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40 ANO VI julho 2010 [email protected] R$ 0,50 SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS Rua José Nicolau Abbage, 409 - Guaratuba Telefone: (41) 3442-2205 Mundo questiona custo social de projetos ambientais no Litoral do Paraná Guaratuba resiste a “ameaça” de parque Documentários na TV norte-americana apontam a contradição entre projetos de preservação da Mata Atlântica bancados pelos créditos de carbono para as grandes empresas e o empobrecimento das populações tradicionais. Págs 6 e 7 Correio do Litoral .com SPVS acusa Frontiline de ser mal- intencionada ServiçoS previdenciárioS defeSa de multaS contabilidade XeroX - encadernação Apoio Crianças de Matinhos ilustram obra de escritor belga. Pág. 5 Ferryboat fica proibido de exigir título de eleitor para dar isenção Pág. 5 Beto Richa e Osmar Dias mostram seus planos para o Litoral Pág. 12 Exclusivo Leia as duas visões na Pág. 9 É preciso matar passarinho? Um detalhe pode servir de atenuante na morte de dois guarás na APA de Gua- ratuba. Os espécimes que o biólogo Louri Klemann Júnior abateu eram jovens, que são escuros como as espécies que tinha “licença para matar”. A repercussão do caso preocupa pesquisadores que consideram o debate um risco ao estudo da Zoologia. Há biólogos que condenam este método de estudo, como o presidente do Conselho Regional de Biologia, Rogério Duílio Genari. Também há quem defende a coleta, mas cobra investigação dos dois erros fatais. O Conselho de Biologia poderá criar uma comissão para analisar futuras licenças de abate científico. Guará jovem (primeiro plano) tem as penas escuras, diferente do adulto (fundo) Foto: Wikipedia Páginas 11 e 12

Correio do Litoral Nº 40

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Jornal do Litoral Paranaense

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Page 1: Correio do Litoral Nº 40

Nº 40ANO VI julho 2010 [email protected] R$ 0,50

Pág. 5

ServiçoS AdminiStrAtivoS

Rua José Nicolau Abbage, 409 - Guaratuba

Telefone: (41) 3442-2205

mundo questiona custo social de projetos ambientais no Litoral do Paraná

Guaratuba resiste a “ameaça” de parque

Documentários na TV norte-americana apontam a contradição entre projetos de preservação da Mata Atlântica bancados pelos créditos de carbono para as grandes empresas e o empobrecimento das populações tradicionais. Págs 6 e 7

Correio do Litoral.com

SPvS acusa Frontiline de ser mal-intencionada

• ServiçoSprevidenciárioS• defeSademultaS• contabilidade• XeroX-encadernação

ApoioEscritório de apoio administrativo

Crianças de matinhos ilustram obra de escritor belga. Pág. 5

Ferryboat fica proibido de exigir título de eleitor para dar isenção Pág. 5

Beto richa e osmar dias mostram seus planos para o LitoralPág. 12

Exclusivo

Leia as duas visões na Pág. 9

É preciso matar passarinho?

Um detalhe pode servir de atenuante na morte de dois guarás na APA de Gua-ratuba. Os espécimes que o biólogo Louri Klemann Júnior abateu eram jovens, que são escuros como as espécies que tinha “licença para matar”. A repercussão do caso preocupa pesquisadores que consideram o debate

um risco ao estudo da Zoologia. Há biólogos que condenam este método de estudo, como o presidente do Conselho Regional de Biologia, Rogério Duílio Genari. Também há quem defende a coleta, mas cobra investigação dos dois erros fatais. O Conselho de Biologia poderá criar uma comissão para analisar futuras licenças de abate científico. Guará jovem (primeiro plano) tem as penas escuras, diferente do

adulto (fundo) Foto: Wikipedia

Páginas 11 e 12

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julho 20102 correiodolitoral.com

OpINIãO públIcA

Software livre na Assembleia

Correio do Litoral.comEditora Hostal Ltda. - Curitiba - Paraná CNPJ: 09.192.226/0001-06Editor: Gustavo Aquino (DRT-4586/19/26)Revisão: Carlos Alfredo GomesDiagramação: Gustavo AquinoRedação: Rua José Nicolau Abagge, 409 Centro - Guaratuba - CEP: 83.280-000Telefones: (41) 3442-2205 / 9156-2803 (Oi)

Impressão: Jornal de Londrina/Cia do Impresso (41) 3255-2089

e-mail: [email protected]

“Porque o Correio do Litoral deixou de ser ambientalista ?”, perguntou o assessor de uma ONG.

A pergunta que nós mesmo provocamos na conversa deu um susto e nos obrigou a refletir.

O que aconteceu com o jor-nal que defende a preservação da natureza como condição de sobrevivência da espécie humana e como filosofia para uma vida em harmonia com o ambiente e com as pessoas?

Por que logo agora que uma candidata a presidente de um partido ecológico alcança fácil 10% das intenções de voto e tem como vice um magnata da economia verde, nós vamos mudar de lado?

Depois do susto, fomos ver que o Correio não deixou de de defender uma economia ambientalmente e socialmente sustentável.

O que fizemos foi conversar com as pessoas que nos cer-cam, numa das regiões mais preservadas do planeta. Por que elas vivem em conflito com os ambientalistas?

Por que os bilhões da eco-nomia verde não chegam até estas pessoas? Por que um morador de um paraíso ecoturístico, sócio de uma biodiversidade que já começa a ter valor no mercado capita-lista está cada vez se sentindo mais pobre?

Foi correndo atrás destas perguntas que deixamos pelo caminho alguns conceitos simplificados de ambientalismo que não enxerga a diversidade.

Em busca de respostas, demos de frente com situações que geram mais dúvidas como é o caso da reportagem sobre as comunidades das APAs de Guaraqueçaba e de Guaratuba (páginas 6,7 e 9).

Ou então sobre a licença para matar passarinhos (pági-nas 10 e 11).

Mas também encontramos pistas da solução, como o tra-balho do belga Luc Vankrunkel-sven que estava aqui do lado mas nos encontrou pela Inter-net (página 5).

Esta edição contém algumas respostas para nossas indaga-ções e também outras tantas perguntas que continamos a nos fazer e que queremos compartilhar com os leitores.

A não informatização, ou má informatização de órgãos pú-blicos e privados pode ser por incompetência. Mas muitas ve-zes é por má fé. A informatização cria dentro das instituições profissionais intermediários com grande acesso a informações. Esquemas de corrupção precisam de profissionais qualificados de confiança para digitalizar, por exemplo o arquivinho das fi-chinhas de papelão do Bibinho, sem que exponha como ele é gerenciado.

Mas cópias digitais de grandes arquivos são rápidas para se-rem copiadas, aumentando o risco de vazar informações.

No casso de instituição pública, o Legislativo, todas estas questões de privacidade não têm sentido, porque informação de instituição pública, é pública, salvo raríssimas exceções, li-gadas a segurança, como por exemplo uma Comissão Parla-mentar de Inquérito (CPI) sobre narcotráfico.

Então no caso de Assembleia legislativa a não informatiza-ção ou má informatização só pode ser má fé.

É óbvia a necessidade de informatizar a Assembleia Legisla-tiva do Paraná, mas alguns cuidados na contratação de servi-ços devem ser considerados, da mesma maneira que os depu-tados deveriam fiscalizam o Poder Executivo, ou que o Tribunal de Contas do Estado incomoda os nossos 399 prefeitos.

Tem muita coisa pronta. A Câmara dos Deputados tem um sistema de acompanhamento de projetos. A Celepar tem siste-mas de administração pública que são usados por outros esta-dos, mas não são usados pela Assembleia. Um caso chama a atenção, o sistema de correio eletrônico da Câmara de Curitiba é o Expresso, desenvolvido pela Celepar, mas a Assembleia do Paraná não usa. O Expresso também é usado também pela Sanepar, Serpro, Caixa Econômica Federal, Itaipu, Dataprev, pelos governos de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Pará, Piauí, Amazonas, Rio Grande do Norte. É um caso de comparti-lhamento de software bem sucedido (software federativo).

