Upload
trinhnguyet
View
217
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
CONTRIBUiÇÃO AO ESTUDO DA BIOLOGIA DO ARUANÃ, OSTEOGLOSSUMBICIRRHOSUM VANDELLI1829, DO LAGO JANAUACA - ESTADO DO
AMAZONAS - BRASIL. III-REPRODUÇAO E RELAÇOES BIOMETRICAS.(OSTEICHTHYES - OSTEOCLOSSIFORMES) *
LUIS PESSOA ARAGÃO *
PALAVRAS-CHAVE: Peixe, Aruanã, Rio Amazonas, ovogênese, época de desova, (ndice go.nadossomático, fecundidade e relações biomé.tricas.
RESUMO
Este trabalho refere-se à reprodução do Aruanã,Osteoglossum bicirrhosum Vandelli 1829, objetivandoa classificação dos estágios de maturação sexual, con-forme suas características morfológicas macroscópicas;tamb~m calcula-se o índice gonadossomático, e estuda-se a distribuição dos estágios de maturação e diâmetrodos óvulos, durante o ciclo reprodutivo relacionandocom os fatores ambientais, tais como: precipitaçãopluviométrica e nível d? água no Lago Janauacá.
INTRODUÇÃO
Os ovários do aruanã são estruturas pares,sendo a gônada direta atrofiada; a gônada es-querda desenvolve-se, estando localizada póste-ro-superior ao intestino e inferior à bexiga nata-tória, de forma aproximadamente triangular,quando virgem, passando a globulosa à medidaque os ovóCitos desenvolvem-se e evoluem.Nesta fase, os ovários variam de forma, compri-mento, consistência, cor e vascularização super-ficial, de acordo com o grau de máturação,apresentando características peculiares a cadaestádio, permitindo a identificação macroscópi-ca dos fenômenos da vitelogênese. O órgão estáconectado, dorsalmente, pelos mesentérios quepartem da bexiga nat-at6rTa e, anteriormente,por tecido muscular do estômago. É revestidopor uma fina membrana serosa que lança umnúmero variado de saptos à luz do órgão, origi-nando as lamelas ovígeras onde se situam as cé-lulas germinativas. O ovário do aruanã possuiuma característica peculiar: não apresenta ovi-
* Parte da dissertação apresentada ao Instituto duto: de modo que os ovócitos maduro~- fluemNacional de Pesquisa da Amazônia, para a obten- da gonada por uma fenda lateral na reglao pós-ção do grau de Mestre em Biologia de Água Doce tero-inferior do órgão para a cavidade geral ee Pesca Interior. desta para o exterior, graças a uma "calha" ex is-
* * Professor Adjunto, lotado no Departamento de tente na base do primeiro pterl9ióforo da nada-Engenharia de Pesca do Centro de Ciências Agrá-" - " .. d U . "d d F d I d C á e B I . t delra- anal. Este fato é verificado também emrias a nlverSI a e e era o ear o SIS a
do CNPq - Projeto Piscicultura (PDCT/Ce-13) Osteoglossum ferreirai (KANAZAWA6).
Ciên. Agron.. Fortaleza. 20(1/2): pág. 59-72jwthofdezembro/l989
SUMMARY:STUDY OF ARUANÃ BIOLOGY FROM
THE JANAUACÁ LAKE, STATE OF AMA-ZONAS, BRAZIL. III - REPRODUCTIONAND BIOMETRIC RELATIONS
In this paper the author studied some re-productí~ns aspects of the aruanã fish Osteo-glossum bicirrhosum Vandeíií 1S2g, as well asthe classification of the sexual maturation sta-ges based on their microscopic and morfologi-cal characteristics. Also the gonadossomatícindex is calculated and studied the distribution-of the maturation stages and the diameter of theeggs during the reproductive cicie, correlationa-ted with the ambiental factors such as pluvio-metric precipitation and water levei in the Ja-naucá lake.
59
MATERIAL E M~TODOS fizeram SCHMIDT14, PETRERE Jr.15 eMENDES10. Acredita-se outrossim, na validezda extrapolação dos dados meteoro lógicos daestação do Instituto Nacional de Pesquisas daAmazônia (INPA) sediada em Manaus, hajavista serem regiões próximas e apresentarem asmesmas características geográficas.
