Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

Embed Size (px)

Citation preview

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    1/17

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    2/17378

    Nature ou Science, o caboclo que vive na Amazônia não tem acesso a informaçõesque poderiam vir a melhorar sua própria qualidade de vida. Por exemplo, muitascomunidades rurais da Amazônia sofrem de enfermidades que possuem formasbastante simples de serem evitadas ou tratadas, tais como as doenças deveiculação hídrica. A falta de acesso ao conhecimento científico também pode

    comprometer o ambiente em que estas comunidades estão inseridas, uma vezque a ausência de informações sobre o valor e a fragilidade dos recursos naturaisleva à poluição e degradação dos mesmos. Neste contexto, o projeto de extensão“Água e Saúde” atuou por dois anos em quatro comunidades da Reserva deDesenvolvimento Sustentável do Tupé, apresentando o conhecimento científicoexistente sobre a importância da conservação dos recursos hídricos, a importânciado saneamento ambiental e cuidados básicos para evitar a transmissão de doençasde veiculação hídrica. Neste capítulo é apresentado a metodologia empregada

    pelo projeto para atingir estes objetivos, que consistiu basicamente em trabalharpor meio de oficinas prático-demonstrativas, de caráter lúdico, oferecidas comfrequência mensal em cada uma das comunidades. O projeto foi bem avaliado porseus participantes e considerado exitoso por sua equipe. Dentre os ingredientesde sucesso, e apontado o trabalho multidisciplinar, a criatividade, a interatividadecom o corpo de pesquisadores do INPA e a capacitação de monitores voluntáriospara auxiliar nas atividades.

    Palavras-chave: difusão científica, recursos hídricos, saneamento ambiental.

    Introdução

      Dentre todas as formas deconhecimento concebidas no mundomoderno, o conhecimento científico

    é uma das mais privilegiadas ereconhecidas pelas sociedadescontemporâneas. Junto aos saberesoriundos do senso comum, dareligião e da cultura, o conhecimentocientífico norteia as ações cotidianas eproporciona uma concepção de mundoaos seres humanos. Convivemos com

    ele ao manipular um eletrodoméstico,ao utilizar a internet, ao tomarprecauções para manter a saúde e a

    qualidade ambiental (Santos, 2008;Sarmento et al.  2010). Por exemplo,informações científicas contribuem

    para o conhecimento sobre o meioambiente que nos cerca e nos auxiliano momento de tomar decisões sobrecomo protegê-lo. Contribuem para aformação de nosso entendimento sobreo significado de qualidade de vida,assim como a escolha de métodos parapromovê-la.

    Na história da humanidade, oconhecimento científico possibilitou odesenvolvimento tecnológico, a cura de

    Asmus at al.

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    3/17379

    Água e saúde: popularização do conhecimento científico para comunidades da RDS do Tupé

    doenças, o aumento do nosso confortoe bem-estar. Em uma enquete popularpromovida pelo Ministério da Ciênciae Tecnologia (MCT) sobre os benefíciostrazidos pela ciência e tecnologia ao

    brasileiro (Brasil, 2010), uma série defatores foi listada: benefícios no campoda saúde e da proteção de doenças,na melhora da qualidade de vida, naevolução do saber, na melhoria dosmeios de comunicação, na melhoriaeducacional, conforto e comodidade.Entretanto, a mesma eficácia tecnológica

    que serve à paz e ao bem-estar humanotambém pode ser posta à serviço daguerra e da exclusão social. Dezenasde milhões de brasileiros não possuemacesso aos bens materiais, educacionais,culturais, e à oportunidade de seremincorporados à parcela da sociedadeque pode usufruir destes bens. Nestesentido, a oportunidade de acesso aoconhecimento básico sobre a ciência éum dos fatores que auxiliaria o acessoa tais bens básicos, já que proporcionaentendimento do entorno que se vive,amplia oportunidades no mercado detrabalho e de atuar politicamente comconhecimento de causa (Moreira, 2006).  No Brasil, o conhecimentocientífico tem se tornado cada vez maisacessível aos cidadãos. A popularizaçãoda física, da medicina, da astronomia- entre outras disciplinas – no ensinoescolar tem contribuído para oreconhecimento e compreensão destasciências pela sociedade (Mansur &Silva, 2011). No governo, os principaisórgãos de fomento científico e

    tecnológico têm financiado linhas depesquisa relacionadas à popularizaçãoda ciência, além de promover eventoscomo a “Semana Nacional de Ciência eTecnologia” (Persechinni & Cavalcanti,

