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Universidade Federal do Rio de Janeiro
A PROSÓDIA DAS INTERROGATIVAS TOTAIS NA FALA CARIOCA:
FALA ESPONTÂNEA VERSUS LEITURA
Vivian Borges Paixão
2014
UFRJ
A prosódia das interrogativas totais na fala carioca:
fala espontânea versus leitura
Vivian Borges Paixão
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Faculdade de Letras da
Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Letras
Vernáculas, na Área de Concentração
Língua Portuguesa.
Orientador: Dinah Callou
Co-orientadora: Dolors Font-Rotchés
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2014
A prosódia das interrogativas totais na fala carioca:
fala espontânea versus leitura
Vivian Borges Paixão
Orientadora: Professora Doutora Dinah Maria Isensee Callou (UFRJ)
Co-orientadora: Professora Doutora Dolors Font-Rotchés (Universidad de Barcelona)
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras
(Letras Vernáculas), Faculdade de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Letras
Vernáculas, na Área de Concentração Língua Portuguesa.
Examinada por:
______________________________________________________________
Presidente, Professora Doutora Dinah Maria Isensee Callou (UFRJ) – Orientadora
_______________________________________________________________
Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra (UFRJ)
_______________________________________________________________
Professora Doutora Flaviane Romani Fernandes Svartman (USP)
_______________________________________________________________
Professor Doutor João Antonio de Moraes (UFRJ) – Suplente
_______________________________________________________________
Professora Letícia Rebollo Couto (UFRJ) – Suplente
_______________________________________________________________
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2014
Paixão, Vivian Borges.
A prosódia das interrogativas totais na fala carioca – fala
espontânea versus leitura/ Vivian Borges Paixão- Rio de Janeiro: UFRJ/
FL, 2014.
xiv, 141f.
Orientador: Dinah Callou
Dissertação (Mestrado) – UFRJ / Faculdade de Letras /
Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, 2014.
Referências Bibliográficas: f. 93-98.
1. Prosódia. 2. Interrogativas. 3. Fala espontânea e leitura. I.
Callou, Dinah. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de
Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas. III. A
prosódia das interrogativas totais na fala carioca – fala espontânea versus
leitura.
"Há aqueles que se condenam ao cinzento da vida
mais medíocre porque tiveram alguma dor, alguma
desgraça; mas há também aqueles que o fazem
porque tiveram mais sorte do que podiam suportar."
Ítalo Calvino
Agradecimentos
Uma dissertação de Mestrado pode, muitas vezes, passar a impressão de ser um trabalho
solitário. Para que esta dissertação fosse concluída, no entanto, muitos foram aqueles
que colaboraram comigo, e a quem dedico aqui alguns agradecimentos:
À Professora Dinah Callou, que desde a iniciação científica me deu motivação para
prosseguir com a pesquisa acadêmica.
À Professora Dolors Font-Rotchés, que acreditou em minha capacidade e me auxiliou
desde a construção do projeto desta pesquisa de Mestrado.
Aos membros da banca examinadora desta dissertação por terem aceitado o convite,
pela leitura e avaliação do trabalho, bem como pelos comentários e contribuições
vindouros. Além disso, agradeço à Professora Carolina Serra também por toda a
orientação e apoio que me deu ao longo do mestrado; e à Professora Flaviane Svartman
pela confiança depositada ao aceitar prontamente o convite mesmo sem ter
conhecimento prévio de meu trabalho.
Aos informantes e ouvintes-juízes que gentilmente aceitaram “ceder um tostão de sua
voz” (ou de seus ouvidos) para a pesquisa científica, pela disponibilidade e boa vontade
em participar das gravações e testes de percepção.
À Capes, pelo importantíssimo incentivo financeiro, já que nem só de conhecimento
vive um estudante de pós-graduação.
À Professora Silvia Brandão, minha primeira orientadora de iniciação científica,
responsável por me encaminhar no campo da pesquisa em fonética; aos professores João
Moraes e Cláudia Cunha pelas fundamentais contribuições e estímulo.
À secretária do Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Urânia Marinho,
pela infinita paciência, e à Professora Célia Lopes, incrível como docente, como
coordenadora do PPG e como ser humano.
A meu tio José Antonio Borges, pesquisador do NCE/UFRJ, verdadeiro ídolo para mim.
Aos amigos frequentadores da sala F-312, cuja participação neste trabalho é inegável: à
minha amiga, confidente e eterna companheira de aventuras Priscila Guimarães Batista;
à amiga e parceira de empreitadas Erica Almeida; à pessoa que primeiro me apresentou
ao fantástico mundo da Fonética Acústica, Luana Machado; às bolsistas de iniciação
científica Aline Farias e Ingrid Oliveira, que me prestaram tão valiosa ajuda; enfim, a
todos os professores e colegas com quem convivi no dia-a-dia da pesquisa ou no
tradicional amigo oculto de final de ano.
À querida Aline Ponciano, sempre tão prestativa e disponível nos momentos de dúvidas
– fossem elas de cunho científico ou existencial.
À amiga e colega de faculdade Thaís Seabra e ao amigo Paulo Nascimento, o Pirula
(“um sujeito chamado Pirula!”), com quem compartilhei tantos dramas de pós-
graduando; aos amigos e companheiros de mestrado Camila Duarte, Carolina Medeiros
e Thiago Laurentino; ao meu “migs” Guilherme Gonçalves, às amigas de infância
Amanda Freitas e Natália Fontam; ao querido Erick Castillo, por todo o
companheirismo; ao Gustavo Betoni, pela leitura; e à amiga de longe (mas sempre perto
do coração) Juliane Venturelli, principalmente pela atenciosa revisão do texto e
sugestões.
À Liliane Machado, minha professora, “tutora” e maior responsável pelo meu ingresso
na Faculdade de Letras.
Aos amigos e colegas do Google, por todo o aprendizado (e diversão!) que me
proporcionaram durante os seis meses em que trabalhamos no projeto Speech Data Ops:
Andréia Rauber, Carolina Souza, Felipe Iszlaji, Larissa Rinaldi, Melanie Angelo e
Vinícius Castro.
À minha família – em especial, a meus pais, Marta e Roberto, e a meu irmão, Rodrigo,
que sempre incentivaram em meus planos e projetos de vida.
A todos que me auxiliaram, no âmbito acadêmico, prático, técnico, burocrático,
financeiro ou emocional, deixo aqui meu mais sincero afeto e minha profunda gratidão.
Sinopse
Análise acústica e perceptiva de interrogativas totais
na variedade carioca do português brasileiro a partir
do Método de Análise Melódica da Fala (MAS).
Comparação entre as modalidades de fala
espontânea e leitura.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................
1. APRESENTAÇÃO DO TEMA ......................................................................
1.1. Os estudos em prosódia e suas aplicações ..................................................
1.1.1. Conceitos de prosódia e entoação ...................................................
1.1.2. A aplicabilidade dos estudos em prosódia ......................................
1.2. Estudos sobre o tema ....................................................................................
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA .............................
2.1. Pressupostos teóricos .................................................................................
2.2. O corpus ....................................................................................................
2.2.1. Seleção dos informantes ..................................................................
2.2.2. Gravação de fala espontânea ...........................................................
2.2.3. Gravação de leitura ..........................................................................
2.2.4. Seleção dos enunciados ...................................................................
2.3. Metodologia de análise ...............................................................................
2.3.1. Fase acústica ....................................................................................
2.3.1.1. Classificação dos enunciados de acordo com a inflexão final.
i. Inflexão final ascendente-descendente .........................................
ii. Inflexão final ascendente .............................................................
iii. Inflexão final de núcleo elevado (high nucleous) .......................
iv. Inflexão final descendente ..........................................................
2.3.2. Fase perceptiva ..........................................................................
3. ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................
3.1. Análise acústica ...........................................................................................
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60
3.1.1. Resultados referentes à fala espontânea ..........................................
3.1.2. Resultados referentes à leitura .........................................................
3.2. Testes de percepção ....................................................................................
4. DISCUSSÃO ....................................................................................................
4.1. O predomínio da IF circunflexa e a maior nitidez de padrões na leitura .....
4.2. A influência da expressão de atitudes ..........................................................
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................
REFERÊNCIAS ..................................................................................................
RESUMO .............................................................................................................
ABSTRACT .........................................................................................................
Anexo 1: Ficha do informante ..............................................................................
Anexo 2: Transcrição das gravações dos jogos na íntegra ....................................
i. Informante T.S. (sexo feminino) ............................................................
ii. Informante T.M. (sexo feminino) .........................................................
iii. Informante I.O. (sexo feminino) ..........................................................
iv. Informante P.B. (sexo feminino) ..........................................................
v. Informante R.M. (sexo masculino) .......................................................
vi. Informante C.F. (sexo masculino) ........................................................
vii. Informante G.G (sexo masculino) .......................................................
viii. Informante T.A. (sexo masculino) .....................................................
Anexo 3: Formulário do teste de percepção ..........................................................
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139
LISTA DE FIGURAS, GRÁFICOS E TABELAS
FIGURAS
Figura 1: Padrão de final ascendente – curva de pitch e notação do enunciado
“Os garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta neutra (MORAES,
2006. p. 2) .............................................................................................................
Figura 2: Padrão de subida interna – curva de pitch e notação do enunciado “Os
garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta confirmativa
(MORAES, 2006. p. 2) .........................................................................................
Figura 3: Padrão de subida tardia – curva de pitch e notação do enunciado “Os
garotos não se esforçam?” pronunciado com atitude de descrédito (MORAES,
2006. p. 2) .............................................................................................................
Figura 4: Padrão de dupla subida – curva de pitch e notação do enunciado “Os
garotos não se esforçam?” pronunciado como pergunta retórica (MORAES,
2006. p. 2) .............................................................................................................
Figura 5: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta neutra
(MORAES, 2008, p. 5) .........................................................................................
Figura 6: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta retórica
(MORAES, 2008, p. 5) .........................................................................................
Figura 7: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta incrédula
(MORAES, 2008, p. 5) .........................................................................................
Figura 8: Mapa de macrorregiões dos falares brasileiros por Silva (2011) ..........
Figura 9: Frase “A pessoa que tá internada vai sair hoje?” dita por informante
jovem do sexo masculino natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102) ...........
Figura 10: Frase “A minha alta vai ser hoje?” dita por informante jovem do
sexo feminino natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102) .............................
Figura 11: Forma de onda do enunciado “Você é de, sei lá, de uma história
inventada?”, excluído da análise devido à hesitação (FE) ....................................
Figura 12: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 100 a
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200 Hz) ..................................................................................................................
Figura 13: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 100 a 200
Hz) .........................................................................................................................
Figura 14: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 200 a
400 Hz) ..................................................................................................................
Figura 15: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 200 a 400
Hz) .........................................................................................................................
Figura 16: Diagrama das três partes do contorno melódico segundo o MAS .......
Figura 17: Modelo de inflexão final ascendente-descendente ..............................
Figura 18: Modelo de inflexão final ascendente ...................................................
Figura 19: Modelo de inflexão final de núcleo elevado (high nucleous) ..............
Figura 20: Modelo de inflexão final descendente .................................................
Figura 21a: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) –
forma de onda, espectrograma e curva de pitch ....................................................
Figura 21b: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) –
forma de onda e pontos de pitch para manipulação acústica ................................
Figura 22a: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado /
ressintetizado “É de uma novela?” (FE) – forma de onda, espectrograma e
curva de pitch ........................................................................................................
Figura 22b: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado /
ressintetizado “É de uma novela?” (FE) – forma de onda e pontos de pitch
selecionados no centro de cada sílaba ...................................................................
Figura 23: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo,
personagem de um filme?” (FE) ...........................................................................
Figura 24: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo,
personagem de um filme?” (LE) ...........................................................................
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GRÁFICOS
Gráfico 1: Curva estandardizada do enunciado “Ele é o protagonista” (LE) .......
Gráfico 2: Classificação dos dados de fala espontânea e leitura ...........................
Gráfico 3: Enunciado “Ele envelhece no filme?” (FE) .........................................
Gráfico 4: Enunciado “As mulheres acham ele bonito?” (LE) .............................
Gráfico 5: Enunciado “Tem direito a dica?” (FE) – IF ascendente-descendente .
Gráfico 6: Enunciado “É de uma novela?” (FE) – IF ascendente .........................
Gráfico 7: Enunciado “É famoso?” (FE) – IF de núcleo elevado .........................
Gráfico 8: Enunciado “Idade Moderna?” (FE) – IF descendente .........................
Gráfico 9: Enunciado “Você é de desenho animado?” (LE) – IF ascendente-
descendente ...........................................................................................................
Gráfico 10: Enunciado “Ele é um mágico?” (LE) – IF ascendente ......................
Gráfico 11: “Ele tem vida eterna?” (LE) – IF de núcleo elevado …..................
Gráfico 12: Enunciado “Uma personagem real?” (LE) – IF descendente ............
Gráfico 13: Enunciado “Ele usa terno?” (FE) .......................................................
Gráfico 14: Enunciado “Ele usa terno?” (LE) ......................................................
Gráfico 15: Enunciado “Do nosso país?” (FE) .....................................................
TABELAS
Tabela 1: Padrões entoacionais das interrogativas do português do estado de
São Paulo (adaptado de Mendes, 2013, p. 96) ......................................................
Tabela 2: Relação dos enunciados analisados .......................................................
Tabela 3: Resultado da análise acústica – classificação dos enunciados de FE e
LE de acordo com a inflexão final ........................................................................
Tabela 4: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendente .....
Tabela 5: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendente-
descendente e de núcleo elevado ..........................................................................
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Tabela 6: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF descendente ...
Tabela 7: Relação de enunciados utilizados como grupo controle .......................
Tabela 8: Média de subida da F0 na vogal tônica final por modalidade de fala e
sexo do informante ................................................................................................
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86
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ASR – Automatic Speech Recognition (Reconhecimento Automático de Fala)
dB – decibéis
F0 – frequência fundamental
FE – fala espontânea
IPO – Institute for Perception Research (Instituto de Pesquisa em Percepção)
Hz – Hertz
IF – inflexão final
L2 – língua estrangeira
LE – leitura
MAS – Melodic Analysis of Speech Method (Método de Análise Melódica da Fala)
ms – milissegundos
PB – português do Brasil / português brasileiro
TTS – Text-to-Speech (Síntese de Fala)
s – segundos
15
INTRODUÇÃO
As chamadas interrogativas totais ou questões totais são aquelas que, em termos
de estrutura sintática, se assemelham às declarativas, diferenciando-se delas apenas
através da prosódia, e podendo ser respondidas com um “sim” ou um “não”. Outros
autores referem-se a esse tipo de sentença como interrogativas absolutas (FONT-
ROTCHÉS & MATEO-RUIZ, 2011), interrogativas globais (MATA, 1992) ou
perguntas sim/não (REINECKE, 2007).
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise acústica e perceptiva da
entoação das interrogativas totais na fala carioca, confrontando dados de leitura (LE)
com dados de fala espontânea (FE). Tenciona-se estabelecer padrões fonológicos para
as interrogativas totais na fala carioca, observando as diferenças (no nível fonético ou
fonológico) entre os estilos de fala aqui referidos como FE e LE, e traçar comparações
com outros trabalhos realizados sobre a prosódia no português e em outras línguas
românicas, colaborando assim para a descrição de uma gramática entoacional do
português brasileiro.
O principal aspecto que diferencia o presente trabalho de outros já realizados
sobre a prosódia das interrogativas no português brasileiro, e, mais especificamente, na
variedade do Rio de Janeiro, é a comparação sistemática entre esses dois estilos de fala
(FE e LE) e o emprego de um método diferenciado (MAS, explicitado mais adiante).
Para a pesquisa, foi utilizado um corpus elaborado com a finalidade específica de obter
interrogativas espontâneas e lidas que contivessem exatamente o mesmo conteúdo
estrutural, podendo assim ser comparadas.
16
Nesse ponto, é importante fazer uma consideração sobre o uso do termo “fala
espontânea” neste trabalho. Chamamos aqui de fala espontânea uma amostra, composta
especificamente para esta pesquisa, em que os informantes são induzidos,
indiretamente, a produzir determinado tipo de enunciado (interrogativas). É possível
questionar o grau de espontaneidade desse corpus, que poderia também ser definido
como de fala semiespontânea – por não ser tão espontâneo quanto, por exemplo, uma
conversação livre. No entanto, entende-se que o grau de espontaneidade /
monitoramento da fala não é uma categoria dicotômica, e sim um continuum, havendo,
nas diversas situações de fala, inumeráveis gradações nesse aspecto. Sabe-se, por
exemplo, que nem mesmo na entrevista sociolinguística típica a espontaneidade da fala
é total, como salienta Labov (1972) ao tratar do paradoxo do observador. Tendo em
mente esse continuum e levando em conta outros trabalhos que estudaram a entoação
em dados de fala semiespontânea, como o de Silva (2011), optou-se, por comparação,
por chamar de espontânea a fala dos participantes do jogo de adivinhação.
A dissertação está organizada da seguinte maneira: no primeiro capítulo, faz-se
uma breve apresentação do tema: na seção 1.1, são revistos os conceitos de prosódia e
entoação (1.1.1) e discorre-se sobre as possibilidades de aplicação prática dos estudos
na área de prosódia (1.1.2). Já na seção 1.2, é feita uma revisão dos trabalhos acerca da
prosódia das interrogativas e da comparação entre FE e LE no português do Brasil
utilizados como fonte de estudo para a realização desta pesquisa.
No segundo capítulo, apresenta-se a fundamentação teórico-metodológica do
trabalho. Incluem-se aqui os pressupostos teóricos que fundamentam a pesquisa (seção
2.1), a descrição detalhada do corpus (seção 2.2) e da metodologia empregada – O
Método de Análise Melódica da Fala (seção 2.3). Esse método divide-se nas fases de
17
análise acústica e perceptiva dos dados, cujos procedimentos são descritos nas
subseções 2.3.1 e 2.3.2, respectivamente.
Em seguida, no capítulo 3, apresentam-se os resultados das análises dos dados,
tanto de FE quanto de LE: os resultados da etapa acústica da análise encontram-se na
seção 3.1 e os resultados do teste de percepção estão na seção 3.2.
No quarto capítulo, discutem-se os resultados da análise, comparando-se as duas
modalidades estudadas. Ainda neste capítulo, na seção 4.2, são feitas considerações
sobre a influência da expressão de atitudes motivadas por situações pragmático-
discursivas muito específicas no contorno melódico dos enunciados analisados.
Por fim, no capítulo 5, são apresentadas algumas considerações finais sobre a
pesquisa e os resultados obtidos.
18
1. APRESENTAÇÃO DO TEMA
1.1. Os estudos em prosódia e suas aplicações
1.1.1. Conceitos de prosódia e entoação
Em seu livro, em preparação, Introdução à Prosódia, Moraes esclarece que o
termo “prosódia” surge na língua portuguesa em fins do século XVIII, com um sentido
bastante amplo que engloba todos os meios fônicos usados para a acentuação na
linguagem, bem como a representação gráfica dessas características na escrita. O termo
adquiriu também uma acepção mais específica, referente à métrica do verso, ou seja, à
musicalidade da linguagem poética (metrificada). Atualmente, nos estudos em
linguística, a prosódia é a parte da fonética / fonologia que diz respeito aos aspectos
suprassegmentais, isto é, os elementos da fala que não podem ser submetidos à
segmentação em fones ou fonemas, representados na escrita pelos grafemas ou letras.
O aspecto segmental da fala depende da diferenciação dos fonemas de uma
língua entre si. Já a prosódia diz respeito a questões como melodia, ritmo, velocidade e
volume, ou seja, à configuração “musical” que se dá à cadeia de fones. Embora os
aspectos segmental e suprassegmental da linguagem possam ser estudados
separadamente, estão intrinsecamente relacionados, sendo elementos constitutivos de
todos os enunciados das línguas naturais.
