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Rio de Janeiro, quarta-feira, 29 de abril de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.487 Além do ministro André Mendonça, o Presidente nomeia Alexandre Ramagem para diretor-geral da PF Fundado em 15 de junho de 1901 Fundador: Edmundo Bittencourt EDIÇÃO EXPRESSA Ministro promete Justiça ‘técnica’ PÁGINAS 4 E 5 COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 E PÁGINA 6 Estado tem prazo para explicar gastos de saúde Crédito Divulgação CORONAVÍRUS NO BRASIL CONFIRMADOS 71,8 MORTOS MIL 5 MIL Documentário celebra obra da ‘Madrinha’ Beth Carvalho Contracultura: Textos de Waly no Carandiru fazem 50 anos Pesquisa monitora Covid-19 no esgoto PÁGINA 15 PÁGINA 14 PÁGINA 7 Vitaminas: riscos de excessos PÁGINA 16 Divulgação

COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 E PÁGINA 6 Ministro …...um grande músico, mas por “ter to-cado com Miles Davis”, nos discos de um revolucionário noneto que, em 1949-50, lançou

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Rio de Janeiro, quarta-feira, 29 de abril de 2020 www.jornalcorreiodamanha.com.br Presidente: Cláudio Magnavita Ano CXVIII Nº 23.487

Além do ministro André Mendonça, o Presidente nomeia Alexandre Ramagem para diretor-geral da PF

Fundado em15 de junho de 1901

Fundador:Edmundo Bittencourt

E D I Ç Ã O E X P R E S S A

Ministro promete Justiça ‘técnica’

PÁGINAS 4 E 5

COLUNA MAGNAVITA - PÁGINA 3 E PÁGINA 6

Estado tem prazo para explicar gastos de saúde

Crédito

Divulgação

CORONAVÍRUS NO BRASIL

CONFIRMADOS

71,8MORTOS

MIL5

MIL

Documentáriocelebra obrada ‘Madrinha’Beth Carvalho

Contracultura:Textos de Walyno Carandiru fazem 50 anos

Pesquisa monitora Covid-19 no esgoto

PÁGINA 15

PÁGINA 14

PÁGINA 7

Vitaminas: riscos de excessos

PÁGINA 16

Divulgação

2 Quarta-feira, 29 de abril de 2020OPINIÃO

A CNC implode o caixa da nova Embratur

EDITORIAL

A Confederação Nacional do Comercio-CNC jogou fora segun-da-feira, 27, a grande oportunidade de acabar com uma polêmica sobre quem representa o turismo na esfera confederativa. Ela utilizou a sua força e dos seus braços regionais, as Feco-mércio, para aprovar o destaque pro-posto pelo PCdoB, para retirar o arti-go que destinava parte da arrecadação do SESC e do Senac para a nova Em-bratur, transformada em agência.

Houve um cochilo da base gover-nista, que perdeu por apenas 10 votos, mas houve também a insensibilidade da CNC de perceber que esta contri-buição permitiria estabelecer a entida-de como a legitima representação do turismo. Foi um tiro no pé. A inclusão do comércio foi feita por ser a única entidade entre as co-irmãs (CNI, CNA e CNT), que não estava dando

a sua contribuição para a pandemia.O ministro Paulo Guedes tem de-

fendido a abertura do caixa do sistema S e de suas confederações. O caso da CNC é o mais grave. A entidade es-teve sob o comando secular de um só presidente. O novo comando, ao invés de renovar, cometeu os mesmos erros que anteriormente criticava. Os seus dirigentes gozam de mordomias, passagens , hotéis de luxo, são servi-dos por uma frota de carrões e foram comprados para uso dois imóveis milionários na valorizadíssima ave-nida Viera Souto. A Fecomércio do Rio teve o seu ex-presidente preso (o de Minas também se enrolou) e atua como protagonista de uma milionária campanha de televisão e jornais. Para o turismo, porém, pode ter sido me-lhor cortar as suas amarras com esta bomba relógio prestes a explodir.

NANI

Foi uma grande perda para o governo, a saída do ex-juiz Sérgio Moro, símbolo do combate à cor-rupção e um dos ícones do ministé-rio. Ainda ministro, fez denúncias contra seu chefe, segundo as quais Bolsonaro queria ter “relações im-próprias com a Polícia Federal. Despediu-se oferecendo-se “à dis-posição do País”. Quando Mandetta estava no auge, um veterano prócer político do Paraná me disse que iria lançá-lo como imbatível candidato à Presidência da República. Alertei-o de que se tratava de um cometa. Bri-lhou e passou. Moro tem mais luz própria, está mais para astro e pode gravitar na política.

Perda para o governo sim, mas sua saída pode atrapalhar a oposição, se não ficar restrita à sua perda de uma carreira de juiz e de uma cadei-ra no Supremo. Pode ser candidato anti-Bolsonaro. E aí o sonho Moro vira pesadelo para aspirantes que se expuseram à chuva antes do tempo.

O velho jazz está sendo ceifado pela Covid-19. Depois do pianista Ellis Marsalis e do guitarrista Bucky Pizzarelli, foi a vez, na semana passa-da, do saxofonista Lee Konitz, ain-da na ativa aos 92 anos. Os jornais deram a sua morte não por ter sido um grande músico, mas por “ter to-cado com Miles Davis”, nos discos de um revolucionário noneto que, em 1949-50, lançou o cool jazz. Era um estilo com raízes na big band de Claude Thornhill, de onde tinham saído, além de Lee, o sax-barítono Gerry Mulligan e o arranjador Gil Evans, todos no noneto. Mas só Mi-les levou a fama.

Lee foi dos poucos sax-altos nas-cidos no bebop que não tentaram

Moro deixa a esquerda no dilema de ter que elogiar o juiz que condenou Lula e os tesoureiros do PT. Pode ser instrumento de quem se alia até ao coronavírus para enfraquecer o presidente. Mas, como ele disse, tem a biografia. Que ficou arranhada com a divulgação dos prints de pes-soas que nele confiaram, seu chefe e sua afilhada de casamento.

O Ministro-relator Celso de Mello concedeu a abertura de inves-tigação sobre as denúncias de Moro contra o Presidente, para apurar apurar os interesses do Presidente na PF, mas também para saber se houve denunciação caluniosa e crimes con-tra a honra por parte de Moro. No Supremo, Gilmar, Lewandowski e Toffoli são críticos do juiz Moro. O mesmo acontece com Rodrigo Maia, com a esquerda magoada e com in-vestigados do centrão, na Câmara.

Rodrigo Maia acaba de repetir que não é tempo de impeachment. Ele sabe que não há votos para isso.

copiar Charlie Parker. Suas frases longas e sem vibrato eram a antítese de Parker. E, desde então, sempre es-teve na contramão do jazz, gravan-do discos em que tocava sozinho, ou com um trio sem piano ou com uma orquestra de 90 figuras.

Ele era tudo, menos uma estre-la do jazz. Nunca teve agente ou assessor de imprensa e, ao morrer, devia ser o único músico do mundo sem email. O incrível é que, aves-so a qualquer carreira comercial, tenha gravado tanto. Levantei sua discografia e, de 1949 a 2018, con-tei 95 álbuns como líder. Soman-do-se os de que só participou, são mais setenta.

Quem comprava os seus discos?

Só as bancadas ruralista, evangéli-ca e da segurança já garantem que não passa. Além do que a esquerda há de se perguntar se não seria me-lhor ficar desgastando Bolsonaro a ter na presidência um duro como Mourão. O mais decisivo é que não há impeachment sem povo. Goulart foi derrubado porque antes o povo ocupou as ruas; Jânio não conseguir voltar atrás na renúncia, porque o povo não saiu por ele; Collor pediu povo a seu favor e o povo veio con-tra; e Dilma foi o que vimos. Moro saiu e o presidente aproveitou para vitaminar Guedes e Tereza Cristina, encerrando incertezas do mercado e do agro. E Bolsonaro põe na Polícia e no Ministério gente de confiança. André Mendonça é um premiado no combate à corrupção. Ramagem fez a segurança do candidato Bolsona-ro. A mudança deixa mais tranquilo o Presidente. Mas para a oposição, o fator Moro “à disposição do país” pode ser motivo de intranquilidade.

Em 1996, o saxofonista brasileiro Mauro Senise, tocando em Nova York com o grupo Cama de Gato, deu um pulo à famosa loja de discos Tower, na Broadway. Como ia vol-tar para o Rio aquela noite e tinha uma baganinha de maconha com que não queria embarcar, Mauro depositou-a no escaninho dos CDs de Lee Konitz, seu ídolo. Em 2003, de novo a trabalho em Nova York, voltou à Tower e, ao folhear os CDs de Konitz, encontrou a baganinha que deixara ali sete anos antes.

Não é que ninguém comprasse os discos de Lee Konitz. Seus fãs é que, muito chiques, deviam achar que o baseado pertencia a alguém e não era para ser levado dali.

Alexandre Garcia

Ruy Castro

Fator moro

Tudo, menos uma estrela

Direção Executiva: Cláudio Magnavita (Editor Chefe) Fernando Vale Nogueira (Editor Executivo) [email protected]ção Edição Expressa: José Aparecido Miguel Redação: Affonso Nunes, Gabriel Moses, Guilherme Cosenza, Ive Ribeiro, Marcelo Perillier, Marcio Corrêa e Pedro Sobreiro. Estagiários: João Victor Ferreira e Willian Cobian. Serviço noticioso: Folhapress e Agência BrasilOperações: Bruno Portella. Projeto Gráfico e Arte: Leo Delfino (Designer)

[email protected] (21) 2042 2955 | (11) 3042 2009 | (61) 4042-7872 Whatsapp: (21) 97948-0452

Av. João Cabral de Mello Neto 850 Bloco 2 Conj. 520 - Rio de Janeiro - RJ CEP: 22775-057

www.jornalcorre iodamanha.com.br

Fundado em 15 de junho de 1901

Edmundo Bittencourt (1901-1929)Paulo Bittencourt (1929-1963)Niomar Moniz Sodré Bittencourt (1963-1969)

Os artigos publicados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não necessariamente refletem a opinião da direção do jornal.

Quarta-feira, 29 de abril de 2020 3OPINIÃO

[email protected]

O CORREIO DA MANHÃ NA HISTÓRIA * POR BARROS MIRANDA

HÁ 75 ANOS: EXÉRCITOS ALIADOS SE UNEM PARA O COMBATE DE BERLIM

HÁ 100 ANOS: ALMIRANTE BATISTA FRANCO É CONDENADO A 6 ANOS DE PRISÃO

As principais notícias do CORREIO em 28 de abril de 1945 foram: exércitos soviéticos, ingleses, norte-americanos e

franceses se unem para o combate final em Berlim; pracinhas dominam Bolonha; co-missões elegem presidentes e conselheiros

da Conferência de São Francisco; 25 mi-lhões de franceses devem ir às urnas eleger seus representantes municipais.

As principais notícias do CORREIO em 28 de abril de 1920 foram: presidente Epitácio Pessoa desce de Petrópolis e fica em

definitivo no Palácio do Catete; almirante Batista Franco é condenado a seis anos de prisão por assassinato; operários franceses,

mineradores ingleses e servidores públicos italianos vão abandonar o trabalho no dia 1º de maio.

