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“Monitoramento, Avaliação e Proposição de
Melhorias do Programa Cartão Família Carioca”
PRODUTO 2 - Perfil dos Beneficiários:
O Cartão Família Carioca: Perfil dos Beneficiários1
Coordenação: Marcelo Cortes Neri
1 Esta pesquisa é parte integrante do segundo relatório de projeto de desenho e avaliação de impacto do
programa Cartão Família Carioca da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro no âmbito da Secretaria da
Casa Civil e do Instituto Pereira Passos (IPP). Agradecemos a Secretaria Municipal de Assistência Social
(SMAS), a Secretaria Municipal de Educação e ao Instituto de Planejamento (IPLAN-Rio) o
fornecimento das bases de microdados aqui utilizadas.Agradecemos os comentários preliminares
recebidos durante seminário no Instituto Pereira Passos (IPP) e em diversas reuniões de trabalho com
diversas secretarias municipais. Agradecemos em especial os comentários de Eduardo Paes, Pedro Paulo
Carvalho, Jean Caris, Roberta, Rodrigo Bethlen, Janine, Claudia Costin, Ricardo Henriques e Fernando
Cavalieri. Isentando porém de possíveis erros e imprecisões remanescentes.
Os artigos publicados são de inteira responsabilidade de seus autores. As
opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista da Fundação
Getulio Vargas.
Perfil dos Beneficiários do Cartão Família Carioca / Coordenação Marcelo Cortes
Neri. - Rio de Janeiro: FGV/CPS, 2011.
[20]p.
1. Pobreza 2. Programas de Transferência Condicionada de Renda 3. Prêmios
Educacionais 4. Educação 5. Desigualdade 6. Rio de Janeiro I. Neri, M.C
Perfil dos Beneficiários do Cartão Família Carioca
O Cadastro Social Único (CadÚnico) é o banco de dados que permite identificar
os cidadãos mais vulneráveis do Rio de Janeiro e orienta os programas sociais dos três
níveis de governo a começar pelo Bolsa Familia e agora com o Cartão Família Carioca
(FC). Isso porque o CadÚnico mostra o retrato da população de baixa renda, a qual,
segundo a abordagem proposta pelo trabalho, é a mais vulnerável economicamente.
Seguindo nessa linha, buscamos traçar um perfil dessas pessoas, mostrando
características como posse de ativos, situação no mercado de trabalho e ambiente em
que se insere essa população. Empreendemos aqui um perfil descritivo dos beneficiários
do FC.
Sítio da Pesquisa
O sítio da pesquisa www.fgv.br/cps/familiacarioca oferece um amplo banco de dados
com dispositivos interativos e amigáveis de consulta às informações. Através dele, você pode
avaliar o perfil dos das famílias cadastradas no CadÚnico que são ou não beneficiárias do
Cartão Família Carioca e/ou do Bolsa Família abertos por variáveis sócio-demográficas (tais
como sexo, idades, escolaridade dos pais, acesso a outros programas sociais entre outras). Além
disso, oferecemos simuladores ligados a area educacional tais como probabilidades de acesso
dos alunos da rede municipal ao FC e dos impacto destas mesmas características (com destaque
ao acesso ao programa) sobre a performance escolar dos alunos nas provas bimestrais.
Conforme relatamos com mais detalhes na seção anterior, o programa Família
Carioca complementa o Bolsa Família, mas constrói novas pontes entre o governo e as
famílias pobres. O primeiro aspecto fundamental é dizer quem é pobre estabelecendo
uma linha de pobreza; a escolha foi integrar o município às metas internacionais de
erradicação da pobreza de US$ 2/dia, equivalente a R$ 108/mês, e mais rigorosa que o
critério de entrada no BF, de R$ 140. O Censo 2010 identifica uma população de 6,3
milhões de pessoas na capital fluminense, das quais, 1.048.401 estavam cadastradas em
julho de 2010, ou seja, 16,7% da população reporta renda abaixo de meio salário
mínimo2, e 595.173 eram beneficiárias do Bolsa Família. Para receber o FC foram
escolhidas 421.797 pessoas – ou 100 mil famílias – dentre os recebedores do BF e que
se encontrassem abaixo dessa faixa de renda. As implicações dessa escolha operacional
serão discutidas mais a frente neste documento.
