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1 1. Criatura de Duas Cabeças Cara Metade 2. Trabalho Feito pela Metade 3. Completa-mente 4. Casamento da Família e Além 5. Con-sócio de Construção 6. Feliz-cidade 7. Espaçotempo de Reunião Vitória, segunda-feira, 16 de junho de 2008. José Augusto Gava.

cara metade

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homens e mulheres como metades -faces da moeda inteira

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Page 1: cara metade

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1 Criatura de Duas Cabeccedilas

Cara Metade

2 Trabalho Feito pela Metade 3 Completa-mente

4 Casamento da Famiacutelia e Aleacutem 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

6 Feliz-cidade 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Vitoacuteria segunda-feira 16 de junho de 2008 Joseacute Augusto Gava

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Capiacutetulo 1 Criatura de Duas Cabeccedilas

Na realidade a humanidade eacute uma equaccedilatildeo que comeccedila

como frac12 + frac12 = 100 e natildeo 1 + 1 = 2 como o mito biacuteblico de Adatildeo e Eva nos induziu a pensar Natildeo somos homem + mulher e sim um par fundamental feito de um soacute ser com duas cabeccedilas quatro pernas quatro braccedilos e assim por diante com a vantagem enorme de estarmos separados-unidos pela sexualidade da Curva do Sino que a Natureza inventou para a gente

bull bifacial (duas faces) UM DESENHO DO PAR FUNDAMENTAL

bull quadruacutepede (quatro pernas uns satildeo mais que outros)

bull quadruacutemano (quatro matildeos) bull bimental (duas mentes quatro hemisfeacuterios) bull hermafrodita (consegue se reproduzir soacute pois

tem os dois sexos) bull e segue

CURVA DO SINOPAI E DO NANOMAtildeE (a coroa da humanidade tem dois lados que se reuacutenem atraacutes)

homem

uniatildeo

mulher

cara

moeda futura

coroa

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Trono pelo centro reunindo os pares de oposto-complementares

Veja soacute que coisa interessante A coroa natildeo eacute de um soacute eacute de dois eacute do rei e da rainha

que constituem pelo centro a cara-coroa De um lado o homem que natildeo tolera tarefas ciacuteclicas vai agrave

guerra correr riscos do outro a mulher que natildeo suporta conflitos repete os recorrentes que subjugariam os homens ateacute o cansaccedilo

A Natureza laacute nos primoacuterdios separou o ser uacutenico (que lembre-se teria chance muito menor de conflitos internos ateacute porque se fossem destrutivos demais a evoluccedilatildeo nem teria acontecido) em dois mas uniu-os novamente pela sexualidade foi um risco enorme mas tambeacutem foi sabedoria

SEXO (isso eacute bom demais)

O mundo gira em torno do sexo e o sexo gira em torno do mundo

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Sexo natildeo eacute apenas isso que noacutes racionais pensamos eacute muito mais eacute o panorama geral de construccedilatildeo de toda a evoluccedilatildeo que veio dos fundos ateacute hoje que comeccedilou a acontecer laacute para traacutes Como eacute tatildeo fundamental para o nosso futuro a nossa integridade psicoloacutegica e tudo mais deveriacuteamos estar estudando-o obsessivamente desde as algas cianofiacuteceas desde 38 bilhotildees de anos desde o comeccedilo da vida Sexo eacute chance de problemas e de soluccedilotildees eacute ceder seu corpomente para agradar o ldquooutrordquo sexo

Pense que soacute noacutes seres humanos somos 65 bilhotildees de na Terra em vaacuterios graus de sexualizaccedilatildeo do nascer ao morrer em qualquer idade Quem natildeo faz pelo menos tenta lembrar Ocupa uma porccedilatildeo enorme dos nossos dias e das nossas noites e eacute inventado e reinventado todos os dias

Sexo estaacute infinitamente mais em nossas vidas do que futebol ou qualquer outra atividade Na realidade uma grande quantidade de preceitos se volta para impedir ou controlar a excessiva sexualizaccedilatildeo humana ndash haacute uma quantidade incriacutevel de proibiccedilotildees claras ou veladas

SIacuteMBOLO TAMBEacuteM DO SEXO YIN+YANG

Homem Mulher

Com essa roupa de astronauta por cima natildeo daacute para saber se eacute homem ou mulher natildeo estou estimulando nada soacute dizendo que eacute um conjunto que nos levou laacute na Lua e a

tantos lugares da Terra A Natureza plantou dentro de cada uma a necessidade do

outro e dentro de cada outro a necessidade de uma e disso fez uma geo-histoacuteria beliacutessima E noacutes fomos adiante conjuntamente Em duas metades natildeo eacute uma metade soacute

De que maneira somos duas metades Somos oposto-complementares um precisa da outra eacute

uma combinaccedilatildeo selada por 38 bilhotildees de anos da vida 100 milhotildees de anos dos primatas 10 milhotildees de anos dos hominiacutedeos 200 mil dos neanderthais 80 a 70 mil anos dos cro-magnons nossa espeacutecie De problemas tornados soluccedilotildees Eacute de fato como o siacutembolo do YinYang independentemente de interpretaccedilatildeo oriental dentro de cada lado existe uma imagem do outro que nos guia

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Capiacutetulo 2 Trabalho Feito pela Metade

Mas haacute alguns que natildeo reconhecem isso

MACHISTAS 25

A CURVA DO SINO LEVADA AOS EXTREMISMOS 475 475 FEMINISTAS

25 superafirmaccedilatildeo

dos machos superafirmaccedilatildeo

das fecircmeas Isso porque existem quatro sexos e natildeo dois e daiacute todas

as combinaccedilotildees que vem deles (como estaacute dito no modelo) bull machos bull fecircmeas bull pseudo-machos (veados gays boiolas e todos os

apelidos ofensivos a ofensibilidade natildeo estaacute no nome e sim no desejo de ofender)

bull pseudo-fecircmeas (sapatotildees leacutesbicas e demais enquadramentos)

Machismo leva a homossexualismo masculino (se eacute homossexual como pode ser maacutesculo) e feminismo leva a homossexualismo feminino (idem) Satildeo extremizaccedilotildees supertemperaturas que soacute aparecem em excesso em certas situaccedilotildees que declararemos depois

UMA LISTA IMENSA DE TRABALHOS FEITOS PELA NOSSA OUTRA METAD

E (significa que vocecirc ficou livre disso ficou livre ficou vocecirc teve tempo para vocecirc porque algueacutem que participa de seu projeto de vida livrou-o ou livrou-a de ter de fazer tudo o que significou milhotildees de produtos postos a seu serviccedilo)

Na verdade a lista acima eacute pequena bem pequena Ela poderia ser encomprida ilimitadamente para conter tudo que a humanidade faz pois a soma de tudo eacute feita pela outra metade outra metade em relaccedilatildeo a uma e outra uma em relaccedilatildeo agrave metade

Todas as coisas que existiram existem e existiratildeo (fora o que vem dos natildeo-humanos fungos plantas animais e primatas) vem da outra metade alguma outra metade soma da metade-homem e metade-mulher E se incluirmos cada uma das outras espeacutecies (dizem que satildeo 30 milhotildees) entatildeo eacute tudo mesmo

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Vocecirc pensa que se metade fosse excluiacuteda sempre poderiacuteamos aprender a fazer o que ela faz mas pense em todas as coisas tatildeo difiacuteceis de VOCEcirc fazer se aceitaria fazecirc-las de agora em diante

TODAS AS COISAS QUE VOCEcirc DETESTA FAZER

PENSANDO BEM TODAS MESMO

E em relaccedilatildeo a tudo que a humanidade faz e tudo que as espeacutecies fazem nem haveria forccedila no indiviacuteduo

Olhe para todas as tarefas OLHE MESMO para tudo TUDO MESMO e comece entatildeo a reparar na utilidade de sua outra metade em como seremos (ou poderiacuteamos ser) felizes se nos dedicarmos (ou se nos dedicaacutessemos) mais agrave felicidade e menos a reclamar

homem-hemisfeacuterico

DUAS METADES DE ESFERA FAZEM A VIABILIDADE QUANDO ESFERA

casal-esfeacuterico mulher-hemisfeacuterica

A esfera eacute totalmente estaacutevel

Capiacutetulo 3 Completa-mente

Somos criaturas de duas cabeccedilas quatro braccedilos quatro

pernas e assim por diante tudo duplicado soacute que separado vocecirc natildeo sente TANTA falta - se estaacute soacute - porque o trabalho da outra

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metade estaacute sendo socialmente suprido Natildeo somos 66 bilhotildees (para dar conta certa) somos 33 bilhotildees de pares potenciais

DUAS CABECcedilAS (mas natildeo somos monstros porque as cabeccedilas estatildeo postas em corpos diferentes)

DUAS E QUATRO FACES (embora natildeo reparemos na realidade partes de noacutes estatildeo operando suprindo nossas faltas)

casal

famiacutelia

Pois noacutes natildeo somos mais indiviacuteduos somos grupo Um desses grupos chamado ldquoGrande Vitoacuteriardquo tinha

menos de 300 mil faces em 1971 quando vim morar aqui agora passa de 1400 mil cresceu muito incorporando vaacuterias cidades Existem outros muito maiores

Maiores Cidades do planeta 7 nov 2006

AS MAIORES AGLOMERACcedilOtildeES URBANAS

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OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

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Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

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defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

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Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

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rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

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ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

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para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

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cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 2: cara metade

2

Capiacutetulo 1 Criatura de Duas Cabeccedilas

Na realidade a humanidade eacute uma equaccedilatildeo que comeccedila

como frac12 + frac12 = 100 e natildeo 1 + 1 = 2 como o mito biacuteblico de Adatildeo e Eva nos induziu a pensar Natildeo somos homem + mulher e sim um par fundamental feito de um soacute ser com duas cabeccedilas quatro pernas quatro braccedilos e assim por diante com a vantagem enorme de estarmos separados-unidos pela sexualidade da Curva do Sino que a Natureza inventou para a gente

bull bifacial (duas faces) UM DESENHO DO PAR FUNDAMENTAL

bull quadruacutepede (quatro pernas uns satildeo mais que outros)

bull quadruacutemano (quatro matildeos) bull bimental (duas mentes quatro hemisfeacuterios) bull hermafrodita (consegue se reproduzir soacute pois

tem os dois sexos) bull e segue

CURVA DO SINOPAI E DO NANOMAtildeE (a coroa da humanidade tem dois lados que se reuacutenem atraacutes)

homem

uniatildeo

mulher

cara

moeda futura

coroa

3

Trono pelo centro reunindo os pares de oposto-complementares

Veja soacute que coisa interessante A coroa natildeo eacute de um soacute eacute de dois eacute do rei e da rainha

que constituem pelo centro a cara-coroa De um lado o homem que natildeo tolera tarefas ciacuteclicas vai agrave

guerra correr riscos do outro a mulher que natildeo suporta conflitos repete os recorrentes que subjugariam os homens ateacute o cansaccedilo

A Natureza laacute nos primoacuterdios separou o ser uacutenico (que lembre-se teria chance muito menor de conflitos internos ateacute porque se fossem destrutivos demais a evoluccedilatildeo nem teria acontecido) em dois mas uniu-os novamente pela sexualidade foi um risco enorme mas tambeacutem foi sabedoria

SEXO (isso eacute bom demais)

O mundo gira em torno do sexo e o sexo gira em torno do mundo

4

Sexo natildeo eacute apenas isso que noacutes racionais pensamos eacute muito mais eacute o panorama geral de construccedilatildeo de toda a evoluccedilatildeo que veio dos fundos ateacute hoje que comeccedilou a acontecer laacute para traacutes Como eacute tatildeo fundamental para o nosso futuro a nossa integridade psicoloacutegica e tudo mais deveriacuteamos estar estudando-o obsessivamente desde as algas cianofiacuteceas desde 38 bilhotildees de anos desde o comeccedilo da vida Sexo eacute chance de problemas e de soluccedilotildees eacute ceder seu corpomente para agradar o ldquooutrordquo sexo

Pense que soacute noacutes seres humanos somos 65 bilhotildees de na Terra em vaacuterios graus de sexualizaccedilatildeo do nascer ao morrer em qualquer idade Quem natildeo faz pelo menos tenta lembrar Ocupa uma porccedilatildeo enorme dos nossos dias e das nossas noites e eacute inventado e reinventado todos os dias

Sexo estaacute infinitamente mais em nossas vidas do que futebol ou qualquer outra atividade Na realidade uma grande quantidade de preceitos se volta para impedir ou controlar a excessiva sexualizaccedilatildeo humana ndash haacute uma quantidade incriacutevel de proibiccedilotildees claras ou veladas

SIacuteMBOLO TAMBEacuteM DO SEXO YIN+YANG

Homem Mulher

Com essa roupa de astronauta por cima natildeo daacute para saber se eacute homem ou mulher natildeo estou estimulando nada soacute dizendo que eacute um conjunto que nos levou laacute na Lua e a

tantos lugares da Terra A Natureza plantou dentro de cada uma a necessidade do

outro e dentro de cada outro a necessidade de uma e disso fez uma geo-histoacuteria beliacutessima E noacutes fomos adiante conjuntamente Em duas metades natildeo eacute uma metade soacute

De que maneira somos duas metades Somos oposto-complementares um precisa da outra eacute

uma combinaccedilatildeo selada por 38 bilhotildees de anos da vida 100 milhotildees de anos dos primatas 10 milhotildees de anos dos hominiacutedeos 200 mil dos neanderthais 80 a 70 mil anos dos cro-magnons nossa espeacutecie De problemas tornados soluccedilotildees Eacute de fato como o siacutembolo do YinYang independentemente de interpretaccedilatildeo oriental dentro de cada lado existe uma imagem do outro que nos guia

5

Capiacutetulo 2 Trabalho Feito pela Metade

Mas haacute alguns que natildeo reconhecem isso

MACHISTAS 25

A CURVA DO SINO LEVADA AOS EXTREMISMOS 475 475 FEMINISTAS

25 superafirmaccedilatildeo

dos machos superafirmaccedilatildeo

das fecircmeas Isso porque existem quatro sexos e natildeo dois e daiacute todas

as combinaccedilotildees que vem deles (como estaacute dito no modelo) bull machos bull fecircmeas bull pseudo-machos (veados gays boiolas e todos os

apelidos ofensivos a ofensibilidade natildeo estaacute no nome e sim no desejo de ofender)

bull pseudo-fecircmeas (sapatotildees leacutesbicas e demais enquadramentos)

Machismo leva a homossexualismo masculino (se eacute homossexual como pode ser maacutesculo) e feminismo leva a homossexualismo feminino (idem) Satildeo extremizaccedilotildees supertemperaturas que soacute aparecem em excesso em certas situaccedilotildees que declararemos depois

UMA LISTA IMENSA DE TRABALHOS FEITOS PELA NOSSA OUTRA METAD

E (significa que vocecirc ficou livre disso ficou livre ficou vocecirc teve tempo para vocecirc porque algueacutem que participa de seu projeto de vida livrou-o ou livrou-a de ter de fazer tudo o que significou milhotildees de produtos postos a seu serviccedilo)

Na verdade a lista acima eacute pequena bem pequena Ela poderia ser encomprida ilimitadamente para conter tudo que a humanidade faz pois a soma de tudo eacute feita pela outra metade outra metade em relaccedilatildeo a uma e outra uma em relaccedilatildeo agrave metade

Todas as coisas que existiram existem e existiratildeo (fora o que vem dos natildeo-humanos fungos plantas animais e primatas) vem da outra metade alguma outra metade soma da metade-homem e metade-mulher E se incluirmos cada uma das outras espeacutecies (dizem que satildeo 30 milhotildees) entatildeo eacute tudo mesmo

6

Vocecirc pensa que se metade fosse excluiacuteda sempre poderiacuteamos aprender a fazer o que ela faz mas pense em todas as coisas tatildeo difiacuteceis de VOCEcirc fazer se aceitaria fazecirc-las de agora em diante

TODAS AS COISAS QUE VOCEcirc DETESTA FAZER

PENSANDO BEM TODAS MESMO

E em relaccedilatildeo a tudo que a humanidade faz e tudo que as espeacutecies fazem nem haveria forccedila no indiviacuteduo

