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CRÍTICA TEXTUAL / ECDÓTICA:
O PROBLEMA DAS EDIÇÕES INFIÉIS.
Breves notas para a história do Cursos de Letras no Brasil
Maximiano de Carvalho e SILVA1
RESUMO: Este estudo se inicia com uma breve história dos cursos superiores de Letras
no Brasil, com destaque para a Universidade do Distrito Federal (UDF) e para a atuação
do professor Sousa da Silveira na cátedra de Língua Portuguesa dessa instituição e da
Universidade do Brasil ‒ posteriormente, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
O relato da influência de Sousa da Silveira ganha ainda mais força no que diz respeito a
sua atuação como formador de estudiosos de Crítica Textual, enfatizando conceitos como
a importância da seleção de textos autênticos e fidedignos para as edições e de um
profundo conhecimento da língua e de seus recursos de expressividade, tanto sincrônica
como diacronicamente. O autor fala de sua formação na área e de sua própria contribuição
na instituição e difusão da Crítica Textual como disciplina curricular no ensino superior
(especialmente na Universidade Federal Fluminense ‒ UFF). Por fim, apresenta-se uma
tabela com notas comparativas de duas edições do romance O Cabeleira, de Franklin
Távora (1876 e 1963), elaborada com base em cotejo realizado por alunos de curso de
Crítica Textual, sob orientação do autor.
PALAVRAS-CHAVE: Crítica Textual. Literatura Brasileira. História dos cursos de
Letras no Brasil.
ABSTRACT: This study begins with a brief history of the Letters courses in Brazil,
highlighting the Universidade do Distrito Federal (UDF) and the work of Professor Sousa
da Silveira in the chair of Portuguese Studies of this university and of Universidade do
Brasil (UB) ‒ later Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). The account of the
influence of Sousa da Silveira gains even more strength concerning his role as a trainer
of researchers dedicated to Textual Criticism, with emphasis to concepts such as the
importance of selection of authentic and reliable texts for edition and of a deep knowledge
of the language and its expressive resources, both synchronic as diachronically. The
author speaks of his training in the area and also reports his own contribution to the
establishment and spread of Textual Criticism as a curricular discipline in higher
education (especially at the Universidade Federal Fluminense ‒ UFF). Finally, a table is
presented with comparative notes of two editions of the novel The Cabeleira, by Franklin
Távora (1876 and 1963), which is based on a comparison performed by the Textual
Criticism course students, under the guidance of the author..
KEYWORDS: Textual Criticism. Brazilian Literature; History of Letters courses in
Brazil.
1 Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia;
autor de Sousa da Silveira / O Homem e a Obra / Sua Contribuição à Crítica Textual no Brasil (1984) e de
edições críticas e comentadas de obras-primas das literaturas brasileira e portuguesa.
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No Brasil, por um lamentável atraso, os estudos superiores de Letras só puderam
ter um maior avanço com o funcionamento de Universidades segundo as exigências
estabelecidas por lei federal, logo depois de, como uma das novidades trazidas pela
chamada Revolução de 1930, ter sido criado pelo governo provisório que assumiu o poder
o Ministério da Educação e Saúde. Foram três essas Universidades pioneiras na renovação
do ensino superior em nosso país: a Universidade de São Paulo (USP), fundada em 1934
por iniciativa do governo do Estado de São Paulo; a Universidade do Distrito Federal
(UDF), fundada em 1935 por iniciativa da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, então
capital da República, mas que teria vida efêmera até o ano de 1938; e a Universidade do
Brasil (UB), fundada em 1937, por iniciativa do governo federal, e hoje denominada
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tinha como unidade básica a
Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). Foi nelas, como estava previsto nos textos
legais, que as atividades de ensino, pesquisa e extensão puderam realizar-se com a
amplitude que as caracteriza nos dias atuais, tendo em vista a formação de profissionais
das mais diferentes áreas do conhecimento.
O curso superior de Letras nelas se incluiu com o propósito de favorecer a visão
do estudo científico de língua e de literatura, e de corrigir as distorções que se observavam
de modo geral no ensino público e particular. Para encarregar-se de organizar e executar
projetos em consonância com as novas exigências, e assumir a direção das disciplinas e
dos novos programas de cunho renovador, foram convocados os professores que,
superando as limitações do autodidatismo, se tornaram conhecidos pelo teor das lições
em sala de aula ou registradas em livros de sua autoria e em artigos que publicavam em
jornais e revistas especializadas.
Os currículos dos cursos de Letras organizados de modo diferente e ao sabor das
circunstâncias faziam prever apenas a existência das disciplinas consideradas
indispensáveis, e distinguiam três modalidades de habilitação: Letras Clássicas
(entendidas como Língua e Literatura Grega e Língua e Literatura Latina), Letras
Neolatinas e Letras Anglo-Germânicas. Em todos os currículos as disciplinas de Língua
Latina, Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa figuravam como obrigatórias, pois a
principal finalidade das três modalidades de curso era atender à demanda de professores
de Português e Literaturas de Língua Portuguesa no ensino secundário.
211
Na organização desses currículos, apenas na UDF, não sei dizer por que
inspiração, se acrescentaram ao número de disciplinas para o ensino das línguas e das
respectivas literaturas duas disciplinas básicas, as de Linguística Geral e Teoria da
Literatura.
Ao ser criada a UDF, por decisão do Prefeito Pedro Ernesto, que confiou a sua
organização ao Secretário da Educação Anísio Teixeira, o nome do filólogo Sousa da
Silveira foi logo lembrado para assumir a direção da cátedra de Língua Portuguesa. Vinha
ele de uma experiência nova do estudo e ensino da língua como expressão da cultura, não
preocupado tão somente com a história da língua e com o estudo da língua padrão, mas
igualmente com a diversidade dos usos linguísticos e a observação fiel dos fatos
linguísticos no uso oral e nos textos escritos de todas as épocas.
