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Bolsas Universidade de Lisboa / Fundao Amadeu Dias
Edio 2010/2011
Relatrio de Projecto
Nutrio e Oncologia: a investigao e seu impacto na clnica e ensino
Bolseiro(a): Carla Sousa
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa
Curso: Licenciatura em Cincias da Sade
Ano: 3
Tutor(a): Prof. Doutora Paula Ravasco
O CONTEDO DESTE RELATRIO DA EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DO AUTOR.
Agradecimentos
Finalizado este Projecto de Investigao Cientifica, no poderia deixar de expressar
os meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que me apoiaram e permitiram a
realizao deste trabalho.
Em primeiro lugar, Professora Doutora Maria Ermelinda Camilo, directora da
unidade de Nutrio e Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade
de Medicina da Universidade de Lisboa, quer permitiu a realizao do meu projecto na
referida unidade, em excelentes condies de trabalho ao longo de todo este ano lectivo.
Professora Doutora Isabel Monteiro-Grillo, directora do Servio de Radioterapia
do Hospital Santa Maria, que permitiu que assistisse s consultas de Nutrio e
recolhesse os dados para a execuo do relatrio no seu Servio.
Professora Doutora Paula Ravasco, Tutora do meu Projecto, pela competncia
cientfica, pelo conhecimento transmitido, apoio, incentivo e disponibilidade
demonstrada durante a execuo do meu projecto.
Professora Carolina Bolo-Tom, minha orientadora, pela pacincia com que
seguiu a execuo do meu projecto, pelo tempo que generosamente me dedicou, pela
sua crtica construtiva, correces e sugestes relevantes e pelos ensinamentos durante a
sua orientao.
A todo o Servio de Radioterapia, pela boa recepo e apoio que me deram sempre
que necessrio.
Filipa Oliveira e Maria Joo, pela amizade e companheirismo durante a
execuo dos nossos Projectos.
minha me, pela pacincia e pelo apoio que sempre me deu e tambm pelo amor
incondicional, fora e incentivo que sempre me transmitiu.
Ao meu namorado e minha restante famlia e amigos que me apoiaram em tudo o
que necessitei e estiveram sempre ao meu lado, com pacincia e compreenso, durante
este ano em que estive to atarefada.
Acima de tudo, gostaria de agradecer Fundao Amadeu Dias e Universidade de
Lisboa, pela atribuio da Bolsa de Investigao Cientifica que me permitiu desenvolver
este projecto.
A todos um Muito Obrigada!
NDICE
1. Enquadramento ............................................................................................................. 1
1.1. Relevncia do Projecto .......................................................................................... 1
1.2. Descrio do Projecto ............................................................................................ 2
1.3. Descrio dos locais onde foi realizado o Projecto ............................................... 3
2. Objectivos especficos ............................................................................................... 4
3. Metodologia .............................................................................................................. 5
3.1. Pesquisa bibliogrfica ............................................................................................ 5
3.2. Apresentao crtica da informao cientfica ....................................................... 5
3.3. Referncias bibliogrficas ...................................................................................... 6
3.4. Criao de um protocolo de recolha de dados ....................................................... 6
3.5. Doentes includos no estudo .................................................................................. 7
3.6. Avaliao Nutricional ............................................................................................ 7
3.7. Teraputica Nutricional ......................................................................................... 7
3.8. Recolha de dados em contexto hospitalar .............................................................. 8
3.9. Construo da base de dados em Excel .............................................................. 8
4. Resultados ................................................................................................................. 9
4.1. Aprofundamento de conhecimentos em Nutrio ................................................. 9
4.2. State of the art Nutrio em Oncologia ........................................................ 10
4.3. Estudo transversal em doentes oncolgicos ......................................................... 11
4.4. Competncias de um profissional de Nutrio .................................................... 16
4.5. Tcnicas de comunicao com o doente e familiares/cuidadores ........................ 17
5. Execuo financeira ................................................................................................ 17
6. Concluses .............................................................................................................. 18
7. Consideraes finais ................................................................................................ 20
8. Bibliografia.............................................................................................................. 21
Anexos ............................................................................................................................ 22
Anexo I State of the art Nutrio em Oncologia ............................................... 23
Anexo II Protocolo de Recolha de dados ................................................................. 31
Anexo III Classificao ndice de Massa Corporal ................................................. 33
Anexo IV Classificao Permetro da Cintura ......................................................... 34
Anexo V Classificao Percentagem de Massa Gorda ............................................ 35
Anexo VI PG-SGA .................................................................................................. 36
Anexo VII Questionrio Alimentar das ltimas 24 horas ........................................ 38
Anexo VIII Livro: Alimentao para o Doente Oncolgico ................................ 39
Anexo IX X Congresso de Nutrio e Alimentao - descrio ............................. 40
Anexo IX A - Programa do Congresso ................................................................ 43
Anexo IX B - Poster 1 .......................................................................................... 50
Anexo IX C - Poster 2 .......................................................................................... 51
Anexo IX D - Poster 3 .......................................................................................... 52
Anexo X Estudo Transversal em doentes oncolgicos do Servio de RT ............... 53
1
1. ENQUADRAMENTO
1.1. Relevncia do Projecto
Foi realizado o Projecto: Nutrio e Oncologia: a investigao e seu impacto na
clnica e ensino com grande motivao dado o interesse pessoal na rea, juntamente
com o objectivo de seguir o Mestrado em Nutrio. A rea da Investigao em Cincias
da Sade, especificamente em Nutrio Clnica, foi relevante para a formao e para
enriquecer o conhecimento dos pontos de vista cientfico, clnico e acadmico. A
importncia da Nutrio na prtica clnica foi destacada no Relatrio de Peritos
Resolution ResAP(2003)3 on food and nutritional care in hospitals 2003 do Conselho
da Europa, aprovado em Conselho de Ministros em Novembro de 2003, que teve
representao por perita portuguesa (Prof. Doutora Ermelinda Camilo - Directora da
Unidade de Investigao onde executei o meu projecto). De tal forma uma rea
prioritria e relevante, que esta mesma Resoluo foi oficialmente apresentada ao
Parlamento Europeu em Maro de 2009, o que confirma o interesse e pertinncia de
desenvolver um projecto de investigao nesta rea.
A doena oncolgica trata-se de uma doena crnica, complexa e de etiologia
multifactorial que assume importncia crescente, dada a elevada taxa de incidncia e o
seu impacto pessoal, familiar, social e econmico. Dados indicam que a incidncia
global do cancro duplicou nos ltimos 30 anos, sendo j a 2 causa de morte[1]. A
Nutrio assume um papel central nesta patologia pois verifica-se frequentemente
deteriorao nutricional de origem multifactorial, associada a pior prognstico;
adicionalmente, hoje evidncia que a Nutrio determinante na Qualidade de Vida
(QV) destes doentes, na reduo da toxicidade dos tratamentos anti-neoplsicos e na
optimizao da sua eficcia teraputica.
Uma interveno nutricional precoce e eficaz pode prevenir o estado limite da
desnutrio - a caquexia que irreversvel[2]. A caquexia neoplsica definida como:
a multifactorial syndrome with loss of skeletal muscle mass (with or without loss of fat
mass), which is not fully reserved by conventional nutritional support. Cachexia leads
to progressive functional impairment and its pathophysiology is characterized by a
negative protein and energy balance driven by a variable combination of reduced food
intake and abnormal metabolism[3]. Hoje sabe-se que, uma vez instalada a doena, 8-
2
87% dos doentes podero desenvolver desnutrio e evidncia cientfica indica a
desnutrio como a maior causa de morbilidade e de mortalidade em Oncologia[4].
Para a realizao deste projecto foi essencial um estudo aprofundado acerca da
toxicidade dos tratamentos. Existem trs tipos de tratamentos anti-neoplsicos
diferentes: Radioterapia (RT) (utiliza radiao de elevada energia), Quimioterapia (QT)
(utiliza frmacos citotxicos ou citostticos) e cirurgia. Em fases terminais aplicado o
tratamento paliativo que no tem o objectivo de curar, mas sim o intuito de melhorar a
QV dos doentes. Na RT, tratamento especfico de todos os doentes com quem contactei,
a localizao, a rea irradiada, a frequncia do fraccionamento e o facto de o tratamento
ser ou no parte de um esquema de tratamento mltiplo (combinado com QT, por
exemplo), influenciam o risco e estado nutricionais[5]. Tendo em conta que possvel
prevenir a desnutrio, o risco nutricional deve ser avaliado a partir, por exemplo, da
ferramenta MUST (Malnutrition Universal Screening Tool) de forma a identificar os
doentes em risco. Estes devem ser encaminhados para uma avaliao precoce e
peridica do estado nutricional a partir da ferramenta PG-SGA (Patient-Generated
Subjective Global Assessment), aplicada por profissional de Nutrio especializado,
para seleccionar a interveno adequada e monitorizao dos resultados.
notria a falta de conhecimentos e formao em Nutrio por parte dos
profissionais de sade. Foi por isso uma enorme motivao pessoal e cientfica poder
integrar uma equipa de profissionais de Nutrio especializados, contribuindo para a
maior sensibilizao para a Nutrio, e optimizao e humanizao dos cuidados de
sade como futura profissional de sade.
1.2. Descrio do Projecto
Tratou-se de um Projecto do Laboratrio de Nutrio/Unidade de Nutrio e
Metabolismo do Instituto de Medicina Molecular (UNM-IMM) da Faculdade de
Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL) (Coordenadora da UNM: Prof. Doutora
Maria Ermelinda Camilo) em colaborao com o Servio de Radioterapia do Hospital
Universitrio de Santa Maria-Centro Hospitalar Lisboa Norte (Directora: Prof. Doutora
Isabel Monteiro Grillo) que decorreu nas instalaes de ambos. O projecto foi
concretizado ao longo de todo o ano lectivo de 2010-2011. Foram disponibilizadas 11,5
horas por semana, entre os meses de Setembro 2010 a Julho 2011, excluindo alguns
3
perodos de exames e de frias. Foi considerado suficiente e produtivo sem prejudicar o
desempenho acadmico. O projecto decorreu em trs fases: 1 fase (Setembro a
Novembro 2010) em que foi escrito um artigo do tipo State of the art sobre o tema do
Projecto; na 2 fase (Dezembro 2010 a Maio 2011) foi criado um Projecto de
Investigao com elaborao de um protocolo de recolha de dados em Oncologia e
realizao de recolha de dados em contexto hospitalar, e na 3 fase (Junho a Julho 2011)
foi elaborado o relatrio com anlise dos dados recolhidos.
