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_>>> Enxerto Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:41) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW Quinta-feira, 8 de novembro de 2012 | F1 Especial Inovação Governo deve perseguir metas como as corporações Diferencial competitivo Geração de conhecimento deve ser pautada por governo, empresas, universidades e instituições de pesquisa. Por Genilson Cezar, para o Valor, de São Paulo M ais investimentos e mais colaboração en- tre os diversos agentes envolvidos na produção de co- nhecimento e da inovação — go- verno, empresas, universidades e instituições de pesquisa do mundo acadêmico — são ações vitais para enfrentar as novas demandas da competitividade em um mercado globalizado, segundo manifestaram em uníssono empresários, dirigen- tes governamentais e represen- tantes de instituições acadêmi- cas e de entidades de fomento à pesquisa de tecnologias no país presentes ao seminário “Inova- ção e Desenvolvimento Econô- mico”, realizado pelo Valor em parceria com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em São Paulo, na terça-feira. Do lado do governo, pelo me- nos, dinheiro não vai faltar, asse- gura o ministro Marco Antônio Raupp, da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Além do orça- mento anual, estimado em R$ 7,01 bilhões para 2013, o go- verno colocará R$ 15 bilhões à disposição das empresas e insti- tuições de ciência e tecnologia (ICTs), na forma de crédito, sub- venção e fomento não reembol- sável para atividades inovado- ras, até 2014. São recursos novos, obtidos pela Financiadora de Es- tudos e Projetos (Finep) em par- ceria com o BNDES, para atender projetos prioritários previstos no Plano Brasil Maior para tec- nologia e inovação. “A intenção é realizar uma convergência entre as políticas de desenvolvimento econômico e as estratégias de produção de conhecimento e inovação”, afir- mou Raupp durante o seminá- rio. “Pela primeira vez, há um movimento inédito de inserir a política de inovação no coração do Plano Brasil Maior, para o de- senvolvimento econômico”, as- sinalou. Trata-se de um novo modelo de atuação do Ministé- rio da Ciência e Tecnologia, que, desde o ano passado, incorpo- rou o I de Inovação, e está ado- tando novos instrumentos de fi- nanciamento, além de medidas de ajustes aos novos tempos de mais competitividade, explicou o ministro. Em 2011, informou, foram li- berados R$ 6 bilhões em crédi- tos a projetos de tecnologia e inovação, principalmente nas áreas de petróleo e gás, susten- tabilidade, saúde. Não só: o go- verno tem incentivado o desen- volvimento de inovação das em- presas por meio de renúncia fis- cal, por conta da Lei de Informá- tica. É um volume de recursos da ordem de R$ 4 bilhões que, so- mados às desonerações da Lei do Bem, atingem o montante de R$ 6 bilhões. “Vivemos uma fase de ações transversais de ciência, tecnologia e inovação, e isso le- va a uma multiplicidade de meios e instrumentos de atua- ção em apoio à inovação em to- dos os setores da sociedade”, ex- plicou Raupp. Para os empresários, além de mais investimentos, é necessá- rio fortalecer os laços de coope- ração entre as instituições en- volvidas na produção do conhe- cimento e da inovação. A pala- vra-chave é colaboração, disse Mauro Kern, vice-presidente executivo de engenharia e tec- nologia da Embraer. Segundo ele, é preciso criar redes de cola- boração envolvendo empresas industriais, instituições de pes- quisa e governo. “Daqui para frente, as empresas que quise- rem desenvolver tecnologias por conta própria não vão con- seguir enfrentar os desafios atuais. A competição vai se dar entre redes de colaboração e es- sas redes precisam ser fortes e competitivas.” Não se trata, de acordo com Kern, de buscar apenas instru- mentos de ganhos de produtivi- dade e de competitividade. “Em um mundo de rápidas mudanças, colaboração e inovação são ques- tões de sobrevivência”, afirmou. A empresa apostou nessa direção, segundo ele. A Embraer investe 3% de sua receita em inovação, pesquisa e desenvolvimento, o que tem resultado na criação de Jacilio Saraiva Para o Valor, de São Paulo Para o Brasil vestir a camisa de país inovador, o governo deve emular processos adotados pelas grandes empresas. “O caminho para chegar à inovação mistura ingredientes como qualificação de recursos humanos e investi- mentos em pesquisa e desenvol- vimento”, diz Luiz Serafim, líder de marketing corporativo da 3M no Brasil e autor do livro “O Poder da Inovação-Como Alavancar a Inovação na sua Empresa” (Sarai- va). O executivo foi um dos parti- cipantes do painel “Como Desen- volver o País por meio da Inova- ção”, do Seminário Inovação e Desenvolvimento Econômico. Segundo Serafim, a cultura de inovação dentro das companhias precisa ser irrigada diariamente — e a mesma coisa deve ser feita na esfera pública. A 3M, exemplo de organização inovadora, come- çou fabricando lixas em 1910 e hoje tem mais de 46 plataformas tecnológicas, de componentes de energia a produtos baseados em nanotecnologia. Lança mais de 43 mil patentes ao ano e estima que 40% das vendas em 2015 vi- rão de novos produtos. “O Brasil também pode perse- guir objetivos estratégicos co- muns ao setor privado, como ab- sorver cientistas na área indus- trial e reservar parte do PIB para P&D”, diz Serafim. Na 3M, 5,3% dos resultados das vendas vão pa- ra pesquisa. Para o executivo, fal- tam competências profissionais, mais líderes e gestores. A 3M tem sete mil cientistas espalhados em 85 laboratórios e 35 centros téc- nicos, em todo o mundo. Rafael Lucchesi, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendi- zagem Industrial (Senai), afirma que o órgão, que tem 2,8 milhões de matrículas, quer dobrar esse volume, até 2014. “Vamos inves- tir em laboratórios e atividades de ensino a distância.” Até 2015, a meta é implantar 23 institutos Senai de inovação e 61 unidades de tecnologia. Mas o déficit no se- tor de qualificação ainda é gran- de. Enquanto no Brasil apenas 6,6% dos jovens de 15 a 19 anos recebem educação geral e profis- sional ao mesmo tempo, no Ja- pão essa fatia é de 55%. Segundo Antonio Maciel Ne- to, presidente da Suzano, o cená- rio econômico está propício pa- ra investimentos no setor. “So- mos outra nação com o fim da inflação e os investimentos es- trangeiros saltaram de US$ 2 bi- lhões, em 1992, para US$ 68 bi- lhões”, compara. “Ainda não te- mos uma cultura de inovação, mas o Brasil já sabe inovar.” Maciel lembra que a Suzano in- veste em genes de crescimento para acelerar o cultivo de flores- tas. Para ele, uma das receitas para colocar a inovação nos trilhos é investir em subvenções econômi- cas de longo prazo. “Aportes em inovação significam mais valor agregado aos produtos, empre- gos e melhor qualidade de vida.” De acordo com Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o pla- no é descentralizar subvenções econômicas e de crédito. “Vamos trabalhar com bancos estaduais para ajudar as empresas.” O BN- DES anunciou que vai repassar R$ 3 bilhões à entidade, para pesquisa científica e tecnológica. Segundo Mark Lyra, diretor pre- sidente da Cosan Biomassa, a ino- vação também pode ajudar o país a realizar mais projetos, em menor tempo e com menos custos. “Mas isso deve ser feito de forma susten- tável”, diz. “Na Cosan, fazemos P&D no estilo ‘pé no chão’. Investimos na área, mas com metas.” O desenvolvimento nacional passará obrigatoriamente pela chancela da inovação, na opinião de Laércio Cosentino, presidente da Totvs. “Toda vez que um brasi- leiro tem uma ideia, seis chineses também têm. Precisamos ser bons para competir globalmen- te”, argumenta. Para Carlos Calmanovici, presi- dente da Associação Nacional de Pesquisa, Desenvolvimento e En- genharia das Empresas Inovado- ras (Anpei), os aportes das com- panhias em inovação têm au- mentado com mais velocidade do que o crescimento do PIB. “O mundo vai crescer menos nos próximos anos e uma boa gestão da inovação será fundamental para vencer a concorrência”. novos produtos em alta velocida- de. “Somos a empresa que mais desenvolve aviões no mundo e is- so tem proporcionado à compa- nhia o crescimento de sua receita 20 vezes mais desde 1995.” As universidades estão prontas para exercitar essas ações de cola- boração, avaliou João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo (USP). “A universidade sai de sua torre de marfim, ciente de que não é mais dona do mo- nopólio do conhecimento e do ensino”, afirmou. No caso da USP, várias ações adotadas estão em desenvolvimento para incentivar a inovação e o empreendedoris- mo. Só no Programa de Inovação à Pesquisa, por exemplo, a USP investiu R$ 300 milhões para criar núcleos de apoio à pesquisa. Mais R$ 200 milhões estão sendo aplicados desde 2011 no projeto de implantação pioneira da tec- nologia cloud computing no campus da universidade. O presidente da Finep, Glau- co Arbix, acredita que há uma nova cultura de inovação em curso. “Foi-se o tempo em que tínhamos dificuldade de discu- tir ciência e tecnologia com em- presários”, disse. “Agora, trata- se de criar um ambiente amigá- vel, diminuir a carga de buro- cracia das empresas e mitigar os esforços entre os diversos agen- tes envolvidos na inovação.” Segundo João Alberto De Ne- gri, diretor de inovação da Finep, uma parte relevante dos investi- mentos na economia nos próxi- mos anos será realizada, por exemplo, pelas empresas vincu- ladas à cadeia produtiva do pe- tróleo. De um total de 1.714 em- presas do núcleo da indústria brasileira, pelo menos 750 desen- volvem atividades de P&D, das quais 500 estão integradas ao sis- tema do MCT (Finep e CNPq), re- cebendo apoio direto dos pro- gramas governamentais de fi- nanciamento à inovação. “Os re- sultados mostram que as firmas brasileiras que investiram em co- nhecimento e em inovação cres- ceram 21% a mais do que aquelas que não investiram”, afirmou. REGIS FILHO/VALOR Ministro Marco Antônio Raupp: “A intenção é realizar uma convergência entre as políticas de desenvolvimento econômico e as estratégias de produção de conhecimento e inovação” Arbix, da Finep alerta para a necessidade de estabilidade de funding F3

