176
 EOIToRAufmg ) o  TRABALHO DA CITAÇÃO

COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

Embed Size (px)

Citation preview

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 1/171

( EOIToRAufmg)

o   TRABALHO DA CITAÇÃO

" 1fIY.l'!n:�e .

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 2/171

i!r 199,Édtins du Seul'@1996,datraduçãobraseiraEditraUFMG. 07 l reimprssã�'TI rignal: sd i u d c(

E  o arte dele não de ser rerduzd pr quer ei se trização escrita do Editr

  Cpagnn Antine736t  O rabah da citação I Antine Cagno n ; tradução de

lenice P B Mourã Bel Hriznte Editora UFMG 9961 6  Traduçã de: La secnde u e travail de l a ciatin(Texts selecinads). Literatur  Murã enie P B  Títu

 CDD80  CDU 820

a catlca elabrada ea Disã de Pejaent e Dulgaçã daBibteca Unierstária da UFMGBN 8585266-1

OABORAÇO NA ADUÇ O DA SEQÜ�A :

Lcia bat Brrs MouãoPROJETO GÁFO E CAPA ássi ibeiETORAÇO E TEXTO Ana Maria de MraesISO E NOMAZAÇO Lfin de OlierFORMATAÇO Rbson MirandaPROÇO FCA Waren M nts

dtra FMv_ Antô s 667 direita da Biliteca entral Térrep Paua 3127090 BeHriznte/MG1)349960 Fx (03 399768wubr edtraugbr

Irf TA O LEIOR

se volume é ua edã reduida de sein le il e l citin e Atoie Copa,pulicada pas diios du Seuil, em 1979 ar aselão dos 39 ópios trauidos das seis seqêcias uecope a ora, ptouse por agmetos que trata escra como execco da terteuadade.

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 3/171

rimeiro nngém pensa qe as obras e os canos

poderiam ser criados do nada Eles esão sempre

ai no presene imvel da memria em se

ineressaria por ma palavra nova não rnsmiida?

O qe impora não é dizer mas redizer e nesse

rédio dizer a cada vez ainda ma prmeira vez

Maurie Blanhot

CÇ  

O qe há de errvel em ns e sobre a erra e nocé alvez seja o qe ainda não oi dio S

esaremos ranqüios qando do esiver dio ma

vez por odas enão enm faremos siêncio e não

mis eremos medo de nos calar E assim será

lne

G  FD N

opiar como anigamene

Gustave aubert

BUAEPÉCUCHT

.�

  TESOURA E CO 

 ABLAÇÃO

GRIFO

 ACOMODAÇÃO

SOLICITAÇÃO A LEITURA EM AÇÃO

O HOMEM DA TESOURA 

U CANONIZAÇÃO METONíMICA 

ENXERTO

REESCRITA 

O TBALHO DA CITAÇÃO

 A FORÇA DO TRABALHO

O SUJEITO DA CITAÇÃO

CULPA DE GUILUME

EMBREAGEM A FRiCÇÃO

MOBILIZAÇÃO

 SURIO

9

3

7

20

2

27

30

33

37 

1

47 

49 

52

5

58

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 4/171

UM ATO D lÍNGUA UNIVSA?

O UNÇÃO 5

O SIMUO 69 

MOSTA  75 

U "BOA" ITAÇÃO? 79 

O OPO VIHOSO DO DISUSO 8

  "VOX": A POSSSSÃO 84

U GUÇÃO INTNA DO DISUSO 90

 A GUÇÃO SSIA DA SITA OU O TO OMO HOMOSTAS 9

 A PIGAIA  04

O INTITUDO O TITU  0

 A BI(BI)OGIA  2

DIAG OU IGM 5

NA AHADA  8 1O POSTO AVANÇADO 20

O OSSO ASSPTINT 24

O OMÇO DO IVO O IM DA SITA  28

 A VOAÇÃO DA SITA  35

POSS, APOPIAÇÃO POPID 39 I A ITAÇÃO AABADA  50

U ONOMIA DA SITU  53

STIVIDADS  5

SPAÇOS D SITA  0 1NTAS  7

ÊNIAS  73 "

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 5/171

 TESU E C

Cri teho um tesour peue tesour depots rredodds pr evitr ue me mchuue scrias são uito esstrds té ue tij idde drzão udo predem o lfbeto. Com mih tesours mãos recorto ppel tecido ão import o uetalvez mihs rous. Às vezes se sou bem comprtdo

oferecem-me um jogo de imges pr recortr Sãogrdes folhs reuids em um livreto e sobre cdum dels estão dispostos em desode brcos viescrros imis homes muheres e cris Tudo oue é ecessário par reproduzir o mudo Não sei ler sistrues ms teho-s o sague pão do recorte

d seleão e d combião Meu geto desejri sermiucioso poho-me seguir o cotoro ds gursum tro egro em volt do corpo Ms o recorte é detodos os jogos uele ue mis me dei ervoso serroos puhos bto o pé rolo peo chão. Spteio de ravudo s coiss me opem resistêci udo se recusm

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 6/171

a submrs à mha voa, rbls qu são a sarm prsar m mu ror, m mu molo

uvrso lrapasso smpr algus mlmros olm, oro as poas papl qu s obram sobr osombros ou qu slzam plas as o orpo, a m qu a roupa s maha sobr a shua paplão uFo louo Mas omo pora osgur, s som mhamã sõ, para sus rabalhos osura, logas

souras poaguas qu m prmram squarar,s mular as as lgüas? pso osrar ossragos, olar ovam as rmas q falamas ão ho squr a asva Ivo sss osgras prvlégos as pssoas aulas, a vrarasoura, oagua, a vrara ola, qu ola uo,

aé o rro Sou asao omo o úlmo o Ish plosarbuos qu am, para l, o homm brao oósoro a ola Quao a mm, ho so umpquo p o m vm o oor arop vaa,um spáula lv para spalhar a pasa qu m a or, aossêa, o hro o goso ssa sobrmsa srva os

rsauras hss Pars sob a omaão apórfa la as lhas' Colar ovam ão rupra amasa aua subro o o qu oho, ãosgo m mpr vêlo, só a l Mas m aosumopoo a pouo om o as ou os; subvro a rgra,sguro � muo uma roupa ma sobr um orpo

masulo, vvrsa Compoo mosros, aabo poraar a faala o raasso a mprão. Naa sra. Eu paroo o ogo rorao ovos lmos mpapl omum qu vou pao sm lvar m oa o bomsso Isso ão s par mas om oa alguma; ão mroho, a mm Mas u amo ssa osa algum'

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 7/171

Recorte e colagem são o modelo do jogo ifatil umaforma u pouco mais elaborada ue a bricadeira com

o carretel, em cuj alterâcia de presea e de ausêciaFreud via a origem do sigo uma forma primitiva do jogoda porriha papel, tesoura, calhau e mais poderosa seada o do, resiste à miha cola Costruo um mudoà miha imagem, um mudo ode me perteo, e é umudo de papel

Iagio u, uado bem velho se eu car bemvelho , reecotrarei o puro prazer do recorte volarei àifâcia Todas as mahãs, receerei o oral, ue recotareiliha por liha, em logas tiras de papel ue colarei umas àsoutras e erolarei como uma ta de áuia de escreverMeu dia estaá cheio: ão lerei mais, ão escreverei mais,ão saberei mais em escrever em ler, mas estarei ligadoaida ao papel, à tesoura e à col

Recorte e colagem são as eperiêcias dametaiscom o papel, das uais a leitura e a escrita ão são seãoformas derivadas, trasitórias, efêmeras Etre a iâcia

e a seilidade, ue terei feio? Terei apredio a ler e aescrever Leio e escrevo Não paro de ler e escrever E poruê? Não seria pela úica razão icofessável de ue, omometo, posso me dedicar iteiramete ao ogo depape ue satisfaria o meu desejo? A leitura e a escrita sãosustitutos desse jogo Sito saudade dos livros atigos,do tempo em ue era preciso abri-los peviamete com ocorta-papel: dobra virgem do livro, além disso, protapara um sacrifcio ue fez sagrar o corte vermelho dostomos atigos a itroduão de uma arma, ou corta-papel,para estbelecer a tomada de posse Gosto do segudotmpo da escrita, uado recorto, juto e recompohots ler, depois escreer: momeos de puro praer

1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 8/171

preervado Será ue eu ão preferiria recortr a págiae colá-la um outro lugar, em deordem, miturado

de ualuer jeito? Será ue o etido do ue leio, do ueecrevo tem uma real impotâcia para mim? Ou ão eiaate uma outra coia ue prouro e ue me é, à veze,proprcioada por acao, por eta atividade a alegriada bricolagem, o prazer otálgico do jogo de cria? Épor io ue e deve coervar a lembraa dea prática

origial do papel, aterior à liguagem, ma ue o aceoà liguagem ão uprime de todo, para eguir eu traoepre preete, a leitura, a ecrita, o teto, cujadeião meo retritiva (a ue eu adoto eria o tetoé a átia o ael Doi detre o grade ecritoredee éculo comprovariam ea deião Joyce e rout.

O primeiro apreetava a teoura e a cola, scissos anaste como objeto embleático da ecrita3 o egudo,pregado aui e ali eu pedao de papel, comparava debom grado eu trabalho ao do cotureiro ue cotrói umveido, mai do ue ao do aruiteto ou do cotrutor decatedrai E o teto, como prática complea do papel, acitaão realiza, de maeira privilegiada, uma obrevivêciaue atifaz à miha paião pelo geto arcaico do recortarcolar.

2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 9/171

ABÇÃO

Qao to trao mtlo srao á m obtoprmro oloao at mm to l lo; o urso mha ltra s trromp ma ras Voltoatrás rlio A as la toras órmla atomatro o tto A rltra a slga o lh é atror o h é pstror ragmto solho ovrtsl mso m to ão mas agto to mmbro as ou srso mas trho solho mmbroamputao; aa ão o rto s á órgão rortao posto m rsrva Por mha ltra ão é moótoam aora; la a plor o tto smotaosprsa -o por sso msmo uao ão sblhoalgua ras m a trasrvo a mha arta mhaltura á pro m ato taão sagrga oto o staa o otto

Não sra sso smplsmt rohr u m umlvro há algumas rass lo otras ão lovaao a proporã tr as as sgo os lvrossgo os as? Mas as rass lo alas m

3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 10/171

prm qu ao o mu mostruáro, om rtza uas o

Qutlao vala-s sso para plar as vaags alura sobr a auão ' ltua é lvr ão é obrgaa aaompahar o oraor Pos volar a aa sta sobros própros passos, sa para amar uma passagm masatamt, sa para mlhor mmorzála' Volar sobros própros passos, morzar (reetere para Qutlao),é ompor o to, altrar sua orgazaão E Qutlao,para apromar ss gsto ssáro a ltura a srapra, rorr a uma outra máora, rt arúrga mas a uma mtáora orporal ou orgâa,ão mas a o tto omo orpo a ralhar, mas a o loroo o agt a mauaão qu a toa gsão,oa assmlaão

As coo se asga po uo epo os aenos paa dge os as facene, da esa anea o queeos onge de ena oaene cu e nosso espo,não dee se ansdo à eóa e à aão senão

depos de e sdo asgado e uado5

Altura rpousa m uma opraão al praão apropraão um obo qu o prpara para almbraa para a maão, ou sa, para a aãoRptão, mmóra, aão uma ostlaão smâta

m qu ovra lmtar o lugar a taão) Mas o orsa opraão prlmar ão po sr avalao sãoatravés mtáoras Qutlao ão s rusava a ssosu Inttução Oratóra é ha mags u rauzmao vvo o gstual sutl o surso. A apromaãoaóra, rto moo mprssosta, mara omo

1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 11/171

uma fotograa aérea os campos de uma ivestigaãolterir e meos supercial (a fotograa aérea servirá para

estabelecer um mapa geográco, para promover pesuisasgeoógicas ou geotérmicas Já um discurso imediatametemetaligüstico descoheceria, sem esperaa de vota,os fatos de iguagem mais têues ue a retórica atiga uma arte, isto é, uma ciêcia e uma técica, mas tambémuma prática deveria eplicar Somete uma aálise

feomeoógica do osso próprio eerccio da iguagemdescobre e retém esses fatos mais os, apega-se a eles eeseja iterpretáos

Algumas séries metafóricas atravessarão, portato,essas págias, séries dspares e às vezes divergetes umacirúrgica, outra aceira ou ecomica, porue a ciaão

pe em circulaão um objeto, e esse objeto tem um valorUma outra metáfora aida, da costura, faará de core, demotagem, de aihavo e de chuleio E aida todas estastopográfica, estratégica, miitar, teoógica, aatmica, ueão têm outra ambião seão de fazer aorar hipóteses,traar um itierário para uma série de uestes a se

aprofudar a log do trabaho E os desvios ógico,igüstico, histórico, psicológico ão serão, também,meos metafóricos ue os outros

Ora, o ue são eas, essas etáforas heursticas ue, domesmo modo, ão evarão a lugar ehum (pelo meosa paisagem terá sido descrita? Evidetemete citaesTodas seriam justicáveis como tais por referêcias aosEssas (Esaios, de Motaige Da mesma forma, todaitaão é aida em si mesma ou por acrésimo? umametáora Toda deião da metáfora coviia tamà citaão a de Fotaier por eemplo presetar umaidéia sob o sigo de uma outra idéia mais surpreedete

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 12/171

o ma cohca alá ão lga à prra por

hm otr lao a ão r o ma crta cormao aaloga'

6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 13/171

GRI

Ler, com um lápis a mão, como recomedava Erasmo,em De Dlici Coia assim como todo esiameto daReascea, cotorar algo do teto com um fote traovermelho ou egro é traar o modelo do ecorte O gifoassiala uma etapa a leitura, é um gesto recorrete uemarca, ue sobrecarrega o teto com o meu próprio traoItroduz-me etre as lihas muido de uma cuha, deu pé de cabra ou de um estilete ue produz rachadurasa pága dilacero as bras do papel, macho e degradoum objeto faoo meu. É por isso ue a biblioteca todaessa gesticulaão ítima me é proibida

O livro ue eu mltratei lembra esses ojetos tansicionaisde ue fala o psicaalista iglês Wiicott,7 uma pota decobertor, um urso de pelúcia ue a criaa chupa ates deadormecer. Não me despredo dele, eu o amo ois o livrolido ão é um objeto realmete distito de mim mesmo,com o ual teria um verdadeira relaão de objeto ele é eue ãoeu, uma note ossession Não é assim ue se podecompreeder o estatuto do livro de cabeceira, o ivro por

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 14/171

excelcia a meos que ele ão passe e um mio esse volume sempe o mesmo o qual leio uma págia

caa oie ao me eia e uo ao qual eu umo Masoos os livos e que me cecosão em um gau meonome ossessions um coeo ee mim e o muouma oa poegia um espaço esevao Não me sepaoeles e boa voae gosaia e los sempe comigoQuao passeio levo muios els em meus bolsos ou

em miha bagagem E é ambém como um peexo paaão empesálos (a iscição o puo) que os sublihoque os abisco eamee O gifo é o meos coesávelos exliis

Esse geso epou um subliha aeio aquelegifo que a pea efeua sobe a págia mauscia am e assiala paa o ipógafo aquilo que ele eveácoloca em iálico O quiógafo e o ipógafo são oispesoages isios us es sociais que aceam umapaa a oua aavés e um gifo ieposo ou e qualqueoua coveção O escio cochicha ao ouo em apaequi voc usaá caacees ifeees E o gifo assume

a ção e um coeco e uma maca a euciaçãoo euciao aavés a qual o auo á a eee aalgum leio algua coisa além a sigicação e que lhe éieuível alguma coisa que emee sua pópia leiuae seu pópio exo e mesmo sua pópia auição omomeo e uma leiua em vo ala O gifo coespoe

a uma eoação a um aceo a uma oua pouação queulapassa o cóigo comum D a exigcia e um sialespcial que possa oála ieligível

uao se publicam as oas e leiua e um auocélebe aliás po que publicá-las seão a hipóese eque se aa e um pimeio esao e sua pópia escia?

8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 15/171

$

é peciso ecoe a aifcios ipogácos complicadospaa sigui os paamaes múliplos e sucessivos da

euiação A leiua de Hegel po Lei oase um extoovo Figuam sobe a págia impessa: o exo pimeioo de Hegel com seus iálicos que são aigos gifos ossobescios de Lei seus gifos ecosiudos apesadas covees pelos gifos pogácos suas ubicasou suas oas magiais impessas com o auxlio de um

eceio ipo de lea Ledo eu acesceo aida Podese imaga que a cadeia ão se ieompeá: como aPatrologia de Mige

O gifo a leiua é a pova pelimia da ciação(e da escia) uma localiação visual maeial queisiui o dieio do meu olha sobe o exo Tal comoum ecohecimeo milia o gifo coloca macaslocaliadoes sobecaegads de seido ou de valo; elsupepe ao exo uma ova pouação feia ao imo damiha leiua: são os poilhados sobe os quais mais adefaei ecoes Toda ciação é pimeio uma leiua assimcomo oda leiua equao gifo é ciação mesmoquado a cosideo o seido mais ivial: á li ouoa aciação que faço aes (seia exao) de ela se ciação.

 

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 16/171

ACOOAÇO

Exstem pessoas que são pagas paa ler - e al pas,

segundo se diz. ão os "tores as edos ma vez por sna, ees vão ao seu paro esvazar sa sacoa e volm co a scoa chea e auscros rceneeogrados Essas essoas são prossons d leu:e é, par as esas, u avdade soc, u rboenerado. Essas pessos ê pzos, poe os

de leura Ora, pr l execco ão á éodo, o ensnonão prepra para sso, peo enos Frnça Nos sadosUndos d Aérca ca auno ecee, perodcaene,durane da a sua vda escolar, u n t no lescolh lguns volues de cuja lera presará cons, nãocoo u erudto ou coo um críco, as coo u eornocne (na rança não se aceda as na nocênca enehu eura) Amese aé e o auno prodza masetença decsva ona Shkeseare ou Dks

O que se petende e uma noa de leua? e dúv, provar algua cosa, so é, que o anuscro merece ouão ser ldo por mas de u lor que ass deseje e

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 17/171

ue pague po isso, e vez de ser pago. Co fazer taldeostrao? el levaeto estatístico de alguasaostras do auscrito u capítuo, uma págia, ualiha É ida a técica do grifo, ue, co certo teio,apree-s a fazer rapidamete Gide descorido oausrito de E Busca em er ue chegaraao editor peo correio, desacou dele ua frase e a utilzoucotra roust.

"Há alguas frases a destacr e seu mauscritoA destcar, uer dizer, a citar, a reciar elas suportam aprova da citao Essas frases so citaes ue o leitor fazo teto, so as paradas, as retcêcias ou os obstáculos desua letra Se esses tropeos fore deasiadaete raros

ou esagradáveis, o mauscrito será jlgado iaceitávelO teto coemporâeo e este é o ais iegável dosseus sucessos toa ipraáel tl odo de leitra éegr ou largr ois a rase e se subiha é uase semprea ue se desejaria odicar ou supiir modicá-lapor pouco ue seja paa apropriar-se dela , as o

teto cotepoeo é o ue ele é ehua mudaa écocebvel É ipossÍvel ciá-lo.Or uais so as frases a serem destacadas e u

uscrito? Seria divertido e uito plasível ue fossemjustamete suas ciaes, cofessadas ou ecoertas, suasaluses, ue orieta o leitor para u autor sb cujo

sigo se ur coocar o aprediz O leitor acomodarseia e algus lugares cohecidos e rechecidos, emúero suciete para icluir o auscrito em uagrade tipologia iuiiva das compeêcias de leitura oeust de leituras prévias, ecessárias para aordar umlivrodado, seria o ídice desse ivro, seu lugar a tipologia

ouco mporta ue o aprediz o se recohea o lugar

2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 18/171

em que foi acomoao: eegaose leiua, ele aceiaoas as ciaçes que lhe queiam impo, seam elas

poveiees ou ão e sua pópia leiua, sua pópiacompecia Além o mais uma compecia poe muiobem epee a amosfea época

A úca libeae que o exo oee ao leio é aa acomoação: que ele acome o exo e que ele seacomoe, seo as uas coisas muias vees coaióias

O leio eveá ecoa o luga e oe o eo lhe sealegível, aceiável Não se poe exigi ele que esse lugalhe sea ieiamee escohecio o momeo em queabe o livo: um livo que ão me ofeecesse ehumpoo e acomoação, que subveesse oos os meushábios e leiua, que ão exigisse ehuma compecia

espeial, mas as ulapassasse oas, esse livo semeiacompleamee iacessível e eu haveia e ejeiá-loA ciação é um elemeo pivilegao a acomoação,

pois ela é um luga e ecohecimeo, uma maca eleia É sem úvia a aão pela qual ehum exo,po mais suvesivo que sea, eucia a uma foma e

ciação A subvesão esloca as compecias, cofuesua ipologia, as ão as supime em picpio, o quesigicaia piva-se e oa leiua

Dee as umeosas eiçes em oo a cação,ppoemos esa: a ciação é um luga e acomoaçãopeviamee siuao o exo Ela o iega em um

cojuo ou m uma ee e exos, e uma ipologia ascopecias eueias paa a leiua ela é ecoheciae ão compeeia, ou ecohecia aes e secompeeia Nesse seio, seu papel é iicialmeefáico, e aoo com a eição e Jakobso: "Esabelece,ploga ou ieompe a omuicação, [ veica se o

2 2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 19/171

cicuio fucioa'9 Ela maca um ecoo10 covia paaa leiua, soÜcia povoca como uma piscaela: é sempe a

pespeciva o olho que se acomoa o olho que se supea lia e ga a pespeciva Haveá muio a ie soe a ciação como olo al como a qualicam ee ouos,

Quiiliao e São Jeôimo

2 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 20/171

SOLCAÇO

Quando leio, o q faz com q intrrompa oqe pare iae e terina fras não de outra?

O q ess tropeço esperta im? E põe emovieno t o prcsso a ciação. Mas o e ansesprto esse tropo? Be arior à citaão aisa s obscr i a sao: u pquenochoqu itamee bitáro toamn cotingee iaginári Louis assigon assi o scvia

Quão sna o ase so da ase e os ocana eua á o é eão o pes e ua expenca oea e os faz ee oo é o caso dos poos é enr a ossa as na pefncaa neenão oeee pesa de a oa pesonae despeao aezaão1

citaoé uma oç tota e ciaa o etoru ecata qe prece copen ocuta aatribuição para si esa a csa. A soorie

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 21/171

e uma guual, o eco e uma vogal, um imo aapao miha espiação ou aos mes eexos uca exo

e subliha os alexaios peios em uma oba eosoa ou, mais baalmee aia e se possível, oempo moo paa apaga um cigao uma buiaa sobmiha aela, uma cãiba o eo o pé: oos acieesque ão epeem o pópio exo, mas que me solicima mesma foma A soliciação é essecialmee fouia

A pova é que o mesmo livo poe caime as mãos hjee aebaame amahã

O que me solicia ão é o livo, em eu mesmo, masum ecoo casual, uma passae, assi como acoececom o se que vejo oos os ias e o qual (imagemfugiia e iaigível), e epee, veho a eamoa-me epelo qual, gaças alve a uma pespeciva, a uma simplescicâcia paicula e impevisível, me apaxoaeiloucamee

É uao, eão, a excitção ievém: ela vai emusca, o x, o alicece (o ground o solo, a base) a

soliciação Mas a solicição alve ivesse uma ouacausa A exciação fa o exo sa e si mesmo, feea-o,esacao, abalha paa expulsa ee um elemeo quepoeá, povavelmee, se cosieao como causa,acieal, a soliciação Eeao, a exciação ucaemoa oigem, jamais eecoa o abalo oigial e

iaável Eu posso me excia com um exo, sublihá-lo,iscálo, ecoálo, asgálo e cobi-lo e ijúias o abaloiicial me é iacessível, poque esá, ao mesmo empo,eo o exo e foa ele, a coguação imagiáiaa leiua a qual, com oo o meu copo, sou uma paeecebeoa e o úlimo efeee A soliciação se ocupa

e meu esejo, e o objeo assiaao que eu expulso o

2 5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 22/171

eo a m e coseválo coo meóia e uma paxãoa a soliciação) esse obeo ão passa e um esíuo

u eeo um loo u feice e um simulaco que sesomam ao meu esoque e coes Meu litterru enus,como iziam os a os ou me "Fuo lieái seguoa expessão eomaa po Mallamé ão é seão umaeuião e luos exciaos e osalgias soliciaes

O que seia ua leiua a soliciação? Ela limia seia

ao amoo eixaia e excia e eala o exo Seiasem úvia uma iepeação asim como a úica leiuacocebível a euciaão A soliciação é o coespoeeem leiua a euciação: um acomoameo umacociliação o euciao E as macas a soliciação oeo são as excaçes os gifos e os esmembameos:

siais sempe apoxiaivos e isaisfaóios maspesuçes e ua veae que foi isaaeamee a amia leiua É po iso que eu esiso a empesa meuslivos pois eles azem os aços iisceos as miasexuses e icuses) aavés eles e mias aveuasceias e eseo e e ao aaas e loalizaas como se

o eease leiua as suas losas exciaas poiessee exibicioismo acesci e cegueia A solicaçãoaia a mesma foa que a euciação só em valo eecoecieo) o empo a leiua mas esse empo essauação é a maioia as vezes mal coecia A leiuacomo a esca paalisa o empo fecao sobe si mesmo:

al é o axioma ilusóio que escoece a soliciação

2 6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 23/171

A LEITU EM AÇÃO

Sejam as quao guas disias da leiua: ablaçãogifo aoodação e soliiação Como elas se ogaizamRepeseam fases sueemse Não eessaiamee:sedo odas possíves uma pode ealizase sem as ouasTodavia há ee elas uma gadação aee ua odemeóia ivesa daquela em que foam desias e quepaido da uilação peeaa aé o iaável da paxãopela leiua ode se peda Elas paem do objeo oal queé paa mim o exo que me eaa a soliiação passampela aomodação um luga eoheido de saisfação pelogifo que apisioa esse luga e aaçam o ojeo paialque desao do exo a ablação aa-se aavés dessesquao momeos de uma apoação ada vez mais a

de um quadiulado esaégio Mas esse ão em ada ave om a signcaçã A sigiação (se ão o seido) é aquia oda dessa auagem a oda sobessalee que ieipoa se miha leiua fo abalho peido Eu eooao seido omo a um úlimo euso agaome a elepo ão p de eoa a paxão a ilusão desespeada

2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 24/171

e que um esfoço sobe a sigicação peemeia aoexo que, pela soliciação, ão me peeu A soiciação

fa pae o seio, o valo que aibuo ao exo: ela é umcompoee auico ele, pouio pelo ao e leiuaE o livo ao qual me peo somee pela sigicação éum casigo, ele me cai as mãos

A soliciação é, pois, paa a leiua, uma figuaiiciaóia: sem ela, se aia há leiua, em oo caso ão

há pae sem ela, há uma leiua a sigicação e ãoa paixão uma leiua em que as opeaçes poseioesealiaseão algumas vees, mas supleivamee, poiscaeceão e o: seão acomoaçes, gifos e ablaçesmaquiais e gauios

Ao coáio, o abalho e leiua poe paa omeo a solicação, sem i além o elã iicial Oabalho que se fa em seguia eve, com efeio, euma cea maeia, aulá-la e esiga-se a pe-laPemaece a soliciaço é ecusa o luo, eseja o xasee suspee seu m A pua leiua a soliciação seia umaleiua msca, uma coemplação, uma gose lectio e

 edita tio são siôims as egas moásicas a aeméia , uma leiua a paixão iia, iefiia eisesaa, viso que o seio epeeia a exciação quesobevive ao ecaameo

Após a soliciação, os passos seguies, acomoação,gifo e ablação, eúemse em um bloco mais compaco:a exciação, qu ulapassa a soliciação, que esaca oseio Paa a coiuiae meáfoa o amo, é acisaliação que se ocupa o pimeio aebaameo,o que ão que ie que seja meos imagiáia: elaecompe a magem seuoa mas paa ecompô-la

2 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 25/171

meaamee ajusála aequála coesála umaepeseação ou um smulaco; ela se acomoa em um

ealhe a cea lma esse ealhe e epos o apeeeApeeo ao vvo o fagmeo o membo o scusosulao a excação em o poe e eova ad libtumseu apaecmeo quao o eseja e o fagmeo eoaaco apesa as mapulaçs sse eoo que poese epe pepeuamee sem mução e poe como

um alsmã é usamee o que se eee em geal comocação Mas a cação á se pocessava a solcação ea excação: ela esá o pcpo e oa leua pelomeos aquela qu mpoee peese exclusvamee sgcação A cação ea epou a esca umapaxão a leua eecoa a fulguação saâea a

solcação pos é a leua solcaoa e excae quepou a cação A cação epee fa com ue a leuaessoe a esca: é que a veae leua e esca são amesma cosa a páca o exo que é páca o p pel Acação é a foma ogal e oas as pácas o papel oecoacola e é um jogo e caça

2 9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 26/171

o HO DA TS

Ten ma eca ncamene paa me e nãa apreen exemp Mvmenme m dne da e à ne g de decna pe d mev. É me eúg ma ca dane da qa apagda a pegada a e em caa. Há v de d p, ma e vê e a caa pe. ãd ncmpe, agn nã cnêm m qe da  

ê a. Ac qe e deve aze cmdamene qee az d da; enã e cm a ea na mãdcpemme e d qe me deagada. Façam ea qe nã m endm jama. De Lp (L ) cneve dez págna pc men d qe deVyage a B de a N (Vagem a Fm da Ne). DeCnee cneve d Pyece e ma pae d Cd.De me Racne nã pm qae nada. De Badeaecneve dzen ve e de Mg m pc menDe La Bye capí "Ce (Caçã) de anEvemnd a cnvea d pa Canaye cm maeca deHcqn. De Madame de évgné a caa e

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 27/171

o ocesso de Fouque de Pous, o jana e casa daduquesa de Gueanes Le Man de Pas Manhã de

Pas, na Psonne A PsoneaY

Ass esonda u guardaoesa à   esusa deua evsa erára uno a seus eoes. u eo co a  esoua na ãos, descuee, e eu coro udo o uee desagada' Conssão erve, noeáve: decaa 

cuaene e escrever eo no banco a eaação a uecada u se enega na ndade de seu gabnee, o as foras a esse ono Que sevagea de oe daoesa!

