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A Parabola da Tartaruga Paciente

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A parábola da

Tartaruga

Paciente 

Ricardo M Aguiar

2016

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www.ideariolivre.wordpress.com 

O que umatartaruga

 faz quando sobre ela

cai uma árvore? 

Sábia, e pacientemente espera aárvore

apodrecer

.

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tempo, o sol, o vento ou a chuva não lhe mudava em hipótese

alguma seu caminho, a cada semana ela passava por aquele lugar,

 jamais viu um pássaro lhe ameaçar e tentar garrear seu casco duro

repleto de suculenta carne de tartaruga para uma semana de refeição

proteínica. Na verdade, já haviam tentado tamanho esforço, mas nunca

conseguiram.

Passado uma semana, a tartaruga errante passava por um ponto daquela

estrada e uma larga e copiosa chuva iniciou a desmoronar sobre ela. Ora,

logo ela que se julgava forte e capaz de vencer tamanha enxurrada,

continuou a manter seu rumo. Vento e água não eram lá grande coisa, isso

não me dá medo, pensou ela.

Em um largo par de horas ela caminhou, por apenas montes de barreado para

ela se tornaram vales e ravinas; Podem imaginar ao violento empurrão do

aguaceiro que lhe fazia perder o toque dos pés no solo e flutuar em filetes de

água que para seres menores, seriam largas ondas?

O campo de batalha tendenciou melhorar e se acalmar, e a tartaruga

guerreira a venceu...

Ora, afinal de contas tartaruga gosta de água, não é mesmo?

 Logo pensei que o olho do furacão já havia passado – pensou.

...e aí então veio o clack, ou melhor, ou crack, por assim dizer.

Uma frondosa árvore se curvou pela força do vento.

Engraçado! Este mesmo vendaval que me trazia a tão refrescante água que

para mim era um consolo, pensei...

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- hei de nadar, muito mais fácil, do que caminhar, ou correr (engraçado,

imaginem uma tartaruga correr?) Essa foi boa.

Um grande crack se fez ouvir bem perto de mim, uma grande e agora,

 verdadeira ameaça;

Colocando a cabeça para fora do meu casco pude ver uma grande sombra

cair sobre mim. Somente me restou, gritar.....

... e uma grande e longa escuridão sobreveio sobre mim.

...uma semana depois abri meus olhos, ainda na escuridão tentei me mexer.

Não consegui.

Tentei gritar, gritar, gritei, gritei...e ninguém me ouviu.

Talvez naquela estrada ninguém quisesse me ouvir mesmo, só estavam

interessados no meu ser instrumental.

enquanto eu estava usando toda a racionalidade instrumental que dispunhaem relação aos meios para chegar ao meus propósitos, pude observar e em

mim, finalmente pude ter certeza de que está todo mundo, neste meu mundo,

fazendo o mesmo.

 A única coisa que poderia fazer era então, esperar.

Uma voz repetia continuamente – Levanta, ergue-te, mostra tua força. Minha

força? Lhe respondia. Como posso eu levantar uma árvore milhares de vezes

mais pesada que eu? Sou eu por acaso uma formiga saúva. Não! sou

tartaruga, sou lenta, sou fraca, sou... escondida.

 A voz então se antecipou e me alertou

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- É, mas você é muito resistente.

É forte o suficiente para vencer uma das forças mais permanentes neste

mundo – O tempo.

Sim, eu posso vencer o tempo.

 Lembrei que meu casco é mais duro que a madeira, meu organismo é

preparado para durar anos vivento até de madeira morta.

Um flash apocalíptico estalo sobre minha mente. A solução se mostrou como

o amanhecer do sol. Lento e claro.

- Vou esperar a árvore apodrecer e dela tirarei meu sustento.

- Ficou louco, alguém poderia dizer.

Eu sou uma tartaruga, sou eterna e portanto, divina.

Fiquei sob o grande tronco de uma árvore que dominava meu casco, mas não

sobre minha alma.

E o tempo passou...

Passou...

Passou...

E passou.

O tempo (uma grandeza inflexionável) não tem passado, somente o meu

momento atual, e que a cada momento é meu futuro se tornando presente, e

meu presente se tornando passado.

 Meu momento, sobretudo, lembra minha dor.

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 Levanta, repetia a voz em imperiosa determinação.

- Não posso, respondia.

 Minha dor me lembrou., que minha fraqueza se tornava uma metamórfica e

preciosa experiência de vida.

E assim foram todos os dias, todos os momentos de longa agonia esperando

minha força se tornar minha invencibilidade.

Em dias longos de escuridão sonhava com a luz do sol, com brilho estelar das

noites e de minha companheira lua.

Sentindo meu casco forçar a resistência do peso do tronco tornei-me como

que uma pedra mais forte que a madeira.

Sim, foi como o metal sobre ela, para cima não podia ir, mas podia ir para

 baixo então.

Comecei então a utilizar minhas longas unhas e patas endurecidas pelo

tempo sob aquela tonelada de madeira.

Cavei uma cova sobre meu corpo duro por longos meses e então parei, me

alimentei da casca de madeira que caia sobre mim enquanto meu próprio

algoz se decompunha em podridão.

 Me veio a mente a longa espera que teria de esperar caso tivesse que

aguardar o desaguar de novas tempestades de chuva e a água me fortalecer

para sair desta armadilha da natureza.

Se passaram então 4 centenas de dias, e neles meu algoz arvoredo rígido foi se

decompondo, e eu mais do que ninguém senti sua fragilidade aumentar.

Grato sou aos deuses das inteligências presentes nesta natureza que assim a

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construíram quase que prevendo esta situação tão impar em que eu me

encontrava.

Finalmente senti o calamitoso peso sobre meu casco diminuir, como meu fosso

particular depois de todo este tempo me permitia virar consegui realizar umaproeza que nenhuma de minhas irmãs poderia aprimorar e eu consegui – vou

me revirar no infortúnio de uma caverna escura e ao mesmo tempo obscuro e

ficar com meu casco para baixo.

 A nobre heroína cascuda então, revirou, revirou sendo assim seu maior

esforço sob o seu algoz apodrecido e após o longo esforço mesclou peso,tamanho e as leis da gravidade a seu favor para que entornasse os cento e

oitenta graus mais importantes de sua longa vida animal. Quem disse que

animais não pensam?

Em um dia então, sem saber se dia ou noite, suas patas fortalecidas aconduziram para aquela posição.

Conseguindo virar seu casco para baixo descobriu que ao mesmo tempo em

que tentava alcançar aquela posição se viu fortalecida nos músculos

dianteiros para escavar a madeira podre e facilmente intentar atravessa-la e

encontrar a si mesmo do outro lado.

 As lições então lhes foram dolorosas, lhes foram mais educativas que para a

maioria das outras tartarugas que não viveram esta experiência obscura e

cruel.

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Na manhã bem cedo então de 56 dias após, ela rompia seu cárcere e ao ver a

luz do sol, iluminou não só seu corpo, já tornado pálido pelo inglório destino,

mas também a sua alma.

Por quase quinhentos dias viveu o teste final de uma tartaruga adulta agora,não somente em idade, mas de nobre, fortalecida e renascida no propósito da

 vida.

Dizem então que há dois dias mais importantes na vida de todos os viventes – 

o dia em que nascem, e o dia em que descobrem o porquê de terem nascido.