Caderno valor 08_11_2012

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Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:41) - Página 1- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Quinta-feira, 8 de novembro de 2012 | F1

Es p e c i a lI n ova ç ã o

Governo deve perseguir metas como as corporações

D i fe re n c i a lc o m p et i t i vo

Geração dec o n h e c i m e n todeve ser pautadapor governo,e m p re s a s ,universidades einstituições depesquisa. PorGenilson Cezar,para o Valor,de São Paulo

M ais investimentos emais colaboração en-tre os diversos agentes

envolvidos na produção de co-nhecimento e da inovação — go -verno, empresas, universidadese instituições de pesquisa domundo acadêmico — são açõesvitais para enfrentar as novasdemandas da competitividadeem um mercado globalizado,segundo manifestaram emuníssono empresários, dirigen-tes governamentais e represen-tantes de instituições acadêmi-cas e de entidades de fomento àpesquisa de tecnologias no paíspresentes ao seminário “Inova -ção e Desenvolvimento Econô-m i c o”, realizado pelo Va l o r emparceria com a Financiadora deEstudos e Projetos (Finep), emSão Paulo, na terça-feira.

Do lado do governo, pelo me-nos, dinheiro não vai faltar, asse-gura o ministro Marco AntônioRaupp, da Ciência, Tecnologia eInovação (MCTI). Além do orça-mento anual, estimado emR$ 7,01 bilhões para 2013, o go-

verno colocará R$ 15 bilhões àdisposição das empresas e insti-tuições de ciência e tecnologia(ICTs), na forma de crédito, sub-venção e fomento não reembol-sável para atividades inovado-ras, até 2014. São recursos novos,obtidos pela Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep) em par-ceria com o BNDES, para atenderprojetos prioritários previstosno Plano Brasil Maior para tec-nologia e inovação.

“A intenção é realizar umaconvergência entre as políticasde desenvolvimento econômicoe as estratégias de produção deconhecimento e inovação”, afir-mou Raupp durante o seminá-rio. “Pela primeira vez, há ummovimento inédito de inserir apolítica de inovação no coraçãodo Plano Brasil Maior, para o de-senvolvimento econômico”, as-sinalou. Trata-se de um novomodelo de atuação do Ministé-rio da Ciência e Tecnologia, que,desde o ano passado, incorpo-rou o I de Inovação, e está ado-tando novos instrumentos de fi-

nanciamento, além de medidasde ajustes aos novos tempos demais competitividade, explicouo ministro.

Em 2011, informou, foram li-berados R$ 6 bilhões em crédi-tos a projetos de tecnologia einovação, principalmente nasáreas de petróleo e gás, susten-tabilidade, saúde. Não só: o go-verno tem incentivado o desen-volvimento de inovação das em-presas por meio de renúncia fis-cal, por conta da Lei de Informá-tica. É um volume de recursos daordem de R$ 4 bilhões que, so-mados às desonerações da Leido Bem, atingem o montante deR$ 6 bilhões. “Vivemos uma fasede ações transversais de ciência,tecnologia e inovação, e isso le-va a uma multiplicidade demeios e instrumentos de atua-ção em apoio à inovação em to-dos os setores da sociedade”, ex-plicou Raupp.

Para os empresários, além demais investimentos, é necessá-rio fortalecer os laços de coope-ração entre as instituições en-

volvidas na produção do conhe-cimento e da inovação. A pala-vra-chave é colaboração, disseMauro Kern, vice-presidenteexecutivo de engenharia e tec-nologia da E m b r a e r. Segundoele, é preciso criar redes de cola-boração envolvendo empresasindustriais, instituições de pes-quisa e governo. “Daqui parafrente, as empresas que quise-rem desenvolver tecnologiaspor conta própria não vão con-seguir enfrentar os desafiosatuais. A competição vai se darentre redes de colaboração e es-sas redes precisam ser fortes ec o m p e t i t i v a s .”

Não se trata, de acordo comKern, de buscar apenas instru-mentos de ganhos de produtivi-dade e de competitividade. “Emum mundo de rápidas mudanças,colaboração e inovação são ques-tões de sobrevivência”, afirmou. Aempresa apostou nessa direção,segundo ele. A Embraer investe3% de sua receita em inovação,pesquisa e desenvolvimento, oque tem resultado na criação de

Jacilio SaraivaPara o Valor, de São Paulo

Para o Brasil vestir a camisa depaís inovador, o governo deveemular processos adotados pelasgrandes empresas. “O caminhopara chegar à inovação misturaingredientes como qualificaçãode recursos humanos e investi-mentos em pesquisa e desenvol-v i m e n t o”, diz Luiz Serafim, líderde marketing corporativo da 3Mno Brasil e autor do livro “O Poderda Inovação-Como Alavancar aInovação na sua Empresa” (Sarai -va). O executivo foi um dos parti-cipantes do painel “Como Desen-volver o País por meio da Inova-ç ã o”, do Seminário Inovação eDesenvolvimento Econômico.

