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Apresentação: Susana OliveiraGrupo de Estudos do Trauma
Sumário
1 – PROCESSAMENTO DA INFORMAÇÃO NA PPST
1.1 – HIPER-EXCITAÇÃO E PROBLEMAS COM DISCRIMINAÇÃO DE
ESTÍMULOS
1.2 – DISSOCIAÇÃO
1.2.1 – Dissociação Primária
1.2.2 – Dissociação Secundária
1.2.3 – Dissociação Terciária
2 – PSICOBIOLOGIA DA DISSOCIAÇÃO
3 – HISTÓRIA DA DISSOCIAÇÃO EM PSIQUIATRIA
4 – VISÕES CONTEMPORÂNEAS DO TRAUMA E DOS PROCESSOS
DISSOCIATIVOS
Existem três problemas críticos que afectam o processamento da
informação em indivíduos que sofrem de PPST:
• Sobrei-nterpretação dos estímulos correntes como recordações
do trauma (estímulos menores com capacidade de activar
reminiscências intrusivas do trauma);
. Hiper-excitação generalizada e dificuldade em distinguir o que é
relevante do que não é;
• Após a dissociação no momento do trauma, muitas pessoas
traumatizadas continuam a utilizar a dissociação como forma
de lidar com intrusões relacionadas com o trauma e com outras
experiências de vida stressantes.
“Indivíduos com PPST desenvolvem sérias distorções
na forma como processam a informação porque eles
estreitam o seu foco de atenção nas fontes de
ameaça potencial. Permanecem de “guarda” para o
retorno do trauma e deste modo, num estado
psicológico de super-excitação crónica.”
Abram Kardiner
A hiper-excitação cria um ciclo vicioso:
Estado de dependência de resgate de memórias
Maior acesso a memórias traumáticas e a intrusões involuntárias do trauma
Aumento da excitação/alerta
Consequências do aparente esforço em evitar sentimentos que possam desencadear memórias do trauma:
• Organização da vida em torno do evitamento de compromissos emocionais
•Tentativas de controlo• evitamento de pessoas ou situações que funcionem como “gatilho”• ingestão de drogas e álcool para entorpecer a consciência de estados emocionais penosos• dissociação para banir experiências desagradáveis da consciência clara
Adultos e crianças com PPST não só têm dificuldade em gerir emoções penosas como em atender a estímulos neutros ou agradáveis.
• Desatenção”, que os priva de sentir prazer com o aqui e agora e interfere na construção de aptências específicas e sentimentos de poder e domínio.
• Incapacidade em integrar e resolver o trauma em si mesmo ou de fazer alguma coisa a esse respeito (devido à incapacidade para saber o que sentem e de imaginar um leque de opções sem que sintam intensa excitação emocional).
• Tendência a serem esmagados por emoções difusas e, no entanto, grande parte das vezes, ficam sem saber de que tratam afinal estes sentimentos intensos.
• Falha na construção de um armazém de experiências restritivas e gratificantes (são justamente estas recompensas que ajudam os indivíduos a lidar com as feridas da vida do dia-a-dia.
Trata-se de uma forma de organizar a informação.
Refere-se à compartimentalização da experiência: elementos do trauma não
são integrados num todo unitário ou num sentido de self integrado.
Na perturbação dissociativa existe apenas uma personalidade, no entanto
várias ideias de self, do mundo e da relação com o mundo.
O domínio dos sintomas dissociativos inclui praticamente qualquer estado
modificado de consciência.
Constitui um fenómeno biopsicossocial que vai muito para além da divisão da
consciência. Pode dizer respeito a um processo, estrutura intrapsíquica, defesa
psicológica, deficit ou uma ampla variedade de sintomas e não apenas como
definido no DSM IV (disrupção nas normalmente integradas funções de
consciência, memória, identidade ou percepção do ambiente).
É muitas vezes confundida com estado de choque temporário.
A dissociação ocorre tanto no momento do evento traumático como pós-
traumaticamente, como consequência a longo prazo da exposição ao trauma.
