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Prémios 2010; Patrícia Urquiola; Foodscapes; Yves Behar; Joana Astolfi; Hotel Sezz; Astrid Krogh

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www.clubseat.pt

EMOÇÃO É DAR MAIS À FAMÍLIACom um carro assim e o fim-de-semana à porta, só apetece viajar. No novo Seat alhambra o espaço é totalmente versátil. Cabem as crianças, o cão, as malas e, desta vez, ainda levamos tudo para a festa da Maria. a família, encantada. tecnologia da mais avançada, segurança garantida, portas de correr eléctricas e tecto de abrir panorâmico! eu, feliz. Um motor potente, económico e com emissões de carbono reduzidas! Um automóvel surpreendente.

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editorial :: blue design

Perdidos e AchadosGRANDE DESIGNER, ACHILLE CASTIGLIONI era também um grande coleccionador.

Um grande coleccionador de coisas pequenas. Nunca lá estive, mas parece que no seu estúdio

transformado em museu, em Milão, se acumulam objectos. Para além dos livros, dos protótipos,

das maquetes, dos desenhos e dos próprios objectos que desenhou, muitas vezes em parceria com o seu

irmão Pier Giacomo, há uma sala, inteirinha, reservada para os troféus quotidianos do maestro.

Castiglioni, que projectava objectos fora de série, era um apaixonado por coisas comuns, de todos

os dias. Tropeçava nelas, deixava-se encantar, recolhia-as, guardava-as como quem guarda tesouros

e, finalmente, partilhava-as com os seus alunos, no Politecnico de Milão. Estes objectos – tesouras,

alicates, porcas e parafusos, lâmpadas, garrafas, bancos perdidos, fechaduras e puxadores – eram usados

como ferramentas pedagógicas, exemplos do design anónimo, que se não está na base de tudo, está na de

muita coisa. Inseridos na corrente do quotidiano, estariam perdidos para sempre, não fosse este flâneur

da cultura material deter-se neles e salvá-los do esquecimento, extraindo do comum o invulgar

e tornando-os trouvés.

Neste número, em que reunimos a nossa colecção particular do melhor do ano 2010, com a terceira

edição dos Prémios Blue Design (que estreia nova categoria, pondo em relevo os projectos verdes que mais

nos impressionaram) encontramos outros Castiglioni extraordinários. Como os coleccionadores anónimos,

reunidos na edição especial da revista Colors, concebida e produzida pela equipa criativa da Fabrica.

Ou como Joana Astolfi, autora da nossa capa, que pertinentemente acrescenta um “and collector” à sua

preenchida lista de ocupações (“architect, designer, artist, curator”). Como descobrimos na entrevista,

Astolfi é uma coleccionadora compulsiva. E criativa. Os objectos, que transforma ou acumula até

à exaustão, são a sua perdição. Entre perdidos e achados, é a beleza

das coisas extra-ordinárias que nos prende.

M A D A L E N A G A L A M B [email protected]

Concepção: Joana AstolfiFotografia: Arlindo Camacho

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SUM

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IGN 10 B R A N D N E W D E S I G N

As últimas novidades das primeiras marcas.

16 P E R F I L Retratos de Yves Behar e Maarten de Ceulaer.

22 SPECIAL GUEST: JOANA ASTOLFIA arquitecta mostra-nos a vida em zoom.

32 D E S I G N G U R U : P A T R I C I A U R Q U I O L AOs mais recentes projectos da superdesigner espanhola.

40 ESPECIAL: PRÉMIOS BLUE DESIGN 2010Os eleitos do ano, em dez categorias mais uma.

64 FOCO: FOODSCAPESAs paisagens gulosas dos alunos da ESAD.cr.

72 FOCO: GALERIA SECONDOMEA inspiração da galeria de design romana.

78 PROJECTO DESIGN: ASTRID KROGHDesign luminoso vindo da Dinamarca.

82 FOCO: ROCA WE ARE WATERUm projecto sustentável sobre a água.

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84 B R A N D N E W A R Q U I T E C T U R AEspaços privados e públicos que brilham.

88 EXPO: SMALL SCALE, BIG CHANGENo MoMA, a arquitectura que pode mudar o mundo.

100 S P O T : H O T E L S E Z ZO paraíso azul cobalto de Christophe Pillet.

96 R E V I S T A : C O L O R S C O L L E C T O RA revista Colors lança uma edição de coleccionador.

108 C U L T O : M Ú S I C AGostos não se discutem.

114 S N E A K P R E V I E WLevantamos o véu e descobrimos o design mais fresco.

110 E X P O S I Ç Õ E SA arte que vem.

111 L I V R O SPara folhear o design.

112 M O R A D A SProcure e encontre.

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Edições4

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CONTACTOS PARA ASSINATURAS: Tel.: 214 142 909; Fax: 214 142 951; E-mail: [email protected]

O seu comentário é fundamental para melhorarmos a blue Design a cada edição. Assim, criámos este e-mail para que nos possa apontar todos os defeitos que for encontrando na sua revista. Muito obrigado! [email protected]

A F O R M A S E G U E A E M O Ç Ã O

BLUE MEDIA Rua Vera Lagoa, n º 12, 1649 - 012 Lisboa, Tel.: 217 203 340 | Fax geral: 217 203 349 | Contribuinte nº 508 420 237

DIRECTOR GERAL Paulo Ferreira | DIRECTORAMadalena Galamba, [email protected]

DIRECTOR DE ARTE E PROJECTO GRÁFICO BLUE DESIGN Pedro Antunes, [email protected]

COLABORAM NESTA EDIÇÃO Ricardo Polónio (Fotógrafo) | Susana Alcântara (Arte) | Nuno Miguel Dias, [email protected], Gui Abreu de Lima, [email protected] (Textos)

DIRECTOR COMERCIAL Paulo Ferreira, [email protected] | DEPARTAMENTO DE MARKETING&PUBLICIDADE Maria Reis, [email protected]; Fax publicidade: 217 203 349

PRÉ-IMPRESSÃONuno Barbosa, [email protected] | DISTRIBUIÇÃO Logista | IMPRESSÃO União Europeia

DEPÓSITO LEGAL 257664/07; Registado no E.R.C. 125205 | PROPRIEDADE: MBC Lazer, S.A.

{ I N T ERD I TA A R E PRODUÇÃO D E T E X TOS E I MAGENS POR QUA I SQUER ME I O S }

BD-FICHA TÉCNICA 2010:BD-FICHA TÉCNICA 2010 12/10/10 10:43 AM Page 10

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INTRO

BRAND NEWS

YVES BEHAR

MAARTEN DE CEULAER

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M E S A S P H I L L I P E I , D E S A M B A R O N P A R A A C A S A M A N I A

PrincipescasUMA MINI COLECÇÃO DE “GUERIDON” ou pequenas mesas de apoio, Philippe I, desenhada

por Sam Baron para a italiana Casamania, actualiza o espírito romântico do século XVIII, numa linguagem

contemporânea. Nestas mesinhas, para usar em solitário ou aos pares, estão explícitas as referências

estilísticas do passado, mas também a atenção aos pormenores e a reinterpretação das técnicas

de manufactura tradicionais. Em MDF e madeira, e com um tampo sobreposto de vidro ou espelhado,

a irreverência das mesas está nos detalhes. Por exemplo: a aplicação do verniz mate que cobre quase toda

a mesa, mas deixa uma parte descoberta, como se uma dama tivesse levantado as saias deixando

ver os tornozelos. Requintada e elegante, Philippe I não prescinde, felizmente, do humor.

www.casamania.it

www.fluxograma.com

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linkqwww.fluxograma.com

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brand new :: design

B A R D O T , D E J A I M E H A Y O N P A R A A B E R N H A R D T

B.B.AS CURVAS DE BRIGITTE BARDOT e a sua boca de morango, serviram

de inspiração ao espanhol Jaime Hayon para desenhar este sofá compacto e sedutor

para a Bernhardt. “Queria que fosse como um fruto, tenro ao toque, e que ao mesmo

tempo combinasse a leveza e a força de uma bailarina”, afirmou o designer.

Com os ângulos suavizados, e um aspecto sólido e generoso, o sofá Bardot é mais

pequeno do que parece, sendo por isso perfeito para espaços mais reduzidos.

Disponível em vermelho, verde lima e branco, é sedutor por natureza.

www.hayonstudio.com

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design :: brand new

C O X C O O K I E S A N D C A K E

Dentadas GlamOS CUPCAKES são de tal maneira tendência que já começam a enjoar, mas em Londres, na Cox Cookies

and Cake, reinventam-se. Depois de 20 anos a desenhar sapatos para os famosos, Patrick Cox estava pronto

para a reforma quando decidiu abrir um negócio guloso com o mestre pasteleiro Eric Laniard. Juntou-se o útil

ao agradável ou “a fome à vontade de comer”. Os bolinhos e bolachas são deliciosos por dentro (Laniard,

uma estrela da televisão e autor de vários livros, é um reputado patissier) e glamourosos por fora.

Existem os clássicos (mas esqueçam o tédio cor-de-rosa, aqui a ideia é cor e purpurina) mas também

versões mais arrojadas: cupcakes de chocolate decorados com caveiras, uma homenagem

a Warhol, e uma série de inspiração erótica. No Natal, os bolinhos vestem-se a rigor, com flocos de neve,

bolinhas decorativas e espírito angelical provocador.

www.coxcookiesandcake.com

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A S P I R A D O R A I R F O R C E , P A R A A R O W E N T A

Prático e eficiente

A POPULAR ROWENTA, há décadas a oferecer pequenos

electrodomésticos de alta qualidade e inequívoca utilidade ao nosso dia-a-dia,

lançou dois novos aspiradores que fazem a diferença. Os Air Force fogem

ao tradicional formato porque são verticais e têm um design interessante, tanto

do ponto de vista funcional, como em termos de arrumação.

Sem fios e sem saco, de elevada potência, estão dotados com

a denominada escova Delta, um sistema patenteado e exclusivo da marca,

que garante uma aspiração mais eficiente em locais de difícil acesso, e que inclui

uma escova turbo com função booster, para limpeza de tapetes e carpetes.

Confortáveis de manusear e com qualidade assegurada,

os Air Force apresentam-se em duas potências, dois preços e duas cores

encantadoras. E é aí que está grande parte da sua graça.

www.rowenta.pt

design :: brandnew

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design :: perfil

Yves Behar

Vira conceitos do avesso, muda o rumo dos acontecimentos e ganha prémios de prestígio. Gosta de tecnologia, privilegia a experiência humana e promove a sustentabilidade. É Yves Behar, um detonador de ideias.

Texto: Gui Abreu de Lima

O HOMEM-BOMBA

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QUANDO SE ACEDE à lista de clientes da Fuseproject e se espreita

cada trabalho elaborado, não há como não ficar suspenso num sorriso

deliciado. A empresa do designer suíço que encantou a América,

é a própria cara de Yves Behar, que nesta edição perfilamos com agrado

e carinho. Agrado, porque é um gosto falar de quem traz sensação

e diferença ao mundo. Carinho, porque é um designer sensível às

maleitas da acção dos Homens sobre o Planeta, ainda que a encomenda

seja um sofisticado objecto para a gigante Samsung. E se a Coca-Cola

acabou a contratá-lo para redireccionar a empresa em termos

de sustentabilidade, muito está dito. Quando a pequena agência

com apenas vinte colaboradores vê o seu trabalho reconhecido e

premiado com galardões de prestígio e os CEO de multinacionais de peso

se interessam pelas suas ideias e opiniões, há mesmo razões para

as empresas olharem o design com olhos de ver, como defende Behar –

uma ferramenta que muda o rumo, o sopro de um negócio, o resultado

final. A ideia começa a fazer eco nas empresas e Yves Behar

tem contribuído para essa mudança.

O mais velho de três irmãos, filho de pai turco e mãe alemã, nasce

em Lausanne, em 1967. Em pequeno, já o ímpeto se revelava. Inventava

coisas. Aos 19 anos, pronto a entrar na universidade, preferiu seguir

a uma pequena escola de artes e só adiante ingressa no Art Center

College of Design, em Montreux, de onde segue ao congénere

de Pasadena, nos E.U.A, para cursar design industrial. E da América

já não sai, porque o trabalho surge no alfobre do Vale do Silício.

Corre a década de noventa, a Frog Design, Inc. e a Lunar Design,

que desenvolvem produtos para a Apple, a Hewlett Packard

e a Silicon Graphics, recorrem a Yves.

Em 1999, uma empresa própria, a Fuseproject, com uma estratégia bem

delineada, a espelhar a sua natureza: humanista, naturalista e futurista.

A proeza de fundir estes conceitos na matéria, através do design, dá nas

vistas. A Fuseproject surpreende, causa sensação, abre horizontes, marca

a diferença. Usa a tecnologia, o bom senso e a arte, concebe objectos

inteligentes da raiz à ponta dos cabelos, e faz jus à ideia de que o design

deve privilegiar a experiência humana. Contendo todos os ingredientes:

um olhar abrangente, humano e visionário. Quando um objecto provoca

a inteligência, abana as emoções e serena preocupações, é a perfeição.

E é o sucesso. E a credibilidade. E os prémios – mais do que a “Fuse”,

só a Ideo. Mas comparar uma agência de 500 funcionários

com a de Behar, que emprega 28 pessoas...

Para lá do portefólio recheado de projectos e de conselhos revolucionários

para grandes marcas, dentro e fora dos Estados Unidos, Behar

presenteou-nos com uma exposição que ocupou por dois meses o Yerba

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Buena Center for the Arts, em São Francisco – TechnoCRAFT:

Design in the Age of Individuality – Hackers Modders, Fabbers

and Tweakers. Vem falar de envolver as pessoas com os objectos.

Incitar os consumidores a intervirem no design, convidar cada

um de nós a participar nos processos criativos, a contribuir para

que a produção em massa e a tecnologia se case

com a imaginação e o faça você mesmo. Além do contributo

do curador, uma série de designers foram chamados, as suas

peças intervencionadas e o futuro dirá se o desafio proposto

através desta mostra reinará. Para que os homens sintam novo

entusiasmo. Pelos desejos do espírito, pela vontade da diferença,

pela aventura sublime de imprimir no mundo material a unicidade

da sua alma, a capacidade de mexer no que o rodeia.

É essa a emoção e a mudança que Yves sugere. Sem renunciar

à tecnologia e ao mais sofisticado progresso da Humanidade e

www.fuseproject.com

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design :: perfil

Maarten De Ceulaer

Nasceu e formou-se na Bélgica, e com meia dúzia de malas, revelou-se ao mundo. Seguiu à Índia, onde faz trabalhovoluntário e cumpre o seu design. O traço é puro, a mensagem forte, o apelo poético e a ideia clara.

Texto: Gui Abreu de Lima

DE MALA AVIADA

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A BEM DIZER, MAARTEN DE CEULAER nasceu outro dia. Nos

frescos alvores dos anos oitenta. Fez os primeiros estudos de Design de

Interiores na Sint-Lukas Hogeschool, em Bruxelas, seguiu o rasto

encantado do design industrial e de mobiliário na Design Academy

Eindhoven, cirandou pelos estúdios de Danny Venlet e de Alain Berteau,

ainda na capital da Flandres, até voar à Índia, direitinho ao The Mud

Office, o atelier de Vivek Radhakrishnan, em Bangalore. E embora pelas

índias se mantenha, o novíssimo designer empreende com sede em

Bruxelas e presença na web, o seu Maarten de Ceulaer Design Studio.

Os trabalhos de Maarten começaram a ser vistos a partir de 2004, com

mostras em Bruxelas e na Holanda, algumas promovidas no seio

académico, mas é em Setembro de 2007, que chega a distinção mais

honrosa – o projecto A Pile of Suitcases vence o Dynamo Belgian Young

Designers Award. Ou seja, as malinhas nunca mais deixaram de viajar

pelo mundo, arrumam já a vida de muita gente e dão alma nova a muitos

espaços. Nas cores da paz, do céu ou do oceano (branca, azul ou verde),

empilhadas ao gosto do freguês e vestidas para arrasar, constituem um

armário modular de forte impacto visual, que depressa passou a produto

exclusivo da italiana Casamania. Tão original, que mereceu

continuidade, dando o mote à criação da Leather Collection, a deriva em

outras ornamentações para utilizações diferentes. Um móvel de gavetas –

Small Pile of Briefcases – a irresistível cómoda a cores estonteantes –

Low Chest of Suitcases – e a quase bipolar secretária – The Desk of

Briefcases – que parece vaguear entre o caos e a sensatez. A Leather

Collection foi já apresentada em vários festivais e eventos de design, em

galerias de arte e no Salone del Mobile, em Milão. O encanto da pele, no

caso reciclada, trabalhada por Ralph Baggaley, um grande artesão de

Bruxelas, exímio no detalhe, junta-se ao traço divertido e brincalhão de

de Ceulaer, dando-lhe o toque sofisticado e elegante de uma peça de

luxo, com todo o charme das antigas malas de viagem, símbolos de vida.

Na Casamania, o airoso e inteligente armário foi baptizado de Valises.

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Mas claro que outras luzes se acendem na criatividade de

Maarten. Literalmente. Com a série de candeeiros, visualmente

simples, mas cheios de predicados. Os Liquid Lights, a explorar

um conceito único e feliz: garrafas de vidro em formatos

diferentes, lâmpadas feitas à mão e a água no engenho, através

de corantes inofensivos (alimentares) e fáceis de adquirir,

propõem-se a mudar totalmente a atmosfera de um espaço,

ao tom do espírito; para jardins e varandas, o Nomad Light Fire;

a alegrar cenários, o engenhoso Nomad Light Molecule;

e o versátil e portátil Nomad Totem, faz a festa onde bem

quisermos. Tudo criações luminosas, onde o designer desata

os fios da inspiração e do estilo próprio – simples e forte,

a questionar o mundo e a responder-lhe através dos objectos.