Segundo Serafim, a cultura deinovação dentro das companhiasprecisa ser irrigada diariamente— e a mesma coisa deve ser feitana esfera pública. A 3M, exemplode organização inovadora, come-çou fabricando lixas em 1910 ehoje tem mais de 46 plataformastecnológicas, de componentes deenergia a produtos baseados emnanotecnologia. Lança mais de43 mil patentes ao ano e estimaque 40% das vendas em 2015 vi-rão de novos produtos.

“O Brasil também pode perse-guir objetivos estratégicos co-muns ao setor privado, como ab-sorver cientistas na área indus-trial e reservar parte do PIB paraP&D”, diz Serafim. Na 3M, 5,3%dos resultados das vendas vão pa-

ra pesquisa. Para o executivo, fal-tam competências profissionais,mais líderes e gestores. A 3M temsete mil cientistas espalhados em85 laboratórios e 35 centros téc-nicos, em todo o mundo.

Rafael Lucchesi, diretor-geraldo Serviço Nacional de Aprendi-zagem Industrial (Senai), afirmaque o órgão, que tem 2,8 milhõesde matrículas, quer dobrar essevolume, até 2014. “Vamos inves-tir em laboratórios e atividadesde ensino a distância.” Até 2015, ameta é implantar 23 institutosSenai de inovação e 61 unidadesde tecnologia. Mas o déficit no se-tor de qualificação ainda é gran-de. Enquanto no Brasil apenas6,6% dos jovens de 15 a 19 anosrecebem educação geral e profis-

sional ao mesmo tempo, no Ja-pão essa fatia é de 55%.

Segundo Antonio Maciel Ne-to, presidente da S u z a n o, o cená-rio econômico está propício pa-ra investimentos no setor. “So -mos outra nação com o fim dainflação e os investimentos es-trangeiros saltaram de US$ 2 bi-lhões, em 1992, para US$ 68 bi-lhões”, compara. “Ainda não te-mos uma cultura de inovação,mas o Brasil já sabe inovar.”

Maciel lembra que a Suzano in-veste em genes de crescimentopara acelerar o cultivo de flores-tas. Para ele, uma das receitas paracolocar a inovação nos trilhos éinvestir em subvenções econômi-cas de longo prazo. “Aportes eminovação significam mais valor

agregado aos produtos, empre-gos e melhor qualidade de vida.”

De acordo com Glauco Arbix,presidente da Financiadora deEstudos e Projetos (Finep), o pla-no é descentralizar subvençõeseconômicas e de crédito. “Va m o strabalhar com bancos estaduaispara ajudar as empresas.” O BN-DES anunciou que vai repassarR$ 3 bilhões à entidade, parapesquisa científica e tecnológica.

Segundo Mark Lyra, diretor pre-sidente da Cosan Biomassa, a ino-vação também pode ajudar o país arealizar mais projetos, em menortempo e com menos custos. “Masisso deve ser feito de forma susten-t áv e l ”, diz. “Na Cosan, fazemos P&Dno estilo ‘pé no chão’. Investimosna área, mas com metas.”

O desenvolvimento nacionalpassará obrigatoriamente pelachancela da inovação, na opiniãode Laércio Cosentino, presidenteda To t v s . “Toda vez que um brasi-leiro tem uma ideia, seis chinesestambém têm. Precisamos serbons para competir globalmen-t e”, argumenta.

Para Carlos Calmanovici, presi-dente da Associação Nacional dePesquisa, Desenvolvimento e En-genharia das Empresas Inovado-ras (Anpei), os aportes das com-panhias em inovação têm au-mentado com mais velocidadedo que o crescimento do PIB. “Omundo vai crescer menos nospróximos anos e uma boa gestãoda inovação será fundamentalpara vencer a concorrência”.

novos produtos em alta velocida-de. “Somos a empresa que maisdesenvolve aviões no mundo e is-so tem proporcionado à compa-nhia o crescimento de sua receita20 vezes mais desde 1995.”

As universidades estão prontaspara exercitar essas ações de cola-boração, avaliou João GrandinoRodas, reitor da Universidade deSão Paulo (USP). “A universidadesai de sua torre de marfim, cientede que não é mais dona do mo-nopólio do conhecimento e doe n s i n o”, afirmou. No caso da USP,várias ações adotadas estão emdesenvolvimento para incentivara inovação e o empreendedoris-mo. Só no Programa de Inovaçãoà Pesquisa, por exemplo, a USPinvestiu R$ 300 milhões paracriar núcleos de apoio à pesquisa.Mais R$ 200 milhões estão sendoaplicados desde 2011 no projetode implantação pioneira da tec-nologia cloud computing nocampus da universidade.

O presidente da Finep, Glau-co Arbix, acredita que há umanova cultura de inovação em

curso. “Foi-se o tempo em quetínhamos dificuldade de discu-tir ciência e tecnologia com em-presários”, disse. “Agora, trata-se de criar um ambiente amigá-vel, diminuir a carga de buro-cracia das empresas e mitigar osesforços entre os diversos agen-tes envolvidos na inovação.”

Segundo João Alberto De Ne-gri, diretor de inovação da Finep,uma parte relevante dos investi-mentos na economia nos próxi-mos anos será realizada, porexemplo, pelas empresas vincu-ladas à cadeia produtiva do pe-tróleo. De um total de 1.714 em-presas do núcleo da indústriabrasileira, pelo menos 750 desen-volvem atividades de P&D, dasquais 500 estão integradas ao sis-tema do MCT (Finep e CNPq), re-cebendo apoio direto dos pro-gramas governamentais de fi-nanciamento à inovação. “Os re-sultados mostram que as firmasbrasileiras que investiram em co-nhecimento e em inovação cres-ceram 21% a mais do que aquelasque não investiram”, afirmou.

REGIS FILHO/VALOR

Ministro Marco Antônio Raupp: “A intenção é realizar uma convergência entre as políticas de desenvolvimento econômico e as estratégias de produção de conhecimento e inovação”

Arbix, da Finep alertapara a necessidade deestabilidade defunding F3

Page 2: Caderno valor 08_11_2012

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F2 | Valor | Quinta-feira, 8 de novembro de 20 1 2

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:44) - Página 2- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | I n ova ç ã o

Falta conexão com setor acadêmicoMarleine CohenPara o Valor, de São Paulo

De um lado, a universidade e osinstitutos de pesquisa; de outro, asempresas e o mercado. Entre eles,um país carente de inovação, quepromoveu cortes no orçamento fe-deral para a área de Ciência e Tec-nologia — cerca de R$ 1,48 bilhão amenos no aporte inicial de R$ 6,7bilhões para este ano; pretendiachegar ao final de 2010 investindo1,5% do PIB no setor e, dois anosdepois, não lhe dedica mais do que1%, para prejuízo das bolsas de es-tudo, centros de excelência e retra-ção da meta de produzir 11,5 mildoutores por ano.

A frágil parceria entre setor aca-dêmico e setor privado tem váriasrazões, segundo os pesquisadores.Para Fernando Schuler, diretor doIbmec/RJ, a pesquisa científica uni-versitária no Brasil é muito jovem.“Outra razão é que o país apostouem um modelo arcaico de gestãouniversitária. A pesquisa científicaainda é majoritariamente ligadaàs universidades estatais, federaise estaduais, que são, rigorosamen-te, repartições públicas.”

