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209 CRÍTICA TEXTUAL / ECDÓTICA: O PROBLEMA DAS EDIÇÕES INFIÉIS. Breves notas para a história do Cursos de Letras no Brasil Maximiano de Carvalho e SILVA 1 RESUMO: Este estudo se inicia com uma breve história dos cursos superiores de Letras no Brasil, com destaque para a Universidade do Distrito Federal (UDF) e para a atuação do professor Sousa da Silveira na cátedra de Língua Portuguesa dessa instituição e da Universidade do Brasil ‒ posteriormente, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O relato da influência de Sousa da Silveira ganha ainda mais força no que diz respeito a sua atuação como formador de estudiosos de Crítica Textual, enfatizando conceitos como a importância da seleção de textos autênticos e fidedignos para as edições e de um profundo conhecimento da língua e de seus recursos de expressividade, tanto sincrônica como diacronicamente. O autor fala de sua formação na área e de sua própria contribuição na instituição e difusão da Crítica Textual como disciplina curricular no ensino superior (especialmente na Universidade Federal Fluminense ‒ UFF). Por fim, apresenta-se uma tabela com notas comparativas de duas edições do romance O Cabeleira, de Franklin Távora (1876 e 1963), elaborada com base em cotejo realizado por alunos de curso de Crítica Textual, sob orientação do autor. PALAVRAS-CHAVE: Crítica Textual. Literatura Brasileira. História dos cursos de Letras no Brasil. ABSTRACT: This study begins with a brief history of the Letters courses in Brazil, highlighting the Universidade do Distrito Federal (UDF) and the work of Professor Sousa da Silveira in the chair of Portuguese Studies of this university and of Universidade do Brasil (UB) ‒ later Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). The account of the influence of Sousa da Silveira gains even more strength concerning his role as a trainer of researchers dedicated to Textual Criticism, with emphasis to concepts such as the importance of selection of authentic and reliable texts for edition and of a deep knowledge of the language and its expressive resources, both synchronic as diachronically. The author speaks of his training in the area and also reports his own contribution to the establishment and spread of Textual Criticism as a curricular discipline in higher education (especially at the Universidade Federal Fluminense ‒ UFF). Finally, a table is presented with comparative notes of two editions of the novel The Cabeleira, by Franklin Távora (1876 and 1963), which is based on a comparison performed by the Textual Criticism course students, under the guidance of the author.. KEYWORDS: Textual Criticism. Brazilian Literature; History of Letters courses in Brazil. 1 Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; autor de Sousa da Silveira / O Homem e a Obra / Sua Contribuição à Crítica Textual no Brasil (1984) e de edições críticas e comentadas de obras-primas das literaturas brasileira e portuguesa.

CRÍTICA TEXTUAL / ECDÓTICA: O PROBLEMA DAS ......Latina, Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa figuravam como obrigatórias, pois a principal finalidade das três modalidades

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209

CRÍTICA TEXTUAL / ECDÓTICA:

O PROBLEMA DAS EDIÇÕES INFIÉIS.

Breves notas para a história do Cursos de Letras no Brasil

Maximiano de Carvalho e SILVA1

RESUMO: Este estudo se inicia com uma breve história dos cursos superiores de Letras

no Brasil, com destaque para a Universidade do Distrito Federal (UDF) e para a atuação

do professor Sousa da Silveira na cátedra de Língua Portuguesa dessa instituição e da

Universidade do Brasil ‒ posteriormente, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O relato da influência de Sousa da Silveira ganha ainda mais força no que diz respeito a

sua atuação como formador de estudiosos de Crítica Textual, enfatizando conceitos como

a importância da seleção de textos autênticos e fidedignos para as edições e de um

profundo conhecimento da língua e de seus recursos de expressividade, tanto sincrônica

como diacronicamente. O autor fala de sua formação na área e de sua própria contribuição

na instituição e difusão da Crítica Textual como disciplina curricular no ensino superior

(especialmente na Universidade Federal Fluminense ‒ UFF). Por fim, apresenta-se uma

tabela com notas comparativas de duas edições do romance O Cabeleira, de Franklin

Távora (1876 e 1963), elaborada com base em cotejo realizado por alunos de curso de

Crítica Textual, sob orientação do autor.

PALAVRAS-CHAVE: Crítica Textual. Literatura Brasileira. História dos cursos de

Letras no Brasil.

