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    LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE LETRAS DE HOJE

    Cartas e bilhetes de Otto Maria Carpeaux aManoelito de Ornellas: flamentos de uma rede de

    relaes intelectuaisLetters and notes from Otto Maria Carpeaux to Manoelito de Ornellas:

    laments in a web of intellectual relations

    Pedro TheobaldPontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul Porto Alegre Rio Grande do Sul Brasil

    Resumo: Este artigo apresenta trechos comentados das cartas que Otto Maria Carpeauxescreveu a Manoelito de Ornellas entre maio de 1949 e abril de 1953. O objetivo avaliar estapequena parte da correspondncia passiva do Acervo Literrio Manoelito de Ornellas quantos caractersticas da relao de sociabilidade intelectual que se estabeleceu entre esses doisimportantes escritores: por um lado o ensasta de formao europeia premido pelas necessidadesdo exlio e, por outro, o escritor local cuja vasta rede de relaes lhe permite estender a mo aum confrade necessitado.Palavras-chave: Carpeaux; Ornellas; Correspondncia; Relaes literrias

    Abstract: This paper presents commented excerpts of the letters that Otto Maria Carpeauxaddressed to Manoelito de Ornellas between May 1949 and April 1953. Its aim is to evaluatethis small part of the passive correspondence contained in Manoelito de Ornellas LiteraryCollection as to the characteristics of the intellectual sociability developed between thosetwo important writers: on the one hand the European essayist suffering the necessities of hisBrazilian exile and on the other the local writer whose extended web of relations enabled himto provide a living for a co-writer in need.Keywords: Carpeaux; Ornellas; Correspondence; Literary relations

    Em 1939 aportou no Brasil um exilado europeu cujaimportncia era desconhecida s pessoas que o receberam.Vindo da Blgica, Otto Maria Carpeaux, nascido emViena em 1900, era um dos principais intelectuais daoposio poltica alem do Terceiro Reich. Aps umano fora de seu pas, o incio da Segunda Guerra Mundialforou-o a deixar tambm seu continente e procurar asilo

    na Amrica. O crtico e pensador Alceu Amoroso Limadirecionou-o a Curitiba, cidade que Otto Maria Carpeauxlogo trocou por So Paulo. Sem conhecer a lngua do pase sem emprego, vendeu obras raras que havia trazido daEuropa a m de sobreviver. Uma carta a lvaro Lins,o mais importante crtico literrio da poca, abriu-lheas portas dos jornais do Rio de Janeiro, onde passou apublicar. Nos primeiros dois anos, escrevia artigos emfrancs, publicados, depois de traduzidos e revisadospor, entre outros, Aurlio Buarque de Hollanda Ferreira.Ao longo da dcada de 1940, publicou vrias coletneasdesses artigos e tambm umaPequena bibliograa crtica

    da literatura brasileira. Tambm escreveu a Histriada literatura ocidental, que revisaria mais tarde e cujaprimeira edio s sairia no nal da dcada de 1950. Osempregos pblicos que exerceu em sua primeira dcadano Brasil, como bibliotecrio da Faculdade Nacionalde Filosoa e da Fundao Getlio Vargas, certamentelhe foram teis nas pesquisas empreendidas para as

    prprias obras, porm no se constituram em trabalhosduradouros.1

    Assim, o convite de Manoelito de Ornellas parapublicar artigos no Correio do Povo deve ter constitudonotcia bem-vinda em um momento em que Otto MariaCarpeaux vivia apenas de sua atividade jornalstica. Os

    1 Os dados biobibliogrcos de Otto Maria Carpeaux, bem como umaapreciao de sua atuao no Brasil, podem ser conferidos em Carvalho(1999, p. 15-73). Muitas dessas informaes so corroboradas porFernandes (2011). Filho de pai judeu e me catlica, Carpeaux convertera-se ao catolicismo em 1932, dois anos depois de casar-se. Veio para oBrasil com um passaporte emitido pelo Vaticano e uma recomendaodo papa Pio XII a Alceu Amoroso Lima (Tristo de Athayde).

    Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 49, n. 2, p. 138-144, abr.-jun. 2014

    A matria publicada neste peridico licenciada sob forma de uma

    Licena Creative Commons - Atribuio 4.0 Internacional.