Objectos que se usem, que unam o pensamento à matéria, com

estética, conforto e humor, como deseja Maarten de Ceulaer. e

www.maartendeceulaer.comwww.casamania.itwww.fluxograma.com

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www.blue.com.pt

Navegue facilmente nos sites que aparecem nas suas reportagens Blue e usufrua ao máximo as coisas boas da vida.

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DESIGN

JOANA ASTOLFI

PATRICIA URQUIOLA

PRÉMIOS BLUE DESIGN 2010

FOODSCAPES

SECONDOME

ASTRID KROGH

ROCA WE ARE WATER

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Algumas vivem a “vie en rose”. Joana Astolfi prefere a vidaem zoom. Um olhar irrequieto, que perscruta os objectos

à lupa para deles retirar o seu melhor lado, ou a sua melhor história.

Arquitecta, designer (?), curator, Astolfi parece a mulher dos mil ofícios.

No fundo, descobrimos, as diferenças estão na escala. A permanência está

na vontade de agitar.

ENTREVISTA M A D A L E N A G A L A M B A

JOANA ASTOLFI: A VIDA EM ZOOM

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Joana Astolfi não pode receber-nos no seu estúdio do LX Factory. Está atulhado de coisas

(escreveríamos “tralha” mas não faria sentido), no rescaldo da segunda iniciativa convocada

pela PuppenHaus, Water Closet, onde 14 artistas portugueses de diferentes áreas

intervieram nas casas-de-banho públicas do LX, espaços de cruzamento entre o íntimo

e o social. A PuppenHaus, para quem inexplicavelmente lhe tenha passado ao lado,

é uma associação cultural que celebra a arte contemporânea nas suas diferentes

manifestações, criada em 2007, por Joana Astolfi, Felipa Almeida e Christina Bravo.

Mas já lá vamos. O chá, que tomamos na atmosfera muito casa-de-bonecas do Café

na Fábrica, começa a arrefecer, e há muitas coisas para contar.

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design :: special guest

A HISTÓRIA COMECA EM LISBOA, onde Joana Astolfi nasceu, em 1975. Filha de arquitecto,

é pela arquitectura que se decide, depois de passar anos a “desenhar, pintar e a fazer esculturas”.

Formou-se em arquitectura pela University of Wales, em 1998, fez estágios em Munique e no Porto,

e mudou-se para Londres, em 1999, para trabalhar em remodelação de lofts. Na altura em que

projectava a sua primeira casa, a Risso-Gill, em Cascais, Joana Astolfi cruza-se com a Fabrica (o seu

portefólio é um dos que não escapam ao olho clínico do então director criativo do centro de pesquisa da

Benetton, Jaime Hayon) e durante dois anos, em Treviso, desenvolve vários projectos multidisciplinares

para o grupo. São anos intensíssimos, de frenética actividade criativa, e neles destaca-se a exposição

Canova (2003), a maior retrospectiva do escultor neoclássico, cuja concepção e coordenação ficou a cargo

de Astolfi, e que marcou um ponto de viragem no seu percurso. Em 2004, empurrada pela nostalgia,

regressa definitivamente a Lisboa, onde colabora com a Experimentadesign e desenvolve projectos como

freelancer em arquitectura, design e direcção criativa, como o projecto do showroom/atelier

dos Storytailors, e o design da exposição Cem Anos da CUF.

2009 é um ano forte para Joana Astolfi. É nesta altura que monta oficialmente o Studio Astolfi, onde se

dedica à sua actividade desdobrável, que engloba projectos em diferentes escalas, imaginamos que para

Astolfi, todos “grandes”: arquitectura, design de interiores e expositivo, customização de móveis

e objectos, criação de peças únicas de autor e presentes personalizados. A ideia é sempre transformar.

Criar a partir do zero não lhe interessa. E assim, por palimpsesto, sobrepondo camadas e camadas de

sentido, vai tecendo a sua própria história. Uma mesa-vitrine para guardar colecções, uma bengala para

dois ou uns auscultadores-búzio são alguns dos projectos, encomendados ou autopropostos, que lança

com êxito. É em 2009 que a PuppenHaus realiza a primeira exposição, a aclamada “A Beleza do Erro”,

que reúne 30 obras especialmente encomendadas feitas por 30 artistas e designers nacionais

e internacionais. Para 2011, prepara Things are Getting Worse, Please Send Chocolate: uma exposição

para o tempo de crise, com 12 peças novas que partem do título de uma obra em miniatura que fez o ano

passado. Com a PuppenHaus, estreará When a House is Not a Home, em que artistas trabalham

o habitat, mas numa escala em miniatura. Será no primeiro semestre do ano, na nova casa das bonecas,

a Plataforma Revólver. Mais um golinho no chá. Começamos a conversa, como duas meninas bem

comportadas. Joana Astolfi fala com a mesma intensidade com que trabalha. Com a mesma curiosidade

e agitação positiva. Com a mesma vontade de arriscar. Usa muitas palavras em inglês,

mas é claro que é só a maneira mais rápida de fazer passar a sua mensagem.

Como uma sucessão de clicks, como os que se seguem.

No CV escreve “Vive a vida ao pormenor”.

O que quer dizer com isso? Pode pormenorizar...

No fundo, é olhar em zoom para tudo. As coisas que me inspiram normalmente não são os planos

grandes. Quando entro num espaço, ou quando vou a um mercado (que é um sítio onde adoro ir, onde

encontro muita inspiração) olho sempre para aquelas coisas que são os detalhes, e que saem fora do

normal, que se destacam não só por serem diferentes mas por terem um click. Às vezes é o humor,

às vezes é a combinação de materiais, às vezes é só uma imagem que eu vejo passar...

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design :: special guest

“A beleza do erro” foi o primeiro projecto da PuppenHaus.

Como aconteceu?

Lancei o desafio à Felipa (Aires). Depois convidámos a Christina (Bravo), para fazer toda a parte

de produção e logística. Há um equilíbrio, uma harmonia muito grande entre nós. E acho que

isso é uma grande mais-valia da Puppenhaus. Fazer “A beleza do erro” foram dois anos de

curatorship. Fizemos muita pesquisa, visitámos muitos estúdios de artistas. A Felipa, que tinha

trabalhado em galerias, e escrito para revistas, tinha uma grande bagagem nesta área. Ela tem

uma enciclopédia na cabeça. Todas as semanas tínhamos um almoço, que durava 3, 4 horas,

onde discutíamos as coisas. Durante um ano pesquisámos, depois montámos. Lançamos um

desafio a 30 artistas, 15 estrangeiros. Foi uma exposição muito ambiciosa.

Foi duro. Até hoje, ainda é a “beleza do erro”. Deu muito trabalho, mas foi muito bom.

Qual é o ponto de partida?

É sempre o conceito, a história que eu vou contar. Depois vai-se traduzindo (seja uma peça, seja

um espaço, seja uma capa de uma revista ou um conceito para um videoclip) em clicks. Esses

pormenores, esses detalhes, são clicks. Um click, no fundo, é um conceito que se transmite

num momento. Não me interessa a estética per se. Interessa-me quando transmite,quando

conta uma história. Tenho um leque enorme de escalas na minha vida: trabalho casas, e depois

faço até uma caixa de fósforos. O pormenor vai de um puxador de porta na casa até aos

cenários de miniaturas que eu crio no meu trabalho diário, nas minhas commissions.

Sempre gostou de casas de bonecas?

Sim. Sempre. A minha brincadeira era sempre teatral. Criava o espaço, mas depois

interessava-me saber como é que o espaço podia ser habitado, então ia metendo todos

os objectos, ia organizando tudo, como se estivesse lá dentro a viver dentro do espaço. Lá está,

interessavam-me os pormenores dentro do espaço. Nunca gostei de peluches nem nada.

Muito Lego, e muitos objectos. Sempre tive essa mania de coleccionar. Sempre fui uma

coleccionadora. Por exemplo, o mesmo objecto, mas cem vezes. A ideia de repetição.

Por exemplo, o que coleccionava?

Chaves. Borrachas, milhares. Lápis, milhares. Rádios. Já queria coleccionar cadeiras. Nunca

coisas novas, sempre gostei de objectos que já tivessem uma história. Toda essa história de

mass production não é nada a minha praia. Interessam-me muito mais peças de autor, peças

exclusivas, coisas personalizadas.

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E que sítios é que gosta de visitar para encontrar essas coisas?

Uma retrosaria deve ser o paraíso...

Sim. A Feira da Ladra é o meu atelier principal, vou todas as terças e sábados, conheço toda a

gente, tenho “crédito” em vários sítios. Não posso ir com ninguém à Feira da Ladra, porque estou

a fazer scan constante, estou a olhar para os objectos e a pensar onde é que aquilo pode ser usado,

como posso transformar aquilo...Adoro a Baixa... esse tipo de lojas antigas, de carimbo, adoro.

Adoro stationery. Depois há lojas que não têm nada a ver... por exemplo drogarias, têm sempre

coisas especiais, mantas plásticas, funis, esponjas douradas, que depois podem ser alteradas para

peças minhas.

E quando parte à descoberta, não vai à procura de nada em concreto?

Às vezes vou. Às vezes ligo, e digo 'Sr. Alberto, preciso de doze gavetas, todas diferentes, o mais

antigo possível, mas naquela onda anos cinquenta... não me traga coisas barrocas...' Ou então:

'Vou precisar de seis chaves. Todas ferrugentas'.

Traz tudo isso ao seu trabalho para depois fazer a sua própria reformulação,

mas não é “fundamentalista”, não pára numa recriação de uma época.

Claro. O ponto de partida é sempre um objecto de uma época. Mas depois o grande desafio é pegar

no objecto e dar-lhe uma nova história. Ressuscitar o objecto. Isso é o que eu gosto mesmo de fazer

e acho que vou cada vez mais nessa direcção. O meu ganha-pão continua a ser a arquitectura, mas

eu comecei na arte... A arquitectura foi uma via, o meu pai é arquitecto, portanto, eu sempre estive

muito ligada aos espaços, etc.. A arquitectura permitiu-me começar a pensar em três dimensões,

e abriu-me muitas portas. Descobri a fotografia, o design gráfico, através da arquitectura.

O que é que a marcou na Fabrica?

Estive dois anos na Fabrica. Fui a primeira de Portugal a ir. O primeiro ano na Fabrica foi uma

loucura, de intensidade criativa. Nunca tive um ano que me chupasse tanto a nível criativo. Mas eu

estava a querer dar isso também. Estava a trabalhar em cinco ou seis projectos ao mesmo tempo.

Tinha muitas responsabilidades naquele ano. O Jaime Hayon delegou muita coisa em mim (eu já

estava no limite da idade, tinha 25 anos). Aquilo foi intensíssimo. Acabei uma relação e tudo. E há

uma coisa: estamos no fim do mundo. Somos 60 criativos, considerados dos melhores do mundo,

escolhidos a dedo, mas estamos num bunker debaixo da terra. Isso torna a coisa três vezes mais

intensa. Crias laços muito fortes. Mas depois é muito descartável, é muito cíclico, porque os mesmos

que chegam vão embora.

Fazes muitas coisas. Como te sentes?

Toda a gente me chama artista, mas é difícil realmente dizer o que é que eu sou. Sou arquitecta de

formação, mas sinto-me cada vez mais a afastar da arquitectura, porque tem muita burocracia,

muitas restrições, muito tempo perdido. Hoje em dia o meu maior desafio é trabalhar com objectos.

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design :: special guest

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As pessoas pedem-me que faça presentes. Por exemplo, para uma pessoa que gosta de mel,

guarda-chuvas e livros antigos. Eu faço. Tenho um cliente que é coleccionador e pede-me que lhe

desenhe objectos para guardar as colecções, e que lhe faça o layout das colecções. Fiz-lhe uma

mesa-vitrine, e agora estou a trabalhar uma peça feita com pontas de charutos cortadas e anilhas.

Esse tipo de trabalhos dá-me muito gozo. Adoro criar peças minhas, edições limitadas. Queria ir

cada vez mais por este caminho, de objectos transformados, ressuscitados, manipulados.

São as narrativas que lhe interessam?

Interessam-me estes objectos pela história que contam, mas sobretudo porque são únicos, one-off.

Tudo o que é personalizado, interessa-me. Aliás, isso já começou na arquitectura. Fiz muita

reabilitação de espaços. Em arquitectura, prefiro mil vezes recuperar do que fazer casas de raiz.

Adoro ter essa oportunidade de entrar, limpar a coisa toda, tirar o que não me interessa e depois

trabalhar em cima disso. Mantendo as bases. Interessa-me entrar num espaço ou num objecto que

tenha uma verdade própria e que eu possa trabalhar em cima desse carácter que já existe.

Um projecto que adorasse fazer?

A minha casa. Está em progresso nos meus sonhos. A minha casa vai reunir o meu mundo. Mas

sem dúvida que a nível material, gostaria muito que fosse uma coisa ligada ao Bauhaus: madeira,

betão e vidro. E depois, em cima disso, brinco. Também gostava de ter um filho.

A transformação faz ainda mais sentido nos dias que correm?

Insisto sempre na palavra transformar, ou recriar, muito mais do que começar do zero. Há muito

pouco espaço para isso. Já não há nada a fazer. E é isso que procuro no meu trabalho. Reutilizar

objectos, materiais, etc.. Não me considero designer. Não me interessa o design per se. Interessa-me

sim transformar e manipular. e

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PATRICIA URQUIOLA

A SUPERDESIGNER

Exposição COSAS, Valencia, 2010

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2010 marca oficialmente a entrada de Patricia Urquiola no clube dossuperdesigners. Com 40 novos lançamentos para 15 marcas, a espanhola esteve

absolutamente imparável num ano pletórico para uma profissional naturalmente

prolífera. Aliando raça e graça, Urquiola é mais do que uma referência no design

contemporâneo. É a guru feminina do nosso tempo, e tudo em que toca é ouro.

ENTREVISTA M A D A L E N A G A L A M B A

IMAGENS C O R T E S I A S T U D I O U R Q U I O L A

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”2010 FOI UM ANO EM GRANDE, UM ANOCHEIO, EM QUEURQUIOLAse desdobrou em projectos,

todos diferentes, e todos levando a marca

de uma imaginação e sensibilidade

prodigiosas.”

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A UMA SENHORA não se pergunta a idade, mas

no caso de Patricia Urquiola não seria um embaraço.

À beira de fazer 50 anos (nasceu em 1961, em Oviedo),

a designer espanhola está nitidamente no auge. Atingiu

um lugar ao qual muito poucos podem aspirar, e menos

ainda conseguem chegar. 2010 foi um ano em grande,

um ano cheio, em que Urquiola, como é costume,

se desdobrou em projectos, todos diferentes — um

hotel, várias cadeiras, os interiores de um carro, alguns

sofás, uma exposição retrospectiva, uma mala —

e todos levando a marca de uma imaginação

e sensibilidade prodigiosas. De um talento enorme,

capaz de tornar o experimentalismo prático,

e de simplificar o que parece não ter solução. Desde

1989 a viver em Itália, Patricia Urquiola ganhou mais

do que um sotaque. Embora não esqueça as suas raízes

ibéricas (a exposição retrospectiva Cosas, organizada

este ano na feira de Valencia, é bom exemplo de uma

ligação muito forte à sua terra), é muito mais fácil

identificá-la com a tradição do design italiano e quase

automático escolhê-la como um dos grandes nomes

da contemporaneidade italiana passando por alto

o pormenor de não ter nascido ali. Mas não é só o facto

de ser, apesar de tudo, uma espanhola em Itália que

a coloca num plano diferente. É o facto de ser mulher,

num mundo, como o do design, que continua a ser um

terreno essencialmente masculino. Nas poucas

entrevistas que concede, Urquiola é relutante em admitir

que o facto de ser mulher signifique qualquer diferença.

É uma questão de talento, não de género, parece querer

dizer. Ainda assim, escapam-lhe as evidências, como há

uns anos, quando numa conversa que tivemos, admitiu

que ter um filho (acabava de ser mãe pela segunda vez),

era bastante complicado para uma profissional

hiperactiva como ela.

A HIPERACTIVIDADE não é aqui uma

perturbação. É sinal de uma energia transbordante, que

se nota na maneira acelerada como fala e na quantidade

de projectos que lança, impecáveis, como se em cada

um deles tivesse posto todo o tempo do mundo (e não

uma fatia do seu tempo cronometrado), como se cada

um deles fosse simultaneamente o primeiro e o último.

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design :: guru

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”EM ‘COSAS’,ADIVINHAMOS APAIXAO DA DESIGNERPELO CRAFT,o brilhantismo com que, repescando

tradições, materiais e artesãos, não deixa

que técnicas e saberes de sempre

morram.”

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Patricia Urquiola formou-se em Arquitectura em Madrid.