1.3. Descrio dos locais onde foi realizado o Projecto
O Laboratrio de Nutrio/Unidade de Nutrio e Metabolismo funciona com
secretariado, 3 gabinetes e 1 biblioteca/sala de reunies. A equipa de investigao inclui
a Directora da Unidade, Professora Doutora Maria Ermelinda Camilo, 4 Investigadoras
Principais: Professora Doutora Isabel Monteiro-Grillo, Professora Doutora Helena
Cortez-Pinto, Professora Doutora Paula Ravasco, e Professora Doutora Catarina Sousa
Guerreiro; 3 investigadoras: Dra Carolina Bolo-Tom, Dra. Ana Isabel Almeida e Dra.
Catarina Ferreira; 1 mdica especialista em Gastrenterologia: Dra. Mariana Machado. A
investigao realizada na Unidade incide sobre as reas de Oncologia, Radioterapia,
Nutrio e Outcomes, Nutrio e Cancro, Hepatologia, Esteatohepatite, Insulino-
resistncia, Obesidade.
O Servio de Radioterapia funciona com recepo, gabinete da Directora do
Servio, gabinetes de consulta mdica, salas de tratamento de RT externa - cada uma
com um Acelerador Linear, sala de tratamento de Braquiterapia, sala de realizao de
Tumografia Axial Computarizada (TAC) para planeamento teraputico, sala de
Consulta de Grupo, sala de Internos, gabinete de Enfermagem, gabinetes de Fsicos,
sala de Dosimetria e gabinete da Tcnica Coordenadora Isabel Diegues e Tcnica Sub-
Coordenadora Maria do Cu Raimundo, e.o.. Os recursos humanos do Servio incluem
actualmente: a Directora do Servio, que acumula tambm funes de mdica
radioterapeuta, 7 Mdicos Especialistas, 5 Mdicos Internos, 3 Tcnicos de
Radioterapia Dosimetristas, 22 Tcnicos de Radioterapia, 4 Enfermeiros, 5 Fsicos, 9
Assistentes Tcnicos, e 5 Assistentes Operacionais. Os profissionais de Nutrio,
psiclogos e assistentes sociais colaboram com o Servio diariamente.
4
2. Objectivos especficos
O presente relatrio descreve as actividades realizadas no estgio da Bolsa
Universidade de Lisboa / Fundao Amadeu Dias 2010/2011 realizado no decorrer do
3 ano da Licenciatura em Cincias da Sade. Teve como objectivo global desenvolver
e aprofundar conhecimentos na rea da Investigao em Cincias da Sade,
especificamente em Nutrio Clnica especializada em Oncologia. Foram estabelecidos
os seguintes objectivos especficos:
Integrao activa numa equipa de Investigao e Ensino na rea de Nutrio;
Pesquisa de informao em bases de dados cientficas e apresentao crtica e
objectiva da informao encontrada;
Aprendizagem das metodologias de investigao e de elaborao de artigos
cientficos internacionalmente utilizadas;
Criao e desenvolvimento de um projecto de investigao cientfica;
Contacto com equipa multidisciplinar de profissionais de sade em contexto
hospitalar e familiarizao com as competncias de um profissional de Nutrio;
Desenvolvimento e aprofundamento de conhecimentos tericos e prticos acerca
de ferramentas de avaliao nutricional e metablica em contexto hospitalar;
Familiarizao com tcnicas de comunicao adequadas e eficazes com o doente
e familiares/cuidadores.
Este Projecto foi desenvolvido como parte integrante de um Projecto de grande
dimenso, que se intitula MUST Relevncia e linhas de orientao para a prtica
clnica. Teve incio em Maro de 2008 e incluiu at agora 600 doentes oncolgicos;
pretende incluir 1000 doentes. Pretende-se obter a representao estatstica aproximada
da populao oncolgica nacional referenciada para RT. Os objectivos especficos deste
estudo so: 1) Caracterizar detalhadamente os doentes em funo da situao clnica,
por equipa multidisciplinar especializada; 2) Avaliar o risco e estado nutricionais, e o
padro de ingesto alimentar; 3) Analisar a prevalncia de malnutrio (por dfice ou
excesso) em populaes de doentes com diferentes tipos de tumores e caracterizar as
distribuies das vrias categorias de risco e estado nutricional em diferentes tipos de
tumores; 4) identificar dificuldades e/ou limitaes na implementao e prtica dos
mtodos de avaliao nutricional e de risco na rotina diria (atravs da integrao dos
vrios profissionais de sade na avaliao do risco nutricional) e identificar os
5
profissionais de sade mais indicados para uma triagem nutricional mais eficaz e activa;
5) desenvolver um protocolo de interveno nutricional, vivel e adequado realidade
do Servio. Este Projecto tem decorrido com enorme sucesso, tendo sido j publicados
dois artigos originais, elaborados a partir de dados recolhidos, num jornal cientfico
internacional de grande factor de impacto, nomeadamente The Oncologist.
3. METODOLOGIA
3.1. Pesquisa bibliogrfica em bases dados de artigos cientficos internacionais
A pesquisa de informao acerca dos temas especficos do Projecto foi realizada em
bases de dados de artigos cientficos nacionais e internacionais, tendo sido utilizados
como principais motores de busca: www.b-on.pt e www.pubmed.gov. As pesquisas
incidiram especificamente sobre temas como Caracterizao da alimentao do doente
oncolgico em tratamento; Avaliao do risco e estado nutricionais em Oncologia;
Protocolo de interveno nutricional em Oncologia; Qualidade de Vida do doente
oncolgico; Composio corporal do doente oncolgico; Impacto Nutricional em
Doentes a Realizar Radioterapia, tendo sido utilizadas nos motores de busca
determinadas palavras-chave, como: Cancer, Nutritional status, Quality of life,
Radiotherapy, PG-SGA, Ravasco, isoladas ou em associao. Dos vrios artigos
encontrados, foram criteriosamente seleccionados os mais actuais e pertinentes com o
objectivo de transmitir informao cientfica da mais elevada qualidade. Foi feita
tambm pesquisa de artigos e informao em sites como www.cancer.gov e em livros
de texto acerca da fisiopatologia do Cancro e da Nutrio aplicada a doentes
oncolgicos.
3.2. Apresentao crtica da informao cientfica existente at data
Aps essa pesquisa, teve incio a escrita de um texto de reviso bibliogrfica, com o
ttulo State of the art Nutrio em Oncologia (ver anexo I), no qual foi descrito de
forma exaustiva o estado actual do conhecimento e os estudos efectuados, na rea
especfica. Na rigorosa seleco de artigos, foram privilegiados artigos cientficos com
ensaios clnicos, devido ao facto de serem considerados artigos com um grau de
evidncia superior. Deste modo, ao longo do texto, cada artigo seleccionado foi descrito
de forma resumida, no deixando de serem referidos o nmero e tipo de doentes
6
includos, tratamento(s) aplicado(s), resultados obtidos e associaes encontradas. Nesta
apresentao foi fulcral descrever pormenorizadamente a informao encontrada com o
desafio de tornar clara e compreensvel informao cientfica inovadora dado tratar-se
de uma rea em que a investigao recente. Isto obrigou a uma leitura cuidada e a uma
escrita rigorosa, parmetros cuja exigncia tornaram esta actividade extremamente
produtiva e enriquecedora.
3.3. Referncias bibliogrficas
A escrita de artigos cientficos obedece a regras restritas que so utilizadas a nvel
internacional. O no cumprimento das mesmas compromete de forma significativa a
publicao do artigo num jornal cientfico por isso obrigatrio cumpri-las.
Consequentemente, foi importante a aprendizagem sobre como pr em prtica estas
regras. As referncias bibliogrficas foram inseridas no texto atravs do programa
EndNote que internacionalmente utilizado para este fim, e foram seguidas as regras
de Vancouver, uma vez que tambm so as normas habitualmente seguidas na escrita de
trabalhos cientficos.
3.4. Criao de um protocolo de recolha de dados
A investigao exige um trabalho rigoroso de recolha de dados por forma a que os
dados sejam comparveis e permitirem tirar concluses coerentes com a realidade
estudada. Deste modo, mandatrio criar um protocolo de recolha de dados especfico
para a populao escolhida, neste caso, doentes oncolgicos submetidos a tratamentos
de RT. Neste Projecto, foi criado um protocolo de recolha de dados individuais, pr-
concebido para posterior anlise estatstica (ver anexo II). Foram recolhidos nas
consultas e registados dados relativos ao contexto social e familiar do doente com
impacto no estado nutricional; dados clnicos da doena actual conforme informao
recolhida pela equipa mdica no perodo de tempo imediatamente anterior ao incio do
tratamento, bem como histria pregressa, e medicao actual e habitual. Foram
includos nesse protocolo alguns parmetros nutricionais como peso, altura, peso
habitual, ndice de Massa Corporal (IMC) (ver anexo III), permetro da cintura (ver
anexo IV) e percentagem de massa gorda (ver anexo V).
7
3.5. Doentes includos no estudo
Foi desenvolvido um estudo transversal, aprovado pelas Comisses de tica do
Hospital de Santa Maria e da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, que foi
desenhado com o objectivo de recolher dados numa populao de doentes oncolgicos
para posterior anlise. Os dados foram recolhidos entre Fevereiro e Junho de 2011, no
Servio de Radioterapia do Hospital de Santa Maria. Foram analisados no total 20
doentes ambulatrios de ambos os sexos. Os doentes foram includos aleatoriamente,
independentemente da localizao do tumor, tendo sido factor de excluso doentes
acamados, que no pudessem ser pesados, e doentes no colaborantes. Todos os doentes
deram o seu consentimento oral informado para participar no estudo.