A isto acrescente-se, por partedo empresariado, a falta de culturade bater à porta da universidade:“Os caminhos para que o empresá-rio chegue finalmente ao pesqui-sador não são bem determinados”,aponta o diretor da Agência deInovação da USP, Vanderlei Bagna-

to. E, por parte do pesquisador,uma formação deficitária: “Nemsempre conseguimos ensinar aojovem que está saindo para o mer-cado algum empreendedorismo”,reconhece Ednalva Fernandes Cos-ta de Morais, vice-diretora do Cen-tro de Desenvolvimento Tecnoló-gico da UnB, lembrando que aciência básica não exige nem rit-mo nem resultados, enquanto nocampo da inovação corporativa, apressão por prazos é implacável.

Mas quem deve dar o primeiropasso? Esse é outro aspecto queembaralha as regras do jogo: se-gundo Fernando Schuler, “faz maissentido que as empresas procurema universidade para desenvolverum certo tipo de tecnologia”.Exemplo: “A técnica de congela-mento da massa do pão de queijo,para produção industrial, em Mi-nas Gerais, foi desenvolvida pordemanda dos produtores pelaUniversidade de Viçosa e universi-dades consorciadas – e há muitoscasos nesta linha”, explica.

Para o professor Carlos Levi,reitor da UFRJ, porém, “sendo ainstituição universitária pública,cabe a ela buscar mecanismospara garantir sua integração à so-ciedade como um todo e tam-bém com o mundo corporativo”.

Com ele concorda Ednalva Fer-nandes. “Defendo a tese de que auniversidade deve dar o primeiropasso. É lá que se encontram osproblemas e suas soluções”, ad-

Franquia adotanovidades na ALKátia SimõesPara o Valor, de São Paulo

Quando no fim dos anos 80,um franqueado da rede McDo -nald’s, de Curitiba, decidiu pro-por à franqueadora a criação deum quiosque para alavancar asvendas de sorvetes e sobremesas,ninguém acreditava que a ideiapudesse vingar. Afinal, o próprioconceito de franchising determi-na a obediência a processos e aomanual do franqueado. Mas, pa-ra surpresa geral, a proposta en-trou em teste e, o melhor, deu re-sultado com um incremento nasvendas de cerca de 30%.

“Em pouco tempo percebemosque a ideia era, sem dúvida, umgrande negócio. Dois anos depoisde implantado no shopping pa-ranaense, o dessert center ga-nhou escala. Hoje, é encontradoem toda a América Latina, nos Es-tados Unidos e em alguns paísesda Europa”, afirma Rogério Bar-reira, 44 anos, vice-presidente deoperações do McDonald’s.

O quiosque de sobremesa nãofoi a única inovação nascida em so-lo brasileiro e incorporada pela re-de. O Brasil também exportou paraos franqueados do McDonald’s aoredor do mundo – e não são pou-cos, em torno de 20.000 – um mo-

delo de consultoria focada em ala-vancar as vendas. Trata-se de umasérie de indicadores, como o nívelde qualidade da limpeza e dos ser-viços, por exemplo, que quandocompilados e analisados ajudam adefinir o número de visitas do con-sultor de campo e quais áreas eledeve dar mais atenção e avaliar. “Omodelo começou a ser adotado nopaís em 2002, depois em toda aAmérica Latina e agora está sendousado também nos Estados Uni-dos”, diz Barreira.

Considerado o quarto mercadomundial de franchising, com2.213 marcas e um faturamento deR$ 105 bilhões estimados para esteano, de acordo com a AssociaçãoBrasileira de Franchising (ABF), oBrasil tem assistido nos últimosanos não só à chegada em peso deredes internacionais quanto à ex-pansão das bandeiras nacionaispara os mais variados destinos.Comparando-se os resultados de2010 com os registrados este anopelo estudo Aspectos Mercadoló-gicos e Estratégicos da Internacio-nalização das Franquias Brasilei-ras, realizado pela Escola Superiorde Propaganda e Marketing(ESPM), constata-se um cresci-mento de 41%, saltando de 65 fran-quias internacionalizadas há doisanos para 92 este ano.

Cenário Concorrência global pede geração de conhecimento inovador

País perde posições, masempresas mantêm ritmo

LEO PINHEIRO/VALOR

Luiz Mello: “Que o ITV seja um híbrido com a cara de P&D para a indústria e que academia se reconheça como igual”

Carmen NeryPara o Valor, do Rio

O país desceu nove posições es-te ano em relação a 2011 entre asnações inovadoras e passou ao58 o lugar no levantamento anualGlobal Innovation Index, produ-zido pelo Insead, escola francesade administração e negócios, e aOrganização Mundial de Proprie-dade Intelectual, órgão das Na-ções Unidas. Por outro lado, em-presas expostas à concorrênciaglobal não podem se dar ao luxode perder o ritmo na geração deconhecimento e conteúdo inova-dor de produtos e processos.

Jorge Ávila, presidente do Insti-tuto Nacional de Propriedade In-telectual (INPI), diz que, no cená-rio atual, um portfólio de paten-tes é fundamental para as compa-nhias disputarem o mercado in-ternacional. “A inovação globalhoje é competitiva e, ao mesmotempo, colaborativa em proces-sos de open inovation. E quantomaior a quantidade de patentes,maior a capacidade de desenvol-ver novas tecnologias ou de resis-tir a um eventual ataque e dispu-tar um lugar ao sol”, diz Ávila.

Mesmo companhias que li-dam com commodities, como aVa l e , utilizam tecnologias e pro-cessos inovadores para ganharcompetitividade global. A em-presa tem 2.711 patentes deposi-tadas, abrangendo cerca de 72países, e investiu US$ 1,7 bilhãoem pesquisa e desenvolvimento(P&D) em 2011, devendo chegara US$ 2,4 bilhões em 2012. LuizMello, diretor presidente do Ins-tituto Tecnológico Vale (ITV), dizque a companhia produz 300 mi-lhões de toneladas de ferro aoano e, nesta escala, qualquer ga-nho de eficiência representa eco-nomia de milhões de dólares.

“A Vale é focada em gestão e ex-celência operacional, o que setraduz em inovação. Com o mi-nério a US$ 100 a tonelada, se ti-vermos um ganho de 1%, são US$300 milhões de economia. A em-presa leva 45 dias para chegar àChina, nosso principal cliente.Nossos concorrentes na Austrá-lia levam 15 dias. Daí o investi-mento em processos logísticos eem tecnologias, como os naviosde 400 mil toneladas”, diz Mello.

Entre as inovações está um sis-tema de helter dinâmico, quepermite acoplar um conjunto de

vagões e locomotivas a outro con-junto de vagões em movimentocom menor consumo de energiae maior rapidez para operar emCarajás em áreas de aclive.

Também em Carajás, a empresatrabalha a mineração sem cami-nhões, apenas com escavadeiras ebritadores móveis, que vão extrairo minério de ferro e alimentar cor-reias transportadoras, levando atéa usina de beneficiamento. O be-neficiamento do minério a seco apartir da umidade natural, sem ouso de água, é outra tecnologiaque vai mitigar os impactos am-bientais. Mas o caminho da inova-ção não é fácil, diz Mello.

“Quando se fala em inovaçãono mundo, pensa-se na academiade onde o pesquisador sai paramontar uma empresa. No Brasil,quem faz pesquisa é a universida-de pública e o ambiente universi-tário tem pouca interação com osetor empresarial. Há exceções,como a Pe t r o b r a s , que deve o queé ao Cenpes, que é o que é em fun-ção da UFRJ; e a Embraer com oITA e o CTA. Mas no Brasil não te-

mos um cluster como o MIT (Mas-sachusetts Institute of Technolo-gy) . Queremos que o ITV seja umente híbrido com a cara de P&Dpara a indústria e que a academiase reconheça como igual”, diz.

