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1 ASSOCIAÇÃO DE ENSINO ESCOLA DA CIDADE – FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO MONOGRAFIA DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ARQUITETURA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE – 2015 DESENHO, TECNOLOGIA E ARQUITETURA Anselmo Turazzi INTRODUÇÃO A proposta deste trabalho e contribuir para uma reflexão sobre os significados e desafios do projetar em arquitetura tomando o desenho como perspectiva de análise. Trata-se de discutir uma compreensão do desenho -como instrumento da concepção e execução do projeto - articulando criação e técnica. Por outro lado pretende-se destacar como esta compreensão do desenho e da formação do arquiteto deve se explicitar em praticas e posturas didáticas. Foi importante para elaboração das questões que integram este trabalho a palestra de Laymert Garcia dos Santos 1 em 15/10/2014 apresentando desenhos xamânicos Yanomami, obtidos em pesquisa nos anos 70 em tribo na Amazônia venezuelana e sobre a experiência do artista alemão Jürgen Partenheimer em 2005 instalado por três meses em um apartamento no edifício Copan. Nesta palestra o sociólogo Laymert mostrou uma série de desenhos coletados por Claudia Andujar em 1976. Esta serie de desenhos integravam o material levantado por uma equipe interdisciplinar utilizado no complexo processo da criação e produção da ópera multimídia sobre a Amazônia de Tato Taborda e Roland Quitt, intitulada “A Queda do Céu”. Neste processo de criação, o diretor da opera e o o antropólogo Bruce Albert entraram em contato com a principal liderança da tribo Yanomami, o Xamã Davi Kopenawa. Nesta palestra mostrou uma série de intrigantes e sofisticados desenhos feitos pelos indígenas – parte da coleção coletada em anos de convivência pela fotógrafa Claudia Andujar, acima 1 LAYMERT GARCIA DOS SANTOS ‘E GRADUADO EM JORNALISMO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. REALIZOU SUA FORMACAO NA POS GRADUACAO, MESTRADO E DOUTORADO, EM PARIS : mestrado em Sociologie des Sociétés Industrielles - École des Hautes Études en Sciences Sociales (1975) e doutorado em Sciences de l'Information - Universite de Paris VII - Universite Denis Diderot (1980). Atualmente é professor titular DO DEPARTAMENTO de sociologia/ifch da Universidade Estadual de Campinas, Foi Diretor da Fundação Bienal de São Paulo, de outubro de 2009 a junho de 2010. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Tecnologia, e em Arte Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: biotecnologia, tecnologia, arte contemporânea, política e Brasil. Atualmente é Coordenador do Laboratório de Cultura e Tecnologia em Rede, Instituto Século 21, em São Paulo.

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ASSOCIAÇÃO DE ENSINO ESCOLA DA CIDADE – FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO MONOGRAFIA DO CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ARQUITETURA, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE – 2015 DESENHO, TECNOLOGIA E ARQUITETURA Anselmo Turazzi INTRODUÇÃO A proposta deste trabalho e contribuir para uma reflexão sobre os significados e desafios do projetar em arquitetura tomando o desenho como perspectiva de análise. Trata-se de discutir uma compreensão do desenho -como instrumento da concepção e execução do projeto - articulando criação e técnica. Por outro lado pretende-se destacar como esta compreensão do desenho e da formação do arquiteto deve se explicitar em praticas e posturas didáticas.

Foi importante para elaboração das questões que integram este trabalho a palestra de Laymert Garcia dos Santos1 em 15/10/2014 apresentando desenhos xamânicos Yanomami, obtidos em pesquisa nos anos 70 em tribo na Amazônia venezuelana e sobre a experiência do artista alemão Jürgen Partenheimer em 2005 instalado por três meses em um apartamento no edifício Copan. Nesta palestra o sociólogo Laymert mostrou uma série de desenhos coletados por Claudia Andujar em 1976. Esta serie de desenhos integravam o material levantado por uma equipe interdisciplinar utilizado no complexo processo da criação e produção da ópera multimídia sobre a Amazônia de Tato Taborda e Roland Quitt, intitulada “A Queda do Céu”. Neste processo de criação, o diretor da opera e o o antropólogo Bruce Albert entraram em contato com a principal liderança da tribo Yanomami, o Xamã Davi Kopenawa. Nesta palestra mostrou uma série de intrigantes e sofisticados desenhos feitos pelos indígenas – parte da coleção coletada em anos de convivência pela fotógrafa Claudia Andujar, acima