As partes dissociativas podem ser entendidas como subsistemas da
personalidade, insuficientemente integradas e podem ser resultado de:
• exposição a eventos extremamente stressantes ou potencialmente traumatizantes;
• insuficiente capacidade para integrar a experiência;
• suporte social insuficiente para auxiliar na síntese e realização da experiência
traumática.
A falha em manter uma personalidade adaptativa e integrada leva a uma divisão da personalidade em pelo
menos duas partes e é esta divisão que pode caracterizar PPST:
Parte aparentemente normal Parte emocional
Quando Dominante
• Focalização na vida diária
• Evitamento de memórias traumáticas
• Fixação nas memórias traumáticas e
sentimentos
Tentativa de agir, pensar e sentir como se
a vida pudesse continuar apesar de ter
tido a experiência traumática.
Fixação em memórias traumáticas
reactivadas; não concentração na vida diária;
tendência a reviver a experiência traumática
(experiências de alucinação, solidão e
experiências involuntárias (imagens visuais,
emoções veementes, sensações, pensamentos
“eu vou morrer” e acções físicas como
medidas de protecção…).
É normal flutuar entre uma e outra divisão da personalidade. O que caracteriza a
Dissociação é o facto destas duas partes não estarem suficientemente integradas.
Algumas partes parecem relativamente não-emocionais (partes aparentemente
normais), enquanto outras estão arrasadas ou paralisadas pela emoção e na
verdade nada separadas dela (partes emocionais).
Dissociação pós-traumática envolve com frequência fortes emoções e sensações
corporais mas os sentimentos tendem a ser excluídos da consciência quando a
pessoa está a funcionar como uma parte aparentemente normal.
“A essência do trauma reside no facto de os indivíduos serem incapazes
de o integrar nos seus estados de personalidade normais. Ao invés,
estas memórias traumáticas são armazenadas separadamente das
outras memórias, em estados de personalidade discretos. (…) O normal
foi sendo substituído por aquilo a que podemos chamar de
«personalidade emocional». Gradual ou subitamente uma personalidade
aparentemente normal regressa.”
Charles Myers
Durante estados dissociativos de fuga “ o sujeito age como se a situação
traumática original ainda existisse e embate nos dispositivos de
segurança que falharam pela ocasião original.”
Abram Kardiner,
(a propósito do seu trabalho com veteranos de guerra)
Perda de memória
Psicoformes Perda de afecto Perda da função crítica
Sintomas Dissociativos Negativos Perda necessidades, desejos e fantasias
Somatoformes Perda aparente da função sensorial
Perda aparente da função perceptiva Perda aparente da função motora
Perda de funções ou outro
fenómeno psico-biológico numa
parte da personalidade que está
acessível numa outra parte
Memórias traumáticas
Psicoformes Pesadelos com componente afectiva, cognitiva e somato-sensorial
Sintomas Dissociativos Positivos
Somatoformes Intrusão de aspectos sensoriomotores
de re-experiências traumáticas: dor, comportamento descontrolado…
Dissociação somatoforme é mensurada por SDQ – 20 e está associada com:
• exposição a eventos potencialmente traumatizantes• ameaça à integridade do corpo• ameaça à própria vida por outra pessoa• dor intensa
Fenómeno de intrusão. Diversos
sintomas de esquizofrenia são
comuns o que implica que
muitos “esquizofrénicos” podem
estar mal diagnosticados.
• Refere-se à incapacidade em integrar a totalidade do que está a acontecer na
consciência.
• Elementos sensoriais e emocionais do evento podem não ser integrados na memória
e na identidade pessoal e permanecerem isolados da consciência vulgar.
• Pode haver experiência separada em elementos somato-sensoriais isolados, sem
ocorrer integração na narrativa pessoal.
• Pode ocorrer fragmentação acompanhada por estados de ego que são distintos dos
estados de consciência normais.