    http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

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    dois escritores no se conheciam pessoalmente. Amboscolaboravam para uma prestigiosa revista gacha dapoca,Provncia de So Pedro (1945-1957). Manoelito deOrnellas, nascido em 1903 em Itaqui, no Rio Grande do Sul,j publicara ento livros de poemas, bem como ensaios detemtica sul-rio-grandense, alm de vrios outros postos,ocupara um que devia coloc-lo em evidncia junto aos

    intelectuais: de 1943 a 1945, fora diretor do DepartamentoEstadual de Imprensa e Propaganda do governo de GetlioVargas. Tal departamento, DEIP, era o brao local dacensura, exercida em nvel federal pelo DIP. Que apesarde haver exercido essa funo malvista pelos democratasno tenha criado inimigos e que, pelo contrrio, tenha atmesmo estendido a sua j vasta rede de relaes deve-se certamente a sua personalidade envolvente2 e a suacapacidade de prestar servios na conteno de umacensura que poderia asxiar a liberdade do pensamentoimpresso (ORNELLAS, 1976, p. XIV). Um estudo

    sobre os intelectuais gachos e o Estado Novo apontaa inteno de liberalizao no trabalho de Manoelitode Ornellas frente ao DEIP (GERTZ, 1912, p. 22). Nosanos seguintes, Gachos e bedunos (ORNELLAS, 1948)e outras obras consagrariam Manoelito de Ornellas nasletras rio-grandenses e nacionais.3

    A obra de Manoelito de Ornellas e a de seus confradesrio-grandenses so frequentemente mencionadas porOtto Maria Carpeaux nas 17 cartas e bilhetes queaqui se comentam. Servem elas como um elo entredois prossionais: ambos escrevem e tm, portanto,algo importante em comum. No entanto, por serem

    essencialmente ensastas e escreverem para a imprensado dia, que tem como uma de suas caractersticaspredominantes a pressa na elaborao, tais cartas noconstituem documentos genticos, em que autores seconsultam e aconselham a respeito da criao e redaode seus textos. As perspectivas de explorao, aqui,apontam, em nosso entender, para a compreenso do perlpsicolgico do missivista e para os bastidores da cenaliterria (alis, Carpeaux no fazia distino entre ensaioe literatura), jogando luz sobre relaes entre escritores,sobre temas abordados e, portanto, sobre aspectos da his-

    tria da literatura brasileira (cf. MORAES, 2006, p. 65).A correspondncia entre Otto Maria Carpeaux eManoelito de Ornellas estendeu-se de uma data incertaem maio de 1949 at 6 de abril de 1953, dia em que OttoMaria Carpeaux anuncia sua prxima viagem Europa, aprimeira depois de 14 anos no Brasil. Possumos apenasas cartas enviadas por Carpeaux. O catlogo existenteno ALMAN (Acervo Literrio Manoelito de Ornellas)no consigna nenhuma carta que tenha Carpeaux comodestinatrio e, no estado atual do arquivo, que se encontraem processo de recatalogao, torna-se difcil vericar sealgum dos rascunhos de cartas deixados por Manoelito de

    Ornellas4se destinava a esse seu confrade e amigo do Riode Janeiro. Por outro lado, no tivemos, para a presenteinvestigao, acesso aos arquivos de Otto Maria Carpeauxdepositados na Fundao Casa de Rui Barbosa. Dessaforma, pesquisas bibliogrcas e conjeturas devero,aqui, suprir o que no nos pode ser revelado por eventuaiscartas ainda existentes.234

    As cartas e bilhetes de Otto Maria Carpeauxencontram-se praticamente todas em bom estado deconservao. Com raras excees, so escritas em papel-carta para via area, tamanho A4, geralmente partido aomeio. Somente uma carta est datilografada, sendo asdemais escritas com caneta-tinteiro e tinta azul. Pequenasrasuras so freqentes, porm a letra de Carpeaux regular e legvel. Manchas amareladas, provavelmentede nicotina,5no impedem a legibilidade. Os envelopesforam, presumivelmente, descartados.

    Transcrevem-se, a seguir, trechos julgados signi-

    cativos para a compreenso das cartas. Informaesacrescentadas e trechos suprimidos so indicados porcolchetes. Nos comentrios, os nomes do remetente e dodestinatrio so abreviados para OMC e MO. A ortograadas cartas no foi atualizada, tendo sido mantidas tambmtodas as outras particularidades e convenes da poca.

    [Data ilegvel devido perda de um fragmento dopapel]: Rua Repblica do Peru 101 Rio de Janeiro.

    [...] Incluo nesta carta um artigo meu, publicado no dia15 e talvez ainda desconhecido em Porto Alegre. [...]No futuro, pretendo [...] remeter os artigos quinzenaiscom a devida antecedncia, de modo que possam

    sair no mesmo dia (ou ainda, em Porto Alegre, na5. Feira antesdo domingo), de modo que se trata decolaborao especial e rigorosamente indita para oCorreio do Povo. O prximo artigo ser remetido aocorreio no dia 30 de maio.

    NB. Peo-lhe o favor de indicar gerncia doCorreio do Povo meu nome civil Otto Maria Karpfen[sobrenome duplamente sublinhado a mo]. Pois,Carpeaux pseudnimo que, legalmente, no existe.6

    2 Veja-se a descrio que dele nos oferece rico Verssimo no prefcio queescreveu para a 3 edio de Gachos e bedunos (1976). Manoelito deOrnellas era, sicamente, e talvez at mesmo por temperamento, o opostodo que mostram retratos e testemunhos de pessoas que conheceram OttoMaria Carpeaux.