                                                                                                               1 LAYMERT GARCIA DOS SANTOS ‘E GRADUADO EM JORNALISMO PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO. REALIZOU SUA FORMACAO NA POS GRADUACAO, MESTRADO E DOUTORADO, EM PARIS : mestrado em Sociologie des Sociétés Industrielles - École des Hautes Études en Sciences Sociales (1975) e doutorado em Sciences de l'Information - Universite de Paris VII - Universite Denis Diderot (1980). Atualmente é professor titular DO DEPARTAMENTO de sociologia/ifch da Universidade Estadual de Campinas, Foi Diretor da Fundação Bienal de São Paulo, de outubro de 2009 a junho de 2010. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Sociologia da Tecnologia, e em Arte Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: biotecnologia, tecnologia, arte contemporânea, política e Brasil. Atualmente é Coordenador do Laboratório de Cultura e Tecnologia em Rede, Instituto Século 21, em São Paulo.

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mencionada, que representavam o mundo mítico Yanomami . O complexo caminho da invenção da ópera da “Amazônia”2, que não se refere diretamente a nenhum dos desenhos, pretende ser uma produção transcultural∗ na conexão tecnocientífica do homem branco e o “mundo mágico indígena”. A provocação que a exposição de Laymert suscitou e que, de alguma forma, conduz as reflexões deste trabalho.

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38 273 O tema desenho como meio de representação e expressão de experiências de vida e mundo tem produzido uma infinidade de trabalhos, nas mais diversas áreas do conhecimento humano, nas mais variadas disciplinas e em culturas diferentes da nossa. Isso indica a centralidade desta forma de representação e de como ela nos permite acessar especificidades e recorrências em diversas formas de existir do homem, no tempo e no espaço.

                                                                                                               2 ver “A invenção da Ópera Amazônica além do bem e do mal entendido” – Beatriz Sigliano Carneiro - http://revistas.pucsp.br/index.php/ecopolitica/article/download/20511/15138   3 desenho 22: “Motoka e os filhos”; 26; 28 – “mutum (paruri) que simboliza a noite (titi).Obs. Também houve referência a este desenho como sendo a descida dos xapiri pë; 38 - A casa dos espíritos – de autoria de Orlando e 27 : “A noite” de Titi - http://www.laymert.com.br/yanomami/

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Assumimos neste texto que o desenho é o meio de expressão básico do arquiteto. Esta compreensão implica em refletir no desenho e suas potencialidades, articulando suas ferramentas de execução mas, e sobretudo, para além delas, trata-se de pensar o desenho como representação que, de forma especifica para o arquiteto, é capaz de expressar articulações entre diversos campos do conhecimento, da cultura. O desenho e portanto instrumento e veículo de produção de projeto. ARQUITETURA E CIDADE A proposta é pensar o desenho e sua relação com o crescente e vertiginoso aparato tecnológico da sociedade contemporânea, e como esta relação deve se concretizar nas atividades de ensino e aprendizagem do arquiteto e urbanista. Não se trata de aprofundar qualquer discussão conceitual ou semântica sobre o tema, objeto de vasta bibliografia. A sociedade contemporânea tem como um de seus atributos fundamentais a velocidade de transformação de seus modos de vida, subsistência e produção. Esta velocidade de transformação demanda elaboração de respostas ágeis às necessidades humanas. Este processo vertiginoso, já descrito como o “looping da montanha russa”4 tem colocado de forma premente a ideia do novo associada `a percepção de destruição, de um futuro sem perspectivas, ou mesmo de uma ausência de futuro. A confusão mental que parecemos viver atualmente , a percepção de uma aceleração incontrolável do tempo dialoga diretamente com o avanço tecnológico dos últimos anos que nos trouxe, através da informática, a concretização do que parecia ser pura ficção. A par destas perspectivas a percepção de que criamos mecanismos e práticas sociais capazes de destruir a própria espécie humana e o planeta confrontam-se com nossas capacidades criativas. Estas tensões e ambiguidades tem marcado a experiência contemporânea e imposto uma crescente dificuldade de reflexão. Neste sentido é importante pensarmos sobre as questões que as tecnologias contemporâneas nos trazem. O mesmo Laymert que trouxe a reflexão sobre os desenhos dos indígenas, que motivaram este trabalho, nos alerta, em entrevista à Revista Trópico, onde discute as ameaças da tecnociência, que precisamos