Os programas de computadores estão sempre evoluindo com as instituições, então é necessário que tudo que seja feito tenha escalabilidade e relacionamento com o que já existe. Um deputado pode, num primeiro momento, querer informatizar a folha de pagamento da Assembleia, mas pode, mais tarde, que-rer acompanhar as contratações do Executivo, com o banco de dados da Secretaria de Administração. Ou mesmo acompanhar as contratações com carteira assinada, com o banco de dados do Ministério do Trabalho. Então pode ser mais barato pensar grande para informatizar. Para isso é necessário um Plano Dire-tor de Informática, que preveja relacionamentos e ampliações.

Os deputados não precisam saber programar, mas informá-tica tem que ser auditável. Tanto o software quanto o hardware não podem ser caixas pretas, pois todo esforço do poder públi-co não pode terminar na mão de um fornecedor de informática.

As contratações não podem ser vinculadas a fornecedores. Ao implementar um sistema, a empresa precisa fornecer os có-digos e a documentação do que fez, para que qualquer outro fornecedor possa dar continuidade ao trabalho. O que o poder público contrata é do poder público.

Os documentos gerados pela Assembleia são públicos, por isso precisam ser lidos independente de sistemas operacionais ou editor de texto. Ou seja, precisamos acabar com festival de documentos “.doc” e suas versões, que assolam o Paraná e o país.

Tudo isso pode ser sintetizado em linhas gerais por: Uso pre-ferencial de software livre.

Vamos fazer uma Assembleia Legal (começando por eli-minar os programas piratas).

Julian Carlo Fagotti é editor do blog Paraná Brasilhttp://paranabrasil.blogspot.com

Julian Carlo Fagotti

A prefeita de Guaratuba, Evani Justus, rompeu o diá-logo com os quiosqueiros e as famílias que exploravam o comércio na orla podem ficar sem condições de negociar com a Secretaria de Patrimônio da União (SPU).

A Associação dos Quiosqueiros e Verdadeiros Ambu-lantes de Guaratuba (Avag) vem tentando encontrar uma brecha para as famílias voltarem à atividade. Em 2009 a prefeitura as retirou do local e realizou uma licitação que acabou sendo vencida por pessoas e empresas que aceitaram pagar até mais do R$ 300 mil por cada ponto.

A Avag pede que a SPU autorize a criação de pon-tos alternativos, que segundo eles, não necessitaria de licitação, a exemplo do que ocorreu em Camboriú (SC). Para começar a analisar a proposta, a SPU exige que a proposta seja feita pela prefeitura.

A prefeita e o secretário municipal Carlos Carvalho (Obras, Viação e Serviços, Urbanismo, Turismo e Meio Ambiente) vinham dialogando com os quiosqueiros até que numa reunião os ânimos se exaltaram.

A publicação de uma reportagem sobre o encontro no jornal Gazeta de Guaratuba terminou de azedar o relacionamento. O jornal é dirigido pelo advogado dos quiosqueiros, Julio Araújo Neto.

NOTA OFICIALO rompimento do diálogo foi anunciado em nota no

site no site oficial do município. O texto explica indiretamente os motivos do rompi-

mento: “Infelizmente, alguns fatos posteriores à reunião deixaram claro que não há confiança da associação naquilo que me propus a fazer, então, deixei-os a vontade para tratar diretamente com a SPU para que não viessem, no futuro, me acusar de estar boicotando qualquer negociação”.

Na nota oficial, a prefeita também afirma que o “esforço da Municipalidade parece não ter sido suficiente para que os ânimos se acalmassem”. O texto ainda afirma que a associação já está “devidamente assessorada juridicamente” para buscar uma solução junto à SPU.

Quiosqueiros perdem apoio da prefeita de Guaratuba

Foto: Prefeitura de Guaratuba

NOSSA OpINIãO

Diversidade

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correiodolitoral.com julho 2010 3

Justiça entra na briga para obrigar ferryboat a isentar veículos de GuaratubaCONCESSIONÁRIA deve recorrer da decisão que proíbe exigência de título de eleitor para conceder isenção. Acompanhe o desenrolar do caso nas edições diárias do Correio do Litoral.com na internet

Cinco estudantes do curso de Administração do Isepe (Faculdade do Litoral Para-naense) desenvolveram um projeto para combater a polui-ção provocada por usuários do ferryboat. O trabalho foi desen-volvido dentro da disciplina de Ética e Responsabilidade Social das Empresas e contou com apoio da concessionária Travessia de Guaratuba.

Segundo o acadêmico Lean-dro Paraíba, o projeto consiste na conscientização dos usuá-rios sobre a biodiversidade na baía de Guaratuba e os efeitos da polução para a fauna e também para a atividade dos pescadores que tiram o sus-tento no local.

O projeto consiste na distri-buição de impressos com dicas de conscientização ambiental. Os estudantes também investi-gam a quantidade de animais que morrem por ingestão de resíduos sólidos e verificam o modo com que a empresa Tra-vessia de Guaratuba destina o lixo gerado nas embarcações.

Um dos desafios dos alunos é conseguir parceiros entre empresas órgãos públicos para colaborar financeiramente para a confecção dos impressos.

Os alunos já fizeram pes-quisas bibliográficas acerca da poluição da baia de Guaratuba e visitaram as embarcações para conferir se há lixeiras ade-quadas e se sua quantidade é suficiente para o número de usuários.

Um relatório das atividades deverá ser apresentado no retorno às aulas, no segundo semestre. Participam do tra-balho os acadêmicos Itamara dos Santos Sumariva,Leandro Paraíba, Marcos Borges, Ricardo Cruz da Silva e Wes-ley Xavier de Paula.

A Justiça determinou que a empresa Travessia de Guara-tuba, concessionária respon-sável pelo ferryboat, aceite apenas o emplacamento do veículo de Guaratuba como condição para liberar os mora-dores da cidade da tarifa pelo transporte (um trajeto de ida e um de volta por dia).

A empresa estava exi-gindo um recadastramento para garantir esse benefício, impondo inclusive condições como comprovação de domi-cílio eleitoral.

A decisão judicial, proferida na quinta-feira (15), atende ação civil pública ajuizada pelo promotor da comarca, Rui Riquelme de Macedo.

Macedo considera que as exigências feitas pela conces-sionária aos moradores feriam o contrato de concessão do serviço, bem como dispositi-vos do Código de Defesa do Consumidor.

SUSTENTAbIlIDADE SOcIAl

Apesar de ser lei e estar no contrato da concessão, concessionária dificulta a isenção

Foto: Jorge Woll/SECS

Responsabilidade Ambiental

“Ocorre que, consoan-tes inúmeras reclamações trazidas a esta Promotoria, bem como pelas próprias orientações expedidas, servindo assim, de supe-dâneo para a proposi-tura desta medida judicial, verificou-se que a CON-CESSIONÁRIA ora Ré, vem descumprindo regras definidas no contrato de concessão, bem como fazendo exigências além das que se encontram pre-vistas no referido convênio firmado para a execução da prestação do serviço de transporte, especialmente

Leia trecho da ação do ministério Público:

no que pertine aos pleitos de isenção prevista aos proprietários de veículos emplacados e domiciliados na cidade de Guaratuba.

O contrato firmado para a prestação do serviço, prevê claramente a concessão de isenção da tarifa a ser exercida para uma ida e para um retorno por dia, aos veículos emplacados e pertencentes a usuários proprietários domiciliados no Município de Guaratuba, consoante se verifica no item 28, inciso V do aludido convênio.”

A isenção da travessia da baía de Guaratuba pelo ferryboat para moradores do município foi criada por ini-ciativa do deputado estadual Antonio Anibelli (PMDB) em lei sancionada pelo governador Roberto Requião em dezem-bro de 2007.

A isenção exclusiva para veículos emplacados em Gua-ratuba se justifica pelo fato de que a travessia ocorre dentro do município.

Por mais de um ano, a concessionária F. Andreis conseguiu adiar sua aplicação na Justiça. A isenção só entrou em vigor no dia 8 de abril, quando iniciou a nova conces-são. A licitação do serviço cujo edital exigia a isenção, foi ven-cida pela mesma F. Andreis, que passou a adotar o nome

de Travessia de Guaratuba.No dia 29 de junho, o leitor

Julio, vigia, reclamava no Correio Cidadão que estava com dificuldades de comprovar residência em Guaratuba em virtude de ser caseiro de um edifício e não ter contas em seu nome. O Correio procurou a concessionária mas não obteve retorno.