Do final da segunda década do século XX ao início da década de 1930 Sousa da
Silveira se projetara entre os nossos filólogos e professores com a publicação de três
compêndios destinados a ensejar uma visão geral da origem, formação, desenvolvimento
e estado atual da língua portuguesa ‒ Trechos Seletos (1919), Lições de Português (1921-
1923) e Algumas Fábulas de Fedro (1927) ‒, além do opúsculo A Língua Nacional e o
Seu Estudo (1921), em que traça as diretrizes do estudo e ensino da língua segundo o seu
entendimento, de numerosos artigos em revistas especializadas e das suas primorosas
edições comentadas de textos clássicos (“Auto da Alma” e “Auto da Mofina Mendes” de
Gil Vicente, o poema “Sôbolos rios” de Camões, a tragédia Castro de Antônio Ferreira e
a écloga Crisfal de Cristóvão Falcão). Atraíra a atenção da nova geração de filólogos que
sonhavam com essa renovação, alguns dos quais dele se aproximaram nos anos da UDF
para frequentar como alunos regulares ou ouvintes as suas aulas de Linguística
Portuguesa e de comentário de textos e, de 1939 em diante, nos anos iniciais da Faculdade
Nacional de Filosofia. Era uma plêiade de professores de ensino secundário e de
pesquisadores da qual faziam parte Sílvio Elia, Serafim da Silva Neto, Matoso Câmara
Júnior, Celso Cunha, Antônio Houaiss, Othon Moacyr Garcia, Antônio de Pádua, Rocha
Lima, Jesus Belo Galvão, Gládstone Chaves de Melo e outros mais.
Quando, no ano de 1944, ingressei como aluno no Curso de Letras Neolatinas da
FNFi, Sousa da Silveira estava no auge do seu prestígio de professor, ministrava as aulas
com muita segurança e conhecimento dos fatos da língua, dotado de excelente memória,
mas sem o brilho dos anos anteriores, porque fora vítima no ano anterior de um derrame
212
cerebral que lhe tirara a liberdade de movimentos e o vigor físico de antes. Por uma
estranha falha na organização curricular, para os alunos de Neolatinas as aulas de Língua
Portuguesa só eram dadas a partir do segundo ano, o que muito nos decepcionou, ávidos
como estávamos de ouvi-lo tratar dos pontos do programa por ele organizado.
A sua primeira aula foi singular: dissertou longamente sobre a atitude que
devíamos manter de absoluto respeito aos fatos da língua em suas variedades e de busca
de textos autênticos e fidedignos em que pudéssemos basear-nos para ter perfeito
conhecimento da variedade de usos da língua portuguesa. Nessa mesma aula de dois
tempos fez-nos ver que, de acordo com o programa traçado, teríamos aulas alternadas de
Linguística Portuguesa diacrônica e sincrônica e do que denominava comentário de
textos, ou seja, notas explicativas sobre a origem e fidedignidade dos textos apresentados,
exame minucioso dos recursos de expressão de que se valera cada autor, exegese das
passagens obscuras ou duvidosas. Propunha-se a fazer o que só mais tarde
identificaríamos como o objeto formal da ciência da linguagem a que hoje damos o nome
de Crítica Textual e, na culminância das suas atividades, Ecdótica, a arte de estabelecer
criticamente os textos, interpretá-los e comentá-los.
Depois de explicar-nos que nas suas aulas procuraria fazer-nos conhecer com rigor
as normas do uso padrão da língua no Brasil do século XX, a que se sujeitam os que
escrevem ou falam em circunstâncias especiais da vida social, falou-nos da diversidade
dos usos linguísticos e da legitimidade de cada um deles em seu contexto próprio, não
deixando de acentuar que os escritores têm ampla liberdade de expressão e podem valer-
se na composição da sua obra propriamente literária dos registros diferenciados de outros
usos e da criatividade para propor inovações que no seu entender favoreçam a
expressividade do que querem dizer.
No segundo tempo de aula, surpreendeu-nos ainda mais o ilustre filólogo com a
apresentação de cópias de um texto do poeta Ribeiro Couto, “Romance de Cabiúna”, para
exemplificar o aproveitamento artístico na língua literária de dois usos linguísticos
distintos, o uso padrão, segundo os preceitos fixados na chamada gramática normativa
com base nos textos dos bons autores, e o uso coloquial de falantes menos afeitos ou
desatentos a essas normas.
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ROMANCE DE CABIÚNA
Ribeiro Couto
Cabiúna era menino
E dizia: – “Eu vou na Europa”.
A mãe dele respondia:
“– Fica quieto, Cabiúna.
Cabiúna, não me amola”.
A mãe dele não gostava.
Ralhava sempre, ralhava...
De dia ela costurava
Em frente ao mar, na janela.
E, costurando, cantava.
“– Minha mãe, eu cresço logo,
Fico grande e vou na Europa.
Deixa eu ir, minha mãezinha?”
“– Que menino sem cabeça!
Sai daqui, não me aborreça.”
“– Deixa eu ir, minha mãezinha...”
Mas toda noite ela entrava
No quarto em que ele dormia
E, junto dele, chorava.
Cabiúna ficou grande,
Ficou grande e foi-se embora.
Trabalhando de taifeiro
Num navio brasileiro.
Aconteceu que uma noite,
Junto de um cais estrangeiro,
Virou criança: chorava.
Alguém, passando, assobiava
Uma canção parecida
Com as que a mãe dele cantava.
(Couto, 1943, p. 52-53.)
Não se esqueceu de, antes de tudo, dizer que era um texto reproduzido com
fidelidade do último livro de poemas de Ribeiro Couto, Cancioneiro do Ausente, com
revisão do próprio autor; forneceu-nos a indicação bibliográfica respectiva e alertou-nos
para o fato de que os textos são divulgados muitas vezes com grosseiras deturpações e
erros tipográficos, e é preciso então que os seus usuários procurem deles as lições
fidedignas e as edições que os transcrevam de boas fontes. Foram estas as primeiras
214
noções que eu tive dos fundamentos da ciência da linguagem que tem por finalidade zelar
pela existência e conservação dos textos como expressão mais alta da cultura e pela
reprodução dos mesmos com absoluto respeito ao labor autoral. Tudo foi feito, no entanto,
sem que Sousa da Silveira uma única vez mencionasse os nomes com que essa ciência e
arte passou a ser conhecida no Brasil a partir da década de 1950: Crítica Textual /
Ecdótica.
A aula inaugural de Sousa da Silveira assinala o despertar do meu interesse pelo
estudo mais aprofundado e cuidadoso dos textos e teve imediata influência nas minhas
atividades de magistério, que por curiosa coincidência se haviam iniciado na parte da
manhã daquele mesmo inesquecível dia 15 de março de 1945, em turmas do curso ginasial
do modesto mas conceituado educandário Instituto Menino Jesus, de que eu fora aluno
nos anos anteriores. Com efeito, desde logo percebi que não devia concentrar as minhas
atenções unicamente no estudo da teoria gramatical, como geralmente se fazia, mas
também ensinar aos meus alunos, através de exercícios de leitura e interpretação de textos
e da prática de redação, os preceitos para se expressarem com clareza e propriedade e de
acordo com as normas da língua padrão. Para isso, contei também com o precioso auxílio
do programa de Português do Curso Ginasial e das instruções metodológicas para a sua
execução elaborados por Sousa da Silveira, em 1942, como parte da reforma do ensino
secundário posta em vigor pelo Ministério da Educação e Saúde, sob a clarividente
direção do Ministro Gustavo Capanema (BRASIL, 11-15/07/42).