    3 Os dados biobibliogrcos de Manoelito de Ornellas podem ser conferidosno site do DELFOS da PUCRS (http://www.pucrs.br/delfos/?p=ornellas),na nota da editora e no prefcio a Gachos e bedunos(ORNELLAS, 1976),bem como em Brasil, Moreira e Zilberman (Orgs., 1999, p. 123-124).

    4 O ALMAN, cuja organizao se iniciou com o prprio autor, constitudo de mais de 8.000 itens. Na catalogao trabalhou inicialmentea Profa. Alice Campos Moreira, seguida de outros docentes e alunospesquisadores do DELFOS.

    5 Segundo Ivan Junqueira, Carpeaux fumava quatro maos de cigarro emum dia de trabalho na redao (cf. CARPEAUX, 2005).

    6 Fonte de consulta para esta, bem como para todas as demais cartascitadas: Biblioteca Central Irmo Jos Oto, PUCRS DELFOS,Espao de Documentao e Memria Cultural. As cartas, em processode recatalogao, so identicadas por data de redao.

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    Texto datilografado. Levando-se em conta as datasmencionadas no corpo da carta, bem como nas cartassubsequentes, a data provvel desta ca em torno do dia20 de maio de 1949. O endereo, ao alto, logo abaixo dadata que se perdeu devido ao esgaramento do papel, foiacrescentado mo na caligraa de OMC.

    A carta se inicia com um agradecimento pela

    possibilidade de estreitar os laos de amizade com osleitores rio-grandenses. Da, pode o amigo avaliar minhaalegria e gratido. A gratido manifestada na aberturada carta deve-se, provavelmente, oferta de tornar-searticulista do Correio do Povo. No entanto, a afetuosidadeda saudao e da despedida revela no se tratar do primeirocontato entre os dois escritores. A iniciativa ter sidotomada por MO. O post scriptum conrma a ideia deque se trata da primeira contribuio de OMC ao Correiodo Povo,cuja administrao, ocialmente, no o conheciaat ento. OMC mudara o nome pela primeira vez em

    1932, por ocasio de sua converso ao catolicismo: deOtto Karpfen, passou a assinar Otto Maria Fidelis. Em1941, comeou a assinar seus artigos no Brasil com opseudnimo Otto Maria Carpeaux. Sua naturalizaoocorreu em 1944 (cf. CRONOLOGIA, p. 75).

    As caractersticas do contedo, o fato de ser esta anica carta datilografada dentre as 17 cartas e bilhetes deOMC contidos no ALMAN denunciando a provvelinteno de expressar-se com clareza e sem equvocosa respeito de um assunto formal , levam-nos a coloc-la em primeiro lugar na srie. A rua onde OMC moravacomea na Av. Atlntica e estende-se at o p do Morro de

    So Joo, sendo quase exclusivamente residencial.

    [29/05/1949] Meu caro e admirado amigo Manoelitode Ornellas:

    Ontem chegou sua carta, bem uma das mais belasque recebi na minha vida, revelando em cada linhasua grande personalidade de escritor e homem. Nome quero porem referir aos termos elogiosos da suacarta porque no os mereo de maneira nenhuma.Tanto mais me alegra a perspectiva das nossas relaespermanentes. E no vou perder ocasio nenhuma paradizer de voz alta quem o escritor e homem Manoelito

    de Ornellas amizade de que me ufano.Um grande abrao de profunda gratido do seu velhoOtto Maria Carpeaux

    NB. Naturalmente esquec um assunto: sinto o horrorde falar em dinheiro. Peo-lhe regularizar o assuntoassim como entende bem. O Jos Olympio tambm grande amigo meu.

    A saudao (caro e admirado amigo) e a despedida(do seu velho) corroboram a convico de que esta no a primeira carta de OMC a MO, ou pelo menos norepresenta o primeiro contato. O que MO havia produzido

    at ento, como escritor, para ser elogiado por OMC? Osensaios reunidos em vrios livros e o importante Gachose bedunos. O assunto dinheiro refere-se ao pagamentopelos artigos que OMC passar a remeter ao Correio doPovo.

    [07/06/1949] Ilustre amigo Manoelito de Ornellas.

    Agradeo muito sua carta area contendo o honorriopelo meu primeiro artigo no Correio do Povo. Fiqueiporem aito ao saber que meus assuntos lhe causamtrabalho. [...] Em todo caso, no preciso remeteras importncias, artigo por artigo: basta, no m doms. [...]

    Tambm um bilhete, ainda mais breve que o anterior,esclarece a questo do dinheiro mencionada no postscriptum de 29/05/1949. Repete-se a cautela em relaoao dinheiro e a preocupao de no causar trabalho.