UFPR pode ter isençãoProjeto de lei do deputado

estadual Péricles de Mello (PT) em tramitação na Assem-bleia isenta também os veícu-los da Universidade Federal do Paraná e de alunos da instituição que estiverem em atividades escolares. A UFPR Litoral é sediada em Matinhos mas desenvolve projetos edu-cacionais em Guaratuba.

isenção é lei desde 2007

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julho 20104 correiodolitoral.com

Hamilton Bonatto foi secre-tário de Obras Públicas de Guaratuba, vereador e presi-dente da Câmara Municipal de Matinhos, secretário municipal de Educação de Matinhos e agora é assessor jurídico da Secretaria de Estado de Obras Públicas.

Ele acaba de publicar o livro “Licitações e Contratos

ENTREVISTA

Um matinhense no Governo PessUtiZÉ MARIA fala de sua função no governo, diz que conversa com Dalmora e Xiquinho e conta os projetos seus e de Pessuti para Matinhos e para o Litoral

Conversamos com o ex-prefeito de Matinhos em seu gabinete no 6º andar do Palácio das Araucárias

A volta ao Governo

Voltei ao Governo do Esta-do e assumi o cargo de secre-tário Especial do Governador. Estou lotado no gabinete de Pessuti e minha principal tare-fa é assessorá-lo diretamente em assuntos políticos e ad-ministrativos. Despachamos diariamente e cumpro missões pontuais.

Pessutão

Estou satisfeito por ter no governador uma pessoa de ótimo trato e sempre bem humorada. Já trabalhei com muitos governadores e , sem dúvida, Pessuti é o que traba-lha mais horas todos os dias. Começa por volta de seis ho-ras da manhã e vai dormir por volta de duas horas da manhã.

Tarefas e funções

Estou envolvido com muitos planos de governo, na interio-rização e no esforço para cum-prir todas as metas de inaugu-rações de obras. Participo de um Conselho que se reúne todas as segundas feiras cha-mado Conselho Revisor.

Há ainda uma agenda po-lítica que envolve reuniões e audiências do governador..

No gabinete do governador faço parte de uma equipe que trabalha no Estado todo e em todas as áreas.

Litoral

Em relação ao nosso litoral continuo militando e buscando melhorias no saneamento, na urbanização e no turismo já que somos carentes nessas questões.

O litoral sofre muito com a baixa frequência de turistas fora do verão como todos sa-bem, há muito desemprego e até falta de lazer para os jo-vens e adultos.

Me orgulho de ter firmado como prefeito de Matinhos o convênio da Universidade do Litoral que hoje é uma potên-cia com cerca de três mil alu-nos movimentando a cidade fora da temporada.

Projetos e obras

Tenho conversado muito com o governador Pessuti e dona Regina, ambos são apai-xonados por Matinhos e espe-ramos que até o final do ano tenhamos o início das obras de recuperação da orla. Os recursos existem e estão libe-rados. Será um grande incen-tivo ao turismo e irá valorizar muito os imóveis.

Também estão previstas dragagens de canais em todo o litoral, obras na avenida do Contorno, melhorias do ferry-boat, melhorias no saneamen-to básico da Sanepar e a inau-guração da maravilhosa sede da Unilitoral em Matinhos, uma obra de cerca de R$ 10 milhões.

Continuo lutando pelo nos-so litoral onde tenho casa e estou todos os finais de sema-na. Faço isso há mais de 30 anos e não pretendo parar, in-dependentemente de partidos políticos, prefeitos e estando ou não em cargos no governo.

Xiquinho e Dalmora

Não tenho inimigos na polí-tica e converso civilizadamen-te com meus ex-adversários Xiquinho e Dalmora. Nunca deixo de externar minha opi-nião e dar sugestões ou fazer críticas construtivas. Hoje por exemplo, vejo que os balneá-

rios precisam de manutenção e já disse ao atual prefeito Dalmora que os mutirões se-riam muito bons para que os balneários voltassem a rece-ber os cuidados de roçadas, patrolamento e limpeza em geral. Não basta olhar só para o centro da cidade.

PMDB em Matinhos

O PMDB é o partido mais forte e organizado no Paraná e se não fomos bem nas elei-ções passadas em Matinhos por certo iremos apresentar candidatos muito competitivos e um bom programa de gover-no para as próximas eleições municipais .

Em Matinhos nunca um prefeito foi reeleito. Há uma tradição de renovação, mas disso vamos cuidar somente em 2011.

Agora estamos trabalhando nas eleições estaduais e na-cionais.

Estado de espírito

Digo sempre, litoral é um estado de espírito. E um com-promisso que temos com a preservação da natureza para as futuras gerações.

Boa parte da minha vida passei em Matinhos. Estou à disposição dos leitores e ami-gos no email [email protected]

de Obras e Serviços de Enge-nharia”, uma espécie de mapa do caminho das pedras para engenheiros e advogados interessados em administração pública.

Hamilton se formou em Engenharia Civil em 1984, pela Universidade Federal do Paraná, formando-se também na sequência em Licenciatura em Ciências, Licenciatura Plena em Matemática e por último em Direito.

Bonatto é instrutor da Escola de Governo e vem ministrando palestras sobre licitações e con-tratos em todo o estado. Tem agendado um curso sobre o tema para servidores estaduais, que será realizado de 26 a 30 de julho, em Maringá.

O livro pode ser adquirido pela internet através do ende-reço: www.editoraforum.com.br/loja/produtos_descricao.asp?lang=pt_BR&codigo_pro-duto=467

Livro ensina caminho das pedras nas licitações

Um estudante da 7ª série do Colégio Estadual Prefeito Jo-aquim da Silva Ma-fra, de Guaratuba, foi destaque na im-prensa local pelo seu desempenho nos es-tudos.

William Maga-lhães de Oliveira re-cebeu medalha de bronze na V Olimpía-da Brasileira de Ma-temática das Escolas Públicas (OBMEP).

Ele recebeu o prêmio em maio, no Canal da Música, em Curitiba, ao lado de professores. Seu de-sempenho foi notícia no “Jornal da Hora”, “Guará Notícias” e “Jornal de Guaratu-ba”.

OBMEP A Olimpíada de Matemáti-

ca foi instituída pelo governo federal em 2005 com prêmios para os alunos, professores e

escolas. Mas de acordo com os or-

ganizadores, o objetivo vai além de premiar os melhores. Através da OBMEP, os alunos têm contato com questões in-teressantes e desafiadoras da Matemática e são estimulados a trabalhar em grupo.

Willliam Magalhães de Oliveira

imprensa de Guaratuba destaca desempenho escolar

cONHEcIMENTO

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correiodolitoral.com julho 2010 5

O escritor belga Luc Vankrunkelsven desde 2003 divide o tempo entre a Euro-pa e o Brasil defendendo uma agricultura socialmente justa e ambientalmente sustentável. Para ele, a monocultura tem trazido péssimas consequên-cias além daquelas que a gen-te estudou na escola, que é o empobrecimento do solo.

Luc tem se batido princi-palmente contra a “invasão do soja” em regiões tradicio-nalmente rurais por causa da concentração das proprieda-des, diminuição da agricultura familiar, aumento do uso de agrotóxicos e da redução da produção diversificada de ali-mentos.

Depois de estudar Filoso-fia e Teologia na Abadia de Averbode (Bélgica) frei Luc tem colocado seus conheci-mentos em prática e à prova percorrendo diversas regiões do Brasil, com presença mais constante no Paraná, sobre-tudo na região Oeste onde o agronegócio é muito desen-volvido e a concentração da propriedade está consolidada.

Nos últimos anos, Luc tem voltado sua atenção para o Litoral do Paraná, onde sub-sistem comunidades tradicio-nais, a agricultura familiar e onde encontrou uma caixa de ressonância para suas idéias: a Universidade Federal do Pa-raná – Setor Litoral.

