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ANAIS DA I SEMANA DE FILOSOFIA DA UNEB fev. 2020

ANAIS DA I SEMANA DE FILOSOFIA DA UNEB...religião, exploramos como a bifurcação da natureza (que busca uma sociedade iluminista “purificada”danatureza)geroutambémelementosde‘purificação’contraoqueosmodernos

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ANAIS DA I SEMANADE FILOSOFIA DA UNEB

fev. 2020

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I Semana de Filosofia da UNEB : Os caminhos da filosofia no século XXI (2020: Salvador,

BA).

Anais da I Semana de Filosofia da UNEB, de 05 a 07 de fevereiro de 2020. Organização: Flávio

Rocha de Deus; Simone Borges; Rayanderson Castro; Fábio de Oliveira Santos; João Vitor

dos Santos Cruz; Pedro Edigton Costa. - Salvador: DEDCI / UNEB, 2020.

Acesso: <https://semanadefilosofiauneb.home.blog/>

ISBN: 978-85-5722-409-4

1.Filosofia 2. Licenciatura - UNEB 3. Ciencias humanas

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Comissão OrganizadoraFlávio Rocha de Deus

Simone Borges

Rayanderson Castro

Fábio de Oliveira Santos

João Vitor dos Santos Cruz

Pedro Edigton Costa

Comissão CientíficaProf. Dr. Alan Sampaio (UNEB)

Prof. Dr. Valério Hillesheim (UNEB / UCSAL)

Prof. Dr. Flávio de Oliveira Silva (UNEB)

Prof. Me. Saulo Dourado (UNEB / UFBA)

Apoio InstitucionalUniversidade do Estado da Bahia - Departamento de Educação I

Edição

Rayanderson Castro - Formatação

Prof. Dr. Alan Sampaio (UNEB) - Arte da capa, Revisão

Flávio Rocha de Deus - Catalogação

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.........................................................................................5

PROGRAMAÇÃO..........................................................................................6

MINICURSO.................................................................................................10

MESAS E PALESTRAS...............................................................................12

RESUMOS DE COMUNICAÇÕES...............................................................23

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Há linhas que são monstros...Uma linha

sozinha não tem significado; é preciso uma

segunda para lhe dar expressão.

(Delacroix)

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APRESENTAÇÃO

NOSSO OTIMISMO

Necessário. Assim devemos caracterizar eventos como este, em que podemos reunir diversas

pessoas das mais distintas áreas e interesses, de dentro e fora da filosofia, para enriquecer o

debate e a perpetuação da mãe da autonomia. Mutilada de muitas formas, ironicamente muitas

vezes por aqueles que institucionalmente - ou não - deveriam protegê-la e nutri-la. Entretanto, ela

permanece, e permanecerá, pois é inerente a nós, animais pensantes e consequentemente

políticos.

Nós, amantes e pesquisadores da Sofia, muito nos atentamos a estabelecer inerências ao nosso

ser, porém, esta determinação que reafirmarmos é a prova de nosso otimismo. Não podemos

assumir a negatividade do mundo e seu infortúnio natural quando o mesmo cai massivamente

contra nós. Para os pessimistas que lamentam a existência do alto de seus prédios, e a aceitam

tristemente assumindo a naturalidade do sofrimento, perceber a injustiça do mundo é uma catarse

para si e um marketing para os outros. Para aqueles que estão no chão, perceber esse

sofrimento e esses erros éticos é a origem da indignação de uma roda que nunca para e esmaga

fortemente os que estão abaixo, o que nos impulsiona à mudança, inicialmente de nós mesmos e

posteriormente a dos outros.

Apesar de criado em 2013, tendo sua primeira turma em 2014, apenas agora, seis anos depois,

em 2020, o curso de Filosofia da UNEB realiza sua I Semana Acadêmica. Necessária! Durante

todo o evento, trinta e quatro otimistas irão comunicar suas contribuições para o público

interessado. A pluralidade dos discursos e suas origens é o que marca o que esperamos para a

Filosofia, e consequentemente para todos, no nosso século. No Auditório Jurandyr Oliveira, no

Departamento de Educação do Campus I, pesquisadores da Filosofia e de áreas irmãs, como

História, Direito, Letras, Dança, Artes, de todos os níveis do Ensino Superior, da graduação ao

doutorado, professores e alunos, de 13 diferentes instituições, de dentro e fora do estado - e do

país! - (UNEB, UEFS, UESB, UFRB, UFBA, IFBA, UnB, UFRJ, UFPE, UFSCAR, UFJF, UNILAB e

Universidad de Granada), reafirmam seu otimismo para o futuro que está por vir e que já chegou.

Salvador, 10 de Janeiro de 2020

Flávio Rocha de Deus; Simone Borges; Rayanderson Castro; Fábio de Oliveira Santos;

João Vitor dos Santos Cruz; Pedro Edigton Costa.

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12 de FevereiroDepartamento de Educação, Sala 07

14h15min CREDENCIAMENTO

15h10min ABERTURA INSTITUCIONALProfª. Dra. Adelaide Rocha BadaróDiretora do Departamento de Educação I da UNEBProf. Me. José Martins de Lima NetoPrimeiro Coordenador do Curso de Filosofia da UNEB

Prof. Dr. Alex Sandro LeiteAtual Coordenador do Curso de Filosofia da UNEB

16h00min COMUNICAÇÕESA Manipulação Política da Memória em Paul RicoeurLeonardo Brício Araújo AragonGraduando em Direito (UNEB)

Elton Moreira QuadrosDoutor em Memória, Linguagem e Sociedade (UESB)

Da Educação Natural à Educação Popular: Apontamentos sobre o ProjetoPolítico-Educacional Presente na obra Da Maturidade de Simón RodríguesBrennan Cavalcanti Maciel ModestoMestrando em Filosofia (UFPE)

O que é Transmodernidade segundo Enrique Dussel?Marcelo Andrade Sá MaiaMestre em Filosofia, Universidad de Granada (Espanha)

Uma Crítica Decolonial ao Conceito de "Reconhecimento" na Teoria CríticaContemporâneaLaiz Fraga DantasDoutora em Filosofia (UFBA)

17h30min PALESTRA: AS MULHERES E A FILOSOFIAProfª. Dra. Gislene Vale dos SantosDoutora em Filosofia pela universidade Federal de Minas Gerais.Professora Adjunta da UFBA.

Ma. Ana Carolina Costa MoreiraDoutoranda em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.Mestra em Filosofia na Universidade Federal da Bahia.

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18h50min COMUNICAÇÕESA Crítica Literária Benjaminiana e o ideal a priori da obra O idiota de DostoievskiMariza Farias Miranda do NascimentoGraduanda em Filosofia (UNEB)

A Atualidade do Pensamento de Karl MannheimMatheus Guimarães de BarrosGraduando em Direito (UFJF)

Seyla Benhabib e os Direitos HumanosFrancisco de Assis SilvaDoutor em Filosofia (UFBA)

20h00min PALESTRA: UMA INTRODUÇÃO A FILOSOFIA DA MATEMÁTICAProf. Dr. Ronaldo PimentelDoutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais.

_______________________________________________13 de Fevereiro

Departamento de Educação, Auditório Jurandyr Oliveira

14h00min CREDENCIAMENTO

14h40min COMUNICAÇÕES

Jogos de Linguagem em WittgensteinPaulo Victor Silva Arize SantosGraduando em Filosofia (UNEB)

A Arte da Educação para a Liberdade segundo Jean-Jaques RousseauMarcelo Barreto SantosGraduando em Filosofia (UNEB)

A Importância do Conceito de Tempo para o Pensamento BergsonianoMarcelo Melo de SantanaLicenciando em Filosofia (UFPE)

15h40min TRABALHOS DO PIBID DE FILOSOFIA NA SÉRIE PRAES (EDUNEB)Prof. Ma. Elivânia Reis de AndradePró-Reitora de Ações Afirmativas da UNEBCoordenadora da Série de Livros de Experiências Discentes da Série PRAES.

Michele SouzaGraduanda em Filosofia da UNEBCoautora do Artigo sobre Mulheres na Filosofia.

Fábio de Oliveira SantosGraduando em Filosofia da UNEB e Coautor do Artigo sobre A relevância dos estudosexistenciais na formação do professor de filosofia.

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16h40min EXIBIÇÃO DO FILME BACURAU E REFLEXÕES ACERCA DAFILOSOFIA NA OBRA CINEMATOGRÁFICAProf. Me. Jeudy Machado de AragãoProfessor do quadro efetivo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da BahiaMestre em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia.

20h00min PALESTRA: CORPO E ANCESTRALIDADE NO CANDOMBLÉ PARAREPENSAR O OCIDENTESaulo Santos OliveiraLicenciado em Dança pela Universidade Federal da Bahia e Mestrando em Ensino eRelações Étnico-raciais pela Universidade Federal do Sul da Bahia.

Flávio Rocha de DeusGraduando em Filosofia pela Universidade do Estado da Bahia.

__________________________________________________14 de Fevereiro

Departamento de Educação, Auditório Jurandyr Oliveira

14h00min CREDENCIAMENTO

14h40min COMUNICAÇÕESReflexões sobre a Relevância do Saber FilosóficoRomero Pereira NunesGraduando em Filosofia (UESB)

Educação e Emancipação: Reflexões a partir do Esclarecimento em KantLuís Ferreira SantosGraduando em Filosofia (UFRB)

Memes Filosóficos nas aulas de Filosofia: O Atelier de Experimentações para "FabricarConceitos"Kleyverson Rodrigues dos Santos Graduando em Filosofia (UEFS)

15h40min MESA DE EGRESSOS: FORMAÇÃO E PESQUISA EM FILOSOFIA,SUAS CARACTERÍSTICAS E EXPOENTESFoucault: Estética e Liberdade enquanto Exercício de SíEmerson FariasGraduado em Filosofia pela UNEB, Professor da Secretaria de Educação do Estado da Bahiae Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia.