O anáea não se fez esera, ee fo ançado o uenene cco asense:

Adese uo be que u neecua enha pefeêncas dendas e escoha ceos escoes ene ouos, oueso que consua ua anooga paa seu uso Mas não podeos copeende esse hoe que fabca paas eso ua bboeca co despojos.3

Céne eoa, co enos eensão, se dúvda:

Esnos aqu odos nós, gandes oos e nscuos enes, despdos pe o ee guadaoesa. Ee nãons pedoa uo na nossa agnca esena conqusada co anos sofenos! U pequeno nada!

Ah! o edco! [ .] O hoe da oesa não bnca [ Não se aa as de bncadeas, o hoe da esouaa coa udo o que e esa 4

De ue se ornaa cuado o guadaoresa aa uesua cara zesse ano baruo na caa? Que dfeença

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 28/171

haveria ere sua biboa e aloa, u maualescolar? Ele se esembaraçara eeo, criara a vere

a leiura como exciação e ilaceração, apregoava essaverdae brua e a praicava os livros. "O veríic comoi Célie Pois isso ão se i, ão se fa Ler com umlápis a mão, recopiar a caeea e aoaçes, isso émuio bom Mas recorar e sobreuo ogar fora os resos,laçá-los ao lixo, que icoveicia! Ora, o fuo,

subsacialmee, é a mesma coisa O essecial a leiura éo que eu recoro, o que eu ex-cio sua verae é o que mecompra, o que me solicia Mas como falos coiciir Aciação é a ilusão e uma coicicia ere a soliciação ea exciação, ilusão levaa ao remo pelo guaraoresal,soma da leiura como ciação Era preciso fa-lo aar,

poiso homem a esoura é o ic erdadeiro leior Valérycofessava: "Leio com uma rapie supercial, proo aagarrar miha presa É verae que logo acresceava"Teo escrever e al forma que, se eu me lesse ãopoeria ler como eu leio Sem úvia, ele ambém ãoeria gosao que bacássemos o homem a esoura os

seus livros

3 2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 29/171

U CANONIZAÇÃO METONíMICA

Beia ciação Ela em o pivilégio ee oas as

palavas o léxico e esiga ao mesmo empo uasopeaes uma e exipação oua e exeo eaia o obeo essas uas opeaçes o obeo exipaoe o obeo exeao como se ele pemaecesse o mesmoem ifeees esaos Coheceíaos em oua paeem qualque ouo campo a aiviae humaa uma

ecociliação semelhae em uma úica e mesma palavaos icompaíveis fuameais que são a isução e acoução a muilação e o exeo o meos e o mais oexpoao e o impoao o ecoe e a colagem? Há umaialéica oapoeosa a ciaão uma as vigoosasmecâicas o eslocameo aia mais foe que a

ciugiaMas é ípico os aos e escia ou e liguagemauoia a cofuão os coáios ou os coaióiosissolve as

 foeias em uma asação meoíica

Assim a oposição maio que se issipa o vocabuláio aae e esceve é aquela ee o vaio e o pleo o coeúo

3 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 30/171

, pa aua. Eaasus ps d u a dsa u aa

sd das páas guagas.A paaa, u a aga óa dsgaa ua asa

 aza, u uga u, appas, a dad éda, dua déa d úd u paa s ggs s as só a pa d aa ua. A ópa asfas pa, saó d ps. Suas fas azas, tookono sauas d sd, s a s sóps: a máxma ententa suas afss, u ós aas d uga u u é xaa á d u s ags da p ssa pssã.Oa, u sã s sóps s ês sã usaaçõs

Da sa fa, paágaf a a, aga asa, u sna ad a ad, a ag,u sa paa spaa s bs, s s da sa a a lnea) E s ggs, a ú sa d

 puaã; aaa d ua passag pa u assã a ag da a usã A

 pa fêa a paágaf as a Retrcad Asós, a ppós d .16 Oa, paágafdsga póp b, úd, aad ds paágafs, sd ag da paaa

xg, u é spaç fa da ba, uga paa sa u ã agua sa, ua pgaf, p p,dsga da, sgud u babas gá,ssa pópa sa, a süêa paada d sdz u u x u ã u xg, ada u ãs pda dxaa d a u fa da baIss sgaa pd - u spd a da d ad, fad sb s s - u x ã

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 31/171

tem lado de fora. Um grau de liberdade da escrita perde-sea cofusão etre o eergo e a epgrfe se seu território

eterior mais próimo já está sempre virtualmetepreechido: o eergo torase uma rubrca obrigatóriado dscurso, como se a sua ausêcia soasse oco. Ora, umaepgrafe é uma citação a citação or ecelêcia17 ,um tapa-buraco ou um ecaie, como a "etrad' de umarfeição são legumes variados, os aria que ão cabem

em ehuma categoria taoômica, motivo pelo qual sãoapresetados imediatamete, para levatar a hipoteca.O egressio ou o kh da atiga retórica assumia suamoblidade, sua estrahea, sua "atopi'.

A escrita tem horror ao vaio o vaio o lugar domorto, da falta; e ão se pem mais epgrafes seão os

moumetos fuerários. Mas a prática da escrita ofereceesta imesa vatagem sobre as outras, sobre todas as outras,iclusive a da cirurgia, a vatagem de bastarlhe paracojurar o horror e preecher o vaio, modicar seu léico.O trasporte metomico, que afeta todo o vocabulárioda arte de escrever e altera o setido das palavras que

desigavam o vaio, apreseta-se como uma evoluçãoatural. magiemos em que resultaria tal evolução umoutro domio, se fossem suprimidas da lgua todas aspalavras que remetem falta. Não haveria mais lugar paraa falta? Não haveria mais um lugar de agústia? É claro queão tais iterdiçes ão mudariam ada a vertigem da

págia braca do parágrafo ou do eergo vaio subsisteapesar de todos os artifcios de escrita que tetam eegrecera págia, preecher os espaços a priori. Etre essesartifcios, a citação aparece em primeiro lugar.

O amálgama, a citação, de duas maipulaçes edo objeto maipulado tem por efeito torar atural

3 5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 32/171

um procedimeto iteiramete cultural. Ele subsumeas aiulaçes sob o objeto mascaraas atrás de si

Em seu emprego habitual a citaçãoão é em o to daetirpação em o do eerto mas somete a coisa comose as maipulaçes ão eistissm como se a citação ãosupusesse uma passagem ao ato. Na medida em que seigora o ato é a pessoa do citador que é igorada o sujeitoda citação como trasportador egociate cirurião ou

cariceiro. A coisa circula soiha viaja de teto parateto sem sujar as mãos ela o logos e o ergon se fudemescoem a energeia a produção e o ato. A ciação é sempreo verbo de um deus ou uma dessas palavras aladas quemovidas por uma eergia de que dispem em si mesmasdesde Homero vão e vêm sem se mater o uiverso dodiscurso sem trasporte em trasportador sem ecorteem colagem. Aceitar a citação como atural é pretederque ela camihe por si mesma como um automóvel.

Ela é um órgão mutilado mas já seria um corpo limpovivo e suciete o aimaliho uicelular a partir do qualse eplica toda a criação tem um coração e membrosum sujeito e um predicado. E é para alimetar essarepresetação que a citção é eemplarmete uma frase:a meor uidade de liguage autôoma e fechada sobresi mesma. A frase vive podemos trasplatála; o que ãosigica matá-la mas somete itimá-la Aliás e melhoraida ela se movimeta soiha vagueia e ão possomas detêla.

Desaparece assim o setido primeiro da citação oe ma movimetação provocada por cotato setidosepre atual mas que como ao guardaorestal vale apea igorar ou reduir ao silêcio. A citação é cotatofricção corpo a corpo ela é o ato que pe a mão a massa a massa de papel.

3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 33/171

EXERTO

A citação é um corpo estraho em meu teto, porqueela ão me pertece, porque me aproprio dela Tambéma sua assimilação, assim como o eerto de um órgão,comporta um risco de rejeição cotra o qual preciso mepreveir e cuja superação é motivo de júbilo O eertopega, a peração é um sucesso: coheço a alegria do artesão

coscecioso ao se separar de um produto acabado queão tra o traço de seu trabalho, de suas iterveçesempíricas. Embora com um compromisso diferete, é omesmo praer do cirurgião ao iscrever seu saber e suatécica o corpo do paciete: seu taleto é apreciadosegudo a eatidão de seu trabalho a belea da cicatri com

que assia e autetica sua obra. A citação é uma cirurgiaestética em que sou ao mesmo tempo o esteta, o cirurgião eo paciete: piço trechos escohidos que serão oametos,o setido forte que a atiga retórica e a arquitetura dãoa essa palavra, eertoos o corpo de meu teto (comoas papeletas de roust). A armação deve desaparecer sob

3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 34/171

o poduto al, e a própria cicatri (as spas) será umador a mais

Mas o eerto de uma citação seria uma operação muitodiferete do resto da escrita? "Cofrotar, agrupar, uiretre si elemetos distitos, coo por um obscuro apetitede ustapsição ou de combiação8 tal é, para MichelLeiris, "uma ecessidade didid' em sua eistêci, eo pricpio de sua escrita atobiográca como "pule de

fatos' Ele associa declaradamete esse método ao jogo dorecorte e da colagem

Qnd e ent npt extrir de nh prpri btânci qe qer qe e qe erecee er clcd bre ppel,cpiv vntriente text lv rtig iltrçõerecrtd de pridc n pgin virgen de cde de bc

Ele isiste aida "a mecâica desses gestos em que é difcilão ecotrar praer, mesmo quado ão se espera deesehua espécie de resltado prático cortar a tesouradas,aarar, picelar, ajustar bem o esquadro uma superfcie

sobre outr20Qado me pho a escrever, dispoho de um certo

úmero de uidades dispersas, aterialiadas (em chas,por eempl) ou ã Talve estatuto dessas idades ãotea uma difereça esscal, que elas sejam citaçes ouão em que alerem mita coisa a escta Aliás, estaria

eu em codiçes de me recordar, de euciar a origemdas uidades que ão são citaçes? Não seria possvelq elas também o fossem? O trabalho da escrita é umareescrita já qe se trata de cverter elemetos separadose dtí m td cíu e eree, de

3 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 35/171

jutá-los de compreedlos (de tomálos jutos) isto é de

lê los: ão é sempre assim? Reescrever reproduir um tetoa partir e suas iscas é orgaiá-las ou associá-las faer asligaçes ou as trasiçes que se impem etre os elemetospostos em preseça um do outro: toda escrita é olagem eglosa citação e cometário. Efetivamete as ligaçes sãomais difíceis o caso das citaçes pois é ecessário ão

alterar ada e iseri-las assim como elas são. Etretatoseria essa uma difereça? Ates trata-se do ordiáro daescrita. Aliás ada permite dier que eu modicara debom grado uma de mihas otas mesmo ão sedo elaa citação de uma outra Ao cotrário eu faria tudo atésuprimiria uma itação para coservar como me agrada

uma cha pessoal: sou muito apegado a ela.El Hacedor tal é o título de uma pequea arrativaitrodutória que dá ome a uma obra de orges. Atradução por Luteur (O Autor) é imprecisa RogerCaillois lembra em uma observação as pçes que tevede abadoar embora elas fossem mais éis etimologia:

faedor fabricate fabricador artesão operário ElHcedo derivado de hace aer é siimo do poietésdo grego. Le Bricoleur teria sido mais coveiete teriatraduido melhor o espírito da escrita segudo Borges:o autor é um bricoleur mais do que egeheiro deacordo com a oposição que traça Claude Lévi-trauss em

La Pensée Saage (O esameto elvagem) E Mallarmépor sua ve diia: "Comparado ao egeheiro eu me tooimeditamete secudário'22 Bricoleu o autor trabalhacom o que ecotra mota com aletes ajusta é umacostureiriha Como Robiso perdido em sua ilha eleteta tomar posse dela recostruido-a com os despojos

de um aufrágio ou de uma cultura.

3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 36/171

D modo aida mais adical, Aago ptd composus livos ão m too d uma d d fagmtosou d citaçs, mas a pati d um úico vstgio, umaúica fas, o incipit Sgud dclaa m Je N JamaisAppris Écrire ou Les ncipit (Nuca Apdi a Escvou Os ncpit, l uca scvu sus omacs, masos lu; diat do dsvolvimto do tto, l a tãoigoat quato qualqu outo, , ss pocsso ddsdoamto sm macas pmditadas, a pimiafas, sobudo, tv um papl dcisivo impulsioadoFoi o qu ocou com La Mise Mort (Codado Mot) fas iicial ] u m lo d têla lido,uma úica v, aqula hoa qu ão dom mais ão s stá cto d sta acodado acho smo qu

foi la qu m tiou da cama'23 Ou aida, com o captuloititulado "dip' dss msmo omac, d qu Aagolata a gês "Eu dcalqui atamt d uma fas dJa d Buil o qu ia s a pimia fas d dip': foio o tmpo gasto paa s cocb'24 S o tto ão écomo o d Liis, ustaposição combiação d talhos

ou d chas, s como o d Aago, l ptd s umaavtua, m po iss dia d s, como o incpit, umdscadado d todo o livo, apstados sob afoma d uma citação, uma fas lida m um stado doolêcia ou m um outo livo

40

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 37/171

REESCRIA

Escrever pois sempre reescrever ão difere de citar.A citação graças cosão metoímica a que preside leitura e escrita ue o ato de leitura ao de escrita. Ler ouescrever realizar um ato de citação A citação represetaa prática primeira do teto o dameto da leitura e daescrita: citar repetir o gesto arcaico do recortar-colar, aeperiêcia origial do papel ates que ele sea a superfície

de iscrição da letra o suporte do teto mauscrito ouimpresso uma forma da sigicação e da comuicaçãoligüística

A substâcia da leitura (solicitação e ecitação) acitação a substâcia da escrita (reescrita) ada a citação.Toda prática do teto sempre citação e por isso queão possível ehuma deição da citação Ela pertece origem, uma rememoração da origem age e reage emqualquer tipo de atividade com o papel Mas se o modelo dacitação está a origem arcaica (o ogo de criaça) e atual(o ) - da escrta ele está tambm por isso mesmo

4

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 38/171

em seu horiote o teto ideal utópico aquele com quesohou Flaubert seria uma citação. A utiliação de uma

citação como epgrafe substitui esse ideal deformadooE a impossibilidade de realiar o ideal o livro se cotetaem ser a reescrita de uma citaão iaugural que por si sóseria suciete.

Se o modelo da citação do teto todo ele reescritoasssta fascia aida mais. Ele toca o limite em que a

escritura se perde em si mesma a cópia. Reescrever sim."Mas copiar di Arago "isso é mal visto observem quetodo mudo copia mas há aqueles que são espertos quetrocam os omes por eemplo ou que dã um jeito de seapropriar de livros esgotados'25 E Fraçoise cheia de bomseso preveia o arrador deEm Buca do Tempo Perdidorecrimiavao por dar as dicas de seus artigos ates detêos escrito "Todas essas pessoas aí são copistas. Vocêprecisa descoar ais'26

A obra de Borges rereseta sem dúvida a eploraçãomis aguda do campo da reescrita sua eteuação. oisse a escrita é sempre uma reescrita mecaismos sutis dereulação variáeis segudo as épocas trabalham para queela ão seja simplesmete uma cópia mas uma traduçãouma citação. É com esses mecaismos que Borges orgaiaa violação. "ierr Meard Autor do Quijote' um doscotos reidos sob o títlo de Fiction (Ficçõe realiao ideal do teto e pretede que ele se distiga da cópia.ierre Meard

não qeria copor oro Qichote o qe é fácil aso Quijote Inú acrescenar qe ee nnca iagino atranscrição ecnica do rigina não se propnha copiá-oa adirve abição ea reprodzir agas páginas qe

42

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 39/171

cincidissem palavra pr palavra e linha pr linha cmas de Miel de evanes

Esse é o poto limite para o qul tederia uma escrita que,equato reescrita, se cocebesse até o m como devir doato de citação. Oportuamete, será ecessário retomaressa idéia

Mas, por ora, se impe uma questão: quais são os

tetos que, ao escrever, eu desejaria reescrever? Aquelesque Rolad Barthes chamav de "escriptveis quadopergutava: "Que tetos eu aceitaria escrever (reescrever),desejar, levar adiate como uma força esse mudo que éo meu? O que a avaliaçã ecotra é este valor: o que podeser hoje escrito (reescrito) o ecrí"28 á sempre

um ivro com o ual desejo que miha escrita maeauma relação privilegiada, "relaçã em seu duplo setido,o da arrativa (da rectação) e o da ligação (da adadeeletiv) sso ão qer dier que eu teria gostado de escreveresse livro, que o ivejo, que o recopiaria de bom grad ou oretomaria por miha cota, como modelo, que o imitaria,

que o atualiaria ou citaria or exeo

se pudesse; issotaém ão destraria o meu amor por esse livro Não,o teto que é para mim "escriptível é aquele cuja posturade euciação me covém (o que cita como eu). É por issoque esse teto ão é uca o meso livro, é por isso que oQoe de Meard, é também um outro Quiote.

4 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 40/171

  TBALHO DA CITAÇÃO

a citação stá a bas d toda prátic com o papls s atribui a la su stdo plo (d opraçs dobjtos) s s cosidra tudo o qu la p m movimtoa litura a scrita para matr sta distição práticasão prtit tdo a ctção mostrado ustamt asua imprtiêcia ão é mais possívl falar da citaçãpor si msma mas somt d su trabalho do trabalhoa citação. A oção d trabalho é rica é a potêcia mação o podr simbólico ou mágico da palavra é o carenou a oraão (os rligiosos das ords cotmplativasdi qu su trabalho é a oração) é o "labor' sgudo otro favorito d Mallarmé para dsigar sus trabalhosliüsticos ou o labor in o trabalho qu s fa pordtro d acordo com a timologia qu propuha Évrardlllmad para o labirito.2 E o labirito é o tto umard d citaçs m ação. Tudo isso parc um igma: oqu u trabalho m trabalha ao msmo tmpo? O toa citação.

44

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 41/171

Trabalho a citação como uma matéria que eiste detrode mim; e, ocuadome, ela me trabalha; ão que eu esteja

cheio de citaçes ou sea atormetado or elas, mas elasme erturbam e me rovocam, deslocam uma força, elomeos a do meu uho, colocam em jogo uma eergia são as deiçes do trabalho em fsica ou do trabalhosico. a ctação, mascataria e tecelagem, sou a mãodeobra. É de toda a ambivalêcia da citação, masarada or

uma caoiação metomica, que está carregada essaoção de trabalho: a ambivalêcia do geitivo, em que acitação é atéria e sujeito, em que eu souativo e assivo,ocuado com e ela citação como uma mulher rota aradar lu. Os igleses chamam algus tetos de working

 aer a eressão, ifelimete, ão tem eqüivalete em

fracês, ois ela evdecia a cumlicidade do trasitivo edo itrasitivo o trabalho sera melhor dier "a açãode trabalhar O wrking aer é o trabalho em rocesso,o teto se costruido (uma duração que o livro gostariade igorar) É o ael em trabalho; é reciso imagiálocrescedo como uma assa

Célie acetuava, freqüetemete, o trabalho que seuslivros eigia dele, trabalho imeso, rodigioso, doloroso,que se faia em horas, em dias e oites, em milhares deágias, trabalho cuo destio era ser egado elo livrofeito, erderse deto dele.

eqüetemete as pessoas vêm me ve e me dizem aeceqe você esceve com mita facilidade Mas ão Não escevofacilmete! S com mita dicldade! Além disso esceve mecasa É peciso faze mito amete mito delicadameteazem-se mas 80 000 págias paa obteem-se 800 págiasde mascito em qe o tabalho é apagado Não o vemos Oleito ão deve pecebe esse tabaho

45

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 42/171

A reescrita é uma realiação, ão somete o setiomusical de uma tadução. O trabalh da citação, aesar

de sua ambivalêcia ou or causa dela, é uma prduçãode teto, orking aer A leitura e a escrita, orquedepedem da citação e a aem rabalhar, produe teto,o seu setido mas maerial voumes A mdalidade deeistêcia a citação é o trabaho. Ou aida, se a citação écotiget e acieal, o trabalho da citação é ecessário,

ele é o próprio teto.A citação rabalha o teto, o teto trabalha citação.

Aqui surge o enido, de qu aida ão se tratou. sso ãosigica que o teto se istia das outras práticas como papel que ão teriam setido o jgo do recorte e dacolagem fa setido, e ão é iiferete para o setdo queeu colque um vestido sobre uma silhueta masculia ouemiia. Mas era reciso começar a falar da citação semse deter o setio o setio ve por acréscimo, ele é osuplemeto do trabalho; ea peciso distigui-lo do atoe da produção para ão igorar eses últimos, paa ãoofudir o seido da citação (do euciado) com o atode citar (a euiação). orqe a moa do tabalho ão éuma paião pelo setido, s elo feômeo, pelo orkingou olaying pelo anejo da ctaç A leitura (solicitaçãoe ecitação) e a escrita (reescrita) ão trabalam com osetido são maobras e maipulaçes, recortes e colages.E s, ao al da maobra, recohecese ela um setido,tato melhor, ou tato pior, mas já é outro problema "Oleitor ão deve perceber o trabalho: a paião, o desejo e aer.

4 6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 43/171

A FORÇA DO TABALHO

A tç n te sentd e s prque e só se

rez e   trb, que des e que fz grA nç essen é de seu trab, de seu workng fenôen Busr edtente sentd d tçu de ququer utr s é segur u ment queNetzse quv de ret prque desnee ç,ug segnd sua nç e n fenôe Or,

 pr Netzse n á sentd fr de u rreç fenôen Iss se p rvsente à tç: en te sentd fr d frç que ve, que se pderde, ep e nrpr O sentd d tç depended p ds frçs tntes ee é essenente vráve, esreveu Ges Deeuze sbre sentd, segund

Netzse, sepre u purdde de sentds, uconstelação u pex de suessões s tbé deexstns3

Cntr ngüst retvà que t pr bet nguge e su reç sentd, nç, e

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 44/171

assim igora o feômeo a força e o trabalho da citaçãoo poder da liguagem cové segudo m programa

"ativo' avaliar a relação etre o feômeo e o setido; ofeômeo como uma atividade real e o setio segudoo cocebe Deleue "Uma paavra quer dier alguma coisaa medida em que aquele que a di quer alguma coisadedo-a'32 A questão O que ele quer? parece ser aúica que covém à citação ela supe a verdade que

uma outra pessoa se apodere da palavra e a aplique a outracoisa porque deseja dier alguma coisa diferete O mesmoobjeto a mesma palavra muda de setido segudo a forçaque se apropria dela ela tem tato setido quatas são asforças suscetíveis de se apoderar dela O setido da citaçãoseria pois a relação istatâea da coisa com a foça real

que a impulsioaUma ve admitido o feômeo que eiste sob o setidoé preciso coseqüetemete sem dissociar em oraras fors que ambos pem em jogo pesquisar o setido doeômeo as forças que o produem como um abalho.Eis o obetivo de uma ligüística que se desejaria "ativ'

ora outra aordagem a citação que ão faça referêciaàs forças que a realiam às forças arcaicas do recortarcolar por eeplo seria simplesmete isesat O tetofeômeo ou trabalho da citação é o produto da força pelodeslocameto

4 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 45/171

-

  SUJEITO DA CITAÇÃO

A força que impulsioa a coisa, que a cita, remetesempre, de alguma maneira, a um sujeito Mas isso apeasafastar um ouco a diculdade qual o sujeito da citação,aquee que quer dier alguma coisa e que quer algumacoisa citado? eria ele ideticável a uma istâcia jconhecida, sujeito do euciado, da euciação etc?

Eis o que escrevia Codillac o verbete "Redire de seuDicioário de iôimos:

REIZER VRepetir, rebater Redizemos repetimos aquilo qu dizmos várias vzs Mas parcm qu redizemos ascoisas porqu é ncssrio rdizêIas aos outros qu

as repetimos por squcmnto ou porqu é ncssáriorepeti-las para starmos crtos d conhcêlas Frqüntmnt sou obrigdo a redizerlhes as msmas coisas é por isso qu m repito nas obras qu produzo paravocês Os réditos d qu vocês ncssitam fazmm cairm repetições.33

4

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 46/171

jogo é complicado e etretato ão se trata aida dacitação egudo Codllac parece que forças dieretestrabalham o rédito e a repetição eria preciso poisdistiguir a euciaão um sujeito do rédito e umsujeito da repetição A euciação é ambígua seu setidoé idetermiável pois ele ão cessa de girar o campo dasforças que são aptas a maobrálo. sso se deve à icerteaem que se ecotra o leitor ou o ouvte quato à posiçãodo sujeito da euciação m relação ao euciado. Mas ãosera também por que a oção de sujeito da euciação évasta demais vaga demais? eria bom reduila descobrira variedade das guras e das persoages ou melhor adas posturas de que ela se compe. eria ecessário pelomeos distiguir o sujeito do prefácio o que redi "Eiso que eu quis dier) o sujeito da publicação (aquele queassa o teo e que se epe a vtrie) e o sujeito dacitação irredutível iqualcável ele se aucia em voalta "Cito e "Fim da citaçã.