    2004) ou “Olimpíadas de Matemática”(Brasil, 2011). Além disso, projetos depopularização da ciência podem serreconhecidos em várias outras esferas:nos museus, nos jardins botânicos eparques zoológicos, nas bibliotecas, enas atividades de extensão sediadasem universidades, como palestras,

    exposições, oficinas e feiras científicas.Os meios mais populares de

    comunicação - tais como televisão,rádio e internet - também têmabrigado programas/notícias dedifusão científica, apesar do espaçoser diminuto em relação à totalidadeda informação disponibilizada (Alves,2002; Leal, 2003; Andrade, 2005). Deacordo com Andrade (2005), a televisãoé um dos veículos mais democráticosda sociedade brasileira, destacando suaimportância na divulgação científica.  Embora se reconheça quehouveram avanços significativos nosmeios de difusão da ciência e tecnologiano Brasil, pode-se afirmar que oacesso ao conhecimento científiconão é igualmente distribuído entrea população brasileira (Brasil, 2010).Ele deveria chegar aos letrados e aosiletrados, às crianças e adultos, donasde casa e trabalhadores, cidadãos etomadores de decisão, às populaçõesurbanas e rurais. Sendo o Brasil umpaís que abriga grandes desigualdades

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    4/17380

    sociais, é de se esperar que muitaspessoas ainda tenham acesso restrito aeste conhecimento.

    Dentre a parcela dapopulação brasileira que é excluída do

    conhecimento científico, destacam-seas populações caboclas que habitam asmargens dos rios e igarapés amazônicos.Geralmente desprovidas de energiaelétrica e longe de centros urbanos, oacesso à informação científica se tornabastante limitado. Indiretamente, estalacuna de informação pode trazer

    menor qualidade de vida ao caboclo, aomesmo tempo em que contribui para adegradação do ambiente a que ele estáinserido. Por exemplo, o conhecimentoda existência de microrganismospatogênicos na água e sua implicaçãopara a saúde humana poderiaminfluenciar o caboclo na decisão de tratar

    a água que é destinada ao consumo.Ao mesmo tempo, o reconhecimentode que microrganismos patogênicosestão intimamente ligados aos resíduoshumanos poderia levar à decisão denão despejá-los nas proximidades derecursos hídricos, contribuindo para apreservação deste ambiente. Emboraestas sejam informações simples emuitas vezes transmitidas através daeducação formal, elas dificilmentechegam ao caboclo da Amazônia.  O conhecimento científicoligado à higiene, saneamento e saúdepode ser considerado um dos maisimportantes para a melhoria daqualidade de vida da sociedade. SegundoMoisés (2010), a educação no contexto

    da saúde e do saneamento é umaprática social que recomenda mudançade hábitos e atitudes, especialmentequando os métodos pedagógicos levamao processo contínuo de reflexão e

    questionamento, capacitando pessoasa tomarem decisões que favoreçam amanutenção de seu bem estar. Nestesentido, a divulgação da produçãocientífica pode colaborar para oconhecimento, avaliação e autonomiapara o enfrentamento de problemasque dizem respeito à melhora da

    qualidade de vida.A constatação de que a

    produção científica no campo dosaneamento, da saúde e da conservaçãode recursos hídricos não estavaalcançando as populações caboclas daAmazônia, motivou a organização doprojeto de extensão “Água, saneamento,

    higiene e saúde: popularização doconhecimento científico e tecnológicopara as comunidades da RDS do Tupé,Manaus, AM” (Processo CNPq no.553767/2006-2), nascido em 2008 apartir de um edital CNPq de difusãoda ciência e tecnologia. Os objetivosgerais do projeto eram decodificar asinformações científicas para crianças,adolescentes e adultos, proporcionandoum espaço para atividades prático-demonstrativas e reflexão crítica sobreas necessidades/ possibilidades demudanças para a melhoria da saúdetanto da população local como doambiente. Batizado como “Água eSaúde”, o projeto atuou durante os anos2008-2009 nas comunidades Julião,

    Asmus at al.

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    5/17381

    Água e saúde: popularização do conhecimento científico para comunidades da RDS do Tupé

    São João do Tupé, Agrovila e Caioé –esta última, adjacente à Reserva.