    [18/07/1949] Meu caro e muito prezado Manoelito deOrnellas,

    [...] Senti dolorosamente suas notcias quanto ao estadode sade de sua senhora e seus prprios sofrimentos,lamentando tanto mais qualquer trabalho que eu possacausar. Realmente no era necessrio mandar-me comtanta pressa aquele primeiro honorrio; e da em diantepeo V. lembrar-se de mim apenas de dois em doismeses, o que basta perfeitamente.

    [...] peo continuar a manter-me ao par da situaoliterria no Rio Grande [...]. Agora mesmo, trabalhandonum seco mas talvez til registro bibliogrco,lembrei-me muito dos escritores gachos do passado

    e do presente Alcides Maya, Simes Lopes Neto,Erico Verissimo, Dionelio Machado, Moyss Vellinho,Felipe de Oliveira, Augusto Meyer, Raul Bopp, VianaMoog e (last but not least) do amigo ao qual dirijoesta carta (e h mais Eduardo Guimaraens e Alcides[sic] Wamosy e, antes, a gerao do ParthenonLiterrio e tantos outros), de modo que eu tambmno compreend absolutamente a falta de todos essesnomes na lista organizada por Alvaro Lins. Tive comele duas conversas srias sobre o assunto. [...]

    Nessa ordem de idias tambm s lhe posso agradecerpela continuao dos seus valiosssimos estudossobre a inuncia islmica na formao do tiporiograndense. Esses estudos so particularmenteimportantes quanto brasilidade desse tipo, sendo queinuncia semelhante tambm se observa em Minase no Nordeste, sendo porem sensivelmente menornos pases hispano-americanos. Viajando diariamentepara a cidade e passando pelo chamado PavilhoMourisco, sempre me lembro ento curiosamente dosseus trabalhos [...].

    Carta de pgina inteira. Pela primeira vez OMC seestende e torna-se mais pessoal. Curioso que o pedido deremessa de dinheiro dilata o prazo para uma periodicidade

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    de dois meses. Nota-se seu nvel de informao a respeitodos autores gachos e a preocupao de no mago-loscom a no incluso de alguns nomes, possivelmente naPequena bibliograa crtica da literatura brasileira

    (CARPEAUX, 1949). lvaro Lins possivelmente oinuenciou na indicao de nomes para essa obra at hojeimportante. O Pavilho Mourisco, um prdio erguido

    na administrao Pereira Passos, havia sido restaurantee depois biblioteca infantil, estando provavelmenteabandonado poca da carta. Ficava em Botafogo bairrode passagem para OMC, que morava em Copacabana e foi demolido em 1952. Por outro lado, conhecidopela mesma alcunha era e tambm o prdio central daFundao Oswaldo Cruz, na zona norte da cidade.

    [07/08/1949] [...] no vou car to prolixo como daltima vez. Estou porem reclamando sua respostaquela minha ltima carta, tanto sobre o caso doAlvaro Lins como sobre o assunto muito mais

    interessante dos bedunos no Rio Grande e dasinuncias muulmanas em Minas. Se voc ainda nome respondeu, porventura, porque est novamenteenfermo, tambm tenho o direito de reclamar notcias.Ainda no perdi toda esperana de fazer, um dia,uma visita em Porto Alegre; e estou simplesmenteantecipando o estreitamento das relaes pessoais.

    [...] Mandei com certa antecedncia o artigo sobreJean Barois. [...] O prximo artigo no vou poremremeter para o dia 21 e sim para o dia 28. A modicaojustica-se pela coincidncia do bi-centenrio deGoethe com o dia 28; estou de qualquer maneira comcerta obrigao para escrever sobre o assunto, por maisbatido que seja. Mas no vou repetir o que j foi ditomil vezes nem aventurar novas teorias e sim escreverum artigo informativo. Variatio delectat.

    Enm [...] agradeo a carta com Crs.$ 400,00que me chegou ontem. [...] preciso abordar outroassunto, embora com grande timidez e com aqueleaborrecimento ntimo que inspiram todos os negciosde dinheiro. Recebi, at agora, pelo primeiro artigopublicado em maio pelo Correio, e agora por maisdois, no sabendo se esse pagamento se refere aosartigos dos dias 5 e 19 de Junho ou ento aos artigosdos dias 10 e 24 de Julho. Nem perguntaria, se no

    fosse a situao que conhece: vivo sem emprego, sdo trabalho literrio e jornalstico, o que herosmoinvoluntrio, alis.

    Todo o cuidado de OMC para no melindrar o amigocom o assunto da bibliograa o deixa ansioso por umaresposta. Se realmente chegou a visitar o Rio Grande doSul no podemos depreender das cartas subseqentes,nem de outras informaes biogrcas.