Olhe para todas as tarefas OLHE MESMO para tudo TUDO MESMO e comece entatildeo a reparar na utilidade de sua outra metade em como seremos (ou poderiacuteamos ser) felizes se nos dedicarmos (ou se nos dedicaacutessemos) mais agrave felicidade e menos a reclamar

homem-hemisfeacuterico

DUAS METADES DE ESFERA FAZEM A VIABILIDADE QUANDO ESFERA

casal-esfeacuterico mulher-hemisfeacuterica

A esfera eacute totalmente estaacutevel

Capiacutetulo 3 Completa-mente

Somos criaturas de duas cabeccedilas quatro braccedilos quatro

pernas e assim por diante tudo duplicado soacute que separado vocecirc natildeo sente TANTA falta - se estaacute soacute - porque o trabalho da outra

7

metade estaacute sendo socialmente suprido Natildeo somos 66 bilhotildees (para dar conta certa) somos 33 bilhotildees de pares potenciais

DUAS CABECcedilAS (mas natildeo somos monstros porque as cabeccedilas estatildeo postas em corpos diferentes)

DUAS E QUATRO FACES (embora natildeo reparemos na realidade partes de noacutes estatildeo operando suprindo nossas faltas)

casal

famiacutelia

Pois noacutes natildeo somos mais indiviacuteduos somos grupo Um desses grupos chamado ldquoGrande Vitoacuteriardquo tinha

menos de 300 mil faces em 1971 quando vim morar aqui agora passa de 1400 mil cresceu muito incorporando vaacuterias cidades Existem outros muito maiores

Maiores Cidades do planeta 7 nov 2006

AS MAIORES AGLOMERACcedilOtildeES URBANAS

8

OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

9

Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

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defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

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Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

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rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

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vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

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de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

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aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

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(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

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Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

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ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

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para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

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cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 3: cara metade

3

Trono pelo centro reunindo os pares de oposto-complementares

Veja soacute que coisa interessante A coroa natildeo eacute de um soacute eacute de dois eacute do rei e da rainha

que constituem pelo centro a cara-coroa De um lado o homem que natildeo tolera tarefas ciacuteclicas vai agrave

guerra correr riscos do outro a mulher que natildeo suporta conflitos repete os recorrentes que subjugariam os homens ateacute o cansaccedilo

A Natureza laacute nos primoacuterdios separou o ser uacutenico (que lembre-se teria chance muito menor de conflitos internos ateacute porque se fossem destrutivos demais a evoluccedilatildeo nem teria acontecido) em dois mas uniu-os novamente pela sexualidade foi um risco enorme mas tambeacutem foi sabedoria

SEXO (isso eacute bom demais)

O mundo gira em torno do sexo e o sexo gira em torno do mundo

4

Sexo natildeo eacute apenas isso que noacutes racionais pensamos eacute muito mais eacute o panorama geral de construccedilatildeo de toda a evoluccedilatildeo que veio dos fundos ateacute hoje que comeccedilou a acontecer laacute para traacutes Como eacute tatildeo fundamental para o nosso futuro a nossa integridade psicoloacutegica e tudo mais deveriacuteamos estar estudando-o obsessivamente desde as algas cianofiacuteceas desde 38 bilhotildees de anos desde o comeccedilo da vida Sexo eacute chance de problemas e de soluccedilotildees eacute ceder seu corpomente para agradar o ldquooutrordquo sexo

Pense que soacute noacutes seres humanos somos 65 bilhotildees de na Terra em vaacuterios graus de sexualizaccedilatildeo do nascer ao morrer em qualquer idade Quem natildeo faz pelo menos tenta lembrar Ocupa uma porccedilatildeo enorme dos nossos dias e das nossas noites e eacute inventado e reinventado todos os dias

Sexo estaacute infinitamente mais em nossas vidas do que futebol ou qualquer outra atividade Na realidade uma grande quantidade de preceitos se volta para impedir ou controlar a excessiva sexualizaccedilatildeo humana ndash haacute uma quantidade incriacutevel de proibiccedilotildees claras ou veladas

SIacuteMBOLO TAMBEacuteM DO SEXO YIN+YANG

Homem Mulher

Com essa roupa de astronauta por cima natildeo daacute para saber se eacute homem ou mulher natildeo estou estimulando nada soacute dizendo que eacute um conjunto que nos levou laacute na Lua e a

tantos lugares da Terra A Natureza plantou dentro de cada uma a necessidade do

outro e dentro de cada outro a necessidade de uma e disso fez uma geo-histoacuteria beliacutessima E noacutes fomos adiante conjuntamente Em duas metades natildeo eacute uma metade soacute

De que maneira somos duas metades Somos oposto-complementares um precisa da outra eacute

uma combinaccedilatildeo selada por 38 bilhotildees de anos da vida 100 milhotildees de anos dos primatas 10 milhotildees de anos dos hominiacutedeos 200 mil dos neanderthais 80 a 70 mil anos dos cro-magnons nossa espeacutecie De problemas tornados soluccedilotildees Eacute de fato como o siacutembolo do YinYang independentemente de interpretaccedilatildeo oriental dentro de cada lado existe uma imagem do outro que nos guia

5

Capiacutetulo 2 Trabalho Feito pela Metade

Mas haacute alguns que natildeo reconhecem isso

MACHISTAS 25

A CURVA DO SINO LEVADA AOS EXTREMISMOS 475 475 FEMINISTAS

25 superafirmaccedilatildeo

dos machos superafirmaccedilatildeo

das fecircmeas Isso porque existem quatro sexos e natildeo dois e daiacute todas

as combinaccedilotildees que vem deles (como estaacute dito no modelo) bull machos bull fecircmeas bull pseudo-machos (veados gays boiolas e todos os

apelidos ofensivos a ofensibilidade natildeo estaacute no nome e sim no desejo de ofender)

bull pseudo-fecircmeas (sapatotildees leacutesbicas e demais enquadramentos)

Machismo leva a homossexualismo masculino (se eacute homossexual como pode ser maacutesculo) e feminismo leva a homossexualismo feminino (idem) Satildeo extremizaccedilotildees supertemperaturas que soacute aparecem em excesso em certas situaccedilotildees que declararemos depois

UMA LISTA IMENSA DE TRABALHOS FEITOS PELA NOSSA OUTRA METAD

E (significa que vocecirc ficou livre disso ficou livre ficou vocecirc teve tempo para vocecirc porque algueacutem que participa de seu projeto de vida livrou-o ou livrou-a de ter de fazer tudo o que significou milhotildees de produtos postos a seu serviccedilo)

Na verdade a lista acima eacute pequena bem pequena Ela poderia ser encomprida ilimitadamente para conter tudo que a humanidade faz pois a soma de tudo eacute feita pela outra metade outra metade em relaccedilatildeo a uma e outra uma em relaccedilatildeo agrave metade

Todas as coisas que existiram existem e existiratildeo (fora o que vem dos natildeo-humanos fungos plantas animais e primatas) vem da outra metade alguma outra metade soma da metade-homem e metade-mulher E se incluirmos cada uma das outras espeacutecies (dizem que satildeo 30 milhotildees) entatildeo eacute tudo mesmo

6

Vocecirc pensa que se metade fosse excluiacuteda sempre poderiacuteamos aprender a fazer o que ela faz mas pense em todas as coisas tatildeo difiacuteceis de VOCEcirc fazer se aceitaria fazecirc-las de agora em diante

TODAS AS COISAS QUE VOCEcirc DETESTA FAZER

PENSANDO BEM TODAS MESMO

E em relaccedilatildeo a tudo que a humanidade faz e tudo que as espeacutecies fazem nem haveria forccedila no indiviacuteduo

Olhe para todas as tarefas OLHE MESMO para tudo TUDO MESMO e comece entatildeo a reparar na utilidade de sua outra metade em como seremos (ou poderiacuteamos ser) felizes se nos dedicarmos (ou se nos dedicaacutessemos) mais agrave felicidade e menos a reclamar

homem-hemisfeacuterico

DUAS METADES DE ESFERA FAZEM A VIABILIDADE QUANDO ESFERA

casal-esfeacuterico mulher-hemisfeacuterica

A esfera eacute totalmente estaacutevel

Capiacutetulo 3 Completa-mente

Somos criaturas de duas cabeccedilas quatro braccedilos quatro

pernas e assim por diante tudo duplicado soacute que separado vocecirc natildeo sente TANTA falta - se estaacute soacute - porque o trabalho da outra

7

metade estaacute sendo socialmente suprido Natildeo somos 66 bilhotildees (para dar conta certa) somos 33 bilhotildees de pares potenciais

DUAS CABECcedilAS (mas natildeo somos monstros porque as cabeccedilas estatildeo postas em corpos diferentes)

DUAS E QUATRO FACES (embora natildeo reparemos na realidade partes de noacutes estatildeo operando suprindo nossas faltas)

casal

famiacutelia

Pois noacutes natildeo somos mais indiviacuteduos somos grupo Um desses grupos chamado ldquoGrande Vitoacuteriardquo tinha

menos de 300 mil faces em 1971 quando vim morar aqui agora passa de 1400 mil cresceu muito incorporando vaacuterias cidades Existem outros muito maiores

Maiores Cidades do planeta 7 nov 2006

AS MAIORES AGLOMERACcedilOtildeES URBANAS

8

OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

9

Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

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defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

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Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

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para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 4: cara metade

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Sexo natildeo eacute apenas isso que noacutes racionais pensamos eacute muito mais eacute o panorama geral de construccedilatildeo de toda a evoluccedilatildeo que veio dos fundos ateacute hoje que comeccedilou a acontecer laacute para traacutes Como eacute tatildeo fundamental para o nosso futuro a nossa integridade psicoloacutegica e tudo mais deveriacuteamos estar estudando-o obsessivamente desde as algas cianofiacuteceas desde 38 bilhotildees de anos desde o comeccedilo da vida Sexo eacute chance de problemas e de soluccedilotildees eacute ceder seu corpomente para agradar o ldquooutrordquo sexo

Pense que soacute noacutes seres humanos somos 65 bilhotildees de na Terra em vaacuterios graus de sexualizaccedilatildeo do nascer ao morrer em qualquer idade Quem natildeo faz pelo menos tenta lembrar Ocupa uma porccedilatildeo enorme dos nossos dias e das nossas noites e eacute inventado e reinventado todos os dias

Sexo estaacute infinitamente mais em nossas vidas do que futebol ou qualquer outra atividade Na realidade uma grande quantidade de preceitos se volta para impedir ou controlar a excessiva sexualizaccedilatildeo humana ndash haacute uma quantidade incriacutevel de proibiccedilotildees claras ou veladas

SIacuteMBOLO TAMBEacuteM DO SEXO YIN+YANG

Homem Mulher

Com essa roupa de astronauta por cima natildeo daacute para saber se eacute homem ou mulher natildeo estou estimulando nada soacute dizendo que eacute um conjunto que nos levou laacute na Lua e a

tantos lugares da Terra A Natureza plantou dentro de cada uma a necessidade do

outro e dentro de cada outro a necessidade de uma e disso fez uma geo-histoacuteria beliacutessima E noacutes fomos adiante conjuntamente Em duas metades natildeo eacute uma metade soacute

De que maneira somos duas metades Somos oposto-complementares um precisa da outra eacute

uma combinaccedilatildeo selada por 38 bilhotildees de anos da vida 100 milhotildees de anos dos primatas 10 milhotildees de anos dos hominiacutedeos 200 mil dos neanderthais 80 a 70 mil anos dos cro-magnons nossa espeacutecie De problemas tornados soluccedilotildees Eacute de fato como o siacutembolo do YinYang independentemente de interpretaccedilatildeo oriental dentro de cada lado existe uma imagem do outro que nos guia

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Capiacutetulo 2 Trabalho Feito pela Metade

Mas haacute alguns que natildeo reconhecem isso

MACHISTAS 25

A CURVA DO SINO LEVADA AOS EXTREMISMOS 475 475 FEMINISTAS

25 superafirmaccedilatildeo

dos machos superafirmaccedilatildeo

das fecircmeas Isso porque existem quatro sexos e natildeo dois e daiacute todas

as combinaccedilotildees que vem deles (como estaacute dito no modelo) bull machos bull fecircmeas bull pseudo-machos (veados gays boiolas e todos os

apelidos ofensivos a ofensibilidade natildeo estaacute no nome e sim no desejo de ofender)

bull pseudo-fecircmeas (sapatotildees leacutesbicas e demais enquadramentos)

Machismo leva a homossexualismo masculino (se eacute homossexual como pode ser maacutesculo) e feminismo leva a homossexualismo feminino (idem) Satildeo extremizaccedilotildees supertemperaturas que soacute aparecem em excesso em certas situaccedilotildees que declararemos depois

UMA LISTA IMENSA DE TRABALHOS FEITOS PELA NOSSA OUTRA METAD

E (significa que vocecirc ficou livre disso ficou livre ficou vocecirc teve tempo para vocecirc porque algueacutem que participa de seu projeto de vida livrou-o ou livrou-a de ter de fazer tudo o que significou milhotildees de produtos postos a seu serviccedilo)

Na verdade a lista acima eacute pequena bem pequena Ela poderia ser encomprida ilimitadamente para conter tudo que a humanidade faz pois a soma de tudo eacute feita pela outra metade outra metade em relaccedilatildeo a uma e outra uma em relaccedilatildeo agrave metade

Todas as coisas que existiram existem e existiratildeo (fora o que vem dos natildeo-humanos fungos plantas animais e primatas) vem da outra metade alguma outra metade soma da metade-homem e metade-mulher E se incluirmos cada uma das outras espeacutecies (dizem que satildeo 30 milhotildees) entatildeo eacute tudo mesmo

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Vocecirc pensa que se metade fosse excluiacuteda sempre poderiacuteamos aprender a fazer o que ela faz mas pense em todas as coisas tatildeo difiacuteceis de VOCEcirc fazer se aceitaria fazecirc-las de agora em diante

TODAS AS COISAS QUE VOCEcirc DETESTA FAZER

PENSANDO BEM TODAS MESMO

E em relaccedilatildeo a tudo que a humanidade faz e tudo que as espeacutecies fazem nem haveria forccedila no indiviacuteduo

Olhe para todas as tarefas OLHE MESMO para tudo TUDO MESMO e comece entatildeo a reparar na utilidade de sua outra metade em como seremos (ou poderiacuteamos ser) felizes se nos dedicarmos (ou se nos dedicaacutessemos) mais agrave felicidade e menos a reclamar

homem-hemisfeacuterico

DUAS METADES DE ESFERA FAZEM A VIABILIDADE QUANDO ESFERA

casal-esfeacuterico mulher-hemisfeacuterica

A esfera eacute totalmente estaacutevel

Capiacutetulo 3 Completa-mente

Somos criaturas de duas cabeccedilas quatro braccedilos quatro

pernas e assim por diante tudo duplicado soacute que separado vocecirc natildeo sente TANTA falta - se estaacute soacute - porque o trabalho da outra

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metade estaacute sendo socialmente suprido Natildeo somos 66 bilhotildees (para dar conta certa) somos 33 bilhotildees de pares potenciais

DUAS CABECcedilAS (mas natildeo somos monstros porque as cabeccedilas estatildeo postas em corpos diferentes)

DUAS E QUATRO FACES (embora natildeo reparemos na realidade partes de noacutes estatildeo operando suprindo nossas faltas)

casal

famiacutelia

Pois noacutes natildeo somos mais indiviacuteduos somos grupo Um desses grupos chamado ldquoGrande Vitoacuteriardquo tinha

menos de 300 mil faces em 1971 quando vim morar aqui agora passa de 1400 mil cresceu muito incorporando vaacuterias cidades Existem outros muito maiores

Maiores Cidades do planeta 7 nov 2006

AS MAIORES AGLOMERACcedilOtildeES URBANAS

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OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

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Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

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defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

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Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 5: cara metade

5

Capiacutetulo 2 Trabalho Feito pela Metade

Mas haacute alguns que natildeo reconhecem isso

MACHISTAS 25

A CURVA DO SINO LEVADA AOS EXTREMISMOS 475 475 FEMINISTAS

25 superafirmaccedilatildeo

dos machos superafirmaccedilatildeo

das fecircmeas Isso porque existem quatro sexos e natildeo dois e daiacute todas

as combinaccedilotildees que vem deles (como estaacute dito no modelo) bull machos bull fecircmeas bull pseudo-machos (veados gays boiolas e todos os

apelidos ofensivos a ofensibilidade natildeo estaacute no nome e sim no desejo de ofender)

bull pseudo-fecircmeas (sapatotildees leacutesbicas e demais enquadramentos)