Por Cláudio Magnavita*

O governador Wilson Wit-zel nunca esquecerá este mês de abril que está terminando. Ele e a esposa Helena testaram positivo para a Covid-19, o seu governo esteve nas manchetes por negócios mal explicados na área da saúde em plena pande-mia. E a mudança no comando da Polícia Federal e do Minis-tério da Justiça coloca a sua ad-ministração nas investigações relacionadas ao contrato de R$ 835 milhões para hospitais de campanha, além de outros processos de compras suspei-tos que resultaram na demissão sumária do seu subsecretário--executivo de Saúde, Gabriell Neves. O caso caiu na lupa do Tribunal de Contas de União.

O seu secretário de Saúde, Edmar Santos, também testou positivo e saiu de cena. Tanto ele quanto o governador su-miram da mídia em um dos momentos mais delicados do Governo do Estado. Fugiram dos holofotes inquisidores e ganharam o acalanto que qual-quer enfermo merece.

Para ajudar, a saída dos ex--ministros Mandetta e Moro ocuparam as manchetes duran-te dias. O escândalo, diante dos negócios duvidosos e sequen-ciais do Governo do Estado em plena pandemia, agora retorna às primeiras páginas. Revira o estômago de qualquer bom cris-tão pensar que estão usando a crise do novo coronavírus para fazer negócios lesivos ao erário.

A principal pergunta ainda não foi respondida: um simples subsecretário teria autonomia para fazer negócios superiores a R$ 1 bilhão sem ter aval dos superiores? Quem verdadeira-mente esta por trás deste balcão de negócios que virou a pasta da Saúde?

Estamos enfrentando o co-lapso da rede estadual e o atra-so na entrega dos hospitais de campanha no Estado tem um vilão: os negócios mal feitos. Vai morrer gente por conta dis-so e quem vai ser punido?

O governo impoluto, que deveria ser exemplo de hones-tidade por ter um ex-juiz fe-deral no comando, virou um gigantesco mercado persa. O

exemplo de gestão, que deveria alavancar o sonho presidencial do Witzel, desmorona como as muralhas de Jericó ao som de cada corneta da imprensa in-vestigativa.

A Cedae entrou em parafu-so com a geosmina (que sauda-de da alga fedorenta nesses tem-pos de corona) e perdeu valor. Segue no caminho da privati-zação por 1/3 do seu valor real. Um cenário que beneficiará uns poucos, menos ao povo do Rio.

O Samu, que esteve nas mão zelosas do Corpo de Bombeiros, vai a jato para uma organização social, resultando na primeira baixa (esta voluntária) do qua-dro da saúde. Dois hospitais são entregues em menos de 48 ho-ras a duas organizações sociais, OSs. Aliás, já tem deputado estadual propondo o rebatismo para “Organização Societária”. Um aplicativo estava sendo contratado por R$ 10 milhões, enquanto não custara R$ 20 mil em qualquer incubadora uni-versitária... E a joia da coroa, os hospitais de campanha a R$ 835 milhões - dinheiro em qualquer parte do mundo.

O Ministério Público e ago-ra a Polícia Federal já deveriam começar a buscar a origem mi-lionária das supertendas e se al-guns dos fornecedores têm his-tórico de locação anterior para megaeventos evangélicos, espe-cialmente em Minas Gerais.

Inferno astral vivem hoje o outro Wilson do Partido Social Cristão (PSC), o governador do Amazonas , Wilson Miran-da Lima, outra área de grande influência do presidente da le-genda partidária, o pastor Eve-raldo Pereira. Será que é coin-cidência? Everaldo é o Midas ao contrário, esfacela todos os governos em que resolveu me-ter a mão?

A Polícia Federal tem um prato cheio para correr atrás dos chefes dos Wilsons. Recen-temente foi protocolado pelo ex-presidente do PSC, Victor Nósseis, um dossiê com novas acusações. Nósseis foi acusado em 2018 pela turma do Everal-do de pagar prostitutas com o fundo partidário. Como o mun-do mudou, no país machista; no Brasil deve até ter deixado de ser pecado e causa até inveja.

O Amazonas está à beira de uma intervenção com o seu governador sem saber explicar como recursos sumiram e im-possibilitam o combate eficaz à pandemia.

No Rio, o governo tem mui-to a explicar e agora é quem está sob a mira dos snipers caça-cor-ruptos da Polícia Federal. O ce-nário fica mais grave quando o deputado Ferreira faz as contas e revela que a receita de ICMS deve despencar 35%, lembran-do que o barril do petróleo está abaixo de 20 dólares.

O cenário pode ficar pior. Boa parte da Assembleia Legis-lativa está disposta a não aceitar a operação-abafa que visava en-gavetar a Comissão Parlamen-tar de Inquérito da Saúde em troca do Detran. A CPI ganha força esta semana, com muita chance de virar realidade. Sem dúvida, este mês de abril será inesquecível para a biografia e anseios políticos do governa-dor Wilson Witzel.

(*) Cláudio Magnavita é diretor de Redação do

Correio da Manhã.

Vai sobrar para o ‘bagrinho’?É preciso descobrir quem é verdadeiro mentor dos casos suspeitos no governo de Witzel.

4 Quarta-feira, 29 de abril de 2020

CORREIO NACIONAL

Governo amplia restrições a estrangeiros por mais 30 dias

Título de eleitor

Agronegócio

Coronavoucher

Taxa de inflação

Em meio à pandemia, o governo estendeu por mais 30 dias a restrição para a entrada de estran-geiros por via aérea. A de-terminação foi publicada no Diário Oficial da União nesta terça (28), em por-taria assinada pelos mi-nistérios da Casa Civil, da Justiça, da Infraestrutura e da Saúde.

O Tribunal Superior Eleitoral criou um site para que as pessoas resolvam eletronicamente as pen-dências com o título de eleitor. As eleições, a prin-cípio, devem acontece no primeiro e último domingo de outubro.

Poupado no início, o agronegócio começa a sentir os efeitos da desa-celeração da economia. O fechamento de restauran-tes e lanchonetes fez cair o consumo de frangos, o que levou alguns criadores a cortarem a produção.

Metade dos benefici-ários inscritos em algum cadastro federal tem di-reito de receber o auxílio emergencial de R$ 600, pago pela Caixa em três parcelas, em virtude da pandemia do coronavírus. Os dados são da Dataprev.

A prévia da inflação de abril, medida pelo IPCA-15, registrou queda de 0,01% e marcou o me-nor resultado para o mês desde junho de 1994, in-formou o IBGE. O tombo é resultado dos cortes no preço dos combustíveis.

A proibição não vale para brasileiros e para es-trangeiros com residência no Brasil, nem para ci-dadãos de outros países que estejam em missão a serviço de organismo in-ternacional ou de governo estrangeiro; também ficam de fora os estrangeiros com cônjuge, pai ou filho brasileiro.

Agência Brasil

A proibição, porém, não vale para estrangeiros que moram no Brasil

O presidente Jair Bolsonaro nomeou, nesta terça-feira (28), o delegado Alexandre Ramagem para o comando da Polícia Fede-ral. A troca na direção-geral da PF foi o estopim para o pedido de demissão do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro do Ministério da Justiça, na semana passada.

Segundo o agora ex-minis-tro, Bolsonaro queria trocar o diretor-geral da PF para ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência.

Neste sábado (25), a Folha divulgou que, em inquérito si-giloso conduzido pelo STF (Su-premo Tribunal Federal), a PF identificou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente, como um dos ar-ticuladores de um esquema cri-minoso de fake news.

Ramagem era diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e é homem de con-fiança do presidente e de seus filhos. Delegado de carreira da Polícia Federal, o delegado se aproximou da família Bolsonaro durante a campanha de 2018, quando comandou a segurança do então candidato a presidente.

Carlos Bolsonaro é um dos seus principais fiadores e esteve diretamente à frente da deci-são que o levou ao comando da agência de inteligência em ju-nho passado.

O aval do “filho 02” foi con-quistado durante a crise política que levou à saída do então mi-nistro da Secretaria de Governo, general Carlos Santos Cruz. Ra-magem atuava como assessor es-pecial da pasta e se manteve fiel à família. Santos Cruz caiu após ataques do chamado “gabinete do ódio” comandado por Carlos.

Neste domingo (26), o pre-sidente respondeu a uma segui-

Ramagem, da inteligência para o comando da PFEx-diretor da Abin é da confiança da família Bolsonaro

Oliveira/ Agência Senado

Troca no comando da PF foi o estopim para a saída de Moro do governo

NACIONAL

dora nas redes sociais que ques-tionou a relação de amizade de Ramagem com os filhos. “E daí? Antes de conhecer meus filhos eu conheci o Ramagem. Por isso, deve ser vetado? Devo es-colher alguém amigo de quem?”, escreveu Bolsonaro.

Delegado da Polícia Federal desde 2005, Ramagem coman-dou, de 2013 a 2014, a Divisão de Administração de Recursos Humanos e a de Estudos, Le-gislações e Pareceres, de 2016 a 2017.

Atuou ainda na coordenação de grandes eventos realizados no país nos últimos anos, como a Conferência das Nações Uni-das Rio+20 (2012), a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e a Olimpía-da do Rio (2016).

Em 2017, Ramagem inte-grou a equipe responsável pela investigação e inteligência de polícia judiciária na Operação Lava Jato. Em uma das ações que comandou, a Operação Cadeia Velha, ocorreu a prisão de inte-grantes da cúpula da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro).

Em 2018, antes de atuar na segurança de Bolsonaro, assu-miu a Coordenação de Recursos Humanos da Polícia Federal, na condição de substituto. Após a eleição, em janeiro de 2019, foi para Secretaria de Governo e, de lá, para a Abin.

O deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) irá ingressar com ação na Justiça Federal do Distrito Federal para anular a nomeação de Ramagem do car-go de diretor-geral da PF.

“O objetivo de Bolsonaro ao nomear Ramagem, um ami-go íntimo da família, para o comando da Polícia Federal é controlar e transformar a insti-tuição numa polícia política a seu serviço”, afirmou.

Já o MBL ingressou com uma ação popular que pede a suspensão da nomeação de Ra-magem. O deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos coordenadores do grupo, critica a intenção de Bolsonaro de usar o cargo para fins pesso-ais. “A ação se baseia na violação do princípio da moralidade”, disse ele.

Quarta-feira, 29 de abril de 2020 5

Bolsonaro nomeia André Mendonça (AGU) para a Justiça

NACIONAL Um jurista evangélico

José Cruz/Agência Brasil

André Mendonça tem boa interlocução com membros do Supremo Tribunal Federal

O presidente Jair Bolsonaro nomeou nesta terça (28) André de Almeida Mendonça, 47, para o comando do Ministério da Jus-tiça e Segurança Pública.

O advogado agora deixa a Advocacia-Geral da União (AGU) e ocupa a vaga deixada por Sergio Moro, que, ao pedir demissão na semana passada, acusou o presidente de interfe-rências na Polícia Federal. Em seu lugar, entra José Levi Mello do Amaral Júnior, que era pro-curador-geral da Fazenda Na-cional.

O novo ministro da Justiça, que também é pastor da Igreja Presbiteriana Esperança de Bra-sília, integrava a AGU desde 2000, quando encerrou sua ati-vidade como advogado concur-sado da Petrobras (1997-2000).

Em outubro de 2002 o advo-gado publicou no jornal Folha de Londrina um artigo sobre a eleição do ex-presidente Lula (PT).