Citado faedo com que um etrateto iterra a

escita itroduido um parcero simbólico teto escapara medida do possível ao fatasma e ao imagiário. Osujeito da ctação é ma pesoagem equívoca que tem aoesmo tempo ago de Narciso e de ilatos. É u delator vedido apota o dedo publicamete para outrosdiscursos e para utros sujeitos mas sua deúcia sua

covocação são também u chamado e uma solicitaçãou pedido de recohecimeto. De fato o sujeito daitação é o je de Motage Nem feomeoógicoem autoiográco em etaligüístico ele desiga oreetidor ou o relator o portavo sem fé em lei Deada adiata replicarlhe Quem o di o fa sso já ão

o ipressioa há muto tempo a deegação é sua força

5 0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 47/171

como se ele ão cessasse de repetir a cada citação "Osautores desevolvem livremete uma opiião com que

somete eles se comprometem' De ceta forma ão hsujeito da citação seão em ree democrático daescrita

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 48/171

LPA DE GUILLAUME

xi ial ipogo a iação um iiao quqüval a "Eu io a apa qu o impo Guillaumia ivao o éulo XV paa quaa iola umiuo apao m ilo io ou uma iaçãoAiom apa a pição o om ppio oauo iao ob a oma uma oação ialaa "ilao phia a ção qu a apa im équ a palava é aa a um ouo qu o auo uia àuiação m bíio um ouo a apa igamua -uiação ou uma úia a um iio auoEla opam uma uil ivião ujio aialam olug m qu a ilhua o ujio a iação mora miaa omo uma omba hia

A xpaão ompoâa o uo a apa gu ama lgia quao la om ao qu limiamuma auação ou uma auaão m oo aouma valoiação a uiação qu m po diaiamo A apa quado ão mm mai a um

5 2

,1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 49/171

ujio prio or- u péi pir olho iiulção ou pl qul o uor x vroo ão o go plo uio qu l morprou m r qu ir o o o. A pi ugr: "Não ou u qu o i' M bémão i qu o i ou o i u ouro u "i' opiião o prprio uor lv um lior o qu lguéri poio ir. São pquo iqu or oli

qu iurm u hição u gru libr oxo por o o uor og o lior o gu bu pri

uo pr iiguir p o iálio (o qu éorário à u orig ou) quo o vio quigii uição Co p mr- oqu é ou quilo qu o uor rui porqu lhpr olo mi. Com o iálio r o proxlo qu á à rgm opião ou u iiêiou prvlorição o uor um riviição · uição. ilio qüivlri "Eu ubliho ou "Souu o qu o i' El v r ruio é ipo gráo qu iprim mbé o préimo um lgu rgir qui rgir à lígur é ih prpri lígu Ervo iálio uléxio íimo u iioário poliglo ou iioll mihilopéi pol Aim ou i pr oiálio qu qulqur ouro lugr o iálio é rii

jri úvi qu o lior ror u xoguio u rço E opção o u quivom p pço o lior qu o o bíio úi. Digolh: ph io oo voê quir o piç ão ou u qu vo r pho ou "Nãogori o ir qulqu oo ão poo gir

5 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 50/171

( our orm N uição ir iâi o

!ujio proum orgim mir omplxO qu p iálio mum io? E oruç! pruç progrmim?

Rol Brh ro rição um iêio gru iuro qu l hm bahlogi�4 qu ri por objo o lomo ligugm o

i io guo rpç uição p p p ad libi Ao prr p iáli ão prr o xo guloim ou lbrçS há um pixão ri liur ( oliição)l uprim o i uição i oli mrmoro m gu iç. Aliá p iálio

ão prm o prmiro impulo ri Rlom pr ão m iigr omigo mmo m m rgr(omo m urr io é m ulr?) oo iuirmiári uprpoho o xo oliição umrmção r( )uiç prii o irurr uiçã u i m rriório ou m pr\

iio ão omo um priur mul iiç rimo o or irprção qu oopoior prop o xu

M uição á imi m oo o xoC plr ir- um l ir oo prç um ujo iéio plr ri

r qur por um il próprio A bahooie iúil ogr o pouo iiorrhio Quo uição p quo oi orgm quo orç qu olm plr lum br ão imp umirprção Cro xo rum o i umm

igri u uição l pm m

54

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 51/171

destaques, sem aspas nem itálicos Seus sujeito sãoindifereniados; seu polimorsmo não é ordenado Toda agradação da enunciação deve ser descoberta na leitra nasolicitação ra, não é sempre assim? No texto trapaeirocheio de aspas começo por tirá-las todas a de coocáas onde tenho vontade Toda leitura recusa ou delocaaquea que se dissimula na escrita, e não são aspa queimpedem esse gesto.

5 5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 52/171

EMBREAGEM A FRiCÃO

No prefácio da edão de bolso de Essai sr les

Aciees Liérares Geraiqes (Esaio sobre asAntigas Literaturas Germâcas), de Jorge Lus Borges (ede M E Vasquez, cuo sobrome ão aparece a capa dovolume, mas na folha de rosto do vro, preceddo apeasdas cais de seus prenomes), encotra-se a sta dasobras do autor (o caso, Borges, estado ecludo o seu

parceiro) disponveis em traduão francesa Uma grahadesastrada modcou o ttuo a prmera nha da staFicios (Fricões), Edões Gallmard Como não sealegrar com uma sorte dessas, que vem atrbur a Borgesu escrito apócrfo, um a mas em sua hstóra Friciosseria o lvrodos lvros, que fata a bboteca de Babe,6

a teora geral do ivro como ctaãoO que são, de fato, essas frcões tetuas senão osatrtos de duas peas de uma máqua de escrever Umata se desenrola eado uma outra, a que ela transmitemovmeto através de um cotato sem deszamento A

5 6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 53/171

segunda ta moiliza, por sua vez, uma outra, e assim pordiane, até pôr em movimento odo os livros, que, por

meio da fricão, repetem o primeiro Mas como foi lanadoo primeiro livro, a partir de que energia ele se comunicacom todos os outros? Esse é o misério nas letras, a que aescritura de Deus troue algumas vezes uma resposa

fricão é uma espécie da citaão, e a máquina deescrever (não somente a de Borges), uma emreagem africão em eterno movimento

5 7

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 54/171

 MOBLÃO

Quano ao xo o nido o fnômno ão

inparái; a ciação coniui u póo raégicoo ugar ond cruzam ou o u pono d angência:xaamn o ugar m qu é impoív ignorar a riacorração nr o nio o fnômno, qu odavia não confundm São inparávi, a ambéirduíi Fnômno o xo é um rabaho da ciaçãoua obrvivência ou an uma anifação do goarcaco do rcorar-coar (a cana rún a popridada oura coa; nido é uma rd d forçaqu rabaam docam É por io qu o rabao é arfrência capia coprnd a força o docamno,o nido o fnômno A ciação uma manipuação qé m i ma ua orça um docamno, é o paço

privgiado do rabaho do xo; a ança a rança anâmica do nido do fnôno.

Io pod r facimn nndido: a ciação é umopaor ia inrxuadad a apa para a

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 55/171

comptência do litor timula a máquina da litura qudv produzir um trabalho á qu numa citaço fazm

prnt doi txto cua rlaço no é d quivaêncianm d rdundância Ma trabalho dpnd d umfno imannt ao ntido condzindo a lituraporqu há um dvio ativaço d nido u ro umadifrnça d potncial urto-circuito. O fnmno éa dirnça o ntido é a a roluço

Ma todo ogo (a ativaço a paraliaço a fuga o nxrto) ir vir tm pouco a vr com o ntido(próprio) da citaço uma citaço dprovida d ntidoou mlhor d ignicaço tria qua o mmo fito darrbatamnto ou d mobilizaço Na ativaço d ntidoproduzida no txto pla citaço no é o ntido da citaçoqu ag rag ma a citaço m i mma o nnoExit um podr da citaço indpndnt do ntido poi a citaço abr um potncal m dúvida mântio ouliguagiro la abr ant potncia: la é anobra da linguag pla linguagm un o gto à palavra comogto ultrapaa o ntido

O grgo ditinguiam dynai a força m potncia ergo a força m aço Sócrat chamava d dynaio nuiamo a inpiraço dvia do rapodo on:37 odu o ncitava Aim também é a citaço ua dynai,cuo to é o ergo o trabaho ou a aço a paagm ao

ato. Aliá é por r uma dynai qu à vz a citaçocofund o lgo co o ergo o izr com o fazr Suprincípio trancnd o doi.

Qu a ubtância da citaço para alé do acidndo ntido do fnmno é ua dynai, um podra timologa o onra. iar, a p

9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 56/171

vet, faze assa d eus à a. O setdd ve dease ass caete, faze v a s,

chaa (da a cce udca de ta), des,excta, vca, e, vcauá lta, beaua e E td cas, ua fa está e g, a uecca e vet N vcauá da corrida, dz-seue torero "ct tu vca seu ataue à dstâc,ata agtad u ebuste date de seus hs Esse

é cetaete, eeg ue eaece as fe asetd e e essecal da cta da cta dscus cede ada desse c e cseva seu esetógc: é u euste e ua fa tz, seu setdestá acdete u chue Aasada c u fatde guage, é ecs cta c sua fa e zea aa

eutazáa, s essa fa feea, esse debzad, é a cta ta c é e s esa, ates dese aa agua csa

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 57/171

UM FATO DE LíNGUA UNIVERSAL?

Ctar podese magnar uma prtca de lnguagemmas arcaca ue essa? Ela é o bêb do brbaro quandoele repete os gregos é o "amãe do a quado eleclama por amor m ato de ala elementar e prmtoorgara todas as espéces culturas, deológcas e retórcasde repetão; sera um ato ateror ao dscurso, mas jncerrado no dscurso, o da crana que tenta reproduzros sons proerdos dante dea por u outro que não éanda seu nterlocutor sera também o gesto essencal detoda aprendzagem, não somente a da lnguagem "taré natural aos homens' dza Arstóteles, "e se manestadesde a nânca o homem diere dos outros anmas porsua aptdão para mtar, e é araés dela que adqure seusprmeros conhecmentos)38 Imtar assegurara o domnoda ngua, e ctar, o do dscurso: Proust não dza que todoesctor comea pelo pastche? A ctaão tera exstdsempre, desde o nascmento da lnguagem até a socdade

de laer Quem contestara sua unersaldade?

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 58/171

Ela é duvidosa, entretanto s� e acredita no testemunhode Botzarro utilizado como epígrafe.39 Mas não é preciso

procura na narrativa de uma agem ao país das maralhasaquilo que poderia perturbar nossa feliz consciência daperenae os aos e scrso

Não há, nem em grego, nem m lati, nenhumapalavra que possua o sentido exato da citação (comoprática discursiva especíca) tal como o entendemos no

francês e omo o traduzimos, sem rodeios, para o inglêsou para o alemão Sem inferir da ausência da palavra aausência da prática, o que faltava na antigüidade era, emtodo caso, uma categoria que permitisse pensar, enunciartal prática como unicada de maneira institucional Acitção, entidade discursiva, noção à qual certas páticas

do discurso se subetem, não teve senão um aparecimentotardio na história da línua, pelo menos na do Ocidente,marcada pelo pensaento grego

Essa constatação conduz a uma série de questões por que, quando, como a citação tornou-se uma práticainstitucional? mas as coloca obliquamente Com efeito,

como abordar o estudo de um fato de linguagem que, sendotalvez universal mantém práticas sociais fragmentadas,variáveis e particulares ou é por elas mantido?

Desde então, falar da citação através das eras (da vida,do mundo), incluí-la como objeto de estudo entre aspráticas de linguagem consideradas de caráer universal

caráter que, embora possa ser o seu, não é vericad� é estar em uma posição a que se contrapõe qualqueresquisa histórica que al tenha começado A proposição:"Na antigüidade não há citação cujo pretexto é a ausênciada palavra, não tem nada e uma constatação inocnte e

62

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 59/171

indisctível; ela cede, mais a ve, piniã segnd aqal cada éoca teria ma itaçã sa negaçã, pdendesm nã haver nem ma, nem tra Dennciase esseraciocíni qe prjeta em m tr hrinte, gegrác históric, ma categria atal, e qe avalia ma tra(alhres e assada) base d mesm (aqi e agra)Mas nã é mens cmm reprdil qand se trataparticlarmente das práticas de lingagem qe, pel fatde sere institídas, sã tdas datadas e lcaliadas. Oaparel frmal qe se cnstrói para apreendê-las dáa ilsã de qe se escapa d particlar ara atingir niversal Mas a nidade mdel qe ele descbre é cícia,pis repsa nas categrias precárias e cntingentes qe

sã as nssas hje; pr cnseginte, ela nã chegaria aadqirir valr de m mdel teóric.alve, pr essas raões, seja precis cnvencrse da

impssibilidade de ma ciência d discrs, senã alínga nã há n discrs, enqant pst línga,nada de necessári nem de niversal A mair ambiçã

qe se pderia ter em relaçã abrdagem ds fats ddiscrs seria elabrar nã ma teria, mas ma arte naantiga acepçã da palavra, a ar ds latins, qe trad ateché gegs, ma ciência da praxe Cnstrir maarte da ennciaçã e nã ma teria d ennciad era prjet ds antigs retórics qe, n entant, da idade

média aé a idade clássia, fi send abandnad pc apc.40 A nidade da retóric� da ietio até a actio e aeria dispers-se em ma nva divisã d métdn sécl XV a retórica prpriamente dita, cm Omeraln, pr exempl, nã cnserva mais cm bjet senãa eloctio (otio) enqant a ietio e a dioitio (rtio)

ligam-se dialética Da retórica cm arte, retmaram-se

63

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 60/171

prcediment particulare de u da palara litadn adeec catálg de truque e eperteza ninumeráei manua d écul XVII bre "a elqünciad púlpit e d fr bre a cera na crte a alcancede td e também da mça. He deenlveu-e umat terren de preparaçã para exercci d dicur;na emprea na aminitraçõe eminári decmunicaçã a dinmica de grup a epreã ral e

utr ucedne e integram facilmente à frmaçãprmanente u dela cntituem eencial embra eamcniderad cm deprez pel que pretendem etudar acincia d dicur. herança da antiga retórica encntrae dividida entre a análie d dicur egund mdelda ingütica etrutural e a técnica da cmunicaçã

ubmetida a uma perfrmance cial. A arte d dicurtma dua direçõe predminante que lnge de ecmpletarem e ignram u e deprezam uma mltanteuga a utra a epeculatia paraitária; eta repnde àprieira chamanda erva d pder ulganda muititante da erdade cientca cu mnpóli reiinicapaa i ema. Pdee deear delcar ea direçõed dcur a m de recniderál relatiamente à arte ri mai que oiéi, egund a initncia arittélica uma abrdagem ativa que tmae at d dicurc um at que zee dele um at.

a a quetã cntinua cm tratar um at dicuriaacterizad pela lidariedade entre uma etruturantal e um fat de linguagem talez unierai e umaptica intitucinal eguramente cndicinal na uadalidae diera?

6 4

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 61/171

FO E FUNÇÃO

s frmasas russs em parcuar Tynanv,41nssram na necessdade de uma dsnã enre a frmae a funã de d eemen dscursv, a m de vrars esuds erárs de sua endnca a racnazar unversa cm base em caegras parculares, a descar scrérs próprs a um ssema para aprecar s fenômensdependenes de um ur ssema Em um dad ssema,uma cera frma cumpre uma cera funã; mas, emur ssema (ur ugar, ura daa), a mesma frmapde crrespnder a uras funões, u nã ue nãsgnca ue ea seja prbda , e a mesma funã pdecrrespnder a uras frms, u nã Há enã, uanà evuã ds eemens dscursvs, uma aunmareava da frma e da funã

É precs apcar a dsnã enre frma e nã àcaã, ue, na verdade frma e nã espnaneamenecnfunddas , é uma caegra própra d ssemacuura cdena ds emps mderns, uma nã

6 5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 62/171

hstórca e deológca nserda em uma certa conguraçãosocal Não se trata nem de desconhecer nem de exclur

a exstênca possvel de outras modaldades da repetçãoem outos sstemas culturas a ladanha ou a prece porexemplo Mas a precaução metodológca é ndspensávelsem ela as pequenas dferenças a ctação nunca é senãouma pequena dferença desapareceram sob o enganode um retorno eteo do dêntco a ctação sobrevvendo

a s mesma desde a orgem do dscursovte até aqu falar de funções da ctação no dscursoas dversas tentatvas de denção da ctação e a pequenatpologa proposta para seus valores de repetção baseams em crtéros formas e não nconas Tynanov chamavade 'uno construtva de um elemento da obra como

sstema sua possbldade de entrar em correlação com osoutros elementos do mesmo sstema e portanto com osstema nter42 Anção de ua ctação garante a relaçãoda ctação t em 2 com um outro elemento de 2 ou com em seu conjunto ao passo que a forma de uma ctaçãoapresenase como uma relação enre os dos ssemas

onde t gura e 2 odemos descrever todas as formaspossves catalogar todas elas elaborar um modelo queas detemne esse é o objet de um esudo forml; masas funções estas são essencalmente varáves segundoossstemas estabelecem-se em um regme de dscurso quedecde seu destno são prátas efêmeras e emprcas paraas quas não há catálogo exaustvo possvel

Vejase o verbete "ctação do ett Robert assagemcada de um autor de um personagem célebre geralmentepara lustrar u apoar o que se enunca) ogo emseguda à denção formal ele sugere certamente entreparênteses como que para se exmr de responsabldade

66

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 63/171

ua avaliaão funcional que, embora não pretenda acopletude é tomada como geral, não como universal, privilegia duas nões, certamente as que predominhoje o ornamento e a autoridade, em detrimento de todasas outras Ora, esse desejo de precisão não é necessário,sem dvida nem mesmo legítimo, em um dicionário delíngua do qual não esperamos senão uma denião formalCaberia a uma enciclopédia enumerar as nões da citaãoe estudar, na história, a relaão evolutiva entre a não eo elemento formal, sua interaão

O eemento formal da citaão pode satisfazer a um vastoinventário de funões is algumas que Stefan Morawskijulga fundamentais43 funão de erudião, invocaão de

autoridade, funão de amplicaão, funão ornamentalMas o que fazer, na prática, com um tal repertório quenão é nem eaustvo ne homogneo duas prmerasfunões, de fato, são eternas ou intertetuais, as duasoutras internas ou tetuais; ou, nos termos da antigaretórica, as duas primeiras funões nascem da inenio, as

duas últimas, da eloio. A importância de um catálogode nões é restrita como passar do catálogo para umaclassicaão?

m compensaão, se se descarta deliberadamente oestudo funcional, e se se adota uma denião formal dacitaão como ato de discurso (um enunciado repetido e

uma enunciaão repetente, como mecanismo simplese positivo que liga dois tetos ou dois sistemas, tem-seà disposião o índice de seus valores de repetião quesão os interpretantes das relaões elementares e bináriasentre os dois sistemas ntão, uma funão da citaão éum interpretante da relaão multipolar S (A - S2

(A2 2) um baricentro dos valores simples de repetião,

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 64/171

cada uma tend seu cecente póp; e as gandesfuões stócas da ctaã que sã tadcnalmente

stadas cncdem cm dmn destes u daquelesvales smpls de epetã sbe uts uma funã uma eaqua especca ds vales de epetã tdssmultaneamente estentes A funã um val em queuma pca nvestu; uma ntensdade u uma cmbnaãpatcula stcamente cndensada de vaes póps;

uma nsttuã cua cnseqünca que tda ctaãem um cet unves de dscus em que sua nã suspensa v seu suplement, suas pssbdades de sentdlmtadas tavez aoldas, cm se ea nã pudesse te a t nã n únc nçã nã que establza a dnmca da ctaã e a ecnduz

a equlb

6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 65/171

 SIMUCRO

uga d dut btd ea é d "tece

descendente atndse d e, que dze, da vedade'44dz Pat, n v X d Reúblca nde anasa n mas va scógc da é mas seu va ntógc,e eça a cndenaç ma atavs de uma aecaçmetaísca Pmeamente, a da vedade u da eadadehá a rma únca u a da de cada csa (a da de cama

u de mesa, a mesa u a cama em s, cuj cad Deusem segund uga, há bjet de us que eá u ates duz segund mde únc, e que cóada eadade; em tece uga, enm, a magem btdae nt u e eta e que cóa da cóa, s mtaç d bjet d ates e n da da "Ts tsde cama Uma que a ma natua e da qua demsdze, ce, que Deus aut [ ] des uma segunda,a d mcene ] e uma tecea, a d nt45

Na cadea que va da da (edo) à cóa (edolon) eà cópa da cópa hanaa) e à medda que se aasta

6 9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 66/171

da verdade, a semehan ou a deidade ao modeose perverte a cópia d cópia é uma cópia degrdadEm outras paavras, não á, entre a cópia e a ópi dacópia, uma diferença de treza, mas apenas de graum diferenç mensuráve pe grau de afastamento daverdade

tão rá em Sot, uma descrição diferente doncionaento da E é apresentada a como arte de produzir em particuar no discurso é o aso

do sosta "absoutamente todas as coiss ogo, deproduzir imagens (edolo) "Do homem ue, através deuma arte ia, se crê capaz de produzir tudo, sabemos, emsum, ue ee não fbrirá enão tae e hoodas reaidaes'46 E essa técnica se encontra na pinura ena inguagem Mas atão distingue ogo dois tipos deiage e divide a mimétia em duas por um ado, arte deproduzir cópias (eo), as boas imagens ue respeitmas proporções, ue são dotads de semehanç om a idéia;por outro, a arte de produzir lacro hataa), asmás imagens ue simuam cópia, ue fabricam iusão,ue são desprovids de semehança com a idéia poruesão produzidas sem passar pe idéia

Essa iisão da arte ue fabria imagens em duascasses, a ate da ópia e a arte do simuacro, não apreceem Reúblca Ta como acb de ser enunciada, poderse-ia pensar ue e estabeece uma nova maneira dedistinguir entre a cama do marceneiro e do pintor, sendo

esta uma má imagem, um simuarofantasm, e aueau boa image, uma cópiacone Essa concusão seriafaa·Retomando, no m d Sota, a especicção dsartes de produção, atão s divide, inicimente, em doistipos a produção divin e produção humna depis,

7 0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 67/171

divide ainda cada um desses dois tipos em dois a produçãodas realidades e a produção de imagens. Do lado divino,

as realidades produzidas correspondem à criação, e asimagens são as sombras, os reexos, os sonhos. Do outrolado, o omem "através da arte do pedreiro [ . ..] cria a casareal e, através da do pintor, uma outra casa, espécie desonho apresentado pela mão do homem de olhos abertosA produção humana se compõe, pois, de realidades e

de imagens, estas últimas se dividindo, por sua vez emcópias e simulacros É preciso tirar daí duas concusõesPor um lado, que os obetos manufaturados não são maisapresentados como cópias, mas como realidades, o que estáde acordo com o fato, retomado por Aristóteles, de Platão,no na de sua vida, não acreditar mais que houvesse idéias

às quais os obetos manufaturados corresponessem. Deoutro lado, encontrase o que é decorrente da constataçãoprecedente os obetos pintados não são mais apresentadoscomo cópias de cópias, mas como imagens opostas àsrealidades. Assim se explica a produção de images de ummodo mais preciso e satisfatório do que em Replica.

ealmente, por que o quadro seria cópia da cópia; por queo pintor imitaria a cama do artesão e não a idéia de ama?A resposta era a seguinte o pintor imita o obeto do artesãoe não a forma única, porque representa a aparência e nãoa realidade, usando, pr exemplo, da perspectiva No hásenão um ponto de vista quanto à forma ou à idéia; ora,

o pintor repesenta segundo uma variedade de ponts devista não é, pois, a idéia em si mesma que ele imita, masapenas a sua cópia. A cadeia de produção idéia-cópia-cópiada cópia é substiuída, em O Soia por uma arorecêciahá uma difereça de natureza entre o obeto manufaturado(a realdade e o obeto pintado (a imagem; há uma outa

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 68/171

iferena e natureza entre as imagens, entre as cópias,e os simuacros Como arma Gilles Deleuze, no é o

afasamento a reaiae que perverte a semelhana osimuacro com a iéia e sa eliae ao moelo, massua natureza, sua essência po assim izer, ao que osimulacro não é cópia e absolutamente naa, é cópia onãoser

e tas siuacr c ua cópia u ícne innitaente degradad, ua seeança innitaente reaxadaestas passand a arg d essencial a dierença de naurezaentre siuacr e a cópia aspect segund qua ees cpõe as duas etades de ua divisã

arece que estamos assim em conião e ir ao unoo julgamento que Plato fazia, no livro ' Reública,sobre os iscursos ireto e inireto Tratava-se para elee, opono-os, proceeno à visão, eninoos comouas espécies a narrativa ou a digss, escolher um ououtro fnaiae a ivsã, escreve aina Deleuze,"não é em absouto iviir gênero em espécies, porém,

mais profnamente, selecionar linhagens istinguirpretenentes, istinguir o puro o impuro, o autêntico oinautêntic9 Plato, no caso, escohia o iscurso inireto,rejeitava o iscurso ireto Ora, confrontano essa posioco o estuo ontológico a isis no ivro X era ifcilcomprener sua coerncia Com efeito, como integrar o

isurso iniro ao objeto o arteso, ambos valorizaos eo icurso ireto ao objeto pintao, ambos esvaorizaosPara isso seria necessário que o iscurso ireto puesseser consierao cia o iscurso inireto, como o objetopintao é cópia o objeto manufaturao Compreenese-ia muito elhor o contrário Haveria, entre eles, mas

7 2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 69/171

que uma ligação descendente uma dierença de naturezaaáloga à que Platão em O Soita estaeece entre o

simulacro e a cópia. No mesmo níel de especicaçãodas artes de produção o discurso indireto seria a "o'imagem a cópiaícone e o discurso direto a "má imagemo simulacroantasma. Eles seriam duas suespécies daprodução de imagens ou da iéi em conradição como que diz Platão no liro III d' Reública onde só se reere

ao discurso direto mas conforme a Poética de Aristóteles.Em outros termos enquanto que emA Reública a iéiparecia sempre ser anida em O Sota ela só é condenáelna medida em que produz uma má imagem. Todaiaquando Platão aceita uma oa imagem ele se presera dedar algum exemplo de colocar seja o que or em um lugar

positio assim como em A Reública ele não tinha nadapara colocar no lugar reserado à narratia pura e simplesem amos os casos só lhe nteressa o termo negatioonde encurralar o poeta ou o sosta "Quanto ao restdiz ele "permitamonos essa preguiça negligenciemolodexando a outros o cuidado de trazêlo de olta à unidade

e de lhe atriuir um nome coneniente' 50 Somos nósconseqüenteente que preenchemos o enquadramentoda oa imagem da cópia com o discurso indireto

