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Revista Científica UNAR (ISSN 1982-4920), Araras (SP), v.18, n.1, p.139-158, 2019. DOI: 10.18762/1982-4920.20190011 Revista Científica UNAR, v.18, n.1, 2019 139 ALFABETIZAÇÃO LÚDICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL Andrio Rodrigo MELLON 1 Franciele Vanessa VIEL 2 RESUMO O trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o processo de alfabetização realizado na Educação Infantil de forma lúdica, no qual este tende a ser mais prazeroso, dando oportunidade à criança de descobrir suas próprias construções e de valorizar tudo aquilo que produz. Sendo assim, o objetivo é garantir que a criança esteja inserida neste processo de alfabetização desde cedo, nos primeiros anos da Educação Infantil, tendo como estímulo as produções relacionadas à leitura e a escrita, que lhe serão úteis para a vida. Esta etapa da escolarização apresenta uma ampla oportunidade para que todos possam aprender, e sobretudo se desenvolver no aspecto social, emocional e cognitivo. É importante o lúdico na alfabetização, pois ela surge da necessidade dos alunos estarem reconhecendo as palavras que desejam escrever ou ler ao longo do cotidiano na sala de aula, o que faz com o professor tenha em mente esta capacidade de observar tais necessidades, partindo do princípio de que os jogos e brincadeiras podem estar ligados à alfabetização, quando por exemplo, as crianças constroem um determinado objeto e dão nome para ele, exploram letras e estabelecem regras para a utilização deste, ou quando numa situação de aprendizagem desenvolvem no grupo a construção da linguagem como uma brincadeira significativa, que contemple a comunicação e a ampliação de vocabulário. Essas estratégias fazem com que a Educação Infantil se torne o início importante do desenvolvimento de habilidades alfabetizadoras. PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil. Lúdico. Alfabetização. ABSTRACT The aim of this work is to reflect on the literacy process carried out in Early Childhood Education in a playful way, in which it tends to be more pleasant, giving children the opportunity to discover their own constructions and to value everything they produce. Thus, the objective is to ensure that the child is inserted in this process of literacy early in the early years of Early Childhood Education, stimulating the productions related to reading and writing that will be useful for life. This stage of schooling presents an ample opportunity for all to learn, and especially to develop in social, emotional and cognitive aspects. The playfulness of literacy is important because it arises from the students' 1 Pedagogo e Especialista em Alfabetização e Letramento pela Faculdade da Aldeia de Carapicuíba FALC E-mail: [email protected] 2 Pedagoga e Especialista em Educação em Tempo Integral pelo Centro Universitário de Araras Dr. Edmundo Ulson UNAR E-mail: [email protected] Recebido em: 05/07/2019 - Aceito para publicação em: 24/07/2019

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Revista Científica UNAR (ISSN 1982-4920), Araras (SP), v.18, n.1, p.139-158, 2019.

DOI: 10.18762/1982-4920.20190011

Revista Científica UNAR, v.18, n.1, 2019 139

ALFABETIZAÇÃO LÚDICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Andrio Rodrigo MELLON1

Franciele Vanessa VIEL2

RESUMO O trabalho tem como objetivo fazer uma reflexão sobre o processo de alfabetização realizado na Educação Infantil de forma lúdica, no qual este tende a ser mais prazeroso, dando oportunidade à criança de descobrir suas próprias construções e de valorizar tudo aquilo que produz. Sendo assim, o objetivo é garantir que a criança esteja inserida neste processo de alfabetização desde cedo, nos primeiros anos da Educação Infantil, tendo como estímulo as produções relacionadas à leitura e a escrita, que lhe serão úteis para a vida. Esta etapa da escolarização apresenta uma ampla oportunidade para que todos possam aprender, e sobretudo se desenvolver no aspecto social, emocional e cognitivo. É importante o lúdico na alfabetização, pois ela surge da necessidade dos alunos estarem reconhecendo as palavras que desejam escrever ou ler ao longo do cotidiano na sala de aula, o que faz com o professor tenha em mente esta capacidade de observar tais necessidades, partindo do princípio de que os jogos e brincadeiras podem estar ligados à alfabetização, quando por exemplo, as crianças constroem um determinado objeto e dão nome para ele, exploram letras e estabelecem regras para a utilização deste, ou quando numa situação de aprendizagem desenvolvem no grupo a construção da linguagem como uma brincadeira significativa, que contemple a comunicação e a ampliação de vocabulário. Essas estratégias fazem com que a Educação Infantil se torne o início importante do desenvolvimento de habilidades alfabetizadoras. PALAVRAS-CHAVE: Educação Infantil. Lúdico. Alfabetização. ABSTRACT The aim of this work is to reflect on the literacy process carried out in Early Childhood Education in a playful way, in which it tends to be more pleasant, giving children the opportunity to discover their own constructions and to value everything they produce. Thus, the objective is to ensure that the child is inserted in this process of literacy early in the early years of Early Childhood Education, stimulating the productions related to reading and writing that will be useful for life. This stage of schooling presents an ample opportunity for all to learn, and especially to develop in social, emotional and cognitive aspects. The playfulness of literacy is important because it arises from the students'

1 Pedagogo e Especialista em Alfabetização e Letramento pela Faculdade da Aldeia de

Carapicuíba – FALC – E-mail: [email protected] 2 Pedagoga e Especialista em Educação em Tempo Integral pelo Centro Universitário de

Araras Dr. Edmundo Ulson – UNAR – E-mail: [email protected] Recebido em: 05/07/2019 - Aceito para publicação em: 24/07/2019

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need to recognize the words they wish to write or read throughout the day in the classroom, which makes the teacher keep in mind this ability to observe such needs, starting from the the principle that games and games can be linked to literacy, for example, children construct a given object and name it, explore letters and establish rules for its use, or when in a learning situation they develop in the group the construction of language as a meaningful joke, which contemplates communication and the expansion of vocabulary. These strategies make Early Childhood Education the important beginning of the development of literacy skills.