Intitulado “O povo se dá uma oportunidade”, o texto tem tom otimista. Nele, Mendonça afirma que “o Brasil cresceu e seu povo amadureceu, restando consolidada a democracia não só porque o novo presidente foi eleito pelo povo, mas porque saiu do próprio povo”.

“Fato inédito no Brasil. Um país, até então, governado por reis, por presidentes escolhidos em gabinetes ou ainda quando eleitos, lideranças formadas nas camadas sociais mais privilegia-das, sem experiência vivencial com a realidade dos milhões de brasileiros miseráveis e margina-lizados (...), pelos próximos qua-tro anos será governado por um líder popular”, escreveu na época.

Horas depois de sua nomea-ção ter sido publicada, Mendon-ça fez uma publicação nas redes sociais em aceno ao presidente.

“Agradeço ao presidente Jair Bolsonaro por confiar a mim a missão de conduzir as políticas públicas de Justiça e Segurança do nosso país”, escreveu.

O novo ministro da Justiça afirmou que seu compromisso “é continuar desenvolvendo o tra-balho técnico que tem pautado minha vida”.

Evangélico, disse contar com o apoio do povo brasileiro e en-cerrou pedindo “que Deus nos abençoe”.

Mendonça foi corregedor da AGU na gestão de Fabio Medi-na Osório, no governo Michel Temer. Ele chegou ao governo Bolsonaro por indicação do mi-

que pediu ao presidente que um representante deles ocupe um cargo no Supremo, na tentativa de tornar o perfil da corte mais conservador.

Pelo critério de aposentado-ria compulsória aos 75 anos dos ministros do Supremo, as próxi-mas vagas serão as de Celso de Mello, em novembro deste ano, e Marco Aurélio Mello, em julho de 2021. O presidente indica o nome, que deve ser aprovado em seguida pelo Senado.

Mendonça conheceu Bol-sonaro em 21 de novembro de 2018, no mesmo dia em que foi escolhido para comandar a AGU. A conversa, no gabinete da transição no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília, durou cerca de 40 mi-nutos.

nistro da CGU (Controladoria Geral da União), Wagner Ro-sário, com o apoio da bancada evangélica.

A sua transferência para a Justiça teve o apoio da cúpula militar e a articulação do presi-dente do STF (Supremo Tribu-nal Federal), José Dias Toffoli. A expectativa agora é a de que ele melhore a relação de Bolsonaro com o Poder Judiciário.

A transferência de Mendon-ça fortalece a indicação de seu nome para uma das duas vagas a que Bolsonaro terá direito de preencher no STF. O presidente já disse que considera o ministro, a quem se referiu como “terri-velmente evangélico”, a um dos postos.

A indicação atenderia a um apelo da bancada evangélica,

O então presidente eleito nada perguntou. Os questio-namentos ficaram a cargo do general Augusto Heleno, que assumiria o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), e de Jorge Oliveira, hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidência -responsável por analisar o cur-rículo de Mendonça e apresentá--lo ao chefe.

Mendonça costuma dizer que “mais do que falar, você pre-cisa ouvir para entender a reali-dade”. Naquele dia, no entanto, ele fez um “bom jockey”, disse Bolsonaro, para em seguida ex-plicar: “Na área militar, quando um cara está indo bem, a gente diz que está em um bom jockey. Pode continuar!”.

Mendonça fez à ocasião uma aprofundada análise política da eleição de Bolsonaro e seu signi-ficado para os rumos do país.

O agora ministro da Jus-tiça disse ao presidente eleito que, como ele havia se propos-to a governar na contramão do presidencialismo de coalizão, construindo uma nova forma de diálogo e relacionamento com o Congresso, enfrentaria um perí-odo de maior resistência da cha-mada política tradicional.

Com a nomeação de Men-donça, a tendência é a de que Bolsonaro faça uma cisão no Mi-nistério da Justiça e recrie a pasta da Segurança Pública.

Neste caso, a expectativa de assessores do presidente é que ele nomeie o secretário de segurança pública do Distrito Federal, An-derson Oliveira, para a função. Anderson conta com o apoio do ex-deputado federal Alber-to Fraga (DEM-DF), amigo de Bolsonaro.

Advogado e pastor, ele estava na Advocacia Geral da União, cargo que será ocupado por José Levi

Bolsonaro nomeia André Mendonça para chefiar o Ministério da Justiça

6 Quarta-feira, 29 de abril de 2020

CORREIO CARIOCA

Fecomércio: 72,1% das pessoas apoiam medidas de isolamento

Cestas básicas

Cuidar da mente

Hortas

Astronomia online

Uma pesquisa da Fe-deração do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio (Fecomér-cio RJ) com 962 pessoas no Estado mostrou que 72,1% aprovam a quarentena.

A crise também adiou os planos. Para 54,8%, decisões de compra foram suspensas. Outros 17,6% adiaram para o segundo

A Faetec vai distribuir cestas básicas para os es-tudantes da Educação Bá-sica e na Escola Especial Favo de Mel, voltada para alunos com deficiência in-telectual. A previsão é de que 12 mil kits sejam dis-tribuídos.

Profissionais de saúde do Rio terão assistência psicológica via telefone e internet durante a pande-mia. A medida, lançada pela prefeitura já está dis-ponível nesta terça (28), vai atender aos pacientes por três meses.

A Secretaria de Agri-cultura mantém, gratuita-mente, o projeto Hortas Urbanas, que visa ensinar a montagem de pequenas hortas dentro de casa. O material pode ser acessa-do pelo www.rj.gov.br/se-cretaria/agricultura.

A Prefeitura oferece aula online para os alunos conhecerem mais sobre o Sistema Solar. Nesta quar-ta-feira (29) às 10h30, a astrônoma Flavia Pedroza Lima estará no link: ht-tps://www.youtube.com/planetariodoriooficial

semestre e 11,1% poster-garam para o próximo mês.

Sobre até quando vai o afastamento social, 20,3% disseram acreditar que levará mais dois meses. Outros 18,5%, menos de um mês e para 18,1% ain-da vai passar de três me-ses. Ainda 17,2% mais um mês, 11% mais um mês e meio e 10,8% três meses.

Tania Regô

Pesquisa mostrou também que a quarentema adiou planos de compras

RIO

Por Affonso Nunes

A implantação de 240 lei-tos de UTI para o combate ao coronavírus a um custo diário de quase R$ 5 mil por unidade quando o Ministério da Saúde paga R$ 1,6 mil aos estados aos municípios levou o Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) a exigir da Secretaria de Estado de Saúde que explique o negó-cio num prazo de cinco dias. O contrato celebrado entre admi-nistração estadual e a Health Logística e Gestão em Saúde de Terapia Intensiva. No valor de R$ 106 milhões colocados em suspeita pelo deputado estadual Anderson Moraes (PSL) em re-portagem publicada na edição do CORREIO DA MANHÃ do último dia 17.

- Pela proposta da empresa, a diária do leito com ventilação mecânica custa R$ 4.950 - três vezes mais caro que o Ministério da Saúde está pagando a estados e municípios por dia de UTI. E um dos hospitais que vai receber os leitos tem o mesmo endereço da empresa que ganhou a lici-tação - disse o deputado, refe-rindo-se ao Hospital American

Dias de explicações no RioTCE dá prazo de cinco dias para governo justificar gastos de R$ 106 milhões; despacho menciona ‘possíveis irregularidades’

Divulgação

Contrato por contratação de leitos com a Health tem custo diário de R$ 5 mil por unidade, bem acima do mercado

Cor, que vai receber 130 leitos do contrato em questão. - Repa-re que é o mesmo endereço da Log Health. Ou seja, quem vai atestar os serviços prestados para pagamento será o mesmo que vai recebê-lo - critica o parlamentar.

Em seu despacho, a conselheira do TCE Andrea Siqueira Martins menciona “possíveis irregularida-des” na contratação emergencial, sem licitação, feita pela Secreta-ria de Saúde. Só neste contrato, o prejuízo aos cofres públicos pode chegar a até R$ 70 milhões.

“Diante da pouca informa-ção que possui esta Corte de Contas acerca do procedimento que resultou na contratação da empresa Log Health e tendo em vista que as impugnações apre-sentadas envolvem a prestação de serviços de suma importância, especialmente na atual situação de pandemia que vive a nossa so-ciedade, entendo prudente que este Tribunal tenha a possibili-dade de avaliar os argumentos e documentos encaminhados pelo jurisdicionado sobre os fatos ale-gados pelo Representante, antes de ser adotada qualquer medida de suspensão dos pagamentos decorrentes da contratação em

vigor”, destaca Andrea Siqueira Martins no relatório da decisão.

Em sua denúncia, Moraes (PSL) questiona a ausência do detalhamento dos custos dos serviços a serem prestados no termo de referência, além da omissão de valores.

O TCE e o Ministério Públi-co Estadual (MPE) haviam noti-ficado o secretário Edmar Santos sobre o acordo de cooperação que prevê a troca de informações e a realização de ações integradas de fiscalização e controle externo dos atos e contratos firmados por órgãos estaduais e municipais destinados ao enfrentamento da pandemia. No documento, o MP e o TCE recomendam a Santos o envio espontâneo às duas insti-tuições de dados relacionados a atos e contratos de caráter emer-gencial, “sinalizando para a socie-dade que a gestão estadual para o enfrentamento da pandemia vem sendo regular e tempestivamente comunicada aos respectivos ór-gãos de controle”.

A decisão também pede es-clarecimentos sobre as contrata-ções para a Log Health Logística e Gestão em Saúde de Terapia Intensiva.

Quarta-feira, 29 de abril de 2020 7

Até o momento, os pesquisadores não encontraram evidências de transmissão do coronavírus pelas fezes

Pesquisa pode ser fundamental contra o Covid-19 e ajudar na vigilância de regiões afetadas pela doença

Ação rápida da Capitania dos Portos impede vazamento de mil litros de óleo na Baía de Guanabara

Projeto monitora o coronavírus no esgoto

Marinha evita tragédia ambiental no RioA noite da última segunda-fei-

ra (27) foi de muita tensão para a comunidade de pescadores que tira o sustento familiar dos pes-cados da Baía de Guanabara. Isso porque a balsa Rio Star, que car-regava cerca de mil litros de óleo, naufragou. Os trabalhadores pron-tamente divulgaram fotos e vídeos do naufrágio, solicitando ajuda de Movimentos Ambientais.

O Movimento Baía Viva soube do ocorrido e contatou a Capitania dos Portos com urgência. O risco ambiental e econômico que um possível vazamento de óleo poderia

causar nas águas seria inestimável. Até 21h de segunda-feira, nenhum vazamento havia sido registrado. Pouco tempo depois, a Marinha emitiu um comunicado afirmando ter mandando uma equipe de bus-ca e salvamento, e também para co-lher informações sobre o acidente. Como a barca não tinha tripulação, não houve feridos.

Na manhã de terça-feira (28), a Marinha informou que a situação havia sido resolvida e conseguiu evitar o vazamento de óleo nas águas da Guanabara. “Fomos in-formados que foi acionado imedia-

tamente o plano de Contingência Emergencial da Baía de Guanaba-ra, operado por empresas e pela companhia Docas, e da colocação de barreiras para a contenção de um eventual vazamento de óleo no mar. Solicitamos que logo cedo fosse mobilizada a presença de mer-gulhadores para averiguar as con-dições dessa embarcação que está submersa. Hoje de manhã, fomos informados pela Capitania dos Portos, da Marinha do Brasil, que felizmente não ocorreu vazamento de óleo no mar. Isso é muito im-portante porque temos visto uma

fragilidade na fiscalização por parte dos órgãos ambientais”, comentou Sérgio Ricardo, membro-fundador do Movimento Baía Viva.