População total :: Responsável pelo recebimento dos benefícios
Benefícios Total
Sem instrução ou menos de 1 ano
1 a 3 anos 4 a 7 anos 8 a 11 anos 12 anos ou
mais Ignorado
Cadastrados 296.014 10.387 40.092 111.058 65.264 2.677 66.536
Recebe Bolsa-
Família - Jul/2010
157.468 5.456 23.328 67.102 39.570 812 21.200
Recebe Família
Carioca - Jul/2010
98.095 3.464 16.036 43.916 22.479 175 12.025
Não recebe Família
Carioca - Jul/2010
197.919 6.923 24.056 67.142 42.785 2.502 54.511
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
Com a escolha da linha de pobreza, seguiu-se ao modo de mensuração de renda
a ser adotado: renda imputada, que é estimada considerando-se os fatores monetários e
não-monetários dos indivíduos, em contraposição à renda observada relatada no
preenchimento do Cadastro. O objetivo foi otimizar a focalização do programa através
de um conceito mais abrangente, alcançando os mais pobres dos pobres. O diferencial
2 Os critérios para entrada no CadÚnico são: família com renda mensal de até meio salário mínimo por
pessoa, ou de três salários mínimos no total.
existente entre as duas rendas evidencia o quão vulnerável é a população em análise,
pois quanto menor esse gap, menos ativos possuídos, ou seja, quanto menor a distância
entre os dois critérios de renda, menor a renda permanente. Exploraremos as
informações do Cadastro para identificar características relacionadas à renda
permanente e que permitirão compreender o grau de pobreza do conjunto inicial de
contemplados pelo FC.
Panorama dos Beneficiários do Cadastro Social Único
Os dados cadastrais dos beneficiários de programas governamentais (como o Bolsa-
família) nos permitem averiguar uma serie de informações a respeito da vulnerabilidade das
famílias cariocas. Disponibilizamos no site da pesquisa dois diferentes panoramas que permitem
analisar o perfil e as necessidades de diferentes grupos de idade, assim como informações
detalhadas sobre a educação de adultos e crianças (incluindo frequência e atraso escolar). Os
bancos de dados apresentam informação para o conjunto total da população carioca, assim como
por diferentes subgrupos: i) características socioeconômicas como sexo, idade, anos de estudo,
raça, posição na ocupação educação, ii. Características domiciliares como tipo de construção,
acesso a serviços, quantidade de moradores; iii) características demográficas como deficiências,
iv) espaciais como local de moradia, e etc:
Panorama de Educação do Responsável
(http://www.fgv.br/cps/bd/BFC/CADASTRO/index_e.htm)
A célula básica para essa análise é a família, pois admitimos que os riscos, assim
como a renda, são partilhados e diversificados no domicílio, isto é, assumimos que há
altruísmo doméstico. Caracterizamos a família a partir dos atributos de seu responsável,
conceito que envolve o principal provedor de renda, que no caso específico dos
programas sociais como o Família Carioca, esse papel cabe às mulheres, que
correspondem a 96,26% dos “chefes”. A primeira explicação para esse fato considera
que elas adotam posturas mais distributivas dentro do domicílio, privilegiando seus
filhos; Handa (1996) e Thomas (1990) já evidenciavam a importância do viés de gênero
na alocação de recursos entre os membros da família. Outro argumento bastante
utilizado em defesa do empoderamento feminino é a possibilidade de romper a divisão
de trabalho tradicional dentro do domicílio, qual seja a provisão de renda como
responsabilidade do homem, enquanto o cuidado da prole sob atuação da mulher; nessa
configuração, o homem possui o poder de decisão nos rumos da família. No caso
específico das transferências de renda do Bolsa Família e do Família Carioca, há
inversão dos papeis no que se refere à estrutura de comando, pois as mães passam a ter
mais autonomia nas decisões familiares, diminuindo a desigualdade intradomiciliar.