Foucault e a Vontade de VerdadeGláucia NascimentoGraduada em Filosofia pela UNEB e Mestranda em Filosofia pela Universidade Federal deSão Carlos.

Produção de Imagens como Instrumento Social Fanny OliveiraGraduada em Filosofia pela UNEB, Produtora Audiovisual e Criadora do Projeto Zuruba.

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17h00min COMUNICAÇÕESJudith Butler usa testosterona com Paul B. Preciado: Considerações sobre Relato desi em Texto JunkieDouglas Santana Ariston SacramentoGraduando em Filosofia (UNEB).

Gênero Feminino: Uma nova Construção Social pela Independência e IgualdadeLarissa Fernandez de Andrade SantosGraduanda em Filosofia (UNEB)

A Busca pela Beleza como um Caminho Ético na Filosofia de PlotinoPedro Edington Anselmo Monção CostaGraduando em Filosofia (UNEB)

18h10min PALESTRA: NEGRITUDE E ANCESTRALIDADE NOS ESPAÇOSACADÊMICOSProf. Dr. Marlon Marcos Vieira PassosProfessor Adjunto da UNILAB - Universidade da Integração Internacional da LusofoniaAfro-brasileira. Doutor em Antropologia pela UFBA.

Profª. Ma. Katiúscia Ribeiro PontesDoutoranda em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.Se dedica ao estudo de Filosofia Kemetica.

19h40min MESA DE ENCERRAMENTO: OS CAMINHOS DA FILOSOFIA NOSÉCULO XXIProf. Me. Saulo Matias DouradoDoutorando, Mestre e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia.Professor Substituto da UNEB e UFBA.

Prof. Dr. Luciano Costa Santos.Professor Adjunto da UNEB. Doutor em Filosofia (PUC-RS). Mestre em Filosofia (UFRJ) eGraduado também em Filosofia pela (UFBA).

Prof. Dr. Alan SampaioProfessor Assistente da Universidade do Estado da Bahia. Doutor e Mestre em Filosofia pelaUFBA e Bacharel em Filosofia pela UCSAL.

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Auditório Jurandyr Oliveira, Dept. de Educação, UNEB Salvador.

META-METAFÍSICA E FILOSOFIA DA NATUREZA: CAMINHOS DO REALISMOCOMPLEXO ATÉ AS TEOLOGIAS DA MULTIPLICIDADE NO SÉCULO XXI

Otávio Souza e Rocha Dias Maciel (PPGFIL/UnB)Doutorando em Filosofia pela Universidade de Brasilia.

Mestre em Teoria do Direito e Direito Global pela European Academy of Legal Theory (Frankfurt) eGraduado em Direito (2013) e Filosofia (2017) pela Universidade de Brasília.

E-mail: [email protected]

A proposta deste minicurso foi apresentar a renovação dos estudos sobre a metafísica no século

XXI, movimento que gerou a criação de uma disciplina denominada metametafísica em torno de

2009. Busca-se, nesta disciplina, buscar formas de mediar sistemas metafísicos diferentes,

escolher a notação lógica adequada, tentar informar o trânsito entre filosofias diferentes. Não nos

satisfazemos com esta pequenez de horizontes, visto que a ignorância ou o acobertamento de

relações modernas de colonização não geraram efeitos meramente político-econômicos, mas

impôs sérias teses perniciosas pera a metafísica. A fundação da filosofia num ego isolado do

mundo, que domina o seu objeto subjugando a natureza esvaziada de sentido, aprisionando o

Outro em categorias do Mesmo, e despindo civilizações não só de poderio militar, mas de próprio

domínio sobre sua história, conhecimento e espiritualidades – tudo isso está na constituição da

filosofia moderna. Isso aparece em sua classificação do mundo, na destruição das rotas históricas

do Outro em favor de alguma propagandística da modernidade, em teses que sustentam a

realidade do mundo fundada nos hábitos e tradições de algumas dúzias de traficantes de

escravos.

O que foi central para nosso minicurso é observar a relação entre a destruição da filosofia da

natureza em prol de um mecanicismo acontece par a par com a destruição das teologias da

multiplicidade. Esvaziar a natureza de agência e de sentido andou de mãos dadas com o esvaziar

as religiões não-cristãs de sentido. Cientes da dificuldade de conceituar tanto natureza como

religião, exploramos como a bifurcação da natureza (que busca uma sociedade iluminista

“purificada” da natureza) gerou também elementos de ‘purificação’ contra o que os modernos

rotulavam de superstições, bruxarias e barbárie. A proposta do minicurso, no entanto, não foi

meramente de denúncia. Buscou-se mostrar como a revitalização da filosofia da natureza, a partir

da filosofia do organismo de Whitehead e do neoestruturalismo de Philippe Descola e Viveiros de

Castro, coaduna-se com as teologias da multiplicidade, do retorno dos movimentos pagãos, da

valorização de filosofias africanas, orientais e ameríndias. Usando a notação dos modos de

existência de Latour, acreditamos ter apresentado importantes ferramentas para seguir adiante

com estes novos estudos das religiões, de implicações políticas, éticas, científicas e metafísicas

extraordinariamente relevantes para o século XXI.

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UMA INTRODUÇÃO A FILOSOFIA DA MATEMÁTICA

Ronaldo PimentelDoutor em Filosofia pela Universidade Federal de Minas Gerais

De modo introdutório, trataremos dos problemas filosóficos envolvendo o platonismo na

matemática, a teoria causal do conhecimento, o estruturalismo na matemática e o naturalismo na

matemática. A filosofia da matemática procura tratar questões filosóficas vindas da prática

matemática, seja do ponto de vista dos fundamentos da matemática ou da matemática aplicada

nas teorias científicas. A prática matemática consiste na demonstração de teoremas e na

descoberta de novos candidatos a axiomas das teorias matemáticas. A lógica e teoria de conjuntos,

por exemplo, são áreas que suscitam questionamentos sobre a consistência de teorias

matemáticas, a descoberta de novos candidatos a axiomas específicos de suas teorias e o seu

poder de demonstração. A descoberta de hipóteses matemáticas ainda não demonstradas

suscitam o debate entre intuição, verdade, demonstração e exploração de um conceito matemático

como um objeto que existe independentemente do espaço e do tempo. A defesa da existência

objetiva de conceitos e objetos matemáticos como conjuntos que devem ser “descobertos”

pertence ao campo do platonismo na matemática. Esta corrente filosófica possui críticas vindas da

teoria causal do conhecimento e alternativas de respostas ontológicas que variam entre os vários

tipos de realismo e o estruturalismo na matemática por exemplo. Dentro do realismo, inclui-se o

naturalismo na matemática que, ao basear as suas concepções filosóficas na prática matemática,

pode ter o foco em teorias matemáticas puras ou na aplicação da matemática nas demais teorias

científicas. As novas teorias matemáticas levam às descobertas científicas quando aplicadas em

um campo como a física, por exemplo. A relação entre ciência e matemática levanta uma defesa

metodológica do holismo, e uma defesa ontológica, a indispensabilidade de objetos matemáticos

abstratos. O holismo entre as disciplinas científicas afirma que a ciência é um bloco unificado, em

que a prática científica não é delimitada em disciplinas e uma mudança teórica num campo do

saber pode implicar em todo o campo científico. A defesa ontológica afirma que os objetos

matemáticos abstratos são indispensáveis às nossas melhores teorias científicas, de modo a nos

comprometermos com a realidade desses objetos. Discutiremos os tipos de holismo e de

indispensabilidade da matemática ao tratarmos dos diferentes tipos de naturalismos.

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PRODUÇÕES DO PIBID DE FILOSOFIA NA COLEÇÃO DA SÉRIE DEEXPERIÊNCIAS E REFLEXÕES DISCENTES (EDUNEB)

Michele de Jesus SouzaLicencianda em Filosofia pela Universidade do Estado da Bahia, Campus I. Voluntária do PIBID noColégio Estadual Governador Roberto Santos. Participa do Grupo de Estudos em Baruch Spinoza

e do Grupo de Estudos Sophia’s, sobre mulheres na filosofia.E-mail: [email protected]

Fábio de Oliveira SantosLicenciando em Filosofia pela Universidade do Estado da Bahia, Campus I.

Bolsista PIBID no Instituto Federal da Bahia.E-mail: [email protected]

O primeiro volume da Série experiências e reflexões discentes, promovida pela PRAES e EDUNEB,

realizou a seleção de artigos de estudantes que se tornaram protagonistas desse ensaio. A

coletânea oportunizou a autonomia e o crescimento acadêmico dos autores, além de intuir um

preparo na formação profissional destes. Dos nove trabalhos publicados na coleção, organizada

por Elivânia Alves, Isaura Fontes e Alana Ferreira, dois deles foram escritos pelos estudantes do

curso de Filosofia que, usando suas experiências no PIBID, produziram artigos científicos acerca

de temáticas que consideramos vitais na formação do acadêmico de Filosofia e na atualidade do

público geral: O lugar da mulher e sua luta constante e as questões existenciais enfrentadas na

atualidade.

No artigo Reflexões sobre a invisibilização feminina na produção filosófica, a partir do olhar coletivo

de mulheres, com singularidades e inquietudes incomuns, que buscam um lugar em que possam

ser ouvidas e percebidas, foi questionado o apagamento feminino, seu reflexo dentro da academia

e, principalmente, dentro da Filosofia. Escrito por Simone Borges, Larissa Fernandez e Michele

Souza. Parte da reflexão acerca da produção feminina na História da Filosofia e a construção do

feminismo hegemônico e o feminismo negro, buscando mulheres intelectuais como referência.

Inicialmente apresentamos filósofas desde a Grécia e o Egito antigo e finalizamos a discussão

sobre as nossas experiências enquanto bolsistas no PIBID.

