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EL PACTO CON DIOS (A.2.4.4) 25 LA COMIDA ES UNA MUESTRA DEL CUIDADO DE JESÚS (A.2.4.4) REFERENCIA BÍBLICA: Exodo 16 VERSÍCULO CLAVE: "Danos hoy el pan que necesitamos" (Mateo 6:11, Dios Habla Hoy). CONCEPTO CLAVE: Doy gracias a Jesús por la comida que Él me da. OBJETIVOS EDUCATIVOS: Al final de la clase de hoy los niños podrán: 1. Explicar cómo Dios dio comida a los israelitas. 2. Decir lo que sintió la gente al recibir comida de Dios. 3. Dar gracias a Jesús por la comida que les da. APLICACIÓN A LA VIDA DIARIA: Hoy verán otra manera especial que Dios utilizó para proveer comida para su gente. Por medio de las historias estudiadas en las semanas anteriores y la de hoy, los niños aprenderán que Jesús puede darles todo el alimento que necesitan. A veces usa maneras normales de alimentarnos, a veces maneras no tan normales como en el caso del maná. Pero de todos modos, Jesús nos da la comida como muestra de su cuidado y amor. Escriba una nota a los padres para animarles a orar todos los días dando gracias a Jesús por la comida que Él permite que tengan en sus mesas cada día. POSIBLES ACTIVIDADES Y ORDEN DE LA CLASE ACTIVIDADES MATERIALES TIEMPO Repaso (vea las instrucciones) gráfico, revistas, plato grande, pegamento, crayones antes de la clase Juego (vea las instrucciones) tarjetas 10 a 15 minutos Historia (vea las instrucciones) Biblia, maíz, escena, arena 10 minutos Manualidad (vea las instrucciones) hojas, crayones, pegamento, maíz 10 a 15 minutos Oración (vea las instrucciones) ilustraciones, portatarjetas, láminas 10 minutos Conclusión (vea las instrucciones) instrumentos caseros 10 minutos

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Referncia bibliogrfica: LIMA, Helcira. Emoes e discurso: notas sobre a vergonha. IN: CHAUVIN, Jean-Pierre (org.). Interfaces. SP: Editora Mackenzie, 2015 (?). Assim que sair a referncia corretinha, envio para vc, caso vc cite o artigo, ok? Emoes e discurso: notas sobre a vergonha Introduo De acordo com os registros a que temos acesso, a retrica surge no sculo V, a. C., na Siclia, a partir da necessidade de os proprietrios legtimos de terras retomarem o que lhes foi usurpado pela tirania que imperava naquele momento. Como afirma Gnerre (1985),alegitimaoumprocessoquetemcomocomponenteessencialacriaode mitos de origem. No poderia ser diferente com a retrica...QuandoosdoistiranossicilianosGloneHieroforamdestronados,a restauraodaordemlevouopovoainstaurarinmerosprocessosquemobilizaram grandesjrispopulareseobrigouosenvolvidosasemanifestaremoralmente.Nesse momento,anecessidadedefalardiantedeumtribunal,inspirouCrax(discpulode Empdocles)eTsiasacomporemoprimeiromanualderetrica.Aretricanasce, assim,ligada,comoassinalaBarthes(1975,p.173),aumprocessodepropriedade. Foinonveldoconflitosocial,comumfimbemprecisoque,supostamente,surgeo primeiro esboo dessa disciplina.Assimcomonopossvelafirmarcomabsolutacertezaqueseriaessaa primeira manifestao da retrica, uma vez que ela existe desde que o homem comeou a usar a linguagem como forma de ao, tambm no se pode defini-la com a preciso muitasvezesdesejadapelospesquisadores.TalcomoafirmaManuelAlexandreJunior (2010),definiressedomniodesabernotarefafcil,poisnuncaexistiuumsistema uniforme de retrica clssica, embora se multipliquem os esforos de apresent-la como umsistema.Elanoprodutodeidealizao,masnascecomaprticadenotveis oradores:aoratriaantesdaretrica;oquenaturalmentesupeumapr-retrica, uma retrica avant la lettre bem anterior sua definitiva configurao como cincia do discurso oratrio (Alexandre Junior, 2010, p. 17). Justamente por isso pode-se afirmar que ela surge na Siclia como metalinguagem do discurso oratrio. Asdefiniesdiversasqueaelaforamconferidasaolongodossculosso, portanto,mltiplasediversas.Talmultiplicidadeacaboucontribuindocomo desenvolvimento de um olhar fragmentado para seu carter tridimensional.Platoviaarazocomoestranharetricacujodestaque,paraele,estavano pathos,porissoaretricaeravistacomoalgonocivo.Aristteles,emsua sistematizao, via a retrica como uma questo de discurso, de racionalidade. Embora ele tenha se debruado sobre as paixes, acabou por enfatizar o logos. As paixes, para ele, deveriam ser conhecidas para melhor serem controladas. Com Quintiliano a nfase recaisobreaeloquncia,obemfalar.Nessaptica,aquelequefalapossuia legitimidade e autoridade moral para faz-lo. Portanto, o ethos a mola mestra.Nesses termos, concordamos com Meyer (2007), quando este afirma serem essas definiesasresponsveisportornararetricaalgodecontornosmaldefinidose confusos, sem objeto prprio. Na verdade, o ideal seria pensar a retrica como condio paraaproduodiscursiva,emesmoemumaretoricidadegeralnalinguagem,como pontuaFiorin(2014).Segundooautor,aoadmitiraexistnciadetalretoricidade,ou seja,aoadmitiraexistnciadeumadimensoargumentativaedeumadimenso tropolgica em todo ato de linguagem, admite-se que a retrica tem muito a nos ensinar. A retrica o que perturba a gramtica da