ABSTRACT: This study begins with a brief history of the Letters courses in Brazil,

highlighting the Universidade do Distrito Federal (UDF) and the work of Professor Sousa

da Silveira in the chair of Portuguese Studies of this university and of Universidade do

Brasil (UB) ‒ later Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). The account of the

influence of Sousa da Silveira gains even more strength concerning his role as a trainer

of researchers dedicated to Textual Criticism, with emphasis to concepts such as the

importance of selection of authentic and reliable texts for edition and of a deep knowledge

of the language and its expressive resources, both synchronic as diachronically. The

author speaks of his training in the area and also reports his own contribution to the

establishment and spread of Textual Criticism as a curricular discipline in higher

education (especially at the Universidade Federal Fluminense ‒ UFF). Finally, a table is

presented with comparative notes of two editions of the novel The Cabeleira, by Franklin

Távora (1876 and 1963), which is based on a comparison performed by the Textual

Criticism course students, under the guidance of the author..

KEYWORDS: Textual Criticism. Brazilian Literature; History of Letters courses in

Brazil.

1 Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia;

autor de Sousa da Silveira / O Homem e a Obra / Sua Contribuição à Crítica Textual no Brasil (1984) e de

edições críticas e comentadas de obras-primas das literaturas brasileira e portuguesa.

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No Brasil, por um lamentável atraso, os estudos superiores de Letras só puderam

ter um maior avanço com o funcionamento de Universidades segundo as exigências

estabelecidas por lei federal, logo depois de, como uma das novidades trazidas pela

chamada Revolução de 1930, ter sido criado pelo governo provisório que assumiu o poder

o Ministério da Educação e Saúde. Foram três essas Universidades pioneiras na renovação

do ensino superior em nosso país: a Universidade de São Paulo (USP), fundada em 1934

por iniciativa do governo do Estado de São Paulo; a Universidade do Distrito Federal

(UDF), fundada em 1935 por iniciativa da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, então

capital da República, mas que teria vida efêmera até o ano de 1938; e a Universidade do

Brasil (UB), fundada em 1937, por iniciativa do governo federal, e hoje denominada

Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que tinha como unidade básica a

Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). Foi nelas, como estava previsto nos textos

legais, que as atividades de ensino, pesquisa e extensão puderam realizar-se com a

amplitude que as caracteriza nos dias atuais, tendo em vista a formação de profissionais

das mais diferentes áreas do conhecimento.

O curso superior de Letras nelas se incluiu com o propósito de favorecer a visão

do estudo científico de língua e de literatura, e de corrigir as distorções que se observavam

de modo geral no ensino público e particular. Para encarregar-se de organizar e executar

projetos em consonância com as novas exigências, e assumir a direção das disciplinas e

dos novos programas de cunho renovador, foram convocados os professores que,

superando as limitações do autodidatismo, se tornaram conhecidos pelo teor das lições

em sala de aula ou registradas em livros de sua autoria e em artigos que publicavam em

jornais e revistas especializadas.

Os currículos dos cursos de Letras organizados de modo diferente e ao sabor das

circunstâncias faziam prever apenas a existência das disciplinas consideradas

indispensáveis, e distinguiam três modalidades de habilitação: Letras Clássicas

(entendidas como Língua e Literatura Grega e Língua e Literatura Latina), Letras

Neolatinas e Letras Anglo-Germânicas. Em todos os currículos as disciplinas de Língua

Latina, Literatura Brasileira e Literatura Portuguesa figuravam como obrigatórias, pois a

principal finalidade das três modalidades de curso era atender à demanda de professores

de Português e Literaturas de Língua Portuguesa no ensino secundário.

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Na organização desses currículos, apenas na UDF, não sei dizer por que

inspiração, se acrescentaram ao número de disciplinas para o ensino das línguas e das

respectivas literaturas duas disciplinas básicas, as de Linguística Geral e Teoria da

Literatura.

Ao ser criada a UDF, por decisão do Prefeito Pedro Ernesto, que confiou a sua

organização ao Secretário da Educação Anísio Teixeira, o nome do filólogo Sousa da

Silveira foi logo lembrado para assumir a direção da cátedra de Língua Portuguesa. Vinha

ele de uma experiência nova do estudo e ensino da língua como expressão da cultura, não

preocupado tão somente com a história da língua e com o estudo da língua padrão, mas

igualmente com a diversidade dos usos linguísticos e a observação fiel dos fatos

linguísticos no uso oral e nos textos escritos de todas as épocas.

