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ISBN 978-85-7559-146-8 9 788575 591468 m 1994, recebi da editora Ensaio o texto posteriormente publicado com o titulo Pensando com Marx. Na ocasião, J. Chasin solicitara meu parecer sobre a qualidade do trabalho e, consequentemente, a oportunidade de publicá-lo. O exame do material deixava imediatamente patente a tremenda desproporção entre o texto principal, ou seja, o livro propriamente dito, e o posfácio que Chasin lhe apensara. Desproporção tal que não se referia apenas à dimensão inusitada do posfácio (cerca de um terço do tamanho do livro) por maior que fossem os méritos do trabalho que daria origem ao volume, era enorme o desnível entre os planos teóricos do texto principal e de seu posfácio. O primeiro tratava de apresentar uma reconstrução convencional do pensamento de Marx; o segundo, por sua vez, procurava demonstrar precisamente as insuficiências dos esquemas interpretativos geralmente utilizados para apresentar o pensamento marxiano. Em uma palavra, sob a forma de posfácio o trabalho teoricamente inovador e instigante de J. Chasin ficava eclipsado por um texto correto, porém pouco criativo. Mais ou menos isso foi o que eu disse a Chasin, que ignorou minha opinião e publicou o livro. Não tenho dúvidas que tal opção editorial foi responsável pela inexpressiva difusão dessa obra de Chasin e, em virtude disso, pela quase total ausência de debate das teses e interpretações polêmicas ali formuladas. Ilustra o caráter provocativo da obra a crítica a Lukács, autor a quem, todavia, Chasin reconhecia o débito teórico, como tendo sido o único filósofo marxista a desvelar a dimensão ontológica do pensamento marxiano. Devemos à Boitempo a sensibilidade de trazer a público estes escritos tão fundamentais e decisivos para o descortínio de dimensões não reconhecidas do legado marxiano tematizadas pelo autor. Ironicamente, talvez hoje o livro encontre uma atmosfera intelectual não apenas mais receptiva como também mais capacitada para assimilar e debater as formulações ali desenvolvidas. Talvez seja possível dizer que a progressiva dissolução das perspectivas cético-pessimistas dos anos recentes (pós-modernas, pós-estruturalistas etc.) propiciem a recepção da posição ontológica pioneiramente difundida por J. Chasin no Brasil. Mario Duayer E Marx, Estatuto Ontológico e Resolução Metodológica Estatuto Ontológico e Resolução Metodológica J.CHASIN Marx Estatuto Ontológico e Resolução Metodológica J.CHASIN Marx José Chasin bacharelou-se em filosofia na USP, em 1962. Na década de 1960 vinculou-se ao grupo liderado por Caio Prado Jr., que se articulou a partir da revista Brasiliense. Participou da Campanha pela Defesa da Escola Pública, ao lado de Florestan Fernandes. Criou a editora Senzala, em São Paulo, pela qual publicou pensadores marxistas como Georg Lukács. Lecionou na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na qual apresentou, em 1977, sua tese de doutoramento O Integralismo de Plínio Salgado: forma de regressividade no capitalismo hipertardio. No mesmo ano fundou, com intelectuais como Nelson Werneck Sodré e outros, a revista Temas de Ciências Humanas. Viveu por dois anos em Moçambique, a convite do governo daquele país, trabalhando na Universidade Eduardo Mondlane. Retornou ao Brasil em 1980, assumiu a direção da revista Nova Escrita/Ensaio e instalou-se em João Pessoa como professor do departamento de filosofia da UFPB. Em 1986 transferiu-se para o departamento de filosofia da UFMG onde criou, no mestrado, uma linha de pesquisa orientada aos estudos do pensamento filosófico marxiano. Publicou A miséria brasileira – do golpe militar à crise social (1964-1994) e A determinação ontonegativa da politicidade, ambos pela editora Ad Hominem. Faleceu em 1998. J. CHASIN

chasin

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isbn 978-85-7559-146-8

9 788575 591468

m 1994, recebi da editora Ensaio o texto

posteriormente publicado com o titulo

Pensando com Marx. Na ocasião, J. Chasin

solicitara meu parecer sobre a qualidade do trabalho

e, consequentemente, a oportunidade de publicá-lo.

