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 1 5 9 Psicologia em Rev ista , Belo Horizonte, v. 9, n. 13, p. 159-164, jun. 2003 As novas exigências de qualificação e a saúde no setor automotivo As novas exigências de qualificação e a saúde no setor automotivo * Maria Elizabeth Antunes Lima * * Matilde Agero Batista ** * RESUMO A pesquisa aqui relatada visou explicitar os impactos psicossociais das ino- va çõe s (t é cni ca se orga ni zacionais ) i nt roduzi das , r e ce ntement e , no s e t or a u- tomotivo. Nossa análise voltou-se, principalmente, para as novas exigências de qualificação e seus efeitos sobre a saúde mental. Os resultados deste estu- do nos levam a refletir sobre a necessidade de transformar as situações de t raba l ho, vi sando mi ni mi zar o de s ga s t ee o s ofri me nt o me nt a l dos t ra ba l ha - dores. Palavras-chave : T ra ba l ho; Ps i cos s ociol ogia; S a úde ; Exinci as de qua l i fica - ção; Setor automotivo. O problema da existência ou não de novas exigências de qualificação, em função das inova çõe s te cnol ógica s re ce nt e me nt e i nt roduzi das nas indús t ri a s , é f ont ede cons i de rá ve l pol ê mi ca. N o e nt a nt o, no queconce rne a o s e t or a ut omot ivo, exis - te praticamente um consenso a esse respeito, ou seja, a maioria dos autores concorda que, efetivamente, este setor tem passado por mudanças importantes no que diz respeito à in- trodução de tecnologias e, conseqüentemente, de outras qualificações. A e s colha de s se s et or para a pre se nt e i nve s t i ga çã o decorreu, port a nt o, do f ato de s e r um dos ma is di nâmicos da indús t ri anac i ona l e i nt e rnac i ona l . As muda nça sadota da s por ele são de tal forma significativas que chegam a assumir um caráter revolucionário, tor- * Este é um subprojeto da pesquisa “Reestruturação produtiva, qualificação e trabalho: um estudo de caso na e mpre s a Fi a t Aut omóveis S / A” , re a l i zadano período de1998 a2003, fi nanciadape lo CNPq e pe l a Fun- dac e nt ro/ M G. A equipe da pe s qui s a foi cons t i t da pel os pe s qui s a dores Ros â nge l a Le a l , M a noel D eudedit J úni or e Ma t i l de Age ro, pelos e s t a giári os Cr i s t i a ne dePaul a , Pe dro Gre bl e r, Fl ávia Fonse ca , Lui s i a ne Fe r- nande s , Renata Gomese S i l vi a Oli ve i ra , s ob coorde nação da profe s s ora M a ri a Eli zabe t h Li ma. ** Ps i cóloga , dout orae m Ps i cos s ociol ogia do Tra ba l ho pela Uni ve rs i da dede Pa ri s I X, profe s s ora a djunt a do Departamento de Psicologia da UFMG. e-mail: [email protected]. ***  P s i cóloga , mes t ra nda e m Ps i cologi a S ocia l pe la UFM G. e-mail: matil de a ge ro@ hot mail .com.

As Novas Exigências de Qualificação e a Saúde No Setor Automotivo

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Setor automotivo - qualificações

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  • 159Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 9, n. 13, p. 159-164, jun. 2003

    As novas exigncias de qualificao e a sade no setor automotivo

    As novas exigncias de qualificaoe a sade no setor automotivo*

    Maria Elizabeth Antunes Lima**

    Matilde Agero Batista***

    RESUMOA pesquisa aqui relatada visou explicitar os impactos psicossociais das ino-vaes (tcnicas e organizacionais) introduzidas, recentemente, no setor au-tomotivo. Nossa anlise voltou-se, principalmente, para as novas exignciasde qualificao e seus efeitos sobre a sade mental. Os resultados deste estu-do nos levam a refletir sobre a necessidade de transformar as situaes detrabalho, visando minimizar o desgaste e o sofrimento mental dos trabalha-dores.

    Palavras-chave: Trabalho; Psicossociologia; Sade; Exigncias de qualifica-o; Setor automotivo.