Para os cálculos das relações altura (y) /comprimento standard (x) e peso (y)/compri-mento standard (x), os dados foram agrupadosem 18 classes de comprimento de 30mm, consi-derando-se os sexos em separado.
As equações matemáticas das relações en-tre as variáveis consideradas foram ajustadas aosdados pelos métodos dos mínimos quadrados,sendo efetuadas as transformações logarítmicas,quando necessárias. As equações ajustadas dotipo y = a + bx e y = axb, escolhidas por ins-peção gráfica dos pontos observados, para a re-lação altura/comprimento standart e peso/com-primento standart, respectivamente. Foi aplica-do o teste "t" de Student para verificar se haviaou não diferença estatisticamente significanteentre os coeficientes angulares (b) e entre os li-neares (a) das equações consideradas: a fim dese observar a existência ou não de dimorfismosexual da espécie. Calculou-se, também os res-pectivos coeficientes de correlação de Pearson(r), desvios padrões e intervalos de confiança.
OVOGÊNESE E ESTÁDIOS DE MATURA-ÇÃOSEXUAL
Segundo Cristiansen et a12, uma das formasmais precisas para se determinar os estádios dematuração e o comportamento dos ovários dospeixes é através da distribuição das freqüé"nciasdos diâmetros dos ovócitos ou das camadas deovócitos em maturação. Desta maneira, identifi-cou-se as transformações processadas no órgãodurante o ciclo reprodutivo.
Estádio I (virgem) - ovário pequeno deforma aproximadamente triangular, com as se-guintes caracteristicas (médias): Comprimento:31mm; peso: 0,95g; altura: 14mm; diâmetromédio dos ovócitos: 0,88mm. Dependendo dafase de desenvolvimento, os ovócitos podem ounão ser visto a olho nú. O ovário está localizadoem depressão na parte superior e terminal dointestino; translúcido ou branco-pálido; túrgido~exibindo ou não vasos sangüíneos superficiais;lamelas ovígeras evidentes, apresentando ovóci-tos em distintas fases de desenvolvimento decor branco-pálido; fenda gonadal pouco nítidana região posterior da gônada; grande quantida-de de tecido adiposo na região anterior doórgão (Fig. 1).
Os dados em que se fundamenta este traba-lho foram obtidos de 464 indivíduos do Arua-nã, Osteoglossum bicirrhosum.
As coletas foram feitas quinzenalmente,utilizando-se dois tipos de aparelho de pesca: re-de de espera (malhadeira) e rede-de-cerco (rei-dinha). As pescarias foram realizadas, principal-mente, em regiô'es de igopôs, durante o dia enas primeiras horas da noite, a uma profundida-de média 1,50 m, no período de setembro de1978 a novembro de 1979, na Lago Janauacá,Estado do Amazonas.
Em laboratório, os peixes foram medidos,pesados e eviscerados; o comprimento standartfoi tomado com um ictiômetro com aproxima-ção de 0,1 mm., estando o peixe estendido sobreo lado direito com boca cerrada. O peso foideterminado com balança de precissão de 1 g.Para o estudo da reprodução, as gônadas forampesadas, classificadas macroscopicamente emseis estágios de maturação sexual de acordocom a escala proposta por NIKOLSKY 13 ligei-ramente modificada. Para a classificação consi-derou-se a forma, tamanho, coloração, consis-tência, vascularização superficial e diâmetrodos ovócitos.
Para a estimativa da fecundidade foramanalisados os ovários de 31 fêmeas, nos estágiosI V e V, quando os ovócitos encontram-se empleno processo de vitelogênese.
Colocou-se, entao, os ovários com as mem-branas seccionadas em fluído de Gilson du-rante um período de aproximadamente 25 ho-ras, fazendo-se leves agitações, tempo suficientepara que todos os ovócitos se despreendessemdas lamelas ovígeras, permitindo a completaseparação do estroma ovariano.