Sexo :: Responsável por receber o benefício :: Vertical
Categoria Benefícios Total
Sem instrução ou menos de 1 ano
1 a 3 anos
4 a 7 anos
8 a 11 anos
12 anos ou mais
Masculino
Total 7,66 9,17 7,53 7,11 6,53 20,69
Recebe Família Carioca
3,74 4,19 3,95 3,78 3,45 11,43
Não recebe Família Carioca
9,6 11,66 9,91 9,29 8,15 21,34
Feminino
Total 92,34 90,83 92,47 92,89 93,47 79,31
Recebe Família Carioca
96,26 95,81 96,05 96,22 96,55 88,57
Não recebe Família Carioca
90,39 88,34 90,09 90,71 91,85 78,66
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
No contexto de pobreza e desigualdade, o grau de instrução do responsável pela
família tem papel fundamental tanto em relação às potencialidades dos indivíduos
quanto à erradicação intergeracional da vulnerabilidade. A equação minceriana de renda
calculada com os dados do Cadastro sugere que esse é um fator decisivo para a situação
de vulnerabilidade do domicílio. Além disso, a valorização do capital humano
representa o passaporte para a prosperidade futura das famílias, já que 70% dos
diferenciais de educação dos filhos são explicados pelo background educacional dos
pais, segundo a literatura empírica.
Temos, então, que 73,25% dos responsáveis familiares do programa Família
Carioca não possuem o ensino fundamental completo, com 3% de analfabetos. Esse
número tem duas implicações, uma mais imediata e outra relacionada com a capacidade
da família de sair da pobreza a longo prazo. A primeira é sobre a renda do chefe da
família: como, praticamente, ¾ dos chefes dos domicílios cariocas não possuem o
ensino fundamental completo, há uma implicação direta na renda dessas pessoas, que
tende a ser baixa. Juntando com o fato de que a maioria das famílias são chefiadas por
mulheres solteiras, que sustentam praticamente sozinhas mais 3 ou 4 pessoas em média,
podemos perceber o elevado grau de vulnerabilidade dessas famílias. A outra
implicação, de longo prazo, é sobre a educação dos filhos. Pais que possuem graus de
instrução mais elevados tendem a passar essa valorização do capital humano para os
filhos, o que resulta em uma maior educação desses e maior capacidade de geração de
renda no futuro.
Grau de instrução :: Responsável pela família ::
Categoria Benefícios Vertical População Categoria Benefícios Vertical População
Analfabeto
Recebe Família Carioca
2,98 2.921
Ensino médio
incompleto
Recebe Família Carioca
10,8 10.595
Não recebe Família Carioca
3,02 5.970
Não recebe Família Carioca
10,2 20.180
Até a 4ª série incompleta do ensino
fundamental
Recebe Família Carioca
24,25 23.785
Ensino médio
completo
Recebe Família Carioca
11,5 11.282
Não recebe Família Carioca
18,78 37.171
Não recebe Família Carioca
13 25.724
Com a 4ª série
completa do ensino
fundamental
Recebe Família Carioca
7,47 7.325
Superior incompleto
Recebe Família Carioca
0,12 119
Não recebe Família Carioca
6,63 13.116
Não recebe Família Carioca
0,65 1.285
De 5ª a 8ª série
incompleta do ensino
fundamental
Recebe Família Carioca
35,55 34.869
Superior completo
Recebe Família Carioca
0,06 57
Não recebe Família Carioca
26,34 52.123
Não recebe Família Carioca
0,57 1.129
Ensino fundamental
completo
Recebe Família Carioca
7,2 7.062
Não recebe Família Carioca
7,12 14.086
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
Duas variáveis apresentam grande relação com o nível de vulnerabilidade de
uma família: o estado civil e o número de dependentes no domicílio. O quadro clássico
de pobreza é de famílias grandes, com jovens mães solteiras e muitos filhos pequenos.
