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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA PROJETO DE GRADUAÇÃO ESTUDO E PROJETO BÁSICO DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA BRUNO LORENZONI BASSETTI VITÓRIA – ES DEZEMBRO/2008

Bruno Lorenzoni Bassett i

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO TECNOLÓGICO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

PROJETO DE GRADUAÇÃO

ESTUDO E PROJETO BÁSICO DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA

BRUNO LORENZONI BASSETTI

VITÓRIA – ES DEZEMBRO/2008

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BRUNO LORENZONI BASSETTI

ESTUDO E PROJETO BÁSICO DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA

Parte manuscrita do Projeto de Graduação do aluno Bruno Lorenzoni Bassetti, apresentado ao Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo, para obtenção do grau de Engenheiro Eletricista.

VITÓRIA – ES DEZEMBRO/2008

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BRUNO LORENZONI BASSETTI

ESTUDO E PROJETO BÁSICO DE UMA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA

COMISSÃO EXAMINADORA: ___________________________________ Dr. Wilson Correia Pinto de Aragão Filho Orientador ___________________________________ MsC Leandro Matos Riani Examinador ___________________________________ Dr. Paulo José Mello Menegáz Examinador

Vitória - ES, 29, dezembro, 2008

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i

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Luiz Carlos e Marlene, por me presentearem com a vida.

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ii

AGRADECIMENTOS

A Deus, por proporcionar essa realização na minha vida.

Aos meus familiares e amigos, que dividiram comigo inúmeros momentos de

alegria e aflição durante a jornada da graduação.

Aos companheiros da ArcelorMittal Tubarão, especialmente a Leandro Matos

Riani por todo apoio.

Aos professores e funcionários do departamento de Engenharia Elétrica da

UFES.

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iii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Desenvolvimento Econômico e Planejamento Energético do ES ................ 15

Figura 2 Desenvolvimento Econômico e Planejamento Energético do ES ................ 15

Figura 3 Fluviograma da Estação 55990200 ............................................................. 20

Figura 4 Curva de Permanência da Estação 55990200 ............................................. 21

Figura 5 Curva de Permanência: Determinação da Vazão Média turbinada, QTn, em

função da vazão instalada, QLn. ............................................................................... 24

Figura 6 Curva de energia: vazão instalada versus vazão média turbinada ............... 27

Figura 7 Curva de Energia Gerada ........................................................................... 28

Figura 8 Gráfico de Seleção de Turbinas analisando Potência e Queda .................... 33

Figura 9 Turbina Kaplan ‘S’ com acoplamento do Gerador a Montante ................... 36

Figura 10 Turbina Kaplan ‘S’ com acoplamento do Gerador a Jusante ..................... 36

Figura 11 Sistema de Proteção Proposto para Máquinas Pequenas ........................... 43

Figura 12 Sistema de Proteção Sistema de Proteção Proposto para Máquinas

Pequenas com Múltiplas Máquinas .......................................................................... 43

Figura 13 Modelo no SKM do Sistema de Geração com Níveis de Curto Circuito ... 45

Figura 14 Catalogo Delmar Elos-Fusíveis ................................................................ 46

Figura 15 Folha de Seletividade ............................................................................... 48

Figura 16 Sistema de Excitação sem Escovas ........................................................... 50

Figura 17 Sistema de Excitação Estática .................................................................. 50

Figura 18 Visão parcial da barragem e vertedouro (ao fundo) .................................. 54

Figura 19 Tomada d’água (ao fundo) e Canal desareador (a direita) ......................... 55

Figura 20 Modelo de Câmara de Carga .................................................................... 58

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iv

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Classificação das PCH quanto a Potência e Queda do Projeto ................... 12

Quadro 2 Dados da Estação 55990200 ..................................................................... 18

Quadro 3 Vazões Máximas ...................................................................................... 22

Quadro 4 Pontos da Curva de Permanência .............................................................. 26

Quadro 5 Energia Gerada ......................................................................................... 28

Quadro 6 Classificação das Turbinas quanto à Trajetória da Água ........................... 31

Quadro 7 Classificação das Turbinas quanto à Transformação de Energia ............... 32

Quadro 8 Velocidade de Rotação das Turbinas ........................................................ 37

Quadro 9 Tensão do Gerador segundo sua Potência ................................................. 40

Quadro 10 Coeficientes de Rugosidade .................................................................... 57

Quadro 11 Custos percentuais médios para µCH e MCH ......................................... 62

Quadro 12 Estimativa de Despesas ........................................................................... 63

Quadro 13 Custo da Energia Gerada ........................................................................ 64

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v

GLOSSÁRIO

Velocidade Específica: Velocidade específica de um turbina é a rotação semelhante capaz de produzir a potência de 1 CV sob a queda de 1 m[14]. Cavitação: Processo de erosão (corrosão) que atinge as pás da turbina, provocado por bolhas de ar que surgem sobre as pás e que entram em colapso por efeito de variações de pressão. SIN: Sistema Interligado Nacional. Depleção: Diminuições do nível do rio ou do reservatório. Vazão média instalada: Valor de vazão na curva de permanência. Vazão média turbinada: Valor médio obtido a partir da curva de permanência de vazão a partir de certo valor de vazão instalada. µCH: Micro Central Hidrelétrica mCH: Mini Central Hidrelétrica SKM: Software desenvolvido pela empresa SKM System Analysis Inc.(www.skm.com), capaz de fazer simulações de fluxo de potência e curto circuito em Sistemas Elétricos de Potência.

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vi

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ....................................................................................................... I

AGRADECIMENTOS ............................................................................................ II

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................... III

LISTA DE QUADROS ......................................................................................... IV

GLOSSÁRIO........................................................................................................... V

SUMÁRIO ............................................................................................................. VI

RESUMO............................................................................................................ VIII

1 INTRODUÇÃO SOBRE PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS .. 9

1.1 Introdução ....................................................................................................... 9

1.2 Classificação das PCH ..................................................................................... 9

1.2.1 Centrais quanto à capacidade de regularização ....................................... 9

1.2.1.1 PCH a fio d’água ....................................................................... 9

1.2.1.2 PCH de acumulação, com regularização diária do reservatório 10

1.2.1.3 PCH de acumulação, com regularização mensal do reservatório10

1.2.2 Centrais quanto ao sistema de adução ................................................... 11

1.2.3 Centrais quanto à potência instalada e quanto à queda de projeto ......... 11

1.3 Legislação ..................................................................................................... 12

1.4 Histórico ........................................................................................................ 13

1.5 Conclusão ...................................................................................................... 15

2 ESTUDOS HIDROLÓGICOS ................................................................... 17

2.1 Introdução ..................................................................................................... 17

2.2 Estudo Fluviométrico .................................................................................... 17

2.3 Transposição de Vazões ................................................................................ 22

2.4 Estudos Hidroenergéticos .............................................................................. 23

2.5 Conclusão ...................................................................................................... 30

3 TURBINAS HIDRÁULICAS ..................................................................... 31

3.1 Introdução ..................................................................................................... 31

3.2 Classificação das Turbinas Hidráulicas .......................................................... 31

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vii

3.3 Seleção da turbina ......................................................................................... 32

3.3.1 Turbina Francis .................................................................................... 33

3.3.2 Turbina Kaplan ‘S’ ............................................................................... 35

3.4 Velocidade de Rotação .................................................................................. 36

3.5 Conclusão ...................................................................................................... 38

4 GERADOR .................................................................................................. 39

4.1 Introdução ..................................................................................................... 39

4.2 Determinação da Potência Nominal ............................................................... 39

4.3 Tensão de Geração ........................................................................................ 40

4.4 Proteção......................................................................................................... 41

4.4.1 Dimensionamento da Proteção ............................................................. 44

4.5 Sistemas de Excitação e Sincronismo ............................................................ 49

4.6 Transformadores Elevadores ......................................................................... 52

4.7 Conclusão ...................................................................................................... 52

5 PROJETOS DAS OBRAS CIVIS .............................................................. 53

5.1 Introdução ..................................................................................................... 53

5.2 Estrutura Civil ............................................................................................... 53

5.3 Conclusão ...................................................................................................... 60

6 ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DO PROJETO ............... 61

6.1 Introdução ..................................................................................................... 61

6.2 Análise de Viabilidade Econômica ................................................................ 61

6.3 Conclusões .................................................................................................... 64

7 CONCLUSÕES ........................................................................................... 65

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................... 66

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viii

RESUMO

Desenvolveram-se estudos com vista à elaboração de um projeto básico de

uma mini central geradora de energia Hidrelétrica no Rio Barra Seca, município de

Jaguaré dentro da legislação atual. Os estudos abordam a legislação, classificação e

histórico de pequenas centrais hidrelétricas, o levantamento e estudo hidrológico da

estação, aspectos técnicos relacionados às turbinas e ao gerador, além de comentários

sobre as obras civis e análise de viabilidade econômica do projeto. Também se simula

sua entrada no sistema de energia da concessionária local dimensionando-se o sistema

de proteção adequado para tal situação.

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9

1 INTRODUÇÃO SOBRE PEQUENAS CENTRAIS

HIDRELÉTRICAS

1.1 Introdução

Este capítulo traz uma pequena introdução sobre a classificação, a legislação e

o histórico das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH), ajudando assim a melhor

entender a importância que empreendimentos como o da pequena central hidrelétrica

no rio Barra Seca possuem atualmente (2008).

1.2 Classificação das PCH

1.2.1 Centrais quanto à capacidade de regularização

Pode-se classificar as Pequenas Centrais Hidroelétricas quanto à sua

capacidade de regularização do reservatório, dividindo-se essas em:

• A Fio d’Água;

• De Acumulação, com Regularização Diária do Reservatório;

• De Acumulação, com Regularização Mensal do Reservatório.

1.2.1.1 PCH a fio d’água

Esse tipo de PCH é empregado quando as vazões de estiagem do rio são iguais

ou maiores que a descarga necessária à potência a ser instalada para atender à demanda

máxima prevista. Nesse caso, despreza-se o volume do reservatório criado pela

barragem. O sistema de adução deverá ser projetado para conduzir a descarga

necessária para fornecer a potência que atenda à demanda máxima. O aproveitamento

energético local será parcial e o vertedouro funcionará na quase totalidade do tempo,

extravasando o excesso de água. Esse tipo de PCH apresenta, dentre outras, as

seguintes simplificações:

• Dispensa estudos de regularização de vazões;

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10

• Dispensa estudos de sazonalidade da carga elétrica do consumidor;

• Facilita os estudos e a concepção da tomada d’água.