Era um curso mais canónico, respeitável e convencional,

mais “próprio” para uma menina de boas famílias

do norte de Espanha. Obviamente, a Arquitectura não

chegava. Deu-lhe umas excelentes bases, mas não era

tudo. Foi para Milão, para o Politécnico, onde fez a sua

tese sob a orientação de Achille Castiglioni, uma figura

que, naturalmente, a marcou muitíssimo. A partir daí,

abraçou o design. Um encontro com Madalena

de Padova levou-a a liderar o departamento de produto

da DePadova, a partir de 1991, onde traballhou

com outro maestro, Vico Magistretti. Mais tarde,

produzir-se-ia novo encontro marcante, com Patrizia

Moroso, para quem Patricia Urquiola projectou algumas

das suas peças melhor conseguidas, numa aliança

criativa fortíssima e provavelmente sem par dentro da

indústria. Em 2001 a designer monta o seu próprio

estúdio, a partir do qual desenvolve projectos para

algumas das mais consagradas marcas italianas

(e algumas espanholas, como a Gandía Blasco), como

a Moroso, a B&B Italia, a Kartell, a Molteni, a Emu e

muitíssimas outras.

Se Urquiola parece geneticamente incansável, em 2010

bateu todos os recordes ao ponto de parecer uma deusa

omnipresente a flutuar sobre o planeta design.

Em Milão, apresentou vários produtos para a Moroso,

novidades com um toque retro (como a cadeira Klara)

ou variações de colecções de êxito (como os sofás Rift).

Para a Kartell, redesenhou os arquétipos (Comback,

uma cadeira de plástico) para a Molteni, mostrou como

os clássicos nunca passam de moda, e para B&B Italia

criou um sofá monolítico, Bend, que parece esculpido à

mão. Bend reúne, num formato modular, alguns dos

traços mais fortes do design de Urquiola: um apelo

emocional e táctil, uma espécie de formosura

entranhada mas extremamente prática e funcional.

CLÁSSICO, CONTEMPORÂNEO

À esquerda, em cima, colecção para a Molteni.

Em baixo, projecto para a Art Basel. À direita, tapete

Mangas, para a Gandia Blasco.

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”ERA POSSÍVELMOBILAR UMA CASAINTEIRA,todas as divisões incluídas e exteriores

também, só com objectos desenhados

por Patricia Urquiola. O mais certo seria

não nos aborrecermos, já que cada coisa

tem a sua própria identidade.”

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Pelo meio, ainda teve tempo de emprestar

o seu talento a uma parceria entre a Kvadrat e a BMW,

para vestir os interiores de um automóvel com os têxteis

de vanguarda e de desenhar, para a Gandía Blasco,

a sequela dos seus tapetes Mangas, em versão pufe.

Em Espanha, Urquiola não resistiu a marcar a agenda

com o seu lado menos convencional. Com a exposição

Cosas foi directa ao assunto e fez o que muito poucos

designers se atrevem a fazer, numa restrospectiva:

mostrou os protótipos. Aliás, pendurou-os, como se

nascessem de lianas, numa paisagem feita de texturas,

materiais (como a madeira, os tecidos, a ráfia, as lãs),

formas orgânicas e pormenores delicados. Em Cosas,

onde suspeitamos que Urquiola mostrava o melhor

de si, adivinhamos a paixão da designer pelo craft,

o brilhantismo com que, repescando tradições,

redescobrindo materiais e trabalhando com artesãos,

não só não deixa que as técnicas e os saberes de sempre

morram, mas actualiza-os, refresca-os, em formas

inteiramente novas.

PROVAVELMENTE será a mesma sensação

sinfónica que se encontra no W Hotel Vieques, na ilha

com o mesmo nome, ao largo de Puerto Rico. Ali,

Urquiola concebeu um projecto de design de interiores

onde colocou algumas das suas peças mais icónicas.

E o que o impressiona é a maneira como, apesar das

diferentes origens, experiências, momentos, tudo se

articula de maneira tão harmoniosa, porque de facto

fazem parte de uma mesma família. Como escreveu um

jornalista da Wallpaper, era possível mobilar uma casa

inteira, todas as divisões incluídas e os exteriores

também (com móveis da Kettal, ou da Emu), só com

objectos desenhados por Patricia Urquiola. O mais certo

seria não nos aborrecermos, já que cada objecto, sendo

testemunho de um talento invulgar para projectar, tem

a sua própria identidade, resolve o seu próprio

problema, desperta a sua particular emoção, e é sempre

infinitamente maior do que um estilo. e

www.patriciaurquiola.com

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SINFÓNICO

O The W Hotel Vieques, em Puerto Rico, onde Urquiola

compôs uma sinfonia com os seus trabalhos.

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10 categorias, 50 finalistas, 10 vencedores. Mais um.Os prémios Blue Design estão de volta, este ano com uma novidade: a

categoria "verde", que distingue as ideias e produtos mais sustentáveis

do ano. Ao todo, são 55 razões para celebrar 2010. Produtos e pessoas,

marcas e ideias com energia positiva e criativa.

As categoriasCRIATIVO DO ANO : CRIATURA DO ANO: ESTREIA DO ANO: REGRESSO DO ANO : LUXO DO ANO : BÁSICO DO ANO

MÁQUINA DO ANO : SPOT DO ANO : IDEIA BRILHANTE DO ANO : INSPIRAÇÃO DO ANO : IDEIA VERDE DO ANO

10 categorias, 50 finalistas, 10 vencedores

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CRIATIVO DO ANOA F IGURA OU COLECT I VO QUE NOS ESMAGOU EM 2 0 1 0

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arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010 Ronan & Erwan Bouroullec

Parece que todos os anos o são, mas este foi sem dúvida o ano Bouroullec. Várias vezes finalistas, vencedores em mais de

uma categoria, são finalmente o nosso criador do ano. “Always the bridesmaid, never the bride” até ao dia em que mais do

que encher as nossas medidas, nos esmagam com doses iguais de sensibilidade e rigor. Para Ronan e Erwan, 2010 foi um

ano de estreias (no mundo das casas de banho, com a versátil linha para a Axor, e à mesa, pela mão da Alessi, com Ovale),

mas também de regressos (à Cité Radieuse de Le Corbusier, onde desenvolveram um projecto de remodelação efémera,

e ao artesanato, através do vidro soprado, no candeeiro Lighthouse, uma co-edição Venini/Established & Sons).

Pelo caminho, ainda tiveram tempo de testar materiais high-tech em formas irrepreensíveis (como o candeeiro

Lampalumina, para a Bitossi) e de respirar fundo através da arte, com mais uma exposição na Kreo, Lianes,

Roches et Conques, que retomava a natureza como inspiração. Incontestáveis príncipes do

design francês, são agora reis e senhores do seu domínio: o design puro e simples.

www.bouroullec.com

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{ F I N A L I S T A S }

LUCA NICHETTOEm pouco tempo, Luca Nichetto passou de

ilustre desconhecido a grande esperança do

design italiano. Aos 34 anos, o veneziano

personifica a renovação do design

transalpino. Não são só as aziende italianas,como a Casamania, a Foscarini e a

newcomer Skitsch, que se rendem ao

encanto de Nichetto, com um design directo

e evidente. Os britânicos da Established &

Sons e os suecos da Offect também não lhe

resistem, editando, respectivamente, um

candeeiro inspirado num cano (Pipe) e uma

cadeira DIY (Robo). Mas o hit do ano terá sidoa colecção Essence, onde combina com

mestria o vidro e a cerâmica, honrando as

suas origens.

www.lucanichetto.com

SCHOLTEN & BAIJINGS Experimentais, tradicionais, ousados

e delicados, Stefan Scholten e Carole

Baijings conseguiram tingir o planeta

design com as suas cores ao mesmo tempo

eléctricas e suaves. Uma série de projectos

consistentes confirmaram-nos como um

dos talentos a seguir no design holandês.

O projecto Paper Table e os gulosos

Vegetables marcaram um ano inspirado,

onde a ilusão é celebrada com graça

e espírito.

www.scholtenbaijings.com

ISSEY MIYAKEO mestre japonês trocou as fabulosas

pregas por dobras ao estilo origami, mas

não perdeu um milímetro do seu génio.

Aos 77 anos, lançou uma nova colecção

(um novo paradigma) com um nome

misterioso mas que ecoa os passos que

damos para desdobrar a roupa e fazê-la

passar do plano às 3D. Depois de ser um

dos incontornáveis numa exposição sobre

moda nipónica na Barbican de Londres,

Miyake prepara-se para abrir mais uma loja

à medida da suas criações, desta vez

desenhada por Tokujin Yoshioka.

www.isseymiyake.com

PATRICIA URQUIOLAEsteve de tal maneira omnipresente que

nos perguntamos se será humana. 2010 foi

o ano em que Patricia Urquiola entrou

oficialmente no clube dos superdesigners.

E entrou ao seu estilo, com passos firmes e

confiantes. Na carteira, nada menos que 40

novos projectos, para as suas editoras de

sempre, como a Moroso e a B&B Italia, mas

também com novas colaborações.

Os tapetes Mangas, o hotel W, em Puerto

Rico, e a exposição monográfica Cosas,

foram os momentos altos de um ano

poderoso para a espanhola.

www.patriciaurquiola.com

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CRIATURA DO ANOO ÍCONE (DE DESIGN OU ARQUITECTURA) DO ANO A QUEM DARÍAMOS UM ÓSCAR SEM PESTANEJAR

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arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010 VitraHaus

Foi direitinha para uma das nossas capas (blue design 13B) e é fácil perceber porquê. A adesão à Vitrahaus,

a casa da Vitra projectada pelos suiços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, é instantânea e instintiva.

Na realidade, o projecto dos Pritzker não é propriamente uma casa. É um showroom gigantesco para um

gigante da indústria do mobiliário. Mas é um gigante dócil, quase pueril, que se aproxima gentilmente graças

ao domínio da escala, “doméstica”, como fazem questão de esclarecer os arquitectos. Tornar-se-á um ícone.

Por agora é apenas uma casa que respira e vibra, transparente e cheia de luz, um castelo de casas empilhadas,

arquetipais e formosas, que não queremos, nem podemos, perder de vista. O aparente caos das casas

que se projectam em diferentes direcções é apenas uma estratégia para mergulhar sobre a envolvente

e abrir o edifício para o campo, à volta, e a cidade, mais distante. A Vitrahaus é certamente um dos ícones

de 2010, tornou-se despreocupadamente mainstream, e é a nossa criatura do ano.

www.vitra.com

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{ F I N A L I S T A S }

CENTRO DE MONITORIZAÇÃODAS FURNASComo o pátio rasgado que liga interior

e exterior, no coração da casa, a memória

e a identidade de um lugar estão no centro

deste Centro. O arquitecto Manuel Aires

Mateus projectou o Centro de Monitorização

e Interpretação da Lagoa das Furnas, nos

Açores“, compreendendo o poder da

natureza sobre o artifício” num contexto

invulgar. Volumes arquetipais, simples e

compactos, no basalto característico da

região, remetem para a paisagem como

uma segunda natureza.

www.airesmateus.com

VEGETABLESSão vegetais carnudos, que apetece cheirar

e provar. São extraordinárias ilusões, que

um olhar atento desfaz para culminar num

sorriso. A série Vegetables, mais um

exercício de Scholten & Baijings à volta

da mesa, é uma das delícias do ano.

Com bainha e tudo.

www.scholtenbaijings.com

EUGENEDepois da magia da cadeira Houdini,

parecia impossível fazer melhor. Mas esta

sequela, Eugene, e o resto da família (o

sofá, a pequena lounge chair e o banco debar) mostram que Stefan Diez, o designer

responsável pelo projecto, consegue

superar-se, sem sair da linha. O mesmo ar

minimal, o mesmo charme discreto da

artesania, a mesma segurança e leveza

fazem desta colecção, produzida com

savoir-faire pela alemã e15, um dos

pequenos prodígios do ano.

www.stefan-diez.com

RUCHEUma base de madeira, assente em quatro

pés fininhos, um quilt almofadado que

estendemos mais ou menos como

quisermos, e temos Ruche, o “sofá” que

Inga Sempé assina para a Ligne Roset. A

inspiração, explica a designer, está nos

bancos-baloiço dos jardins antigos. São

esses ecos românticos ma non troppo que

aqui ressoam, e é no mix entre o passado eo presente, a rigidez e a flexibilidade, que

Ruche se torna tão actual.

www.ingasempe.fr

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ESTREIA DO ANOA ENTRADA TR IUNFANTE EM PORTUGAL OU NO MUNDO

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Rich, Brilliant, WillingOs novaiorquinos Rich, Brilliant, Willing (RWB), a nossa cintilante estreia do ano, já eram conhecidos do

outro lado do Atlântico, mas só em 2010 desembarcaram definitivamente na Europa. Em Milão, com a

Innermost, apresentaram a colecção Clinker (antiga Matryoshka), composta por mesas e candeeiros de

suspensão fabricados com um método usado na construção naval (tábuas sobrepostas). O lançamento de

uma linha de luminárias com a editora de LA, Artecnica, confirma a sua capacidade de projectar para a

indústria. O segredo do triunvirato (Theo Richardson, Charles Brill e Alex Williams) é a

complementaridade de talentos e perspectivas. Começaram por fazer-se notar pelo uso imaginativo e

descomplexado da cor, pela inovação através da recuperação e pela elasticidade do seu design (tão eficaz

no packaging como nos espaços ou em produto). A icónica Clinker, o candeeiro Excel (inspirado num

documento digital) e o novíssimo relógio Bias personificam, cada um à sua maneira, atitude original e o

design sem preconceitos, fresco, e apetecível de RBW.

www.richbrilliantwilling.com

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{ F I N A L I S T A S }

MY SQUEEZE, ALESSI Redesenhar um objecto tão poderoso

(e inútil!) quanto o emblemático

espremedor Juicy Saliff, não era tarefa fácil,

mas o novato Roland Kreiter não teve medo

e disparou. O projecto que apresentou ao

concurso convocado pelo site mydeco.com

foi mais do que um tiro no escuro: valeu-lhe

o primeiro prémio, a possibilidade de ver o

seu espremedor manual vir a ser produzido

pela Alessi e, très important, a benção deStarck em pessoa. Uma estreia auspiciosa.

www.alessi.com

GAM FRATESI A secretária Rewrite, de Stine Gam e Enrico

Fratesi, é provavelmente o objecto mais

mediático da dupla italo-dinamarquesa.

Mas os trabalhos para a Swedese e a

Casamania marcam um ano importante

para os designers que parecem ter

encontrado um palco para brilhar.

www.gamfratesi.com

MARTINO GAMPER O homem das cem cadeiras começou por

ser artista (estudou escultura com

Michelangelo Pistoletto) e só então se

voltou para o design de produto. Depois de

ganhar visibilidade com o seu domínio

idiossincrático do craft, este ano deufinalmente o salto para a produção

industrial. Era uma estreia esperada e

correu bem. Em edição limitada ou em

série, Martino Gamper é perito em

redesenhar os arquétipos, como fica claro

nas cadeiras Sessle (Established & Sons) e

Vigna (Magis).

www.gampermartino.com

AXOR BOUROULLEC Para a Axor, os irmãos Bouroullec

desenharam um sistema de casas de banho

flexível e modular. Era a primeira vez que

os designers franceses se afastavam do

domínio do mobiliário, e o resultado foi

feliz. Um projecto que levou seis anos a

desenvolver e onde pela primeira vez os

produtos são pensados do ponto de vista do

utilizador (e não do canalizador). O lugar

das torneiras, por exemplo, não está

predefinido, e pode ser escolhido consoante

as necessidades.

www.axor-design.com

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REGRESSO DO ANOPROTAGON ISTA DE UM “COMEBACK” MEMORÁVEL EM 2 0 1 0

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arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010 Do it Yourself

Talvez seja um dos efeitos mais positivos da crise: o regresso

em força do do-it-yourself (DIY). O mobiliário em kit, mais

barato e acessível, já não é terreno exclusivo dos bastiões do

design democrático. Mesmo o segmento mais exclusivo – e

mais experimental – da indústria, apresenta projectos

embalados em flatpack. Alguns exemplos: a colecção Down

Side Up, apresentada pelos criativos da Fabrica, onde o

assemblage criativo segue os príncipios do faça-você-mesmo;

a cadeira Pebble, de Benjamin Hubbert para a holandesa de

Vorm, e Fruit Box, um projecto feito a partir de caixotes de

madeira, para a label eco Essential Natural Practical.

www.fabrica.it

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CITE RADIEUSE Fiel ao seu princípio, e aos seus princípios,

a Cité Radieuse projectada por Le Corbusier

volta a vibrar graças às intervenções de

designers contemporâneos. Primeiro, foi a

vez de Jasper Morrison lhe tocar com o seu

condão. Este ano, os Bouroullec povoaram

o intacto apartamento 50 com as suas

criações silenciosas para trazer de volta a

aura de Corbu.

www.appt50lc.org

CADEIRA KLARAPara a Moroso, Patricia Urquiola desenhou

a cadeira Klara, um revival inspirado que

actualiza as cadeiras de palhinha com

souplesse e leveza. O design é clássicoe a mistura entre clareza funcional e

ornamento funciona bem.

www.moroso.it

CUPCAKES A febre dos Cupcakes pode não ser mais do

que uma moda passageira, mas tem a sua

graça. Depois de terem sido redescobertos

por Sofia Coppola na sua Marie Antoinette

anacrónica, os bolinhos decorados que

assumem a superfície, crescem como

cogumelos. Superfície por superfície,

escolhemos as fabulosas criações da Cox

Cookies and Cake.

www.coxcooxiesandcake.com

RIETVELDO designer e arquitecto holandês Gerrit

Rietveld nasceu em 1888 e morreu em

1964. 2010 não era marcado, em príncipio,

por nenhuma efeméride digna de celebrar.