Os ovócitos livres foram lavados váriasvezes, em álcool a 70%, até completa elimina-ção dos resíduos teciduais. Em seguida, conta-dos e medidos 100 ovócitos com auxílio deocular micrométrica e estereomicroscópio comaumento 10x. Obteve-se os diâmetros médiosmensais dos ovócitos e relacionou-se sua varia-ção com os estádios de maturação sexual, preci-pitação pluviométrica, nível da água do lago ecalculou-se o índice gonadossomático médiomensal.
Em virtude do nível do rio Negro, na suafoz, estar na dependência do nível dos rios Soli-mões/Amazonas (uma vez que o fluxo d'águadeste é maior que o daquele), considerou-se vá-lida a extrapolação das leituras do nível d'águano porto de Manaus ao Lago Janauacá, como
60 CiêlL Agron., Fortaleza, 20(1/2): pág. 59-72junho{dezembro/l989
Estádio II.b - (em recuperação) - ovários
que já passaram pelo processo de ovulação, comparedes pardacentas amareladas exibindo proje-ções dos ovócitos; vascularização nítida; ovóci-tos bem desenvolvidos, de cor amarelo-claro;início de processo de vitelogênese, fenda gona-dai posterior, bem evidente; tecido adiposo pre-sente na região anterior (F ig. 2. b).
Estádio I - Ovário virgem, pequeno, apro-ximadamente triangular.
Figura 1
Figura 2b.: Estádio II - Ovdrio em recuperação.Estádio 11. a - (virgem em maturação) -
ovário aproximadamente triangular, com as se-guintes características (médias): Comprimento:36mm; peso: 3,20g; altura: 17mm; diâmetromédio dos óvulos; 1 ,25mm; ovário branco-páli-do ou ligeiramente amarelado; paredes do ová-rio rugosa, pouca vascularização; ovócitos emdiferentes fases, com tamanhos distintos, pre-dominando os maiores, de cor branco-pálido;diminuição na quantidade de tecido adiposo naparte anterior da gõnada, que caracteriza oinício da migração desta para o lado direito
(Fig.2a).
Estádio III (em maturação) - ovário globu-loso, apresentando um rápido desenvolvimento,com as seguintes características (médias):comprimento: 70mm; peso 23,16g; altura:32,50mm; diâmetro médio dos ovócitos:4,31mm; ocupa um maior espaço na cavidadedo corpo. Parede ovariana semi-transparente nasporções que estão em contato direto com osovócitos, e esbranquiçada entre eles, proje-ções dos ovócitos na superfície; sistema vas-cular evidente, partindo da região anterior eventral para a posterior e dorsal; ovócitos me-nores de cor branca-pálido e maiores amarela-avermelhada, alojados em uma delicada teca detecido conjuntivo, na qual se encontram células
Figura 2a.: Estádio II - ovário em maturação.
Figura 3: Estádio III - Ovário em maturação, (In(.cio do processo de vitelogênese).
61CielL A2ron.. Fortaleza. 20(1/2): Oá2. 59-72 iW1ho/dezembro/!989
ovulação; ovócitos em contato direto com a pa-rede abdominal; teca ovígera mais delgada e vas-cularizada, persistindo ovócitos menores; ovóci-tos atrésicos em processo mais avançado deabsorção. O intestj1o permanece transversal ecomprimido entre a gônada e a parede doabdômen. (Fig. 5).
germinativas; fenda gonadal, mais profunda,expondo alguns ovócitos; decréscimo na quanti-dade de tecido adiposo. Completa-se a migraçãoda gônada para o lado direito, ficando o intesti-no quase transversal ao órgão (fig. 3).
Estádio IV (em maturação) - ovário de
forma globulosa, continua a desenvolver-se,tornando-se mais compacto; muito túrgido,com as seguintes características (médias):comprimento: 97mm; - peso: 60,62 g; altura:46,00 mm; diâmetro médio dos ovócitos:8,73 mm; parede ovariana transparente, proje-ções dos ovócitos mais acentuadas na superfíciedo órgão; sistema vascular espesso com finasramificações por toda a superfície da gônada;coloração amarelo-gema; ovócitos menores,branco-pálido, amarelo-gema e amarelo-claroopaco, enrugados, teca com irrigação sangü íneabem evidente, caracterizando o processo deatresia; células germinativas da teca migrampara sua base, formando os ninhos de ovócitos;fenda gonadal expondo um número considerá-vel de ovócitos. Concluída a migração da gôna-da, o intestino fixa.se transversalmente àmesma, ficando comprimido entre o órgão e aparede do abdômen (Fig. 4).