No projeto:

• Não havendo flutuações significativas do nível a jusante do

reservatório, não é necessário que a tomada d’água seja projetada para

atender a depleções (diminuições) do nível a jusante;

• A adução primária será projetada através de canal aberto, e a

profundidade do mesmo deverá ser a menor possível, pois não haverá a

necessidade de atender às depleções;

• Caso exista necessidade de instalação de chaminé de equilíbrio, a sua

altura será mínima, pois o valor da depleção do reservatório, o qual

entra no cálculo dessa altura, é desprezível;

• As barragens serão, normalmente, baixas, pois têm a função apenas de

desviar a água para o circuito de adução;

• Como as áreas inundadas são pequenas, os valores despendidos com

indenizações serão reduzidos [1].

1.2.1.2 PCH de acumulação, com regularização diária do reservatório

Esse tipo de PCH é empregado quando as vazões de estiagem do rio são

inferiores à necessária para fornecer a potência para suprir a demanda máxima do

mercado consumidor e ocorrem com risco superior ao adotado no projeto [1]. Nesse

caso, o reservatório fornecerá o adicional necessário de vazão regularizada. Uma usina

desse tipo exige muitos estudos hidrológicos, sendo que alguns serão apresentados no

próximo capítulo.

1.2.1.3 PCH de acumulação, com regularização mensal do reservatório

Quando o projeto de uma PCH considera dados de vazões médias mensais no

seu dimensionamento energético, analisando as vazões de estiagem médias mensais,

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11

pressupõe-se uma regularização mensal das vazões médias mensais, promovida pelo

reservatório [1], o que exige que este possua dimensões superiores ao reservatório

necessário para regularização diária.

1.2.2 Centrais quanto ao sistema de adução

Quanto ao sistema de adução, são considerados dois tipos de PCH:

• Adução em baixa pressão com escoamento livre em canal e alta pressão

em conduto forçado;

• Adução em baixa pressão por meio de tubulação e alta pressão em

conduto forçado.

A escolha de um ou outro tipo dependerá das condições topográficas e

geológicas que apresente o local do aproveitamento, bem como de estudo econômico

comparativo. É usual a escolha do sistema de adução em canal para um sistema longo,

com baixa inclinação da encosta e as condições de fundação favoráveis, para um

sistema de adução curto, a opção por tubulação única, para os trechos de baixa e alta

pressão, deve ser estudada [1].

1.2.3 Centrais quanto à potência instalada e quanto à queda de projeto

As pequenas centrais hidrelétricas podem ser ainda classificadas quanto à

potência instalada e quanto à queda de projeto, como mostrado no Quadro 1, adiante,

considerando-se os dois parâmetros conjuntamente, uma vez que um ou outro

isoladamente não permite uma classificação adequada.

Para as centrais com altas e médias quedas, onde existe um desnível natural

elevado, a casa de força fica situada, normalmente, afastada da estrutura da barragem.

Conseqüentemente, a concepção do circuito hidráulico de adução envolve,

rotineiramente, canal ou conduto de baixa pressão com extensão longa. Para as

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12

centrais de baixa queda, todavia, a casa de força fica, normalmente, junto da barragem,

sendo a adução feita através de uma tomada d’água incorporada à barragem.

Quadro 1 Classificação das PCH quanto a Potência e Queda do Projeto

Classificação

das Centrais

Potência - P

(MW)

Queda de Projeto Hd (m)

Baixa Média Alta

Micro P<0,1 Hd<15 15<Hd<50 Hd>50

Mini 0,1<P<1 Hd<20 20<Hd<100 Hd>100

Pequena 1<P<30 Hd<25 25<Hd<130 Hd>130

Fonte : [1]

1.3 Legislação

A Constituição da República do Brasil [8], promulgada em 5 de outubro de

1988, em seu artigo 20, inciso VIII estabelece como bem da União os potenciais de

energia hidráulica. O artigo 21, no seu inciso XII, alínea b, define como sendo da

competência da União: “Explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou

permissão, os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético

dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais

hidroenergéticos”.

Existem ainda outros artigos na constituição que enfocam principalmente

temas relacionados a cursos d’água, mostrando assim a relevância do assunto, sendo

eles:

• Artigo 22, inciso IV, e parágrafo único;

• Artigo 23, incisos VI e XI; artigo 26, inciso I;

• Artigo 175, parágrafo único, e todos os incisos;

• Artigo 176, e parágrafos 1º, 3º, e 4º;

• Artigo 225, parágrafo 1°, incisos IV, e parágrafos 3º, 4º, 5º;

• Artigo 231, parágrafo 3º.

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13

Após a promulgação da Constituição, ocorreram ainda a criação de uma série

de resoluções, ementas, decretos e projetos de lei sobre a gestão dos recursos hídricos.

Entre os mais importantes podem ser citados:

• Lei 9.984, de 17 de julho de 2000

Dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas (ANA), entidade

federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação

do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

A Agência Nacional de Águas tem como missão implementar e coordenar a

gestão compartilhada e integrada dos recursos hídricos e regular o acesso à água,

promovendo o seu uso sustentável em benefício da atual e das futuras gerações [2].

• A Lei 9.648, de 27 de maio de 1998

Autoriza a dispensa de licitações para empreendimentos hidrelétricos de até 30

MW de potência instalada, para Autoprodutor e Produtor Independente.

A concessão será outorgada mediante autorização, até esse limite de potência,

desde que os empreendimentos mantenham as características de Pequena Central

Hidrelétrica.

Todas as mudanças na legislação refletem o amadurecimento do sistema

elétrico brasileiro e advêm da experiência adquirida e das restrições ambientais atuais.

1.4 Histórico

As pequenas centrais foram de grande importância durante a implantação do

sistema elétrico brasileiro, mas acabaram sendo esquecidas em torno da década de 60,

época onde houve um grande aumento na demanda. Nesse período o modelo

econômico vigente observou grandes empresas estaduais e federais incorporarem as

pequenas empresas geradoras de sistemas isolados e, estas, priorizaram as grandes

obras, começando neste momento a criar os grandes sistemas interligados [2].

Entretanto, com o decorrer dos anos, a potência instalada do país não acompanhou o

crescimento demográfico da população e a falta de planejamento e os equívocos nas

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14

gestões do setor elétrico ocasionaram as crises energéticas. Esta situação de carência

abriu espaço novamente para os pequenos projetos, como pode ser observado na

Figura 1 e na Figura 2, que apresentam as perspectivas do governo do Espírito Santo

para o setor elétrico, onde se visualizam diversos projetos de pequenas centrais, sendo

que respectivamente aparecem os projetos de PCH em construção e aprovados para

construção no estado do Espírito Santo e os em estudo de implantação.

Nesse contexto de insuficiência de geração e previsão de aumento crescente de

cargas, o sistema elétrico tenta atrair novos investimentos, principalmente privados,

para sua própria expansão e modernização. As empresas estatais foram

desverticalizadas e distribuídas de acordo com suas atividades de geração, transmissão,

distribuição e comercialização. Desenvolveu-se ainda uma grande legislação para

amparar projetos que envolvam geração sustentável de energia elétrica, principalmente

os projetos de Pequenas Centrais Hidrelétricas

Entretanto, praticamente todos esses esforços deixaram de fora as µCH e

mCH, limitando-se apenas às PCH, ficando estas tecnologias de menor porte relegadas

a segundo plano. Os marcos desse abandono foram a lei 9.648 já supracitada e a lei

10.438, de abril de 2002, que criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de

Energia Elétrica – PROINFA e estendeu os benefícios das PCH a empreendimentos de

geração eólica ou a biomassa. Ambas as leis foram grandes avanços para as fontes

renováveis de pequeno porte, contudo não criaram nenhum amparo legal para projeto

com capacidade inferior a 1000 kW, este sendo o nível de geração em que se enquadra

o projeto conforme será verificado nos próximos capítulos.

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15

Figura 1 Desenvolvimento Econômico e Planejamento Energético do ES

Fonte : [5]

Figura 2 Desenvolvimento Econômico e Planejamento Energético do ES

Fonte : [5]

1.5 Conclusão

Ao se analisar as características do Rio Barra Seca e os aspectos geográficos

da localidade escolhida, pode-se classificar o projeto como sendo uma Mini-Central

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16

Hidrelétrica, com regulação diária e com canal de adução em baixa pressão com

escoamento em canal aberto. A experiência mostra que empreendimentos de pequeno

porte como este acabam ficando restritos a comunidades isoladas, não integrantes do

sistema interligado nacional, contudo a lei 9.648 prevê que gerações maiores que 50

kW podem ser ligadas ao SIN, assim sendo, desenvolve-se o projeto, partindo

inicialmente do estudo hidrológico.

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17

2 ESTUDOS HIDROLÓGICOS

2.1 Introdução

Utilizando-se do histórico de vazões disponibilizado pela Agência Nacional de

Águas (ANA) será desenvolvida neste capítulo a curva de permanência e calculada a

vazão máxima para o projeto, criando assim condições de levantamento do potencial

elétrico do local e análise da capacidade da estrutura civil, já presente, para escoar as

vazões previstas.

2.2 Estudo Fluviométrico

A vazão em um curso d’água passa por grandes variações sazonais e

aleatórias. Por isso o seu conhecimento é imprescindível para efetuar um projeto de

sucesso. Durante um estudo hidrológico devem ser determinados diversos valores de

vazão que serão de interesse. Alguns desses valores estão relacionados com a

quantidade de energia que pode ser gerada, enquanto outros estão diretamente ligados

com a segurança, com o meio ambiente e a operação da unidade.

Os estudos de vazão do projeto em questão serão realizados utilizando os

registros históricos do posto fluviométrico 55990200 disponibilizados pela Agência

Nacional de Águas, no seu sistema de banco de dados online, HIDROWEB. Segue

abaixo o Quadro 2 com as principais informações sobre o posto fluviométrico.

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18

Quadro 2 Dados da Estação 55990200

Dados da Estação

Código 55990200

Nome São Jorge da Barra Seca

Código Adicional -

Bacia Atlântico, Trecho Leste

Sub-Bacia Rios Mucuri São Mateus,...

Rio Rio Barra Seca

Estado Espírito Santo

Município Vila Valério

Responsável ANA

Operadora CRPM

Latitude -18:50:58

Longitude -40:20:17

Altitude (m) 167

Área de Drenagem (km²) 454,5

Fonte : [7]

Postos Fluviométricos são compostos por um jogo de réguas linimétricas

(escala graduada, de madeira, de metal, ou pintada sobre uma superfície vertical de

concreto) instaladas em um local adequado de forma a obter uma relação entre o nível

d’água e a vazão, conhecida como “Curva Chave” da seção. Esta é obtida mediante a

interpolação de medições de níveis d’água e de vazões, envolvendo períodos de

estiagem e de águas altas. Os postos devem ser regularmente recalibrados, ou seja, a

sua curva chave dever ser conferida, pois podem ocorrer alterações no leito do rio que

modificam o comportamento da função que relaciona a vazão com o nível da água na

seção de medição, onde são instaladas as réguas, que são as referências de nível e os

demais equipamentos.