lngua e uma pretensa lgica da linguagem (Fiorin, 2014, p. 23).Separaalgunsessaperturbaocausadapelaretricapositiva,paraoutros,ao contrrio, trata-se de uma degenerao que precisa ser vigiada e at mesmo corrigida: Si la rhtorique exalte lefficace des appels lmotion et invite lorateur en tirerpartipourgarantirlesuccsdelentreprisedepersuasion,lathorie argumentativemodernefaitpourainsidirelinverse:ellesoulignele caractrepotentiellementdangereuxdecesappelsetlaboredesmthodes propreslesvaluerenfonctiondeleurplusoumoinshautdegrde rationalit. (Micheli, 2010, p. 37) Esse modo de entender a retrica, que vigorou por muitos sculos e tem adeptos aindahoje,acaboucontribuindocomaposiomarginalocupadapelasemoes. Contudo, o que pretendemos destacar no artigo justamente a importncia das emoes, em sua interrelao com a construo discursiva e com a construo de imagens de si e dooutro.Trata-sedeproporumabrevereflexosobreolugardopathosna argumentao, tendo como destaque a emoo vergonha. Nesse percurso, lanaremos algumasluzessobrearelaoentreretrica,argumentao,emoeseanlisedo discurso. Retrica e Anlise do discurso Deacordocomaretricadebasearistotlica,argumentarpersuadir.Trata-se dousodapalavracomoexercciodainflunciaquevisaao.Osestudiososda pragmtica,sculosdepois,seaproximamdessaideiaaodefenderemquealinguagem consisteemumaformadeaosobreoreal.Opontodecontatoentreretricae pragmtica se verifica, ainda e, sobretudo, na aproximao com os paradoxos e os jogos de linguagem dos sofistas. Tais ideias so retomadas pela AD, em seu percurso antropofgico de formao, aoladodofocoparaocartersocialdesseexercciodeinfluncia.Ofatoquea heranaretricasefazpresentedemodosignificativonombitodaAD,oquetraz tona a relao entre o carter social e o carter cultural da linguagem, tal como apregoa Moilin (1992).Noquetangeaosocial,trata-sedepensarquetantoaRetricaquantoaAD pressupem atitude, relaes; posies de indivduos humanos no interior de um quadro polticoeinstitucionaldealgumtipo,osquaisexistemesubsistemapartirdeusos, meios,leis,cdigos,rituais,cujaobservnciaeinobservnciafundaojogoda sociedade.Ocarterculturaldestacaofatodeojogosocialsomenteserpensadona histria, a partir do momento em que os grupos humanos so constitudos em torno de valores simblicos que lhes unem, que tornam dinmicas suas relaes e os motivam. preciso agir em funo desses valores, contra ou a favor, mas, de todo modo, preciso agir em relao a esse universo de signos, de crenas, de interesses.A AD apropria-se, assim, da heranaretrica ao lidar com a linguagemem uso visando a uma ao. Dessa maneira, apesar de no serem analistas do discurso, autores comoPerelmaneTyteca(1958),Toulmin(1952)e,umpoucomaistarde,Ducrot (1972),emoposio,entreoutras,aumavisocartesianadarazo,colocamem destaqueumaconfiguraoargumentativadaretrica,comsuaretomadanofinaldos anosde1950.Cadaumdosautoresressignificaaretricaclssicademododiverso,o que servir de base para as pesquisas sobre argumentao que comeam a ganhar mais fora e tambm a seguir outros caminhos, no final dos anos de 1990, com os estudos de ChristianPlantin,RuthAmossy,MarianneDoury,estesjpertencentesaoroldos pesquisadores em AD. NoqueconcerneAD,aolidarcomafalasituadaemumespaoetempo determinados; com sujeitos sociais envolvidos nas trocas, ela no pode perder de vista a nooqueasustentaenquantodisciplina:odiscurso.Alngua,nessaperspectiva, forma ou processo de interao social entre seres inscritos em uma realidade. Ela deixa desertratadacomorepresentaodopensamentoouveculodeinformao.Essa insero,queapontaparasaberespartilhadoserepresentaessociais,constituio fundamento de todo discurso e, tambm de toda argumentao. (...) cest toujours dans um espace dopinions et de croyances collectives quil tente de rsoudre un diffrend ou de consolider un point de vue. (Amossy, 2010, p. 85) Emoutraspalavras,adoxaocimentodaargumentao;todaconstruo argumentativasesustentaemumadoxaou,comoprefereAmossy(2010),em elementos dxicos. Tais elementos dizem respeito inscrio pontual no discurso de evidncias partilhadas ou de plausibilidades em uma coletividade datada. Le locuteur qui sengage dans un change pourmettre en avantson point de vueestprisdansunespacedoxiquequidterminelasituationdediscours danslaquelleilargumente,modelantsaparolejusquaucoeurdeson intentionnalit et de sa programmation. (Amossy, 2010, p. 89) Comojafirmouaautora,namedidaemqueaanlisedodiscursolidacomo funcionamentododiscursoemsituao,elanopodedeixardeladosuadimenso argumentativa. Isto porque mesmo a fala que no busca o convencimento, exerce algum tipodeinfluncia,demodoaorientarmaneirasdever,desentiredepensar.Nesse sentido,aargumentaoumadimensoconstitutivadodiscursoesuaanlisedeve levaremcontasempreodispositivodaenunciaoeadinmicainteracional,sem desconsiderar os dados institucionais, sociais e histricos. Todavia, preciso salientar que no terreno da AD no lidamos com a retrica em si, mascomsuaherana,associadascontribuiesdedomniosdiversoslingustica, psicologia, antropologia, filosofia da