O outro artigo Angústia e Sofrimento na adolescência: A relevância do tema na formação do

Professor de Filosofia, escrito pelos estudantes de Filosofia, Flávio Rocha de Deus e Fábio de

Oliveira Santos e o Estudante de Psicologia Flávio Henrique Pinheiro Melo. A preparação do futuro

professor, especialmente o docente de filosofia, no entendimento e métodos de abordar e discutir

as temáticas existenciais que permeiam o imaginário discente. O trabalho surgiu através de uma

investigação originada no cotidiano das atividades do PIBID, em que encontramos uma sala com

alunos voluntariamente reunidos com o objetivo de procurar reconforto e soluções entre os colegas

acerca de suas crises existenciais causadas pela rotina e cotidiano de suas vidas. O artigo possui

como suas partes nevrálgicas a discussão do vazio existencial pela perspectiva filosófica e

psicológica, naquela é realizada a discussão sobre as temáticas da angustia da responsabilidade,

a dual percepção do suicídio como afirmação e negação da vida e o entristecimento do cotidiano

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mesclado ao vazio dos significados inerentes à vida, abordando os filósofos Jean Paul Sartre,

Albert Camus e Arthur Schopenhauer. A leitura psicológica é utilizada neste escrito para que se

compreenda, além das considerações filosóficas que este estudo se propõe, quais são as origens

sociopsicológicas possíveis deste abatimento coletivo que alcança estes adolescentes. Um

embasamento psicopatológico é utilizado para que se possa fazer o contraponto de um abatimento

patológico ou questões existenciais que aparecem em diversas literaturas sem que se cataloguem

as manifestações humanas no campo do anormal e do doentio.

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MESA DE EGRESSOS: FORMAÇÃO E PESQUISA EM FILOSOFIA, SUASCARACTERÍSTICAS E EXPOENTES

Com o objetivo de formar docentes e pesquisadores com um perfil fundado num modelo de

autonomia que se consolida pela fusão entre a prática da pesquisa, o aprimoramento

didático-metodológico e o engajamento político, o curso de Filosofia da UNEB, Ofertado pela

primeira vez em 2014, nasceu em um cenário promissor, à medida que a referida área do

conhecimento, ainda que de modo descontínuo, passa a ocupar um lócus próprio na cultura

brasileira. Nesta mesa, a I Semana de Filosofia, traz egressos da primeira turma do curso para

narrarem um pouco de suas devidas trajetórias na formação em Filosofia e como estão suas

pesquisas atuais.

1. FOUCAULT: ESTÉTICA E LIBERDADE ENQUANTO EXERCÍCIO DE SI

Emerson Costa FariasGraduado em Filosofia pela Universidade do Estado da BahiaMestrando em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia

Professor Efetivo da Secretaria de Educação do Estado da BahiaE-mail: [email protected]

O presente trabalho visa apresentar o meu tema atual de estudo e sua relação com o trabalho da

iniciação científica e da conclusão de curso, desenvolvidos durante a minha licenciatura no curso

de Filosofia na Universidade do Estado da Bahia. Partindo especificamente do problema estético

levantado por Foucault em Isto não é um cachimbo e passando pela problematização mais geral

da representação posta na fase arqueológica; atualmente, me dedico ao problema da liberdade

enquanto exercício de si e sua relação com a atitude crítica. Embora essas pesquisas estejam

situadas em fases distintas do pensamento foucaultiano, a noção estética enquanto criação e

afirmação de algo é fundamento para a construção da vida como obra de arte, isso que o filósofo

francês chamou de estética da existência e que caracteriza a forma como a ética é trabalhada por

ele. O modo de pesquisa genealógico é utilizado na problematização do saber, do poder e da ética.

A genealogia, enquanto problematização histórica, depõe contra a noção de essência das coisas –

como visto em As palavras e as coisas –, assim como depõe contra a naturalização da forma como

conduzimos a nós mesmos na modernidade. Desse modo, no que diz respeito à liberdade, se

hoje não governamos a nós mesmos, a noção greco-romana de governo de si mostra que

historicamente não éramos assim. Em suma, para Foucault, em detrimento de uma natureza ou de

uma essência humana, é possível ser diferente do que se é no presente, é possível torna-se

“artista” de si.

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2. FOUCAULT E A VONTADE DE VERDADE

Gláucia Nascimento SilvaLicenciada em Filosofia pela Universidade do Estado da Bahia.

Mestranda em Filosofia pela Universidade Federal de São CarlosE-mail: [email protected]

Investigar a vontade de verdade nas pesquisas produzidas por Foucault na década de 1970 é o

foco de nossa produção dissertativa no momento presente na UFSCar. Três anos antes nos

encontrávamos com o tema da vontade de saber em Foucault, em algo mais embrionário, em

nossas pesquisas de Iniciação Científica na UNEB, entre esses dois momentos nos detivemos na

pesquisa de TCC que envolvia a vontade de poder em Nietzsche. Mediando entre dois autores,

com certa dificuldade, o tema da vontade era o elemento basilar de nossos estudos. Retomamos a

vontade de verdade em Foucault, seguindo alguns desdobramentos, a saber, vontade de saber,

verdade, conhecimento, poder. A vontade de saber é um desdobramento da vontade de verdade

que tem por função gerir e controlar a vida, colocando-a na ordem do saber/poder. Da verdade e

do conhecimento, sua imbricação constante na história da filosofia, aprendemos a dissociá-los

com Nietzsche e contamos também sua história. Do poder detectamos seu exercício, no âmbito

social e judiciário, que ganha no desenrolar das produções de Foucault a designação de

saber-poder. Com todos esses elementos contamos a história filosofante de Foucault para com o

Ocidente e seus modos de lidar com a produção de saber.

3. PRODUÇÃO DE IMAGENS COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE SOCIAL

Franciele Oliveira BispoGraduada em Filosofia pela Universidade do Estado da Bahia

Graduanda em Letras Clássicas pela Universidade Federal da BahiaProdutora Cultural e Criadora do Projeto Zuruba (@zuruba.arte)

E-mail: [email protected]

Está comunicação traz para evidência uma narrativa de pesquisa que, possui como elemento

condutor a produção de imagens como ferramenta de análise histórica e social. Inicialmente,

impulsionada por uma análise que atravessou questões como o inconsciente óptico e a arte

direcionada às massas, com apoio da teoria crítica do alemão Walter Benjamin, a fim de elucidar

um processo histórico e político que molda a percepção coletiva, que a pesquisa ganha um novo

patamar. É trazendo a bagagem anterior para pesquisa de campo, através do método etnográfico,

que o objetivo desta se desenvolve. A questão basilar da pesquisa segue direcionada a

compreender como as imagens possibilitam também, a leitura de construções sociais dentro do

desenvolvimento humano, e quais são essas leituras, aplicadas a um recorte específico.

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CORPO E ANCESTRALIDADE NO CANDOMBLÉ PARA REPENSAR OOCIDENTE

Saulo Santos OliveiraLicenciado em Dança pela Universidade Federal da Bahia.

Mestrando em Ensino e Relações Étnico-Raciais pela Universidade Federal do Sul da Bahia.E-mail: [email protected]

Flávio Rocha de DeusGraduando em Filosofia pela Universidade do Estado da Bahia

E-mail: [email protected]

Neste momento, pretende-se apresentar a dualidade corpo/alma, sensação/razão, e o local

negativo do corpo no pensamento ocidental através da filosofia de Platão, Descartes, Nietzsche e

Merleau-Ponty. Diante desta cisão entre corpo físico e a substância inteligível, este como

representação da racionalidade e aquele como manifestação da sensibilidade, nos aventuramos

nas investigações deste objeto (corpo) dentro do espaço afro-religioso, onde o mesmo aparece

como um ponto de convergência de saberes que interseccionam tanto a sensibilidade quanto

espiritualidade e saberes de cunho metafísico. Posteriormente, com relação à Ancestralidade,

focaremos no trato do Corpo Velho no Candomblé e como a relação dos membros deste coletivo

lida com o processo do envelhecimento e com o indivíduo já envelhecido. Usaremos, então, por fim,

este elemento para refletir as condições das estruturas e microestruturas das relações sociais,

pautadas no corpo velho e seus contrastes, usando arcabouços teóricos dos autores Zygmunt

Bauman, Guy Debord e Karl Marx.

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MESA: MULHERES E A FILOSOFIA

Gislene Vale dos SantosProfessora Adjunta da UFBA. Doutora em Filosofia pela universidade Federal de Minas Gerais,

Mestra e Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

Ana Carolina Costa MoreiraDoutoranda em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Pesquisadora dosgrupos Spinoza & Nietzsche (SpiN/PPGF- UFRJ) e Estudos Spinoza (Extensão/UNEB). Possui

Mestrado em Filosofia na Universidade Federal da Bahia.

É evidente o ocultamento do protagonismo das mulheres no percurso da história ocidental,

inclusive na Filosofia e na produção acadêmica. O patriarcado provocou diversos desconfortos e

problemáticas à vida das mulheres nas mais diversas esferas da vida em sociedade. Tendo isto

como ponto de partida, é de vital importância a exposição do papel das mulheres na nossa

produção intelectual.

Nesta mesa, a Profª. Dra. Gislene Vale intersecciona dois ambientes teóricos que espelham uma

prática de apagamento e desvalorização do trabalho reflexivo feminino. São eles: a atual academia

brasileira, particularmente os cursos de graduação e pós-graduação em filosofia, e as atividades

sociais e reflexivas das mulheres na Grécia Clássica.

E Ma. Ana Carolina Moreira contrapõe o conceito de política proposto desde a filosofia clássica e a

concepção defendida pela perspectiva feminista. A partir do pensamento de autores como Carole

Pateman, Margareth Rago e Baruch Spinoza, a concepção de política sugere uma mudança de

perspectiva e concluímos o artigo defendendo como sendo indispensável para o pensamento

feminista a disputa pelo conceito de política que resguarda historicamente uma concepção

onto-epistemológica.

Palavras-chave: Mulheres; Filosofia; Política, Grécia Clássica.