KEY WORDS: Early Childhood Education. Leisure. Literacy.

INTRODUÇÃO Estudos e pesquisas têm comprovado os benefícios da ludicidade no desenvolvimento das crianças, proporcionando condições ao seu desenvolvimento físico, motor, emocional, cognitivo e social.

A educação Infantil oferece um ambiente desafiador e rico em oportunidades e experiências para o desenvolvimento da alfabetização dos alunos.

Desta forma, o presente trabalho tem como objetivo mostrar como se dá o trabalho voltado para a alfabetização na Educação Infantil, realizado por meio de atividades lúdicas, tendo como base jogos e brincadeiras que favorecem a interação da criança com o objeto, bem como desta com o meio e também no desenvolvimento da linguagem, enquanto se comunica o que tende a colaborar para o processo de alfabetização individualizado.

O Brincar é próprio do ser humano, e estabelecer uma relação entre o aprender e o brincar pode tornar o processo divertido e prazeroso, sobretudo enriquecedor para a criança. É por meio dos jogos e brincadeiras que o aluno socializa e aprende a agir e a resolver conflitos com o outro.

A escola é um espaço favorável para os alunos vivenciarem os aspectos lúdicos e se desenvolver a concentração, o raciocínio, a criatividade, a coordenação motora, e outras aprendizagens significativas, sendo que aqui no caso será no processo de alfabetização.

O desenvolvimento infantil depende muito do meio onde o aluno está inserido, ou seja, do meio social, cultural do qual ele faz parte. Portanto, o mediador deve explorar a vivência, o conhecimento que a criança já traz consigo, priorizando e motivando atitudes como autonomia, empatia, imaginação, exploração do brinquedo, socialização, verbalização, movimento e a diversão, que geralmente não são oferecidas dentro do âmbito familiar e social.

Os capítulos desenvolvidos logo a seguir devem proporcionar importantes reflexões no sentido de orientar educadores sobre uma nova abordagem para as práticas

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pedagógicas da alfabetização de maneira lúdica, que servirão para um melhor desenvolvimento quanto ao ensino aprendizagem de cada um.

Dentro deste contexto, a prática lúdica surge como ferramenta para que os alunos não se tornem seres mecânicos e reprodutores da fala e da escrita, mas sim, participantes ativos do processo de aquisição do conhecimento, de maneira participativa e colaborativa, considerando suas construções enquanto jogam e brincam, vivenciados no cotidiano escolar; tendo sempre como pressuposto a orientação e intervenção do docente, que precisa estar sempre atento às necessidades individuais da criança, sobretudo no que diz respeito ao processo de alfabetização.

CAPÍTULO I : A ALFABETIZAÇÃO INFANTIL

Muito já se tem falado sobre as diversas situações vivenciadas por professores ao longo da Educação Infantil. Mas, nos últimos tempos a presença de jogos e brincadeiras na sala de aula tornou-se mais ampla, como um todo; onde pode-se ensinar a criança, enquanto esta brinca. Quando a psicogênese entrou na sala de aula, ocorreu um processo de reformulação de uma didática da alfabetização, ou seja, uma nova forma de ensinar. Feito isso, novas formas de trabalhos em sala de aula foram surgindo, de modo que os jogos e as brincadeiras passaram a ter valores importantes e significativos para todos, sobretudo para os alunos conforme nos refere Friedmann:

As brincadeiras e jogos vêm mudando desde o começo do século XX até os dias atuais, nos diferentes países e contextos sociais. Mas o prazer de brincar não muda. O crescente movimento pelo resgate do brincar, tanto no Brasil quanto no mundo, tem uma força e importância que atravessam fronteiras, porque diz respeito ao resgate da linguagem, da essência dos seres humanos e da possibilidade de expressarem e serem reconhecidos em suas singularidades, aprenderem do mundo à sua volta, se inserirem nos diversos grupos e descobrirem suas identidades multiculturais (FRIEDMANN, 1996, p. 30).

Quanto à utilização de jogos e brincadeiras utilizados de forma pedagógica em sala de aula, estes podem estimular os alunos na construção do pensamento de forma significativa e na convivência social, pois eles passam a atuar em equipe, superando o egocentrismo.

Assim, os jogos e brincadeiras devem estar ligados à estratégia didática, dentro um novo conteúdo, tendo como finalidade despertar o interesse do aluno, e ao final de todo o processo, reforçar a aprendizagem.

O desenvolvimento a partir de jogos em que há uma situação imaginária às claras e regras ocultas para jogos com regras

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às claras e uma situação imaginária oculta delineia a evolução do brinquedo das crianças (VYGOTSKY, 1998, p. 126).

É por meio dos jogos e das brincadeiras que a criança se interessa a aprender, por estar ligado aos estímulos concretos. Eles permitem que o professor alcance seus objetivos sem a imposição dos conteúdos tradicionais, como cadernos e livros. É interessante observar como todos os alunos ficam mais interessados e animados com o conhecimento extraído do ato de jogar e brincar. Errar a partir desta concepção se torna brincadeira, risos entre os alunos, porque todos sabem que podem reverter o errado pelo correto durante um jogo ou uma brincadeira, pois é errando que se acerta, sobretudo quando se fala em alfabetização, que demanda todo um processo.

Para Morais (2012, p.-55-56), as crianças estão escrevendo cada vez mais cedo, graças ao avanço das novas tecnologias, contudo, num momento inicial, as crianças bem pequenas ainda não sabem diferenciar a escrita do desenho, portanto, quando pedimos para uma criança escrever um objeto ou um animal por exemplo, esta logo representa com desenho, ou rabiscos, que são chamados de garatujas pois são parecidos com letras. O que mais importa neste processo, é que eles vão construindo o conhecimento uns com os outros, e vão se questionando do porquê não poder ser assim e do porquê ter que ser de outra maneira; e vão se encaixando, e se integrando aos valores como respeito, diálogo, e ouvir o outro, se expressando de forma positiva, e compreendendo os conteúdos abordados, principalmente por meio de cálculos, escrita das palavras e resolução de desafios, através das brincadeiras e dos jogos.