Há um mês Luc entrou em contado com o Correio do Li-toral.com e têm nos repassa-do valiosas informações sobre seu trabalho. Reconhecendo que não domina completa-mente a língua portuguesa, frei Luc tem despejado uma quantidade imensa de infor-mações. Seus e-mails trazem, por exemplo, um detalhado roteiro de sua viagem ao Bra-sil em 2010, partindo dia 6 de abril de Bruxelas, na Bélgica, as visitas a projetos sociais em São Paulo, a ida à Editora do Cefúria (Centro de Formação Urbano Rural Irmã Araújo), em Curitiba, a palestra na UFPR Litoral e o lançamento do seu livro junto com as crianças de Matinhos que produziram a capa.

Quem fala sobre a capa, as ilustrações e a diagrama-ção do livro é a professora Luciana Ferreira, em texto enviado por Luc Vankrunkel-sven ao Correio:

“É a segunda vez que a UFPR Litoral tem a oportuni-dade participar da produção da capa de um livro escrito por Luc Vankrunkelsven. A primeira capa foi produzida com a ajuda dos alunos da universidade, entretanto nes-ta segunda capa optamos por trabalhar especificamente com a comunidade da cidade de Matinhos, mas ainda, sob a orientação dos professores e alunos do curso de Artes da UFPR Litoral.

Todas as ilustrações foram realizadas por crianças de 7 a 10 anos da 3.ª e 4.ª séries

Escritor belga ajuda Litoral a se ver melhor

do Ensino Fundamental (Escola Municipal Francisco dos Santos Junior) e jovens e adultos do Ensino Funda-mental e Médio (EJA - Ensino de Jovens e Adultos - Escola Municipal Wallace Thadeu de Mello e Silva da Rede Muni-cipal e Estadual de Ensino de Matinhos).

Trabalhamos com as crianças, jovens e adultos da seguinte forma: explicamos o conteúdo do livro, fizemos um debate e logo em seguida os desenhos. A partir disto, fizemos uma pré-seleção, escaneamos os mesmos e os separamos por capítulos e desenhos da capa, a qual foi criada juntamente com os alunos do Curso de Licen-ciatura em Artes da UFPR Litoral.

LUC VANkRUNkELSVEN encontra inspiração e ressonância no Litoral para discutir agricultura e economia justas e sustentáveis

ConheCimento

Sim, a edição publicada em dois idiomas para um público muito especial em todo o mun-do tem a capa elaborada por estudantes de Matinhos.

Parceria Durante os contatos que

mantivemos com Luc, infor-mamos que o conteúdo de seu trabalho estava muito além do “jornalismo fast food” que te-mos de produzir no site diário de notícias, mas que nos de-bruçaríamos sobre ele para esta edição impressa.

A partir desta publicação, está estabelecida a ponte com um trabalho em prol da revo-lução prática, cotidiana e ao alcance de todos nós morado-res do Litoral do Paraná.

Ao ler o livro de Luc Vankrunkelsven qualquer mo-rador do Caovi, em Guaratuba, um pescador de Guaraqueça-ba, um morador do entorno

do Parque Saint-Hilaire/Lange em Matinhos e qualquer cida-dão do litoral vai poder se en-xergar como agente de uma possível transformação do mundo.

Conforme o escritor Jan Glorieux, Luc defende uma revolução econômica que co-exista com outras práticas. É preciso ler este livro.

O livro ‘Brasil- Europa em fragmentos?” foi lançado no dia 26 de março 2010 na Bélgica e no dia 15 de abril na UFPR Litoral, em Matinhos. Na Bélgica o livro é uma edição de Wervel (www.wervel.be), no Brasil do Cefuria (www.cefuria.org.br).

desenhos de alunos de matinhos

De 2003 a 2008, Luc Vankrunkelsven morou e trabalhou parte do ano no Brasil eparte na Europa. Durante estes anos de intercâmbio entre Wervel (www.wervel.be) eFetraf-Sul/Cut (www.fetrafsul.org.br), ele escreveu dois livros: “Navios que se cruzamna calada da noite. Soja sobre o oceano” e “Aurora no campo. Soja diferente”.A partir destes livros e alguns DVDs, ele realizou, nos anos de 2008 e 2009, duasturnês pelo Brasil: visitou várias universidades, colégios agrícolas, organizações deagricultores, grupos pastorais etc. Em diálogo com centenas de brasileiros e a partirdas impressões durante essas turnês, ele escreveu o presente livro: “Brasil-Europa emfragmentos?”.A produção da capa foi feita pela UFPR Litoral de Matinhos, Paraná. Todas asilustrações são realizadas por crianças de 7 a 10 anos da 3.ª e 4.ª séries do Ensino Fun-damental (Escola Municipal Francisco dos Santos Junior) e jovens e adultos do EnsinoFundamental e Médio, Matinhos.

“A teimosia de Luc Vankrunkelsven em escrever sobre as contradições de um modelo agrícola altamente prejudicial às diversas populações do mundo nos remete a uma reflexão sobre a urgência de construir alternativas viáveis do ponto de vista econômico, social e ambiental para garantia da segurança e soberania alimentar em âmbito local e global.”

Silvano Rezende, CPT-TocantinsColinas do Tocantins, Tocantins

“Não é possível ler ‘Brasil-Europa em fragmentos?’ sem se indignar com o processo de desenvolvimento hegemônico: individualista, excludente e anti-ético. Por outro lado, durante a leitura nos aproximamos de homens e mulheres que acreditam na vida e fa-zem emergir alternativas que transformam a indignação em ação, a ação em esperança. Vale a pena fazer essa turnê com Frei Luc Vankrunkelsven pelo Brasil.”

Jorge Augusto Schanuel, Rureco,Guarapuava, Paraná.

Brasil- Europa em fragmentos?

Edição Cefúria/Curitiba, 2010, 140 páginas, R$ 25,00.

Pode ser encontrado no Pico do Livro na rua Léa Vialle Cury, 223, no centro de MatinhosTel. (41) 3453-0765

Page 6: Correio do Litoral Nº 40

Em novembro de 2009, o mundo ficou chocado ao saber que investimentos de poderosas empresas como a General Motors, a American Electric Power e a Chevron Oil na preservação de florestas no Brasil estariam deslocando e empobrecendo populações nativas, no caso nós, do Litoral do Paraná.

O assunto não é novidade no Brasil e é tema constante das conversas no litoral desde pelos menos 2000, quando os projetos começaram.

Em maio de 2009 a rede de comunicação norte-americana PBS (Public Broadcasting Service) divulgou o segundo documentário sobre o custo social dos projetos ambientais em Guaraqueçaba que cau-sou alvoroço no mercado de créditos de carbono. No Brasil houve pouca divulgação da reportagem.

Para o mundo, a parceira brasileira das multinacionais, a SPVS (Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educa-ção Ambiental), pareceu a maior inimiga dos habitantes da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, uma APA federal de 313 mil hectares englobando o município de Guaraqueçaba e parte dos municípios de Antonina, Para-naguá e Campina Grande do Sul.

Pelos menos três depoi-mentos no documentário mos-tram perseguições promovi-das contra habitantes que não quiseram vender suas terras para os projetos de seqüestro

julho 20106 correiodolitoral.com

Comunidades do Litoral reclamam do preço DOcUMENTÁRIO

PROJETO da TNC e da SPVS colocam o Litoral na vanguarda do mercado de carbono e da nova economia verde.

Documentários de Mark Schapiro podem ser vistos em www.pbs.org/frontlineworld/stories/carbonwatch/moneytree ewww.pbs.org/frontlineworld/stories/carbonwatch/2010/05/the-carbon-hunters.html

Mark Schapiro começa o primeiro documentário dizendo que está “em um canto remoto da costa Atlântica do Brasil, onde dizem que o tempo é uma ficção. Esta floresta antiga é aparentemente intocada pela vida moderna - além do alcance dos homens, máquinas e mer-cados”.

Ele estava na APA de Gua-

de carbono. O trabalho do jornalista

Mark Schapiro foi feito para o canal Frontline / World e para o Centro de Jornalismo Investigativo, em associação com a revista Mother Jones.

O título do documentário resume a conclusão a que Schapiro chegou, “The Money Tree: The human cost of car-bon credit”, algo como “Árvore de Dinheiro (ou Dinheiro em

raqueçaba e acompanhava Ricardo Britez, cientista da SPVS.