As informações disponibilizadas foram tratadas no software Hidro 1.0.8 [7],

também fornecido pela Agência Nacional de Águas e disponibilizado para download

Page 22: Bruno Lorenzoni Bassett i

19

no site da mesma. Este software teve início com o projeto do DNAEE de desenvolver

um sistema de banco de dados destinado a gerenciar as informações coletadas em toda

a rede hidrometeorológica nacional na década de 70. Sofreu várias evoluções até que

em 2001 desenvolveu-se o aplicativo atual, cujos principais objetivos são:

• Permitir o gerenciamento de uma base de dados hidrometeorológica,

armazenada centralizadamente em um banco de dados relacional.

• Permitir a entrada de dados por parte das entidades que operam uma

rede hidrometeorológica.

• Calcular as funções hidrometeorológicas básicas.

• Visualizar os dados (gráficos, imagens, etc.) [7].

O aplicativo permite entre suas atribuições a visualização do fluviograma, este

gráfico representa as vazões no tempo de uma determinada seção transversal de um

curso d’água. Sendo o gráfico que melhor representa, sob o aspecto visual, o

comportamento variável e aleatório das vazões passadas. A Figura 3, adiante,

apresenta o fluviograma das vazões médias mensais para os dados do posto

fluviométrico estudado no período de novembro de 2005 a abril de 2008. Os demais

gráficos também foram gerados utilizando o programa, ressaltando-se a potencialidade

do aplicativo para o desenvolvimento de análises hidroenergéticas.

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20

Figura 3 Fluviograma da Estação 55990200

O registro histórico disponibilizado possui informações diárias de Cotas e

Vazões do Posto Hidrológico desde o ano de 2001, todavia seriam suficientes somente

as médias mensais para efetuar as análises propostas.

55990200 (B

ruto

, Média

Diá

ria, 1

1/2

005 - 0

3/2

008)

2005 - 2

008

31/1

2/2

008

02/1

0/2

008

04/0

7/2

008

05/0

4/2

008

06/0

1/2

008

08/1

0/2

007

10/0

7/2

007

11/0

4/2

007

11/0

1/2

007

13/1

0/2

006

15/0

7/2

006

16/0

4/2

006

16/0

1/2

006

18/1

0/2

005

20/0

7/2

005

21/0

4/2

005

21/0

1/2

005

Vazão (m3/s) 13,5

13,0

12,5

12,0

11,5

11,0

10,5

10,0

9,5

9,0

8,5

8,0

7,5

7,0

6,5

6,0

5,5

5,0

4,5

4,0

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

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21

A próxima parte do estudo é considerada a mais importante, trata-se da

construção da curva de permanência. Esta é uma curva acumulativa de freqüência da

série temporal contínua dos valores das vazões, observadas em um posto

fluviométrico, que indica a porcentagem de tempo que um determinado valor de vazão

foi igualado ou ultrapassado durante o período de observação [15]. Ela representa de

forma compacta e elegante todos os dados históricos de vazão de um determinado

local, e é avaliada como principal informação hidrológica, pois identifica a

potencialidade natural do rio em estudo, destacando não só a vazão mínima, mas o

grau de permanência de qualquer valor de vazão. A Figura 4 apresenta a curva de

permanência gerada com auxilio do software Hidro da estação hidrológica estudada.

Figura 4 Curva de Permanência da Estação 55990200

Outro tipo de informação importante para o estudo hidrológico é a

determinação das curvas de vazões máximas para a estação. Estas podem ser

determinadas a partir de vários processos distintos, sendo que no projeto em questão

utiliza-se a distribuição de Gumbell, que é apresentada na referência [2]. Utilizando

55990200 (11/2005 - 03/2008)

Permanência (%)

10095908580757065605550454035302520151050

Vazão (

m3/s

)

10,4

9,4

8,4

7,4

6,4

5,4

4,4

3,4

2,4

1,4

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22

essa ferramenta estatística tem-se a seguinte expectativa de máximas representadas no

Quadro 3.

Quadro 3 Vazões Máximas

Tempo de Recorrência Vazão Estimada (m³/s)

10 anos 19,15

20 anos 21,34

40 anos 23,52

As curvas de vazões máximas são utilizadas para a fixação das vazões de

cheia, usadas por sua vez para o dimensionamento dos extravasores da barragem. Estes

são os elementos responsáveis pela segurança das centrais hidrelétricas. Por essa

razão, a determinação das vazões máximas deve ser feita com o maior cuidado

possível. Sugerem-se vinte ou mais anos de observação contínua e nunca menos de dez

anos consecutivos, o que infezlimente não caracteriza o caso estudado, onde detém-se

somente informações a partir de 2001, porém, relatos de moradores locais

caracterizam o ano de 2002 que é contemplado no estudo, como o ano onde

observaram-se as maiores cheias dentre os últimos 15 anos. O que diminui o nível de

erro devido à falta de informações.

As curvas de vazões mínimas também podem ser calculadas pela distribuição

de Gumbell, porém como o efeito de estiagem é muito menos danoso a estrutura da

usina que os efeitos da enchentes elas serão desprezadas no estudo.

2.3 Transposição de Vazões

A transposição de vazões é uma técnica clássica e muito usada para a

determinação das vazões de interesse de certa bacia hidrográfica onde não existem

informações suficientes, mas estão disponíveis dados para bacias próximas ou

vizinhas. A técnica parte do princípio de que se as bacias em questão possuírem (os

elementos): área de drenagem, relevo, (tipo de) solo e cobertura vegetal semelhantes,

Page 26: Bruno Lorenzoni Bassett i

23

pode-se afirmar que as mesmas têm comportamento hidrológico parecido, e a

transposição pode ser feita sem erros apreciáveis.

Para se determinar a vazão precisa do local proposto para o projeto deve-se

utilizar o fator de transposição. Porém não há informações suficientes para o cálculo

do mesmo e a aproximação não gera um erro relevante, já que o local escolhido para o

projeto e o local onde são coletados os dados possuem área de drenagem, relevo, solo

e cobertura vegetal semelhantes não existindo ainda, nenhum grande afluente entre os

pontos. Estes são inclusive próximos, já que o ponto escolhido para o projeto, embora

no município de Jaguaré, localiza-se na divisa territorial com o município de Vila

Valério e muito próximo do posto analisado pela ANA.

2.4 Estudos Hidroenergéticos

O Estudo topográfico é tão importante quando o estudo hidrológico na análise

de viabilidade do projeto, dividindo-se em várias partes que incluem a construção da

carta cartográfica, a determinação da queda bruta, o levantamento do perfil do rio, o

estudo da locação do reservatório, entre outros.

A queda, ou o desnível da central é determinado pelo estudo topográfico entre

a altura da barragem e o posicionamento da casa de máquinas. Pela definição, a queda

disponível da central é a diferença entre as cotas do nível da soleira do vertedor e do

nível da água no canal de fuga. No caso do projeto, após medição, verificou-se que o

desnível central é de 13,97 metros, valor aproximado para 14 metros nos cálculos e

que pode ser classificado como uma queda baixa.

De posse do desnível da central, necessita-se definir a vazão do projeto para se

conhecer o seu real potencial energético, para tal utiliza-se a curva de permanência

para se gerar outra curva, conhecida esta como “curva de energia”, que relaciona a

vazão instalada com a vazão média turbinada. A análise desta última curva permite se

definir a vazão ótima para o projeto e conseqüentemente o potencial energético real da

estação.

Page 27: Bruno Lorenzoni Bassett i

24

A construção da curva de energia, utiliza o método esboçado na referência 2,

este considera que a curva de permanência mostra, de forma percentual, o período que

uma determinada vazão permanece. Admitindo que um determinado valor de vazão,

QL1, é aquele correspondente à capacidade de turbinamento da central hidrelétrica, a

área sob a curva de permanência referente a esta ordenada (área do trapézio OABC na

Figura 5), é igual à vazão média turbinada referente às permanências p0 e p1.

Figura 5 Curva de Permanência: Determinação da Vazão Média turbinada, QTn, em função da vazão instalada, QLn.

A área sob o primeiro trapézio da figura anterior é dada por.

��� = (��� − ���) × (�� + ��)2

Onde,

��� Vazão média turbinada referente às permanências �� e ��; ��� Vazão instalada, com a permanência ��

��� Vazão instalada, com a permanência ��

�� Permanência da Vazão ���;

�� Permanência da Vazão anterior.

Se o valor da vazão instalada for aumentado para ��� o valor da vazão média

turbinada será acrescido de ∆�� :

��� = ��� + ∆��

Onde,

Page 28: Bruno Lorenzoni Bassett i

25

��� Vazão média turbinada referente às permanências �� e ��; ��� Vazão média turbinada referente às permanências �� e ��; ∆�� Acréscimo de área sob a curva e a área anterior.

Observa-se pela Figura 5, que:

∆��= (��� − ���) × (�� + ��)2

Onde,

∆�� Acréscimo de área sob a curva e a área anterior.

��� Vazão instalada, com permanência ��

��� Vazão instalada, com permanência ��

��� = ����(��� − ���) × (�� + ��)2

Onde,

��� Vazão média turbinada referente às permanências �� e ��; ��� Vazão média turbinada referente às permanências �� e ��; ��� Vazão instalada, com a permanência ��;

��� Vazão instalada, com a permanência ��;

�� Permanência da vazão ���; �� Permanência da vazão ���.

E assim, sucessivamente, à medida que se aumenta a vazão a ser turbinada

pela central a energia a ser gerada vai sendo acrescida de um incremento de vazão, de

acordo com a seguinte relação:

��� = ��(���) + ∆�(���) ��� = ��(���)�(��� − ��(���)) × (�� + �(���))2

Com n variando de 0 a i, sendo i o número de discretização adotado para o

levantamento da curva de permanência.

Page 29: Bruno Lorenzoni Bassett i

26

Conforme aumenta-se QLN, vão se somando as áreas das figuras e aumentando-

se o valor da vazão média turbinada. A tendência é que conforme-se se aumenta a

vazão instalada diminui-se o incremento na vazão média turbinada. O resultado é uma

curva crescente que vai saturando, ou seja, vai tendendo a um valor constante. A

saturação da curva de energia nos mostra que o ganho de energia gerada que se

consegue com o aumento da vazão turbinada, ou seja, da capacidade do grupo gerador,

acaba por ficar muito pequeno, enquanto que o custo da instalação sobe bastante,

tornando inviável a opção por este valor de vazão.