linguagem.Naticadeumaanliseargumentativadodiscurso,dimensopatmica,dimenso das imagens de si e do outro e dimenso da construo discursiva devem ser vistas, tal qualafirmamosem20061,comosendointerrelacionadas,enodemodoasegregar ethos e pathos de logos.Entendemos que a dimenso patmica relaciona-se mobilizao das emoes com fins persuasivos, mas tambm expresso das emoes. Isto porque, embora o analista do discurso no disponha de instrumental para lidar com a emoo sentida, defendemos que,apartirdacontribuiodeautorescomoWierzbicka(1999),Kerbrat-Orecchioni (2000),Plantin(1997,2003),possvelanalisarelementosconcernentesexpresso das emoes no discurso ou, melhor dizendo, atribuio de emoes no discurso2.A dimenso da construo das imagens (de si e do outro), por sua vez, relaciona-se ideiadoethosretrico,emboranoserestrinjaconstruodaimagemdesino discurso. O outro e a imagem que se constri acerca dele no se faz presente apenas comoumdestinatrioideal,mas,tambm,e,sobretudo,comoumsujeitotambm construdonodiscurso.Trata-sedecolocaremdestaqueasubjetividade,oumelhor,a intersubjetividadeeaalteridade.Talrelaoapontaparaaprpriadefiniode Retrica,defendidaporMeyer(2008),comosendonegociaodadistnciaentreos homens. Aterceiraeltimadimenso,nomeadaemtrabalhosanteriores,porfaltadeum termomelhor,dedemonstrativaeagoradenominadadedimensodaconstruo discursiva,foipensadainicialmentecomotendocomoeixoofuncionamentoda argumentaonoTribunaldoJribrasileiro,ecomosendorelativaaumusoda linguagemsobasbasesdeumaracionalidademaiscalculada.Istonoquerdizerque nohajaracionalidadenasoutrasduasdimenses,massimqueelalevariaemcontao recursosprovastcnicas,taiscomolaudos,documentos,fotografiasetc.,bemcomo uma organizao do discurso voltada para o convencimento. Contudo, ao refletir sobre outrosgnerosdiscursivosesobreainterrelaoentreastrsdimenses,acreditamos sernecessriosalientarqueessadimensodizrespeitotambme,sobretudo, construo discursiva, aos elementos usados na materialidade lingustico-discursiva que amparariamaconstruoargumentativa.Daamudananadenominao.Ousodo termoracionalidadepresentenadefinioinicialpodeatmesmoserabolido,uma vez que parece retomar, nesse caso, de certa forma, a antiga (e ultrapassada) ciso entre emoo e razo. 1 Para saber mais sobre o assunto, ver Lima (2006). 2Istoporqueaemooexpressacentra-semuitonolocutor,enquantoaatribudacolocaemcena alocutrios e terceiros tambm. Porfim,aorefletirsobreainterrelaoexistentenaancoragemdaargumentao,a metforadosplats,desenvolvidaporDeleuze(1998),pareceadequar-sebemaesse processo.AosereferirorganizaodeseulivroMillePlateaux,ementrevista concedidaaojornalLibration,ofilsofodiscorreacercadaimagemdosplats,os quais ele considerou como um conjunto de aneis quebrados que podem penetrar uns nos outros:Cadaanel,oucadaplatdeveriaterseuclimaprprio,seuprpriotimbre.3 Essemistodefechamentoedeaberturadecadaplat;essaespciedesingularidadee deinterpenetraomtuarefletebemoquepensamosacercadastrsdimensesda argumentao. Assim como os plats, cada uma das dimenses possui vida prpria, mas com uma via de acesso em direo s outras. Elas podem tanto se unir, em um processo deintercesso,formandoumtododesentido;quantoseseparar,demonstrandosua independncia. Enfim, as trs dimenses esto ligadas, dependente e independentemente ao mesmo tempo. Nabuscadacompreensodetaldinmica,umolharatentoparaascondiesde produododiscursosefaznecessrio,oquepermitepensaraargumentaocomo estando vinculada s relaes de poder que perpassam as interaes, ao lado do foco sob amaterialidadelingustico-discursiva.Istoporquenessamaterialidadequepodemos captar as marcas deixadas pela enunciao, o que poder melhor sustentar as anlises. Nesse sentido, um estudo sobre argumentao no mbito da AD deve se valer tanto dascontribuiesdaRetricaClssicaquantodascontribuiesdeestudiososcomo DucroteAnscombre(TeoriadaArgumentaonaLngua,TeoriaPolifnicada Enunciao,TeoriadosTopo),Kerbrat-Orecchioni(modalizao,marcasaxiolgicas, hbitos locucionais etc.), Wierzbicka (termos de emoo), entre tantos outros. Assim, ao contrriodoqueDucrot(2004)preconiza,umaanliseargumentativadeveassociar argumentaoretricaaargumentaolingustica;eladeveserlingustico-discursiva-retrica.4 Dessa maneira, as trs definies coexistiriam e, por consequncia, as trs dimenses ethos, pathos e logos estariam em p de igualdade. Argumentao e emoes 3 Deleuze, 1998, p.37. 