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BACURAU, FILOSOFIA E CINEMAJeudy Machado Aragão

Professor do Instituto Federal da BahiaMestre em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia

E-mail: [email protected]

É quase sempre possível compreender a análise de uma obra cinematográfica como atitude

filosófica. Intelectuais como Albert Camus, Walter Benjamin, Theodor Adorno, Michel Foucault,

entre tantos, entram em acordo ao afirmar que as construções das narrativas cinematográficas são

por demais engajadas nos principais temas de interesse da filosofia, seja na metafísica, ética,

estética e política. O cinema, como sétima arte, dramatiza reflexões e desse modo trata de temas

cruciais da vida nos seus aspectos psicológicos, econômicos e sociais. Júlio Cabrera, filósofo

argentino, não exagera quando afirma que diretores de cinema não são apenas cineastas, são

filósofos. Filmes são mais do que simples experiências estéticas, são, conceitos-imagens.

Investigar, problematizar e fazer arte é, nada mais que pôr em prática a mais profunda filosofia.

Um filme não é apenas uma crítica sobre fotografia, enquadramento, ritmo, roteiro e forma. O

cinema tem também o papel de oferecer questões sobre as ideias que estas imagens reprodutíveis

exprimem. Isto posto, foi proposta a exibição, comentário, escuta e debate da aclamada obra

Bacurau (2019). A película dos diretores nordestinos Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho

narra a história da cidade homônima que simplesmente é excluída do mapa. Durante nossa

experiência com a obra vale destacar elementos alegóricos e não-alegóricos que acreditamos

serem possíveis pontos de partida para frutíferas discursões sobre Estado, sociedade e indivíduo,

na atualidade.

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MESA DE ENCERRAMENTO: OS CAMINHOS DA FILOSOFIA NOSÉCULO XXIAqui reunimos os resumos dos professores que compõe a Mesa de Encerramento que dá nome anossa I Semana de Filosofia da Universidade do Estado da Bahia.

1. A FILOSOFIA E A RACIONALIDADE RELIGIOSA

Saulo Matias DouradoProfessor Substituto da Universidade do Estado da Bahia

Doutorando, Mestre e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal da BahiaE-mail: [email protected]

O século XXI ainda é a era das revoluções industriais e das tecnologias de processos e de

virtualidades. A ciência vinculada à técnica cumpriu o que prometeu enquanto transformação

material do mundo. No entanto, o imaginário que estava vinculado às Luzes e o Positivismo, de

que a religiosidade seria suplantada, não ocorreu. Pelo contrário, as novas décadas mostram o

avanço das religiões monoteístas e a disputa empenhada entre Estado de Direito e moral religiosa,

tal como guerra santa entre diferentes sistemas de crença. A Filosofia, nesse contexto, pode

resgatar de uma maneira renovada o papel que cumpriu no século XIII: ser o campo de um diálogo

desarmado entre partes opostas. Se no período medieval foi através de Aristóteles e Platão que

cristãos, muçulmanos e judeus puderem entender-se e disputar ideias através de conceitos, hoje é

preciso fornecer uma gramática de entendimento entre grupos diversos. Segundo Alain de Libera,

se quisermos nos preservar do fanatismo, é preciso aprender a refletir sobre a significação das

crenças e a história das comunidades, de tal modo a fazer chegar uma racionalidade religiosa na

diversidade de suas formas e no rigor de suas exigências.

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2. AMÉRICA LATINA E A FILOSOFIA

Luciano Costa SantosProfessor Adjunto da UNEB, Credenciado no Programa de Pós-Graduação em Educação e

Contemporaneidade. Doutor em Filosofia pela PUC-RS, com estágio doutoral no InstitutCatholique de Paris-Université de Poitiers e Pós-doutorado em Filosofia Moral e Política pela

Universidade Autónoma Metropolitana do México. Mestre em Filosofia pela UFRJ e Graduado emFilosofia pela UFBA.

E-mail: [email protected]

Partimos de uma hermenêutica crítica do fragmento clássico que narra o encontro de Tales de

Mileto com uma escrava da Trácia. Com base nisto, propomos contrastar o modo de fazer filosofia

que se tornou canônico no Ocidente, referenciado no "firmamento" de uma ordem abstrata e

universal, com um modo de filosofar desenvolvido na segunda metade do século passado na

América Latina, a partir da articulação militante de filósofos profissionais com os movimentos de

libertação popular do Sul global. A nosso ver, o aspecto geopoliticamente situado, comprometido e

insurgente desse filosofar que nasce da periferia do sistema mundo, oferece importantes pistas

para a prática filosófica no século XXI.

3. A NOVA FILOSOFIA CRÍTICA

Alan SampaioProfessor Assistente da Universidade do Estado da Bahia

Doutor e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia.Bacharel em Filosofia pela Universidade Católica do Salvador

E-mail: [email protected]

Acostuma-nos a pensar na filosofia como arte de criar conceitos. Tal definição, todavia, é limitada,

precisamente porque não abrange a crítica dos conceitos, dos argumentos, enfim, dos

enquadramentos do real. Uma das funções centrais da filosofia é fornecer formas de inteligibilidade,

através das quais os fenômenos podem ser compreendidos, racionalizados, criticados. A tarefa

crítica pertence a essa função, na medida em que mostra os limites, equívocos e prejuízos das

formas vigentes de interpretação dos fenômenos, sua parcialidade ou insuficiência. A crítica

filosófica tem por fim a libertação de formas obtusas e opressoras de interpretação, quer dizer,

deslegitimar os mais diversos modos de violência, quer dizer, então, promover a constituição de

uma sociedade menos bruta. A partir do conceito de filosofia como crítica do enquadramento,

pretendo esboçar uma síntese parcial das correntes filosóficas do século XX e, em seguida,

destacar Judith Butler e Angela Davis, como dois modos de filosofar do século XXI.

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EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO: REFLEXÕES A PARTIR DOESCLARECIMENTO EM KANT

Luís Rodrigo Ferreira SantosLicenciando em Filosofia

Universidade Federal do Recôncavo da BahiaE-mail: [email protected]

A proposta deste trabalho é refletir como deve acontecer o processo de emancipação e como este

se dá a partir da Educação. Usamos como ponto de partida os conceitos de menoridade e

maioridade discutidos por Kant em seu texto O que é o esclarecimento? O processo de

emancipação pode assemelhar-se a saída da menoridade kantiana, que se dá através do

autocontrole e da liberdade. Nessa intensão de alcançar a emancipação, estes que estejam

dispostos a seguir por este caminho desprenderão de si toda energia a fim de que a educação siga

por um viés de resistência. Com isso, o talento não se encontra divinamente em cada um, mas

mediante ao desafio, e ousaria dizer, a oportunidade a que cada indivíduo é submetido. Contudo é

válido destacar que neste processo de emancipação o reconhecer, e em certa medida

submeter-se, a autoridade tem importância substancial, visto que é pelo rompimento para com ela,

que se descobre a própria identidade. A tomada de consciência pelo indivíduo, também pode ser

reconhecida como inicio do processo de emancipação, pois é no momento em que o aluno desafia

tudo aquilo que lhe é imposto no período escolar, que este toma pra si o seu reconhecimento como

pessoa. E dentro deste processo que a escola deve colocar-se como referencial para a inserção do

aluno no seu contexto social. Ao colocar a Filosofia no contexto educacional, é de supor que esta

assumirá um papel emancipatório, e a partir disto é que se deve pensar a inserção desta disciplina

no currículo escolar. A filosofia que auxiliará na condução do processo de emancipação, não pode

ser confundida como uma disciplina salvacionista, que abrigará todas as respostas para todos os

problemas, tampouco, deve submeter-se exclusivamente ao cumprimento da carga horária. E de

forma conclusiva, pensar a educação longe de uma transmissão continua de saberes

enciclopédicos, mas num movimento dinâmico de criação e libertação, estimular e não tolher

crianças e jovens da sua curiosidade natural.

Palavras-chave: Educação; Kant; Emancipação; Esclarecimento.

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A MANIPULAÇÃO POLÍTICA DA MEMÓRIA EM PAUL RICOEUR

Leonardo Bricio Araujo AragonGraduando em Direito (Bolsista IC/FAPESB)

Universidade do Estado da Bahia.E-mail: [email protected]

Elton Moreira QuadrosProfessor da Universidade do Estado da Bahia

Doutor em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB)E-mail: [email protected]

Pretendemos refletir sobre a questão da manipulação da memória no âmbito político e prático no

pensamento de Ricoeur. Essa é uma pesquisa teórica em que realizamos a leitura dos livros A

memória, a história, o esquecimento, O si mesmo como um outro, e de outros textos de

comentadores do trabalho ricoeuriano. Realizamos essa leitura a partir do método

fenomenológico-hermenêutico desenvolvido por Ricoeur. Em sua obra o autor percebe que a

memória pode vir à consciência tanto de maneira espontânea, na forma de uma afecção (pathos),

como ainda de maneira exercitada, isto é, com a busca ativa dos sujeitos pelas recordações

através de um esforço de memória. Com memória exercitada, queremos dizer que a memória é

entendida também como uma faculdade humana de reter imagens do passado e elaborá-las a

partir de sua vontade, de “fazer algo” com a lembrança. Essa faculdade em que a memória está,

em certa medida, subordinada à vontade de lembrar ou esquecer, a insere no campo da ética, uma

vez que nos colocamos as perguntas: como, o que e porque devemos lembrar? Diante das

diversas possibilidades de narrar o passado, Ricoeur propõe um debate a respeito dos usos e

abusos da memória e, dentro dos vários desenvolvimentos dessa ética da memória, o filósofo

francês aponta a manipulação como uma das possíveis formas de abuso da memória. Essa

manipulação acontece especialmente pela ação ou omissão daqueles que detêm algum poder

(político, econômico, social, entre outros). Trata-se de uma instrumentalização da recordação que

é tomada aqui como meio para fins políticos, uma tentativa de domínio da memória por parte de

determinados grupos que decidem como são selecionadas as comemorações cívicas, os

monumentos erigidos, os “lugares de memória”, os discursos políticos válidos, etc. Em última

instância, essa manipulação pode alcançar a própria história que é ensinada e aprendida como

narrativa oficial da nação. Isso nos leva ao perigo de uma dominação política perpetrada por certos

grupos de poder que, investidos de autoridade pública, abusam dessa para criar esse domínio,

essa manipulação da memória anteriormente citado, em benefício do próprio poder que possuem.

