Upload
mayara-helena
View
229
Download
0
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Material GEIPÓ ufv organizado para a troca de saberes 2013 sobre povos originários, seus saberes e fazeres no Brasil e na Zona da Mata Mineira em relação a arte, linguagem, costumes, agricultura etc. Confecção:Grupo de Estudos IndígenasOrientação: Willer Barbosa e Dauá PuriReferências: Coletania de artigos elivros do grupo https://www.facebook.com/groups/453489321359810/
Citation preview
Troca de Saberes 2013
Povos Originários “Este é o país que nos foi tomado.
Dizem que o Brasil foi descoberto, o Brasil não foi descoberto não, o Brasil
foi invadido e tomado dos indígenas.” (Marçal Guarani, 1980 – morto
por defender os direitos de uma aldeia
Povos Originários? O termo “índio” foi uma denominação criada pelos europeus por acharem que tinham chegado a Índia. Esse termo trata-‐se também de uma designação genérica, imposta a várias populações muito diferentes entre si. Os próprios indígenas se identificam mais pela suas etnias, sendo que em muitos casos os nomes dessas etnias são diferentes do que são denominados. Por exemplo, Kaiapo assim conhecidos, entre eles se denominam Mebengokré. Assim, temos utilizado o termo “povos originários”.
Para o maior aprendizado sobre as culturas dos povos originários é criado em 2012 o Grupo de Estudos Indígenas da UFV, uma iniciativa de estudantes de diversos
movimentos sociais, professores e interessados no assunto que viram a necessidade de maior debate e estudos aprofundados sobre a questão indígena.
Grupo de Estudos Indígenas
Historiadores afirmam que antes da chegada dos europeus em território brasileiro existiam pelo menos cinco milhões de nativos. Atualmente, de acordo com dados do Censo de 2010 do IBGE, a população indígena ao todo corresponde à 896,9 mil (Sendo que esses números podem ser ainda maiores), 36,2% em área urbana e 63,8% na área rural. A população indígena é formada por aproximadamente 305 etnias.
lorem ipsum dolor issue, date
2
A Zona da Mata mineira e seus primeiros habitantes
1
O atual território de Minas Gerais foi ocupado, por diversos grupos indígenas que se deslocavam pelo espaço em função de suas atividades, como a caça, a pesca e a coleta. Para os limites geográficos do que se conhece hoje por Zona da mata mineira, sobressaem as noticias a respeito dos grupos que se assentavam pelas margens do Rio Pomba, Paraibuna, Muriaé e Xipotó. Os mais citados são, no entanto, os Puri, os Coroados (ou Croato) e os Coropó
2
(Cropó). Estes seriam supostamente, descendentes de grupos Goitacá que migraram do litoral Fluminense, região de Campos e São Fidélis para a Mata Mineira. Tal origem comum foi sugerida pelos cronistas, com base em alguns aspectos semelhantes identificados entre os integrantes dos diferentes assentamentos, coma as características físicas e, principalmente, linguísticas.(Oliveira, A.P) Com a chegada e fixação dos
3
colonizadores ocorreram profundas transformações. A imposição do modo de vida europeu, a expansão agrícola e a introdução de atividades mercantis fizeram com que a população nativa fosse submetida a uma forte dominação, sendo obrigada a se fixar em aldeamentos compulsórios, organizados pelo Governo e por ordens religiosas, com fins de torná-‐los civilizados, aculturados e catequizados, para que servissem como mão de obra. Aqueles que resistissem eram mortos.
Para dormir os Puri cavavam no chão uma espécie de bacia e ali se acomodavam. Suas cabanas são descritas como duas forquilhas fincadas no chão, mal cobertas com folhas de sapé que serviam de cobertura e parede ao mesmo tempo (Ibid. 40). Estas choças eram denominadas “Cuari” na linguagem puri e algumas eram forradas em baixo com folhas de helicônia, ou de patioba e possuíam redes de dormir. Costumavam também utilizar coités ou cuias para armazenar água e alimentos.