3.6. Avaliao Nutricional
Para alm dos parmetros nutricionais que constavam do protocolo de recolha de
dados descrito anteriormente no ponto 3.4., foram ainda utilizadas duas ferramentas
especficas de avaliao nutricional que permitem avaliar o estado nutricional do
doente, bem como a sua ingesto nutricional. A primeira ferramenta foi o PG-SGA (ver
anexo VI) que uma ferramenta de avaliao nutricional validada para doentes
oncolgicos e que avalia parmetros nutricionais fulcrais que so influenciados de
forma determinante pelo tipo de tratamento e toxicidade decorrente do mesmo. A
segunda ferramenta foi o Dirio de Ingesto Alimentar das 24 horas anteriores (ver
anexo VII) que avalia a ingesto actual do doente. Consiste numa entrevista rigorosa e
no preenchimento de um questionrio estruturado em que o doente descreve todos os
alimentos ingeridos nas 24 horas anteriores.
3.7. Teraputica Nutricional
Aps a consulta da ficha clnica; e a entrevista e avaliao do doente para recolha de
dados e avaliaes especficas, era aconselhada a teraputica nutricional adequada.
Consistiu no aconselhamento nutricional individualizado por profissional de Nutrio
especializado, tendo sempre como base a prescrio de uma dieta teraputica baseada
em alimentos correntes, adequada s necessidades proteicas e energticas individuais e
ao estado nutricional avaliado pelo PG-SGA. O valor calrico prescrito dependia do
peso habitual do doente, antes de existir qualquer perda ponderal, desde que o peso
habitual fosse classificado como adequado. O aconselhamento nutricional era feito de
8
acordo com a dieta habitual do doente, reconhecendo padres alimentares especficos e
preferncias (questionrio das 24horas). A teraputica nutricional era prescrita por
forma a suprir as necessidades calricas e proteicas; e detalhava o tipo, quantidade e
frequncia de ingesto de alimentos e refeies, restries alimentares, aumento ou
reduo da ingesto de certos componentes da dieta. Sob superviso mdica, foram
prescritos a alguns doentes, suplementos nutricionais quando a ingesto nutricional no
era adequada. Estes suplementos eram hiperproteicos ou hipercalricos, cuja indicao
eram situaes de escassa ingesto alimentar diria em consequncia de sintomas que
dificultavam a alimentao regular. O aconselhamento nutricional (ver anexo VIII) teve
ainda em considerao a necessidade de uma ingesto adequada, a capacidade de
ingesto e absoro, existncia de sintomas decorrentes da toxicidade com impacto
nutricional da RT e/ou QT e da localizao do tumor, que possam ser modulados pela
nutrio. Foi extremamente enriquecedor poder assistir adequao da teraputica
nutricional a vrios tipos de doentes, e aprender qual o procedimento a seguir para uma
correcta interveno.
3.8. Recolha de dados em contexto hospitalar
A recolha de dados realizou-se em consultas de Nutrio, marcadas num dia de
tratamento de RT. Em primeiro lugar, era consultada a ficha clnica do doente. A
informao encontrada era cuidadosamente transcrita e complementada com inqurito
directo ao doente dos dados em falta no protocolo de recolha de dados. Seguidamente
realizava-se a avaliao nutricional atravs do PG-SGA e da avaliao de parmetros
relevantes como a percentagem de massa gorda e o permetro da cintura. Por ltimo era
feita a teraputica nutricional atravs da anlise do questionrio de alimentao das 24h
anteriores e posterior aconselhamento. Se fosse verificada necessidade de
acompanhamento nutricional era marcada uma consulta de follow-up.
3.9. Construo da base de dados em Excel
Aps a recolha de dados, o passo seguinte seria a anlise desses dados. Neste
sentido, foi elaborada uma tabela em Excel, na qual foram colocados de forma
organizada os dados obtidos nas consultas. A tabela foi dividida em seces, de acordo
com o tipo de informao recolhida, sendo que as duas principais seces da tabela
correspondiam: 1) informao recolhida atravs do protocolo de recolha de dados
9
preenchido; 2) informao recolhida atravs do PG-SGA. Cada linha da tabela
correspondia a um doente, identificados pelas iniciais do seu nome de modo a preservar
a confidencialidade dos dados, e os dados referentes a cada doente foram colocados na
linha correspondente. Deste modo foi possvel proceder anlise estatstica dos mesmos
e facilmente elaborar mdias e somatrios de cada coluna (cada coluna era
correspondente a um tipo de dado, por exemplo Idade), assim como tambm cruzar
informaes recolhidas em diferentes colunas e compar-las. A organizao dos dados
numa tabela fundamental para permitir uma anlise correcta. Deve utilizar-se a mesma
nomenclatura e, caso seja aplicvel, a mesma unidade, em cada coluna. Nalgumas
colunas necessrio agrupar os dados, como por exemplo, na coluna da localizao do
tumor. Idealmente, a base de dados deve ser preenchida num curto espao de tempo
aps a recolha de dados, permitindo assim que o investigador tenha memria do que foi
falado com o doente, das suas respostas e do objectivo das perguntas.
4. RESULTADOS
4.1. Aprofundamento de conhecimentos em Nutrio
Nos dias 12 e 13 de Maio tive a oportunidade de assistir ao X Congresso de
Nutrio e Alimentao e II Congresso Ibero-Americano de Nutrio sobre Nutrio e
Sade um desafio Global, organizado pela Associao Portuguesa de Nutricionistas
(APN), no qual foram abordados temas da rea do meu projecto (ver anexo IX). O
evento reuniu profissionais de sade de mais de 8 pases, mais de 60 oradores nacionais
e 20 oradores internacionais, e contou com 1500 participantes. Nestes dois dias tive a
possibilidade de aumentar os meus conhecimentos, abrir os meus horizontes e
aperceber-me do que est a ser feito e a ser estudado actualmente na rea da nutrio,
nos pases Ibero-Americanos. Tive tambm a possibilidade de contactar com diversas
indstrias, estudantes e profissionais presentes. Foi escrito um resumo sucinto em que
descrito, de forma cuidada e interessante, o contedo cientfico das palestras que
tiveram lugar em cada dia do Congresso, que apresento na forma de anexo a este
relatrio.
10
4.2. State of the art Nutrio em Oncologia
O texto escrito foi fruto de um trabalho de correco e melhoramento exaustivo; a
verso final foi anexada ao relatrio (ver anexo I). Em resumo, o contedo do texto
inclui alguns pontos-chave que sero referidos neste ponto. Evidncia cientfica tem
demonstrado que a doena oncolgica assume importncia crescente dado o aumento da
sua prevalncia, sendo a desnutrio no doente oncolgico um problema frequente e
multifactorial[6]. A doena e/ou os tratamentos anti-neoplsicos, aos quais est
associado um determinado risco nutricional, podem conduzir a um estado de
desnutrio, piorando o estado geral do doente e a sua Qualidade de Vida (QV). Vrias
equipas (nacionais e internacionais) tm realizado ensaios clnicos com doentes
oncolgicos com o objectivo de reunir dados concretos sobre o estado nutricional do
doente oncolgico, a sua evoluo ao longo do decurso da doena, e a sua relao com
os tratamentos anti-neoplsicos e com diferentes intervenes nutricionais, para assim
melhor avaliar os factores de risco e/ou benficos e poder combater a deteriorao do
ponto de vista nutricional. Nestes estudos, podemos salientar o facto de se ter verificado
que a morbilidade induzida pela RT comum e que, alm de comprometer o estado
nutricional e a capacidade funcional, tambm vai ter impacto na QV dos doentes[7]. Foi
tambm demonstrado que o contedo nutricional da dieta do doente, baseada em
alimentos regulares com as devidas manipulaes, e no apenas de protena e
suplementao de calorias, a chave para melhorar a funo gastrintestinal e outras
manifestaes sintomticas durante a RT e a mdio prazo[7]. As evidncias encontradas
apontam tambm para a importncia de se fazer, de forma precoce e periodicamente, a
avaliao do risco nutricional e do estado nutricional. Para tal utilizam-se
frequentemente duas ferramentas validadas: o MUST (Malnutrition Universal Screening
Tool) e o PG-SGA (Patient-Generated Subjective Global Assessment), que
demonstraram em vrios estudos serem adequadas para ser utilizadas numa avaliao
nutricional protocolada, e numa abordagem intervencionista padronizada, permitindo
uma interveno precoce que permita a preveno e teraputica da desnutrio no
cancro.
11
4.3. Estudo transversal em doentes oncolgicos
Foi elaborado um relatrio com base nos resultados do estudo transversal. Este
relatrio tem o formato de um artigo cientfico, constitudo por Introduo, Material e
Mtodos, Resultados, e Discusso e foi anexado a este relatrio (ver anexo X). Neste
ponto sero apresentados os resultados obtidos.
Caracterizao dos Doentes
Foi estudada uma amostra de 20 doentes adultos (10H:10M), com idade mdia de
6411,02 (42-80) anos, propostos para Radioterapia (RT) primria (15%, n=3),
adjuvante (45%, n=9) ou neoadjuvante (20%, n=4), combinada com quimioterapia
(70%, n=14) ou com inteno paliativa (10%, n=2). A mdia de durao da doena era
de 16,5 (6-72) meses. A distribuio dos doentes pela localizao do tumor pode ser
observada na Figura 1: o tumor da cabea e pescoo e colorectal foram os mais
frequentes (30% cada), seguido dos tumores ginecolgico, e gstrico, (15% cada) e por
ltimo os tumores do pulmo e da mama (5% cada).
Figura 1. Distribuio dos doentes, em percentagem, pela localizao do tumor.
Foi possvel verificar que 75% (n=15) dos doentes estavam sob a aco de outros
frmacos (excluindo os citotxicos), 75% (n=15) apresentavam co-morbilidades e 60%
(n=12) tinham histria familiar de doena oncolgica.
A distribuio dos doentes pelo estadio foi de 45% (n=9) de doentes no estadio I/II e
55% (n=11) doentes num estadio avanado (III/IV).
Quanto aos hbitos tabgicos, 35% (n=7) possuam hbitos anteriores e 10% (n=2)
mantinham hbitos tabgicos actualmente. Relativamente aos hbitos alcolicos, 45%
(n=9) possuam hbitos anteriores e 10% (n=2) mantinham esses hbitos alcolicos
(Figura 2).