                                                                                                               4 Nicolau Svechencko: “A corrida para o século XXI – No loop da montanha russa” – SP, Cia das Letras, 2001

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“construir um outro projeto, diferente do moderno e do tradicional, pois naquilo que está acontecendo agora não existe ética alguma.”5 Considerando a facilidade de comunicação que temos hoje e a necessidade óbvia de interdisciplinaridade das atividades humanas, precisamos cada vez mais nos apropriar dos meios de comunicação e representação equipando, dando acesso livre e incentivando o uso critico das mais diversas tecnologias. Desta maneira, a questão do desenho na arquitetura, deve passar por uma renovação. O simples uso de novas tecnologias de projetar ou a construção de uma (falsa do nosso ponto de vista) oposição entre croqui e desenho informatizado não responde a estas necessidades de “renovatio”. Trata-se de propor a construção de representações capazes de articular saberes e de romper com a contraposição técnica e arte tão central no projeto moderno. Esta forma de “ver” nos coloca uma série de dificuldades que envolvem recursos financeiros e técnicos, aparentemente de difícil transposição, não fosse essa a visão de futuro-próximo que podemos mirar. SOBRE O ENSINO DE DESENHO E PROJETO EM ARQUITETURA E URBANISMO Com todas essa questões e constatações o que nos cabe como docentes em desenho e projeto de arquitetura e urbanismo? É importante mostrarmos e reforçarmos a confiança em si do aluno para que aprenda por si próprio, pois os meios para isso nunca foram tão acessíveis na história da humanidade. Onde anteriormente existia apenas o professor, a biblioteca e a insubstituível vontade própria, hoje acrescentam-se bancos de dados, redes de informação, instrumentos de pesquisa on-line, etc. Se esta afirmativa soa um tanto arcaica perante todas estas transformações, ela esta na base de uma perspectiva do “ensinar a pensar”, da constituição de uma capacidade de articulação tensa e instável entre o tempo do pensamento e o tempo da informação. É são nestas articulações e tensões que ocorrem as possibilidades de construção do conhecimento.

                                                                                                               5  http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/1777,1.shl

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Nesse aspecto, além de mostrar nossas óbvias preocupações com a existência, a necessidade permanente de preservação e conservação da vida e das nossas conquistas públicas, do respeito à diversidade humana e de todos os seres vivos, precisamos mergulhar com os alunos nas suas inquietações e dificuldades com respeito ao nosso assunto de trabalho na graduação, pondo em foco o desenho, no mais amplo sentido – principalmente o croqui e a modelagem física, como linguagem fundamental do arquiteto. Sobre este assunto, muito tem se pensado e escrito. Artur Simões Rozestraten6 escreveu um texto instigante na revista Vitruvius, onde sintetiza uma reflexão para o ensino de projeto em arquitetura: “Não se trata de uma simples tradução, exteriorização ou materialização de uma imagem mental preexistente. Afinal a concepção da forma sensível não poderia preceder a sua execução ou fatura, posto que o processo formativo é, necessariamente, a gênese de sua materialidade (3). Ou seja, o ato de desenhar ou modelar é indistinto da criação, e como tal é aberto: sujeito a críticas, revisões e alterações” O autor reitera nesta passagem um tema absolutamente fundamental sobre um aspecto da produção do projeto: a que se desenvolver uma postura critica “ Contra o idealismo ingênuo que supervaloriza o diálogo interno-interno e afirma que “o projeto está pronto, só falta desenhá-lo.” Conceber algum objeto a ser construído, fazer um projeto de arquitetura, requer centenas de croquis e desenhos de reflexão, além de pesquisas de ampla interdisciplinaridade tecnológica até que se chegue aos desenhos executivos, e outros documentos descritivos do objeto pretendido. O projeto se faz e se transforma ao longo de sua execução. Não existe neste sentido uma divisão entre arte (concepção ou gesto criador inicial) e sua realização (detalhamento ou desenvolvimento técnico/tecnológico). Ambos estão em permanente diálogo e se transformam. Mais do que isso, o gesto inicial é, ele mesmo, marcado por referências e saberes que configuram o desenho em todos os seus momentos. O texto de Juliano C. B. Oliveira , ao comentar o trabalho realizado por Alexandre Menezes, exprime com clareza aspectos do croqui como instrumento fundamental da concepção do projeto arquitetônico: “...destacamos a pesquisa de Alexandre Monteiro Menezes, que aborda a ideia da “Emergência” e da “Reinterpretação” presentes no projetar com o croqui. Ele destaca como é importante a                                                                                                                