    Material e Métodos

    RDS do Tupé: algumas considerações

      A Reserva de DesenvolvimentoSustentável do Tupé abrange uma áreade aproximadamente 12.000 ha nasproximidades da cidade de Manaus,protegendo um rico sistema fluvial deáguas pretas, igapós e florestas ombrófilas

    (Scudeller et al. 2005). O acesso exclusivopor via fluvial (rio Negro e seu afluenteTarumã-Mirim) isolam, durante o períodode nível baixo das águas dos rios, as seiscomunidades inseridas na Reserva, cujasprincipais atividades econômicas são aagricultura familiar, extração de produtosflorestais, caça e pesca (Souza 2010).

    Residir dentro de uma Reservade Desenvolvimento Sustentável trazuma série de responsabilidades para seushabitantes. Espera-se que eles auxiliem nagestão desta área protegida e convivamde maneira harmônica com seus recursosnaturais. A água, em especial, é um dosrecursos mais valiosos da RDS do Tupé:além de seu valor num contexto ecológico,ela subsidia o alimento e possibilita otransporte de cargas e passageiros porseus igarapés de águas pretas.  Por sua situação geográfica,as comunidades possuem carênciasassociadas ao atendimento por energiaelétrica, coleta de lixo e esgoto,distribuição de água tratada, serviços desaúde, educação formal, dentre outros

    serviços públicos sabidamente deficientesnas comunidades rurais da Amazônia. Umdiagnóstico preliminar constatou, ainda,deficiência em práticas bastante simplesde higiene pessoal, tratamento da água

    e destinação de rejeitos, favorecendoainda mais a transmissão de doenças deveiculação hídrica entre os comunitários.

    Etapas Metodológicas

      Não existem fórmulase métodos pré-definidos para

    popularização da ciência, sobretudo paracomunidades ribeirinhas. Neste sentido,no projeto buscou-se desenvolver umametodologia original para trabalharnestas comunidades, considerando osrecursos disponíveis, as especificidadesdo local e as características do públicoparticipante. Em linhas gerais, o projeto

    trabalhou sob a forma de oficinasprático-demonstrativas de frequênciamensal em cada uma das comunidades,utilizando arte, fotografia, jogos eoutras atividades interativas. A equipede criação e execução das oficinascontava com um coordenador e trêsbolsistas fixos auxiliados por umgrande time de monitores voluntários.Cinco etapas metodológicas podemser distinguidas neste projeto: (i)Diagnóstico de campo; (ii) Preparaçãode oficinas; (iii) Execução de oficinas;(iv) Documentação e avaliação deoficinas; (v) Divulgação de materialproduzido. As etapas aconteciamconcomitantemente, e serão detalhadasa seguir:

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    6/17

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    7/17

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    8/17384

    o que funcionou, o que não funcionou,sugestões de melhoras. Vale a penalembrar que cada oficina rodariatodas as outras comunidades também,estando sujeita a modificações de

    acordo com a avaliação da equipe e dosparticipantes.

    4 - Registros da oficina  Uma vez nas dependências doINPA, todo o material resultante deuma oficina - por exemplo, colagense desenhos - deveria ser datado,

    fotografado e salvo no disco rígidoexterno onde foi arquivado todo omaterial do projeto. As melhoresfotos eram selecionadas para comporo “cartaz-convite” para a próximaoficina. Ainda, os bolsistas fixos doprojeto se dividiam para fazer o “relatoda oficina” (que seria enviado paratodos os membros do projeto Biotupée do Laboratório de Plâncton), a“avaliação escrita” (reunindo as críticase sugestões da oficina) e a “lista depresença”, para registrar comunitáriose monitores que partilharam o evento.

    5 - Divulgando o Projeto Água e Saúde  Para popularizar o projeto,a maioria do material impressofoi selecionado e organizado parafazer parte do site do Biotupé. Doisdesigners foram terceirizados paragerar camisetas, cartazes ilustrativosde cada uma das oficinas e produziro logotipo do projeto. A divulgaçãotambém foi realizada através de umvídeo institucional, para apresentação

    em congressos e eventos (http://www.youtube.com/watch?v=icqxymlvqzx).