    Oproblema da existncia ou no de novas exigncias de qualificao, em funodas inovaes tecnolgicas recentemente introduzidas nas indstrias, fonte deconsidervel polmica. No entanto, no que concerne ao setor automotivo, exis-te praticamente um consenso a esse respeito, ou seja, a maioria dos autores concorda que,efetivamente, este setor tem passado por mudanas importantes no que diz respeito in-troduo de tecnologias e, conseqentemente, de outras qualificaes.

    A escolha desse setor para a presente investigao decorreu, portanto, do fato de serum dos mais dinmicos da indstria nacional e internacional. As mudanas adotadas porele so de tal forma significativas que chegam a assumir um carter revolucionrio, tor-

    * Este um subprojeto da pesquisa Reestruturao produtiva, qualificao e trabalho: um estudo de casona empresa Fiat Automveis S/A, realizada no perodo de 1998 a 2003, financiada pelo CNPq e pela Fun-dacentro/MG. A equipe da pesquisa foi constituda pelos pesquisadores Rosngela Leal, Manoel DeudeditJnior e Matilde Agero, pelos estagirios Cristiane de Paula, Pedro Grebler, Flvia Fonseca, Luisiane Fer-nandes, Renata Gomes e Silvia Oliveira, sob coordenao da professora Maria Elizabeth Lima.

    ** Psicloga, doutora em Psicossociologia do Trabalho pela Universidade de Paris IX, professora adjunta doDepartamento de Psicologia da UFMG. e-mail: [email protected].

    *** Psicloga, mestranda em Psicologia Social pela UFMG. e-mail: [email protected].

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    nando-o, de certa maneira, paradigmtico do processo de reestruturao que ocorre hojeno mundo do trabalho.

    A principal finalidade desta pesquisa foi compreender como os trabalhadores dasindstrias automobilsticas esto lidando com essas novas exigncias. Tentamos, em pri-meiro lugar, identificar a presena dessas exigncias, seu contedo, a forma sob a qual elasse apresentam, para depois analisar seus impactos sobre os operadores. A tentativa foi decompreender simultaneamente os elementos subjetivos, tcnicos e organizacionais pre-sentes nas formas mais recentes de reconfigurar o processo de trabalho nesse setor.

    A ABORDAGEM METODOLGICA

    O trabalho entendido nessa anlise como uma atividade especificamente hu-mana, consciente e orientada para um fim, sendo, portanto, fundamental para a com-preenso da especificidade histrica dos processos sociopsicolgicos.

    A APT (Anlise Psicossociolgica do Trabalho) baseia-se no resgate da experinciavivida pelos indivduos na realizao do seu trabalho, atravs de um duplo movimento:a explicitao do conhecimento dos trabalhadores a respeito de sua atividade e a ela-borao terica realizada pelos pesquisadores. A psicossociologia uma disciplina defronteiras que integra perspectivas da psicologia e da sociologia e que prope analisar si-multaneamente as prticas sociais e os indivduos que nelas esto inseridos. Portanto, seuobjeto de estudo a complexa interao entre as dimenses psquicas e sociais.

    Nossa investigao baseou-se em observaes de situaes de trabalho, em entrevis-tas individuais e coletivas com sujeitos pertencentes s mais diversas reas tcnicas e posi-es hierrquicas. Alm disso, foram realizados seis estudos de caso com trabalhadoresapresentando distrbios mentais graves. Alguns aspectos essenciais foram abordados nodecorrer do processo de investigao: o processo de trabalho; as novas exigncias impostaspara a realizao desse trabalho; os fatores de risco presentes no trabalho; os recursos ofe-recidos aos profissionais para lidarem com as novas exigncias.

    Alm disso, recorremos a toda documentao indireta sobre o tema em questo:estatsticas elaboradas pelos servios mdicos especializados em sade do trabalhador; da-dos mdicos e psicolgicos obtidos pelos setores de sade da empresa e do sindicato dacategoria; dados referentes s polticas de segurana adotadas pela empresa; documentosrelativos s inovaes introduzidas na empresa; e os recursos oferecidos aos trabalhadorespara se adequarem a elas (treinamento e cursos).