FigUr8 5: EI~dlo V - ~rlo meturo.
Estádio VI (esvaziado) - após a ovulação,o ovário apresenta-se aproximadamente triangu-lar, com as seguintes caracter(sticas (médias):comprimento: 81mm; peso: 8,40g; altura33mm; diâmetro médio dos ovócitos: 2,81mm;totalmente flácido, sem estruturas rígidas; con-traído; vasos sangü(neos dando aparência he-morrágiêa à gônada; parede ovariana grossa, par-dacenta, com cicatrizes dos óvulos expelidos;manchas amareladas devido aos ovócitos atrési-cos e residuais que se encontram em diferentesfases de absorção; teca ovígera esgotada, trans-lúcida, circundada na sua base por diversosninhos de ovogÔnias e ovócitos (Fig. 6).
Figura 4: Estádio IV - Ovário em maturaçlo, (óvu-los em pleno processo de vitelogênese).
Estádio V (maduro) - ovário de forma glo-bulosa, alcançando seu desenvolvimento máxi-mo, com as seguintes características (médías):comprimento: 144 mm; peso: 120 g; altura62,00 mm; e diâmetro médio dos ovócitos;11,69 mm; ocupam quase toda área da cavidadedo corpo; paredes ovarianas completamentetransparentes, com irrigação sangüínea intenovócitos maduros amarelo-gema, pronto paré
~
62
sa; Figura 6: Estádio VI - pós-desova, mostrando as te-I a cas ov(geras vazias e os ninhos de ovogô-
nias e ovocitos.
Cién. Agron.. Fonaleza, 20(1/2): pág. S9-72j\mho{dezembro/1989
4.3.2. - ~poca de desova Por outro lado, o desenvolvimento sexualapresenta um componente temporal, significan-do que a maturação, e conseqüente reprodução,processa-se em determinada época do ano, emfunção da variação das condições ambientais.Em ambientes' anteriores, como é o caso doLago Janauacá, a ocorr@ncia da desova está rela-cionada principalmente com a inundação daárea circundante, que, por sua vez, é determina-da pela subida da água do rio e aumento dasprecipitações pluviométricas.
As variações morfológicas das gônadas, queevidenciam suas alterações fisiológicas, come-çam antes das primeiras precipitações pluviomé-tricas de novembro e, após estas, ocorre um sú-bito desenvolvimento dos ovÓcitos, alcançandoseu diâmetro máximo, no mês de março (Fig.9). A desova inicia-se após as primeiras chuvasde dezembro, antes mesmo do "repiquete",quando o lago ainda se encontra seco, entre ascotas 20,36 e 20,75 metros, e pequenos cardu-mes começam a "rebojar" (nadam na superfícied'água) em águas pouco profundas, sem turbu-
o processo de maturação sexual se eviden-cia através do desenvolvimento das gbnadasmasculinas e femininas, sendo que as modifica-ções verificadas nos ovários, quantitativamentemensuráveis através do índice gonadossomáticoIGS e do diâmetro dos ovócitos, indicam maisdiretamente esta evolução, conforme se podeverificar pelo aumento no diâmetro médio dosovócitos e do IGS em função dos estádios gona-dais, atingindo seu maior valor no estádio V, oude desova (Tabela 1; Figs. 7 e 8).
Através da relação entre o diâmetro médiodos ovócitos e do índice gonadossomático coma média de precipitação pluviométrica e com onível médio do Rio Negro (Tab. 2; Figo 9),constatamos nítidicamente a influência destesfatores sobre a evolução gonadal, fato já obser-vado por diversos autores (IHERING5); AZE-VEDO & GOMES'; SHUBART" ; GODOY4;LOWE-McCONNEL8).