Tanto os aspectos segmentais quanto os suprassegmentais da fonética e
fonologia de uma língua podem ser estudados através da observação precisa, por meio
de ferramentas computacionais, das ondas sonoras. Em termos físicos, isto é, no que
19
concerne às ondas acústicas, são quatro os parâmetros que se podem analisar para
estudar os sons da fala: a altura melódica, auferida através da frequência fundamental
(F0) e cuja unidade de medida são os Hertz (Hz); a intensidade ou volume, que consiste
na amplitude da onda e é medida em decibéis (dB); a duração, medida em unidades de
tempo como segundos (s) ou milissegundos (ms); e o timbre, de verificação um pouco
mais complexa, uma vez que se refere à qualidade ou textura de cada som e depende da
configuração das várias frequências simples que formam uma onda complexa (por isso
mesmo chamadas frequências formantes, ou simplesmente formantes). Este último
parâmetro é mais utilizado na fonética para o estudo das vogais, que diferem entre si
pelas frequências formantes. Já para o estudo dos fenômenos prosódicos, observam-se
os parâmetros de altura, intensidade e duração.
Se o termo “prosódia” engloba todos os aspectos não segmentáveis dos sons da
fala, o termo “entoação” diz respeito, mais especificamente, às modulações da altura
melódica ao longo dos enunciados. Desde o início do século XX, diversos estudiosos já
teorizaram acerca das funções que a entoação desempenha na linguagem. Em seu Traité
de phonetique, Grammont (1946) estipula três funções básicas para a entoação: a função
idiossincrática, que diferencia línguas; a função expressiva, que expressa emoções do
falante; e a função modal, que diferencia tipos de frases (afirmações de perguntas, por
exemplo). Posteriormente, vários outros autores como Frantiseck Danes (1960), Hist &
DiCristo (1998), Couper-Khulen (1986), Fónagy (1981, 1993), Ladd (1996) e
Hirschberg (2002), estipularam funções para a prosódia, com maior ou menor grau de
especificidade em suas categorizações, mas sempre abarcando uma face linguística
(relacionada ao significado do enunciado propriamente dito) e uma face não linguística
(relacionada a questões pragmático-situacionais e a características individuais do
falante) da entoação.
20
Vale observar que nos ativemos, aqui, a uma conceituação de prosódia calcada
nos correlatos acústicos. Dentro de uma perspectiva fonológica, autores como Selkirk
(1984) e Nespor & Vogel (1986; 1994) estudam a prosódia do ponto de vista de seus
domínios, isto é, da hierarquização da estrutura fonológica, caracterizando uma
abordagem mais abstrata dos fenômenos prosódicos.
1.1.2. A aplicabilidade dos estudos em prosódia
Tendo em vista o papel fundamental desempenhado pela entoação na
comunicação humana – seja determinando diretamente a modalidade da frase ou
agregando nuances expressivas a ela –, é possível afirmar que, dentre os quatro
parâmetros acústicos, a altura, mensurada através da frequência fundamental (F0), é
aquele mais comumente observado nos estudos sobre a prosódia da fala.
A grande importância da entoação na construção de sentido dos enunciados faz
com que os estudos na área da prosódia tenham aplicabilidade prática em diferentes
âmbitos. No ensino de língua estrangeira (L2), esse é um aspecto frequentemente
negligenciado, embora o valor da contribuição desses estudos para o processo de
ensino-aprendizagem de L2 já tenha sido estudado em várias línguas, como mostram,
por exemplo, Gilbert (2008) e Miller (2002), no caso do inglês. Mendes (2013, p.14)
assim justifica a necessidade de um olhar mais atento à entoação pelos professores de
língua estrangeira:
“[...] ainda que o aluno de LE acredite que sua identidade como estrangeiro
esteja expressa em sua fala e, por uma questão patriótica, não queira
utilizar a mesma entonação que um nativo da língua, os problemas
21
relacionados à entonação e/ou à pronunciação de determinada frase são
reais e afetam as relações interpessoais na relação cotidiana da língua.
Assim, mesmo que o aluno tenha um bom desempenho na gramática e
saiba utilizar bem o léxico da língua-alvo, sem a entonação correta, seu
interlocutor nativo pode não conseguir identificar sua real intenção
comunicativa, o que irá gerar inúmeros mal-entendidos.”
Dentre os inúmeros trabalhos sobre prosódia que visam a melhorias no ensino de
línguas, estão aqueles vinculados ao projeto Modelos de Entonação de Espanhol e
Português para o Ensino de Língua, ao qual se relaciona o presente trabalho, na medida
em que utiliza a mesma metodologia de pesquisa e colabora para uma descrição acústica
do português do Brasil. Esse projeto foi desenvolvido em três países, Brasil, Espanha e
Cuba, sob a coordenação geral do Professor Doutor Francisco José Cantero Serena, da
Universidade de Barcelona, e tendo como coordenador íbero-americano e brasileiro o
Professor Doutor Enrique Huelva Unternbäumen, da Universidade de Brasília.
O caráter interseccional entre a linguística e a música que se faz notar na própria
etimologia do termo “prosódia” faz com que os estudos nessa área tenham também
aplicações no campo das artes – tanto como instrumento de interpretação da obra pelo
ouvinte quanto como ferramenta de aprimoramento de performance, como mostra
Mattos (2006) em estudo sobre a música popular brasileira. No que tange à prosódia da
fala, a linguística conversa também com as ciências da saúde, na medida em que os
estudos nessa área também são aplicados à reeducação de voz e terapia fonoaudiológica.
Um bom panorama geral sobre o tema está em Levitt (1993), que estuda a aquisição de
padrões prosódicos em crianças com transtorno de fala a partir da análise dos
parâmetros de frequência, duração e intensidade.
Além disso, é notável a aplicabilidade dos estudos sobre a entoação no
desenvolvimento de novas tecnologias de fala, como os sistemas de síntese – Text-to-
22
Speech (TTS) – e os de reconhecimento automático de fala – Automatic Speech
Recognition (ASR) –, revelando um ponto de diálogo entre a ciência linguística e as
ciências da computação / engenharia de software. O desenvolvimento desse tipo de
sistema envolve diferentes áreas da linguística, como a fonologia (inclusive no nível
segmental), a sintaxe e a lexicologia; mas destaca-se o aspecto prosódico, uma vez que
o reconhecimento e reprodução automáticos dos diferentes padrões prosódicos de uma
língua ainda são um grande desafio. A literatura sobre o tema não se restringe às
publicações oriundas da pesquisa acadêmica em linguística, mas também inclui diversos
artigos resultantes do trabalho de desenvolvimento desse tipo de sistemas. Dentre outros
autores importantes, pode-se citar Hirschberg, que já estudou a automatização de
realização de fronteiras prosódicas em sistemas de TTS (HIRSCHBERG, 1991;
HIRSCHBERG & PIETRO, 1994); e mais recentemente a percepção e produção de
emoções humanas aplicadas às tecnologias de fala (HIRSCHBERG, 2002; 2003). Vale
mencionar também os trabalhos de Stergar & Erdem (2010) que apresentam uma
proposta de adaptação e aplicação de padrões prosódicos das línguas naturais para TTS;
e Ostendorf et al (2003), que sugerem a aplicação de modelos prosódicos nos sistemas
de ASR no sentido de tentar aumentar sua acurácia com inputs de fala espontânea.
1.2. Estudos sobre o tema
A literatura sobre a prosódia do português brasileiro vem crescendo bastante
desde a década de 70, já contando com um volume considerável de pesquisas sobre
diversas variedades e sob diferentes escopos teóricos. Essa diversidade de abordagens,
notações e terminologias é justamente o que Tenani (2002) ressalta como sendo uma
23
“dificuldade em se constituir urna descrição do que possa ser denominado de 'gramática
entoacional' do PB” (p. 14).
Há um conjunto de trabalhos ligado à tradição britânica de modelos entoacionais
preconizada por Halliday (1970), dentre os quais pode-se mencionar, principalmente, os
de Geabra (1976), Cagliari (1981) e Rizzo (1981). Já os trabalhos de Moraes (1982;
1984; 2006; 2008) e seus orientandos, como Cunha (2000), representam outro conjunto
importante de análises, que se relacionam com a escola francesa de análise entoacional
proposta por Fónagy (1981; 1993). Mais recentemente, trabalhos que utilizam o modelo
de hierarquia prosódica de Nespor & Vogel (1986; 1993), relacionados à percepção de
fronteiras prosódicas e a interface sintaxe-prosódia vêm sido desenvolvidos, como os de
Freitas (1995), Frota & Vigário (1999; 2000), Frota (2011), Tenani (2002), Fernandes
(2007) e Serra (2009).
Diversos trabalhos já foram realizados acerca da prosódia das interrogativas no
português brasileiro, com enfoques teóricos e tipos de corpus diferentes.
Cagliari (1981), ao analisar os contornos entoacionais do português brasileiro,
classifica-os como simples (descendente, ascendente, nivelado) ou complexos, isto é,
quando combinam mais de uma característica dos contornos simples. O autor estabelece
o padrão ascendente como típico das interrogativas totais, caracterizadas por um ataque
e corpo em nível médio e um ascenso final. Há ainda um padrão para a interrogativa
com expressão de surpresa, que conta com uma subida antes da última sílaba tônica,
mas, ainda assim, conserva a inflexão final ascendente.
O trabalho de Moraes (2006), cujo corpus consiste em enunciados isolados
gravados em laboratório, é uma importante referência na área, e revela quatro padrões
diferentes para as questões totais no PB, a saber:
24
(i) padrão de final ascendente, tipicamente associado com interrogativas totais neutras,
isto é, perguntas para as quais o falante não tem uma resposta esperada. Esse padrão
caracteriza-se por um onset de nível médio sobre a última sílaba tônica (Figura 1).
Figura 1: Padrão de final ascendente – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos
não se esforçam?” pronunciado como pergunta neutra (MORAES, 2006. p. 2)
(ii) padrão de subida interna, associado a perguntas confirmativas, isto é, para as quais
se espera uma resposta positiva do falante (concordando com o conteúdo proposicional
da sentença). Esse padrão caracteriza-se por uma subida em um nível melódico alto na
primeira sílaba tônica, com uma subida contínua ao longo do enunciado, incluindo a
sílaba pré-tônica final, com queda na sílaba tônica final (Figura 2).
Figura 2: Padrão de subida interna – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos
não se esforçam?” pronunciado como pergunta confirmativa (MORAES, 2006. p. 2)
25
(iii) padrão de subida tardia, associado à atitude de descrédito ou dúvida em relação ao
que foi dito pelo interlocutor, e, portanto, sugerindo discordância com conteúdo
proposicional da sentença. O que distingue esse padrão é o fato de que a subida
melódica na última sílaba tônica só se inicia no seu segundo terço, criando uma subida
de formato ligeiramente côncavo (Figura 3). Embora o autor categorize os padrões (i) e
(iii) separadamente, devido à expressão de atitude, é possível questionar se a diferença
entre essas duas melodias está no nível fonético ou fonológico, uma vez que os padrões
são bastante parecidos.
Figura 3: Padrão de subida tardia – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos
não se esforçam?” pronunciado com atitude de descrédito (MORAES, 2006. p. 2)
(iv) padrão de dupla subida, que ocorre em diversas situações discursivas, dentre as
quais estão pedidos e perguntas que carregam uma intenção retórica com uma resposta
esperada no sentido oposto do conteúdo proposicional da sentença. Esse padrão é
caracterizado por uma subida na primeira sílaba tônica e uma segunda subida, mais
fraca, antes da última sílaba tônica, onde se inicia o descenso final (Figura 4).
26
Figura 4: Padrão de dupla subida – curva de pitch e notação do enunciado “Os garotos
não se esforçam?” pronunciado como pergunta retórica (MORAES, 2006. p. 2)
No tocante à metodologia de pesquisa, é importante mencionar que Moraes
(2006; 2008) utiliza também o recurso da ressíntese para fazer uma descrição fonética e
análise fonológica de alguns contornos melódicos relacionados a expressões de atitude
no português do Brasil (PB). A partir dos resultados obtidos na análise dos dados,
sentenças originalmente pronunciadas como declarativas são manipuladas
acusticamente a fim de se encaixarem nos padrões estabelecidos para os diferentes tipos
de perguntas, e posteriormente submetidas a testes de percepção no intuito de confirmar
a validade dos resultados.
O autor mostra que o contorno prosódico do enunciado varia significativamente
de acordo com a intenção comunicativa do falante, ou seja, a expressão de atitudes e a
polaridade da pergunta, isto é, a expectativa por uma resposta positiva ou negativa. Em
trabalho posterior (MORAES, 2008), em que analisa uma grande variedade de
contornos melódicos do PB, o autor enquadra todos os tipos de perguntas sim/não
estudadas (neutra, retórica e incrédula) em um mesmo grupo geral, o de contornos
ascendentes, e distinguindo-as a partir da sua configuração interna, como detalhado a
seguir:
27
(i) pergunta sim/não neutra: caracterizada por uma subida melódica na primeira sílaba
tônica, situada em nível médio, ligeiramente mais alto do que o observado em
afirmativas. Essa subida costuma atingir a sílaba pós-tônica e é seguida por uma queda
contínua até a sílaba pré-tônica final, situada em nível baixo, e por uma subida na sílaba
tônica final, caindo novamente nas eventuais sílabas pós-tônicas (Figura 5).
Figura 5: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta neutra (MORAES,
2008, p. 5)
Os testes perceptivos revelaram que, fonologicamente, o acento nuclear é que determina
o contraste entre este tipo de sentença e as assertivas, de forma que a tendência a um
nível mais alto no acento pré-nuclear das perguntas é considerada uma variação do
contorno padrão. Por outro lado, o que diferencia este tipo de contorno do das perguntas
retóricas ou pedidos, como será visto seguir, é a subida melódica entre a sílaba pré-
tônica e a tônica finais, alinhada tardiamente, à margem direita da vogal tônica.
(ii) pergunta sim/não retórica: foneticamente, tem comportamento similar ao dos
pedidos, apresentando a sílaba pré-tônica em nível baixo, subida na sílaba tônica final e
queda na(s) sílaba(s) pós-tônicas. O que diferencia esse contorno daquele das perguntas
28
totais neutras é que o pico de F0 na última sílaba tônica está localizado no começo da
vogal, e não no final, o que faz com que sua configuração intrassilábica seja
descendente, em vez de ascendente. Além disso, outros dois pontos distinguem os
padrões de pergunta neutra e retórica: a subida final atinge um nível mais alto na
pergunta neutra, e a primeira sílaba tônica está em nível muito mais alto na pergunta
retórica ou pedido, revelando similaridade com as perguntas parciais (Qu-) (Figura 6).
Figura 6: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta retórica (MORAES,
2008, p. 5)
Os testes de percepção mostraram que a forma descendente da última sílaba tônica é que
distingue este padrão daquele das perguntas neutras. O alinhamento do pico de F0 é,
portanto, relevante para a caracterização desse padrão melódico, bem como o acento
pré-nuclear em nível alto, similar ao das perguntas Qu-.
(iii) pergunta sim/não incrédula: distingue-se da pergunta neutra por quatro aspectos: (a)
a sílaba pré-tônica final em nível mais alto, (b) uma subida tardia na sílaba tônica final,
que começa na segunda metade da vogal, (c) um nível mais baixo no final da última
sílaba tônica e (d) um maior prolongamento dessa sílaba. Em ambos os padrões, o pico
de F0 na sílaba tônica final está alinhado à margem direita da vogal tônica (Figura 7).
29
Figura 7: Enunciado “Renata jogava?” pronunciado como pergunta incrédula
(MORAES, 2008, p. 5)
Os testes de percepção revelaram que nem o prolongamento nem o nível melódico mais
baixo na vogal tônica são relevantes para a identificação fonológica deste padrão. O que
de fato o diferencia dos outros padrões é a presença de um vale na primeira metade da
vogal tônica final, e secundariamente pela vogal pré-tônica final em nível alto.
Ainda no que concerne a trabalhos sobre a entoação das interrogativas totais, é
importante mencionar aqueles que utilizam o mesmo método aqui empregado. Os
autores Cantero & Font-Rotchés, desenvolvedores do Método de Análise Melódica da
Fala (MAS, cf. seção 2.3), bem como outros professores e estudantes ligados ao mesmo
grupo de pesquisa, têm publicados trabalhos acerca dos padrões prosódicos de diversos
tipos de sentenças em diferentes línguas; visando, principalmente, à aplicação dos
estudos no aprimoramento do ensino de línguas estrangeiras. No catalão, Font-Rotchés
(2008) utiliza corpus extraído de programas de debate na televisão, e estabelece três
padrões diferentes para as interrogativas absolutas. No espanhol, Font-Rotchés &
Mateo-Ruiz (2011) utilizam a mesma metodologia, e fazem uma análise detalhada das
interrogativas totais (absolutas), estabelecendo cinco diferentes padrões para esse tipo
de pergunta.
30
Em trabalho recente, Cantero & Font-Rotchés (2013) descrevem, de um ponto
de vista fonético, três padrões de interrogativas totais (absolutas) obtidas de um corpus
do estado de Goiás. Os padrões observados foram os de inflexão final (IF) ascendente,
IF ascendente-descendente e IF de núcleo elevado (high nucleous final inflection) –
todos encontrados também nos dados desta pesquisa, e descritos mais detalhadamente
na subseção 2.3.1.1. No trabalho sobre as interrogativas no estado de Goiás, foi
realizada a análise e estandardização de 55 enunciados, além da verificação da validade
dos resultados com um teste de percepção.
De todos os 55 enunciados analisadas, 45 se enquadraram nos padrões acima
relacionados. Os outros dez dados fazem parte do grupo de sentenças que, na segunda
fase da pesquisa, não foram reconhecidas pelos juízes como interrogativas quando
ouvidas de forma descontextualizada. Assim, foram contabilizadas na análise dos três
tipos de contorno apenas 45 enunciados. Dentre estas, 37,8% apresentaram o contorno
de IF ascendente, 33,3% o de IF ascendente-descendente e 28,9% o de IF de núcleo
elevado.
Mendes (2013), pertencente ao mesmo grupo de pesquisa de Cantero & Font-
Rotchés, estudou as interrogativas no estado de São Paulo a partir de um corpus de fala
espontânea retirado de programas de televisão do tipo reality show, como o Big Brother
Brasil. A autora encontrou cinco padrões diferentes para os 140 enunciados analisados,
sendo três deles classificados como padrões /+ interrogativos/ e dois como /-
interrogativos/, isto é, perguntas relativas, que necessitam de outros elementos da língua
para serem reconhecidas como interrogativas. Os padrões /+ interrogativos/ são os de IF
ascendente, IF com núcleo elevado (podendo ser de corpo plano ou corpo ascendente) e
IF ascendente-descendente. Os padrões /- interrogativos/ são os de IF ascendente e IF
plana. A autora sintetiza os padrões encontrados para a variedade paulista no quadro a
31
seguir (Tabela 1), e ressalta que “seis enunciados analisados (4,3%) não comportavam
características de nenhum dos padrões apresentados nesse trabalho, porém, sua análise
tampouco incorreu em um novo padrão” (p. 97).
Padrões Representação Enunciados %
/+I/
(1) IF
ascendente
(+20% ~
+30%)
35 25%
(2a) IF com
núcleo
elevado e
corpo plano
28 20%
(2b) IF com
núcleo
elevado e
corpo
ascendente
5 3,6%
(3) IF
ascendente-
descendente
15 10,7%
/-I/
(4) IF
descendente
(-20% ~ -
40%)
20 14,3%
32
(5) IF plana
(-15% ~
+15%)
31 22,1%
Tabela 1: Padrões entoacionais das interrogativas do português do estado de São Paulo
(adaptado de Mendes, 2013, p. 96)
No escopo da geolinguística, há trabalhos que trazem importantes contribuições
para o estudo da entoação das interrogativas no PB. São importantes referências os
trabalhos de Cunha (2000, 2006), utilizando o corpus de fala espontânea do projeto
Norma Urbana Culta (NURC) e um corpus de leitura complementar; e, posteriormente,
utilizando o corpus de fala semiespontânea do projeto Atlas Linguístico Brasileiro
(ALiB), coletado a partir de um questionário realizado em diversas cidades brasileiras.
A autora faz uma descrição geral dos diferentes padrões frasais do PB, incluindo todos
os tipos de sentença, e, assim como no presente trabalho, realiza uma comparação entre
fala espontânea e leitura. A autora encontra diferenças significativas nos movimentos
tonais que ocorrem no interior dos enunciados nas diferentes regiões do Brasil,
estabelecendo uma clara oposição entre as capitais do nordeste e as do sul. Além disso,
mostraram-se interessantes as diferenças observadas entre fala espontânea e leitura, em
especial no Rio de Janeiro: nessa cidade, a análise dos dados de FE teve resultados
similares àqueles obtidos para São Paulo, enquanto os dados de LE aproximaram-se
mais da fala das capitais nordestinas.