Para Ado Jório, diretor da Co-ordenadoria de Transferência eInovação Tecnológica (CTIT) daUFMG, é preciso uma mudançacultural dos próprios produtoresda ciência no Brasil. Ele conside-ra que temos uma legislação quedificulta a relação entre o públi-co e o privado. E a geração de co-nhecimento obedece a uma es-trutura complexa que envolve oCNPq, a Finep e as fundações deamparo à pesquisa. “Há uma ex-celência no setor público, queconcentra 82% da produção cien-tífica, mas há dificuldade emtransferir conhecimento para osetor industrial, que por sua veznão é intensivo em tecnologia,não tem interesse ou não estápreparado para receber alta tec-n o l o g i a”, sintetiza.

Para Marcos Cavalcanti, coorde-nador do Centro de Referência em

Inteligência Empresarial (Crie) daCoppe/UFRJ, o Brasil é fraco doponto de vista de política de inova-ção porque a visão é totalmenteacadêmica e o único critério deavaliação do pesquisador é o nú-mero de artigos publicados, en-quanto aquele que gera patentesnão tem qualquer valor. Ele lem-bra que um professor de dedica-ção exclusiva, se for remuneradopor alguma pesquisa privada, cor-re o risco de ser investigado peloTribunal de Contas da União.

“O pano de fundo é uma visãoque isola quem produz conheci-mento de quem gera riqueza. Fuidiretor de tecnologia da Funda-ção de Amparo à Pesquisa do Riode Janeiro, em que 95% do orça-mento de R$ 300 milhões vão pa-ra pesquisas completamentedesvinculadas da sociedade, co-mo a de um pesquisador que ga-nhou recursos para estudar oronco do boi”, observa. Ele tam-bém reclama que quem julga oseditais da Finep são acadêmicosque vão escolher projetos por cri-térios acadêmicos.

Governo ajudaa transformaroport unidadesRoberto RockmannPara o Valor, de São Paulo

Criar inovação e riqueza noBrasil não depende da importa-ção de um modelo de inovação jáimplementado em outros países,mas, sim, de um papel mais ativodo Estado. Por meio de políticaindustrial, o governo pode trans-formar as oportunidades exis-tentes em setores em que o paísjá é competitivo em soluções di-ferenciadas criadas por empre-sas brasileiras ou multinacionaisque têm negócios no Brasil.

“Muito difícil a importação demodelos porque cada país temuma relação diferente com omercado e as empresas. Então, émelhor considerar as especifici-dades do caso brasileiro”, afirmao economista e diretor do Insti-tuto de Economia da Universida-de Estadual de Campinas (Uni-camp), Fernando Sarti. Para ele,primeiro é preciso entender queinovar não é um processo auto-mático ou linear, mas dependede investimento de alto risco.

Nesse contexto, ter um hori-zonte de demanda firme por umperíodo de médio a longo prazoé um pressuposto importante. “Aeconomia brasileira passa porum momento positivo com pro-jetos estruturantes em vários se-tores que poderão criar inova-ção, mas o grau de desenvolvi-mento tecnológico dependeráde uma política industrial quepropicie que essa demanda firmeem setores como energia, mine-ração, agroenergia tenha desdo-bramentos no país”, afirma.

Para Sarti, o ciclo de inovaçãocomeça na demanda, que puxa oinvestimento privado e de esta-tais, mas, para que soluções se-jam criadas no Brasil, é precisover como elas serão mediadas.“Poderemos ter soluções inter-nas ou externas, depende da po-lítica que você vai ter”, afirma.

Um dos setores é o de petróleoe gás, em que a Pe t r o b r a s está in-vestindo mais de R$ 50 bilhõespor ano e deve manter o ritmo,de olho na exploração gradualda camada pré-sal, distante 300quilômetros da costa brasileira,mais de três vezes a distância daBacia de Campos, que hoje con-centra mais de 60% do óleo ex-traído no país.

Se o petróleo é extraído a 2 milmetros de profundidade de Cam-

pos, no pré-sal a profundidadepode chegar entre 5 mil e 7 milmetros em relação à superfície domar, o que exigirá um outro mo-delo de exploração, com maiorautomatização, sistemas submer-sos, uma nova estrutura de pes-soas e equipamentos especiais.

“Isso abre perspectiva de capaci-tação de fornecedores locais e decriação de uma cadeia de valor ecabe destacar que a empresa líderdo setor é a Petrobras, que é umaestatal e que pode ter uma dimen-são de mais longo prazo e pode serlevada a uma política industrialmais ativa porque não está de olhoapenas na remuneração do acio-n i s t a”, diz.

Outro segmento que despertaoportunidades é o de agronegó-cio. Até 2020, a produção mun-dial de alimentos terá de aumen-tar 20% para atender à crescentedemanda, vinda principalmenteda expansão das classes médiasdas economias emergentes, se-gundo estimativas da Organiza-ção para a Cooperação e Desen-volvimento Econômico (OCDE).

Grande parte desse acréscimovirá do Brasil, cuja produção teráde aumentar 40% na década,mais que o dobro das projeçõespara a agricultura da Austrália(17%), dos Estados Unidos e doCanadá (15%) e da União Euro-peia (4%). “O Brasil será o maiorprodutor mundial de agroener-gia, isso traz oportunidades nosetor de máquinas e equipamen-tos, agricultura de precisão e decriação de softwares”, diz Sarti.

Para o ex-ministro da FazendaAntonio Delfim Netto, as emis-sões de gases de efeito estufa se-rão um assunto cada vez maispresente no mundo, abrindooportunidades para a criação deempresas voltadas à economiaverde. “O problema é que todosquerem crescimento do PIB e, pa-ra produzir uma unidade de pro-duto, há sempre associado tam-bém emissão de dióxido de car-b o n o”, diz. Nesse sentido, é preci-so se pensar na criação de meca-nismos de incentivo para inova-ções tecnológicas que permitamredução da emissão de gases deefeito estufa para cada unidadede crescimento de um país. NoBrasil, o estímulo teria que sergenérico, por meio de proteçõesmais rigorosas às patentes de in-divíduos e incentivos tributáriosno caso das empresas.

voga ela, explicando que a UnBpromoveu recentemente junto a600 pesquisadores um mapea-mento das distintas linhas depesquisa em curso, “com o objeti-vo de divulgá-las para a socieda-d e”. Ao longo deste resgate do ca-pital intelectual da UnB, uma sur-presa: 77% deles manifestaraminteresse em prestar serviços tec-nológicos para as empresas,adiantou a diretora da UnB.

Para que boas invenções ga-nhem status de commodities háum longo caminho a percorrer.

“O financiamento de ciência etecnologia é o sangue que alimen-ta e sustenta a pesquisa científica.No Brasil, porém, a maioria esma-gadora dos investimentos é prove-niente das agências governamen-tais, o que gera uma significativadependência de praticamenteuma única fonte de recursos: a es-tatal”, lamenta Andrea KauffmannZeh, assessora de relações institu-cionais da Fundação para o Desen-volvimento da Pesquisa (Fundep).

Segundo ela, a contribuição dosetor privado para o financia-mento em pesquisa ainda é pe-quena, e particularmente inexis-tente quando o assunto é pesqui-sa básica, uma vez que o retornosobre o investimento é arriscadoe de longo prazo. Hoje, cerca de46% do investimento total em P,D&I provém de empresas, ao pas-so que em países como EUA, Ale-manha, China ou Japão, este per-

centual chega a quase 70%.Mas dinheiro é apenas parte

do problema. “A contratação dedoutores que passaram anosdentro da academia é uma formaeficiente de aproximar empresase faculdades. No exterior, as in-dústrias absorvem um grandenúmero de profissionais com es-te perfil. Com eles vêm conheci-mento de fronteira, formas decontactar a universidade, se ne-cessário, e principalmente o de-sejo de manter parcerias maisprolongadas”, sugere VanderleiBagnato. Ele ainda enumera arealização de cursos de aperfei-çoamento, como forma de per-mitir aos empresários um conta-to mais estreito com a academia,e a disponibilidade de mapas doc o n h e c i m e n t o.