Mas isso não foi um problema para a

Câmara de Utrecht (a cidade holandesa

com maior concentração de obras de

Rietveld por metro quadrado) e o Centraal

Museum que, juntos, decidiram decretar

2010 “o ano Rietveld”. A iniciativa foi um

êxito, com uma exposição “Rietveld's

Universe” que coloca a obra de Rietveld em

diálogo com os seus contemporâneos (Mies

e Le Corbusier, por exemplo) e trouxe-nos

de volta um Rietveld muito mais radical e

prolífico, do que a célebre Red Blue chairpoderia fazer crer. Um bónus: uma apppara iPhone sobre Rietveld que pode ser

descarregada grátis em:

http://itunes.com/apps/rietveld

www.rietveldyear.comCU

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SPOT DO ANOUM HOTEL , GALER IA , RESTAURANTE OU LOJA DE ONDE NÃO QUEREMOS SA IR

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arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010

Pensão Favorita Imaculada. É esta a memória que temos da Pensão Favorita, no Porto, um projecto de recuperação

do arquitecto Nuno Sottomayor com design de interiores de Sam Baron. Com apenas 7 quartos,

o novo hotel da Miguel Bombarda é o nosso spot do ano, porque consegue, com simplicidade,

estar perto da perfeição. Não há nada a mais nem nada a menos. Tudo tem peso e medida, e um

impecável, mimoso, límpido, bom gosto. N’A Favorita, a atmosfera é caseira e cool. Mobiliário

vintage, peças contemporâneas, design e ilustração “da casa”, espaços arejados, brancos

e generosos. Do chão ao tecto – o que é o mesmo que dizer dos mosaicos de Lúcio Zagalo,

ao candeeiro de esferas que cai sobre a grande escada central – tudo encontra o seu lugar neste

espaço português e cosmopolita, e romântico também.

www.pensaofavorita.pt

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BALANCING BARN A ideia de Alain de Botton de proporcionar

felicidade às pessoas através da

experiência directa da arquitectura já tem

um lugar para viver. Vários, aliás. Ainda que

temporariamente, podemos alugar por uns

dias uma das casas projectadas por

arquitectos contemporâneos em várias

paragens bucólicas de Inglaterra. A ideia é

reunir o melhor de dois mundos: natureza e

arquitectura, como neste fabuloso

Balancing Barn.

www.living-architecture.co.uk

TOKYO BABY CAFEAmigo das crianças, e dos pais também, o

Tokyo Baby Cafe, um projecto do atelier

japonês nendo, é um espaço pensado para

os mais pequenos onde os pais se sentem

bem. Coisa rara e agora vista. O mobiliário

adopta escalas diferentes, para poder ser

ao gosto dos mais pequenos. Existem sofás

gigantes para escalar, mas os interruptores

estão “fora do alcance”. É algo remoto mas

continua a ser um spot que nos inspira.www.tokyobabycafe.com

NEUE MONTE ROSA HUTTE Uma pele espelhada, de alumínio, cobre a

estrutura de madeira desta cabana

moderna, no Monte Rosa, nos Alpes suíços.

É um projecto dos arquitectos Bearth &

Deplazes, e dos alunos finalistas de

Arquitectura do EHT Zurich. Espartana e

brilhante, o facto de ter preocupações de

sustentabilidade (gera 90% da energia que

consome) reforça o seu lugar como um dos

spots do ano.

www.neuemonterosahuette.ch

HOTEL SEZZ SAINT TROPEZA fasquia estava bem alta, mas a sequela

do parisiense Hotel Sezz, na Côte d'Azur,

não desilude. O design de interiores ficou

de novo a cargo de Christophe Pillet, que

soube integrar com mestria o seu design

rigoroso na paisagem mediterrânica e ao

mesmo tempo prestar homenagem à aura

do lugar. A Riviera ressuscitada, de lenço

na cabeça e plena de glamour (a paleta decores, por exemplo, respeita o tom dos

anos cinquenta) mas inequivocamente

contemporânea.

www.hotelsezz.com

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LUXO DO ANOIMPOSS Í VEL OU NÃO , O LUXO A QUE TODOS GOSTAR ÍAMOS DE NOS DAR

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arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010 Les essentiels de Pâtisserie

Juntar a designer Matali Crasset e o Chef Pierre Hermé num projecto guloso, já seria um luxo,

mas na colecção que resultou deste encontro, Les Essentiels de Pâtisserie, é definitivamente

a crème de la crème em matéria de cozinha. A Alessi juntou os dois autores numa colecção de

utensílios pasteleiros para todos, desenhados a partir da experiência e da observação.

Foi registando os gestos e rituais dos pasteleiros, que Crasset desenvolveu colheres, espátulas

e taças, em combinações de aço inox, plástico e silicone. Mesmo para leigos da doçaria, mesmo

nos objectos híbridos (que se inserem em mais de uma tipologia) a função de cada utensílio

é evidente. E porque também no design se come com os olhos, a linha é atraente.

www.matalicrasset.com

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SUITE AUX OISEAUXPAR CAUDALIEA Maison Martin Margiela pinta os sonhos

cor de branco com uma intervenção na

suite L'Ile aux Oiseaux, no Les Sources

Caudalie Hotel & Spa, o templo de

vinoterapia na campagne francesa.

Se o “bucochic” parecia insuperável,

imaginem agora.

www.sources-caudalie.com

BANHEIRA OFUROMatteo Thun desenhou para a Rapsel Ofuro,

uma banheira de inspiração japonesa, feita

de madeira siberiana. A beleza formal e o

conforto visual estendem-se na estrutura

da banheira, generosa e convidativa. É a

personificação do luxo de hoje: simples e

com muita qualidade.

www.matteothun.com

CUT AND PASTEDe vários desenhos feitos à mão foram

escolhidos sete, de onde saíram estas

peças ecléticas em modo assemblage,

criadas pela designer Kiki van Eijk para a

galeria Secondome. O projecto chama-se

Cut and Paste, e as curiosidades que dele

surgem misturam referências, materiais e

tipologias. Escadotes, relógios, rodas,

arames, pedaços de tecido e vidro, formam

estas criaturas imaginárias, autónomas,

que tipificam a improvisação do luxo.

www.kikiworld.nl

CONTAGIRI O florentino Giuliano Mazzuoli, antigo piloto de

corridas, não perdeu o seu amor pela

velocidade com estilo. Desenhou o relógio

Contagiri, um tributo ao mundo do

automobilismo e à simplicidade do bom

design. Existem quatro versões do relógio

(incluindo uma dedicada ao Alfa Romeo 8c)

que imita o movimento de um conta rotações

(acerta-se a hora através de um mecanismo

pensado como uma caixa de mudanças).

www.giulianomazzuoli.com

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BÁSICO DO ANOO ESSENC IAL QUE DEV I A SER OBR IGATÓR IO

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arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010

Sedia 1Esta cadeira demorou 36 anos a ser posta em produção, mas

mantém a irreverência e a frescura do primeiro dia. É a primeira das

Autoprogettazione (1976) do maestro Enzo Mari, um projecto DIY,

num material básico e acessível como a madeira, finalmente

produzido pela Artek. Mari, o pensador, lembra-nos que o design é,

acima de tudo, projecto. Até um projecto educativo. A provocação

seventies de Mari não podia ser mais actual e relevante. É o nosso

básico do ano, e podia sê-lo por muitos anos mais.

www.artek.fi

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OVALE Com a Alessi, os Bouroullec aplicaram

alguns dos princípios que regem o seu

design – simplicidade, modéstia e liberdade

– para desenhar um serviço de mesa

“elástico”: porque permite muitas

combinações e porque, pela sua

simplicidade, deixa muito (ou tudo) em

aberto, tornando-se incrivelmente

expressivo. Os elementos assimétricos,

de cantos arredondados de Ovale (em

porcelana, vidro e metal) são ao mesmo

tempo toscos e industriais, rústicos e

modernos. Também são incrivelmente

apropriáveis pelo quotidiano. E um básico

que não devia faltar em nenhuma mesa.

www.bouroullec.com

ESTD. BY ESTABLISHED & SONS Não sabemos se foi um efeito da crise ou,

como querem fazer-nos acreditar, uma

reposta a “novos hábitos de consumo”.

O que é certo é que os campeões do design

de autor industrializável com british accent(e não só), a Established & Sons, acabaram

por se render aos encantos do design

anónimo. E lançaram a linha Estd., objectos

acessíveis a preços acessíveis, sem

assinatura mas com bom design.

Bons básicos à venda na Net, na yoox.com.

www.establishedandons.com

PYGGY-BANKNendo, o colectivo de design japonês

liderado por Oki Sato teve um ano em

grande, com tempo para experimentar o

travo do design art e tudo. Mas é um

projecto “poupadinho” que nos apetece

destacar como um dos básicos do ano.

Este Piggy Bank, um mealheiro porcino que

recupera as formas tradicionais (o nome

é uma homenagem à nomenclatura dos

mealheiros medievais), reduzido ao

essencial.

www.nendo.jp

RELÓGIO SWATCH Estiveram por todo o lado, a inundar de cor

e beleza páginas de revistas, outdoors, e osmais variados pulsos. A Swatch já era,

desde os anos 1980, um ícone de estilo.

Regressando às origens e apostando na

identidade da cor, diferenciou-se com a

Core Collection, que se concentra no

essencial. Os relógios monocromáticos

nunca foram tão surpreendentes.

www.swatch.com

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IDEIA BRILHANTE DO ANOUM OBJECTO OU IDE I A QUE FEZ TODA A D I FERENÇA OU BR I LHOU MA IS FORTE EM 2 0 1 0

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arcaram 2010 Diwali

A Louis Vuitton sempre foi perita em casar arte com comércio.

Praticamente desde a fundação da maison, as suas montras ilustraram

esse cruzamento inspirado, sendo muitas vezes equiparadas a telas de

pintores. As colaborações com artistas são também uma constante,

e este ano, a inspiração é particularmente exótica e luminosa: o Diwali,

o Festival das Luzes indiano, que celebra a alegria enfeitando as ruas

e casas com lanternas de papel. Foi pegando nesta tradição que

o designer e artista Rajeed encenou para a Louis Vuitton uma festa

global, com malas e baús com o monograma, em papel de folha de

banana, a iluminarem as montras de Paris a Tóquio.

www.louisvuitton.com

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TWINKLEA dinamarquesa Astrid Krogh trabalha com

tubos de neón, LEDs e fibra óptica. Mas

podia trabalhar com fios de lã. A ideia é

criar objectos e instalações onde a luz é

matéria e poesia. Como no relógio de

parede Twinkle, o seu projecto mais

seriável, apresentado este ano com fulgor

em Milão.

www.astridkrogh.com

CLEVERBAGUma ideia simples, ecológica,

desenvolvida para a Puma. A nova caixa

para os sapatos de ténis resulta na

poupança de 65% de cartão, água e

electricidade, logo, na redução das

emissões de CO2. E a mais-valia é

ganhar um saco com diversas utilidades.

www.fuseproject.com

LAMPALUMINA A cerâmica é um dos materiais mais

versáteis e resistentes que existem. Por

isso, está na origem de muito boas

surpresas. Como este candeeiro

Lampalumina, feito num material cerâmico

cruzado com alumina, utilizado em

engenharia aeronáutica. É uma criação

luminosa dos Bouroullec, para a Bitossi.

www.bitossiceramiche.itO

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OON CANDLEMAKER Uma empresa 100% portuguesa que lança

um produto 100% inovador e 100%

ecológico. Não seriam precisas muito mais

razões para escolher o Oon Candlemaker

como uma das ideias brilhantes do ano,

mas esta máquina com um design muito

bem conseguido ainda por cima serve para

fazer velas! E a partir de um desperdício tão

indesejado, repelente e poluente como o

óleo alimentar usado. A ideia de reciclar o

óleo pestilento e transformá-lo em velas

bonitas e bem cheirosas é luminosa.

Quando se põe em prática através de um

design atractivo e uma comunicação a

condizer, sem pontas soltas, é brilhante.

www.oonsolutions.com

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MÁQUINA DO ANOA MÁQU INA QUE MA IS NOS FASC INOU EM 2 0 1 0

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E-readers(iPad e Kindle) Entre o iPad e o Kindle, o nosso coração balança. Já não há maneira de lhes

escaparmos, mesmo que acreditemos que o cheiro do papel e o susurro das

páginas a serem folheadas é insubstituível. A revolução digital está aí e só os

velhos do Restelo continuam a assobiar e a olhar para o lado. Ter a biblioteca

toda, e os quiosques de jornais do mundo inteiro, num levíssimo rectângulo

electrónico que podemos transportar para todo o lado e ler facilmente,

segurando-o com uma só mão, já não é uma utopia. Querer

desesperadamente um livro e tê-lo passados seis segundos também não.

Num duelo ao sol entre os dois e-readers não sabemos quem venceria. O

Kindle foi pioneiro, é mais pequeno, mais leve (cada vez mais: acaba de sair

uma versão ainda mais fina e mais portátil), mais barato e, muito

importante, foi desenhado somente para ler e-books e fá-lo muito bem

(a página assemelha-se a uma página de livro, e o contraste foi melhorado

na nova versão). O iPad, para além de ser a cores (o que é

extraordinariamente importante para quem consome revistas) é

basicamente um Apple, portanto, bonitinho. Se a isto acrescentarmos o facto

de, ao contrário do Kindle que só tem acesso à Amazon, o iPad se ligar a três

livrarias (para além da Amazon, o iTunes e a Nook da Barnes & Noble) a

indecisão está lançada. Mas o e-reader, seja ele qual for, continua a ser a

máquina do ano.

www.apple.com, www.amazon.com

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X-RAY, KKDIHá quem diga que não acrescenta nada de

novo (é impossível não pensar naqueles

Macs transparentes tão fin de siécle) mas

ainda assim o telemóvel X Ray, desenhado

por Tokujin Yoshioka para a japonesa KDDI,

é uma bela radiografia. E mais: tem toda a

tecnologia de um gadget de última geração.

www.tokujin.com

EFFICIENT HOMEAinda é apenas um protótipo que acaba de

ser apresentado na bienal de design de

Saint Etienne, mas esta série de

maquinetas para juntar a outras máquinas

que temos lá em casa, desenhada por

Mathieu Lehanneur para a Schneider

Electric, promete. A ideia é reduzir a

pegada de carbono com estes

receptores/transmissores, que “vigilam” o

consumo eléctrico (através de sensores)

quando colocados em electrodomésticos.

www.mathieulehanneur.com

AQUARIVAO superdesigner australiano Marc Newson

tem uma obsessão por meios de

transporte, para além de ser perito em

aerodinamizar os clássicos e refrescar o

luxo. Tudo isto faz em Aquariva, um barco

de luxo redesenhado para a Gagosian

gallery e que, sendo um sonho, se vende

através da galeria. Uma edição limitada

de 22.

www.gagosian.com

NESCAFE DOLCE GUSTO Empenhada em diferenciar-se da

concorrência, ao mesmo tempo que se

deixa seduzir pelo lado glam da criação, a

Nescafé Dolce Gusto decidiu desafiar dez

criadores a “customizar” a sua máquina de

café mais popular. As peças, de criadores

como Rui Aguiar, White Tent, Alexandra

Moura e Gonçalo Campos, entre outros,

foram reunidas numa exposição

comissariada por Joana Astolfi. Assim

reinventadas, as máquinas mostraram uma

nova cara inesperada.

www.dolce-gusto.com

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INSPIRAÇÃO DO ANOUM L IVRO, EXPOSIÇÃO OU OBRA QUE NOS INSPIRA E SEM O QUAL 2010 NÃO TERIA FE ITO SENTIDO

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arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010

Foodscapes O food design é um dos terrenos mais apetitosos da disciplina e, sobretudo em Portugal,

pode ser estratégico. É por isso, e porque está bem feito, que escolhemos o projecto

Foodscapes, desenvolvido pelos alunos finalistas da ESAD – Caldas da Rainha, como a

nossa inspiração do ano. Pode ser a semente para muito boas ideias (para já, há a

possibilidade de inaugurar um mestrado em food design na Escola), e para começar é

um projecto tão bem servido como um requintado menu degustation. Coordenadas porRenato Bispo e Fernando Brízio, estas paisagens alimentares têm alguns momentos

deliciosos, como a lava de leite creme.

www.esad.ipleiria.pt

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GRAPHICS SKETCHBOOK Quantas vezes não quisémos espreitar os

diários visuais e cadernos de esquiços de

artistas e designers gráficos? Entre

rabiscos frenéticos, traços finos, colagens,

desenhos, ou pacientes aguarelas, é à

expressão mais intacta e livre do criativo

que temos acesso. Um laboratório de ideias

para meter no bolso e transportar (como

um Moleskine) que agora podemos folhear,

à procura de inspiração, no livro Graphic:

Inside the Sketchbooks of the World's

Greatest Graphic Designers.

www.thamesandhudson.com

APPLETON SQUARE Um lugar aberto para a arte, o design, a

arquitectura e tudo o que existe entre eles,

a galeria Appleton Square teve um ano em

cheio em 2010, cumprindo o seu propósito

fundador: o de ser um palco para a cultura

contemporânea, um espaço polivalente,

uma vocação multidisciplinar. Cruzamento

de disciplinas, de tempos e modos, com

artistas emergentes e inquestionáveis, na

Appleton coube o Empty Cube (com Miguel

Palma, Ana Anacleto, Miguel Rios, Manuel

Mota e Pedro Gadanho), Miguel Vieira

Baptista a solo (Drawer) e um projecto para

a igreja de Santa Isabel. A fechar o ano, as

revelações de Cabrita Reis em Unveiled

Revealed.

www.appletonsquare.pt

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WIEKI SOMMERS NA KREO Poéticas, frágeis, experimentais, as peças

de Wieki Sommers, reunidas na exposição

Frozen in Time, na galerie Kreo, são uma

das nossas inspirações do ano. A designer

holandesa partiu de um fenómeno

meteorológico encontrado num recorte de

jornal para criar estas peças resgatadas

das memórias, tão próximas quanto

misteriosas. Mergulhados numa resina

líquida como se estivessem embebidos

numa camada de gelo reveladora, estes

objectos ganham novos contornos, e

aparecem-nos como uma paisagem

esplendorosa.

www.galeriekreo.com

INTERFORMA MAKE IT REALA iniciativa da Interforma de lançar os

primeiros Portfolio Days em Portugal,

desafiando os jovens criativos a mostrarem

o que valem, apresentando os seus

portefólios em “discurso directo” aos

representantes da indústria, é tão

inspiradora para os talentos emergentes,

como para as empresas que os procuram.