É importante frisar que essa manipulação se dá sobretudo através do fenômeno ideológico que

distorce a percepção do passado com vistas a legitimar o poder no momento atual.

Palavras-chave: Memória; Política; Paul Ricoeur.

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O QUE É TRANSMODERNIDADE SEGUNDO ENRIQUE DUSSEL

Marcelo Andrade Sá MaiaMestre em Filosofia

Universidad de Granada (Espanha)E-mail: [email protected]

A filosofia da libertação baseia-se em uma crítica do pensamento e da cultura europeia,

objetivando uma proposta filosófica autêntica, contra-discursiva, contextualizada à realidade da

América Latina. A presente exposição pretende explicitar por que, de acordo com Enrique Dussel,

a América Latina nunca se tornou moderna ou pós-moderna como a Europa e outros centros de

poder hegemônico, mas emergirá em um contexto histórico-cultural distinto chamado

"transmodernidade". O conceito de "transmodernidade" será hermenêuticamente contrastado com

o conceito inicialmente usado pela filósofa espanhola Rosa Magda, bem como o conceito de

pós-modernidade proposto por F. Lyotard. A palavra "transmodernidade" aparece em 1989, na

obra O Sorriso de Saturno. Rumo a uma teoria transmoderna de Rosa Magda. Seu conceito de

transmodernidade é ideologicamente antagônico ao proposto por Dussel. Na visão da autora, a

transmodernidade é uma superação, uma extensão da pós-modernidade. A transmodernidade é

basicamente um novo momento que surge na história que dá continuidade à modernidade e ao

pós-modernismo, a partir do "centro" do poder hegemônico. Rosa Magda propõe a tríade

modernidade-pós-modernidade-transmodernidade, onde este é o momento atual em que vivemos,

é a sociedade globalizada, a sociedade da informação digital, que atravessa a herança de desafios

da modernidade que não foram deixados de lado pela pós-modernidade. Dussel faz uma análise

fenomenológica do conceito de modernidade com base na situação histórica da Europa e de

outras áreas do planeta consideradas economicamente periféricas, como a América Latina. Para

Dussel, a transmodernidade não é um estado cultural, não dá continuidade ao pós-modernismo,

nem faz parte da tríade dialética defendida por Rosa Magda. A transmodernidade para Dussel é

um projeto paralelo, que vai além da modernidade e da pós-modernidade, é um momento histórico

futuro que surgirá em culturas que não pertencem ao eixo Europa e América do Norte. Essas

culturas assumem os desafios da modernidade e da pós-modernidade, mas reagem a partir

circunstâncias históricas, intelectuais, matérias e espirituais particulares. Culturas consideradas

subdesenvolvidas pelo projeto de modernização europeu, como os chineses, asiáticos,

muçulmanos, africanos, indianos, latino-americanos, entre outras, sofrem o impacto da

modernidade europeia e produzem uma reação diferente e variada aos países do centro do poder.

Diante do projeto moderno, essas culturas insurgem renovados em um contexto cultural desigual,

ressignificando a própria modernidade. É um contexto multicultural frutífero, heterogêneo e muitas

vezes caótico. A transmodernidade é um projeto mundial, histórico e cultural que parte da visão

dos excluídos da modernidade hegemônica, onde esses "outros" têm voz discursiva diante dessa

realidade totalizadora e excludente proposta pela modernidade europeia. Significa um diálogo

entre culturas que buscam co-realizar o impossível do projeto moderno. Abrange todos os

aspectos que estão localizados além dos valores estabelecidos pela cultura europeia moderna que

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permanecem assimetricamente válidos em culturas que não fazem parte desse contexto. É uma

tentativa de aniquilar os traços deixados pelo historicismo, que juntamente com o naturalismo, são

as peças-chave do eurocentrismo. Trata-se de implementar estratégias e assumir

responsabilidades para encontrar fins e meios de construir um novo projeto de civilização com a

participação direta daqueles que vivem fora do centro do poder.

Palavras-chave: Modernidade; Pós-modernidade; Transmodernidade; Libertação.

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UMA CRÍTICA DECOLONIAL AO CONCEITO DE “RECONHECIMENTO”NA TEORIA CRÍTICA CONTEMPORÂNEA

Laiz Fraga DantasDoutora em Filosofia

Universidade Federal da BahiaE-mail: [email protected]

O artigo pretende realizar uma crítica ao conceito de “reconhecimento” na Teoria Crítica

contemporânea – sobretudo no trabalho de Axel Honnet e Nancy Fraser – com atenção às

especificidades de sociedades que passaram por processos de colonização e às estruturas de

poder específicas desses cenários. Para Axel Honneth, o reconhecimento é um motivador crucial

para as lutas sociais que são encadeadas por expectativas de reconhecimento não atendidas em

relação a grupos sociais com identidades desvalorizadas. Esses grupos buscariam a expansão do

horizonte do reconhecimento em cuja cultura se inserem e em relação ao Estado, mediante a

expansão das normas legais. Nancy Fraser assume uma estratégia parecida, considerando que as

reivindicações dos movimentos sociais evidenciariam ao diagnóstico da Teoria Crítica os

processos de crise e patologias sociais. Porém, diferente de Honneth, Fraser avalia que o

reconhecimento deve ser pensado em relação ao conceito de redistribuição – formulado através de

uma atualização do marxismo. Para autores contemporâneos comprometidos com o debate

decolonial – como Simpson e Coulthard – a ideia de reconhecimento pode não ser uma via para a

emancipação. Este conceito recorre à Modernidade europeia como fundamento normativo. Como

aponta Aníbal Quijano, o arcabouço conceitual que define a modernidade, ao lado do modelo

capitalista eurocêntrico, produz o desdobramento contemporâneo dos processos de invasão e

colonização: a colonialidade do poder. Assim, em contextos marcados por processos de

colonização, assumir a Modernidade como conceito-chave pode (re)produzir uma série de

distorções e ocultar a colonialidade do poder. A questão que se coloca é: como podemos

compreender os efeitos do reconhecimento em contextos em sociedades que passaram por

processos de colonização? Para Simpson e Coulthard, situações em que populações colonizadas

encontram-se no território ocupado pelos seus colonizadores – como no caso dos povos indígenas

no Brasil – revelam claramente os limites do conceito de reconhecimento. O dano causado pela

falta de reconhecimento desses povos parece não encontrar motivação para gerar lutas sociais

mais amplas (para além do referido grupo subalternizado). Além disso, não parecem claras as

possibilidades de efetiva inclusão desses povos no regime social e político dominante, de modo

que esses grupos desempenham uma espécie de subcidadania e seus interesses são,

frequentemente, tratados como empecilhos ao desenvolvimento social. Desse modo, a busca pelo

reconhecimento do Estado, nesse quadro de clara assimetria de poder, pode suprimir a

autorrealização e a liberdade dessas populações. Simpson e Coulthard percebem na recusa

(refusal) em diluir ou acomodar a “indigeneidade” aos padrões hegemônicos, a possibilidade de se

produzir processos de autoreconhecimento no interior dessas populações, o que representaria um

caminho real para emancipação.

Palavras- chave: Teoria Crítica; Decolonialismo; Reconhecimento.

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A CRÍTICA LITERÁRIA BENJAMINIANA E O IDEAL A PRIORI DA OBRAO IDIOTA, DE DOSTOIEVSKI

Mariza Farias Miranda do NascimentoGraduanda em Filosofia

Universidade do Estado da BahiaE-mail: [email protected]

Este trabalho coloca em evidência a tarefa de crítica literária do filósofo alemão Walter Benjamin e

seu escrito sobre O Idiota de Fiódor Dostoievski. Aqui, o filósofo investiga e desempenha a tarefa

crítica das singularidades e hiatos presentes na obra dostoievskiana, constituída a partir do seu

meio – medium – e os elementos nacionalidade e psicologia presente dentre os personagens. O

Idiota é um romance concluído em 1869 durante o período da Rússia czarista, com enredo em

torno do protagonismo do Príncipe Míchkin. O protagonista, com um estilo de vida simples e

reflexivo, e desprovido de maledicências comuns daquela sociedade, é associado às figuras de

Dom Quixote e Jesus Cristo, quando, ao manifestar uma perspectiva abstrata sobre as coisas

terrenas, ao invés de aprovação, é recebido aos escárnios por uma sociedade violenta e

materialista. Walter Benjamin, em “A tarefa do crítico”, de 1931, apresenta nuances fundamentais

sobre os papéis da crítica e como fazê-la a partir de uma obra literária. Para Benjamin, uma crítica

autêntica lida como uma “medium-reflexão” partindo da estética à política, e é considerada crítica

se de fato ela consegue novas articulações compreendendo a imanência da obra e sua reflexão

histórico-crítica; assim, é possível dar acesso de infinitas formas a uma determinada obra através

da leitura, e não somente verificá-la e elaborar apontamentos opinativos. Segundo Benjamin, a

identidade metafísica de O Idiota está no tornar visível de maneira simbólica a imortalidade do

Príncipe e a capacidade de transferir esse espírito a condição política e social da Rússia. No caso,

vida imortal remete ao meio (medium) que a torna inesquecível e a figura do príncipe é assim

exposta devido a maneira que ele manifesta o seu espírito: torna o terreno de sua vida

impenetrável, solitário, incompreendido, ao mesmo nível que instiga e atrai as personagens e suas

vidas. Além disso, Dostoievski, como pensador político, relaciona imortalidade ao coração jovem

da Rússia carregada por pessoas sem capacidade de mantê-la imortal e absorver seu poderio, e é

entregue ao solo estrangeiro e prejudicada pelas leviandades europeias. Afinal, relaciona à vida da

comunidade popular ao espírito da infância russa, capaz de regenerar e trazer esperança ao

coração ferido dos jovens e para seu país. Com base nisso, o jovem Benjamin, em “O Idiota de

Dostoievski”, se ocupa da obra fazendo algumas sínteses quanto aos elementos comuns

presentes no livro, a saber: nação russa czarista e a psicologia dentre os personagens; todavia,

para além desses elementos minuciosamente descritos e a psique, o filósofo flagra a ideia

dostoievskiana de criação envolvida em todo o enredo, o Ideal a priori contida na obra.