• A dissociação primária é característica da PPST, na qual os sintomas mais dramáticos
são expressões de memórias traumáticas dissociadas – lembranças intrusivas
intensamente perturbadoras, pesadelos, flashbacks.
• Inventário de Memória Traumática (TMI). Trata-se de uma entrevista estruturada com 60
itens, que compara o resgate de uma memória traumática com o de uma memória de um
evento emocionalmente significante mas não traumático.
Os imprints da experiência traumática estão inicialmente dissociados e são
recuperados como fragmentos sensoriais que têm uma pequena ou nenhuma
componente linguística (imagens, olfacto, sensações cinestésicas…). À medida que o
traumatizado vai tomando consciência de mais e mais elementos da sua experiência,
vai construindo uma narrativa que “explica” o que se passou com ele, utilizando os
fragmentos de memórias que estão disponíveis.
Em contraste, as experiências não traumáticas do dia-a-dia não são registadas na
consciência como elementos sensoriais separados, mas são automaticamente
integradas numa narrativa pessoal coerente.
• Refere-se uma dissociação entre Ego Observador e Ego Experienciador.
• Sintomas que ocorrem durante ou imediatamente após a experiência traumática.
• Relatos de pacientes que deixaram mentalmente os seus corpos no momento do trauma e
que observaram o que se passava, distanciados.
• Permite ao indivíduo observar a sua experiência como espectador e limitar a sua dor ou
angústia. Fica protegido da consciência da totalidade do impacto do evento.
• Enquanto que a dissociação primária limita as cognições dos indivíduos relativamente à
realidade da sua experiência traumática e habilita-os a seguirem em frente como se nada
tivesse acontecido, a dissociação secundária coloca o indivíduo fora do alcance dos
sentimentos e emoções relacionados com o trauma, anestesia-os.
• Vítimas de trauma frequentemente relatam alterações na experiência do tempo (acelerado,
lentificado); lugar e pessoa, o que lhes confere uma sensação de irrealidade.
• Despersonalização, percepção dolorosa alterada, alteração da imagem corporal, visão do túnel e
experiências dissociativas imediatas (Noyes and Kletit 1977; Wilkinson 1983; Siegel 1984).
• Estudos recentes apontam para a dissociação durante o trauma como um forte preditor para um
subsequente desenvolvimento de PPST (mas não inequivocamente, e, devido à falta de clareza acerca
da construção da dissociação peritraumática, torna-se difícil determinar se esta correlação existe devido
aos sintomas dissociativos originais, às alterações de consciência que diferem dos sintomas dissociativos
originais ou a ambos).
• Forte relação entre severidade do trauma, sintomas dissociativos e PPST (Carlson e Rosser-
Hogon, 1991).
• Veteranos com PPST reportaram maiores níveis de sintomas dissociativos que os homens que
não desenvolveram PPST (Bremmer et al).
Estes achados eram a início surpreendentes, quando se acreditava
que a dissociação conferia protecção e sentido de distância às
vítimas.
Apesar do uso de “fora do corpo” ou outras respostas
peritraumáticas dissociativas no momento do trauma poderem
defender de um estado de desesperança e terror ainda mais
catastrófico, a dissociação no momento do trauma é um dos mais
importantes factores de risco para o subsequente desenvolvimento
de PPST crónico.
• Mede a dissociação peritraumática
• Consiste em 9 itens:
- Momentos de perder o rumo - “blanking out”
- Dar-se conta que está em “piloto automático”
- Sensação de tempo a mudar durante o evento
- Evento parece irreal
- Flutuando acima da cena
- Sentir-se desconectado do corpo ou experiência de distorção corporal
- Confundir o que se passa consigo próprio e com os outros
- Não tomar consciência de coisas que estão a acontecer durante o evento, que numa
situação normal teriam sido percebidas
- Não sentir dor aquando dum dano físico
Conclusão: quanto maior a dissociação durante o evento traumático, maior a probabilidade
de encontrar critérios para PPST.
• Experiência de eventos traumáticos na infância e adolescência que baixaram o limiar para a
dissociação maior propensão para dissociar durante o evento traumático.