TABELA 1
Variação do Indice Gonadossomático e Diâmetro dos Ovócitos (x), seu Desvio Padrão (sx) e Intervalo de Con-fiança, em Função dos Estádios Gonadais do Aruanã, OstM)glossum bicirrhosum, no Lago Janauacá, Estado do
Amazonas, Brasil.
0,160,451,566,028,40
1827301714
0,881,254,618,73
11,69
-11,0070,180,150,440,31
IIIIIIVV
Figura 7
I II 111 IV V
ESTÁ&IOS
Variação dos diâmetros dos ov6citos doaruanã osteoglossum bicirrhosum em fun-ção dos estádios de desenvolvimentosexual.
Ciên. Agron., Fortaleza, 20(1/2): pág. 59-72 junho{dezembro/I989 R~
lência, guarneci das por plantas aquáticas a umatemperatura relativamente alta (LULING9).Nesta época surgem os primeiros machos prote-gendo suas proles. Entretanto, a partir de abril,quando o lago está prestes a alcançar seu nívelmáximo, os ovários já se encontram em repouso(Tabela 2; Fig. 9), fato este que coincide com asobservações feitas por SCHWARTZ & LEVY12.
Comparando a morfologia do aparelho re-produtor feminino dos dois gêneros de Osteo-glossidae que ocorrem na bacia amazônica -Arapaima e Osteoglossum - constata-se umamarcante discrepância. Para o gênero Arapaimaos ovários são pares, unidos entre si na porçãodistal, apresentando um oviduto único que seprolonga até o orifício genital, concordandocom a anatomia geral do aparelho reprodutorda grande maioria dos peixes (LAGLER7). En-tretanto, para o gênero Osteoglossum, apesardos ovários serem pares, a gônada direita é atro-fiada, desenvolvendo-se apenas a esquerda;ocorre completa ausência do oviduto e parasuprir esta estrutura, aparece na região posteriorda gônada uma fenda por onde os ovócitos sãoliberados para a cavidade geral e daí para o ex-terior por intermédio do orifício genital femini-no.
Examinando os ovários e testículos doaruanã, Osteoglossum bicirrhosum, em diversasépocas do ano, nota-se grande variação no de-senvolvimento do órgão.
No decorrer do desenvolvimento gonadal, apartir do estádio I, constata-se dois tipos de
ovócitos, uns menores e outros maiores, compredominância dos primeiros, sendo o diâmetromédio sempre inferior a 2,81 mm. No estádio li,virgem, há um aumento do diâmetro dos ovóci-tos maiores que irá constituir o lote que será eli-minado na próxima estação de desova, inician-do-se a primeira maturação sexual; o diâmetromédio dos ovócitos maiores alcança 3,42mm. Ooutro lote, com diâmetros menores, permaneceestável para a seguinte desova, como salientaGOD I N H03, estudando o ciclo reprodutivo dePimelodus maculatus. A gc>nada com caracterís-ticas do estádio 111, possui os dois lotes de ovó-citos; entretanto, o último sobressai-se aindamais, por apresentar agora um diâmetro bemmaior, destacando-se a formação de uma moda.O mesmo processo foi observado por VAZZO-LER & ROSSI-WONGTSCHOWSKI16, quandoestudaram o tipo de desova, fecundidade e po-tencial reprodutivo da Sardinella brasiliensis.No estádio IV, em maturação, ocorrem ovócitosreferentes aos estádios anteriores, embora sejammais evidenciados os que estão em processoavançado de vitelogênese, apresentando diâme-tro médio de 8,73mm. O índice gonadossomáti-co atinge valor de 6,02 mm e o lote de ovócitosem crescimento está bem individualizado. Noestádio V, maduro, ocorre a individualizaçãofinal, com os ovócitos alcançando diâmetromáximo de 11,69 mm, permanecendo, contu-do, os ovócitos de estoque; o IGS apresentavalor de 8,40 Il)m. (Fig. 6).
Os resultados sugerem que a desova é dotipo total, determinada pela maturação isocrô-
TABElA 2Dados Mensais sobre os Fatores Ambientais e Diâmetro Médio dos Ov6citos e índice Gonadossomático Médio doAruanã, Osteoglossum bicirrhosum no Periodo de Setembro de 1978 a Novembro de 1979, no Lago Janauacá,
Estado do Amazonas, Brasil.