Palavras-chave: Benjamin; Dostoiévski; O Idiota.

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A ARTE DA EDUCAÇÃO PARA LIBERDADE SEGUNDO JEAN-JACQUES ROUSSEAU

Marcelo Barreto Santos UNEBLicenciando em filosofia

Universidade do Estado da BahiaE-mail: [email protected]

A temática da formação dos homens por uma educação equilibrada apresenta-se como uma

espécie de arte essencial para uma sociedade que deseja a instrução de indivíduos autônomos.

Na obra Emílio, ou Da Educação, Rousseau parte do pressuposto que o homem nasceria

naturalmente bom e a sociedade seriam a responsável pelo homem corrompido. Com o objetivo de

prevenir este fato, o filosofo busca conciliar o desenvolvimento das aptidões naturais com a

formação pedagógica, dando enforque a importância dos talentos como capacidades próprias da

natureza humana. O processo de humanização educacional do personagem Emílio através da

natureza propõe uma busca pelo enfrentamento da condição ao qual o homem corrompido

alcançou pela perca de sua liberdade, buscando assegurar ao homem sua condição apropriada,

na qual a sociedade o deslocou. O filósofo ressalta que a própria concepção de “criança” de sua

época, entendida como uma espécie de adulto incompleto ou de “pequenos” adultos demonstrava

uma deficiência para dimensão pedagógica. Desta forma, propõe que a criança deveria ser

analisada na dimensão que é própria, e não através de possíveis características semelhantes aos

adultos. Ao passo que a educação seria a responsável pela separação entre adultos e crianças.

Para Rousseau a educação pode ser advinda da natureza, dos homens ou das coisas. A educação

da natureza seria a responsável pelo desenvolvimento interno das nossas faculdades e dos

nossos órgãos, que por sua vez a educação dos homens seria a responsável pela utilização

adequada dessas faculdades. A proposta de educação do autor busca desta forma, busca auxiliar

a formação do homem social, através da conciliação entre o homem natural e o homem civil. A

educação que deseja construir a autonomia, não deve almejar somente o saber, mas a formação

do coração, espírito e a capacidade de julgamento. Na obra Emílio, Rousseau ressalta que a

criança deve ser educada com a liberdade, sem prisões cabendo ao educador atividades em um

ambiente natural, mas dentro de condições previsíveis, intervindo somente quando necessário.

Desta forma, a criança obtém a experiência direita de como funciona o mundo, aprendendo as

devidas formas de trabalhar com a natureza, e não desejar submetê-la aos seus caprichos. A

liberdade da criança deve ser favorecida e, através de suas limitações e potencialidades,

sentir-se-á livre para realizar o que deseja. A educação natural, tratada no Emílio, não constitui um

regresso à vida primitiva e isolada, mas sim, um afastamento das convenções sociais que

contribuiriam para a corrupção do homem. Crítico da educação voltada para o conhecimento

acadêmico, Rousseau defende que o homem não é composto somente pela razão, mas também é

constituído de instintos e emoções. A proposta política-pedagógica na obra compõe uma educação

para liberdade, pois busca favorecer a formação do homem capaz de tomar decisões e agir por

interesses naturais longe de determinações de normas exteriores.

Palavras-chave: Rousseau; Educação; Liberdade.

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SEYLA BENHABIB E OS DIREITOS HUMANOS

Francisco de Assis SilvaDoutor em Filosofia

Universidade Federal da BahiaE-mail: [email protected]

O movimento migratório mundial ocasionado, sobretudo, pela violência e pela fome, assumiu uma

proporção grandiosa nos últimos anos e os desafios quanto aos direitos humanos se tornaram

maiores. A finalidade deste trabalho consiste em analisar a contribuição de Seyla Benhabib para a

superação desses problemas, se concentrando nos conceitos de “iteração democrática” e

“jurisgeneratividade”. Para Seyla Benhabib, as iterações democráticas são processos oriundos do

cosmopolitismo contemporâneo entre as normas de direito internacional e as ações de legislaturas

democráticas individuais. Essas ações consistem na pretensão de cada pessoa humana de ser

reconhecido como ser moral digno de igual atenção e com igual direito de ser protegido como

personalidade jurídica dentro da sua comunidade, bem como pela comunidade mundial. Nesse

conceito se faz presente a ética do discurso e a racionalidade comunicativa de Habermas na

medida em que as iterações democráticas envolvem um complexo processo de argumentação

pública, deliberação e diálogos por meio dos quais as reivindicações de direito universalistas são

contestadas e contextualizadas, sancionadas e revogadas, apresentadas e posicionadas através

das instituições legais e políticas, assim como pelas entidades da sociedade civil. Atrelada à noção

de iteração democrática está a jurisgeneratividade, atribuída a Robert Cover, que consiste na

capacidade da lei em criar um universo normativo de significados que frequentemente escapa da

proveniência da legislação formal. Dessa forma, as iterações democráticas e a jurisgeneratividade

representam conceitos que permitem a Benhabib abordar a dimensão dos direitos humanos e da

governança global visando a situação dos migrantes/refugiados que, de modo geral, são tratados à

margem da sociedade. Para cumprir esse objetivo o presente trabalho se voltará, principalmente,

para as seguintes obras de Benhabib: The Rights of Others (2004), Dignity in Adversity (2011) e

Exile, Stateslessness, and Migration (2018).

Palavras-chave: Iterações democráticas; Jurisgeneratividade; Direitos humanos.

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A BUSCA PELA BELEZA COMO UM CAMINHO ÉTICO NA FILOSOFIADE PLOTINO

Pedro Edington Anselmo Monção CostaGraduando em Filosofia

Universidade do Estado da BahiaE-mail: [email protected]

O objetivo dessa comunicação é analisar a relação que Plotino faz do bem e do belo ao sugerir um

caminho para se alcançar a contemplação da mais pura beleza. Para isso, utilizaremos Platão

como um instrumento para se entender Plotino, devido à linguagem e às semelhanças entre as

teorias de ambos. No diálogo platônico O Banquete, a personagem Diotima fala a respeito de

etapas a se percorrer para contemplar a beleza verdadeira, partindo da admiração dos corpos até

a possibilidade de fazer belas criações. O homem que conseguiu atingir o último grau na busca

pela verdadeira beleza é também detentor do conhecimento da verdadeira virtude. Certamente por

influência de Platão, o filósofo Plotino em seu ensaio sobre o Belo também montará uma hierarquia

de belezas até se chegar à contemplação da mais pura beleza. Para este, o grau último antes da

contemplação da beleza pura é vislumbrar a beleza nas almas, característica que só é possível ao

tornar a própria alma bela, isso porque a beleza para ser sentida terá que ser reconhecida. Na

contemplação a alma analisa e julga por identificação. Ao relacionar o bem com o belo, os dois

filósofos propõem a busca do belo como uma espécie de caminho em que o homem, ao traçá-lo,

torna-se virtuoso. Analisaremos então, como se dá o processo de embelezamento da própria alma,

em Plotino, e o caráter ético que o constitui.

Palavras-chave: Beleza, Ética, Plotino.

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A ATUALIDADE DO PENSAMENTO DE KARL MANNHEIM

Matheus Guimarães de BarrosGraduando em Direito

Universidade Federal de Juiz de ForaE-mail: [email protected]

Este trabalho investiga, a partir da obra de Karl Mannheim, maneiras de compreender a ilusão

atinente à crença no progresso histórico da razão. Acredita-se que, para um entendimento

aprofundado do tempo contemporâneo, é imprescindível o resgate de pensadores que se

propuseram a interpretar a eclosão da modernidade liberal tecnocrática. Mannheim, assim como

teóricos frankfurtianos, Adorno e Horkheimer, por exemplo, criticou o entusiasmo ilimitado no

progresso humano através da técnica, concebido enquanto dogma fundamental na ordem liberal.

Ademais, ressaltou que a emergente sociedade moderna de massas se caracterizava por um

desenvolvimento desproporcional das faculdades humanas. Enquanto o domínio técnico sobre a

natureza muito se desenvolvia, o poder moral do homem e de seu conhecimento da ordem e

governo social pouco avançava. Tal circunstância culminava no perigo de desintegração dos

indivíduos e grupos sociais: guerras. Conforme Mannheim, se o domínio racional da sociedade e

o domínio do indivíduo frente aos seus próprios impulsos não marchassem lado a lado com o

desenvolvimento técnico, a ordem social sucumbiria. Nisso encontra-se uma dupla significação: a

primeira já foi dita e refere-se à desproporção geral no desenvolvimento das faculdades humanas,

em que o conhecimento científico e técnico avançou mais que o poder moral e que o conhecimento

da ação das ciências sociais; a segunda, por sua vez, cinge-se à desproporção social na

distribuição das capacidades racionais e morais no interior da sociedade humana. Na interpretação

do autor, a sociedade industrial moderna arrastou a ação àquelas classes que anteriormente

apenas desempenhavam um papel passivo na vida política, que não tiveram a instrução

necessária para dominar problemas sociais e econômicos. A chamada democratização

fundamental da sociedade forneceu um alcance às massas até então inexistente e que se

apresentava, de certa maneira, perigoso, principalmente em razão da iminência de erupções

emotivas, sacudidas irracionais no tecido social. Conclui-se ressaltando que a discussão por vezes

esquecida do pensamento de Mannheim acerca do avanço desenfreado da técnica liberal guarda

grande potencial elucidativo, devendo ser resgatada em debates acadêmicos.