• Em indivíduos com PPST ocorrem flashbacks em resposta a níveis mais elevados de
excitação.
• Pacientes com distúrbios de pânico frequentemente evidenciam reacções dissociativas no
auge dos seus ataques de ansiedade.
• Progressão desde ataques de pânico até estados dissociados em mulheres com partos
complicados e que mais tarde desenvolveram PPST
Relação entre dissociação peritraumática e PPST
pode ser mediada por níveis crescentes de
ansiedade durante o trauma.
• Estudos contemporâneos puderam ainda comprovar que Janet estava correcto quando
defendeu que emoções veementes formam a base do fenómeno dissociativo.
• Marmar, Weiss, Metzler e Delucchi descobriram que os seguintes factores estão associados a
níveis maiores de dissociação peritraumática:
•Idade jovem
•Níveis elevados de exposição
•Maior ameaça subjectiva percebida
•Ajustamento psicológico geral empobrecido
•Formação de idade pobre
•Níveis de ambição e prudência diminuídos, como definido pelo inventário de personalidade de Hogan
•Aumento do locus externo de controle
•Aumento do uso de fuga/evitamento e coping focalizado na emoção
•Maior experiência profissional
•Estruturas de personalidade mais vulneráveis
•Recurso crescente ao mundo externo para sentido de
segurança
•Aumento do uso de estratégias de coping mal adaptadas
Maior vulnerabilidade à dissociação peritraumática
• É a mais complexa das perturbações dissociativas, em que ocorre divisão das partes
emocionais que estão fixadas na experiência traumática e subsequentemente dá-se a
divisão das partes aparentemente normais que estão envolvidas na vida diária.
• Desenvolvimento de estados de ego distintos que contêm a experiência traumática,
consistindo em identidades complexas com padrões cognitivos, afectivos e comportamentais
distintos.
• Alguns estados de ego podem conter a dor, o medo, a raiva relacionados com experiências
traumáticas particulares, enquanto outros estados de ego permanecem desconhecedores do
trauma e dos seus efeitos concomitantes, continuando a desempenhar as funções de rotina
da vida diária.
• Exemplos: fragmentos de identidade múltipla (alter) no DID (distúrbio de identidade
dissociativa)
• Na medida em que a sua amnésia dissociativa lhes permite, estes pacientes relatam
tipicamente crónicos e intensos abusos sexuais, físicos e psicológicos numa idade muito
precoce.
• A dissociação continuada:
• interfere com o processamento consciente da informação coerente
• impede a exploração de meios de coping alternativos
Interferência com a adaptação geral
• DES: mede a utilização de respostas dissociativas no dia-a-dia
• DDIS (dissociative disorder interview scale) ou
• SCID-D (structured clinical interview for DSM –III-R dissociative disorders):
encapsulamento de experiências traumáticas em estados de consciência distintos
• MID (Multiaxial Inventory of Dissociation)
• SDQ (Somatoform Dissociation Questionnaire)
• Indivíduos traumatizados podem agir como se estivessem a ser novamente traumatizados e
experienciar estados mentais como se estivessem presentes no momento do trauma, em
resposta a certos estímulos aparentemente neutros, mesmo que eles não evoquem
explicitamente o evento traumático quando se comportam dessa forma.
• Podem manter as suas memórias dissociadas num estado de ego do qual não têm
consciência.
• McDougall: memórias traumáticas são sempre parte de alguma personalidade. No entanto
é comum existir algum grau de consciência entre diferentes estados de ego.
• Dissociação permite manter o esquema existente enquanto distintos estados de ego
processam o evento traumático.
Exemplo: no estado normal: “eu não fui abusado”, ao passo que o sistema cognitivo dissociado contém a
crença de que “eu sou um fraco e inútil” ou “sou forte e agressivo”.
A cognição actual depende do estado que é reactivado!
Se o trauma pode ser contido em diferentes estados de ego a personalidade pode
continuar
a desenvolver-se com relativamente pouca interferência da memória traumática.