Ainda segundo Morais (2012), para dominar a escrita, a criança precisa conhecer cuidadosamente o som das letras, bem como o ato em si de ler e escrever. Sendo assim, fazendo uso da ludicidade na escola para novos saberes, o aluno tende a colaborar na construção desta linguagem que será útil nas construções seguintes da Educação Infantil, devido ter grande significado para ele.

CONSIDERAÇÕES EM TORNO DESTE PROCESSO

No processo de alfabetização, é importante que os alunos sintam prazer naquilo que estão fazendo, por isso, mostram-se entusiasmados e felizes durante o momento de aprendizagem com jogos e brincadeiras. A organização do trabalho com estas ferramentas passa a ser fundamental e determinante. A literatura nos deixa claro de que:

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. O fato de a criança, desde muito cedo, poder se comunicar por meio de gestos, sons e mais tarde representar determinado papel na brincadeira faz com que ela desenvolva sua imaginação. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação. Amadurecem também algumas

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capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais (BRASIL, 1998b, p. 22).

A tarefa de pensar sobre a escrita tem ficado restrita às atividades permanentes com listas e textos memorizados. O professor deve aproveitar os momentos em que as crianças estão brincando e intervir com um determinado objeto para levá-las a pensar sobre o sistema alfabético e as relações entre a fala e o brinquedo, e a palavra em si e a escrita. Desta maneira, é possível unir a reflexão sobre a escrita com as práticas sociais que as crianças constroem durante as brincadeiras.

Segundo Piaget (1987), para a criança pensar e falar, ela deve passar por algumas fases de desenvolvimento cognitivo (sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal), é algo de dentro para fora, ou seja, primeiro ele aprende espontaneamente devido o meio em que está inserido, depois externaliza esse conhecimento, sempre do individual para o social.

O referencial pedagógico da Educação Infantil deve ter como objetivo garantir à criança acesso ao conhecimento de múltiplas linguagens, bem como direito à proteção, saúde, liberdade, confiança, respeito, dignidade, brincadeira, convivência e á interação com outras crianças (BRASIL, 2010, p. 18).

Ainda sobre o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), nos diz que dentro destas expectativas, faz-se necessário considerar que as crianças têm tempos, espaços e movimentos diferenciados uma das outras. E dentro deste contexto, é preciso reorganizar o ensino de modo a dar oportunidades para todas elas, sem exceção. Elas precisam sentir-se acolhidas na escola para que possam durante este período, adquirir o máximo de aprendizagens possíveis.

A aquisição da linguagem pode ser um paradigma para o problema da relação entre aprendizado e desenvolvimento. A linguagem surge inicialmente como um meio de comunicação entre a criança e as pessoas em seu ambiente. Somente depois, quando da conversão em fala interior, ela vem organizar o pensamento da criança, ou seja, torna-se uma função mental interna (VYGOTSKY, 1998, p. 117).

Tendo os jogos e brincadeiras como ferramentas da aprendizagem em turma de alfabetização é possível obter, durante o processo da aquisição de conhecimentos para os alunos, uma maior qualidade naquilo que está sendo oferecido a eles. Partindo disto, eles se sentem mais seguros quando erram, corrigem, e passam a perguntar mais aos colegas e à professora o que não compreendem ou que têm dificuldade, adquirindo assim, conceitos e informações que são relevantes para a aprendizagem daquela faixa etária em que se encontram.

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A brincadeira favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aprendizagens de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil (BRASIL, 1998a, p. 27).

A Educação Infantil, enquanto espaço de organização escolar dos pequenos, oferece a estes a oportunidade de evolução no contexto da aprendizagem total, pois é por meio da participação em jogos e brincadeiras do dia-a-dia que a criança passará a reproduzir aquilo que pensa e que aprende.

Ainda Kishimoto (2011), refere que considerar o jogo dentro de um sentido pertencente a um contexto significa emitir uma hipótese, e aplicar a experiência vivida pela sociedade, que tem como instrumento de cultura a linguagem presente de forma real. Diferentes estudiosos reconhecem que a divulgação da teoria da psicogênese provocou uma verdadeira revolução no debate sobre alfabetização em nosso país. Este é um tema interessante de fato, essa teoria propôs uma mudança radical nas formas de compreendermos como se aprende a escrita alfabética, encontramos, por outro lado, uma grande dificuldade para inovar o ensino de alfabetização.

Nesta perspectiva, pode-se reconhecer nas brincadeiras, nos jogos e nos brinquedos a função de objetos portadores de valores culturais, que transmitem às crianças o conhecimento prévio e a chance de estar interligados com o processo de alfabetização à medida que brincando, as crianças ampliam a linguagem e a comunicação, favorecendo mais tarde a escrita (MORAIS, 2012, p.73).

O LÚDICO NA ALFABETIZAÇÃO

Durante o processo da leitura e da escrita, a criança se depara com um mundo de atrações (cores, formas, letras, palavras, frases) do qual ela passará a fazer parte, e se o processo for permeado pelo lúdico de forma participativa, inteligente, e prazerosa, o aluno se desenvolverá muito mais rápido e melhor, diferentemente do processo tradicional em que o aluno não tem prazer em aprender, demora em adquirir o conhecimento, pois é algo mecânico, repetitivo e que ainda é aplicado em muitas escolas.

Sendo assim, é primordial a necessidade de se unir o lúdico com o ato de alfabetizar, por meio de jogos e brincadeiras, a fim despertar o interesse e a atenção de todos, tornando este processo cheio de significado.

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Aberastury (1992) coloca que o brincar possui diferentes expressões, de acordo com o momento do desenvolvimento da criança, sendo que esta inicia a atividade lúdica, a partir do momento em que é capaz de controlar seus movimentos. É também por meio de seus brinquedos que a criança elabora a imagem das pessoas ou dos objetos que podem aparecer e desaparecer de sua frente.