Palavras-chave: Mannheim, Teoria Crítica, Razão, Progresso.

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JOGOS DE LINGUAGEM EM WITTGENSTEIN

Paulo Victor Silva Arize SantosLicenciando em filosofia

Universidade do Estado da BahiaE-mail: [email protected]

A linguagem para Wittgenstein está para além da teoria denotativa, na qual tem como seu

ancoradouro o mundo, pois ela não é capaz de enxergar na linguagem a importância da sua feitura

nas sentenças e o no uso, e assim para dar conta das sentenças e do uso o ancoradouro dessa

nova corrente deixa de ser o mundo e passa a ser as formas de vida. Assim a linguagem se torna

autônoma, relativamente aos fatos, e passa-se a buscar nessa investigação entender como ela

forja a significação, mesmo na ausência de qualquer fato que pudesse ser a referência das

palavras e dos enunciados.O primeiro passo para reconhecer a existência dos jogos de linguagem

é dado quando olhamos, à nossa volta, e constatamos que há múltiplas aplicações que fazemos

das palavras e dos enunciados linguísticos, diferentes usos da linguagem, e que essa diversidade

está complexamente interligada com vários tipos de outras atividades extralinguísticas, mas que

são, inevitavelmente, envolvidas pela linguagem, na expressão “jogos de linguagem” a palavra

“jogo” procura assimilar essas atividades a formas de vida. As investigações dos jogos de

linguagem parte da concepção que a comunicação linguística tem como ponto de partida a

existência de uma série de traços formais, semânticos e sintáticos, presentes nas línguas, que são

partilhados pelos interlocutores. Estes teriam, em igualdade de condições, acesso aos elementos

formais, e saberiam usá-los devidamente, segundo regras bem determinadas. Quando falamos,

usando palavras e anunciados, empregamos termos vagos, que não delimitam precisamente,

segundo regras fixas, aquilo a que se referem; as regras são aplicadas de maneiras diferentes

pelos interlocutores nas diferentes situações, ou, até, diferentemente nas mesmas situações, uma

vez que elas não são normativas, mas apenas indicam uma direção geral e fornecem uma

orientação – assim como as tabuletas de tráfego, indicativos de direção, e não prescritivas de um

trajeto preciso. E é assim, de fato, que nos comunicamos: fazendo compreender e

compreendemos nossos interlocutores.

Palavras-chave: Linguagem; Wittgenstein; Jogos de linguagem.

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MEMES FILOSÓFICOS NAS AULAS DE FILOSOFIA: O ATELIER DEEXPERIMENTAÇÕES PARA “FABRICAR CONCEITOS”

Kleyverson Rodrigues dos SantosGraduando em Filosofia

Universidade Estadual de Feira de SantanaE-mail: [email protected]

O ensino de Filosofia no Ensino Médio não se resume a contribuição para a formação da

consciência crítica dos(as) estudantes, tampouco a promoção de diálogos com os vários

componentes curriculares, mas, o desafio de introduzir ao estudante o universo da problemática

filosófica, fazendo-o ver que esse é o universo das possibilidades. Com o uso frequente dos

smartphones na sala de aula, lhe dar com esse uso é um problema para alguns(mas)

educadores(as). O fato é que a tecnologia e a internet vieram para ficar. Com internet, as imagens

circulam numa velocidade absurda. Assim, várias imagens/frames de episódios icônicos e

espontâneos com textos curtos são (re)publicadas e acabam tornando-se memes. É nesse espaço

que as aulas de Filosofia protagonizam um atelier de experimentações a fim de discutir conceitos

ou “fabricar conceitos” (uma teoria deleuziana), demonstrar teorias filosóficas e experimentar

caminhos. Portanto, a possibilidade de pensar e fazer pensar a partir dos memes é inerente ao

fazer filosófico. O uso dos memes filosóficos na sala de aula objetiva apresentar uma atividade que

desenvolva um senso questionador a partir das imagens e seus conceitos que podem

(re)inventar-se; estabelecer uma crise na representação e propor novas formas de linguagens;

encontrar estratégias de filosofar e desenvolver filosofia; flexibilizar uma linguagem filosófica que

possibilite outras filosofias; usar o smartphone e sua produção de memes como metodologia ativa

do ensino na sala de aula a partir da formação/provocação do minicurso. A partir das minhas

experiências na sala de aula, pude ratificar que no ensino de Filosofia, o uso das Tecnologias da

Informação e Comunicação (TICs) que não é algo novo na educação. A própria Lei de Diretrizes e

Bases da Educação (LDB) preconiza o seu uso no Art. 32 como formação básica do cidadão. Na

escola, grande parte dos(as) estudantes possuem o celular. Com base nos relatos de

professores(as), eles(as) parecem disputar atenção entre o foco na aula e uma tela cheia de

aplicativos e conectada à internet. A intenção de usar o meme filosófico, é transformar um

problema (uso do smartphone) em uma metodologia ativa. Assim, a interação com essa

metodologia está no uso dessa ferramenta. Portanto, é valido ressaltar que os(as) professores(as)

precisam, senão ultrapassar, pelo menos alcançar seus alunos. Esse alcance se dá a partir do

domínio dessas TICs e uma proposta de metodologia ativa e diversificada. Fazer, recortar e pensar

memes é fruto do processo da globalização e fugir do fenômeno mundial é quase impossível. A

diversidade que emerge na globalização contemporânea traz elementos novos para o pensamento.

A interatividade, como possibilidade de manipulação direta do processo midiático desemboca

numa rede de sentidos outros e imerge num universo para além das imagens. Afinal, a linearidade

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da narrativa filosófica também pode ser alinhada e possível a partir das imagens e representações

poéticas na era das imagens e sua transcodificação.

Palavras-chave: Ensino de Filosofia; Novas Tecnologias da Comunicação; Metodologias; Memes.

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GÊNERO FEMININO, UMA NOVA CONSTRUÇÃO SOCIAL PELAINDEPENDÊNCIA E IGUALDADE

Larissa Fernandez de Andrade SantosBacharel em Comunicação SocialUniversidade Católica de Salvador

Licencianda em FilosofiaUniversidade do Estado da BahiaE-mail: [email protected]

Partindo do incômodo existente sobre a percepção de que, no percurso da história da humanidade

as mulheres sempre foram postas à margem dos acontecimentos relevantes, constatamos que a

figura feminina foi desde sempre silenciada e invisibilizada por práticas legitimadas através de

discursos e atitudes como diminuição intelectual, subjugação perante os seres do gênero

masculino, além dos constantes assédios moral e físico. Desde sempre e até hoje, fazemos com

esforço muitas tarefas no nosso dia a dia, sendo trabalhadoras para nos manter economicamente,

mães, filhas, donas de casa com todas as tarefas às quais fomos adestradas desde crianças. A

soberania do poder patriarcal incomoda desde o princípio, mesmo quando ainda não era percebido

tão claramente. O contexto histórico filosófico reitera essas práticas de subalternização,

silenciamento e invisibilização do gênero feminino, fazendo-se necessário trazer à luz os

pensamentos de mulheres fortes desde tempos passados, para demonstrar quantas coisas

importantes foram ditas, mas que não chegaram facilmente à contemporaneidade devido a cultura

hegemônica que só glorifica pensadores homens. Ao entrarmos em contato com a história e os

feitos de Hipatia de Alexandria, Hildegard de Bigen, Mary Wollstonecraft, Simone de Beauvoir,

dentre outras, percebemos o quanto foi perdido e ocultado do saber acadêmico formal. O objetivo

dessa comunicação é expor as ideias iluministas da inglesa Wollstonecraft, considerada a primeira

feminista da história, também ela uma abolicionista no cenário europeu pós Revolução Francesa,

que militou ativamente a favor da educação formal às mulheres do século XVIII, além do direito ao

voto, a propriedade privada, cargos públicos e reconhecimento dos filhos nascidos fora do

casamento. A originalidade de Wollstonecraft reside exatamente no caminho que traçou para si e

nas perspectivas que abriu à condição feminina da época. Recusou paternalismos, se impôs pelo

trabalho e pela pesquisa intelectual, lutou por uma causa de igualdade dos seres humanos, com

base nas vivências e no estudo. Uma mulher senhora das suas escolhas que com sua obra

Reivindicação dos direitos da mulher, foi a primeira a demonstrar que não se nasce mulher, isso é

uma construção social conveniente aos séculos de sociedades patriarcais, lançando a partir daí os

fundamentos ontológicos das teorias dos gêneros.

Palavras-chave: Feminismo; Mary Wollstonecraft; Igualdade.

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DA EDUCAÇÃO NATURAL À EDUCAÇÃO POPULAR: APONTAMENTOSSOBRE O PROJETO POLÍTICO-EDUCACIONAL PRESENTE NA OBRADA MATURIDADE DE SIMÓN RODRÍGUEZ

Brennan Cavalcante Maciel ModestoMestrando em Filosofia

Universidade Federal de PernambucoE-mail: [email protected]

Simón Rodriguez é, direta ou indiretamente, influente na história da América Latina, todavia, as

reflexões sobre sua figura e contribuições costumam limitar-se a trata-lo meramente como “o

mestre do Libertador”. No entanto, essa leitura é restritiva, um ponto passível de crítica é que ao

concebermos sua imagem limitada à estes termos facilita que desemboquemos não só numa

pretensa unidade de pensamento entre as ideias de don Simón e Simón Bolívar, como também

aponta-se para um Rodríguez restrito à aplicação ou mesmo repetição da obra rousseauniana,

apagando assim toda possibilidade de interpreta-lo como um filósofo com uma obra original. O que

se intenciona no primeiro momento é uma avaliação de tais assertivas. Caso não se sustentem,

partiremos à exposição de noções centrais do que viria a ser a obra legitimamente rodriguiana,

destacada tanto se comparada às inclinações e noções de Bolívar, quanto ao pensamento

tradicional do iluminismo representado aqui pelo filósofo de Genebra, Jean-Jacques Rousseau,

com o qual aponta-se ser mais diretamente relacionado, ainda que compreendamos que sua

filosofia de modo algum esgote o Iluminismo enquanto movimento ou tendência filosófica, neste

momento, não caberia contrapor a figura de Rodríguez à de um segundo pensador ilustrado.