4Ducrot(2004)apresentaasrazesqueolevamasedistanciardaargumentaoretricaeporque defender uma argumentao lingustica. Aargumentaoumaatividadevista,deummodogeral,comoatividadede especialistasqueseesforamparaorganizareensinarcomoconstruirdemaneira objetivaemesmofriaumtexto(oralouescrito).Elatidacomoprticaracionalpor excelncia, muitas vezes em oposio retrica, como se no houvesse qualquer ligao entreelas.Nessaperspectiva,precisodesapaixonarasdiscusses,osdebates. Aquelequeseenerva,quedemonstraalgumaemootidocomofracooucomo incapaz. Isto porque as emoes so vistas pelo senso comum como algo negativo, que perturba os sentidos e impede o homem de raciocinar com clareza. So irrupes cegas, descontrole do corpo. Como j adiantava Plato: alma e corpo so entidades distintas razo e emoo.Nesse sentido, quando se pensa em emoes, imagina-se foras que se apoderam dens,apartirdefora.Frequentemente,elasparecemterpoucarelaocomnossos pensamentos, avaliaes, planos e com a sociedade na qual vivemos. Como entraves ao carterritualsticodasrelaessociais,devemserdomesticadas.oquenosensinao mestre Aristteles: preciso conhecer as paixes para melhor control-las. Esta maneira de enxerg-las fomentou uma viso estereotipadaacerca doassunto, a qual alvo de muitas crticas, mas ainda mantm seus vestgios. Isto dificulta o acesso a uma reflexo sobre as emoes em sua relao com o meio social e, sobretudo, em seus usos sociais.Desdeaantiguidadegregaasdiscussessobreemooeracionalidadesefazem presentes, em especial, na voz de sofistas, na de Plato e tambm na de Aristteles. Em suaoposioaossofistas,Platodesejoueliminartudoquedissesserespeitoao contingencial, doxa. No destaque importncia da alma, o corpo era visto como algo nocivoe,assim,ohomemsbioseriaaquelecapazdecontrolarasemoesquese manifestavamnocorpoenonaalma.Aristtelesseopeaomestre,masapesarde recuperarocartercontingencialdologosedestacaradoxa,acabouporconferir primaziaaesteemdetrimentodasoutrasprovasethosepathos.Eleapresentauma lista de 14 paixes em sua Retrica das paixes, mas, segundo Meyer (2003), tal lista s coerente se se considera que tudo passa pela resposta maneiracomo nos tratam, casocontrriotrata-sedemaisumaentreasinmeraslistasapresentadaspordiversos autores. Almdosdoisfilsofosgregosteremcontribudo,aseumodo,comumaviso deturpadasobreasemoes,umimportantemomentohistricoquecontribuiucom sculos de atraso em termos da abordagem das emoes relativo ao cartesianismo. O atraso se justifica pelo fato de todas as consideraes acerca da Neurobiologia, at bem poucotempo,basearem-senaseparaoentrecorpoementedeterminadaporessa vertentedepensamento.Aoconferirdestaquemente,aoprivilegiararazoem detrimentodaemoo,Descartesoperouumacisoentreessesdoiselementos,j iniciadaemPlato,e,aindahoje,tomadacomocorreta.Essadiscussoinfluenciouo pensamento filosfico ocidental e deixou suas marcas no terreno da linguagem tambm. A Escola de Port Royal, por exemplo, tem em suas bases o pensamento cartesiano e aindasemantm,mesmodeformadiludaemdestaque,atravsdeumaconcepode linguagem como representao do pensamento. Os autores da poca consideravam que a linguagem regida por princpios gerais que so racionais. Nessa linha, dos falantes se exigiaclareza,transparnciaeprecisonousodalinguagem.Aprincipalintenoera mostrar quea estrutura da lngua seria um produto da razo. Desse modo, assim como na Filosofia, a Lingustica passou a sofrer a influncia da excluso das emoes. Almdessaherana,h,ainda,ofatodequeosentimentalismo,evidenciadoem vriosmomentosdenossahistria,temnoRomantismo,talvez,umafaseemqueessa ideia particularmente exacerbada.Isto porqueas leituras e apropriaesa respeito do movimento vo consagrar uma viso estereotipada das emoes. preciso destacar que se trata de um momento crtico, em que h a primeira manifestao do mundo moderno, visando a se opor razo e, assim, racionalidade instrumental do progresso. Entretanto,aoposiodoRomantismoaopensamentocartesianofoi predominantemente recebida, no olhar do senso comum, sob o vis do sentimentalismo. Dessa maneira, esse momento literrio acabou adquirindo contornos negativos e passou a ser visto como algo at mesmo inocente, embora, na verdade, dissesse respeito a um momentocrtico.Nessaesteira,oolharcarregadodepreconceitoslevaadestacaro lugardasmulheres,olugardosentimentalismofeminino,oquecontribuiucoma perpetuaodepreconceitosejulgamentosmoraisbaseadosemumparadigmaque pressupequaseumaobrigaodeasmulheresexpressarememooemdeterminadas situaes5.JnoinciodosculoXX,Saussure,aosecontraporperspectivadaescolade Port Royal, props um novo modo de enxergar a lngua, a qual passou aser entendida como fruto de convenes sociais. Todavia, se a influncia do cartesianismo colocou o sujeitoemdestaque,olinguistacentrou-senaestruturadalngua,retirandodecena 5 Para saber mais sobre o assunto, ver: Lima (2014). sujeito,histriaeideologia.Assim,hoprivilgiodasformasefunessobreo contedo e contexto. Sua anlise dos fatos da lngua se pautava em dados observveis e emobjetivosquasesempretaxonmicos.Dessemodo,comoapagamentodosujeito, ele acaba por apagar tambm o papel das emoes. Osfuncionalistas,seussucessores,aoconsideraremoestudodalnguacomoa pesquisadefunesdesempenhadaspeloselementos,classesemecanismosnela intervenientes, conferiram prioridade ao explicativo e, da mesma maneira, acabaram por manter o estatuto de excluso do sujeito e das emoes. Chomsky, em uma diferente via, no desenvolvimento do Gerativismo, concebia as propriedadeslingusticasuniversaiscomopartedafaculdadedalinguagem,aqualse refereaumcomponentedamentehumanasubmetidoaprincpiosindependentesda lgicaedainformaoextralingustica.Amentedeveria,emsuaperspectiva,ser estudada assim como se estuda o corpo. Cada parte tem sua funo e uma das partes