    OS RESULTADOS

    A partir dos 158 questionrios aplicados e das entrevistas individuais e em grupo,o perfil que se configurou foi o seguinte: 64% dos trabalhadores tm de 18 a 38 anos de

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    idade, prevalecendo, portanto, uma mo-de-obra relativamente jovem; 48% tm o pri-meiro grau incompleto ou completo e 15% tm o segundo grau completo, o que mostraum aumento de exigncias quanto escolaridade; 70% tm no mximo dez anos de em-presa; 100% so do sexo masculino; 84% trabalharam ou trabalham na produo. im-portante esclarecer que a maioria dos sujeitos da amostra (74%) tinha sido demitida, re-centemente, pela empresa, muitos deles por apresentarem problemas de sade.

    As inovaes introduzidas no trabalho

    Com relao adoo de melhorias do processo produtivo, vrios trabalhadores re-conhecem que a empresa tem investido em novos equipamentos, bem como em novas es-tratgias gerenciais. Os resultados sugerem uma melhoria dos produtos fabricados (apon-tada por 63%), bem como uma diminuio das perdas, apontadas por 67%. Entretanto,o aumento dos salrios no tem sido compatvel com o aumento da produo, bem comodas responsabilidades advindas dessas inovaes.

    Em relao ao treinamento, 52% dos trabalhadores que receberam treinamentoconsideram que no esto sendo devidamente treinados para atender s novas exigncias.Apenas 35% responderam que sempre entendem as causas dos problemas que ocorremno trabalho. Outros aspectos importantes em relao s inovaes so: aumentou a cargade trabalho, devido ao maior nmero de mquinas e ao sentimento de que a responsabili-dade assumida muito grande; as dificuldades atuais so maiores que antes; as mudanasno contriburam para melhorar trabalho, de acordo com 42%.

    Em relao intensificao no ritmo de trabalho, os resultados apontam que os tra-balhadores fazem tudo com pressa; fazem vrias coisas ao mesmo tempo; seguem o ritmoda mquina; consideram tanto o tempo para realizar as tarefas quanto o ritmo de trabalhocomo pssimos ou ruins.

    As condies fsicas e ambientais

    Grande nmero de trabalhadores est exposto poeira (47%), fumaa (37%) ea gases e vapores (59%); 56% esto expostos ao calor e 41% revelam exposio a mudanasde temperatura. Outro problema grave encontrado que 84% dos sujeitos esto expostosa muito rudo. Ao que parece, todas as inovaes introduzidas no setor no vieram acom-panhadas de melhorias ambientais, sobretudo no que diz respeito aos rudos. Isso ficamais evidente se considerarmos que 41% dos trabalhadores avaliam o conforto presenteno seu local de trabalho como pssimo ou ruim.

    A organizao do trabalho

    Surgiram vrias queixas relativas organizao do trabalho, sendo que os proble-mas mais citados foram: presso da chefia; exigncias crescentes de aumento de produo,

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    acompanhadas de maiores exigncias de qualidade e, muitas vezes, da diminuio de pes-soal; ritmo acelerado na realizao das atividades; chances reduzidas de promoo; mo-notonia das atividades; ameaas de demisso.

    Os resultados obtidos atravs do questionrio e confirmados nas entrevistas sobastante reveladores, indicando um aumento importante nas exigncias de produo,uma onipresena da presso da chefia e uma intensificao crescente no ritmo de trabalho. importante observar que vrios desses aspectos contradizem o discurso das novas po-lticas de pessoal e que a empresa em questo afirma adotar: maior autonomia, bom planode carreira, maior estabilidade no emprego, postura mais amigvel da chefia, etc.

    A segurana no trabalho

    39% dos sujeitos consideram seu trabalho arriscado. Alm disso, uma porcenta-gem elevada (43%) j sofreu acidentes, sendo que 40,5% confessam ter medo de sofreracidentes. Outro dado importante refere-se ao fato de 56% dos sujeitos afirmarem quej viram algum colega sofrer acidente, embora a mesma porcentagem admita que os aci-dentes tm diminudo nos ltimos anos. Assim, uma anlise global desses resultados su-gere que a questo da segurana permanece problemtica no setor.