Dediquei-me desde logo à busca das boas edições como recomendava o grande
Mestre. Entre as que consegui adquirir sem demora, estavam as suas edições críticas e
comentadas de autores brasileiros da fase romântica – Suspiros Poéticos e Saudades, de
Gonçalves de Magalhães (1939), e Obras de Casimiro de Abreu (1.a edição, 1940), e as
das antologias dos poetas brasileiros da fase romântica e da fase parnasiana de Manuel
Bandeira, as quais me fizeram ver que havia pela frente todo um longo trabalho a ser feito
para divulgar nossos autores em edições de texto autêntico e comentado como apoio aos
estudos de língua e literatura nos cursos de Letras.
Outras investigações me ensinaram que essa mesma preocupação de restituir aos
textos a sua versão original, tão deturpada nas edições então existentes, deu início, no
século XIX, mas de forma limitada e precária, às atividades de Crítica Textual no Brasil,
por parte de historiadores, entre os quais sobressaía a figura de Francisco Adolfo
215
Varnhagen. Em Portugal, do final do século XIX às primeiras décadas do século XX, com
idênticas preocupações, três notáveis filólogos - Epifânio Dias, Leite de Vasconcelos e
Carolina Michaëlis – se entregaram ao labor de preparar as bases do empreendimento de
publicar edições críticas de obras-primas da literatura portuguesa. O que fizeram teve
grande influência na formação dos filólogos brasileiros da primeira metade do século XX.
As suas observações metodológicas sobre as pesquisas para a identificação dos textos de
base e os seus comentários filológicos podem-se ler nas numerosas obras que
conseguiram publicar, verdadeiro monumento que propiciou grande avanço às ciências
da linguagem. Tiveram particular repercussão no Brasil a edição de Os Lusíadas de
Epifânio Dias (1910, com reedição em 1916), as Lições de Filologia Portuguesa
(1911/1926) e as edições de textos arcaicos de Leite de Vasconcelos (1903-5), as Lições
de Filologia Portuguesa (1911-3), os estudos preliminares e as edições críticas de
Carolina Michaëlis sobre textos medievais e textos quinhentistas (Cancioneiro da Ajuda
[1904], autos de Gil Vicente [1922], poesias de Sá de Miranda [1885])2.
A divulgação no Brasil da história e dos fundamentos teóricos da Crítica Textual
e da arte de estabelecer criticamente os textos só se deu de fato a partir da década de 1950,
graças principalmente à operosidade de dois grandes filólogos, Celso Cunha e Antônio
Houaiss, ambos ex-alunos na UDF e discípulos declarados de Sousa da Silveira. Celso
Cunha foi o sucessor de Sousa da Silveira em 1953 como catedrático de Língua
Portuguesa da Faculdade Nacional de Filosofia e, três anos mais tarde, passou a contar
com o apoio político do governo federal, no âmbito do Ministério da Educação e Cultura
(MEC) e de uma das suas repartições, o Instituto Nacional do Livro (INL), para realizar
os seus planos culturais de grande alcance. Ele e Antônio Houaiss, associados a dois
outros importantes colaboradores, o filólogo Antônio José Chediak e o filólogo e
bibliógrafo Galante de Sousa, deram divulgação, através de aulas e palestras, da imprensa
e das páginas da prestigiosa Revista do Livro, órgão do INL, a preciosos dados para tornar
2 Convém ressaltar que, como sinal dos tempos que estamos vivendo, há nos cursos de graduação e de pós-
graduação em Letras em nosso país, de modo geral, uma lamentável depreciação dos estudos históricos e
um propositado desconhecimento ou descaso em relação a esses citados autores brasileiros e portugueses
do passado e às obras que nos legaram. Todavia, pelo que tenho observado, os neolinguistas e professores
de literatura que os ignoram e consideram superados terão com o tempo de explicar aos seus alunos e
orientandos a razão de estarem reaparecendo nos registros da Internet tantos autores e obras importantes
relegadas ao esquecimento, mas de fundamental importância para os pesquisadores atuais que não de
deixam seduzir pela supervalorização das novidades.
216
mais conhecidas e valorizadas as atividades de Crítica Textual, mas também os nomes
dos pioneiros dos estudos da ciência filológica em outros países, além de Portugal
(Alemanha, Itália, França, Espanha e Inglaterra, notadamente). Foi a partir daí que os
outros estudiosos de Crítica Textual e de língua portuguesa e literaturas brasileira e
portuguesa, excetuados alguns poucos bem informados que já haviam tido acesso às obras
mais antigas e mais recentes, se familiarizaram no Brasil com estudos teóricos de Crítica
Textual e a aplicação dos mesmos aos textos clássicos e modernos editados em outros
países, como os de autoria do alemão Karl Lachmann, dos franceses Joseph Bédier, Louis
Havet, Henry Quentin, Alphonse Dain e L. Laurand, dos espanhóis Menéndez Pidal e
Menéndez y Pelayo, dos italianos G. Pasquali, Alberto Chiari, e outros mais. Lembre-se,
por exemplo, que um desses filólogos, Alberto Chiari, com a sua experiência de editor de
textos de escritores italianos, num pequeno mas substancioso artigo intitulado “La
edizione critica”, ensinou aos filólogos brasileiros de modo geral a técnica da preparação
de uma edição crítica e a terminologia para designar as várias etapas do labor filológico3.