    Resultados e Discussões

      Na primeira fase – o“diagnóstico de campo” - foramvisitadas praticamente todas ascomunidades da RDS, almejando-seo estabelecimento do projeto. Comoera de se esperar, nem todas estavamdispostas a estabelecer um cronogramacom nossa equipe. Na comunidade

    Tatulândia, por exemplo, os moradoresnão se entusiasmaram com o projeto enão compareciam nas datas marcadas,levando-nos a investir em outrolugar. As comunidades Agrovila, SãoJoão do Tupé e Julião foram bastantereceptivas, e nosso contato estreitou-se com as diretoras e os professores

    das escolas da rede municipal nelasestabelecidas. A comunidade Caioé(adjacente à Reserva), ao saber daexistência de nosso trabalho, solicitouque fosse incluída no projeto, o que foiconcedido com muita satisfação.

    Sendo o projeto de cunhoeducativo, a escola acabou seconsolidando como nossa principalporta de entrada nas comunidades. Osrecursos escolares (mesas de refeitórios,cozinha, gerador) eram emprestados naocasião de nossa vinda. Embora estaparceria fosse bastante interessante,uma vez que a escola concentracrianças (e por consequência, ospais das crianças), o público adultoraramente se integrou nas atividades,

    Asmus at al.

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    9/17385

    Água e saúde: popularização do conhecimento científico para comunidades da RDS do Tupé

    preferindo acompanhar as oficinassem a responsabilidade de participar.Ainda, as escolas rurais de Manausenfrentaram uma série de dificuldadespara iniciar o ano em 2009 , reduzindo

    o tempo de atuação do projeto nascomunidades.

    Considerando o temponecessário para introduzir e engajaras atividades em cada uma dascomunidades, foi decidido que oconhecimento sobre água, saneamentoe saúde seria popularizado a partir de

    dez oficinas sequenciadas. As oficinasaconteceram entre novembro de2008 e janeiro de 2009. Nem todas ascomunidades alcançaram a décimaoficina, que continha atividades deencerramento (Tab. 1). Um total de 35oficinas foram ministradas durante oprojeto, envolvendo a participação 240

    comunitários e 53 monitores voluntários.

    Agrovila Caioé Julião São João do Tupé

    (1) Água: seu ciclo e estados x x x x

    (2) Distribuição da água no mundo x x x x

    (3) Gincana da água x x x x

    (4) Mini-curso de fotografias x x x x

    (5) Um clic nas águas do Tupé x x x x

    (6) As coisas pequenas da água x x x

    (7) Os cuidados com a água x x x

    (8) Malária x x x x

    (9) Ligando água, saneamento, higiene e saúde x x x(10) Comunidade consciente x x

    Tabela 1: Títulos destinados às oficinas criadas pelo Projeto Água e Saúde e participação dascomunidades envolvidas.

    Conteúdo das oficinas

      As dez oficinas, juntas,proporcionaram um entendimentointegrado sobre a necessidade de

    conservação da água e do solo,enfatizando os problemas de saúdeassociados à sua contaminação comrestos orgânicos e coliformes fecais.Hábitos primários de higiene foramreforçados, assim como reflexões sobreatitudes cotidianas que refletem nasaúde e bem-estar da comunidade

    como um todo. Os roteiros detalhadosde cada oficina foram disponibilizadosonline no endereço eletrônico: http://aguaesaude.biotupe.org/site/.  Uma oficina, quando oferecidapela primeira vez em uma comunida-de, acabava por provocar mudanças eadaptações no teor das atividades. As

    modificações eram incorporadas no

    (2) Distribuição da água no mundo

    (4) Mini-curso de fotografias x x x

    (6) As coisas pequenas da água

    (8) Malária

    (10) Comunidade consciente

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    10/17386

    roteiro, e trazidas para a próxima co-munidade. Desta maneira, as oficinassempre estavam em processo de me-lhoramento.

    (1) Água: seu ciclo e estados  –esta oficina iniciou uma conversaintrodutória sobre “água” com ascomunidades participantes. O objetivoprincipal foi apresentar, explicar eproporcionar entendimento sobre acomposição da água, seus estadose seu ciclo no planeta Terra. As

    atividades incluíram construção demoléculas de água com bolas deisopor, palito e outros com massa demodelar, experimento sobre erosão,observação de mudanças de estado daágua, experimento para compreendero ciclo da água na natureza, entremuitos outros (Fig. 1). Para o públicomenor de seis anos de idade, foramcriadas brincadeiras envolvendo águae utensílios para transportá-la de umlado ao outro.  O teor prático desta primeiraoficina foi muito bem recebido pelosparticipantes. A descoberta de que aágua está presente em todos os seresvivos, no solo, no ar, e é um elementoessencial para as nossas atividades esobrevivência forneceu as bases paraas próximas oficinas.