Para a construção da curva de energia da estação, Figura 6, escolheram-se

alguns pontos da curva de permanência, Figura 4, que estão demonstrados no Quadro

4. A curva em azul é construída com os valores reais e a curva em vermelho é sua

aproximação, feita para efeito de estudos.

Quadro 4 Pontos da Curva de Permanência

Permanência (%) Vazão (m³/s)

0,95 10,40

3,33 8,40

5,71 6,83

11,42 5,4

15 4,97

21,90 4,40

32,05 3,69

42,38 3,22

45,95 3,13

56,59 2,83

65,95 2,59

80 2,13

87,5 1,90

95,95 1,51

97,05 1,24

97,85 0,91

100,00 0,53

Page 30: Bruno Lorenzoni Bassett i

27

Figura 6 Curva de energia: vazão instalada versus vazão média turbinada

O valor da vazão ótima para o projeto corresponde à abscissa da intercessão

das tangentes aos pontos inicial e final da curva [12]. Para o posto estudado, conforme

observado na Figura 6 esse valor é de 3,63 m³/s.

De posse da vazão a ser turbinada pode-se quantificar a energia a ser gerada

pelo projeto. Numa primeira situação, considera-se a instalação de uma turbina

Francis, geralmente adotada para projetos dessa magnitude. Neste tipo de turbina a

operação abaixo de 50% de potência é evitada, devido a, nesta situação, ocorrer

desgaste acelerado dos componentes da turbina. A Figura 7 apresenta a Energia

possível de ser gerada ao considerar intervalos de produção, no primeiro se produz a

carga nominal ficando a geração limitada pela vazão da turbina, no segundo intervalo

produz-se abaixo da carga nominal até o limite de 50 % de carga e no terceiro não há

produção para se evitar danos à turbina.

Page 31: Bruno Lorenzoni Bassett i

28

Figura 7 Curva de Energia Gerada

Considerando os intervalos descritos pode-se calcular a energia em MWh/ano.

Os valores previstos estão apresentados no Quadro 5, observando-se uma geração de

aproximadamente 2800 MWh em um ano.

Quadro 5 Energia Gerada

Descrição Intervalo I Intervalo II Intervalo III

Vazão Média no

intervalo (m³/s) 3,63 2,73 1 0

Duração (%) 33,09 55,76 11,15

Potência Média

(kW) 424,79 318,59 0

Energia Gerada

(MWh/ano) 1231,51 1556,27 0

Energia Total

(MWh/ano) 2787.78

1 A vazão Média do intervalo é a Média aritmética entre os Valores Máximos e

Mínimos no Intervalo.

Page 32: Bruno Lorenzoni Bassett i

29

O fator de capacidade é a relação entre a energia efetivamente gerada pela

central, considerando a disponibilidade de vazão, e a energia que seria gerada caso a

central trabalhasse o tempo todo com potência plena. Ele indica a adequação de

projeto da central sendo calculado através da seguinte Equação:

�� = ����������� × 100!%# Onde:

FC fator de carga da central [%]

����� energia efetivamente gerada pela central [kWh]

������ energia que poderia ser gerada pela central [kWh]

Um baixo fator de capacidade (até 0,5) indica que foi escolhido ou determinado

um valor muito grande para a vazão de projeto, caso em que a central é obrigada a

trabalhar em uma grande porcentagem do tempo com potência reduzida. Neste caso o

custo dos equipamentos é elevado em relação ao volume de energia a ser gerado, e,

por este motivo o tempo de retorno do investimento é maior. Já um alto fator de

capacidade (0,9 a 1,0) indica que foi escolhido ou determinado um valor muito

pequeno para a vazão de projeto, caso em que não será possível um aproveitamento

ótimo das vazões do período úmido. Embora a central neste caso custe menos que no

caso anterior, irá ocorrer uma grande perda de energia, proporcional à vazão que será

vertida, sem turbinamento, no período úmido.

Para a central em questão, o fator de capacidade é:

�� = �$%$.$%&$��.�' × 100!%# = 74,91 %.

O qual pode ser considerado satisfatório, pois não se desperdiça muita água

durante o período de chuvas, e durante a estiagem o equipamento ainda opera com

rendimentos energéticos razoáveis.

Page 33: Bruno Lorenzoni Bassett i

30

Através da análise da curva de energia, conclui-se que uma turbina com

capacidade de vazão de 3,63 m³/s (vazão média do intervalo I) ajusta-se à capacidade

fluvial e energética da estação, podendo ainda considerá-la um valor pessimista, pois

as informações fluviométricas utilizadas são de um ponto a montante do local

escolhido para o projeto.

2.5 Conclusão

O estudo hidrológico, através da curva de permanência e curva de energia

permitiu conhecer o potencial energético da estação, assim como a capacidade de

vazão necessária à turbina para tal nível de geração. O próximo capítulo trás a análise

do tipo de turbina ideal a ser instalada no projeto.

Page 34: Bruno Lorenzoni Bassett i

31

3 TURBINAS HIDRÁULICAS

3.1 Introdução

O terceiro Capítulo considera já sendo conhecidos os valores do desnível e o

potencial energético do local para dimensionamento da turbina. Serão apresentadas

também as características dos tipos possíveis de turbina, até que se faça a escolha

definitiva.

3.2 Classificação das Turbinas Hidráulicas

Máquina hidráulica é todo aparelho destinado a transformar em trabalho

mecânico a energia hidráulica, isto é, a energia gerada por um gradiente hidráulico

(queda de água).

Definem-se as turbinas hidráulicas como máquinas motrizes que transformam a

energia hidráulica em energia mecânica, que é o torque com o qual o eixo da máquina

gira. Elas podem ser classificadas conforme a maneira com a qual o fluxo passa pelas

pás do rotor, Quadro 6, e conforme a turbina aproveita a transformação da energia

cinética, Quadro 7.

Quadro 6 Classificação das Turbinas quanto à Trajetória da Água

Classificação Trajetória da Água Turbina

Radial Quando o fluxo d’água que passa pelas pás do

rotor se efetua na direção radial Francis

Axial Quando o fluxo d’água que passa pelas pás do

rotor toma a direção do eixo da máquina

Hélice,

Kaplan

Tangencial Quando a água incide nas pás na direção

tangencial ao rotor Pelton

Fonte : [9]

Page 35: Bruno Lorenzoni Bassett i

32

Quadro 7 Classificação das Turbinas quanto à Transformação de Energia

Classificação Transformação de Energia Turbina

Impulso ou de

Ação

Quando a turbina aproveita a energia cinética

de um jato d’água sobre as pás e a

transformação se dá a pressão constante

Pelton

Reação Quando a transformação se dá pela variação da

pressão ao longo das pás do rotor

Hélice,

Kaplan e

Francis

Fonte : [9]

Todas as outras variações de turbina como a Tubular, a Bulbo, a Straflo, a

Sifão, a Kaplan S, a Propeller, e a de fluxo livre (hidrocinética), são na verdade

dotadas de um rotor hélice ou Kaplan, enquadrando-se na mesma classificação desta.

3.3 Seleção da turbina

A queda líquida (m) e a vazão de projeto por turbina (m³/s) são os parâmetros

utilizados para a escolha preliminar do tipo de turbina. O gráfico da Figura 8, permite

se determinar a turbina ideal para o aproveitamento através desses dois parâmetros.

A região assinalada pelo circulo em vermelho mostra a região onde está

inserido o projeto considerando a vazão e a queda já apresentadas. Percebe-se que a

região fica no limite entre as turbinas Francis e Kaplan S. Deste modo, serão

apresentadas as características e desenvolvidos os estudos de ambas as turbinas antes

de fazer-se a seleção.

Page 36: Bruno Lorenzoni Bassett i

Figura 8 Gráfico de Seleção de Turbinas analisando Potência e Queda

Fonte : [1]

3.3.1 Turbina Francis

As turbinas de reação apareceram em princípios do século XIX. No ano de 1833

o engenheiro francês Fournetron

nome, e que funcionava sempre submersa. H

aspiração, mas foi o engenheiro americano F

mista que leva universalmente o seu nome

Gráfico de Seleção de Turbinas analisando Potência e Queda

As turbinas de reação apareceram em princípios do século XIX. No ano de 1833

ournetron inventou a turbina que ficou, inicialmente

nome, e que funcionava sempre submersa. Henschel e Jonval introduziram o tubo de

aspiração, mas foi o engenheiro americano Francis, que em 1849, inventou a turbina

mista que leva universalmente o seu nome [10].

33

As turbinas de reação apareceram em princípios do século XIX. No ano de 1833

, inicialmente com o seu

introduziram o tubo de

, que em 1849, inventou a turbina

Page 37: Bruno Lorenzoni Bassett i

34

Existem duas espécies de turbinas Francis:

• Francis caixa aberta: Recomendáveis para aproveitamentos hidroelétricos com

queda até 10m. O rotor, o distribuidor, o tubo de aspiração e parte do eixo ficam

situados dentro de uma câmara em comunicação direta com a câmara de carga e

abaixo do nível mínimo de montante. O eixo pode ser horizontal ou vertical.

• Francis caixa espiral: Para quedas acima de 10m. Para o caso de minicentrais o

eixo fica disposto horizontalmente, devido às facilidades de instalação e

manutenção.

As turbinas Francis classificam-se, segundo a velocidade específica em:

• Lentas - diâmetro de saída sensivelmente menor que o de entrada.

• Normais - diâmetro de entrada e saída são iguais.

• Rápidas - diâmetro de saída maior que o da entrada.

• Muito rápidas - o bordo de entrada das pás fica muito inclinado até ao eixo.

A turbina Francis possui uma faixa de operação muito abrangente. Ela atende a

quedas de 15 a 250 m e potências de 500 a 15000 kW possuindo ótimas características

de desempenho sob cargas parciais de até 70% da carga nominal, funcionando ainda

adequadamente entre 70 e 50 % da carga, embora com perda progressiva do

rendimento. Não é aconselhável o funcionamento da turbina abaixo de 50% da vazão

nominal, devido principalmente a problemas de cavitação (formação de cavidades

dentro da massa líquida).

O tipo do rotor vai variar de acordo com a relação queda e vazão. Quanto maior for

a queda e menor for a vazão, mais lento será o rotor. Por outro lado quanto menor for à

queda e maior for a vazão mais rápido será o rotor [2].