Ao filólogo Celso Cunha não pode deixar de ser creditada a participação em duas
iniciativas relevantes, em que teve o apoio dos três mencionados colaboradores dos seus
projetos, a partir das quais ainda mais contribuiu para dar o merecido relevo às atividades
de Crítica Textual como um dos meios mais eficazes de proteção do nosso patrimônio
literário. A primeira delas foi a criação, em 1956, sob o patrocínio do Instituto Nacional
do Livro, de um “Curso de Preparação de Textos”, em que se matricularam dedicados
pesquisadores para cumprir, sob a orientação de professores de diferentes disciplinas, as
tarefas de elaboração de edições críticas de obras de autores brasileiros do século XIX. A
segunda, a criação, no ano de 1958, por ato do Ministro da Educação e Cultura Clóvis
Salgado, da Comissão Machado de Assis, encarregada no ano do cinquentenário da morte
do grande escritor de elaborar as edições críticas das suas poesias e da obra de ficção
machadiana. No decorrer das atividades regulares do Curso e da Comissão, infelizmente
por poucos anos, interrompidas como foram nos governos seguintes, ficaram os exemplos
de como seria importante que o estudo e o ensino da Crítica Textual fossem
institucionalizados na formação superior dos professionais de Letras, de História e de
3 O artigo de Chiari, com o título de “La edizione critica” (1951), está dividido em três partes: “I –
Legittimità e caratteri della edizione critica; II – Breve storia della edizione critica; III – Come si fa una
edizione critica”. Foi a partir daí que se firmou o extraordinário prestígio dos filólogos italianos no
Brasil.
217
outras ciências humanas, como meio de assegurar ao patrimônio literário o mesmo
amparo previsto nos textos legais que regulam a atuação do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). É de lamentar, porém, que Celso Cunha não se
tenha lembrado de criar na Faculdade de Letras da UFRJ a disciplina autônoma de Crítica
Textual, para que alunos e professores interessados pudessem consagrar mais tempo aos
estudos teóricos e às atividades nela previstas.
Cabe-me aqui dizer sem rodeios, inclusive por não ser cultor da falsa modéstia,
que quando tudo o que relatei acontecia auspiciosamente, eu, como discípulo de Sousa da
Silveira, organizava os meus programas de ensino de Língua Portuguesa, tanto no ensino
secundário de Língua Portuguesa (até 1970) como no ensino superior de Filologia /
Crítica Textual (até 2009) com a previsão da existência de duas disciplinas distintas:
Linguística Portuguesa (sincrônica e diacrônica) e Filologia (Crítica Textual / Ecdótica).
Notei desde logo que os alunos se encantavam com as aulas de interpretação e comentário
de textos, que propiciava o contato com os textos e os fazia perceber na leitura atenta das
páginas antológicas de autores brasileiros e portugueses ‒ não apenas os modernos e
contemporâneos, mas até mesmo os clássicos e os do período medieval da literatura
portuguesa ‒ a riqueza de dados fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos antes
não observados com a devida atenção.
Sentia eu, no entanto, que sendo ciências com objetos formais diferentes ‒ a
primeira destinada ao estudo da história da língua portuguesa e do sistema linguístico em
sua variedade de usos, a segunda destinada ao estudo dos textos como expressão da
cultura popular ou erudita ‒ não podiam estar amarradas uma à outra na organização
curricular, pois precisavam ter autonomia própria para desenvolverem mais amplamente
os seus programas específicos. Por isso, em 1978, no Instituto de Letras da UFF, depois
de vencer a barreira do absurdo preconceito de vários professores, para os quais
Linguística e Filologia eram quase a mesma coisa e Crítica Textual devia ser o mesmo
que Crítica Literária, consegui ver aprovada pelo Departamento a que eu pertencia a ideia
da criação da disciplina autônoma de Filologia / Crítica Textual, como básica e
indispensável à boa formação dos que se dedicam aos estudos históricos, linguísticos e
literários. Passei à condição de Professor Titular da nova disciplina, o que me permitiu
anos depois, em 1984, obter nesse setor o título de Livre-Docente, com a apresentação da
tese a que dei o título de Sousa da Silveira: o Homem e a Obra; Sua Contribuição à
218
Crítica Textual no Brasil, publicada em seguida como coedição da Editora Presença e do
INL (1984).
Para completar este longo relato, feito com o propósito de fornecer dados
importantes para a valorização da Crítica Textual e o reconhecimento da posição que deve
ter no ensino superior de Letras e outras ciências humanas, quero ainda referir-me ao
resultado de iniciativas minhas na UFF nesse sentido a partir da década de 1960. Tudo se
tornou possível quando se criou em 1961 na cidade de Niterói a Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro (hoje Universidade Federal Fluminense ‒ UFF), com a
incorporação de diversos Institutos, Escolas e Faculdades autônomos, entre os quais a
Faculdade Fluminense de Filosofia, onde eu trabalhava desde 1957 como professor da
disciplina de Língua Portuguesa. Passei a exercer na UFERJ/UFF, a partir de 1963, além
das atividades docentes, as administrativas que me foram confiadas, como as de
Secretário, Chefe de Departamento, Coordenador dos cursos de graduação e de pós-
graduação, Diretor do Instituto de Letras o que me facilitou a obtenção de meios para
levar avante alguns planos que absorviam a minha atenção.
Foi em 1963, creio que pela primeira vez no ensino universitário brasileiro, já
numa posição funcional mais estável e contando com maiores recursos, que instituí nas
minhas turmas a pesquisa como atividade obrigatória dos alunos, propondo-lhes cinco
tipos de trabalho a serem realizados em sala de aula, ou em bibliotecas públicas do Rio
de Janeiro. A maioria dos alunos optou por pesquisas no âmbito da Crítica Textual,
interessando-se pelo estudo comparativo das melhores edições de obras literárias com as
edições dos mesmos textos lançadas no comércio por editores de nome em nosso país.
Tinha eu o propósito de documentar o absurdo tratamento a que eram submetidas as obras
dos nossos melhores autores por parte de editores e preparadores de texto que se achavam
no direito de alterar o que encontravam nos originais, movidos de preconceitos
gramaticais e literários da pior espécie, ou por parte de tipógrafos e revisores tipográficos
de precários conhecimentos linguísticos, os quais tomavam como erros tudo quanto
ultrapassava os limites dos seus deficientíssimos conhecimentos da língua em sua
múltipla variedade e riqueza.
Como a essa altura eu já era autor de trabalhos recebidos com muitos encômios
pela crítica especializada ‒ entre eles a reedição em 1957 com o texto rigorosamente
estabelecido da obra clássica Dificuldades da Língua Portuguesa, de Manuel Said Ali,
219
com prefácio de Serafim da Silva Neto ‒ recebi da editora Melhoramentos, de São Paulo,
por indicação de Augusto Meyer, Diretor do INL, a incumbência de cuidar com idêntico
rigor dos textos da sua coleção “Panorama da Literatura Brasileira”, que vinham sendo
publicados com grosseiras alterações que os descaracterizavam por completo. De uma
primeira encomenda resultou, em 1966, a publicação do romance Dom Casmurro, de
Machado de Assis, numa edição crítica cujo minucioso registro filológico a tornou, no
juízo do filólogo Celso Cunha, um modelo para empreendimentos semelhantes4. Tratei
logo de convocar os meus melhores alunos da UFF para colaboradores na feitura de outras
edições, e foi com a sua ajuda que, de 1970 a 1978, pude ver publicadas em edições de
excelente aspecto gráfico as edições críticas ou de texto crítico de romances de referência
obrigatória nos estudos sobre o Romantismo no Brasil ‒ Ubirajara, O Sertanejo, Til, O
Tronco do Ipê e Senhora, de José de Alencar, A Moreninha, de Joaquim Manuel de
Macedo, Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, A
Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Todavia, nos anos seguintes novas
circunstâncias me fizeram interromper a realização desse plano que tivera tão firme apoio
da editora Melhoramentos.