A tese de Lira (2009) também é uma importante referência no que diz respeito à
entoação regional do PB, e, em especial, das interrogativas. A autora faz uso de outro
corpus de fala semiespontânea, o do Projeto Internacional AMPER, e descreve o
33
comportamento da frequência fundamental em enunciados assertivos, questões parciais,
disjuntivas e totais em cinco localidades do nordeste brasileiro. Com relação às questões
totais nas cinco localidades estudadas (Recife, Fortaleza, Salvador, João Pessoa e São
Luís), a autora encontra algumas diferenças nos movimentos tonais da segunda parte do
enunciado (a partir do acento nuclear até o final do enunciado). Essas diferenças, no
entanto, não podem ser muito claramente atribuídas à variação regional, já que as
diferentes variações do padrão interrogativo total se alternam em uma mesma cidade.
As duas possibilidades de realização do contorno melódico final encontradas são (i)
sílaba tônica final alta seguida de postônica baixa e (ii) sílaba tônica baixa seguida de
postônica alta., sendo este último desdobrado em duas subvariações, que se apresentam
em proporções diferentes nas cidades estudadas: o início da subida final pode estar na
tônica (alinhado mais à esquerda) ou na postônica (alinhado mais à direita).
Tendo em vista o objeto de estudo desta pesquisa, dentre os trabalhos realizados
sobre a prosódia na perspectiva da variação regional, destaca-se o de Silva (2011), que
integra o projeto ALiB e descreve, a partir do corpus do referido projeto, a entoação das
interrogativas totais em 25 capitais brasileiras. A autora estabelece padrões específicos
para cada uma das capitais estudadas e traça uma linha imaginária que divide o mapa do
Brasil em duas grandes macrorregiões dialetais no que concerne à entoação das
interrogativas totais. Essa divisão corresponde em parte àquela estabelecida por Antenor
Nascentes no início do século XX, e consiste em dois grandes grupos de falares: a
região que engloba o norte e nordeste do país, caracterizada por um contorno de acento
nuclear ascendente, e a região que engloba o centro-oeste, sudeste e sul do Brasil, de
acento nuclear descendente e padrão circunflexo (cf. Figura 8).
34
■ Regiões norte e nordeste:
Acento nuclear ascendente
■ Regiões centro-oeste, sudeste e sul:
Acento nuclear descendente
Padrão ascendente Padrão circunflexo
L+H* ___L+!H*H L+!H*___L+H*L
Figura 8: Mapa de macrorregiões dos falares brasileiros por Silva (2011, p. 126)
No que se refere especificamente à fala do Rio de Janeiro, a autora encontrou a
seguinte configuração para as questões totais: pico inicial na primeira sílaba tônica
seguido de uma descida ao longo do enunciado e uma inflexão final circunflexa. Essa IF
é subdividida pela autora em dois tipos, podendo contar com um pico melódico
antecipado seguido de uma descida ou com um movimento de subida seguido de pico
melódico atrasado. Em ambos os casos, o que caracteriza o segundo pico (aquele
35
referente ao acento nuclear) é que este alcança valores de F0 mais altos do que os do
primeiro pico.
Os dois tipos de contornos encontrados para o dialeto carioca estão ilustrados
nas figuras 9 e 10, a seguir, que representam a curva melódica das sentenças “A pessoa
que tá internada vai sair hoje?” e “A minha alta vai ser hoje?”. Ambos os enunciados
possuem o pico inicial na primeira sílaba tônica e o pico da última sílaba tônica mais
proeminente que o primeiro. A diferença é que, na primeira frase, há um movimento de
subida com o pico melódico à direita dessa sílaba (pico atrasado), e na segunda o pico
ocorre no início da tônica, seguido por um movimento de descida.
Figura 9: Frase “A pessoa que tá internada vai sair hoje?” dita por informante jovem do
sexo masculino natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102)
36
Figura 10: Frase “A minha alta vai ser hoje?” dita por informante jovem do sexo feminino
natural do Rio de Janeiro (Silva, 2011, p. 102)
Podem-se citar ainda outros trabalhos que contribuem para uma visão geral
sobre o tema da prosódia das interrogativas. No português europeu, Mata (1992)
descreve três tipos de contornos (descendente, ascendente e estacionário), registrados
em proporções diferentes entre as interrogativas – estas se dividem em perguntas
globais, parciais, alternativas e confirmativas. O trabalho, que se dá no escopo da
Fonologia Prosódica, demonstra que há uma significativa variedade de contornos entre
as interrogativas. Há ainda trabalhos que tratam da prosódia (inclusive das
interrogativas) do ponto de vista da aprendizagem e transferência linguística em língua
estrangeira (Pinto, 2009) e do contato entre línguas (Santos, 2008).
No que se refere especificamente às interrogativas na fala espontânea do Rio de
Janeiro, encontramos apenas o trabalho resultante de pesquisa de iniciação científica de
Souza (1995), que utiliza o corpus do projeto NURC para analisar três tipos de
perguntas (totais, disjuntivas e parciais). Quanto às perguntas totais, os resultados
37
obtidos apontam diferenças em relação àquelas produzidas em contexto de leitura,
analisadas por Moraes (1984). O trabalho de Souza mostra que, no contexto de FE, as
interrogativas não seguem um padrão melódico tão regular quanto as produzidas em
contexto de LE, e dá margem a uma investigação mais aprofundada acerca de quais
seriam os fatores determinantes dessas diferenças.
38
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA
2.1. Pressupostos teóricos
A partir de enfoques teóricos como o da escola holandesa – a teoria conhecida
como IPO (sigla para Institute for Perception Research), apresentada em t’Hart, Collier
& Cohen (1990) –, desenvolveu-se toda uma linha de análise da entoação a partir de
uma perspectiva instrumental e perceptiva que visa à objetividade da descrição. De
acordo com a IPO, os contornos melódicos são idealizados como sequências de
movimentos de pitch e conexões entre segmentos pontuais na linha melódica. O modelo
assume que alguns movimentos de pitch são interpretados como relevantes pelo
ouvinte, e que tais movimentos são gerados por comandos discretos que o cérebro do
falante envia às cordas vocais e que, portanto, devem ser recuperáveis pelo ouvinte a
partir de eventos discretos no contorno melódico. Assim, de acordo com a teoria, a
variação que ocorre na linha melódica ao longo de um enunciado consiste basicamente
na diferença entre tons relativamente baixos e tons relativamente altos. Essa noção de
distinção básica entre tons altos e baixos é que sustenta o sistema binário de análise de
tons melódicos defendido por Pierrehumbert (1980) na Teoria Autossegmental.
O arcabouço teórico em que se constrói a IPO inspira um método cujos
pormenores procedimentais podem variar, mas que consiste essencialmente em aferir a
F0 do sinal acústico e reduzir a curva tonal resultante aos movimentos essenciais,
aqueles que dão origem a uma curva estilizada, que deve passar por testes de percepção
para que seja validada como um padrão fonológico de entoação.
39
O presente trabalho toma por base Método de Análise Melódica da Fala (MAS),
cujos procedimentos se enquadram nessa descrição geral, e serão abordados de forma
mais detalhada na seção 2.3. Essa metodologia de trabalho constitui-se a partir de
alguns pressupostos teóricos básicos que se aproximam da Teoria Autossegmental e
Métrica formalizada por Ladd (1996), na medida em que enxergam os sons da fala
como uma cadeia hierarquicamente organizada. O elemento central dessa hierarquia,
núcleo da fonação e do discurso, sempre é uma vogal, o único som cuja F0 é controlada
conscientemente pelo falante e ao redor do qual se organizam os demais sons da fala
(consoantes e glides). A vogal (tônica ou átona) é o núcleo da sílaba, a vogal tônica é o
núcleo da palavra e a vogal tônica em que se identifica a inflexão final é o núcleo do
enunciado, tendo papel definitivo na caracterização dos padrões melódicos.
A pressuposição dessas ideias acerca da hierarquia fônica fica clara na
metodologia empregada para análise dos dados no MAS, que se utiliza do conceito de
segmento tonal. Segmento tonal é cada valor de F0 considerado relevante para a
melodia. Uma vez que o som mais importante do discurso é sempre a vogal, núcleo de
cada unidade fônica (sílaba, grupo rítmico, grupo fônico), é evidente que o valor de F0
da vogal será mais relevante que o de qualquer outro som, como um glide ou consoante
sonora. Isso é ainda mais evidente no caso das vogais tônicas, que conservam sua
identidade tímbrica, enquanto as átonas são muitas vezes neutralizadas.
Assim, na análise melódica de um enunciado segundo o MAS, o que interessa
são os valores vocálicos, exclusivamente, cada um dos quais constitui um segmento
tonal da melodia. Somente em casos em que a duração da vogal é significativamente
maior, permitindo a percepção de um movimento de subida ou descida melódica que
também deve ser significativo, é que se considera que a vogal constitui não um, mas
dois segmentos tonais.
40
Outro pressuposto teórico que alicerça o método é a distinção fundamental entre
F0, melodia e entoação: a F0 é o parâmetro físico em que se baseia a percepção do tom,
e por tanto informa os variados fenômenos linguísticos como o acento e a entoação. A
sucessão de valores de F0 em um enunciado ou discurso constitui uma melodia na qual
devem estar incluídos os traços tonais que formam tanto o acento quanto a entoação. A
melodia, desse modo, não equivale diretamente à entoação: esta última é um fenômeno
linguístico, enquanto a primeira é um fenômeno físico – uma relação paralela àquela
existente entre fonema e fone: um é uma unidade abstrata e funcional, enquanto o outro
é uma unidade física. Assim, pode-se afirmar que a entoação é a interpretação
linguística na melodia. Em outras palavras, a análise da melodia é uma análise fonética,
enquanto a análise da entoação é uma análise fonológica. Embora a diferença entre
fonética e fonologia não resida na dicotomia da produção (e realização física da fala) e
percepção; no método, essa diferenciação acaba coincidindo com as duas etapas de
trabalho: a primeira, de análise acústica (física) dos enunciados e a segunda, de análise
da percepção dos ouvintes quanto aos enunciados estudados, que determina a relevância
fonológica das diferenças entre os contornos melódicos.
2.2. O corpus
As pesquisas na área da prosódia costumam enfrentar algumas dificuldades no
que concerne à coleta de dados, em especial quando se deseja analisar a fala espontânea.
Para que a análise acústica, feita através de software especializado, seja satisfatória, a
qualidade das gravações deve atender a um padrão técnico relativamente alto.
Infelizmente, a maior parte das gravações dos grandes corpora de fala disponíveis,
como as do projeto Norma Urbana Culta (NURC), apresenta ruídos e sobreposição de
41
falas que comprometeriam a análise, e, portanto, não pode ser aproveitada para esse tipo
de estudo.
Levando-se em conta o objetivo desta pesquisa específica, há outro problema
que impede o uso dos corpora de fala gerais: em geral, estes são compostos por
entrevistas entre informante e documentador, e dificilmente ocorrem interrogativas, e
ainda menos frequentemente interrogativas totais. Além disso, o objetivo de se
comparar fala espontânea (FE) com leitura (LE) exige que se disponha de duas amostras
similares – ou seja, cujos dados sejam estruturalmente idênticos – mas que difiram
quanto à modalidade de fala (FE e LE). Em virtude dessas particularidades, fez-se
necessária a coleta de uma nova amostra.
Para a obtenção das interrogativas na modalidade de fala espontânea, é preciso
que os informantes estejam inseridos em uma situação comunicativa particular que
favoreça o aparecimento de perguntas. Elaborou-se, para tanto, um jogo de adivinhação
em que os participantes interagem fazendo perguntas um ao outro, como explicaremos
com mais detalhes adiante. A ideia é inspirada na estratégia adotada por Pinto (2009),
de sugerir aos informantes um “jogo da verdade”. O método chamou atenção por se
tratar de uma situação lúdica, que propicia uma fala mais descontraída e menos
monitorada por parte dos informantes e ao mesmo tempo os impele a produzir o tipo de
enunciado desejado para a análise.
A proposta de um jogo permitiu a obtenção dos dados de fala espontânea. Para a
obtenção dos dados de leitura, adotou-se uma estratégia similar à de Serra (2009) em
estudo sobre o fraseamento prosódico na fala espontânea e na leitura do PB. A
pesquisadora preocupou-se em construir um corpus de LE com base no corpus de FE,
solicitando aos mesmos informantes que fizessem a leitura daqueles dados que
produziram espontaneamente. Assim, as amostras são comparáveis entre si, isto é,
42
elimina-se a possibilidade de outros fatores que não a modalidade (FE / LE)
influenciassem na prosódia das sentenças.
Foi construído, portanto, um corpus específico, constituído de um total de 256
enunciados. A amostra conta com dados de FE e LE com conteúdo estrutural idêntico e
informados pelos mesmos indivíduos: são, portanto, 128 interrogativas espontâneas e
128 enunciados lidos. As gravações foram realizadas por um gravador de alta
performance, modelo Sony PCM-D50 com capacidade de 96KHz/24bit, em uma sala
com isolamento acústico adequado.
2.2.1. Seleção dos informantes
A pesquisa contou com um total de oito informantes, todos jovens na faixa etária
de 20 e 25 anos, estudantes de diversos cursos de graduação da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Uma vez que o objeto de estudo é a fala carioca, todos os participantes
são nascidos e passaram a maior parte da vida na cidade do Rio de Janeiro. Embora não
haja, na literatura, indícios de que o grau de escolarização seja fator determinante para a
prosódia, eliminou-se a possibilidade de a diferença de grau de escolarização
estabelecer diferenças nos resultados, já que todos os indivíduos eram estudantes
universitários. Além da origem regional e da escolarização, controlou-se também o sexo
dos informantes: foram quatro participantes homens e quatro mulheres, a fim de
verificar diferenças no nível fonético entre os gêneros, uma vez que já se sabe que todos
os falantes de uma língua seguem os mesmos padrões fonológicos.
43
Todos os participantes da pesquisa preencheram uma ficha com suas
informações pessoais e assinaram um termo concordando com a utilização das
gravações para fins acadêmicos (cf. Anexo 1).
2.2.2. Gravação de fala espontânea
Para a gravação da amostra de fala espontânea, os informantes participaram de
um jogo de adivinhação em duplas, elaborado com a intenção de obter interrogativas
com a maior espontaneidade possível. Conforme já se observou na seção de introdução
deste trabalho, é fato que o grau de espontaneidade desse corpus não é tão alto quanto o
de uma conversação livre prototípica, mas a denominação “fala espontânea” é
empregada aqui devido ao fato de a amostra revelar um grau bastante razoável de
espontaneidade se comparada a corpora de fala semiespontânea como o do ALiB, bem
como em oposição à leitura.
Cada jogador escolheu livremente uma personagem (real ou fictícia), cuja
identidade deveria ser descoberta pelo outro participante. Foram oferecidos também
alguns perfis de personagens previamente descritos em forma de fichas de informações
pela pesquisadora.
Para descobrir quem é a personagem da vez, o jogador “B” deve fazer perguntas
ao jogador “A”, mas este último só pode responder “sim” ou “não” – ou ainda, em caso
de perguntas inesperadas, pode dizer que não sabe ou que aquela informação é
irrelevante. A título de ilustração, segue um diálogo hipotético em que Marilyn Monroe
é a personagem que “B” está tentando adivinhar.
B: Você é um homem?
44
A: Não.
B: Você é loira?
A: Sim.
B: Você tem irmãos?
A: Irrelevante.
B: Você é brasileira?
A: Não.
(E assim sucessivamente, até que “B” descubra quem é a personagem de “A”.)
Vale observar que nem todos os participantes dos jogos forneceram,
efetivamente, dados para a análise. Alguns colaboraram apenas respondendo às
perguntas do colega, ou seja, desempenhando papel do jogador “A” na situação acima.
2.2.3. Gravação de leitura
Para obtenção dos dados de leitura, primeiramente foi realizada a transcrição
grafemática dos diálogos obtidos com o jogo de adivinhação (cf. Anexo 2). Dias depois,
solicitou-se aos mesmos informantes que lessem as transcrições, reproduzindo as
mesmas sentenças que haviam dito espontaneamente. Dessa maneira, evitam-se as
interferências de fatores estruturais e das características idioletais nos resultados da
pesquisa no que se refere à comparação entre fala espontânea e leitura.
45
2.2.4. Seleção dos enunciados
A gravação do jogo de adivinhação resultou em um número bem maior de
enunciados do que aqueles que de fato passaram à fase de análise acústica
(aproximadamente 600, somando-se FE e LE). Muitos desses dados, porém,
apresentavam problemas que poderiam interferir na análise, como, por exemplo, falas
sobrepostas, ruídos diversos e, principalmente, risadas. Essas sentenças foram, portanto,
excluídas da análise, bem como aquelas em que havia muita hesitação, com prolongadas
pausas ao longo do enunciado. Nesses casos, em que o informante pensava muito para
formular uma pergunta, considerou-se que o enunciado não possuía o grau de fluidez
desejado, havendo rupturas na linha melódica que poderiam atrapalhar a análise. Na
figura 11, a seguir, está ilustrado um exemplo de dado excluído da análise devido à
hesitação do falante.
Figura 11: Forma de onda do enunciado “Você é de, sei lá, de uma história inventada?”,
excluída da análise devido à hesitação (FE)
46
2.3. Metodologia de análise
A metodologia empregada na análise dos dados baseia-se no Método de Análise
Melódica da Fala (MAS) desenvolvido pelos professores Francisco José Cantero e
Dolors Font-Rotchés, da Universidade de Barcelona e aplicado em diversos trabalhos
(CANTERO, 2002; FONT-ROTCHÉS, 2007; CANTERO & FONT- ROTCHÉS, 2009,
2013, entre outros).
O método permite analisar com bastante rigor os enunciados no nível acústico, e
utiliza-se dos testes de percepção para confirmar o estatuto fonológico dos padrões
melódicos. Oferece um critério de segmentação das melodias da fala exclusivamente
fônico, desenvolvido com o objetivo de analisar dados de fala espontânea, e apresenta
um sistema de processamento dos dados que permite obter valores acústicos relativos
em porcentagem para classificar, analisar e submeter os dados a experimentos com
síntese melódica, sendo ao mesmo tempo uma medida mais intuitiva que o semitom
musical.
O método, cujo protocolo está detalhadamente descrito em Cantero & Font-
Rotchés (2009), é dividido em duas fases: a fase acústica, que consiste na preparação e
análise acústica dos dados; e a fase perceptiva, em que os resultados obtidos na fase
acústica são validados a partir de testes de percepção com ouvintes-juízes nativos da
mesma variedade linguística estudada.
47
2.3.1. Fase acústica
Na fase acústica da análise, é feita, primeiramente, a preparação dos dados: os
enunciados a ser estudados são recortados, a partir das gravações originais, em
pequenos arquivos de áudio; e organizados em uma tabela em que constam o número do
dado, a transcrição do enunciado, iniciais e sexo do informante. A essa mesma tabela
foram acrescidas, mais tarde, as classificações quanto à inflexão final (cf. Tabela 2, p.
57).
Em seguida, para a análise propriamente dita, foi realizada a segmentação das
frases em sílabas e a medição da F0 das vogais de cada sílaba, isto é, aferição dos
valores absolutos em Hz de um ponto central da vogal. Naqueles casos em que, dentro
da mesma sílaba, havia um aumento ou diminuição de mais de 10% no valor de F0,
considerou-se a diferença como significativa e mediram-se dois pontos dentro da
mesma sílaba, de acordo com o protocolo estabelecido para o MAS. Nesses casos, a
sílaba em questão é representada, no gráfico, de forma “prolongada”, marcada com um
asterisco no segundo ponto de medição da F0, como se pode conferir na sílaba tônica de
“protagonista” no enunciado “Ele é o protagonista?”, representado no Gráfico 1.
Após a medição em Hz da F0 de um ponto central de cada sílaba, foi feita a
estandardização – construção de um gráfico a partir da distância tonal em porcentagens
entre uma vogal e a seguinte, começando pelo número arbitrário 100 (cf. Gráfico 1).