Machismo leva a homossexualismo masculino (se eacute homossexual como pode ser maacutesculo) e feminismo leva a homossexualismo feminino (idem) Satildeo extremizaccedilotildees supertemperaturas que soacute aparecem em excesso em certas situaccedilotildees que declararemos depois

UMA LISTA IMENSA DE TRABALHOS FEITOS PELA NOSSA OUTRA METAD

E (significa que vocecirc ficou livre disso ficou livre ficou vocecirc teve tempo para vocecirc porque algueacutem que participa de seu projeto de vida livrou-o ou livrou-a de ter de fazer tudo o que significou milhotildees de produtos postos a seu serviccedilo)

Na verdade a lista acima eacute pequena bem pequena Ela poderia ser encomprida ilimitadamente para conter tudo que a humanidade faz pois a soma de tudo eacute feita pela outra metade outra metade em relaccedilatildeo a uma e outra uma em relaccedilatildeo agrave metade

Todas as coisas que existiram existem e existiratildeo (fora o que vem dos natildeo-humanos fungos plantas animais e primatas) vem da outra metade alguma outra metade soma da metade-homem e metade-mulher E se incluirmos cada uma das outras espeacutecies (dizem que satildeo 30 milhotildees) entatildeo eacute tudo mesmo

6

Vocecirc pensa que se metade fosse excluiacuteda sempre poderiacuteamos aprender a fazer o que ela faz mas pense em todas as coisas tatildeo difiacuteceis de VOCEcirc fazer se aceitaria fazecirc-las de agora em diante

TODAS AS COISAS QUE VOCEcirc DETESTA FAZER

PENSANDO BEM TODAS MESMO

E em relaccedilatildeo a tudo que a humanidade faz e tudo que as espeacutecies fazem nem haveria forccedila no indiviacuteduo

Olhe para todas as tarefas OLHE MESMO para tudo TUDO MESMO e comece entatildeo a reparar na utilidade de sua outra metade em como seremos (ou poderiacuteamos ser) felizes se nos dedicarmos (ou se nos dedicaacutessemos) mais agrave felicidade e menos a reclamar

homem-hemisfeacuterico

DUAS METADES DE ESFERA FAZEM A VIABILIDADE QUANDO ESFERA

casal-esfeacuterico mulher-hemisfeacuterica

A esfera eacute totalmente estaacutevel

Capiacutetulo 3 Completa-mente

Somos criaturas de duas cabeccedilas quatro braccedilos quatro

pernas e assim por diante tudo duplicado soacute que separado vocecirc natildeo sente TANTA falta - se estaacute soacute - porque o trabalho da outra

7

metade estaacute sendo socialmente suprido Natildeo somos 66 bilhotildees (para dar conta certa) somos 33 bilhotildees de pares potenciais

DUAS CABECcedilAS (mas natildeo somos monstros porque as cabeccedilas estatildeo postas em corpos diferentes)

DUAS E QUATRO FACES (embora natildeo reparemos na realidade partes de noacutes estatildeo operando suprindo nossas faltas)

casal

famiacutelia

Pois noacutes natildeo somos mais indiviacuteduos somos grupo Um desses grupos chamado ldquoGrande Vitoacuteriardquo tinha

menos de 300 mil faces em 1971 quando vim morar aqui agora passa de 1400 mil cresceu muito incorporando vaacuterias cidades Existem outros muito maiores

Maiores Cidades do planeta 7 nov 2006

AS MAIORES AGLOMERACcedilOtildeES URBANAS

8

OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

9

Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

11

defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

12

Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

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de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 6: cara metade

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Vocecirc pensa que se metade fosse excluiacuteda sempre poderiacuteamos aprender a fazer o que ela faz mas pense em todas as coisas tatildeo difiacuteceis de VOCEcirc fazer se aceitaria fazecirc-las de agora em diante

TODAS AS COISAS QUE VOCEcirc DETESTA FAZER

PENSANDO BEM TODAS MESMO

E em relaccedilatildeo a tudo que a humanidade faz e tudo que as espeacutecies fazem nem haveria forccedila no indiviacuteduo

Olhe para todas as tarefas OLHE MESMO para tudo TUDO MESMO e comece entatildeo a reparar na utilidade de sua outra metade em como seremos (ou poderiacuteamos ser) felizes se nos dedicarmos (ou se nos dedicaacutessemos) mais agrave felicidade e menos a reclamar

homem-hemisfeacuterico

DUAS METADES DE ESFERA FAZEM A VIABILIDADE QUANDO ESFERA

casal-esfeacuterico mulher-hemisfeacuterica

A esfera eacute totalmente estaacutevel

Capiacutetulo 3 Completa-mente

Somos criaturas de duas cabeccedilas quatro braccedilos quatro

pernas e assim por diante tudo duplicado soacute que separado vocecirc natildeo sente TANTA falta - se estaacute soacute - porque o trabalho da outra

7

metade estaacute sendo socialmente suprido Natildeo somos 66 bilhotildees (para dar conta certa) somos 33 bilhotildees de pares potenciais

DUAS CABECcedilAS (mas natildeo somos monstros porque as cabeccedilas estatildeo postas em corpos diferentes)

DUAS E QUATRO FACES (embora natildeo reparemos na realidade partes de noacutes estatildeo operando suprindo nossas faltas)

casal

famiacutelia

Pois noacutes natildeo somos mais indiviacuteduos somos grupo Um desses grupos chamado ldquoGrande Vitoacuteriardquo tinha

menos de 300 mil faces em 1971 quando vim morar aqui agora passa de 1400 mil cresceu muito incorporando vaacuterias cidades Existem outros muito maiores

Maiores Cidades do planeta 7 nov 2006

AS MAIORES AGLOMERACcedilOtildeES URBANAS

8

OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

9

Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

10

UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

11

defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

12

Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

13

O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 7: cara metade

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metade estaacute sendo socialmente suprido Natildeo somos 66 bilhotildees (para dar conta certa) somos 33 bilhotildees de pares potenciais

DUAS CABECcedilAS (mas natildeo somos monstros porque as cabeccedilas estatildeo postas em corpos diferentes)

DUAS E QUATRO FACES (embora natildeo reparemos na realidade partes de noacutes estatildeo operando suprindo nossas faltas)

casal

famiacutelia

Pois noacutes natildeo somos mais indiviacuteduos somos grupo Um desses grupos chamado ldquoGrande Vitoacuteriardquo tinha

menos de 300 mil faces em 1971 quando vim morar aqui agora passa de 1400 mil cresceu muito incorporando vaacuterias cidades Existem outros muito maiores

Maiores Cidades do planeta 7 nov 2006

AS MAIORES AGLOMERACcedilOtildeES URBANAS

8

OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

9

Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

11

defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

12

Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

13

O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

16

II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 8: cara metade

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OS MAIORES PIBs EM 2020

AS MELHORES CIDADES PARA VIVER

Segue-se uma lista com as melhores cidades do mundo para se viver de acordo com a revista

(cidades satildeo supermaacutequinas e superprogramas superprogramaacutequinas para se viver Le Corbusier natildeo as viu como maacutequinas de morar)

Business Week com relaccedilatildeo agrave qualidade de vida

215 grandes cidades foram avaliadas

Embora ainda nos vejamos como indiviacuteduos esses satildeo

grupos indefectivelmente grupos grupos imensos inimaginaacuteveis Por exemplo a cidade-capital de Satildeo Paulo sozinha tem 104 do PIB brasileiro e a Grande SP tem 2500 km2 de aacuterea ocupada com construccedilotildees

9

Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

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defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

12

Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

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para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

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cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 9: cara metade

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Embora eu diga ldquominha menterdquo metade dela a minha outra metade estaacute fora muito mais que isso 33 bilhotildees das nossas metades estatildeo amplamente disseminadas em toda longitude latitude altitude Quase natildeo sinto falta quando estou soacute (exceto sexualmente) porque todos esses 3300 milhotildees estatildeo por aiacute trabalhando com afinco para suprir o que natildeo sei fazer em relaccedilatildeo agraves ocupaccedilotildees delas (sem falar dos 33 bilhotildees do nosso lado que fazem tudo que vocecirc e eu natildeo sabemos mas isso eacute outra histoacuteria)

HEMISFEacuteRIAS

AS OUTRAS DUAS METADES

(vocecirc eu vivemos em feacuterias do que faz a outra metade e nem agradecemos isso)

NOSSAS DUAS METADES 12 12 12 12

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

hemisfeacuterio esquerdo

hemisfeacuterio direito

Como Koestler disse primeiro (dividindo nosso ceacuterebro em reptiliano mamiacutefero e humano) e o modelo colocou de outro modo temos vaacuterios ceacuterebros em cada um de noacutes de fato reparando sermos um-em-dois eacute uma profusatildeo uma quantidade insuspeitada ainda mais porque vamos muito aleacutem do indiviacuteduo

Os paleontoacutelogos os arqueoacutelogos os antropoacutelogos e os geo-historiadores natildeo analisaram e porisso natildeo sintetizaram uma teoria-praacutetica coerente da convivecircncia um-uma e nem do conjunto da humanidade DO PONTO DE VISTA DA FUSAtildeO ou da tentativa constante dela exceto pelo lado do episoacutedico quer dizer de cada tentativa homem-mulher (ou outras) Mas esse vasto mecanismo no tempo e no espaccedilo natildeo foi visto a contento

a) GEO-HISTOacuteRIA DO CASAMENTO

1 casamento dos indiviacuteduos CASAMENTO PESSOAL

2 casamento das famiacutelias 3 casamento dos grupos 4 casamento das empresas (embora as empresas natildeo

prestem atenccedilatildeo se os indiviacuteduos no casamento natildeo satildeo estaacuteveis em todos os sentidos as empresas seratildeo afetadas com grandes danos)

b) 5 mediaccedilatildeo municipal-urbana

CASAMENTO COLETIVO

6 mediaccedilatildeo estadual 7 mediaccedilatildeo nacional 8 mediaccedilatildeo mundial O que quer dizer casamento 1 o que quer dizer ser o homem 2 o que quer dizer ser a mulher

Capiacutetulo 4

Casamento das Famiacutelias e Aleacutem

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

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defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

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Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 10: cara metade

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UMA AacuteRVORE GENEALOacuteGICA Eacute UMA INDICACcedilAtildeO DE MISCIGENACcedilAtildeO DAS FAMIacuteLIAS

O tempo todo em toda parte as pessoas estatildeo

miscigenando misturando indiviacuteduos formando famiacutelias estas grupos estes empresas e assim por diante Como diz o povo em toda parte a todo instante uma ldquoafliccedilatildeo de genterdquo estaacute se misturando sexualmente (homem e mulher) racialmente (negros brancos amarelos vermelhos) por idade (jovens e novos) por origem por classe social e segue

Onde fica a individualidade nisso tudo Essa individualidade QUE NAtildeO SE MISTURA eacute um defeito de visatildeo de nossas mentes racionais segregadoras Eacute verdade que somos indiviacuteduos poreacutem eacute verdade tambeacutem que natildeo somos

Primeiro haacute o aleacutem-de-mim que satildeo os ambientes e as pessoas natildeo-eu Depois temos TODAS AS MISTURAS de natildeo-eu (sexo raccedila idade origem classe e segue) de que dependo A seguir todo o saber natildeo-eu todas as memoacuterias e inteligecircncias que o mundo produz

Enfim o natildeo-eu eacute uma amplidatildeo para o passado e o futuro no presente abrindo-se em 200 naccedilotildees 4000 estados e o resto todo Em resumo natildeo-eu em relaccedilatildeo a eu eacute tanto mais aleacutem de mim que quase desapareccedilo

Sou metade com minha metade e soacute nesse par sou um embora metade 05 + 05 = 10 = casamento aleacutem desse par-de-

11

defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

12

Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

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O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

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[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

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O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 11: cara metade

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defesa quer dizer aleacutem do casamento monogacircmico estatildeo as inumeraacuteveis facetas do mundo as complexidades ilimitadas que natildeo posso resolver

Entatildeo Natureza-Deus quebrou-nos em duas partes que devem voltar a se unir para produzir a necessidade de uniatildeo em famiacutelias e aleacutem para criar as sociedades

Capiacutetulo 5 Con-soacutecio de Construccedilatildeo

Entatildeo noacutes temos vaacuterios tipos de sociedades a) dentro de noacutes vieram nos montando todas as

sociedades que deram no indiviacuteduo por exemplo sociedade dos oacutergatildeos

b) a seguir nos unimos em famiacutelias com ou sem filhos (no meu caso tive dois grandes amigos)

c) e aiacute segue todos aqueles niacuteveis pessoais e ambientais De fato a vida eacute uma sociedade tremenda

i sociedades vitais (fungos plantas animais e primatas)

ii sociedades psicoloacutegicas (pessoas e ambientes)

Cada sociedade dessas abre-se em multiacuteplices camadas de complexidades complexidades quase indescritiacuteveis que os estudiosos penam para descrever apenas no niacutevel bioloacutegico-p2 No niacutevel psicoloacutegico-p3 claro eacute muito mais difiacutecil chega a ser impossiacutevel pois estamos dentro Natildeo existe nenhum SUPERMUNDO que esteja de fora olhando o mundo somos noacutes as mesmas cabeccedilas individuais que ousam pensar a totalidade dividindo-a e subdividindo-a em numerosas fraccedilotildees trataacuteveis

NOacuteS NOS SENTIMOS ESMAGADOS PELA CRESCENTE COMPLEXIDADE (eacute preciso comeccedilar urgentemente o processo de re-uniatildeo)

12

Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

13

O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

16

II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

18

papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

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rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

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vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

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de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

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aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

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(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

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Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

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ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

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para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 12: cara metade

12

Quanto mais tentamos alisar

mais o cabelo embola

Uma galaacutexia de dados e nem haacute um centro

gravitacional O meacutetodo cientiacutefico redutor eacute muito bom produziu a

maioria das coisas que vemos e grande parte de nossas liberdades (e prisotildees) atuais Contudo tambeacutem foi ruim porque o redutor (e ampliador) levou ao reducionismo a superafirmaccedilatildeo da reduccedilatildeo Jaacute que funcionava tatildeo bem as pessoas natildeo se preocuparam com um meacutetodo cientiacutefico ampliador

Em particular a Ciecircncia geral natildeo ajudou a colar homem e mulher despedaccedilados nem as famiacutelias nem os grupos nem mesmo coisa alguma na verdade ajudou a rebentar Natildeo fez de noacutes felizes criaturas re-unidas fez de noacutes consumidores seres infelizes superconsumindo e mesmo assim incapazes de chegar agrave felicidade ainda que livres para procuraacute-la

A re-uniatildeo deve comeccedilar pela re-uniatildeo do par fundamental Re-construir a famiacutelia eacute fundamental

Capiacutetulo 6 Feliz-Cidade

Se a cidade eacute apesar de tudo feliz se eacute feliz-cidade eacute

porque o trabalho eacute muito dividido e enquanto estou de feacuterias deitado na rede por toda parte milhotildees estatildeo se azafamando trabalhando continuamente com afinco se tiro um mecircs de feacuterias nem um dia de mim vai trabalhar ndash por 30 dias eu falto ao trabalho sem que o trabalho falte a mim

Minha casa continua comendo bebendo e fazendo todas as competentes graccedilas que nos datildeo E por toda parte milhotildees operam com vigor quando estou dormindo Se algueacutem entra em coma natildeo acorda num mundo destruiacutedo na sua ausecircncia todos continuaram a trabalhar diligentemente

13

O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 13: cara metade

13

O FORMIGUEIRO CONTINUA DIA E NOITE

Eu formiguinha formiguinha vocecirc VIDA DE FORMIGA Z NO FORMIGUEIRO Z (Woody Allen interpreta o filho quinto-milhatildeo Z pois existe todo um abecedaacuterio de formigas e formigueiros com iacutendices e sub-iacutendices)

A formiga Z se apaixona pela princesa Bala e termina enfrentando os desafios do mundo exterior e o impiedoso General Mandiacutebula Com vozes de Woody Allen Sharon Stone Jennifer Lopez Gene Hackman e Sylvester

Stallone

Ficha Teacutecnica Elenco

Sinopse Criacuteticas

Pocircsters

Imagens Trailers

Premiaccedilotildees Curiosidades

Ficha Teacutecnica

Tiacutetulo Original AntZ Gecircnero Animaccedilatildeo Computadorizada Tempo de Duraccedilatildeo 82 minutos Ano de Lanccedilamento (EUA) 1998