Costumes
lorem ipsum dolor issue, date
3
Os tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar os seus velhos arabutan. Uma vez um velho perguntou-‐me: Por que vindes vós outros buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal como o faziam eles com seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? – Sim, respondi-‐lhe, pois no nosso pais existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-‐ brasil com que muitos voltam carregados. – Ah! Retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de quem me falas não morre? – Sim, disse eu, morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-‐me e novo: E quando morrem para quem fica o que deixam? – Para seu filhos quando se os têm, respondi; na falta destes para os irmão ou parentes mais próximos. – Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofres grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-‐los também? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados ( Léry 1960:151-‐61)
Roda de Estória Canto Bôra tou hè Bôra tou hè, ambò marù hè O gavião arrancou da arvore a Madeira Agna ambò tè màrù che O gavião serve da madeira para comer Romanou tou he, romanou alau gue he Arranca as batatas com a madeira Canto registrado em 1824 -‐ Rio Branco. Vocabulário Puri Marcelo lemos Contraste de visões
lorem ipsum dolor issue, date
4
Conversa com árvores
Um dia eu estava pensando, “não sei se vou fazer uma pequena experiência com uma árvore chamada palheira, para ela me explicar para que ela serve”. Até que eu resolvi falar com ela assim: -‐ Palheira, eu quero saber para que você serve? Ela me respondeu: -‐ Assim eu vivo, para dar frutas para os animais e para as pessoas. Essa é a minha ajuda que eu posso dar para vocês. Nós também damos adubo, que é o pau para as pessoas usarem nas plantações. Também ajudamos com as nossas palhas, para vocês cobrirem as suas casas. Nós damos abrigo e alimentos para os homens, para os animais e para terra Agente agroflorestal José Francisco Shane Kaxinawa
Canarêmunde Ourourounà Musica da Serra Ourourounà gâ entô Serra estou indo Ourourounà gâ entô Serra estou indo Ourourounà d’jou miré Serra roubar olhos Ourê gouarâ tongona um largato verde Ourourounà ho miré Serra os olhos Batourà vini d’jora Arara no vento Ourourounà gabloh gabloh Na serra voa , voa Ourourounà gâ entô Serra estou indo Ourourounà gâ entô Serra estou indo Musica trazida pela energia da grande pedra da Boa Vista – RJ Transcrição em Puri de Visconde do Rio Branco – MG
JOMBEY
A muito tempo passado
JOMBEY PUKY TLAMUN, OURAI, COPRANA muito tempo Puri, anda, corre e caça LEKAH OUROUROU, TLAMUN M’NHAMA RORA Mora na montanha anda no rio MASCHÊ ARIKÊ TUTU , NHAMAQUÊ Come carne tatu peixe MITI COEMA TATHEH ARE PO MIRITÉ, SARO EY Hoje homem respira suor de sagui e gambá OERA CHAMBE KOIA, MARU NDL’ONO TENBOM! Amanhã filho falar, gavião cantou de fome!
lorem ipsum dolor issue, date
5
Falando de Agricultura…
Naika, naika, Gira o céu, céu sem fundo, Naika namanu, Gira céu sobre o mundo, Sheki hewã huwa! Milho míudo: flor! Huwa Kuru Kawanai, Flor cinza tomando o milho, Shane pinu newane, Beija-‐flor varando o vento Sheki huwamakatsi, Milho flor descobrindo Pinu bibi, pinu bibi, Voa e vibra beija-‐flor Bibi huhu! Naika naika, Naika namanu, Atsa hewã huwa! Macaxeira miúda: fllor! Huwa kuru kawani, Flor cinza vem minguando Nai shane pinuwe, Voando o céu vem beber Atsa huwa akatsi Macaxeira flor descobrindo Pinu,bibi, pinu bibi! Voa e vibra beija-‐flor! Hã we huwa akatsi, Na planta miúda zunindo, Naika naika Naika namanu, Naika namã nu, Vibrando no ar vem beber, Mani hewã huma! Banana miúda flor! Hawe huwa akatsi, Vibrando no ar vai beber Shane pinu newã ne, Beija-‐flor varando o vento Mani huwa akatsi, Banana flor vai crescendo Habi na kanine Cantando chegou o tempo ... versão literária kaxinawa
Além da mandioca, cultivavam o milho, a batata-‐doce, o cará, o feijão, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o urucu, o algodão, o carauá, cuias e cabaças, as pimentas, o abacaxi, o mamão, a erva-‐mate, o guaraná, entre muitas outras plantas. Inclusive dezenas de árvores frutíferas, como o caju, o pequi etc.