Em resumo a repetição (o discurso direto ou a citação)seria condenáel menos por realçar a iéi que por serum simulacro imagem má ea é animada pela malícia é

geradora de nãoser e indutora de falsidade; assemelhaseaos procedmentos sostas que usam e ausam do podermágico do logo para produzir a ilusão e a trapaça odiscurso sem denotação

Mas isso supõe que haa alguém sore quem se possaexercer esse poder Alguém a quem dar a ilusão de que

3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 70/171

aqulo que ele vê ou ouve é verdade) não há smulacro ems sem o outro, o nterlocutor, pos que ele este em função

deste, como observou Xaver Audouard5 O Sócrates delatão é um smulacro para seu parcero, assm como odálogo e a ctação para o letor precso nsstr: é ooutro, o usuáro e o enganado que faz o smulacro, queé responsável por ele Só há smulacro consentdo o quenão restrnge o seu poder, mas determna os canhos de

sua aplcação

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 71/171

 MOSTRAR

A onepção plania da iéi é omandada poruma analogia a da pinura e a da poesia Com a ii,o disrso é pensdo em ermos visais ópia (eidolo) eópia da ópia ht) em Repúblic, ópia (eio)e simlaro pht) em O Sot Plaão deve essaanalogia, para ele essenia, ao poea Sionide de Céosqe, segundo as palavras de Marel Deiénne "marariao momeno em que o homem grego desobre a imagemEe seria o primeiro esemuno a eoria da imagem []o primeiro esemunho da dourina da mimésis2 FoiSimonide, segundo Pluaro, que iniialmene formlouo élebre ut piu poei "Simonide chaou a pinura

de poesia sileniosa e a poesia de pinura qe faa, pois apinura pina as ações enquao elas aoneem as palavrasas desevem uma vez erminadas53 Anes de orio,Plao e Arisóees aeiaram essa iéia. "O poe escreveArisóeles na Potic, "é imiador ano om o pinor equaler oro arisa que ria imagens

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 72/171

Aavés de uma elexão sobe a pnua e a esculua,Smonde ea assm chegado à compeensão de suappa avdade, ao mesmo epo como um ofco ecomo uma ae de lusão. Faendose paga pelos seuspoemas, concebendo a poesa como um engano e umafco, Smonde fo o pecuso dos ecos e dossosas. Oa, essas duas novaçes capas nfeem-se deuma amação sua: fala é a magem [eko das açes'55Eko: esse é o emo que Plao eomaá paa enuncasua concepção da é e sua eoa das déas a é aexea mpoânca da upua consumada po Smonde,mpoânca há muo empo avalada, como o aesa alenda que envolve o pesonagem: Smonde não ea sdosomene o pmeo a paca a poesa po dnheo, mas

ea anda nvenado a ae da mema, a mnemoécnca,assm como apefeçoado a esa6Smonde maca uma upua culua decsva e aua

no pensameno de Plaão Paa smplca goo odo:anes de Smonde, o paadgma do dscuso ea oal,acúsco com Smonde, ona-se gáco, vsual O olho

subsu a oelha, a vsão subsu a audção como ãoe como sendo pvlegao da pecepção do dscuso.A esca é solada da fala D sem dúvda, abu-se aSonde um melhoameno da esca: ele ea nvenadoleas, pemndo uma melo noação esca, ou sea,ea desenhado um alfabeo fonéco melho Oa, uma

a epesenação da lnguagem sepaa a voz da esca,pvega a vsão em elação à audção. D, ambém, o mode heuh, no ed que consdea como luses a escae a mema aca, os dos donos em que Smondeea gualmene aplcado sua concepção de lnguagemcmo agem da ealdade nm, a compeensão que

6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 73/171

tem Simonide do trabaho poético rompe com a tradiçãoda inspiração, essenciamene oral, cujo eco se encontrano on de Platão

Ora, em um universo acaico, onde o modeo dodiscurso é ora, inspirado, a repetição como tal nãoé concebíve sem um fim eficaz ou mágico. Assim seexpicaria a prudência do indígena obtida por Botzarro:

"Não se pde servir de cada palava senão uma só vezCada palavra é viva, ativa, poderosa; é uma força nauralpresente em sua unidade efêmera Ea não sobrevve àsua enunciação extemporânea e nica, não repetíve. Aroda de preces7 multiplica o encanto sem reproduzi-lo,sem repetir o processo de sua produção.58 Inversamente,

quando o modeo do discurso tornase visual, gráco,secular e técnico, na poética de Simonide e na retóricados sostas, inaugurase a possibilidade da repetição dojá dito Seu poder se modica: não é mais a inluênciamágica ou a ecácia imediata da faa inspirada, é o podereigo da mmss, da citação que repete, produz e reproduzo discurso do outro

Sócrates e Patão utam contra a escrita, contra amemória, contra a mmss e a retórica; tentam revaloizara fala em reação à escrita, desvalorizar a visão Mas eescombatem na retaguarda A prova é que o próprio Platão nãotem outro recso senão exprimirse em categorias visuais

Em O Sofsta, a arte sosta é qualicada de enganadora,produora de simulacros, a exemplo da esquiagraa, adecoração do teatro em perspectiva que, de longe, dá ailusão da realidade.59 Patão diz sobre o sosta: "Seguro desua técnica de pintor, ele poderá, exibindo de longe seusdesenhos aos mais inocentes dentre os rapazes, darlhes

a ilusão de poder criar a reaidade verdadeira de tudo o

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 74/171

que quiser' Assim é o olho que a fala sosta engana ouse ela engana o ouvido e a alma é porque estes são olhos

o simulacro no discurso é vsão enganadora e por isso éfreqüentemente comparado a wn olho A repetição do jádito dá a ver ela é uma imagem indecomponível e isso é oque az dela um simulacro

8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 75/171

U "BOA  CAÇÃO?

Se a repetiço das palavras do outro é uma are deproduzir o smulacro, cuja denotaço é incerta, seria precisoconcluir, com latão, que a citaço é necessariamente umamá imagem (do pensamento? Ou é ainda conceível quehaja, às vezes, uma oa citação, uma cópia el, uma citaçãoque possa ter vlor de argumento em um discurso e cujopoder não se aseie na lusão, na intimidaço, numa eséciede complacência do ouvinte, simétrica à enunciação,o que para latão o é anal outra coisa senão umacompacência do locutor com o enunciado? Na verdade,a sensação intervém na enunciaço e, juntandose àopiio, produz nesta um desvio do julgamento da verdade(conformidade com o real, com o que é) à imaginaço.A opinião é um julgamento sore o pensamento, umaarmaço ou uma negação que pÕe m ao pensamentocomo diáogo interior da alma consigo mesma; umaavaliação, pois, do enunciado; enquanto a imaginação,misturando a opinião e a sensação, é uma apreciação antoda enunciação quanto do enunciado

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 76/171

Uma boa citação seria uma citação em que o discursoemissão oral não interviria e alojarseia no pensamento

Seria uma ctação e pensamento.Ora haveria uma boa citação repetição de pensamento

e não de discurso? Ela manteria com a idéia com o sentidouma relação de analogia seria uma cópia e sua pretensãoà verdade seria legítima

Parece que a hipótese de uma tal citação não é aceitável:toda citação é simulacro todo simulacro é engano. Acitação é sempre questão de discurso de enunciação; nãohá citação que engaje apenas o enunciado que se liberedos sujeitos da enuncação e que não tenha intenção epersuadir sto se verica pela maneira como Platão emGorgas, reta o valor dialético da citação na sua forma

típica o testemunho jurídicoli um ordor credit retr eu dverário qundo podepreentr em fvor de u tee tetemunh numero econiderávei enqunto o otro em pen m ou nenhmM ee gênero de demonrção é em vlor pr decobrir verdde poi pode contecer que u inocente ucumb ob

tetemnho nmeroo e torizdo.

Sócrates opõe à quantidade de testemunhos a únicaopinião de seu intelocutor sua concordância através dodiálogo com a tese que ele sustenta "Eis então dois tiposde ovas a primeira na qua tu acreditas tanto quantonoutras e a segunda que é a minha6 Nenhuma citaçãotem valor de prova mas somente o julgamento de umúic ao nal de um diálogo um julgamento interiorsobre a verdade de uma proposição. Mas sabese à custade qe esforços obtémse essa cumplicidae e Platão nãohesita em citar Homero e os demais de uma maneira muitosemelhante à ossa

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 77/171

o CORPO VILHOSO DO DISCURSO

Paa da idéia de um modelo de eloqüêcia Quiiiaouiliza de maeia epeiiva e quase sisemáica ameáfoa da beleza copoal. As coisas os agumeossão os "evos do discuso e as palavas os oameossão a oupagem a em um copo são foicado peloexeccio o vigo e a beleza adam juos pois a vedadeia

beleza é a expessão viil da foça. É peciso que sejaambém assim o discuso: o cuidado com a fase comoa oalee do copo leva a pefei os oameos viiss afeações femiias a claeza e a cocisão afeaçãovebal; é pecis que as palavas como uma pele colem-ses coisas.

Sobe esse copo do discuso suseado pela elocuto(a paava em ação) que espécie de elegâcia epeseaa sententa? Quiiliao espode: Ego vero aec lumnaoratons velut oculos quosam esse eloquentae creo6 Assententae, aços lumiosos do discuso são os pópiosolhos da eloqüêcia. O que dize seão que é ua imagem

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 78/171

banal da ciação, pedra preciosa incruada no discurso ebrilhando com odos os ses reexos? Ou, como uma luz,

ela ambém pode ser um olho?Lumen, o raço luminoso é, na língua da reórica, só

ornameno, só gura Mas nem oda gura é um olho:somene a sententa pois ela não apenas ilumina, comoponua o discurso, desvenda o orador Lumen e oulus,porque smularum e aes somene um olho podeenganar ouro olho, somene um arão, uma pona, umapupila, um olar penrane O odo da ciação se faz noolhar É um rasgão, uma fresa por onde invesigar, ondeenconrar, susenar o olhar daquele que fala e, alvez,fazerlhe baxar os olhos Lumen, o brilho do olho, a luzdo olhar é, ao mesmo empo, a força e a fragilidade dodiscurso, seu componene hsérico, aquele cujo reexodepende do pono de visa. Bsa se deslocar, um nada,um pequenino ângulo, ara que a sedução se orne eramora, para que a luminosidade se embace Basa olhar,escur conra a luz

Daí um novo problema e muio imporane: assententae de brilho ão gaz, resisem à leiura? Seriapreciso eliminálas da fala que não é va voz, quer dizer,da escria? uiniliano levana a objeção: "Para mim dizele, "considero que falar bem e escrever bem são uma nicae me�ma coisa, e que a oraão escria é o monumeno daoraçã falad Isso resula em desaivar os foguees e osfogos de arifíio que se esgoam em sua lgração.

Mliplica as sententae, cobrir seu discurso de olhos,de perspecivas diversas e divergenes é se defender conrao olar do ouro, mas é ambém expor-se: fazer de seudscurso um monso, Agos, que vigia odas as saídas

2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 79/171

Se neque oculus esse toto corore velm ne caetera membraocum suum erant67 No é precso qe o dscrso

seja coberto de olhos; sso leara ao rsco de ter os otrosmembros de se corpo mtlados o corpo maralhoso dodscrso dee segr os cânones da anatoma hmana, elàs proporções do corpo do orador

8 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 80/171

"YOX: A POSSESSÃO

aroao uma vsão tracona a eóca, epresente em Quntano, entre fguas e palavras eguas e pensamenos fgurae verborum et fguaesententarum estas conssno em uma concepção oesprto (n cogtatone concena e aqueas em umaenuncação (n enuntana6 havera uas espces actação a epetção e pensamenos, reet to senentarume a repetção e palavras, reetto verborum. Tavez se evaa essa stnção, funamental para a retóca, e à nâmcaentre a paavra e a cosa, o fato e não have, ente osangos, uma entae scusva especca, que sea a

ctação, e que compreenea as uas formas a epetção,e cosas e e palavras.

Um al spostvo te como conseqüênca su,em certos casos (aqueles em que, pecsamene, operaa âmca a palavra e a cosa, quano as pópraspaavras são efetvamente repeas, e quano se aa e

um ctação no sento conempoâneo fazer vaer anaest úma como uma foma a repetção e pensamento.A patr e Ccero, o obeo a reóca esá mas o aoas palavas que as cosas, e verba que e res mas esse

8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 81/171

priviégio da elocuto em detrimento da vto, quando,por exeplo, ea recupera a gôm com o nome de

seteta, acompanha-se, oretudo em Quintiiano, deuma incessante desvaorizaço de verba, em particular naoposiço que desquaica asfgure erborum em relaçoàsfgure reru.

'

É ifíci avaliar o alcance da astuciosa distinço entrecitaço de pensamento e citaço de discurso, que teriancionado para os antigos isomorfo, por exemplo, daoposiço entre aamss e mmss em Plato porqueea escapa às nossas categorias Entretanto, parece que amesma distinço encontrase no que os gregos chamavamo tópico: o que é de fato seu lugar comum? O termo éamíguo para nós, hoje, repleto de história69 Ee no o erapara Aristótees O lugar comum no era um estereótipo,um trecho preparado, uma ogograa, uma citaço, comose tornou na idade média nas coetâneas de exempladestinadas à homilia, mas uma categoria que reunia osmeios da argumentaço comuns a todos os gêneros NaRetórca, de Aristteles, esses ugaes so três, nem maisnem menos Ees tratam do ossível e do impossíve, daquesto de saer se uma coisa foi ou no foi, será ou noserá, e tamém da grandeza e da pequenez dos fatos7Assim, próxims da citaço que seriam mais tarde, osugares no so citaçes de discurso, mas citaçes de

pensamentos, de compartimentos Ógicos diante dosquais fazer desar a causa, a m de resgatar o que lhe épróprio

Mas há ua oposiço antiga que egitima, de maneiramais apropriada ainda, a hipótese de uma distinço entreuma repet to verbo rum e uma epetto setetarum,

tanto ea he parece omóloga É o que faz a Retorca a

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 82/171

Herennum quando divide a memória em uma memoraverborum e uma memora rerum.1 Trata-se da memóra

articial e de seu exerccio segundo o princpo, mas umavez de um tópico A de meorizar um discurso, convémque o orador represente uma arqutetura estruturada emugares (Zo) onde ele dispõe imagens ormae notae ounotadamente smulacra) Ccero segundo uma analogaque evca o ero, de Platão comenta da seguinte forma

o método no captulo sobre a memóra, De Oratoreaa exece esta facudade d céeb a memóia, deve-se,segund cnseh de Simnide, esche em pensamentugaes distints, fma as imagens das cisas que se queete, depis ganiza essas imagens ns divess ugaesEntã a dem ds ugaes cnseva a dem das cisas as

imagens embam as pópias cisas Os ugaes sã s tabetesde cea sbe s quais se esceve as imagens sã as etas quenees se taçam

As imagens da memória que depende anda como tudoo que se reacona à mss e à repetção de uma anaoga

pictural são smulacros porque seu efeito repousa numaperspectiva bem-suedda epresent dz Ccero umaidéa inteira através da magem de uma nica palavra,faça udo sto como um pntor hábi marca as relações dedstância pela dferença de proporções dos objetos'7

ronuncando o dscurso o orador percorre os lugares

e recupera suas imagens. Ora estas são de duas espécies,para as coisas e para as paavras Ccero continua: meória das cosas é a emória própria do orador [ ... ,a mmóra das palavras, qe nos é menos necessára,distingue-se por uma maior variedade de imagens'74

8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 83/171

Ou seja, é menos econômico reter as palavras do queas idéias de um discurso, pois isto demanda muito maislugares e iagens Assim se explica a reserva de Cíceroquanto à memora verborum Quintiiano não verá nissomais que um exercício pdagógico destinado a reforçar aoutra memória, a das coisas emora verborum eguraeverborum são jogos de crianças Seu valor é menor que oda memora rerum e das fgurae rerum ou sententarum.

Quanto à repetto sua qualidade atém-se aos mesmosargumentosA citaçã de pensamento, a repet to sententarum, é,

evidentemente, a boa sententa ca próxima das coisas,oca o sentido e os sentidos, sobrevive à sua enuncaçã,pis é antes de tudo conceitua E face dela, há uma

figura esagradável, a da repetição cansativa, a daspalavras: ela se chama vox e é a nica que coincide com nosso emprego atual da citaçã: segundo este, não cabereproduir o pensamento, mas redier as palavras que umave já expressaram a coisa A sententa em suma, fornece signicado, enquanto a vox fa ressoar signicante Nã

é idiferente que a repetto verborum se chame 75 é som (musica), a faa, a íngua, a dicção Em enhum deseus empregos, a palavra interfere no nível do pensamentoCícero designa, por vees, sob esse termo, certos aspectosda ato. A ato é a quarta parte da retórica, yporss emgrego, a ltima antes da memória, e comporta, ela mesma,segundo Cícero, dois registros, vox e motus a dicção e gesto o orador quando, tal como um ator, ele encena odiscurso Pela dicção, o orador representa, desempenhao pape o discurso e do pensamento, das palavras edas coisas Como escreve oand Barthes, a vox é umateatraliação, "ela remete a uma dramaturgia da fala (querdier, a_uma histeria e a um ritual)'7

8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 84/171

Se se cosidera que a retórica, da nvento acto éum trajeto que vai das coisas s palavras, do pesameto

ao euciado e euciação, do setido aos setidos, asententa percorreu too o circuito; a nveto e a elocutoauteticarama ates que a acto lhe desse a marca doproduto al Ela passou sucessivamete por todos osestágios da produção do discurso como técica realizada; por isso que ea tem uma cosistêca, ão é um artifício

A vox, ao cotrário, é coo se ea se uisse ao discurso otimo mometo, e, sem ter cohecido o eto trabaho, oogo amadurecimeto que o fez ascer do ada, poucoa pouco tomasse corpo em proorções harmoiosas Épreciso pesar a vox como uma improisação, como umapassagem ao ato, um arrebataeto peloumen verborum

ela é um orameto, um simulacro, a ásara da comédiacom a qual se fatasia o oador, quado, como codeavaPatão, ele tora sua elocução o mais semehate possívelà da persoagem cujo discurso ele auci77 Com a vox, oorador dá a voz, ele se doa, epresta seu corpo, seu órgãoa uma ressoâcia azedo assim, ele possui seu pblico

Mas a voxtambém o possui quado ee fala, ela faa atravésde sua boca, como um vapio, cmo um demôio, comoum deus

O orar ue vocaiza perde o cotrole de si mesmo edo discurso, ee é ispirado por um poder que o trascede(o o já-dito); é possuído como o rofeta, o adiviho ou o

pota da Grécia arcaica Patão dizia dos poetas íricos Umapease a uma usa, outro a uma outra, e ós chamamosisso ser possuído, porque é alguma coisa como umaposessão, visto que o poeta pertece musa78 O rapsodo,por sua vez, aqee qe ampica e iterpreta os versos dopoeta, é um possuído do poea A fala mágicoreligiosa ão

8 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 85/171

é a de um omem, pois ea e é ditada sem que ee possaescoe ente faa em seu nome ou em nome de outo

Essa atenativa suõe uma mediação da eação ente osujeito faante e sua faa (mediante as noções de auto oude ssinatua, po exempo) ausente do pensamento mticoem que o ocuto pemanece anônimo

Também a vox, essa epetição denegida, a imãbastada dasententa apaece como uma sobevivência, na

etóica, da faa inspiada: a causa instumenta é a mesma(o copo místico do oado); a causa pincipa desocou-sedo sagado paa o pofano A citação é uma musa eiga,uma possesão pofana

9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 86/171

UMA REGUÇÃO INTERNA DO DICURSO

Entre Aistóteles e Quntiliano as diferenças sãosensíveis quanto s nções aos valores que eles confeems formas da repetição interdiscursiva. Elas podem assimse resumir: pa Aristóteles a gnôm é antes de tudo umelemento da nvento pa Quintiliano a ententa é antesde udo elemento da elouto. Quintiliano aliás nãodissimula o desacodo justica-o de maneira empíricafazendo notar várias vezes o contraste entre a fraca

presença daententa entre os antigos e seu grande sucessoentre os contemporâneos.

Entretanto apesr desse deslocamento que transportaas espécies da citação da nvento elocuto (e até mesmo ao para vox), o parentesco permanece essencial entreessasconcepções em Aristóteles e Quintiliano Certamente

a iação não aparece mais a nttuton Oratore nahióstase original arquetípica e lógica do símbolo puro;el não se dene mais ncionalmente como premissa doentimema Mas de toda forma depois de ter postulado

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 87/171

a sna teóri sor  licaa todos osouos, nicias ou cônicos que, na práca acohm-na

necessariamente: o símboo, como não dispensa uaenunciação, tem efeitos inevitáveis de patos e de tosPor sso mesmo ee não é somente um modeo abstrato,sem existência na prática do discurso Ao contrário, osímboo puro, ideaidade da citação a ideaidade nãotem nada de abstração , nda e autoriza seus outros

vaores Se a citação oferece essa egitimidade simbóica,está garantido que ea não é nteiramente simuacro, ugarde um reconhecimento imaginário: tudo é permitido se agnôm ou a sententa é, antes de tudo, tabém ou aindasímboo

Na nsttuton Oratore Quintiiano tenta reconduzir

um dispositivo anáogo para o controe da repetição nodiscurso A vaidade da sententa

não depende mais desua referência, de sua articuação com a gnôm comosímboo puro, mas o critério de separação entre boa (istoé, admissíve) e má sententa torna-se mais ou menoso mesmo. As sententa são boas se eas se dirigem às

coisas, rem contneant79 e não às paavras. Que ea sejaauctortas ou ornatus a boa sententa não é uma fórmuaxa que se repetiria paavra por paavra, de discurso emdiscurso É por isso que na categoria da sententa comona da gnôm encontram-se poucas citações expícitas oureferentes a um autor, mas muitos provérbios, chstes (o

que seria, sem dvida, a mehor tradução de sententa),quer dizer, pensametos que não se estancam nuenunciado contingente e todavia controador Na ausênciade fetichismo do discurso e das paavras como objetos deuma ircação econômica, o vaor da citação que prevaeceem Quintiano é ainda essenciaent simbóico

9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 88/171

ste tpo de homologaço da repetço no dscrsoatravés de seu alcece racona ou smbólco representa

por assm dzer um controle nterno: é um prncpo decoerênca do dscurso de conformdade entre cosae a palavra entre o pensamento e sua expresso e seopõe a dos outros tpos de controle da repetço entre osquas ele é recohdo na cronologa: controles de algumaforma externos em que a reguação se faz por meo dema nstânca externa extra ou transtextual. or um adoa represso que lato sem sucesso pretendeu mporà mméss probno sua autordade numa tentatvade acertar contas para sempre com a repetço oroutro um sstema e que a repetço é vaorzada nomas porue satsfaz ao smboo como a sua manêncaou a sua dealdade mas porque ela se submete a uma

transcendênca porque reconhece sua dvda exstncalcom relaço a uma tradço ou a um deal do texto será odscurso da teooga. ntre o platosmo que procuravase desembaraçar da palavra arcaca e mágcoregosae o crstansmo marcado peo retorno coordo deneopatonsmo a crença numa palavra ecaz quer dzer

entre duas concepções metafscas da lnguagem comotranscendente ao real a antga retórca fo o tempo de umacodcaço do dscurso na sua manênca na sua coerêncaterna. A nguagem sendo ncapaz de dzer ou de reveara erdade a antga retórca eve uma ambço lmtadaa fo uma smbologa da conformdade do texto consgomesmo ou de sua receptbdade própra .

•Épossvel ctar váras causas hstórcas para a ncssdaddem controle nterno do dscurso na antgüdade atravésde uma dealdade (oposto o controle externo através deum deal). sta ncalmnte trva quando um orador

9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 89/171

toma a palavra quando repete uma ou umasententia ele não dispõe de extos e de referências ue lhe

permitiriam fazêlo palavra por palavra e seus ouvintesenos ainda Mais tarde Aulu-elle relamará das poucasobras que ele possui ou que encontra em bibliotecas eorganizará um chário de suas leituras para remediar aflta de livros A fraca difusão do texto e seu caráter oralcand a regra de sua autonomia suciente em relação

ao já dito A ética e a lógica que ordenam regularizam arepetição das palavras do outro no discurso percebemessa exigência: o texto novo 2 deve ser bastante destacadoinependente do texto anterior que ele cita e de seuautor A. valor (o princípio) simbólico da repetição éexigid a m de que ela postule contenha in praesentia,a lei ou a razão segundo a qual ela se mantém

Uma segunda explicação complementar a menos queseja conseqüente dessa ética do texto caracterizada pelaexigência e sua autonomia empresta à concepção antigada propriedade literária uma conceção menos rígida semnoção do dirito de autor nem jurdico nem mesmo moral

A imitação dsde Aristóteles na Grécia e em Roma é maisuma reação entre obras que uma imitação da natureza8Otio publicata res lbera est, diz o adágio que governa oscomportamentos da escrita A cois dita escrita publicadachega logo ao domínio pblico: é uma coisa res, e nãouma palavra verbum, de autor Todo mundo pode imitála se que seja preciso homenagear um sujeito pagar-lhetributo Horácio na Art Potique, deniu assim o trabahodo poeta:

Você transformará uma matéria de domínio público empropriedade particular se você não se demorar fazendo o

9 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 90/171

percurso baal e ao acace e toos; se você ão teiare recostitir tauor e eas paavra por palavrase você ão se laçar, pea iitação u quaro estreitoe oe a tiiez ou a ecooia a obra lhe ipeirãoe sair.

Esse prgrm é el eut plicã péti sestrtégis ue retóric cselh pr repetiçã pr enuciçã d gnô u d ententa

Em u tal cjut de cdições e de prátics sciisd discurs ( frc disã d br predmiâi drl sbre escrit usnci e prpriedde literárietc) repetiçã situ-se cm prâmetr e cmdireçã um lugr dl Nuil ue dizem Aristóeles eQuitili de u pt de vist lógic u étic ud

buscm rgizr seu funciment é precis vercm efeit bem mis ue regulmetç de um trçdiscursiv perféric mrgil pr sistem retóric Arepetiçã er pr Pltã ue hvi de pir ligugem( mm, simulc) fte de tds s mles ilusãfrs err Desde etã trvés de um cert lterçã d

plnism retóric nã rejeit ms utiliz pr seuss; el se tr ã extmete ue hveri de melhr discurs ms um dipsitiv cetrl própri cdiçãde su pssibilidde A gnôm e ententa trvessmt cstruçã retóric em su espessur d nvento aco e memóra Nehum utr ctegri tlvez teh

lugr t utute u interveh de frm tã mplÉ pr iss ue destruir ctrlr derr repetiçãreesent um tl empeh iss diz respeit discurssu inegridde Se el é b (receptível dmissível) discurs tmbém é Um discurs em sum é julgd pel

4

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 91/171

prova de controe das repetições que ele opera. A vaidadede um discurso é a de suas reetições Então preservar a

retição como o fez Aristóteles é certamente laborar astécnicas positivas de seu emprego e os mecanismos de suasobrevivência mas é primeiro e sobretudo reconhecer queela fra com o dispositivo que a executa um subsistemada retórica que funciona como sua instância de regulaãode regulação interna isto é se a intervenção de um

rincípio transcendente ao discurso como critério de suahomologação.