Site Oficial wwwpepsicomantz Estuacutedio DreamWorks SKG Pacific Data Images

Distribuiccedilatildeo DreamWorks Distribution LLC UIP Direccedilatildeo Eric Darnell e Tim Johnson

Roteiro Todd Alcott Chris Weitz e Paul Weitz Produccedilatildeo Brad Lewis Aron Warner e Patty Wooton Muacutesica Harry Gregson-Williams e John Powell

Desenho de Produccedilatildeo John Bell

Direccedilatildeo de Arte Kendall Crockhite Ediccedilatildeo Stan Webb

Efeitos Especiais Pacific Data Images Elenco (Vzes)

Woody Allen (Z) Sharon Stone (Princesa Bala)

Gene Hackman (General Mandiacutebula) Jennifer Lopez (Azteca) Danny Glover (Barbatus)

Sylvester Stallone (Weaver)

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Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

15

Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

16

II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

18

papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

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[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

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rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

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Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 14: cara metade

14

Christopher Walken (Coronel Cutter) Dan Akroyd (Chip)

Anne Bancroft (Rainha) Jane Curtin (Muffy)

Paul Mazursky (Psicoacutelogo)

Sinopse A formiguinha Z eacute apenas um operaacuterio que sonha roubar o coraccedilatildeo da princesa Bala Para isso convence seu amigo

soldado a trocar de lugar com ele o que faz com que tenha que enfrentar o impiedoso General Mandiacutebula que planeja

uma grande ofensiva contra o formigueiro

A formiguinha tendo ao fundo o

formigueiro

Um dos formigueiros sem que se veja

uma soacute formiguinha Isto eacute a Terra o terraacuterio-aquaacuterio da humanidade a gaiola

redonda dos loucos de pedra Somos 66 bilhotildees de formigas dentro deste formigueiro-mundo

E NOacuteS AINDA PARTILHAMOS A TERRAARAacuteGUA (aqui as aves)

Em resumo embora nos vejamos como indiviacuteduos na

verdade somos um CORRELATIVO DE EMPREENDIMENTOS em furiosa mutaccedilatildeo tempespacial

15

Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

16

II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

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vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

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de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

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aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 15: cara metade

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Capiacutetulo 7 Espaccedilotempo de Reuniatildeo

Pois entatildeo eacute hora de re-unir a humanidade de fazer

cessar o pecado original divisor RE-FAZENDO famiacutelia natildeo mais ilha Famiacutelias de todos os tipos com todas as uniotildees todas as misturas

Eacute preciso eacute fundamental que os governos de todo o

mundo invistam maciccedilamente na reuniatildeo dos pares fundamentais nos casamentos no estudo das uniotildees estaacuteveis na restauraccedilatildeo no contorno natildeo-forccedilado dos divoacutercios e separaccedilotildees digamos com um periacuteodo de experiecircncia antes da consagraccedilatildeo do casamento uniotildees-em-experiecircncia

A gestaccedilatildeo da nova famiacutelia deve ser o mote deste seacuteculo XXI todo e do futuro

Vitoacuteria quinta-feira 12 de marccedilo de 2009 Joseacute Augusto Gava

Anexos Capiacutetulo 5

O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO REDUTOR (logo de cara esse quebrar em partes rompe os viacutenculos da totalidade da funcionabilidade total)

16

II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

18

papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

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Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
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II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico O meacutetodo dedutivo o meacutetodo indutivo e o meacutetodo

hipoteacutetico-dedutivo satildeo os trecircs meacutetodos cientiacuteficos a que se refere a denominaccedilatildeo geneacutetica de meacutetodo cientiacutefico A primeira caracteriacutestica do meacutetodo cientiacutefico eacute a sua

natureza convencional a de servir de marco de geraccedilatildeo do conhecimento objetivo Por isso existem muacuteltiplas caracteriacutesticas em funccedilatildeo da perspectiva com que se

classifiquem se estudem e inclusivamente se denominem A primeira que me chama a atenccedilatildeo eacute o fato de que os dois primeiros tecircm um nome difiacutecil de distinguir visto que no acircmbito linguumliacutestico podem representar um soacute conceito com

duas manifestaccedilotildees raciociacutenio numa direccedilatildeo ou na contraacuteria do geral para o particular ou vice-versa

O problema logicamente deriva da dificuldade conceptual de separar um meacutetodo cientiacutefico de outro de uma forma clara evidentemente os termos escolhidos natildeo ajudam a

reter na memoacuteria estes dois conceitos de meacutetodo cientiacutefico Tambeacutem natildeo ajuda muito a denominaccedilatildeo do

terceiro meacutetodo cientiacutefico Uma caracteriacutestica de ambos meacutetodos eacute que podem ir do

geral para o particular ou vice-versa num sentido ou no inverso Ambos utilizam a loacutegica e chegam a uma conclusatildeo

Em uacuteltima instacircncia sempre tecircm elementos filosoacuteficos subjacentes

Ambos costumam ser susceptiacuteveis de verificaccedilatildeo empiacuterica Ainda que o meacutetodo dedutivo seja mais proacuteprio das ciecircncias formais e o indutivo das ciecircncias empiacutericas nada impede a aplicaccedilatildeo indistinta de um meacutetodo cientiacutefico ou outro a

uma teoria concreta Para mim sem pretender entrar em polecircmica neste tema a diferenccedila fundamental entre o meacutetodo dedutivo e o meacutetodo indutivo eacute que o primeiro aspira a demonstrar mediante a loacutegica pura a conclusatildeo na sua totalidade a partir de

umas premissas de maneira que se garante a veracidade das conclusotildees se natildeo se invalida a loacutegica aplicada Trata-se do modelo axiomaacutetico proposto por Aristoacuteteles como meacutetodo

cientiacutefico ideal Pelo contraacuterio o meacutetodo indutivo cria leis a partir da

observaccedilatildeo dos fatos mediante a generalizaccedilatildeo do comportamento observado na realidade o que realiza eacute uma espeacutecie de generalizaccedilatildeo sem que atraveacutes da loacutegica possa conseguir uma demonstraccedilatildeo das citadas leis ou conjunto de

conclusotildees As referidas conclusotildees poderiam ser falsas e ao mesmo tempo a aplicaccedilatildeo parcial efetuada da loacutegica poderia manter a sua validade por isso o meacutetodo indutivo necessita de uma condiccedilatildeo adicional a sua aplicaccedilatildeo

considera-se vaacutelida enquanto natildeo se encontrar nenhum caso que natildeo cumpra o modelo proposto

O meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses natildeo coloca em princiacutepio nenhum problema visto

que a sua validade depende dos resultados da proacutepria verificaccedilatildeo

Este meacutetodo cientiacutefico costuma utilizar-se para melhorar ou precisas teorias preacutevias em funccedilatildeo de novos

conhecimentos nas quais a complexidade do modelo natildeo permite formulaccedilotildees loacutegicas Portanto tem um caraacuteter

predominantemente intuitivo e necessita natildeo soacute para ser rejeitado mas tambeacutem para impor a sua validade a

verificaccedilatildeo das suas conclusotildees

17

Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

18

papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

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O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 17: cara metade

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Poderia propor-se para estas trecircs variantes do meacutetodo cientiacutefico a denominaccedilatildeo de meacutetodo dedutivo meacutetodo

intuitivo e meacutetodo experimental ou meacutetodo de verificaccedilatildeo ou qualquer conjunto de palavras que faccedilam referecircncia agraves suas diferenccedilas fundamentais e natildeo coloquem problemas agrave memoacuteria linguumliacutestica Natildeo obstante nesta exposiccedilatildeo

manterei a nomenclatura geralmente utilizada A Teoria Geral da Evoluccedilatildeo Condicionada da Vida seria em

princiacutepio uma teoria baseada no meacutetodo hipoteacutetico-dedutivo ou meacutetodo de verificaccedilatildeo de hipoacuteteses

A teoria de Darwin pelo contraacuterio estaria enquadrada no meacutetodo indutivo mas que apesar de encontrar exemplos contraacuterios natildeo se invalida adeacutequa-se para encaixar

qualquer triacircngulo Porque seraacute

Como se disse anteriormente toda a teoria deve ser resistente agrave sua refutaccedilatildeo contudo uma teoria que natildeo pode ser refutada por nenhum fato concebiacutevel natildeo eacute

cientiacutefica A impossibilidade de refutaccedilatildeo de uma teoria cientiacutefica natildeo eacute uma virtude mas sim um viacutecio

TEORIA SOBRE O MEacuteTODO CIENTIacuteFICO EM BUSCA DE UM MODELO UNIFICANTE PARA AS CIEcircNCIAS

E DE UM RETORNO Agrave UNIVERSIDADE CRIATIVA I -- INTRODUCcedilAtildeO

Alberto Mesquita Filho Comeccedilo regra geral as minhas liccedilotildees sobre Meacutetodo

Cientiacutefico dizendo aos meus alunos que o meacutetodo cientiacutefico natildeo existe Acrescento que tenho obrigaccedilatildeo de saber isso tendo eu sido durante algum tempo pelo menos o uacutenico professor desse inexistente assunto em toda a Comunidade

Britacircnica

Tendo entatildeo explicado aos meus alunos que natildeo haacute essa coisa que seria o meacutetodo cientiacutefico apresso-me a comeccedilar o meu discurso e ficamos ocupadiacutessimos Pois um ano mal chega para roccedilar a superfiacutecie mesmo de um assunto

inexistente Karl R Popper [1]

Resumo Este artigo eacute o primeiro de uma seacuterie de artigos relacionados agrave metodologia cientiacutefica e cuja temaacutetica foi dividida em cinco toacutepicos principais Corresponde a uma

versatildeo atualizada de consideraccedilotildees expressas pelo autor a partir de 1983 em livros artigos e conferecircncias citados no texto colaborou para esta atualizaccedilatildeo a experiecircncia adquirida pelo autor no processo de remodelaccedilatildeo da Proacute-Reitoria Comunitaacuteria da USJT (1992-1993) bem como aquela adquirida junto aos demais membros da equipe criada pelos Conselhos Superiores da USJT (1994) --expandida em 1995--

com a finalidade de implantar o Centro de Pesquisa da USJT Os conceitos foram axiomatizados de forma a darem

corpo a uma nova teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico permitindo mesmo a constataccedilatildeo de possiacuteveis aplicaccedilotildees dentro de um contexto abrangente tais como 1) a teoria

fornece os meios necessaacuterios para que se promova a integraccedilatildeo das ciecircncias e 2) propicia a sustentaccedilatildeo de um projeto visando a caracterizar a universidade como o local apropriado para a formaccedilatildeo de cientistas Os cinco

toacutepicos a serem abordados satildeo pela ordem I - Introduccedilatildeo na qual eacute proposta a regra delimitante da ciecircncia II - O macromeacutetodo cientiacutefico e a Histoacuteria da Ciecircncia III - O

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 18: cara metade

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papel da universidade na produccedilatildeo de conhecimentos IV - O meacutetodo cientiacutefico propriamente dito a) A teoria da

praacutetica em ciecircncia b) A praacutetica da teorizaccedilatildeo cientiacutefica V - O micromeacutetodo cientiacutefico e a Filosofia da Ciecircncia Os demais toacutepicos estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo []

1 Colocaccedilatildeo do problema Meacutetodo entre outras coisas significa caminho para chegar

a um fim ou pelo qual se atinge um objetivo Que dizer entatildeo do meacutetodo cientiacutefico [2] Poderia dizer que eacute o caminho trilhado pelo cientista quando em busca de verdades cientiacuteficas

Afirma-se com grande frequumlecircncia que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico Os que aceitam esta

Percebam que estou meramente jogando com as palavras e associando-as ao conceito de

meacutetodo acima postulado Quais satildeo as verdades cientiacuteficas O que eacute ser cientista O que eacute ciecircncia Existe uma ciecircncia uacutenica Quando nos reportamos a uma hipoteacutetica linha demarcatoacuteria a separar o que julgamos

ser uma verdade cientiacutefica de outras possiacuteveis verdades a que nos estamos referindo

verdade --e haacute muitos que o fazem-- devem procurar uma conceituaccedilatildeo para meacutetodo cientiacutefico diferente da exposta no paraacutegrafo anterior sob pena de andarem em ciacuterculo Ou definimos cientista a partir da definiccedilatildeo de meacutetodo frac34algo tentado por Popper ao propor o falsificacionismo [3]frac34 ou definimos meacutetodo a partir da definiccedilatildeo de cientista do contraacuterio natildeo chegamos a nada Conservarei a ideacuteia de meacutetodo cientiacutefico como caminho trilhado pelo cientista

2 O que eacute ciecircncia

com o que estou assumindo o risco de ter que definir ciecircncia eou cientista Eacute o que tentarei fazer nesta

introduccedilatildeo

Natildeo eacute faacutecil definir ciecircncia e satildeo inuacutemeros os tratados sobre o assunto a abordarem esta dificuldade Ao leitor

principiante em ciecircncia e que queira penetrar na complexidade do tema ou entatildeo perceber a quantas anda nossa ignoracircncia a respeito sugiro se tiver pendores

filosoacuteficos que comece pelo livro de Chalmers (1976) [4] ou entatildeo se preferir algo mais ameno e mais voltado agrave

praacutetica cientiacutefica pelo livro de Beveridge (1980) [5] Ao leitor acomodado e que natildeo tenha amplo conhecimento do

assunto ou mesmo para aquele que pretenda prosseguir com esta leitura ciente de que eacute possiacutevel pelo menos em niacutevel conjetural enfrentar o desafio apontado relatarei aqui a

conclusatildeo de um ensaio que sintetiza uma ideacuteia que me ocorreu haacute cerca de dez anos [6] e que apresentei na

sessatildeo de debates da mesa redonda A Pesquisa na Universidade Particular ocorrida por ocasiatildeo da IV Semana de Psicologia da USJT (1994) com as seguintes palavras Vejo a ciecircncia como a aacuterea do conhecimento que se apoacuteia natildeo num meacutetodo mas sim na regra da repetitividade a que

eu tenho chamado de regra cientiacutefica fundamental Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que

pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras verificaccedilotildees o mesmo suceda [7]

A regra cientiacutefica fundamental conquanto aceita intuitivamente por todos os cientistas ocupa entre os mesmos e ateacute entre os filoacutesofos da ciecircncia um papel

secundaacuterio quando natildeo totalmente ignorada Via de regra considera-se a ciecircncia como que apoiada em regras outras

19

como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

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O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

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ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
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como por exemplo o princiacutepio da causalidade de Kant a regra metodoloacutegica de Popper que se associa a seu meacutetodo

dedutivo de prova o princiacutepio ou argumento indutivista e as regras ou criteacuterios de utilidade Como posiccedilotildees

extremas e apoiadas em regras mais riacutegidas podemos citar a visatildeo paradigmaacutetica de Thomas Kuhn a defender o

dogmatismo cientiacutefico o ponto de vista de Chalmers a questionar a argumentaccedilatildeo filosoacutefica no que diz respeito agrave delimitaccedilatildeo da ciecircncia e a visatildeo anarquista de Feyerabend

a se opor frontalmente ao racionalismo em ciecircncia A fim de ilustrar o comentado no paraacutegrafo anterior

vejamos como Thomas Kuhn (1962) --defensor de uma posiccedilatildeo cientiacutefico-filosoacutefica incompatiacutevel com a que aqui pretendo apresentar-- retrata a importacircncia da repetitividade dos eventos como algo a semear o surgimento de novas ideacuteias Existem em princiacutepio somente trecircs tipos de fenocircmenos a propoacutesito dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria O primeiro tipo compreende os fenocircmenos jaacute bem explicados

pelos paradigmas existentes Tais fenocircmenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construccedilatildeo de uma teoria Quando o fazem as teorias resultantes raramente satildeo aceitas visto que a natureza natildeo proporciona nenhuma base para uma discriminaccedilatildeo entre as alternativas Uma segunda classe de fenocircmenos compreende aqueles cuja

natureza eacute indicada pelos paradigmas existentes mas cujos detalhes somente podem ser entendidos apoacutes uma maior

articulaccedilatildeo da teoria Os cientistas dirigem a maior parte de sua pesquisa a esses fenocircmenos mas tal pesquisa visa antes agrave articulaccedilatildeo dos paradigmas existentes do que agrave invenccedilatildeo de novos Somente quando esses esforccedilos de articulaccedilatildeo fracassam eacute que os cientistas encontram o

terceiro tipo de fenocircmeno as anomalias reconhecidas cujo traccedilo caracteriacutestico eacute a sua recusa obstinada a serem

assimiladas aos paradigmas existentes Apenas esse uacuteltimo tipo de fenocircmeno faz surgir novas teorias [8]