Page 38: Bruno Lorenzoni Bassett i

35

3.3.2 Turbina Kaplan ‘S’

A turbina “S” atende a quedas de 4 a 25 m e potências de 500 a 5000 kW para

vazões de até 22,5 m³/s. Possui ótimas características de operação, mesmo a cargas

parciais, desde que utilizado o rotor Kaplan de pás reguláveis. Se, adicionalmente, o

distribuidor também for regulável, caracterizando uma turbina de dupla regulação, a

faixa de operação irá de 100% até 20% da carga nominal. Caso o distribuidor seja fixo,

o limite inferior de operação se limita a 40% da carga nominal. A utilização de rotor

de pás fixas só é considerada se a variação de carga for pequena (entre 100% e 80% da

carga nominal). Deve ser feita uma comparação econômica entre o custo maior da

dupla regulação e seu benefício de ganho de produção de energia elétrica,

considerando a flexibilidade de operação nesse caso [10].

Na turbina “S”, o rotor está inserido em um conduto que para melhor se adaptar

à instalação do gerador assume a forma de um S. O eixo se prolonga para fora da

blindagem metálica do conduto permitindo que o gerador e eventual multiplicador de

velocidade se situem fora da passagem hidráulica. As Figura 9 e Figura 10 apresentam

Turbinas Kaplan “S” com acoplamento do gerador respectivamente a jusante e a

montante do rotor da turbina.

Page 39: Bruno Lorenzoni Bassett i

36

Figura 9 Turbina Kaplan ‘S’ com acoplamento do Gerador a Montante

Figura 10 Turbina Kaplan ‘S’ com acoplamento do Gerador a Jusante

3.4 Velocidade de Rotação

A velocidade de rotação é preliminarmente escolhida em função da queda e da

potência da turbina. No caso considera-se que a turbina Kaplan ‘S’ trabalha

produzindo a mesma potência que as turbinas Francis, embora seja possível gerar mais

com o primeiro tipo de turbina já que essa possui arranjos construtivos que lhe

Page 40: Bruno Lorenzoni Bassett i

37

permitem operação à menores cargas sem prejudicar o conjunto. A fórmula a seguir

determina a Velocidade de Rotação.

n = kH012�,$3P�,3

A constante adimensional k varia para cada tipo de turbina, sendo que para

turbina Francis aconselha-se usar valores em torno 1600 e já para turbinas Kaplan ‘S’

o valor gira em torno de 2100 [1], 5��6 e P correspondem respectivamente à altura da

queda em metros e a potencia da turbina em kW.

Substituindo-se a constante e calculando a velocidade de Rotação, alcançam-

se os resultados demonstrados no Quadro 8. Os valores dimensionados levam em

consideração a disponibilidade do mercado e a experiência passada pelo referencia [2]

que aconselha a não construir mini centrais com velocidade de rotação inferior 600

RPM.

Quadro 8 Velocidade de Rotação das Turbinas

Turbina Velocidade de Rotação (RPM)

Calculada

Velocidade de Rotação (RPM)

a ser Projetada

Francis 562,38 600

Kaplan ‘S’ 738,12 720

Aumentar a rotação da turbina para que esta possa ser ligada diretamente ao

eixo do gerador, resulta em perda de rendimento e aumento dos custos do projeto [2].

Outra solução seria utilizar-se de um gerador com mais pólos, o qual necessita de uma

velocidade síncrona menor adaptando-se assim a turbina proposta inicialmente, porém

este caminho também aumenta demasiadamente os custos do projeto. A solução mais

viável utiliza um conjunto mecânico, também denominado multiplicador de velocidade

que permite que o eixo de rotação da turbina seja acoplado a um gerador de maior

velocidade [2].

A Norma NBR 12591 – Dimensões Principais de Turbinas para PCH indica as

dimensões necessárias, por meio de cálculos simplificados, que permitem a

Page 41: Bruno Lorenzoni Bassett i

38

determinação de características principais da turbina para facilitar o arranjo civil.

Porém devido ao alto custo de aquisição da norma, os estudos relativos a dimensões

das turbinas serão omitidos e elas terão suas dimensões consideradas satisfatórias para

prosseguimento do projeto.

3.5 Conclusão

As características do projeto permitem que se utilizem dois tipos de turbina,

alcançando altos rendimentos com ambas. Porém opta-se pela escolha da turbina

Francis, devido à velocidade de rotação, que se aproxima mais do recomendado para

projetos dessa natureza, à maior simplicidade da turbina, ao menor preço, quando

comparado ao da turbina Kaplan ‘S’ e ao fato de que a diferença na produção de

energia que se estaria ganhando ao adotar-se o modelo ‘S’ é mínina. É prevista a

utilização de um multiplicador de velocidade de razão 3:1 para acoplamento no eixo

do gerador. Detalhes do Gerador e do Sistema elétrico serão abordados no próximo

capítulo.

As características da turbina especificada estão listadas abaixo:

• Tipo ................................................. Francis, rotor simples, eixo horizontal

• Vazão de projeto............................................................................. 3,63 m³/s

• Altura de queda líquida................................................................. 14,00 m

• Potência nominal.................................................................................. 424 kW

• Rendimento mínimo (no ponto de operação).......................................... 50 %

• Rotação nominal................................................................................ 600 RPM

Page 42: Bruno Lorenzoni Bassett i

39

4 GERADOR

4.1 Introdução

Neste capítulo estuda-se o Gerador, levantando-se sua potência, abordando seu

sistema de Sincronismo e Excitação, além do Sistema de Proteção, com estudo de

interligação ao SIN, e do transformador elevador.

4.2 Determinação da Potência Nominal

A potência do gerador é determinada utilizando-se a informação da potência

disponível no eixo da turbina, através da fórmula a seguir.

P7 = P8η7η:cos (φ)

Onde,

PG potência do gerador (kVA);

PT potência no eixo da turbina (kW);

η7 rendimento do gerador;

η: rendimento do acoplador mecânico;

cos(φ) fator de potência do gerador.

O gerador síncrono deve ter capacidade de variar o fator de potência nas

condições de grandezas de entrada e de carga conforme estabelecido pelas normas, de

0.92 indutivo a 0.8 capacitivo. Assim, considerando o rendimento do gerador e do

multiplicador de velocidade sendo respectivamente de 96 % e 98 %, valores típicos

[1], necessita-se de um gerador de potência aparente de 500 kVA para atender o

projeto.

P7 = ?�?×�.@'×�.@%�.% ≈ 500 kVA

Page 43: Bruno Lorenzoni Bassett i

40

4.3 Tensão de Geração

Quando o gerador está ligado ao sistema de transmissão através de um

transformador, a determinação da tensão de geração é geralmente baseada em fatores

econômicos. Os custos de um gerador, para uma determinada potência nominal e

velocidade, variam com a tensão.

Para a escolha da tensão de geração devem-se considerar não só os custos do

gerador, mas também os custos da interligação gerador–transformador e dos

equipamentos ligados à tensão de geração.

Recomenda-se que, a menos que haja razões especiais para se adotar uma

determinada tensão, o valor especificado da tensão seja orientado segundo os níveis

padrões. O Quadro 9 serve como orientação para seleção da tensão de geração, e

segundo as recomendações da ELETROBRÁS resulta numa solução economicamente

atraente.

Quadro 9 Tensão do Gerador segundo sua Potência

Tensão do Gerador Potência do Gerador

220/380 ou 480 V Até 2 MVA

2300 V Até 3 MVA

4160 V Até 5 MVA

6900 V Até 15 MVA

13800 V Até 100 MVA

Fonte : [1]

Para aplicação de geradores em baixa tensão, sugere-se que a tensão seja a

maior possível (480 V), visto que os custos dos geradores variam pouco com a tensão

e os custos dos painéis e da instalação elétrica são tanto menores quanto menor for a

corrente nominal do gerador.

Recomenda-se também que a distância entre o gerador e o transformador

elevador não ultrapasse 50 m e que sejam instalados no gerador, resistores de

aquecimento com a finalidade de evitar acumulo de umidade nos enrolamentos.

Page 44: Bruno Lorenzoni Bassett i

41

4.4 Proteção

Os geradores constituem as peças mais caras no conjunto dos equipamentos de

um sistema de potência, e estão sujeitos a mais tipos de defeitos que qualquer outro

equipamento. Assim, o desejo de protegê-los contra essas possíveis condições

anormais, ao mesmo tempo mantendo a proteção simples e confiável, pode resultar em

consideráveis divergências de opinião. Isto porque uma operação intempestiva pode

ser, às vezes, tão grave quanto uma falha ou demora de atuação da proteção. Em geral,

a proteção do gerador é feita contra dois tipos de faltas:

• falha de isolamento, conduzindo a curto-circuito entre espiras, fase-fase,

fase-terra ou trifásica;

• condições anormais de funcionamento, como perda de campo, carga

desequilibrada do estator, sobre velocidade, vibrações, sobrecarga, etc.

A falha de isolamento, conduzindo a curtos-circuitos, é devido normalmente a

sobretensões, a sobreaquecimentos (corrente desequilibrada, ventilação deficiente,

etc.), envelhecimento do isolante ou a movimentos do condutor (força do curto-

circuito, perda de sincronismo, etc.). Adicionalmente, a proteção do gerador deve:

• funcionar rápido para faltas internas, reduzindo os estragos

(proporcionais a I²t);

• ser insensível às faltas externas à zona de proteção estabelecida;

• limitar o valor de corrente de defeito para a terra;

• assinalar condições anormais e mesmo eliminá-las quando se tornarem

perigosas.

Finalmente é preciso prover a proteção:

• do gerador, propriamente dito;

• da turbina;

Page 45: Bruno Lorenzoni Bassett i

42

• do conjunto gerador-turbina;

• dos auxiliares (fonte de corrente contínua, etc.).

Para desenvolver o sistema de proteção do projeto, utilizam-se os

conhecimentos previstos no capítulo de proteção de geradores da norma IEEE std 242-

2001 “Recommended Practice for Protection and Coordination of Industrial and

Commercial Power Systems” [6].

A norma prevê:

“12.5.7 Esquemas recomendados de Proteção de Geradores segundo o

tamanho da máquina.

a) Máquinas Pequenas (i.e., Potência máxima de 1000 kVA com tensão de até 600 V

ou Potência máxima de 500 kVA com tensão superior a 600 V)

b) Máquinas Médias (i.e., das pequenas máquinas até 12500 kVA não importando o

nível de tensão)

c) Máquinas Grandes (i.e., das máquinas médias até aproximadamente 50000 kVA)

Entretanto, definir o nível de proteção atentando-se somente ao tamanho da

máquina não é adequado. Também deve ser levada em consideração a importância da

máquina para o sistema ou processo no qual está inserida.