responsvelpelalinguagem(inatismo).Dessamaneira,aexclusodosujeito,operada em Saussure se mantm a partir de outras justificativas. Oquesepodenotardessasbrevesconsideraesoafastamentodasdiscusses emtornodaemoonoterrenodaLingustica.Istosejustifica,dealgummodo,pelo fatodequeatradiodepensamentodomundoocidentalsemprepriorizouuma abordagem racionalista da linguagem. Todavia, podemos observar algumas luzes sobre aquestojlanadasporautorescomoCharlesBally,assimcomopelascontribuies dos tericos dos atos de fala, que trataram dos atos expressivos, por exemplo. Bally o responsvelpeloTratadodeEstilsticaFrancesa.Emsuaperspectiva,herdadado mestreSaussure,osignificadoexprimenosomenteoconceito,mastambma afetividade.BallydividiuacinciadalinguagemnoramodaLingustica,queseria responsvel pela lngua enquanto sistema de signos intelectivos, e no da Estilstica, que seria responsvel pela lngua enquanto sistema de signos afetivos. Seu objetivo consistia em constituir uma Estilstica da lngua e no da fala, por isso buscava a investigao dos recursos da lngua e no do escritor. Searle,porseuturno,nodesenvolvimentodesuaabordagemdosatosdefala, apresentouosatosexpressivos.Taisatosconsistemnaexpressodesentimentose atitudes.Atravsdeles,ofalanteexpressaumestadopsicolgicosobredeterminada situao. Como em: Perdoe-me pela demora em responder sua mensagem. Entretanto,asluzeslanadasnoforamsuficientesparadiminuirocarter marginal dos estudos sobre emoo no terreno da Lingustica. Tal carter apresenta, de imediato, um entrave, uma vez que no so comuns teorias de discurso que apresentem bases consistentes para se focalizar os processos discursivos envolvidos nas emoes. AlgunsestudosrecentescomoosdeAnnaWierzbicka(1999)eKerbrat-Orecchioni(2003)apresentamanlisesdeelementoslingusticosquemarcariama presena da emoo na lngua. Alm disso, as pesquisas de Plantin (2003) sobre a fala emocionadaeaemoofalada,cujosuportetemorigem,justamente,emcontribuio deautorescomoWierzbickaeKerbrat-Oreccioni,almdaRetricaClssicaeda PsicologiaSocial,abremcaminhosparasepensarnapossibilidadedeumaelaborao que d conta de uma anlise discursiva das emoes. importante ressaltar que, em sua exposio sobre as emoes, o prprio Plantin se vale, como afirmamos, de vozes vindas da Psicologia, o que aponta, a nosso ver, para ainsuficinciadadiscussotericaempreendidasobreoassuntonoterrenoda lingusticae,maisespecificamentenonossocaso,noterrenodaAD,apesardas tentativas atualmente feitas por alguns estudiosos. Ofatoqueestesestudostemnoslevadoadestacaraimportnciadeuma reflexo mais arguta sobre as emoes e a ensaiar hipteses em nossas pesquisas sobre o fatodequeaADpodelidarnoapenascomaemoosuscitada,apartirdas contribuies da Retrica e das teorias da argumentao, mas tambm com a expresso dasemoes.Istonosignificaquesejanecessrioestudarasemoesnaperspectiva deumateoriadarecepo,massimque,porexemplo,ousodedeterminadositens lexicaispodeapontarparaaexpressodeemoesnodiscurso.Evidentemente,no possvelafirmarqueaemooexpressasejaaemoosentida,maspodemostecer hiptesessobrequalseriaaemooemjogo,apartirdaidentidadedossujeitos,das condies de produo do discurso e de elementos relacionados aos imaginrios sociais. ApesardePlantinnoenfatizaremsuaabordagemascontribuiesdaSociologia, acreditamosqueumapesquisaqueconsigaassociarsuavisoessevispodetornar maisricaareflexo.Istoporque,seporumladoaexpressodasemoesest relacionadaaoaparatocognitivodosujeito,hajavistaaspesquisasnoramoda neurobiologiaedacognio,poroutroelassotambmsocialeculturalmente modeladas,comoafirmaosocilogoLeBreton(2009).Nessaptica,sentimentose emoesnoconstituemalgoquesepodetranspordeumindivduoougrupopara outro. Eles no so tambm processos fisiolgicos e no podem ser considerados como respostas automticas a provocaes. Naverdade,partilhamosdaideiadeque,emboraasemoesserelacionemao aparatocognitivo,elassoaprendidassocialmente.Humaculturaafetivaqueo indivduovivesuamaneira.Entretanto,seosocialseriaoeixoparasepensarnas emoes, essa viso no excluiria o individual. O lugar do pathos ou das emoes ApartirdasconsideraesdeMeyer,emsualeituradaretricaclssica, entendemospathos,paixesouemoes6comooquenoscolocaemrelaocomo outro. O pathos relaciona-se alteridade, alternativa, ao lugar do outro. Nesse sentido, podemos afirmar que ele tem suas bases em crenas e representaes.Segundo o filsofo, os homens exercem sua liberdade, sua contingncia prpria, exprimindosuasdiferenas,porissonohcomoignoraraspaixes.Aspaixes colocam em destaque nossa relao com o outro; consistem em uma forma interiorizada da diferena entre ns eesse outro. Esse jogo sed em uma relao de aproximao e distanciamento.Aspaixes,assim,sorespostassrepresentaesqueosoutros concebemdens,soolugarondeseaventuramidentidadeealteridade.Osi constitudodoconjuntodenarraesqueproduzimossobrensmesmos;sermosns equivaleaimpormo-noscomodiferentesemrelaoaosoutros,homogeneizadospela identidade do grupo, o qual transcendemos, mas tambm ao qual pertencemos.Dessesentimentodepertencimentosurgemasmanifestaesapaixonadasde grupos sociais