48
Gráfico 1: Curva estandardizada do enunciado “Ele é o protagonista” (LE)
Na linha dos valores de Hz, logo abaixo da transcrição do enunciado, temos os
valores absolutos de F0. Logo abaixo, na linha intitulada “Perc.”, estão os valores de
diferença percentual entre sílabas vizinhas. O ponto de partida é a sílaba inicial do
enunciado, para a qual é sempre atribuído o valor de 100%. Na segunda sílaba, a
porcentagem refere-se à diferença proporcional do valor de F0 em relação à primeira
sílaba (no caso do gráfico 2, esse valor é de zero por cento na sílaba “le é o” pois não há
diferença de F0 entre as duas primeiras sílabas). Na terceira sílaba, o valor em
porcentagem refere-se à diferença entre esta e a segunda sílaba, e assim por diante – o
cálculo é sempre feito com base na diferença entre o valor de F0 de uma sílaba e a
sílaba imediatamente anterior a ela. Assim, se o movimento entre uma sílaba e outra for
ascendente, o valor fica positivo; se for descendente, fica negativo.
Finalmente, na última linha (“C. Est.”), encontram-se os valores que servem de
base para a construção da curva estandardizada. A primeira sílaba do enunciado sempre
corresponde ao número 100, escolhido arbitrariamente e, a partir dele, são descritos os
movimentos de subida ou descida da curva: por exemplo, entre a segunda e a terceira
E le é o pro ta go nis nis* ta?
Hz 203 203 193 189 184 190 232 184
Perc. 100,0 0,0% -4,9% -2,1% -2,6% 3,3% 22,1%-20,7%
C. Est. 100 100 95 93 91 94 114 91
50
100
150
49
sílabas do enunciado “Ele é o / protagonista?”, houve um decréscimo de 4,9% no valor
de F0. O valor da curva, portanto, passa de 100 para 95, depois de 95 para 93, e assim
sucessivamente, permitindo gerar um gráfico padronizado.
O procedimento de estandardização é um ponto chave na metodologia: uma vez
que a utilização de medidas relativas é o que permite a comparação de dados de
diferentes informantes, independentemente do sexo, idade ou altura média da voz, além
de permitir a comparação de enunciados de durações distintas.
Esse passo se faz necessário porque a percepção da entoação se dá de maneira
proporcional, e não absoluta. Por exemplo, se um homem de voz grave fala na faixa dos
100 Hz e produz uma subida para 200 Hz, essa subida representa uma diferença de
100% na F0. No caso de uma mulher cuja voz esteja na faixa dos 200 Hz, seria
necessária uma subida para 400 Hz para resultar no mesmo efeito perceptivo, isto é, em
uma diferença tonal de 100% na linha melódica. Essa equivalência está ilustrada, a
seguir, a partir da reprodução da linha de pitch vista no programa Praat (Figuras 12 e
14) e da curva estandardizada (Figuras 13 e 15) de duas subidas melódicas: uma de 100
para 200 Hz e outra de 200 para 400 Hz. Embora a inclinação da linha de pitch seja
visivelmente maior na subida de 200 para 400 Hz, o gráfico estandardizado é idêntico
nos dois casos, mostrando que as duas subidas correspondem fonologicamente à mesma
entoação.
50
Figura 12: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 100 a 200 Hz)
Figura 13: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 100 a 200 Hz)
Figura 14: Imagem do Praat de curva de melodia sintetizada (subida de 200 a 400 Hz)
Figura 15: Curva estandardizada de melodia sintetizada (subida de 200 a 400 Hz)
51
2.3.1.1. Classificação dos enunciados de acordo com a inflexão final
Segundo a metodologia adotada, a sentença se divide em três partes, conforme
se observa na figura 16, abaixo: a anacruse, isto é, “sílaba ou conjunto de sílabas que
[...] precedem a sílaba forte que marca o acento métrico” (Dicionário Aulete Digital); o
primeiro pico, o corpo e a inflexão final, que corresponde ao acento nuclear do
enunciado.
É importante mencionar que nem todos os enunciados possuem anacruse e o
pico inicial. Nesses casos, o chamado “corpo” inclui desde a primeira sílaba até a sílaba
tônica final. A parte mais importante do contorno é justamente a sílaba tônica final
(núcleo) e aquelas que se seguem a ela; já que a direção da inflexão final e os valores
percentuais dos movimentos tonais associados a ela é que são os critérios básicos para
estabelecer os diferentes tipos de padrões melódicos.
Figura 16: Diagrama das três partes do contorno melódico segundo o MAS
Trabalhos anteriores que utilizam o MAS, como o já mencionado trabalho de
Cantero & Font-Rotchés (2013), apontam três padrões melódicos para as interrogativas,
os quais também foram encontrados por Mendes (2013) para o português São Paulo e
52
Araújo (2014) para Minas Gerais. Ocorre, ainda, um quarto padrão, característico de
assertivas e, portanto, de traço /-interrogativo/; mas que pode aparecer em perguntas
quando o contexto permite identificá-las, tornando o contorno melódico interrogativo
prescindível. Na análise acústica dos 256 dados desta pesquisa, foram encontrados
dados compatíveis com os quatro padrões previstos no método, e, portanto, os
enunciados analisados foram classificados de acordo com sua IF em três tipos:
i. Inflexão final ascendente-descendente
Neste tipo de contorno, também chamado de contorno final circunflexo, não há
necessariamente um primeiro pico, o corpo é plano ou levemente descendente. A iflexão
final começa na última sílaba tônica, o núcleo, e tem dois movimentos, um ascendente
e outro descendente (entre 15% e 75%), com retorno da curva para um ponto próximo
de onde começou (cf. Figura 17);
Figura 17: Modelo de inflexão final ascendente-descendente
53
ii. Inflexão final ascendente:
Este padrão caracteriza-se pela presença de um primeiro pico, corpo
ligeiramente descendente e inflexão final com subida entre 30% e 50%,
aproximadamente, podendo ser ainda maior nos casos em que há ênfase (cf. Figura 18).
Figura 18: Modelo de inflexão final ascendente
iii. Inflexão final de núcleo elevado (high nucleous):
Este contorno é caracterizado por uma anacruse opcional, com uma subida entre
30% e 40% até o primeiro pico, uma queda suave até a sílaba pré-tônica final e outra
subida, de amplitude bastante variável (entre 10% e 50%), até chegar ao núcleo na
última sílaba tônica. Em seguida, há uma descida até o ponto mais baixo da curva
melódica no final do enunciado, após o acento nuclear. A principal característica deste
contorno, e que o distingue da IF ascendente-descendente ou circunflexa é que, neste
caso, o pico melódico se encontra em um ponto elevado e a linha melódica tem direção
descendente. (cf. Figura 19).
54
Figura 19: Modelo de inflexão final de núcleo elevado (high nucleous)
iv. Inflexão final descendente:
O contorno descendente é típico das assertivas ou de perguntas parciais
(iniciadas por um pronome interrogativo), e por isso é caracterizado pelo traço /-
interrogativo/, ou seja, não imprime à frase o status pragmático de pergunta. Apesar
disso, alguns dados do corpus apresentaram esse tipo de IF, como veremos mais
adiante. Nos dados de Mendes (2013) e Araújo (2014), este contorno também aparece,
mas em pouquíssimos casos ele se refere a questões totais. Quando isso ocorre, as
autoras justificam a ocorrência dessa IF pelo contexto pragmático, em que ficava muito
claro que o enunciado só poderia ser uma pergunta.
Figura 20: Modelo de inflexão final descendente
55
2.3.2. Fase perceptiva
Após a análise acústica dos enunciados, deu-se início aos testes de percepção
para validar os resultados obtidos na primeira etapa da pesquisa. Para a realização
desses testes, foram produzidas cópias ressintetizadas dos enunciados utilizando o
método PSOLA (Pitch Sincronous OverLap Add), que elimina variações
micromelódicas dos enunciados.
De acordo com o procedimento padrão desse método, os valores de pitch de um
enunciado são apagados e substituídos por valores estandardizados, por meio da
manipulação da melodia original pelo programa Praat. Utilizando a função “To
Manipulation” do programa, edita-se a melodia do enunciado original (cf. Figuras 21a e
21b), removendo-se todos os pontos na curva de pitch que não aqueles pontos centrais
de cada sílaba, considerados para a formulação dos gráficos na fase de análise acústica.
Obtém-se, dessa maneira, uma melodia ressintetizada, que corresponde precisamente
aos gráficos elaborados para a classificação dos contornos a partir da estandardização
dos valores percentuais de variação de F0 (cf. Figuras 22a e 22b).
56
Figura 21a: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) – forma de
onda, espectrograma e curva de pitch
Figura 21b: Imagem do Praat do enunciado original “É de uma novela?” (FE) – forma de
onda e pontos de pitch para manipulação acústica
57
Figura 22a: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado / ressintetizado “É
de uma novela?” (FE) – forma de onda, espectrograma e curva de pitch
Figura 22b: Imagem do Praat do enunciado acusticamente manipulado / ressintetizado “É
de uma novela?” (FE) – forma de onda e pontos de pitch selecionados no centro de cada
sílaba
Dessa maneira é possível verificar se a análise melódica está correta e se reflete
a melodia original sem variações micromelódicas e com os valores normalizados. A
58
partir dessa padronização, podem-se distinguir os traços melódicos dos contornos, no
nível fonético, dos traços fonológicos, que permitem estabelecer diferenças modais
entre as sentenças, diferenciando, por exemplo, perguntas e declarativas. Os traços
fonológicos são /± interrogativo/, /± enfático/ e /± suspenso/. Outros trabalhos que
utilizaram o MAS mostraram que esses três traços, combinados, foram suficientes para
classificar todos os contornos de um corpus de 2500 enunciados do espanhol peninsular
produzidos por mais de 600 informantes (Ballesteros, 2011, Mateo, 2014) e 580
enunciados do catalão produzidos por 160 informantes (Font-Rotchés, 2007).
Participaram do teste de percepção seis indivíduos de ambos os sexos, todos
falantes nativos da variedade carioca do português brasileiro e que não haviam
participado de nenhuma das gravações. Um grupo de frases foi escutado pelos juízes,
que avaliaram se aqueles enunciados lhes pareciam como perguntas autênticas do
português (traço /± interrogativo/), se estavam terminados ou não (traço /± suspenso/) e
se eram exclamações ou não (traço /± enfático/). Ao classificar como interrogativos,
enfáticos ou suspensos enunciados acusticamente manipulados e com diferentes valores
de movimento de F0, os ouvintes determinaram onde se encontravam as mudanças
significativas nos traços melódicos. Os traços melódicos são, por sua vez, as
características dos elementos funcionais do contorno: a anacruse, o primeiro pico, o
corpo e a inflexão final. A descrição desses elementos, e especialmente da IF, permite
definir o contorno melódico e margens de dispersão, isto é, os valores mínimo e
máximo dos movimentos tonais referentes a cada padrão melódico.
Foram selecionadas, para o teste, 30 interrogativas totais, sendo 15 de FE e 15 de
LE, as quais foram aleatoriamente misturadas a outros enunciados retirados das próprias
gravações do corpus, que serviram de grupo controle. Foi tomado o cuidado de
selecionar apenas enunciados cujo conteúdo proposicional não permitisse a
59
identificação da modalidade da frase de forma descontextualizada. Ou seja, sem a
entoação ou a presença de sinais de pontuação, todos os enunciados poderiam ser
interpretados como perguntas, exclamações ou enunciados em suspenso (cf. exemplos 1
e 2).
(1) “ mas tem tanto rock brasileiro conhecido” (enunciado do grupo controle)
(2) “ele canta música sertaneja” (enunciado interrogativo)
Também foi observado o tipo de inflexão final e o percentual de subida no
acento nuclear: foram selecionadas 18 enunciados de IF ascendente-descendente, quatro
de IF ascendente, quatro de IF de núcleo elevado e quatro de IF descendente, com
diferentes graus de inclinação da curva no acento nuclear. Cada ouvinte escutou um
total de 40 enunciados, entre interrogativas e enunciados-controle, podendo ouvir cada
gravação até no máximo três vezes.
Para cada enunciado ouvido, os juízes eram questionados, a partir de um
formulário (cf. Anexo 3) quanto a dois dos traços fonológicos em questão, solicitando-
se que marcasse um “X” naquela opção que correspondesse, na sua opinião, ao
enunciado. Quando não soubesse responder, o ouvinte podia deixar em branco. Para as
perguntas de IF ascendente, eram colocadas as possibilidades de “pergunta” e
“enunciado incompleto”, a fim de averiguar as margens de dispersão entre enunciados
interrogativos e suspensos. Para os enunciados de IF ascendente-descendente e de
núcleo elevado, as possibilidades eram de pergunta ou exclamação; e para os
enunciados de IF descendente, pergunta ou enunciado neutro.
60
3. ANÁLISE DOS DADOS
Conforme foi esclarecido na seção 2.3, a análise dos dados se dividiu em duas
etapas: a análise acústica propriamente dita e a realização de testes de percepção. Neste
capítulo, apresentam-se os resultados de ambas as fases da pesquisa, para as
modalidades de fala espontânea e leitura.
3.1. Análise acústica
Todos os enunciados analisadas foram classificadas de acordo com os quatro
padrões de IF apresentados na seção 2.3.1.1. A relação completa de enunciados com
suas respectivas classificações está na Tabela 2, a seguir.
61
Dado # Transcrição do enunciado Inf. Sexo FE LE
001 Ele é o protagonista? T.S. F AD AD
002 Ele contracena com outro ator famoso? T.S. F AD AD
003 O ator é bonito? T.S. F AD AD
004 As mulheres acham ele bonito? T.S. F AD A
005 O ator é americano? T.S. F AD AD
006 Ele contracena com alguma criança? T.S. F AD AD
007 O personagem fica velho? T.S. F AD AD
008 O personagem é criança? T.S. F D AD
009 O ator tem cabelo loiro? T.S. F AD AD
010 Ah ele é um personagem tipo desenho? T.S. F AD AD
011 O personagem tem filho? T.S. F AD AD
012 O personagem é casado? T.S. F AD AD
013 O personagem morre no filme? T.S. F AD AD
014 O personagem se fantasia? T.S. F AD AD
015 Ele tem um cavalo? T.S. F AD AD
016 Ele usa terno? T.S. F AD AD
017 Eu já vi o filme? T.S. F AD N
018 Ele tem cabelo grande? T.S. F AD AD
019 O filme é americano? T.S. F AD AD
62
020 A roupa preta é um uniforme? T.S. F AD N
021 O personagem é um super-herói? T.S. F A A
022 O personagem é um conquistador? T.S. F A A
023 Ele envelhece no filme? T.S. F AD AD
024 Ele tem vida eterna? T.S. F AD N
025 Ele é um mágico? T.S. F AD A
026 Ele é um pirata? T.S. F AD N
027 É mulher? T.M. F A A
028 É homem? T.M. F D D
029 É famoso? T.M. F N AD
030 É real? T.M. F A A
031 É histórico? T.M. F AD AD
032 Faz fez parte da história? T.M. F AD AD
033 É um herói? T.M. F A A
034 É, é cabeludo? T.M. F AD AD
035 É político? T.M. F AD AD
036 Posso repetir pergunta? T.M. F AD AD
037 É desenho? T.M. F AD AD
038 É político? T.M. F AD AD
039 É importante? T.M. F AD AD
040 É cantor? T.M. F A A
041 Ele canta música sertaneja? T.M. F AD AD
042 Posso chutar? T.M. F A A
043 É homem? I.O. F AD N
044 É real? I.O. F A A
045 É um personagem? I.O. F AD N
63
046 De um livro? I.O. F AD AD
047 De um filme? I.O. F AD D
048 Quadrinho? I.O. F AD AD
049 Folclore? I.O. F AD AD
050 É criança? I.O. F AD AD
051 É de uma novela? I.O. F A AD
052 Tem a ver com a televisão? I.O. F A A
053 É antigo? I.O. F AD AD
054 Muito antigo? I.O. F AD AD
055 De desenho? I.O. F AD AD
056 É um homem normal? I.O. F AD AD
057 É sobrenatural o personagem? I.O. F D N
058 Tem poder? I.O. F A A
059 Seu personagem é real? P.B. F A A
060 Seu personagem é do sexo feminino? P.B. F AD AD
061 Ele participa de desenho animado? P.B. F AD AD
062 Esse desenho animado é antigo? P.B. F AD AD
063 Esse desenho animado passa na Globo? P.B. F AD AD
064 Esse personagem é um animal? P.B. F A A
065 Um desenho animado da televisão? P.B. F A A
066 É de gibi? P.B. F A A
067 É um personagem da literatura? P.B. F AD AD
068 É um personagem… folclórico? P.B. F AD AD
069 Tem direito a dica? P.B. F AD AD
070 Esse personagem é bem famoso? P.B. F AD AD
071 Mas esse personagem passa em algum P.B. F A N
64
programa de televisão?
072 Esse personagem é um super-herói? P.B. F A A
073 É um personagem de revista? P.B. F AD AD
074 É uma animação infantil? P.B. F AD A
075 Você é mulher? R.M. M A A
076 Você é homem? R.M. M AD AD
077 Você tem uma profissão? R.M. M AD AD
078 Eu posso desistir? R.M. M A A
079 O intérprete desse personagem é famoso? R.M. M AD AD
080 Isso se refere à família? R.M. M AD AD
081 Você é de desenho animado? C.F. M AD AD
082 Você é de filme? C.F. M AD N
083 Você é de série? C.F. M AD AD
084 Você é de videogame? C.F. M AD AD
085 Você é de livro? C.F. M AD AD
086 Você é de novela? C.F. M AD AD
087 Você é da história? C.F. M AD AD
088 Você é de uma história real então? C.F. M D A
089 Você nasceu na Idade Média? C.F. M AD AD
090 Idade Moderna? C.F. M D AD
091 E você tava na Revolução Industrial? C.F. M AD AD
092 Você tava na Revolução Francesa? C.F. M AD AD
093 Você tava… na Independência? C.F. M AD AD
094 Você tava na Independência do Brasil? C.F. M D AD
095 Você é um filósofo? C.F. M AD AD
096 Você pensou a sociedade de alguma C.F. M D AD
65
maneira?
097 É um personagem? G.G. M AD AD
098 É um personagem real? G.G. M N D
099 É um personagem brasileiro? G.G. M AD AD
100 Americano? G.G. M AD AD
101 Europeu? G.G. M A N
102 Asiático? G.G. M AD N
103 Da selva? G.G. M AD AD
104 É um personagem de filme? G.G. M AD AD
105 Da literatura? G.G. M AD N
106 Do teatro? G.G. M AD AD
107 É um personagem real? G.G. M A A
108 É um personagem real que foi ficcionalizado
em alguma manifestação artística?
G.G. M N N
109 Esse personagem virou por exemplo
personagem de um filme?
G.G. M AD AD
110 É um político? G.G. M AD N
111 É um artista? G.G. M AD N
112 É um personagem fictício? G.G. M AD AD
113 É homem? T.A. M AD AD
114 É um personagem histórico? T.A. M AD AD
115 É de ficção? T.A. M A A
116 Em termos de aparência física tem é, é
negro?
T.A. M AD N
117 É branco? T.A. M AD N
118 É loiro? T.A. M AD AD
119 Não tem cabelo? T.A. M D AD
66
120 Tem cabelo? T.A. M AD AD
121 De alguma forma marcou a história do país? T.A. M D D
122 Do país? T.A. M A A
123 Do nosso país? T.A. M D D
124 Tem cabelo… cabelo preto? T.A. M AD AD
125 É algum personagem assim tipo
revolucionário?
T.A. M N AD
126 Fez algum feito revolucionário? T.A. M AD AD
127 Foi presidente? T.A. M N AD
128 Tá ligado à política? T.A. M AD N
Tabela 2: Relação dos enunciados analisadas
Conforme se pode observar na tabela 3 abaixo, o contorno de inflexão final
ascendente-descendente foi claramente predominante, correspondendo a 70,3% dos
dados de fala espontânea e 63,3% dos dados de leitura. O padrão de IF ascendente foi
encontrado em 18% dos dados de FE e 18,8% dos dados de LE, e o de IF de núcleo
elevado em 3,9% dos dados de FE e 14% dos dados de LE. Já o padrão descendente,
típico das assertivas, foi encontrado em 7,8% dos dados de FE e 3,9% dos de LE. Ao
contrário do que se esperava, houve maior discrepância do padrão na modalidade de LE,
embora a regularidade tenha sido grande em ambos os corpora.