Do final da segunda década do século XX ao início da década de 1930 Sousa da

Silveira se projetara entre os nossos filólogos e professores com a publicação de três

compêndios destinados a ensejar uma visão geral da origem, formação, desenvolvimento

e estado atual da língua portuguesa ‒ Trechos Seletos (1919), Lições de Português (1921-

1923) e Algumas Fábulas de Fedro (1927) ‒, além do opúsculo A Língua Nacional e o

Seu Estudo (1921), em que traça as diretrizes do estudo e ensino da língua segundo o seu

entendimento, de numerosos artigos em revistas especializadas e das suas primorosas

edições comentadas de textos clássicos (“Auto da Alma” e “Auto da Mofina Mendes” de

Gil Vicente, o poema “Sôbolos rios” de Camões, a tragédia Castro de Antônio Ferreira e

a écloga Crisfal de Cristóvão Falcão). Atraíra a atenção da nova geração de filólogos que

sonhavam com essa renovação, alguns dos quais dele se aproximaram nos anos da UDF

para frequentar como alunos regulares ou ouvintes as suas aulas de Linguística

Portuguesa e de comentário de textos e, de 1939 em diante, nos anos iniciais da Faculdade

Nacional de Filosofia. Era uma plêiade de professores de ensino secundário e de

pesquisadores da qual faziam parte Sílvio Elia, Serafim da Silva Neto, Matoso Câmara

Júnior, Celso Cunha, Antônio Houaiss, Othon Moacyr Garcia, Antônio de Pádua, Rocha

Lima, Jesus Belo Galvão, Gládstone Chaves de Melo e outros mais.

Quando, no ano de 1944, ingressei como aluno no Curso de Letras Neolatinas da

FNFi, Sousa da Silveira estava no auge do seu prestígio de professor, ministrava as aulas

com muita segurança e conhecimento dos fatos da língua, dotado de excelente memória,

mas sem o brilho dos anos anteriores, porque fora vítima no ano anterior de um derrame

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cerebral que lhe tirara a liberdade de movimentos e o vigor físico de antes. Por uma

estranha falha na organização curricular, para os alunos de Neolatinas as aulas de Língua

Portuguesa só eram dadas a partir do segundo ano, o que muito nos decepcionou, ávidos

como estávamos de ouvi-lo tratar dos pontos do programa por ele organizado.

A sua primeira aula foi singular: dissertou longamente sobre a atitude que

devíamos manter de absoluto respeito aos fatos da língua em suas variedades e de busca

de textos autênticos e fidedignos em que pudéssemos basear-nos para ter perfeito

conhecimento da variedade de usos da língua portuguesa. Nessa mesma aula de dois

tempos fez-nos ver que, de acordo com o programa traçado, teríamos aulas alternadas de

Linguística Portuguesa diacrônica e sincrônica e do que denominava comentário de

textos, ou seja, notas explicativas sobre a origem e fidedignidade dos textos apresentados,

exame minucioso dos recursos de expressão de que se valera cada autor, exegese das

passagens obscuras ou duvidosas. Propunha-se a fazer o que só mais tarde

identificaríamos como o objeto formal da ciência da linguagem a que hoje damos o nome

de Crítica Textual e, na culminância das suas atividades, Ecdótica, a arte de estabelecer

criticamente os textos, interpretá-los e comentá-los.

Depois de explicar-nos que nas suas aulas procuraria fazer-nos conhecer com rigor

as normas do uso padrão da língua no Brasil do século XX, a que se sujeitam os que

escrevem ou falam em circunstâncias especiais da vida social, falou-nos da diversidade

dos usos linguísticos e da legitimidade de cada um deles em seu contexto próprio, não

deixando de acentuar que os escritores têm ampla liberdade de expressão e podem valer-

se na composição da sua obra propriamente literária dos registros diferenciados de outros

usos e da criatividade para propor inovações que no seu entender favoreçam a

expressividade do que querem dizer.

No segundo tempo de aula, surpreendeu-nos ainda mais o ilustre filólogo com a

apresentação de cópias de um texto do poeta Ribeiro Couto, “Romance de Cabiúna”, para

exemplificar o aproveitamento artístico na língua literária de dois usos linguísticos

distintos, o uso padrão, segundo os preceitos fixados na chamada gramática normativa

com base nos textos dos bons autores, e o uso coloquial de falantes menos afeitos ou

desatentos a essas normas.

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ROMANCE DE CABIÚNA

Ribeiro Couto

Cabiúna era menino

E dizia: – “Eu vou na Europa”.

A mãe dele respondia:

“– Fica quieto, Cabiúna.

Cabiúna, não me amola”.

A mãe dele não gostava.

Ralhava sempre, ralhava...

De dia ela costurava

Em frente ao mar, na janela.

E, costurando, cantava.

“– Minha mãe, eu cresço logo,

Fico grande e vou na Europa.