A Agricultura lhes assegurava fartura alimentar durante todo o ano e uma grande variedade de matérias-‐primas, condimentos, venenos e estimulantes. Desse modo, superavam a situação de carência alimentar a que estão sujeitos os povos pré-‐agrícolas, dependentes da generosidade da natureza tropical, que provê, com fartura, frutos, cocos e tubérculos durante uma parte do ano e, na outra condena a população a penúria. Permaneciam porém dependentes para obter outros alimentos através da caça e da pesca, também sujeitos a uma estacionalidade marcada por meses de enorme abundância e meses de escassez ( Ribeiro 1970;Meggers 1971).
As práticas agrícolas nas sociedades indígenas são comumente consideradas como rudimentares, atividades que incluem trabalhos simples destituídos de técnica aparente. Os estudos envolvidos ultimamente nesse sentido têm demonstrado o contrário. São inúmeros os exemplos de conhecimento ecológicos das culturas indígenas que se pode apontar, uma vez que cada grupo indígena possui seus costumes, que de um modo ou de outro funcionam para preservar os recursos naturais. O antropólogo Darrel Posey, estudando os Mebengokré (Kaiapo), mostrou a preocupação desse povo com a preservação da natureza, utilizando, para isso, não só um planejamento rigoroso nas suas práticas agrícolas, como também técnicas naturais altamente desenvolvidas, se comparadas a dependência da sociedade envolvente aos defensivos químicos. (Eline Pequeno)
O hábito dos indígenas de se pintarem de urucum tem entre os reais motivos, não só o adorno, ou para o complexo espiritual e guerreiro, mas também o intuito de se protegerem do sol escaldante, de diversos insetos e, sobretudo, dos espíritos malignos.
A arte entre os Povos Originários
A arte na cultura indígena está presente em
todos os aspectos, o índio não separa a arte
do trabalho. O limite entre objetos de
trabalho e objetos de arte não existe, uma
vez que não há uma arte por excelência
contraposta a objetos não artístico. Tudo
envolve beleza, pois tudo os retrata.
“Herdamos dos índios um vasto e complexo arsenal
de técnicas para sobreviver e se deslocar nesse
imenso território. Herdamos centenas de frutos,
árvores, ervas, seu trato e seu uso, herdamos o
hábito do banho diário, mas a herança mais nobre e
profunda que os índios nos legaram é o testemunho
de que é possível um povo viver magnificamente
integrado a natureza. Numa trama secreta de
coexistência pacífica e amistosa.” (Darci Ribeiro).
Um elemento fundamental na cultura
dos Povos Originários são seus arcos e suas flechas. O arco dos Puri tem seis pés e meio, ou até mais. É liso e feito com madeira
escura, resistente e flexível da palmeira iri e a
corda é de fibra de gravatá. As flechas feitas de taquara tem mais de seis pés. Na extremidade inferior são enfeitadas
com penas azuis, vermelhas ou com as de
mutum
Confecção: Grupo de Estudos Indígenas Orientação: Willer Barbosa e Dauá Puri Referências: Coletania de artigos e livros do grupo https://www.facebook.com/groups/453489321359810/