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Introdução ao processo de construção de uma peça jornalística e que enfatiza a notícia em texto.A informação que aparece nos média resulta de um trabalho de pesquisa e de seleção realizado pelo jornalista, que disponibiliza ao público os conteúdos mais importantes a saber sobre um determinado assunto. Os jornalistas acedem aos factos que divulgam por duas vias: através de observação direta ou do relato que outras pessoas fazem dos acontecimentos. Neste último caso, falamos das fontes de informação. As fontes de informação são pessoas, organizações, grupos sociais ou referências que disponibilizam dados aos jornalistas para que estes produzam notícias. Fazem-no, normalmente, com o intuito de verem publicadas mensagens do seu interesse, e, por isso, cabe ao jornalista apurar se a informação que lhe foi transmitida é ou não credível. Mesmo que a informação dada pela fonte seja credível, é ainda necessário apurar se a mesma tem valor para ser notícia. Os valores-notícia são os critérios utilizados pelos jornalistas para determinarem se um acontecimento merece ou não ser trabalhado. São comuns a todos os profissionais de média e servem de guia para a execução do seu trabalho. Depois de selecionar os acontecimentos a divulgar, o jornalista passa à construção da mensagem, que pode assumir diferentes formas textuais – os géneros jornalísticos. Os mais conhecidos são: a notícia, a reportagem, a entrevista, a crónica e o editorial. A notícia cumpre a função básica de relatar a máxima informação, no menor tempo ou espaço possíveis, e com a maior eficácia comunicativa. Antes de partir para a redação da notícia, o jornalista define o ângulo a adotar, isto é, a abordagem que considera mais adequada para contar a sua história. A notícia tradicional é estruturada segundo a pirâmide invertida, técnica através da qual os acontecimentos são narrados em ordem decrescente de importância. O lead surge no primeiro parágrafo do texto e os dados adicionais da informação aparecem no corpo da notícia. A notícia em texto recebe um tratamento distinto quando é pensada para figurar ou no meio impresso ou no online. As especificidades do meio condicionam a estrutura da peça jornalística.
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Projeto:
Índice 1 SUMÁRIO ............................................................................................................................... 1
2 ENQUADRAMENTO GERAL .................................................................................................... 2
3 O ACESSO À INFORMAÇÃO: AS FONTES ................................................................................ 2
3.1 A seleção das fontes de informação ............................................................................. 3
4 OS VALORES-NOTÍCIA ............................................................................................................ 4
4.1. Valores-notícia de seleção ............................................................................................ 5
4.2. Valores-notícia de construção ....................................................................................... 7
5 CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS ....................................................................... 9
6 OS GÉNEROS JORNALÍSTICOS ................................................................................................ 9
7 A ESTRUTURA DA NOTÍCIA .................................................................................................. 12
7.1. O ângulo da notícia ..................................................................................................... 12
7.2. A pirâmide invertida .................................................................................................... 12
7.3. As seis questões fundamentais ................................................................................... 14
7.4. O lead e o corpo da notícia ......................................................................................... 15
8 CARACTERÍSTICAS DA NOTÍCIA EM TEXTO .......................................................................... 15
8.1. Diferenças da notícia em texto na imprensa e no online ............................................ 16
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................... 18
Anexo 1 – Taxonomia das fontes de informação ........................................................................ 19
Anexo 2 – As componentes da notícia em texto ......................................................................... 23
1
1 SUMÁRIO
A informação que aparece nos média resulta de um trabalho de pesquisa e de
seleção realizado pelo jornalista, que disponibiliza ao público os conteúdos mais
importantes a saber sobre um determinado assunto.
Os jornalistas acedem aos factos que divulgam por duas vias: através de
observação direta ou do relato que outras pessoas fazem dos acontecimentos. Neste
último caso, falamos das fontes de informação. As fontes de informação são pessoas,
organizações, grupos sociais ou referências que disponibilizam dados aos jornalistas
para que estes produzam notícias. Fazem-no, normalmente, com o intuito de verem
publicadas mensagens do seu interesse, e, por isso, cabe ao jornalista apurar se a
informação que lhe foi transmitida é ou não credível.
Mesmo que a informação dada pela fonte seja credível, é ainda necessário apurar
se a mesma tem valor para ser notícia. Os valores-notícia são os critérios utilizados
pelos jornalistas para determinarem se um acontecimento merece ou não ser
trabalhado. São comuns a todos os profissionais de média e servem de guia para a
execução do seu trabalho.
Depois de selecionar os acontecimentos a divulgar, o jornalista passa à construção
da mensagem, que pode assumir diferentes formas textuais – os géneros jornalísticos.
Os mais conhecidos são: a notícia, a reportagem, a entrevista, a crónica e o editorial.
A notícia cumpre a função básica de relatar a máxima informação, no menor tempo
ou espaço possíveis, e com a maior eficácia comunicativa. Antes de partir para a
redação da notícia, o jornalista define o ângulo a adotar, isto é, a abordagem que
considera mais adequada para contar a sua história. A notícia tradicional é estruturada
segundo a pirâmide invertida, técnica através da qual os acontecimentos são narrados
em ordem decrescente de importância. O lead surge no primeiro parágrafo do texto e
os dados adicionais da informação aparecem no corpo da notícia.
A notícia em texto recebe um tratamento distinto quando é pensada para figurar
ou no meio impresso ou no online. As especificidades do meio condicionam a estrutura
da peça jornalística.
Palavras-chave: fontes de informação, valores-notícia, géneros jornalísticos, notícia, pirâmide
invertida, notícia impressa, notícia online
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2 ENQUADRAMENTO GERAL
Como pudemos constatar no primeiro módulo deste curso, no qual explorámos os
conceitos de Literacia Mediática e de Literacia Científica, os média podem ser uma boa
ferramenta educativa para o ensino das alterações climáticas.
A informação divulgada pelos diversos meios de comunicação social resulta de um
trabalho de pesquisa e de seleção de informação realizados pelo jornalista, que
disponibiliza ao público os conteúdos mais importantes a reter sobre um determinado
assunto. Fruto deste trabalho, a informação que é transmitida é rigorosa e relevante,
sendo, por isso, válida para uso no ensino.
