Upload
others
View
1
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ORIENTAÇÕES PARA O ALUNO
A coletânea a seguir trata da gordofobia, um preconceito que
ainda é fortemente reproduzido de forma explícita justamente por
nem sempre ser entendido como tal. Atrelar beleza à magreza,
por exemplo, é uma prática que, além de reforçá-lo, legitima padrões
estéticos socialmente impostos e motivadores de tantos outros pro-
blemas. Redes sociais têm sido um espaço para diversas discussões
sobre o tema. Confira os textos a seguir e selecione as ideias centrais,
buscando associá-las para desenvolver a proposta de redação.
TEXTO 1
Foto
: #
repost
@adel
e
@revistatpm. O corpo de uma mulher é sempre mais comentado
do que qualquer capacidade que ela tenha. Com 15 Grammys na
conta, a cantora britânica Adele (@adele) está sendo assunto nas
redes sociais. Quer dizer, o corpo de Adele é que é o assunto.
Depois de meses longe dos holofotes, ela postou uma foto em seu
Instagram e recebeu uma chuva de felicitações por estar mais ma-
gra. Por que emagrecer ainda é visto como triunfar? A gordofobia
age de diversas maneiras, sempre reforçando a ideia de que ser
gorda é fracassar. Não é. Sugerir que o corpo de uma mulher define
de forma definitiva sua existência é, sim, sinônimo de preconceito
e desinformação. E você? Já foi julgada por ter o corpo que tem?
Fonte: Instagram oficial Revista Tpm. Disponível em:
<www.instagram.com/p/B_3McMrj3b1/>. Acesso em: 2 jun. 2020.
PRECONCEITOS EM EXPOSIÇÃO
TEXTO 2
@quebrandootabu. A Adele passou um tempo longe dos holofo-
tes e depois de um tempo sumida, recentemente postou uma foto
nova no Instagram. Ela acumula prêmios, recordes, milhões de ál-
buns vendidos e é uma das cantoras de maior sucesso dos últimos
tempos. Sabe o que virou notícia? O peso dela! Até quando as
pessoas vão associar magreza com beleza? Até quando o peso de
uma mulher vai ser notícia?
Fonte: Instagram oficial Quebrando o tabu. Disponível em:
<www.instagram.com/p/B_5-3AlBrmD/>. Acesso em: 2 jun. 2020.
TEXTO 3
Gordofobia: por que esse preconceito é
mais grave do que você pensa
O peso, isoladamente, não é um indicativo para
sinalizar doenças. Mesmo assim, crescem os casos
de preconceito contra pessoas gordas no Brasil.
“O homem que casar com uma mulher gorda vai preferir traba-
lhar dobrado, ficar na rua, qualquer coisa, menos voltar para casa
BALCÃO DE
REDAÇÃOTEMA 6 – 2020 | Entregar até 31 de agosto
www.poliedroeducacao.com.br 1
333ªªªSÉRIE
ENSINO MÉDIO
2www.poliedroeducacao.com.br
e encontrar uma mulher gorda”, disse o líder de uma instituição
religiosa em um encontro de jovens entre 17 e 25 anos de idade.
Na plateia, Evelyn Daisy pareceu ser a única a se importar. “Todos
no salão aceitaram. Eu me senti mal, mas abri meus olhos e entendi
que era preconceito”, conta ela, que se define como “preta, gorda,
evangélica e feminista” e criou uma marca de roupas justamente
com o objetivo de empoderar mulheres gordas e negras que, como
ela, usam manequim além do número 52.
[...] Frases como “você tem o rosto tão bonito, por que não
emagrece?”, “nossa, eu que sou mais magra que você não tenho
coragem de usar biquíni” ou “seu marido é tão magro e você é tão
gorda, dá certo?” são ouvidas por mulheres como Evelyn, dia sim,
outro também. Elas são reflexo da chamada gordofobia, o precon-
ceito ou intolerância contra pessoas gordas.
Enquanto injúria racial e violência contra a mulher são consi-
deradas crime no Brasil, o preconceito contra pessoas gordas não
apenas passa batido como é até encorajado por órgãos de saúde
pública e campanhas de publicidade, especialmente durante o ve-
rão, quando os corpos estão mais à mostra. Mas por que, afinal, há
tamanha intolerância ao corpo gordo?
Tortura Medieval
Para começo de conversa, essa discriminação não é novidade.
No entendimento judaico-cristão clássico, a gula é um dos sete pe -
cados capitais e, portanto, uma demonstração de fracasso moral.
Durante o período medieval, o jejum era uma prática constante que
valorizava a espiritualidade em detrimento do corpo. Mais tarde,
com o desenvolvimento da medicina, pesquisadores e charlatões
propuseram as mais variadas soluções para o suposto problema,
de ovos de parasitas a engenhocas para eliminar a gordura e exer -
cícios que mais pareciam tortura… Tudo em vão.
“Estamos tentando há centenas de anos encontrar a solução da
corpulência, mas nunca conseguimos. A partir do momento em que
as primeiras relações entre problemas de saúde e gordura corporal
começaram a ser publicadas, o gordo passou a responder por tripla
acusação: falta de formosura, falta de retidão de espírito e falta
de capacidade para gerenciar a própria saúde”, diz a nutricionista
Paola Altheia. Criadora do blog Não Sou Exposição , Altheia notabi-
lizou-se por desconstruir os mitos de emagrecimento e questiona os
padrões de beleza: “Está mais do que na hora de compreendermos
que o corpo gordo não é um erro, um pecado ou um crime”.