    (2) Distribuição da água no mundo –As atividades desta oficina propiciarama compreensão sobre o imenso volumede água que se distribui no planetaTerra, e a representatividade das águasamazônicas neste total mundial. Um

    mapa-mundi e um globo terrestreajudaram a ilustrar estas quantidades.Laranjas, antes de saboreadas,serviram para ilustrar o significadode “hemisfério”, além de auxiliarem

    no entendimento sobre proporções.Experimentos demonstraram o quãopequena é a quantidade de águapotável disponível para consumo, ereflexões reforçaram a importância deconservar a água da região do Tupé, tãopreciosa para todos. A figura 2 ilustraa atividade “Quantificando a água

    potável do mundo”, que demostroua proporção de água abrigada nosseguintes compartimentos: mar, águassubterrâneas, águas superficiais,calotas polares, seres vivos, solo e ar.

    (3) Gincana da água – Com o intuito derealizar uma atividade divertida e queintegrasse crianças e adultos ao redorda temática água, preparamos umagincana para levar às comunidades.Além de divertir e integrar, teveo objetivo de avaliar – ainda quesubjetivamente - a assimilaçãodo conteúdo conversado duranteas últimas oficinas. Um tabuleiroe um dado gigante foram criadosespecialmente para a ocasião (Fig. 3).Cada equipe escolhia um nome e um“peão” representante, que caminhariasobre o tabuleiro a cada ponto ganho.Havia duas categorias de “prova” nestagincana: as perguntas e as tarefas, quedivertiam e exigiam trabalho em equipepara serem cumpridas.  A avaliação geral da atividadelevou nossa equipe a crer que a

    Asmus at al.

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    11/17387

    Água e saúde: popularização do conhecimento científico para comunidades da RDS do Tupé

    assimilação do conhecimento científicotrabalhado nas oficinas anteriores nãoera exatamente como esperávamos,porém, julgamos satisfatória.

    Por outro lado, o divertimento

    demonstrado pelos participantesfortificou a ideia de utilizar mais jogoscomo estratégia educativa, o queseria posto em prática nas oficinasposteriores.

    (4) Mini-curso de Fotografias – Dado o sucesso das câmaras

    fotográficas entre os comunitários,o projeto decidiu adquirir e utilizareste equipamento como estratégiapedagógica para tratar das temáticasdo projeto Água e Saúde. Dez câmarasfotográficas (digitais) foram adquiridaspara serem manuseadas pelos própriosparticipantes do projeto (Fig. 4), que

    passariam a registrar as atividadessob suas próprias óticas nas próximasoficinas. Durante o curso, instruçõese dicas básicas de fotografia foramcompartilhadas, assim como o hábitode anotar informações sobre a imagemem um caderninho de registros.

    (5) Um clic nas águas do Tupé – Nestaoficina, os participantes utilizaram asmáquinas fotográficas para investigaras águas do Tupé, avaliando sua belezae diversidade. O objetivo geral eraque os comunitários compreendessemo grande número de organismosrelacionados às águas do rio Negro.Através de quebra-cabeças (Fig. 5),foi promovida uma conversa lúdicasobre a importância destes organismos.

    Outro objetivo secundário da oficinafoi questionar os participantes sobre aexistência de organismos ainda menoresque poderiam estar habitando a água,embora não tivessem sido captados pela

    lente da máquina fotográfica. Criançasmenores de 06 anos escolheram asfotografias que seriam captadas pelosmonitores, e brincaram de jogo damemória ilustrado com a fauna e floraassociada ao rio Negro.  A atividade surpreendeua todos, em especial, pela escolha

    dos objetos a serem fotografados.Além deles próprios, os comunitáriosescolheram plantas, animais, esituações que envolviam atividadesrelacionadas à pesca e à diversão naágua. As melhores imagens foramselecionadas para compor um “concursode fotografias”, que foi anunciado

    somente nas vésperas da oficina deencerramento do projeto.

    (6) As coisas pequenas da água - Oobjetivo geral desta oficina foi atestara existência de microrganismos na águae entender que eles são importantespara manter o lago saudável.Secundariamente, a poluição da águadeveria ser associada ao aparecimentode microrganismos indesejáveis à saúde.Alguns conceitos básicos precisaramser abordados para o entendimento daoficina: a noção de medida em escalamétrica; o significado de microscópico;a função de uma lente e o significadode filtrar. A oficina foi dividida emtrês tópicos: I. O tamanho das coisas;II. Usando a lente de aumento; III.