Um dos trabalhos que mais interesse despertou entre os alunos foi o relativo ao
romance O Cabeleira, do autor cearense Franklin Távora, nascido em 1842 e falecido em
1888, figura do movimento realista em nossa literatura. É um romance de que só existe
uma edição em vida do autor, publicada no Rio de Janeiro em 1876. Um grupo de alunas,
em que sobressaíram Maria Alice Pires Cardoso de Aguiar e Dulce Mendes, fez sob a
minha orientação o minucioso cotejo desse texto de 1876 com o da edição de 1963 da
editora Melhoramentos de São Paulo, e logo em seguida eu mesmo conferi tudo o que
havia sido anotado no volume da Melhoramentos que ainda conservo em meu poder. Com
base nessas anotações, ditei para a minha preciosa colaboradora Lília Cerqueira Leite os
4 Atendendo a honroso convite do Dr. Mauro Romero, então Diretor da Editora da Universidade Federal
Fluminense, desejoso de que uma obra de Machado de Assis figurasse na lista das edições da EdUFF, tomei
a meu cargo preparar uma reapresentação da minha edição crítica de Dom Casmurro (SILVA, 2014). Ao
rever o que já estava na edição de 1966 e no relançamento da mesma em 1975, quis demonstrar a minha
concepção atual de edição crítica, segundo a qual não é suficiente publicar o texto crítico acompanhado do
registro filológico, pois o leitor nela deve dispor de elementos para situar o autor e a obra em seu contexto
histórico-cultural próprio. Para isso, acrescentei ao volume um apêndice de cerca de 200 páginas, com
numerosos dados biobibliográficos, um estudo sobre a fortuna crítica do romance e um glossário de nomes
próprios e nomes comuns, com a consulta aos quais os leitores no Brasil, em Portugal e em outros países
onde há algum interesse pela literatura brasileira se habilitam a uma leitura renovada do romance, bem
diversa da leitura tradicional.
220
dados do quadro abaixo, em que as discrepâncias entre os dois textos estão classificadas,
em duas colunas, permitindo ao leitor ter agora ideia nítida, pelo que consta da coluna B,
do descaso com que casas editoras, até mesmo as de maior prestígio, costumam tratar os
textos, num absoluto desrespeito ao direito autoral sagrado de tê-los reproduzidos com
absoluta fidelidade ao que escreveram.
Não posso, ainda, deixar de mencionar três outras iniciativas com que procurei
contribuir para o reconhecimento da relevância das atividades de Crítica Textual, ainda
não reconhecidas na medida exata entre um número expressivo de professores e
pesquisadores da área de Letras, como facilmente se pode comprovar pelas afirmações
que fazem em sala de aula ou pelas atitudes que tomam para impedir que a ciência
filológica se alce ao lugar merecido no ensino universitário.
A primeira delas, no ano de 1973, decorreu do fato de estar eu então no exercício
dos cargos de Diretor do Instituto de Letras da UFF e de Diretor do Centro de Pesquisas
da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), onde como pesquisador eu dava às atividades
de Crítica Textual uma constante atenção. Tendo participado em Lisboa, em novembro
do ano anterior, da chamada Reunião Internacional de Camonistas, com comunicações
que deixaram patente o interesse de tratar do ingente problema da fidelidade dos textos
nas edições da obra lírica e épica do Poeta, propus que a segunda Reunião se realizasse
no Brasil sob o patrocínio das duas instituições que eu ali representava. Coube-me então
a organização do que denominei Programa Especial UFF-FCRB, e nele previ a realização
de dois congressos internacionais interligados, o Congresso Internacional de Filologia
Portuguesa (com um temário referente aos estudos teóricos de Crítica Textual e sua
aplicação aos textos em língua portuguesa) e a II Reunião Internacional de Camonistas
(em cujo temário predominavam as indicações de estudos sobre os textos camonianos,
especialmente os da obra lírica). Não há dúvida de que, tendo podido reunir em Niterói e
no Rio de Janeiro os ilustres filólogos brasileiros (no mais amplo sentido da palavra)
Sílvio Elia, Gládstone Chaves de Melo, Celso Cunha, Cleonice Berardinelli, Leodegário
A. de Azevedo Filho, Rosalvo do Valle, Evanildo Bechara, Walmírio Macedo, Hélio
Simões, José Aderaldo Castelo, Segismundo Spina, Isaac Nicolau Salum, e os
estrangeiros Hernâni Cidade, Jacinto do Prado Coelho, Américo da Costa Ramalho,
Herculano de Carvalho, Paul Teyssier, Roger Bismut, Luciana Stegagno Picchio, Mark
Curran e vários outros, como convidados para participar de sessões com amplos debates
221
e de encontros na UFF, no Real Gabinete Português de Leitura e na FCRB, num
movimento de valorização das atividades de Crítica Textual, pude tornar evidente a
importância do relacionamento e do intercâmbio dos que, estando a serviço do
desenvolvimento cultural, se encarregam de cuidar da preservação dos textos e da ingente
tarefa de promover a sua divulgação em edições fiéis às lições originais.
A segunda iniciativa e a de maior significação, já mencionada, foi a de propor em
1978 ao Departamento de Linguística e Filologia da UFF, sob a direção do Professor
Walmírio Macedo, a inclusão nos currículos dos cursos de graduação em Letras, como
obrigatória, a disciplina que recebeu inicialmente a denominação de Filologia (Crítica
Textual), e hoje lá funciona com a denominação de Crítica Textual / Ecdótica. Essa
inclusão, aprovada graças aos bons ofícios do Chefe do departamento e ao apoio dos
demais professores presentes na reunião, permitiu que se instituísse inclusive uma
modalidade nova de currículo, destinada à formação de revisores críticos e preparadores
de edições críticas5. Todavia, após a minha aposentadoria na UFF em 1989, esse currículo
foi desativado, quero crer que em decorrência da incompreensão do seu significado.