    O medo de se acidentar continua sendo um sentimento fortemente presente entreesses trabalhadores e tem sua origem em fatos concretos, como podemos constatar atravsdos dados acima. Conforme assinalaram, vrias podem ser as causas dos acidentes, maso ritmo e o volume de trabalho tm sido os principais responsveis pelo seu ndice elevado.

    Os problemas gerais de sade

    A categoria dos trabalhadores da indstria automobilstica encontra-se entre as quemais apresentam doenas de origem ocupacional, de acordo com estatsticas de serviosde sade. Nossa pesquisa confirmou esse dado ao verificar que boa parte dos trabalhadoresda amostra (40%) constata o perigo de adoecer no exerccio de suas atividades de trabalho.Alm disso, interessante observar que eles associam suas queixas s atividades no setorautomotivo, ressaltando nunca terem tido problema de sade antes de entrarem para essesetor e, em alguns casos, afirmando que os sintomas diminuem ou desaparecem quandose afastam do trabalho.

    Eles associam suas queixas diretamente aos elementos presentes no seu trabalho. Oshorrios irregulares e reduzidos das refeies, a alimentao inadequada e a exposio agases txicos foram relacionados com as queixas de problemas gstricos; o trabalho emposies desconfortveis, a repetitividade dos gestos, o ritmo acelerado, o esforo des-pendido, a carga excessiva de trabalho, a inadequao ergonmica do posto de trabalho,a presso da chefia e as longas jornadas de trabalho foram os fatores associados s queixasde problemas osteomusculares; os problemas auditivos, como era de se esperar, foramassociados ao rudo intenso e constante.

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    As novas exigncias de qualificao e a sade no setor automotivo

    As dores lombares foram associadas s posies incmodas, necessidade de mu-dar constantemente de posio e ao esforo excessivo (necessidade de pegar peso); os pro-blemas no sangue, ao contato com os produtos qumicos e aos gases; os problemas respi-ratrios, aos gases, fumaa, poeira e contato com produtos qumicos; as varizes foramrelacionadas com a realizao do trabalho sempre de p; os problemas visuais, com aexposio a corpos estranhos, a poluio e a iluminao deficiente.

    Os problemas otorrinolaringolgicos foram associados poeira, s mudanas detemperatura, poluio, ao calor excessivo e at s trocas constantes de turno e ao cansaofsico; os problemas de coluna, ao esforo fsico e a posies inadequadas; as dores decabea, ao rudo excessivo e presso da chefia; as dores nas pernas, movimentaoconstante no trabalho, s posies inadequadas e s mudanas contnuas de posio; a hi-pertenso, ao ritmo acelerado e aos horrios ruins de trabalho.

    Tudo isso coloca em evidncia um quadro assustador, mas, por outro lado, revelaque os trabalhadores esto bastante conscientes dos seus problemas de sade e de sua re-lao com o trabalho.

    Os problemas relativos sade mental devem ser necessariamente enfatizados nesterelato, uma vez que nosso subprojeto voltado para os aspectos psicossociais do trabalho,e tambm, e principalmente, porque detectamos um grande nmero de queixas relativasao sofrimento psquico e doena mental. A maioria dos sujeitos da pesquisa revelou-secapaz de perceber a forte relao entre tais queixas e as presses que sofrem no trabalho.

    Assim, o trabalho desgastante, a presso excessiva, os salrios baixos, o medo de per-der o emprego, o trabalho fatigante, a presso psicolgica, os horrios extenuantes, a co-brana de resultados, o ritmo acelerado e a falta de lazer foram os fatores associados squeixas de nervosismo e estresse; a fadiga foi associada ao sistema de turnos (queobriga o trabalhador a acordar de madrugada ou a dormir durante o dia, por exemplo),ao ritmo intenso, ao excesso de trabalho, exigncia excessiva da chefia, repetitividadedo trabalho; o desgaste mental foi associado s longas jornadas, ao excesso de trabalhoe necessidade de negociar constantemente com a empresa.