Muitos dos mitos relacionados ao peso têm a ver com a ideia
de que a obesidade é controlável – portanto, representa negligên-
cia. Mas o excesso de peso não é necessariamente resultado de
comer demais. [...]
Outro mito comum é a noção de que pessoas gordas não são
saudáveis apenas por serem gordas. Hoje, a obesidade é identifica-
da com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), um número
obtido por meio da relação entre altura e peso. O Índice de Massa
Corporal é uma classificação da antropometria, um segmento da
antropologia que mede o corpo humano e suas partes, e começou
a ser usado a partir do século 19 como forma de estabelecer nor-
mas sociais e definir o que seria um “corpo humano normal”.
Essas tentativas de definir e categorizar pessoas entre normais e
anormais estão fortemente associadas à eugenia, ciência que tenta
determinar quais seriam os seres humanos com o melhor patrimônio
genético – e que já serviu de justificativa para genocídio, escravidão
e colonização.
Há um termo para isso na chamada “sociologia da obesida-
de”: healthism (ou higiomania, em português), que é um julga-
mento moral de alguém com base em sua saúde ou preocupação
em excesso com a saúde. De acordo com esse estudo, quem
não é considerado saudável ou que faz coisas contrárias ao que
é tido como tipicamente saudável acaba sendo visto como uma
pessoa ruim ou com moral negativa. “Cada vez mais aumenta-
mos nossas expectativas sobre as pessoas em termos de saúde e
comportamentos saudáveis, e é uma expectativa disseminada, que
permeia a vida social, profissional e educacional dos indivíduos”, diz
Michaela Null, professora de Sociologia da Universidade de
Wisconsin-Fond du Lac.
“O estudo do healthism não é contrário à saúde, apenas ques-
tiona como entendemos a saúde, quem responsabilizamos pela
saúde, como ela está relacionada a sistemas de poder e a cres-
cente pressão para que as pessoas aparentem saúde”. Segundo
Null, cuja especialidade é sociologia da obesidade, essa área do
conhecimento se dedica a pensar criticamente em como o peso de
alguém é frequentemente usado como indicador de saúde e como
a ideia de ser magro resulta em projeções sobre a qualidade de
alguém como pessoa. [...]
Por que não é preguiça
O sobrepeso não é necessariamente resultado de comida em
excesso ou falta de atividade física. Conheça alguns fatores com-
provados cientificamente.
• Falta de sono – Segundo uma pesquisa do King’s College
London, pessoas que dormem menos de sete horas por dia con-
somem, em média, 385 calorias diárias a mais do que aquelas
que dormem além disso.
• Condições socioeconômicas – Uma pesquisa desenvolvida
pelo Ministério da Saúde apontou que o excesso de peso está
ligado à escolaridade: 57,3% dos brasileiros com até oito anos
de estudo estão com excesso de peso, enquanto aqueles com
mais de 12 anos de estudo fazem o índice cair para 48,4%.
• Medicamentos – Alguns remédios e até anticoncepcionais for-
mulados à base de estrógeno colaboram para o ganho de peso.
• Desequilíbrio hormonal – Um desequilíbrio na glândula tireoi-
de pode causar o hipotireoidismo, que desacelera o metabo-
lismo, o que dificulta o gasto de energia e retém sal e água,
levando ao inchaço.
• Genética – Estudos realizados com gêmeos mostram que a
genética influencia nosso peso entre 40% e 70%. Há inclusive
genes associados ao acúmulo de gordura, como o FTO – um
levantamento recente publicado na revista Nature comprovou
que ratos sem esse gene nunca ficam obesos, mesmo comendo
muito e se movimentando pouco.
LOUREIRO, Gabriela. “Gordofobia: por que esse preconceito é mais
grave do que você pensa”. Revista Galileu, 3 maio 2017. Disponível em:
<https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2017/05/gordofobia-
por-que-esse-preconceito-e-mais-grave-do-que-voce-pensa.html>
Acesso em: 2 jun. 2020.
3www.poliedroeducacao.com.br
TEXTO 4
Texto de um cirurgião plástico veiculado na página “Não Sou Exposição”, no Facebook.
Fonte: Página oficial Não sou exposição. Disponível em:
<www.facebook.com/Naosouexposicao/>. Acesso em: 2 jun. 2020.
Obs.: o texto da imagem não reflete a opinião da administra-
dora da página, que demonstrou um posicionamento contrário ao
do cirurgião.
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Imagine-se um internauta engajado na identificação e no
combate a preconceitos. Já tendo conhecimento das demais in-
formações, você sentiu profunda indignação após deparar-se
com o texto 4 em circulação, cuja mensagem partiu justamen-
te de um profissional da saúde. Você foi imediatamente impelido
a se manifestar por meio de uma nota de repúdio direcionada à
declaração do médico, a qual será divulgada nas próprias redes
sociais, onde cada like equivale a uma expressão de apoio. Nela,
você deverá: a) contextualizar brevemente o motivo de sua manifes-
tação, citando a declaração do médico; b) posicionar-se veemen-
temente, argumentando sobre a carga preconceituosa contida na
declaração; c) abordar a gordofobia de acordo com, pelo menos,
uma das informações presentes no texto 3 e mencionar os exemplos
expostos nos textos 1 e 2; d) concluir reiterando o seu repúdio a
posturas preconceituosas como essa.
Lembre-se de cumprir os seguintes critérios:
• utilizar a norma-padrão da língua portuguesa;
• adequar a interlocução ao gênero e à situação propostos;
• utilizar a estrutura do gênero textual solicitado;
• Respeitar o mínimo de 18 e o máximo de 25 linhas;
• Planejar o texto e fazer um rascunho antes da versão final.
Boa produção!
Professora Andressa Tiossi