0
10
20
30
40
Pulmo Ginecolgico Cabea e
Pescoo
Mama Gstrico Colorectal
Per
cen
tag
em d
e d
oen
tes
(%)
Localizao do tumor
12
Figura 2. Prevalncia, em percentagem, de hbitos tabgicos e alcolicos.
Estado Nutricional
O IMC permitiu a identificao de excesso de peso em 40% (n=8) dos doentes,
magreza em 5% (n=1) e um peso normal em 55% (n=11) doentes (Figura 3).
Figura 3. Distribuio dos doentes, em percentagem, por categoria de IMC.
A distribuio do IMC em funo da localizao do tumor, permitiu verificar que o
excesso de peso foi mais prevalente nos tumores colorectal e ginecolgico (Figura 4).
Figura 4. Percentagem de graus de IMC dos doentes em funo da localizao
Analisando o peso pr-doena, e distribuindo o IMC pr-doena em funo da
localizao do tumor, podemos observar que existe uma grande prevalncia de excesso
de peso pr-doena em tumores colorectal, gstrico e ginecolgico (Figura 5).
0
20
40
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Anteriores Actuais
Per
cen
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em d
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doen
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Hbitos
Tabgicos
Hbitos
Alcoolicos
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Magreza Normal Excesso de
Peso
ObesidadePer
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do
ente
s (%
)
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60%
80%
100%
Per
cen
tag
em d
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oen
tes
(%) Magreza
Peso Normal
Excesso de Peso
13
Figura 5. Percentagem de graus de IMC pr-doena dos doentes
em funo da localizao
Quanto ao permetro da cintura, foi possvel avaliar 45% (n=9) dos doentes e,
destes, 56% (n=5) apresentavam obesidade central, e 44% (n=4) possuam um permetro
da cintura normal (Figura 6).
Figura 6. Percentagem de acordo com o Permetro da Cintura
A percentagem de massa gorda foi medida em 55% (n=11) dos doentes, sendo que
45,5% (n=5) desses doentes apresentavam uma percentagem de massa gorda acima do
valor desejvel (Figura 7).
Figura 7. Percentagem de doentes de acordo com a Percentagem de massa gorda
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Per
cen
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(%)
Magreza
Peso Normal
Excesso de Peso
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Normal Obesidade Central
Per
cen
tag
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do
ente
s (%
)
0
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Normal Excesso de gordura corporalPer
cen
tag
em d
e
do
ente
s (%
)
14
A ingesto alimentar no ltimo ms estava diminuda, comparativamente com o
habitual, em 45% (n=9) dos doentes (Figura 8).
Figura 8. Alteraes da ingesto alimentar no ltimo ms vs o habitual.
Foi possvel observar que 15% (n=3) dos doentes apresentavam perda de peso 10%
(2 doentes com tumor da cabea e pescoo e 1 com tumor gstrico) nos ltimos 6
meses; e 5% (n=1) com perda de peso 5% no mesmo perodo (um doente com tumor
da cabea e pescoo). Quanto aos sintomas causados pela toxicidade dos tratamentos
verifica-se que foram reportados por 95% (n=19) dos doentes. O sintoma mais
prevalente (60%, n=12) foi a xerostomia (Figura 9) e relativamente capacidade
funcional foi possvel observar que 35% (n=7) apresentavam incapacidade severa e
apenas 20% (n=4) no apresentavam incapacidade significativa (Figura 10).
Figura 9. Percentagem de doentes de acordo com a sintomatologia
0
20
40
60
Manteve Diminuiu Aumentou
Per
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(%)
0
20
40
60
80
Per
cen
tag
em d
e d
oen
tes
(%)
15
Figura 10. Percentagem de doentes por nveis de capacidade funcional
Quanto ao tipo de interveno necessria, 5% (n=1) necessitava de
educao/orientao nutricional ao doente/famlia, 40% (n=8) necessitava de
interveno nutricional e 55% (n=11) necessitavam de interveno nutricional
obrigatria para melhorar o estado nutricional e promover o alvio sintomtico.
Relativamente avaliao feita pelo PG-SGA, verificou-se que 55% (n=11) foram
classificados como tendo um bom estado nutricional, 40% (n=8) desnutrio moderada
e 5% (n=1) desnutrio grave.
Relacionando o estado nutricional e a categoria de triagem nutricional, obtidos pelo
PG-SGA, podemos verificar que, de facto, em geral, os doentes que necessitaram de
uma interveno mais profunda eram os que apresentavam pior estado nutricional
(Figura 11).
Figura 11. Percentagem de doentes por categoria do estado nutricional (PG-SGA)
Analisando a distribuio dos doentes em funo do seu estado nutricional e da
localizao do tumor (Figura 12), possvel observar que piores estados nutricionais
esto mais frequentemente associados a tumores colorectal e tumores da cabea e
pescoo.
0%
50%
100%
Capacidade Funcional
Per
cen
tag
em d
e
do
ente
s (%
)
Incapacidade Severa
Incapacidade Moderada
Incapacidade Ligeira
Sem Incapacidade
0
2
4
6
8
Educao Modulao
sintomatica
Interveno
Obrigatria
Per
cen
tag
em d
e d
oen
tes
(%) A
B
C
16
Figura 12. PG-SGA dos doentes segundo a localizao do tumor
4.4. Competncias de um profissional de Nutrio
Ao longo deste estgio, foi constante o contacto com um profissional de Nutrio
especializado na rea da Oncologia, tanto no contexto clnico, como no contexto da
investigao e do ensino. pertinente aprender as competncias de um profissional de
Nutrio para uma melhor percepo do que poder ser o percurso profissional na rea
do Projecto. Assim, hoje em dia, est estabelecido que o nutricionista um profissional
de sade que tem como objectivo a promoo da sade e do bem-estar e a preveno e
tratamento da doena, atravs de investigao, orientao e vigilncia da alimentao e
nutrio, relativamente sua qualidade e segurana, em indivduos, ou grupos, na
comunidade ou em instituies, incluindo a avaliao do estado nutricional. Integra e
aplica os princpios derivados da biologia, fisiologia, das cincias sociais e
comportamentais, das cincias da nutrio, alimentao, gesto e comunicao. Exerce
a sua profisso de uma forma autnoma ou integrada em equipas multidisciplinares.
uma profisso em constante aperfeioamento e que implica o desenvolvimento de
diversas competncias, das quais podemos destacar: saber aplicar mtodos de recolha,
interpretao e anlise de informao acerca da ingesto alimentar, do estado
nutricional, balano energtico, composio corporal e acerca das interaces entre
alimentao e sade e doena; saber formular e aplicar teraputicas nutricionais
adequadas a situaes patolgicas e planear ementas e formas de interveno adaptadas
a indivduos ou populaes particulares; compreender a influncia dos sistemas de
produo e preparao dos alimentos; promover aces de educao e reconhecer a
legislao dos alimentos e a segurana alimentar; ser capaz de implementar projectos de
0%
20%
40%
60%
80%
100%
A B CPer
cen
tag
em d
e d
oen
tes
(%)
Categoria - PG-SGA
Cabea e Pescoo
Mama
Pulmo
Ginecolgico
Gstrico
Colorectal
17
investigao na rea de nutrio; reconhecer e aplicar princpios ticos e deontolgicos
subjacentes actividade profissional nas diversas reas; ser capaz de comunicar de
forma eficaz e apropriada sobre alimentao e nutrio; capacidade de elaborar
relatrios cientficos/tcnicos e de os apresentar de forma oral ou escrita.
4.5. Tcnicas de comunicao com o doente e familiares/cuidadores
A forma de comunicar com o doente fundamental numa consulta de Nutrio e
determinante para que a interveno nutricional seja eficaz. Para este Projecto, a
aprendizagem de tcnicas adequadas foi fundamental para ser possvel recolher dados
precisos e credveis. comum acontecer, no contexto de projectos de investigao, que
o investigador no tenha formao sobre a melhor abordagem verbal perante o doente.
Nestes casos, o doente pode sentir-se intimidado e incapaz de responder com
transparncia e descontraco s perguntas colocadas. O rigor do procedimento de
recolha ficaria assim prejudicado e a informao recolhida seria considerada invlida.
importante estabelecer empatia com o doente de modo a que este colabore durante a
consulta. necessrio ter ateno aparncia do doente e adaptar o vocabulrio e as
indicaes sempre que se justifique. Deve-se fazer primeiramente uma introduo
consulta, antes de iniciar o inqurito, e transmitir ao doente a importncia da sua
consulta de nutrio. importante mostrar simpatia e cooperao, mas sempre de uma
forma neutra, evitando mostrar surpresa, aprovao ou reprovao. essencial que se
conhea os alimentos frequentes da cultura do doente e as suas confeces habituais,
assim como fundamental estimar pores e saber utilizar auxlios visuais que
permitam ao doente indicar a quantidade ingerida. tambm til saber com quem o
doente vive e quem cozinha as refeies, de modo a que as recomendaes sejam mais
eficazes. O facto de o doente se fazer acompanhar pela pessoa que confecciona as
refeies, ou de algum com quem vive, por vezes contribui para uma recolha de dados
mais fidedigna.
5. EXECUO FINANCEIRA
Os custos incluram:
- Despesas com deslocaes, inscrio em congresso e pagamento de hotel para
apresentar os resultados do projecto em congresso na rea: 730 euros
18
- Despesas com a participao em congresso sobre a rea em que se inseriu o
projecto: 1000 euros;
- Licena de software nutricional especfico: 450 euros;
- Material informtico e de escritrio: 315 euros.