12.5.7.1 Geradores Pequenos

O nível mínimo de proteção básica para uma máquina única e isolada da rede

está demonstrada na Figura 11 e consiste dos seguintes dispositivos:

— Dispositivo 51V, Relé de sobrecorrente temporizado com restrição ou

bloqueio de tensão.

Page 46: Bruno Lorenzoni Bassett i

43

— Dispositivo 51G, Relé de sobrecorrente temporizado de terra.

Proteção Adicional deve ser considerada para o caso de múltiplas máquinas

trabalhando em sistema isolado, conforme Figura 12. Os dispositivos adicionados na

proteção do sistema são.

— Dispositivo 32, Relé direcional de potência-reversa.

— Dispositivo 40, Relé de perda de excitação.

— Dispositivo 87, Relé de Proteção Diferencial [6].”

O Gerador proposto enquadra-se no nível de pequenas máquinas e por ser uma

máquina isolada necessita somente do sistema de proteção proposto na Figura 11.

Figura 11 Sistema de Proteção Proposto para

Máquinas Pequenas

Fonte : [6]

Figura 12 Sistema de Proteção Sistema de Proteção Proposto

para Máquinas Pequenas com Múltiplas Máquinas

Fonte : [6]

Page 47: Bruno Lorenzoni Bassett i

44

4.4.1 Dimensionamento da Proteção

O baixo nível de geração do sistema exige um sistema de proteção simples, de

baixo custo de aquisição e sem necessidade de supervisão. A recomendação da norma

exige um relé de sobrecorrente 51V, porém para sua utilização é necessário instalar

outros dispositivos como: um transformador de corrente, um quadro elétrico para

acomodação do transformador de corrente, um disjuntor como chave, entre outros, o

que eleva muito os custos do sistema de proteção. Uma solução mais econômica seria

a substituição do relé de sobrecorrente por um disjuntor com sensor adequado, o que

não traz prejuízos à eficácia do sistema de proteção, conforme poderá ser observado na

análise a seguir.

Para completar o sistema de proteção adota-se um elemento elo fusível (chave

de Mateus) para proteção do transformador. Este dispositivo é a proteção mais adotada

para transformadores de distribuição.O dimensionamento dos dispositivos exige prévio

conhecimento dos níveis de curto-circuito do sistema, sendo que para este estudo

utiliza-se o software SKM, mundialmente conhecido para análises de sistemas

elétricos de potência. O sistema modelado no software encontra-se na Figura 13, onde

o sistema Escelsa é dimensionado como uma barra infinita no 138 kV ligada a um

transformador de 10 MVA (138/13,8 kV z=7%) resultando numa potência de curto

circuito de 143MVA (5,98 kA no 13,8 kV). Esta aproximação não compromete a

confiabilidade da análise. O gerador, o transformador e cabo foram modelados

conforme valores de impedância obtidos na referência instalações elétricas industriais,

de João Mamede Filho [11]. Possuindo todas essas informações o programa é capaz de

calcular as correntes de curto subtransitória (Ik”) e em regime (Ik) esperadas para

defeitos em diversos pontos da instalação. Na mesma figura os pontos I, II e III

apresentam (I) o nível de curto circuito em 13.8 kV no primário do transformador

proveniente da contribuição do sistema e do gerador, (II) o nível de curto circuito em

480 V proveniente do sistema no secundário do transformador e (III) o nível de curto

circuito em 480 V proveniente do sistema e do gerador para um defeito a jusante do

transformador.

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45

Figura 13 Modelo no SKM do Sistema de Geração com Níveis de Curto Circuito

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46

Com base nos níveis de curto verificados dimensionam-se os dispositivos de

proteção, o elo-fusível segue a recomendação do fabricante, que para a classe de

tenção de 13,2 kV e potência de 500 kVA, aconselha um elo 20k, para

transformadores trifásicos, conforme pode-se verificar na Figura 14. O disjuntor

Merlin Gerin NS630N com sensor STR23SE, atende as especificações de corrente

nominal do gerador e tem flexibilidade de ajuste para coordenar o sistema para

proteção de curto circuito. Usa-se um relé digital 51V para traçar o estudo de

seletividade.

Figura 14 Catalogo Delmar Elos-Fusíveis

A Figura 15 apresenta a folha de seletividade. Nesta tem-se em rosa a curva do

disjuntor, em roxo a curva do relé e em verde a curva do elo-fusível. A curva em azul

apresenta a corrente de curto circuito do gerador (curva de decremento) e em vermelho

o limite térmico do transformador. Observa-se que este último está protegido pelo

fusível, sendo ainda observada no gráfico a corrente de “inrush” do transformador e na

Page 50: Bruno Lorenzoni Bassett i

47

margem superior da figura têm-se traços que representam respectivamente a corrente

nominal do gerador, o limite de corrente de partida do relé e o limite nominal de

corrente do cabo todos referidos a 13,8 kV.

Pode-se verificar a coordenação do sistema ao se analisar as ações dos

dispositivos para todas as possibilidades de curto circuito. Para um curto no primário

do transformador, o fusível atua instantaneamente, abrindo o sistema para a corrente

de aproximadamente 6 kA (nível de tensão de 13,8 kV). Para um curto no secundário

do Transformador o fusível, observa uma corrente de aproximadamente 460 A (nível

de tensão de 13,8 kV), e atua com um tempo inferior a 0.1 s, e o disjuntor ou relé

atuariam instantaneamente para este curto, observando uma corrente de

aproximadamente 3 kA (nível de tensão de 480 V). O mesmo acontece para um curto

em qualquer ponto que se localize no trecho entre o gerador e o secundário do

transformador. Assim, conclui-se que o sistema está protegido não importando a

situação de curto ou dispositivo de sobrecorrente, relé ou disjuntor, que se adote.

Obviamente pretende se adotar o mais barato, que seria o disjuntor de baixa tensão

com dispositivo de proteção incorporado.

Page 51: Bruno Lorenzoni Bassett i

48

Figura 15 Folha de Seletividade

Page 52: Bruno Lorenzoni Bassett i

49

Para a proteção de fase-terra, conforme a norma, adota-se o relé de

sobrecorrente 51G, sendo este dispositivo um reforço ao sistema que poderia até ser

ignorado para simplificação do mesmo. Contudo decide-se adotá-lo, ajustando-o

conforme a recomendação da norma IEEE Guia para proteção de terra de Geradores

[13]. O método proposto protege 95% do enrolamento e parte do pressuposto que a

pior condição de curto a ser experimentada pelo gerador consiste em um curto que

enxergue somente 5 % do enrolamento de fase. O ajuste de corrente do relé indicado

para esta situação é de 5% da corrente de curto monofásico total (curto observando

100 % do enrolamento), este ajuste dá uma margem de segurança para que o

dispositivo não atue observando correntes harmônicas ou desbalanceadas no ramo

neutro e caso deseje-se proteger os outros 5% que ficam expostos a falhas, deve-se

adicionar o relé de subtensão 27TN, o que não será feito para contenção de despesas.

Assim, o ajuste proposto é de 50 A para 500 ms.

4.5 Sistemas de Excitação e Sincronismo

Os sistemas de excitação mais comuns para pequenas centrais hidrelétricas

atualmente são: o de excitação rotativa, sem escovas, e o de excitação estática.

O sistema de excitação sem escovas, ou “brushless”, Figura 16, consiste em um

pequeno gerador síncrono (EXC) com o enrolamento de campo montado no estator e a

armadura montada no eixo do gerador principal. A corrente de armadura é retificada

por diodos montados no eixo da máquina e alimenta diretamente o campo do gerador

principal [1].

Page 53: Bruno Lorenzoni Bassett i

50

Figura 16 Sistema de Excitação sem Escovas

Este sistema é comumente adotado para pequenos geradores, onde não há

necessidade de recuperação rápida da tensão para grandes variações de carga (alta

resposta inicial), e torna-se particularmente atraente sob o aspecto econômico para

geradores com rotação nominal acima de 200 RPM, situação atraente para o projeto

em questão.

Já o sistema de excitação estática, Figura 17, consiste em um transformador de

excitação normalmente ligado aos terminais do próprio gerador, cujo secundário

alimenta um conversor tiristorizado que retifica a corrente alternada. A corrente

retificada alimenta o enrolamento de campo do gerador principal através de escovas e

anéis coletores.

Figura 17 Sistema de Excitação Estática

Page 54: Bruno Lorenzoni Bassett i

51

Durante a partida da máquina, para os casos em que o magnetismo residual da

máquina não é suficiente para o auto escovamento, torna-se necessária a utilização de

uma fonte externa para a excitação inicial. Para as máquinas de menor porte, utiliza-se,

para esta finalidade, o sistema auxiliar de corrente contínua da usina e, para as

máquinas maiores, quando o tamanho requerido para a bateria tornar-se

exageradamente grande e houver disponível uma fonte externa de alimentação em

corrente alternada, utiliza-se uma fonte retificada incorporada no equipamento de

excitação [1].

Para operação em sistema interligado, o sistema de excitação “brushless”,

entendido como mais adequado para o projeto, deve atender às especificações mínimas

de desempenho relacionadas a seguir.

a) Em Regime Permanente

O sistema de excitação deve ser capaz de manter a tensão nos terminais do gerador

dentro de ± 0.5% do valor ajustado em toda a faixa de operação, desde vazio a plena

carga, com variação de freqüência de ± 5%.

O sistema de excitação deve possibilitar o ajuste da tensão para valores

compreendidos entre ± 10% da tensão nominal.

b) Em Regime Transitório

Para um curto circuito no lado de alta tensão do transformador, o sistema de

excitação deve ser capaz de manter a tensão de excitação em 20% do valor de teto,

quando a tensão terminal do gerador for 20% do valor nominal.

Essas especificações são de maneira geral requeridas em todos os projetos de PCH.

O sistema de Sincronismo será feito manualmente com objetivo de abaixar os

custos do projeto.

Page 55: Bruno Lorenzoni Bassett i

52

4.6 Transformadores Elevadores

O transformador elevador deve ter potência nominal igual ou superior à potência

máxima do gerador. Para o projeto aconselha-se utilizar um transformador de potência

igual à do gerador, por ser este um valor padronizado, o que possibilita um prazo de

entrega mais rápido, menor custo de aquisição e mais facilidade de eventual reposição.

Como a potência nominal é baixa para o projeto, o transformador não necessita de

sistema de ventilação forçada.

A instalação do transformador elevador será a mais próxima possível da casa de

força e em um ponto elevado considerado com o nível a montante, se possível até no

próprio poste do sistema de abastecimento, de modo a utilizar um comprimento

mínimo de cabos de interligação. Almeja-se que essa distância seja inferior a 50

metros. Este cuidado possibilita obter uma redução nos custos de aquisição e

instalação dos cabos além de menores perdas.