Mas, para retirar o máximo proveito dos meios de comunicação em contexto de
sala de aula, é importante perceber como é que os profissionais constroem as notícias
e que critérios utilizam para determinarem o que deve ser noticiável. No fundo,
referimo-nos à compreensão do processo jornalístico e à determinação dos valores-
notícia. Do mesmo modo, importa conhecer a forma como os jornalistas obtêm dados
para escreverem notícias e a técnica utilizada para estruturarem a informação, o que
implica conhecer a pirâmide invertida. É sobre estes assuntos que nos iremos debruçar
neste módulo, no qual daremos também destaque à redação da notícia em texto.
3 O ACESSO À INFORMAÇÃO: AS FONTES
Os jornalistas acedem à informação que divulgam por duas vias: através de
observação direta de um acontecimento ou através do relato que outras pessoas
fazem do mesmo. Neste último caso, falamos das fontes de informação.
Como a maioria dos jornalistas não observa diretamente os factos que relata,
necessita de recorrer às fontes de informação, que lhes fornecem dados ou a descrição
de acontecimentos para produzirem notícias (Fontcuberta, 1999). De acordo com
Schmitz (2011), as fontes de informação são pessoas, organizações, grupos sociais ou
referências, que estão envolvidos direta ou indiretamente em determinados factos e
eventos. Agem de forma pró-ativa, ativa, passiva ou reativa e são confiáveis, fidedignas
ou duvidosas. É através delas que os jornalistas obtêm informações de modo explícito
ou confidencial para transmitir ao público, através dos média.
3
Cabe ao jornalista verificar a real validade da informação que chega às redações e
selecionar as fontes que fornecem dados relevantes. A informação utilizada pelos
meios de comunicação é “a que o meio procura através dos seus contactos; e a que o
meio recebe por iniciativa dos vários sectores interessados” (Fontcuberta, 1999, p. 46).
3.1 A seleção das fontes de informação
O prestígio de um jornal é demonstrado pelo número, qualidade e pluralismo das
suas fontes de informação (Fontcuberta, 1999). Contudo, nem todas as fontes
transmitem informação relevante ou são dignas de confiança, pois podem estar a
divulgar dados com o objetivo de verem publicadas mensagens do seu interesse. Neste
contexto, é importante referir que “Existem fontes capazes de moldar o conteúdo das
notícias, bloquear ou acelerar a sua difusão e aumentar ou diminuir o seu impacto
público” (Ribeiro, 2009, p. 18).
Como os média informativos têm o compromisso de relatar a verdade dos
acontecimentos ao público, precisam de atender a um conjunto de critérios para
determinar se a informação veiculada por uma fonte é verdadeira ou falsa. Assim,
perante um certo facto noticiável, o jornalista precisa de consultar várias fontes, para
garantir que a informação que transmite não se baseia somente no ponto de vista de
uma única fonte e não reflete apenas a versão de um aspeto da realidade
(Fontcuberta, 1999). Além disso, é necessário ter em conta o estatuto da fonte e a sua
credibilidade para falar sobre o assunto em causa. Por exemplo, um membro da
Agência Portuguesa do Ambiente possui mais autoridade para se pronunciar sobre
políticas ambientais do que um cidadão comum. Por uma questão de segurança, pode
ser também conveniente realizar uma investigação autónoma sobre o tema a noticiar,
o que pode implicar cruzar informação e consultar dados disponíveis noutro tipo de
fontes (ver tabela 1).
Tabela 1 – Síntese dos aspetos a ter em conta na seleção das fontes de informação.
Aspetos a ter em conta na seleção de fontes de informação
- Recorrer a várias fontes de informação;
- avaliar a credibilidade da fonte, isto é, apurar o seu estatuto e capacidade para falar sobre o tema
em questão;
- apurar a veracidade da informação facultada pela fonte, o que pode implicar realizar pesquisa
4
Aspetos a ter em conta na seleção de fontes de informação
autónoma;
- ter perspicácia para perceber se a informação recebida é realmente importante para o público;
- verificar se a fonte apresenta uma relação frequente com o média (Schmitz, 2011);
- averiguar se a fonte é produtiva, isto é, se antecipa e agiliza o acesso à informação (Schmitz, 2011).
O Anexo 1 deste manual aprofunda a temática da tipologia das fontes, com base
no trabalho de Schmitz (2011).
4 OS VALORES-NOTÍCIA
Os jornalistas são confrontados diariamente com um manancial de informação que
chega às redações por intermédio das fontes de informação. Uma vez que é impossível
noticiar todos os acontecimentos e nem todo o material possui interesse, é necessário
selecionar a informação que merece adquirir existência pública como notícia. Deste
modo, precisamos de conhecer os critérios utilizados pelos jornalistas para
determinarem se um acontecimento é ou não noticiável.
Os profissionais dos média utilizam aquilo a que se designa de valores-notícia ou
critérios de noticiabilidade (do inglês, newsworthiness) para estabelecerem os factos
que devem ser noticiados para o público. Estes valores “são um elemento básico da
cultura jornalística, partilhado pelos membros desta comunidade interpretativa.
Servem de ‘óculos’ para ver o mundo e para o construir” (Traquina, 2002, p. 203). Os
valores-notícia são comuns a todos os jornalistas e servem de guia para a execução do
seu trabalho.
Várias têm sido as abordagens propostas para caracterizar os principais valores-
-notícia que orientam a prática jornalística. Neste manual, adotamos a abordagem de
Traquina (2004) sobre valores-notícia. Traquina entende, tal como Silva (2005), que “os
valores-notícia estão presentes ao longo de todo o processo de produção jornalística,
ou seja, no processo de seleção dos acontecimentos e no processo de elaboração da
notícia” (Traquina, 2004, p. 107). Deste modo, há a considerar que as características do
facto em si, assim como os fatores relacionados com a prática noticiosa (como a
redação do texto), entram também na equação (Silva, 2005).
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A partir destas referências dividimos a lista de valores-notícia em duas categorias
distintas: os valores-notícia de seleção e os valores-notícia de construção, que
explicaremos de seguida.
4.1. Valores-notícia de seleção
Os valores-notícia de seleção referem-se aos critérios utilizados pelo jornalista na
seleção dos acontecimentos a transformar em notícia (Traquina, 2004). É importante
sublinhar que estudar a seleção implica rastrear os juízos de valor do seletor, as suas
influências organizacionais, sociais e culturais e, até mesmo, a participação das fontes
e do público nessas decisões (Silva, 2005).
Segundo Traquina (2004), os valores-notícia de seleção dividem-se em dois
subgrupos:
a) critérios substantivos – que se referem à determinação da importância e do
interesse do facto para ser transformado em notícia. São eles:
Morte – este é um valor-notícia fundamental para a comunidade
jornalística, porque provoca impacto e desperta a atenção do público.