Em relação ao estado civil, 73,25% das “chefes” do programa Família Carioca são
solteiras, o que representa um indício de vulnerabilidade econômica, já que um casal
divide os custos, despesas e riscos de perdas monetárias. A quantidade de pessoas que
moram na residência e o número de dependentes ajudam a entender a configuração das
famílias: 80% moram em domicílios abrigando entre três e cinco pessoas, mas 16% das
famílias são constituídas por pelo menos 6 pessoas. O número de dependentes na
família é relevante para ver a distribuição familiar de riscos: 78,5% têm entre 3 e 5
dependentes. Supõe-se, portanto, que a família padrão que recebe Família Carioca é
formada por três a cinco componentes, sendo uma mulher solteira entre 30 e 45 anos
(60%), responsável pela renda familiar per capita observada média de R$ 62,5 sem
benefícios (R$ 107 com BF e FC) e renda estimada de R$ 89,95, e entre dois e quatro
filhos.
Estado civil :: Chefe :: Vertical
Categoria Benefícios Total
Solteiro(a) Recebe Família Carioca
73,25
Casado(a) Recebe Família Carioca
19,29
Divorciado(a) Recebe Família Carioca
1,68
Separado(a) Recebe Família Carioca
4,1
Viúvo(a) Recebe Família Carioca
1,65
Número de Pessoas Por Família – Responsável por receber o FC
Quantidade de pessoas Família Vertical Dependentes Vertical
1 17 0,02% 2.683 2,74%
2 3.957 4,03% 4.217 4,3%
3 25.795 26,3% 25.706 26,21%
4 32.529 33,16% 31.857 32,48%
5 20.314 20,71% 19.450 19,83%
6 9.281 9,46% 8.669 8,84%
7 ou mais 6.197 6,32% 5.504 5,61%
Zero 0 0,00% 9 0,01%
Total 98.090 100,00% 98.090 100,00%
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
Outra motivação foi a existência de muitas crianças entre 0 e 6 anos entre os
beneficiários do programa. A quantidade de mulheres grávidas nos domicílios,
acrescidas das mães amamentando, sugerem que a gravidez é maior nas famílias
beneficiadas pelo Família Carioca (3,42% contra 2,65% do total de cadastrados). Dado
que as famílias, em sua maioria, são chefiadas por mães solteiras e que essas já possuem
3 ou 4 dependentes para sustentar, a gravidez pode representar um aumento no risco de
vulnerabilidade econômica dessas famílias. Os riscos futuros inerentes à gravidez são
extensamente retratados na literatura, onde os trade-offs enfrentados pelas mães e suas
famílias são extremamente prejudiciais ao bem estar domiciliar e individual, podendo
haver uma desestruturação do ambiente familiar. As nutrizes estão presentes em 19,3%
das famílias Além dos riscos inerentes à gravidez, um fato observado é que 19,3% das
mães beneficiárias do programa, que no nosso caso chefiam as famílias na maioria das
vezes, estão amamentando (esse número em relação ao total de cadastrados é de
11,46%). Portanto, além do risco da gravidez, o fato é que muitas mães já estão
amamentando, o que aumenta ainda mais a vulnerabilidade das famílias.
Outra possibilidade é enxergar a questão da gravidez como uma oportunidade
para investir corretamente nesses filhos. Foi com esse objetivo que foram incluídas as
condicionalidades de engajamento dos pais na vida escolar e maior atenção à primeira
infância. Se essas crianças receberem os devidos incentivos educacionais tanto nas
creches e pré-escolas quanto em casa, a chance delas apresentarem melhor
desenvolvimento cognitivo e não cognitivo aumentará substancialmente, conforme as
evidências dos estudos de aprendizagem infantil com abordagens da neurociência,
economia e psicologia cognitiva indicam (Araújo, 2011).