Consequências: dependem do nível mental em que o trauma ocorre.
Se na idade adulta PPST
Se em idades anteriores sintomatologia bem mais complexa, que pode ser em
parte entendida como resultado duma fixação do
desenvolvimento em estágios anteriores de
maturação psicológica.
A fenomenologia da DID mostra que a fragmentação pode ocorrer em vários níveis diferentes:
• fragmentação da memória do trauma em si mesma
• fragmentação da identidade do ego comprometido no acto de relembrar
Desenvolvimento de vários centros de processamento de informação capazes de
pensamentos, emoções e memórias relativamente independentes, capazes de agir e
assumir o controle do comportamento;
Estados de self em DID são construções mentais e não pessoas distintas habitando um corpo;
A personalidade do ser humano é feita por todos os estados de self juntos;
Indivíduos com DID muitas vezes avaliam-se como um sistema de selfs que estão
variavelmente presentes e que interferem, dominam e/ou entram em conflito uns com os
outros.
DSM IV-TR
• Presença de duas ou mais identidades distintas ou estados de personalidade, cada uma
com o seu relativamente duradouro padrão de percepção, relacionando com, e pensando
acerca do ambiente e do self;
• Pelo menos duas dessas identidades recorrentemente assumem o controle do
comportamento da pessoa;
• A pessoa experiencia incapacidade para evocar informação pessoal importante que é
extensiva de mais para ser explicado pelo esquecimento vulgar.
Estudos:
Forte relação entre trauma infantil e DID:•Abuso físico e sexual severo e prolongado•Ameaças à vida•Lacuna total de sensação subjectiva de segurança, secundária ao abuso pelo primeiro cuidador• Procedimentos médicos e cirúrgicos dolorosos• Guerra
Iatrogenia?
Genética? (DID em vários elementos em múltiplas
gerações)
Elevados níveis de trauma e dissociação também em:• BPD•Distúrbio somático•Depressão major•PTSD
Diagnóstico de DID:
• Sintomas de Processo de DID
- Switching (mudança súbita e discreta entre estados de consciência – acesso a memórias, afectos,
sentido de self manifestado por expressões faciais, discurso e actividade motora; experienciam
como múltiplos selfs simultaneamente como mais do que uma idade ou género, por exemplo)
- Despersonalização severa recorrente (como se um estivesse desconectado do outro, inclui
experiência fora do corpo)
- Irrealidade (os outros são aliens ou irreais)
- Sobreposição subjectiva
- Intrusão e interferência subjectiva
- Elevada hipnossensibilidade (regressões espontâneas, transe espontâneo, sujeição extrema,
transe lógico – tolerância à contradição lógica, sinal de olhos revirados, quando em switching)
Incursão na consciência de pensamentos,
sentimentos, emoções ou acções percebidos
como “não meus”; episódios repetidos de
memórias, sentimentos, impulsos e/ou
emoções a serem removidos da mente;
comportamento ser parado ou inibido como
se por uma força ou presenças interiores.
- Ouvir vozes e/ou conversações
Geralmente têm:
• Uma qualidade personificada (nomes…)
• Não têm uma perturbação/desorganização do pensamento
• Reticentes à discussão da experiência (pensarem que “sou louco”)
• Descrevem esta experiência de forma metafórica ou personificada
• Amnésia Crónica Complexa
- Perda de tempo
- Blackouts
- Fuga (pensar que alguém viajou para outro lugar sem dar mais notícias)
- Possessões inexplicadas
- Súbita perda breve de memória durante uma experiência corrente
- Habilidades musicais e artísticas
DID e Esquizofrenia: sintomas semelhantes, duas patologias bem distintas mas que se
podem confundir
• não desenvolvimento de ilusões/delírios
• capacidade significativamente maior para pensamento lógico e organizado
• bons testes de realidade
• melhor habilidade para estabelecer ligação/relação com outros
Pacientes com DID “caem” dentro do espectro da Perturbação Pós-Stress
Traumático Complexo (PPSTC).