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    12/17

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    13/17389

    Água e saúde: popularização do conhecimento científico para comunidades da RDS do Tupé

    Coletando microrganismos. Duranteas atividades, os participantes tiverama oportunidade de compreender osignificado de “micro” na escalamétrica, de redescobrir o ambiente

    através de lupas de mão, de coletarágua com redes de plâncton adaptadase observá-la na lupa, de forma aenxergar os microrganismos (Fig. 6).

    Esta foi a oficina maistrabalhosa do projeto, do ponto devista de infraestrutura e recursoshumanos. Microscópios precisaram

    ser transpoortados e instalados nascomunidades, contando com a energiade geradores para seu funcionamento.Pesquisadores com prática no manuseiodestes equipamentos e conhecimentode microrganismos aquáticos forammobilizados até as comunidades. Emcompensação, agradou imensamenteaos participantes, que passarama ter outra perspectiva sobre omundo aquático. Após esta oficina,

     já seria possível conversar sobremicrorganismos com as comunidadesda RDS do Tupé.

    (7) Os cuidados com a água  – Osobjetivos da oficina foram conheceras principais doenças de veiculaçãohídrica, compreender suas formas detransmissão e aprender o que fazer paraevitá-las. As atividades envolveramum teatro de fantoches, treino eapresentação de teatro de mímicassobre hábitos de higiene, completare apresentar cartazes (tipo “álbumde figurinhas”) ilustrados com o ciclo

    das principais doenças transmitidaspela água e alimento contaminado.Também foram entregues cartilhaspara colorir (tipo “gibi”) contendoo texto apresentado pelo teatro de

    fantoches, que envolvia personagenscomo “Senhor Lombriga” ou “DonaAmeba” (Fig. 7).

    (8) Malária  – O objetivo geral destaoficina foi unir os conhecimentosprévios da comunidade às informaçõestrazidas pelo Projeto Água e Saúde

    para compreender: 1- o que é malária;2-como se transmite; 3-como seprevine; 4-como reconhecer ossintomas; e 5- a importância de tratar osdoentes. A primeira atividade consistiunuma entrevista, onde participantesforam “transformados” em repórterespara realizar um diagnóstico doconhecimento inicial da comunidadesobre o tema. Após, utilizou-semaquetes para contar histórias sobre amalária. As diversas fases do carapanãforam trazidas à comunidade paraobservação. Ao final, um jogo reuniua comunidade, para fixar de maneiralúdica o aprendizado do dia (Fig. 8).

    (9) Ligando água, saneamento, higienee saúde – Esta oficina teve o objetivode propor as seguintes perguntas aosparticipantes: como os nossos hábitosde vida podem contribuir para atransmissão das doenças que estudamosnas últimas oficinas? O que é precisofazer diferente para termos mais saúdena comunidade? As atividades reuniram

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    14/17390

    Asmus at al.

    Figura 7:  Apresentação de “Os vermes”. Emcena: “Dona Ameba”, “Salmonella” e “Pedrinho”Comunidade Caioé, 24 ago. 2009. Fotografia:Marina Lelis Ribeiro.

    Figura 9:  Equipe entrevista moradora eobserva condições de saneamento, higiene esaúde. Anotações e fotografias foram feitaspara compartilhar em conversa posterior.Comunidade São João do Tupé, 20 out. 2009.Fotografia: David

    Figura 10:  . Crianças realizam apresentaçãorápida sobre carapanã. Ao fundo, o painel

    de imagens selecionadas para o concurso defotografias. Comunidade Julião, 29 nov. 2009.Fotografia: Nilce

    Figura 8:  Crianças usando “tromba” durante o jogo Manja- carapanã. Nesta brincadeira, partedos participantes representavam carapanãsinfectados com malária, que corriam atrás

    de pessoas saudáveis. Ao mesmo tempo,participantes representando “mosquiteiros”impediam os carapanãs de alcançarem aspessoas saudáveis. Comunidade São João doTupé. 10/09/09. Fotografia: Maria Antônia.