Um impulso de criatividade que culminou,

para dois jovens designers, em estágios na

indústria. E uma maneira inteligente de

fazer a ponte entre a criação e a indústria.

www.interformamakeitreal.com.pt

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GREEN DO ANO (Ideias verdes)ESTREAMOS CATEGORIA CONSCIENTES DE QUE O FUTURO É HOJE

DES

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SPIR

ÃO

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OVA

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elho

r do ano

em produ

tos, m

arcas, ideias e criativos que

marcaram 2010

Chairless Foi uma valente pedrada no charco, e é difícil imaginar objecto mais singelo capaz de a produzir. Chairless,

a não-cadeira de Alejandro Aravena, produzida pela Vitra e que agitou Milão este ano, pode até não ser fabricada

em material reciclável, mas não precisa. É no espírito – inspirado no modo de vida dos índios Ayoreo, que usam

um cinto para se sentar – que é verdadeiramente sustentável. Simplesmente porque nos lembra que

provavelmente não precisamos de mais cadeiras. Mesmo.

www.vitra.com

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NESPRESSOA mensagem é clara: as cápsulas, há que

reciclar as cápsulas. Também elas nos

abrem as portas do Paraíso (ou não, se não

quisermos). Desde 2008 que a Nespresso

tem a sua própria rede de recolha de

cápsulas usadas, inicialmente apenas nas

lojas e depois numa rede ampliada que

pode ser consultada online emecolaboration.com. Este ano, não é só o

alumínio (um material naturalmente

presente no solo, que ao ser reciclado

consome apenas 5% da energia necessária

à sua extracção) que é reciclado. As borras

de café também são aproveitadas,

integradas num composto agrícola que

depois é usado como fertilizante, por

exemplo, em campos de arroz. A história

não termina aqui. Em Portugal, este

programa foi implantado pela Nespresso

numa herdade em Grândola. Depois de

colhido, 7 toneladas desse arroz

(processado e controlado pela Saludães)

será doado ao Banco Alimentar e

distribuído pelo país. Até 2013, a Nespresso

comprometeu-se a obter 80% do seu café

em programas sustentáveis, triplicar a

capacidade da marca de reciclar cápsulas e

reduzir em 20% a pegada de carbono por

chávena.

www.nespresso.com

FUNDAÇÃO ROCA WE ARE WATER“A pessoa que amas é 72,8% água”. O nosso

planeta é azul, por causa dela. E é porque a

água é um bem precioso, e escasso, que a

Roca lhe dedica uma iniciativa através da

Fundação We are Water, que procura criar

uma nova cultura da água à escala

planetária. A empresa, líder mundial em

espaços de banho, orgulha-se de

desenvolver, há mais de 50 anos, produtos

que levem a um consumo eficiente de água

e a questão da sustentabilidade também

está inscrita no processo de produção.

Recentemente, com o premiado produto

W+W, a Roca deu mais um passo verde, já

que água utilizada no lavatório é reutilizada

para encher a cisterna da retrete. Da escala

doméstica para a escala global, a Fundação

We Are Water já tem em curso vários

projectos que visam implantar uma

utilização sustentável dos recursos hídricos

do planeta e assegurar que a água chega a

todas as pessoas.

www.wearewater.org

111 NAVY CHAIR A primeira Navy Chair foi fabricada em

1944, feita de alumínio e pronta a ser usada

pela Marinha norte-americana. Hoje, a

Emeco, que produz estas cadeiras há várias

décadas a partir de alumínio reciclado,

supera-se a si mesma. A 111 Navy Chair

deve o seu nome às 111 garrafas de Coca-

-Cola de plástico reciclado que estão na sua

base. Mais um clássico que se actualiza.

A Coca-Cola, responsável pelo facto do Pai

Natal vestir de vermelho, também é verde

quando quer.

www.emeco.net

DANESE WASTE NOTUma editora lendária como a Danese

Milano agarra a onda verde com tenacidade

e inspiração através da linha Waste Not,

onde, como o nome indica, nada se perde,

tudo se transforma. A partir dos restos de

produção, peças defeituosas e até

descontinuadas, foram concebidos novos

objectos, que combinam clássicos e edições

mais recentes em criaturas invulgares com

um espírito regenerado.

www.danesemilano.com

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{ F I N A L I S T A S }

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REBUÇADO DE FUNCHOFábio FernandesO tradicional rebuçado de funcho da Madeira

recomposto num chupa, que é uma árvore com copa de

funcho e eucalipto e um ramo natural a servir de

tronco. O projecto é uma reflexão sobre a

desflorestação da cidade do Funchal.

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A comida é cultura e as paisagens também. É natural que se cruzemnum projecto como Foodscapes, onde os finalistas da ESAD Caldas da Rainha

mostram, com distinção, que somos o que comemos. E o lugar de onde vimos.

ENTREVISTA M A D A L E N A G A L A M B A

IMAGENS E S A D . C R

[ FOODSCAPES ]PROJECTO DOS ALUNOS FINALISTAS DE DESIGN INDUSTRIAL, ESAD CALDAS DA RAINHA

PAISAGENSGULOSAS

FÁTIMAJoneiber Saldanha

Reproduções de Nossa Senhora de Fátima em

chocolate branco para reflectir sobre a promiscuidade

entre o consumo e a fé.

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”A ESAD REIMSE UMA ESCOLA COMLARGA EXPERIÊNCIANO ENSINO DO DESIGNCULINÁRIO,e está a montar uma pós-graduação em

food design em parceria com outras

escolas da Europa”

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UMA AMORA APRISIONADA num rebuçado cor

de âmbar, árvores de funcho que se derretem na boca,

erupções vulcânicas deslizando num prato com a doçura

do leite derramado e codornizes voadoras são alguns

dos ingredientes portugueses do projecto Foodscapes,

uma parceria entre a Escola Superior de Artes e Design

das Caldas da Rainha (ESAD.CR) e a École Supérieure

d'Art et Design de Reims (ESAD Reims).

O projecto foi recentemente apresentado numa

exposição conjunta das duas escolas durante a SIAL

2010, a mais importante feira de produtos alimentares

do mundo, que teve lugar em Paris entre 17 e 21 de

Outubro. “A relação entre a ESAD.CR e a ESAD Reims

não começou agora”, explica o designer Renato Bispo,

professor na escola portuguesa e um dos orientadores

do projecto, juntamente com Fernando Brízio.

“A ESAD Reims é uma escola com uma larga

experiência no ensino do design culinário,

e está a montar uma pós-graduação em food design

em parceria com outras escolas da Europa,

como o Politecnico de Milão e a própria ESAD.CR”.

Foi por isso com naturalidade, e aguçado apetite,

que professores e alunos da escola das Caldas

encararam o desafio proposto pela escola francesa:

desenvolver “paisagens alimentares” (foodscapes/

paysages alimentaires) onde os produtos reflectissem

a identidade cultural e a memória de um lugar.

“Quando olhamos uma paisagem, percepcionamos

qualquer coisa para lá do que lá está (um tempo

histórico, a vida das pessoas que a habitam)”, explica

Renato Bispo. “O mesmo se passa com a comida.

Propomos descobrir que tipo de mensagens culturais

podem ser passadas através dos produtos alimentares.”

ÂMBAR DE REBUCADOJorge CarreiraOs sabores silvestres são aprisionados num

rebuçado, como se tivessem sido conservados em

âmbar.

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design :: foco

GELLY LABAdriana NetoUma paisagem bacteriológica de gelatinas que

afasta este alimento do contexto exclusivamente

infantil.

FOOD FROM FOODRui LopesAlimentos que crescem a partir de alimentos (na

imagem, agrião “semeado” no pão) numa

reflexão sobre o ciclo de vida dos alimentos.

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LAVA LANDSCAPESónia RosaA paisagem vulcânica dos Açores inspira

este prato de porcelana onde o leite-creme

simula uma escoada de lava.

É ao pousar o prato que o líquido escorre até

cobrir o solo em frente às casas arquetipais.

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”DO PONTO DE VISTA DO DESIGN, A COMIDA E UMAMATERIA-PRIMA COMOoutra qualquer (provavelmente mais

táctil, mais sensorial), mas não deixa

de ser uma matéria-prima diferente,

porque é efémera, porque é perecível”

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O PROJECTO FOODSCAPES foi desenvolvido pelos

alunos finalistas do curso de Design Industrial da

ESAD.CR durante o segundo semestre do passado ano

lectivo. Da totalidade de projectos, foram seleccionadas

dez propostas para integrar a exposição internacional.

Os orientadores pediram aos alunos, oriundos de vários

pontos do país, que vasculhassem nas suas memórias

culturais e referências, e procurassem exprimir

a identidade cultural de um lugar (do seu lugar)

no projecto de food design. Foram os alunos das ilhas,

explica Bispo, que tiveram menos dificuldade

em encontrar uma “forte referência identitária”.

Provavelmente porque a própria morfologia insular os

manteve mais abrigados do lado negro da globalização,

a massificação a que este projecto procurava escapar.

Para a exposição em Paris, foram construídas réplicas

hiper-realistas dos projectos escolhidos. Era a única

maneira de os mostrar, sem que perecessem na

tentativa. Em vez de cremes aromáticos e sopas

fumegantes somos confrontados com resinas de

poliuretanto e gel bougie. Mas isso é um pormenor.

Todo o trabalho está feito, testado, é possível fazer-se

(por exemplo, as ervas que crescem nos alimentos são

uma ilusão: são transplantadas para os alimentos antes

de serem comidas, e duram 30 minutos até murcharem)

com comida a sério. Afinal, do ponto de vista do design,

a comida é uma matéria prima como outra qualquer

(provavelmente mais táctil, mais sensorial), mas não

deixa de ser uma matéria prima diferente, porque é

efémera, porque é perecível, porque em última instância

se desfaz dentro de quem interage com ela,

isto é, a come. “O objectivo desta exposição

não era desafiar gustativamente as pessoas,

mas desafiá-las intelectualmente.

CRUMBLING STONERaphael Morais

Uma pedra parece desfazer-se quando a

mergulhamos em azeite. A ilusão consegue-se

com especiarias em pó, da mesma cor da pedra,

previamente depositadas no prato.

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”DIFERENTES DOS FRANCESES,OS PROJECTOSPORTUGUESESparecem estar mais enraizados numa

memória cultural voltada para o ‘natural’

ou mesmo o rural, e que acaba,

ironicamente, por torná-los extremamente

contemporâneos”

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A SIAL, apesar de ser a maior feira de produtos

alimentares do mundo, é sobretudo comercial, não tem

muita degustação. O que pretendíamos com este

projecto era um pouco lançar uma pedrada no charco,

e mostrar que a escola está interessada e tem

competências para desenvolver projectos

de food design.”

OS PRIMEIROS FRUTOS já estão prontos para

serem colhidos. Alguns projectos apresentados em Paris

estão na calha para serem comercializados e a ESAD.CR

já foi abordada por empresas nacionais para procurar

soluções nesta área. “O food design não é propriamente

uma área em que os designers invistam muito”, adianta

Renato Bispo. “No entanto, em Portugal, há imenso

potencial nesta área. Sentimos que em Portugal grande

parte da indústria está deprimida, mas não nesta área,

onde há capacidade de investimento, onde existem boas

marcas e reconhecimento internacional.

É evidente, quase obrigatório, que o design

se vire para a indústria alimentar.”

Na escola, a área do food design é trabalhada sobretudo

na disciplina de projecto. “Os exercícios de food design

acentuam o lado sensorial e efémero do produto. São

didácticos. Isso pode ser aplicado também noutras áreas

do design.” A ideia, no entanto, é abrir um mestrado em

food design, que permita desenvolver uma área que em

Portugal pode ser estratégica. Enquanto isso não

acontece, os projectos apresentados em foodscapes vão

deixando crescer água na boca. Muito diferentes das

mais abstractas propostas francesas, os projectos

portugueses no seu conjunto parecem estar mais

enraizados numa memória cultural voltada para o

“natural” ou mesmo o rural, e que acaba, ironicamente,

por torná-los extremamente contemporâneos. De uma

maneira ou de outra, estes projectos não são diferentes

do resto das narrativas que o design ajuda a construir

(ou desconstruir) e a contar. Algum dia, pode ser que

sejam alimento para o corpo. Por enquanto, são

sobretudo comida para o cérebro. Apetitosa. e

AZEITE AROMÁTICOJoana Rita CardosoUm ramo de cheiros é preso no fundo de uma

garrafa de azeite, evocando as paisagens de onde

provém o alimento.

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design :: foco

CODORNIZES ASSADASJoaquim Pracana Bastos

Com paus de espetada e palitos que depois de ir

ao forno se retiram, encena-se o movimento das

codornizes, como se estivessem vivas.

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DESIGN, DISSE ELA

GALER IA SECONDOME , ROMA

EM ITÁLIA, HÁ DESIGN A SUL DE MILÃO.

Quem o assegura é Claudia Pignatale, a directora da galeria Secondome, que pôs Roma

no mapa com a sua visão pessoalíssima e poética do design.

TEXTO M A D A L E N A G A L A M B AFOTOS C O R T E S I A S E C O N D O M E

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design :: foco

Pignatale começou por coleccionar objectos com o

marido. Depois percebeu que não bastava coleccioná-

-los. Queria mostrá-los e, melhor ainda, produzi-los, e

assim nasceu a Secondome, uma galeria e concept-store

dedicada ao design, à arte, e a tudo o que existe entre

eles. A Secondome abriu em 2007, um espaço

contemporâneo no centro histórico de Roma, não muito

longe da Piazza Navona e, entretanto, mudou de

instalações. O espírito mantém-se. É uma visão pessoal,

poética e plural do design. O design segundo ela

(“secondo me” significa “na minha opinião”), para que

não restem dúvidas. Ainda assim, o mundo do design,

da arte, e do design-art deu algumas voltas, mas

Pignatale não está muito preocupada com as diferenças:

“Às vezes o design e arte confudem-se, às vezes não.”.

NA ROMANA GALERIA SECONDOME cabem

as fantasias de Kiki van Eijk, os sinos transparentes

dos jovens criativos da Fabrica, a cerâmica colorida

da argentina Silvia Zotta, a geometria primitiva

do mobiliário de autor do estúdio nucleo e, virtualmente,

tudo o que uma imaginação prodigiosa e livre possa

conceber e passar para três dimensões.

O espaço é simples, versátil e propositadamente deixado

em aberto, como um “papel em branco” onde se pode

desenhar cada exposição praticamente de raiz.

“Apesar de ser arquitecta, desde muito cedo que soube

que queria trabalhar com design. O design é a minha

paixão. Os objectos são pequenos edifícios onde cada

um pode encontrar o seu mundo”, explica Claudia

Pignatale, a fundadora da galeria, uma empresária

de sucesso na casa dos 30, com um amor pelos objectos

e uma missão: pôr Roma no mapa do design

internacional.

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”PIGNATALE COMEÇOU POR COLECCIONAROBJECTOS COM O MARIDO.Depois percebeu que não bastava

coleccioná-los. Queria mostrá-los

e, melhor ainda, produzi-los, e assim

nasceu a Secondome, uma galeria

e concept-store dedicada ao design, à arte,

e a tudo o que existe entre eles.”

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design :: foco

ideia do design, a mesma atitude. Passado um mês

estavamos a trabalhar na nossa primeira edição em

vidro.” Depois, naturalmente, chegou a Fabrica.

“O que me parece muito interessante na Fabrica

é que os jovens designers chegam e passam lá um ano.

Vêm directamente da escola, é a sua primeira

experiência laboral, e há muita frescura,

estão ainda fora do sistema.”

FORA. É esse lado pouco inesperado, heterodoxo, fora

do sistema que fascina Pignatale, uma forasteira em

Roma, porque também ela veio de fora. A arquitecta

nasceu em Taranto, uma pequena cidade no sul de

Itália, na região de Puglia. No entanto, é uma romana

no coração. É lá que está a sua família, a sua vida. Uma

galeria altamente criativa e inovadora como a

Secondome, responsável por alguns dos lançamentos

mais espantosos do ano, é uma maneira muito salutar

de contrariar a macrocefalia milanesa no campo do

design. E pôr Roma no mapa, e nas bocas do mundo.