A terceira iniciativa foi a de realizar no ano de 1983 o programa que organizei
para a comemoração do centenário de nascimento de Sousa da Silveira, em sessões de
estudos e debates, com a participação de seus principais discípulos e de outros ilustres
filólogos, durante as quais ficaram em especial realce a sua atuação como pioneiro das
atividades da Crítica Textual no Brasil e as suas primorosas edições críticas de obras-
primas da literatura portuguesa e da literatura brasileira.
5 Em 1981, numa turma de 10 alunos que haviam optado pelo referido currículo, e no cumprimento do que
estabelecia a ementa “Filologia 5 – Prática de Crítica Textual”, assumi em sala de aula a direção do trabalho
de preparar uma edição crítica do romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, por encomenda
da presidência do Real Gabinete Português de Leitura, que me forneceu o microfilme do manuscrito
autógrafo camiliano conservado em seus arquivos, a ser reproduzido em fac-símile nessa edição, em
confronto com o texto crítico da quinta edição do romance e o registro das variantes das outras edições que
foram objeto de cotejo. Cada um dos alunos teve diante dos olhos na mesa em que trabalhávamos a cópia
autenticada do exemplar de uma das seis edições em vida do autor ou de três edições póstumas de particular
importância, e uma aluna se encarregou de ler num leitor-copiador de microfilmes o manuscrito original.
A leitura conjunta ensejou a reunião prévia de dados com os quais em minha casa, já no decorrer do ano
seguinte, eu pude verificar a excelência do que fora realizado e preparar os originais da obra, logo em
seguida encaminhados para os trabalhos de composição e impressão às oficinas gráficas da editora Lello &
Irmão, na cidade do Porto (1983), incluindo o fac-símile do manuscrito em confronto com o texto de base
da quinta edição, a última de que tomou conhecimento o autor, e o registro das variantes em notas de pé de
página.
222
NOTAS SOBRE DUAS EDIÇÕES DO ROMANCE O CABELEIRA,
DE FRANKLIN TÁVORA:
A EDIÇÃO PRÍNCIPE DE 1876 E A EDIÇÃO MODERNA DE 1963
As diferenças entre o texto da edição de 1876, que obrigatoriamente tem de ser
tomado como texto de base para qualquer reedição que dele se queira fazer, por ser o
único em vida do autor e por ele mesmo revisto, e o texto da edição Melhoramentos de
1963, têm as seguintes explicações:
1) O preparador da edição de 1963 não levou em conta a errata do final do volume
de 1876, em que Franklin Távora aponta não apenas falhas e erros tipográficos a serem
corrigidos, mas também alterações da sua própria redação, como por exemplo ao pedir
que se substitua “Infelizmente para o Cabeleira” por “Por infelicidade do Cabeleira” (cap.
IV, § 7);
2) O mesmo preparador da edição de 1963, imbuído de preconceitos gramaticais
e literários, desconhecedor de formas lexicais e construções gramaticais legítimas, e
desconhecedor do princípio da Ecdótica moderna segundo o qual o texto de um autor tem
de ser preservado com todas as suas características de forma e de conteúdo, mesmo
quando ele não obedece às normas do uso linguístico e literário da sua época, fez abusivas
modificações de formas lexicais e de construções sintáticas que na sua ótica eram
inaceitáveis;
3) Por outro lado, ele próprio ou algum revisor tipográfico que se encarregou da
tarefa de confrontar o texto original levado à tipografia com as provas da composição
tipográfica para essa nova edição, deixou escapar uma série de falhas e erros tipográficos
que ainda mais invalidam essa edição como fonte de qualquer tipo de estudo ou pesquisa
filológica, linguística ou literária, o que se comprova com o quadro comparativo abaixo.
223
FRANKLIN TAVORA, O Cabeleira
CORREÇÕES DO TEXTO FEITAS NA ERRATA DA EDIÇÃO DE 1876 (ÚNICA EDIÇÃO DO ROMANCE, REVISTA
PELO AUTOR), DE QUE, NO ENTANTO, NÃO TOMOU CONHECIMENTO O PREPARADOR
DE EDIÇÃO MELHORAMENTOS DE 1963.
Capítulo
e parágrafo
Correções propostas por Franklin Távora
nas páginas 316-317
O que se lê na edição de 1963
de O Cabeleira
I, 61 a população obrigada a aproximar-se
dos assassinos
a populaça obrigada a aproximar-se dos
assassinos
IV, 3 É porque .... está sujeita É que .... está sujeita
IV, 7 Por infelicidade do Cabeleira Infelizmente para o Cabeleira
IV, 75 deves ter-lhe .... respeito Deves ter .... respeito
V, 1 recolhera-a em sua casa .... e começara recolheu-a em sua casa .... e começou
VI, 30 se sucedeu a desgraça se suceder a desgraça
VI, 33 este grave assunto este grande assunto
VI, 34 tal era o terror tanto era o terror
IX, 14 que não voltasse que voltasse
X, 84 Jura juramento
X, 60
indicaram que a força tinha dado com
os bandidos. Qualquer aviso para que
fugissem seria inútil
indicaram que a força tinha dado com os
bandidos, e que qualquer aviso para que
fugissem seria inútil
XI, 63 dos que ficam distantes em sua maior
proximidade desta vila duas léguas
dos que ficam distantes desta vila duas
léguas
XI, 82 Antes que anoitecesse Tanto que anoiteceu
XI, 88 Pouco adiante ouviu pisadas Pouco adiante ouviu vozes
XII, 25 para ficar inteiramente na moda para estar inteiramente na moda
XIII, 11
tinha o Cabeleira adquirido uma
virtude – a sobriedade, obra de longas
privações
tinha o Cabeleira adquirido uma virtude
– sóbria 0bra de longas privações
XIII, 74 um salvo das águas, outro escapo ao
tiro iminente
um salvo das águas, outro salvo do tiro
iminente
XIV, 26 um negociante de gados marchante de gados
XIV, 63 a oração .... vence até as almas a oração .... vence todas as armas
XVI, 3 Uma manhã em que a fome e a fadiga o
tinham prostrado
Uma tarde em que a fome e a fadiga o
tinham prostrado
XVI, 46 O sol despertou o bandido O sol acordou o bandido
XVIII,
27
viram-se desfilar viu-se desfilar
TEXTO DA EDIÇÃO DE 1876 (A) EM CONFRONTO COM O TEXTO MODIFICADO POR INTERFERÊNCIA INDEVIDA DO
PREPARADOR DA EDIÇÃO DE 1963 (EM): ALTERAÇÃO DE FORMAS LEXICAIS VARIANTES E CONSTRUÇÕES SINTÁTICAS
TIDAS COMO DESLIZES GRAMATICAIS OU IMPERFEIÇÕES ESTILÍSTICAS DO AUTOR.