O ambientalista, além de pa-rabenizar a eficiência da Marinha, aproveitou para cobrar medidas de proteção mais enérgicas para os responsáveis pela manutenção da Baía: “Além da presença de diversas comunidades pesqueiras, nós te-mos aqui um rico patrimônio que é a presença de espécies marinhas. Algumas delas já ameaçadas de ex-tinção, como a Tartaruga Verde, o Cavalo Marinho e, em especial, o

Boto Cinza, que é a espécie símbo-lo da cidade do Rio de Janeiro, mas que se encontra ameaçada de extin-ção por conta da intensa poluição, por lixo, esgoto e pela presença de óleo derramado no mar. A Baía está viva, mas precisa contar com a maior presença dos órgãos ambien-tais. Em especial o Instituto Esta-dual do Ambiente e também do IBAMA para fiscalizar e controlar as atividades e fontes de poluição”.

As causas e responsabilidades do incidente serão apuradas em Inquérito Administrativo instau-rado pela Marinha.

Conforme o CORREIO DA MANHÃ havia alertado em pri-meira mão, a análise das redes pluviais pode ser fundamental na hora de se prevenir contra o novo coronavírus. A Fundação Oswal-do Cruz (Fiocruz) e a Prefeitura de Niterói iniciaram na segunda (27), um projeto-piloto de moni-toramento do coronavírus na rede de esgoto da cidade.

Em uma primeira análise, feita há 15 dias, o vírus foi encontra-do em cinco das 12 localidades testadas. Um dos pontos altos da descoberta é que futuras pesqui-sas permitirão, por exemplo, uma maior vigilância em áreas com incidência da doença mesmo com pessoas que não apresentem os sintomas e ainda não tenham sido testadas.

Assim, a investigação na rede de esgoto sanitário da presença do material genético pode fornecer informações de casos positivos, incluindo assintomáticos e subno-tificados no sistema de saúde.

Essas evidências científicas de que o novo coronavírus esteja presente nas fezes, feitas pelos es-

pecialistas da Fiocruz, havia sido notada também por pesquisado-res do Instituto Nacional de Ci-ência e Tecnologia (INCT) ETEs Sustentáveis, que fica na Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG). No dia 2 de abril, o CORREIO DA MANHÃ publi-cou um estudo dos cientistas.

Na ocasião, o professor Carlos Chernicharo, da UFMG, alerta-

va para os riscos de contamina-ção que os funcionários da rede sanitária passavam e pedia que o governo tomasse medidas para preveni-los desses riscos: “Os pro-fissionais que atuam na área de esgotamento sanitário, como os que operam as redes coletoras e estações de tratamento, e os pes-quisadores que manuseiam amos-tras de esgoto não podem abrir

mão de medidas como a utilização de equipamentos de proteção in-dividual, a fim de evitar a ingestão inadvertida de esgoto, ainda que por meio da ingestão de aerossóis [partículas finíssimas, sólidas ou líquidas, suspensas no ar], para evitar a contaminação”, disse. O estudo alertava também para um possível risco de contaminação de moradores de regiões carentes,

sem acesso ao saneamento básico: “a replicação ativa do vírus no sis-tema gastrointestinal e a possibili-dade da transmissão via feco-oral ocorrer mesmo após o trato respi-ratório estar livre do vírus. [...] Há evidências também da presença de outros coronavírus (como o Sar-s-CoV e o Mers-CoV) nas fezes e de sua capacidade de permane-cerem viáveis em condições que facilitariam a transmissão via fe-co-oral [...] Como consequência, poderá aumentar a disseminação do Sars-CoV-2 no ambiente e a in-fecção da parcela mais vulnerável da população, que não tem acesso a infraestrutura adequada de sane-amento básico”, concluiu.

Na mesma época, o Movimen-to Baía Viva alertou para o Minis-tério Público do Rio de Janeiro, por meio de representação judi-cial, sobre a qualidade no equipa-mento destes trabalhadores.

Apesar disso, mesmo com os avanços das pesquisas, a Fiocruz, até o momento, não encontrou evidências de que o coronavírus possa ser transmitido através das fezes.

Reprodução

8 Quarta-feira, 29 de abril de 2020ECONOMIA

CORREIO ECONÔMICO

A concentração de venci-mentos de papéis e a recompra de títulos motivados pela crise provocada pela pandemia do coronavírus fizeram o endivi-damento do governo cair em março. A Dívida Pública Fede-ral, que inclui o endividamento interno e externo do governo fe-deral, recuou, em termos nomi-nais, 1,55% em março, na com-paração com o mês de fevereiro.

De acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional, o estoque passou de R$ 4,281 trilhões para R$ 4,215 trilhões. Este ano, a Dí-vida Pública Federal deverá ficar entre R$ 4,5 trilhões e R$ 4,75 trilhões, segundo o Plano Anual de Financiamento da dívida para 2020, apresentado em janeiro.

O governo federal autorizou o Ministério da Economia e o Instituto Nacional do Seguro So-cial (INSS) a realizarem chama-mento público para contratação temporária de pelo menos 8.230 servidores aposentados e milita-res inativos. O edital de seleção deverá ser publicado em até seis meses, mas a contratação está au-torizada a partir desta terça (28).

A contratação de militares inativos e de servidores civis fe-derais aposentados foi a forma encontrada pelo governo para reforçar o atendimento nas agên-cias da Previdência e reduzir o estoque de pedidos de benefícios em atraso no INSS. O número de pedidos com mais de 45 dias de atraso passa de 1,3 milhão.

A crise desencadeada pela pan-demia da Covid-19 causou impac-to intenso na atividade industrial, informa a Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Dados da Sondagem Indus-trial, referente ao mês de março, mostram que a queda da demanda forçou uma redução da atividade industrial, que levou a utilização da capacidade instalada ao menor nível já registrado na série, inicia-da em 2010.

O índice de utilização da ca-pacidade Industrial efetiva – em relação ao usual – recuou de 44,6 pontos em fevereiro para 31,1 em março. Esse indicador procura me-dir o quão a atividade industrial está aquecida. Valores abaixo de 50 pon-tos indicam atividade desaquecida.

Dívida públicacai paraR$ 4,15 tri

INSS já podechamar militares

Indústriadesaceleraem março

Os gastos do governo fede-ral com a compra simplificada de material de combate ao co-ronavírus superaram a marca de R$ 1 bilhão, conforme dados divulgados pelo Ministério da Economia. Desde 4 de fevereiro ocorreram 2.140 compras com dispensa de licitação, num total de R$ 1,1 bilhão.

Entre os itens comprados estão álcool em gel, sabonete líquido, termômetros digitais, máscaras e equipamentos mais complexos, como respiradores. A compra com dispensa de li-citação está autorizada pela Lei 13.979, sancionada em fevereiro.

Os órgãos que mais fize-ram compras com dispensa de licitações foram a Fundação Oswaldo Cruz, com R$ 436,09 milhões (39,76% do total gas-to); o Ministério da Saúde, com R$ 231,38 milhões (21,1%); e a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, com R$ 169,53

Material sem licitaçãoUnião compra equipamentos de saúde na base de nova lei

Divulgação

Álcool em gel, sabonete líquido e máscaras foram os itens mais comprados

milhões (15,46%).Alguns estados e o Distrito

Federal compraram materiais com dispensa de licitação, por meio do Sistema de Compras do Governo Federal. O Pará gastou R$ 27,53 milhões, seguido por São Paulo (R$ 220,2 mil) e pelo Paraná (R$ 30,4 mil). O Ama-pá desembolsou R$ 18,07 mil, e o Rio de Janeiro, R$ 10,2 mil.

Rondônia, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal também fi-zeram compras por esse modelo, mas em valores inferiores a R$ 1 mil, cada um.

A compra simplificada vale apenas para os materiais e os ser-viços relacionados ao enfrenta-mento da pandemia. As demais aquisições acontecem pelos pro-cedimentos tradicionais.

Ministério da Economia registraaumento do seguro-desemprego

Crédito pessoal

Novas empresas

Crédito a empresa

Bolsa de Valores

O Ministério da Econo-mia estima que, entre mar-ço e a primeira quinzena de abril deste ano, houve um aumento de 150 mil pessoas desempregadas no país. Os números são baseados nos pedidos de seguro-desemprego.

O agravamento da cri-se provocada pelo corona-vírus fez aumentar a fila de

As taxas de juros do cré-dito pessoas físicas caíram 0,6% em março e ficou em 46,1%, conforme dados di-vulgados pelo Banco Cen-tral. A concessão seguiu a mesma linha e caiu 11,4%, em comparação com o mês de fevereiro.

O Brasil registrou um aumento de 21,7% na abertura de empresas em janeiro, em relação ao mes-mo mês em 2019. Segundo dados da Serasa Experian, foram abertos 320.512 no-vos empreendimentos, um recorde para o período.

Para empresas, os ju-ros no crédito também caíram, 0,4%, chegando a 16,6% em março. Já a concessão registrou alta de 28,2%. Para o Banco Central isso é comum, já que há antecipação de fa-tura do cartão de crédito.

Depois de um longo período em alta, o dólar registrou queda no pregão desta terça (28). A moe-da norte-americana caiu 2,59%, fechando a R$ 5,51. O índice Ibovespa também subiu, 3,93%, fe-chando aos 81.312 pontos.

trabalhadores demitidos sem justa causa, que es-peram pelo benefício.

Porém, dados da se-cretaria especial de Pre-vidência e Trabalho mos-tram que, em comparação com o mesmo período do ano passado, as solicita-ções do auxílio recuaram 3,5% em março e 8,7% na primeira quinzena de abril.

Rovena Rosa/Agência Brasil

Numero de desempregados, porém, é menor em comparação com ano passado

10 Quarta-feira, 29 de abril de 2020

Ppppp

Cresce o nível de stress na população após isolamento social

Por *Por Elenilce Bottari (Agência de

Notícias EuroCom)

A Organização Mundial de Saúde vem defendendo o isola-mento social como única arma efetiva para se evitar uma explosão de casos e de mortes pelo covid19 no mundo. Defesa esta que põe também põe em risco a economia global e que no Brasil tem no pre-sidente da República seu maior opositor. Mas será que o perigo para a vidaestá apenas do lado de fora do portão? Dados do Minis-tério da Saúde põem em xeque esta premissa. Até o dia 10 de abril, morreram no país 946 pessoas vítimas da pandemia. No mesmo período, outros 70 mil morreram de infarto do miocárdio ou de Acidente Vascular Cerebral; 15 mil, por problemas pulmonares e 12 mil, vítimas de diabetes.

Se por um lado achata a curva da pandemia e evita um conse-quente colapso da rede hospitalar, o afastamento social não elimina os fatores de risco que mais provo-cam mortes no país. Uma pesquisa feita pela Clínica Med-Rio Che-ck-up, especializada em medicina preventiva, a pedido da Agência de Notícias EuroCom, comparou os dados de 300 clientes atendi-dos em suas unidades depois de 10 de março passado com o perfil de 4 mil clientes e mais de 150 mil check-ups realizados antes do iso-lamento. Os resultados revelaram que, em apenas 40 dias,os níveis de stress subiram de 78% para 85% entre executivos homens en-trevistados.