Caracterizado por uma variedade de
dificuldades com a regulação do humor,
ansiedade, raiva; problemas com o
sentido de self; lacuna de confiança no
outro e múltiplas formas de auto-
destruição, entre outros.
Comorbilidades:
• Depressão
• Abuso de substâncias
• Sintomas obsessivos-compulsivos
• Tentativas suicidas
• Auto-mutilação
• Perturbações alimentares
• Comportamentos de risco/perigo
• Revitimização (violação, violência doméstica…)
Erros de Diagnóstico:
• Perturbações de humor cíclicas
• Perturbações psicóticas
• Perturbação melancólica depressiva
• BPD
• Funções integrativas podem ser “enganadas” pela libertação de neuroquímicos como
norepinefrina e dopamina devido a ameaça severa.
• Estes neuroquímicos estão concentrados nas regiões do cérebro envolvidas na
integração psico-biológica, como hipocampo e córtex pré-frontal.
• Elevada viragem nos níveis de dopamina/norepinefrina no pré-frontal
metabolismo na região déficit de cognição e memória.
• Sistema noradrenérgico tem papel activo na criação e reexperienciação de memórias
traumáticas Sintomas dissociativos positivos e negativos.
• Severidade da dissociação positivamente associada à reactivação de norepinefrina sob
condições de stress.
• Reexperienciar assustador que envolve estados corporais alterados e comportamento
anormal (sintoma dissoc. positivo) associado com metabolismo pré-frontal anormal
perturbação personalidade Borderline
DID
• Correlação positiva entre mudança nos neuroquímicos do stress no cérebro (glutamato,
norepinefrina, epinefrina, glucocorticóides e opióides endógenos) e severidade dos
sintomas dissociativos
Hipótese: correlação positiva entre grau de sintomas dissociativos e
exposição aos stressores extremos
• Perturbação dissociativa simples e complexa volume do hipocampo,
parahipocampo e amígdala.
• Quanto menor o volume do hipocampo maior a complexidade do trauma.
• Volume do hipocampo e parahipocampo positivamente correlacionado com dissociação
psicoforme e somatoforme e com traumatização psicológica relatada.
• DID: fluxo sanguíneo na área orbito-frontal do córtex pré-frontal, bilateral
fluxo sanguíneo no córtex frontal bilateral e occipital
Resposta compensatória à impulsividade e intrusões dissociativas quando
o córtex orbito-frontal não é suficientemente activado para lidar com
potentes reacções emocionais relacionadas com o trauma.
• Região orbito-frontal: responsável pela redução da intensidade do sofrimento
emocional.
• Córtex frontal e occipital: inibição de impulsos intensos e organização da informação
visual.
• Diferentes ideias de self envolvem diferentes padrões de actividade neural, assim como
reacções subjectivas psicofisiológicas e neuronais muito diferentes perante ameaça
percebida conscientemente.
• Pacientes com DID diferem pouco dos que padecem de PPST não dissociativa no que
respeita à dinâmica do cortisol.
• Partes aparentemente normais da personalidade têm
- semelhante frequência cardíaca; variação da frequência cardíaca e pressão
arterial
- reacções corporais, comportamentais e emocionais menos intensas aos
scripts das memórias traumáticas do que as partes fixadas nas memórias do trauma
- aumento do fluxo sanguíneo no córtex pré-frontal, frontal, parietal e occipital.
• Partes emocionais fixadas em memórias traumáticas e em reacções
defensivas:
- fortes reacções corporais, comportamentais e afectivas
- aumento da frequência cardíaca
- da variação da frequência cardíaca
- perfusão pré-frontal e parahipocampal
- fluxo sanguíneo no córtex insular e sensorial e na amígdala
• Sintomas dissociativos somatoformes podem estar associados à crescente activação das
regiões límbicas.