É importante que o professor leve para a sala de aula atividades lúdicas e práticas, para tornar a aprendizagem significativa e prazerosa, pois o aluno deve ter vontade de aprender, brincando com alegria, não como uma obrigação e sim um estímulo de satisfação para o seu próprio conhecimento.

[...] As singularidades definem cada ser humano em seu temperamento, sua individualidade, suas relações, sua essência. Os jeitos de expressar-se ludicamente e os repertórios lúdicos de cada criança são os canais de comunicação que elas têm para apreender o mundo à sua volta, relacionar-se com os outros e com seus entornos (FRIEDMANN, 2012, P. 24).

Pode-se dizer que os jogos e brincadeiras presentes no dia-a-dia escolar das turmas de alfabetização vêm ganhando mais espaço, uma vez que se percebe a forma dinâmica e inovadora com que todos fazem deste momento. O desenvolvimento integral cognitivo, social, emocional, físico e motor da criança é perceptível, pois busca compreender o mundo que a cerca construindo de maneira participativa sua relação com o conhecimento formal. Desta forma:

A possibilidade de ensinar leitura e escrita às crianças em idade pré-escolar é desejável, já que as crianças mais novas entram na escola, uma vez que já são capazes de ler e escrever. No entanto, o ensino tem de ser organizado de forma que a leitura e a escrita se tornem necessárias às crianças [...] (VYGOTSKY, 1998, p.155).

Para Vigotsky (1998, p.156), se a escrita servir somente para fins obrigatórios e mecânicos, em breve passará ser frustrante para as crianças, sendo assim, não terão mais vontade de ler e escrever, consequentemente não desabrocharão em suas personalidades.

Como afirma Almeida (1998, p. 35), os objetivos da aprendizagem lúdica, além de explicarem as relações múltiplas do ser humano em seu contexto histórico, social, cultural e psicológico, enfatizam a libertação das relações pessoais possíveis às técnicas para as relações reflexivas, criadoras, inteligentes, sociabilizadoras, tornando o ato de educar um compromisso a ser realizado de forma consciente, intelectual, sem medir esforços, e sem deixar de lado o prazer da satisfação individual.

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O processo de alfabetização com o lúdico passam a ser entrelaçados.O brincar e o jogar inseridos contextualizados de forma pedagógica, se inclui no cotidiano dos alunos, garantindo o desenvolvimento de todas as capacidades necessárias para essa faixa etária. Assim, ao brincar, a criança passa a explorar e conhecer o seu próprio corpo, o espaço físico e social. É brincando que a criança aprende a agir, conhece conceitos, regras, normas, valores e ética.

JOGOS E BRINCADEIRAS INFANTIS

É de conhecimento de todos que a presença de jogos e brincadeiras na prática pedagógica, tem aumentando ao longo dos anos, de forma que estes podem vir a colaborar com a escola, para que esta se torne um espaço lúdico, onde corra o desenvolvimento da atenção, do raciocínio, e da aprendizagem voltada para a alfabetização. Por meio dos jogos as crianças imaginam e sentem, dentro de cada situação buscando resolver problemas e conflitos. E, passam a lidar com mais facilidade com as dificuldades pessoais e do outro, com o medo, dor, perda, conceitos de bem e mal, que se fazem presentes no meio em que vivem.

As brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e de regras, como de tabuleiro, jogos tradicionais, didáticos, corporais, etc., propiciam a ampliação da aquisição dos conhecimentos infantis por meio do lúdico (BRASIL, 1998a, p. 28).

O jogo é visto como uma atividade natural, espontânea e importante para todas as crianças, deste modo, é um direito reconhecido em declarações, convenções e está presente nas leis em nível mundial. São várias as contribuições que se pode encontrar na aprendizagem lúdica, como: As atividades lúdicas estimulam a formação da criança. Essas atividades permitem o desenvolvimento integral da criança em vários aspectos.

O jogo e o brinquedo por exemplo é produto de cultura, e suas práticas podem garantir qualidade de vida na sociedade, por desenvolver a autonomia, criatividade, empatia, coordenação, afeto, emoção, raciocínio, inteligência, além disso, é uma necessidade básica, como a saúde e a educação. O jogo é primordial para a saúde do corpo, e da mente, pois possibilita o indivíduo vivenciar o real e o mundo imaginário (RAMOS et al., 2011, p. 42).

O jogo visto por esta ótica tem uma importância significativa na vida da criança, pois impulsiona a criatividade. E, se valendo disso, o professor deve usar a aprendizagem

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lúdica como recurso pedagógico, dando espaço para situações de aprendizagem significativas.

Conforme o Referencial Curricular para a Educação Infantil (RCNEI), é através das relações sociais, das interações e das formas de comunicação que a criança passa a se sentir mais segura para poder expressar e aprender com outras crianças e com os adultos que a cerca (BRASIL, 1998).

A partir do momento que a criança passar a aprender por meio do lúdico na sala de aula, entendendo esse contexto como uma ação educativa, ela alcançará no aspecto escolar o resgate da própria essência em interagir, pois o brincar é uma linguagem de interação enriquecedora sobre si mesmo, sobre o outro, e sobre o mundo que o rodeia. Ela, então, aprende sobre natureza, eventos sociais, estrutura e dinâmica de seu grupo. É brincando e jogando que vai conhecer o funcionamento do objeto.

Para compreender melhor como o jogo faz parte da cultura e das vivências que a criança traz, com Kishimoto (2011, p.19) podemos compreender que as crianças brincam de faz de conta com objetos que representam importância para determinado povo, cultura. Como exemplo, o autor cita o arco e a flecha, que para uma criança parece apenas um brinquedo, mas são instrumentos reais e importantes para os povos indígenas. Assim também ocorre com o processo de alfabetização, pois este tem ganhado força nas dinâmicas com jogos e brincadeiras que proporcionam o desenvolvimento da linguagem, da comparação de objetos e palavras, da criação imaginária enquanto se brinca, e de tantas outra situações que se tornam fundamentais quando o assunto é a prática da leitura e da escrita, na Educação Infantil.