    Jean Barois o terceiro romance publicado porRoger Martin du Gard e seu tema a perda da f nomundo moderno. Sentir-se na obrigao de escrever sobre

    Goethe mostra talvez a hesitao de OMC em relao aostemas alemes depois de seu exlio e da guerra.

    A questo da remunerao para o homem sememprego soa tanto mais pungente se considerarmosque OMC se encontra nesse momento h dez anos noBrasil.

    [20/08/1949] [...] mando hoje, excepcionalmente,o artigo para sua residncia particular, para faz-loacompanhar deste bilhete. Peo mil desculpas a voc,no em meu nome, propriamente, mas em nome doCruzeiro, Servios Areos. Tinham eles recebido odinheiro, h um ms, mas no me avisaram de maneiraalguma. E quando fui l, ainda eram grosseiros. Quebela companhia! Mas sou mais uma vez, pelo menosindiretamente, causa de amolao para voc.

    Espero receber em breve a anunciada carta longa, [...].

    Bilhete de 15 linhas, enviado ao endereo particular

    de MO junto com artigo. Novamente, a preocupaocom os transtornos causados por questes de dinheiro.Manoelito, portanto, tambm escrevia cartas mais longasa OMC, ou pelo menos as prometia...

    [04/10/1949] [...] nesta hora [...], possvel j mandastepelo Correio os 400 cruzeiros correspondentes aosartigos dos dias 4 e 18 de Setembro. Peo, outra vez,mil desculpas pela amolao, mas minha situao to premente que no me ca outra sada: precisolembrar-te que no recebi os outros 400, relativos aosartigos dos dias 7 e 28 de Agosto! Como sabes, estoudesempregado, chmeur, e o trabalho jornalstico

    constitui minha nica fonte de rendas. Podes calcularas diculdades por que estou passando. [...] Desculpa agrande pressa e o tom direto desta carta. [...] Se podeprovidenciar a remessa dos 400 de Agosto ou dos 800em uma vez, eu seria imensamente grato. O melhorcaminho ainda pelo correio, em carta transparente.Recebi seu recorte: senti-me muito honrado pela idiade transcrever meu telegrama.

    P.S. Desculpe a letra miservel; escrevo sempre e tudo mo, e meus dedos esto inchados! [no cabealho dacarta, esquerda da data]

    Amolao j se tornou um dos termos maisfrequentes destes bilhetes e cartas. O termo chmeur,signica desempregado, sem trabalho, em francs, e aqui uma tautologia. Singular o costume da remessa postalem envelope transparente! O telegrama mencionado podeser o que consta do catlogo do DELFOS, porm o textono foi localizado para o presente artigo.

    Escrevo sempre e tudo mo deve ser tomadorelativamente, pois h indicaes de que OMC tambmescrevia mquina, quando se tratava de artigos ou textosmais longos. Por outro lado, sabido que a esposa deOMC, Helena, que abandonara uma carreira de cantora

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    lrica na Europa para segui-lo, era quem datilografava osmanuscritos de seus livros.

    [06/10/1949] [...] ao receber sua boa carta do 4/10quei muito envergonhado por lhe ter escrito. Perdoe-me meu temperamento, que mais tropical do que odos brasileiros mais brasileirssimos. Gracias por tudo!

    Seu programa de viagens encheu-me de enormesatisfao, primeiro porque vejo que seu trabalhointelectual devidamente apreciado no estrangeiro(o que s pouqussimos brasileiros conseguiram nopassado), e depois porque Voc tambm ir Europa;sei o que de insubstituvel encerra essa experincia,principalmente a Espanha. Quanto ao meu cheirocom respeito a perigos de guerra, Voc talvez tenharazo: em julho de 1919 insist, contra o conselho detodos, em abandonar minha boa posio na Blgicapara ir Amrica; a guerra rebentou quando viajava,em agosto. Desta vez, a descoberta da bomba pelosrussos me parece uma garantia de paz [...]. No entanto,seus projetos de viagem... tambm signicam quevou perder, temporariamente, meu grande protetore amigo no Correio do Povo. Nesta qualidadecomo na de orientador literrio Voc propriamenteinsubstituvel... Espero com muita impacincia (jcomea novamente o temperamento!!) suas notciasa respeito [do substituto] e [...] sua gratssima visitaaqui no Rio.

    A manifestao inicial de gratido indica que oproblema mencionado no bilhete anterior fora resolvido.MO viajava a convite do governo da Espanha e seu roteiroinclua Portugal.

    A expresso em julho de 1919 parece conter erro dedata, pois no consta que OMC vivesse na Blgica nessapoca. Ainda assim, consideremos que nesse ano houveuma guerra entre a Hungria e a Romnia, consequnciada Primeira Guerra Mundial, encerrada no ano anterior.Ambos os pases reivindicavam regies habitadas porseus grupos tnicos em territrios perdidos do ImprioAustro-Hngaro. A guerra envolvia a Unio Sovitica e aantiga Tchecoslovquia e terminou ainda no mesmo ano.