    Observamos tambm a presena importante da Sndrome da Fadiga Nervosa em47 sujeitos, ou seja, 48% daqueles que se queixaram de nervosismo encontram-se ao mes-mo tempo cansados, inclusive ao acordar, muito preocupados e com a pacincia esgotada.

    Observamos tambm que 30% queixam-se, ao mesmo tempo, de fadiga, inclusiveao acordar, e dificuldade de concentrao; 22% apresentam todos esses sintomas, acres-cidos de perda de memria e pacincia esgotada. Isto sugere que a sndrome atinge umaporcentagem importante dos trabalhadores da amostra.

    Em suma, foram muitos os problemas de sade que detectamos no grupo estudado.Podemos mesmo afirmar que se trata de uma categoria exposta a um grande risco de adoe-cimento e que apresenta srios sinais de desgaste. claro que um estudo mais exaustivodeve ser feito, envolvendo uma amostra mais significativa e mais trabalhadores da ativa.No entanto, esses primeiros resultados j so bastante sugestivos e nos alertam sobre o des-gaste rpido dos trabalhadores dessa categoria.

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    Maria Elizabeth Antunes Lima; Matilde Agero Batista

    importante acrescentar que ouvimos alguns profissionais com longa experinciacom trabalhadores do setor automotivo, como o mdico do sindicato, que trouxe ele-mentos importantes para a compreenso desses resultados. Segundo ele, de 1987 para c,a forma de adoecimento desses trabalhadores tem mudado. Antes, aconteciam muitasperdas de dedos, causadas por prensas velhas e pedais estragados, alm de contuses, fra-turas, cortes, etc, mas, com as denncias das pssimas condies de trabalho e as con-quistas das greves, alguns desses problemas foram sanados, mas outros emergiram, em de-corrncia, sobretudo, da organizao do trabalho.

    Assim, desde 1990, ele tem percebido que cresceu o ndice de alcoolismo, de dis-trbios mentais e de Ler/Dort. Continuam a ocorrer casos de surdez e de leucopenia, mas,de certa forma, mudou o tipo de desgaste e o padro de adoecimento desses trabalhadores. interessante constatar que esse novo padro de desgaste aparece junto com as inovaestecnolgicas e as exigncias que as acompanham.

    Iniciamos tambm um estudo na Volkswagen de Resende.1 A partir da anlise dos83 questionrios respondidos pelos operadores e de uma entrevista com o diretor do sin-dicato dessa empresa, percebemos que os problemas relativos s condies e organizaodo trabalho so mais acentuados na Fiat que na VW. Conseqentemente, os impactos nasade so tambm mais acentuados entre os trabalhadores da Fiat.

    Ressaltamos esta comparao para apontar que algumas mudanas so factveis epodem trazer melhorias significativas para a sade dos empregados, sem prejuzo para asempresas, conforme os lucros do consrcio VW podem atestar. Apesar do carter pro-visrio desses resultados, eles nos instigam, desde j, a refletir sobre a possibilidade detransformao das situaes de trabalho, criando condies mais humanas e menos da-nosas sade dos empregados.

    1 Esta anlise ainda parcial, mas j aponta diferenas na comparao com a empresa Fiat. O modelo im-plantado nesta empresa Consrcio Modular tem sido visto como inovador, pois coloca dentro de suasinstalaes seus fornecedores, sendo cada um responsvel por uma etapa do processo de montagem do ve-culo. H tambm uma mudana nas relaes estabelecidas entre a VW e seus fornecedores, que devem divi-dir os investimentos, custos, responsabilidades e riscos. Portanto, trata-se de um modelo horizontal e con-trasta com a verticalidade predominante no setor.

    ABSTRACTThe research here reported aimed at identifying psycho-social impacts oftechnical and organizational innovations recently introduced in the auto-motive sector. Our analysis concerns mainly the new qualification require-ments and their effects on mental health. The results of our study lead to areflection on the need to transform the working environment, so as tominimize the workers stress and mental suffering.

    Key words: Work; Psycho-sociology; Health; Qualification requirements;Automotive sector.