Quantidade de mulheres grávidas
Categoria Benefícios Vertical Nas
Famílias
0
Recebe Família Carioca
96,55 94.711
Não recebe Família Carioca
97,71 193.388
1
Recebe Família Carioca
3,42 3.353
Não recebe Família Carioca
2,27 4.493
2
Recebe Família Carioca
0,03 30
Não recebe Família Carioca
0,02 34
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
Quantidade de mães amamentando
Categoria Benefícios Vertical Nas
Famílias
0
Recebe Família Carioca
80,71 79.170
Não recebe Família Carioca
92,25 182.573
1
Recebe Família Carioca
19,04 18.680
Não recebe Família Carioca
7,7 15.234
2
Recebe Família Carioca
0,24 239
Não recebe Família Carioca
0,05 107
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
A carteira de trabalho é o símbolo da nova classe média brasileira, o que mostra a
importância do trabalho na vida dos cidadãos. Com relação à renda, o emprego é tão
relevante para a renda corrente quanto a educação é para a renda permanente. Na nossa
análise, vemos que há grande vulnerabilidade da população beneficiária do programa
Família Carioca, com 42,34% dessas pessoas fora do mercado de trabalho. A
informalidade, correspondendo aos autônomos sem previdência social (30,33%), é
muito maior do que o emprego formal – menos de 4%, constituindo o estigma da
população de baixa renda carioca. No município, segundo a PNAD 2009, o desemprego
é de 4,12% e os inativos correspondem a 36,75% da população, totalizando 41% de
pessoas fora do mercado. A princípio, há um indício de que a atividade econômica
dessas famílias não oferece a segurança necessária para manter um padrão de vida
mínimo. A forte relação entre emprego e educação contribui para o entendimento do
alto grau de informalidade. Comparando com os não recebedores do FC, tanto a
informalidade quanto o desemprego são menores, enquanto o número de aposentados e
assalariados com carteira são maiores, 5% e 10,31%, respectivamente.
Situação no mercado de trabalho :: Chefe :: Vertical
Categoria Benefícios Total
Sem instrução ou menos de 1 ano
1 a 3 anos 4 a 7 anos
8 a 11 anos
12 anos ou
mais
Empregador
Recebe Família Carioca
0 0 0 0,01 0 0
Não recebe Família Carioca
0,01 0,03 0 0,01 0,01 0
Assalariado com Carteira de Trabalho
Recebe Família Carioca
2,34 1,41 2,37 2,53 1,96 1,14
Não recebe Família Carioca
10,31 4,15 7,87 11,27 13,14 15,79
Assalariado sem Carteira de Trabalho
Recebe Família Carioca
0,9 0,89 0,97 1 0,77 1,71
Não recebe Família Carioca
1,66 1,7 2,13 2,21 1,74 1,36
Autônomo com Previdência Social
Recebe Família Carioca
0,58 1,13 0,9 0,64 0,32 0
Não recebe Família Carioca
2,14 2,21 3,11 2,75 2,05 2,32
Autônomo sem Previdência Social
Recebe Família Carioca
30,33 26,07 29,91 31,19 30,32 24
Não recebe Família Carioca
18,72 15,96 20,77 22,72 23,16 12,39
Aposentado/Pensionista
Recebe Família Carioca
0,96 4,1 1,53 0,95 0,44 0
Não recebe Família
5,06 13,43 8 5,83 3,94 17,31
Carioca
Não trabalha
Recebe Família Carioca
42,34 44,14 41,66 40,33 44,28 47,43
Não recebe Família Carioca
32,52 46,76 39,74 36,64 37,69 36,73
Outra
Recebe Família Carioca
22,49 22,26 22,66 23,33 21,91 25,14
Não recebe Família Carioca
15,51 15,7 18,34 18,56 18,27 14,11
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
A casa própria é um grande sonho do brasileiro, e a maioria das pessoas afirma
que comprar uma casa é melhor do que morar de aluguel, fato esse que inspira o maior
programa de habitação popular do país, o “Minha Casa, Minha Vida”. A casa representa
um ativo físico que pode ser convertido em renda e utilizado para enfrentar algum
choque futuro que atinja a família. Nesse sentido, a situação do domicílio pode ser
determinante. Na nossa análise, 60,08% dos beneficiários do Família Carioca moram
em domicílios próprios e 25,3% em domicílios cedidos. O fato de que 25,3% das
famílias beneficiárias do programa moram em domicílios cedidos mostra a
impossibilidade de converter o domicílio em ativo monetário. Com relação aos riscos e
suscetibilidades a choques, os moradores de domicílios alugados e financiados também
podem ser considerados bastante vulneráveis, pois qualquer evento aleatório que
comprometa sua capacidade de pagar o aluguel ou a parcela do financiamento pode
equivaler à perda do domicílio e, portanto, de bem estar.