O professor deve estar em constante observação como as crianças utilizam com o brinquedo, o material oferecido, e como se relacionam os demais do seu grupo.

Cada proposta advinda da prática de jogos e brincadeiras tende a melhorar a capacidade das crianças de interagirem e se comunicarem ao longo do processo escolar. Na alfabetização, estas não tendem a ser diferentes, pois nela também se encontram conceitos de leitura e escrita trabalhados em músicas cantadas, brincadeiras de roda, e o resgate de outras brincadeiras que tendem e proporcionar a satisfação na aprendizagem (FRIEDMANN 2012, p.43).

A APRENDIZAGEM DOS PEQUENOS

Quando se fala do processo educativo voltado às crianças menores, o lúdico deve estar ainda mais presente, pois é possível com ele construir um ambiente puramente afetivo. Desta maneira, se torna fundamental entender, que o lúdico para a criança,

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não é apenas prazeroso, mas sim o significado da vivência de momentos de experimentações e de construções do real e do imaginário.

Segundo Maluf (2014), os primeiros anos do indivíduo são primordiais na construção da identidade, da inteligência, e do afeto, portanto, faz-se necessário o uso do lúdico para um desenvolvimento positivo.

A teoria de Vygotsky (1998), a aprendizagem tem um papel fundamental para o desenvolvimento do saber, do conhecimento. Ele explica sobre a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), que parte do princípio daquilo que a criança ainda não sabe, não adquiriu para si ainda, mas está próximo de aprender. Em consequência disto, a criança entra na Zona de Desenvolvimento Real (ZDR), é quando ela aprende o que lhe foi ensinado, e consegue fazer sozinha à partir de então, não sendo portanto mais necessário o auxílio de um adulto. Para Vygotsk (1998, p.47) quando as crianças se confrontam com um problema mais complicado, apresentam uma variedade complexa de respostas: Tenta atingir um objeto com algum outro instrumento ou faz uso da fala dirigida à pessoa que está por perto;

A criança que fala tem dessa forma, a capacidade de dirigir sua atenção de uma maneira dinâmica. Ela pode perceber mudanças na sua situação imediata do ponto de vista de suas atividades passadas, e pode agir no presente com a perspectiva de obter sucesso no futuro. É preciso entender a importância da inclusão e o uso de jogos e brincadeiras nas atividades pedagógicas, pois a escola é o local onde os alunos podem vivenciar a ludicidade como forma de desenvolvimento da atenção, do raciocínio, da criatividade e da aprendizagem, buscando sempre informações sobre novos métodos e diferentes tipos de brincadeiras que venham a desenvolver uma maneira mais interessante de aprender. Pode-se dizer que a aprendizagem lúdica, enquanto promotora da capacidade e potencialidade do aluno deve ter um foco primordial na prática pedagógica, pois é através da organização do trabalho pedagógico e por meio da ludicidade que as atividades satisfatórias permanecem na escola, sendo elas facilitadoras de novas aprendizagens, de novos conhecimentos, dentre muitas outras características que se perfazem neste caminho.

Assim, com um planejamento adequado, as atividades envolvendo a ludicidade, contribuem para a formação do indivíduo, reforçando valores e posturas, e buscando a melhoria do relacionamento das pessoas em sociedade e reafirmando o direito de cidadão que cada um possui. Para Friedmann (2012, p.44) a educação escolar deve ser atrativo e dinâmico, além disso, desafiador, para despertar no aluno a vontade de aprender e desenvolver suas inteligências. Partindo disto, pode-se dizer que a aprendizagem depende sem dúvida da motivação, onde as necessidades e os interesses das crianças precisam ser

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levados em conta, já que não existe qualquer outra razão para que elas se dediquem a uma atividade.

Com essa dinâmica em prática, as atividades lúdicas devem causar na criança a independência, a curiosidade, a iniciativa e a confiança. O modo de pensar e se expressar também surgem deste pressuposto.

O USO DE RECURSOS LÚDICOSO

Os jogos e brincadeiras como instrumentos usados na aquisição da aprendizagem significativa para o aluno são, de certa forma, incentivadores para que as crianças desenvolvam as relações interpessoais, o conhecimento matemático, o mundo que a cerca, a linguagem e consequentemente a leitura e a escrita. Sobre a linguagem, o autor ressalta:

O papel de linguagem na percepção é surpreendente, dadas as tendências opostas implícitas na natureza dos processos de percepção visual e da linguagem. Elementos independentes num campo visual são percebidos simultaneamente; nesse sentido, a percepção visual é integral. A fala, por outro lado, requer um processamento seqüencial. Os elementos, separadamente, são rotulados, e então conectados numa estrutura de sentença, tornando a fala essencialmente analítica. (VYGOTSKY, 1998. p.43)

Assim, o brincar sempre terá seu sentido voltado para a liberdade, envolvimento e espontaneidade, pois ao realizar tal ação, a criança aprende a organizar seu campo perceptivo, suas ideias e suas experiências, e entra em contato com suas próprias emoções, seus próprios sentimentos, o que de certa forma proporciona a integração dinâmica entre o próprio ritmo da criança a alegria de poder fazer parte de um grupo.

Segundo o teórico Vygotsky (1998) a criança se desenvolve essencialmente, por meio da atividade do brinquedo. Somente neste sentido o brinquedo pode ser considerado uma atividade condutora que determina o desenvolvimento da criança. Maluf (2014, p.22-23) afirma que toda atividade lúdica pode ser aplicada em diversas faixas etárias, mas pode sofrer intervenção em sua metodologia de aplicação, na organização e nas suas estratégias, de acordo com as necessidades de cada turma. As atividades lúdicas têm capacidade de desenvolver múltiplas habilidades na criança, proporcionando-lhe divertimento, prazer, convívio, estímulo intelectual desenvolvimento harmonioso, autocontrole e autorealização. Tanto alunos e professores são beneficiados com a prática diária de atividades lúdicas. Dentro do contexto escolar, os jogos e as brincadeiras podem ser utilizados com os propósitos de entretenimento e diversão, de desenvolvimento de determinadas habilidades e competências, bem como ferramentas importantes na construção de uma aprendizagem significativa.