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 92/171

A .REGUÇÃO SSICA DA ESCRITAOU O TEXT COMO HOMEOSTASE

A passagem da escrita medieva à escrita cássica, doconroe exercido pea radição ao conroe exercido peo

sujeio (o cogto egisando a cena da escrita), da citaçãocomo índice à citação como ícone, pode ser descrita emduas eapas

Em um primeiro tempo o corpus que compreediaaé etão apenas a Bíbia e sua sucessão teoógica extoprimeiro a partir do qua todo uso da paavra adotava a

forma do comentário , esendeu-se ao autores pagãosgregos e ainos, da antigüidade, e a udo o que já foradito e escrio, mas sem que se apagasse a noção de exoprimeiro

• Essa rupura remona a um tempo ongínquo, aAbeardo e Santo Tomás, que utrapassaram a patrístca eseu comentário ao redescobrrem ristótees Uma rupturaã fraca não se deu em mesmo enre a escoástica e oRnascimeno

Ecotrase, aiás, em Abeardo, a reivindicaçãoprematura de uma singuaridade individua que conesta a

9 6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 93/171

concepção medieval do homem, do escito como simpleselemento de uma séie ou de uma linhagem, e anuncia o

sujeito da idade clássica. Abelado se lamentava mais dacensua execida sobe seus escitos que da mutiação, dadiminutio de seu copo não hesitava em apoxima osdois tomentos

Compatada ao ulraje presene [seus ivros foram conde

nados e queimados], a raição de ourora parecia poucacoisa e eu deporava menos a mulação do meu corpo quea desonra a meu nome. [ ... Os aaques dirigidos à mnharepuação oruravam-me muio mas voenamene quea muilação do meu corpo.82

Nunca lhe foi pedoada tamanha petensão, tamanha faltade humildade.Esse pimeio tmpo de tansição, a ampliação do corus,

epesenta, sobetudo, uma tansfomação quntitativa,mesmo que as popoções tenham sido consideáveis e queela tenha povocado algumas modicações subsidiáias

(pelo menos essas lhe foam contempoâneas substituiçãodo comentáio popiamente dito, o discuso teologado tipo patstico, pela quaestio e pela disutatio Essemomento não estabelecia contadião insupeável quantoà egulação do discuso segundo, que, lectio ou quaestio,pemanecia ligado ao pimeio e sob o contole da tadição

mantida pela Igeja e, ecentemente, pela Univesidade.O segundo momento afetou a pópia escita e não

penas, de maneia quantitativa, sua matéia ou seusupote ele agiu sobe seu sistema de contole e só inteveiodeois do incio do sécuo XVI, no pocesso instauadoconta os Essais e conta outas "paésias ou abusos

97

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 94/171

de disursos análogos, ontra a moda da iação EntreAbelardo e Pasal, entre oms de Aquino e PortRoyal,

entre os gêneros omentário e rítia no sentido estrito,houve muito espaço para outras formas transitórias deesrita, as quais os Essas seram àenas uma, mas taveza mais audaiosa e emível Se a ontenção dessas formasnão se veriou mais edo, a partir da ampiação docorus é porque seus efeitos só se tornaram insustentáveis

e inontroláveis quando de sua propagação maiça pelaimprensa Petrara já havia lançado um movmento deretorno aos antigos e, fazendose autor e omentaristarigoroso eigia a eatidão da itação Mas oi somentea imprensa, porque ontribuiu para dissipar a noção deteto primeiro a opiar e a reopiar Ramus e Montaignequestionavamna mesmo antes de uma maior divugação dolivro e porque iniiou, segundo seu modeo, uma grandeobilização tetual, foi ela que susitou a neessidade deum novo prinípio da egulação do disurso, interno a seuproesso de iniiação. Éverdade que Montaigne imaginou,por um momento, que a imprensa se substituiria à Igrea eà Universidade, para eerer um poder eteo de ontrole:

"Qeira eus, desejava [mas podese areditar nele?] , queesta sentença fosse aada à porta das butiques de nossosditores, para proibir a entrada de tantos versiadores,verum/Nl securus est mao Poeta"83 Mas não foi assi, arepressão não veio dos edtores

que ege que a esrita se submeta a um ontrole, e

qe um nov sistema substitua aquele que se enfraqueeuou se tornou obsoleto? odo ontrole não é uma forma deensura? alvez não, e a regulação inaugurda pela idadelssia é as sutil que a preedente poque eere umaensura péva Ao tet primeiro e à tradição, enquanto

98

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 95/171

estatutos de nstânca de controle externo do dscurso eles agam pela denúnca pela repressão pela exclusão

da heterodoxa ela substtu uma regulação ntegradasemelhante a uma autocensura ou melhor e sem outrasconotações a uma autogestão pelo sujeo preexstente.Cabe a ele se controlar a m de controlar seu dscurso desaber conter sua língua a m de domnar dscurso. Posa aldade do controle é jusamente a de denr e fazer

respetar um crtéro e recepbldade do texto segundoo qual aprecálo julgar se convém ou não acrescentáloao conjunto já exstente. Na dade méda o crtéro eraa sua conformdade com o texto prmero mantdo pelatradção era a sua nclusão no texto prmero que ocontnha como uma causa lógca Quando esse crtéro

se arruna devdo ao enfraquecmento das noções detexto pmero e de tradção não há outro recurs senãocodcar mas severamente anda (probr ou subjugar)a escrta e a utlzação do já dto o ponto cego sobre oqual recau e reca anda a arbtragem ou nsttur umnovo moelo de relação entre o sujeto e o objeto enre oautor e o lvro modelo que ntegrando de algum modoas condções de receptbldade do texto fornecesse por smesmo o prncípo de sua regulação como homeostatoMalebranche não acredtava muto na prmera solução"Há crmes dz ele "que os homens não punem [. Assmnada leva a crer que os homens erjam algum da umtrbunal para examnar e para condenar todos os lvrosque não fazem senão corroper a razão. Isso não é alásdesejável. Enquanto o regme polítco permanece anda

poder monárquco centralzado e repressvo sera precsoque as letras fossem uma repúblca lvre na qual cada umnterorza suas condções de nconamento

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 96/171

É eso o deejável a fm qu p i- eo qe aja ais ibedade na epúbica das etas qe e

otas, onde a novidad é sepe ito peigosa, pois seiacona nossos eos se qisésseos ta a ibedade daspessoas estdiosas e condea se disceniento todas asnovidades

À censura que trabalha com critérios externos da verdade,e que escartes repovava à escolástica, Malebrance que,no entanto, não é suspeito de progressismo, prefere umgeenciamento eficaz da escrita e não lamenta muitoo liberalismo de seu tempo (é bem verdade, mas issoé uma outra história, que uma censura permanece, nonel da concessão de privilégios aos editores: iderote os enciclopedistas tiveram essa experiência) Entre a

censura e a técnica (gerenciamento) há a mesma oposiçãoobservada entre Platão, que queria interitar a mimésis, eAristóteles, que a subjugava, fazendo dela uma ferramentaou um instrumento, de virtudes positivas, das artes retóricae poética, com a diferença essencial de que a regulaçãoaristotélica do discurso e da repetição (do discurso porque

da repetião) consistia em exigir um ndamento simbólicoformal, lógico (imanente ao texto e sem referência aosujeito) da repetição no enunciado, ao passo que aregulação clássica atuará na relação de enunciação Não émas a repetição, agnômé, que deve estar em situação, emse lugar numa tópica, mas o sujeito (da enunciação, da

repetição) que deve se situar, tomar posição frente à suacitação, a seu texto e a todo o já dito sso não impede queos sistemas retórico e clássico de controle tenham agoe comum que os separa dos sistemas platônico eteologal , constituam-se por si mesmos máquinas deescrever ou de produzir dscuso O discurso teologal

1 0 0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 97/171

se escrevia malgrado o texto primiro e a tradição queameaçavam sempre idispôo ou ivalidá-lo. O pricípiode reguação itera, ao cotrário, leva a ideticar aprópria máquia com seu dispositivo de cotrole ãoporque ee faça sua especicidade histórica, mas porquedetém uma ecácia positiva, porque tem um redimetopróprio. O pricípio de cotrole é o motor essa questãoé uma diâmica que coduz o texto.

Equanto a escrita medieval, que fosse lecto ouquasto,remetia os desvios, as difereças, as cotradições ao textoprimeiro procurava reduzlos iterpretadoos e securvava a um modelo de repetição e de idetidade a suareação com o texto, o autor da idade clássica é/sesível aocotrole das difereças Na escrita, como o dizia Espiosaa respeito da religião, cada um é doo e si mesmo e ãodepede de iguém "Pedese' escreve Miche Foucaut,"que o autor respoda pela uidade do texto que se põesob seu ome8 O autor se substitui à auctortas comogaratia da escrita; ee é cmpice do texto, coicide comee e respode por ele como por todas as suas ações, e ãosomete perate Deus Seu ome a capa testemuhao egajameto de sua pessoa, ico fator comum eico referete, em tima istâcia, da variedade daseuciações pelas quais ee se recohece resposávelResposabilidade a pegar ou largar Pegáa é assumir apostura de sujeito, com os riscos que isso comporta, é se

autorizar por si mesmo para a escrita, e ão por obediêciaa agum idea do texto Como diz aida Foucaut: "Oidivíduo que se põe a escrever um texto em cujo horizoteroda uma obra possíve assume por cota própria a çãode autor86 Largáa é caarse irremediavelmete. A escritas é possível quado um sujeito, ivre, a susteta, ela e suas

1 0 1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 98/171

conseqüêncas Um lvro só raz conseqüêncas orque serefere a um sujeo que o fabrcou

eomando num quadro os raços dsnvos dosrês modelos da escra medeval (o comenáro) ,ransóro (os Essas) clássco (a críca) , a parr dosdos parâmeros nerlgados que os deermnam o lugardo sujeo e o valor da caço assm como do po deregulaço que esses parâmeros nsuem, obém-se o

segune

M da scria mnári Os Eais rica

Var ndic: Embma: cn:da ciaçã Atoritas � agaçã

T2 /mprésim ciaçã

AzLgar d si Asência rsnça/asência rsnça

cdicada g d cdicadascnd-scnd

rincpi d Ex N Inrn

rgaçã

Parece anda que Essas escapam a qualquer ssemae alvez seja por sso, como observava Pascal, que ele éo cado No há oura cosa a fazer seno repe losMonagne no assume a posura de auor, aquele que fechao exo, que o acaba e o dene os ssas no se subsumemsob seu nome nem sob a suposa undade de sua pessoaeles no cessam de promover a própra dspardade so

02

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 99/171

acontecimentos fortitos e dispersos, sem constrçãonem eaboração secndária fragilmente sstentados por

alinhavos primeiros esboços o spementos qe pemo sjeito for de si e o texto fora dos eixos Enqadrá-lo,imobiizá-lo, isso ogo se fez, e por mito tempo

1 03 

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 100/171

A PERIGRAFIA

popiedad maio do texto homeostático ou deeguação intena, e o caráter manifesto pelo qua ele seeconhece ao primeiro olhar, é sua compacdade, cooláioda unidade e da coesão exigidas dele sob o domínio deum autor O impulso, a grande mobilidade da escita doséculo XV, exemplaes em Montaigne, são doavanterepimidos. O texto tornase corpo, ecolhese, fechase

sbe si mesmo, como uma cidade forticada por Vaubansem subúrbio nem arrabalde. É um volume fechado,cicunscrito em limites estáves que impedem os excessos;é um espaço em equilíbrio, enceado em fronteiras rígidase insâncias de enunciação bem destacadas

Sua perifeia, o que não está nem dentro nem fora,compreende toda uma séie de elementos que o envolvem,como a moldura fecha o quadro com um título, comuma assinatura, com uma dedicatória São outas tantasentadas no corpo do livo elas desenham umapergra,que o auor deve vigiar e onde ele deve se observar,

1 04

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 101/171

porqe é primeiramente nos arredores do texto qese trama sa receptibilidade. Ele é qaicado por sa

compacidade por se fechament sobre si mesmo istoé também por sua autonoma Sa aparência é essenciaTa como vitrinas de exposição testemnhos o amostrasses transbordamentos valorizamno: notas índicesbibliograa mas também prefácio prólogo introdçãoconcsão apêndices anexos. São as rbricas de uma

dsposto nova qe permitem jgar o vome sem oter lido sem ter entrado nele Se elas estão presentes serespeitam as convenções não é preciso proongar o exameo texto é segramente receptível

perigraa é ma zona intermediária entre o fora dotexto e o texto. É preciso passar por ea para se chegar ao

texto. Ela escapa ainda qe poco à imanência do textonão qe lhe seja transcendente (não é ma perigraasupmntar mas sege-o sitao no intertextotestemnha o controe qe o ator exerc sobre ele Éma cenograa qe coloca o texto em perspectiva cjocentro é o autor

Assim como imobilizo o emblema errante no íconeé ainda a idade cássica qe codico a perigraa a partirde eementos díspares inventados o encontrados peaimprensa. O texto rodeado de sua perigraa se opõe aotexto móve da tipograa com o qa reveza amortecendoo andamento Ele ainha os desvios Exibe em sua franjases títos para reconhcimento Sa nção capital comoa das citações icnicas é qalicar em reaão àbibioeca eao já dito. Aparelho instituído a perigraa anda jnto comas citações e ses componentes são ainda ícones.

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 102/171

INTITUDO E O TITUR

A porta de entrada de um livro é seu títuo encmado

com o nome do autor como se fosse um troféu Essedispositivo parece natura não se imagina um livro deouta forma Tratase entretanto de invenção recent Otítulo propriamente dito especíco e nãogenérico datado sécuo XVI.

Na Grécia antiga não era necessário que uma obativesse um título Não era atribuído a este senão o valorutuante de um acessório destinado ao recoecimentopara o qual o ncpt sera muito bem e mais rapidamenteA nção primeira do títuo é a de referência Ee evocatodo um exto por um signo que o compreende sem queeste seja sobrecarregado de alguma outra propriedade Oenunciado do títuo não como tituador mas simplesmenteintiuante corresponde excusivamente à citação dotext m sua extensão; é por isso que o ncpt seguido deretiências é mais apropriado formamente visto que não éde forma aguma destacado do conjunto de forma alguma

0 6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 103/171

periférico; visto que aponta texto em desenvolvimento,em processo

Foi em Roma que um título ligou-se denitivamenteà obra, sem que isso presumisse uma originalidade nemdo título, nem da obra O título romano particulariza aobra sem individualizar o autor, ele é um elemento declassicação Dois probleas lhe são inerentes o de suaprodução, uma assinatra, e o de sua reprodução, uma

citação Hisoricamente, o segundo se coloca em primeirolugar é a esse problema que responde o título romano,cujo pape se limita à denotação do texto Uma maneirade formação mais sisemática que o nct se impôs,segundo duas modalidaes funcionais, dedicatória ouanalítica Cato ou De senectute. Isso signica que o título

não é pensado na sua unicidade e que ele se multiplica emtantas perífrases denotativas quantas são as funções quedeve cumprir

Os diáogos de Platão, tais como foram batizados pelatradição, possuem dois títulos, ou título e um subtítuloorgas ou Sur la Rhétorque Réfutat(Gorgias ou Sobre a

Retórica, Retatório) Todos os dois denotam o texto, mascom sentidos diferentes, o segundo signicando seu objetoUm título, quando é solitário, suporta estes dois aspectos,denotação e sentido, Bedeutung und Snn ele é um nomepróprio puro, cuja denotação é um objeto determinado, otexto ou o livro

A ambivalência do título ele denota e tem um sentido corresponde às duas ordens de questões que ele colocaua que concerne à técnica de sua reprodução, outra àlógicade sua produção, as duas sendo ligadas, inconcebíveisuma sem a outra, como o sentido e a denotação Por não

1 07

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 104/171

as er resolvido, os cânones medievais esão cheios deerros Aconece freqüenemene de um mesmo eo ser

lisado várias vezes na bibliograa de um auor, sob íulosdiferenes: Gorgas ou Sur a Rhétorque Réfutat

O pono écnico é relaivo à inserção do íulo no exoque o cia, mas revela logo uma opção lógica Em laim,o íulo se declinava, o que conrma o primado de seuvalor funcional Aulu-Gelle, diz-se, foi um dos prmeiros

a objeivá-o, recorrendo a inserções que lhe permiiamjusapô-lo a seu próprio discurso sem o decompor: Cceron lbro quem ou eumque. conscrpst ou conscrpst dctCícero não é mais o auor de Cato ou De senectute masdo mesmo objeo denoado por esses dois signos, do exoassim iniulado Traa-se de uma modicação de pore,

que anecipa a ipograa Ela considera o íulo umacaegoria ou uma enidade discursiva própria, que não seidenica ineiramene com o exo, é uma nscrição emacréscimo, um iniulado relaivamene auônomo, queconvém raar como um objeo, uma espécie de feiche, queno em mais nada a ver com o ncpt. E o próprio íulo

da obra de Aulu-Gelle, que não em a menor relação comseu objeo, ilusra a mesma diferença na concepção.Essa ransformação relaciona-se, sem dvida, com o

desenvovimeno da cópia, cujas ocinas aingiram, nospimeiros séculos do crisianismo, dimensões indusriaisA mprensa renovará, e maneira ainda mais aguda, a

mesma inerrogação sobre a naureza do íulo e do livroEla coloca de uma só vez em circulação uma mulidãode exemplares idênicos (o que nunca foi o caso dosmnuscrios) do mesmo exo Além disso, ela ornaobsoleo o modelo de um processo linear e conínuo naprduço dos manuscrios um originando o ouro e assim

08

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 105/171

por dante As cópas nemse em uma corrente mas osvoumes mressos se dspersaro medatamente como

uma árvre cortada da raz da orem do manuscrtocuos traços ees no conservam mas Qua é ento ovro o objeto únco que o ttuo denotara? Sera umexempar no mporta qua o conunto dos exemparesou outra cosa da qua ees todos partcparam pea suadentdade e apesar de sua dssemnaço? O referente do

ttuo funcona "nttuante era o texto orgna no ncoda cadea das cópas Mas se a cadea se queba qua seráo referente do ttuo?

Montagne se questonava sobre sso e a vaedadede seus ttuos testemunha suas hestações Os ttuos deseus captuos so dspares exceto no vro II, segundo manera antga ("e ' ou "Sobre ' ou com o auxode sentenças ("Que osofar é aprender a morrer I, 20);ees so ou smbócos (anatcos neutros e mpessoas portanto nadequados à matéra ou sem dúvdaembemátcos (artcas arbtráros mas ndamentadosO ttuo do vro de Montagne he é totamente pessoa eno depende de nenhum gênero de nenhuma tradço eedesgna um método e no um oeto

É que a tpografa rejeta o nttuad smbóco(anatco ou ndca (dedcatóra epônmo Quandoo vro é por natureza mútpo sera sua dentdade ou

sua ndvduadade se desoca e se reduz: ea se crstazaem sua pergrafa O nome do autor e o ttuo so odenomnaor comum de todos os exempares dêntcosespahados peo mundo O referente do ttuo no é maso obeto que como etor eu detenho pos esse objeto nasua materadade no é mas pensáve como transformaçode uma geneaoga ou de uma nhagem que eu podea

1 9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 106/171

percrrer recuand até sua rigem referente é aquilnde se subsumem tds s bjets semelhantes nã a

idéia d text nem um mde u uma rigem mtica,mas sua enunciaçã, representada pela perigraa, pelautr. O autr é denotatum a perigraa, d ttu e dacitaçã, na medida em que estes têm var priritári designs icÔnics Muits ttuls, aliás, sã citações O ttuintiula mens text que titula autr: Aristóteles é autr

titulad d Organon, cm se é frnecedr da crteTal era a lebre que levanava amus, cntestand queAristótees tenha sid autr de seus ivrs tituads,cm Gerges IV erguntava se Sctt era autr deWaerley, ist é, se um nic hmem escreveu Waerleye se Sctt era esse hem87 Mas imprtante aqui é

mens saber se "Sctt e " autr de Waerley" têm mesmdenotatumcm sentds diferentes (u Aristótelese seus ivrs titulads), que admitir (gicamente) e aceitar(mralmente) recriminase Mntaigne pr nã têfeit que Waerley dente dravante Sctt, e EaMtaigne Nã é senã, na medida em que é recnhecid,que ttul denta autr, que amus e Gerges IV pdemclcar seus enigmas, e rust utiizar-se da perfrasedentativa de frma tã natural e trivial:

auo de Le Déour (O Desvo) e de Le Marche (OMecado) - so M Hen Benen acaba deaze epesena pelos aoes do Gymnase um dama

ou melo uma msua de agéda e de vaudeville quenão é alvez seu Ahalie ou seu Andromaque seu ImourVeille (O Amo Vglane) ou seu es Seniers de la Veru(As Veedas da Vude) mas anda é alguma cosa comoseu Nicomde.88

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 107/171

título intitulante e o título tituador distinguemse,pois, pelo seu referente: o texto para aquele, o autor para

este, e desde a idade cássca. É por isso que a congruênciaentre o títuo e a matéria, que atormentava Montagne,não tem mas uma tal importância. O nome do autor e otítulo, na capa do livro, procuram antes situar este ltimono espaç social da leitura, colocáo corretamente numatipologia dos eitores, porque meu primeiro contato com

um livro passa por esses dois signos Eles são também, porisso, o ugar priviegiado de um investimento fantasmático:sonhar em escrever livros (ou com ivros a escrever) éiniciamente sonhar com títulos. Eu me suportara, meamaria, me veria bem como "o autor de nesse íconeque circulara com meu rosto Donde ainda, se se passa

ao ato mas isso não é necessário , a proliferação dasrubricas que satisfazem pequenos prazeres narcÍsicos.Valéry falava dos autores sem livros, os de todas as obrasprimas desconhecidas: seriam os sonhadores de títulos,aquees cujos livros não vão mais onge Mas se o títuo éo que titula, eles não teriam outro autor que não fosse o

título. E precisa mais

1 1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 108/171

 

A BI (BI)OGAFIA

Quando me cai nas mãos um livro cuo título me

agradou, mas sobre o ual ignoro tudo, não é o ndicenem o adend ue consulto primeiro Não me interessopelo texto em si mesmo, nem pelo seu resumo, nem pelasua organizaão É por isso ue raramente abro umapágina ao acaso Gostaria de saber se o livro seria capazde me agradar, se não cairia logo de minhas mãos, sesimplesmente o leria Observo o cichê de má ualidade

ue se encontra, s vezes, na capa; leio a biograa do autor:"ascido em , a Após os estudos secundários Mas ésó excepcionalmente ue entre esses elementos encontrolguma coisa ue me incite leitura, isto é, alguma coisana ual me reconhea Mais ue a fotograa, mais ue abiograa, é a bibliograa ue me informa e ue é capaz de

despertar meu deseo Percorroa como um atlas geográcoou um prospecto de agência de viagem, atento ao eco uefz vibrar em mim o nome de um lugar por onde passei.erá a ocasião de uma reminiscência (lemos semprecom nossas lembranas; cada livro desloca-as um pouco,

1 2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 109/171

acescenta novas otas eas são necessáas paa aí noseconhecemos, consttuem a nossa cometênca de eto)

A bbogaa que me faz sent em tetóo cohecdo é apomessa de um eenconto, e ento po competo no vo,como em mnha casa, a m de conma a ntução deuma nmdade Leto ngênuo, avao meu uga no teo, confoto e o paze que ee me eseva, pea andadeqe expemento com sua pasagem anuncada Se ea nãoesboça a mnha, se que o vo me seá nacessíve ou queme exga esfoço demas, abandonoo, sem me aventuaem trra ncógnta Mas que quaque exódo ou catatobenevolentae a bbogaa me pende quando encontomeu uga unto ao auto: emos as mesmas etuas,petencemos ao mesmo mundo.

a, o que é uma bbogafa senão o modeo deuma autobogaa, um scra-book uma coetânea deembanças, um bhete de tem, tíquetes de museupogamas de espetácuo, catões de convte, oes secas:nventáo dos ícones do auto. Não queo mas nada: suasgosas sobe s mesmo e sobe o mundo me entedam.

E coo se confeccona uma bbogafa? Ea é ocatáogo dos textos dos peo auto enquanto o poetoatua de escta o condz, ogo, necessaamente mtada encompeta Até onde na ecensão de suas etuas? Devese acescenta os onas, os omances pocas? Comodstngu aquo que fo út, aquo que sugu ao acaso? Epo que não os mes? E as convesas? E as vehas etuas, asda nfânca, que me fazem anda sonha? Uma bbogaaveídca, sncea e exaustva é tão mpossíve quanto umaconssão vedadea Há na bbogafa um pobemapatente que eva o auto a pecauções quando a quacade "sumá como se se descupasse da fata de aguma

1 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 110/171

coisa Seria necessrio interrompêla, como à conssãode seus pecados, pela invocação de uma circunstância

atenuante para o esquecimento, e esquece-se aquilo quese quer É por isso que o mais simpes, para resover oproblema, e oferecer, mesmo ssim, um reperório ao leitorpotencial, é seduzi-lo com uma lista de obras citadas; e énisso que consiste, mutas vezes, a bibliograa, declaradaou não como tal Então, tudo se torna simples citaçõese bibliografia se remetem mutuamente as primeiras

atestam que a outra foi realente percorrida e a segundamostra que, anal, foi composta como um inventri daprimeira

1 4

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 111/171

DIAGA OU IMAGEM

/A dentcção do cráter ctconl d biblogrpermte precsr o que é o vlor cônco de um ctçãoe d pergr em gerl erce dstngu, com efeto,dus espéces de ícone, magem e o dagrama, segundoo reresentamen mtroredades elementres do objeto,ou reproduz reaes entre elementos do objeto Assm,um fotogr é um mgem; um plno, um desenho

é um dgrm Ser gulmente o vlor domnnte dbblogrf, levntmento topográfco ds excursõesdo utor m ctção dgrmátc expõe no textoum ndcto pr homologção do utor, pr oreconhecmento do (pelo) letor Seu vlor consste emmostrr, em tender, em nterpretr o utor, prr su

posção centrl ms relegd à pergr, únco lugr emque el é dmtd N relção cônc SA2, domnntedgrmát resde n relção TA2, entre o texto ctdoe o utor cnte, cd tção dgrmátc bndo umperspectv prcl sobre o utor como um glomerdode gurs

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 112/171

Quano à relação AI-A2 enre o auor cado e oauor cane, ela garda soreudo um valor de magem

não exe uma smlude de confguração enre SI eA2 mas uma proporconaldade de qualdade; ela se dámedaamene como gloal A relação de oposção enre odagrama e a magem é do mesmo po, pos, da relação queaquele que pede empresado maném seja com o oeo daroca, seja com quem lhe emresa um ojeo Tal dsnção,

por mas arrára que seja, mpõese, enreano, a m dedar cona dos efeos de sendo claramene dferencadosda cação cônca, segundo a prevalênca da relação AI-A2ou TA.

Enenddas como agregadas, as relações TI-A2 aqesão das fones ou das referêncas de um auor é um deseus aspecos compõem um panorama, uma rede, umecdo de referêncas e cruzamenos é um dagrama, ouseja, a mesma relação manda enre Ronson rsoé emsua lha e as erras sumedas a uma regra que reprodu ardem apalsa ndce é a pegada dos pés de Ronsonmpress no chão, mas ícones e dagramas são os camposde mlho, a arca e odos os sgnos cujo ojeo é o própro

Ronson, sgnos que reproduzem as relações elemenaresque compõem e consuem Ronson A conqusaopogáfca da lha, seu mapeameno é reprodução,renscrção, re-escra, re-peção de prncípo, como alograa é dagrama do auor, e o índce (o quadro deamus), dagrama da ra.