Outros dados confirmam os efeitos colaterais para a saúde-do isolamento. De acordo com a pesquisa, o sedentarismo entre os homens subiu de 50% para 80%; entre as mulheres saltou de 55% para 90%. Os casos de insônia

entre homens e mulheres subiram de 27% para 35%, enquanto que o consumo de álcool aumentou em 15%. O sobrepeso também aumentou de 62% para 75% dos casos. Ao mesmo tempo em que se descuidaram de uma alimen-tação adequada e das atividades físicas, aumentaram as soluções paliativas: a automedicação (an-siolíticos, antidepressivos e até re-médios para distúrbios da ereção) disparou, saindo de 20% para 40% dos casos.

—As pessoas estão chutando o pau da barraca — alerta o dire-tor-médico da Rio-Med Check--Up, Gilberto Ururahy, pioneiro da medicina preventiva no Brasil, para quem o estilo de vida é o principal inimigo da saúde.

— O stress crônico é o gran-de mal do homem moderno. Ele leva a problemas como diabetes, hipertensão, obesidade, todas as doenças que agora estão sendo

chamadas de “comorbidades”. São elas, pelo menos até agora, os fa-tores que mais contribuem para a letalidade do próprio covid19.

Por telefone, em sua clínica, Gilberto Ururahy analisou a si-tuação da pandemia no Brasil e no mundo e se mostrou otimista quanto a uma mudança de postu-ra da população cosmopolita na preservação de sua saúde. Crítico sobre a dosagem da medicação recomendada pela OMS, ele joga mais calor à fervura que levou à demissão do ministro da saúde Luiz Henrique Mandetta:

— É claro que o isolamento social é necessário, mas será ne-cessário para toda a população? Corremos o risco de viver uma pandemia da fome.

Como estava a saúde do brasilei-ro até a chegada do coronavírus?

Gilberto Ururahy – O gran-de mal é ostress crônico, que está

cada vez mais presente na popula-ção, principalmente nos grandes centros. E quais são os hormônios que um indivíduo sob stress libe-ra? São dois, adrenalina e o corti-sol. A adrenalina mexe com todo nosso sistema cardiovascular; o coração entra em taquicardia, o indivíduo fica mais antenado, li-gado. Já o cortisol deprime. Ele baixa nossas imunidades, espes-sa o nosso sangue, é um potente hormônio que interfere com a mucosa gastrointestinal. Aquelas pessoas com predisposição irão desenvolver gastrites, úlceras. Uma das grandes descobertas da Psiquiatria moderna foi o excesso de cortisol na depressão. E este stress crônico do dia a dia que conduz os indivíduos a um estilo de vida inadequado. Sob a ação desses dois hormônios, ele passa a dormir mal e a acordar cansado. Para enfrentar a agenda do seu dia a dia, lança mão de alimentos pou-cos saudáveis, com excesso carboi-dratos de alto índice glicêmico e usa doses de cafeína enormes. Também não pratica uma ativida-de física e antes de ir embora para casa depois do trabalho, passa com os amigos no bar para beber. Esse álcool ingerido para relaxar, de-pois de metabolizado, passa a ser uma grande barreira para o sono de qualidade. Este ciclo precisa ser rompido. Porque é este estilo de vida pouco saudável que leva os indivíduos às doenças crônicas. E são elas os principais fatores de risco para a vida.

Há um receio de que a doença no Brasil se mostre ainda mais letal em razão das favelas. Qual o seu prognóstico?

Gilberto Ururahy – Ainda não há informações suficientes sobre a doença. Nós estamos ten-do tantas surpresas, tem muitas

perguntas sem respostas. Por que no Norte da Itália, por exemplo, muitos idosos estão falecendo, enquanto no Sul, no mesmo país, quase não existe mortes? Por que muitos idosos estão morrendo nos estados do Norte dos Estados Unidos e no Sul o percentual é mí-nimo? Enquanto Nova Iorque é o epicentro da pandemia, o vizinho México está com 300. Em relação ao Brasil, da mesma forma que no México, a população brasileira é ainda jovem. Temos também uma população de idosos de até 15% ainda ativa. Eu não saberia definir a quantidade de idosos presentes em comunidades carentes, mas é pequena até porque, se o homem é fruto do meio em que vive, como o ser humano vai viver muito em um lugar de esgoto a céu aberto, com balas perdidas, com balas ati-vas, viroses, tuberculoses? As fave-las são muito populosas, mas por jovens. Por isso, possivelmente te-remos algumas surpresas com re-lação ao Brasil. Além disto, alguns dizem que o calor e a umidade matam o vírus. O Brasil é quente e úmido, diferente da Europa onde o clima é frio e seco. Então o clima é um parâmetro importante? Só o tempo vai dizer.

Quais os efeitos para a saúde do isolamento social prolongado?

Gilberto Ururahy – O homem é fruto da emoção. Nós não pode-mos viver o dia a dia sem emoção. As emoções definidas por Darwin e que estão na humanidade inde-pendentemente de culturas são o medo, a tristeza, o desgosto, a surpresa, a raiva e a alegria. O cé-rebro, o sistema mais complexo do corpo, pensa a partir das emoções e não da quantidade de informa-ções armazenadas. As emoções são tão inerentes ao ser humano que estão inscritas no nosso pa-

ENTREVISTA/GILBERTO URURAHY/DIRETOR-MÉDICO DA RIO-MED CHECK-UP

É claro que o isolamento social é necessário, mas será necessário para toda a população?

Pesquisa revela aumento de casos de hipertensão, diabetes, sobrepeso, insônia e automedicação, entre outros fatores de risco para doenças crônicas

Quarta-feira, 29 de abril de 2020 11

trimônio genético. Mas hoje vive-mos um momento em que a única emoção que não está presente é a alegria. Vivemos um tempo de incertezas que geram nas pessoas ansiedade, medo, pânico, triste-zas. Estas emoções negativas estão tendo um papel fundamental na gênese de doenças cada vez mais agressivas. De acordo com nossas individualidades, este emocional em ebulição pode provocar em você uma gastrite; em mim, hi-pertensão; no outro adiante, um AVC ou um infarto. O agravante é que isolamento social prolonga-do amplifica isto, porque não nas-cemos para viver isolados.

Como amenizar estes efeitos desta situação na população infanto-juvenil? Que tipo de prevenção se pode fazer nestes casos?

Gilberto Ururahy – As crian-ças deveriam estar nas escolas, mas houve esta imposição da OMS que alguns países europeus abraçaram outros não. O Brasil seguiu a onda do isolamento, então as crianças estão pagamento fortemente, em seus emocionais, em seus físicos, porque estão engordando, estão hiperativas, estão com medo. Os pais deveriam buscar estimular as crianças para reduzir estes da-nos, estimulando-as a fazer uma pequena ginástica no dia a dia, a comer uma alimentação pobre, paupérrima em açúcar, porque o açúcar é um estimulante extrema-mente forte para a hiperatividade, a agressividade. Os pais deveriam buscar cursos online, criar ativida-des lúdicas dentro de casa, como, por exemplo, a construção de uma árvore genealógica com fotos da família, aguçar a criatividade delas com prática de artes e garantir um horário adequadodo sono, sem mexer no relógio biológico das crianças. Este conjunto de ações aparentemente simples precisa ser praticado. Já, entre os adoles-centes a questãoé mais complexa porque já têm as suas tribos. Esta é uma faixa etária em que os jovens começam a se robotizar, se roboti-zam na alimentação, no vestuário, nos dialetos e a palavra dos pais não tem grande valor. Mas, ainda

assim, precisam fazer atividades físicas. E não existe nada mais de-mocrático do que a atividade físi-ca. Qualquer um pode fazer, é só ter vontade.

Mas como evitar que jovens não transmitam a doença para os idosos, principais vítimas da le-talidade da doença?

Gilberto Ururahy — O que fez o Japão? Pôs as crianças nas escolas, mandou os adultos sem sintomas trabalharem e protegeu seus idosos. E lá, naquela ilhota com 125 milhões de habitantes, 28% da população tem mais de 65 anos. São mais de 35 milhões de idosos. E quantos morreram víti-mas de Covid19? 148. Nos Esta-dos Unidos já são mais de 34.700 mortos. O que faz a diferença? A diferença está na educação. O povo japonês é educado, disci-plinado, cuida muito bem de sua saúde e protege seus idosos. No Brasil, hoje botamos toda a po-pulação no mesmo saco, confina-mos todo mundo, como se todos fossem apresentar virose. O ideal é testar a população, mas o Brasil tem teste para 210 milhões de ha-bitantes? Então voltamos de novo a Darwin e ao conceito de seleção natural. Como acontece com toda pandemia, essa também vai pas-sar e, ao final, verificaremos que a maior parte da população será ne-gativa para o covid19. Isto porque a medida que a população contrai o vírus, faz a imunização natural. Deveríamos observar também outras experiências de países que vêm dando certo e que não estão quebrando tanto suas economias. As pessoas estão polarizando mui-to sobre o qual a maior prioridade, a saúde ou a economia. Mas não há a hipótese de saúde adequada para a população sem uma econo-mia razoável. Corremos o risco de vivermos um problema ainda mais grave após o coronavírus: a pande-mia de fome.

Qual sua receita então para o Rio de Janeiro?

Gilberto Ururahy — O iso-lamento social é importante para você preservar evitar que milhares de pessoas busquem os hospitais

concomitantemente, porque não tem meios para todo mundo. Então o objetivo é achatar a cur-va de contaminação, mas quan-do você achata a curva, estende a doença por um tempo maior. Mas até quando? Nenhum povo pode ficar enclausurado ad ae-ternum, o ser humano necessita de liberdade. Então o que fazer para proteger nossos idosos? Nós, no Rio de Janeiro, podemos fazer isto utilizando a hotelaria que está toda vazia. Vamos mapear os ido-sos de comunidades carentes, que não têm acompanhantes, que não têm família ou mesmo aqueles que vivem em asilos, e transferi--los para esta hotelaria disponível por um período. Isto a Prefeitura pode fazer. Passou a pandemia? A vida retoma. A pandemia vai aca-bar e a vida vai sempre se impor, não existe outro caminho. O que não é saudável é se manter pessoas trancadas em casa, olhando o no-ticiário que está cada vez mais tó-xico, porque só fala sobre mortes,-vivendo só emoções negativas, que vão gerando medo no emocional e adoecendo o corpo.

Quem no Brasil se trata preven-tivamente? Este é um fator cul-tural ou imposição de empresas?

Gilberto Ururahy – No Bra-sil, cada vez mais as pessoas es-tão buscando prevenção porque já estão inseridos no contexto cultural dos brasileiros os check--ups médicos. Como surgiu? O governo americano na década de 60 iniciou seus programas espa-ciais, mas o homem só poderia ser enviado ao espaço em per-feitas condições de saúde. Daí surgiu a palavra check-up. No início, quando começamos nos-so trabalho em 1990, a absoluta maioria dos nossos clientes eram empresas multinacionais que já traziam das suas matrizes a cul-tura da prevenção, hoje 50% das empresas que nos procuram são nacionais. Isto porque cada vez mais o trabalho exige resultados, as agendas são quase que inadmi-nistráveis, as cobranças são per-manentes. Se você olhar para a mulher, 40% dos lares brasileiros são comandados por mulheres,

que tem suas casas, seus filhos, seu trabalho, seus bancos univer-sitários. Então precisamos estar com a nossa saúde em dia. Hoje é inadmissível o homem moderno se deparar com a surpresa de uma doença em estágio avançado. Pas-sou a ser cada vez mais cultural no mundo a prevenção.