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Kishimoto (2011) o uso do jogo na Educação Infantil faz com que as condições encontradas no ensino-aprendizagem caminhem para que a construção do conhecimento se dê com sucesso, mostrando as propriedades do lúdico e da iniciativa motivadora.

Portanto, quando se pensa que um dos principais objetivos da escola é possibilitar a aprendizagem e o desenvolvimento integral do aluno, pode-se afirmar que os jogos e brincadeiras, podem ter suas funções ativas no cumprimento de vários objetivos. Para o autor, a ludicidade deve fazer parte do projeto político pedagógico da escola. A escola, enquanto espaço social deve proporcionar jogos e brincadeiras para as crianças, ao mesmo tempo, em que faz com que estes estejam integrados ao sistema de aprendizagem, oferecendo liberdade para que estas desenvolvam a variedade de habilidades fundamentais para a vida. Neste sentido, a brincadeira se torna um processo, que, por si mesmo, engloba uma variedade de comportamentos, motivações, oportunidades, práticas, habilidades e compreensões. Aberastury (1992, p55) nos afirma que a criança que brinca, investiga e precisa ter uma experiência total que deve ser respeitada. Seu mundo é rico com contínua mudança, enquanto brinca ela permeia entre a fantasia e a realidade. Se o adulto interfere e interrompe em sua atividade lúdica, pode abalar o desenvolvimento da experiência decisiva que a criança realiza ao brincar. Para Friedmann (2012) dentre os verdadeiros conceitos do brincar, encontra-se também a importância do resgate de brincadeiras antigas que também fizeram parte da trajetória escolar de muitos alunos. Assim, recuperar tais situações mostra que o objeto em questão, que é o próprio brincar, ainda se faz pouco presente no dia-a-dia das crianças e dos adultos.

O bom do brincar é que às vezes somos vencedores, e outras perdedores. Então, na verdade, todos acabamos ganhando. Brincar envolve muitas emoções, prazer, tensões, conflitos, dificuldades e, principalmente, desafios.

E na aprendizagem lúdica, o professor mostrará à criança que isso se faz de forma ativa, dinâmica e contínua, pois ele enquanto adulto também participa. Desta forma, a educação partirá das vivências do aluno, estimulando sua atividade e o desenvolvimento de sua capacidade autônoma.

Ter a ludicidade presente na escola é um avanço para a educação, no sentido de se obter a consciência da importância que ela tem para o desenvolvimento integral das crianças, descobrindo nela um meio de conhecer mais a fundo cada aluno, o que direciona a prática da sala de aula, com adequações que se encontram juntas na proposta lúdica e na preservação dos vários tipos de cultura.

O autor diz que a brincadeira e o jogo, juntamente com as interações, são o eixo central da pedagogia para crianças de 0 a 6 anos. A brincadeira é para a criança, um dos principais meios de expressão que possibilita a investigação e o conhecimento sobre as pessoas e o mundo, valorizar a brincadeira significa oferecer espaços,

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atividades e interações como práticas pedagógicas que compõem a proposta curricular.

O PAPEL DO PROFESSOR NA ALFABETIZAÇÃO

Para que o processo de alfabetização seja trabalhado de forma adequada, é necessário que o professor tenha domínio pela maneira como este processo ocorre. Não tem como se prever quando o tempo que a criança vai levar para conseguir concretizar o processo de alfabetização, mesmo estando esta ligada a vários estágios de aprendizagem, que se encontram ligados à forma de pensamento e ação. Maluf (2014, p.41) refere que o professor alfabetizador que passa a colocar em prática uma atitude positiva em relação aos jogos e brincadeiras como estratégias mediadoras, tende a obter resultados favoráveis no que diz respeito ao processo de aprendizagem dos alunos.

O educador é o responsável pelo avanço do processo de ensino-aprendizagem, cabe a ele desenvolver novas práticas educativas que permitam às crianças um maior aprendizado.

O professor precisa dar ao aluno a chance de adquirir um novo conhecimento em conformidade com os conhecimentos preexistentes do próprio aluno. Isto é de fundamental importância acontecer, desde cedo na escola, já em turmas de alfabetização, pois ele considera a bagagem de conhecimentos que ele tem, e vai aos poucos introduzindo através de ações conjuntas, novos saberes e efetivando reorganizações naqueles conhecimentos iniciais.

Pode-se encontrar nas Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (BRASIL 2010, p25 a 27), as propostas pedagógicas que compõem o currículo da Educação Infantil devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira, e garantir experiências que:

Promovam o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais e expressivas;

Possibilitem às crianças experiências de narrativas, de apreciação e interação com a linguagem oral e escrita;

Ampliem a confiança e a participação das crianças nas atividades individuais e coletivas;

Possibilitem situações de aprendizagem mediadas para a elaboração da autonomia das crianças nas ações de cuidado pessoal, auto-organização, saúde e bem-estar;

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Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no diálogo e conhecimento da diversidade;

Incentivem a curiosidade, a exploração, o encantamento, o questionamento, a indagação e o conhecimento das crianças em relação ao mundo físico e social, ao tempo e à natureza;

Promovam o relacionamento e a interação das crianças com diversificadas manifestações artísticas;

Promovam a interação, o cuidado, a preservação, e o conhecimento da biodiversidade, da sustentabilidade e boas ações da vida na Terra;

Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras;

Possibilitem a utilização das novas tecnologias.

Com todas estas experiências é importante destacar a figura do professor que será o mediador de todas estas dinâmicas, concebidas a partir da orientação que este dará ao cotidiano da sala de aula.