67
Inflexão Final Fala espontânea Leitura
/+ int./
Ascendente-
Descendente
n 90 81
% 70,3% 63,3%
Ascendente
n 23 24
% 18,0% 18,8%
Núcleo Elevado
n 5 18
% 3,9% 14,0%
/- int./ Descendente
n 10 5
% 7,8% 3,9%
Tabela 3: Resultado da análise acústica – classificação dos enunciados de FE e LE de
acordo com a inflexão final
No gráfico 2, a seguir, é possível visualizar a proporção em que cada um dos
contornos aparece no corpus como um todo (incluindo os dados de FE e LE). As barras
estão divididas em blocos que representam cada um dos quatro tipos de inflexão final
encontrados nos dados, sendo as barras de cor azul referentes aos dados de fala
espontânea e as de cor vermelha referentes aos dados de leitura.
Legenda:
n = número de enunciados
68
Gráfico 2: Classificação dos dados de fala espontânea e leitura
Apenas dois dados chamaram especialmente a atenção por apresentarem grande
variação na curva de F0 ao longo do corpo do enunciado. Esses dois enunciados,
ilustradas nos gráficos 3 e 4, não foram, no entanto, consideradas fora dos padrões
estipulados. Apesar de seus gráficos serem visualmente discrepantes dos demais, ainda
preservam a característica fundamental do contorno ascendente-descendente (no caso do
enunciado no gráfico 3), que é o retorno, após o pico melódico alinhado à direita da
última tônica, da linha de F0 a um ponto próximo daquele do início da frase; e do
contorno ascendente (no enunciado do gráfico 4), que é a presença de um primeiro pico
e subida final com valor próximo a 30%.
90
23
5 10
81
24 18
5
Asc-Desc Asc N Elev Desc
FE
LE
69
Gráfico 3: Enunciado “Ele envelhece no filme?” (FE)
Gráfico 4: Enunciado “As mulheres acham ele bonito?” (LE)
Em ambos os casos, a peculiaridade dos contornos parece se dever à ênfase dada
às palavras “envelhece”, no primeiro caso, e “acham”, no segundo. Essa ênfase, no
entanto, não alterou o reconhecimento das sentenças como pertencentes ao padrão
fonológico das interrogativas, como foi verificado mais tarde com o teste de percepção.
Eleen
ve lhelhe*
ce no fil fil*me?
Hz 198 226 277 213 264 173 241 198 232 172
Perc. 100, 14,1 22,6 -23, 23,9 -34, 39,3 -17, 17,2 -25,
C. Est. 100 114 140 108 133 87 122 100 117 87
50
100
150
As mu lhe res a a*cham
e(le)
bo nini*(to)?
Hz 183 185 196 206 186 236 206 173 181 195 232
Perc. 100,1,1%5,9%5,1% -9,7 26,9 -12, -16,4,6%7,7%19,0
C. Est. 100 101 107 113 102 129 113 95 99 107 127
50
100
150
70
3.1.1. Resultados referentes à fala espontânea
Nos dados de fala espontânea, os enunciados classificados como IF ascendente-
descendente representaram a grande maioria: 70,3% (total de 90 ocorrências). Em
segundo lugar, estão os de IF ascendente, que correspondem a 18% dos dados (23
ocorrências); seguidas pelos de contorno /-interrogativo/, isto é, IF descendente, que
representaram 7,8% dos dados (dez ocorrências). Os enunciados de IF de núcleo
elevado corresponderam a apenas 3,9% dos dados (cinco ocorrências).
Aferiu-se ainda a média da subida melódica da tônica final em relação à sílaba
imediatamente anterior, por ser um evento fonético muito relevante no enunciado,
relacionado ao acento nuclear. Considerou-se, para isso, a medida percentual
(apresentada na segunda linha dos gráficos) correspondente à sílaba tônica final, e fez-
se uma média aritmética simples desses valores em todos os enunciados. Nos dados de
FE, essa subida foi de, em média, 24%. Nas informantes mulheres, a média foi de 27%,
enquanto nos homens foi de 21%.
Os gráficos de 5 a 8, a seguir, exemplificam cada um dos contornos encontrados no
corpus de fala espontânea.
71
Gráfico 5: Enunciado “Tem direito a dica?” (FE) – IF ascendente-descendente
Gráfico 6: Enunciado “É de uma novela?” (FE) – IF ascendente
Tem di rei to a di di* ca?
Hz 215 212 212 204 198 222 268 213
Perc. 100,0 -1,4% 0,0% -3,8% -2,9% 12,1%20,7% -20,5
C. Est. 100 99 99 95 92 103 125 99
50
100
150
É de u ma no ve ve* la?
Hz 193 193 190 188 201 246 284
Perc. 100,0 0,0% -1,6% -1,1% 6,9% 22,4% 15,4%
C. Est. 100 100 98 97 104 127 147
50
100
150
72
Gráfico 7: Enunciado “É famoso?” (FE) – IF de núcleo elevado
Gráfico 8: Enunciado “Idade Moderna?” (FE) – IF descendente
É fa mo so?
Hz 184 196 221 190
Perc. 100,0% 6,5% 12,8% -14,0%
C. Est. 100 107 120 103
50
100
150
I da de Mo der na?
Hz 132 137 130 137 132 118
Perc. 100,0% 3,8% -5,1% 5,4% -3,6% -10,6%
C. Est. 100 104 98 104 100 89
50
100
150
73
3.1.2. Resultados referentes à leitura
Os enunciados de IF ascendente-descendente também foram maioria nos dados
de leitura, embora com uma representatividade um pouco menor do que no caso da fala
espontânea: foram 63,3% dos dados, totalizando 81 enunciados. Os enunciados de IF
ascendente, por sua vez, foram encontrados em número praticamente igual nas duas
modalidades: na LE representaram 18,8% dos dados ou 24 enunciados, contra os 18%
(23 dados) da FE. Nos dados de leitura, porém, o contorno de IF de núcleo elevado foi
encontrado em maior proporção, correspondendo a 14% dos dados (18 ocorrências). Já
o contorno de IF descendente e traço /-interrogativo/, mais recorrente na FE,
representou na LE apenas 3,9% dos dados (cinco ocorrências).
Nos dados de LE, a média de subida da tônica final em relação à sílaba anterior foi
de 29%, sendo 32% entre as mulheres e 26% entre os homens. A diferença não é tão
grande em relação aos dados de FE (24%), mas já revela uma subida melódica típica do
padrão interrogativo mais saliente na leitura.
Nos gráficos 9 a 12, abaixo, estão ilustrados com exemplos retirados do corpus de
leitura os quatro tipos de contornos.
74
Gráfico 9: Enunciado “Você é de desenho animado?” (LE) – IF ascendente-
descendente
Gráfico 10: Enunciado “Ele é um mágico?” (LE) – IF ascendente
Vo cê é de de senho a
ni mama*
do?
Hz 158 174 168 166 143 129 130 128 143 170 147
Perc. 100 10, -3, -1, -13 -9, 0,8 -1, 11, 18, -13
C. Est. 100 110 106 105 91 82 82 81 91 108 93
50
100
150
E (le) é um má má* gi(co)?
Hz 195 191 189 182 224 268
Perc. 100,0% -2,1% -1,0% -3,7% 23,1% 19,6%
C. Est. 100 98 97 93 115 137
50
100
150
75
Gráfico 11: “Ele tem vida eterna?” (LE) – IF de núcleo elevado
Gráfico 12: Enunciado “Uma personagem real?” (LE) – IF descendente
E le tem vi da e ter ter* na?
Hz 204 205 212 195 194 217 178 163
Perc. 100,0 0,5% 3,4% -8,0% -0,5% 11,9% -18,0 -8,4%
C. Est. 100 100 104 96 95 106 87 80
50
100
150
U ma per so na gem re al?
Hz 144 144 147 143 143 142 144 127
Perc. 100,0 0,0% 2,1% -2,7% 0,0% -0,7% 1,4% -11,8
C. Est. 100 100 102 99 99 99 100 88
50
100
150
76
3.2. Testes de percepção
As respostas fornecidas pelos ouvintes que participaram dos testes de percepção
foram contabilizadas nas tabelas 4, 5 e 6 abaixo, em que está relacionado também o
percentual de subida (ou descida) do acento nuclear na cópia ressintetizada de cada
enunciado.
Nos enunciados de IF ascendente, o reconhecimento do traço /+interrogativo/ foi
categórico nos dados cujo percentual de subida no acento nuclear era maior que 30%.
Nos dados em que o ascenso era menos evidente, houve maior dúvida da parte dos
juízes, que reconheceram o padrão de pergunta em metade dos casos (cf. Tabela 4).
77
Enunciado Inf. Sexo IF Mod. % subida ? ...
as mulheres acham ele bonito T.S. F A LE 19% 3 3
um desenho animado da
televisão
P.B. F A LE 24% 3 2
posso chutar T.M. F A LE 32% 6 0
europeu G.G. M A FE 38% 6 0
eu posso desistir R.M. M A FE 40% 6 0
Tabela 4: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendente
Nos enunciados de contorno circunflexo, isto é, de IF ascendente-descendente
ou de núcleo elevado, o reconhecimento das perguntas foi ainda maior. Apenas alguns
poucos dados que possuíam um ascenso muito baixo (menor que 20%) não foram
reconhecidos por todos os juízes, sendo confundido algumas vezes com o padrão
enfático (cf. Tabela 5).
Legenda referente às tabelas 4, 5 e 6:
Mod. = modalidade (FE ou LE)
“?” = número de juízes que marcaram a opção “Isto é uma pergunta.”
“...” = número de juízes que marcaram a opção “Esta frase está inacabada.”
“!” = número de juízes que marcaram a opção “Isto é uma exclamação.”
“Ø” = número de juízes que marcaram a opção “Isto é uma declaração neutra.”
78
Enunciado Inf. Sexo IF Mod. % subida ? !
é histórico T.M. F AD FE 16% 5 1
é político T.M. F AD FE 18% 6 0
é branco T.A. M AD FE 18% 5 1
o ator é bonito T.S. F AD LE 20% 6 0
é desenho T.M. F AD FE 20% 6 0
é uma animação infantil P.B. F AD FE 20% 6 0
tem direito a dica P.B. F AD LE 21% 6 0
ele canta música sertaneja T.M. F AD FE 22% 6 0
ele é o protagonista T.S. F AD LE 23% 6 0
é um personagem de filme G.G. M AD FE 24% 6 0
o ator é americano T.S. F AD LE 25% 6 0
americano G.G. M AD LE 25% 6 0
da selva G.G. M AD FE 27% 6 0
da literatura G.G. M N LE 27% 6 0
é criança I.O. F AD LE 28% 6 0
é um personagem real G.G. M N FE 29% 6 0
folclore I.O. F AD LE 30% 6 0
foi presidente T.A. M N FE 33% 6 0
quadrinho I.O. F AD FE 35% 6 0
é um artista G.G. M N LE 40% 6 0
isso se refere à família R.M. M AD LE 43% 6 0
Tabela 5: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF ascendente-descendente
e de núcleo elevado
79
Nos enunciados de IF descendente, que fogem ao padrão interrogativo, a identificação
dos dados como perguntas não foi tão alta: os juízes ficaram bastante divididos entre os
padrões interrogativo e neutro, havendo ainda algumas abstenções. Vale observar que o
descenso, nos dados manipulados, era bem sutil, chegando a um máximo de 4% (cf.
Tabela 6).
Enunciado Inf. Sexo IF Mod. % descida ? Ø
o personagem é criança T.S. F D FE 2% 4 2
Idade Moderna C.F. M D FE 4% 2 4
de alguma forma marcou a
história do país
T.A. M D LE 1% 3 2
do nosso país T.A. M D LE 2% 2 2
Tabela 6: Resultado do teste de percepção para enunciados de IF descendente
Além das cópias ressintetizadas de perguntas genuínas, foram incluídas no teste
algumas cópias de outras frases, retiradas da própria gravação dos jogos de adivinhação,
que funcionaram como grupo controle. Esses enunciados foram manipulados
acusticamente para se enquadrar nos padrões prototípicos de sentenças enfáticas,
suspensas ou afirmações neutras, e tiveram 100% de reconhecimento do padrão
esperado.
80
Enunciado Inf. Sexo
mas tem tanto rock brasileiro conhecido T.A. F
é irrelevante T.S. F
e usa um capacete T.S. F
você é um líder C.F. M
não é Dom Pedro I C.F. M
ela mora com o pai G.G. M
a mãe dela não existe G.G. M
tem mais de quinze P.B. F
alguma coisa diferente I.O. F
o meu é mais difícil I.O. F
Tabela 7: Relação de enunciados utilizados como grupo controle
81
4. DISCUSSÃO
A partir dos resultados apresentados no capítulo anterior, discutiremos aqui o
que os dados indicam sobre os padrões melódicos das interrogativas totais na fala do
Rio de Janeiro.
4.1. O predomínio da IF circunflexa e a maior nitidez de padrões na leitura
A curva de inflexão final circunflexa, isto é, que conta com uma subida e uma
descida da F0 no final do enunciado, engloba os padrões aqui referidos como de IF
ascendente-descendente e de IF de núcleo elevado. Na metodologia adotada, esses dois
padrões são separados por poderem apresentar diferença fonológica em algumas línguas
ou variedades, como no espanhol peninsular estudado por Cantero & Font-Rotchés
(2008). Dessa forma, a observarção dos resultados, em termos quantitativos, para FE e
LE (cf. Tabela 3, p. 63 e Gráfico 2, p. 64), sugere que a fala espontânea apresenta maior
regularidade, uma vez que há menos ocorrências de padrões alternativos ao de IF
ascendente-descendente.
No corpus aqui estudado, no entanto, as diferenças entre esses dois tipos de
contornos parece estar apenas no nível fonético, como foi demonstrado a partir do teste
de percepção: ambos os padrões foram igualmente reconhecidos como possuidores de
traço /+ interrogativo/. Assim, ainda que tenham sido classificados sob rótulos
diferentes, os enunciados de IF ascendente-descendente e de núcleo elevado compõem
um mesmo grupo de contornos de IF circunflexa.
82
Apesar disso, não se pode ignorar que houve um número maior de ocorrências
de IF de núcleo elevado na leitura (18 dados contra apenas cinco na FE). Como, ao que
parece, esse tipo de contorno não se diferencia do ascendente-descendente em termos
fonológicos, pode-se dizer que uma sutil tendência a um alinhamento mais atrasado do
acento na última tônica das interrogativas totais é uma das características que diferencia
a LE da FE no corpus estudado.
É preciso observar também que a quase totalidade dos dados classificados como
sendo de IF ascendente se referem a frases terminadas em palavras oxítonas, quando
não há mais conteúdo segmental após a última sílaba tônica para que ocorra a queda na
linha de F0. Apenas três ocorrências fogem a essa regra: os enunciados “As mulheres
acham ele bonito?” e “Ele é um mágico?” lidos e o enunciado “É de uma novela?” dito
espontaneamente. Dessa forma, percebe-se que, no corpus estudado, o contorno de
inflexão circunflexa é maioria absoluta, sendo encontrado em quase todos os dados de
contorno /+interrogativo/ que possuem uma ou mais sílabas pós-tônicas finais. É fato
que alguns enunciados, independentemente da tonicidade da última palavra que os
compõe, apresentaram contorno descendente (total de dez dados na FE e cinco na LE).
Esses enunciados, no entanto, não foram amplamente reconhecidos como perguntas nos
testes de percepção, o que confirma o caráter /- interrogativo/ do contorno descendente,
e nos leva a analisar estes casos de maneira diferenciada, como se discutirá adiante, na
seção 4.2.
Também é notável que, embora o padrão circunflexo seja majoritário em ambas
as amostras, a média da subida no acento nuclear, mais alta nos dados de LE (29%) do
que nos de FE (24%), nos mostra que há, na leitura, uma tendência à realização mais
nítida dos padrões interrogativos. Corrobora para essa afirmação o fato de que, no caso
do contorno de IF ascendente-descendente, em que o primeiro pico não está
83
necessariamente presente, ele aparece com maior frequência nos dados de LE do que
nos de FE. Nos gráficos abaixo temos este fato exemplificado na comparação entre os
enunciados “Ele usa terno?” proferidos nas duas modalidades: na FE (Gráfico 13), não
há subida de F0 na primeira sílaba tônica e a subida no acento nuclear é mais sutil,
enquanto na LE (Gráfico 14) o primeiro pico aparece, além de o acento nuclear ser bem
mais saliente.
Gráfico 13: Enunciado “Ele usa terno?” (FE)
E le u sa ter ter* no?
Hz 211 205 197 211 248 195
Perc. 100,0% -2,8% -3,9% 7,1% 17,5% -21,4%
C. Est. 100 97 93 100 118 92
50
100
150
E le u sa ter ter* no?
Hz 211 230 201 195 284 182
Perc. 100,0% 9,0% -12,6% -3,0% 45,6% -35,9%
C. Est. 100 109 95 92 135 86
50
100
150
84
Gráfico 14: Enunciado “Ele usa terno?” (LE)
A observação das curvas de pitch e dos gráficos estandardizados dos enunciados
de FE e LE revela que, por vezes, há uma diferença na configuração interna dos
contornos. Nos dados de FE, especialmente em enunciados mais longos, há menor
variação da F0 no nível micromelódico: a leitura conta com mais oscilações, de maneira
que a curva faz pequenos movimentos de subida e descida ao longo do enunciado. Esses
movimentos, no entanto, são sutis, e não interferem nos acentos pré-nuclear e nuclear.
Nas figuras 23 e 24 é possível observar essa diferença na modulação da voz, que oscila
de forma um pouco mais visível na leitura.
Figura 23: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo,
personagem de um filme?” (FE)
85
Figura 24: Curva de pitch do enunciado “Esse personagem virou, por exemplo,
personagem de um filme?” (LE)
Uma possível explicação para essa tendência é o fato de que os enunciados de
LE são, no geral, mais longos que na FE, dando ao falante mais tempo para articular os
sons e produzir tais oscilações melódicas. Aferindo-se a medida da druação total de
cada enunciado e fazendo, em seguida, uma média aritmética simples, obteve-se uma
média de duração dos dados de FE de 665 ms, enquanto para LE foi de 1025 ms. Isso
significa que os enunciados lidos são, em média, 54% mais longos do que aqueles ditos
espontaneamente.
Com relação às diferenças entre os dados produzidos entre informantes homens
e mulheres, é preciso observar o seguinte: sabe-se que a língua falada por homens e
mulheres é a mesma, e, portanto, falantes de ambos os sexos compartilham dos mesmos
padrões fonológicos para os diferentes tipos de frases. Apesar disso, foi feita uma
análise, em separado, dos dados produzidos por homens e mulheres, na intenção de
86
observar possíveis diferenças no nível fonético. Conforme já se esperava, não houve
diferença expressiva entre os sexos: as mulheres produziram, na média, subidas na
última tônica um pouco mais salientes que os homens, como se pode conferir na tabela
8, abaixo. Essa diferença, no entanto, não parece relevante do ponto de vista fonológico,
já que tanto mulheres quanto homens produziram enunciados com inflexões finais
dentro das margens de dispersão estabelecidas para cada padrão.
Média Homens Média Mulheres Média Geral
Fala Espontânea 21% 27% 24%
Leitura 26% 32% 29%
23,5% 29,5% 26,5%
Tabela 8: Média de subida da F0 na vogal tônica final por modalidade de fala e sexo do
informante
Além disso, uma comparação entre os padrões descritos pela literatura para as
diversas expressões de atitudes e emoções, somada a uma análise holística dos dados,
possibilita atribuir a pequena diferença entre os dados produzidos por homens e
mulheres a questões outras que não o sexo dos informantes em si. A maior variação da
F0 entre as informantes do sexo feminino parece se dever a características individuais
dos informantes desta pesquisa: as mulheres que participaram do jogo tiveram, em
geral, uma postura muito mais expansiva do que os homens, sendo responsáveis pela
maioria dos enunciados com expressão de atitudes como interesse ou empolgação. Os
homens, por sua vez, foram responsáveis pela maioria dos enunciados de contorno /-
interrogativo/: dos 15 enunciados de IF descendente encontrados no corpus, dez foram
produzidos por homens (sete em FE e três em LE). Essa questão, porém, está
relacionada a características de personalidade dos informantes e, consequentemente, à
87
expressão de atitudes e emoções, e não ao sexo propriamente dito do indivíduo. A
diferença encontrada entre os dados de informantes homens e mulheres, dessa forma,
não permite afirmar que haja distinção entre os padrões produzidos pelos dois sexos
para as interrogativas totais no português; mas colabora para a discussão acerca da
influência de atitudes e emoções nesses contornos, como se verá na seção 4.2, a seguir.