    A probabilidade de que OMC quisesse referir-se a1939. Neste ltimo ano, em agosto (dia 24), foi assinado

    o tratado de no agresso entre a Alemanha e a UnioSovitica. O tratado implicava a diviso da Polnia,que foi invadida por Hitler no ms seguinte, fato quesignicou o incio da Segunda Guerra Mundial. OMCfugira para a Blgica poucos dias depois da anexaoda ustria, em maro de 1938. Em 1939 emigrou para oBrasil (cf. CRONOLOGIA, p. 74-75).

    Infelizmente no temos como vericar as qualidadesde orientador literrio que MO desempenhou junto aOMC. Podemos supor que lhe sugeria assuntos, mas nosabemos se tais sugestes incluam modos de abordageme redao.

    [12/11/1949] [...] pelo mesmo correio mandei ao dr.Breno Caldas mais um artigo, destinado para o dia20/11/49. Tomei a liberdade de incluir algumas linhaspara ele mesmo, porque no quero mesmo que Vocse preocupe com esse negcio danado de mandardinheiro, etc.[...]

    [21/11/1949] [...] receb juntamente com sua ltima

    carta o aviso da remessa area [...]. Quero, porem, dizerque no escrevi por constrangimento: sinceramente,no quero que V. se desse trabalho comigo. Emconsiderao disso, e tambm das suas projetadasviagens, escrevi (como V. j sabe) ao dr. Breno Caldas,pedindo que a administrao do Correio do Povo faano futuro as remessas. Agora, peo Voc conrmar l,no jornal, [...].

    A projetada viagem de MO evidentemente aindano se realizou. Ao escrever diretamente ao Dr. BrenoCaldas, proprietrio e presidente do Correio do Povo, e ao

    solicitar que MO conrme seu pedido de remessa diretados futuros pagamentos, OMC est tomando providnciaspara no ser esquecido durante a ausncia de MO.

    [27/11/1949] [...] recebi hoje sua carta (junto com outra,satisfatria, da gerncia do Correio do Povo) e queimuito triste pela sua suspeita de que o novo modo depagamento pudesse afrouxar os laos de amizade entrens [...]. S posso dizer que me ligam sua pessoa ossentimentos de uma grande admirao intelectual e deprofunda simpatia humana, [...]. No sou, porm, onico aqui no Rio que pensa e sente assim. [...] seunome est divulgadssimo. [...] Acho que sua carreira

    literria lhe deve dar muita satisfao, acrescentando-se os convites honrosssimos e as viagens [...].

    [24/03/1950] [...] recebi com imensa satisfao suacarta, por saber que no fui inteiramente esquecido.Respondo, porm, com atraso porque me jogou nacama por uns 8 dias uma daquelas gripes aniquilantesque s o brbaro vero carioca capaz de inigir.Quanto ao Correio do Povo, est tudo em ordem.Leio alis diariamente, na redao do Correio daManh em que estou agora servindo como redatorpoltico, aquele excelente jornal gacho. Ainda mecabe exprimir minha grande satisfao quanto s

    notcias que me deu do seu livro; que j ocupa lugarto destacado na sociologia histrica brasileira.

    Falei com os Conds, que leram com efeito o artigoda Raquel. Vo mandar-lhe o Jornal de Letras [...].

    Aparentemente, MO encontra-se agora na Europa.Raquel deve ser Raquel de Queirs. Supe-se que tenhaescrito algo sobre Gachos e bedunos, poca o livromais em evidncia de MO. Jos Ferreira Cond (Caruaru,1917 Rio de Janeiro, 1971) foi um jornalista e escritorliterrio brasileiro. Dirigiu os jornais Pra Voc e OJa.Trabalhou no Correio da Manh,na Editora Jos

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    Olympio e na Agncia Nacional. Fundou com os irmosElysio e Joo Cond oJornal de Letras, que serviu de ba-se para grandes escritores da literatura brasileira, comoCarlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Raquelde Queirs e vrios outros. OJornal de Letras,que interes-saria consultar a respeito deste ponto, no est digitalizado.

    [13/09/1950] [...] a visita que me fez um amigogacho, trouxe-me a grande alegria de um abrao seu, distncia, mas tambm me lembrou vergonha minha:estou-lhe devendo, h muito, uma carta. Mas minha faltatem motivos srios, que no so pretextos. Apesar demuitos esforos, o problema da minha vida no estresolvido at hoje; com 50 anos de idade, isso constituiexperincia amarga. E nestes ltimos tempos pre-elei-torais o trabalho de redao me absorve todas as noites.

    [...] Seu papel de liderana da inteligncia sulina inconfundvel. Honra-me a amizade de um homemdesses. [...]

