afinidadeque se mostrou mais operatrio, sobretudoporque dizia respeito s biografias e aos temperamentos dos dois poetas,referindo-se, portanto, a um espao exterior s obras poticas. SegundoSandra Nitrini, o trabalho ficaria bastante comprometido se no fosse por umoutro elemento ali presente: uma anlise da traduo-interpretao do poemaRolla, de Musset, feita por lvares de Azevedo. Nela, a autora de Astarte e aEspiral consegue mostrar que o poeta brasileiro "teria lido Musset pelas

    lentes deformadoras da corrente byroniana no Brasil" (NITRINI, 1991, p.216). Assim, o trabalho adquire uma dupla importncia para o estudo daquesto da influncia no comparativismo brasileiro: 1) mostra que essaquesto ultrapassa o mero cotejo binrio, pois inclui aspectos mais amplosreferentes a correntes, modas e vogas europias e locais; 2) torna evidente averdadeira potica de deformao realizada por lvares de Azevedo natraduo de Musset.Desta forma, ao privilegiar a transformao, a autora

    est pontuando, no seu discurso crtico, o plo diferencial doconceito de influncia, e por conseguinte, pelo menos nessa parte,

    Astarte e a Espiral escapa da viso tradicional da literaturacomparada, vindo a se integrar, juntamente comByron no Brasil,na linha do comparativismo universitrio inaugurada por Antonio

    Candido" (NITRINI, 1991, p.217)

    que, como vimos antes, prev para influncia um novo significado queimplica deformao e adaptao s necessidades do objeto analisado.

    Ainda nos anos 70, se consolidou, na Universidade de So Paulo, oprojeto Lryy-Asuu, dirigido pela professora Leyla Perrone-Moiss junto sdisciplinas de Lngua e Literatura Francesas da Faculdade de Filosofia, Letrase Cincias Humanas, tendo por objetivo o estudo das marcas francesas naliteratura brasileira, citando apenas uma de suas reas de interesse nosestudos comparatistas. As inmeras teses resultantes desse projetodemonstram o delineamento de novas linhas de pesquisa e o enriquecimentoda produo intelectual brasileira na rea dos estudos comparatistas.

    O crescimento da Literatura Comparada e a sua progressiva

    institucionalizao levaram realizao, em Porto Alegre, RS, do I SeminrioLatino-Americano de Literatura Comparada (1986), ocasio em que foicriada a Associao Brasileira de Literatura Comparada, tendo como suaprimeira presidente a Profa. Tania Franco Carvalhal, da UFRGS. Onascimento da instituio deu-se num momento em que j se haviaconsolidado uma reflexo prpria sobre as relaes interliterrias e em que jhavia uma massa crtica consistente, capaz de formular de forma madura anatureza dos processos de transformao e de assimilao por que passou a

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    literatura brasileira no seu confronto com as estrangeiras. Justamente peloconhecimento desse processo e da reflexo dele resultante, j havia condiesde se adotar uma postura conciliadora entre uma viso tradicional queimplicava dependncia cultural, e uma atitude nacionalista e chauvinista quenegava radicalmente as premissas anteriores, advindas do comparatismofrancs, sobretudo. Essa foi a forma encontrada para se configurar umareflexo autenticamente brasileira de Literatura Comparada, que se vinculaigualmente a um modo latino-americano de pensar as relaes interliterrias,e que se faz presente nos inmeros projetos que vm se desenvolvendo apartir de ento.

    Desde o seu surgimento, a ABRALIC j efetivou quatro congressos

    nacionais: Porto Alegre, 1988, Belo Horizonte, 1990, Niteri, 1992, SoPaulo, 1994. Todos eles contaram invariavelmente com a participao deanalistas estrangeiros de grande renome e com um nmero cada vez maior depesquisadores brasileiros, demonstrando com isso a pujana dos trabalhosaqui desenvolvidos e o interesse crescente da Literatura Comparada nosmeios acadmicos.

    BIBLIOGRAFIA

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