4.2. A influência da expressão de atitudes
Moraes (2006, 2008) já demonstrou a importância da expressão de atitudes na
prosódia das interrogativas do português em experimentos com fala controlada,
mostrando que o contorno da sentença pode ser totalmente alterado a depender da
intenção comunicativa do falante: uma pergunta retórica, por exemplo, tem
configuração descendente, similar à das assertivas.
Antunes (2007) também estuda a expressão de atitudes em perguntas no
português, com um corpus de gravações de televisão do dialeto de Belo Horizonte, e
divide as questões totais em três grupos: perguntas retóricas, pedidos de confirmação e
questões totais propriamente ditas ou verdadeiras. Dentro dessas categorias, a autora
identifica valores diferenciados para o movimento da linha de F0 de acordo com
expressão de atitudes, distinguindo perguntas neutras, com interesse, dúvida, crítica,
indutiva, com provocação e com incredulidade.
A observação do contexto pragmático de produção dos enunciados que fogem ao
padrão ascendente-descendente no corpus aqui estudado leva a crer que o principal fator
88
determinante dessa diferenciação é justamente a expressão de atitudes, que, já se sabe,
pode influenciar totalmente a prosódia de uma sentença.
Fónagy (1993) apresenta crítica a uma metodologia de coleta de dados similar à
nossa – a do jogo da verdade – por resultar em muitos dados de perguntas do tipo
“questionário”. Ao fazer muitas perguntas repetidas, o caráter interrogativo dos
enunciados poderia ficar subentendido na própria situação, levando o inquiridor a
pronunciá-los de forma mais “desleixada”, isto é, sem se preocupar em dar à pergunta a
entoação que seria necessária, em outro contexto comunicativo, ao entendimento por
parte do interlocutor de que aquele enunciado se trata de uma interrogativa.
Embora a situação do jogo tenha permitido obter bastantes interrogativas
espontâneas, constatou-se que os falantes acabavam, em alguns momentos, produzindo
padrões melódicos que se afastavam daqueles de traço /+ interrogativo/. Observando o
contexto de produção desses enunciados, percebeu-se que os enunciados estavam,
geralmente, inseridos em contextos pragmáticos específicos que favoreciam o
entendimento do caráter interrogativo da sentença independentemente de sua entoação,
como, por exemplo, no enunciado “Você pensou a sociedade de alguma maneira?”.
A maioria dos enunciados classificados como sendo de IF descendente – em
outras palavras, cujo contorno melódico possui traço /- interrogativo/ – possuía
respostas óbvias, aproximando-se das perguntas confirmativas descritas pela literatura.
Essas perguntas ocorrem, geralmente, quando o participante já tem quase certeza de
quem é a personagem, ou quando já deduziu a resposta a partir da exclusão prévia de
outras possibilidades. Por exemplo, se ele já perguntou “Você é mulher?” e a resposta
foi “não”, sabe que a resposta para a pergunta “Você é homem?” muito provavelmente
será “sim”. Esse é o caso, por exemplo, do enunciado representada no gráfico 12 (p. 71)
89
– “Uma personagem real?” – já que, tendo excluído anteriormente a possibilidade de a
personagem ser fictícia, a resposta para essa pergunta era bastante previsível. Outro
exemplo está no gráfico 15, abaixo, em que o jogador, após perguntar se a personagem
“marcou a história do país”, receia não ter sido claro quanto ao país a que se referia, e
pergunta, a título de confirmação: “Do nosso país?”.
Gráfico 15: Enunciado “Do nosso país?” (FE)
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, buscou-se descrever a prosódia das interrogativas totais na
variedade carioca do português brasileiro, fazendo ainda uma distinção entre as
modalidades de fala espontânea e leitura e verificando a relevância fonológica das
diferenças observadas entre os padrões encontrados. Tenciona-se, assim, contribuir para
uma descrição acústica acurada do PB, que se acredita ser necessária para a aplicação
dos conhecimentos linguísticos – e, mais especificamente, prosódicos – em áreas
diversas, como o ensino de línguas, a terapia fonoaudiológica e o desenvolvimento de
tecnologia de fala.
Do nos so pa ís?
Hz 103 115 115 113 100
Perc. 100,0% 11,7% 0,0% -1,7% -11,5%
C. Est. 100 112 112 110 97
50
100
150
90
Os resultados da pesquisa mostram que, nos dados estudados, há prevalência de
um contorno de final circunflexo para as interrogativas no Rio de Janeiro. O trabalho
corrobora, assim, os padrões obtidos por Silva (2011), com dados de fala
semiespontânea, para as cidades Rio de Janeiro e Florianópolis, diferindo dos padrões
encontrados por essa autora para outras capitais brasileiras.
A comparação com os trabalhos dos autores responsáveis pelo desenvolvimento
do MAS, Cantero & Font-Rotchés (2007, 2013), bem como com o trabalho de Mendes
(2013) para o português do estado de São Paulo, revela uma diferença significativa: os
autores defendem a prevalência do contorno de IF ascendente, enquanto nesta pesquisa
encontrou-se prevalência do contorno de IF circunflexo. Essa diferença, no entanto,
pode ser devida à diferença no grau de espontaneidade das amostras utilizadas em cada
um dos estudos. Conforme já foi observado, o corpus utilizado neste trabalho, embora
receba a denominação de fala espontânea, refere-se a uma situação de fala bastante
diferente dos programas de televisão utilizados por Cantero & Font e Mendes.
É possível, portanto, pensar que a diferença na prevalência de um ou outro
padrão deve-se ao estilo e grau de espontaneidade / monitoramento de fala; mas que os
padrões encontrados para as interrogativas são, no geral, similares nos trabalhos sobre o
português. É interessante também ressaltar que padrões similares são encontrados no
espanhol e catalão, porém com valores diferentes para as margens de dispersão. Isso
significa que os padrões apresentam configuração semelhantes, mas com valores
diferentes de movimentos tonais. Para que um falante do espanhol compreenda, por
exemplo, um enunciado de IF ascendente como uma pergunta, é necessário que esta
apresente um ascenso final de mais de 70%. Uma subida tão acentuada seria,
provavelmente, interpretada por um falante do português brasileiro como pertencente a
91
um enunciado enfático, uma vez que o padrão de IF ascendente, no PB, conta com um
ascenso final entre 30% e 50%.
Com relação aos estudos feitos com dados de fala controlada, os resultados
diferem, em parte, daqueles obtidos por Moraes (2006), já que o autor encontra
predomínio do padrão final ascendente. Por outro lado, a observação do contexto
pragmático dos enunciados de contorno descendente confirma o que o autor revela
sobre a influência da expressão de atitudes na prosódia das interrogativas, mais
especificamente no tocante às perguntas confirmativas.
A comparação entre fala espontânea e leitura mostra que os padrões são os
mesmos nas duas modalidades, mas os falantes tendem a produzir um contorno nuclear
ligeiramente mais acentuado em LE, revelando uma maior preocupação em produzir a
melodia característica de uma pergunta quando lendo um texto. Algumas vezes, os
informantes chegavam a interpretar o texto de forma um pouco teatral. Além disso, a
leitura também foi mais suscetível a variações micromelódicas ao longo dos
enunciados, fato que pode ser explicado pela maior duração dos enunciados nessa
modalidade, proferidas mais lentamente.
92
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98
RESUMO
O trabalho tem por objetivo analisar a prosódia das interrogativas totais – perguntas cuja
estrutura assemelha-se à de declarativas, que podem ser respondidas com “sim” ou
“não” –, comparando duas amostras de fala do Rio de Janeiro: uma de fala espontânea
(FE) e uma de leitura (LE). O corpus consiste em (i) gravações de um jogo das
personagens e (ii) na leitura, dias depois, dos diálogos entre os participantes do jogo
pelos mesmos indivíduos. Os enunciados que compõem as duas partes do corpus
contêm, portanto, o mesmo conteúdo proposicional, de maneira que qualquer diferença
prosódica existente entre eles se deve unicamente à diferença entre FE e LE. A análise
acústica e realização de testes de percepção baseou-se no Método de Análise Melódica
da Fala de Cantero & Font-Rotchés (2009). Na pesquisa, observou-se que tanto as
interrogativas espontâneas quanto as lidas confirmam a tendência geral de um padrão
circunflexo para as perguntas no Rio de Janeiro, conforme descreve a literatura, embora
na LE haja mais oscilações micromelódicas ao longo do contorno. Verificou-se que na
FE houve maior predomínio do padrão de inflexão final ascendente-descendente, com
menor ocorrência dos padrões alternativos. Além disso, nos dados de LE, a média de
subida no acento nuclear foi maior do que na FE, revelando uma subida melódica mais
saliente na leitura; e o padrão descendente, característico de assertivas ou perguntas
parciais, minoritário em ambas as amostras, é um pouco mais recorrente na FE.
Observou-se ainda que a ocorrência de contornos que fogem ao padrão estabelecido
para as interrogativas está relacionada, geralmente, à expressão de atitudes ou situações
pragmático-discursivas bastante específicas.
Palavras-chave: interrogativas, prosódia, comparação entre fala espontânea e leitura
99
ABSTRACT
The work aims to analyze the prosody of yes/no questions, the structure of which
resembles that of declarative sentences and may be answered with "yes " or "no",
comparing two samples of speech from Rio de Janeiro: one of spontaneous speech and
one of reading. The corpus consists of (i) recordings of a “characters game” and (ii) the
reading of the dialogues between the participants of the game by the same individuals,
days later. The sentences that compose the two parts of the corpus, therefore, contain
the same propositional content, so that any prosodic difference between them is
probably due to the difference between spontaneous speech and reading. Acoustic
analysis and perception tests were done based on the Melodic Analysis of Speech
method, from Cantero & Font-Rotchés (2009). It was observed that, in both speech
styles, interrogatives confirm the general trend of a circumflex pattern for questions in
Rio de Janeiro, as described in the literature, although, in the reading style, they show
more micromelodic oscillations along the contour. Also in spontaneous speech there
was a higher prevalence of the rising-falling final inflexion pattern, with fewer
occurrences of alternative patterns. Furthermore, in reading data, the average increasing
in the nuclear accent was higher than in spontaneous speech, revealing a more salient
melodic rising for reading; and the descending pattern, typical of assertions or partial
questions, is a little more recurrent in spontaneous speech. We also observed that the
occurrence of non-interrogative patterns is often related to the expression of attitudes or
to very specific pragmatic-discursive situations.
Keywords: prosody, interrogatives, questions, spontaneous speech versus reading
101
ANEXO 2:
Transcrição das gravações dos jogos na íntegra
i. Informante T.S. (sexo feminino):
T.S.: É homem?
R.M.: Sim.
T.S.: É famoso?
R.M.: Sim.
T.S.: É velho?
R.M.: Irrelevante.
T.S.: É um personagem?
R.M.: Sim.
T.S.: De desenho animado?
R.M.: Não.
T.S.: Da novela?
R.M.: Não
T.S.: De uma campanha publicitária?
R.M.: Não
T.S.: De um livro?
R.M.: Não.
T.S.: De uma série?
R.M.: Não.
T.S.: De um filme?
R.M.: Sim.
T.S.: É um filme sobre guerra?
R.M.: Sim.
T.S.: É um filme famoso?
R.M.: Sim
T.S.: É... peraí. Não é famoso o filme?
R.M.: Não. Sim, sim, sim!
T.S.: Deixa eu pensar num filme. Tem guerra né? Tá. Tem uma história de amor no filme?
102
R.M.: Sim
T.S.: Ele é o protagonista?
R.M.: Não, mas depois a gente discute a questão.
T.S.: Ele contracena com outro ator famoso?
R.M.: Sim.
T.S.: É um filme sobre a vida de alguém?
R.M.: Não.
T.S.: Não é sobre guerra, não é sobre alguém famoso. É ficção científica, o filme?
R.M.: Sim.
T.S.: O ator é bonito? Dizem que ele é bonito? Assim, as mulheres acham ele bonito?
R.M.: Não sei.
T.S.: Não sabe. Brincadeira. Essa pergunta era fundamental. Ele é americano?
R.M.: Sim
T.S.: Faz diferença pra mim, na verdade, se eu não sei a nacionalidade?
PESQUISADORA: O ator ou o personagem?
T.S.: Ah, isso é complicado, né?
R.M.: Eu já tinha esquecido dessa questão.
T.S.: O ator é americano?
R.M.: Sim.
T.S.: E o personagem?
R.M.: Não.
T.S.: Peraí. Ele contracena com alguma criança?
R.M.: Não.
T.S.: Não? Ele é alguém mais velho? Ele foi criança no filme e depois vira alguém mais
velho ou...?
R.M.: Sim.
T.S.: Pô, ele não é bonito? (risos) Ele foi criança e aí depois vira adulto. Mas, eu vou
perguntar agora outro personagem. O personagem fica velho?
R.M.: Sim
T.S.: E o personagem é criança?
R.M.: Sim.
T.S.: Eu quero saber se ele envelhece. Eu quero saber se o personagem envelhece ao longo
do filme, se ele era criança e ele fica velho ou ao contrário, era criança, sei lá, era velho,
virou criança. Ficção científica né?
103
R.M.: Não, não fez isso.
T.S.: O ator tem cabelo loiro?
R.M.: Não sei.
T.S.: Ah, ele é um personagem tipo desenho?
R.M.: Não.
T.S.: Não. É um personagem de história em quadrinho?
R.M.: Não.
T.S.: Não? O personagem tem filho?
R.M.: Sim.
T.S.: Personagem é casado? Eu tô falando do personagem porque eu sei, já entendi que
existe uma diferença. É irrelevante. Tá.
R.M.: É irrelevante.
T.S.: O personagem morre no filme?
R.M.: Sim.
T.S.: Peraí, rapidinho.
PESQUISADORA: Há controvérsias.
R.M.: É muito complexo.
T.S.: O personagem se fantasia?
R.M.: Sim
T.S.: Se fantasia de preto?
R.M.: Sim
T.S.: Ele tem um carro? Ai, meu Deus! Eu perguntei se ele tem um carro especial.
R.M.: Não
T.S.: Ele tem um cavalo?
R.M.: Não.
T.S.: O personagem se fantasia de preto. Calma aí, é um filme, envelhece, se fantasia de
preto.
T.S.: Ele usa terno?
R.M.: Não.
T.S.: Peraí. O ator que interpreta ele não é famoso?
R.M.: Não.
T.S.: Eu já vi o filme? Brincadeira.
R.M.: Não sei.
T.S.: Ele se veste de preto, certo? Ele tem cabelo grande?
104
R.M.: É irrelevante.
T.S.: É um filme de vampiro?
R.M.: Não.
T.S.: Nunca se sabe né? O filme é de ficção científica?
R.M.: Sim.
T.S.: E esse personagem é uma pessoa, representa uma pessoa no filme?
R.M.: Sim.
T.S.: Representa um cantor?
R.M.: Não.
T.S.: Outro ator?
R.M.: Não.
T.S.: O filme é americano?
R.M.: Sim.
T.S.: É sobre um escrito?
R.M.: Não.
T.S.: Sobre um político?
R.M.: Não.
T.S.: A roupa preta é um uniforme?
R.M.: Sim.
T.S.: O personagem é um super-herói?
R.M.: Não
T.S.: Aí é que dificulta. O personagem é um conquistador?
R.M.: Não.
T.S.: Conquistador de mulheres?
R.M.: Não.
T.S.: O personagem, o filme desse personagem tem, narra uma história real?
R.M.: Não.
T.S.: É ficção científica?
R.M.: Sim.
T.S.: E esse personagem entra numa aventura, no filme?
R.M.: Sim.
T.S.: Assim, uma aventura, não sei, vou dar um exemplo: pro futuro? Não?
R.M.: Como assim?
T.S.: Ué, não sei. Ele envelhece no filme?
105
R.M.: Sim.
T.S.: Mas o personagem aparece criança, mesmo que interpretado por outro ator?
R.M.: Sim.
T.S.: O filme que ele aparece é a interpretação de algum romance?
R.M.: Não.
T.S.: Deixa eu pensar. No filme o personagem morre jovem?
R.M.: Não.
T.S.: Ele tem vida eterna?
R.M.: Não.
T.S.: Ele é um mágico?
R.M.: Não.
T.S.: Ele é um pirata?
R.M.: Não.
T.S.: Um personagem histórico?
R.M.: Não.
T.S.: Ele faz uma descoberta?
R.M.: Não.
T.S.: Ele constrói uma casa?
R.M.: Não.
T.S.: Esse personagem, a profissão do personagem é ator?
R.M.: Não.
T.S.: O personagem é contador de histórias?
R.M.: Não.
T.S.: O personagem é cozinheiro?
R.M.: Não.
T.S.: O personagem tem uma arma?
R.M.: Sim.
T.S.: A arma é uma espada?
R.M.: Sim.
T.S.: Peraí. Tem outros personagens famosos no mesmo filme?
R.M.: Sim.
T.S.: É um filme?
R.M.: Sim.
106
T.S.: Peraí. Ele tem uma espada né? E se veste de preto. Peraí, se veste de preto, tem uma
espada. Ele virou vídeo game depois?
R.M.: Sim.
T.S.: Então ferrou.
PESQUISADORA: O que é que não virou vídeo game?
T.S.: É verdade, tudo vira vídeo game. A história se passa nos Estados Unidos?
R.M.: Não.
T.S.: O filme se passa, o filme que eu digo não o filme, a história mesmo onde o
personagem está inserido se passa na Espanha?
R.M.: Não.
T.S.: Se passa no deserto?
R.M.: Não.
T.S.: No espaço?
R.M.: Sim!
T.S.: O personagem é mau?
R.M.: Sim!
T.S.: A espada dele é um negócio que tem uma luz?
R.M.: Sim.
T.S.: Peraí. Meu Deus, e agora que eu sei mas não sei qual o nome dele. Peraí. É daquele
negócio das estrelas, é?
R.M.: Sim.
T.S.: Peraí. Caraca, eu não via isso. Peraí. Sei que ele é mau né? E usa um capacete.
R.M.: Sim.
T.S.: Não adiantava. Eu não sei se o nome que eu vou dizer, eu vou chutar, mas eu não sei se
esse nome corresponde ao personagem porque eu não, não vi. É o Darth Vader.
R.M.: Sim.
ii. Informante T.M. (sexo feminino):
T.M.: É uma mulher ou um homem?
A.S.: É sim ou não.
T.M.: Ué, não entendi.
107
A.S.: Só pode ter uma resposta ‘sim’ ou ‘não’.
T.M.: Entendi. É mulher?
A.S.: Não.
T.M.: É homem?
A.S.: Sim.
T.M.: É... famoso?
A.S.: Sim.
T.M.: É de desenho animado?
A.S.: Não.
T.M.: É real?
A.S.: Sim.
T.M.: É histórico?
A.S.: Depende de que ponto de vista, não sei.
T.M.: Fez parte da história?
A.S.: Não.
T.M.: É um herói?
A.S.: Não.
T.M.: É cabeludo?
A.S.: Sim.
T.M.: Gente, eu não sei mais o que perguntar... É de... age em conjunto?
A.S.: Sim...
T.M.: É político?
A.S.: Não.
T.M.: Eu já, eu já esqueci todas as perguntas que eu fiz! (risos) É... posso repetir pergunta?
PESQUISADORA: Pode.
T.M.: É desenho?
A.S.: Não.
T.M.: É histórico, né?
A.S.: Não, não é histórico.
T.M.: Não? É... É real, né?
A.S.: É real, sim.
T.M.: É político?
A.S.: Não! (risos)
T.M.: É porque... real, hist-, real assim... É importante? Ele...
108
A.S.: Pra mim é.
T.M.: É cantor?
A.S.: Sim.
T.M.: Aaah, já mudei um pouquinho a minha, meu pensamento! Ele canta música sertaneja?
A.S.: Não.
T.M.: Olha, eu sou péssima com, com música, hein! (risos) Ele canta?
A.S.: Sim.
T.M.: Ele faz carreira solo?
A.S.: Não e depois sim.
T.M.: Tem uma banda?
A.S.: Não.
T.M.: Não? É só o nome dele?
A.S.: Não e depois sim. Tô te dando dica ainda, né.
T.M.: É nome composto?
A.S.: Não.
T.M.: Gente... Não é sertanejo?
A.S.: Não.
T.M.: É... rock?
A.S.: Sim.
T.M.: É brasileiro?
A.S.: Sim.