6“O desenho a modelagem e o diálogo” - Artur Simões Rozestraten http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.078/299

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capacidade do arquiteto de interagir com seus desenhos, usando-os tanto para a criação de soluções impensadas até serem desenhadas quanto para a modificação de propostas já projetadas. Menezes explica que a emergência “refere-se aos pensamentos e ideias que não podiam ter sido planejados ou antecipados antes da execução dos croquis”, enquanto que a reinterpretação “refere-se à habilidade de transformar, desenvolver e gerar novas imagens na mente enquanto desenhando” (5) Desta forma: “O croqui é o desenho que “fornece meios de melhor examinar e perceber as ideias concebidas, é o elemento através do qual o universo conceitual deverá se tornar real, projeção que permite visualizar melhor e ordenar as relações imaginadas. Auxilia a invenção e dá conhecimento a respeito do objeto”.7 Uma questão importantíssima a considerar é o avanço incrivelmente rápido e irreversível da informática e a sedução que exercem os programas de CAD, modelagem e animação de projetos arquitetônicos. Há bastante tempo se discute o assunto. Os mais diversos programas e formas de acesso evoluem rapidamente pondo em confronto professores e alunos nas escolas de arquitetura. Aos poucos os programas CAD (computer-aided design) vão deixando de ser meras ferramentas de geometria e se transformando em banco de dados poderosíssimos de projetos arquitetônicos e todas as disciplinas “irmãs” das engenharias ligadas à construção civil. Da mesma forma ferramentas informatizadas de modelagem tridimensional, oriundas do desenvolvimento da tecnologia de projetos aeroespacial, da indústria bélica e automobilística, estão se tornando acessíveis aos projetos arquitetônicos, dos estudos preliminares de concepção aos desenhos finais. Trata-se de pensar em como não fetichizar os avanços da tecnologia como sendo a forma possível e final de produção de projeto. Mas também não se pode banalizá-los como se fossem instrumentos neutros de realização de uma idéia. As tecnologias disponíveis transformam a forma de apreensão do mundo, tal como os desenhos apresentados por Laymert, ou de forma mais geral, como todas as formas de representação o fazem. A representação é uma forma de constituição do real e não algo a ele contraposto. Neste sentido a pergunta é como estas tecnologias afetam o “ver o mundo” e portanto como elas interferem na própria produção do croqui. Ou mais ainda como o croqui e os aparatos tecnológicos são e produzem representações. Nesta perspectiva não se trata de escolher um em detrimento do outro (croqui ou informatização da representação). Mas de promover uma articulação que refaça a tensão da concepção e realização do

                                                                                                               7  “Diálogo no desenho - Projeto, croqui e informática” - Juliano Carlos C. B. Oliveira http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.028/1804

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projeto como processo que articula linguagens e formas de apreender o mundo. Nenhuma delas é neutra, nenhuma delas é imutável ou preponderante sobre a outra. Podemos ainda destacar outro aspecto destas transformações no ato de projetar e na compreensão de seus instrumentos como práticas culturais ao dizer que há um conflito de geração entre professores e alunos de arquitetura no que diz respeito ao uso dessas “técnicas de projeto”, por um lado pela falta de conhecimento e curiosidade dos professores e por outro pelo excesso de curiosidade pelo novo da juventude, dos alunos. Desta forma, professores orientadores não devem nem se recusar a enfrentar os desafios colocados pelas novas formas de representação assim como não devem tomar para si questões colocadas pelos alunos apresentando a eles um caminho já percorrido8. Evitar a recusa ou a apresentação de caminho fácil e rápido, porque conhecido deve ser a concretização de uma busca contemporânea. Esta deve articular a velocidade das transformações tecnológicas e das visões de mundo e a profunda reiteração do conhecido. Mais uma vez é reconhecer nos recursos disponíveis o que eles devem ser: instrumentos de realização elaborados e apropriados a partir de nossas visões de mundo, nossas práticas culturais. São estes alguns dos desafios a serem enfrentados para pensarmos o desenho como expressão de visão de mundo que articula na representação criação e técnica. É nesta perspectiva que o ensino do desenho deve se orientar e é nesta articulação que pode contribuir para a formação do arquiteto em uma perspectiva humanista. CONCLUSÃO Ao ouvir o aluno e sua questão∗, sempre peço um papel e algo com que possa fazer alguma anotação9.