Ora se um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se recusou obstinadamente a ser assimilado aos paradigmas

existentes e se esta recusa eacute quem orienta a caracterizaccedilatildeo de novas teorias e mais se a ciecircncia eacute fundamentalmente o conjunto das ideacuteias e teorias geradas pela mente humana bem como a aplicaccedilatildeo pelo homem dessas ideacuteias e teorias em busca de um relacionamento sadio com a natureza e com os seus semelhantes podemos sossegadamente

concluir que ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave

regra cientiacutefica fundamental 3 O ser cientista

Cientista diz-nos Ferreira (1986) eacute a pessoa que cultiva ou que eacute especialista em alguma ciecircncia ou em ciecircncias

[9] e ciecircncia eacute um processo definido no item anterior Se aceitarmos estas premissas concluiremos que o conhecimento

cientiacutefico eacute aquele factiacutevel de reproduccedilatildeo enquanto o cientista eacute aquele que de alguma forma cultiva esses conhecimentos Eacute importante aqui salientar que muitas

vezes o que se espera reproduzir eacute um dado probabiliacutestico Por exemplo se dissermos que 80 das moleacuteculas de um gaacutes

satildeo do elemento quiacutemico oxigecircnio isto natildeo significa estarmos afirmando ser oxigecircnio esta ou aquela moleacutecula objeto de verificaccedilatildeo experimental o que a regra nos

preconiza eacute que independentemente de qual cientista for tentar reproduzir a medida ou do local escolhido para que

20

esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

21

meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

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de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

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aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

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(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

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Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

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ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
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esta segunda medida seja efetuada observando-se as condiccedilotildees em que a mesma foi realizada anteriormente o

valor obtido concordaraacute com o valor precedente dentro de uma margem de erro tambeacutem estimaacutevel por meacutetodos

experimentais Todos noacutes vez ou outra nos comportamos como cientistas Ser cientista natildeo eacute possuir um roacutetulo mas sim postar-se com uma atitude cientiacutefica por outro lado mesmo aquele que se diz cientista vez ou outra assume atitudes natildeo cientiacuteficas e penetra em terrenos apoiados em regras

proacuteprias ou ateacute mesmo sem regras O roacutetulo eacute frequumlentemente utilizado quando queremos nos referir agraves

pessoas que se utilizam de seus talentos cientiacuteficos como meio de vida seriam entatildeo os cientistas profissionais A filosofia por exemplo eacute um campo de atuaccedilatildeo bem mais

abrangente que aquele ditado pela regra cientiacutefica fundamental Poderiacuteamos dizer que a filosofia comporta a

ciecircncia ainda que esta ideacuteia natildeo agrade a alguns cientistas mas jamais poderiacuteamos dizer e quanto a isso

todos satildeo concordes que a ciecircncia comporta a filosofia O bom cientista utiliza-se da filosofia da mesma forma que a maioria dos indiviacuteduos com sede se utilizam do copo Outras

aacutereas do conhecimento seriam 1) o ocultismo frac34e aqui poderiacuteamos incluir a tiacutetulo de exemplo a alquimia e a astrologia 2) as artes frac34e vale a pena aqui frisar que a arte pode ser encarada cientificamente postura esta que foi frequumlentemente adotada por Leonardo da Vinci [10] e defendida em sua Teoria do Conhecimento 3) a teologia

etc A busca pela verdade que tambeacutem eacute objetivo da grande maioria destas aacutereas natildeo cientiacuteficas segue-se por caminhos nem sempre limitados ou compatiacuteveis com a regra cientiacutefica

fundamental O cultivo da ciecircncia pode se dar atraveacutes da observaccedilatildeo de alguns ou todos dentre seus objetivos nobres quais sejam

1) aquisiccedilatildeo transmissatildeo e aplicaccedilatildeo de conhecimentos cientiacuteficos jaacute sistematizados e 2) produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo

de novos conhecimentos Visto sob este acircngulo satildeo cientistas 1) o estudioso eou o professor eou o

profissional bacharel em quaisquer das ciecircncias 2) o tecnoacutelogo 3) o pesquisador em aacutereas cientiacuteficas 4) o

teorizador em ciecircncias 5) e o autor de artigos cientiacuteficos relatando ideacuteias proacuteprias eou revisotildees bibliograacuteficas Sob um ponto de vista mais rigoroso o cientista seria apenas aquele capaz de dominar as teacutecnicas inerentes a todos os

objetivos nobres acima apontados Nem tanto ao ceacuteu nem tanto agrave terra Percebam que jaacute

conceituamos ciecircncia e jaacute conseguimos ir aleacutem a ponto de fornecer dados para que se analise o comportamento daqueles

que trabalham em ciecircncia Observado este comportamento poderiacuteamos assumir como cientistas aqueles que realmente contribuem para o progresso das ciecircncias Adotarei esta

postura mas gostaria de esclarecer conforme seraacute comentado oportunamente que a noccedilatildeo de progresso aqui defendida eacute um pouco mais abrangente do que aquela

preconizada pelos pensadores iluministas [11] que tanto influenciaram os positivistas Aceita esta premissa frac34a de que cientistas satildeo somente aqueles que real e diretamente [12] contribuem para o progresso das ciecircnciasfrac34 suponha que consigamos caracterizar os cientistas assim definidos como aqueles que ao contribuir para o progresso das

ciecircncias se utilizam de um meacutetodo comum a que chamaremos

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

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O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

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vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

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A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

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aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

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(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

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Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

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ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

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Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

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meacutetodo cientiacutefico Poderemos entatildeo afirmar e natildeo se trata aqui da busca por uma definiccedilatildeo que o cientista eacute aquele que se utiliza do meacutetodo cientiacutefico o raciociacutenio ciacuteclico da forma como foi agora utilizado estaacute livre de consequumlecircncias funestas Notem com o auxiacutelio da figura 1 a sintetizar as ideacuteias principais aqui focalizadas que do ponto de vista conceitual natildeo estamos andando em ciacuterculo

REGRA CIENTIacuteFICA FUNDAMENTAL

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu eacute de se admitir que em futuras

verificaccedilotildees o mesmo suceda

DEFINICcedilAtildeO DE CIEcircNCIA

Ciecircncia eacute o processo pelo qual o homem se relaciona com os fenocircmenos universais que se sujeitam agrave regra cientiacutefica

fundamental

OBSERVACcedilAtildeO DO COMPORTAMENTO DOS QUE TRABALHAM EM CIEcircNCIA

VERIFICACcedilAtildeO DE QUE ALGUNS CONTRIBUEM PARA O PROGRESSO DAS CIEcircNCIAS

Cientista eacute todo ser racional que contribui diretamente para o progresso das ciecircncias

CONSTATACcedilAtildeO DE QUE ESTES SE UTILIZAM DE UM MEacuteTODO COMUM

Figura 1 - Para explicaccedilatildeo vide texto Resta-nos entatildeo para que a ideacuteia ganhe em consistecircncia comprovar a existecircncia de um uacutenico meacutetodo cientiacutefico e

isto natildeo parece ser uma tarefa faacutecil Antes de enfrentarmos esta dificuldade vamos verificar como as ideacuteias aqui apresentadas se conformam a conceitos classicamente

adotados como modelos de meacutetodo cientiacutefico

[] Muitos dentre esses toacutepicos satildeo apresentados em um contexto diverso em

Referecircncias

Ensaios sobre a Filosofia da Ciecircncia ou entatildeo em outros artigos expostos acima na

seccedilatildeo Temas relacionados [1] POPPER K R 1956 Acerca da inexistecircncia do meacutetodo

cientiacutefico in Prefaacutecio da ediccedilatildeo de 1956 do livro O realismo e o objetivo da ciecircncia

[2] FERREIRA A B H 1986

Publicaccedilotildees Dom Quixote (traduccedilatildeo) Lisboa 1987 Este prefaacutecio foi lido num

encontro dos Fellows of Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences em Stanford Califoacuternia em novembro

de 1956 Novo dicionaacuterio da liacutengua

portuguesa[3] POPPER K R (1959)

Ed Nova Fronteira Rio de Janeiro p 1128 A loacutegica da pesquisa

cientiacutefica Ed Cultrix (traduccedilatildeo 1975) Satildeo Paulo

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[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

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O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 22: cara metade

22

[4] CHALMERS A F 1976 (traduccedilatildeo 1993) O que eacute ciecircncia afinal[5] BEVERIDGE W I B 1980

Ed Brasiliense Satildeo Paulo 225 p Sementes da descoberta

cientiacutefica[6] MESQUITA Fdeg A 1987

Edusp (traduccedilatildeo) Satildeo Paulo Confesso que blefei --

Fiacutesica antiga vs moderna

[7] Perguntas e Debates 1995 item V

editado pela USJT (na eacutepoca Faculdades Satildeo Judas Tadeu) Satildeo Paulo capiacutetulo 13 A

Ciecircncia Existe p 92-8 Sobre Pesquisa e

Filosofia da Ciecircncia p 75 in EspecialIntegraccedilatildeo A pesquisa na universidade particular Integraccedilatildeo

[8] KUHN T S 1962 (traduccedilatildeo 1975)

I(1)51-75 1995 Este ensaio foi tambeacutem apresentado e discutido em palestra (natildeo publicada) que ministrei por ocasiatildeo da

Semana de Filosofia da USJT de 1994 A estrutura das

revoluccedilotildees cientiacuteficas Ed Perspectiva Satildeo Paulo 257 pp capiacutetulo 8 A natureza e a necessidade das revoluccedilotildees

cientiacuteficas[9] FERREIRA 1986 Idem p 404

p 131 [Os grifos satildeo meus]

[10] Leonardo da Vinci in The New Encyclopaedia Britannica Vol 22 (Macropaedia) Enc Brit Inc

Chicago 1993 p 946 (Leonardo as artist-scientist[11] SANTOS G T

) Os caminhos do pensamento cientiacutefico a

partir do Iluminismo Integraccedilatildeo I(5)131-6 1996 conferecircncia proferida por ocasiatildeo da Semana de Filosofia da USJT de 1995 Na sessatildeo de debates Santos dentre outras consideraccedilotildees interessantes a respeito faz a

seguinte observaccedilatildeo O progresso como vai ser definido no Iluminismo eacute uma noccedilatildeo de abandono passa pelo abandono necessaacuterio de coisas que ficaram ou que deveratildeo ficar no

passado[12] O termo diretamente aqui empregado eacute essencial a natildeo ser levado em conta corremos o risco de considerar

como cientistas dentre outros os mecenas que no passado contribuiacuteram de maneira indireta para o progresso

das ciecircncias

O argumento indutivista Uma criacutetica imparcial conquanto demolidora ao

indutivismo eacute apresentada por Chalmers nos trecircs primeiros capiacutetulos de seu livro [13] Veremos aqui apenas alguns toacutepicos interessantes do ponto de vista epistemoloacutegico

eou necessaacuterios para um melhor entendimento da teoria ora sendo apresentada

Um sumaacuterio completo do argumento indutivista da ciecircncia estaacute esquematizado na figura 2 adaptada de Chalmers [14]

Chama a atenccedilatildeo a omissatildeo da deduccedilatildeo de hipoacuteteses o indutivista admite ser possiacutevel partir da observaccedilatildeo e chegar a leis apelando exclusivamente ao raciociacutenio

indutivo O meacutetodo indutivo baseia-se na crenccedila de que eacute possiacutevel confirmar um enunciado universal (lei) atraveacutes de um certo nuacutemero de observaccedilotildees singulares Via de regra

quando se questiona o indutivista a respeito da omissatildeo da hipoacutetese ele logo repete uma frase de Newton Natildeo faccedilo

hipoacuteteses Obviamente este indutivista ingecircnuo ouviu esta frase sabe que foi proferida por Newton mas demonstra

natildeo saber a que Newton estava se referindo A hipoacutetese a que Newton se refere natildeo eacute a mesma que hoje se conceitua nos tratados de metodologia cientiacutefica ou de estatiacutestica Newton deixou bastante claro em sua obra que natildeo fazia como cientista especulaccedilotildees ou conjecturas infundadas No

23

que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 23: cara metade

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que se refere a hipoacuteteses no contexto em que o termo eacute hoje aceito rariacutessimos foram os cientistas que em sua

fase produtiva as levantaram em nuacutemero tal cuja ordem de grandeza se aproximasse daquela atingida por Newton

O argumento indutivista baseia-se na crenccedila no princiacutepio da induccedilatildeo que dentre outras formas pode ser enunciado como Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno

sempre que pesquisado se repetiu em futuras verificaccedilotildees o mesmo sucederaacute

Figura 2 - O argumento indutivista (segundo Chalmers)

[15] Escolhi esta versatildeo para que fique claro o contraste entre o princiacutepio da induccedilatildeo e a regra

cientiacutefica fundamental expliacutecita na figura 1 Trecircs comentaacuterios merecem ser feitos a respeito 1) Conquanto

seja usado como regra metodoloacutegica o princiacutepio da induccedilatildeo natildeo define o nuacutemero de observaccedilotildees singulares a permitir uma generalizaccedilatildeo (obtenccedilatildeo de leis) 2) Esta e outras falhas conceituais inerentes ao argumento indutivista propiciam interpretaccedilotildees ingecircnuas ao princiacutepio conforme

veremos abaixo 3) O princiacutepio sem perder em generalidade no que diz respeito agraves premissas (tem o

mesmo campo de atuaccedilatildeo que a regra cientiacutefica fundamental) e para que possa caracterizar-se como metodoloacutegico e natildeo apenas norteador torna-se mais

restritivo que a regra cientiacutefica fundamental frac34afirma ao inveacutes de suporfrac34 Consequumlentemente os que abraccedilam esta ideologia devem procurar por uma outra definiccedilatildeo de ciecircncia que natildeo a apresentada no item 2 e figura 1 As

consequumlecircncias epistemoloacutegicas daiacute resultantes seratildeo objeto de discussatildeo em itens posteriores

O indutivista ingecircnuo eacute aquele que dentre outras falhas conceituais eou de raciociacutenio consegue provar

cientificamente por exemplo a inexistecircncia de Deus pelo simples fato de Deus natildeo se manifestar a ele tendo em vista que ele natildeo possui uma regra para delimitar a ciecircncia que natildeo seja o princiacutepio da causalidade --natildeo haacute efeito sem causa-- ele tenta inverter o princiacutepio frac34que no caso ficaria natildeo haacute causa sem efeitofrac34 e apelando para o argumento indutivista consegue por meacutetodos cientiacuteficos chegar a conclusotildees natildeo cientiacuteficas frac34no caso teoloacutegicas Mais comum no entanto eacute o erro agora natildeo tatildeo ingecircnuo cometido por alguns indutivistas que conseguem provar cientificamente que todas as maccedilatildes satildeo vermelhas prova esta vaacutelida somente ateacute o dia em que eles se

depararem com maccedilatildes verdes Neste caso a falha decorre da crenccedila num meacutetodo repleto de incoerecircncias internas

5 O argumento dedutivista

24

O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

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de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

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aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

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(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

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Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

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ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
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O argumento dedutivista ainda que natildeo isento de criacuteticas representou sem duacutevida alguma uma evoluccedilatildeo no sentido em que propiciou uma metodologia cientiacutefica dotada de

coerecircncia interna A esse respeito eacute dito com frequumlecircncia que o raciociacutenio dedutivo constitui o

argumento da loacutegica A fim de padronizar comparaccedilotildees apresentarei o argumento

dedutivista como apoiado no seguinte princiacutepio Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa para que seja hipoacutetese deveraacute ser

passiacutevel de verificaccedilatildeo observacional A figura 3 ilustra a proposiccedilatildeo deste argumento

Eacute importante observar que nem toda a afirmaccedilatildeo deduzida seraacute uma hipoacutetese motivo pelo qual natildeo utilizamos o argumento loacutegico se e somente se ao enunciarmos o

princiacutepio

Figura 3 - O argumento dedutivista

[16] Em particular eacute de se ressaltar a opiniatildeo de Severino (1994) a respeito