em relao a crimes ocorridos, por exemplo. o que leva as pessoas a se identificarem com vtimas como Izabela Nardoni, com os pais de Suzane Von Richtofen e tantos outros. o que leva essas pessoas a irem s portas das delegacias, mesmo sem nunca terem ouvido falar nas vtimas e nos assassinos. Os imaginrios em torno da ideia defamlia,depaieme,decrianaquecirculamnasociedadebrasileira,aliadosao 6 Utilizaremos os termos pathos, paixes e emoes indiscriminadamente.elemento detonador da emoo um crime violento, por exemplo pem em jogo essa complexa rede de sentidos.Aodefiniropathoscomorelativoaojogoidentidade-alteridade,apartirda negociao da diferena entre os sujeitos, ao afirmar que ele diz respeito s respostas s imagensqueosoutrosfazemdensouquensimaginamosqueosoutrosfazemde ns, sua relao com o ethos se torna evidente. Alm disso, ao conceber o logos como razo,mastambmcomolinguageme,portanto,comodizendorespeitoatodosos elementosconcernentesaoquedaordemdolingustico-discursivo(modalizao, operadores, embreantes, polifonia, seleo lexical entre muitos outros), sua relao com asoutrasduasprovasinegvel.Entretanto,oquepretendodestacarnessemomento nosomenteainterrelaoentreastrsprovas,masqualseriaolugardopathosna argumentao.Tomando de emprstimo uma afirmao de Meyer (2003), acredito que o pathos omomentoretricoporexcelncia;aprpriavariao.Emboraologosseja importante e deva ser mais estudado, a fim de melhor compreendido em sua pluralidade, asemoesconsistem,anossover,emumelemento-chaveparaacompreensodos discursos quecirculam na sociedade.E no que a AD lidacom justamente comessa materializao de formas de vida na sociedade?Umaleituradasemoesprojetadas,efetivas,ditasoumostradas,ou,ainda, atribudas pode contribuir com um olhar mais agudo para as relaes sociais e culturais. Istoporqueacreditamos,seguindoalgumastrilhasdeautorescomoNussbaum(1995), Elster(1995),Paperman(1995)eLeBreton(2009),queasemoessodaordemda representao,estorelacionadasscrenas,aosjulgamentosmoraise, consequentemente,soracionais.Mesmotendoumaconformaocerebralpropciaao desenvolvimentodeumaououtraemoo,regiesdelinguagemnocrebro,as emoesnopodemservistascomoalgonatural.Humaconstruodasemoesao longodenossavidaeessaconstruoapontaparaimaginriosquecirculamemnossa sociedade, para representaes sociais ou, como se preferir, para a doxa. Comisso,oestudodosmodosdeempregodetermosdeemoonavida cotidiana pode fornecer eventualmente meios de recusar empiricamente a ideia segundo a qual as emoes seriam entidades reais ou naturais, suscetveis de receber etiquetas culturalmente variveis.Na verdade, sentimos amor, sentimos indignao,medo etc. a partir de um aprendizado. At mesmo nosso sorriso, o riso solto, aberto e fcil do brasileiro fruto de um aprendizado, de uma competncia emocional. Como afirma Le Breton (2009), a infinita diversidade das emoes pertence ao patrimnio da espcie, mas sua concretizao no se concebe independentemente de um aprendizado.Para o socilogo, no faz sentido pensar na oposio entre razo e emoo e nem mesmosepensaremumacongenialidade.Istoporque,emsualeituraderazes antropolgicas,eledestacaoaprendizadoemocionalpeloqualossujeitospassamao longodavida.Aculturaafetiva,nessesentido,estemconstanteprocessode construo,poiseladeveserentendidadeacordocomahistria.Nessesentido,no procede uma leitura nos moldes de Charles Darwin ou mesmo de Paul Ekman sobre as emoes.Istoporquenohnadadenaturaldasemoes,masaocontrrio,a experincia individual contm o germe da experincia dos membros da sociedade. Alm disso,parece-nosimpossvelpensarememoesouexpressodeuniversaisde emoes.Porfim,asemoessoconstrudasnodiscurso;sofrutodeumprocessode simbolizao. Algumas palavras sobre a vergonha... Natentativademelhorcompreenderopapeldopathosnaconstruo argumentativa,tendoemvistaoselementosdestacados,teceremosalgumasbreves consideraes sobre a vergonha. Avergonhaconsisteemumaemoo,naspalavrasdeMeyer(2003),que aumentaadistnciaemrelaoaooutro,emborasejaumaformaderelacionamento comoutrem.Trata-sedeumaemooquereforaaimportnciadoolhardooutroe afirma sua superioridade. O sujeito torna-se inferior, atravs de umarelao especular: ainteriorizaodoolhardooutrodevolve-meumaimageminferiordemimmesmo (Meyer, 2003, p. XLV).Ooutroocupaaposiodejuiz,porqueosujeitoavaliadoconcedeaeleesse lugar. Sendo assim, a vergonha consagra a distncia entre os sujeitos, a relao se torna assimtrica,poisaquelequesesupeavaliadoocupaumaposiodeinferioridade.A vergonhaentendida,inclusive,pormuitosautorescomoumaformaderegulao social.Assim,diantedeumaimagemmaculadaeporseencontraremumasituao vexatria, o sujeito reage.EmsuaobraRetricadaspaixes,Aristtelescolocaavergonhaea imprudncialadoalado:cadaumaapontariaparamovimentoscontrrios,oqueno nosparecealeatrio,poisalinhaqueseparaasduasemoesbastantetnue.Sea primeira aponta para um controle do sujeito, a segunda, ao contrrio, apontaria para um descontrole, para a desconsiderao da superioridade do outro.O papel que vem sendo desempenhado pela mdia em sua funo punitiva e em