Notoriedade – um facto é mais provável de receber a atenção do jornalista,
se nele estiverem envolvidas pessoas conhecidas e pertencentes à elite. Por
exemplo, o primeiro-ministro recebe atenção mediática pela sua
reconhecida importância.
Proximidade – os acontecimentos são mais prováveis de serem notícia se
tiverem proximidade geográfica e cultural com o público. Por exemplo, um
acidente rodoviário na cidade de Matosinhos tem mais probabilidade de ser
noticiado num jornal portuense do que num média do Algarve.
Relevância – os factos só merecem ser noticiados se forem importantes
para o público e se tiverem impacto na sua vida. Os acontecimentos
adquirem ainda mais relevância se afetarem o país ou a nação. Por
exemplo, uma situação de guerra ou conflito nacional é um evento
altamente noticiável.
Novidade – para os jornalistas é fundamental que os acontecimentos sejam
novos. A comunidade jornalística interessa-se muito pela primeira vez.
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Tempo – este é um valor-notícia na forma da atualidade. Isto é, os
acontecimentos merecem ser noticiados se forem atuais. Por outro lado, é
possível transformar em notícia acontecimentos passados que tiveram
lugar numa data específica. Referimo-nos às efemérides. Assim sendo, o
aniversário da morte de um presidente pode ser notícia.
Notabilidade – para ser noticiado, um acontecimento tem de ser visível e
tangível. Por exemplo, uma greve operária é facilmente noticiável, porque é
tangível, ao passo que a reflexão sobre as condições laborais dos operários
dificilmente será notícia, porque é pouco concreta. Não está limitada a um
espaço temporal e a um local.
Inesperado – refere-se a acontecimentos que surpreendem a comunidade
jornalística. A queda da ponte de Entre-os-Rios, ocorrida a 4 de março de
2001, em Portugal, enquadra-se neste valor-notícia.
Conflito ou controvérsia – acontecimentos que contenham violência física
ou simbólica são bastante noticiados pelos jornalistas. Os crimes, por
exemplo, encaixam-se neste critério.
b) critérios contextuais – dizem respeito à facilidade que os jornalistas têm para
produzir a notícia, tendo em conta os critérios:
Disponibilidade – refere-se à facilidade com que é possível fazer a cobertura
do evento. Dado que as empresas jornalísticas têm recursos limitados, é
conveniente questionar se o valor-notícia do acontecimento justifica os
custos subjacentes à sua cobertura jornalística.
Equilíbrio – envolve a avaliação da quantidade das notícias que foram
publicadas sobre o assunto que se tem em vista divulgar. Desta forma, é
possível utilizar o argumento de que não se divulga o acontecimento,
porque o mesmo foi noticiado há pouco tempo.
Visualidade – diz respeito à existência de elementos visuais (imagens, por
exemplo) para ilustrar a notícia. Este valor-notícia é particularmente
relevante no jornalismo televisivo, que depende das imagens para poder
fazer notícias.
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Concorrência – liga-se com a capacidade de noticiar acontecimentos que a
concorrência não tem. Especificamente, um jornalista atribui maior valor a
um evento se este for exclusivo, ou seja, se souber que a concorrência não
o vai noticiar.
Dia noticioso – os acontecimentos estão em concorrência uns com os
outros. Há dias que são ricos em acontecimentos com valor-notícia e dias
que são pobres nesses acontecimentos. Assim sendo, um evento que até
possui valor para ser noticiado, pode ser colocado de lado pelo surgimento
de um mega-acontecimento, como o caso Watergate, ocorrido na década
de 1970, nos Estados Unidos da América.
O esquema 1 sintetiza as questões-chave que o jornalista poderá colocar, para
determinar se um acontecimento tem valor-notícia.
Esquema 1 – Resumo das questões-chave a colocar para os dois subtópicos dos valores-notícia de seleção.
4.2. Valores-notícia de construção
Os valores-notícia de construção referem-se ao aspeto mais prático da atividade
jornalística, ou seja, ao momento em que se transforma o acontecimento selecionado
em notícia. Nesta fase, selecionam-se os aspetos a dar mais destaque quando se
constrói a peça. De acordo com Traquina (2004), são eles:
Valores-notícia de
seleção
Critérios substantivos:
- O acontecimento é
importante?
- Tem interesse para
ser notícia?
- O facto possui um
ou vários critérios de
noticiabilidade?
Critérios contextuais:
- Consigo chegar
facilmente ao
acontecimento?
- Tenho elementos
visuais para ilustrar a
notícia?
- O acontecimento é
exclusivo, ou já foi
publicado pela
concorrência?
- Etc.
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a) Simplificação – é utilizado pelo jornalista para tornar a notícia mais
compreensível para o público. O objetivo consiste em reduzir a ambiguidade e
a complexidade do acontecimento. Neste sentido, utilizam-se muitas vezes
clichés ou estereótipos para simplificar a informação.
b) Amplificação – consiste em amplificar o ato, o interveniente ou as supostas
consequências, de forma a que a notícia seja notada. Um exemplo que atesta
este valor-notícia é: “Portugal chora a morte de Amália Rodrigues”.
c) Relevância – o jornalista deve evidenciar os motivos por que um
acontecimento é importante para as vidas das pessoas.
d) Personalização – o jornalista deve procurar dar destaque às pessoas que estão
envolvidas no acontecimento. Trata-se de uma estratégia para agarrar o leitor,
pois as pessoas interessam-se por outras pessoas.
e) Dramatização – consiste no reforço dos aspetos mais emocionais e conflituais
do acontecimento, mais uma vez, para ir de encontro aos interesses do público.
f) Consonância – o jornalista procura inserir a notícia num contexto conhecido,
para que o recetor consiga compreendê-la mais facilmente. Mobiliza, assim,
histórias já conhecidas pelo público.
No esquema 2, sintetizamos alguns aspetos a ter em conta durante a elaboração
da notícia, de acordo com os valores-notícia de construção.
Esquema 2 – Resumo das questões-chave dos valores-notícia de construção.
Valores-notícia de construção Questões-chave:
- Como é que construo a notícia de
forma a torná-la apelativa?
- A que aspetos vou dar maior
destaque?
- Como posso personalizar a notícia? A
que pessoa envolvida vou dar relevo?
- Como posso mostrar que o
acontecimento é relevante para o
público?
- Etc.