Situação do domicílio :: Chefe :: Vertical
Categoria Benefícios Total
Sem instrução
ou menos de
1 ano
1 a 3 anos
4 a 7 anos
8 a 11 anos
12 anos ou mais
Próprio
Recebe Família Carioca
60,08 64,72 64,15 60,77 57,85 46,29
Não recebe Família Carioca
49,06 57,11 54,42 49,65 46,2 46,72
Alugado
Recebe Família Carioca
4,85 5,8 5,38 4,88 4,01 1,71
Não recebe Família Carioca
23,03 16,45 20,76 23,89 24,25 21,02
Arrendado
Recebe Família Carioca
0,11 0,12 0,07 0,11 0,1 0,57
Não recebe Família Carioca
0,10 0,09 0,07 0,1 0,1 0,2
Cedido
Recebe Família Carioca
25,3 16,92 19,71 24,56 28,69 36
Não recebe Família Carioca
20,72 15,8 16,38 19,14 23,25 23,7
Invasão
Recebe Família Carioca
6,16 8,92 7,5 6,32 5,62 8
Não recebe Família Carioca
3,27 5,6 4,46 3,51 2,62 1,6
Financiado Recebe Família Carioca
0,35 0,23 0,32 0,31 0,37 1,14
Não recebe Família Carioca
0,50 0,22 0,36 0,42 0,59 1,36
Outro
Recebe Família Carioca
3,12 3,29 2,87 3,04 3,36 6,29
Não recebe Família Carioca
3,32 4,71 3,54 3,28 2,98 5,4
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
O ambiente no qual as pessoas estão inseridas influenciam sobremaneira seu
modo de vida. Alguns indícios do nível de privação se dão pelas condições da moradia e
acesso a serviços básicos, que impactam diretamente no valor do imóvel e na saúde dos
indivíduos, por exemplo. Em se tratando de acesso a serviços públicos básicos como
escoamento sanitário, iluminação, fornecimento e tratamento de água, temos que o
fornecimento de água e esgotos são serviços praticamente universais. Em relação ao
escoamento sanitário, 86,4% dos beneficiários do programa tem acesso à rede pública,
número bem mais elevado do que a média nacional, de 55,45%. Portanto, o pobre
carioca está em situação sanitária menos delicada do que a média dos pobres brasileiros.
O abastecimento de água feito pela rede pública, por sua vez, abrange 91,27%
das famílias beneficiadas. As principais ameaças à saúde, principalmente para as
crianças, que são mais vulneráveis, são doenças provenientes da água ingerida, afinal
23,23% das famílias não realizam tratamento na água. Esse número de pessoas que não
realizam tratamento de água, chegando a quase 25% do total dos beneficiários, tem
implicações tanto na saúde das crianças, que são mais frágeis, quanto na própria saúde
dos chefes. Problemas de saúde relacionados à falta de tratamento de água prejudicam a
capacidade cognitiva das crianças, fazendo com que no futuro elas possuam menos
capacidade de estudar e trabalhar e, portanto, limitando a sua capacidade de geração de
renda futura. Essa limitação da capacidade de geração de renda no futuro ajuda a
explicar a persistência da desigualdade de renda no país, que é um processo cíclico.