A iniciativa de trazer os execu-tivos que realmente decidem nasempresas para dentro da univer-sidade é uma proposta que tam-bém defende o diretor do Ib-mec/RJ: “Em boa medida, o mer-cado não conhece nosso poten-cial de pesquisa. Admitir, no Bra-sil, a figura dos doutorados exe-cutivos, em certas áreas, é umamedida pontual que deve ser to-m a d a”, afirma.

Segundo Schuler, “é precisomudar o perfil de nossa forma-ção universitária”. Desde o iníciodo curso, os alunos devem convi-ver com as empresas e frequentarcentros de empreendedorismo.

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Quinta-feira, 8 de novembro de 2012 | Valor | F3

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:44) - Página 3- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | I n ova ç ã o

Fonte: BNDES e Finep. *Programa Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico; ** Programa voltado a projetos de inovação na cadeia de fornecedores de bens e serviços no setor de petróleo e gás natural

Linhas disponíveisFinanciamento à inovação - em R$

BNDES

PSI Inovação

PSI Projetos Transformadores

PAISS*

Inova Petro**

Funtec

Criatec

Finep

PSI

FNDCT

FAT

Funttel

Total

5,2 bilhões

8 bilhões

2 bilhões

3 bilhões

200 milhões

270 milhões

Total (2012)

3 bilhões

933 milhões

220 milhões

200 milhões

Financiamento Recursos do petróleo são importantes para desenvolvimento de ciência e tecnologia no país

Comunidade busca fontes alternativasREGIS FILHO/VALOR

Glauco Arbix, presidente da Finep: “Para avançar, ciência e tecnologia precisam ter estabilidade de funding”

Carmen NeryPara o Valor, do Rio

A comunidade de ciência e tec-nologia se articula para buscar no-vas fontes de financiamento para aárea de pesquisa e desenvolvimen-to (P&D), diante da possibilidadede o Fundo Nacional de Desenvol-vimento Científico e Tecnológico(FNDCT) perder os recursos que re-cebe do fundo setorial CT-Petro,criado para estimular a inovaçãona cadeia produtiva do setor de pe-tróleo e gás natural, e do Fundo So-cial. O CT-Petro e o Fundo Social re-cebem recursos provenientes daexploração do petróleo e o gover-no brasileiro tende a destinar osroyalties da exploração do pré-salpara a educação, conforme já sina-lizou o ministro da Educação, Aloi-zio Mercadante.

O fundo setorial CT-Petro tem amaior parte dos recursos destina-dos a ciência e tecnologia (C&T),respondendo por 45% dos valoresdo FNDCT que, até o ano passado,era a principal fonte de financia-mento à inovação. O Fundo Socialé alimentado com os recursosque cabem à União, provenientesda exploração do petróleo. Paranão afetar o desenvolvimento dapesquisa e desenvolvimento dopaís, o então presidente Lula assi-nou um decreto preservando osrecursos do regime de concessãopara C&T e defesa até 2015.

No texto do PL 2565/11, da Câ-mara dos Deputados, que tratada repartição dos royalties de pe-tróleo e que seria votado na ter-ça-feira, o deputado Carlos Zara-tini (PT-SP), relator do projeto,tentou preservar os recursos paraa área de C&T, a partir de 2015.Mas com a reviravolta na vota-ção, o PL 2565/11 não foi votadoe em seu lugar foi aprovado um

outro texto do Senado, que alte-rou a distribuição dos royalties enão se sabe ainda o destino queserá dado aos recursos que hojevão para C&T.

Com o fim do CT- Petro, oFNDCT poderá perder R$ 1,9 bi-lhão a partir de 2015. Já o Progra-ma de Sustentação do Investi-mento (PSI) é transitório e a cadaano precisa ser renovado. “Seacabarem os recursos do CT-Pe-tro e o Programa de Sustentaçãode Investimentos não for renova-do, perderemos 70% do orça-mento da Finep. Para avançar,ciência e tecnologia precisam terestabilidade de funding. OFNDCT já sofre constantes con-tingenciamentos e a questão a sediscutir é se as áreas de C&T deve-riam integrar o arsenal de prontosocorro das questões fiscais, poissão áreas em que a descontinui-dade interfere diretamente nosresultados alcançados”, diz Glau-co Arbix, presidente da Finep.

Ele afirma que, além de con-tingenciável, o FNDCT tem umagovernança complexa e é muitopequeno em relação à demandaexistente. “Isso faz com que oFNDCT já se mostre inadequadoà situação atual no Brasil. A buscade fontes alternativas é a questãochave do sistema”, diz. “Esse é umproblema que já devia ter sidosuperado levando-se em contaque o país elegeu, pelo menos nodiscurso, a inovação como fatorestratégico de competitividade.

De fato, os recursos aumenta-ram, mas estão sempre sob amea-ça de cortes”, afirma Guilherme Li-ma, vice-presidente da AssociaçãoNacional de Pesquisa e Desenvolvi-mento das Empresas Inovadoras(Anpei). Segundo ele, além da Fi-nep, o BNDES tem uma alocaçãoprópria para investimento em ino-

vação via PSI, mas são recursos re-embolsáveis. “O Funtec, único fi-nanciamento a fundo perdido dobanco, tem baixa dotação. E na Fi-nep a subvenção econômica nãopassa historicamente de R$ 500milhões”, afirma.

Já o Ministério da Ciência, Tec-nologia e Inovação pretende des-tinar R$ 4,5 bilhões para finan-ciamento de projetos de tecnolo-gia e inovação em 2013. Essaquantia vai se somar aos R$ 15 bi-lhões já previstos no Plano BrasilMaior para liberação até 2014.

Arbix tem um estudo queaponta que, com a possível a in-terrupção dos recursos do petró-leo em 2015, o FNDCT deverá le-var dez anos para recuperar a per-formance atingida até aquele ano.Por isso, a Finep estuda opções decomo elevar a modalidade de cré-dito de suas operações, hoje limi-tadas a 25%, para 35%, reduzindoo prazo de recomposição doFNDCT para cinco anos, já quecrédito é recurso reembolsável.

Já a subvenção, no seu enten-der, deve ser aplicada apenas a

projetos de alto risco tecnológico.Em relação ao Fundo Social, a es-tratégia, segundo Arbix, será lutarpara que o Ministério da Ciência,Tecnologia e Inovação (MCTI) en-tre na partilha dos recursos e quea Finep passe a operar comoagente financeiro do Fundo.

Em 2012, até julho entraramna agência 334 projetos, totali-zando R$ 12,7 bilhões. Desde oano passado, o FNDCT deixou deser a principal fonte de recursosno orçamento da Finep, contri-buindo com R$ 794,7 milhões,

ante R$ 3,750 bilhões do PSI, quese tornou extremamente estraté-gico para a agência. A Finep já foicontemplada com dois aportesdo PSI, num total de R$ 4 bilhões,e acaba de ser autorizada a rece-ber mais R$ 3 bilhões.