Quano à magem, valor de repeção da relaçãoAIA2la é nera, sem que seja necessáro reur odas para se erm rerao do auor Quer dzer que ela é dencaóra eue raz nfalvelmene a conraparda do reconhecmeo,que é a dívda. Será, por exemplo, uma pscadela cúmplceou um cumprmeno a um colega, a um amgo, uma

1 6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 113/171

fómua de polidez embado que há covivêcia eteós ou, ais seiamete, a eividicação de uma iação e

um pedido de ecohecimeto: Sou feito à sua imagemEstes volumes que ecohem toda uma séie de atigos,Reuidos em homeagem a AI poduzem tambémimages. Aqui, a eação AI-A2 pode se distedida (ãoé exigido que A2 tate exclusivamete de AI que ão émais um exemplum ou uma auctoritas a se elogiada);covém, etetato, que a eação seja postuada comota, aida que a foma de um epitáo, que testemuhauma deidade

magem e diagama se difeeciam segudo o modeoda eação que exibem ete o representamen e o obeto,patiha de uma popiedade ou simiitude de umaelação. Paece que o pa fomado po ees é isomofoao da aaogia e da homoogia. Os relata da imagem sãoaálogos ou popocioais, imitativos; ogo, a imagemdá a iusão de uma eação geéica ou geealógica,atual, ela aspia a uma atualidade secudáia do sgo(uma seguda atueza), como o embema. Os relata dodiagama são, ao cotáio, homóogos, ou simiaes,homotéticos a homoogia ão fuda uma liação ou umaegitimidade iata, mas o ecohecimeto cotatua deuma simiaidade factua e adquiida.

7

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 114/171

NA FACHADA

Uma fotograa é m exempo, o próprio exempoda imagem: é m ícone porqe está em reação de

simiaridade facta com se objeto e é ma imagemporqe compartiha com esse objeto as qaidades qe hesão próprias. A fotograa qe gra, às vezes, na sobrecapado ivro tem sa origem em retratos-miniatra do ator,estampas o gravras, qe, desde o início da imprensa,apareceram no frontispício do vome, antes da página

do títo o face a ea, como na fachada de m edifício ona vitrina de ma btiqe. O frontispício (nome, títo,retato etc) sbstiti, no séco XV, o coofão (expte suscrpto trazendo o nome do copista), como cha deidentidade do ivro

Por qe associar e coocar m diante do otro, ma

imagem do ator e o texto, senão para sbinhar sa reação,não mais de congrência idea, como entre Montaigne eos Essas, mas de dependência e de sjeição? O homemem carne e osso, o mehor, em igrana, sstenta o ivro,

1 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 115/171

supotao e a ele se submee: "Isto sou eu, isto é meu dizd alm modo o fontispício

Toda citação, de maneia análoga, é também umaimagem: um instantâneo, um ponto de vista sobe o sujeitoda enuciação, uma cópia ao natual. É uma visão do autoe um detalhe de sua biogaa. A constelação das citaçõescompõe um quado que eqüivale ao fontispício.

A imagem, seu nome o indica, é mais imagináia (maiscomplacente, mais nacisista, mais alienada) e o diagama,mais simbólico (mais instituído, mais seduto, maisinteogado). Se se quisesse oganiza os quato gandesvaloes de epetição da citação, do mais imagináio ao maissimbólico, sua odem seia esta: a imagem, o diagama,

o índice e, nalmente, o símbolo (colocandose à pateo emblema, inteamente imagináio) Então, a imgem,a fotogaa mas também a epígafe ou o título, todo ofontispício seia, na leitua, insubstituível Ela é inteia,uma nica peça a pega ou laga é peciso aceitálacomo tal, ou ejeitála toda , ao passo que o diagama, a

bibliogaa ou o índice pemitiiam mais libedade, aisjogo e mais autonomia. Não é necessáio que o diagamaseja obeto de uma cença ou de um amo louco, poqueele busca mais deleita que se deleita.

1 9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 116/171

POSTO AVANÇADO

epígafe é a citação po excelência, a quintessênciada ctação, a que está gavada na peda paa a etenidade,no fontão dos acos do tiunfo ou no pedesal dasesátuas. (mitando as epígaes latinas é que os tipógafosdesenhaam o caáte omano) Na boda do livo, a epgafeé u sina de valo complexo. É um símboo (eação doexto com um outo texto, elaço lógica, homológica),

m índice (elação do texto com um auto anigo, quedesempenha o papel de poteo, é a gua do doado,no cano do quado). Mas ela é, sobetudo, um ícone,no senido de uma entada pivilegiada na enunciação.É um diagama, dada a sua simetia com a bibliogaade que é pecusoa (um índice e uma imagem) Poém,

mais ainda, ela é uma imagem, uma insígnia ou umadecaço ostensiva no peio do auto. E, sem dvida, emnehum outo luga está tão a descobeto quano nessepoo avançado do livo, onde nada em vola a potege. Aepígafe é ainda uma condensação do pefácio cuja fómuao denivamene dada po escaes. auto mosa as

1 2 0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 117/171

cartas Sozinha no meio da página, a epígrafe representa olivro apresenta -se como seu senso ou seu contrasenso ,

infere-o, resumeo Mas, antes de tudo, ea é um grito, umapaavra inica, um limpar de garganta antes de começarreamente a falar, um preúdio ou uma conssão de fé: eisaqui a única proposição que manterei como premissa, nãopreciso de mais nada para me lançar Base sobre a qualrepousa o livro, a epígrafe é uma eremidade, uma rampa,

um trampoim, no extremo oposto do prmeiro texto,pataforma sobre a qual o comentário ergue seus piares.Tão decisiva, tão solene, tão exorbitante é sua tarefa

que a epígrafe torna-se, muitas vezes, obeto de umadeturpação que a parodia ou deixa ambíguo o caminhopara sua compreensão, para se avaliar sua distânciaem reação ao texto, ou mehor, à sua enunciação Nomesmo níve da enunciação debruçada sobre o texto,no "primeiro degrau a epígrafe seria sempre ingênua,impudica, verdadeira demais, simplesmente toa, porquea tolice se instaa sempre na identicação entre os sueitosda enunciação e os do enunciado Ter medo da toice,de passar por too, é temer estar compro missado comuma paavra única; é preciso se defender, graduando asinstâncias da enunciação: "Não me faça dizer o que eu nãodisse ou sea, "o que eu não quis dizer A m de eitar umaeventual identicação entre ee mesmo e a epígrafe, o autorrenegaa, demitindo-a de seu posto: ela não se cola maisà própria pele, utua, parece deslocada, inconvenienteMas todo esse ogo não faz mais que conrmar sua funçãoprincipal, a de tatuagem

Flaubert fez preceder o Dctonnare des Ides Reçuesicionário dos LugaresComuns de duas citações:

1 1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 118/171

Vox poui, vox DiSabedora das nações

Podese aposar que oda déa púbca, oda convençodada é uma oce porque o convenene ao maonmero.

Chamoi axims (Mmas).

Seus alores intrigam porue parecem contraditóriosA primeira citaão tma coo postulado undamental

a exegese bíblica a voz, a palavra diina, a verdade daorigem foram transmitias pelos profetas e estão contidasna escritura. as se a voz do povo (aposto, cóula) a voze eu, escutá-la é também ter acesso à verdade ssaproposião é uma locuão proerida pela sabedoria dasnaões ue, com as páginas rosas do Pett Laousse, falam

latim ra, "abedoria s naões poderia ser outra cisaalé do sueito lógio da citaão, vox oul? A sabedoriaé privilégio os deuses o Logos divino era Soha aopasso ue os homens, como dizia Sócrates, no edro sótiveram com a sabedoria uma relaã de amizade Se avoz do pvo é a voz de eus, ela é sabedoria Assim, essa

prmeira citaão é uma tutologia, pois alavra e autor secondem a voz do povo é voz de eus, log sabedoria a voz o povo é sabedoria, lgo voz de eus. Tudo issose eüivale e ão revela nada mis ue seu único reerenteSabedoria das nões'

Ma segunda citaão acrescentapredicado dierente

à voz o povo a tolice segundo Chamfort, predicdo nãoenos desenarnado e imessoal enuato exressãode áximas, u sea, de eígraes ue a saedoria asnaões. O conuno se ara assim na seguine euaão

1 2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 119/171

Vx pp Vx e = Sabeda Tce

Des é tolo seri a ic conlsão lógica espriiria a ntradiçãoE Flabert? Ele escapole stlmente anlando ao

mesmo tempo o povo Des a saedoria e a ice. Ele éitacáe Fazeo o jogo a epígrafe dá sa alnetada.

2 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 120/171

o FOSSO ASSEPZANE

Assim omo uma idade (mais ubana que eeste uma

pessoa moa, o texto é eado po todos os ados. Aopé da muaha, U-lfosso edupia e aentua a fonteia;ele é sinalizado om postes e maos; baeias poliiaisvigiam as entadas são as efeênias exibidas, as notasde odapé -joot-notes em ingês A todo instante elastazem à embança aquio sobe o que o texto se apóia,

muetas ou estaas, adueas o texto é uma ponte lançadano vazio, do que tem hoo; ee teme a queda Ente seuspiaes, que são a epígafe e a bibiogaa, ee se apóiaom todas as suas foças (Montaigne faava da inguagembouedehors, isto é, sem sustentação, gaças a uma séiede lês ontínuos, a uma ede de nós ou de untas que o

tonam impemeáve; sem notas, ee seia inundado suasubtânia sua popiedade esapaiaminda não é tudo e as notas são esseniamente

peças de defesa (efeênias euditas, aetos de onta,demaações sutis, denegações aessóias, euos

1 24

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 121/171

encobertos), elas têm também um pape estétco lvramo texto e suas sobrecargas Pequeno corpo compacto, em

caxa baxa, ançam fossa comum os autores mortos e osvos que elas executam ao ctá-os O texto se enraíza numssuáro, e o desnfeta com eptáos

A evocação da nota e a nota de pé de págna bastampara estabelecer város níves de nguagem, ou mehor,constatam a necessára herarqua entre os sujetos da

enuncação, toranoa manfesta, tangível, matera: otexto excede suas otas (o que sgca que as domna)em reação a estas, o texto é uma metalnguagem ou,etmologcamente, um epílogo Se, de um lao, a ctação esua referênca são logcamente eqüvalentes, substtuíves,pos (eas têm a mesma denotação, quado não o mesmo

sentdo), por outro, o smples fato e mprmr as duas eana mas em lugares e dmensões dferentes, o corpoou no pé de págna, em caráter grande ou pequeno,perverte a lógca (a própra cação sera denotaa por suasreferêncas) e engaja uma mora One quer que apareçauma ctação, substtuí -la por suas referêncas não alterarae ada o vaor e verdae do texto que a contém Nãoá nenhum motvo ógco para se nserr num exto apaavra de uma ctação, mas que suas referêncas, nem parareegar estas tmas ao pé e págna A stuação nversanão sera nem ms nem menos nsensata Assm também,da equvalêca etre a ctaçã e sua referênca, deduz-seque um texto pode muto bem, de um poto de vsta

i estrtamente lógco, é claro, dexar de oferecer referêcasde suas ctações, referêncas que não acrescentam nada, aocontráro, quanto verdae do enuncado.

Ora, a nota de pé e págna, tautológca, ogcamenteredundante e supérua, é uma tal exgênca do dscurso,

2 5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 122/171

 que subtrair-se a seu ritua signica uma transgressãoinadmissve, na maior pare das instituições da escrita,como se isso ameaçasse seus pincípios A ausncia dentas e de referências é isustentáve nua tese, numivro ou mesm num jorna89 ea é inconciiáve com aretensão de um reconhecimento soia, pois o direito aoreconhecimento consiste em saber exatamente qua a suaparte na escrita, em econhecer, ee mesmo, sa dívida

A ota penástica se imõe, pois, não por razões

óicas, mas éticas, ideoógicas O jugamento de umacitação, contrariamente ao jugento de uma proposiçãoinédita, não cai sobe seu sntido nem sobre seu vaor deveade, as sobre sua autetcae É authentcus aquiocua poveniência é incntestáve, as também aquee queage por si meso, aqee qe se dá a orte enotatumde ma citaçã nã é u vaor de verdade (a quaidadede um eunciad, ser veradeiro u nãoverdadiro,mas uma pova de deidade, de veracidade, de exatidão,de sinceridade (a quaidade de ua enunciação, de umarepetição, ser autênica ou ntrovertida, ddigna ouapócrifa) vaoes que nã dizem respeito gica, sãomuito mis irtudes de um sujeito A citaçã, prova e

sua referênia ao apoio, autentica indiíduo pea suaenunciação, consagra-o como autor O ator só é ta,só é autênico, se as citações qe faz são, eas também,aênticas, e isso expica porque a ota é uma peça ãimprtante na instituição da escrita

Montaigne oitia a nta, não indicava as referências suas citações, egações ou epréstimos E é preciss perguntar se não havia ai uit ais ior quanto aosentido Sem nota, o jgaento não se desia da verdade(do enunciado) para a ateicidade (da enuncação Ee

6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 123/171

atua sobre o sentido e sobre a verdade, tanto do enunciadoquanto da enunciação Donde o elogio que faz Montaigne

da maquiagemA nota pertence perigraa duplamente: o dese das

notas une a epígrafe bibiograa, cada nota particularconcerne ao autor na sua totalidade, na sua integridadeA própria perigraa, cada citação acompanhada de suareferência, prova um controle da escrita: a nota, a perigraa

designam o autor na sua autenticidade, o que faz dele umautor, agente da regulação, regulador da escrita O próprioautor é, em ltima instâcia, o denotatum da citação, danota e da perigraa E é necessário datar? foi noséculo VII que a palavra not' surgiu para substituirescóli' ou "apostil uma adição ou uma observação

feita na margem A nota não supõe, não permite nenhumretorno, nenhum remorso, nenhuma repetição: com ela,tudo está dito Ea proíbe o recurso: é o selo ou o carimboque garante a autenticidade do texto, seu acabamento; éa assinatura do autor que controla o títuo o seu, o dolivro

2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 124/171

o COMEÇO DO LIVRO E O FIM DA ESCRITA

egel bri ssim o prefácio d enomenologa do

Esrto

o pefáo que peede sua oba um auto explia abitualmente o m a que se popõe a oasião que o leou a esee eas ações que em sua opinião a oba mantm om os tatadospeedentes ou ontempoâneos sobe o mesmo assunto

Em seguid condenv esse uso, que julgv indequdo àpesquis losóc e sem vor como modo de eposição dverdde declrção de intenção é pens um vericçãoempíric, um confirmção iusóri Entretnto, orerovr ssim o gênero introdutório egel prefcivseu livro. Como fugir disso?

Segundo retóric ntig, o discurso se bricnonicmente dirigindose de mneir concs o leitoro o ouvinte catato benevolentae rmndo ssimseu propósito, ou sej, colocr o outro em condiçõesfvoráveis, tornálo indugente (Quintiino crescentv

2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 125/171

atento e dócl) A captato benevolentae aga ente dosagentes (dos lugaes estutuas em eação ao dscuso); ela

dstbuía os papés antes que os sujetos desapaecessem.As epístolas dedcatóas da dade méda e do níco dampensa tnham nção análoga: denam uma stuação(afetva nsttuconal) de escta e de letua.

Nada de semelhante hoje em da. Não ue dze quenão se deva mas espea benevolênca mas o modo

de nctála mudou. Descates fxa a foma e o valo(clásscos duáves do pefáco a que Hegel contestavadepos de Voltae que amava: "O seu lvo deve falapo s mesmo se ele chega a se ldo pela multdão9Dfeentemente da captato benevolentae ou da epístoladedcatóa que asseguavam uma lgação medata

ente dos agentes sem ntefe no dscuso posteoo pefáco catesano supõe a exstênca do texto O textontevém a pror nas elações que têm como cena o pópotexto antecpando-as. Numa cata ao abade Pcot tadutodos Prncpes de la Phlosophe (Pncípos da Flosoa)em fancês Descates julga poque o título da oba lhe

paece suscetível de desencoaja os letoes que "seabom ajuntalhe um pefáco que decaasse aos letoes oassunto do lvo o pojeto que teve o auto ao escevê-lo eque utldade se pode espea dele92 Cabe ao abade Pcottaduto ntépete acescenta esses esclaementos"emboa esceve Descates osse eu que devesse esceve

esse pefáco poque devo sabe essas cosas mas quennguém9 Mas ele petende ndca em sua cata aenasaguns pontos que seam petnentes num pefáco "Dexoa seu ctéo apesenta ao pblco a pate que julgaconvenente94 Oa é a pópa cata e toda ela que seápublcada fente dos rncpes de la Phlosophe: "Cata

2 9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 126/171

do autor ao traduor do livro e que pode servir de refácioPor uma série de razões, essa carta é o modelo do gênerointrodutório e, ao mesmo tempo, certidão de nascimentodo prefácio moderno5

Entre o título e o text, o prefácio se dene pelarelação que estabelece entre o título "desencorajador e o"assunto do livro mais atraente, espera-se O prefácio nãoé, senão secundariamente, uma relação entre o utor e otexto (o "projeto) ou entre o leitor e o teo (a "utiidad),jamais entre o leitor e o autor, separados pelo livro queá está al É como se o prefácio atenuasse esse divórcioirremediável, conrmando, ao mesmo tempo, a excusãodos sujeitos prescrita pelo voume impresso Que a primeiração do prefácio seja unir dois objetos (o títuo e o texto),e não mais dis sujeitos (duas posições diante de um

obeto virtual), isso se deve evidentemente à objetivaçãodo volume e do título, que evoluiu com a imprensa, e àrepresentação dos sujeitos na perigraa Quando o ttuloda obra é simlesmente Commentato Quaesto Summa oualectca entre ele e o texto uma ponte se faz necessária,e o leitor caminhará por ela

- O prefácio não se dirge a qualquer leitor (ao leitor"inocente ou melhor, se ele cai em suas mãos, é pararenegá-lo não conda, não o soicita , através de umadeturpação que divulga ao público uma carta destinada au nico eitor, singular e avisado, que já leu o livro (atémesmo o traduziu ele não é nada inocente) Sua leiturafoi uma produção ou uma realização, isto é, uma leitura

modelo Todo prefácio supõe assim um leitor modelo ouu tradutor ctício; esse é um traço característico da cenaiginária do prefácio escrevoo para alguém que já meleu atentmente (e compreendeu-me)

3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 127/171

prefáci prpõe um métd de leitura (e n umaatraã para leitr) : "uma palavra de advertência quant

maneira de ler este livr6 pecrrê-l uma vez, primeircm um rmance, sem se deter nas diculdades, a m desaber, de md geral, de que assunt se trata, retmáluma segunda, uma terceira vez, para reduzir as passagensdifíceis, para cmpreender a seqüência das razões. Anaidade da primeira leitura é reconhece a das seguntes,

a de compreende  prefáci é escrit n cndicinal eis que eu

gstaria de dizer, anuncia Descartes, se chegasse a redigirum prefáci; mas "n pss ter nada de mim mesm anã ser que dexarei aqui um resum ds principais pntsque me parecem dever ser tratads7 É esse resum, esse

rascunh, esse esbç u esse simulacr de prefáci, esseprefáci que nã é prefáci, que fará papel de prefáciDescartes ã explica as razões de seu fracass: tratase deuma lei d gêner "À guisa de cnclusã assim terinamtants texts, segund uma fórmula banal. Ou seja, apesardas aparêncas, iss n é uma cnclusã, n é pssível

pôr um term, um pnt nal, deve-se cntinuar.'

guisade prefáci esta é a fórmula de Descartes "que pd serviraqu se fr cas, cm prvavelmente qualquer utraMas iss é evidente. O cndicinal é inerente a gêner,pis nic verdadeir prefáci, d qual derivam dss utrs, seria a reescrita d livr. O prefáci, segunds terms de Descartes, é um gêner impssível. Isso dizrespeit sua ltima característica, capital

O prefáci é retspectiv. É pr iss que,inercedend pel títul, antecipa livr; é pr issqu se dirige a um leitr imaginári que já leu; é priss que prpõe um métd de leitura e se escree n

1 3 1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 128/171

ondiional O ondiiona de Desates é ambguo: eiso que gostaia de dize, num edadeio pefio, ou no

lio eis o que não tenho eteza de te dito o de te feitoompeende eis o que diia, se pudesse efaze o lioMas o lio est teminado, apesa das onlusões emsuspenso, e é impossel "auntalhe alguma oisa, senãoum pefio Cuioso aésimo que peede! O pefiosubstitui a apostila e a glosa medieais, ou o "emblema

supenumeio de Montaigne enquanto intodução, elé eatamente o ontio de um aésimo e o intedita.paadoa que o pefio, que se lê pimeio quando

se abe um lio, e que fala po anteedênia, tenha sioesito, sempe, taez, po útimo, omo um da cao queibaia pimeio, um eo mais io que o som Estanho

destino do lio: ele aança, anal de ontas, peo omeço,inete o sentido do aminho assim os pefios das ediçõessuessias Po que mante o paadoo? Po que tenta oimpossel?que, apesa de tudo, é peiso temina Maisque a onlusão, o pefio é um aabamento (não umanaidade) da esita, é um buil Ele é a última palaa ea seguinte, um taço eoente Desenlae de uma históia

e libeação de um fantasma, ambos da esita, ele maa aentada do lio em um unieso difeente, o da alienação,da publação, da iulação: ele é despossessão, luto,sepaação Enm, o pefio é a poa de ealidade do lio,ua poa ilusóia não eseo senão um simulao depefio mas suiente

poque ele é tudo isso que o pefio epesentaum momento neessio e ineitel da esita (umaonteimento históio: só o pefio do lio podese datado e loalizado a mote) A mote, "ditanteipadamente é o gesto gae pelo qua onsinto em

1 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 129/171

morrer Eu me dou a morte na primeira página está ndoo sueito que i enquanto escrevi isso que você vai er.

a benecio é imenso Executando-me anuo o tempo daescrita; imobiizoo ou reverto-o fechando o ivro sobre simesmo uma vez que ee começa peo m. Não pode deixarde aver prefácio nem que seja sua crítica (a de Hege) ousu paródia nem que seja um prefácio de uso particuar(o de Descartes) um prefácio para mim. É necessário

haver um porque é necessário dar um m à escrita umm acidenta ou conjuntura e não essencia ou estruturaEsse m sem transcendências é sempre simuado esseencerramento é o prefácio

A tima paavra coocada no início é também umaconsoação uma revanche (o mehor que guardo para o

m): ea compensa a primeira que foi tão penosa Fatoumea primeira paavra mas terei a tima ea pontica emugar soberano porque decide o destino. É por isso queapesar do uto que ea carrega há um jbio do prefáciocomo numa pirueta que me repõe os pés na terra: faço umabea retirada acenando com o chapéu Tratase ainda do

andamento recorrente do texto: a primeira paavra só é umaangstia (uma vertigem) e ante E post desejaria coocarisso antes e ainda isso a não acabar nunca como se cadapaava ivesse um ugar mehor no início como se movidopeo desejo todo o texto se istaizasse se recipitassepara trás. Donde a necessidade da data do prefácio para

estancar sobretudo essa fuga para trás Senão temse aObra-prima desonheida

Hege condenava o prefácio como uma racionaizaçãosupérua e enganadora da verdade expressa no texto Masnão é ao contrário o ivro que ergue a racionaização deuma verdade desconhecida e não é o prefácio que às

3 3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 130/171

vezes, abate essa construção e atnge a verdade da escrta,quando ele não é apenas um estágo suplementar, umfrntão coroando um edfíco? Mas tratarse-a da mesa

verdade que, segundo Hegel, só encontra no conceto forado prefáco, o elemento de sua exstênca? A verdade queo prefáco, como nterpretação como destrução do lvro,pode produzr posterormente é a orgem como escrevalguns de meus lvros, o que gostara de dzer, nsstaDescartes Quanto ao lvro, é precso dstngur a orgem

e o começo O começo é o m conceto que duplcaabusvamene um prefáco. Hegel se questona sempresobre o começo no prefáco da Lógipa, qua deve ser ocoeço da cênca? Depos, na ntroução, qual deve sero começo da lógca? Descartes também hesta quanto aocomeço é precso adotar um modo de expressão analítco

ou sntétko? Mas a orgm é outra cosa uma magem, aoutraface, a face culta do lvro Descartes fechado numquarto aquecdo, num da de outono, em m

Ora, essa orgem é, também ela, um acdente (comoa nterrupão, o prefáco) falsa orgem, sem dúvda (eesó tem valor retrospectvo), mas mesmo assm orgem;

ponto de partda numa repetção e que só o prefáco podesuspender."Seu refác escreve oltare, é uma prece aos mortos,

as ele não os ressusctará!98 Não deseja ressusctá-losÉ le que condena à mrte todos os sujetos da escrta,perfcando-os na pergrafa Os ícones são magens

mortuáras O prefáco conjura a morte, quand confundea orgem e o começo

3

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 131/171

A VOCAÇÃ DA ESCRITA

Toda enunciação produz simutaneamente umenunciado e um sueito. Não há um sujeito anterior àenunciação ou à escrita e, em seguida, uma enunciação,como se fosse um atributo ou uma modalidae existenciadesse sujeito; mas a enunciação é constitutiva do sujeito,o sujeito advém na enunciação. Admitindo-se isso (a

refutação de uma concepção metafísica do sujeito, cgtcartesiano ouEg transcenntalhusseiano), nada impedeque, posteriormente à enunciação, a reação entre sujeitoe ennciado caia, necessariamente, numa simboogia aretórica antiga foi uma deas, a tradição igamente quea sobredetermina e he confere um caráter instituciona.

A forma evidente dessa reação mposta é a identicaçãodo sujeito do enunciado co o sujeito da enunciação,na pessoa do autor, intérprete ou gerenciador das suasdiferenças; e os íones são outras tantas provas de que essaconversão se reaizou. É preciso medir as conseqüências, naprópria enuncição e por um efeito retroativo, da exigência

de uma identicação entre o auto e o sujeito da esrita

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 132/171

Ainda que essa identicação seja uma ilusão e um engano,que dependa de um econhecimento imaginái99 é ela,

entetanto, que funciona como pincípio da eguação detoda escita, integando os citéios de sua eceptibildade.A foça e a especicidade da gulação homeostática daescita consistem exatamente nisso: ela intega a fantasiaÉ a fantasia suscitada pelo pópio pincípio de contoleque fonece a enegia da escita Toda escita é assim

uma ealização da fantasia suscitada pela simbologia desua ciculação econômica. Semelhante intevenção doimagináio não espanta, pois que, anal de contas, nãoé senão nessa instância que se egue todos os pojetosde econhecimento, e o que se chama habitualmente devocação é o melho exemplo disso: é uma fantasia, assim

como todo pojeto de escita se tama em tono de umafantasia que é, também ela, um pojeto, a antecipaçãodo texto acabado (até mesmo impesso e ciculando),dotado de um leito, de um auto, que são pesonagensconingentes e intecambiáveis, como toda fantasia egidapelo vebo no passado: te sido espancado, te se tonado

bombeio, cosmonauta ou médico, te escito e te sidonalmente, lidoFeud, ceta vez, mostou muito claamente a função

da fantasia como pincípio de egulação da enunciação,como ceteza pévia de sua validade:

e, pois, e me coloco novamente drante as conferências qese segirão, no meio de u aditório só o faço por m ogo demagnação talvez essa fantasia me ade ao aprondar a minhaqesão, a não me esqecer de levar em conta o leitor

1 6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 133/171

A fntsi d escrt põe em cen um letor pelo menosum que é mnh crtur Assim mesmo que o processo

d escrt tulzção do projeto reescrt d fntsi produz o mesmo tempo o texto e o sujeto de suenuncção rest à citur imginár (letor utoridel do eu) sncionr cição pondo su ssinturcomo um nhl obstat que posterormente lber esctde seu ctveiro mgnáro Esse é o ppel do prefácio

crtesno.Es pos lgums ds rzões pels qus não se deveconfundi o utor e o sujeto d enuncção N fntsipretexto que projet o livro como produto cbdo outor (leor mgináro) é o sujeto o eu del onde essese stisfz ou o idel do eu onde ele desej stsfzer; o

psso que no nl ele reúne mutiplicidde dos sujeiosd enuncção e vrndo tlvez cd frse às vezesms ssegur unddes desses sujetos frgmentdosEsse uto é então o persongem cujo nome está n cpdo lvro

Qundo ctção engj o utor n relção estelecid

por el é certmente deste últmo que se trt: consoldçãorecursv de um mgnário d escrit; ctção o tco utorz conferelhe qulidde de utordde que sóa osteror será su

A perigr do livro um vez que el o envolve comoum qudro vivo é nturlmente o objeto privlegido

d fntsi. O livo imginário tem um silhuet umcontorno um nome de utor um ttulo um epgrfe etcEle é pens silhuet: seu corpo ( mss de seus crcteres)permnece vpooso cnz indistinto. A escri ptindod fntsi preenche perigr destc o corpo do texto.