Assim, pode-se afirmar que o professor é o agente fundamental na construção de um relacionamento prazeroso e afetuoso em sala de aula, e este precisa ter consciência de que não basta apenas exercitar o intelecto com aquisições de conhecimentos, mas interferir de forma significativa no emocional dos alunos, por meio do entusiasmo, desejo e alegria provocando mudanças em si mesmo, e sobretudo no educando. Sendo assim:

Crianças pequenas de 4 e 5 anos que têm a oportunidade de entrar em contato com o mundo da leitura e da escrita de maneira interessante, sem serem forçadas a aprender a ler e escrever, têm condições de iniciar de maneira vantajosa o Ensino Fundamental (CARDOSO, 2012, p. 38).

Os recursos lúdicos permitem a construção do vínculo entre aluno/professor/conhecimento. E é por meio da experiência e dos estudos, que esses vínculos se constituem, proporcionando aos alunos o manuseio de jogos e brincadeiras, que os levam a aprender, a se soltar, a desafiar, e a se relacionar com colegas, outros professores, pois é ali, que se constroem hipóteses para resolver os problemas encontrados. A partir dessas vivências cotidianas, a criança irá se instrumentalizar, apropriando-se, aos poucos, das características da linguagem oral e utilizando-as de acordo com suas possibilidades. Cabe ao educador que lida com crianças nessa faixa etária,

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desenvolver a sensibilidade para perceber o que cada uma quer dizer, atentando às suas expressões, a seus gestos e à fala.

Neste aspecto, a alfabetização e o letramento acontecem de forma natural na vida da criança e, quando o lúdico passa a estar presente nas práticas educativas, nas atividades de aprendizagem, e nos momentos de atividades mais livres, ele desperta a criança para o prazer de estar na escola e de aprender. Assim, elas, por si só, criam um espaço de experimentação e descoberta de novos caminhos para a criatividade e para a dinâmica em sala de aula, considerando a alegria de estar junto com os demais (CARDOSO 2012, p.38).

Conforme Almeida (2005, p.5), o professor que se encontra inserido na prática da primeira infância é aquele que consegue colocar a importância de seu papel diante das intervenções que fazem parte da relação diária. A comunicação com o aluno deve ser constante e acolhedora, portanto, a brincadeira pode ser individual ou em coletivo, sendo que a criança tem liberdade de inserir novas regras, novos membros, modificar como desejar.

Para Cardoso (2012, p.94) quando se pratica a brincadeira na escola, se promove aspectos diversos na criança que são de suma importância para o seu desenvolvimento global, tornando-se esta imprescindível para a formação desta enquanto indivíduo.

O que se precisa ter em mente é que o professor é a figura que comanda a prática em sala de aula e fora dela, então cada atividade lúdica desenvolvida precisa ser elaborada e contextualizada para que não se perca o verdadeiro valor desta ação, que é a de proporcionar o conhecimento à criança sem deixar de lado aquilo que ela já traz consigo de vivência.

É preciso levar em conta o processo de internalização, que é também próprio de cada indivíduo. Por isso consideramos a importância de o professor ter um olhar sensível para cada aluno, vendo-o de maneira individual, com olhar para suas dificuldades e potencialidades, para ajudá-lo a avançar na aprendizagem.

Surge a partir disso, o desafio para o professor de realizar seu planejamento e sua avaliação, considerando a importância de se obter as trocas necessárias para uma mediação desafiadora, que coloque os alunos como construtores de suas potencialidades, fazendo com que acreditem nestas, e incentivando a organização do ambiente, juntamente com ações coletivas que integrem todos os envolvidos.

Na Educação Infantil, o brincar surge nas práticas educacionais de acordo com os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, pois, há um longo caminho a ser percorrido no sentido de estruturar os conceitos trabalhados dentro do

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brincar, para que se concretizem os saberes transmitidos, mas também que os professores atuem de maneira direta na prática diária junto às crianças.

Desta maneira, pode-se afirmar que hoje é um tempo extremamente importante, de transição e mudança de olhares e de ações que consideram o brincar uma prática importante e consciente.

ESTÍMULOS INFANTIS IMPORTANTES PARA ESTA FASE

Os pedagogos das diversas épocas contribuem para o desenvolvimento da pedagogia da educação infantil com um tipo de infraestrutura, de material didático, recursos pedagógicos, etc. É sobre a base desse desenvolvimento da pedagogia, nas reflexões da época, que se fundamenta a educação.

Nesse contexto, a educação infantil é um contínuo que se inicia como nascimento e então se prolonga durante os próximos anos, reconhecendo que cada etapa vai impondo novos desafios.

Seguindo esta expectativa de aprendizagem, surge também a alfabetização considerada dentro dos aspectos lúdicos que pode ser trabalhada ao longo da Educação Infantil, chegando até à leitura e escrita. Desta forma:

[...] A Alfabetização tem início bem cedo e não termina nunca. Nós não somos igualmente alfabetizados para qualquer situação de uso da língua escrita. Temos a facilidade de lermos determinados textos e evitamos outros. O conceito também muda de acordo com as épocas, as culturas e a chegada da tecnologia (FERREIRO (2004, p. 14).

O lúdico por si só, já contempla diversas áreas de desenvolvimento infantil, além de enriquecer o vocabulário, aumentar o raciocínio lógico e levar a criança a avançar em suas hipóteses. Dessa forma, ela passa a desenvolver o processo de ensino aprendizagem, se alfabetizando de uma forma mais divertida e dinâmica. As atividades lúdicas, a na Educação Infantil passam a ser fundamentais para a aprendizagem prazerosa e de sucesso. Nas situações que envolvem jogar, e brincar, os alunos partilham descobertas e vão aprendendo a ler e a escrever, com os colegas.

Para Piccoli e Camini (2012, p.44), o lúdico na escola de Educação Infantil tem como pressupostos a valorização da criatividade, da afetividade, e da sensibilidade, durante o processo de ensino-aprendizagem, pois ela permite um trabalho pedagógico de construção, e é um dos caminhos que estimula o desenvolvimento de várias áreas.

Por meio de jogos e brincadeiras as crianças despertam o interesse para aprender de forma prazerosa e alegre, onde se estimula a criatividade, a curiosidade e o significado do mundo que encontra ao seu redor. Os autores ressaltam que há crianças que precisam de mais estímulos visuais que outras, ou necessitam atentar-se mais à fala.