suafunodeumaespciedejusticeirapareceassinalaressasrelaes,vistoqueela coloca os sujeitos em posio vexatria. Alm disso, ela condena e absolve. como se asantigaspuniesasordlias,porexemplofossemretomadas.Avergonha decorrentedetalexposioconsistiriaemumaemooque,aocolocarosujeitoem uma posio de inferioridade, acentua sua distncia em relao ao outroe, ainda, pode contribuircomdeterminadocontrolesocial.Quemquerterseurostoexpostona televiso por ter cometido algum tipo de crime? Quem quer ser julgado por seus pares?QuandoavidadeumsujeitocomoogoleiroBruno,porexemplo,acusadodeter assassinadoaex-amanteElisaSamudio,expostanosveculosdecomunicao telejornais, jornais impressos, revistas possvel perceber sinais da histria do direito penal, uma vez que este j teve como referncia punitiva a perda da paz, a vingana de sangue,queeramformasprivadasdesoluodeconflitoseasformasprocessuais,as ordlias,odueloeojulgamentodeDeus.Todosessesrecursosusadospelajustia tinham em comum a forma de exposio pblica da punio para coibir futuros delitos. Nessescasos,avergonhasentidanaexposiopblicavisavaaevitarqueosujeito repetisseseuerro,assimcomovisavaaevitarqueoutros,commedodaexposio, evitassemainfrao.Ou,ainda,podemosimaginarqueavergonhaalheia,sentidana exposiodooutro,tambmseriaumaformadecoibirocrime.Nessestermos,ao esmiuar e expor em detalhes ntimos a vida de um sujeito como Bruno, a mdia acaba, mesmosemdesejar,aguandonoespectador,omedodaexposio,omedoda vergonha. Isto porque todos temem o ridculo.Avergonhateria,assim,umpapelestratgicoemrelaoaocontrolesocial,jque todos os membros da sociedade e, de um modo geral, todas as sociedades se defendem contra o risco da falta de coerncia, do inesperado, do incomum. A adaptao s regras da comunidade dita nosso sentir e o nosso expressar emoo. Em nossa sociedade, por exemplo,emboraasmanifestaesdealegriasejamvistascomoalgopositivo (brasileiro alegre, feliz), o exagero tende a ser controlado. O sujeito que sorri demais mal visto: muito riso, pouco siso, afirma o dito popular.Evidentemente,cadagrupocriaseucdigodeconduta.Emrelaoemooem destaque, o que vergonhoso para mim pode no ser vergonhoso para outro sujeito. Isto porqueentramemjogonasemoesosvalores,ascrenas,asnormassociais.As emoes, como afirma Elster (1995), so intencionais, dirigem-se a um alvo, conduzem, juntamente com as crenas, com as informaes e com os desejos ao. Elas levam ao desejo e so influenciadas por estes. No caso da vergonha, ela poderia levar ao desejo de se esconder em caso de exposio pblica vexatria, por exemplo. Tal emoo pode levar tambm ao desejo de eliminar o elemento que a detonou, como a companheira, em casos de crimes da paixo. As emoes, sob a ptica do autor, sustentam as normas sociais, uma vez que nossa cognio influenciada por aquelas. Por outro lado, acreditamos que as normas sociais controlam as emoes. O olhar do outro, o olhar do grupo destacado na vergonha, o que, de certo modo, aproxima o sujeito do outro, do grupo. Todavia, a vergonha coloca o sujeito em uma relao de proximidade consigo mesmo. Pois ele obrigado a se ver narelao,eleobrigadoaatentarparasuasupostaposiodeinferioridade.Nesse sentido, a imagem do sujeito posta prova.Avergonharefere-se,assim,aumaferidamoral,comojdestacouLaTaille (2002).Istoporqueelatratadeumarepresentaoconcernentemreputaoe justamenteestaasuacausa.Seconsiderarmos,nastrilhasdeAristteles,quelevamos emcontaaopiniodaquelespelosquaistemosconsiderao,daquelesqueadmiramos oudaquelesquenosadmiramedaquelescomquemrivalizamostambm,avergonha nosentidapelofatoocorridoemsi,maspelaimportnciaquedamosaoolhardo outro. Todavia, esse olhar pode ser real ou imaginrio. Alm disso, no podemos excluir apossibilidadedesentirvergonhasem,necessariamente,estarmosemcontatodireto com o outro. Avergonha,assim,umaemooquesalientaaimportnciadainterrelaoentre ethosepathos:atravsdoolhardooutroquenosvemoseelenoslevaaconstruir nosso ethos. Essa imagem construda pauta-se em uma relao emocional com o outro: o que o toca em relao a mim? Como eu poderia toc-lo? Como eu poderia mostrar o que sou (ou o que desejo ser)? Como ele me v? Nas palavras de Aristteles (2003, p. 41): Aspessoassentemvergonhaquandosofremouvosofrerrevesesque acarretam desonra e censuras; tais so os atos que levam a pr nosso corpo a servio de outrem ou a sujeitar-nos a atos vergonhosos, entre os quais est o sofrer ultrajes. O mesmo ocorre com atos que levam intemperana, tanto os voluntriosquantoosinvoluntrios(osquelevamviolnciaso involuntrios), de fato, toler-los e no se defender deles resultam da falta de coragem, ou da covardia. Avergonha,nessesentido,umelementoreguladordasinteraessociais,haja vistaquenossosentimentodepertenaemrelaoaumgruposocialentrariaemjogo no sentir ou no sentir vergonha: qual seria o comportamento emocional adequado para ogrupo?Emquesituaosentirvergonhaseriaconveniente?Emquesituaoela deveria ser mascarada, ocultada? ConcordamoscomFinkenauer&Rime(1998)quandoestesafirmamque,ao contrriodeoutrasemoes,vergonhaeculpatmumefeitoinibidorsobreo