Cap. / §
Na edição de 1876 (A)
Na edição de 1963 (EM)
Int., 3 o céu de opalo o céu de opala
I, 40 Por agora vamos ao que importa. Para agora vamos ao que importa.
II, 11 achava-se a pouca distância achando-se a pouca distância
IV, 9 ou de proporcionar-lho ela ou de proporcioná-lo ela
IV, 41 eu vir esconder o coelhinho eu ir esconder o coelhinho
224
V, 18 levar para a casa levar para casa
VI, 1 até aquele momento até àquele momento
XIII, 9 entraram ele e Luísa Entrara ele e Luísa
VIII, 55 os malfeitores bater na porta? os malfeitores baterem na porta?
XVI, 71 o momento dos negros descarregarem o momento de os negros descarregarem
I, 8 dentro nas matas dentro das matas
I, 38 dentro na canoa dentro da canoa
I, 43 saltou novamente dentro nela saltou novamente dentro dela
II,13 pretensão, que ao princípio nutrira pretensão, que a princípio nutrira
IX, 5 Ao princípio A princípio
IX, 53 aonde vás? aonde vais?
XIII, 17 o sol em pino O sol a pino
X,29 d’agora por diante de agora por diante
XII, 13 praça d’armas praça de armas
XV. 79 redes d’aço redes de aço
Int, 8 listrões d’água prateada listões d’água prateada
Int, 22 região amazônia região amazônica
Int, 24 minha palheta minha paleta
Int, 27 rios .... até suas nascenças Rios .... até suas nascentes
Int, 29 sobrolho da madrasta sobreolho da madrasta
I, 49 sorprendidos Surpreendidos
II, 59 o abdômen O abdome
II, 61 os escondrijos da taverna os esconderijos da taverna
V, 2 comboieiros e boiadeiros comboeiros e boiadeiros
V, 51 a cronha do bacamarte A coronha do bacamarte
VI, 6 mondés na capoeira mundéus na capoeira
XI, 40 receiar Recear
XVII, 3 alvorotou-se a multidão alvoroçou-se a multidão
XVII, 9 cobardia Covardia
F, 20 um cataclisma um cataclismo
F, 37 das palavras seu e sinha antepostas aos
nomes próprios
das palavras seu e sinhá antepostas
aos nomes próprios
F, 37 contrações sô e sá contrações só e só
F, 38 jerumu Jerimum
Int, 10 dous anos Dois anos
Int, 12 cousas literárias coisas literárias
II, 78 uma mouta de muçambês Uma moita de muçambés
V, 2 se acoutavam negros fugidos Se acoitavam negros fugidos
Int, 10 Dous anos Dois anos
Int, 12 cousas literárias coisas literárias
II, 78 uma mouta de muçambês Uma moita de muçambés
V, 2 se acoutavam negros fugidos Se acoitavam negros fugidos
Int, 10 dous anos Dois anos
225
Int, 12 cousas literárias coisas literárias
II, 78 uma mouta de muçambês Uma moita de muçambés
V, 2 se acoutavam negros fugidos Se acoitavam negros fugidos
Int, 10 dous anos Dois anos
F, 42 antes do Sol sair antes de o Sol cair
F, 44 umas filhóis, a que chamam beijus uns filhós, a que chamam beijus
TEXTO DA EDIÇÃO DE 1876 (A) EM CONFRONTO COM O TEXTO MODIFICADO DA EDIÇÃO DE 1963 (EM), MAIS
PROVAVELMENTE POR ERRO DE REVISÃO TIPOGRÁFICA: OMISSÃO DE PALAVRAS DO TEXTO A, SUBSTITUIÇÃO DE
UMA PALAVRA OU DE UMA EXPRESSÃO POR OUTRA (FREQUENTEMENTE COM ALTERAÇÃO DO SENTIDO DA FRASE),
SUBSTITUIÇÃO DE UMA PALAVRA POR OUTRA QUE NÃO FAZ SENTIDO, ALTERAÇÃO DA PONTUAÇÃO ORIGINAL.
Cap. / §]
Na edição de 1876 (A)
Na edição de 1963 (EM)
Int, 14 se Deus me ajudar se Deus ajudar
Int, 21
quando tudo não tenha ali uma vida
que não teve princípio e que não há de
ter fim, só o que resta ao corpo é
nascer
quando tudo não tenha ali uma vida
que não resta ao corpo é nascer
Int, 24 continentes, que em todas as direções
iam ficando ou aparecendo
continentes, em que todas as direções
iam ficando ou aparecendo
Int, 31 floresta escusa floresta escura
Int, 31 mercados agrícolas, industriais,
comerciais, artísticos
mercados agrícolas, industriais,
artísticos
Int., 39 há vida, graça, e colorido nativo há vida, graça e colorido nativo
I, 1 Autorizam-nos a formar este juízo Autorizavam-nos a formar este juízo
I, 16 menos feio menos feito
I, 17 corro sem demora a armar o laço corro sem demora armar o laço
I, 29
pequenos armazéns de taipa de sebe
em que se vendiam miudezas e
ferragens. Estes armazéns, que logo
depois de prontos acharam alugadores
pequenos armazéns de taipa de sebe
em que se vendiam miudezas e
ferragens, que logo depois de prontos
acharam alugadores
I, 35 arrastando uma vara pela mão, saltou
à frente dos malfeitores
arrastando uma vara pela mão, soltou
à frente dos malfeitores
I, 63 ainda que lhe custasse a própria vida ainda que custasse a própria vida
II, 50 digna de riso se não despertasse
compaixão
digna do riso e não despertasse
compaixão
II, 56 só tinha para ele atenções só tinha ele atenções
II, 58 as diferentes fases as diferentes faces
III, 48 Nunca se encontraram Nunca se encontram
III, 57 o cadáver de Gabriel .... tingia-as com
o seu sangue
O cadáver de Gabriel tingia-se
IV, 6
a mulher não é somente uma
providência, é sobretudo uma
divindade
A mulher não é somente uma
providência, – sobretudo uma
divindade
IV, 6 um caos uma caos
IV, 96 foram de todo esquecidos foram de todos esquecidos
226
V, 14 na missa que o coadjutor celebrava na missão que o coadjutor celebrava
V, 2 dentro em pouco passou a ser estimada dentro em pouco era estimada
V, 36 vencida do terror vencida de terror
V, 37 lobrigou Luisinha um vulto nobrigou Luisinha um vulto
V, 8 na malta dos salteadores na mata dos salteadores
VI, 1 Não se pode descrever o abalo Não se pode escrever o abalo
VI, 20 Era de índole pacífico Era de índole pacífica
VI, 32 Sem pregar olhos Sem pregar olho
VI, 45 Pouco adiante Pouco diante
VI, 66 corpo todo crivado de facadas corpo crivado de facadas
VI,65 golpe que vibrara golpe que vibrava
IX, 4 Acometimento Acontecimento
IX, 86 – Zé Gomes! gritou este. Já te
esqueceste de que sou teu pai?