Deixa eu ir, minha mãezinha?”

“– Que menino sem cabeça!

Sai daqui, não me aborreça.”

“– Deixa eu ir, minha mãezinha...”

Mas toda noite ela entrava

No quarto em que ele dormia

E, junto dele, chorava.

Cabiúna ficou grande,

Ficou grande e foi-se embora.

Trabalhando de taifeiro

Num navio brasileiro.

Aconteceu que uma noite,

Junto de um cais estrangeiro,

Virou criança: chorava.

Alguém, passando, assobiava

Uma canção parecida

Com as que a mãe dele cantava.

(Couto, 1943, p. 52-53.)

Não se esqueceu de, antes de tudo, dizer que era um texto reproduzido com

fidelidade do último livro de poemas de Ribeiro Couto, Cancioneiro do Ausente, com

revisão do próprio autor; forneceu-nos a indicação bibliográfica respectiva e alertou-nos

para o fato de que os textos são divulgados muitas vezes com grosseiras deturpações e

erros tipográficos, e é preciso então que os seus usuários procurem deles as lições

fidedignas e as edições que os transcrevam de boas fontes. Foram estas as primeiras

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noções que eu tive dos fundamentos da ciência da linguagem que tem por finalidade zelar

pela existência e conservação dos textos como expressão mais alta da cultura e pela

reprodução dos mesmos com absoluto respeito ao labor autoral. Tudo foi feito, no entanto,

sem que Sousa da Silveira uma única vez mencionasse os nomes com que essa ciência e

arte passou a ser conhecida no Brasil a partir da década de 1950: Crítica Textual /

Ecdótica.

A aula inaugural de Sousa da Silveira assinala o despertar do meu interesse pelo

estudo mais aprofundado e cuidadoso dos textos e teve imediata influência nas minhas

atividades de magistério, que por curiosa coincidência se haviam iniciado na parte da

manhã daquele mesmo inesquecível dia 15 de março de 1945, em turmas do curso ginasial

do modesto mas conceituado educandário Instituto Menino Jesus, de que eu fora aluno

nos anos anteriores. Com efeito, desde logo percebi que não devia concentrar as minhas

atenções unicamente no estudo da teoria gramatical, como geralmente se fazia, mas

também ensinar aos meus alunos, através de exercícios de leitura e interpretação de textos

e da prática de redação, os preceitos para se expressarem com clareza e propriedade e de

acordo com as normas da língua padrão. Para isso, contei também com o precioso auxílio

do programa de Português do Curso Ginasial e das instruções metodológicas para a sua

execução elaborados por Sousa da Silveira, em 1942, como parte da reforma do ensino

secundário posta em vigor pelo Ministério da Educação e Saúde, sob a clarividente

direção do Ministro Gustavo Capanema (BRASIL, 11-15/07/42).

Dediquei-me desde logo à busca das boas edições como recomendava o grande

Mestre. Entre as que consegui adquirir sem demora, estavam as suas edições críticas e

comentadas de autores brasileiros da fase romântica – Suspiros Poéticos e Saudades, de

Gonçalves de Magalhães (1939), e Obras de Casimiro de Abreu (1.a edição, 1940), e as

das antologias dos poetas brasileiros da fase romântica e da fase parnasiana de Manuel

Bandeira, as quais me fizeram ver que havia pela frente todo um longo trabalho a ser feito

para divulgar nossos autores em edições de texto autêntico e comentado como apoio aos

estudos de língua e literatura nos cursos de Letras.

Outras investigações me ensinaram que essa mesma preocupação de restituir aos

textos a sua versão original, tão deturpada nas edições então existentes, deu início, no

século XIX, mas de forma limitada e precária, às atividades de Crítica Textual no Brasil,

por parte de historiadores, entre os quais sobressaía a figura de Francisco Adolfo

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Varnhagen. Em Portugal, do final do século XIX às primeiras décadas do século XX, com

idênticas preocupações, três notáveis filólogos - Epifânio Dias, Leite de Vasconcelos e

Carolina Michaëlis – se entregaram ao labor de preparar as bases do empreendimento de

publicar edições críticas de obras-primas da literatura portuguesa. O que fizeram teve

grande influência na formação dos filólogos brasileiros da primeira metade do século XX.