3 7

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 134/171

É admrável que a pergraa seja ao mesmo tempo o núceoda fantasa da escrta e o crtéro de uma qualcaão

smbólca graas a um vínculo própro da homeostasedo ssema de produão com o dspostvo de controle. Apergraa nsttuão postv ncta à fantasa e à escrtaque será tanto mas perceptível quanto mas permanecerel à fantasa Não há como se desembaraar desta paraescrever não há como subjugála. É ela ao contráro que

drge a escrta e captura o sujeto A homeostase apresentaesta superordade sobre todos os outros prncípos decontrole do dscurso: governa pelo magnáro e eosícones obrga a falar e a escrever. Em resumo se háalguma cosa de unversa no lvro sera justamente suapergraa ao mesmo tempo sua xaão magnára e seu

calre smbólco.Kant va no julgamento estétco o prncpo dacomuncaão ntersubjetva e de todas as relaões socassendo o gosto o modelo da unversadade humana. Édícl compreender porque a arte o gosto mas que anguagem ou o trabalho por exemplo é que exercem

essa funão prmera na organzaão soca. Mas areferênca à homeostase tavez permta explcálo se elafaz condr o magnáro e o smbólco da escrta se afantasa da escrta já é ela mesma unversal se realzandoa fantasa a escrta não faz outra cosa senão reproduzr oprópro crtéro de sua receptbldade. Não havera vros

fracassados (legíves ou nacetáves) sendo esse concetocotradtóro em s como também o de mau gosto paraKant (alás tanto quanto de bom gosto) mas somentelvos nacabados projetos abortados cua fantasa fonsucente desartculada mal delmtada pela pergraaé o caso dos Essas, na opnão de Malebranche.

1 38

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 135/171

POSE, ROPRÇO, PORIEDDE

A periga norma ou melhor modelo positivode uma prática de escrita que se mpõe desde o séculoXII, a t poto qe ualquer liberdde com relação ael esulica um livro e seu auor imbliz o texoecha -o e resiste a discurso que tm seu primeiro sentidona errânci e no nmadism "Meu estil e meu espritescrevia Montaigne "ão junts n mesa vagabundage

(III, 9 c)"O primero que cercando um terreno lembrouse de

dizer: isso é meu Eis aí segudo ousseau a orige daprpiedade. Cm efeio na perigraa é da edicação dapopiedade itelectual literáia artística estétic quese trta A erigraa faz da pisgem textual um campocultiao; põe ao debate ao delírio quanto à utilizçãodo já dito; resole ma ez r todas os litígios de usuutopois eulriza o dplo sentido de dar as regrs e trnrregular o ncinmento d máquina e escrever ou dediscorer

 

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 136/171

Todos esses pontos itigiosos obcecavam Montaigne,constituíam, por assim dier, seu sintoma. Uma ve que

não se pensa mais a escrita procedendo de uma linhagemou de uma tradição, mas de um sujeito singuar, o que noivo é própro a ee mesmo e o que é próprio ao autor?

Como di Montaigne, "cada homem tra em si deforma competa a humana condição (, , b) ssonão signica que ele seja apenas um avatar ou um caso

particuar dessa humana condição muito ao contrário,como Montaigne ogo justificará, ele é em si um "seruniversa, enquanto Miche de Montaigne, não enquantogramático, ou poet, ou jurisconsulto (bidem c) E éenquanto tal, unicamente em seu nome, que ele deve usara alavra

Mas se se retira do livo as alegações, os empréstmos,as citações, as paráfraes, as alusões, o que resa depropriaente seu?

o lósf hrysipps ajtava a ses livrs nã apenas passagens mas bras inteiras de trs atres e em m deles aMedéia de Erípedes e Aplldrs dizia qe qem sbraísse

qe hvesse de estrangeir, se papel aria em branEpicr, inversamente, ns trezents vlmes qe deix, nãhaia semead ma só alegaçã estrangeira (r, 26 145c

A questão recai sobre o resíduo que identifica,que individuaia cada texto na sua uni(ci)ade, ogo,

sobre o nome próprio, categoria ógica (o que denotau objeto determinado) tanto quanto denominativosoietário ou chamamento controlado A propriedadeé fundamentalmente uma questão de discurso, dereconheciento ela se opõe ao consco ou pose: "A

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 137/171

posse Besiz) tona-se popedade Eigenu) e tomaum caáte de deto na medda em que todos os outos

econhecem que a cosa que faço mnha é mnha'Os vebetes que Condac consaga à popedade,no momento mesmo em que se elaboa uma eexãolosóca, juídca, econômca sobe seu estatuto, são mutosgncatvos:

Propriedade sfdepróprio Qualdade prpra a alguma cosa e que a dstnguessa palavra fo prmero ulzada para os corpos, daí estendeuse a tudo v Modação

z-se que um escrtor tem a propriedade dos termos quandoemprega aqueles que são mas rpros para expressar suasdéas que as dstnguem e as caracterzam melhor Propriedade

posse ver este últmo

Mas que a popedade tenha sua ogem e suaespeccdade no dscuso não mpede que, nesse domno,muto mas que em quaque outo, ea pemaneça umapepétua questão, uma causa ntatável

Sêneca a hava abodado na cata XXXIII a Luduts,cata que atavessa em gana o captuo dos Esais,"Sobe a Educação das Canças (I 26), onde Montagneetoma a questão

Apesa do peddo de seu coespondente, Sêneca seecusava a semea ctações nas suas catas, vcês nsrru

prceru.13 A vx é possessão demoníaca, peda dedentdade e ennca de s mesmo, ania oufur, oucua

ou desodem uma vez que ela não depende mas de umentusasmo sagado nem de uma nspação dvna Sênecaa condena Nn es erg qud eiga eerpa e repeia [

1 4 1

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 138/171

urpe es enim [ ] ex cmmenario sapere.10 Essas vozesvocs, estão aí para que quiser publicae sun.106 Contra

a posse e contr a oucua Sêneca se compromete coma independência com a assiação com a apropriação:Sire es e sua facere quaeque ec ad exemplar pendee eoiens respicere ad magisrum.107 Montaigne guardou aiçã e seguiu a iteramene Longas passagens desse textode Sêneca são retomadas no capítuo "Sobre a Educaçãodas Crianças' sem que isso sea indicado Para se defendeda posse que é uma aienação a aropriação seria o nicoremédio a maquiagem e mercadoria rubada "reanos empréstmos' reivincava Motagne "sintome vonade para roubar agns disfaçano-os e eformandoos para um novo servi108

Apropria-se seria menos tomar que se retmar menostomar posse de outrem que e si Os Essais são uma uscado sujeito no dese dos objes que o etêm tanto ou maisdo que ees são retidos

Mas rnad Nicoe Maebranche ignorarão a difeençaque fazia Montaigne epos de Sêneca entre a posse e aapropriação quando a apropriação o ierava da posse na

sua abivancia O sécuo II rerovará as duas coose fossem uma nica ou mais exatamente condenráparicuarmente a apropriação forma viciada a posseMontaigne é ossuído porque ee é habitado obcecadoor suas eituras cmo por u demônio Ee imagina faare seu próprio nome quano não faz mais que emprestar

sua voz ao discurso do utro aucinaço dupicação de sie ignrâcia vão junts com nrcisismo Maeracheõe mesm uma exicaçã siogica para o deíriodos "comentadoes' cjo deo ontaigne e hamao"imaginação fote

2

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 139/171

Tudo sso aotee poque as maas que os obetos de suaspeopações mpmam as bas de su éebo são tão p

das que pemaeem sempe eteabetas, e que os esptosanmas, passando po elas onstantemente, onseam-nassempe, ão pemtndo que se fehem de modo que a almasendo ostangda a te sempe os pesametos lgados a essasmaas, toa se omo que esaa, e está sempe petubada equeta, meso quado, oheedo sua desodem, ela queemedá la

Nas pessoas dotadas de imaginaçã forte, sa história, sasleituras se gravam na superfície do cérebro, são marcasou feridas jamas cicarizadas, e contra a recorrência dasquais no discurso, no corpo, nada pode se opor averiaeor denição de sintma, aquilo cuja repetição nãopoderia nunca ser boqeaa Assi seriam as citaçõesde Montaigne.

À posse, que tem como variante a apropriação, o ladoangustiado (mas não controado), o século II opõe overadeiro cntrole de si e do discurso: a propriedade que

sbstituiu ao meso tempo a posse e a apropriação e queas inviabiliza. A noçã de direito autoral ou de popriedadeintelectual surge ao longo do século VII Seu adventofundamenta-se na crítica às imaginações fortes que elapretende cercear. A partir de Loce, ela se justica, comotoda propriedade, pelo trabaho investido a proprieade

depene, juntamente com a faíia, do direio natural.Com Kant ela se dtermina coo direito da personalidade,de que fazem parte a crição estética ou intelectual.Mas seja qal for se fundamento eórico ou losóco,natural ou mora, 0 a categoria e prriedade inteecualsubstitui novo distinuo àuele ue vaia para Sêneca

43

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 140/171

e Montigne, entre posse (pe vox pes pvrs e proprição (d sententia do pensmento

A nov distinção sepr, no seio d popiedde ouso e reprodução. E supõe um economi d eitur ed escrit, inscrevese num probemátic d produçã edo consumo do teto Grosso modo diferenç é queentre o eempr e o teto, entre o ivro como bem deconsumo e como meio de produção (e ssim é egtim

hipótese segundo qu ess diferenç seri induzidpe tipogrA qestão ( pori insepráve de tod escrit

desocou-se, ms não deiou de ser questão E não é miscomo em Montigne o que é, o que fz proprimente omeu teto? O que é proprimente meu no teto? A questão

reci de incio um incio que bre questão em seuconjunto sobre o qe é propriedde do comprdor deum eempr do ivro Que propriedde, que uizção divre escoh represent e sncion compr, detenção, osse de um ivro? Qu o sentido desse gesto que eecuto,sem mdir su grvidde troc de um voume por

dinheiro? Hege responderá:Peo fao mesmo de o aquisido de um a poduo dispo de seuineio uso e de seu ao po meio de um exempa isoado ee ompeamene popieáio e popieáio ie desse poduoomo de uma oisa paiua ainda que o auo do esio ouo ineno do disposiio nio oninuem popieáios do

poedimeno uniesa que pemie muipia ais poduospoque ee não aienou imediaamene esse poedimeno maspode onseáo omo uma possibiidade de expessão quee pópiaIII

44

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 141/171

Mas isso não é assim tão evidente, e Hegel se vêlogo obigado a acescenta: "É peciso se peguna

peviamene se uma tal sepaação ene a popiedadeda coisa e a possibiidade que ea confee de epoduziaé conceitualmente aceitável, se ela não supime a ivepopiedade' Nada, conseqüenemene, ca esolvido peaaplicação da noção de popiedade à escita. Das duas uma:ou o compado dispõe do competo uso do livo (logo, o

dieio de epoduzi lo, de demacá lo, de copiáo , ou esseuso tem um imie. nos dois casos é toda a popiedade, suaessência, que esá em causa. Antecipando o desenvovimentológico da oba, Hegel deve, paa sai momentaneamenteda dicuade, inoduzi aqui o temo "capita: o livo énão somene uma posse, mas também um capital

No pimeio captuo dos Príncis d la Philosohídu Droit (incpios da Fiosoa do Dieio, que aada popiedade e que faz dela a pimeia foma que alibedade se dá como existência, seja a exisência que apessoa, enquanto vontade live, dá à sua libedade, sejaainda aquilo que assegua a existência efetiva e objetiva da

pessoa, sem o que ela e sua vontade pemaneceiam simplesconceitos, Hegel foi evado a coigi constantementesuas denições e suas poposições, a m de da conta dapopiedade intelecual. Ana de conas, esses addndaalvez desmontem toda a agumentação.

O livo é, pis, também u capial. Mas o pobema

subsise. O ensino e a popagação das ciências "são apenasa epetição de idéias que não são novas, mas que já foamexpessas e que se ecebe de fo m que medida essaepetição confee dieio de popiedade àquele que a opea?"m que medid pegunava Hege, "quando se ata deuma oba lieáia, essa epetição tonase págio?1 ssa

45

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 142/171

questão põe em diculdade o dieito, positivo ou abstato,e a losoa o que não pode se deteminado segundo

uma ega pecisa, nem pode se ado uidicamente oulegalmente Assim, o plágio eveia se uma questão dehona, e a hona deveia evitáo'1

A hona é a única esponsável pela validade da escita,temo estanho e absolutamente insólito na pespectiva dodieito natual, cuja constução é uma tentativa de Hege

ou, pelo menos, temo cua pesença aqui, no incio desseempeendimento, é adicalmente pematua e mosta que éimpossvel estende àescita a noção de popiedade, comose pudesse have outa evocação que não fosse metafóicaem matéia de popiedade oust escevia a m de seusamigos, Albet Flament, na ocasião do lançamento de

um livo deste "ada detalhe é levado a u ponto aondequalque outo não podeia leválo e o senho e apopiadele de um modo incontestável, como um dieito deopiedade11 oust não se enganava, é a metáfoa oua fantasia da popiedade que a peigaa envolve

evem-se etoma ainda, paa especica a questão, as

noções de posse, de apopiação e de popiedade textuais,segundo uma outa pespectiva, como tês modelos masnão apenas históicos ou genealógicos da elação ente sueito e objeto, ente o seito da enunciação e oenuniado Essas elações seiam assim caacteizadas:

- A elação de posse, essencialmente ambivalente, tem

lga no imagináio, no nvel de uma fantasia e fusão,sm que o sujeito paticipe do ento e do foa do que épópio de si (seu copo, sua lngua) e do outo (o copoestanho, o discuso)

46

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 143/171

A relação da apropriação que faz seu sem distinçãoé uma etapa intermediária em que o sujeito parte em

busca de si mesmo como de um outro à procura de suaidentidade entre os objetos que o circundam "Quem tocaum toca o outr116 dizia Montaigne de si mesmo e deseu livro Não é mais tanto da indiferença entre o dentroe o fora que se trata mas d confusão entre mim e o quenão sou eu sso supõe o esboço de um sujeito e apesar da

ausência de fechamento uma margem entre mim e o textoSêneca recomendava a Lucilius: Alqud ner e ner elbru.11 Deixe espaço entre você e o livro é esse espaçoque lhe permite fazê-lo seu

Quanto à propriedade ela resolve tudo fazendo oautor aceder à maturidade assumindo a separação entre o

autor (instituição ou pessoa moral consolidação recursivada variedade dos sujeitos) e o livro (também ele instituiçãoe pessoa moral mercadoria unidade de enunciados deorigens diversas mas retomados e compreendidos naperigraa onde o autor se delega e que o representa) Éuma relação inteiramente simbólica atingindo a cção do

pseudônimo do manuscrito encontrado ou do espelhodeslocado ao longo do caminho e a lei "de uma maneirdiz Hegel "sem dúvida determinada mas muio limitad a protege

No entanto qual é o objeto da propriedade literária?Enquanto a posse e a apropriação são certamente engodos

pelo menos a seus objetos não falta realidade Não é o casoda propriedade cujo objeto ao contráio é imaginárioproblemático Relação entre um sujeito e um objeto aprpriedade é tão suspeita quanto a posse igualmenteilusória Na posse o engodo recai sobre a relação e sobre osujeit o sujeito é falado pela v , mas na propriedade

1 4 7

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 144/171

o próprio objeto é uma miragem A posse pretende deter,igar alguma coisa, aquilo de que ela se apropriaria, o que

ea teria tabalhado, marcado; a ei lhe reconhece direitosMas se a perigraa, na verdade, não comportasse nada ouo vazio, o que Hegel não chegou a circunscrever..

osse e propriedade desconhecem igualmente a fata:a primeira é um engodo da apreensão imaginária de umobjeto bem real (minha ama habitada pelo demônio),

a segunda é uma miragem da detenção simbólica (naperigraa) de um objeto imaginário, a escritaermanece, pois, mais perto da verdade da escrita a

aproriação: o que copia uma frase, o que desmascara umsujeito, o que zomba tanto do sujeito quanto do objeto ssonão é meu, isso não sou eu, falo em nome de aguém; isso

é meu sintoma, e o sintoma é sempre o discurso do outro,o real Não há nada mais real que o roubo ausente dasconsiderações hegeianas sobre a propriedade, a não serna forma do plágio , o roubo da escrita que abaa todapropriedade no seu fundamento

Do Latim, lngua morta que certamente mais nos fala,

uma frase poderia servr d embema aosEssais

extradado adeno do exemplar de Bordeaux, no capítulo "Sobrea Educação das Crianças: "Quem segue um outro nãosegue nada Ee não encontra nada, nem mesmo procuranda Non sumus sub rege; sibi quisque se vindice Que peomens ele saiba que sabe'8 A primeira frase copia Sêneca:qui alium sequiu nihil inveni immo nec quaeriY9 Asgunda citao: sibi quisque se vindicet,20 cada um temaoio em si mesmo, sibi iam inniau121 diz ainda Sêneca.ão somos sditos de rei, não estamos subjugados, quecada um abandone o estatto de ntérprete, que cada um

4 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 145/171

fale, não em seu nome, mas em nome de alguém, fae deouto modo o discuso do outro Que cada u se autoize

a si mesmo: esse é o emblema da apopiaçãoas a popiedade logo se abateu sobe a apopiação

e eguoua Eis como se taduzia Sêneca no ano III daRepbica, em 1796, enquanto a lei sobe a popiedadeliteáia data apenas de 1793: "Não temos donos, somostodos popietáios'122Até se admite que o monaca tenhacaído em esquecimento, mas intoduzi aqui a popiedadeé um contasenso adica, quando êneca e Montaigneentendiam isso como a pópia abolição da popiedadeda escita, ou, mais exatamente, denunciavam seu engodoCada pequeno popietáio de texto se ceca de um muo,de uma peigaa O texto é cicundado, o auto é o donode si e de seu teitóio Mas não se passa nada mais oados muos?

1 4 9

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 146/171

A CITAÇÃO ACABADA

Voltemos à hipótese que seriu de ponto de partida para

este trabalh uma citaço estabelece uma correspondênciaentre dois sistemas semióticos, citado e 2 citante caaum composto de dois elementos, um sujeito ( ou 2) eum texto ( ou 2) Daí decorrem quatro relações entreelmentos extraídos cada um de um dos dois sistemas:-2, -2, 2 e 2. Toda citaço engendra essesquatro pares simples e irtuais; cabe à leitura, à interpretaço, enquanto negociaço das diferenças, fazer com queeles existam, que eles se realizem, revestindo ou no cadarelaço potencial de um valor efetivo: o de símbolo, deíndice, de diagrama ou de imagem, que designam os uatrovors correspondentes às quatro relações simples. Essesvaores compõem uma tipologia formal da citaço, com

qatro casas, cuja predominância de uma sobre as outrasé econhecida pela leituraVerificar essa tipologia condicional consistiu em

confrontá-l com práticas da citaço. Três sondagens

0

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 147/171

sucessivas detectaam divesos valoes pivilegiadoshistoicamente: os de símbolo, na etóica antiga, de

índice, paa o comentáio medieval e, no texto da idadeclássica, o de ícone, vao no qual se subsumem os tiposdo diagama e da imagem, duas guações convegentesdo sujeito catesiano

A tipologia pevia fomalmente quato valoes dacitação; algumas sondagens os exumaam. A atitude fomale a atitude empíica, todas as duas igualmente abitáiase apoximativas, legitimaseia mutuamente. Cadauma seia a pova da outa e, juntas, seiam vedadeias,exaustivas

E então? O jogo acabou, o cículo se fechou Nada mais

a faze Há em tudo e paa tudo quato casas na tipologiada citação e elas estão peenchidas O sistema da citaçãoestá completo, acabado, desde a idade clássica: a citação,segundo ot-oyal, satua esse sistema, esgota suas possibilidades e nada mais, desde então, podeá advi, excetoum etono ao passado, uma evaoização da gnômé ou,

mais facilmente, a auctotas tal como se vê, tal como sefaz Toda citação se localiza adequadamente numa dascasas pevistas, e a máquina da escita vai odando, semnunca atea Ela dispõe, juntamente com a citação, de umaegulação ou de um contole homeostático, necessáio esuciente, da epetição, do já dito, potanto, da escita em

geal. Só posso me submete ou me deitiMas seia ealmente tudo? Acabaia o questionamento?Nada mais a se dito ou édito? Tãosomente sonhacom uma citação ebelde, que fugiia como aeia poente os dedos, que esistiia à classicação, uma citaçãoinqualicável, um gão de aeia na máquina? Além disso,

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 148/171

supondose que ela seja, a tal citação, viciada, fugiria ea regra, ou seria simpesmente a exceção que a conrma,

sua prova por absurdo?A tipoogia admitia, entretanto, a possibilidade de uma citação que estabeecesse uma reação global entre

os dois sistemas 5 e 52, sem que se pudesse reconhecerrelt simples, num e noutro sistema, autor ou texto. Natransição do índice para o ícone, o emblema ou empréstimo

de Montaigne constituiu um primeiro exemplo A seguir,propomos outros

52

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 149/171

UA ECONOIA DA ESCITUA

Enquano a enunciação é um pocesso de apopiaçãoda íngua, a ciação é um pocesso de apopiação do discuso, do Fudo lteáo como dizia Mallamé12 Oa, sea língua é de domínio púbico e não peence a ninguém,o discuso suge da popiedade pivada Não foi sempeassim na anigüidade, o discuso ea ublca matees

do mesmo modo que a íngua , mas peo menos o queama Hege nos Pcs da Flosofa do Deto e quefunda o egime juídico da popiedade lieáa, desde osécuo XIII A fase que eu digo ou escevo me peence,ela é minha Po isso é necessáio que a cicuação das fasesno mecado seja scalizada. A ciação, segundo seu vao

dominane de ícone, desd o século XII, é uma opeaçãoeconmica esuuada peas egas do inecâmbioEm que consisiia uma evolução no ssema da

ciação? Caa um de nós seia live paa apopiasedo discuso do ouo, paa demaca odos os ivos, àmaneia do heói de Boges e de Casaes, Césa Paladion,que paicava "a ampiação de unidades'

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 150/171

Antes e depois do nosso Paladion a unidade lierária que osautores retoava do fundo cou era a palavra ou no áxio a frase copleta Os anuscritos bizantinos e edievais

al consgue apliar o capo sttico rcoiando vrsosinteiros.

aadon fez muto mas pubcou com seu nome vrosnteros Émile Egmont le Thébéenne etc or ocasão desua morte estava preparando um Évangile elon Saint Luc

Evangeho Segundo S Lucas) Mas aadon pubcavacom seu nome ara reapresentáo escoha um vro ntero em vez de uma ctação parca ecdu "escavar as profundezas de sua ama e pubcar vros que o exprmssemsem sobrecarregar o mpressonante coru bbográco jáexstente nem car na vadade de escrever uma únca nhapor s mesmo15 Na pergraa de uma obra de aadon

apenas o nome do autor fo substtudo mas ee consttuustamente a peça essenca o útmo referente do sgnoda ctação ou do vro como cone O método se nscreveanda sob o sgno do cone e não aboe a pergraa

Uma revoução supora muto mas a supressão dapropredade prvada em matéra de escrta Não só todos

os vros eqüvaeram a um só mas guamente todos osautores Nossa hpótese de partda a correspondncaestabeecda por uma ctação entre dos sstemas semótcos não sera pertnente e a tpooga que ea acarretatrapassada Não havera mas ctação aadon não teranome e não podera ser acusado de págo A apropraçãoprvatva do texto substtursea uma atuazação annmae ndvsa o comunsmo nteectua que teve seu adventonvocao por Freud uma utopa cujo logan escanddopeas massas consttu apenas um rrsóro sucedâneo A

54

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 151/171

nic idéi que emos de um enuncição coeiv é,n verdde, recição dos monges, no ivro dos smos,

ou dos chineses, no ivro vermeho, forms exremsd cição Em vez de propriedde coeiv suprimir cição, seri, vez, omene o conrário e, d escri,só cição sobreviveri O discurso é o limo rego dpropiedde, lvez por ser origem de, e seri precisomis de um revoução cuurl pr br su economi,

pois e é esáve, com um regução homeosáic: cição corrige sus perds de equiíbrio, sus frquezsmomenânes, sus pequens oscições.

1 5 5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 152/171

FESIVIAES

te uma velha tação úca a ctação. NaGéca antga, a competção e ctaçõe ea um ogo e

oceae, cua ecção etalhaa fo aa po Atenéano Deinshistai:

U dizia vrso o otro dvria dar a sqnia Citavas a áxia dvr-s-ia dar a rlia onsrvando-so so nsanto tirado d otro oa O ntoxigia s vrsos o ro núo d síabas [ . ] O vn

do ganhava a oroa; aql q rava a onadoo a itada d salora no vinho dvria ngo dod a só vz.

A ee ogo a ctação e a ectaão e lgam a apóae o concuo e apoo evocao po Patão no Ina ebçõe vaem também como poeza, pova ouefomance

Em es Hain-Tenys Pésie de Disute Jean Pauaneceve uma atvdade, anáoga a ea, a tbo do

56

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 153/171

Merinas, em Madagascar,17 e esse caráter ldico ou mesmoesportivo da citação e da recitação certamente não está

ausente da dispuaio qual se exercia a universidade daidade média. Por se tratar de uma competição, uma disputade oratóra, o jogo não prejudica muito o sistema que elenão menspreza. É o vencido que ele ridiculariza, e nãoa citação O jogo é um desao, lançado menos ao códigoque a um de seus usuários

Mas todos esses divertimentos se situam num estado dacitação anterior (antigo ou medieval) ou estranho queleque será istitudo de forma permanente na idade clássicaSe o ndamento desse ltimo modelo é icônico, se eleimplica prondamente o sujeito da enunciação, todo tipode virtuosidade ou de gratuidade não estaria rigorosamente

proibdo? Se a seriedade é realmente a primeira qualidadea ser exigida de um autor, a frivolidade não a suprimiriaobrigatoriamente? Não há, pois, desvio ldico possvel dacitação acabada.