– Zé Gomes, olha bem o que dizes!
redargüiu Joaquim, teu pai?
IX, 88 – Zé Gomes, olha bem o que dizes!
redargüiu Joaquim
– Zé Gomes, olha bem o que dizes!
redargüiu de novo Joaquim.
X, 1 Que valeu a Luísa ter-se libertado das
mãos de Joaquim .... ?
Que valeu a Luísa ter-se libertado das
mãos de Joaquim .... !
X, 103 para um fim de grande importância Para um fim de importância
X, 25 fazer isso, nunca. fazer isso, nunca, nunca.
X, 38 em demanda da mata em damanda da mata
X, 73 ocultava-os aos olhos da justiça ocultava-os, aos olhos da justiça
X, 73 com tal firmeza, que nunca deixou de
ser fatal
com tal firmeza que nunca deixou de
ser fatal
XI, 11 Poderá comer das minhas sardinhas Poderá comer mais sardinhas
XI, 46 Nós não nos podemos demorar mais Nós não podemos demorar mais
XI, 5 desconfianças e medos desconfiança e medos
XI, 57 Avie-se, que é tempo avie-se que é tempo
XI, 58 situação que se lhe afigurou
irrevogável
situação que lhe afigurou irrevogável
XI, 61 passado de medo, que o caso não era
para menos
passado de medo, que o acaso não era
para menos
XI, 63 o fruto da economia e do trabalho O fruto da economia e o trabalho
XI, 63 ele me diz ele disse
XI, 63 males privados e públicos males privados e publicados
XI, 65 Chegando a seu distrito Chegado ao seu distrito
XI, 70 tirara a vida tirava a vida
XI, 72 Ceiando Ceando
XI, 94 confiando nos recursos conquanto nos recursos
XI, 98 quero olhar eu quero olhar
XII, 1 Por um cordão sanitário por cordão sanitário
XII, 12 de prisões, e de outros muitos
elementos
de prisões e de outros muitos elementos
227
XII, 30 Teófilo Gautier, escritor de consciência
e bom gosto, pensa
Teófilo Gautier, pensa
XII, 31 Que tão cedo foi arrebatado Que cedo foi arrebatado
XII, 38 se sente o prisioneiro mais desejoso de
estar nessa suavíssima prisão
se sente o prisioneiro mais perigoso de
estar nessa suavíssima prisão
XIII, 10 mais penosa se tornava para os
fugitivos
tanto mais penosa tornava para os
fugitivos
XIII, 12 até para alguns confortos até alguns confortos
XIII, 34 A faca nua na outra A faca na outra
XIII, 50 trazia no cós da ceroula trazia nos cós da ceroula
XIII, 61 Sou incapaz de negar-lha Sou incapaz de negar-lhe
XIII, 64 alma benévola e amorosa da pobre
Luías
alma benévola da pobre Luísa
XIII, 67 recebido nestas palavras um aviso
celeste
recebido nestas palavras aviso celeste
XIV, 1 as sombras começaram a cobrir a
vasta solidão
as sombras começaram a vasta solidão
XIV, 82 Soluços, como de animal bravio Soluços, como animal bravio
XIV, 88
ia quando a entrar aí com os tristes
restos do seu tesouro, um homem
apareceu na extremidade da clareira
Quando ia a entrar aí com o triste resto
do tesouro, um homem apareceu na
extremidade da lareira
XIV, 9 uma chã, no fim da chã um bosque Uma chã, no fim de chã um bosque
XV 24
era o lavrador que desmanchava mais
mandioca no fabrico da farinha, que
era de tão boa qualidade que competia
no mercado do Recife
era o lavrador que desmanchava mais
mandioca que competia no mercado do
Recife
XV, 19 Hei de mostrar-lhe que o que digo,
digo
Hei de mostrar-lhe o que digo.
XV, 35 as duas rodas as duas ordas
XV, 54 chegam a oferecer versos chegaram a oferecer versos
XV, 7 andar para dentro e para fora andar dentro e para fora
XV, 7 esperanças que não se realizaram esperanças que não se realizam
XV, 79 encoberto aos olhos da vítima encoberto os olhos da vítima
XVI, 2 O ananazeiro bravo O ananazeiro bravio
XVI, 8 Vou tomar-lha para mim Vou tomar-lhe para mim
XVII, 15 começou logo a apregoar começou a apregoar
XVII, 19 o medo irresistível da morte que o
impelira
O medo irresistível da morte o impelira
XVII, 27 teus belos olhos Teus olhos
XVII, 54 – Escapula, Leonor, escapula! – Escapula, Leonor, escapula?
XVIII, 12 purifica-se, como elas purifica-se como elas
XVIII, 29 Nassau, tipo do mais fidalgo
liberalismo
Nassau, tipo de mais fidalgo
liberalismo
XVIII, 34 como herança, para transmitir como herança para transmitir
XVIII, 36 buscava embalde abrir caminho buscava abrir caminho
XVIII, 37 Seus lábios trêmulos deixaram passar Seus lábios deixaram passar
228
XVIII, 40 O coração tinha-lhe instantaneamente
estalado de dor
O coração tinha-se instantaneamente
estalado de dor
XVIII, 8 Henrique Luís, o benemérito, o modelo
dos governadores portugueses
Henrique Luís, o modelo dos
governadores portugueses
F, 8 mudar-lhes uma só palavra mudar-lhe uma só palavra
F, 9 Não quis usar dessa faculdade Não quis usar desta faculdade
F, 35 A quem tanto perturbaram A quem perturbaram
F, 46 uma fogueira de grandes proporções Uma figueira de grandes proporções
F, 63 aquela parte dele que ainda não
conhecia
aquela parte que ainda não conhecia
F, 64 Pelo longo da costa segue [Maurício] Pelo longo da costa seguem
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229
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