-23,1420,5420,3620,7522,6622,6223,0525,5427,3928,1127,6524,9521,0418,0018.13
-3,104,004,105,600,80 *
10,3012,40
0,850,900,800,852,102,803,104,90
-2,650,533,803,070,33 *
3,952,200,400,150,300,180,230,190,884,83
-167,085,170,6
155,4436,7202,3334,2378,2268,896,655,3
135,6122,1182,3200,5
SetembroOutubroNovembroDezembroJaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunhoJulhoAgostoSetembroOutubroNovembro
Fontes: - Boletim Meteorol6gico do I.N.P .A. e Capitania dos Portos de Manaus.
Obs: ( *) Amostragem pequena.
64 Ciên. Agron., Fortaleza. 20(1/2): pág. 59-72junhofdezembro/I989
Oi'_tro do. óvulo. IGS o---c
" / .5,.51-
oQ
'i&J~
o
I ~,~Q
oÕ
4,.5 '~
()ui::
'~3,.5 ~
O(I)(I)OO~~
2,.5 O0
L&IU
Õ1,.5 ~
9I9
7
\\\\\
\.5
/\.)(
\\3
'-0,5
420 30
-.e!-~uQ:;I-Lu~2:>:)..IQ.
o'oc~~Q:<3Lu~Q.
28
25
2..
22
70,~20
5 o N o J F M A
MESES
M J J A s o N
Figura 9: Correlação entre a época de desova, determinada pelo diâmetro dos óvulos e valor médio do IGS, efatores climáticos, para o aruanã, Osteoglossum bicirrho$$um, no lago Janaucá, Estado do Amazonas,Brasil.
Ciên. Agron., Fortaleza. 20( 1/2): pág. 59-72 junhofdezembro/1989 65
3~0
280
2/0
140
oIt:~101~
O~
OQ
-J101
,>~
Para estimar a fecundidade, utilizou-se 31exemplares com ovários em fase final de matu-ração sexual, correspondendo aos estádios IV eV; estimou-se a fecundidade absoluta conside-rando os ovócitos com diâmetro igualou supe-rior a 5,93mm, que seriam eliminados na épocade reprodução. A fecundidade média absolutados indivíduos, entre 435 e 635 mm de compri-mento standard, foi de 156 ovócitos.
Aos dados sobre fecundidade absoluta/comprimento standard e fecundidade absoluta/peso total foram ajustadas equações da reta.
Constatou-se que, entre as duas relaçõesanalisadas, a fecundidade absoluta/comprimen-to standard foi a que apresentou maior valorpara o coeficiente de correlação, sugerindo quea fecundidad apresenta uma variação mais liga-da ao comprimento standard do que ao peso doindivíduo(Tabs.4e5;Figs.11 e 12).
nica dos ovócitos das fêmeas grávidas, que deso-vam somente uma vez dentro de cada período.Entretanto, nem todos os indivíduos expelemos ovócitos simultâneamente, o que estabele(;eum período de desova mais amplo, de novem-bro a março. (Tabela 3, Fig. 10).
Analisando o diâmetro médio mensal dosovócitos e os valores mensais do IGS durante ociclo reprodutivo, verifica-se que o maior per-centual de fêmeas maduras e os valores mais ele-vados do IGS, ocorrem entre os meses de janei-ro a março, caindo bruscamente em abril.
GODINHO et al3 consideram que o conhe-cimento do diâmetro dos ovócitos maduros,bem como da fecundidade, é importante tantopara o desenvolvimento das práticas de reprodu-ção induzida por hormônios, como para os estu-dos de preservação e avaliação dos estoques na-
turais de peixes.
4.3.3. Fecundidade
A análise da distribuição percentual dosdiametros dos ovócitos nos diferentes estádiosde maturidade revela que a desova do aruanã é
do tipo total.
4.4. Relações biométricas
Na análise efetuada para constatarmos seexistia dimorfismo sexual com relação a algunsparâmetros biométricos, verificou-se não ocor-rer diferenças significativas entre os sexos.