    Nota-se o espaamento temporal da correspondncia,por parte de OMC, e a apreenso que o fato lhe causa. Suaspalavras a respeito da prpria instabilidade nanceira soverdadeiramente pungentes e dispensam comentrios.

    [16/12/1950] [...] desta vez mando o artigo a V.pessoalmente, para poder juntar meus agradecimentospela sua grande bondade para comigo durante este anointeiro [...].

    Escrevi nota merecidamente elogiosa sobre a revistaque V. me remeteu. Mas ainda no pude public-la,[...]: o suplemento de O Jornal est, graas faltade papel, reduzido a um mnimo; pelo mesmo motivo,o do Correio da Manh no est saindo h semanas;e de Letras e Artes afastei-me voluntariamente(poltica!!) [...].

    [28/02/1951] [Timbre esquerda] Otto Maria Carpeaux[...] estou muito aito por motivo da minha ausnciaforada, quando Voc me deu a honra de sua visita.Mas veja como minha vida est atrapalhada! Sobretudoessa ltima nomeao, que no pude declinar, pormotivos bvios, mas que me leva diariamente asubrbio longnquo, foi para mim antes uma desgraaque um alvio.

    O envolvimento poltico de OMC iniciou-se naEuropa, e no Brasil foi muitas vezes tachado de esquerdistapor partidos de direita e de conservador por partidos deesquerda. Sua condio de exilado exigia-lhe cautela nosprimeiros anos, porm tornar-se-ia cada vez mais francocom o passar do tempo.

    MO encontra-se de passagem no Rio poca dasegunda carta. Aps um primeiro desencontro, OMCoferece a alternativa do encontro no sbado, ou em seuhorrio de trabalho na redao do Correio da Manh(Av. Gomes Freire, 471, 3 andar).

    [28/03/1951] [...] recebi sua gentilssima carta commuita alegria e com um pouco de aio pois, estourealmente melanclico porque seu tempo no permitiumais outro encontro conosco. O conhecimentopessoal com o amigo trouxe-me uma grande, umaimensa satisfao. Avalio agora muito mais quenunca seu grande valor intelectual, suas qualidadesprofundamente humanas, sua situao insubstituvel

    em nosso panorama literrio. [...] Envio, em folhaseparada, as respostas desejadas por Reets, revistade que gostei, alis, muito. [...] Lembranas da partede minha senhora, cumprimentos sua famlia, [...].

    A reao de OMC ao primeiro encontro pessoal comMO pode ser considerada francamente positiva. Nessesentido, sua impresso no deve ter sido diferente daquelaque tiveram de MO escritores como rico Verssimo (cf.VERSSIMO, 1976). A simpatia pessoal, a boa educaoe a generosidade e inteligncia de MO eram proverbiais eaparentemente jamais deixaram de surtir efeito.

    [06/04/1953] [...] no sei se esta carta chegar emtempo s suas mos, porque estou sem informaesquanto sua volta da Espanha. Contudo, precisoinformar Voc com respeito, agora, minha viagem.Em 18 de abril embarcarei para a Europa, onde medemorarei at ns de setembro. Durante esse tempo,terei pouco tempo para escrever artigos literrios,de modo que haver alguma interrupo na minhacolaborao para o Correio do Povo.

    Esperamos com muita impacincia os resultados, emforma de livro, dos seus estudos. Pois aqui tem muitosleitores e admiradores seus.

    Da Europa, lhe darei notcias. Por hoje, um grandeabrao do velho amigo Carpeaux.

    Dois anos se passaram desde a visita de MO ao Riode Janeiro at esta nova manifestao. Pode-se suporcom certa segurana que algumas cartas escritas nesseintervalo se perderam, uma vez que nada h que revelequalquer desentendimento entre os dois missivistas. Oextravio da correspondncia explicvel pelo fato deMO encontrar-se na Europa por um tempo impreciso noperodo compreendido por essa lacuna epistolar.

    Cumpre notar que este o ltimo bilhete de OMC aMO conservado no ALMAN. A viagem de OMC durou seismeses e incluiu Paris, Viena, Madri, Amsterd e Npoles(cf. CRONOLOGIA, p. 75). Ao que se sabe, retornou semmanifestar o desejo de permanecer na Europa.

    MO, por seu turno, foi demitido da Universidade Fe-deral do Rio Grande do Sul, em cuja Faculdade de Filoso-a ingressara em 1951, lecionando Literatura Latino-Ame-ricana e Cultura Ibrica. Ainda no ano de sua demisso,1954, assumiu a cadeira de Histria da Arte na Faculdadede Filosoa em Florianpolis. Assim, na volta de OMC, suafuno de intermedirio no Correio do Povo se encerra.