processo de partilha social dasemoes. Segundo os autores, h um desejo de partilha socialdasemoesnoserhumanoeessapartilhasemanifestanosomenteapsuma exposio a uma situao traumtica, podendo ser comum em outras situaes tambm. Todavia,discordamosdelesquandoafirmamqueapropensopartilhasocialdas emoes no depende do nvel de escolaridade e no se trata de um fenmeno ligado cultura. Em consonncia com o que j afirmamos, assim como a expresso e a prpria construo cognitiva das emoes, sua partilha tambm est atrelada a fatores de ordem cultural.Emsetratandodecrimespassionais,acreditamosqueoru,preocupadocomsua imagemecomoolhardooutro,emumaatitudeegosta,decide-seporeliminarum problemadesuavida:aprpriacompanheira.Assim,astesestoutilizadasem julgamentos de crimes passionais (emoo descontrolada, coao irresistvel e legtima defesadahonra)nofariamsentido,umavezquesetratadeumaescolhafeitapelo sujeito.Isto porque a vergonha est relacionada inferioridade eexposio. Nesse caso,osdoiselementossonegativos,porqueaexposiodesuaintimidade,desuas fraquezasemcasosdetraiesousupostastraiescolocariamosujeitoemuma posiodeinferioridadetantoemrelaocompanheiraquantoemrelaoaseus pares.Evidentemente,avergonhapodesurgiremcasosemqueaposiode inferioridade no seja o mais importante, mas sim a exposio, como em decorrncia de aplausos, por exemplo. guisa de concluso Apartirdessasbrevesconsideraes,comoanalisaropapeldasemoesna argumentao? Qual seria a importncia de um estudo das emoes? Ou da construo argumentativa das emoes? Qual seria a importncia da emoo vergonha?Aocontrriodalgicacapitalistaquecobraumaposturautilitaristacoma exclusodasemoes,aspesquisasatuaissobreoassuntovmdemonstrandoa necessidade de melhor compreend-las para melhor se compreender nossa sociedade.Comoanalistasdodiscurso,defendemosaideiadequeasemoesdevemser analisadasemsuainterrelaocomasoutrasduasdimenses,demodoafocalizaros elementoslingustico-discursivosqueapontariamparatalinterrelao.Dessemodo, trata-sedeverificarcomoalinguagemmaterializaocartertridimensionalda argumentao. As emoes devem ser vistas como sendo um importante elemento para compreender melhor o funcionamento da sociedade. Aoapontar para uma rede sgnica quecolocaemcenacrenas,valores,julgamentosenormasumestudodetidodas emoes pode apoiar o analista do discurso ou analista da argumentao no discurso em suatarefadedeslindarossentidosquecirculamnosdiscursos.Emdeterminados gneros discursivos isso se torna mais evidente, como caso dos discursos que circulam no Tribunal do Jri. Nesse rgo da justia penal, que lida com julgamentos realizados porcidadoscomuns,osjuradosoumembrosdoConselhodeSentenafuncionam comoumaamostradasociedade.Istoporqueaavaliaoquefazemdoscrimese, consequentemente, de ru e vtima sinalizariam elementos de nossa sociedade e cultura, de nossos valores e crenas.Asemoespodemserpensadascomorelacionadasdiminuioouaumentoda distnciaentreossujeitos,desencadeadaporjulgamentosmoraisqueserelacionams normas que regulam a sociedade. Elas estariam, nesse sentido, ligadas s representaes sociaiseaouniversodecrenasenodiriamrespeitoaalgodaordemdoirracional, masaocontrrio.Essadefiniodeemoo/pathos/paixoseguedireocontrria quela do senso comum, para o qual as emoes esto, em geral, relacionadas ideia de fraqueza, incapacidade de domnio de si em determinadas situaes e, mais ainda, no que se refere cultura brasileira, se relaciona a certa feminilizao do sujeito.Noquetangeemespecialvergonha,concordamoscomLaTaille(2002) quandoesteafirmaseressaemoomuitoimportantetantoparaseentenderoser humanodeformageralquantoparacompreenderseujuzoecomportamentomorais. Essaemoopodeserentendidacomofatorreguladorderelaesintrapessoais,mas tambminterpessoais.Atravsdesuaanlise,elapodetantoapoiaracompreensoda relao do sujeito consigo mesmo quanto de sua relao com o outro. Nesse sentido, ela apontariaparaoparsubjetividade/alteridade,paraarelaodeaproximaoe distncia entre os sujeitos a partir de uma questo dada. Enfim, trata-se de uma emoo complexa que ajudaria a compreender melhor a constituio da personalidade humana. Referncias AMOSSY, R. Largumentation dans le discours. 3e ed. Paris: Armand Colin, 2010. ARISTTELES. Retrica das Paixes. So Paulo: Martins Fontes, 2003. BARTHES, Roland. A retrica antiga. In: COHEN, Jean et al. Pesquisas de retrica. Trad. de Leda Pinto Mafra Iruzun. Petrpolis: Vozes, 1975. p. 147-2 DELEUZE, G. Conversaes. So Paulo: Editora 34, 1998. DUCROT,O.ArgumentationRhtoriqueetargumentationlinguistique.In: LArgumentationaujourdhui:positionsthoriquesenconfrontation.Paris:Pressesde la Sorbonne Nouvelle, 2004. FINKENAUER, C. & RIME,, B. Socially shared emotional experiences vs. emotional experiences kept secret: Diferential characteristics and consequences. Journal of Social and Clinical Psychology, 17. 1998. FIORIN, J. L. Figuras de retrica. So Paulo: Contexto, 2014. GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. So Paulo: Martins Fontes, 1985. LA TAILLE, Y. Vergonha. 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