9
5 CÓDIGO DEONTOLÓGICO DOS JORNALISTAS
A seleção da informação é também condicionada pelo Código Deontológico dos
Jornalistas (CDJ). O CDJ define um conjunto de regras que orientam o exercício da
atividade jornalística. Algumas das obrigações contempladas no CDJ são, por exemplo,
a necessidade de o jornalista comprovar os factos que relata, a proibição de referir
acusações sem provas e de plagiar informação, a proibição de abusar da boa-fé de
quem quer que seja, a utilização de meios leais para a obtenção de informações,
imagens ou documentos, etc. (Sousa, 2001).
6 OS GÉNEROS JORNALÍSTICOS
Após a análise dos critérios utilizados pelos jornalistas para a seleção dos
acontecimentos a noticiar, é imperativo conhecer as diferentes formas textuais
existentes para transmitir os acontecimentos ao público. Referimo-nos aos géneros
jornalísticos.
Segundo Lopes (2010, p. 8), os géneros jornalísticos “Funcionam como categorias
básicas intrinsecamente ligadas à expressão da mensagem jornalística, à sua forma e
estrutura”. Na prática, correspondem aos diferentes tipos de textos que encontramos
nos média: notícias, reportagens, entrevistas, crónicas, etc..
Os géneros jornalísticos estão em constante transformação e não têm fronteiras
rígidas. Na verdade, assistimos atualmente a uma tendência para a hibridização de
géneros, possibilitada devido aos novos média que têm a Internet como suporte, os
quais permitem explorar novas formas de construir a informação e de a transmitir ao
recetor.
São várias as propostas de classificação dos géneros jornalísticos. Basicamente,
podemos dizer que existem dois grandes grupos: o da informação e o da opinião
(Lopes, 2010). No primeiro grupo, inserem-se os géneros que visam dar a conhecer
factos/acontecimentos, através da sua descrição e narração, ao passo que, no
segundo, encaixam-se os que procuram transmitir ideias através da exposição de
comentários e juízos de valor acerca de factos/acontecimentos. Esta perspetiva binária
dos géneros jornalísticos impera no universo anglo-saxónico. Contudo, vários autores
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consideram-na incompleta e sugerem o acrescento de outras categorias,
nomeadamente a interpretação, a argumentação e o entretenimento (Santos, 2009).
Tendo em conta os propósitos deste manual, e no sentido de facilitarmos a
compreensão, adotamos a perspetiva anglo-saxónica (a tradicional). A tabela seguinte
apresenta, assim, diversos géneros informativos e opinativos.
Tabela 2 – Representação dos géneros jornalísticos informativos e opinativos (com base em Lopes, 2009).
Estilo Género
Informativo Notícia, breve, reportagem, entrevista, inquérito
Opinativo Editorial, artigo de opinião, artigo de análise, comentário, crónica
Pela importância e pela frequência na prática jornalística, vamos distinguir neste
manual os seguintes géneros jornalísticos: notícia, reportagem, entrevista, crónica e
editorial.
a) Notícia: este é o género jornalístico mais comum. Consiste num texto
informativo, que deve ser relativamente curto e escrito numa linguagem direta,
clara e concisa. A notícia caracteriza-se pelo relato de acontecimentos atuais,
novos e verídicos. No fundo, procura-se transformar em história factos que
afetem um grande número de pessoas. A notícia é construída tendo por base a
técnica da pirâmide invertida (ver ponto 7.2) e a sua redação segue uma
estrutura mais ou menos fixa (antetítulo, título, lead e texto) (DN Escolas, S.d.).
Dado ser o objeto de enfoque deste módulo, a notícia merecerá um maior
desenvolvimento no tópico seguinte.
b) Reportagem: este é considerado quase unanimemente como o género nobre
do jornalismo, assumindo um papel de destaque nesta profissão. A reportagem
é uma história e, tal como na notícia, o seu principal objetivo é informar,
fazendo-o, contudo, de uma forma mais profunda e exaustiva, através de um
estilo narrativo, mais descritivo, humanizado e criativo (DN Escolas, S.d.). A
reportagem “ilustra a vida enquanto informa em profundidade; a partir de um
conjunto de pessoas (ou até de um caso isolado) parte-se para a generalização
do mundo” (Santos, 2009). É um género jornalístico que nos ajuda a
compreender uma certa perspetiva da realidade, pela voz de pessoas, de
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situações, acontecimentos, etc.. Utiliza, com frequência, elementos de outros
géneros jornalísticos, como a entrevista.
c) Entrevista: a entrevista só é considerada um género jornalístico autónomo
quando surge isoladamente ou quando é parte essencial de uma peça
jornalística (DN Escolas, S.d.). Desta forma, as perguntas feitas pelos jornalistas,
tendo em vista a recolha de informação para a elaboração de uma notícia, por
exemplo, não se encaixam dentro do género entrevista. Na entrevista, o
jornalista estabelece uma relação com o entrevistado, com o intuito de se
informar sobre um acontecimento ou sobre uma pessoa ou com o objetivo de
comentar ou explicar um acontecimento (Santos, 2009). Este género justifica-se
quando “o tema abordado ou o perfil do entrevistado são do interesse dos
leitores. Enquanto género jornalístico, a entrevista é redigida em formato de
pergunta/resposta” (DN Escolas, S.d.).
d) Crónica: é a narração de um acontecimento atual com a inclusão de alguns
elementos valorativos, que espelham a visão do cronista. Este género
jornalístico tem a sua origem etimológica na história da literatura, uma vez que
procura refletir o que aconteceu entre duas datas (Fontcuberta, 1999). As
crónicas podem versar sobre diversas temáticas (viagens, política, desporto,
etc.) e pressupõem uma continuidade por parte do cronista. Esta continuidade
e regularidade opõem-se ao caráter ocasional dos restantes géneros
jornalísticos. Na crónica, o autor do texto mistura as técnicas de redação
jornalística (exposição clara, rapidez, estilo direto e simples) com as técnicas de
escrita literárias (invenção de personagens, diálogos, monólogos, etc.). Neste
género, existe uma simbiose entre autor e texto, pelo que falar em crónica
anónima é uma contradição.
A essência da crónica está no juízo, no comentário e nas recomendações feitas
pelo cronista ao público (González, 2004). O narrador observa os factos,
apreende-os, questiona-os e imprime-lhes a sua visão pessoal do mundo.
e) Editorial: dá a conhecer aos leitores o posicionamento do jornal sobre um
determinado assunto da atualidade e é quase sempre redigido por um
elemento que pertence à direção do meio de comunicação (DN Escolas, S.d.). O
editorial não é, geralmente, assinado. No sentido de conferir credibilidade ao
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texto, a opinião expressa no editorial deve ser suportada com factos e
evidências que apoiem a posição assumida pelo média. Este género jornalístico
influencia a opinião pública, promove o pensamento crítico e pode, por vezes,
levar as pessoas a tomarem medidas relativamente a um determinado
problema. O editorial deve ser escrito com bastante cuidado, uma vez que
reflete a posição coletiva do jornal.