- Aparelho de bioimpednca tetrapolar para avaliao da composio corporal:
1120 euros
6. CONCLUSES
Em Oncologia, cada vez mais reconhecida, a nvel nacional e internacional, a
importncia de manter um estado nutricional adequado no decurso do perodo de
tratamento e de doena. Da que seja obrigatrio, para alm de ser um critrio de
qualidade dos cuidados de sade fornecidos por qualquer servio de
Radioterapia/Oncologia, que seja feito um screening dos doentes com o objectivo de
identificar os doentes em risco de desnutrio de forma precoce[8]. A ferramenta
MUST (Malnutrition Universal Screening Tool) pode ser utilizada para este fim; para
alm de ser rpida e simples, pode ser utilizada por qualquer profissional de sade,
desde que devidamente formado para o efeito. importante escolher ferramentas
porque o uso de diferentes critrios leva identificao dos doentes de forma diferente,
o que pode conduzir a decises e intervenes nutricionais diferentes[8] e impossibilitar
a reprodutibilidade e a comparao dos resultados obtidos. Assim, importante escolher
uma ferramenta de aplicao fcil, rpida, de baixo custo e com resultados
reprodutveis[9], como o MUST. Uma vez feito o screening dos doentes, aqueles que
esto em risco, sero encaminhados para uma avaliao do estado nutricional e
interveno nutricional adequada, por profissional de Nutrio especializado. O PG-
SGA, ferramenta utilizada neste Projecto, adequado para esta avaliao porque um
mtodo internacionalmente validado especificamente para doentes oncolgicos.
Vrios estudos realam a relevncia clnica de aspectos nutricionais que exigem
aconselhamento/educao dietticos precoces para a manuteno/melhoria da ingesto e
estado nutricionais, bem como da QV dos doentes[10]. Esta interveno nutricional tem
de ser personalizada, tendo em conta o estado nutricional do doente, a toxicidade do
tratamento que est a realizar e a influncia que tem nos sintomas e nas necessidades
dirias de ingesto do doente[2]. Evidncia cientfica indica que uma educao e um
19
aconselhamento nutricional individualizado do doente so eficazes na manuteno e na
melhoria da ingesto nutricional, bem como na manuteno de um estado nutricional
adequado e melhoram o estado geral do doente[11]. Da mesma forma, ensaios clnicos
demonstram que, atravs de um aconselhamento nutricional individualizado durante a
RT, o tipo de interveno mais eficaz, garantido uma dieta adequada que capaz de
prevenir o risco de deteriorao nutricional decorrente da toxicidade do tratamento de
RT[7].
Para ser possvel uma identificao precoce dos doentes oncolgicos em risco, ser
necessrio que todos os profissionais de sade envolvidos no tratamento
multidisciplinar do doente tenham formao em Nutrio que lhes permita utilizar uma
ferramenta de avaliao do risco de forma correcta[2]. Deste modo, seria importante
promover a integrao de Ferramentas de Rastreio como o MUST em servios como o
de RT, pois assim poderamos ter mais profissionais de sade, que contactam
diariamente com os doentes, atentos a uma identificao precoce de risco nutricional, o
que poderia ser uma mais-valia para os utentes[12], pois possibilita uma identificao
precoce e permite uma melhor interveno e acompanhamento durante a progresso e o
tratamento da doena visando a diminuio da morbilidade e a melhoria da QV dos
doentes.
Recentemente, tem sido realada a necessidade de uma equipa multidisciplinar
(oncologista, nutricionista, enfermeiro, psiclogo) para a manuteno de uma QV
adequada em doentes oncolgicos. necessrio que os oncologistas compartilhem o seu
trabalho com especialistas de outras reas, e que os especialistas de outras reas, como
os nutricionistas, partilhem tambm o seu trabalho com os restantes profissionais de
sade. assim essencial uma equipa multidisciplinar que aborde as potenciais
necessidades de reabilitao do indivduo desde o diagnstico, abrangendo a teraputica
analgsica, o suporte nutricional, o suporte psicossocial, a optimizao da capacidade
funcional, entre outros[2].
20
7. CONSIDERAES FINAIS
Considero que o Projecto decorreu de forma extremamente satisfatria, na medida
em que foram cumpridos, com sucesso e de forma produtiva, os objectivos propostos.
Ao longo do desenvolvimento deste Projecto, foi possvel desenvolver capacidades que
so fundamentais para o meu futuro como estudante e como profissional. Alm da
contribuio para o meu conhecimento terico e prtico, que adquiri na rea de
Investigao em Cincias da Sade, mais especificamente em Nutrio Clnica
especializada em Oncologia, tambm adquiri competncias de comunicao com os
doentes; competncias de trabalho integrado numa rotina clnica e no ambiente
profissional do hospital, e numa equipa de investigao. Ao longo deste ano desenvolvi
a minha auto-organizao e o meu auto-estudo, o que ter grande impacto positivo no
meu futuro percurso profissional.
O facto de ter tido a oportunidade de integrar numa equipa multidisciplinar de
excelncia e tambm de contactar com doentes e seus familiares foi uma experincia
deveras enriquecedora, tanto no contexto pessoal como no contexto clnico, sendo que
serei uma futura profissional de sade. Este projecto foi francamente importante para a
minha formao pessoal e acadmica e deu-me a oportunidade de desenvolver a minha
autonomia e o meu conhecimento a nvel cientfico, clnico e acadmico.
21
8. BIBLIOGRAFIA
1. World Health Organization (WHO) [cited 2011 Jun 2] Avaiable from:
http://www.who.int/en/.
2. Santarpia L, Contaldo F and Pasanisi F, Nutritional screening and early
treatment of malnutrition in cancer patients. Journal of Cachexia, Sarcopenia and
Muscle: 1-9.
3. Fearon K, Strasser F, Anker SD, Bosaeus I, Bruera E, Fainsinger RL, et al.,
Definition and classification of cancer cachexia: an international consensus. The
Lancet Oncology.
4. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Vidal PM and Camilo ME, Nutritional
deterioration in cancer: the role of disease and diet. Clin Oncol (R Coll Radiol),
2003. 15(8): 443-50.
5. Ottery FD, Definition of standardized nutritional assessment and interventional
pathways in oncology. Nutrition, 1996. 12(1 Suppl): S15-9.
6. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Vidal PM and Camilo ME, Dietary counseling
improves patient outcomes: a prospective, randomized, controlled trial in
colorectal cancer patients undergoing radiotherapy. J Clin Oncol, 2005. 23(7):
1431-8.
7. Stratton RJ, Hackston A, Longmore D, Dixon R, Price S, Stroud M, et al.,
Malnutrition in hospital outpatients and inpatients: prevalence, concurrent
validity and ease of use of the 'malnutrition universal screening tool' ('MUST')
for adults. Br J Nutr, 2004. 92(5): 799-808.
8. Prez LM, Valoracon del estado nutritional del doente oncolgico. Rev Oncol,
2004. 6(1): 11-18.
9. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Marques Vidal P and Camilo ME, [Quality of life
in gastrointestinal cancer: what is the impact of nutrition?]. Acta Med Port,
2006. 19(3): 189-96.
10. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Vidal PM and Camilo ME, Cancer: disease and
nutrition are key determinants of patients' quality of life. Support Care Cancer,
2004. 12(4): 246-52.
11. Boleo-Tome C, Chaves M, Monteiro-Grillo I, Camilo M and Ravasco P,
Teaching Nutrition Integration: MUST Screening in Cancer. The Oncologist:
theoncologist. 2010-0203v1.
http://www.who.int/en/
22
ANEXOS
23
Anexo I
State of the art Nutrio em Oncologia
Malnutrio em Oncologia
A doena oncolgica assume importncia crescente dada a elevada taxa de
incidncia e impacto pessoal, familiar, social e econmico. As estimativas a nvel
mundial apontam para que o nmero de mortes por doena oncolgica atinja os 9
milhes de pessoas em 2015, e que ascenda aos 11,4 milhes em 2030 [13].
A malnutrio no doente oncolgico um problema frequente e multifactorial [11],
podendo ocorrer por dfice (desnutrio) ou por excesso (excesso de peso/obesidade)
que est muitas vezes associada ao sedentarismo. A desnutrio pode ser consequncia
directa da doena e/ou dos tratamentos anti-neoplsicos, piorando o estado geral do
doente e a sua Qualidade de Vida (QV). Um artigo recente mostrou uma preocupante
prevalncia de excesso de peso/obesidade numa populao de 450 doentes oncolgicos
[14] o que aumenta o risco de doena e tem efeito negativo no prognstico. A Nutrio
tem um papel fundamental, sendo, no decurso da doena, essencial no combate
desnutrio, que se vai desenvolvendo por etapas, podendo chegar a um estado limite e
irreversvel a caquexia.
A desnutrio em Oncologia est associada ao tipo de tumor, localizao e estadio
da doena; e tambm ao tipo de tratamento anti-neoplsico (cirurgia, radioterapia (RT),
quimioterapia (QT)) e s suas consequncias nutricionais e de estado geral. O estado
limite de desnutrio a caquexia que foi descrita como estando relacionada com uma
alterao do metabolismo dos hidratos de carbono e dos lpidos, aumento da taxa
metablica e libertao de citoquinas pr-inflamatrias, reduo da absoro de
nutrientes a nvel gastrintestinal, e sintomas como disfagia, vmitos e anorexia [5].
Desta forma, a desnutrio e, em situaes limite, a caquexia, no doente oncolgico
reduz a tolerncia e/ou eficcia das teraputicas e piora o prognstico, quer se verifique
antes, durante ou aps. Sabe-se que a desnutrio pode contribuir para uma resposta
imune deficiente com o aumento do risco de infeco, o que aumenta a susceptibilidade
a complicaes ps-operatrias, diminui a capacidade funcional e, consequentemente,
aumenta o custo global dos cuidados de sade aplicados [4]. Uma vez instalada a
doena, 8-87% dos doentes podero desenvolver desnutrio [4] e evidncia cientfica
24
indica que a desnutrio a maior causa de morbilidade e de mortalidade em Oncologia
[4].