Schapiro logo mostra que os homens e, sobretudo, merca-dos já alcançaram toda esta natureza. “Estou seguindo um grupo de caçadores”, conta Schapiro. “Eles estão atrás de algo que se tornou uma dos mais importantes commodi-

Os caçadores de carbono

Procura-sefloresta degradada

ties nos últimos anos - e eles pensam que podem capturá-lo com apenas uma fita métrica e uma caneta.”

“Os caçadores estão atrás do que está armazenado den-tro das árvores: o dióxido de carbono que ela seqüestrou da atmosfera”, explica.

Conversando com os “caça-dores”, o jornalista descobre

Árvore, na expressão popular): O custo humano do crédito de carbono”.

O Correio do Litoral.com traduziu reportagens publi-cadas na Mother Jones e o documentário da Frontline e resume este trabalho que mostra o conflito entre projetos preservacionistas e as popu-lações locais.

A pesquisa sobre o assunto não permite condenar o gigan-

tesco trabalho que vem sendo feito no Litoral do Paraná para proteger a biodiversidade e começar a explorar as poten-cialidades da nova economia verde.

O que esta reportagem mostra é um aspecto, um lado que não pode ser ignorado sob o risco de ampliarmos o fosso entre os defensores da natureza e as pessoas que coabitam com as florestas.

que uma árvore de guaricica que eles mediram tem entre 90 e 100 quilos de carbono. O valor de cada árvore desta no mercado de créditos de carbono é de um dólar.

“Mas quem fica com o dólar?” pergunta Schapiro. “Os créditos de carbono pertencem à General Motors”, responde o funcionário da SPVS.

A Frontline conta como carbono seques-trado em uma floresta da Mata Atlântica vai pa-rar nas mãos dos acio-nistas das empresas norte-americanas. Tudo começou em 1991, quando grupos conser-vacionistas identifica-ram a região da APA de Guaraqueçaba como um dos ambientes mais ameaçados do planeta. O projeto só se tornou viável dez anos depois, quando o Congresso norte-americano impôs restrições à emissão de gases pelas indústrias. Para as empresas havia duas alternativas: mu-dar as matrizes energé-ticas para fonte menos poluidoras ou entrar no mercado de carbono.

A segunda opção pa-receu a mais rápida e menos dispendiosa. As empresas investiriam na recuperação de áreas degradas e teriam direi-to a continuar emitindo carbono na atmosfera até que as pesquisas sobre processos indus-triais menos poluentes começarem a dar resul-tados. A American Elec-tric Power, por exemplo, é a maior operadora de usinas a carvão nos Es-tados Unidos.

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que pagam para salvar o planeta

Juntas, a Reserva Natural Serra do Itaqui (7 mil hecta-res no município de Guaraqueçaba), a Reserva Natural do Cachoeira (10 mil ha, em Antonina) e a Reserva Na-tural Morro da Mina (1.000 ha, em Antonina), geram 45 empregos diretos. Em 2009, elas renderam R$ 2 milhões em ICMS para Antonina (R$ 1,6 milhão) e Guaraqueçaba (R$ 21 mil), informa a SPVS. O projeto tem duração pre-vista de 40 anos.

Além do emprego e do dinheiro para os cofres públi-cos, a organização também afirma que os projetos trazem “serviços ambientais”. “A água que abastece o município de Antonina é captada na Reserva Morro da Mina; a água que abastece Ilha Rasa (em Guaraqueçaba) é da Reser-va Serra do Itaqui. Na Reserva do Rio Cachoeira, além de ações voltadas para educação ambiental de funcionários e das comunidades locais, também são desenvolvidos projetos de geração de renda com foco no artesanato”, afirma o site da SPVS.

45 empregos e R$ 2 milhões de ICMS

O preço que as cidades e as populações do entorno das áreas escolhidas para começar a salvar o plane-ta pagam é muito mais alto que as compensações do ICMS e de incipientes proje-tos sociais. Para agricultores e administradores públicos da região, os custos sociais econômicos são imensa-mente superiores às vanta-gens. Schapiro entrevistou o prefeito de Antonina, Carlos Augusto Machado “Canduca” que afirma que os projetos de seqüestro de carbono pro-vocaram deslocamento das populações rurais e criaram pobreza na área urbana.

O prefeito explica ao re-pórter que a cidade tem pou-

cas possibilidades de renda e emprego e que a população rural deslocada pelos proje-tos não tem a formação ne-cessária para trabalhar e se defender no meio urbano. “A família degradou, a prosti-tuição, drogas e alcoolismo, direta ou indiretamente... foi através destas unidades de conservação que criaram um cinturão de pobreza na cida-de”, disse Canduca.

PresoNo documentário o prefei-

to de Antonina também co-menta a prisão de um muní-cipe, Antônio Alves, que ficou 11 dias detido por ter cortado uma árvore em sua proprie-dade.

Antônio e Raquel são dois moradores que permanece-ram no meio de duas áreas de conservação, a da GM e da AEP. É Raquel quem con-ta: “O SPVS comprou umas terras e nós ficamos no meio deles. Muitas vezes eles fala-ram em comprar (o sítio) mas não quisemos vender porque a gente mora aqui. Todos sa-íram, só ficamos nós. Ele (o marido) não quis vender por-que para onde nós íamos? Depois veio a perseguição. Eles mandavam a Força Ver-de”.

Antônio conta que acabou preso por cortar uma árvore para reformar sua casa. Se-gundo ele os policiais da For-ça Verde encostaram revól-

veres em seu rosto e ainda o algemaram no mato antes de o levarem em uma barco da SPVS até o escritório da empresa antes de o encami-nharem à delegacia, em An-tonina.

“Existe uma lei que não pode cortar árvore. Mas quando você não está des-matando e corta duas ou três madeiras para construir uma casa eu acho que não é cri-me. Eles alegam que é cri-me”, disse Antônio.

Em entrevista a Frontline, a Força Verde afirma que a SPVS apoia a repressão dando treinamentos aos po-liciais, fornece equipamentos e comunicando agressões ao meio ambiente.

Para que a compensação de carbono exista é neces-sário plantar novas árvores, já que as florestas adultas já não fazem mais o sequestro de carbono.

É aí que entraram os pro-fissionais do ambientalismo, no caso a TNC e a SPVS. A elas cabia identificar áreas degradas. E eles encontra-ram nada menos que 18,6 mil hectares de terras nestas condições, o que muitoscon-sideram que nunca existiram.

As terras com pastagens abandonadas tinham cór-regos, cachoeiras e densa mata nativa que eles identi-ficaram como um local a ser

recuperado. Maria Rita Reis, assessora jurídica da ONG Terra de Direito, entrevista-da pelo site Carta Maior em 2006, assegurava que as áreas de pastagens eram apenas uma parcela do terri-tório. “A SPVS não comprou áreas desmatadas, elas são conservadas, super protegi-das. Ela não tem interesse em áreas devastadas. Tem até fontes naturais de água lá”, disse, segundo reporta-gem.

Degradadas ou não, as áreas foram adquiridas com recursos de US$ 18 milhões e os projetos começaram para valer entre 2000 e 2001.

O jornalista da Frontline ain-da comete a heresia de comer um palmito derrubado e corta-do diante das câmeras. O ho-mem que derrubou uma pal-meira real conta que ele é um dos trabalhadores que vivem da mata, “um povo que sem-pre cuidou da terra, da riqueza da biodiversidade”. Com sim-plicidade afirma: “O ser huma-no faz parte do ecossistema. Essa riqueza está toda preser-vada graças ao ser humano”.

O homem ainda faz uma denúncia grave contra a SPVS para o mundo todo ver: “Saiu um dia um grupo para bus-car cipó dentro de uma área pertencente à comunidade. “A gente estava tirando cipó quando passou um pessoal da SPVS, os guardas-parque. Aí eles deram tiro pra cima de nós...não acertou ninguém”, denuncia.

“O SPVS não quer ser hu-mano dentro da mata. As ter-ras nem são deles, é territó-rio nosso, das comunidades”, conta o habitante da floresta.