• Myers (1880)
• Charcot
• Gilles de la Tourette
• Janet (1889): A “fobia da memória” impede a integração (síntese) e separa as
memórias traumáticas da consciência vulgar. Enquanto estes pedaços de memória
não forem traduzidos para a narrativa pessoal, continuarão a invadir como terríveis
percepções, preocupações obsessivas e reexperiências somáticas.
Elementos somatosensoriais podem voltar à consciência pela recordação do trauma
através de:
• sensações físicas (ataques de pânico)
• imagens visuais (pesadelos)
• ruminações obsessivas
• desajustes comportamentais
• William James (1894)
• Breuer e Freud: a revivência dos eventos traumáticos combinada com os afectos
associados conduzem à resolução de certos sintomas (famoso caso de Ana O e os sintomas
de histeria múltipla).
• “Catarse”: técnica de trazer ao estado de consciência memórias traumáticas
patogénicas, verbalizando as emoções penosas relacionadas com esses eventos e
descarregando as emoções.
• Freud: mecanismos de defesa do ego extraem activamente memórias traumáticas do
consciente para proteger a pessoa de memórias dolorosas
Divergência entre o ponto de vista de Janet
• Jung (1921-22): a descarga da emoção excessiva não funciona. Abreacção é inútil e
mesmo prejudicial. Enfatiza o apoio e compreensão do terapeuta que aumenta o nível
de clareza e consciência do paciente, levando memórias traumáticas autónomas
dissociadas a ficarem novamente sob controle.
Indivíduos dissociam porque as suas capacidades mentais estão enfraquecidas
pelas emoções veementes e não são capazes de integrar as memórias do
trauma na consciência pessoal. Não é pois uma repressão activa. Abreacção
não é curativa. O objectivo deverá ser controlar a dissociação e integrar a
experiência traumática.
DSM IV: novo diagnóstico de Distúrbio Agudo de Stress (DAS) focaliza na
dissociação no instante imediato do trauma.
Durante ou após o evento traumático, o individuo tem pelo menos 3 dos
seguintes sintomas dissociativos:
1 – sentimento de separação, entorpecimento, falta de responsabilidade
emocional
2 – consciência da envolvência diminuída
3 – irrealidade
4 – despersonalização
5 – incapacidade para lembrar um aspecto significativo do trauma
Existem poucas evidências de um processo activo de afastamento da experiência
avassaladora. A desacoplagem parece ter outro mecanismo.
• Tanto DAS como PPST parecem originar a capacidade de acessos a estados
dissociativos
• Indivíduos que a utilizaram anteriormente parecem estar particularmente
vulneráveis a utilizá-la novamente durante Stress Agudo (não totalmente
conscientes e experiência não assumida como sua)
Falha na integração do trauma no estado agudo torna as pessoas mais vulneráveis a
PPST
A longo prazo: combinação de dissociação com outros mecanismos de coping
Largo espectro de distúrbios mentais
O desenvolvimento de alguns distúrbios de Axis I e II (cap. 7 e 9) depende de:
• nível de desenvolvimento no qual o trauma ocorre• severidade e cronicidade do trauma• temperamento do indivíduo e ambiente pós-traumático
Para alguns os fragmentos dissociados podem não interferir marcadamente, enquanto que
outros organizam a totalidade da sua personalidade em torno do lidar com o pós-trauma
(provavelmente o caso de distúrbio de personalidade borderline).
Defesas psicológicas podem ser usadas para lidar com experiências traumáticas e para
manter as divisões dissociadas entre diferentes partes da personalidade, mas a dissociação
por si só não constitui uma defesa psicológica.
Referência Bibliográfica:Kolk, B. Van Der, Hart, O. Van Der, Marmar, C. (2007). Dissociation and Information Processing in Posttraumatic Stress. In B. A. Van Der Kolk, A. C. McFarlane, L. Weisaeth, Traumatic Stress: The Effects of Overwhelming Experience on Mind, Body, and Society. (pp.303-327), capítulo 13.New York
Apresentação:Susana Oliveira - [email protected]
Grupo de Estudos do Trauma