Vrios trabalhos (nacionais e internacionais) tm sido realizados com o objectivo de
reunir dados concretos sobre o estado nutricional do doente oncolgico e a sua evoluo
ao longo do decurso da doena, para assim melhor avaliar os factores de risco e/ou
benficos e poder combater a deteriorao do ponto de vista nutricional. Para obter estes
dados necessrio fazer pesquisa de informaes relevantes na histria clnica, como o
estadio da doena, e fazer uma avaliao nutricional rigorosa que inclui,
obrigatoriamente, tanto a perda de peso como os sintomas mais frequentes. Um estudo
cientfico demonstrou, aps avaliao de parmetros clnicos, do estado nutricional, do
clculo das necessidades nutricionais, da histria diettica e da alimentao actual de
205 doentes oncolgicos, uma diminuio significativa do consumo de protenas e da
ingesto em geral, acentuada nos estadios mais avanados da doena [4]. Verificou-se
tambm que, embora o local do tumor tenha uma maior influncia na gravidade de
doena, as deficincias nutricionais esto tambm associadas a uma maior gravidade e
que mudanas na dieta tm impacto e podem melhorar a resposta aos tratamentos
aplicados.
A influncia do estado e ingesto nutricional na QV de doentes com tumor
gastrintestinal (no esfago, no estmago ou no clon/recto), tendo em conta o estadio da
doena e intervenes teraputicas prvias, foi avaliada num estudo com 184 doentes
oncolgicos. Verificou-se que havia um decrscimo da ingesto calrica e proteica com
a evoluo da doena e uma correlao entre ingesto calrica e proteica com as escalas
funcionais dos doentes. A presena de desnutrio estava associada a piores escalas
funcionais (global, funo fsica, actividade, funo cognitiva, emocional e social), bem
como a alguns sintomas (como anorexia e fadiga). Em todos os doentes a capacidade
funcional foi significativamente reduzida pelo dfice da ingesto nutricional e perda
recente de peso, mas no foi afectada pelo estadio da doena. A fadiga, a anorexia, o
stress emocional, frequentes em doentes com cancro, podem ser agravados por ingesto
nutricional deficiente. De notar que, em doentes com este tipo de tumor, sintomas como
disfagia, diarreia, anorexia, vmitos e nuseas so mais frequentes e aumentam o risco
de desnutrio que, por sua vez, compromete a capacidade funcional [10].
Foram tambm realizadas estimativas da dimenso do efeito de certos factores em
determinantes da QV de 271 doentes com tumores na cabea, pescoo, esfago,
estmago ou clon/recto. Tornou-se evidente que a capacidade funcional dos doentes
25
era influenciada em 30% pela localizao do cancro, em 20% pela ingesto nutricional,
em 30% pela perda de peso e em 10% pela QT [11]. Deste modo, verifica-se que a
qualidade de vida dos doentes com cancro multifactorial e influenciada de forma
distinta pela doena, intervenes teraputicas e componentes nutricionais [10]. Embora
a localizao e o estadio da doena tenham sido identificados como determinantes major
da QV, em alguns diagnsticos o impacto da deteriorao nutricional combinada com
uma ingesto nutricional deficiente, pode assumir maior relevncia clnica [11]. Os
resultados obtidos chamam a ateno para o impacto de aspectos nutricionais, que
exigem aconselhamento/educao dietticos precoces, para a manuteno/melhoria da
ingesto e estado nutricionais, bem como da QV dos doentes [10].
Toxicidade dos tratamentos
Os tratamentos anti-neoplsicos visam eliminar as clulas cancergenas e, para tal,
tm de ser bastante txicos. No entanto, esta toxicidade no afecta s as clulas
tumorais, afecta tambm as clulas saudveis, provocando efeitos secundrios. Est
associado um determinado risco nutricional a cada tratamento anti-neoplsico
especfico. Um tratamento de alto risco nutricional definido como aquele em que h
um risco de 30-50% de sintomas severos de impacto nutricional [5]. Existem quatro
tipos de tratamento diferentes, com impactos nutricionais diferentes, para doentes
oncolgicos: RT, QT, cirurgia e paliativo.
Na QT utilizam-se medicamentos para destruir, parar a metastizao ou diminuir o
crescimento de clulas cancergenas. Existem vrios tipos de medicamentos anti-
cancerigenos, com propriedades diferentes, podendo alguns ser utilizados em
associao. Os efeitos secundrios variam consoante o tipo de medicamento, a
existncia ou no de associao com outros medicamentos ou outros tratamentos e com
o ciclo de tratamento, provocando muitas vezes dificuldades na ingesto e absoro
alimentar. A cirurgia consiste na remoo do tumor e de algum tecido em torno deste.
Os efeitos secundrios provocados dependem principalmente do tamanho do tumor, da
sua localizao e do tipo de operao realizada. O cansao, a dor e outros sintomas vo,
na maioria dos casos, diminuir a ingesto nutricional. O tratamento paliativo dado
com o intuito de melhorar a QV de doentes em fase terminal. O objectivo no curar,
mas sim prevenir e tratar, o mais rapidamente possvel, os sintomas provocados pela
doena, os efeitos secundrios dos tratamentos, e os problemas psicolgicos, sociais ou
espirituais relacionados com a doena. Este tratamento no provoca efeitos secundrios
26
adicionais e, como tal, apenas tende a influenciar positivamente a ingesto nutricional.
Na RT utiliza-se radiao de elevada energia para diminuir ou eliminar as clulas
cancergenas. A localizao, a rea irradiada, a frequncia do fraccionamento e o facto
de o tratamento ser ou no parte de um esquema de tratamento mltiplo (combinado
com QT, por exemplo), afectam o risco de deteriorao nutricional e de perda de peso
[5].
A morbilidade induzida pela RT (sintomas como: anorexia, nuseas, vmitos e
diarreia) comum e alm de comprometer o estado nutricional e a capacidade
funcional, tambm vai ter impacto na QV dos doentes [7]. Estudos indicam que aps a
RT mais de 90% dos doentes apresentam toxicidade [15], que os pode conduzir
desnutrio. No entanto intervenes nutricionais que ajudem os doentes a manter os
nveis ingesto de protena adequados fazem com que aproximadamente 80% dos
doentes sujeitos a RT mantenham ou recuperem o peso inicial [5], influenciando
positivamente a QV e o prognstico [15].
Foram realizados dois ensaios clnicos [7, 15] que pretenderam avaliar o efeito de
trs tipos de interveno diferentes sobre a capacidade funcional, os sintomas e a QV
global dos doentes a realizar RT (tendo sido avaliados, num estudo 111 e noutro 75
doentes oncolgicos). Foi comparado o aconselhamento nutricional e uma dieta
adaptada s necessidades de cada doente (baseada em alimentos comuns - grupo G1);
com o efeito de uma dieta normal, sem aconselhamento, em conjunto com suplementos
proteicos (grupo G2); e com o efeito de uma dieta normal, sem aconselhamento (grupo
G3). Verificou-se que os dois grupos de doentes em que houve interveno obtiveram
melhores resultados. No fim dos 3 meses de seguimento o G1 manteve os nveis de
consumo de protena, o G2 e G3 diminuram, sendo o G1 o nico que teve um impacto
significativo e duradouro. Doentes sem qualquer aconselhamento ou suplemento
nutricional necessitaram de um maior nmero de prescries, e durante mais tempo, de
antimimticos, pr-cinticos e antidiarreicos. Doentes que tomavam suplementos de
protena careceram menos de recorrer a estes medicamentos e doentes com
aconselhamento nutricional precisaram muito pouco destes medicamentos e, quando
necessitaram, foi durante menos tempo. Este estudo concluiu que suplementos orais no
so to eficazes como aconselhamento diettico individualizado com base em alimentos
regulares. Isto deve-se ao facto de as modificaes dietticas poderem modular funes
orgnicas. Entre elas, funes intestinais, tais como a motilidade, secreo de enzimas e
absoro de nutrientes, assim como uma modulao da flora gastrintestinal. Concluiu-se
27
portanto que um aconselhamento especializado ao longo do tratamento permite uma
alimentao mais equilibrada e adequada situao do doente e, consequentemente,
melhora o estado nutricional, o estado geral e a QV dos doentes. Estes estudos foram os
primeiros a demonstrar que o contedo nutricional da dieta do doente, baseada em
alimentos regulares com as devidas manipulaes, e no apenas de protena e
suplementao de calorias, a chave para melhorar a funo gastrointestinal e outras
manifestaes sintomticas durante a RT e a mdio prazo [7].
Avaliao nutricional
Muitos especialistas tm recomendado uma triagem de rotina aos doentes de modo a
identificar o risco de desnutrio. Antigamente utilizavam-se critrios variados, o que
fazia com que diferentes ferramentas identificassem diferentes tipos e diferentes
propores de indivduos como em risco. Isto pode ser confuso pois pode levar a
diferentes decises sobre a interveno nutricional, alm de dificultar a comparao da
prevalncia em diferentes patologias e diferentes grupos de doentes [8]. Para ser til na
rea da oncologia, ou em qualquer ensaio clnico, uma ferramenta de avaliao
nutricional, tem que ter os seguintes critrios: fcil de usar, eficaz, reprodutvel em
vrias situaes clnicas, capaz de identificar correctamente os doentes que necessitam
de interveno nutricional, indicar de forma clara que estes iro beneficiar com a
mesma, e ter pouca variabilidade inter-observador [5].
Em doentes oncolgicos muito importante fazer, de forma precoce e
periodicamente, a avaliao do risco nutricional (identificar doentes em risco de
desnutrio) e do estado nutricional (identificar doentes desnutridos). Para fazer esta
avaliao utilizam-se frequentemente duas ferramentas muito teis: o MUST
(Malnutrition Universal Screening Tool) e o PG-SGA (Patient-Generated Subjective
Global Assessment). O MUST foi desenvolvido para o uso multi-disciplinar pois
rpido (3-5 min.) e fcil de usar em grupos de doentes, alm de ser apropriado para uso
hospitalar. Trata-se de uma ferramenta de triagem que foi elaborada para aplicao em
todos os doentes adultos, tendo sido desenvolvida para detectar desnutrio proteico-
energetica e risco de desnutrio, utilizando critrios baseados em evidncias, e sendo
hoje recomendado para avaliar o risco nutricional em doentes oncolgicos. Os trs
componentes avaliados (ndice de Massa Corporal (IMC), perda de peso nos ltimos 3-
6 meses e efeito da doena aguda) podem reflectir a viagem do doente a partir do
passado (perda de peso), para o presente (IMC) e para o futuro (efeitos da doena
28
aguda). Cada um dos componentes pode prever de forma independente a evoluo
clnica, no entanto, os trs parmetros em conjunto so melhores preditores do resultado
final. O MUST tem validade de contedo (abrangncia da ferramenta), validade de face
(questes so relevantes finalidade do teste) e consistncia interna. Tem alguma
validade preditiva e tem excelente reprodutibilidade e concordncia com a avaliao de
desnutrio por um nutricionista. Estudo feitos sugerem que o MUST tem slida
validade em comparao com outras ferramentas utilizadas na prtica clnica [8]. A
avaliao do risco nutricional resulta de um somatrio da pontuao individual das trs
categorias supracitadas (IMC, perda de peso e efeito da doena aguda), permitindo
indicar o grau de risco de desnutrio e orientar para medidas teraputicas.