  • 7/26/2019 CarPeaux Cart a Sarti Go

    7/7

    144 Theobald, P.

    Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 49, n. 2, p. 138-144, abr.-jun. 2014

    Tambm a colaborao de MO na revistaProvnciade So Pedro ocorreu em um perodo distinto daquela deOMC. O primeiro colaborou de 1945 a 1951 enquanto ascolaboraes do segundo se estenderam de 1946 a dezembrode 1953 (cf. PROVNCIA, s/d), coincidentemente o anoem que se encerra a comunicao com MO.

    Como substituta da fala com o objetivo de uma

    troca dialgica, conforme Nickisch (1991, p. 12), a cartaapresenta uma das caractersticas de todo ato comunicativo:ela informa (objetivamente), apela (orientada para odestinatrio) ou revela (orientada para o remetente).7As cartas de OMC a MO representam uma comunicaoentre dois escritores apartados no espao, que dicilmenteteriam a oportunidade de falar-se de viva voz, levando-seem considerao a distncia e as condies precrias datelefonia poca.789

    Por outro lado, a objetividade das informaes conti-das nas cartas de OMC a MO pode ser vericada quanto a

    muitos de seus aspectos. No entanto, para conrmar todosos fatos pessoais mencionados pelo remetente, necessita-ramos de mais testemunhos. As cartas se conrmam umass outras quanto ao efeito apelativo que tiveram sobre MO,que parece ter atendido elmente a todos os pedidos deOMC e ter acreditado em seu correspondente distante.As cartas tambm revelam, do a conhecer (em alemo,manifestieren) a personalidade e os sentimentos deOMC, alcanando esse efeito tanto por meio das palavras edos assuntos abordados quanto pelas repeties e omisses.Assim, quando a objetividade aparente das cartas e bilhetesdestoa das saudaes e despedidas francamente afetuosas,

    quando preocupaes de que por qualquer motivo possamsurgir mal-entendidos entre os correspondentes, quando afalta de comunicao justicada pelo receio de causar in-cmodos, a personalidade complexa, do homem que viveuma situao precria e sempre provisria, que se manifesta.

    As cartas de OMC tambm fornecem um retrato,embora tnue, de MO. No sabemos at que ponto OMCconhecia o passado poltico de seu correspondente gacho.Sua atitude, no entanto, sempre respeitosa, jamais ex-pressando qualquer indagao a respeito de convicespolticas e religiosas. Assim como no revela as suas,

    OMC tambm no questiona a verdade ntima dos outros,preferindo sempre exaltar as qualidades intelectuais, asrealizaes literrias e a liderana intelectual exercida porMO em seu vasto crculo de relaes literrias.8Pode-sededuzir que as cartas de MO apresentassem teor semelhante,

    7 Citao traduzida pelo autor do presente artigo.8 A existncia de tal crculo fartamente ilustrada pelas numerosas

    cartas, remetidas por dezenas de correspondentes distintos e guardadasno ALMAN. A ttulo de exemplo, citem-se cartas de rico Verssimo,Carlos Drummond de Andrade, Juana de Ibarbourou e numerosos outrosbrasileiros e estrangeiros.

    9 Sobre as atividades e produes de MO, ver . Sobre OMC h uma excelente apreciao em Bosi (2013).

    procurando sempre assegurar o correspondente de suaadmirao e amizade. Se MO funcionou como conselheiroliterrio, como d a entender uma das ltimas cartas deOMC, esta funo foi exercida discretamente, e seusconselhos parecem ter sido aceitos sem objeo.

    Levando-se em considerao todas as caractersticasmencionadas e o fato de que houve pelo menos um encontro

    pessoal entre os dois missivistas, pode-se considerar a cor-respondncia entre OMC e MO o instrumento de uma rela-o bem-sucedida de sociabilidade literria, cujo encerra-mento ainda convm investigar por meio de outras pesqui-sas. Aps a cessao dos contatos documentados, ambos osescritores ainda teriam uma vida produtiva relativamentelonga:9MO faleceu em 1969, aos 66 anos de idade; OMCalcanou a idade de 78 anos, tendo falecido em 1978.

    Referncias

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    DELFOS Espao de Documentao e Memria Cultural.Manoelito de Ornellas. Acessvel em: . Acesso em: 30/10/2013.

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    MORAES, Marcos Antonio de. Mrio de Andrade: Epistolograa eprocessos de criao.Manuscrtica, Vitria, n. 14, p. 65-70, dez. 2006.NICKISCH, Reinhard M. G.Brief. Stuttgart: Metzler, 1991.ORNELLAS, Manoelito de. Gachos e bedunos: a origem tnicae a formao social do Rio Grande do Sul. 3.ed. Prefcio de ricoVerssimo. Rio de Janeiro: Jos Olmpio, 1976.PROVNCIA de So Pedro: 1945-1957. Catlogo e texto. PortoAlegre: PUCRS-CNPq-FAPERGS, s/d. CD-ROM.

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    Recebido: 01 de novembro de 2013Aprovado: 13 de novembro de 2013Contato: [email protected]