Na Secondome passam-se muitas coisas. Existem

clássicos italianos de Sottsass e De Luchi, mas também

limited editions do brit design, via Established & Sons,

e o mais fresco do design contemporâneo.

A ideia da edição de design, consumada na Secondome

Edizioni, esteve presente desde o início do projecto,

e é a parte preferida do trabalho para Claudia Pignatale.

Entre as novas peças lançadas este Outono,

estão objectos de Kiki van Eijk, 5.5 designers,

Sam Baron, Joost... e as peças de cerâmica criadas pelos

jovens talentos da Fabrica, depois de um workshop de

verão. Em todas elas, Claudia Pignatale

procura o mesmo: poesia. e

www.secondome.com

O QUE IMPORTA, DEFINITIVAMENTE,

é manter o seu ponto de vista, admirar as coisas belas,

cultivar as relações com os designers com os quais se

identifica, e que produz, editando objectos de design

desde 2008, altura em que criou a Secondome Edizioni,

que exporta para todo o mundo. “Conheci a Kiki van Eijk

em Janeiro de 2009”, lembra Claudia Pignatale. “Gosto

do trabalho dela, gosto do seu approach, pouco

convencional e muito manual. Quando decidimos lançar

a Secondome Limited Edition, normalmente não há um

brief, o brief muda. A ideia é dar liberdade aos designers

para fazerem o que lhes apetece.” É daí que vem Cut and

Paste, a série de pirâmides em modo assemblage,

ecléticas, anacrónicas, de van Eijk.

A diferença entre a indústria e as galerias pode muito

bem passar pela natureza particular das relações que

se estabelecem. Há um galerista, há um artista, ou um

designer, e há sempre uma história de empatia

e afinidade que é insubstituível. “Conheci o Sam Baron,

director criativo da Fabrica, porque ele veio fazer uma

montra para a galeria. Percebi que tinhamos a mesma

”A DIFERENÇA ENTRE A INDÚSTRIA E AS GALERIAS pode muito bem passar pela natureza

particular das relações que se

estabelecem. Há um galerista, há um

artista, ou um designer, e há sempre

uma história de empatia e afinidade

que é insubstituível. ”

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ASTRIDKROGH Astrid Krogh tece tapetes com fios luminosos. Para a textile designer dinamarquesa, a luz é um bem escasso,

que é preciso celebrar. Nas suas criações, inspira-se na natureza

e na tecnologia em partes iguais.

NEON NATURAL

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projecto :: design

ASTRID KROGH, tornou-se conhecida pelas suas

instalações lumínicas, de inspiração crafty, tornadas

realidade graças às novas tecnologias. Esqueçam

o neon (embora ela também o utilize). Krogh pega

em LEDs e fibras ópticas e trabalha-os como

se fossem fios de lã.

A dinamarquesa de 42 anos estudou na Escola

de Design de Copenhaga, onde fez um master

no departamento de têxtil e em design de produto.

Um projecto experimental e sustentável,

Suntiles -um sistema de painéis solares que permite

gerar electricidade mas também armazenar o calor

e distribui-lo pelas divisões da casa- foi um início

promissor, que em 2000 a levou a criar o seu próprio

atelier de projectos de luz.

Entrelaçando luzes, padrões e texturas, a designer cria

instalações e wallneons, que cobrem fachadas (como

Flora, em Kolding, Dinamarca), adornam edifícios

modernos (como Incitament, uma grelha de neon

aplicada nas lojas Gigantium) ou iluminam interiores

nórdicos (como o relógio Twinkle), mas não só (há

obras suas na Holanda, Reino Unido e Estados Unidos).

O seu mais recente projecto, Morild, é a estrela de uma

exposição a solo na Galeria NB, em Viborg,

na Dinamarca. Uma tapeçaria de luz feita com fibra

óptica que atravessa uma parede de madeira perfurada.

Inspirada num fenómeno natural, as algas

fluorescentes que parecem acender-se e apagar-se

no mar, Morild nunca é a mesma. As cores e a

intensidade da luz estão programadas para mudar

a ritmos diferentes, imitando o incessante movimento

da natureza.

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design :: projecto

“E CLARO QUE PENSONA LUZ COMO UMMATERIAL TÊXTIL porque acredito que se pode tecer

com a luz, criar graduações e torná-la

mais ou menos intensa.”

Estudou textile design mas acabou por

fundar um atelier que faz projectos de luz.

Porque é que se sentiu atraída pela luz?

A luz para si é um material têxtil,

que pode tecer?

A luz, especialmente a luz do dia, é essencial para

o nosso bem-estar. E o facto de viver num país

escandinavo, onde a luz escasseia, leva-nos a apreciar

a luz. Está na nossa natureza. Tento imitar as

mudanças que se dão na luz natural ao longo do dia.

A maneira como a luz joga com as sombras em

pequeníssimas mudanças criando efeitos que abrem

os nossos olhos.

É claro que penso na luz como um material “têxtil”

porque acredito que se pode tecer com a luz, criar

graduações e torná-la mais ou menos intensa.

Um dos seus projectos mais recentes,

Morild, inspira-se num fenómeno natural.

Isso acontece muito?

A natureza inspira-me. Quando vemos a natureza

ao microscópio percebemos que é geométrica

e ordenada, ao passo que quando observamos

os fenómenos naturais muitas vezes parecem-nos

confusos e caóticos. Nas minhas instalações, trabalho

com esta subtil ambiguidade, da expressão da

variabilidade e da repetição. Mas por outro lado,

as novas tecnologias e materiais também são muito

inspiradores. Fascina-me a ideia de transformar

as tradições através dos materiais modernos.

Combina artesanato e tecnologia no seu

trabalho, que é uma coisa que está a passar-

se um pouco por todo o lado no design

de hoje. Acha que vai continuar?

Sim, parece-me que funciona como um pêndulo

no tempo. Às vezes está bem alto, outras vezes vem

para baixo. Os conhecimentos artesanais são

o fundamento do design de hoje e ignorar este

conhecimento seria como cortar o ramo onde

nos sentamos. Concordo que para mim é muito

importante ser capaz de passar das antigas técnicas

artesanais às novas tecnologias, porque ambas

me inspiram muito. Parece-me que quando usamos

novos materiais em técnicas artesanais estamos

a renovar a artesania.

Trabalha em escalas muito diferentes,

de grandes edifícios a objectos para a casa.

É muito diferente?

Não. O meu ponto de partida como textile designer, seja

um projecto exterior ou interior, grande ou pequeno,

é descobrir o que é que torna aquele lugar especial,

ou como torná-lo especial. Se me pedirem uma

intervenção num edifício antigo, provavelmente vou

pegar num aspecto da sua história e trazê-lo para

o contexto contemporâneo. Se for um edifício novo

tentarei perceber a arquitectura e descobrir como

é que o meu trabalho pode relacionar-se com ela.

O seu próximo projecto envolve o re-design

de mosaicos tradicionais...

Sim, envolve luz e células solares, mas a base é o

re-design de mosaicos tradicionais num conceito

moderno. Adoraria trabalhar com um artesão portu -

guês que conheça técnicas antigas neste projecto! e

www.astridkrogh.com

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design :: projecto

QUANDO A ROCA se lança num projecto sem esquecer de lhe somar eficiência máxima

na utilização do recurso natural mais raro e precioso e nos garante que os processos de

fabrico dos seus materiais cumprem as boas práticas ecológicas e os critérios de uma

indústria sustentável, está a comunicar a sua preocupação, a criar consciência, a defender

a Terra. Mas a realidade prova que esse contributo é pequeno perante a dimensão da

catástrofe que assola milhões de pessoas em vários pontos do globo. A falta de água e a sua

gestão desregrada, traduz-se em 1,6 a 2,5 milhões de mortes humanas por ano, na sua

maioria crianças com menos de 5 anos.

Presente em todos os continentes e ciente das sinergias que é capaz de criar, a Roca ergue

uma nova bandeira no sentido de contribuir para a protecção das populações afectadas pela

carência de água e para uma melhor utilização dos recursos hídricos no Planeta.

Trata-se da Fundação We Are Water, uma organização que visa agir contra o maior flagelo

social e ambiental do século.

Da sensibilização para a necessidade de implantar uma nova cultura da água e angariação de

fundos, às acções concretas no terreno, autónomas ou em parceria, a We Are Water está a

cooperar em três áreas fundamentais: educativa, sanitária e de infra-estruturas.

Como primeiro alerta, a Fundação convidou a reconhecida realizadora Isabel Coixet a filmar

um dos maiores desastres ecológicos das últimos anos – o desaparecimento do Mar de Aral,

o grande lago que irrigava o coração da Ásia Central, hoje mais parecido com um deserto.

O documentário, “Aral. O Mar Perdido” estreou no Festival Internacional de Cinema de San

Sebastian e correrá o mundo para o fazer reflectir sobre a dimensão desta tragédia. No âmbito

das soluções práticas, a Fundação está já a colaborar em cinco projectos internacionais

desenvolvidos por três ONG’s de Espanha. Na Nicarágua– recuperação do ciclo de águas em

Bosawas – e no Peru – salvação do lago Titicaca – com a intervenção da “Educación Sin

Fronteras”; no Chade – água para campos de refugiados – na Etiópia – construção de infra-

estruturas hídricas – através da “Intermón Oxfam”; e na Índia, em Gajinkunta,

a construção de uma reserva de água, em parceria com a “Fundación Vicente Ferrer”.

Aberta a todos os que estejam dispostos a diminuir o sofrimento

de milhões de pessoas e de crianças, divulgue e participe e

www.wearewater.org.

ÁGUA BENTAQuando uma empresa de sucesso e líder no seu segmento

se transcende para ajudar o Planeta, renova-se a esperança.

A seca mata milhões de seres todos os dias. A Fundação We Are Water

convoca as Nações a criar uma nova cultura da água.

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ARQUITECTURA

BRAND NEWS

SMALL SCALE, BIG CHANGE

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brand new :: arquitectura

M Ó D U L O S A U T O - S U F I C I E N T E S , D E C A N N A T A & F E R N A N D E SP A R A A C A P A

Suficiente+EM 2003, o atelier Cannata & Fernandes, concebeu os Módulos Auto-suficientes para a CAPA, empresa de pré-fabricados. O projecto recebeu menções

honrosas em Espanha e Itália e materializou-se no Parque Náutico da Aldeia do Mato, em Abrantes, sobre a Barragem de Castelo de Bode (segredosdealdeia.pt),

em perfeita sintonia com a natureza e o fim a que se destinam. O design convida, os interiores acolhem e a paisagem em que se inserem desafia a viver dias

felizes – trata-se de uma construção ecológica e sustentável, capaz de responder ao mais elevado conforto. Com recurso a materiais de recuperação de energia

e possibilidade de aplicação de tecnologias de ponta, cumpre várias funções – habitação temporária, observatório ambiental, posto de vigia florestal, ou mesmo

bar, quiosque ou ‘praça’ de comunicações.

Leves e resistentes, fáceis de transportar, reúnem excelentes características de instalação em áreas que não permitam alterações profundas, como parques

naturais, praias e locais de difíceis acessos a infra-estruturas. No que toca à água, dispõe de um depósito de 500 litros, dimensionado para um abastecimento de

três dias, aquecida através de painel solar. Mais uma iniciativa nacional de arquitectura sustentável, galardoada e com provas à vista, para nosso orgulho.

www.cannatafernandes.com

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S A N T A M A R T A H O T E L , D E P R O M O N T Ó R I OP A R A A I N S P I R A

Verde e Zen,

A REABILITACÃO DE UM CONJUNTO de edifícios classificados

na Rua de Santa Marta, em Lisboa, a cargo do Grupo Inspira,

numa parceria entre o grupo Blandy e a Investoc, resultou num novo

hotel com um conceito que marca a diferença – engaging your senses: live

your experience in every dimension – é o convite. Contemporâneo,

arrojado, criativo e com uma atmosfera zen, defende a filosofia

de sustentabilidade e de valores que assentam numa cultura holística,

no equilíbrio dos aspectos sociais, ambientais e espirituais.

O projecto, da autoria do atelier Promontório, inclui 89 quartos e uma

série de espaços com serviços bem definidos. Na brasserie mediterrânica,

comida saudável e show cooking a encantar; no bar explora-se

o eat&meet, um conceito inovador de partilha de conhecimento; no SPA,

gerido pela RitualSPA, garante-se as melhores experiências de

relaxamento e bem-estar, e no ginásio a actividade física dinamiza-se em

ambiente contemporâneo.

Com a certificação da Travelife Sustainability System, o hotel está

vocacionado para um público ambientalmente consciente, que valoriza

as tendências green, sem descurar a estética, o design e a elegância.

Por isso, o Feng Shui foi chamado aos interiores, de forma a que o espaço

transpire harmonia, conforto e equilíbrio. Cuidou-se da disposição

de objectos, das cores, dos materiais e texturas, e de incluir os seus cinco

elementos: água, árvore, fogo, terra e metal.

Um novo hotel em Lisboa, um velho edifício alfacinha acarinhado.

www.inspirahotels.com

inspiram

arquitectura :: brand new

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brand new :: trend

E M E R G I N G G H A N A , D E B L A A N C , J O Ã O C A E I R O E F U L V I O C A P U R S OP A R A O P E N S O U R C E H O U S E

Vida perfeitaSERÁ A ALMA DE COLONIZADORES QUE FOMOS, reminiscências de infância num inesquecível PALOP, a experiência da dupla de masculina

de arquitectos que se emparceirou na obra ou o talento que esmiúça a geografia, o clima, a cultura e os desejos de um povo... pouco importa. Quatro mulheres, as

arquitectas do atelier Blaanc, e o par João Caeiro e Fulvio Capurso, desenharam a Emerging Ghana, endereçaram-na ao destino e venceram o concurso

internacional de arquitectura sustentável em África, promovido pela organização Enviu, innovators in sustainability, fundadora da Open Source House

(os-house.org). O objectivo era conceber uma habitação para a classe média emergente da Cape Coast, no Gana, recorrendo a elementos sustentáveis,

flexíveis e de baixo custo, respeitando oito princípios definidos pela OS-House.

Perfeita. Na matéria-prima – terra pisada, madeira dahoma, bambu – o contexto local em evidência. No coração, o pátio, tradicional espaço unificador, tão vivido

pelos Ashanti, o grupo étnico do Gana. Eficiência energética em pleno – uso de ventilação natural e da luz solar, aproveitamento de águas e tratamento de

resíduos para compostagem. Na arquitectura, o sistema modular, facilita a montagem, o transporte e a reutilização. Ergue-se por etapas, ajusta-se às

necessidades e possibilidades de cada família.

Linda. Para se ver em 2011, lá onde se quer: na velha praça portuguesa do século XV, hoje habitada por tantas pessoas privadas de uma casa condigna.

www.blaanc.com

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arquitectura :: brand new

H O T E L D A E S T R E L A , D E T E R E S A N U N E S D A P O N T EP A R A L Á G R I M A S H O T E L S & E M O T I O N S

Nova estrelaDIFERENTE, NOVÍSSIMO, numa zona privilegiada de Lisboa, o Hotel da Estrela é o novo inquilino do velho Palácio dos Condes de Paraty, na Rua Saraiva

de Carvalho, a Campo de Ourique. Com a chancela Lágrimas Hotels&Emotions, integra a rede de Small Luxury Hotels of the World e, além de hotel de charme,

assume uma vertente formativa. Recebe os alunos da vizinha Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, para praticarem com o staff do hotel, o modelo pedagógico

estabelecido com o apoio da École Hôtelière de Lausanne. Logo, serviço de qualidade, garantido.

Projectado por Teresa Nunes da Ponte, é na decoração de interiores que se revela insólito. Sob o tema “escola”, Miguel Câncio Martins, trouxe ao espaço o espírito

das antigas escolas, um universo que a todos é familiar. As sólidas secretárias de madeira, os mapas de parede, as lousas e outros ícones das “old schools”,

cruzam-se com o design contemporâneo e com peças de mobiliário moderno, como as camas Hästens, as melhores do mundo. São treze quartos e seis suites,

parte deles com vista para a cidade e o Tejo, o restaurante “Cantina da Estrela”, um bar, salas de reuniões e auditório e o sempre apaziguador jardim.

Lisboa recebe assim e agora com mais encanto.

www.hoteldaestrela.com

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arquitectura : expo

[ NEW

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T, M

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A ]

SMALL SCALE,BIG CHANGE

ARQUITECTOS ANÓNIMOSÉ a antítese da ‘starchitecture’. A exposição Small Scale,

Big Change, no MoMA de Nova Iorque até Janeiro, olha de perto para 11

projectos de arquitectura que fazem muito, com muito pouco.

A modéstia nunca foi tão grande. A mudança nunca esteve tão perto.

POR M A D A L E N A G A L A M B A

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O OBJECTIVO DA EXPOSIÇÃO, comissariada por

Andres Lepik, curator de arquitectura do museu,

é mostrar como a arquitectura pode impulsionar

a mudança social e como os arquitectos são chamados

a confrontar as desigualdades desenvolvendo

intervenções positivas que melhorem a vida das

comunidades. Tudo – e este dado é muito importante –

sem sacrificar a estética. A escolha dos 11 projectos

reflecte essa preocupação, mostrando que é possível

conciliar o eficaz com o belo, e que a arquitectura

“social” não tem de ser fria e feia. Muito pelo contrário.