7 A ESTRUTURA DA NOTÍCIA
Após termos analisado os critérios utilizados pelos jornalistas para a seleção dos
acontecimentos a noticiar e de termos passado em revista os principais géneros
jornalísticos, vamos agora debruçar-nos especificamente sobre a notícia, o género com
maior enfoque neste segundo módulo.
7.1. O ângulo da notícia
A definição do ângulo da notícia é uma das primeiras tarefas levadas a cabo pelo
jornalista. O ângulo diz respeito à abordagem escolhida pelo jornalista para contar a
sua história. Um determinado acontecimento pode ser analisado sob ângulos
diferentes. Por exemplo, uma notícia sobre a abertura de um novo parque solar pode
ser coberta sob diferentes perspetivas. O relato pode destacar:
- a abertura do parque (valor-notícia “novidade”);
- os impactos económicos do parque solar na região;
- os impactes ambientais do parque solar na região, etc..
7.2. A pirâmide invertida
Segundo Fontcuberta (1999, p. 64), a “notícia é um texto que cumpre uma função
básica: relatar a informação máxima sobre um facto no menor tempo ou espaço
possíveis e com a maior eficácia comunicativa”.
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Quando se estrutura uma notícia, é necessário atender a duas importantes
questões: o que se quer dizer e a quem se pretende transmitir a mensagem. A notícia
criativa não segue, contudo, esta norma, porque utiliza novas formas de narrativa e de
linguagem (Fontcuberta, 1999).
A notícia tradicional é estruturada tendo por base a pirâmide invertida, que é
talvez o modelo clássico de apresentação da informação no jornalismo. Nesta técnica,
o núcleo da informação (o mais importante) é colocado no primeiro parágrafo do
texto: o lead. Os pormenores que complementam o lead surgem no corpo da notícia,
o qual procura explicar o assunto tratado com maior profundidade. Nesta estrutura
hierárquica, os acontecimentos são narrados partindo dos mais importantes para os
menos importantes.
A pirâmide invertida é muito útil no âmbito da informação. A técnica ajuda o leitor
a selecionar os dados mais importantes de cada notícia (presentes no título e nas
primeiras linhas do texto) e facilita a supressão dos últimos parágrafos (que contêm a
informação menos relevante), ajudando a encurtar a peça, caso seja necessário. O
esquema abaixo, ilustra a hierarquia da informação na pirâmide invertida.
Esquema 3 – Representação da pirâmide invertida.
A pirâmide invertida é, provavelmente, o modelo mais conhecido e o mais comum
na redação de notícias, sobretudo de notícias breves. É um modelo igualmente
utilizado em reportagens, sobretudo nas de pequena extensão, e em pequenas
entrevistas (Sousa, 2001).
+ Importante
(topo da pirâmide)
- Importante
(base da pirâmide)
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7.3. As seis questões fundamentais
Toda a notícia deve responder a seis questões essenciais: O quê?, Quem?,
Quando?, Onde?, Porquê? e Como?. O princípio subjacente é o seguinte: deve existir
uma resposta concreta para cada uma das perguntas. Fontcuberta (1999) sintetiza
assim as respostas para cada uma das questões:
O quê? – refere-se aos acontecimentos ou ideias, sobre os quais a notícia vai
informar;
Quem? – diz respeito a todos os atores/protagonistas que aparecem na
notícia;
Quando? – refere-se ao momento em que decorreu a ação. Ajuda a situá-la
num tempo concreto e delimitado;
Onde? – diz respeito ao espaço onde se desenrolam os factos, delimitando o
local da ação;
Porquê? – procura relatar os motivos que originaram os acontecimentos;
Como? – relata as modalidades e as circunstâncias de que os factos se
revestiram.
Imaginemos que queremos cobrir uma história sobre a aplicação de medidas de
adaptação numa determinada região do país. Assim sendo, precisamos de responder
às questões:
O quê? – que (tipo de) medidas de adaptação vão ser aplicadas?;
Quem? – que município do país as vai aplicar? Quem são os principais
responsáveis pela sua implementação? De quem partiu a ideia? Etc.;
Quando? – quando vão as medidas ser implementadas? Há uma data prevista?;
Onde? – qual a região do país que vai ser alvo de ação?;
Porquê? – quais os motivos que originaram a implementação das medidas?
Existem vulnerabilidades na região que justifiquem as ações a empreender? Se
sim, quais?;
Como? – de que forma vão as medidas de adaptação ser implementadas? O
financiamento disponível é suficiente para levar a cabo a ação?
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7.4. O lead e o corpo da notícia
O lead corresponde ao primeiro parágrafo da notícia e é a sua parte fundamental.
Nele se respondem às questões mais importantes do texto noticioso, ou seja, às
quatro primeiras questões mencionadas no esquema 4 (que se segue). Também se
pode incluir no lead as seis questões que referimos no tópico 7.3. Todos os leads
devem explicar a essência do acontecimento e captar a atenção do recetor.
O corpo do texto explica a restante informação, sendo constituído por dados
adicionais. Em síntese, deve incluir (Fontcuberta, 1999):
Informação que amplie e explique o lead;
Dados que situem a notícia num certo contexto (caso necessário);
Informação secundária ou de menor relevância.
Esquema 4 – Representação do lead e do corpo da notícia dentro da técnica da pirâmide invertida
8 CARACTERÍSTICAS DA NOTÍCIA EM TEXTO
A escrita da notícia em texto obedece a regras específicas. O Anexo 2 apresenta
algumas das normas a considerar no momento da redação.
Corpo
O Quê?
Quando?
Quem?
Onde?
Lead
Corpo da Notícia
Porquê?
Como?
16
A técnica da pirâmide invertida (ver tópico 7.2.) é a base para a construção da peça
noticiosa em texto. Podemos encontrar este formato tanto no meio online como no
impresso.