                                                                                                               8  Agir de maneira contrária à colocada pode comprometer significativamente o rápido período da graduação na formação profissional do aluno, pois pode perder o momento da possibilidade de realmente aprender, enfrentando um problema “real” daquele instante, trabalhando em buscas conceituais e tecnológicas que lhe darão conhecimento, treinamento e satisfação realizar por si suas conquistas graduais. O docente deve ter consciência e estar permanentemente focado no aluno como um “projeto de arquiteto” em construção, em busca de lhe dar segura independência, competente e responsável. 9  Projetos arquitetônicos e urbanísticos podem envolver aspectos nas mais diversas escalas, da concepção da implantação do objeto pretendido nos mais diversos sítios, que vão de situações existentes ou totalmente novas em áreas fora da região urbana a pormenores construtivos específicos de questões ou componentes construtivos.

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Em seguida, peço para o aluno desenhar o seu problema e aguardo, ouvindo atentamente seu discurso enquanto se põe desenhar com ou sem dificuldades. Dependendo do estágio de desenvolvimento do trabalho, passamos a ter uma conversa sobre a questão levantada onde posso, a partir da compreensão do seu desejo, induzi-lo ao desenvolvimento da questão colocada provocando-o para que a represente, desenhando. Quando qualquer desenvolvimento “emperra” sugiro algumas correções ou que pesquise algo parecido, na biblioteca da escola ou na internet10. No início dos cursos que tenho participado, basicamente para desinibir a “habilidade” projetual dos alunos, normalmente, os trabalhos se iniciam com atividades em pequenas equipes de dois alunos. Logo em seguida os trabalhos passam a ser individuais. Existem alunos, e não são poucos, que apresentam dificuldades para iniciar os trabalhos tanto em equipe quanto individual. Normalmente estes são monitorados pelos docentes e monitor para que juntos possamos “incentiva-los” em busca de conquistas pessoais11 A facilidade no uso de novos instrumentos de representação, de busca de informações apenas recoloca os desafios apontados no texto citado de Rozestraten (p.4) Tudo indica, que temos que mudar nossas formas de continuar pensando a cidade e sua arquitetura. Acima de qualquer coisa, é necessária uma ação política consciente e emergencial para encarrar os desafios cotidianos que envolvem o trabalho do arquiteto: do déficit habitacional, da especulação imobiliária, da expansão sobre o território das formas construídas `a repetição de velhas formas de morar em sociedades pós-industriais; da exaustão dos recursos disponíveis configurando a hoje dramática e inescapável questão ambiental que envolve desafios ligados ao (re)uso do lixo `as nossas praticas cotidianas de consumo; dos planos urbanísticos `a ausência de calcadas, da necessidade de equipamentos públicos `a sua depredação e inadequação. Nesta lista parcial e precária vemos

                                                                                                               10 Obviamente a pesquisa pela internet está mais a mão do que ir à biblioteca, procurar no arquivos, ir à prateleira, pegar alguns livros ou manuais, folheá-los, lê-los, anotar, etc. Insisto na biblioteca porque penso que por ser o processo mais lento e “trabalhoso” o resultado para o conhecimento do aluno é mais eficiente por não ser como a leitura em diagonal que ocorre na maioria das vezes na internet 11 Muitas vezes ouvi coisas do tipo “falta de autoestima” que sinceramente acredito ser uma avaliação que além de fugir à nossa competência fazê-las, põe o aluno em uma condição diferenciada inadequada, o que é um equívoco

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atuar, em muitas escalas, problemas antigos, desafios contemporâneos. Para cada um deles, em múltiplas escalas de realização, intervenção e projeto devemos incidir reconhecendo que o desenho é essencial e que ele se produz e expressa nossa visão de mundo. BIBLIOGRAFIA CARNEIRO, Beatriz Sigliano - “A invenção da Ópera Amazônica além do bem e do mal entendido” http://revistas.pucsp.br/index.php/ecopolitica/article/download/20511/15138 http://www.laymert.com.br/yanomami/ http://www.revistatropico.com.br/tropico/html/textos/1777,1.shl OLIVEIRA, Juliano Carlos C. B. - “Diálogo no desenho - Projeto, croqui e informática” http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/drops/10.028/1804

ROZESTRATEN, Artur Simões: “O desenho a modelagem e o diálogo” http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/07.078/299

SVECENCKO, Nicolau: “A corrida para o século XXI – No loop da montanha russa” – SP, Cia das Letras, 2001