Witold Gmrowicz, no romance Tras-Alaiquenarra uma disputa de oratória, opondo o narrador,

representante da Polônia, ao próprio Borges, delegadopela Argentina, para o combate Mas a regra do jogomodicou-se, a partir idade média, e Borges trapaceiacom ela, ou, melhor, ele a leva até as ltimas conseqüências:em vez de replicar s proposições de seu adversário comcitações, ele as denuncia como citações. "Acaba de ser

dito aqui que a manteiga é manteiga demais . Uma idéiacertamente interessante . interessante, sim, essa idéia ..Pena que ela não seja nova: Sartorius formuloua em suasBucóicas18 Ao que Gombrowicz retrca: "O que meimpota o que disse artorius, se sou Eu quem alo! Oproblema é que toda rase á teve uma ocorrência anteior,

5 7

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 154/171

e Borges, levado at as útimas coseqüêcias a lógica dacitação icôica, adotado ma posição de deúcia de toda

repetição, terá a última palavraAcaba de ser proerida a ae segne: e me impora Sarorisse so e em alo A éia não é má de maneira ama é mápoder-se-ia mesmo serila om moo becam; o Cao é ea Senora de Lespnasse já disse algo parecido em de sasCaas

Com sua competêcia, com seu direito à palavra, abaldo,Gombrowicz só tem como recurso praguear, «Merda,merda, merda! Mas ão há ada meos orgial eele aida cai a armadilha «Uma idia que merececsideração ... Coberta de creme fresco e levada ao forocom champigos, seria, a verdade, excelete. Mas, quepea, ela já foi dita or Cambroe13

Refutar o discurso do outro, com o pretexto da citação,é privar o outro de seus ícoes, desqualicá-lo e reduzi-loao silêcio. Quem tem a última palavra aquee que temreferêcias. Aí est a estratgia costate de Borges, quadoesgota as possibilidades o sistema clássico da escrita, daperigraa e da ciação, at colocálo em cotradição.Borges iatacáve, quao destrói seu adversário, quado obriga a calar-se, exaspeadoo com a obsessão do "tudo foi dito' certeza de que tudo está escrit, di Borgesem agum lugar, os aula ou faz de ós fatasmas'

E Gombrowicz foge "Eu carei quieto! Miha líguaaralisada! Ah, caalha, ele me era tão bem egoli -la,ue toas as alavras me escapavam etão, ada era masmeu, meus bes ão eram mais eus, mas puro furtoRoubado!

5 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 155/171

Ta o para ao e eo preiaopor Scre e pel ea raze prgir e u

ca. iso qe a cao acaaa pe

1 59 

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 156/171

SPAÇOS DE SCRIA

eria possíve um dia apesar do sinoma aabarom a anaogia do ivro e do universo om um modeo

uma meáfora espaia da esria e do onheimeno Aperversão peo onrário o exagera " universo quealguns hamam de Biblioea) se ompõe de um númeroindenido e avez innio de gaerias hexagonais [.. ] 'É a bibioea de Babel na qua Borges se ompraz "smesmos voumes se repeem sempre na mesa desordem

que repeida ornar-se-ia uma ordem: a rdem' E aordem é fundamenamene geoméria Quano à esriaserial ea ambém não aboe a referênia a um universoas a reaiviza. Como diz Pierre Bouez a respeio daúsia serial:

o niverso da úsica hoje é u unveso elivo co isso

quero dizer u universo onde as relações estrutras no sodenidas de ua vez por todas segndo critérios asoluts; easse organiza pelo contrário, segundo esqueas varáveis.

1 60

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 157/171

Dizer que o espaço da escrita é relativ, variável ou emepanso, significa dizer que sus referências ou suas

efnições esto em movimento e no apenas asvariações que, como uma trajetória, se modelam emtorno dessas denições , de uma obra à outra, masainda na própria obra. O conceito de espaço, no entanto,permanece

O ivro é um volume Mallarmé, signicativamente,preferia essa palavra para designar o monte de fohas ,ele é, essenciamente, e qualquer que seja sua dimenso, umespaço Toda escrita é a ocupaço de um espaço que nose reduz a um suporte umen codex, página linear,plano ou espacial (O teto serial, diferentemente do outro,no se dá, para começar, esse espaço virtual, essa superfíciede jogo) O espaço da escrita é, antes de tudo, uma situaçoa investir, um lugar de trabalho disponível: a biblioteca,a ordem do discurso, a letra A letra é o espaço mínimo,inevitável, de toda escrita; ela é tabém o sintoma em suamobilidade ara Mallarmé, ela é um milagre

no sentido prondo segundo o qual as palavras originalentese redue ao eprego dotado de innidade até consagrarua ngua as aproxiadaente vinte letras seu devirtudo entra para ora jorrar prncípio aproxiando-se deu rito a coposiço tipogrca

Da mesma forma, é de todas as combinações possíveis dosvinte e poucos caracteres que se compõe a biblioteca deBabel, tota, imensa, mas numerável Seria porque a escrita,epanso da etra, é o domínio do numeráve, qe ela nuncaescaparia totalmente a um modelo espacial

6

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 158/171

Mas a ocupação desse espaço, a habitação da letra toma,historicamente, formas divesas Na retórica antiga ou na

versão medieva, o termo ue dene a relação da escritacom o espaço é o de óic o teto se pratica a partir de umatópica, de um luar comu ue não pertence a ninguéme ue se proeta, tal ual uma treliça, sobre o discurso, ouue se perla atrás dele. A tópica é um domínio púbicoindiviso, uma estrutura móvel e habitável por uem quiser,orador ou ouvinte, escritor ou leitor: odos os agentes,todos os depositários da letra a compartilham A citaçãotópica, símbolo ou índice, ou ucoris remete aoteto, como obeto, ao outro, teto ou autor como pontocontíguo no espaço. O teto citante e o sistema citado T2 e ou T e A estão separados, mas cada um em seu lugarna grade; uma aresta, tópica ou típica, os reúne.

Com a idade clássica, e para interromper a grandemobiidae tipográca da etra mecânica ou dinâmica,como o emblema, e não reativista ou enérgica, comoo sinoma , para refrear os deslocametos, uandoees proliferavam, uma ruptura se produziu, fazendocom ue a citação passasse de um valor dominante de

contigüidade para um valor dominante de similaridade,o do ícone. A noção espacial de referência tornase,então, a oogr o teto clássico, circundado por umaperigraa, demarcado por ícones, é o apeamento, oecorte, a representação na e detalhada de um lugar oude u terreno escolhido. Os lógicos de ort Roya davam

como eempo e protóipo do signo o mapa geográco,o ícone mais seguro e mais manifesto O autor é umesbravador, um conuistador Robinson quesubmete para si a rr incógni de sua iha , ele faz omapa e se apropria da terra O cadastro é o ue representa

62

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 159/171

meho popiedde individu e s itções iônis sãono teto d topog ms d popiedde ou omo

p Robinson s pous fements de que ee dispõe noinio p epoduzi o moosmo os instumentosd popição é po isso que s itções iônis emetemmenos o ivo omo objeto do que àquele que o submeteque se impõe o espço potenil O uto itnte équee que põe odem nos sistems itdos que onee

seus dstos e etospetivmente se identi om imgem dess odemO sintom itção do teto seil bl o modelo

espi d esit tópi ou topogáfi ms sem oboi inteimente A multu ou supefie sujde insição não é um plno um fe do volume msum genimento de espços e esttos de plnosum geolog omple Não é mis um topogfi pópi eesit dos desnivementos do teenonum folh bn que esit eeut ms umtoologia um vição de foms p qu não hámis sujeito omo o topógfo nem objetos omo ostooi. O livo esevi Mlé "epnsão totl dlet deve t de dietmente um mobilidde eespçoso po oespondêni institui um jogo não sesbe que onme ção136 T pogm quee queUn cou e s (Um ne de ddos) eiz ondens det modo todos os tços d esit que el petende setopológi let úni unidde de ptid buloquse som; tee ou espço é um ois só; o ivoem movimento no espço univeso em epnsão dlet o ivo nenhum objeto nenhum sujeito m outolug e po ssim dize omo supemento do pogm

do mesmo modo que o livo "deve institui um jogo om

1 63

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 160/171

a ea, sua epansão oa uma topooga, o esoeve se nsttu' o vo, seu esptuoso hsão Paa a

topooga, é esse o sueo. quee que est em onõese esevêo movese nessanemente em eaão a umunveso em nessane vaação Às vezes, ee o enonaQuano ee aee ao sntoma, quano anuna o senomagnéto, ee se tona, momentaneamente, um ponto eaeêna a topooga

esa a ópa e a a topogaa eam pensamenoso tempo o empo ea a úna vave, segno a quase esoava a efeêna o suso. Um pnpo eonoe a esa, quaque que ee sea, em omo efeoete o tempo, pa o, sto é, epesen o, po eempo, naaão, sob a foma e uma suessão e esaos esves

e esttos, e sento úno foha na qua esevo, eu asuponho móve uante o empo a esta e aé, se eu aaho móve, evo pesum mnha mobae em eaãoa ea O tempo a esta, o empo a eua, essas uaõesnaves e sempe esonheas, são nãougaes paao vo, nãouaões paa o empo, omo se o empo e

o tabaho, a nâma o eseve, fossem, paa o vo,heteogêeos ou fouos O vo peene esa foa oempo, o que não que ze que ee sea ntempoa, masque ee petene abo a uaão e sua esta ou e suaetua ou, meho, que seu tempo sea evesve, uaNsse sento, a esa, ópa ou opoga epesentauma veaea heesa, a os monotones ou os annularesque, na novea e Boges, Os Teólogos, Jean e a Pannoneetou goosamente Ea anua popamene a uaãoe e feha sobe s mesma, até não se senão um ponto noespao, um pono geométo

64

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 161/171

Já a heresia dos hisriões é outra coisa heresia daqueesque foram também chamados de simulacros Auéle

deuciou Jea de la aoie por causa dsso: uma ctaçãotóica Segudo os histries o tempo é rreversível ão soerepetiçes isto é ão soe fechametos Nehuma duraçãoé auáve em a da escrta Ta é o labor do espirituosohstão cua chegada Mallarmé auca: um smulacroherétco. "a sedo' o vro rompe com a leitura e com a

escrita os aceta a duração (a expasão da etra) itegra adimesão do tempo de um tempo irreversíve ode ada sereete Na escrta tooógica a folha e a ea a macuaturae o espirtuoso hstrião estão ambos em movmeto emtraetórias dferetes em órbtas que ão covergem emdvergem mas que por vees fortuitaete se ecotramou se cruam "choque sucessivo sideralmete de uma cotatotal em formação:37 é o acdete que fa care e verbo éo stoma a aterâca do som e do slêco a desidadetemtete da etra O hisrão se afasta da maculaturadepos o seu ogo aleatório ee a ecotra um state podera iguamete uca ecotrá-la. Num uversoesseciamete móvel a citação a reetção o cclo ão é

mais aquo que pe o texto em movmeto daí as fahasos acoplametos as ressoâcias A ctação é a marca deum acopameto etre a maculatura e o hstrião umaaceeração istatâea do movimeto quado as traetóriasseparadas etram em ressoâcia Mas por mais que eucopie que me apique com todo meu eo se miha folha

mexe como um trem um avão uma ave espacalão teho mais referêcas ão cosgo mais me stuaraubert havia recohecdo sso imagiado a utoiadeitiva do romace acabado: por mas que eu copese sou um hstrão herétco aém de esprtuoso icororae egraçado uca será como a outra ve

6 5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 162/171

NOTAS

Ver KROBR. Ishi le men du deie indien suvge. MALLARMÉ Quant au ivre p 381. JOYC. Ulsses, p. 108 Ulsse, p 115. (Trad. fr) QITILIAO. Insiuion ooie, X 1, 1. dições utiizadas

Insiuionis ooie libi Leipzig Teubner 188-181, v 2; trad.L. Baudct Paris irin-Didot 1842 trad J Cousin Paris Les BeesLettres 175, iv. I; 176, i. II-III; 176, iv. IV-

Idem

OTAIR Lesgues du discous, p. .7 WIICOTT. Jeu e élié8 ntende-se porpolo o conheciento da vida e dos escritos dospadres catóicos. A patroogia do abade francês Jacques Pau Migne

(1800-1875 é a ais copeta de que se te notcia9 JAKOBO. Essis de linguisiue généle, p. 2170Marcar u encontro é o prieiro sentido de ci e espanho. MAIGO. Pole donnée, p 436.2 L BLLTI D LTTR v 14, p. 10- 11 , 25 jan. 133. O fato é

reatado nos Chies Céline, n. p. 52-54, 176

3 ZAVI Üxepe à ne pus suivre innsigen, 4 ars 133 ChiesCéline, n. I p. 53.

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 163/171

14 CÉNE Postfae au Voyage au bout de la nuit Quon sexplique ..andide n 470 p 3 16 mas 1933 ahiers éline n p 54-55

15 VAÉRY ahirs t p. 249, 197316 ARSTTEES. Retória 8 1409 a 21 . Ediço utilizada Trad M

Dufou e A. artele. Paris: es elles ettres 1960-1973. 3 v7 Ver ina item O posto avançado p. 79.8 ERS. Bres p 277.19 Ibidem p 27520 Ibidem p 276.

21 BORGES. uteur et autres textes22 MAARMÉ Quant au livre p 378.23 ARAGON. Texto extrado de La mise à mor p 509.24 Ibidem p. 462 Jean de Buei é o autor de Jouvene ao qual ele fez

muitas referênias em La mise à mort omo a um tpo de prottipodo romane.

25 Ibidem p 455

26 PROUST. A la reherhe du temps perdu t p 1034.27 BORGES. Fitions p 6728 BARTHES Z p 1029 Citado por ZUMTHOR. e arrefou des rhétoriqueurs emPotique

n 27 p. 320.30 CÉNE. ahiers éline n. 2 p 188.31

DEEUZENiethe et la philosophie

p 4.2 Ibidem p 84. CONDAC Ditionnare des synonymes t. p 480.

4 BARTHES Roland Barthes p 7 BORGES; VASQUEZ Eai sur es aniennes littétures germaniques

Ver BORGES a bibliothque de Babel em Fitions

7PATÃO Ion 533d.

8 ARSTTEES. Poétia 4 18b 5.3 Voyages de Botarroxitado por PAUHN.Leseurs de Tarbesp 13

1 6 8

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 164/171

4CCER lançara o momento deslocando a retórca de uma arte dapersuasão para uma arte do ornamento VerEorteur, XIX 6 ondea elocutio é concebda como o poder supremo da fala.

4 YNIANO De outon lérare p 20-3742 bidem, p 234 MOAWSKI. The basc functons of quotaton p 690705 PATÃO. A Repúblic, X 5974 bidem, 597b PATÃO O sost, 234b.47 bidem, 266c.48 DEEUZE. Logiue du setis, p. 297. Sobre o smulacro er também

érence et répétition, p 9 et se

49 bidem, p 2930 PATÃO. O sost, 267a AUDOUARD. Les Chiers pour lnlse, 3, p. 57

2 DETIÉNNE. Les mtr de vérité dns l Grce rchue, p. 09 n 83 PUTARCO e glori theniensum, 34 ARISTÓTEES Poétic, 25 460b 7.

SIMONIDE fr 90 B Poete lrici greci, t. III Ver YATES rt de l mémoire, chap I e II Instrumento da relgão budsta (N. do T.)

8 Ver ORD The singer ofTles9 SCHUH Plton et lrt de son temps, p 90 PATÃO O sost, 234b61 bidem, 263 e264b.2 PATÃO Gorgis, 47 e-472a bidem, 472c. QUINTIIANO Proemum. nstitution ortoire, VIII 8-22. bidem, 5 3466 bidem, XII 0 5 bidem, VII 5 , 348 bidem, IX 6.9 Ver supr o texto "Uma canonação metonímca p. 25

69

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 165/171

-

70 ARISTÓTELES. Retórica, II, 19, 1393 a 20.7 Rhetoricaaherennium, III, 1626. E sobre as teoriasdmemória cial

na antigüidade, er YATES. de mémoire, cap I, p 1338n CCERO De lteu, II, 86, 54. A tradição antiga atribuía em geral

a inenço da memória articial ao poeta Simonide de Céos VerQUINTILIANO Institution oratoire,X, 2, 17-22.

73 Ibidem, II, 87, 358.

4 Ibidem, II, 88, 359.5 Aliás, Sato Agostinho chamará de vox o signicate, por oposiço

ao siatus.6 BARTHES. Communications, n. 6, p. 197.7 PLATO A República, III, 393b8 PLATO. Ion, 536a.79 QUINTILINO. Institution oratoire, XI, 10, 4880 Ver GUILLEMIN. 'imitation dans les littératures antiques; Le public

et la vie lttéraire àRome81 HOÁCIO. At poétiue, p. 131-134 Ver DOCK Études su le doit

duteur.82 HÉLOSE, ABÉLARD Lettres, p. 6, 82.83 MONTAIGNE. sais, II, 17, 68a Rien de plus susant que le mauais

pote. Martial, XII, LXIII, 13.8 MALEBRANCHE. Recheche de la véité, t II , p. 68

8 FOUCAULT. wrdre du discours, p 29.8 Ibidem, p 308 RUSSEL. Mind88 PROUST. Pastiches et mélanges, p. 29.89 Michel Butor aprendeu isso às próprias custas na sua defesa de tese o

ri censrou-o pela falta de notas e de referências "Suprimindo-os'respondeu ele, "forço o leitor a reler os textos de apoi Mas sua defesa

no surti efeito: sua perigraa fracassou, ele foi desqualicado VerPIATIER Le Monde, p 18, 15 fé 1973

9 �GEL. La phénoménoloie de lsprit, p. 5.91 LTAIR Verte uto Donnai phishue, p. 498,tXII.2 DESCARTES. Oeuvres philosophiues, p 769, t. III

1 70

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 166/171

9 Idem

Idem

95 A atribuição é importante se o autor, exemplarmente no prefácio, éo referente da perigraa, e se o autor, encarregado do controle daescrita, não é outro senão o cogito A invenção catesiana do prefáciotem aqui u valor de conrmação

ESCARTES Oeuvres philosophiues p 777 t II Ibidem p 769 VOLTAIRE Verbete "Autores, Ditionnaire philosophiue p 498,

t XVII Além do mais, isso não é seguro, e o fato de o autor retomar ou

compreender a variedade dos sujeitos da enunciação disseminadosno livro, essa conversão é o que talvez se deva chamar propriamentede sublimação

00 FRE Nouvelles onfrenes sur la psyhanalyse p 70 HEGEL Propdeutiue philosophiue p 460 COILLAC ictionnaire des snones, p 465, t III0 SÉNQE Lettres à Luilius I , 0 Ver supra no texto "Vox, a possessão, p 570 SÉNQE Lettres à Luilius I , , 7 Não peça extratos nem

citações, é vergonhoso extrair seu saber de "comentário'0 Ibidem I , 07 Ibidem I , 8 Saber é fazer sua cada coisa sem depender e u

odelo nem se oltar constantemente para u mestre0 MONTAIGNE Essais III, 1, 104c E a edição de 1588 precisava

"Como aqueles que roubam cavaos, eu lhe tinjo a crina e a cauda e,às vezes, faço-os caolhos'

0 MALEBRANCHE Reherhe de a vrit p 0, t I

0 Paa Locke, a propriedade intelectual depende da moral natural; paraKant, nem da razão pura nem da razão prática, mas da facudadede julgar, que assegura a ligação entre elas, articula uma à outra epermite a liberdade

HEGEL Prinipes de la philosophie du droit p 1 Ibidem p 1l3 HEGEL Prinipes de la philosophie du droit p

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 167/171

14 Idem.1 5 PROUST. Correspondance, p 3 t I116 MONTAGNE. Essa, I 2 783b.1I7 SÉNQUE Lettres à Lucilius; 33 9. 18 MONTAGNE. Essais, , 6 10c9 SÉNQUE Lettres à Lucilius IV 33 10120 Ibidem, IV 33 4.21 Ibidem, IV 33 7.1 SÉNQUE Oeuvres de Sénque le philosohe, p. 170 t I

23 MALLARMÉ La musique et les lettres, p. 63714 BORGES; CASARES. Hommage à César Paladion p 18.1 Ibidem, p 19.126ATHÉNÉE. Deipnosophistai, X, 457. Citado por CURTUS La litté-

rature européenne et le Moyen Age latin, p. 712 PAULHAN. Les Hain-Tenys, poésie de dispute128 GOMBROWCZ. Trans-Atlantique, p. 6929 Ibidem, p. 70.13 Ibidem, p 7.131 BORGES Fictions, p 10032 Ibidem, p 9 .

133 Ibidem, p. 101.134 BOULEZ Penser la musique ujourd' hui, p 35

3 MALLARMÉ. Quant au livre p. 38036 Idem13 MALLAMÉ. Un coups de dé, p 477.

1 72

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 168/171

REFERÊNCIAS

ARAGOL La mie à or

Pars Galmard 1973.ARSTÓTS. Poéia s..t].ARSTÓTS. Reória e . Trad. M Dort e A. artelle. Parses Beles ettres 1960-1973. 3 V.ATHÉÉ. Deipnoophiai X 47 apd CURTUS . La liéraureeuropéenne e le Moyen Age lain Pars PUF 196. (Trad. r.).AUDOUARD Xaver. e smlacre. Le Cahier pour Analye Pars

3 p. 7 1966.BARTHS R aee torqe. Communiaions Pars . 6p. 197 1970.BARTHS R. Roland arhe Pars Édtos d Sel 197.BARTHS R. S/Z. Pars Édtos d Sel 1970BORGS L L' aueur e aure exe Pars Gamard 196. (Tradr.).BORGS L a bblotqe de Babel. _o Fiion ParsGalmard 1974.BORGS L; CASARS A. B. Chronique de Buo Domeq ParsDeo 1970. Trad r.). p. 1819 Hommage à Csar Palado.BORGS L; VASQUZ M . ai ur le anienne liérauregermanque Pars o Gral dÉdtos 970 Trad )

BOUZ P. Pener la muique aujourd'hui Pars Goter 1963.

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 169/171

CAHIER CÉLINE O. P. Dphn e H Godd) Ps, Gmd, n p 52-54, 17.CÉLINE Cahers Célne Ps, Gmd, n. 2 p. 188 177.

CÉLNE Pte Vyae au u d la nu Qun spluCandde, n. 470, p 3, 1 ms 133 10 nosCCERO Lraeur [snt.].CONDILLAC Dctonne des synonymes n: _o Oeuvresphlsphues Ps: PUF, 151 . t III. p. 480.DELEUZE, G Nezsche e la phlsphíe Ps: PUF, 170.DELEUZE, G Líue du sens Ps: Ed de Mnt, 1.DELEUZE, G. Dérence e répéíín Ps: PUF, 18.DECARE Oeures phílsphíues Ps: Gne, 173. t. IIIDEIÉNNE, M. Les mares de éré dans la Grce archaue Ps:Mspeo, 17, n 18, p. 10.DOCK. MC. Éudes sur le dr dueur Ps: Lbe Généee Dot et de Jspdence, 13

FONANIER, Lesfgures du dscurs Ps: Fmmon, 18.FOUCAUL, Mche. Lrdre du dscurs. Ps Gmd, 171.FREUD, Nuvelles cnférences sur la psychanalyse. Ps: Gmd,171. (d f) .GOMBROWICZ, W Trans-Alanue Ps: Denoé, 17. (d f)GUILLEMIN, A-M Lmíaín dans les lérures aníues Ps:Chmpon, 124

GUILLEMIN, A-M. Le pulíc e la víe líérare à Rme Ps: LesBees Lettes, 131.HEGE aphenmenl de lspr d. J. Hppote Ps: AbeMontgne, 13.EGEL. Príncpes dephlsphe du dr Ps: Vn, 175. (d. f)HEGEL. Prpédeuue phílsphue Ps: Édtons de Mnt,13 (d. f.)

HELOE, ABELARD Leres Ps: Unon Génée d'Édtons,4. (d. f.).HORÁIO. Ar péue [s.n.t.JACOBON, R . Essas de língusue générale. Ps: Édtons d e,170 (d. f.). (Co. Ponts).

74

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 170/171

JOYC James. Ulysses Londres: e Bodley Head 1949.JOYC James. lysse Paris: Gallimard 1948. (rad. fr..

KROBR Ishi, le testament du dernier indien sauvage Pari: Plon1968. (rad. fr..L BLLIN S LRS. Lyon v 4 . 10- 1 1 25 jan. 1933.LIRIS M. Bures Paris: Gallimard 1948.LORD A. B. The singer of Tales Cambrige-Mass: Harvard niversitPress 1960.MALBRANCH. Recherche de la vérité Paris: Vrin ( 1962 t. I 1963t. I; 1964 t. III.MALLARMÉ S. Oeuvres completes Paris: La Pléiade 1945. 381:Quant a livre .637: La musique et es lettres . 477: n cou de dés.MASSIGNN L. Pale donnée Paris: ion Générae dÉdions 1970MONAIGN. Oeuvres completes Paris: La Pléiade 1962. ssais III III.

MORAWSKI S. Sign, language culture, janua linguarum. Series major La Haye-Paris: Mouton 1971. . 690705: he basic nctions ofquotation.OVRS D SÉNQ L PHLOSOPH. rad. de Lagrange.ours: Letourmi le Jeune an 3 de la Réublique Franaise. . I.PALHAN J. Les eurs de Tarbes Paris: Gallimard 1941 .PALHAN J Les Hain-Tenys: oésie de disute Paris: Gallimard1939PAIR J Michel Butor devant ss juges. Le Monde . 18 15 fév1973PLAÃO Gorgias [s.n.t].PLAÃO. on [s.n.t.].PLAÃO. A República s.n.t.].

PLAÃO O sofista [s.n.t..PLARCO. De gloria atheniensum 3. [s.n.t.].PROS M. Correspondance Paris: Plon 1976. t IIPROS M. A la recherche du temps perdu Paris: La Pléiade 1954. t. III.PROS M. Pastiches et mélanges Paris: La Pléiade 1971.QINILIANO. nstitutionis oratoriae ibri X Leizig: eubner

18891891. v. 2.

5

7/11/2019 COMPAGNON Antoine- O trabalho da citação

http://slidepdf.com/reader/full/compagnon-antoine-o-trabalho-da-citacao-55a74ef98df49 171/171

QUINTIIANO Instttons ortorae lbr XI Trad Badet ParisirinDdot 1842QUINTIIANO Instttons oratorae lbr XII Trad J Cosin Paris:es Belles ettres 1975 lv I 197 lv IIIII 7 liv IVRUE B On denoting Mnd ondres n 14 p 479493 1905CHUH P-M laton et art de son temps Paris: PU 1952ÉNQUE Lettres à Lls, IV snt]ÉNQUE Oevres de Sénqe le phlosophe. Trad fr de agrangeTors: etori le Jene na 3 de la Repbliqe française t I

IMONIDE fr 19 B oetae lyr re. T Bergk eipzig: n]1882. t IIITYNIANO J Théore de la lttértre textes des ormaltés rssesParis: Éditons d eil 195 p. 120-137 De lévoltion littéraireVAÉRY P Cahers Paris: a Pléiade 1973 t IVTAIRE Oevres ompletes Paris Garnier 1879- XVIIDtonnare phlosophqe Verbete "atores p 498

WINNICOTT D W J t lté P i G lli d 1975 (T d f )