Eacute preciso natildeo confundir hipoacutetese com pressuposto com evidecircncia preacutevia

Hipoacutetese eacute o que se pretende demonstrar e natildeo o que jaacute se tem

demonstrado [17] A loacutegica dedutiva ao caminhar do geral para o particular

nos garante a formulaccedilatildeo de hipoacuteteses e hipoacutetese comprovada atraveacutes de uma observaccedilatildeo controlada (teste eou experiecircncia) nos permite suspeitar atraveacutes de um raciociacutenio indutivo (do singular para o geral) sua condiccedilatildeo de lei Observem o cuidado na colocaccedilatildeo das palavras Eu disse nos permite suspeitar e natildeo nos

permite garantir Por que esse cuidado A experimentaccedilatildeo natildeo nos garante verdades A esse respeito Popper assim se

referiu Natildeo haacute um meacutetodo para determinar se

uma hipoacutetese eacute lsquoprovaacutevelrsquo ou provavelmente verdadeira [18]

Eacute interessante notar que algumas limitaccedilotildees inerentes ao indutivismo e que propiciam o aparecimento de conclusotildees ingecircnuas satildeo aqui substituiacutedas por uma impossibilidade

Sob esse aspecto o dedutivismo natildeo solucionou o problema mas simplesmente reduziu a possibilidade de que se

cometessem determinados raciociacutenios ingecircnuos Rigorosamente falando o problema natildeo eacute tatildeo insoluacutevel

assim Seraacute insoluacutevel tatildeo-somente para aqueles que julgam estar cientificamente buscando por verdades absolutas A verdade cientiacutefica e soacute o leigo talvez natildeo saiba eacute uma

verdade provisoacuteria tomada por empreacutestimo da natureza e da forma como ela se nos aparenta ser As verdades

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cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 25: cara metade

25

cientiacuteficas de hoje seratildeo quando natildeo negadas lapidadas e reformuladas amanhatilde Se chegaremos ou natildeo por meacutetodos

cientiacuteficos agrave verdade absoluta eacute um questionamento que a ciecircncia natildeo estaacute aparelhada para responder E talvez nunca esteja o que natildeo nos impede de que continuemos procurando

pela verdade Popper foi mais aleacutem demonstrando ser impossiacutevel ateacute mesmo probabilizar uma afirmaccedilatildeo comprovada por um

raciociacutenio que siga a metodologia dedutiva (incluindo e eacute aiacute que reside o problema principal do meacutetodo a induccedilatildeo -- vide lado direito da figura 3) A esse respeito Popper

propotildee a substituiccedilatildeo do termo probabilizar por corroborar Uma hipoacutetese seria tanto mais corroboraacutevel quanto mais propiciasse verificaccedilotildees experimentais e teria sido tanto mais corroborada e natildeo haacute como se

atribuir nuacutemeros probabiliacutesticos a esse efeito quanto mais resistisse a essas verificaccedilotildees Siegel (1977

traduccedilatildeo) adota provavelmente com o mesmo objetivo a expressatildeo grau de aceitabilidade

Efetuamos pesquisas a fim de determinar o grau de aceitabilidade de

hipoacuteteses deduzidas de nossas teorias [19]

Esta impossibilidade em garantir um acerto preocupou bastante Popper e certamente foi um dos motivos que o

levou a expandir o argumento dedutivista atraveacutes da proposiccedilatildeo do falsificacionismo a ser apresentado no

item 7 Independentemente das dificuldades apontadas neste e nos itens precedentes a verdade eacute que a ciecircncia progride e este progresso eacute guiado por homens que conhecem o terreno por onde pisam E conquanto todos saibam da natildeo existecircncia em ciecircncia de verdades absolutas da impossibilidade de se

chegar a uma soluccedilatildeo definitiva para os problemas cientiacuteficos e da natildeo existecircncia de provas observacionais irrefutaacuteveis quase todos [20] entendem e concordam com a

afirmaccedilatildeo de GIL (1994) expressa a seguir A pesquisa cientiacutefica inicia-se

sempre com a colocaccedilatildeo de um problema solucionaacutevel O passo seguinte

consiste em oferecer uma soluccedilatildeo possiacutevel atraveacutes de uma proposiccedilatildeo ou seja de uma expressatildeo suscetiacutevel de ser declarada verdadeira ou falsa A

esta proposiccedilatildeo daacute-se o nome de hipoacutetese Assim a hipoacutetese eacute a

proposiccedilatildeo testaacutevel que pode vir a ser a soluccedilatildeo do problema [21]

6 O que eacute teoria Eacute importante salientar que a finalidade primordial da ciecircncia natildeo eacute formular hipoacuteteses e sim sistematizar teorias e que teoria natildeo eacute pura e simplesmente uma

coletacircnea de hipoacuteteses Teoria eacute um conjunto de hipoacuteteses coerentemente interligadas tendo por finalidade explicar

elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio do conhecimento [22] Por que entatildeo os livros de

metodologia insistem em justificar os meacutetodos atraveacutes de hipoacuteteses uacutenicas e via de regra desinteressantes tais

como As maccedilatildes satildeo vermelhas os cisnes satildeo brancos etc A verdade eacute que nem sempre eacute faacutecil encontrar teorias ao mesmo tempo simples e de amplo espectro ou seja que

26

possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
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possam ser entendidas por leitores das vaacuterias aacutereas do conhecimento Por outro lado os argumentos que corroboram ou derrubam teorias satildeo em princiacutepio idecircnticos aos que corroboram ou derrubam hipoacuteteses frac34poderiacuteamos tambeacutem dizer

que uma hipoacutetese eacute ou simula ser uma teoria cujo conjunto de hipoacuteteses eacute unitaacuterio Em geral a dificuldade inerente ao grau de complexidade de uma teoria pode ser

superada desde que o cientista conheccedila a fundo esta teoria cujo grau de aceitabilidade pretende testar e domine a loacutegica envolvida em situaccedilotildees similares poreacutem simples como aquelas que aparecem nos compecircndios sobre o

assunto A ecircnfase dada pelos textos de metodologia cientiacutefica a meacutetodos relacionados a testes de hipoacuteteses contrasta com a quase ausecircncia de referecircncias a meacutetodos relativos agrave

praacutetica da teorizaccedilatildeo Existem exceccedilotildees a esta regra e eu natildeo poderia deixar de citar [23] os livros de Bunge [24] e de Lacey [25] indicados especialmente para os iniciantes da aacuterea de exatas Embora natildeo especificamente dirigido a esta temaacutetica haacute que se destacar tambeacutem o livro de Bohm e

Peat [26] e que merece ser lido posto que focaliza a essecircncia da problemaacutetica aqui apontada neste caso e por este motivo eacute indicado aos iniciantes de todas as aacutereas A praacutetica da teorizaccedilatildeo com rariacutessimas exceccedilotildees natildeo se

aprende na escola Grandes teorizadores por terem aprendido a utilizar uma teacutecnica natildeo encontrada nos livros tradicionais e que nem mesmo eacute ensinada na maioria dos

regimes de iniciaccedilatildeo cientiacutefica chegaram a ser confundidos com gecircnios Eacute bem possiacutevel que estes gecircnios tenham adquirido esta praacutexis cultuando algum resquiacutecio da

filosofia que a sociedade moderna natildeo conseguiu despedaccedilar

A lacuna acima apontada fomenta a ingenuidade ou ateacute mesmo o charlatanismo multiplicando sobremaneira o nuacutemero dos que sem estarem devidamente preparados para teorizar frac34uma atividade que natildeo eacute elementarfrac34 ainda assim teorizam e teorizam mal frac34fato este que chega a incomodar cientistas de respeito que ocupam postos importantes nas

universidades [27] Por outro lado e em decorrecircncia disto permite que se condene agrave marginalidade cientiacutefica

e por periacuteodos variaacuteveis de tempo todos aqueles que certos ou errados pretendem evoluir seriamente no sentido de atender agrave finalidade uacuteltima da ciecircncia a edificaccedilatildeo de

teorias representacionais Que meacutetodos estes homens seguiram que natildeo a paixatildeo a

devoccedilatildeo a persistecircncia e a crenccedila num espiacuterito universal frac34Espiacuterito este que segundo alguns admitem natildeo estaacute a se

divertir com nossos erros e acertos o que foi sintetizado pelo maior dos gecircnios do seacuteculo XX nas

seguintes palavras Deus natildeo joga dados A resposta nos eacute dada pelo proacuteprio autor desta afirmaccedilatildeo

O alvo de construir uma teoria de campo eletromagneacutetico da mateacuteria

permanece inatingiacutevel por ora embora em princiacutepio nenhuma objeccedilatildeo possa ser levantada contra a possibilidade de vir a se alcanccedilar tal objetivo O que reteve qualquer tentativa posterior nessa direccedilatildeo foi a falta de qualquer meacutetodo sistemaacutetico que levasse a uma

soluccedilatildeo [28]

27

Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

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Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

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para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 27: cara metade

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Seraacute que natildeo existem meacutetodos ou regras a serem adotados nesta praacutexis E por falar nisso a praacutetica da teorizaccedilatildeo

natildeo seria uma teorexis [29] Seraacute que teorizar em ciecircncia eacute uma atividade puramente filosoacutefica Natildeo existe uma

metodologia cientiacutefica a orientar aqueles que se preocupam em decifrar os segredos que estatildeo por traacutes dos fenocircmenos que se adaptam agrave regra cientiacutefica fundamental Caso exista

um meacutetodo a ser sistematizado Seria ele diferente do meacutetodo cientiacutefico O que eacute o meacutetodo cientiacutefico

Tentarei dentro do possiacutevel e da finalidade a que me propus ao conceber esta seacuterie de artigos responder

oportunamente eou orientar o leitor se houver como no que diz respeito aos questionamentos aqui assinalados De qualquer forma mais detalhes sobre teoria eou teorizaccedilatildeo seratildeo apresentados no toacutepico IV-b A praacutetica da teorizaccedilatildeo

(em preparo)

[13] CHALMERS A F 1976 Referecircncias

op cit (Voltar pelo browser) pp 23-63

[14] Idem p 28 [15] Esta versatildeo eacute uma adaptaccedilatildeo do princiacutepio da induccedilatildeo

como enunciado por CHALMERS (1976) op cit Se um grande nuacutemero de As foi observado sob uma ampla variedade de condiccedilotildees e se todos esses As observados possuiacuteam sem exceccedilatildeo a propriedade B entatildeo todos os As possuem a propriedade B

[16] Neste caso o princiacutepio ficaria

Aparentes contradiccedilotildees que o iniciante possa descobrir ao comparar os dois enunciados natildeo

comprometem o raciociacutenio que se segue razatildeo pela qual admitirei a equivalecircncia sem justificaacute-la

Se em dadas condiccedilotildees um determinado fenocircmeno sempre que pesquisado se repetiu qualquer afirmaccedilatildeo decorrente desta premissa seraacute hipoacutetese se e somente se for passiacutevel de verificaccedilatildeo

observacional

[17] SEVERINO J S 1994

O primeiro se torna a afirmaccedilatildeo inconsistente

Metodologia do trabalho cientiacutefico[18] POPPER K R 1956

Cortez Editora Satildeo Paulo op cit

[19] SIEGEL S 1977 Estatiacutestica natildeo-parameacutetrica

[20] Eacute possiacutevel que alguns dentre os indutivistas natildeo concordem com alguns dos termos da afirmaccedilatildeo por motivos que podem ser suspeitados tendo em vista o apresentado

neste e no item anterior

Ed McGraw-Hill do Brasil Ltda Satildeo Paulo p 6

[21] GIL A C 1994 Como elaborar projetos de pesquisas

[22] Em FERREIRA A B H 1986

Editora Atlas S A Satildeo Paulo p 35 [Os grifos satildeo

meus] op cit (Voltar pelo

browser) encontramos uma definiccedilatildeo mais geral a satisfazer tambeacutem o argumento indutivista Teoria eacute um

conjunto de conhecimentos natildeo ingecircnuos que apresentam graus diversos de sistematizaccedilatildeo e credibilidade e que se

propotildeem a explicar elucidar interpretar ou unificar um dado domiacutenio de fenocircmenos ou de acontecimentos que se

oferecem agrave atividade praacutetica [23] Os trecircs livros citados a seguir natildeo satildeo os uacutenicos

nos gecircneros assinalados a despeito da disparidade apontada Ao tempo em que registro com estes exemplos a exceccedilatildeo agrave regra presto tambeacutem uma homenagem a autores que ao serem por mim lidos transmutaram em duacutevidas muitas das

respostas a questotildees fundamentais e que eu

28

pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 28: cara metade

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pretensiosamente julgava possuir [24] BUNGE M Teoria e realidade

[25] LACEY HM 1972

Ed Perspectiva (traduccedilatildeo 1994) Satildeo Paulo

A linguagem do espaccedilo e do tempo

[26] BOHM D e PEAT F D

Ed Perspectiva SA

Ciecircncia ordem e criatividade

[27] A esse respeito vale a pena ler

Gradiva Publicaccedilotildees Ltda (traduccedilatildeo 1989) Lisboa

Cientiacuteficos Chiflados capiacutetulo XIV do livro BERNSTEIN J 1988 Observacioacuten de

la Ciencia[28] EINSTEIN A

Ed Fondo de Cultura Econoacutemica Meacutexico Fiacutesica e realidade in Albert Einstein

Pensamento poliacutetico e uacuteltimas conclusotildees (1983 traduccedilatildeo) Edit Brasiliense S A Satildeo Paulo [O grifo eacute meu]

[29] Este termo eu utilizei pela primeira vez no artigo MESQUITA Fdeg A 1983 Ciecircncia empiacuterica uma arma ou uma daacutediva Faculdade

Antes de mais nada afirmarei sem me alongar que uma teoria adotado o argumento dedutivista pode ser

corroborada ou negada fundamentalmente atraveacutes de um dos trecircs procedimentos seguintes 1) Pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de uma de suas hipoacuteteses 2) pela verificaccedilatildeo ou negaccedilatildeo de uma de suas prediccedilotildees 3) pela corroboraccedilatildeo ou

negaccedilatildeo de teorias auxiliares deduzidas da teoria principal (teoria em teste ou sob suspeita) as teorias

auxiliares podem ser de trecircs tipos teorias ou hipoacuteteses de nulidade teorias ou hipoacuteteses salvadoras e teorias ou hipoacuteteses assassinas

(Revista do IAMC) ndeg 6 p 28-43 agosto83

7 O falsificacionismo O falsificacionismo natildeo foi proposto como um meacutetodo novo mas sim como um criteacuterio ou conduta a ser ou natildeo adotado por aqueles que se conformam ao meacutetodo dedutivo de prova

Natildeo haacute nada no falsificacionismo do ponto de vista metodoloacutegico que natildeo esteja previsto ou que natildeo decorra naturalmente de uma opccedilatildeo a ser seguida espontaneamente ou natildeo por este ou aquele dedutivista Qual seria entatildeo este criteacuterio Com que finalidade foi proposto A resposta a estas perguntas bem como o meacuterito do falsificacionismo constituem o objetivo deste e dos proacuteximos dois itens

[30] Incluem-se no rol das teorias auxiliares como veremos oportunamente as teorias

transcendentais frequumlentemente conotadas por experiecircncias de pensamento As prediccedilotildees e as hipoacuteteses ou teorias auxiliares satildeo teorias geradas utilizando-se do proacuteprio argumento dedutivista esquematizado na figura 3 Neste caso o foco de atenccedilatildeo inicial frac34representado na figura como observaccedilatildeofrac34 eacute nada mais nada menos que a proacutepria teoria que deu origem agrave prediccedilatildeo eou agrave teoria auxiliar Ao valorizar a falseabilidade como criteacuterio a ser adotado

pelos dedutivistas Popper nada mais fez que tentar expandir ou trazer para o domiacutenio da metodologia

cientiacutefica uma praacutetica amplamente utilizada com sucesso em estatiacutestica o criteacuterio de tomada de decisatildeo atraveacutes da

hipoacutetese de nulidade (Ho

O primeiro passo ou estaacutegio no processo de tomada de decisatildeo eacute

definir a hipoacutetese de nulidade (

)

Ho) Formula-se usualmente com o expresso propoacutesito de ser rejeitada Se eacute

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rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 29: cara metade