O Guarani

Schapiro encerra o docu-mentário com a entrevista de um líder guarani, (Leonardo) Werá Tupã, que conta que os indígenas que sempre preser-varam esta região e convive-ram com a natureza de forma sustentável hoje tem seus cos-tumes restritos pela complexi-dade da legislação ambiental do Brasil e ainda mais quando chegam as empresas estran-geiras.

“Quando esta área fica na mão de ambientalista limita muito para a população ao re-dor. Os guaranis tem regras que fazem parte da cultura, os indígenas são os verda-deiros ambientalistas. As leis (ambientais) que são impostas aqui no Brasil já são complica-das Quando chegam as em-presas estrangeiras investindo em compra de terras isto afeta mais ainda, é uma restrição maior”.

The Nature Conservancy recusou-se a falar com a Frontline. Em declarações públicas, eles falam dos em-pregos que criaram na reserva e o reflorestamento de áreas degradadas. Mas não fazem qualquer menção às pessoas estão sendo deslocadas da floresta.

E o parceiro local, Clovis Borges, da SPVS, não pede desculpas para o que fez na região, como afirma Scha-piro, que o entrevistou. “Durante nossos 17 anos no mu-nicípio de Guaraqueçaba, fomos acusados de tudo”, diz ele. “Isso é parte do processo. Nós fomos capazes de desenvolver um projeto que pode associar o carbono com a conservação. Estamos tentando lidar com algo muito di-fícil e estamos correndo contra o tempo porque a destrui-ção da natureza está acontecendo em toda parte, muito rapidamente”.

“Sem desculpas pelo que fizeram”

18.600 hectares sob medida

Cinturão de pobreza

Fora daqui!

Segundo reportagem da TV dos EUA, o “negócio do futuro” no presente expulsa comunidades e empobrece cidades

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No dia 9 de dezembro de 2009, centenas de moradores das comunidades rurais de Guaratuba desembarcaram o centro da cidade com ônibus e caminhões para impedir a realização da audiência pública convocada pelo ICMBio (Insti-tuto Chico Mendes de Conser-vação da Biodiversidade) que seria realizada na Igreja Matriz.

A reunião era uma etapa necessária à criação do Par-que Nacional da Guaricana, que vinha sendo elaborado nos gabinetes do Ministério do Meio Ambiente, em Brasília. Técnicos haviam feito algumas incursões à área de mais de 40 mil hectares, dentro da Apa de Guaratuba, mas sem conversar com os moradores da região.

A manifestação popular, junto com uma liminar da jus-tiça local acabou impedindo a realização da audiência e os representantes do ICMBio ainda passaram pela vexame de serem convidados a se retirar da igreja pelo padre Miguelito.

Em 2001, as mesmas comu-nidades rurais se mobilizaram e foram até o prefeito da época, José Ananias dos Santos, aler-tar para os riscos da prefeitura e da comunidade ficar de fora da elaboração do Plano de Manejo da Apa, criada em 2009. Ananias comprou a briga dos moradores. Hoje eles fazem parte do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental de Guaratuba o que assegura que todos os conflitos entre interesses econômicos, sociais e ambientais sejam tratados abertamente em reuniões quase que mensais.

Ameça sobre a APATodos estes movimentos

tiveram entre seus líderes o engenheiro Ricardo Valente, que foi eleito este ano presi-dente da Associação de Mora-dores das Comunidades do Cubatão e Rasgadinho.

Valente tem consciência que a “ameaça do Parque do Supetão” ainda paira sobre a extensa, preservada e produtiva área rural de Guaratuba.

Na opinião dele, se o parque vier as ser criado, uma das porções mais preservadas de Mata Atlântica do Brasil vai virar a “casa da Mãe Joana” e ficará à mercê de caçadores, madeireiros e todos os tipos de exploradores da riquíssima biodiversidade de 199.586 hec-tares de montanhas, planícies, rios, ilhas e uma baía.

“O ICMBio não tem pessoal nem recursos para fazer fis-calizar e cuidar de uma área tão extensa. Se os moradores tiverem de deixar suas terras aquilo tudo vai virar terra de ninguém”, prevê.

Zoneamento do entorno é o problema

A preocupação do líder comuni-tário, assim como da população rural, é que o parque não ficará restrito às seus limites. Depois de criado, será preciso fazer um Plano de Manejo que afetará o entorno e num raio de até 10 quilômetros todas as proprie-dades ficarão sujeitas a uma nova regulamentação.

“O ICMBio declarou no Correio do Litoral que a lei 9.985/2000 não obriga a apro-vação das populações locais na criação de unidades de conservação. No artigo 5º está escrito que:

O Sistema Nacional de Uni-dades de Conservação será regido por diretrizes que:III - assegurem a participação efetiva das populações locais na criação, implantação e gestão das unidades de conservação;”

– Eles não conhecem a lei?, pergunta o líder

comunitário

Guaratuba resiste ao “cerco conservacionista”

pARQUE DA GUARIcANA

As informações apresen-tadas pelas reportagens de Frontline – programa veiculado no canal de televisão PBS, nos Estados Unidos – são uma péssima contribuição para a solução de um problema que governos, cientistas e ambien-talistas tentam resolver em todo o Planeta. Ao deixar de fazer uma investigação jorna-lística adequada e induzir o espectador a compreensões totalmente erradas, as reporta-gens “The Money Tree” e “The Carbon Hunter”, publicadas respectivamente em outubro de 2009 e maio de 2010, depõem contra um trabalho sério, de destacada qualidade técnica e que tem conseguido resultados importantes para ajudar a com-bater as mudanças climáticas, conservar a biodiversidade de um ecossistema ameaçado e oferecer alternativas de desen-volvimento a comunidades na região de Guaraqueçaba, na Floresta Atlântica do Sul do Brasil.

As reportagens deixam de informar fatos relevantes, que atestam o êxito desses projetos para a pesquisa científica e para a geração de benefícios sociais e econômicos. Os pro-jetos desenvolvidos a partir da parceria das empresas Ameri-can Electric Power, Chevron e General Motors com as orga-nizações não-governamentais The Nature Conservancy (TNC) e Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) geram dados técnicos e resultados que podem contribuir para o esta-belecimento de novos padrões para projetos similares – uma urgência que se debate no âmbito das Nações Unidas. Os projetos representam, ainda, uma contribuição efetiva para ajudar na solução do desafio de compatibilizar desenvolvimento econômico e social com a con-servação de áreas naturais.

Ao lado de seus componen-tes de verificação de estoque de carbono e de conservação da biodiversidade, os projetos têm um forte pilar no envol-vimento de comunidades, de forma direta ou indireta, para a conquista de resultados. Isso

se dá simplesmente porque os executores dos projetos têm plena ciência de que não se faz conservação da natu-reza sem envolvimento das comunidades. Na região de Guaraqueçaba, onde vivem 10 mil habitantes em mais de 50 pequenas comunidades, esse cenário não é diferente. As reservas naturais estabe-lecidas para a condução dos projetos somam 18.600 hecta-res. A região de Guaraqueçaba tem 313 mil hectares.

Informar que os projetos deslocam comunidades é leviano, já que eles geram emprego e renda e buscam alternativas econômicas com a intenção de manter comunida-des na região, e não exclui-las. Também é leviano retratar de forma incompleta a atuação da polícia ambiental. Na região de Guaraqueçaba, regida por legislação específica no Brasil sobre a relação das pessoas com o meio ambiente, há caminhos possíveis e legais para atividades econômicas e mesmo aquisição de alimentos e materiais de construção, para comparar com os dois exem-plos apresentados pela última das reportagens de Frontline. Faltou boa vontade e senso jornalístico competente para investigar ocorrências como essas.

A seguir, são passadas algu-mas informações sobre os pro-jetos. Todos esses dados foram minuciosamente repassados para o jornalista (quando visitou os projetos em julho de 2009) e em diversas oportunidades para a equipe produção das reportagens (a própria produ-ção pediu essas informações, embora não sejam citadas no material veiculado!).