4.7 Conclusão

O atual capítulo apresentou os aspectos elétricos do projeto, dimensionando o

grupo gerador e transformador, assim como o sistema de proteção deste. Fazem-se

comentários de como podem ser construídos os sistemas de Excitação e Sincronismo,

e uma opção final é feita em favor do sistema de excitação sem escovas (“brushless”).

As características do grupo gerador especificado estão listadas abaixo:

• Gerador............................................................................. Síncrono, trifásico

• Potência............................................................................................ 500 kVA

• Tensão nominal.................................................................................... 480 V

• Fator de potência nominal.......................................................... 0,92 indutivo

• Freqüência............................................................................................... 60 Hz

• Rotação nominal............................................................................. 1800 RPM

• Sistema de Sincronismo..................................................................... Manual

• Sistema de Excitação.................................................................... Sem escovas

• Transformador................................................................................500 kVA

Page 56: Bruno Lorenzoni Bassett i

53

5 PROJETOS DAS OBRAS CIVIS

5.1 Introdução

As obras civis são a maior fonte de despesa em um projeto de uma central

hidrelétrica, assim são necessárias soluções inteligentes e eficientes para contornar os

grandes gastos em pequenos projetos, onde existem maiores limitações orçamentárias.

O seguinte capítulo discorre sobre as soluções propostas para o projeto em questão

levantando os principais pontos de cada parte da estrutura civil.

5.2 Estrutura Civil

A barragem é a estrutura que tem a função de represar a água, visando a

possibilitar, com a elevação do nível d’água do rio, a alimentação da tomada d’água.

No caso de locais de baixa queda, a barragem tem também a função de criar o desnível

necessário à produção da energia desejada.

A prática atual em projetos de aproveitamentos hidrelétricos tem adotado,

preferencialmente, os seguintes tipos de barragem:

• de terra;

• de enrocamento;

• de concreto.

A barragem já existente no local do projeto é de concreto, tipo muro-

gravidade, capaz de resistir, com seu peso próprio, à pressão da água do reservatório e

à subpressão das águas que se infiltram pelas fundações. Esse tipo de barragem é

recomendado para vales estreitos, encaixados em maciço rochoso pouco fraturado e

com boas condições de fundação, o que condiz perfeitamente com a localidade.

A construção atual (2008) permite que as vazões de cheia escoem sobre o

corpo da barragem, sendo possível acionar um vertedouro na lateral da mesma, caso

deseje-se aumentar a vazão escoada. Na Figura 18 observa-se a água passando sobre o

corpo da barragem e esta encobre o vertedouro que se encontra fechado.

Page 57: Bruno Lorenzoni Bassett i

54

A estrutura de tomada d’água deve ser localizada, sempre que possível, junto à

margem do reservatório, ao longo de trechos retos. Nos trechos em curva, a tomada

d’água deve ser posicionada do lado côncavo, pois os sedimentos transportados pelo

escoamento, na maior parte, se depositam na parte convexa. Além disso, como na

parte côncava as profundidades, geralmente, são maiores, os sedimentos transportados

por arraste não serão captados, no caso da tomada d’água de superfície. Na

Figura 19 observa-se a tomada d’água atual (2008). Esta localiza-se na parte côncava

do represamento do Rio Barra Seca, ou seja, em local adequado. A água flui por um

vão submerso no corpo da barragem protegido este por uma grade sendo que em

Page 58: Bruno Lorenzoni Bassett i

55

épocas de estiagem toda a vazão passa por este vão. A situação mostrada na

Figura 19 condiz com uma época de cheia, onde a água chega a escoar sobre o

corpo da barragem. Está vazão que passa pelo vão deságua no canal desareador.

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56

Figura 18 Visão parcial da barragem e vertedouro (ao fundo)

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57

Figura 19 Tomada d’água (ao fundo) e Canal desareador (a direita)

O desareador é destinado à decantação da totalidade ou parte do material

sólido grosso. Na estrutura da tomada d’água atual não se encontra um desareador a

montante como é usual, mas sim em uma câmera a jusante, com 17 metros de

comprimento, o que não compromete o projeto. A câmara possui profundidade

superior a do canal de Adução e a água flui em baixa velocidade por ela, o que torna

possível a decantação dos corpos sólidos. O desareador demanda limpeza manual e

esta deve ser feita durante o período de manutenção planejado.

A grade da estrutura da tomada d’água visa a impedir a entrada de corpos

flutuantes que possam danificar os equipamentos. Ela obedece à mesma inclinação da

barragem, possuindo barras chatas espaçadas de 12 cm.

A limpeza da grade pode ser feita manualmente, com o auxílio de “ancinho”,

ou mecanicamente através de máquina limpa-grade.

O Canal de adução atual é retangular, em superfície livre, assim como é o

recomendado para estruturas sobre a rocha. Possui extensão de aproximadamente 40

Page 61: Bruno Lorenzoni Bassett i

58

metros e dimensões de 3 metros de largura por 1,40 m de profundidade. Está

localizado após o canal desareador. Em muitos projetos, onde a geografia não torna

viável a construção de um canal em superfície livre, utiliza-se do canal em tubulação

de baixa pressão como meio de interligar a tomada d’água e a entrada do canal

forçado.

Como deseja-se manter a estrutura presente, deve-se verificar se a condição

atual é capaz de dar vazão a necessidade da turbina a ser instalada. Para tal, utiliza-se a

Fórmula de Manning, específica para o cálculo da velocidade da água em canais

abertos e tubulações.

Q = AR�/&S�/�n

Onde,

Q Capacidade de Vazão

R Raio hidráulico (m)

S Declividade

n Coeficiente de Rugosidade do Canal.

A Área do Canal de Adução

O raio hidráulico (R) é uma dimensão resultante da relação entre a área

molhada (4,2 m²) e o perímetro molhado do canal (8,8 m). A declividade do canal

deve ser mínima e constante. Recomenda-se adotar um caimento de 40 cm a cada

1.000 m de canal (declividade = 0,0004) [1]. Os coeficientes de Rugosidade

padronizados podem ser verificados no Quadro 10.

Page 62: Bruno Lorenzoni Bassett i

59

Quadro 10 Coeficientes de Rugosidade

Natureza das Paredes n

Cimento Liso 0,010

Argamassa de Cimento 0,011

Pedras e Tijolos Rejuntados 0,013

Tijolos Rugosos 0,015

Alvenaria Ordinária 0,017

Canais com Pedregulhos Finos 0,020

Canais com Pedras e Vegetação 0,030

Canais em Mau Estado de Conservação 0,035

Fonte : [1]

Ao se realizar os cálculos, observa-se que é necessária a reforma do

revestimento das paredes do canal de adução, que encontram-se em mau estado de

conservação, a reforma visa a diminuir a sua rugosidade para aumentar-se a vazão

atual que é calculada de 1,46 m³/s. Caso o revestimento novo seja feito em cimento

liso e mantenham-se as dimensões atuais, a vazão de escoamento poderia chegar a

5,13 m³/s, o que supera a necessidade do projeto.

A câmara de carga é a estrutura, posicionada entre o canal de adução e o

conduto forçado, destinada a (Figura 20):

• promover a transição entre o escoamento em superfície livre, no canal de

adução, e o escoamento sob pressão no conduto forçado;

• aliviar o golpe de aríete que se processa no conduto forçado quando

ocorre o fechamento brusco do dispositivo de controle de vazões turbinadas;

• fornecer água ao conduto forçado quando ocorre uma abertura brusca

desse mesmo dispositivo, até que se estabeleça, no canal de adução, o regime

permanente de escoamento.

Dessa forma, seu volume deve ser adequadamente dimensionado. Para alturas

de queda até 10 m, a câmara de carga não precisa ter volume significativo. Para alturas

Page 63: Bruno Lorenzoni Bassett i

60

compreendidas entre 10 e 25 m, haverá a necessidade de prever-se, por exemplo, um

alargamento na transição entre o canal de adução e a tomada d’água propriamente dita.

Deve-se prever, na câmara de carga, um sangradouro lateral visando-se a

evitar que as variações bruscas da descarga no conduto forçado produzam flutuações

no nível d’água que se propaguem para montante, pelo canal de adução.

A Figura 20 mostra um exemplo típico de câmera de carga. A estrutura

presente se aproxima desse modelo, tendo como única diferença a presença de

somente um único conduto forçado, a largura máxima da câmera de carga é de 3,6 m

enquanto o canal de adução possui somente 3 m. Ela possui extensão de

aproximadamente 4,2 m e profundidade máxima de 2,2 m.

Figura 20 Modelo de Câmara de Carga

Fonte : [1]

LTa Largura máxima da câmara alargada

dq Descarga pelo vertedouro lateral

VI Vertedouro lateral

Page 64: Bruno Lorenzoni Bassett i

61

c Comportas

cf Tubulação forçada (conduto força~do)

Eca Extensão da câmara alargada

Lvl Comprimento da crista do vertedouro lateral de soleira fixa

Bvl Largura do vertedouro lateral de soleira fixa

Para o dimensionamento do diâmetro do conduto forçado utiliza-se a fórmula

de Bondshu que informa o diâmetro econômico para a tubulação do conduto.

DI = 123,7KQ&HL

M

Onde,

DI Diâmetro Econômico (cm)

Q Vazão do Projeto (m³/s)

HL Carga Hidráulica Total (Altura da Queda).

Utilizando-se os dados do projeto dimensiona-se o diâmetro econômico

interno do conduto forçado em 143,13 cm. De posse desta informação, deve-se atentar

para a velocidade necessária do fluido no interior do conduto para atender à vazão da

turbina. A simples divisão da vazão máxima necessária pela área interna fornece esta

informação. No caso é necessária uma velocidade de escoamento de 2,25 m/s, o que

pode ser obtido em condutos de aço ou cimento. Contudo pretende-se utilizar condutos

de aço para suprir tal demanda e conseguir uma melhor confiabilidade no sistema. Pelo

local onde se planeja construir a nova casa de força do projeto, espera se que sejam

necessários apenas 20 metros de tubulação para o canal forçado.

Aspectos como o equacionamento do golpe de aríete, espessura do conduto

forçado, blocos de apoio e ancoragem além das perdas por aproximação (na tomada de

água, em canais por atrito, nas cônicas, nas curvas e por bifurcações) são omitidos do

estudo por fugirem do escopo original e por não acarretarem mudanças importantes

nos estudos econômicos energético.