29

rejeitada pode-se aceitar a hipoacutetese alternativa (H1) A hipoacutetese

alternativa eacute a definiccedilatildeo operacional da hipoacutetese de pesquisa do

pesquisador A hipoacutetese de pesquisa eacute a prediccedilatildeo deduzida da teoria que estaacute

sendo comprovada [31] A contribuiccedilatildeo de Popper a esse respeito limitou-se agrave ecircnfase que deu agrave importacircncia da procura por hipoacuteteses de

nulidade Ateacute entatildeo este costume estava restrito agrave procura por previsotildees frac34apresentadas via de regra pelo proacuteprio autor da teoriafrac34 eou hipoacuteteses salvadoras frac34levantadas

pelos adeptos da teoria em focofrac34 eou hipoacuteteses assassinas frac34levantadas pelos criacuteticos da teoria em questatildeo As quatro

tecircm uma caracteriacutestica comum satildeo todas teorias falseadoras

A boa teoria dentre outras qualidades [32] e segundo Popper eacute aquela potencialmente geradora de hipoacuteteses

falseadoras e tanto melhor seraacute quanto maior for o risco de ser negada Ela pode ateacute mesmo ser derrubada no primeiro teste a que for submetida o que natildeo invalida o que foi

dito foi uma boa teoria enquanto durou e voltaraacute a ser se conseguir ressurgir das cinzas Dito em outras palavras o criteacuterio para se avaliar a virtude de uma teoria nascente repousa no seu grau de submissatildeo a testes adversos Uma teoria de baixo risco raramente eacute bem vinda [33] e uma

teoria sem risco algum na opiniatildeo de Popper natildeo eacute cientiacutefica e eu iria aleacutem sequer eacute teoria

Levando-se em conta que o criteacuterio falsificacionista peca pela subjetividade deve-se tomar cuidado ao se optar por uma teoria em detrimento de outra pelo fato de a primeira

ser mais falseaacutevel que a segunda Diferentes hipoacuteteses falseadoras devem apresentar pesos diferentes e este peso

mesmo quando bem estimado frequumlentemente o eacute por um processo subjetivo Natildeo eacute raro utilizar-se desta

subjetividade inerente ao falsificacionismo para justificar escolhas feitas segundo criteacuterios poliacuteticos econocircmicos

interesseiros corporativistas ou entatildeo apoiados em princiacutepios outros que tambeacutem deixam a desejar no que diz

respeito agrave eacutetica do cientista 8 Entendendo o falsificacionismo

Suponha que algueacutem deduza a seguinte hipoacutetese H1 As maccedilatildes do Estado de Satildeo Paulo satildeo vermelhas A teoria assim

simulada eacute uma teoria de hipoacutetese uacutenica Percebam que no argumento da hipoacutetese estaacute se admitindo como pressupostos uma infinidade de conceitos tais como fruta maccedilatilde cor

vermelho local Satildeo Paulo Brasil etc Estes pressupostos satildeo o que Severino chama de evidecircncias preacutevias como vimos no item 5 e constituem uma das bases da argumentaccedilatildeo de Chalmers [34] ao contestar os que afirmam que a ciecircncia

comeccedila com a observaccedilatildeo Um exemplo de previsatildeo desta teoria seria as maccedilatildes de

Jundiaiacute devem ser vermelhas tendo em vista que Jundiaiacute se localiza no Estado de Satildeo Paulo

Suponha tambeacutem que algueacutem tenha demonstrado que em condiccedilotildees X outra fruta que natildeo a maccedilatilde e que

originalmente era de determinada cor se modifica e conclui que se a teoria sobre as maccedilatildes for verdadeira ela

deveraacute permanecer verdadeira nas condiccedilotildees X Pode-se entatildeo construir a seguinte hipoacutetese de nulidade Ho Em

condiccedilotildees X obter-se-atildeo em Satildeo Paulo maccedilatildes natildeo

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 30: cara metade

30

vermelhas Esta previsatildeo natildeo decorre da teoria (H1) mas de evidecircncias preacutevias outras e estranhas agrave mesma Se esta

hipoacutetese (Ho) for verificada a hipoacutetese original H1

Seraacute que este simples fato condena a teoria original Para o falsificacionista ingecircnuo sim Para aquele que entendeu e aceitou o significado da afirmaccedilatildeo de Popper citada

neste artigo ao final do

estaraacute falseada

quarto paraacutegrafo do item 5 natildeo Optar por uma teoria natildeo significa crer numa verdade

absoluta Se eu afirmo que Ho eacute verdadeira e consequumlentemente H1 eacute falsa isto natildeo significa que eu

estou atribuindo o grau de veracidade 100 a uma hipoacutetese e 0 agrave outra significa simplesmente que a verificaccedilatildeo experimental me convenceu a optar por uma teoria em

detrimento da outra A opccedilatildeo eacute uma das maneiras pelas quais o cientista expressa a sua feacute na ciecircncia [35] e o

falsificacionismo estabelece normas a lhe orientar nesta opccedilatildeo

Suponha agora que em condiccedilotildees X ou em outra condiccedilatildeo qualquer se encontrem no Estado de Satildeo Paulo maccedilatildes verdes Significa isto que a hipoacutetese H1

Natildeo podemos em satilde consciecircncia dizer que a psicanaacutelise por exemplo natildeo pertenccedila ao campo da ciecircncia pelo simples

fato de uma de suas teorias precursoras ser natildeo falseaacutevel Sequer podemos dizer que o autor dessa ideacuteia natildeo

fosse cientista se eacute verdade que a psicanaacutelise se desenvolveu em cima desta ideacuteia e apesar disso conseguiu

eacute falsa Natildeo Simplesmente ela foi falseada Nada impede que amanhatilde com a evoluccedilatildeo da ciecircncia se descubra que estes frutos verdes a que hoje associamos a ideacuteia maccedilatilde estejam inseridos num

outro contexto e que realmente natildeo sejam maccedilatildes Por que entatildeo se daacute preferecircncia a verificaccedilotildees falseadoras em detrimento das corroboradoras Ora isto nem sempre

acontece conquanto seja esta uma das regras propostas pelo falsificacionismo Por exemplo tanto a teoria da

relatividade quanto a mecacircnica quacircntica satildeo teorias fiacutesicas amplamente aceitas graccedilas a terem sido

corroboradas por previsotildees que se confirmaram e pouco valor se deu a um grande nuacutemero de testes que as falsearam Por outro lado estas duas teorias satildeo concomitantemente aceitas pelos fiacutesicos conquanto existam fortes argumentos

a provar que cada uma destas duas teorias falseia a outra e ambas falseiam a teoria de Maxwell que tambeacutem eacute aceita como verdadeira Certos ou errados neste caso os fiacutesicos modernos dentre os quais se inclui Popper fizeram uma opccedilatildeo contraacuteria agrave norma falsificacionista e natildeo haacute

como criticaacute-los por essa conduta a menos que se pretenda atribuir ao falsificacionismo uma qualidade que ele natildeo

possui a de estabelecer criteacuterios absolutos de veracidade O falsificacionismo presta-se tambeacutem a fomentar o diaacutelogo e a criatividade Neste caso surge quase como que um apelo para que se invista mais em experiecircncias de pensamento um

recurso legiacutetimo e de grande valor em ciecircncia 9 O falsificacionismo como delimitador da ciecircncia

Vimos no item 7 que para Popper uma teoria sem risco algum natildeo eacute cientiacutefica e eu acrescentei sequer eacute teoria Popper quis se aproveitar deste argumento para delimitar a ciecircncia utilizando-se entatildeo do falsificacionismo como

criteacuterio de cientificidade Com esta opccedilatildeo Popper desagradou a muitos e convenceu a poucos ainda que sua

ideacuteia natildeo fosse de todo maacute

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 31: cara metade

31

de alguma forma se impor como ciecircncia muito provavelmente queiramos ou natildeo seu autor contribuiu diretamente para o progresso da ciecircncia Mesmo que hoje algueacutem chegasse a concluir categoricamente pelo caraacuteter natildeo cientiacutefico da psicanaacutelise isto de forma alguma nos autorizaria a hipoteticamente condenaacute-la agrave estagnaccedilatildeo Se um cientista utilizando-se de maus criteacuterios ou ateacute mesmo apoiando-se em dogmas constroacutei de maneira natildeo

cientiacutefica um determinado campo do conhecimento isto natildeo significa que este campo natildeo possa vir a ser estudado cientificamente e que natildeo se possam criteriosamente

aproveitar as conclusotildees de seus estudos Nada impede que uma teoria considerada hoje como natildeo cientiacutefica pelo fato de possuir uma ou mais hipoacuteteses natildeo falseaacuteveis adquira

esse status apoacutes passar por ligeiras reformulaccedilotildees Natildeo podemos assumir que um campo do conhecimento seja natildeo cientiacutefico pelo simples fato de natildeo encontrarmos nele

teorias cientiacuteficas Este posicionamento de Popper a meu ver natildeo se justifica o falsificacionismo natildeo eacute um bom

criteacuterio delimitador da ciecircncia e isto eu espero que tenha ficado claro para o leitor E mais natildeo existem aacutereas natildeo cientiacuteficas mas sim aacutereas onde ainda natildeo foram produzidos conhecimentos cientiacuteficos O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo e pelo menos nesta etapa nada eacute absolutamente corroboraacutevel ou falseaacutevel Podemos ainda

dizer que a ciecircncia natildeo se localiza aqui ou acolaacute sob esse aspecto a ciecircncia natildeo tem fronteiras

10 Enfim a teoria do meacutetodo Nos demais artigos desta seacuterie irei demonstrar ser possiacutevel partindo da regra cientiacutefica fundamental desenvolver uma teoria sobre o meacutetodo cientiacutefico

utilizando-se das trecircs hipoacuteteses seguintes 1 O progresso cientiacutefico tem sua

origem na intuiccedilatildeo 2 A produccedilatildeo de conhecimentos passa

necessariamente pelas etapas deduccedilatildeo anaacutelise induccedilatildeo e

siacutentese na ordem apresentada 3 Os princiacutepios cientiacuteficos fundamentais satildeo universais

Por questatildeo de simplicidade subdividirei o estudo do meacutetodo em trecircs etapas correspondentes a cada uma das hipoacuteteses 1) o estudo do macromeacutetodo cientiacutefico 2) o estudo do meacutetodo cientiacutefico propriamente dito e 3) o estudo do micromeacutetodo cientiacutefico Os toacutepicos nos quais

desenvolverei estas etapas estatildeo em fase de projeto natildeo havendo portanto previsatildeo quanto agrave eacutepoca de publicaccedilatildeo

Meacutetodo cientiacutefico

Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre

A palavra meacutetodo vem do grego meacutethodos (caminho para chegar a um fim) O meacutetodo cientiacutefico eacute um conjunto de regras baacutesicas para desenvolver uma experiecircncia a fim de produzir novo conhecimento bem como corrigir e integrar conhecimentos preacute-existentes Na maioria das disciplinas cientiacuteficas consiste em juntar evidecircncias observaacuteveis empiacutericas (ou seja baseadas apenas na experiecircncia) e

mensuraacuteveis e as analisar com o uso da loacutegica Para muitos autores o meacutetodo cientiacutefico nada mais eacute do que a loacutegica

32

aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 32: cara metade

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aplicada agrave ciecircncia (Haddad) Metodologia literalmente refere-se ao estudo dos meacutetodos e especialmente do meacutetodo da ciecircncia que se supotildee universal Embora procedimentos variem de uma aacuterea da

ciecircncia para outra (as disciplinas cientiacuteficas) diferenciadas por seus distintos objetos de estudo

consegue-se determinar certos elementos que diferenciam o meacutetodo cientiacutefico de outros meacutetodos (filosoacutefico algoritmo

ndash matemaacutetico etc)

Primeiramente os pesquisadores definem proposiccedilotildees loacutegicas ou suposiccedilotildees (hipoacuteteses) para explicar certos fenocircmenos e observaccedilotildees e entatildeo desenvolvem experimentos que testam essas hipoacuteteses Se confirmadas as hipoacuteteses podem gerar leis e teorias Integrando-se hipoacuteteses de certa aacuterea em uma estrutura coerente de conhecimento contribuiacute-se na

formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bem como coloca as hipoacuteteses em um conjunto de conhecimento maior que satildeo as

leis e teorias reconhecidas consensualmente pela comunidade cientiacutefica eou o

O contexto de uma pesquisa

paradigma de seu tempo Outra caracteriacutestica do meacutetodo eacute que o processo precisa

ser objetivo e o cientista deve ser imparcial na interpretaccedilatildeo dos resultados Sobre a objetividade o seja

atente agraves propriedades do objeto e natildeo do sujeito (subjetividade) eacute conhecida a afirmaccedilatildeo de Hans Selye

pesquisador canadense que formulou a moderna concepccedilatildeo de stress ldquoQuem natildeo sabe o que procura natildeo entende o que encontrardquo referindo-se a necessidade de formulaccedilatildeo de definiccedilotildees precisas (a essecircncia dos conceitos) e que

possam ser respondidas com o simples sim ou natildeo Tanto a imparcialidade (evidecircncia) como a objetividade foram incluiacutedas por Reneacute Descartes (1596 ndash 1649) nas regras

loacutegicas que caracterizam o meacutetodo cientiacutefico Aleacutem disso o procedimento precisa ser documentado tanto no que diz respeito agrave fonte de dados como as regras de anaacutelise para que outros cientistas possam re-analisar reproduzir e verificar a confiabilidade dos resultados Assim se distingue os relatos cientiacuteficos (artigos

monografias teses e dissertaccedilotildees) de um simples estilo (padratildeo) ou arquitetura de texto orientados pelo que caracteriza as normas da Retoacuterica ou estudo do uso persuasivo da linguagem em funccedilatildeo da eloquumlecircncia

Eacute comum o uso da anaacutelise matemaacutetica ou estatiacutestica quando possiacutevel ou aproximaccedilatildeo de modelos abstratos (tipos ideais) e categorias de classificaccedilatildeo a depender do

objetivo da pesquisa (identificar descrever analisar) que pode ser basicamente quantitativa ou qualitativa A divisatildeo da ciecircncia em aacutereas ou distintas disciplinas

cientificas tem levado a tais adequaccedilotildees da metodologia Eacute comum a afirmaccedilatildeo de que em funccedilatildeo da evoluccedilatildeo do meacutetodo

cientifico num extremo temos a fiacutesica e quiacutemica seguida da biologia e por uacuteltimo as ciecircncias sociais psicologia e ciecircncias juriacutedicas quase se aproximando da filosofia e estudo das crenccedilas (senso comum) ou ciecircncias do espiacuterito

(sistemas miacutetico - religiosos) Contudo pesquisadores contemporacircneos vecircem nessas duas abordagens uma oposiccedilatildeo complementar enquanto as pesquisas quantitativas visam descrever e explicar fenocircmenos que produzem regularidades mensuraacuteveis satildeo recorrentes (ou discrepantes) e exteriores ao sujeito

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 33: cara metade

33

(objetivos) na pesquisa qualitativa o observador (sujeito) eacute da mesma natureza que o objeto de sua anaacutelise e ele proacuteprio uma parte de sua observaccedilatildeo (o subjetivo)

Eacute importante ter em mente que as pesquisas cientificas relacionam-se com um modelo (paradigmaacutetico) ou uma

constelaccedilatildeo de pressupostos e crenccedilas escalas de valores teacutecnicas e conceitos compartilhados pelos membros de uma determinada comunidade cientiacutefica num determinado momento

histoacuterico

Ciecircncia eacute muito mais uma maneira de pensar do que um corpo de conhecimentos -

Elementos do meacutetodo cientiacutefico

Carl Sagan ciecircncia consiste em agrupar factos para que leis

gerais ou conclusotildees possam ser tiradas deles - Charles Darwin

O meacutetodo cientiacutefico eacute composto dos seguintes elementos bull Caracterizaccedilatildeo - Quantificaccedilotildees observaccedilotildees e

medidas bull Hipoacuteteses - Explicaccedilotildees hipoteacuteticas das observaccedilotildees e

medidas bull Previsotildees - Deduccedilotildees loacutegicas das hipoacuteteses

bull Experimentos - Testes dos trecircs elementos acima O meacutetodo cientiacutefico consiste dos seguintes aspectos bull Observaccedilatildeo - Uma observaccedilatildeo pode ser simples isto eacute

feita a olho nu ou pode exigir a utilizaccedilatildeo de instrumentos apropriados

bull Descriccedilatildeo - O experimento precisa ser replicaacutevel (capaz de ser reproduzido)

bull Previsatildeo - As hipoacuteteses precisam ser vaacutelidas para observaccedilotildees feitas no passado no presente e no

futuro bull Controle - Para maior seguranccedila nas conclusotildees toda

experiecircncia deve ser controlada Experiecircncia controlada eacute aquela que eacute realizada com teacutecnicas que permitem descartar as variaacuteveis passiacuteveis de mascarar

o resultado bull Falseabilidade[1]

bull Explicaccedilatildeo das Causas - Na maioria das aacutereas da Ciecircncia eacute necessaacuterio que haja causalidade Nessas

condiccedilotildees os seguintes requerimentos satildeo vistos como importantes no entendimento cientiacutefico