O senhor faz parte do conse-lho de saúde da Câmara de Co-mércio França-Brasil e recebeu Ordem Nacional do Mérito francesa por sua atuação. Como funciona a prevenção no país?

Gilberto Ururahy — A saúde pública na França ela é comple-tamente socializada. O estado orienta sua população em ações preventivas, como alimentação saudável, atividade física. Eles pri-vilegiam muito legumes, frutas. Estimulam a população a cami-nhar. Raramente você hoje vai se deparar com um francês gordo. Eles se alimentam bem, eles cami-nham bem e devem dormir bem. A prevenção lá é pública.

O senhor indicaria algum mode-lo de saúde preventiva no mun-do que pudesse ser adotado em um país continental e com tanta diversidade como o brasileiro?

Gilberto Ururahy — O padrão ideal é sobretudo uma questão de educação. Saber o que faz bem e o que faz mal à saúde e ter discipli-na. Ações simples como ativida-de física, alimentação adequada, vacinação em dia. Quem pratica atividade física regular e se ali-menta corretamente seguramente não é obeso, dorme bem e tem sua imunidade mais fortalecida. Esta é a receita para a longevidade com autonomia. Nós atendemos a quatro mil clientes, muitos como mais de 80 anos de idade, alguns com 94, 96 anos, que chamamos de verdadeiros jovens porque são indivíduos experientes, mas com a saúde em dia.

Muitos hospitais e clínicas so-freram esvaziamento em razão do medo de contaminação por parte da população. Como a Med-Rio se preparou para en-frentar a pandemia?

Gilberto Ururahy — O que nós vimos e continuamos a obser-var foi uma demanda por preven-ção crescer. E a gente sabe que é o indivíduo que faz uma empresa crescer. E todos sabem também que saúde é o combustível da vida. Sem saúde, o homem não cresce em suas dimensões. Hoje nós te-mos em torno de 400 empresas clientes, de grande e médio portes, e estamos no mercado há trinta anos, com mais de 150 mil check--ups realizados em homens e mu-lheres. O que observamos ao longo dos 30 anos e agora com o corona-vírus de forma mais intensa.Por esta razão estamos funcionando regularmente com nossas clinicas, fazendo todos os exames natural-mente. Claro que, em respeito ao nosso meio interno, em respeito ao nosso público externo, tomamos todas as medidas de segurança necessárias. Todos os nossos pro-fissionais passaram por testagem, não entra nenhum cliente com sintomatologia, em todos os casos aferimos a temperatura, todos os profissionais trabalham com seus EPIs (equipamento de proteção individual). E isto é importante. Na semana passada identificamos em um executivo de 50 anos, a obs-trução de suas coronárias. Passou por um procedimento simples de colocação de stents e está ótimo. Salvamos sua vida.

O que muda após a pandemia?

Gilberto Ururahy— Eu sou otimista. Acredito que as pes-soas valorizarão cada vez mais a sua saúde. As pessoas vão querer saber quais suas doenças crôni-cas ou como evitá-las. Este será o grande salto de qualidade na saúde do brasileiro. Como obter um estilo de vida saudável? Como promover a sua saúde. Com cer-teza vai haver uma busca por uma saúde de qualidade. Além disto, acredito que tanto nas residências como no âmbito corporativo ha-verá também mudanças de com-portamento. As pessoas tenderão a se aproximar mais, a serem mais amáveis e respeitosas para com os próximos, como aconteceu em países com nível de educação mais elevado.

12 Quarta-feira, 29 de abril de 2020

CORREIO NO MUNDO

INTERNACIONAL

Paraguai adia volta às aulas para dezembro

Surf adiado

Abertura das lojas

Susto no Canadá

Morreu ou não?

O ministro da Educa-ção e Ciências do Pa-raguai, Eduado Petta, anunciou que as aulas presenciais ficarão sus-pensas até dezembro deste ano para evitar a propagação do novo co-ronavírus. A decisão afe-ta cerca de 1,4 milhão de estudantes do ensino pú-blico e privado. No final de março, a Organização

A World Surf League (WSL) anunciou a decisão de adiar todas as competi-ções até pelo menos o final de junho. A organização afirma que vai monitorar a situação da pandemia de covid-19 para tomar novas medidas em breve.

A França anunciou que todas as lojas do país, exce-to bares, restaurantes, cine-mas, teatros e cafés, pode-rão voltar a suas atividades normalmente a partir do dia 11 maio. Essa medida visa que os franceses aprendam a “conviver com o vírus”.

A mãe do primeiro-minis-tro Justin Trudeau, Margaret Trudeau, de 71 anos foi in-ternada após inalar grande quantidade de fumaça em um incêndio que atingiu o prédio em que ela mora. Ela não sofreu ferimentos e não deve ter seqüelas.

Após boatos de que o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, tivesse mor-rido, o governo do país di-vulgou uma nota afirman-do que ele está bem. A Coreia do Sul disse que ele pode estar afastado para evitar contrair o Covid-19.

das Nações Unidas (ONU) estimou que mais de 850 milhões de crianças e jo-vens em todo o mundo estavam com as aulas suspensas devido à pan-demia. Os alunos estão tendo aulas a distância, pela internet. De acordo com o último levantamen-to do governo, essas fer-ramentas alcançam 88% de funcionalidade.

Reprodução

Mais de 1,4 milhão de alunos serão afetados pela decisão

A retirada das restrições adotadas para combater o co-ronavírus na Espanha vai se-guir quatro etapas sem datas pré-estabelecidas, anunciou na terça (28) o premiê espanhol, Pedro Sánchez.

“Teremos que aprender a nova normalidade. Se gostáva-mos de comer uma paella no res-taurante ao lado de casa, agora teremos que buscá-la no restau-rante e comer em casa”, disse ele.

Sánchez afirmou que o país passará por uma recessão grave, mas “a conta não será paga pelos de sempre”. O premiê, que é se-cretário-geral do Partido Socia-lista Operário Espanhol (PSOE), disse que vai pleitear a criação de tributos sobre operações digitais e transferências financeiras e pre-

tende implantar uma renda míni-ma para os mais pobres.

No país como um todo a primeira etapa começa em 4 de maio, e cada fase durará pelo menos duas semanas.

Mas cada província só pas-sará para a fase seguinte se atin-gir indicadores em relação aos sistemas de saúde, ao contágio de coronavírus e à situação da economia.

Segundo o premiê, uma região poderá até retroceder à fase anterior, caso seus núme-ros piorarem. “Não podemos pôr a perder o que conquista-mos com o sacrifício dos pro-fissionais de saúde, dos idosos e das crianças. Vamos recuperar a atividade palmo a palmo, se mantivermos a disciplina.”

Com a crise do novo corona-vírus, os campeonatos nacionais de futebol foram diretamente afe-tados. Com exceção da Bielorrús-sia, nenhum outro torneio a nível nacional está acontecendo. Na Bélgica, a federação belga optou por encerrar a competição e decla-rar o Brugge, que era líder, como campeão. Na Argentina, o Boca Juniors já havia sido campeão. O campeonato foi encerrado e a AFA excluiu o rebaixamento por dois anos. O Francês foi cancela-do, assim como o Holandês, que não teve campeão, rebaixado e nem acesso para a série A. O caso mais extremo foi no México, onde a federação baniu acessos e rebai-xamentos por seis anos. A CBF ainda não se posicionou.

Espanha anuncia 4 fases para desconfinamento

Os campeonatos nacionais pelo mundo

Os EUA registraram 1 mi-lhão de casos confirmados de Covid-19, marca inédita entre os 185 países impactados pela pandemia. O patamar alarmante foi atingido 12 dias depois que o presidente Donald Trump anun-ciou um plano para a reabertura econômica dos estados america-nos.

Os EUA já eram líderes em diagnósticos e número de víti-mas em decorrência do corona-vírus desde 11 de abril, quando ultrapassaram a Itália e se tor-naram o epicentro da doença, mas romper a barreira do milhão conferiu novos contornos à situ-ação da crise no país.

Segundo dados da Univer-sidade Johns Hopkins, os EUA registraram na terça 1.002.498

casos e 57.266 mortes por Covid-19. O segundo colocado é a Espanha, com 232.128 diag-nósticos e 23.822 mortes. No mundo, são 3.074.948 infecta-

Recorde negativo nos EUAPaís tem 1 milhão de infectados pelo novo coronavírus

Reprodução

O povo está morrendo e Trump pensa na economia

dos e 213.273 vítimas no total.Os números podem ser ainda

maiores, já que não há um pro-grama de teste considerado sufi-ciente para indicar o estágio das transmissões em diversos países, inclusive nos EUA.

As mortes entre americanos

quase dobraram em dez dias e chegaram a mais de 57 mil em meio a protestos incentivados por Trump para a reabertura do país.

O presidente se preocupa com o impacto que os danos econômicos da pandemia terão sobre sua campanha à reeleição - 26 milhões de pessoas já pedi-ram acesso ao seguro-desempre-go nos EUA desde março e mais de 70% dizem que suas rendas diminuíram com a crise.

No dia 16 de abril, Trump então anunciou as diretrizes para a reabertura econômica, deixando na mão dos governa-dores a decisão sobre os prazos para a retomada das atividades. Em diversas regiões, como Nova York e Califórnia, a curva dos casos e mortes começou a cair nos últimos dias, mas estados do meio-oeste e do sul do país ainda não chegaram no pico da curva e enfrentam situações graves.

14 Quarta-feira, 29 de abril de 2020

CORREIO CULTURALPor Claudio Leal (Folhapress)

Preso por porte de maconha, aos 26 anos, Waly Salomão era um poeta inédito ao entrar numa cela do pavilhão dois do presídio Carandiru, em São Paulo. O con-finamento de 18 dias, entre janei-ro e fevereiro de 1970, renderia anotações febris. “Este texto -construção de um labirinto ba-rato como o trançado das bolsas de fios plásticos feitas pelos presi-diários. Um homem forte digere os atos de sua vida (inclusive os pecados) como digere o almoço”, escreveu Waly no cubículo.

A linguagem experimental partia do mito do dilúvio e mistu-rava diário, prosa poética, ensaio e poema. Se o início era cosmogô-nico, o fim remetia ao microcos-mo da cadeia: “Vê só, vê só: um caranguejo faz xixi no urinó”.

Há 50 anos o texto “Aponta-mentos do Pav Dois” nascia como o pilar do livro “Me Segura Qu’Eu Vou Dar um Troço”, lançado em 1972 pela editora José Álvaro e relançado em 2016 pela Compa-nhia das Letras. Escrito na adver-sidade, nutriu-se não só das expe-riências no xadrez, mas também da tradição poética e filosófica lida e relida por Salomão, um dos mais influentes poetas da geração despontada na década de 1970.

Em tempos de confinamento mundial, a obra segue como um caso clássico de liberdade con-cedida pela criação literária. O humorista José Simão foi um dos primeiros leitores do texto depois da saída de Salomão do cárcere.

“Era tudo escrito com uma caneta, num caderno, em garran-cho. Era terrível, poético, bíblico, cósmico, numa linguagem única. Fiquei fascinado. Tive essa ale-gria na vida: ter sido amigo ínti-mo de Waly Salomão com aquele bocão”, conta Simão.