O PG-SGA uma modificao do SGA (instrumento validado para triagem de
doentes em termos de risco nutricional e necessidade nutricional mais agressiva) para
uso em doentes oncolgicos. baseado numa combinao de conhecidos indicadores de
prognstico de perda de peso e capacidade funcional, bem como aspectos clnicos, de
ingesto alimentar e presena de sintomas com impacto nutricional. Estudos
demonstraram uma grande sensibilidade e especificidade do PG-SGA, indicando um
alto desempenho e uma forte capacidade de detectar doentes desnutridos de forma
eficaz. Em doentes com cancro o PG-SGA deve ser usado em simultneo com a perda
de peso significativa pois aumenta a sensibilidade e o valor preditivo positivo. O PG-
SGA usado, em conjunto com o risco nutricional de terapia do cancro, para definir um
padro de interveno e de abordagem a doentes oncolgicos que pode ser aplicado na
prtica clnica, em protocolos, em ensaios clnicos ou em interveno nutricional.
Segundo o algoritmo da interveno nutricional ptima, a avaliao e reavaliao
peridica do risco nutricional, atravs do uso do PG-SGA, extremamente til para
adaptar e facilitar o tratamento dos sintomas e o seu impacto. Cada episdio de
deteriorao nutricional detectada implica uma mudana da forma ou da via de
interveno [5]. Esta ferramenta fcil de aplicar e no requer quaisquer investimentos
ou tcnicas de laboratrio adicionais. Classifica os doentes numa de trs categorias
diferentes (bem nutridos, suspeita de malnutrio ou moderadamente malnutridos, e
severamente malnutridos), com base na histria mdica (60%) e no exame fsico (40%)
de cada doente, permitindo uma avaliao do seu estado nutricional[16].
Foram recentemente avaliados 73 doentes com cancro gastrintestinal, no incio e no
fim do tratamento. A severidade da toxicidade do tratamento estava significativamente
associada a scores mais altos na pontuao do PG-SGA, ou seja o aumento da
29
toxicidade do tratamento correlaciona-se com o declnio do estado nutricional, o que
mensurvel atravs da utilizao do PG-SGA. Os resultados mostraram ainda que 75%
dos doentes perdeu peso durante a RT e que a deteriorao do estado nutricional estava
associada a piores resultados do tratamento, a curto prazo, nomeadamente interrupes
no-programadas do tratamento [17]. pertinente referir outro estudo que incluiu 60
doentes oncolgicos e avaliaram o estado nutricional e a QV, no incio e no fim do
tratamento. Os resultados demonstraram uma correlao significativa entre alteraes na
pontuao da QV e alteraes na pontuao do PG-SGA, aps 4 semanas de RT.
Concluiu-se que o PG-SGA, alm de ser uma boa ferramenta para a identificao de
desnutrio em doentes com cancro que estejam a realizar RT, pode ser utilizado para
prever o impacto deste tratamento na QV [18].
Nestes estudos, foi clara a evidncia de que importante manter o peso e o estado
nutricional adequado do doente durante a RT uma vez que estes factores podem
influenciar a ocorrncia de toxicidade durante o tratamento. Tendo em conta que
possvel prevenir e intervir para tratar a perda de peso e a desnutrio, o prognstico do
doente pode ser optimizado se o estado nutricional for devidamente monitorizado e
adaptado durante o mesmo [17]. A utilizao de uma avaliao nutricional protocolada,
de ferramentas e de uma abordagem intervencionista padronizada, permite uma
abordagem pr-activa, e no reactiva, para a preveno e teraputica da desnutrio no
cancro. Esta abordagem adequada tanto a cuidados gerais do doente, como protocolos
de grupo e ensaios clnicos de interveno nutricional [5].
Referncias
1. WHO. Disease Burden. 2009; Available from: http://www.who.int].
2. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Vidal PM and Camilo ME, Cancer: disease and
nutrition are key determinants of patients' quality of life. Support Care Cancer,
2004. 12(4): 246-52.
3. Ramos Chaves M, Boleo-Tome C, Monteiro-Grillo I, Camilo M and Ravasco P,
The diversity of nutritional status in cancer: new insights. Oncologist. 15(5):
523-30.
4. Ottery FD, Definition of standardized nutritional assessment and interventional
pathways in oncology. Nutrition, 1996. 12(1 Suppl): S15-9.
http://www.who.int]/
30
5. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Vidal PM and Camilo ME, Nutritional
deterioration in cancer: the role of disease and diet. Clin Oncol (R Coll Radiol),
2003. 15(8): 443-50.
6. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Marques Vidal P and Camilo ME, [Quality of life
in gastrointestinal cancer: what is the impact of nutrition?]. Acta Med Port,
2006. 19(3): 189-96.
7. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Vidal PM and Camilo ME, Dietary counseling
improves patient outcomes: a prospective, randomized, controlled trial in
colorectal cancer patients undergoing radiotherapy. J Clin Oncol, 2005. 23(7):
1431-8.
8. Ravasco P, Monteiro-Grillo I, Marques Vidal P and Camilo ME, Impact of
nutrition on outcome: a prospective randomized controlled trial in patients with
head and neck cancer undergoing radiotherapy. Head Neck, 2005. 27(8): 659-68.
9. Stratton RJ, Hackston A, Longmore D, Dixon R, Price S, Stroud M, et al.,
Malnutrition in hospital outpatients and inpatients: prevalence, concurrent
validity and ease of use of the 'malnutrition universal screening tool' ('MUST')
for adults. Br J Nutr, 2004. 92(5): 799-808.
10. Bauer J and Capra S, Comparison of a malnutrition screening tool with
subjective global assessment in hospitalised patients with cancer--sensitivity and
specificity. Asia Pac J Clin Nutr, 2003. 12(3): 257-60.
11. Hill A, Kiss N, Hodgson B, Crowe TC and Walsh AD, Associations between
nutritional status, weight loss, radiotherapy treatment toxicity and treatment
outcomes in gastrointestinal cancer patients. Clin Nutr.
12. Isenring E, Bauer J and Capra S, The scored Patient-generated Subjective Global
Assessment (PG-SGA) and its association with quality of life in ambulatory
patients receiving radiotherapy. Eur J Clin Nutr, 2003. 57(2): 305-9.
31
Anexo II
HOSPITAL SANTA MARIA - SERVIO DE RADIOTERAPIA
FACULDADE DE MEDICINA DE LISBOA UNIDADE DE NUTRIO E
METABOLISMO (IMM)
ESTADO NUTRICIONAL EM RADIOTERAPIA
Data ____/ ____/ ____
Mdico RT __________________________ AL ____
Data consulta deciso ____________
Hospital ____________________________ Servio ___________________________
Mdico _____________________________________
IDENTIFICAO
Nome _____________________________________________________N _________
Data nascimento _____/ _____/ _____ Sexo (M/F) ___________ Idade ___________
Naturalidade_____________________ Telefone____________________________
Diagnstico____________________________________________________________
Histologia______________________________________________________________
Estadio_______________________________________________________________
Data de incio da doena _________________________________________________
Sintomatologia inicial_____________________________________________________
Medicao Actual _______________________________________________________
Quimioterapia Concomitante _________________ Prvia ______________________
Hormonoterapia_____________________
Braquiterapia ______________________
Profisso________________________________Reformado SIM______ NO_____
Estado Civil___________________ Vive Sozinho(a) _______ Com a famlia _______
Outra ______ Especificar _________________________________________________
Quem cozinha?_______________________________________________
Altura ___________ (cm) Peso actual__________ (kg) IMC ________ (kg/m2)
Peso pr doena ________ (kg) Peso pr radioterapia ________ (kg)
Se perda de peso, qual a razo? ____________________________________________
Hbitos Tabgicos
Anteriores S ____ N ____ Fuma h________ Parou (Data)_______ # Maos/d ______
Actuais S ____ N _____ # Maos/dia __________ # Maos/ano ____________
32
Histria familiar oncolgica
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Histria pregressa/Antecedentes pessoais
_____________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
HTA______________ Diabetes___________ Hipercolesterolmia_________________
Hemorridas________________ Depresso____________ Ansiedade______________
Histria Actual e Exames
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
Plano teraputico (QT/RT/HT)
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
33
Anexo III
Classificao ndice de Massa Corporal
WHO/NUT/NCD, Consultation on Obesity. 2000, World Health Organization: Geneva
34
Anexo IV
Classificao Permetro da Cintura
Lean, M., Pathophysiology of obesity. Proceedings of the Nutrition Society, 2000.
59(03): p. 331-336.
35
Anexo V
Classificao Percentagem de Massa Gorda
Normal Gordura Corporal
Excessiva
Homens
36
Anexo VI
37
38
Anexo VII
Ingesto Nutricional (dirio das 24 horas anteriores)
DATA ____/____/_____
HORA REFEIO
Ref:.
Horas:
Ref:.
Horas:
Ref:.
Horas:
Ref:.
Horas:
Ref:.
Horas:
Ref:.
Horas:
Bebidas no-alclicas e quantidade:__________________________________________
______________________________________________________________________
INGESTO DE LCOOL
Regular ______ Ocasional ______ Durao ________________________
Anteriores S ______ N _______ Parou (Data) ___________ Gramas/dia __________
Actuais S ______ N _______ Gramas/dia ________
Bebidas alclicas e quantidade_____________________________________________
39
Anexo VIII
Livro: Alimentao para o Doente Oncolgico
(Original disponvel para consulta em suporte papel)
40
Anexo IX
X Congresso de Nutrio e Alimentao - descrio
O X Congresso de Nutrio e Alimentao e II Congresso Ibero-Americano de
Nutrio sobre Nutrio e Sade um desafio Global realizou-se nos dias 12 e 13 de
Maio de 2011, no Centro de Congressos de Lisboa. O evento foi organizado pela
Associao Portuguesa de Nutricionistas (APN), que reuniu profissionais de sade de
mais de 8 pases, mais de 60 oradores nacionais e 20 oradores internacionais (ver anexo
A), e contou com 1500 participantes.