São 11 projectos espalhados pelo mundo

(dos desenvolvidos Estados Unidos às favelas brasileiras,

passando pelo Líbano, Bangladesh, Burkina Faso,

Venezuela, França e África do Sul) que revelam toda

a nobreza da arquitectura “sem pedigree”, feita por

arquitectos emergentes, mais preocupados em melhorar

a vida das pessoas que em marcá-la através de grandes

gestos espectaculares. Small Scale, Big Change mostra

como pequenos projectos independentes podem fazer

toda a diferença e como a modéstia (que pensa em

grande) é, definitivamente, uma grande virtude.

NÃO É TODOS OS DIAS que dentro das paredes

de um museu se vêem projectos de arquitectura

“anónimos”, porque o projecto – e as pessoas para quem

foi desenhado – é mais relevante para o assunto que

o arquitecto que o concebeu. Não darão aberturas de

jornais, não encherão páginas de revistas, não atrairão

às cidades peregrinos em massa para ver as novas

catedrais. Não são one-offs, como a Catedral de Brasília

ou o Guggenheim de Bilbau. Mas aquilo que lhes falta

em singularidade (faz parte da sua natureza serem

reprodutíveis, para poderem chegar a mais gente,

acompanhar a evolução da paisagem urbana, ajudar

mais pessoas) sobra-lhes em especificidade.

São projectos que respondem voluntariosa

e interventivamente ao contexto (social, económico,

político, cultural) onde nascem e que em todo o

momento são concebidos atendendo à realidade local

(dos materiais ao clima, passando pelo modo de vida

das comu ni dades). É isso que acontece em Small Scale,

Big Change, a mostra do MoMA de Nova Iorque que

reú ne 11 projectos que fazem da arquitectura uma

ferramenta para combater as desigualdades sociais.

Anna Heringer and Eike Roswag: METI – Handmade School, Rudrapur, Bangladesh, 2004–06 ©Kurt Horbst

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arquitectura : expo

Diébédo Francis Kéré: Escola Primária, Gando, Burkina Faso, 1999–2001 © Simeon Duchoud/ Aga Khan

Rural Studio, Auburn University: $20K House VIII (Dave’s House), Newbern, Alabama, 2009 © Rural Studio Auburn University

© Timothy Hursley para Rural Studio

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Urban Think Tank, Metro Cable, Caracas, Venezuela 2007-2010©Iwan Baan

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”A ESCOLHA DOS 11 PROJECTOSREFLECTEUMA PREOCUPAÇÃOestética, mostrando que é possível

conciliar o eficaz com o belo,

e que a arquitectura ‘social’

não tem de ser fria e feia.”

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É intervindo em projectos locais, muitas vezes herdeiros

da arquitectura vernacular (mas não necessariamente),

muitas vezes erguidos pelas próprias comunidades

que os vão habitar, com materiais ao alcance das mãos

que os erguem, facilmente construídos e copiados

(reproduzidos), que estes arquitectos provocam

a mudança, dando às pessoas meios poderosos para

melhorar as condições sociais em que vivem.

São projectos “radicalmente pragmáticos” que incluem

escolas, centros comunitários, habitação social,

e intervenções de infraestrutura onde o papel

do arquitecto, a sua capacidade de acção e intervenção

e a sua responsabilidade são reequacionados.

Feitos para as comunidades e pelas comunidades,

estes projectos são soluções reais que resolvem

os problemas das pessoas. As que vivem numa favela

segregada pelo mundo, numa aldeia de terra batida que

precisa de uma escola ou numa paisagem perdida

no meio da América.

DIEBEDO FRANCIS KERE: ESCOLA PRIMÁRIA, GANDO, BURKINA FASO, 1999–2001

Diébédo Francis Kéré nasceu em Gando, uma aldeia de 2500

habitantes no Burkina Faso. Ao contrário da maioria dos seus

amigos, teve a oportunidade de estudar, e fora, na Alemanha,

onde se formou em arquitectura. Quando a sua terra precisou

de uma nova escola, Kéré aplicou os seus conhecimentos

sobre métodos de construção ecológica e substituiu os materiais

industriais (caros), como o betão e o aço, por sabedoria local.

A escola foi construída pela comunidade com os tradicionais

tijolos de lama da região. Um grande telhado, que protege

as paredes da chuva e do calor, é espaçado do tecto

para facilitar a circulação do ar.

ANNA HERINGER AND EIKE ROSWAG:METI – HANDMADE SCHOOL,

RUDRAPUR, BANGLADESH, 2004–06

A escola feita à mão em Rudrapur, no Bangladesh,

é o resultado da investigação da jovem arquitecta Anna Heringer

sobre o contexto social e económico da aldeia. Heringer fez a sua

tese de mestrado com este material, mas também uma escola

que propõe uma abordagem inovadora dos métodos e materiais

de construção tradicionais. A estrutura é sobretudo

de terra, misturada com barro, areia e palha, para maior

durabilidade. Chão de terra e paredes de bambu, num edifício

que se tornou um modelo de construção ecológica

e socialmente sustentável.

Frédéric Druot, Anne Lacaton and Jean PhilippeVassal: Transformation of Tour Bois-le- Prêtre,Paris, France, 2006–11 © Druot, Lacaton, Vassal

© Simeon Duchoud/ Aga Khan

Frédéric Druot, Anne Lacaton and Jean Philippe Vassal: Transformation of Tour Bois-le- Prêtre, Paris, France, 2006–11 © Druot, Lacaton, Vassal

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”E INTERVINDO EMPROJECTOS LOCAIS,HERDEIROS DAARQUITECTURAVERNACULARmuitas vezes erguidos pelas próprias

comunidades que os vão habitar, com

materiais ao alcance das mãos, que estes

arquitectos provocam a mudança.”

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FREDERIC DRUOT, ANNE LACATON, AND JEAN PHILIPPE VASSAL: TRANSFORMATION OF TOUR BOIS-LE- PRETRE,

PARIS, FRANCE, 2006–11

O HLM dos subúrbios franceses revisitado e humanizado, graças

à intervenção dos arquitectos Druot, Lacaton e Vassal. Em vez de

demolir estes “monstros” alienantes, erguidos na segunda

metade do século passado, os arquitectos propõem expandir

os espaços habitados e aumentar a luz natural, através de novas

estruturas exteriores (que quebram a monotonia e o anonimato

da fachada) e módulos pré-fabricados para os interiores.

RURAL STUDIO, AUBURN UNIVERSITY: $20K HOUSE VIII (DAVE’S HOUSE),

NEWBERN, ALABAMA, 2009

Fundada em 1993, a Rural Studio é uma escola satélite

da Universidade de Auburn, no Alabama, cujo objectivo é educar

o “cidadão arquitecto”, isto é, ensinar aos estudantes

as responsabilidades éticas e sociais da profissão, tanto quanto

os conhecimentos técnicos, e pô-los em prática. Por exemplo,

com o projecto 20$K House, que representa a possibilidade de

as populações desfavorecidas de Hale County (Alabama), muitas

vezes a viver em roulottes por falta de recursos, possam ter umacasa (com um custo inferior a 20 mil dólares). Para este projecto

foram desenvolvidas 9 casas, mas em 2009, chegou-se a um

protótipo. A casa, assente sobre pilares e inspirada nas

construções locais, é aberta no interior, com excepção de duas

divisões: a casa de banho e o quarto. A primeira casa, construída

para o local David Thorton (daí o nome Dave's House) é um

modelo reprodutível e tornou-se o paradigma do habitação rural

de baixo custo.

URBAN THINK TANK, METRO CABLE, CARACAS, VENEZUELA 2007-2010

As montanhas que rodeiam o centro de Caracas, são há muito

povoadas pela população migrante de origem rural, que

improvisa “barrios” informais nas suas colinas e encostas.

Estima-se que 60% dos 5 milhões de habitantes da capital

venezuela vivam aí. Mas sem rede de transportes estes “barrios”

estão isolados do centro. Uma fractura, duas cidades, que o

estúdio Urban Think Tank propôs suplantar, criando um sistema

de teleférico (um intruso mínimo na malha improvisada, mas

funcional) que une dois dos “barrios” à rede de metro da cidade.

A proposta do Urban Think Tank partiu de um intenso trabalho

de campo e workshops na comunidade. e

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CULTO

COLORS COLLECTOR

HOTEL SEZZ

MÚSICA

EXPOSIÇÕES

LIVROS

SNEAK PREVIEW

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design :: projecto

(EXTRA)ORDINARY PEOPLE

C O L O R S C O L L E C T O R ,

ED IÇÃO ESPEC IAL 2 0 º AN I VERSÁR IO

São histórias extraordinárias de pessoas comuns. Adoradores anónimos de coisas banais, unidos pela paixão

pelos objectos e o fervor em coleccioná-los. Estetas, quixotescos, alucinados, vivem rodeados de domésticas e quotidianas

“peças de museu”. Podemos conhecê-los no número especial da revista COLORS, que assinala o 20º aniversário da

publicação do grupo Benetton. Uma edição de coleccionador, recheada de histórias de coleccionadores. Para guardar.

TEXTO M A D A L E N A G A L A M B AFOTOS C O L O R S

Ao leme do navio estava Sam Baron, o director criativo

da Fabrica, que nem sequer é o responsável directo

pelos projectos editoriais, mas que aqui abriu uma

excepção. “Queria que esta edição fosse 'memorável',

até em termos de peso, que ficasse entre uma revista

e um livro, e que se transformasse num objecto para

guardar”, explica Sam Baron. Por isso, em vez da

tradicional capa com uma fotografia, optou-se pela

solenidade do preto, interrompida pelas letras gravadas

a ouro e prata que permitem a leitura das palavras

“Colors” e “Collector”. Mesmo antes de abrirmos

a revista, está tudo dito: é uma collector's. Lá dentro,

a saga continua, papel brilhante de 150g para os

retratos (narrados e fotografados) dos coleccionadores,

um papel mais fino para os textos críticos de

enquadramento (a cargo de Pierre Doze, Cristina

Morozzi, Hirokuni Kanki e Marco Romanelli), mais

a “bonus track” gráfica, uma série de postais recortáveis

com fotografias do inimitável Martin Parr à volta, claro

está, de “collectibles”. E os conteúdos? “A ideia era

pensar o design como uma chave ou um filtro para

descobrir todas estas histórias incríveis”, continua Sam

Baron. Por isso, podemos perder-nos entre árvores

miniatura, autocolantes de bananas, sacos de plástico,

colheres e torradeiras.

PAUZINHOS DE COCKTAIL e dinossauros em

tamanho real. É para estas diferenças de escala que

temos de estar preparados quando folheamos o número

79 da revista Colors, a conhecida publicação do grupo

Benetton. Para estas diferenças de escala e para muito

mais, já que se trata de uma edição especial, para

coleccionadores e sobre coleccionadores, cheia

de histórias inacreditáveis. Deliciosamente “fora”,

estranhamente familiares. O número especial, que

assinala o vigésimo aniversário da publicação, está

à venda a partir de 15 de Dezembro.

A equipa da Fabrica e a sua extensa rede de

colaboradores espalhados pelo mundo (escritores

e fotógrafos e criativos em geral) não precisou de mais

de quatro semanas para pôr de pé este número de 108

páginas. Começaram a circular e-mails com o pedido

de propostas e no tempo de um mês estava feito. Quatro

semanas, foi o tempo que precisaram para seleccionar

as histórias, falar com os coleccionadores (alguns

queriam aparecer outros receavam a exposição),

fotografá-los in loco ou esperar que enviassem

exemplares das suas relíquias para que fossem

fotografados no estúdio da Fabrica,

reunir os textos, paginar...

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design :: projecto

Na página da esquerda, um número quase solitário, negro

sobre fundo branco. Na página da direita, um retrato do

coleccionador, com um objecto que, não fazendo parte da

colecção, remete para ela. O número, como a imagem,

é um teaser, que nos prepara para o que vem a seguir.

Depois descobrimos que o número não é aleatório, mas

contabiliza o número de objectos reunidos naquela

colecção (365 items, no caso da colecção de parafernália

de aviões Concorde, de Nathan Shedroff). E percebemos

que aquele pedaço de pão que um outro coleccionador

agarra é afinal o presságio da sua inclinação secreta:

colecciona torradeiras (e são lindas). Há dois ritmos de

leitura, duas tipologias: um mais rápido e imediato, ainda

que misterioso pelo que não está dito, outro mais profundo

e intenso, onde podemos mergulhar na história de cada

coleccionador. Na boa tradição Colors, os retratados têm

diferentes origens, raças, credos e religiões. Vêm de pontos

distantes do planeta só para nos mostrar que no fundo

somos todos incrivelmente parecidos.

Até no amor pelos objectos. E

A ÚNICA REGRA é que tinham de ser colecções

privadas, nunca antes exibidas ou mostradas num

contexto museológico. É o triunfo dos objectos, “super

normais ou super especiais”, baratos ou caros, low-tech

ou high-tech, invariavelmente venerados, estimados,

por quem se dá ao trabalho de os procurar, guardar

e organizar. Mas é sobretudo a celebração das histórias

de quem os colecciona. São os tesouros nossos de cada

dia, e os seus guardiões podem ter quinze anos (como

o rapaz que coleccionava aspiradores) ou várias décadas

(como a velhota romana, de 82 anos, que se autointitula

de “sereióloga” porque colecciona tudo o que se

relaciona com sereias), viver em Montreal, em Roma

ou no Porto (como o senhor das arvorezinhas).

Cada coleccionador conta a sua história. Através dos

objectos que foi recolhendo e guardando, mas também

através da narração da sua relação com eles, com

os outros, com o mundo.

Cada história (e são quase vinte) abre com um spread

enigmático, pensado para criar mistério.

”E PERCEBEMOSQUE AQUELE PEDAÇODE PÃO QUE UM outro coleccionador agarra é afinal

o presságio da sua inclinação secreta:

colecciona torradeiras.”

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[ HOTE

L SE

ZZ SAINT-TR

OPEZ

]UMA OUTRACOSTA AZULSe a Riviera Francesa podia ser ainda melhor?Claro que sim. Basta que, por entre a floresta de pinheiro manso,

surja agora o hotel Sezz Saint-Tropez.

Arquitectura e design com sentido. E direcção ao Mediterrâneo.

POR M A D A L E N A G A L A M B A

IMAGENS M A N U E L Z U B L E N A

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design :: spot

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“DEPOIS DO ÊXITO (OU ACLAMAÇÃO) DOHOTEL SEZZ EM PARIS,inaugurado em 2005, uma nova

colaboração entre o empreendedor Shahé

Kalaidjian, o arquitecto Jean-Jacques Ory,

o paisagista Christophe Ponceau

e o designer Christophe Pillet,

não poderia ter um resultado abaixo

da fasquia do sensacional.”

BLUE

DESIGN

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NÓS, OS PORTUGUESES, deveríamos ter um

problema com o pinheiro manso. Não com o pinheiro

manso em si, mas com o que cresce, com o mesmo

aroma a resina, sombra dadivosa e chão coberto de

caruma, noutro lugar que não Portugal. Principalmente,

se esse lugar for o destino de uma viagem que façamos

com o intuito de deixar para trás qualquer parecença

que possa servir de mínima referência ao lugar de onde

vimos. Destrói qualquer noção de exotismo. Serve esta

lógica, propositada e exageradamente simplista, para

que entendamos de que forma poderá uma referência

paisagística ser, simultaneamente, consubstancializada

e tornada singular pela arquitectura nela inserida.

DEPOIS DO ÊXITO (OU ACLAMAÇÃO) do Hotel

Sezz em Paris, inaugurado em 2005, uma nova

colaboração entre o empreendedor Shahé Kalaidjian,

o arquitecto Jean-Jacques Ory, o paisagista Christophe

Ponceau e o designer Christophe Pillet, não poderia ter

um resultado abaixo da fasquia do sensacional, o

provento esperado. E, mesmo para os mais descrentes,

os que poderiam imaginar uma cópia quase exacta do

estabelecimento homónimo na cidade das luzes ou, pelo

menos, nele vagamente inspirado, eis que

“surpreendente” é um epíteto que volta a assentar à

denominação Sezz como uma luva de pelica em mão

fina. Se, em Paris, o Hotel Sezz reflecte a sedução da

ambiência urbana que só a cidade das luzes pode

conceder, este projecto retira da Côte d’Azur os seus

maiores proveitos. Da leve brisa marítima (e aqui, não

há como não retornarmos aos pinheiros mansos,

majestosas sentinelas que sussurram silvos quando

sopradas pelo vento) à luz que só existe no

Mediterrâneo, do azul cobalto do mar aos campos de

lavanda perfumando o ar.

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design :: spot

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”UMA PALETA DE CORESQUE RESPEITA OS CÓDIGOS DOS ANOS 50,concede a estes interiores, de um

revivalismo bem patente, muito mais

glamour contemporâneo que qualquer

outra opção retro que, aqui,

tornaria tudo muito mais agressivo. ”

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Como uma pequena villa da Provença, a poucos

minutos de praias cénicas, o Sezz Saint-Tropez

é um complexo de edifícios de muito baixa estatura,

para que possam sempre ser implícitos pelo arvoredo,

e cujo arrojo criativo enaltece a paisagem. São 37

quartos, suites e villas espalhados em torno do coração

do projecto, onde existe uma congregadora e enorme

piscina, um lounge de ambiência contemporânea (onde

sobressai o mobiliário desenhado por Christophe Pillet,

como fazendo todo o sentido num lugar já de si perfeito)

e o edifício principal, que alberga o Dom Pérignon

Champagne bar, o restaurante Colette, com a cozinha

a cargo do Chef Pierre Gagnaire e, por fim (o final

aconselhado para uma estadia), o Spa Sezz by Payot.