8.1. Diferenças da notícia em texto na imprensa e no online
A notícia em texto recebe um tratamento distinto quando é pensada para figurar
no meio impresso ou no online. É relevante distinguir as características de cada um dos
meios, dado que as suas especificidades condicionam a estrutura textual. A tabela
abaixo faz uma síntese das principais preocupações da construção da notícia para o
meio impresso e para o online. A coluna referente ao online foi construída a partir de
informação obtida do manual News Reporting and Writing (Brooks, Kennedy, Moen &
Ranly, 2002). Os tópicos presentes na coluna da imprensa foram elaborados a partir da
contraposição com as características do online.
Tabela 3 – Síntese dos aspetos a ter em conta na redação da notícia no meio impresso e no online.
Notícia em Texto Imprensa Online
Tip
o d
e n
arra
tiva
- Linear, ou seja, as ideias no corpo do texto
são apresentadas de acordo com uma
sequência lógica e hierárquica. Há uma
preocupação com a continuidade, com a
sequência da história.
- Não-linear, ou seja, não apresenta uma
sequência de leitura obrigatória. No online, o
leitor pode saltar para a parte que deseja ler,
uma vez que a narrativa é hipertextual1. Por
exemplo, uma notícia sobre erosão costeira
em Espinho (distrito de Aveiro) pode ter uma
hiperligação para um mapa que compare a
zona na atualidade e há 30 anos atrás.
Po
stu
ra d
o le
ito
r p
eran
te a
info
rmaç
ão
- Postura pouco ativa: embora possa decidir
se quer ou não ler a notícia até ao fim, o
leitor não tem um total controlo sobre a
informação apresentada.
- Impossibilidade de o leitor dar um feedback
imediato sobre o conteúdo que leu.
- Postura muito ativa: o leitor online tem o
controlo da sequência da história; é ele que
escolhe o que deseja ler e a sequência que
melhor serve as suas necessidades. Pode
percorrer várias hiperligações que o levam
para conteúdos dentro e fora da notícia.
- Possibilidade de o leitor dar um feedback
imediato sobre o conteúdo que leu,
emitindo a sua opinião, através de um
comentário à notícia, por exemplo.
1 A narrativa hipertextual contém hiperligações para outras notícias ou websites.
17
Notícia em Texto Imprensa Online
Ap
rese
nta
ção
da
info
rmaç
ão
- Texto repartido em várias colunas.
- Uso de entretítulos para separar cada
segmento da história.
- Segmentos articulados entre si: cada
segmento da história não vale por si só;
depende do que foi dito no anterior.
- História dividida em partes, com diferentes
graus de detalhe (os leitores podem não
querer ler todo o conteúdo).
- Segmentos independentes: cada segmento
da mesma história vale por si só.
- Uso de lead em cada início de segmento,
para cativar o leitor.
- Informação extra surge em barras laterais
(a leitura é opcional).
Pre
ocu
paç
õe
s
- Coerência do texto e das imagens que o
ilustram.
- Agregação de todos os elementos da
história, de uma forma a criar um texto
coerente.
- Forma como se fazem as transições entre
os acontecimentos.
- Forma como a informação aparece no ecrã.
É preciso ajudar o leitor a navegar de local
para local para encontrar a informação que
pretende, sendo necessário, por vezes, dar-
lhe orientações claras.
- Relação entre as partes e os diferentes
níveis da história.
- Atenção para não dispersar o leitor, pelo
excesso de hiperligações.
Esp
aço
- Limitado: a impressão do papel fica cara,
por isso, há que estabelecer limites aos
relatos noticiosos.
- Ilimitado: a notícia deve ter obviamente
limites, mas os custos de publicação online
não implicam uma restrição de espaço tão
evidente.
Atu
alid
ade
info
rmat
iva
- Atualidade do relato, apesar de o meio
impresso não possuir a imediatez do meio
online. Os acontecimentos que surgem nos
jornais passaram-se no dia anterior.
- Imediatez do relato, dado a informação ser
atualizada continuamente.
Van
tage
ns
- Estruturação do texto que permite ao leitor
assumir uma postura menos ativa, enquanto
consome a informação.
- Maior qualidade do texto, dado o jornalista
de imprensa ter mais tempo para preparar a
informação.
- Possibilidade de complementar o texto com
vídeo, áudio, infografia ou imagens,
oferecendo assim um relato mais completo
ao leitor.
- Interatividade do online.
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9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Brooks, B., Kennedy, G., Moen, D. & Ranly, D. (2002). News Reporting and Writing (7ª ed.). Boston: Bedford/St. Martin’s.
DN Escolas (S.d.). O que são Géneros Jornalísticos?. Acedido a 17 de abril, 2015, de: http://www.dnescolas.dn.pt/index.php?a=kitmedia&p=2_3
Fontcuberta, M. (1999). A Notícia: pistas para compreender o mundo. Lisboa: Editorial Notícias.
González, J. (2004). La crónica periodística. Evolución, desarrollo y nueva perspectiva: viaje desde la historia al periodismo interpretativo. Global Media Journal Edición Iberoamericana, 1(1), pp. 26-39. Acedido de: http://gmje.mty.itesm.mx/articulos1/pdf/gil.pdf
Lopes, P. C. (2010). Géneros literários e géneros jornalísticos – Uma revisão teórica de conceitos. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação, pp. 1-11. Acedido de: http://www.bocc.ubi.pt/pag/bocc-generos-lopes.pdf
Ribeiro, V. (2009). Fontes Sofisticadas de Informação. Análise do Produto Jornalístico Político da Imprensa Nacional Diária de 1990 a 2005. Lisboa: Media XXI | Formalpress.
Santos, H. (2009). O fim dos Géneros Jornalísticos? Os Elementos Informativos que resultam das novas práticas. In Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Eds.), Livro de Actas – 6º Congresso SOPCOM. Lisboa: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Acedido de: http://conferencias.ulusofona.pt/index.php/sopcom_iberico/sopcom_iberico09/paper/vi ewFile/415/411.
Schmitz, A. A. (2011). Fontes de notícias: ações e estratégicas das fontes no jornalismo. Florianópolis: Combook.
Silva, G. (2005). Para pensar critérios de noticiabilidade. Estudos em Jornalismo e Mídia, 2(1), pp. 95-107.
Sousa, J. P. (2001). Elementos de jornalismo impresso. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação, pp. 1-542. Acedido de: http://www.bocc.uff.br/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf
Traquina, N. (2002). O que é Jornalismo. Lisboa: Quimera Editores.
Traquina, N. (2004). A Tribo Jornalística: uma comunidade transnacional. Lisboa: Editorial Notícias.