- toda hipoacutetese tem que ser falseaacutevel ou refutaacutevel Isso natildeo quer dizer que o experimento seja falso mas sim que ele pode ser verificado

contestado Ou seja se ele realmente for falso deve ser possiacutevel provaacute-lo

bull Identificaccedilatildeo das Causas bull Correlaccedilatildeo dos eventos - As causas precisam se

correlacionar com as observaccedilotildees bull Ordem dos eventos - As causas precisam preceder

no tempo os efeitos observados Na aacuterea da sauacutede a natureza da associaccedilatildeo causal foi formulada por Hence e adaptada por Robert Koch em 1877

para demonstraccedilatildeo da relaccedilatildeo causal entre microrganismos e patologias consistindo basicamente no enunciado acima ou seja forccedila da associaccedilatildeo (conectividade) sequumlecircncia temporal (assimetria) transitividade (evidecircncia experimental) previsibilidade estabilidade

Uma maneira linearizada e pragmaacutetica de apresentar os quatro pontos acima estaacute exposto a seguir passo-a-passo

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 34: cara metade

34

Vale a pena notar que eacute apenas um exemplo natildeo sendo obrigatoacuterio a existecircncia de todos esses passos Na

verdade na maioria dos casos natildeo se segue todos esses passos ou mesmo parte deles O meacutetodo cientiacutefico natildeo eacute

uma receita ele requer inteligecircncia imaginaccedilatildeo e criatividade O importante eacute que os aspectos e elementos

apresentados acima estejam presentes bull Definir o problema

bull Recolhimento de dados bull Proposta de uma hipoacutetese

bull Realizaccedilatildeo de uma experiecircncia controlada para testar a validade da hipoacutetese

bull Anaacutelise dos resultados bull Interpretar os dados e tirar conclusotildees o que serve

para a formulaccedilatildeo de novas hipoacuteteses bull Publicaccedilatildeo dos resultados em monografias

dissertaccedilotildees teses artigos ou livros aceitos por universidades e ou reconhecidos pela comunidade

cientiacutefica Observe-se que nem todas as hipoacutetese podem ser confirmadas

ou refutadas por experimentos e que em muitas aacutereas do conhecimento o recolhimento de dados e a tentativas de interpretaacute-los jaacute eacute uma grande tarefa como nas ciecircncias

humanas e juriacutedicas (criminologia)

Ciecircncias humanas A limitaccedilatildeo eacutetica da realizaccedilatildeo experimentos com seres humanos o estudo das subjetividades ou essencialmente

subjetivo individual e particular psiquismo humano ou a natureza histoacuterica do objeto das ciecircncias sociais conduziram os pensadores a distintos caminhos ou

proposiccedilotildees de estudo para o meacutetodo cientiacutefico Contudo parafraseando Minayoldquouma base de dados quando bem trabalhada teoacuterica e praticamente produz riqueza de informaccedilotildees aprofundamento e maior fidedignidade

interpretativardquo As principais divergecircncias na anaacutelise dos resultados de pesquisas em ciecircncias sociais ou humanas se datildeo no plano da contextualizaccedilatildeo dos dados ou informaccedilotildees obtidas em campo nos diversos sistemas teoacutericos ou seja conjunto de teorias e leis reconhecidas como consensuais em distintos

momentos histoacutericos eou segmentos das comunidades cientiacuteficas Nas ciecircncias sociais identifica-se trecircs

grandes correntes de pensamentos bull Positivismo Auguste Comte

bull Fenomenologia (Fenomenologia do Espiacuterito Estruturalismo

bull Materialismo dialeacutetico Dialeacutetica Marxismo

A histoacuteria do meacutetodo cientiacutefico se mistura com a histoacuteria da ciecircncia Documentos do

A evoluccedilatildeo do conceito de meacutetodo

Antigo Egito jaacute descrevem meacutetodos de diagnoacutesticos meacutedicos Na cultura da Greacutecia

Antiga os primeiros indiacutecios do meacutetodo cientiacutefico comeccedilam a aparecer Grande avanccedilo no meacutetodo foi feito no comeccedilo da filosofia islacircmica principalmente no uso de experimentos

para decidir entre duas hipoacuteteses Os principios fundamentais do meacutetodo cientiacutefico se consolidaram com o surgimento da Fiacutesica nos seacuteculos XVII e XVIII Francis

Bacon em seu trabalho Novum Organum(1620)-uma referecircncia

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 35: cara metade

35

ao Organon de Aristoacuteteles-especifica um novo sistema loacutegico para melhorar o velho processo filosoacutefico do

silogismo A metodologia cientiacutefica tem sua origem no pensamento de

Descartes que foi posteriormente desenvolvimento empiricamente pelo fiacutesico inglecircs Isaac Newton Reneacute Descartes propocircs chegar agrave verdade atraveacutes da duacutevida sistemaacutetica e da decomposiccedilatildeo do problema em pequenas

partes caracteriacutesticas que definiram a base da pesquisa cientiacutefica

Lecirc-se no livro o Discurso do meacutetodo E como a multiplicidade de leis serve frequentemente para escusar os viacutecios de sorte que um estado eacute muito melhor governado quando possuindo poucas elas satildeo aiacute rigorosamente aplicadas assim em lugar de um grande

nuacutemero de preceitosde qua a loacutegica eacute composta acrediteis que jaacute me seriam bastante quatro contanto que tomasse a firme e constante resoluccedilatildeo de natildeo deixar uma vez soacute de

observaacute-los O primeiro consistia em nunca aceitar por verdadeira coisa nenhuma que natildeo conhecesse como evidente isto eacute

devia evitar cuidadosamente a precipitaccedilatildeo e a prevenccedilatildeo e nada incluir em meus juizos que natildeo se apresentasse tatildeo claramente e tatildeo distintamente ao meu espiacuterito que natildeo

tivesse nenhuma ocasiatildeo de o por em duacutevida O segundo ndash dividir cada uma das dificuldades que

examinasse em tantas parcelas quantas pudesse ser e fossem exigidas para melhor compreendecirc-las

O terceiro ndash conduzir por ordem os meus pensamento comeccedilando pelos objetos mais simples e faacuteceis de serem conhecidos para subir pouco a pouco como por degraus ateacute o conhecimento dos mais compostos e supondo mesmo

certa ordem entre os que natildeo se precedem naturalmente uns aos outros

e o uacuteltimo ndash fazer sempre enumeraccedilotildees tatildeo completas e revisotildees tatildeo gerais que ficasse certo de nada

omitir Correntemente estas regras satildeo 1 ndash da evidecircncia 2 ndash da

divisatildeo ou anaacutelise 3 ndash da ordem ou deduccedilatildeo 3 da enumeraccedilatildeo (contar especificar) classificaccedilatildeo

O acidente (serendipity

Eacute comum considerar alguns dos mais importantes avanccedilos na ciecircncia tais como as

)

descobertas da radioatividade por Henri Becquerel ou da penicilina por Alexander Fleming como tendo ocorrido por acidente no entanto o que eacute possiacutevel afirmar agrave luz da observaccedilatildeo cientiacutefica eacute que

teratildeo sido parcialmente acidentais uma vez que as pessoas envolvidas haviam aprendido a pensar cientificamente

estando portanto conscientes de que observaram algo novo e interessante

Os progressos da ciecircncia satildeo acompanhados de muitas horas de trabalho cuidadoso que segue um caminho mais ou menos sistemaacutetico na busca de respostas a questotildees cientiacuteficas

Eacute este o caminho denominado de meacutetodo cientiacutefico

A A hipoacutetese

Hipoacutetese (do gr Hypoacutethesis) eacute uma proposiccedilatildeo que se admite de modo provisoacuterio como princiacutepio do qual se pode

deduzir pelas regras da loacutegica um conjunto dado de proposiccedilotildees ou um mecanismo da experiecircncia a explicar

36

Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 36: cara metade

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Literalmente pode ser compreendida como uma suposiccedilatildeo ou pergunta conjetura que orienta uma investigaccedilatildeo por

antecipar caracteriacutesticas provaacuteveis do objeto investigado e que vale quer pela confirmaccedilatildeo atraveacutes de deduccedilotildees loacutegicas dessas caracteriacutesticas quer pelo encontro de novos caminhos de investigaccedilatildeo (novas hipoacuteteses e novos

experimentos) No meacutetodo cientiacutefico a hipoacutetese eacute o caminho que deve levar agrave formulaccedilatildeo de uma teoria O cientista na sua hipoacutetese tem dois objetivos explicar um fato e prever

outros acontecimentos dele decorrentes (deduzir as consequencias) A hipoacutetese deveraacute ser testada em

experiecircncias laboratoriais controladasSe apoacutes muitas dessas experiecircncias os resultados obtidos pelos

pesquisadores natildeo contrariarem a hipoacutetese entatildeo ela seraacute aceita como uma lei e integrada agrave uma teoria eou sistema

teacuteoacuterico

Referecircncias 1 uarr [PDF] Estudos do meacutetodo cientiacutefico

Ver tambeacutem bull Verdade

bull Falseabilidade bull Karl Popper

bull Filosofia da ciecircncia bull Histoacuteria da ciecircncia

bull Epistemologia bull Loacutegica

bull Aristoacuteteles bull Georg Wilhelm Friedrich Hegel

bull Complexidade bull Reducionismo

bull Navalha de Occam bull Ciecircncia

bull Pseudociecircncia bull Paradigma

bull Paul Feyerabend bull Thomas Kuhn

bull Gaston Bachelard bull Teoria

bull Lei (ciecircncias) bull Hipoacutetese

bull Tese bull Dissertaccedilatildeo

Bibliografia

Becker Howard S Meacutetodos de pesquisa em ciecircncias sociais SP Hucitec 1999

Chizzotti Antonio Pesquisa em ciecircncia humanas e sociais SP Cortez 2006

Comte August Discurso preliminar sobre o espiacuterito positivo

Descartes Reneacute Discurso do meacutetodo (traduccedilatildeo prefaacutecio e notas de Joatildeo Cruz Costa SP Ed de Ouro 1970 disponiacutevel

para download em domiacutenio puacuteblico httpwwwdominiopublico e eBooket

httpwwweBooketnet IntraText Reneacute Descartes - e-books

37

Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

38

Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 37: cara metade

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Haddad Nagib Metodologia de estudos em ciecircncias da sauacutede como planejar analisar e apresentar um trabalho

cientiacutefico SP Roca 2004 Minayo Maria C de Souza (org) Deslandes (Suely F

Gomes Romeu Pesquisa social teoria meacutetodo e criatividade Petroacutepolis RJ Vozes 2007

Lakatos Eva Maria Marconi Marina de A Meacutetodologia cientiacutefica SP Atlas 2007

Selye Hans Stress a tensatildeo da vida SP IBRASA 1965

Ligaccedilotildees externas bull Explicando o Meacutetodo Cientiacutefico

bull Prova Cientiacutefica bull Diretrizes para elaboraccedilatildeo de dissertaccedilotildees e teses -

USP bull Centro Cochrane do Brasil

bull Metodologiaorg bull Evidecircnciascom

bull Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiacutefico e Tecnoloacutegico (CNPq)

bull Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciecircncia bull Lista de Perioacutedicos cientificos brasileiros por

assunto bull SciELO - Scientific Electronic Library Online

bull Perioacutedicos UNESCO bull Ciecircncia Hoje

bull Scientific American - Brasil bull Scientific American

COLCHA DE RETALHOS CIENTIacuteFICA (a realidade natildeo eacute Frankenstein ela eacute uacutenica e funcional)

A realidade segundo a Ciecircncia geral

A senhora Ciecircncia trabalhando com

seus remendos

Drordf Ciecircncia e seu filho

Mary Shelley viu o futuro

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
    • Origem Wikipeacutedia a enciclopeacutedia livre
    • O acidente (serendipity)
    • Somos Monstros
Page 38: cara metade

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Somos Monstros 6 05 2008

Tudo comeccedilou com um desafio feito a Mary Shelley (1797-1851) entatildeo uma jovem de 21 anos por Lord Byron Na eacutepoca 1918 Byron propocircs a Mary e seu marido que

escrevessem um conto de terror uma maneira de passar o tempo jaacute que suas feacuterias estavam sendo consumidas

intediantemente pelo mau tempo Mary foi a uacuteltima a dar iniacutecio ao seu conto que acabou baseado em um pesadelo que

teve numa daquelas noites de chuva E dentre todos o conto de Shelley foi o que mais surpreendeu e arrepiou Insentivada a continuar Mary Shelley desenvolveu ainda

mais sua histoacuteria e transformou-a em um dos mais conhecidos e celebrados livros da Histoacuteria Frankenstein

Victor Frankenstein era um jovem curioso com sede de conhecimento apaixonado pela ciecircncia intrigado com os segredos da vida e louco para deixar sua marca no mundo Havia aprendido sozinho em casa sobre as fantasias da Alquimia no entanto apenas na universidade ele foi descobrir que toda sua bagagem de conhecimento estava ultrapassada haacute muito Acabou se tornando um aluno

exemplar dedicado agrave quiacutemica e agrave biologia Foi assim que sozinho em seu laboratoacuterio em Ingolstadt Victor deu iniacutecio agrave sua criaccedilatildeo misturando seus conhecimentos

teoacutericos de fisiologia e filosofia natural com princiacutepios de mecacircnica decido a descobrir se o princiacutepio que

mantinha animado o corpo poderia pernecer mesmo apoacutes a morte Como Victor fez isso todos jaacute sabemos deu vida a uma criatura formada por partes de cadaacuteveres de tamanho

descomunal (cerca de 25m de altura) e aparecircncia horripilante E eacute aqui que daacute-se iniacutecio ao grande trunfo

da histoacuteria Ao despertar da Criatura Frankenstein acaba por cair na realidade vendo como era realmente feia sua criaccedilatildeo com

seus membros desproporcionais seu olhos aquosos e amarelos incompleta a ponto de seus tecidos nem sequer

cobrirem todo o corpo deixando agrave mostra muacutesculos e ossos Desesperado e com medo arrependido de sua audaacutecia Victor

abandona sua Criatura decaindo num suacutebito acesso de naacuteusea e lucidez

Pobre Criatura um ser vazio de conhecimentos ignorante em relaccedilatildeo ao conviacutevio social solto num mundo de pessoas

39

preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

  • II2 Caracteriacutesticas do meacutetodo cientiacutefico
  • Meacutetodo cientiacutefico
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preconceituosas e indiferentes A personificaccedilatildeo perfeita da famosa teoria de Rousseau a do ldquobom selvagemrdquo que diz

que todo o homem nasce ldquopurordquo e eacute corrompido pela sociedade violenta viciosa e materialista Quem lecirc a

histoacuteria de Frankenstein espera encontrar terror suspense e aventura onde um monstro estaria a solta para destruir e matar No entanto descobre um mundo onde noacutes humanos somos totalmente repugnantes e no qual o uacutenico ser que

realmente tem algum valor eacute o monstro excluiacutedo por todos Poucos livros retratam tatildeo bem a indiferenccedila humana e a nossa mania de dar mais valor agraves aparecircncias do que aos

sentimentos carater e virtudes Mary Shelley escreveu uma autecircntica obra-prima da

literatura universal um romance capaz de despertar no leitor a pena e a compaixatildeo por um monstro e a repugnacircncia

de nossa proacutepria raccedila Uma liccedilatildeo que ainda natildeo foi aprendida mesmo depois de quase 200 anos

Ficha Teacutecnica Tiacutetulo Frankestein (Frankenstein or the Modern

Prometheus) Autor Mary Shalley Paiacutes Inglaterra

Publicaccedilatildeo Original 1818 Publicaccedilatildeo Lida Martin Claret Editora 2001

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