T.M.: É famoso?
A.S.: Sim.
T.M.: Conhecido?
A.S.: Sim.
T.M.: Toca em novela?
A.S.: Sim.
T.M.: Gente, mas tem tanto rock brasileiro conhecido. Eu posso chutar os nomes ou eu
tenho que continuar até chegar o final?
PESQUISADORA: Pode, mas eu acho que é mais difícil, né, você tentar chutar os nomes.
T.M.: É porque tem muitas bandas assim, sei lá, que são muito parecidas, aí pode ter várias,
as respostas vão ser as mesmas.
A.S.: Não.
T.M.: Não? Tem diferencial?
109
A.S.: Sim.
T.M.: Ele tá vivo?
A.S.: Não.
T.M.: Humm... É, é um só? Não é uma banda.
A.S.: Sim.
T.M.: Posso chutar?
PESQUISADORA: Uhum.
T.M.: Charlie Brown Jr.?
A.S.: Não.
T.M.: É antigo?
A.S.: Sim.
T.M.: Tá vivo? Não, né.
A.S.: Não.
T.M.: Ai, tem tantos... Toca... rock, né? Não MPB.
A.S.: Sim, também.
T.M.: É... Ele... morreu... de, sei lá, alguma doença, algo trágico?
A.S.: Sim.
T.M.: Posso continuar chutando? Cazuza?
A.S.: Sim!
T.M.: Aaaah!
A.S.: Não foi difícil!
iii. Informante I.O. (sexo feminino):
I.O.: É homem?
S.S.: É.
I.O.: É real?
S.S.: Não.
I.O.: É um personagem?
S.S.: Sim.
I.O.: De um livro?
S.S.: Não.
110
I.O.: De um filme?
S.S.: Não.
I.O.: Quadrinho?
S.S.: Não.
I.O.: Folclore?
S.S.: Não.
I.O.: É um bicho, não?
S.S.: Não.
I.O.: É criança?
S.S.: Não.
I.O.: É duma novela?
S.S.: Não.
I.O.: Tem a ver com a televisão?
S.S.: Tem, tem. Tem a...
I.O.: É antigo?
S.S.: Sim, sim.
I.O.: Muito antigo?
S.S.: Sim. Muito.
I.O.: De desenho?
S.S.: Não.
I.O.: É um homem normal?
S.S.: Não.
I.O.: É sobrenatural o personagem?
S.S.: Não, não é sobrenatural.
I.O.: Tem poder?
S.S.: Não.
I.O.: Não é normal... É um objeto?
S.S.: Não.
I.O.: É uma pessoa?
S.S.: Sim.
I.O.: É um E.T.?
S.S.: Não.
I.O.: Então é uma pessoa. Mas tem alguma coisa de diferente. Alguma coisa diferente.
S.S.: Sim.
111
I.O.: Personagem... da TV? Aparece na TV?
S.S.: Sim.
PESQUISADORA: Também. Mas não surgiu na TV.
S.S.: É... é.
PESQUISADORA: Não é exclusivamente da TV.
I.O.: Aparece em livros?
S.S.: É menos, é menos da TV... pode fa-, é menos da TV, tem mais a ver com outra coisa
que TV.
I.O.: É de livros?
S.S.: Não.
I.O.: Aparece o quê, nas ruas?
S.S.: Sim.
I.O.: Um personagem antigo que aparece nas ruas...
S.S.: Sim.
I.O.: Não entendi agora a definição de personagem... Ele é, ele é tipo um personagem único
ou é tipo uma definição de alguma coisa?
S.S.: Não tem como eu dizer isso...
I.O.: É um personagem? É um, um mesmo...
S.S.: Sim, sim.
I.O.: É uma coisinha, não é tipo “ah, a pessoa que faz isso”, é UM personagem?
S.S.: Sim, sim.
I.O.: Que existe há muitos e muitos anos.
PESQUISADORA: Tem até nome.
S.S.: É.
I.O.: Ok. Então, não é do folclore, gente?
S.S.: Não.
I.O.: É o Papai Noel?
S.S.: Não. (risos)
I.O.: Tem a ver com Papai Noel?
S.S.: Não.
I.O.: O meu é mais difícil...
PESQUISADORA: É, eu acho que o seu é mais difícil mesmo.
I.O.: Eu não tô conseguindo imaginar que tipo de criatura que é... Na TV, tá, ele aparece em,
em algum filme?
112
S.S.: Não.
I.O.: Tá, então ele aparece numa novela?
S.S.: Não.
I.O.: Nos, nos programas de televisão?
S.S.: Não.
I.O.: Então aparece... nos comerciais?
S.S.: Sim.
I.O.: Ah, tá bom, melhorou. Tá. Existe um ator por trás do personagem?
S.S.: Sim.
I.O.: Ah, podia ser desenho.
S.S.: Não.
PESQUISADORA: É, acho que existem as duas coisas.
S.S.: E, é, sim.
PESQUISADORA: Acho que existem as duas versões.
I.O.: Aparece nos comerciais... Um comercial só?
S.S.: Sim.
I.O.: De uma marca?
S.S.: Sim.
I.O.: Aah, tá. É aquele cara do comercial da C&A?
S.S.: Não. (risos)
I.O.: Esse não é tão velho assim... Muito, muito antigo, tipo, já morreu? O ator?
S.S.: Não.
I.O.: O ator morreu?
S.S.: Não. Não. É, como é que...
I.O.: Vários atores fizeram esse personagem?
S.S.: Não sei.
PESQUISADORA: Creio que sim, não sei.
I.O.: Quando foi criado, vê aí.
S.S.: Já vi, só não posso falar.
PESQUISADORA: É, ela não pode falar.
I.O.: Tá, mas... uma pessoa pode tá viva com esse tempo aí?
S.S.: Sim.
I.O.: De uma marca de... De uma marca específica, né?
S.S.: Sim.
113
I.O.: É uma marca de um produto... É um produto? Pra vender, pra consumo?
S.S.: Sim.
I.O.: Roupa?
S.S.: Não.
I.O.: Algum produto doméstico?
S.S.: Não.
I.O.: Livros?
S.S.: Não.
I.O.: Vende plano de saúde?
S.S.: Não...
PESQUISADORA: É algo tão corriqueiro...
I.O.: Luz? Água? Telefone? Internet?
S.S.: Não, não, não...
PESQUISADORA: É muito mais corriqueiro que tudo isso.
I.O.: Pra vender uma coisa...
S.S.: Pra, pra ela então...
I.O.: Comida?!
S.S.: Sim. (risos)
I.O.: Vende comida... É o Ronald?!
S.S.: É!
I.O.: Aaaai! Ah, não foi tão... Né? Foi rapidinho!
iv. Informante P.B. (sexo feminino):
P.B.: Seu personagem é real?
G.G.: Não.
P.B.: Seu personagem é do sexo feminino?
G.G.: Sim.
P.B.: Ele participa de desenho animado?
G.G.: Sim.
P.B.: Esse desenho animado é antigo?
G.G.: Não.
114
P.B.: Esse desenho animado passa na Globo?
G.G.: Não.
P.B.: É... Esse personagem é um animal?
G.G.: Não.
P.B.: É... Esse personagem... Não sei mais, gente.
G.G.: Que nervoso.
P.B.: Ele não passa na Globo, eu não vejo televisão... É... Ele é um personagem, ele é, de
desenho animado, né?
G.G.: Isso, sim.
P.B.: Um desenho animado da televisão?
G.G.: Não.
P.B.: É de gibi?
G.G.: Não.
P.B.: É um personagem da literatura?
G.G.: Não.
P.B.: É... Não é de gibi, não é da literatura, não passa na televisão... (risos) É um...
personagem... folclórico?
G.G.: (risos) Não!
P.B.: O que acontece se eu não adivinhar?
PESQUISADORA: Eu pego o Bis de volta! (risos)
P.B.: Esse personagem... Tem direito a dica?
PESQUISADORA: Só se estiver muito difícil.
G.G.: Tá indo pelo caminho errado.
P.B.: Esse personagem é bem famoso?
G.G.: Sim.
P.B.: Mas esse personagem passa em algum programa de televisão?
G.G.: Não, não.
P.B.: Gente, eu não sei brincar... É... Esse personagem é um super-herói?
G.G.: Não.
P.B.: Gente, eu não conheço esse personagem, não é da televisão, nem de revis-, nem de
livro, nem de gibi.
G.G.: Tem uma coisa que você não falou.
P.B.: É um personagem de revista?
G.G.: Não. (risos)
115
P.B.: De filme?
G.G.: Siiim. (risos)
P.B.: É uma animação infantil?
G.G.: Siiim!
P.B.: É... Esse personagem... é... verde?
G.G.: Não.
P.B.: Não? Esse personagem é... Essa animação é recente?
G.G.: Não.
P.B.: É, ele não é um animal?
G.G.: Não.
P.B.: Esse... Esse personagem... Dá uma dica.
G.G.: Continua nessa linha.
P.B.: Então ele é de fi, de animação, antiga... Esse personagem... é... luta nessa animação?
G.G.: Não.
P.B.: Você conhece essa animação?
G.G.: Sim. (risos)
PESQUISADORA: Ele conhece todas as animações! (risos)
P.B.: É uma menina, né?
G.G.: Siiim. Ai, é muito fácil.
P.B.: Esse filme... É um filme, né?
G.G.: Sim.
P.B.: Esse filme ganhou algum Oscar?
G.G.: Não sei agora! (risos)
PESQUISADORA: Acho que não.
G.G.: Acho que não também.
P.B.: Então eu não conheço a animação. É bem conhecida a animação?
G.G.: Sim.
P.B.: É, esse personagem... come macarrão no filme, nessa animação?
G.G.: Não. (risos)
P.B.: Esse personagem usa vestido vermelho?
G.G.: Não.
P.B.: Esse personagem... Não é antigo, né?
G.G.: Não.
P.B.: Ah, não! Peraí, é antigo ou não é?
116
G.G.: Não.
P.B.: Não é antigo.
PESQUISADORA: É melhor você fazer uma pergunta mais precisa...
G.G.: É! (risos)
PESQUISADORA: “Antigo” pode ser um pouco subjetivo...
P.B.: Ah, é. Antigo pra mim não é antigo pra D. Né?
G.G.: (gargalhando)
P.B.: Esse personagem... Essa animação tem mais de dez anos?
G.G.: Sim. Sim.
P.B.: Tem mais de quinze?
G.G.: Sim.
P.B.: É um clássico?
G.G.: Sim.
P.B.: É... Esse personagem participa do... De “Alice no País das Maravilhas”?
G.G.: Não.
P.B.: Esse personagem participa do Mágico de Oz?
G.G.: Não.
P.B.: Esse personagem... participa de... Esse personagem deve ser da minha infância?
G.G.: Sim.
P.B.: Esse personagem usa sapato rosa?
G.G.: Não.
P.B.: Gente, eu não...
PESQUISADORA: Continua nessa linha.
P.B.: Esse personagem usa sapato vermelho?
G.G.: Não.
P.B.: Então não é a Dorothy. Esse personagem... Esse personagem é loiro?
G.G.: Não.
P.B.: Não? Esse personagem é da Disney, essa animação é da Disney?
G.G.: Sim.
P.B.: Esse personagem é uma das Princesas?
G.G.: Sim.
P.B.: Esse personagem namora uma Fera?
G.G.: Não.
P.B.: Esse personagem... é... tem uma madrasta má?
117
G.G.: Não.
P.B.: Esse personagem... vive... namora o... Aladdin?
G.G.: Não.
P.B.: Esse personagem usa vestido amarelo?
G.G.: Não.
P.B.: Esse personagem é uma sereia?
G.G.: Não.
P.B.: É uma das Princesas?
G.G.: Sim.
PESQUISADORA: É? Não sei, é?
G.G.: Sim!
P.B.: Esse personagem dorme muito? (risos)
G.G.: (gargalhando) Não. Tá faltando uma.
P.B.: Esse personagem... peraí. Esse personagem tem trança grande? Não, ela não é uma
princesa.
G.G.: Não.
P.B.: É... Aurora... O nome desse personagem não começa com C?
G.G.: Não.
P.B.: O nome desse personagem começa com A?
G.G.: Não.
P.B.: O nome desse personagem começa com B?
G.G.: N ão.
P.B.: O personagem é principal na animação?
G.G.: Sim.
P.B.: Ah é, porque é uma das Princesas. Não começa com A, não começa com B. Não
começa com A. Não começa com R?
G.G.: Não.
P.B.: Não começa com... A?
G.G.: Não. (risos) Não começa com A?
P.B.: Porra... Acabaram as minhas...
PESQUISADORA: Tá faltando alguma...
G.G.: Faltou a única.
PESQUISADORA: Tem certeza que ela é uma das Princesas?
G.G.: Tenho.
118
P.B.: Pô, as Princesas que eu conheço são: a Aurora, a Branca de Neve, a Cinderela, a
Bela... A Bela namorou a Fera, então... a Ariel... Acabou.
PESQUISADORA: É, eu não sei, assim, eu não sei se é uma das Princesas pelo menos
desses produtos que tem agora das Princesas...
G.G.: É.
PESQUISADORA: Mas é uma dessas personagens aí.
PESQUISADORA: Tem até uma outra também que você não falou, que não é a resposta
mas que você também não lembrou.
G.G.: Ah, é verdade. Já sei qual você tá falando... Você esqueceu as duas na verdade. E as
duas tem uma característica em comum.
P.B.: Essa princesa...
PESQUISADORA: Ela tem algo de bem diferente das outras.
G.G.: Exatamente.
P.B.: É feia?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa é negra?
G.G.: Não... Mas vai por aí.
P.B.: Essa princesa não é a do Aladdin, não é a Jasmin.
G.G.: Não.
PESQUISADORA: Pergunta sobre as características físicas dela.
P.B.: Essa princesa é gorda?
G.G.: Não. (risos)
P.B.: Essa princesa é... não é preta.
G.G.: Não. (risos)
P.B.: Essa princesa... tem cabelo curto?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa... foi transformada em um brinquedo?
G.G.: Não.
P.B.: Não? Ó... Essa princesa... não é feia?
G.G.: Não.
P.B.: Gente, me mata, porque... Essa princesa é má?
G.G.: Não.
PESQUISADORA: O problema é que você tá pensando nas opções que você já lembrou. Só
que você ainda não lembrou dela...
119
G.G.: Você esqueceu duas, na verdade.
PESQUISADORA: Você tem que ir fazendo perguntas pra você lembrar dessa. Você ta
tentando perguntar já direcionado pras que cê tem na cabeça.
P.B.: Eu sou muito ruim nisso.
G.G.: Eu vou demorar uma hora também.
P.B.: Essa princesa tem cabelo laranja?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa tem cabelo verde?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa tem o cabelo colorido?
G.G.: Não. (risos)
P.B.: Tem certeza que ela não pinta o cabelo?
PESQUISADORA: Tenho certeza que ela não pinta o cabelo!
G.G.: Absolutíssima!
P.B.: Essa princesa tem cabelo branco?!
G.G.: (risos) Não.
P.B.: Essa princesa tem cabelo preto?
G.G.: Sim.
P.B.: Essa princesa é morena?
G.G.: Sim.
P.B.: Mas não é negra?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa beija um sapo?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa... é morena...Essa princesa tem um namorado?
G.G.: Sim.
P.B.: O namorado dessa princesa... Essa princesa trabalha?
G.G.: Não... Sim, na verdade sim.
P.B.: Trabalha? Essa princesa...
G.G.: Trabalha ela?
PESQUISADORA: É... Trabalha.
P.B.: Essa princesa é prostituta? (risos) Sei lá, vocês tão duvidando do trabalho dela... É uma
princesa diferente.
G.G.: Princesa da rua!
120
PESQUISADORA: Ela trabalha, ela só não ganha dinheiro em troca.
G.G.: É, exatamente.
P.B.: Ela não limpa o chão?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa é cozinheira?
G.G.: Não. Continua no namorado.
PESQUISADORA: Ou na, ou no trabalho.
G.G.: É.
P.B.: Essa princesa... tem um namorado pobre, não?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa se torna princesa porque casa com o namorado rico?
G.G.: Não.
P.B.: Cara, eu sou muito idiota... A gente tem que ficar perguntando até adivinhar?
PESQUISADORA: Não, se você quiser desistir... Mas é que ta tão perto!
G.G.: Quando conseguir adivinhar você vai ficar muito puta.
P.B.: Essa princesa É da Disney?
PESQUISADORA: Pára de pensar que ela é uma princesa, porque... Acho que ela não é, ela
não se torna princesa exatamente,né?
G.G.: Não, ela já é.
PESQUISADORA: Ah, é, ela já é princesa... Ce sabe, vê que de animação ele entende, as
histórias ele sabe de cabo a rabo.
P.B.: Mas eu não sei. Vou até mudar meu personagem pra ficar mais difícil. É, essa
princesa... hum... deixa eu pensar...
G.G.: Eu acho que pelo príncipe tava mais fácil. Pelo namorado. Pelo namorado não é mais
fácil?
PESQUISADORA: Talvez... Tanta coisa que ela pode perguntar... Sobre o local onde ela
mora, por exemplo.
G.G.: É, acho que esse mataria, talvez.
P.B.: Mataria se eu tivesse ideia de quem seja a princesa. Essa princesa é brasileira?
G.G.: Não.
P.B.: Essa princesa mora na selva?
G.G.: Sim.
P.B.: Essa princesa... essa, o namorado dessa princesa faz “Ô-ô-ôôôô”?
(gargalhadas)
121
G.G.: Não...
P.B.: Porra, essa princesa não... Essa princesa não é a Jane? A Jane não é uma princesa. Mas
ela mora na selva?
G.G.: Sim.
P.B.: Essa princesa vai à luta?
G.G.: Sim.
P.B.: Se faz de homem pra ir à luta?
G.G.: Não.
PESQUISADORA: Não, agora você lembrou da outra!
G.G.: Lembrou da outra!
P.B.: Essa, o nome dessa princesa começa com P?
G.G.: Sim!
P.B.: Com “Po”?
G.G.: Sim.
P.B.: É a Pocahontas?!
G.G.: Graças a Deus!
v. Informante R.M. (sexo masculino):
R.M.: Você é mulher?
D.G.: Não.
R.M.: Você é homem?
D.G.: Sim.
R.M.: Uma pessoa?
D.G.: Não.
R.M.: Um personagem?
D.G.: Sim.
R.M.: De filme?
D.G.: Não
R.M.: Desenho animado?
D.G.: Não.
R.M.: Literatura?
122
D.G.: Não.
R.M.: Quadrinhos?
D.G.: Não.
R.M.: É um animal?
D.G.: Não.
R.M.: É uma coisa?
D.G.: Não.
R.M.: Eu não faço ideia do que você é?
D.G.: Sim! (risos)
R.M.: Teatro?
D.G.: Não.
R.M.: Não faço ideia. Homem já perguntei, né? Qual sua profissão, se tiver?
PESQUISADORA: Ele só pode responder “sim ou não”.
R.M.: Ah, tá! É verdade. Esqueci. Você tem uma profissão? Uma ocupação?
D.G.: Sim.
R.M.: Esquisito. É um personagem de ficção?
D.G.: Sim.
R.M.: É um personagem bíblico?
D.G.: Não.
R.M.: Isso é horrível.
PESQUISADORA: Tenta fazer outras perguntas, sobre outras coisas, pra ver se de repente
não...
R.M.: Tô tentando. É um personagem, não sei, da televisão?
D.G.: Sim.
R.M.: Seriado?
D.G.: Não.
R.M.: Algum programa?
D.G.: Não.
R.M.: Minissérie?
D.G.: Não.
R.M.: Baseado num personagem real? Eu tô olhando...
D.G.: Não.
R.M.: Tem algum bordão famoso?
D.G.: Não.
123
R.M.: Você fala?
D.G.: Sim.
R.M.: Nacional?
D.G.: Não.
R.M.: Americano?
D.G.: Sim.
R.M.: É humorístico?
D.G.: Sim.
R.M.: Tem parentes?
D.G.: Não sei.
R.M.: Que bom. Você acabou de se inventar?
D.G.: Não.
R.M.: Eu posso desistir?
PESQUISADORA: Pode, mas não é tão difícil assim né?
R.M.: Não tá parecendo.
PESQUISADORA: É famoso, é famoso. A gente pode dar essa dica.
D.G.: Era essa pergunta que eu queria que você fizesse.
R.M.: Eu imaginei.