Visa-se compreender se há alguma dimensão de originalidade em suas reflexões e, em caso

afirmativo, quais as consequências diretas de suas teses. Intencionamos ainda no decorrer

presente trabalho analisar a hipótese da existência de um projeto político-educacional

esquematizado por Simón Rodríguez e, caso a afirmação se sustente, em que medida este seria

diferente das propostas de autores iluministas que supostamente o teriam influenciado,

prosseguiremos tonificando a figura de Jean-Jacques Rousseau, cujas perspectivas política e

educacional são respectivamente tratadas em O Contrato Social e Emílio, obras sobre as quais,

fugiria do escopo dispender mais atenção. De antemão, pode-se dizer que a pretensão de

Rodríguez ao empreender uma escola era também política, dado seu assumido engajamento com

uma “independência econômica e social da América”. Todavia, analisaremos em que medida e a

partir de que momento de sua vida, esse engajamento se faz presente – a despeito de

interpretações mais tradicionais que assumem que o filósofo caraquenho teria um caráter

revolucionário desde o berço. Para tanto, as diversas dimensões da sua obra voltam-se à algo que

defende ser uma formação humana integral, como nos mostra a história sobre o que fora

experienciado na então cidade de Chuquisaca. Defendemos aqui que a Escola Popular teria sido

uma “invenção”, salvando a terminologia do próprio Rodríguez, “genuinamente americana”, cuja

mentoria e representação ainda hoje sejam tributadas ao mesmo. No entanto, para uma

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compreensão minimamente sistemática de sua obra, partiremos de aspectos biográficos.

Compreendemos que há 3 fases na vida do Rodríguez: a juventude, onde compreende-se que fora

muito influenciado pelos ideais iluministas; o exilado, momento onde assume o pseudônimo de

Samuel Robinson, passa por diversos países e coleciona experiências que mais tarde

determinariam sua feitoria educacional e, por fim, a maturidade, momento em que efetiva e põe

em prática as noções que desenvolveu ao longo de toda sua trajetória.

Palavras-Chave: América; Educação Natural; Educação Popular; Política.

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JUDITH BUTLER USA TESTOSTERONA COM PAUL B. PRECIADO:CONSIDERAÇÕES SOBRE RELATO DE SI EM TESTO JUNKIE

Douglas Santana Ariston SacramentoGraduando em Filosofia

Universidade do Estado da BahiaE-mail: [email protected]

Do grande arcabouço teórico produzido pela filósofa contemporânea Judith Butler se destaca uma

série de conferências feitas no Departamento de Filosofia da Universidade de Amsterdã, mais

precisamente no ano de 2001, sobre o conceito de relato de si – aqui no Brasil compilado com o

título Relatar a si mesmo: crítica da violência ética, que consiste em uma narrativa do sujeito

mediante uma interpelação feita pelo outro sobre quem é esse sujeito enunciador. Esse conceito

pode ser exemplificado de muitas formas na sociedade, como diante de um júri ou diante de algum

órgão que mantem uma norma social, mas para analisar esses exemplos tem que compreender

outras camadas de conceitos e que constituem o guarda-chuva teórico que é o relato de si, como a

questão da ética e da responsabilidade. Com base nisso, temos um exemplo literário, filosófico e

científico proveniente da Espanha, do filósofo feminista Paul B. Preciado, que nesse período

estava em transição de gênero, e assim fazendo uso de testosterona em gel. Contudo, esse uso e

os efeitos no corpo de Paul Preciado faz parte do conceito do livro sobre a farmacopornografia,

que seria uma ramificação da sociedade de controle – com base nas teorias do Deleuze – e que

consiste na entrada de materiais sintéticos (substâncias e objetos) no corpo do sujeito. Logo, na

construção da tese há uma explanação do conceito que norteia a escrita e um relato com teor

ensaístico sobre o uso voluntário da testosterona em gel. Assim, essa comunicação vai analisar o

conceito de relato de si, apresentado pela Judith Butler, sendo exemplificado e atestado pela

escrita que não é autobiográfica, mas “um protocolo de intoxicação voluntária” que começa com

um questionamento do próprio escritor com base no outro sobre o seu gênero e dos relatos sobre

os efeitos da substância aplicados no seu corpo; e como esse conceito da Butler se diferencia ou

se complementa em relação ao conceito foucaultiano de escritas de si e como é feita essa rasura

na escrita que o Paul Preciado não considera autobiográfica.

Palavras-Chave: Judith Butler; Paul B. Preciado; Relato de si; Foucault.

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A IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE TEMPO PARA O PENSAMENTOBERGSONIANO

Marcelo Melo de SantanaGraduando em Filosofia

Universidade Federal de PernambucoE-mail: [email protected]

Parece evidente que há um tempo para a consciência, chamado por vezes de tempo subjetivo (em

oposição ao que seria o tempo objetivo), já que esse tempo é facilmente percebido empiricamente.

O tempo vivido não tem a regularidade dos relógios, pois arrasta-se em situações de dor e

sofrimento, enquanto aparentemente acelera-se quando experenciamos a felicidade ou o prazer. É

por isso que há um tempo para a espera, o do tédio, e outro para a saudade, o da presença; um

tempo para a angústia e outro para a nostalgia; um tempo para o sofrimento e outro para o prazer,

estes que vez ou outra se confundem; um tempo para a paixão, veloz e intenso, e outro para a

união, lento e forte. No pensamento bergsoniano encontramos o conceito de tempo vivido. Esse é

o tempo da consciência, em oposição ao tempo cronológico. Esse tempo não apresenta a

regularidade dos relógios, pois ele está diretamente ligado à experienciação de algo, seja ele

subjetivo ou objetivo, por exemplo, os minutos parecem que se arrastam quando estamos

angustiados ou com dor ou sofrendo, já quando estamos felizes, em êxtase ou simplesmente

tranquilos esses mesmos minutos parecem “voar”. Por causa dessa ligação o tempo vivido não

pode ser separado dos acontecimentos, já que esses influenciam na sua duração. Bergson chama

essa duração de sucessão, continuidade, mudança, memória e criação. Tendo isto em vista, esta

apresentação pretende, através de uma breve apresentação do método de investigação e dos

conceitos de duração e memória de Henri Bergson, compreender a importância desse “modelo”

filosófico no modo de filosofar contemporâneo. Para isso, será necessário entender em que

consiste o tempo para o filósofo francês, assim como a relação do tempo com a memória e com o

filosofar. A partir do corpus bergsoniano será explicitada a concepção de tempo real como

sucessão, continuidade, mudança, memória e criação e, consequentemente, como duração.

Palavras-Chave: Tempo, Bergson, Duração, Experiência.

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REFLEXÕES SOBRE A RELEVÂNCIA DO SABER FILOSÓFICO

Romero Pereira NunesGraduando em Filosofia

Universidade Estadual do Sudoeste da BahiaE-mail: [email protected]

A filosofia do século XXI busca demonstrar que o saber filosófico não é uma ameaça às questões

morais da humanidade. Esse desejo não é exclusividade dos dias atuais, visto que desde a Grécia

Clássica quando o filósofo ateniense Sócrates foi preso e condenado à morte, ao ser acusado de

corromper os jovens com seus questionamentos em busca do verdadeiro saber. Sócrates,

incessantemente, exigia de seus interlocutores intimas reflexões, não aceitava as respostas

mecânicas pautadas no senso comum disseminado pelos poetas e pelos sofistas. Aí estar

assentada sua condenação: exigir que as pessoas reflitam, se o que sabe de fato é uma verdade.

Não obstante, acusações semelhantes chegam à Idade Média, quando a Teologia Cristã, exigia

que o saber filosófico ficasse submisso aos saberes dogmáticos da Igreja Católica, sob ameaça de

condenação por heresia ficava aqueles que contestassem tal subordinação. Contudo, a busca pelo

saber faz parte da natureza humana, haja vista que os humanos nascem curiosos e

questionadores. Então, os homens e mulheres de livre pensamento entendem que refletir sobre as

coisas do mundo possibilita à humanidade evoluir moral, social e culturalmente. Todavia, na

contemporaneidade ainda registra-se opositores que buscam confundir a opinião pública

discursando que a filosofia não tem valor pedagógico e/ou moral, pois suas maiores finalidades

são conduzir a sociedade contra as tradições dominantes, afirmam. No Brasil, por exemplo, tais

argumentos veem de fato colocando em xeque o futuro do ensino da disciplina filosofia no Ensino

Médio. O que tem levado alguns teóricos a enfatizar que a atitude filosófica se inicia exatamente

quando não no contentamos com as aparências das coisas nem com ideias cristalizadas em nossa

sociedade. Com efeito, filosoficamente, não há como a filosofia ameaçar à sociedade. É possível

entender que no ato de filosofar ou ensinar filosofia, percebe-se apenas que o filósofo e/ou

professor de filosofia não inventam as suas questões e seus problemas a partir do nada. Estas

fazem parte de um conjunto de inquietações que move o mundo nas mais variadas áreas do

conhecimento. Neste contexto, em defesa da filosofia, podemos dizer que em sentido estrito, é

disto que se trata o pensar: intervir de maneira original nos discursos já estabelecidos. O método

socrático, portanto, de buscar o conhecimento, questionando, investigando, depurando e

elaborando o saber, busca a sabedoria verdadeira, e não apenas o mero conhecimento pelo senso

comum com verdades inquestionáveis, possibilitando assim, o evoluir moral, social e cultural da

humanidade, como se constata nesta longa caminhada filosófica que gira em torno de 24 séculos.

Palavras-chave: Filosofia, Prática Filosófica, Século XXI.