Além dos possíveis problemas de saúde para as crianças, a falta de tratamento de água
também é prejudicial para a saúde dos pais, mesmo que esses sejam mais resistentes do
que as crianças. Ao prejudicar a saúde dos pais, há uma implicação direta na renda da
família, já que os pais terão que trabalhar menos e gerarão menos renda para a família.
Tipo de abastecimento de água Tratamento de água
Categoria Benefícios Total Categoria Benefícios Total
Rede Pública
Recebe Família Carioca
91,27
Filtração
Recebe Família Carioca
58,52
Não recebe Família Carioca
92,79
Não recebe Família Carioca
65,5
Poço/Nascente
Recebe Família Carioca
1,24
Fervura
Recebe Família Carioca
6,23
Não recebe Família Carioca
12,44
Não recebe Família Carioca
4,23
Carro-pipa
Recebe Família Carioca
0,04
Cloração
Recebe Família Carioca
10,6
Não recebe Família Carioca
0,04
Não recebe Família Carioca
11,75
Outro
Recebe Família Carioca
7,41
Sem Tratamento
Recebe Família Carioca
23,23
Não recebe Família Carioca
5,93
Não recebe Família Carioca
16,7
*27.541 famílias que não recebem FC não apresentam informações sobre acesso a serviços públicos. Elas foram retiradas da análise vertical.
Outro
Recebe Família Carioca
1,4
Não recebe Família Carioca
1,85
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
Escoamento Sanitário Destino do lixo no domicílio
Categoria Benefícios Total Categoria Benefícios Total
Rede pública
Recebe Família Carioca
86,4
Coletado
Recebe Família Carioca
93,79
Não recebe Família Carioca
89,6
Não recebe Família Carioca
94,97
Fossa sedimentar
Recebe Família Carioca
3,3
Queimado
Recebe Família Carioca
0,56
Não recebe Família Carioca
2,63
Não recebe Família Carioca
0,47
Fossa séptica
Recebe Família Carioca
1,37
Enterrado
Recebe Família Carioca
0,02
Não recebe Família Carioca
1,2
Não recebe Família Carioca
0,02
Vala
Recebe Família Carioca
4,05
Céu aberto
Recebe Família Carioca
2,06
Não recebe Família Carioca
3,09
Não recebe Família Carioca
1,35
Céu aberto
Recebe Família Carioca
1,38
Outro
Recebe Família Carioca
3,53
Não recebe Família Carioca
0,8
Não recebe Família Carioca
3,18
Outro
Recebe Família Carioca
3,48 *27.541 famílias que não recebem FC não apresentam informações sobre acesso a serviços públicos. Elas foram retiradas da análise vertical.
Não recebe Família Carioca
2,7
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
Quando analisamos o tipo de iluminação, outro número chama a atenção,
podendo representar mais um indício de vulnerabilidade das famílias locais: temos que
25,91% dos beneficiários do programa não possuem relógio de luz, número esse que
representa a abrangência da informalidade na provisão de serviços básicos entre as
famílias mais pobres do município. A comparação com o restante dos cadastrados
mostra que a situação é pior para quem recebe o FC.
Tipo de iluminação
Categoria Benefícios Total Categoria Benefícios Total
Relógio próprio
Recebe Família Carioca
65
Lampião
Recebe Família Carioca
0,02
Não recebe Família Carioca
73,84
Não recebe Família Carioca
0,04
Sem relógio
Recebe Família Carioca
25,91
Vela
Recebe Família Carioca
0,02
Não recebe Família Carioca
17,93
Não recebe Família Carioca
0,02
Relógio comunitário
Recebe Família Carioca
4,9
Outro
Recebe Família Carioca
4,12
Não recebe Família Carioca
4,84
Não recebe Família Carioca
3,33
Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados do CadÚnico/MDS
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