Tabela 3
Distribuição das Freqüancias dos Diâmetros dos Ovócitos por Estádio de Maturidade. Gonadal do Aruanã,Osteoglossum bicirrhosum, no Lago Janauacá, Estado do Amazonas, Brasil.
66 Ciên. Agron.. Fortaleza, 20(1/2): pág. 59-72junho{dezembro/1989
DIAMETRO DDS OVÓCITDS (mm)
Figura 10: Distribuição da freqüência relativa dos diâmetros dos ovócitos por estádio de maturidade gonadal doaruanã, Osreoglossum bicirrhosum, no lago Janauacá, Estado do Amazonas, Brasil.
Assim, para altura e peso total, indiv íduos deum mesmo comprimento standard e de sexosdistintos não apresentam qualquer dimorfismo.Desse modo, foram ajustadas equações para
sexos grupados, representando as relações altu-ra/comprimento standard e peso/comprimento/standard, para a espécie como um todo (Tab. 6;Figs. (13 e 14).
67Ciên. Agron., Fortaleza, 20( 1/2): pág. 59-72 jw1holdezembro/I989
TABELA 4
Dados sobre os 31 Exemplares Utilizados na Estimativa da Fecundidade do Aruanã a bicirrhosum no LagoJanauacá, Estado do Amazonas, Brasil.
Número-
Compro stad(mm)
---Peso total
(g)
-Peso gônada
(g)
--Fecundidade
123456789
10111213141516171819202122232425262728293031
-434464489515516520520525525525536536536538540543543544546546554565574575578582588590597612644
600615955840
1.010725724551850990
1.0851.200
9001.0261.0701.200
9501.1341.196
9961.1751.0401.2001.2811.2521.2551.4611.3301.4501.5801.750
15,2052,2655,3563,5244,0052,7053,00
106.9044,66
130,6056,40
103,3048,1774,7914,9892,3083,73
120,20120,4948.1481,41
108,71103,1448,2856.5270,1155,25
123,0063,7015,92
111,90
-115100112170157155149140157162163131157146153107193189148181225154160163150210179163216168191
TABELA 5
Estimativas dos Parâmetros de Regressão Linear entreFecundidade e Peso Total (W) e Fecundidade eComprimento Standard (CS), para o Aruanã, Osteo-gloslum bicirrhosum, no Lago Janauacá, Estado do
Amazonas, Brasil.
-Estimativa
--
Regressões
nabr
n = número de pares YX
RR Ciên. Agron., Fortaleza, 20(1/2): pág. 59-72 junhO/dezembro/1989
~
fi)oI-u'0 250>o
~ 22501z~ 200
I&Ja<[a
az=> 150oI&JLI- ..-
100
-+11 I I I I I ~
I 600 900 1200 I~OO 1800
peso total (9)Figura 11: Relação fecundidade / peso total (g) do aruanã, Osteoglossum bicirrhosum no lago Janauaclt.
-(/)o!::u
'0 2~0>O
~C
01
Z~ 200
L&J
O4O
OZ
:) I~OO
IJJ
ti..
100
--+// I I 1 1 11
I 430 480 ~40 ~80 630 680
Comp (mm)Standard
Figura 12: Relação fecundidade I comprimento standard (mm) do aruanã, Osteoglossum bicirrhosum no lago Ja.nauacá, Estado do Amazonas, Brasil.
69Ciên. Agron., Fortaleza, 20(1/2): pág. S9-72jw1holdezembro/I989
TABELA 6
Dados das Regressões entre Altura/Comprimento Standard e Peso/Comprimento Standard para o Aruanã,Osteoglossum bicirrhosum, Capturados no Lago Janauacá, Estado do Amazonas, Brasil.
Altura/comprimento Standard
Peso/comprimentoStandard
0,9970,9800,992
1nw= -11,1 + 2,8691nLO,O091nw= -10,1+ 2,7131nLO,0211nw= -10,7+ 2,8071nLO,610
181818
MachoFêmeaTotal
n = número de pares x, y usados no cálculo das equações
Figura 13: Representação gráfica da relação altura (mm) I ) comprimento standard (mm) para o aruanã, Osteo.glossum bicirrhosum, no lago Janauacá, Estado do Amazonas, Brasil.