Helena Tenório, chefe do depar-tamento de avaliação, inovação econhecimento do BNDES, afirmaque o banco não está preocupadonem tem problema de funding,embora não tenha um orçamentocarimbado para a área. O PSI Ino-vação dispõe de R$ 5,2 bilhões paraserem aplicados em duas linhas:projetos de inovação em geral ePro Engenharia, voltado para amelhoria de processos de enge-nharia. Outro Programa é o PSIProjetos Transformadores com or-çamento de R$ 8 bilhões para a im-plantação de plantas greenfieldinovadoras. O banco ainda operaem conjunto com a Finep outrasduas linhas setoriais: o PAISS, comrecursos de R$ 2 bilhões, e o InovaPetro que teve aprovados recursosde R$ 3 bilhões.

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F4 | Valor | Quinta-feira, 8 de novembro de 20 1 2

Enxerto

Jornal Valor Econômico - CAD F - ESPECIAIS - 8/11/2012 (15:46) - Página 4- Cor: BLACKCYANMAGENTAYELLOW

Especial | I n ova ç ã o

S u st e n t a b i l i d a d e Ganho de escala ainda é necessáriopara que novos produtos cheguem ao mercado

Pressão por menorpreço inibe avançona cadeia produtivaEdiane TiagoPara o Valor, de São Paulo

As empresas brasileiras têmgrandes oportunidades para li-derar nas tecnologias que apro-veitam o potencial da natureza.“Há uma simbiose entre inovaçãoe sustentabilidade”, diz PauloBranco, coordenador do estudo“Inovação e Sustentabilidade naCadeia de Valor”, realizado peloCentro de Estudos em Sustentabi-lidade da Fundação Getúlio Var-gas (GVCes), com patrocínio daCiti Foundation.

Essa relação estreita se explicapela necessidade de reinventar osmeios de produção e da criação demodelos de negócio que avaliammuito mais do que o preço final debens e serviços. “O maior desafio émudar a relação das grandes cor-porações com seus fornecedores”,afirma Branco. Na prática, o queocorre há décadas é a pressão pelomenor preço. As grandes corpora-ções exercem poder econômiconas cadeias produtivas, que bus-cam maior eficiência na reduçãode custos. “É difícil garantir atribu-tos sustentáveis com contratos fo-cados em preço. Tanto a inovaçãoquanto a sustentabilidade reque-rem investimentos e impactamcustos”, explica.

O estudo aponta para relacio-namentos de parceria, com bus-ca de desempenho e perseguiçãode atributos capazes de garantira sustentabilidade dos negócios.“Nas contas das grandes empre-sas, começam a valer as pressõesda regulamentação e da autorre-gulamentação, vindas do merca-do. Desastres ambientais e uso demateriais poluentes tambémcausam grandes danos à ima-g e m”, comenta o pesquisador.Exemplos como o da fabricantede brinquedos Mattel – cujo par-ceiro chinês utilizou tinta comchumbo na produção – são em-blemáticos e acendem o alarmedos executivos. “Ninguém quercorrer riscos como esse.”

De fato, a mentalidade dos diri-gentes está mudando, embora odesdobramento nas empresas enas cadeias produtivas ainda sejaum desafio. Segundo estudo pu-blicado pela Accenture, em 2010 –

no qual a consultoria entrevistou766 dirigentes de empresas de va-riados países e setores da econo-mia –, 93% dos executivos apontouque as questões de sustentabilida-de serão críticas para o sucesso fu-turo do negócio; 96% acreditamque esses pontos devem ser plena-mente integrados à estratégia eoperação da empresa; 72% citaram“marca, confiança e reputação” co -mo fatores que impulsionam osprojetos de sustentabilidade; e88% dos entrevistados acreditamque a integração da sustentabili-dade deva ser feita em sua cadeiade suprimentos.

O novo direcionamento empre-sarial avança e traz novos paradig-mas para a pesquisa e desenvolvi-mento. A inovação – da mesma for-ma que a sustentabilidade – é tare-fa que exige comprometimentoentre fornecedores e clientes. Émuito mais custoso e difícil inovarde forma isolada. “Assim como asustentabilidade, as invenções e asinovações incrementais só se com-pletam em cadeia”, explica Branco.

“Dificuldadeestá em fazer ocliente enxergar ovalor da inovação.Mostrar que ainserção de umnovo processo ouproduto vaisignificar reduçãode custos e riscosna cadeia.

”José Roberto Durço,da Pack Less

“A Tramppodescontamina270 mil lâmpadaspor mês. Tambémvendemos o vidro,as ponteirasmetálicas, opó-fosfórico e omercúrio. Cadaum tem a suaaplicação.

”Carlos Pachelli,da Tramppo

DANIEL WAINSTEIN/VALOR

CLAUDIO BELLI/VALOR

Palete de polipropileno mais leveperde concorrências por custar maisDe São Paulo

Apostar na combinação entreinovação e sustentabilidade é umnegócio promissor para quem pre-tende construir uma empresa parao futuro. “A maior dificuldade ain-da está em fazer o cliente enxergaro valor da inovação. Mostrar que ainserção de um novo processo ouproduto vai significar redução decustos e riscos na cadeia”, argu-menta José Roberto Durço, diretorda Pack Less.

Durço e seu sócio criaram umasolução inovadora para a cadeialogística: um palete feito a partirdo polipropileno (resina plásti-ca), mais leve e menos volumosoque a madeira. Em quatro anos,eles chegaram a um produto quereduz a quase 10% o peso da em-balagem e ocupa muito menosespaço dentro de caminhões. “Is -

so significa menos emissão de ga-ses do efeito-estufa.”

Apesar de a solução poder redu-zir o valor do frete em até 20%, oproduto perde muitas concorrên-cias para os paletes de madeira porcustar, em média, 10% mais. “Aconta tem de ser outra. É precisoanalisar os ganhos no processo lo-gístico em vez de avaliar apenas opreço final do produto. Os depar-tamentos de compras ainda têmdificuldade nesta análise”, diz.

Os paletes da Pack Less são 100%recicláveis e, comparados aos demadeira, consomem 70% menosenergia na fabricação, segundoanálise da Fundação Espaço ECO-Basf. “As peças pesam, em média,três quilos, enquanto as de madei-ra pesam 30 quilos.” A Pack Lessproduz entre 15 e 20 mil paletespor mês. Tem capacidade para 200mil peças mensalmente.

A Tr a m p p o, especializada nagestão sustentável de lâmpadas,nasceu na incubadora Cietec (daUniversidade de São Paulo). Focouseus esforços na criação de serviçosde descontaminação e destinaçãode lâmpadas fluorescentes. “Aten -demos mais de 600 clientes e des-contaminamos 270 mil lâmpadastodos os meses”, conta Carlos Al-berto Pachelli.

A Tramppo também faz gestãodos resíduos, ao oferecer coleta,transporte, processamento e desti-nação dos subprodutos. O serviçocusta entre R$ 0,85 e R$ 2 por lâm-pada e a empresa ainda ganhacom a venda de subprodutos parareciclagem, que hoje responde por4% do faturamento. “Vendemos ovidro, as ponteiras metálicas, o pó-fosfórico e o mercúrio. Cada umtem sua aplicação em diferentescadeias produtivas.” (ET)

O maior desafioé mudar a relaçãodas grandescorporações comseus fornecedores

Ele alerta que as políticas públi-cas para promoção de inovação esustentabilidade também devemavançar e, neste caso, o poder eco-nômico pode ser benéfico. “Emmédia, entre 10% e 15% do ProdutoInterno Bruto (PIB) global estácomprometido com compras pú-blicas. Se essa fatia do mercadopassar a exigir atributos sustentá-veis nos produtos e serviços queadquire, teremos uma demandaque justifique investimentos e no-vas frentes de pesquisa e desenvol-v i m e n t o”, comenta.