A prisão do escritor baiano ocorrera numa blitz policial na Avenida São Luís, ao ser flagrado

Onde estava Waly há 50 anos?Texto de poeta baiano, escrito na cadeia, mudou a contracultura

Reprodução

Waly Salomão nos 1970: até ser preso o poeta baiano era um autor inédito

com um punhado de maconha. Desde a dispersão do tropicalis-mo, o artista se hospedava com a cantora Gal Costa nos Jardins e, a partir do final de 1969, no centro de São Paulo, no mesmo prédio onde residiram Dedé e Caetano Veloso.

“Naquela época todos nós éramos como uma família. Quando Caetano e [Gilberto] Gil foram exilados, eu continuei em São Paulo por um tempo lon-go. Eu morava com o Waly e mais uma turma grande. Tínhamos uma casa alugada na rua Minis-tro Rocha Azevedo”, lembra Gal Costa.

No documentário “Pan-Ci-nema Permanente”, de Carlos Nader, Salomão fala sobre o im-pacto da vivência no Carandiru: “O fato de eu ter sido encarcera-do, ver o sol quadrado, aquilo foi uma concentração até espacial do meu desejo e eu consegui fazer meu primeiro texto, consegui jorrar daqui de dentro. Quer di-zer, o que é prisão virou liberação de forças”.

“Na cadeia tudo é proibido e tudo que é proibido tem. Cria-ção = encaixar tudo e não se de-cidir por coisa alguma”, definiu o poeta nos apontamentos.

A fauna da penitenciária temperou a prosa apocalíptica de Salomão. “O cara estuprado por

seis. [...] Os bicheiros esconden-do comidas cigarros. O filho do bicheiro que se entregou para li-vrar o pai e estava morrendo de dor de garganta. O assaltante ba-leado que teve acessos violentos de dor. A descida ao inferno do poeta. Estou ouvindo Roberto Carlos, Ray Charles, Georgia, Gil e Caetano Charles, anjo 45”, descreveu.

Para livrá-lo do Carandiru, o ator Sérgio Mamberti mobilizou um advogado de presos políticos, Iberê Bandeira de Mello, e se ofe-receu para depor.

No final de 1971, o poeta brilharia como diretor do show “Fa-Tal: Gal a Todo Vapor”, tor-nando-se um dos agitadores do desbunde em Ipanema, numa trupe formada entre outros por seu irmão, Jorge Salomão, Tor-quato Neto e José Simão.

O verso “Eu não preciso de muito dinheiro”, da canção “Va-por Barato”, musicada por Jards Macalé, espelha a vida nômade e franciscana de Salomão. Em São Paulo, os portos de seu vapor eram as casas de amigos como Maurício e Lucila Pato, Erandy Albernaz e Regina Boni, além de Gal. Nem o Carandiru o en-quadrou. Em novembro de 1972, voltou a ser preso na capital pau-lista. O poeta levava outra vez uma erva no bolso quase vazio.

Chico Buarque, em vídeo, agradece portugueses pelo Prêmio camões

GloboNews sextou Sábado amargo

Chico Buarque agrade-ceu em vídeo o recebimento do Prêmio Camões, princi-pal troféu literário da língua portuguesa. A cerimônia de entrega aconteceria no últi-mo sábado (25), mas a pan-demia impediu que o evento acontecesse. Foi no mesmo dia, em 1974, que aconte-ceu Revolução dos Cravos em Portugal, que pôs fim ao Estado Novo português.

“Nesta tarde, deixarei na janela cravos vermelhos e cantarei em alto e bom som ‘Grândola, Vila Morena’, de Zeca Afonso”, disse Chico, referindo-se à canção-sím-

A GloboNews divul-gou nesta terça-feira (28) que, pela primeira vez na história do canal, al-cançou a audiência de 5 milhões de espectado-res em uma sexta-feira. O feito aconteceu no dia em que o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro pediu demissão e, mais tarde, o presidente Jair Bolsonaro falou à nação.

Não foi só Gabriela Pu-gliesi, que perdeu contratos e foi criticada por fazer uma festa em sua casa no último sábado (25), durante a qua-rentena. A influenciadora di-gital Mariana Saad, também sente os prejuízos comerciais por participar do encontro. A Seara anunciou, por meio de suas redes sociais, que rom-peu a parceria comercial que tinha com Saad.

bolo da derrubada da dita-dura salazarista e que no Brasil fez sucesso na voz de Nara Leão.

“Se possível, peço ainda a vocês que guardem um pensamento aos seus ir-mãos brasileiros, que estão, mais do que nunca, neces-sitados de um cheirinho de alecrim”, pediu Chico aos portugueses.

O diploma do prêmio é assinado pelos presiden-tes do Brasil e de Portugal, mas Jair Bolsonaro deu a entender que não vai firmar o documento concedido ao compositor.

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Chico Buarque agradeceu ao povo português pela premiação, que não é reconhecida pelo governo brasileiro

CULTURA

Quarta-feira, 29 de abril de 2020 15

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Olha ele aqui outra vez

Um ano sem a ‘Madrinha’ do SambaCanal BIS exibe nesta quinta documentário sobre Beth Carvalho

CULTURA

Por Affonso Nunes

No dia em que se completa um ano sem Beth Carvalho,30 de abril, o Canal BIS exibe um documentário exclusivo sobre a vida e a carreira de uma das maiores artistas do gênero, con-siderada a Madrinha do Samba por revelar gerações de novos sambistas, entre os quais Zeca Pagodinho. O documentário “Beth Carvalho”, que também estará disponível no BIS Play, vai ao ar a partir das 22h. Mes-clando depoimentos da própria cantora e de convidados, como Martinho da Vila, Roberto Me-nescal e Arlindo Cruz, o filme traça o início de sua trajetória e relembra algumas performances memoráveis. Programa imperdí-vel para se compreender a traje-tória de uma nossas grandes ar-tistas da MPB, Pois Beth nasceu no samba, mas transcendeu a ele.

Nascida num berço de bam-bas lendários, o bairro da Gam-boa, na zona portuária do Rio,

Por Aquiles Rique Reis*

Hoje, o CD a ser conferido por nós é “Achados & Perdidos” (inde-pendente), o novo álbum do cantor e compositor paulistano Luiz Millan. Desde o primeiro disco lançado em 2011, Millan já revelara ser do ramo: bom compositor e letrista inspirado, transformara o seu álbum de estreia, “Entre Nuvens” (igualmente inde-pendente), num belo cartão de visita. Foi quando senti que a sua passagem pela grande porta da música brasilei-ra de qualidade se mostrava aberta.

Pois bem, leitores, foi aí que eu quebrei a cara. Conferindo o relea-se do “Achados & Perdidos”, vi que me perdera e não achei nada, na-

Beth chegou aonde nenhum sam-bista jamais sonhou: o espaço si-deral. Em 1997, sua interpretação para “Coisinha do Pai”, de Jorge Aragão, foi escolhida pela Nasa para “acordar” o robô Sojourner, enviado em missão à Marte.

Em artigo publicado, por ocasião de sua morte, o jornalista e pesquisador Fred Soares desta-ca que a artista já bebia na fonte do samba desde os anos 1960, quando iniciou sua trajetória como cantora. “Foi no começo dos 1970 que ela ganhou noto-riedade depois de se destacar em dois festivais de música, em que fez de ‘Caminhada’ e ‘Andança’ sucessos cantados até hoje. Can-ções românticas, mas que lhe serviram como trampolim para que começasse a se realizar como sambista. A fama conquistada na TV permitiu que ela chegasse às rodas de samba não mais apenas como uma admiradora. Pelas mãos do ex-jogador e técnico do Vasco Acyr Portela, atravessou o Túnel Rebouças e foi garimpar

dica de nada. Vi que entre os CDs de 2011 e o atual (2020), Millan lançou outros dois álbuns... “O Dia Em Que São Paulo Floresceu” (2014) e “Dois Por Dois” (2018).

Brincalhão: não me conformo, quer dizer que Luiz Millan lançou mais dois CDs e não me avisou? Deixa estar, tenho o coração gran-de o suficiente para não me deixar abater. Aliás, não sei se o que me deixou mais arrasado foi o Millan não ter me dito sobre os dois ou-tros CDs ou a quarentena que me prende dentro de casa. Falando sério? Claro que foi a quarentena!

Poxa, Millan, pense bem, a dis-tância entre o lançamento de CDs mexe com a ansiedade de quem tor-

novos talentos nos terreiros do subúrbio. Graças a seu ouvido apurado e olhar certeiro, trouxe para perto de si jovens até então desconhecidos e passou a gravar seu repertório. Entres eles, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Luiz Carlos da Vila, Almir Guineto e Arlindo Cruz. O reconhecimen-to veio numa alcunha, da qual ela sempre se orgulhou: Madri-nha”, descreve Fred Soares.

Ao longo de sua carreira, Beth fez gravações históricas com diversos mestres do sam-ba, como Nelson Cavaquinho, Cartola, Nelson Sargento e Car-los Cachaça. Em 2009, Beth foi homenageada no Grammy Lati-no, em Las Vegas. Na ocasião, a cantora foi a primeira sambista a receber um dos mais importan-tes prêmios da cerimônia, o Life-time Achievement Awards. Mais além de toda sua consagração no constelação do samba e da músi-ca popular brasileira, esta man-gueirense e botafoguense fervo-rosa, era desde a juventude uma

ce para que você logo se torne um nome para estar lado a lado com os maiores. Mas, é claro, há tempo de sobra para quem tem o seu talento.

Brincadeiras e ironias à parte, ao ouvir algo novo, no caso o belo trabalho de Luiz Millan, me veio à cabeça os versos finais de Morte e Vida Severina, do poeta pernam-bucano João Cabral de Melo Neto: “(...) É belo porque corrompe, com sangue novo, a anemia/ Infecciona

combativa militante p o l í t i -ca. Foi uma das artistas m a i s atuantes nas gran-des campa-nhas cívicas pela redemocra-tização do país, tais como pela Anistia, em 1979, e as Diretas Já, em 1984.

Beth foi uma das primeiras ar-tistas a furar o cerco da censura ao gravar, em 1981, o samba “Vira-da”, uma crítica direta e sem sub-terfúgios à carestia e hiperinflação que afetava as camadas mais po-bres da população. “O que adian-ta eu trabalhar demais / Se o que eu ganho é pouco / Se cada dia eu vou mais pra trás, /Nessa vida le-vando soco, / E quem tem muito tá querendo mais, / E quem não tem tá no sufoco, / Vamos lá ra-paziada, / Tá na hora da virada, /

a miséria, com vida nova e sadia/ Com oásis, o deserto, com ventos, a calmaria”. A emoção é inevitável...

Voltando à vaca fria: assim como eu tive o prazer de receber o seu álbum de estreia e gostei do que ouvia, o mesmo se dá agora, sem dúvida alguma, com “Acha-dos e Perdidos”.

Produzido por Luiz Millan e Michel Freidenson, este que tam-bém criou os arranjos, tem a par-ticipação da ótima cantora Giana Viscardi. Um grupo de dez ins-trumentistas extraclasse se mostra envolvido pela concepção artística idealizada por Millan.