Ciên. Agron., Fortaleza, 20( 1/2): pág. 59-72 junholdezembro/l98970
Figura 14: Representação gráfica da relação peso (g) comprimento standard (mm) para o aruanã, Osteoglossumbicirrhossum, do lago Janauacá, Estado do Amazonas, Brasil.
71Ciên. Agron.. Fortaleza. 20(1/2): pág. S9-72junholdezembro/I989
REFER~NCIAS BIBLIOGRAFICAS 9. LULLING, K.H. - Das Laichverhalten der Vertre-ter der Familei. Osteoglossidae (Versuch einerUbersicht). Bonner zoal. Beitrege 1 (33): 228-243, 1969.
10.MENDES, G.S. - Estudo de elimenteção, reprodu-ção e especto de sistemátice de Schizodon fes-ciBtus Agassiz, 1829, Rhytiodus microlepisKner, 1859, e Rhytiodon ergenteo fuscus Kner,1859, do Lago Janauacá - AM., Brasil, (OSTEI-CHTHYES, CHARACOIDEI, ANOSTOMI-DAE), Tese de Mestrado, INPA, FUA, 1979,
91p.11.SHUBART, O. A Classificação dos estádios sexuais
da Curimatã. Boi. Min. Agric., Rio de Janeiro,36: 1-13, 1947.
12.SCHWARTZ, H.W. & LEVY, D. - Osteoglossum.The aruanã. Tropicel Fishs. Hob byst., 16(7):84-91, 1968.
13.NIKOLSKY, G.V. The ecology of fishes. London,Academic Press. 1963, 352. P.
14.SCHMIDT, G.W. Primary production of plyto-plankton in the three types of Amazonian Wa-ters, the limnology of a tropical flood plain lakein Central Amazonian (lago do Castanho). Ama-zoniana, 4(2): 139-203, 1973.
15. PETR E R E Jr. M. Pesce e esforços de pesce no Este-do do Amezones. Tese de Mestrado. Manaus,INPA/FUA, 1977, 167p.
16. VAZZOLER, A.E.A.M. & ROSSI WONGTSCHOW-SKI, C. Serdinelle bresilienses: Tipo de desova,fecundação e potencial reprodutivo. I - Areaentre 23° 40'S e 24°20'S - Brasil. Boi. InstoOceenogr., São Paulo, 25: 131-155,1976.
1.AZEVEDO, P. & GOMES, A. Contribuição ao es-tudo da biologia da tra(ra - Holpi81 m818b8ri-CUI Block (1794) Boi. Indo Amim., São Paulo,4(5):15-64,1943.
2.CHRISTIANSEN, H.E. et 81ii La reproducción en Iamerluza y su relación con otros aspectos bioló-gicos de Ia espécie. Boi. Insto Biol. Mar Dei P18-t8, Mar Dei Plata, (2):44-74,1971.
3.GODINHO, H.M. et 81ii Fecundidade e tipo de de-sova do Mandi, Pimelodus m8cuI8tus Lac.1803 (Pisces, Si luroidei) Rev. Br81. Biol., Riode Janeiro, 3(4): 737-744,1977.
4.GODOY, M.P. Locais de desovas de peixes numtrecho do rio Mogi-Guassu, Estado de São Pau-lo, Brasil. Rev. Br81. Biol., Rio de Janeiro,14(4): 375-396, 1954.
5.IHERING, R. von Piracema. A desova dos peixes.Folhas Piscicultura, Rio de Janeiro, (2): 17-19,1938.
6. KANAZAWA, R. H. The fishes of the genus Osteo-glossum with a description on a new speciesfrom the R io Negro. Ichthyologica, 37 (4): 161-172,1966.
7. LAGLE, K.F. et 8lii. Ichthylogy: The Itudy offilhas. London, John Wiley & Sons, 1977,545p.
8. Lowe-McCONNELL, R.H. Fish Communities inTropical Freshw8ter: Their diltribution, ecolo-gy 8nd evolution. London, Longman. 1975.337p.
72 Ciên. Agron., Fortaleza, 20( 1/2): pág. 59-72 junholdezembro/I989