Mais informações podem ser vistos em um filme dispo-nível no YouTube, no ende-reço www.youtube.com/watch?v=tcqAlWgbtJE, e também nos textos listados nesses endereços:

www.nature.org/whe-rewework/southamerica/brasil/features/art30105.html

www.spvs.org.br/down-load/conservacao_combate_aquecimento_global.pdf

“reportagens da Frontline são parciais e mal-intencionadas”

A experiência das popula-ções da APA federal de Gua-raqueçaba, serve de alerta para a população de Guaratu-ba. Segundo Valente, Morre-tes, Antonina e Guaraqueça-ba perderam, por causa das unidades de conservação, a possibilidade de participar da revolução agrícola a partir dos anos 1980.

Hoje, Guaratuba é respon-sável por mais da metade da produção agrícola do litoral. “E todas as propriedades estão dentro de uma Apa, que tem um zoneamento que assegu-ra a proteção ambiental e a produção ao mesmo tempo”, afirma.

De acordo com ele, a cria-ção do parque vai jogar fora o trabalho que resultou na cria-ção de zonas de uso especial, de uso agropecuário, de pro-teção ambiental etc e “que são respeitadas”.

Quando houve a mobilização contra o Parque da Guaricana, Valente chegou a encaminhar ao ICMBio e ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) uma proposta assinada por cente-nas de moradores da região. Em lugar do parque, eles pe-diram a criação de mais uma Zona de Uso Especial, que tem restrições equivalentes a de um parque, mas que não afeta seu entorno. O MMA não respondeu.Diante do silêncio do governo federal, a comunidade perma-nece mobilizada. “Aqui nós so-mos unidos e dispostos a bri-gar pelo que é certo. Mas se por acaso eles mostrarem que as comunidades rurais da Apa de Guaraqueçaba atingiram uma qualidade de vida equiva-lente à de Guaratuba, aí nós seremos obrigados a rever nossos conceitos”, admite.

Comunidade propôs criar Zona especial

Atendendo solicitação do Correio, a SPVS comentou as reportagens da FrontLine. A resposta completa está no correiodolitoral.com

Lider comunitário diz que população respeita meio ambiente mas que unidade de conservação vai transformar região preservada em “Casa da Mãe Joana”

Proteção com produção

Ricardo Valente

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julho 201010 correiodolitoral.com

O abate de dois guarás pelo biólogo Louri Klemann Júnior na APA de Guaratuba revelou que a “coleta” de animais para pesquisa é uma prática muito difundida no Brasil, mas que tem importantes opositores, inclusive no meio científico.

Coleta é a expressão suge-rida pelos que defendem o abate de animais silvestres para pesquisa. A expressão “licença para matar” é repu-diada.

Para os defensor da prática, quando um pesquisador mata um animal diferente do qual estava autorizado a matar ele fez uma “coleta imprevista”. Sua punição é ter de anotar o fato na licença ou autorização.

Não é esta a opinião do pre-sidente do Conselho Regional de Biologia do Paraná, o IAP, de grande parte da opinião pública e de alguns cientistas.

Em virtude de utilizar a expressão e por anunciar a publicação de uma repor-tagem vinculando pesquisa científica com tráfico de ani-mais, o e-mail do Correio foi bombardeado por men-sagens, a maioria delas de biólogos indignados com o jornal, algumas ofensivas, muitas também trazendo novas denúncias e outras, com valiosas contribuições sobre a importância do tra-balho de pesquisa zoológica.

Os leigos que escreveram ao jornal criticaram os “matado-res de passarinhos”.

Entre as contribuições, destacamos a participação do “autodidata em Ornitologia” Fernando Costa Straube, que fez críticas ao Correio do Lito-ral e que acabou contribuindo com preciosas orientações, inclusive corrigindo erros.

Fernando C. Straube afirma que conhece bem Klemann Júnior e defende o biólogo, assim com o abate de animais com fins científicos. Sua pri-meira preocupação foi evitar a vinculação de Klemann ao tráfico de animais, o que o Correio equivocadamente pode ter sugerido.

Outra fonte valiosa, foi a bióloga Luciana Witovisk, que também defende a coleta científica, critica a expressão “licença para matar”, refuta qualquer vinculação entre pesquisadores e traficantes, mas que acha que o erro de Klemann Júnior precisa sem bem investigado.

“Como um biólogo coletor experiente, envolvido sempre em pesquisas sérias de con-servação se engana assim e duas vezes? Não foi um erro, foram dois e em seqüência. Investigação é a palavra. A sociedade pede isso, biólo-gos merecem isso”, afirma Luciana.

A repercussão da morte dos guarás provocou a reação do biólogo Alexandre Aleixo, do Museu Emílio Goeldi, de Belém (PA). Para Aleixo, o presidente do CRBIO-7 preju-dicou a Zoologia no Brasil ao questionar o abate de animais.

Num texto publicado pelo Correio do Litoral.com, Aleixo destaca que os guarás mortos são de cor escura e propõe uma campanha para rebater as matérias negati-vas. “Temos que ativamente buscar espaço na imprensa e quaisquer foros para réplicas, esclarecimentos, retratações e ações afins, sempre que a coleta científica tiver uma cobertura parcial e sensa-cionalista, que contribui para repercuti-la negativamente junto à opinião pública”, con-clama.

O pesquisador constata que no Google o nome do biólogo paranaense ficou vinculado a um crime que segundo ele não aconteceu.

O próprio Alexandre Aleixo também aparece no Google de forma negativa. Ao digitar seu nome aparece uma entrevista que ele concedeu à revista “Época” com o título “Ale-xandre Aleixo – O matador de passarinhos”. A foto que ilustra a matéria é do pesquisa-dor segurando um passarinho

empalhado. Na entrevista Aleixo conta

que a morte de animais para pesquisas está proibida na Europa, que há grupos con-trários e até radicais contra a prática e que o Brasil é um dos países que as coleções de animais mais cresce no mundo.

Aleixo explica e defende a necessidade de coleta de animais, mas, diferente da defesa que faz agora, ele diz à revista que o abate só é justificado no caso de desco-berta de novas espécies: “O sacrifício só é empregado nos casos em que nem os espe-cialistas sabem identificar com certeza um determinado animal. Ninguém usa o sacri-fício indiscriminadamente para identificar espécies que podem ser reconhecidas por outros meios. A morte é um último recurso”, afirmou na ocasião.

Os erros de Klemann e a própria “licença para matar” foram questionados firme-mente pelo presidente do Conselho Regional de Bio-logia da 7ª Região - Paraná (CRBio-7), Rogério Duílio Genari, que levou o caso ao conselho de ética da entidade.

Genari disse que se for confirmado que houve inten-ção de matar vai pedir a cassação da licença de Klemann e denunciá-lo ao Ministério Público. “A mim causa estranheza ele ter confundido as espécies. Alguém que só estuda isso não pode cometer esse erro. Se ele não tinha certeza, por que atirou mesmo assim?”, disse em entrevista ao jornal Gazeta do Povo. Correio conversou com Genari por telefone e ele confirmou suas posições a respeito do caso e da própria coleta para fins científicos. O CRBio-7 deverá criar, a exemplo de outros conselhos regionais e do Conselho Nacional de Biologia, um órgão perma-nente para analisar todas as solicitações de coletas.

Conselho vai aumentar fiscalização

Campanha contra “sensacionalismo”

Biólogos saem em defesa da “licença para matar”Para alguns pesquisadores, a expressão mais adequada é “coleta” – mas há controvérsias entre os cientistas

Em preto e branco todos os guarás são pardos. As aves ao fundo são marrecões. A foto, colorida, foi publicada no Coreio do Litoral em dezembro.

Page 11: Correio do Litoral Nº 40

A imagem foi captada por Pedro Igeile no dia 30 de agosto de 2009 no rio Saí-Guaçu, na divisa de Guaratuba com Itapoá (SC)

correiodolitoral.com julho 2010 11

(leia os textos completos no site correiodolitoral.com)

Sobre o sacrifício de animais para fins científicos, há várias corren-tes dentro da opinião popular. Algumas pessoas, geralmente pouco esclarecidas, não concordam que alguns indivíduos de determinada espécie possam ser sacrificados para finalidades científicas.

Essa mesma discussão ocorre dentro do próprio meio científico: alguns estudiosos praticam a coleta de animais para fins científicos como método fundamental e insubstituível; outros têm plena convicção de que ela é controvertida e passível de substituição por outros tipos de técnicas.