19
Anexo 1 – Taxonomia das fontes de informação
De uma forma geral, o jornalista recorre a fontes de informação exclusivas e a
fontes de informação partilhadas. As fontes exclusivas são as mais valorizadas, pois
trazem informação exclusiva ou privilegiada, sendo também por isso mais difíceis de
obter. As fontes partilhadas são as que fornecem aos meios de comunicação
informação homogénea, considerada indispensável, e que é usada por todos os órgãos
de comunicação. Como exemplo destas últimas, referimos os gabinetes de imprensa,
as agências noticiosas, as conferências de imprensa, os comunicados, etc.
(Fontcuberta, 1999).
Hierarquizar as fontes é essencial na atividade jornalística e tal nem sempre é fácil.
Adotamos, neste curso, a taxonomia de Schmitz (2011) que propõe uma divisão das
fontes pelas seguintes áreas: categoria, grupo, ação, crédito e qualificação.
Categoria
Tendo em conta o seu envolvimento no assunto – direto ou indireto – uma fonte
pode ser primária ou secundária.
Fonte primária: está próxima do acontecimento ou da informação, podendo
mesmo estar na origem destes. Revela informação “em primeira mão”, que
pode depois ser confrontada com depoimentos de fontes secundárias;
Fonte secundária: contextualiza, interpreta, comenta ou complementa a
informação jornalística, obtida a partir de uma fonte primária.
Grupo
Toda a informação obtida tem origem em alguém ou em algo. Quem informa é
reconhecido pela notoriedade ou especialização.
Fonte oficial: alguém que ocupa um cargo público e que se pronuncia em
representação de órgãos do Estado;
Fonte empresarial: representa uma entidade empresarial (da indústria, do
comércio ou dos serviços, por exemplo). A sua relação com os média tem
frequentemente interesses comerciais ou institucionais, com o objetivo de
preservar a sua imagem ou reputação;
20
Fonte institucional: representa uma organização sem fins lucrativos ou um
grupo social. Procura, normalmente, os meios de comunicação para sensibilizar
ou mobilizar o público para a causa que representa;
Fonte popular: refere-se, geralmente, a uma pessoa comum, que não está em
representação de nenhuma organização ou grupo social. Pode ser alguém que
presenciou um acontecimento noticiável;
Fonte notável: alguém que é conhecido pelo seu talento (por exemplo, artistas,
escritores, desportistas, profissionais liberais, etc.). Este tipo de fontes procura
falar sobre si e sobre o seu ofício;
Fonte testemunhal: funciona como álibi e dá o testemunho daquilo que viu ou
ouviu no local de um crime;
Fonte especializada: alguém com um conhecimento específico numa
determinada área. É o especialista, o intelectual ou até uma organização que
possui reconhecimento para falar sobre certo assunto;
Fonte referência: diz respeito a documentos, bibliografia e até mesmo aos
média que o jornalista consulta para construir uma peça. A bibliografia inclui
artigos, livros, teses e outras produções científicas.
Ação
As fontes atuam de acordo com a sua conveniência, embora pareçam agir com o
objetivo de colaborar com o jornalista. Umas são mais ativas do que outras na relação
que mantêm com os média.
Fonte pró-ativa: quando a fonte produz e oferece notícias prontas e de forma
antecipada. Utiliza o jornalismo para interferir na esfera pública. Este tipo de
fonte está permanentemente disponível para atender os jornalistas e fornece
informações com antecedência e de acordo com os critérios de noticiabilidade
(sobre os quais falamos no tópico 4 da parte II do manual do módulo II);
Fonte ativa: é menos ostensiva do que a fonte pró-ativa. Mantém uma relação
regular com os meios de comunicação. Cria rotinas (entrevistas exclusivas,
conferências de imprensa, etc.) e usa os média para defender os seus
interesses e gerir a sua reputação perante a sociedade;
21
Fonte passiva: este tipo de fontes só se manifesta quando é consultada por
repórteres, fornecendo somente as informações solicitadas. Algumas fontes
são passivas por natureza, como as referências (bibliografia, documentos e
média) que estão disponíveis para consulta;
Fonte reativa: são fontes que só reagem quando são forçadas a fazê-lo, por
exemplo, se alguém é interpelado, por um jornalista, e afirma “Nada a
declarar”.
Crédito ou Atribuição
O crédito ou atribuição refere-se à identificação da pessoa ou entidade que
prestou informações para a produção da notícia. Por norma, todos os jornalistas
devem citar as suas fontes, de forma a garantirem a credibilidade da informação
prestada e a protegerem-se de possíveis acusações. Contudo, nem sempre a fonte de
informação quer ser identificada e pode acontecer que a revelação da sua identidade
comporte sérios riscos para o informador (Fontcuberta, 1999). Nesse caso, o jornalista
tem o direito de ocultar a sua fonte, recorrendo ao sigilo profissional. Vejamos os
vários tipos de atribuição que existem, de acordo com a autora:
Atribuição direta: quando o órgão de comunicação identifica a fonte de
informação (nome, profissão ou cargo) e cita a informação facultada. Por
exemplo: “o Ministro do Ambiente declarou que vai aumentar os impostos
sobre os combustíveis fósseis”;
Atribuição com reservas: a fonte não é explicitamente identificada, mas é
situada num contexto e as suas informações podem ser citadas. Concretizando:
“fontes do Ministério do Ambiente” ou “Círculos próximos do Ministro do
Ambiente”;
Atribuição com reserva obrigatória: o média não indica as fontes e apresenta as
informações como se fossem suas;
Atribuição com reserva total (off the record): o jornalista obtém informações da
fonte, mas não as pode publicar nem atribuir. Este tipo de informação é
utilizada com o objetivo de fornecer elementos ao jornalista para que este
interprete melhor certos acontecimentos. Muitas vezes, esta técnica é também
usada por grupos de pressão para fazerem circular rumores.
22
Qualificação
As fontes podem distinguir-se quanto à sua maior ou menor credibilidade. É
conveniente notar que faz parte da cultura jornalística tratar as fontes com suspeita
(Chaparro, 2009, referido em Schmitz, 2011). Podemos qualificar uma fonte como:
Confiável: a fiabilidade das fontes determina-se pelo histórico de veracidade
das suas declarações. Assim, se uma fonte forneceu sempre informação
verdadeira e certa, atempadamente, é provável que continue a fazê-lo;
Fidedigna: o jornalista procura também as fontes atendendo à reputação,
notoriedade e credibilidade das mesmas. Tendo em conta o compromisso do
jornalista com a verdade, as fontes fidedignas são bastante requisitadas.