Das palestras apresentadas, vou referir as que considerei mais relevantes, dentro
daquelas a que assisti, pois ocorriam vrias em simultneo. Comeo por destacar, no
primeiro dia, a Conferncia Plenria Nutrition and Health a Global Challenge sobre
malnutrio mundial, que pode ocorrer tanto por excesso excesso de peso/obesidade -
como por carncia - desnutrio. Os dados apresentados evidenciam que, tanto em
pases desenvolvidos como em pases subdesenvolvidos, verifica-se um aumento da
prevalncia destes dois tipos de malnutrio. Na Conferncia Nutrio artificial O
que h de novo? foi apresentada uma reviso das novidades deste tema nos ltimos
dois anos, com apresentao das guidelines internacionais mais recentes, sobre suporte
nutricional entrico e parentrico. Por ltimo, destaco a Conferncia Plenria A
Situao de Sade em Portugal na qual o orador enumerou alguns problemas de sade
pblica de grande impacto, como o alcoolismo e suas consequncias nos acidentes de
viao, que relacionou com caractersticas da sociedade portuguesa.
No segundo dia, assisti ao Workshop Padronizao da Terminologia Associada
Prtica Clnica, no qual foi apresentada e discutida a necessidade de desenvolver um
registo documental universal de Terminologia Associada Prtica Clnica do
Nutricionista (TAPCN) e a adopo de um Modelo de Prestao de Cuidados
Nutricionais (MPCN) nacional e nico, de forma a criar um documento de consenso
relativo prtica clnica de todos os profissionais de Nutrio. Esta iniciativa, que j
est a ser desenvolvida por um grupo de trabalho da APN, contribuir para a
optimizao constante dos cuidados de sade em geral e da Nutrio em particular.
De particular relevncia para o meu Projecto da Bolsa foi a Mesa Redonda
Nutrio em Oncologia. A primeira palestra Preveno: Mitos e Factos focou a
associao de factores alimentares com o risco de doena oncolgica, que considerada
41
de etiologia multifactorial. Actualmente existe forte evidncia cientfica, apresentada no
World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research 2007, de que
alguns alimentos podem ser considerados factores de risco (ex. sal para o cancro do
estmago) ou protectores (ex. ch verde). De seguida, tive a oportunidade de assistir
palestra da minha Tutora, Professora Doutora Paula Ravasco, denominada Caquexia
Oncolgica. Foi apresentada a Definio Internacional mais recente de Caquexia,
publicada este ano de 2011, aps vrias reunies de peritos em oncologia e caquexia.
Foram explicadas as consequncias de impacto negativo que esta sndrome tem na
Qualidade de Vida (QV) do doente oncolgico, e tambm algumas das suas complexas
interaces, como alteraes metablicas ou inflamao sistmica. Saliento ainda a
referncia feita importncia de uma nutrio adequada durante a fase teraputica,
permitindo que o doente seja tratado numa abordagem multidisciplinar, baseada em
evidncia, que poder ter impacto no seu prognstico. Por ltimo, na palestra Cuidados
Paliativos Um outro olhar abordou-se a necessidade de uma interveno
nutricional integrada (nutricionista, equipa multidisciplinar, cuidado) tendo em conta a
autonomia, a expectativa e o prognostico do doente e visando maximizar a sua QV.
Foram ainda debatidas questes ticas relativamente nutrio artificial nestes doentes.
Seguidamente assisti Mesa Redonda Estratgias de Educao Alimentar na qual
foram apresentados diferentes mtodos de sensibilizao e educao alimentar, visando
consciencializar a populao das suas escolhas alimentares. Os resultados de dos
projectos implementados so positivos e evidenciam ter potencial de disseminao e
adaptao a outros determinantes de sade e realidades.
Das apresentaes orais destaco um trabalho realizado pela Unidade de Nutrio e
Metabolismo (UNM), do Instituto de Medicina Molecular (IMM), da Faculdade de
Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), na qual estou a desenvolver o meu
projecto, com o tema Da teoria prtica: avaliao de risco nutricional no doente
cirrgico, no qual foi referida a importncia da deteco precoce de doentes em risco
nutricional e se evidenciou a % de Perda de Peso nos ltimos 6 meses, o Malnutritional
Universal Screening Tool e o Nutritional Risk Screening como mtodos vlidos,
eficazes, simples e rpidos para a avaliao do risco nutricional do doente cirrgico.
Por ltimo, assisti conferncia de encerramento Globalizao dos hbitos
Alimentares, uma temtica bastante actual e relevante, sendo que tem vindo a aumentar
o risco de malnutrio devido ao facto de, por exemplo, termos acesso facilitado a
produtos produzidos industrialmente, muito baratos e pouco saudveis.
42
Dos 106 psteres apresentados destaco os 3 que foram elaborados por
investigadores da UNM do IMM, da FMUL. Estes psteres mostravam os resultados de
trs estudos realizados: um sobre Nutrio e Catarata que relao (ver anexo B) e os
outros dois relacionados com a nutrio em oncologia, sendo os temas: Profissionais
de Sade, Desnutrio e Suplementos Nutricionais em oncologia um inqurito
nacional (ver anexo C) e Desnutrio e Suplementos nutricionais em oncologia o
que sabem os cuidadores? (ver anexo D). Nestes estudos salientou-se que os
profissionais de sade reconhecem a importncia da nutrio nestes doentes e que
metade intervm activamente na promoo de uma alimentao adequada. Verificou-se
ainda a falta de conhecimento dos cuidadores acerca da alimentao, sendo necessrio
uma educao dos cuidadores relativamente importncia da nutrio. Todavia, uma
nutrio adequada por vezes implica a utilizao de suplementos nutricionais, sendo
importante a implementao de polticas de comparticipao que diminuam os custos e
aumentem a adeso dos doentes a estes suplementos, quando necessrio.
Nestes dois dias tive a possibilidade de aumentar os meus conhecimentos, abrir os
meus horizontes e aperceber-me do que est a ser feito e a ser estudado actualmente na
rea da nutrio, nos pases Ibero-Americanos. Tive tambm a possibilidade de
contactar com diversas indstrias, estudantes e profissionais presentes.
43
Anexo IX A
Programa
Quinta-feira - 12 de Maio 2011
Horrio AUDITRIO I AUDITRIO
VI+VII
AUDITRIO
VIII
Sala 1.15 Sala 0.07
9-10.30h Mesa Redonda
Nutrio no ciclo de vida
Moderadora: Elsa
Feliciano, ARS Lisboa, Vale do Tejo
Nutrio na gravidez e
crescimento Fetal
Elisabete Pinto ESBUC
Aleitamento e
desenvolvimento Infantil
Manuela Nona
Maternidade Alfredo da Costa
Nutrio e
comportamentos
Alimentares na
Adolescncia
Helena Fonseca
FMUL, HSM
Mesa Redonda
"Grandes
perdedores":
realidade e fico
no controlo do
peso
Moderador:Pedro
Graa
Coordenador da
Plataforma contra a Obesidade
Os Reality Shows
e a Obesidade
Isabel do Carmo
HSM/FMUL
Retrato da Perda
de Peso
douradora em
Portugal:
Resultados do
Registo Nacional
de Controlo do
Peso
Pedro Teixeira FMHUTL
DEBATE
Jos Camolas HSM
Isabel do Carmo
HSM/FMUL
Marlene Silva FMHUTL
Teresa Branco Clnica Metablica
Pedro Teixeira
FMHUTL
Mesa Redonda
Sustentabilidade
no sector
alimentar
Moderadora: Sara
Rodrigues
FCNAUP
Produo
Primria PAC
ps 2013:
promoo da
qualidade e
diversidade
alimentar
Francisco Avillez
Instituto Superior de Agronomia
Hotelaria e
Turismo
Promover um
turismo
sustentvel: o
nutricionista
como parceiro do
sector
Antnio Jorge
Costa IPDT
Consumidor
Final - Reduzir o
desperdcio para
reduzir o
impacto
ambiental e
custos
Lourdes Carreira
Agncia
Portuguesa do
Ambiente
Workshop
Estratgias
inovadoras no
ensino da
nutrio
Moderadora:
Ana Paula
Fernandes,
Universidade Aberta
Inovao em E-
learning
Margarida
Amaral,
UP
A importncia
dos espaos
fsicos na
aprendizagem
Pedro Leo
Neto,
FAUP
E-learning em
Alimentao
Humana
Pedro Moreira,
Vtor Hugo
Teixeira, Renata
Barros
FCNAUP
Comunicaes Orais
1 a 6
10.30-11h Intervalo para caf
11-12h Mesa Redonda
A dimenso da Fome no
Mesa Redonda
Avaliao da
Mesa Redonda
Alergias e
Workshop
Gesto dos
Comunicaes Orais
44
Mundo
Moderador: Jos Manuel
Calheiros INSA
Combater a fome no
mundo
Andrea Polo Galante,
Centro Universitrio So Camilo
Fome nos pases
desenvolvidos: que
desafios? Sofia Guiomar,
INSA
Composio
Corporal
Moderador: Pedro
Teixeira, FMHUTL
Avanos na
avaliao da
composio
corporal em
crianas
Analiza Mnica
Silva FMHUTL
Curvas de
crescimento:
possibilidades e
limitaes
Hugo de Sousa
Lopes
ISCSN/Centro de
Sade de
Felgueiras, ACES
Tmega III Vale
do Sousa Norte,
ARS Norte
intolerncias
alimentares
Moderador: Jos
Feliz ISCSEM
Alergia
alimentar no
Sculo XXI
Mrio Morais de
Almeida,
Sociedade
Portuguesa de
Alergologia e
Imunologia
Clnica