O exame do material deixava imediatamente patente

a tremenda desproporção entre o texto principal,

ou seja, o livro propriamente dito, e o posfácio que

Chasin lhe apensara. Desproporção tal que não se

referia apenas à dimensão inusitada do posfácio

(cerca de um terço do tamanho do livro) por maior

que fossem os méritos do trabalho que daria origem

ao volume, era enorme o desnível entre os planos

teóricos do texto principal e de seu posfácio. O

primeiro tratava de apresentar uma reconstrução

convencional do pensamento de Marx; o segundo,

por sua vez, procurava demonstrar precisamente

as insuficiências dos esquemas interpretativos

geralmente utilizados para apresentar o pensamento

marxiano.

Em uma palavra, sob a forma de posfácio o trabalho

teoricamente inovador e instigante de J. Chasin

ficava eclipsado por um texto correto, porém pouco

criativo. Mais ou menos isso foi o que eu disse a

Chasin, que ignorou minha opinião e publicou o livro.

Não tenho dúvidas que tal opção editorial foi

responsável pela inexpressiva difusão dessa obra de

Chasin e, em virtude disso, pela quase total ausência

de debate das teses e interpretações polêmicas ali

formuladas. Ilustra o caráter provocativo da obra

a crítica a Lukács, autor a quem, todavia, Chasin

reconhecia o débito teórico, como tendo sido o único

filósofo marxista a desvelar a dimensão ontológica do

pensamento marxiano.

Devemos à Boitempo a sensibilidade de trazer a

público estes escritos tão fundamentais e decisivos

para o descortínio de dimensões não reconhecidas

do legado marxiano tematizadas pelo autor.

Ironicamente, talvez hoje o livro encontre uma

atmosfera intelectual não apenas mais receptiva

como também mais capacitada para assimilar e

debater as formulações ali desenvolvidas. Talvez

seja possível dizer que a progressiva dissolução das

perspectivas cético-pessimistas dos anos recentes

(pós-modernas, pós-estruturalistas etc.) propiciem

a recepção da posição ontológica pioneiramente

difundida por J. Chasin no Brasil.

Mario Duayer

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Estatuto Ontológico e resolução metodológicaJ.Chasin

marx

Estatuto Ontológico e resolução metodológica

J.Chasin

marx

José Chasin bacharelou-se em filosofia na USP, em 1962. Na década de

1960 vinculou-se ao grupo liderado por Caio Prado Jr., que se articulou

a partir da revista Brasiliense. Participou da Campanha pela Defesa da

Escola Pública, ao lado de Florestan Fernandes. Criou a editora Senzala,

em São Paulo, pela qual publicou pensadores marxistas como Georg

Lukács. Lecionou na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na qual

apresentou, em 1977, sua tese de doutoramento O Integralismo de Plínio

Salgado: forma de regressividade no capitalismo hipertardio. No mesmo

ano fundou, com intelectuais como Nelson Werneck Sodré e outros, a

revista Temas de Ciências Humanas. Viveu por dois anos em Moçambique,

a convite do governo daquele país, trabalhando na Universidade Eduardo

Mondlane. Retornou ao Brasil em 1980, assumiu a direção da revista

Nova Escrita/Ensaio e instalou-se em João Pessoa como professor

do departamento de filosofia da UFPB. Em 1986 transferiu-se para o

departamento de filosofia da UFMG onde criou, no mestrado, uma linha

de pesquisa orientada aos estudos do pensamento filosófico marxiano.

Publicou A miséria brasileira – do golpe militar à crise social (1964-1994)

e A determinação ontonegativa da politicidade, ambos pela editora Ad

Hominem. Faleceu em 1998.

J.Ch

asin