Duvidosa: existem algumas reservas quanto à credibilidade da fonte e à
informação que esta veicula.
Referências bibliográficas
Fontcuberta, M. (1999). A Notícia: pistas para compreender o mundo. Lisboa: Editorial Notícias.
Schmitz, A. A. (2011). Fontes de notícias: ações e estratégicas das fontes no jornalismo. Florianópolis: Combook.
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Anexo 2 – As componentes da notícia em texto
As notícias “não trazem unicamente o que é ‘importante’, têm também de trazer o
que é ‘interessante’ ou, pelo menos, têm de ser contadas de uma forma interessante”
(Sousa, 2001, p. 116). Existem algumas regras que orientam a escrita jornalística e que
facilitam a comunicação da informação ao público. Vejamos quais são as
especificidades da notícia em texto, analisando: o título, o lead e o corpo da notícia.
Título
Encontrar um bom título é uma tarefa fundamental no jornalismo. Os títulos
devem ser informativos, sintetizando o núcleo duro da informação numa frase curta, forte e sedutora. Devem ter garra. Devem ser claros, concisos, precisos, atuais e verídicos. Lendo-se títulos assim redigidos, torna-se possível, de imediato, apreender a informação mais relevante que um jornal oferece (Sousa, 2001, p. 200).
A tabela abaixo, elaborada com base no trabalho de Sousa (2001), sintetiza a
informação mais relevante a reter em relação aos títulos.
Tabela 4 – Função e regras para a elaboração de um título informativo.
Título da notícia em texto
Função do título:
revelar a essência da notícia;
antecipar a história sem a esgotar;
despertar a atenção do leitor;
atrair o interesse do leitor;
conferir uma certa estética ao jornal, dentro de um determinado modelo gráfico;
apresentar um primeiro nível de informação ao leitor.
Regras para a elaboração de um título:
ser a última coisa a fazer, quando se redige a notícia;
ser compreensível para a maioria das pessoas;
não ser genérico nem recorrer a lugares-comuns (deve evitar, por exemplo, expressões
como: “Declarações do primeiro-ministro”; “Lamentável acidente”);
não induzir os leitores em erro, prometendo algo que a peça não contém;
condensar o máximo de informação no mínimo de palavras;
evitar adjetivos e advérbios;
evitar começar por algarismos, embora possa iniciar com informação numérica;
24
Título da notícia em texto
evitar a sugestão e a interrogação, o comentário ou o enigma;
incluir um verbo explícito ou implícito, preferencialmente escrito na voz ativa e no presente;
não repetir palavras no mesmo título;
pode ser antecedido por um antetítulo e seguido por um subtítulo, que assumem uma
função contextual e retiram ao título a necessidade de dizer tudo;
ser, preferencialmente, independente do antetítulo e do subtítulo;
evitar o uso de artigos definidos/indefinidos, sempre que o significado não se altere;
pode explorar figuras de estilo;
respeitar o tom da peça (por exemplo, se o tom da peça é sóbrio, o título não deverá ser
humorístico).
Lead
O lead é o primeiro parágrafo do texto, que introduz o tema da peça, e que contém
o núcleo duro da informação. A tabela abaixo sintetiza a informação mais relevante a
reter em relação ao lead.
Tabela 5 – Regras para a elaboração de um lead.
Lead da notícia em texto
Regras para a elaboração de um lead:
deve responder às questões mais importantes:
Quem?
O Quê?
Quando?
Onde?
Como? (poderá ser incluído no corpo do texto)
Porquê? (poderá ser incluído no corpo do texto);
evitar linguagem rebuscada e excessivamente longa;
evitar o excesso de informação.
Corpo da notícia
O corpo da notícia complementa a informação presente no lead. A tabela abaixo,
elaborada com base no trabalho de Sousa (2001), sintetiza a informação mais
relevante para reter em relação ao corpo da notícia.
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Tabela 6 – Regras para a elaboração do corpo da notícia.
Corpo da notícia
Regras para a elaboração do corpo da notícia:
respeitar os princípios da brevidade e clareza:
evitar advérbios de modo e expressões como “por outro lado”, “entretanto”, etc.;
evitar adjetivações em excesso;
evitar o uso de rimas, de palavras com duplo sentido ou cacofonia;
usar frases curtas e escritas na ordem direta (sujeito-predicado-complemento);
usar vocabulário simples, o que implica:
descodificar termos científicos e técnicos,
não recorrer a estrangeirismos pouco conhecidos,
evitar palavras rebuscadas ou sem sentido;
recorrer a verbos fortes, na voz ativa e, preferencialmente, no presente do indicativo;
abordar dois conceitos por frase, no máximo (idealmente, apenas um);
não iniciar parágrafos sucessivos com as mesmas palavras;
evitar frases longas, optando por dividi-las em frases curtas;
não usar pronomes, preferindo o uso de nomes (ajuda na identificação do sujeito);
pontuar com correção e pertinência (facilita a leitura do texto e intensifica a
expressividade);
identificar corretamente os lugares e, no caso de lugares pouco conhecidos, indicar pontos
de referência (o leitor pode estar em qualquer ponto do mundo);
identificar corretamente as pessoas:
não usar as abreviaturas “sr.” ou “sra.”;
antes de o nome de uma pessoa surgir pela primeira vez na notícia, referir o cargo ou
função que a levou a tornar-se notícia (embora esta não seja uma regra absoluta);
utilizar a identificação pelo cargo no lead, pelo nome no segundo parágrafo e assim
sucessivamente (embora esta não seja uma regra absoluta);
processar corretamente os numerais:
escrever por extenso os números até dez (em alguns órgãos jornalísticos até vinte) e,
a partir daí, usar algarismos; exceções: idades, horas, datas e anos escolares (por
exemplo, 5 anos ou 5 de outubro);
escrever sempre por extenso números elevados: cem, mil, milhar, milhares, milhão,
milhões, bilião, biliões, etc.;
evitar iniciar um título, um parágrafo ou até mesmo um período por algarismos.
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Referências bibliográficas
Brooks, B., Kennedy, G., Moen, D. & Ranly, D. (2002). News Reporting and Writing (7ª ed.). Boston: Bedford/St. Martin’s.
Sousa, J. P. (2001). Elementos de jornalismo impresso. Biblioteca On-Line de Ciências da Comunicação, pp. 1-542. Acedido de: http://www.bocc.uff.br/pag/sousa-jorge-pedro-elementos-de-jornalismo-impresso.pdf