Outro ponto de oportunidadeestá nas políticas que regulamen-tam os impactos ambientais. “Mui -tas empresas encontraram nichosde mercado a partir da política deresíduos sólidos. Quando há obri-gação para mitigar os efeitos dapoluição, há demanda e, conse-quentemente, oferta.”

A escala, segundo Branco, aindaé impedimento para que muitasinovações cheguem ao mercado.“Produtos com tecnologia e atri-butos sustentáveis são mais caros.A economia verde ainda dependede quem está disposto a arcar como ágio”, explica. A conta, no entan-to, é feita de forma errada. Ao com-prar um produto sem atributossustentáveis, a sociedade paga umpreço alto no final. “Sempre utilizoo caso da produção orgânica dealimentos. A agricultura tradicio-nal é altamente subsidiada no Bra-sil, o que nos leva a uma diferençaenorme de preços na prateleira.Mas se avaliarmos os impactos nanatureza e na saúde da população,qual é o método de produção maiscaro?”, questiona. O resultado éque ainda oferecemos mais vanta-gens econômicas a atividades po-luidoras.

Mas o avanço da sustentabilida-de — que dependerá da criação denovos produtos e modelos de ne-gócios — exigirá ainda um novomodelo de operação dos departa-mentos de compras e uma gestãomais apurada da cadeia de forneci-mento por parte das grandes cor-porações. E a estratégia passa poruma visão integrada do ciclo de vi-da do produto, no qual a sustenta-bilidade está inserida desde a eta-pa de pesquisa e desenvolvimentoaté as atividades pós-consumo.“Este complexo ciclo exigirá me-lhores condições para financiarprojetos em empresas de menorporte, que precisam de estruturascapazes de suportar a demandadas grandes corporações.”

Nesse sentido, a convergênciaentre parcerias empresariais e estí-mulos públicos será fundamentalpara alicerçar os projetos. “As em-presas menores têm dificuldadespara conseguir financiamento. Porisso, os instrumentos de fomento àinovação e sustentabilidade preci-sam avançar”, comenta. Entre ascadeias produtivas que sofrematualmente com a falta de integra-ção está a de óleo e gás. “O pré-salsó é viável com uma rede de em-presas capaz de produzir tecnolo-gia e mitigar os riscos ambientais.Se conseguirmos isso, venderemossistemas de exploração em águasprofundas para todo o mundo.”

Fundo binacional tem R$ 100 mi para bancar startupsCarmen NeryPara o Valor, do Rio

A 21212 é uma aceleradora deempresas binacional, comandadapelos brasileiros Marcelo Sales, Ra-fael Duton e Leonardo Constanti-no, que gerenciam a empresa apartir do Rio de Janeiro (código deárea 21), e por Benjamin White eJeff Levinsohn, sediados em NovaYork (código de área 212). Já man-tém em seu portfólio 18 empresasdigitais que passaram por uma ri-gorosa seleção entre centenas dejovens empreendedores e que du-rante quatro meses entraram noprograma de aceleração. No pro-cesso, elas foram preparadas pormeio de mentorias e couchingcom nomes fortes do mercado, co-mo Daniel Simon da Gávea Investi-mentos, para participarem do De-mo Day. O evento apresentou, nodia 19, no Museu de Arte Modernado Rio, nove empresas inovadoras,que atuam com soluções digitais, a120 investidores institucionais en-tre fundos de investimento e deventure capital e investidores anjonacionais e estrangeiros.

“Nossa meta é ter 30 empresasno portfólio até 2013. Elas rece-bem um aporte inicial de R$ 50 mile até R$ 250 mil em serviços. Esta-mos criando também o Fundo21212, com R$ 100 milhões parainvestir em empresas digitais”, diz

Marcelo Sales, diretor da empresa.O ponto alto do Demo Day fo-

ram as apresentações dos jovensentre 20 e 36 anos, vestidos dejeans, tênis e camisetas com a lo-gomarca de suas promissorasstartups. Cada um teve 10 minu-tos para vender seu peixe.

A Zona Universitária, por exem-

plo, é uma rede social para ajudar aplanejar a carreira de universitá-rios. Foi apresentada pelo cana-dense Ylya Brotzky, co-fundador echief networking officer, que dei-xou carreira promissora na Va l epara conduzir o negócio ao ladode Marcelo Melo e Jair Vençosa.“Cerca de 71% das empresas no

Brasil dizem que têm dificuldadesde encontrar talentos. Já temos 75mil universitários e vamos chegar a100 mil até o final do ano. Agoraestamos abrindo a plataforma pa-ra empresas de mentoria que que-rem vender serviços e companhias,como a Arcelor Mittal, que buscamtalentos. Estamos reinventando o

recrutamento no Brasil”, prome-teu Brotzky, que fechou uma cap-tação de R$ 100 mil e espera captaroutros R$ 200 mil após o evento.

O Site Sustentável, projeto deRodrigo Torrentes, 36 anos, e Maxi-miliano Muniz, 30, propõe a elimi-nação da pegada de carbono de si-tes por meio do plantio de árvores.A empresa calcula quanto o siteconsome de energia e faz a neutra-lização. A cada 100 mil page views,é plantada uma árvore, ao custo deR$ 15, pelas equipes do InstitutoBrasileiro de Florestas. “Já temos 70clientes e plantamos mais de 500árvores no Paraná e no sul de SãoPa u l o”, informou Torrentes, que re-cebeu aporte da Venture One e es-perava captar outros R$ 900 mil.

O Acess Club é um clube de pri-vilégios criado pelos irmãos JoãoVitor Amaral, 23 anos, e FredericoAmaral, 21. O foco são VIPs que sóingressam por meio de convites epagam de R$ 240 (plano semes-tral) a R$ 420 (plano anual) parater acesso a uma série de benefíciosde empresas como Natan, Ko n i ,Bartholomeu e Bar do Copa. “Acompra coletiva foca em desconto.Nós focamos na experiência única.Criamos algo inovador aproxi-mando o cliente classe A das em-presas parceiras com um canal derelacionamento forte. Sem investirem marketing, já temos 300 usuá-rios pagantes”, diz Frederico Ama-

ral, que esperava captar R$ 200 milapós o evento.

Na área de entretenimento, oQueremos! é uma plataformaque reúne fãs, produtores e ar-tistas para promover shows eeventos por meio de crowdfun-ding. Já a WeGoOut é uma plata-forma de interação social que re-comenda festas e locais para saircom base no seu grupo de ami-gos de redes sociais como o Fa -cebook, mostrando quem irá,quem já está lá e fotos do am-biente. Um pouco invasivo, mas,segundo o co-fundador Frederi-co Camara, só monitora pessoascadastradas na plataforma.

Também se apresentaram aXJobs, plataforma para terceiri-zação de projetos online; a Zero-Paper, que oferece um gerencia-dor financeiro inteligente parapequenos empresários e empre-endedores individuais; e a Ea-syaula, que aproxima pessoasque querem ensinar das que que-rem aprender. Já a Bidcorp atuano mercado de bens e ativos ex-cedentes, com foco na constru-ção civil. Ao encerrar uma obra, aconstrutora pode disponibilizarseus ativos novos e usados a pre-ços acessíveis para pequenas emédias empresas. A empresa jáconta com mais de R$ 50 milhõesem ativos excedentes de grandesconstrutoras como a Odebrecht.

D I V U LG A Ç Ã O

Marcelo Sales, da 21212: “Nossa meta é ter 30 empresas no portfólio até 2013. O aporte mínimo é de R$ 50 mil”