     

    conversa reflexiva sobre água, lixo e

    esgoto com os participantes, utilizandomateriais demonstrativos durante oprocesso. Em equipes, os comunitáriostambém fizeram uma “pesquisa decampo”, entrevistando moradores eobservando a maneira que sua própriacomunidade trata destes assuntos (Fig.9). Também foi criado um jogo para

    efetuar a ligação de más práticas dehigiene e disposição de resíduos aosproblemas de saúde da comunidade.

    Nesta oficina, os comunitáriostiveram oportunidade de avaliar suaspróprias práticas de higiene pessoal,higiene doméstica, higiene alimentar,cuidados com a água, disposição daágua servida e disposição de esgoto.Ao mesmo tempo, buscaram relacionarestas práticas (de modo positivo ou

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    15/17391

    Água e saúde: popularização do conhecimento científico para comunidades da RDS do Tupé

    negativo) às doenças de veiculaçãohídrica ou de transmissão via oral-fecal.A atividade de “pesquisa de campo”voltou o olhar dos participantes parasua própria comunidade, só que de

    maneira crítica. Acreditamos que estatenha sido uma das atividades-chavede todo o projeto, realizando a conexãoentre todos os assuntos que vinhamsendo tratados desde o início do projeto.

    (10) Comunidade Consciente – Esta foia oficina de encerramento do projeto,

    portanto, de caráter festivo. Cartazesilustrativos de cada uma das oficinasforam entregues às comunidades.Também foi preparado um concurso defotografias, com premiação simbólicapara os três primeiros lugares,escolhidos por votação. Uma atividaderepresentativa de cada oficina foiapresentada pelos participantes, comorientação dos monitores (Figura 10).Toda a comunidade foi convidadaa assistir e participar do lanche deconfraternização.

    Outros produtos

    Além das oficinas per se ,o projeto gerou roteiros, cartilhas,cartazes, camisetas, materiais lúdicos,entre outros. Grande parte do materialutilizados foi disponibilizado na webe pode ser avaliado no endereçohttp://aguaesaude.biotupe.org/site/. Omaterial produzido pelos comunitáriosfoi fotografado e arquivado em umdisco rígido externo juntamente com osdemais materiais gerados pelo projeto.

    Avaliação do sucesso do projeto

      Embora não tenha sidorealizado nenhum inquérito comobjetivo de avaliar a aprovação das

    atividades por parte dos comunitários,nossa avaliação subjetiva é de que oprojeto foi capaz de sensibilizá-lospara a importância da conservação daágua e do ambiente, e da adoção demedidas para evitar a transmissão dasdoenças que costumam acometer oscomunitários.

    Quando questionados sobre aimportância do projeto em entrevistasrealizadas para compor o vídeoinstitucional, a avaliação das atividadesfoi positiva. Entretanto, o efeito denossa intervenção na comunidade sópoderá ser percebido a longo prazo,nas atitudes cotidianas e métodos

    empregados para conservar o solo, aágua e a própria saúde.

    Considerações finais 

    O projeto Água e Saúdefoi um dos poucos projetos quetrabalhou popularização da ciência

    para comunidades ribeirinhas, emparticular, que habitam uma áreaprotegida categorizada como Reservade Desenvolvimento Sustentável. Asatividades que compunham as oficinasprecisavam atender a um públicodiferenciado, com saberes e cotidianomuito distintos daquele conhecidopela equipe executora. Mais do queadequar as atividades para atender aeste público, foi necessário aprender

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    16/17392

    com eles: o nome das espécies animaise vegetais, o significado de lazer edivertimento, as dificuldades, ou atémesmo as prioridades da vida cotidiana.Segundo Germano & Andrade (2005),

    só existe efetividade em uma intençãode popularizar a ciência quando éestabelecido um diálogo entre aacademia e a comunidade, embasadona cultura e nos saberes locais. Destamaneira, acreditamos que o projetotenha cumprido o seu papel.  Considerando as particularidades

    de cada local, sabemos que este mesmoprojeto – tal como foi desenvolvido nascomunidades do Tupé – não pode serreproduzido fielmente em outros locais.Entretanto, alguns ingredientes desucesso podem e devem ser aproveitadosem outros projetos de popularização daciência: a multidisciplinaridade para a

    criação das atividades, a interação estreitacom o corpo de pesquisa que detém oconhecimento científico, a organizaçãopara receber e capacitar voluntários, alémda abertura e disposição para aprender ossaberes locais dos comunitários.