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Em contrapartida, fica difícil para um professor conseguir observar e analisar cada aluno em sua especificidade, mas quando este e encontra participando de uma atividade lúdica, passa a vivenciar junto com seus alunos, tudo o que necessita de informações para melhor conhecê-lo e poder intervir de forma mais específica junto a ele.

Ainda segundo Piccoli e Camini (2012), muitas propostas vão de encontro ao envolvimento da ludicidade com a alfabetização, considerando o interesse que tal relação desperta nas crianças, sendo produtivo para o ensino da leitura e da escrita. O que não se pode deixar acontecer é que, mas mesmo as atividades não sendo lúdicas, estas precisam fazer parte da rotina da sala de aula que se encontra em processo de alfabetização, afinal também se tornam importantes para a obtenção de um trabalho de qualidade. Aberastury (1992, p.1) nos orienta que é por meio da atividade lúdica que a criança expressa seus conflitos e, deste modo, podemos intervir enquanto educadores e reconstruir sua história, bem como no adulto fazemos por meio do diálogo. Esta é uma prova convincente de que o brinquedo é uma das e formas de expressar os conflitos passados e presentes.

Considerando estas colocações, o professor se torna o espelho de seus alunos, quando deixa refletir em sua prática o gosto pela alfabetização de forma que, explora com vontade os objetos que possui para a interação lúdica, e que mais a frente servirá de base para o desenvolvimento de estruturas alfabetizadoras, mediante a comunicação e interação com os demais, alcançando assim bons resultados ao longo de todo o processo.

Tendo como base os conflitos que as crianças enfrentam durante processo de alfabetização e as mudanças pelas quais estas perpassam ao longo do desenvolvimento escolar, se faz importante destacar a figura do professor, enquanto mediador do controle emocional da criança, para lidar com o fracasso, o erro e a frustração.

Conforme a criança vai obtendo, por parte do professor, a confiança necessária e os estímulos que a levem a uma produção positiva, ela vai desenvolvendo estratégias autônomas que a fazem refletir sobre aquilo que aprende e sobre o que ainda precisa aprender com seu mestre. O professor deve ter em mente a prática pedagógica voltada para o uso do jogo e a brincadeira na sala de aula, levando em consideração o desenvolvimento da criança num todo, enquanto indivíduo, e para construir o conhecimento, tendo como base a ligação entre eles.

A escola, enquanto organizadora do espaço para a alfabetização deve dar o apoio necessário ao corpo docente, onde todos os professores se sintam acolhidos pela Instituição, no sentido de dar significado à prática que estes desenvolvem partindo de instrumentos lúdicos e prazerosos, no trabalho com os alunos da Educação Infantil.

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O trabalho do professor, enquanto mediador na Educação Infantil, não se restringe ao de orientar e ensinar os alunos, mas sim, de acolher os pequenos de forma lúdica e afetiva, onde estes possam se mostrar integrados e participativos, sobretudo durante o processo de alfabetização.

Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998c), o ambiente escolar, os espaços internos e externos devem ser amplos e atrativos para melhor desenvolver todos os sentidos, bem como acolher as manifestações da motricidade infantil. Além disso, podemos encontrar na literatura:

(...) Quando as crianças se encontram em um ambiente afetivo no qual o professor está atento a suas necessidades, falando, cantando e brincando com e para elas, adquirem a capacidade de atenção, tornando-se capazes de ouvir os sons do entorno (...) (BRASIL, 1998c, p.67).

Sendo assim, o professor tende a colocar em prática diversos conceitos que lhe permite avaliar e transformar suas aulas para que se tornem interessantes e com qualidade pedagógica, afinal é na Educação Infantil que o processo educacional se inicia, dando continuidade para o estudo futuro.

CONCLUSÃO Podemos concluir que para desenvolver todas as habilidades dos alunos na Educação Infantil, é muito importante o professor explorar, fazer uso da ludicidade, sobretudo na alfabetização.

Relatos de estudiosos deixam claro que quanto mais usamos o lúdico dentro do ambiente escolar, mais sucesso na aprendizagem das crianças iremos obter, portanto, cabe ao educador diversificar seus métodos de ensino, e proporcionar para os educandos momentos significativos.

O jogo e o brinquedo são peças fundamentais para a formação do indivíduo, e estes devem sempre fazer parte dos conteúdos dos professores, não só na Educação Infantil, mas durante o período do Ensino Fundamental também, pois o brinquedo não é o aspecto predominante da infância, mas é um fator muito importante do desenvolvimento, porque brincar e jogar causam modificações internas importantes no ser humano.

Concluímos também que o docente tem que entender que é modelo para os alunos, portanto, deve atentar-se quanto a sua postura e gestos em sala de aula, uma vez que a criança levará consigo para a vida.

Para a criança ter uma aprendizagem de qualidade, harmoniosa, é preciso que o professor ofereça jogos e brincadeiras para ela, sobretudo na fase da alfabetização. Desta forma, o docente pode conseguir resultados positivos mais rápidos. Sendo

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assim, o desenvolvimento integral do aluno depende de outros fatores, além do lúdico, é necessário cuidados com o corpo, alimentação, saúde, e mais, a afetividade, pois sabemos que a criança aprende mais e melhor quando percebe que o seu professor gosta dela.

Para finalizar, teóricos importantes nos provaram no decorrer deste trabalho que o professor aprende mais, e tem resultados mais satisfatórios quando faz uso da ludicidade em sala de aula, além disso, a criança vai se desenvolver com qualidade, mais rápido e com prazer enquanto aprende jogando e brincando na fase escolar. O docente deve oferecer o máximo de oportunidades em seu espaço de trabalho, para o aluno sempre querer aprender, buscar o conhecimento, e consequentemente evoluir. REFERÊNCIAS ABERASTURY, A. A criança e seus jogos. Porto Alegre RS: Artes Médicas, 1992.

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