Page 65: Bruno Lorenzoni Bassett i

62

5.3 Conclusão

Observa-se que as edificações já presentes no local, são suficientes para

atender à demanda planejada para o futuro empreendimento, contudo é necessário um

estudo mais aprofundando para medir o verdadeiro estado de conservação da estrutura,

embora se acredite que esta esteja bem conservada.

O conduto forçado e a casa de força precisam ser totalmente refeitos, e a nova

casa de força deverá ser construída no nível a jusante do rio, para melhor

aproveitamento do desnível.

Page 66: Bruno Lorenzoni Bassett i

63

6 ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA DO PROJETO

6.1 Introdução

A avaliação de custos é um dos mais importantes procedimentos na análise de

sistemas energéticos, junto com a avaliação da disponibilidade e da qualidade da

energia. Qualquer alternativa de projeto implica uma série de custos: equipamento,

instalação, operação, manutenção, perdas, e muitos outros.

Assim, é imprescindível realizar o estudo de viabilidade econômica. Para a

simplificação de tal análise serão levados em conta somente os principais custos do

projeto, aproximando-se os demais nos custos miscelâneas.

6.2 Análise de Viabilidade Econômica

Os custos para implantação de um projeto devem ser calculados de acordo

com a realidade do local da instalação e atendendo a peculiaridades que o local da obra

possa impor. O Quadro 11 retirado da referência 2, demonstra a expectativa que cada

item gera no custo total do projeto. Nota-se que as obras civis junto com a aquisição

dos equipamentos permanentes representam aproximadamente dois terços dos gastos

totais. Assim, utilizando essa perspectiva e levando em consideração a simplicidade e

peculiaridades do projeto, será levantada uma estimativa de preço para as principais

despesas visando a calcular o período de retorno do projeto com os lucros advindos da

comercialização da energia.

Page 67: Bruno Lorenzoni Bassett i

64

Quadro 11 Custos percentuais médios para µCH e MCH

Descrição Custo (%)

Estudos Iniciais

Investigação do local 1,0 Estudo Hidrológico 0,5 Avaliação Ambiental 1,0 Projeto Básico 1,0 Estimativa de Custos 0,3 Preparação de Relatórios 0,2 Gerenciamentos do Projeto 1,0 Passagens e diárias 0,6

Desenvolvimento

Negociação do PPA 0,5 Licenças 0,5 Levantamentos Geológicos 0,6 Gerenciamento do Projeto 0,7 Passagens e diárias 0,6

Engenharia

Projeto Executivo 3,0 Contratação 1,0 Supervisão da Construção 3,0

Equipamento de Geração

Turbinas,geradores, reguladores, painéis 22,0 Instalação 3,0 Transporte 2,0

Estruturas Diversas

Entrada de acesso 5,0 Barragem 9,0 Canal de Adução 4,0 Tomada d’água 2,0 Tubulação 5,0 Casa de Máquinas 3,0 Subestação e linhas de Transmissão 10,0 Transporte 2,0

Miscelânea

“Overhead” do Contratante 5,0 Treinamento 0,5 Contingências 12,0

Fonte : [2]

Considerando que o projeto já possui grande parte da estrutura civil

necessária, e esta atende as necessidades calculadas, deve-se apenas planejar despesas

para sua reforma, excluindo-se dos cálculos o conduto forçado e a casa de força, em

Page 68: Bruno Lorenzoni Bassett i

65

que não é possível aproveitar a estrutura presente. No Quadro 12 observa-se a

estimativa para as principais despesas do projeto, que foram feitas segundo

informações obtidas no site da Eletrobrás (www.eletrobras.gov.br).

Quadro 12 Estimativa de Despesas

Item Custo Estimado (R$)

Gerador 200.000,00

Turbina 400.000,00

Transformador 50.000,00

Estrutura Civil 120.000,00

Miscelânea 50.000,00

Total 820.000,00

Prevendo-se um período de 10 meses para a conclusão das obras e inicio da

operação, estando o dinheiro a uma taxa de juros de 15% a.a. obtém-se o valor

corrigido de R$ 898.323,11 como custo total da obra.

Para determinar o custo da Energia Gerada, será usada a fórmula do manual da

PCH da Eletrobrás [3].

��N = �O × �P� + � × QRST�

�P� = U(1 + U)�(1 + U)� − 1

Onde,

��N Custo da Energia Gerada (R$/MWh);

�O Custo Total (R$);

�P� Fator de Recuperação do Capital;

� Energia Gerada Anualmente (MWh);

QRST Custo Unitário de Operação e Manutenção;

U Taxa de Juros, anual;

V Vida útil da usina, em anos.

Page 69: Bruno Lorenzoni Bassett i

66

No caso, segundo a Escelsa, o custo unitário de operação e manutenção

(OMUN) é de 2,23 US$/MWh [3] e a energia gerada seria de 2787,78 MWh,

conforme os cálculos apresentados nos capítulos anteriores. No Quadro 13 observam-

se os valores do custo da energia para diversos tempos de vida útil, sendo que, como

esperado, quanto mais tempo de operação mas barato fica o custo da energia.

Quadro 13 Custo da Energia Gerada

Vida Útil

FRC Custo da Energia

R$/MWh 50 0,1501 53,50 30 0,1523 54,20 20 0,1597 56,61 15 0,1710 60,23 10 0,1992 69,33 5 0,2983 101,26 4

0,3502 117,99

O preço de comercialização da energia segue um modelo sazonal, onde fica

mais barato no período de chuvas, onde os reservatórios estão mais cheios e podem

oferecer mais energia, e mais fica mais caro nos períodos de estiagem. Contudo o

preço segue uma média de RS 116,00 MWh o que justifica o investimento a partir do

quarto ano.

6.3 Conclusões

Com a análise de despesas e rendimentos feita para o projeto estima-se que a

partir do quarto ano ele se tornará viável. Ao comparar-se esse tempo com a

expectativa de tempo de produção de uma central hidrelétrica o projeto pode ser

considerado interessante. Contudo o período de 4 anos é bastante longo, e pode ser

prorrogado caso observe-se uma situação de estiagem durante o mesmo. Assim, é

muito importante um planejamento bem estruturado antes de se realizar tal

investimento.

Page 70: Bruno Lorenzoni Bassett i

67

7 CONCLUSÕES

O projeto apresenta de maneira simples a maioria dos estudos que devem ser

realizados para definir a viabilidade de um projeto de geração hidrelétrica de energia.

Obviamente, que para realizar-se a construção de tal obra, torna-se necessário

aprimorar e refinar os estudos, devido à magnitude dos gastos a serem efetuados. Faz-

se uma ressalva que embora, previsto na lei, não há conhecimento no Brasil de alguma

geração inferior a 1,0 MW que esteja efetivamente ligada ao SIN [2]. Este possível

desinteresse da concessionária local deve ser ponderado na execução do projeto.

Existem alguns estudos apontando que no ano de 2012 a linha de

Mascarenhas, que abastece a região Norte do Estado, irá esgotar sua capacidade de

transmissão [5], o que fez o governo do estado buscar parcerias para a instalação de

algumas termoelétricas na região para suprir tal demanda. Nesse contexto, a mini

central hidrelétrica proposta mostra-se como fonte limpa e sustentável para suprir tal

aumento de demanda, sendo atraente mesmo com a instalação de outras gerações na

região.

O projeto mostrou-se atrativo economicamente ao se analisar somente os

lucros advindos da comercialização da energia gerada, contudo, atualmente, as

pequenas centrais vêm obtendo a maior parte de suas divisas com a comercialização de

créditos de carbono. Assim novos estudos de projetos hidrelétricos podem ser

propostos no sentido de se estudar como funciona esse comércio e sua importância.

Page 71: Bruno Lorenzoni Bassett i

68

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILIREIRAS S.A. ELETROBRÁS. MINISTÉRIO

DAS MINAS E ENERGIA. Diretrizes para Estudo de Pequenas Centrais. 1.

ed., 2000.

[2] CENTRO NACIONAL DE REFERÊNCIA DE PEQUENAS CENTRAIS

HIDRELÉTRICAS. Micro e Mini Centrais Hidrelétricas: Soluções para

Comunidades Isoladas da Região Amazônia. 1. Ed., 2008.

[3] ELETROBRÀS. Biblioteca Virtual. [on line]. 2008. Disponível:

http://www.eletrobras.gov.br/elb/portal/data/Pages/LUMISAB255DD0PTBRNN.h

tm [capturado em 25 nov. 2008].

[4] THOMÉ, A. D., Avaliação dos custos de Construção de pequenas

Centrais Hidrelétricas.

[5] AGENDA DE SERVIÇOS PÚBLICOS DE ENERGIA DO ESTADO DO

ESPÍRITO SANTO - ASPE. Crescimento Econômico e Planejamento

do Espírito Santo. [on line]. 2008. Disponível: Disponível:

http://www.aspe.es.gov.br/forumenegiarenovaveis/Apres.%20Des.%20Econômico

%20e%20Planej.%20Energético%20ES%20-%2008-2008.pdf [capturado em 25

nov. 2008].

[6] INDUSTRIAL AND COMMERCIAL POWER SYSTEMS DEPARTMENT.

IEEE INDUSTRY APPLICATIONS SOCIETY. IEEE Recommended Practice

for Protection and Coordination of Industrial and Commercial Power

Systems. IEEE Std 242-2001. 2001.

[7] AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Sistema de Informações Hidrológicas –

HIDROWEB. [on line]. 2008. Disponível: http://www.ana.gov.br/ [capturado em

25 de Nov. 2008].

[8] REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Constituição 1988. 1999.

[9] TURBINAS HIDRAULICAS. Wikipedia. [on line] 2008. Disponível:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Turbina_hidráulica [capturado em 25 de Nov. 2008].

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[10] ESCOLA SUPERIOR DE TECNOLOGIA.UNIVERSIDADE DE

ALGAVARDE. Turbo Máquinas Hidraúlicas. Capítulo V. 2001. Disponível:

http://w3.ualg.pt/~rlanca/sebenta-hid-aplicada/ha-06-turbinas.pdf [ capturado 25

de Nov. de 2008].

[11] MAMEDE FILHO, JOÃO. Instalações Elétricas Industriais / João Mamede

Filho. 7. Ed. LTC 2007.

[12] Souza, Z. de Santos, A. H. Borton, E.C. – Centrais Hidrelétricas – Estudos pra

Implantação . Rio de Janeiro – Eletrobrás – 1999

[13] IEEE std C37.101-1993. IEEE Guide for Generator Ground Protection.

[14]CARVALHO, DJALMA FRANCISCO, Usinas Hidrelétricas, Turbinas. Belo

Horizonte.FUMARC/UCMG.1982.

[15] PINTO, N. L. de S. et al. Hidrologia básica. São Paulo:Edgard Blücher, 1976