Eu faço parte do primeiro grupo e já coletei legalmente e sem remu-neração, muitos exemplares para diversas coleções brasileiras.

Todo esse material está à disposição do meio científico para estu-dos. Mesmo que pareça contraditório abater alguns indivíduos e usar esse tipo de informação para a conservação da natureza.

O que assusta é que o leigo não conhece as entrelinhas deste tra-balho; não faz ideia de como uma técnica de campo pode levar a uma ação benéfica e bem-sucedida de proteção à fauna e flora.

Poucas pessoas se preocupam em ir a fundo, antes de criticar. Não sabem que os museus e suas coleções, guardam um tesouro de valor incalculável que ajunta documentação fundamental a qualquer pesqui-sa ligada à natureza e à sua preservação!

Não sabem que o pesquisador, em vez de ser alguém que aufere lucros com seu trabalho, é - em geral - uma pessoa simples, de hábitos modestos e com poucos recursos.

Esse procedimento é realizado por centenas de pesquisadores no Brasil e em todo o mundo. E é legalizado e normatizado por toda uma legislação severa e cheia de minúcias. Jamais pode ser feito para au-ferir lucro ou como meio de algum tipo de intercâmbio financeiro (ven-da, por exemplo). No livro “Ornitologia e conservação”, no qual, em co-autoria com dois colegas, descrevemos todo o processo.

Fernando Costa Straube é pesquisador em Ornitologia com diver-sas obras publicadas, inclusive sobre História da Zoologia.

Fernando C. Straube

É preciso muito cuidado com a afirmação “biólogos defendem a li-cença para matar”. A vida de biólogo coletor de campo não é fácil, mas pode piorar se a sociedade passar a nos ver como “vilões”.

Muitas vezes, infelizmente, para realizarmos uma pesquisa, matar é necessário. Se os biólogos não souberem como o corpo de um animal funciona, o que come, se migra ou não, quando acasala, se faz ninho ou não e onde, tornam-se impossíveis os projetos para a perpetuação da própria espécie, bem como projetos para definir quais áreas tem a primazia na conservação.

Não sou coletora de aves, sou botânica, já empunhei muitos facões, mas nunca tive uma espingarda nas mãos. Exatamente por isso me pergunto como um biólogo coletor experiente, envolvido sempre em pesquisas sérias de conservação (basta ver seu currículo) se engana assim e duas vezes? Não foi um erro, foram dois e em seqüência.

As aves que deveriam (por licença) serem abatidas são muito dife-rentes dos guarás. A meu ver, um biólogo só deveria atirar quando esti-vesse seguro de que mataria só o que fosse necessário. Ainda mais se há na mesma área aves consideradas extintas e que estão retomando a sua população.

Não estou aqui julgando ninguém, ou levantando dúvidas sobre a conduta do coletor. Pode ter sido um trágico erro? Pode. Pode ter sido afobação? Pode. Pode ter sido confiança demais na mira? Pode. Tudo pode. Exatamente por isso é que defendo que haja uma investigação séria sobre o caso. Uma investigação que leve em conta todas as hi-póteses.

Se o coletor for investigado, se seus antecedentes como coletor forem levantados, se ele for ouvido e tratado com imparcialidade, a verdade surgirá. O povo merece saber o que fazemos, como fazemos e com que propósito. É a sociedade que sustenta nossa pesquisa, é a ela a quem devemos explicações.

Luciana Witovisk Gussella é bióloga formada pela UFPR, Mestra-do em Botânica (USP), Doutorado em Paleobotânica pela UFRJ

Coleta para fins científicos é necessária Sim à investigação imparcialLuciana W. Gussella

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Page 12: Correio do Litoral Nº 40

Geração de emprego e de renda, incentivo turismo, infraestrutura e modernização do Porto de Paranaguá. Estas são algumas propos-tas comuns aos dois principais candidatos a governar o Paraná nos próximos quatro ou oito anos.

O Correio do Lito-ral.com apresenta o resumo das propostas dos candidatos Osmar Dias (PDT) e Beto Richa (PSDB). O documento completo com os planos de governo você pode acessar no site.

A amostra não apre-senta novidades, mas serve para a gente cobrar do eleito a partir de 2011 e também como base para discussão entre os aliados de cada um e de pauta para a imprensa, inclusive para nós que vamos ficar de olho nas promessas que irão surgir na durante a campanha que se inicia.

Os textos foram pro-duzidos pelas asses-sorias dos candidatos exclusivamente para os leitores do Correio.

o que eles estão aprontando para o Litoral

Beto richa

12

PLANO de governo dos dois principais candidatos não trazem novidades para a região mas é o ponto de partida na campanha de 2010

ElEIÇÕES 2010

osmar dias

A segurança pública é uma prioridade na região e impõe duas providências: o aumento dos efetivos da PM não apenas no período de alta temporada e a construção da nova cadeia pública, para a qual Paranaguá já doou um terreno. Há falta de policia-mento em todo o litoral, e em Paranaguá o número de soldados hoje é pouco mais da metade de dez anos atrás.

Uma política de conscientização e prevenção con-tra drogas – nos moldes da Secretaria Antidrogas, criada em Curitiba –, que proporcione atividades es-portivas, de lazer e cultura aos jovens e adolescen-tes de Paranaguá, em parceria com a Prefeitura e a Pastoral da Criança.

A melhoria da infraestrutura social e urbana do litoral é condição essencial para a atração de mais turistas e, o mais importante, melhorar a qualidade de vida da população.

O Estado precisa ampliar sua presença na região na saúde, equipando o hospital de Paranaguá e do-tando-o de médicos e profissionais especializados, além de encorajar a formação do consórcio intermu-nicipal de saúde e garantir atendimento básico nos municípios litorâneos.

O desenvolvimento econômico passa pela moder-nização e desburocratização do porto de Paranaguá, que tem todas as condições de ampliar sua capaci-dade de operações, gerando mais empregos e mais.

Mas é preciso criar alternativas, com o fomento de atividades ligadas ao turismo, à gastronomia, à cul-tura (folclore a artesanato) e ao lazer, para as quais o Estado precisa investir em capacitação profissional técnica.

Vamos estudar a melhor integração viária até Guaraqueçaba, tendo em conta as razões sociais e de saúde pública de seus habitantes.

Sempre que se inicia a temporada de verão, o de-bate sobre o potencial turístico do nosso litoral toma novo fôlego e vem à tona a discussão sobre um novo projeto de sustentabilidade para que os municípios litorâneos não dependam apenas de pouco mais de dois meses de temporada e feriados prolongados.

Nosso plano de governo está focado no turismo e na geração de emprego e renda por meio do incre-mento das atividades específicas da região.

Trata-se de uma visão de futuro compartilhada e uniforme através da investigação, visão de resulta-dos, planejamento e sustentação, criando mecanis-mos de geração de riquezas perenes e crescentes no litoral.

Nosso litoral tem condições de viabilizar arranjos produtivos e cooperativas de produção de artesana-to, mel, hortifrutigranjeiros e de moluscos marinhos, como as ostras de cativeiro que serão mais nova alternativa de renda para as comunidades de pes-cadores.

E o nosso litoral precisa ter acesso a uma fatia maior dos investimentos estaduais e federais para o turismo. Potencial nós temos.

Um dos projetos viáveis para desenvolver o turis-mo em todo a região é o Corredor de Turismo, que modernizará ainda mais o Porto de Paranaguá, dan-do-lhe uma nova função, pois dotará o Porto de toda a infraestrutura para receber os turistas dos grandes transatlânticos, com a construção de um píer exclu-sivo para esse tipo de embarcação.

Há também projetos como um grande terminal de embarcações para interligar visitantes a todas as ci-dades do litoral e ilhas pelo mar; a revitalização dos centros históricos das cidades litorâneas e projetos para dinamizar a Serra da Graciosa e as festas cul-turais e gastronômicas do litoral.

Segurança como prioridade Emprego e renda o ano todo

Beto Richa e o vice-prefeito de Paranaguá, Fabiano Elias (PPS) Osmar Dias e o prefeito de Paranaguá, José Baka Filho (PDT)

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julho 2010 correiodolitoral.com

Assessoria do candidato