Para seguir seu rumo, Luiz Millan concebeu as faixas como o ourives trata a joia rara – e é aí que o álbum se torna uma caixinha de música, daquelas que, quando le-vantamos a tampa, surge uma bai-

Vamos dar o troco”, cantou Beth nos primeiros versos da canção que logo caiu na boca do povo e tornou-se um de seus maiores sucessos. Seu autor era Noca da Portela, sambista filiado ao Parti-do Comunista Brasileiro (PCB), que, graças ao que ganhou de direitos autorais conseguiu, en-fim, comprar sua casa própria no subúrbio de Engenho de Dentro, onde vive até hoje. Mais uma vez, Beth foi madrinha.

larina rodopiando (minha mãe ti-nha uma dessa), ou um fuxico, com a magia da mutação heterogênea.

Apreciei o assovio em “Choro Para Lisboa” (Maurício Detoni e Luiz Millan), bem como gostei muito da flauta e do cello no tema instrumental “Dissonâncias” (Luiz Millan) e da delicadeza amorosa da letra e do som do flugelhorn (Bru-no Soares) em “Movimento” (LM e Marília Millan), e fiquei bem sur-preso ao sacar que a voz de Millan está mais firme e apurada do que estava no primeirão...

Ô Millan, quando for lançar outros CDs, me avisa, valeu?

PS. As brincadeiras são pro-porcionais ao grande valor que têm os álbuns de Luiz Millan.

*Vocalista do MPB4,

escritor e crítico musical

CRÍTICA/DISCOS/ACHADOS & PERDIDOS

Partideira, Beth Carvalho deu voz ao talento de uma geração de talentosos sambistas como Zeca pagodinho, Almir Guineto e Luiz carlos da Vila, entre outros

16 Quarta-feira, 29 de abril de 2020COMPORTAMENTO

Os perigos da auto-suplementaçãoBusca por melhora na imunidade pode ser prejudicial, alerta especialista

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Desde o início da pan-demia, muito tem se falado sobre os bene-

fícios de algumas vitaminas e minerais para a manutenção da imunidade, o que provocou uma corrida às farmácias, em busca de suplementos. Em muitas lojas, o estoque de vitaminas C e D, por exemplo, anda zerado.

Porém, fazer suplementação de forma indiscriminada, sem qualquer orientação médica ou nutricional pode ser um risco para a saúde. Taissa Müller, nu-tricionista do laboratório e clí-nica Lach, alerta que qualquer suplemento, em excesso, pode fazer mal à saúde.

Ela ressalta também que a maioria dos nutrientes pode ser alcançado com uma alimentação saudável e equilibrada, e que al-

gumas vitaminas e minerais só podem ser suplementadas de-pois de um exame de sangue.

A vitamina C, encontrada em laranja, caju, acerola, limão e diversos outros alimentos, me-lhora a absorção de ferro e forta-lece o sistema imunológico. Só que, se ingerida em excesso por um longo período, pode afetar o funcionamento dos rins e até mesmo interferir na ação de me-dicamentos.

O zinco, encontrado em car-nes, castanhas, nozes e sementes como chia, abóbora e girassol, combate o cansaço físico e men-tal, aumenta os níveis de energia, melhora a memória e regula a produção de diversos hormô-nios. Contudo, ingerido em grandes quantidades, pode acar-retar sintomas como um sabor

metálico na boca, dores de cabe-ça, vômitos, diarreia e também reduzir a eficácia de antibióticos e de outros medicamentos.

Já a vitamina D, além da imu-nidade, é associada à diminuição

de cansaço, fraqueza muscular e como auxiliar no combate a doenças respiratórias. Taissa ex-plica que taxas elevadas dessa vi-tamina podem causar mal-estar, aumento do número de cálcio no

sangue e até mesmo problemas renais.

Portanto, o ideal é procurar um especialista para avaliar e re-ceitar o que for necessário, nas doses certas para cada indivíduo.

Suplementosde formaindiscriminadaindicam um risco à saúde

Quarta-feira, 29 de abril de 2020 17

1 - O coronavírus pode permanecer no organismo

de pessoas consideradas recu-peradas da Covid-19 por um tempo ainda desconhecido, reporta Ana Lucia Azevedo. A afirmação é de um dos raros es-pecialistas em coronavírus do Brasil, Eurico Arruda, profes-sor titular de virologia da Fa-culdade de Medicina da USP em Ribeirão Preto. Ele adverte que apenas ter anticorpos não significa que uma pessoa este-ja imune à Covid-19. Arruda diz que a carteira de vacinação, provavelmente com uma vaci-na com vírus inativado, será o passaporte de imunidade pos-sível contra o Sars-CoV-2. (...) (O Globo)

2 - A pandemia da co-vid-19 vem nos mos-

trando cada dia um novo aprendizado. Desde que a possibilidade de tratar com compostos derivados da hi-droxicloroquina e cloroquina associados a antibióticos (no caso, a azitromicina) assumiu lugar de destaque na mídia in-ternacional, notamos erros e distorções acerca desta medi-cação. Uma nova possibilidade terapêutica denominada nita-zoxanida, fármaco de ação an-tiviral e antiparasitária, pode trazer luz nova, sobretudo em casos moderados da doença, reporta Sérgio Cimerman.(...) (O Estado de S. Paulo)

3 - As mulheres estão mais isoladas e demons-

tram maior preocupação com a crise do coronavírus, revela pesquisa Datafolha. Elas tam-bém declaram maior rejeição ao presidente Jair Bolsonaro, que em diversas ocasiões mi-nimizou a gravidade da pan-

demia, reporta Angela Pinho. O levantamento foi feito com 1.503 brasileiros adultos com celular em todos os estados do país. Entre as entrevistadas, 60% dizem que só estão saindo de casa só quando é inevitável, e 20%, que não saem de jeito nenhum. Entre eles, a propor-ção é de 46% e 13%, respec-tivamente. (...) (Folha de S. Paulo)

4 - Há abismo entre anún-cios e gastos, escreve José

Roberto Afonso e Élida Pin-to. Estados e municípios pe-dem ajuda. Há que se corrigir omissões. Não se deu até aqui prioridade necessária dentro do Orçamento federal para gastar com saúde, nem mes-mo para as ações específicas de combate à covid-19 diante de uma tragédia humana, so-cial e econômica, anunciada e crescente. Tanto é assim que, do ponto de vista da execução direta da despesa pública com assistência médico-hospitalar, a rede federal mal responde por 5% do gasto nacional. (...) (Poder360)

5 - Brasileiros acreditam mais em Moro do que

em Bolsonaro, mostra Datafo-lha. Para 52%, ex-ministro fala a verdade, e 56% acham que presidente quer interferir po-liticamente na PF. No embate entre Sergio Moro e Jair Bolso-naro, o brasileiro acredita mais na versão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública do que na do presidente, escreve Igor Gielow. Moro saiu do go-verno após Bolsonaro exonerar contra a sua vontade o diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo. O ex-ministro acusou o presidente de interferência

política no órgão. Bolsonaro negou a intenção.(...) (Folha de S. Paulo)

6 - Normas barradas por Bolsonaro não atendiam

ao setor de armas, diz general, informa Patrik Camporez. Mi-litar diz que papéis visavam à segurança nacional. Eugênio Pacelli Vieira Mota afirma que portarias não atenderam ‘inte-resses pontuais’ do setor arma-mentista, . Carta do general, ao despedir-se da função, foi vista como uma demonstra-ção de que as normas feriam os interesses dos eleitores do presidente. “... Desculpe-me se por vezes não os atendi em in-teresses pontuais... Não podia e não podemos: nosso maior compromisso será sempre com a tranquilidade da segurança social e capacidade de mobi-lização da indústria nacional”, escreveu o general... (...) (O Estado de S. Paulo)

7 - Ministério Público atribui crimes de corrup-

ção, lavagem de dinheiro e cai-xa dois ao presidente da Fiesp, Paulo Skaf (MDB), por repas-ses da empreiteira em meio à campanha de 2014; também são denunciados o marquetei-ro Duda Mendonça e ex-execu-tivos, escrevem Fausto Macedo e Luiz Vassallo. Promotores do caso também imputam aos acusados os crimes de lavagem de dinheiro. (...) (O Estado de S. Paulo)

8 - Em perigo, Bolsonaro prestigia Guedes. Acu-

ado por investigações e ame-açado por graves denúncias, o presidente Jair Bolsonaro deci-diu conter o desmoronamento de seu governo e prestigiar o

ministro da Economia, Paulo Guedes, seu fiador diante do mercado e trava de segurança contra um surto de pânico fi-nanceiro. “O homem que deci-de economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes”, disse o presidente. (...) (Editorial-O Estado de S. Paulo)

9 - Apoio de Bolsonaro revigora ministro, po-

rém, proximidade do Planalto com o centrão é ameaça. A ma-nhã de ontem foi de recupera-ção do ministro da Economia, Paulo Guedes, colocado à mar-gem nos últimos dias, enquan-to ganhava espaço no Planalto a alternativa “desenvolvimen-tista” do programa Pró-Bra-sil. É uma iniciativa que vai na contramão do que pensam corretamente Guedes e equi-pe. O ministro se referiu ao Pró-Brasil como um conjunto de “estudos” de projetos de in-fraestrutura e construção civil, para ajudarem na retomada do crescimento, mas dentro da política de recuperação da es-tabilidade fiscal, sem revogar o teto dos gastos. (...) (Editorial--O Globo)

10 - Aquiles Alencar Brayner viu sua no-

meação na Secretaria Especial de Cultura do governo federal ser publicada na segunda-feira (20) e revogada na quinta (23). E os motivos do desligamento, segundo ele, não têm nada a ver com algo que fez ou deixou de fazer, escreve Walter Porto. Ele afirma que o governo pre-cisa, de fato, ouvir a sociedade e acolher propostas de grupos conservadores. A “facção de criminosos digitais”, continua Brayner, usou exclusivamente sua vida pessoal para atacá-lo,

como o fato de ser homossexu-al. (...) (Folha de S. Paulo)

11 - Delegados inves-tigam ataques coor-

denados nas redes contra a Polícia Federal. Apuração co-meça em Pernambuco. Áudios seriam fakes, segundo a PF. Trechos mostram “corrupção”. Há suspeita de “fogo amigo”. As postagens começaram na 6ª feira (24.abr), logo depois da queda do diretor-geral Maurí-cio Valeixo e se intensificaram ao longo do final de semana, escreve Leonardo Cavalcanti. A investigação será da regional em Pernambuco, mas deve ser ampliada em outras superin-tendências.(...) (Poder360)

12 - Desmate sem tré-gua - Más notícias

para o ambiente proliferam na pandemia, com contribui-ção do governo. O desmata-mento na região amazônica segue inclemente. Dados do Inpe mostram que o primeiro trimestre registrou aumento alarmante de 51% de alertas de destruição florestal, na compa-ração com o mesmo período de 2019. Até 31 de março, foram devastados 796 km² de mata, ante 526 km² nos três primei-ros meses de 2019. (...) (Edito-rial-Folha de S. Paulo)

Mais isoladas, mulheres demonstram maior preocupação o coronavírus

(*) José Aparecido Miguel, jornalista, diretor da Mais

Comunicação-SP (http://www.maiscom.com), trabalhou

em todos os grandes jornais brasileiro - e em todas as mídias. Foi editor-executivo do Jornal do

Brasil, no Rio, de 2007 a 2009. (http://www.outraspaginas.com.

br) E-mail - [email protected]

OUTRAS PÁGINAS NO BRASIL E NO MUNDOJOSÉ APARECIDO MIGUEL (*)

18 Quarta-feira, 29 de abril de 2020