PESQUISADORA: Já te dei uma dica, é famoso.
R.M.: É de novela? Não, claro que não. Nem filme, nem seriado.
PESQUISADORA: Nossa, o Rafael tá tão nervoso que parece que tá valendo a vida dele.
R.M.: Questão de honra agora.
R.M.: É um personagem antigo?
D.G.: Sim.
R.M.: Século XX?
D.G.: Sim.
PESQUISADORA: Desiste?
D.G.: Faz perguntas.
PESQUISADORA: É, não desiste não. Não é tão difícil assim.
R.M.: Isso não é de filme, isso não é de série...
PESQUISADORA: Tenta fazer...
D.G.: Então, você já excluiu tudo, falta só uma coisa que você não falou.
R.M.: Eu não tô lembrando. Já perguntei teatro...
PESQUISADORA: Tenta fazer outras perguntas aleatórias assim.
124
R.M.: É difícil fazer perguntas aleatórias sobre uma coisa que eu não sei bem o que que é.
PESQUISADORA: Pergunta sobre a aparência física.
R.M.: É alto?
D.G.: Sim.
R.M.: Uma pessoa, né? Morena?
D.G.: Não.
R.M.: Tem cabelo?
D.G.: Sim.
R.M.: Loiro?
D.G.: Não.
R.M.: Ruivo?
D.G.: Sim.
R.M.: O intérprete desse personagem é famoso?
D.G.: Não.
R.M.: Eu devia ter almoçado antes. Tô me sentindo mal.
D.G.: Esse tá mais divertido, né, que o anterior?
R.M.: Eu também tô achando. Tem alguma outra característica bastante específica além do
cabelo ruivo?
D.G.: Sim.
R.M.: Se refere ao vestuário?
D.G.: Sim.
R.M.: Em termos de vestuário, usa cores vivas?
D.G.: Sim.
R.M.: Algo como um terno?
D.G.: Não.
R.M.: Cobre o corpo todo?
D.G.: Sim
R.M.: Preferia fazer prova de Port. Interage com algum outro personagem tão famoso
quanto?
D.G.: Não.
PESQUISADORA: Uma dica? Deixa ver uma dica que não logo entregue tudo.
R.M.: Vai pensando aí.
PESQUISADORA: Ele interage com outros personagens sim, mas não tão famosos quanto.
R.M.: Alguma parte do seu corpo é, não sei, maior que as demais, chama a atenção?
125
D.G.: Sim.
R.M.: Não é de desenho animado?
D.G.: Não.
R.M.: Não é? Tá. Deixa eu desistir, não aguento mais.
PESQUISADORA: Tá bom, pode desistir se quiser.
D.G.: Dá a dica pra ele de onde ele aparece.
PESQUISADORA: Tá, ele é um personagem fictício que é garoto propaganda de uma
empresa.
D.G.: Era isso: propaganda.
R.M.: Jamais ia pensar nisso.
D.G.: Mas é muito famoso.
R.M.: Personagem americano?
D.G.: Isso.
R.M.: Vende um produto americano?
D.G.: Isso
R.M.: É um produto doméstico?
D.G.: Não.
R.M.: É um produto físico?
D.G.: Sim.
PESQUISADORA: Pergunta mais sobre o produto que você chega lá. Não, tô ajudando
porque se não a gente não sai daqui hoje.
R.M.: Já falei?
PESQUISADORA: Não, é importante assim, é que sabendo o produto ele descobre rápido
quem é o garoto propaganda.
R.M.: É eletrodoméstico? Ou algo do tipo?
D.G.: Não.
R.M.: Roupa?
D.G.: Não. Vou dar uma dica: é o que a gente mais deseja.
R.M.: Comida?
D.G.: Isso! Sim!
PESQUISADORA: R. não tá com fome.
R.M.: É um restaurante?
D.G.: Sim.
R.M.: Uma lanchonete?
126
D.G.: Sim.
R.M.: É o Ronald Mcdonald.
D.G.: É! (risos)
vi. Informante C.F. (sexo masculino):
C.F.: Você é de desenho animado?
P.C.: Não.
C.F.: Você é de filme?
P.C.: Não.
C.F.: Você é de série?
P.C.: Não.
C.F.: Você é de videogame?
P.C.: Não.
C.F.: Você é de livro?
P.C.: Não.
C.F.: Você é de novela?
P.C.: Não.
C.F.: Você é... da História?
P.C.: Também.
C.F.: Você é de... sei lá, de uma história... inventada?
P.C.: Não.
C.F.: Você é de uma história real então?
P.C.: Sim.
C.F.: Você nasceu na Idade Média?
P.C.: Não.
C.F.: Idade Moderna?
P.C.: Sim.
C.F.: Você tava na Revolução Industrial?
P.C.: Não.
C.F.: Você tava na Revolução Francesa?
P.C.: Não.
127
C.F.: Você tava... hum... na Independência?
P.C.: Não.
C.F.: Você tava na Independência do Brasil?
P.C.: Não.
C.F.: Você tava na... você é um autor de livro?
P.C.: Não. Não sou nenhum escritor.
C.F.: Você... É um filósofo?
P.C.: Não.
C.F.: Você é... você pensou a sociedade de alguma maneira?
P.C.: Sim.
C.F.: Você... escreveu algum livro?
P.C.: Não.
C.F.: Você fez algum ato?
P.C.: Não.
C.F.: Você fez... Você viajou?
P.C.: Não.
C.F.: Você é da Europa?
P.C.: Não.
C.F.: Você é da América Latina?
P.C.: Sim.
C.F.: Você é da América Latina da parte dominada pelos espanhóis?
P.C.: Não.
C.F.: Você é da América Latina, do Brasil?
P.C.: Sim.
C.F.: Você é da região sul?
P.C.: Sim.
C.F.: Você... Você é Anita Garibaldi?
P.C.: Não.
C.F.: Você... Você é homem?
P.C.: Sim.
C.F.: Você lutou em alguma causa?
P.C.: Não.
C.F.: Eu não sei se eu to indo bem... (risos) Você... tá, você não lutou em nenhuma causa,
você... Você não participou de nenhum movimento de revolução?
128
P.C.: Sim.
C.F.: Você... fez uma, você participou de um movimento cultural, econômico... Cultural?
P.C.: Não.
C.F.: Econômico?
P.C.: Sim.
C.F.: Tá. Você inventou algum produto útil?
P.C.: Não.
C.F.: Você... Você era de algum movimento separatista?
P.C.: Não.
C.F.: Você... Você não era de um movimento separatista, você era do sul do Brasil... Idade
Moderna, mais de mil e oitocentos?
P.C.: Sim.
C.F.: Mil oitocentos e... setenta?
P.C.: Não.
C.F.: Mil e novecentos?
P.C.: Por aí.
C.F.: Mil e novecentos... Você foi presidente?
P.C.: Sim.
C.F.: Você... Você é o Juscelino?
P.C.: Não. (risos)
C.F.: Você foi presidente do Brasil?
P.C.: Sim.
C.F.: Você... foi o... Você só teve um mandato?
P.C.: Não.
C.F.: Você teve dois mandatos?
P.C.: Não.
C.F.: Você teve mais de dois mandatos?
P.C.: Sim.
C.F.: Você teve três mandatos?
P.C.: Sim.
C.F.: E você fazia parte de alguma oligarquia?
P.C.: Sim.
C.F.: Você... Você... Você fez algum plano? Econômico, com o dinheiro...? Com moeda?
P.C.: Não, não.
129
C.F.: Você... É homem, você foi presidente da nação, você é sulista... Gente, não sei. Você é
um líder. Você foi importante pra história do Brasil?
P.C.: Muito.
C.F.: Foi muito importante pra história do Brasil. Tá. Você... Você foi presidente do Brasil?
P.C.: Sim.
C.F.: Tá. (risos) Você... Você não foi Tancredo Neves?
P.C.: Não.
C.F.: Tá. Você... Você é da República?
P.C.: Sim.
C.F.: Tá. Você... não é D. Pedro I...
P.C.: Não.
C.F.: Você não é D. Pedro II...
P.C.: Não.
C.F.: Você... Você não foi um ditador?
P.C.: Sim.
C.F.: Ah, você é Getúlio?
P.C.: Sim!
C.F.: Getúlio é mais de 1900, Pedro!
P.C.: Eu falei sim! Eu falei POR AÍ!
C.F.: Ah, eu pensei menos...
vii. Informante G.G. (sexo masculino):
G.G.: É um personagem?
P.B.: Sim.
G.G.: Personagem real?
P.B.: Real.
G.G.: É um personagem brasileiro?
P.B.: Não.
G.G.: Americano?
P.B.: Não.
G.G.: Europeu?
130
P.B.: Não.
G.G.: Asiático?
P.B.: Não.
G.G.: Da selva?
P.B.: Não.
G.G.: Da Oceania não é, né?
P.B.: Não.
G.G.: É um personagem de um filme?
P.B.: Não.
G.G.: Da literatura?
P.B.: Não.
G.G.: Pô... É... Do teatro?
P.B.: Não.
G.G.: Uma personagem real?
P.B.: Como é que a gente vai definir o real? (risos)
G.G.: A teoria do real! (risos)
P.B.: É, é um real, é um real.
G.G.: É um personagem real que foi... ficcionalizado em alguma manifestação artística?
P.B.: Faz pergunta mais fácil por favor? (risos)
G.G.: Esse personagem virou, por exemplo, personagem de um filme?
P.B.: Não.
G.G.: É um político?
P.B.: Não.
G.G.: É um artista?
P.B.: Não. Ah, então, é fictício, fictício. (risos)
G.G.: (risos) É um personagem fictício?
P.B.: É.
G.G.: Não é da literatura...
P.B.: Não.
G.G.: Não é do cinema...
P.B.: Não.
G.G.: Não é do teatro?
P.B.: Não.
G.G.: Novela?
131
P.B.: Não.
G.G.: É um, esse personagem tem nacionalidade?
P.B.: Hum?
G.G.: Tem nacionalidade esse personagem?
P.B.: Tem.
G.G.: É homem?
P.B.: Não.
G.G.: É mulher?
P.B.: Sim.
G.G.: Ela é alta?
P.B.: Não.
G.G.: Ela é baixa?
P.B.: Sim.
G.G.: Loira?
P.B.: Não.
G.G.: Morena?
P.B.: Sim.
G.G.: Bonita?
P.B.: Isso é subjetivo.
G.G.: Não é a Dorothy não, né?
P.B.: Não.
G.G.: Você falou da Dorothy... Deixa eu pensar... Ela mora com alguém?
P.B.: Mora.
G.G.: Com marido?
P.B.: Não.
G.G.: Filhos?
P.B.: Não.
G.G.: Animais?
P.B.: Não.
G.G.: Mãe, pai?
P.B.: Peraí, faz uma pergunta de cada vez.
G.G.: Com a mãe?
P.B.: Não.
G.G.: Com o pai?
132
P.B.: Sim.
G.G.: Cinderela? Não, não é do filme.
P.B.: É, ela não é de um filme.
G.G.: Ah é, desculpa. Ela mora com o pai. Personagem fictício e mora com o pai. E a casa
dela é grande?
P.B.: Não.
G.G.: Ela é pobre?
P.B.: É.
G.G.: Ela mora com o pai, uma mulher morena que mora com o pai e é pequena. E é pobre.
P.B.: É.
G.G.: Classe C, né?
P.B.: É. Talvez. (risos)
G.G.: Não é brasileira?
P.B.: Não.
G.G.: Africana?
P.B.: Não.
G.G.: Mas ela tem uma nacionalidade?
P.B.: Sim. Todo mundo tem uma nacionalidade.
G.G.: Mas essa nacionalidade é... real? De um país que existe?
P.B.: Sim.
G.G.: Esse país tá na Europa?
P.B.: Não.
G.G.: Vou voltar aos continentes. Na América?
P.B.: Sim.
G.G.: Do Sul?
P.B.: Sim.
G.G.: É uma personagem argentina?
P.B.: Sim.
G.G.: É a Mafalda.
P.B.: Não. A Mafalda mora com o pai?
G.G.: Sei lá. (risos) É...
P.B.: Você faz umas perguntas muito difíceis.
G.G.: Mais simples, tem que simplificar?
P.B.: Uhum.
133
G.G.: Tá... Ela fala, essa personagem?
P.B.: Sim.
G.G.: E ela tem amigos?
P.B.: Tem.
G.G.: Ela é jovem?
P.B.: É.
G.G.: Estuda?
P.B.: Sim.
G.G.: É a Mônica?
P.B.: Não.
G.G.: Magali, não, né?
P.B.: Não.
G.G.: Ela tem algum animal de estimação?
P.B.: Não.
G.G.: A mãe dela morreu?
P.B.: (silêncio)
G.G.: A mãe dela não existe.
P.B.: É.
G.G.: E ela tem outros parentes?
P.B.: Não.
G.G.: Não é um personagem de... televisão?
P.B.: É.
G.G.: Ah, é de televisão?
P.B.: É. Você não tinha perguntado se era de televisão.
G.G.: É. Não é de novela?
P.B.: Não.
G.G.: É de desenho?
P.B.: Não.
G.G.: De uma série?
P.B.: Sim.
G.G.: De uma série brasileira?
P.B.: Não.
G.G.: É do Chaves, é um personagem do Chaves?
P.B.: Sim.
134
G.G.: É a Chiquinha! (risos)
viii. Informante T.A. (sexo masculino):
T.A.: É... É homem?
W.M.: Sim.
T.A.: É um personagem histórico?
W.M.: Sim.
T.A.: Bom, a sua pergun-, a sua resposta não foi... foi uma coisa, mas sua cara fez outra,
então... (risos) É... é de ficção?
W.M.: Não.
T.A.: Tá. Ficou claro. É... Em termos de aparência física, tem é... é negro?
W.M.: Não.
T.A.: É branco?
W.M.: Sim.
T.A.: É loiro?
W.M.: Essa eu não sei responder.
T.A.: Não tem cabelo? Tem cabelo?
W.M.: Sim.
T.A.: De alguma forma marcou a história?
W.M.: Sim.
T.A.: Do país? (...) Do país?
W.M.: Sim.
T.A.: Do nosso país?
W.M.: Não.
T.A.: Tem limite de perguntas ou...
PESQUISADORA: Não, pode perguntar o quanto você quiser.
T.A.: O problema são as perguntas.
W.M.: Uhum.
T.A.: Que não tá me dando dica boa.
W.M.: Por isso que eu deixei você primeiro.
135
T.A.: Ah-ah, esperto! É... Meu Deus. Você disse que é branco mas que não é loiro, tem
cabelo. Cabelo preto?
W.M.: Não sei.
T.A.: Esse personagem é histórico... É... Alguma coisa a ver com, é algum personagem
assim tipo revolucionário, fez algum feito revolucionário...?
W.M.: Sim.
T.A.: Foi... presidente?
W.M.: Não.
T.A.: Tá ligado à política?
W.M.: Não.
T.A.: Tá ligado à... à arte?
W.M.: Sim.
T.A.: À arte literatura?
W.M.: Não.
T.A.: Não? À arte... era pintor?
W.M.: Sim.
T.A.: Era... francês?
W.M.: Não.
T.A.: Era... quer dizer, ou é, né, não sei. Ele tá vivo?
W.M.: Não.
T.A.: É americano?
W.M.: Não.
T.A.: É brasileiro?
W.M.: Não.
T.A.: (risos) É alemão?
W.M.: Não.
T.A.: É... espanhol?
W.M.: Sim.
T.A.: Espanhol? O negócio é eu não conhecer nenhum pintor espanhol (risos). (...) É um
pintor espanhol. Agora é o problema, quem é? (...) É... Não vou tentar fazer perguntas de, da
arte dele porque não adianta que eu não vou saber.
PESQUISADORA: Talvez você até saiba.
T.A.: Tipo se era...
PESQUISADORA: É que você não tá lembrando, porque agora ficou fácil.
136
T.A.: É, eu não tô, não me vem à mente nenhum.
PESQUISADORA: Quando você descobrir você vai ficar assim “Ah, tava muito fácil!”
T.A.: (risos) Meu Deus...
W.M.: Você perguntou se tinha a ver com política, né?
T.A.: Isso.
W.M.: Sim.
T.A.: Ele é espanhol? Sim, né. Espanhol de, tipo, da Espanha, mesmo?
W.M.: Sim.
T.A.: Nossa. (...) Eu não sei, acho que não vou conseguir daqui pra frente, não vou lembrar
de nenhum nome aqui. Não dá nem pra chutar. Não vai adiantar se eu perguntar várias
coisas que eu não vou conseguir ir lembrando. Então se não for...
PESQUISADORA: Bom, eu acho que você consegue acertar, agora, se você também não
quiser de-, achar que quer desistir, não tem problema. Mas eu se fosse você tentava mais um
pouquinho, porque já tá, já chegou perto da resposta.
T.A.: Então eu vou, vou começar já a apelar, no caso, pra... É... A letra do nome dele
começa com A? (risos) Eu vou o alfabeto inteiro. (risos) Pra ver se me dá uma pista.
W.M.: Não.
T.A.: B?
W.M.: Não.
T.A.: Não, tô zoando, não vou fazer isso, o alfabeto inteiro. Mas aleatório eu vou. É... F?
W.M.: Não.
T.A.: É... Ele é conhecido só pelo primeiro nome?
W.M.: Não.
T.A.: Nome e sobrenome?
W.M.: Sim.
T.A.: É... Pintou algum quadro assim, famoso, importante?
W.M.: Sim.
T.A.: Ele é espanhol mesmo?
W.M.: Sim.
PESQUISADORA: Pergunta sobre a época em que ele viveu.
T.A.: Então... Eu faço a pergunta dela (risos). Que é, é, ele viveu na... Eu não lembro se você
falou, ele tá vivo?
W.M.: Não.
T.A.: Não, né? Mas já... faleceu há muito tempo?
137
W.M.: Sim.
T.A.: Tipo, é bem... Não sei, eu não vou conseguir lembrar, lembrar. Se ficar perguntando
eu não vou... lembrar o nome, nem o nome. Vou ficar fazendo perguntas e vou acabar não
lembrando.
PESQUISADORA: Bom, você que sabe. Se você quiser desistir, pode desistir. Imagina, vou
obrigar ele a ficar aqui até ele acertar! Até amanhã.
T.A.: Peraí, eu vou tentar mais um... mais um pouquinho.
PESQUISADORA: Tá.
T.A.: Só mais um pouquinho. É... tô, sei lá, vou... vou jogar o alfabeto de novo, não sei. Pra
ver se ele tipo, me lembra. É, com... com D?
W.M.: Não.
T.A.: F?
W.M.: Não.
T.A.: G?
W.M.: Não.
T.A.: H?
W.M.: Não.
T.A.: I?
W.M.: Não.
T.A.: J? L?
W.M.: Não.
T.A.: M? N?
W.M.: Não.
T.A.: O?
W.M.: Não.
T.A.: P?
W.M.: Sim.
T.A.: Espanhol... Com P... Picasso?
W.M.: Sim.
T.A.: (risos) Pablo Picasso!
138
ANEXO 3:
Formulário de respostas do teste de percepção
01. é irrelevante
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
02. um desenho animado da televisão
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
03. eu posso desistir
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
04. é criança
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
05. é histórico
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
06. é político
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
07. ela mora com o pai
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
08. o ator é bonito
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
09. tem direito a dica
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
10. ele é o protagonista
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
11. da selva
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
12. é um personagem de filme
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
13. o ator é americano
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
14. americano
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
139
15. da literatura
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Ito é uma exclamação.
16. é um personagem real
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
17. folclore
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
18. tem mais de quinze
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
19. foi presidente
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
20. quadrinho
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
21. é um artista
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
22. isso se refere à família
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
23. as mulheres acham ele bonito
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
24. o personagem é criança
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
25. europeu
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
26. de alguma forma marcou a
história do país
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
27. ele canta música sertaneja
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
28. do nosso país
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
29. mas tem tanto rock brasileiro
conhecido
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
30. e usa um capacete
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
140
31. é branco
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
32. você é um líder
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
33. não é Dom Pedro I
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
34. posso chutar
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
35. Idade Moderna
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma declaração neutra.
36. é uma animação infantil
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
37. é desenho
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Isto é uma exclamação.
38. a mãe dela não existe
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
39. alguma coisa diferente
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.
40. o meu é mais difícil
( ) Isto é uma pergunta.
( ) Esta frase está inacabada.