TODO O MOBILIÁRIO E OBJECTOS inseridos

no Sezz Saint-Tropez são da autoria de Christophe Pillet,

um caso sério da nova geração do design de mobiliário

contemporâneo francês, para várias marcas italianas

e norte americanas. Conhecido principalmente pelas

suas cadeiras “Y” e “Sunset”, criações aclamadas

no mundo inteiro, o design de Christophe Pillet

caracteriza-se por criações onde as linhas suaves

e fluidas dão origem a uma simplicidade visual que

se insere neste contexto arquitectónico como o próprio

projecto na paisagem: de forma perfeita. Uma paleta

de cores que respeita os códigos dos anos 50, concede

a estes interiores, de um revivalismo bem patente,

muito mais glamour contemporâneo

que qualquer outra opção retro que, aqui,

tornaria tudo muito mais agressivo.

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“O HOTEL SEZZ É, PORÉM, UM GRITO,UMA PALAVRA DE ORDEM para que essa

imagem idílica, de charmosas e sensuais

figuras de lenços na cabeça, levemente

agitados pela brisa que assoma no Citröen

“boca de sapo” descapotável, não faça

parte de um passado distante.

Há nova vida no Mediterrâneo francês.”

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Apontamentos como a iluminação Mazzega e Oluce,

as casas de banho by Fantini e Boffi ou as cadeiras

by Fantini, não passam despercebidos pelo simples facto

de convidarem à demora em cada um dos espaços que,

também eles, fluem.

SAINT-TROPEZ, o encantador coração da Côte

d’Azur, ou Riviera Francesa, não perdeu o encanto que

a tornou famosa nos áureos anos do meio do século

passado. O Hotel Sezz é, porém, um grito, uma palavra

de ordem para que essa imagem idílica, de charmosas

e sensuais figuras de lenços na cabeça, levemente

agitados pela brisa que assoma no Citröen “boca

de sapo” descapotável, não faça parte de um passado

distante. Há nova vida no Mediterrâneo francês, para

além da clássica marina onde os iates de estrelas

de cinema fazem fila para entrar, muito por via desta

segunda colaboração entre hoteleiro, arquitecto

e designer. Situado em plena Route des Salins, que

respira glamour, o Sezz Saint-Tropez é feito de ar e luz.

Uma linguagem muito própria, que já tinha sido

unânime desde o Sezz Paris, mas que aqui assume toda

uma outra dimensão, onde o luxo veraneante se traduz

em pequenos nadas, como o aroma a alfazema

ou à salinidade do mar, que pode ser sentida a partir

de cada quarto. A luxuriante floresta que envolve esta

arquitectura (ou a corajosa arquitectura inserida,

de forma perfeita, nesta floresta), é um morno convite

para tudo o resto. Todos os quartos estão virados para

a piscina central ou, melhor ainda, para um jardim

privativo. E há, também, como em Paris, The Personal

Assistant Programme, para que esta seja uma

experiência verdadeiramente única. e

www.designhotels.com

www.hotelsezz.com

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design :: spot

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projecto :: design

TRÊS VEZES ESCURO,POIS CLARO!"Gostos não se discutem? Isso é que era doce!" diz, intrépido, quem não deixa

que lhe façam o ninho atrás da orelha, quanto mais no ouvido!

TEXTO N U N O M I G U E L D I A S

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Design :: Música

COISA DE ADOLESCENTE, essa de ouvir,

unicamente, aquilo que a sua tribo ou grupo de amigos

propõe. É claro que não se pode negar o peso que

os amigos, quando realmente o são, têm nas nossas

vidas. A música também. Ou não. Porque há uns anos,

quando já achava ter ouvido de tudo (hoje não me meto

nisso), recebi um "não gosto de música" bem

nas ventas, upper cut de insensibilidade tão doloroso

como corte de papel. Pautado ou não.

É claro que os gostos musicais comuns unem como

poucas coisas. Por outras palavras, mais propriamente,

nas de quem escrevia para determinado músico

português, "Não se pode amar quem não ama a mesma

canção", sendo que "canção" significa aqui "género

musical", mas foi, na altura, ao que parece, vital para

a rima. Independentemente disso, é uma frase assertiva.

Mas não é preciso gostar de tudo o que aquele que

amamos consome avidamente. Deve ser dado,

a ambos (amado e amante, portanto) a hipótese

de desbravar páginas e páginas de internet em busca

do que é do seu interesse. Ou mesmo do que poderá vir

a ser. É o que faço. Reinvindico, para mim, esse direito.

Tenho poucos mais. Até porque sou recibo verde.

Se gosto de um estilo de música que encontro num

qualquer site, do Youtube ao Vimeo, da Blogothéque

ao They Shoot Good Music Don't They, gosto ainda

mais de fazer um copy/paste do nome da banda e colar

no allmusic.com. Depois, é consultar o see also

ou similar artists. Tirando as vezes em que as decepções

já eram esperadas, há boas surpresas. Foi o caso dos

Dark Dark Dark que, daqui em diante, e por razões

óbvias (e se não forem, passo a esclarecer: a tendinite

é condição de que não quero padecer), serão

denominados apenas por DDD. E o que são, afinal,

os DDD? São um bando de nerds que, a julgar pela

aparência (óculos à totó — não como os do David

Fonseca, que já contam com uma legião de imitadores

que trataram de os vulgarizar, mas como

os das fotografias da nossa mãe nos anos 80,

que evitamos mostrar — e indumentária que parece ter

vindo dos contentores originalmente destinados

aos "pobrezinhos" de África), não saíram muito de casa

em idade disso. Até porque, a dominar, cada um deles,

mais do que um instrumento daquela forma, não

podiam. A adolescência dos três membros, Jonathan

Kaiser, Nona Marie Invie e Marshall LaCount foi

passada, suponho eu, a ensaiar piano, trompete,

clarinete, banjo, acordeão, contrabaixo, violoncelo

e mais alguns que surgem, como apontamentos

(nem que sejam fabulosos pizzicatos), na até agora curta

discografia (a primeira experiência sob forma de um EP

intitulado “Love You Bye”, o seu refinamento em forma

de disco de estreia, “Snow Magic”, o EP “Bright Bright

Bright” – que, por acaso, não figura na discografia

segundo o allmusic.com, mas eu tenho-o para

comprovar — e o mais recente “Wild Go” que, se não

os lançar para a ribalta ou, pelo menos, os resgate para

fora das trevas, temo que o mundo esteja

irremediavelmente perdido). Os DDD não têm direito

a passar nas rádios (muito menos nas portuguesas),

nem sequer ainda nos presentearam com um concerto.

E isso é impedimento para que um amigo meu mos

tivesse apresentado. Mas não é razão para que eu não

os oiça. Aquilo é bom, ponto. E venha quem vier,

que eu mostro a colecção de singles que adquiri só para

poder esfregar na cara de quem vem com o sempre

supostamente apaziguador “gostos não se discutem”! e

“MAS NÃO É PRECISOGOSTAR DE TUDO O QUE AQUELE QUEAMAMOS CONSOMEAVIDAMENTE. Deve serdado, a ambos (amado e amante,

portanto) a hipótese de desbravar

páginas e páginas de internet em busca

do que é do seu interesse”

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livros :: media

C O L L E C T I N G D E S I G N

A D A M L I N D E M A N N

L O U I S V U I T T O N :1 0 0 L E G E N D A R Y T R U N K S

P A T R I C K - L O U I S V U I T T O N , P I E R R EL E O N F O R T E E É R I C P U J A L E T - P L A A

“Aqui estamos. Tinha de acontecer.

Depois de construir tantos baús, incluindo

alguns para transportar livros, aqui está

o nosso primeiro livro sobre baús. Cem baús.”

São as primeiras palavras que se lêem

no prefácio de Patrick-Louis Vuitton, deste

livro excepcional que apresenta as mais belas

criações da Maison pioneira na indústria

do luxo, ilustrado com mais de oitocentas

fotografias. O baú-cama, o baú clássico,

a caixa de chá, o estojo de higiene, o baú

de circo, o baú de livros, a caixa de caviar,

dos primeiros e tradicionais aos mais

modernos formatos, numa edição de luxo,

com manga de tela monograma, numa

reinterpretação do padrão original de 1896,

com os autocolantes de hotel. Disponível,

em exclusivo, nas lojas Louis Vuitton. 140€

G R A P H I CI N S I D E T H E S K E T C H B O O K S O F T H EW O R L D ' S G R E A T G R A P H I C D E S I G N E R S

S T E V E N H E L L E R E L I T A T A L A R I C O

O caderno de um desenhador guarda muitos

segredos. E é um laboratório.

Traços que registam ideias, apontamentos

que contam histórias e a origem das suas

criações. Por isso este livro em formato

notebook ou vice-versa, é tão excitante.

Além de nos colocar na posição de fiéis

depositários de um trabalho íntimo,

oferece-nos o exercício de entrar na esfera

cerebral dos artistas que aqui se expõem.

Os autores Steven Heller e Lita Talarico

seleccionaram designers de renome

para mostrar os bastidores dos seus processos

criativos, dando a conhecer de que forma

os iniciam e a que técnicas recorrem.

Uns gostam de pintura, outros colhem

elementos e fazem colagens, há os que

se impõem usar sempre a mesma caneta,

os que fantasiam as suas férias ou a rotina

diária sem abandonar o traço... um périplo

fascinante por ilustrações únicas. 30€

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No site da editora folheiam-se cem páginas deste

novíssimo lançamento da Taschen.

A tentação da encomenda imediata é grande,

porque Adam Lindemann, um apaixonado

coleccionador de arte despertou para o design

quando equipou a sua casa nova e encantou-se.

Da curiosidade partiu à descoberta, juntou

à mesma mesa 32 experts na área,

e conversaram sobre design e o mercado gerado

pelo design. O resultado traduz-se num

autêntico guia que enumera as melhores peças

vintage versus edições limitadas, aponta nomes

que merecem atenção e que convém ter debaixo

de olho, seguindo obviamente o conhecimento

profundo de todos aqueles que operam nesta

área negocial: coleccionadores, concessionários,

especialistas e leiloeiros.

Trezentas páginas, a nata do design de colecção,

o gáudio para conhecedores e amadores

curiosos mas apaixonados. 30€

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COORDENADAS SOLTASIndo a Londres até meados de Janeiro, é de passar pela Spring Projects para deitar o olho

a The Crate Series, uma re-definição de funcionalidades, uma interessante reciclagem de

peças, numa provocação do Studio Makkink & Bey, bem conhecido pelas intervenções

no espaço público, no design de produto e em projectos de arquitectura. Só vendo.

Para profissionais e amantes do design de interiores, é tempo de IMM Cologne, The

International Furnishing Show. Ali se revelam tendências de futuro nos espaços

da nossa vida, que junta a si o evento Living Kitchen e muitas outras iniciativas

interessantes. Da Alemanha, da Europa e dos quatro cantos do mundo, todos trazem

as suas propostas e novidades. Jean-Michel Basquiat faria 50 anos se estivesse entre nós. Por

isso, o Musée d’Art Moderne de Paris lhe dedica uma retrospectiva sem precedentes em

França. O artista do street art, que nos deixou trágica e precocemente em 1988, amigo de Warhol e

ícone de uma geração, celebrizou o graffiti, que alcançou o status de obra de arte. Uma homenagem

a não perder. Depois do Museu Grão Vasco, em Viseu, é a vez do Museu de Aveiro receber um

conjunto de obras da Colecção da Caixa Geral de Depósitos, organizada em sete núcleos

expositivos e intitulada Linguagem e Experiência. Vários autores numa mostra que “cruza

diferentes possibilidades sobre a visibilidade engendrada pelo trabalho artístico enquanto

experiência limite de um discurso sobre o mundo”, com curadoria de Pedro Lapa (culturgest.pt).

No Hôtel de Ville de Paris a entrada é gratuita e o nome é sagrado: Andrée Putman,

a grande senhora do design francês. Uma retrospectiva do trabalho de um talento ímpar, que deu

alma e forma a projectos que fizeram história. Dos interiores do Concorde, à famosa casa-de-banho

do Hotel Morgan’s, em Nova York, à invenção do conceito de hotel-boutique... simplesmente

brilhante, obviamente obrigatória. Lisboa também se expõe ao vivo e a cores. Com a Lisbon

Walker, os passeios são a pé, curtos e guiados. Os temas, vários e interessantes. Sugerimos dois:

Arquitecturas de Lisboae Lisboa Subterrânea. O primeiro, corre três épocas que tornam

a imagem da cidade ímpar, o segundo, desce aos túneis do metropolitano, uma autêntica galeria

de arte pública, onde o azulejo expressa a alma de artistas nacionais e estrangeiros, em obras de

rara beleza. Ligue e combine.

� THE CRATE SERIES, STUDIO MAKKINK & BEY,Spring Projects, Londres, até 16 de Janeiro, www.springprojects.co.uk

� IMM COLOGNE, THE INTERNATIONAL FURNISHING SHOW,Koelnmesse (Centro de Exposições), Colónia, Alemanha, de 18 a 23 de Janeiro, www.imm-cologne.com

� BASQUIAT,Musée d’Art Moderne, Paris, até 30 de Janeiro, www.mam.paris.fr

� LINGUAGEM E EXPERIÊNCIA, OBRAS DA COLECÇÃO DA CAIXA GERAL DE DEPÓSITOS,Museu de Aveiro, de 11 de Dezembro a 13 de Fevereiro, Tel.: 234.423.297, www.ipmuseus.pt

� ANDREE PUTMAN,Hôtel de Ville, Rua de Lobau, 5, Paris, até 26 de Fevereiro, www.paris.fr

� LISBON WALKER, PASSEIOS EM LISBOAPartida da Praça do Comércio, Tel.: 218.861.840 ou 963.575.635, www.lisbonwalker.com

. . . E P ROPOMOS A LGUMAS E XPOS I ÇÕES QUE NÃO VA I QUERER P ERDER .

Expos

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lista :: contactos

PROCURE A S MARCAS QUE O I N S P I RAM . . .

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ShoppingALTAMIRAAv. 5 de Outubro, 35, Lisboa. Tel: 213154 794

AFECTO (representante)Rua Eugénio de Castro, 248, sala 144Porto. Tel: 226 003 [email protected] | www.afectodesign.com

AREAAmoreiras Shopping Center, Centro Colombo, Cascais Shopping e Norte ShoppingTel: 217 315 350, 217 112 070, 214 606 290, 229 579 500

ARTE ASSINADAPorta do mar, 3.11.09, loja 2, Tel: 218 948 047

ARTE CASARua Guerra Junqueiro, 472Porto. Tel: 226 069 973

BASTIDORRua do Passeio Alegre, 694Porto. Tel: 226 197 620

CASA COMIGOAv. da Boavista, 2881, loja 1Porto. Tel: 226 160 789

DIMENSÃOAv. da Igreja, 37A. 1700-233 LisboaTel. 217 977 604

Rua Gonçalo Cristóvão, 864000-264 Porto. Tel. 223 322 [email protected]

DOMOLargo de Santos, 1G. LisboaTel: 213 955 328. [email protected]

FLUXOGRAMARua da Garagem, 3, CarnaxideTel: 214 257 551

Rua da Constituição, 2238Porto. Tel: 228 348 [email protected]

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E O S L U G A R E S O N D E A S P O D E E N C O N T R A R . . .

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GALANTERua Rodrigo da Fonseca, 21CLisboa. Tel: 213 512 [email protected] | www.galante.pt

GANDIA BLASCORua Dr. Melo Leote, 20. PortoTel: 226 181 [email protected]

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MARISKA SNOEY (representante)Av. Almirante Pessanha 16Lisboa. Tel: 213 429 [email protected]

MUNDANO Rua Miguel Bombarda, 4624050-382 Porto, Tel.: 916 352 335

NORD Av. Infante Dom Henrique, Armazém B,Loja 6. À Bica do Sapato, LisboaTel: 218 821 045. [email protected]

OFICINAS GERAIS (representante)Rua Joaquim Dias Salgueiro 180 A4470-777 | Vila Nova da TelhaTel: 229 942 [email protected]

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Suave Sólido326 metros de feltro foram precisos para montar estas peças – cadeiras, bancos, tapetes, mesas –

criadas pela dupla Yael Mer e Shay Alkalay (Raw-Edges) e expostas na Fat Galerie, em Paris. E não

só. O segredo desta série – chamada The Coilling Collection, em alusão ao método em espiral usado

para dar forma às peças – está no material: um híbrido, uma base de feltro parcialmente embebida

em silicone. De um lado, mantém-se a suavidade da lã, do outro, o que é tocado pelo silicone, o

material endurece e torna-se estrutura. São sete peças coloridas e vibrantes para descobrir em

2011, na blue Design.

www.raw-edges.com

www.fatgalerie.com

Espreitamos pelo buraco da fechadura e mostramos-lhe o design que há-de vir. E que muito pouca gente viu.

SNEAKPREVIEW

T H E C O I L L I N G C O L L E C T I O N , Y A E L M E R & S H A Y A L K A L A Y - R A W E D G E S

BD16-SNEAK PREVIEW:BD-SNEAK PREVIEW 12/13/10 9:48 AM Page 114

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linkqwww.sograpevinhos.eu

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blue LINK (pub):Layout 1 12/29/10 1:59 PM Page 1

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linkqwww.fluxodesign.com

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blue LINK (pub):Layout 1 12/29/10 2:04 PM Page 1