    Agradecimentos

    Os autores agradecem àequipe de monitores voluntáriospor tornarem possível a realizaçãodas oficinas nas comunidades; aospesquisadores do projeto Biotupé pelacolaboração em atividades de campo;ao corpo de pesquisa do Laboratóriode Plâncton do Instituto Nacionalde Pesquisas da Amazônia pelas

    sugestões e acompanhamento técnico/científico das atividades de extensão;ao Laboratório de Malária e Denguedo Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia pelos ensinamentos e auxílio

    na organização de kits de atividadespara a oficina “Malária”; à SecretariaMunicipal de Meio Ambiente (SEMMA)pela parceria concedida; e ao ConselhoNacional de Ciência e Tecnologia(CNPq) pelo financiamento do projeto.(MCT-AÇÃO TRANSVERSAL\EDITALMCT/CNPq 12/2006 - Difusão e

    popularização da C&T) 

    Referências bibliográficas

    ALVES, J. M. R. 2002. O papel da mídiana informação ambiental. In: Anais doXXV Congresso Brasileiro de Ciênciasda Comunicação. Salvador, 1-5 set.2002. 13p.

    ANDRADE, L. V. B. 2005. Ciência Vale aPena: Uma parceria entre publicitários ecientistas pela popularização da ciência.In: Anais do XXVIII Congresso Brasileiro deCiências da Comunicação. Rio de Janeiro,5-9 set. 2005. 13p.

    BRASIL. Ministério da Ciência eTecnologia. 2011. Inclusão Social.Disponível em: , acesso em: 20 mar. 2011.

    GERMANO, M. G. & ANDRADE, R. R. G.Popularização da ciência: um grandedesafio. Disponível em:

  • 8/17/2019 Asmus Et Al 2011 Agua e Saude

    17/17

    Água e saúde: popularização do conhecimento científico para comunidades da RDS do Tupé

    sbf1.sbfisica.org.br/eventos/snef/xvi/cd/resumos/T0221-2.pdf>, acesso em25. Mar. 2011.

    SANTOS, B. S. 2008. A ecologia dos

    saberes. In: Santos, B. S. A gramatica dotempo: para uma nova cultura política.2ª ed. Cortez: São Paulo. pp.137-166.

    SARMENTO, A.C.; FERREIRA, C.;OLIVEIRA, I. & PORTO, C. M. 2010.Divulgação Científica para o públicoinfantil: análise da revista Ciência Hoje

    das crianças – impressa. Diálogos &Ciência, 21: 25-38.

    BRASIL, 2010. Percepção Públicada Ciência e tecnologia no Brasil.Resultados da Enquete 2010. Documentodisponível em . Acesso

    em: 20 mar. 2010.

    LEAL, A. R. R. 2003. A web e o web- jornalismo como alternativas paradivulgação científica. In: Anais do XXVICongresso Brasileiro de Ciências daComunicação. Belo Horizonte, 2-6 set.2003.

    MANSUR, K. L & SILVA, A. S. 2011.Society’s Response: Assessment ofthe Performance of the “CaminhosGeológicos” (“Geological Paths”)Project, State of Rio de Janeiro, Brazil.Geoheritage 3: 27–3.

    MOISES, M.; KLIGERMAN, D. C.;COHEN, S. C. & MONTEIRO, S. C. F.

    2010. A politica federal de saneamentobásico e as iniciativas de participação,mobilização, controle social, educaçãoem saúde e ambiental nos programasgovernamentais de saneamento.

    Ciência & Saúde Coletiva, 15(5): 2581-2591.

    MOREIRA, I. C. 2006. A inclusão social ea popularização da ciência e tecnologiano Brasil. Inclusão Social, 1(2): 11-16.

    PERSECHINI, P. M. & CAVALCANTI, C.

    2004. Popularização da Ciência noBrasil. Jornal da Ciência - SBPC 535.

    SCUDELLER, V. V.; APRILE, F. M; MELO,S. & SANTOS-SILVA, E.N. 2005. Reservade Desenvolvimento Sustentáveldo Tupé: características gerais. In:Biotupé: Meio Físico, Diversidade

    Biológica e Sociocultural do Baixo RioNegro, Amazônia Central. Editora INPA,Manaus. pp. XI-XXI

    SOUZA, C. C. V. 2010. Etnobotânicade quintais em três comunidadesribeirinhas na Amazônia Central,Manaus-AM. (Dissertação). INPA,Manaus.