As suas observações metodológicas sobre as pesquisas para a identificação dos textos de

base e os seus comentários filológicos podem-se ler nas numerosas obras que

conseguiram publicar, verdadeiro monumento que propiciou grande avanço às ciências

da linguagem. Tiveram particular repercussão no Brasil a edição de Os Lusíadas de

Epifânio Dias (1910, com reedição em 1916), as Lições de Filologia Portuguesa

(1911/1926) e as edições de textos arcaicos de Leite de Vasconcelos (1903-5), as Lições

de Filologia Portuguesa (1911-3), os estudos preliminares e as edições críticas de

Carolina Michaëlis sobre textos medievais e textos quinhentistas (Cancioneiro da Ajuda

[1904], autos de Gil Vicente [1922], poesias de Sá de Miranda [1885])2.

A divulgação no Brasil da história e dos fundamentos teóricos da Crítica Textual

e da arte de estabelecer criticamente os textos só se deu de fato a partir da década de 1950,

graças principalmente à operosidade de dois grandes filólogos, Celso Cunha e Antônio

Houaiss, ambos ex-alunos na UDF e discípulos declarados de Sousa da Silveira. Celso

Cunha foi o sucessor de Sousa da Silveira em 1953 como catedrático de Língua

Portuguesa da Faculdade Nacional de Filosofia e, três anos mais tarde, passou a contar

com o apoio político do governo federal, no âmbito do Ministério da Educação e Cultura

(MEC) e de uma das suas repartições, o Instituto Nacional do Livro (INL), para realizar

os seus planos culturais de grande alcance. Ele e Antônio Houaiss, associados a dois

outros importantes colaboradores, o filólogo Antônio José Chediak e o filólogo e

bibliógrafo Galante de Sousa, deram divulgação, através de aulas e palestras, da imprensa

e das páginas da prestigiosa Revista do Livro, órgão do INL, a preciosos dados para tornar

2 Convém ressaltar que, como sinal dos tempos que estamos vivendo, há nos cursos de graduação e de pós-

graduação em Letras em nosso país, de modo geral, uma lamentável depreciação dos estudos históricos e

um propositado desconhecimento ou descaso em relação a esses citados autores brasileiros e portugueses

do passado e às obras que nos legaram. Todavia, pelo que tenho observado, os neolinguistas e professores

de literatura que os ignoram e consideram superados terão com o tempo de explicar aos seus alunos e

orientandos a razão de estarem reaparecendo nos registros da Internet tantos autores e obras importantes

relegadas ao esquecimento, mas de fundamental importância para os pesquisadores atuais que não de

deixam seduzir pela supervalorização das novidades.

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mais conhecidas e valorizadas as atividades de Crítica Textual, mas também os nomes

dos pioneiros dos estudos da ciência filológica em outros países, além de Portugal

(Alemanha, Itália, França, Espanha e Inglaterra, notadamente). Foi a partir daí que os

outros estudiosos de Crítica Textual e de língua portuguesa e literaturas brasileira e

portuguesa, excetuados alguns poucos bem informados que já haviam tido acesso às obras

mais antigas e mais recentes, se familiarizaram no Brasil com estudos teóricos de Crítica

Textual e a aplicação dos mesmos aos textos clássicos e modernos editados em outros

países, como os de autoria do alemão Karl Lachmann, dos franceses Joseph Bédier, Louis

Havet, Henry Quentin, Alphonse Dain e L. Laurand, dos espanhóis Menéndez Pidal e

Menéndez y Pelayo, dos italianos G. Pasquali, Alberto Chiari, e outros mais. Lembre-se,

por exemplo, que um desses filólogos, Alberto Chiari, com a sua experiência de editor de

textos de escritores italianos, num pequeno mas substancioso artigo intitulado “La

edizione critica”, ensinou aos filólogos brasileiros de modo geral a técnica da preparação

de uma edição crítica e a terminologia para designar as várias etapas do labor filológico3.

Ao filólogo Celso Cunha não pode deixar de ser creditada a participação em duas

iniciativas relevantes, em que teve o apoio dos três mencionados colaboradores dos seus

projetos, a partir das quais ainda mais contribuiu para dar o merecido relevo às atividades

de Crítica Textual como um dos meios mais eficazes de proteção do nosso patrimônio

literário. A primeira delas foi a criação, em 1956, sob o patrocínio do Instituto Nacional

do Livro, de um “Curso de Preparação de Textos”, em que se matricularam dedicados

pesquisadores para cumprir, sob a orientação de professores de diferentes disciplinas, as

tarefas de elaboração de edições críticas de obras de autores brasileiros do século XIX. A

segunda, a criação, no ano de 1958, por ato do Ministro da Educação e Cultura Clóvis

Salgado, da Comissão Machado de Assis, encarregada no ano do cinquentenário da morte

do grande escritor de elaborar as edições críticas das suas poesias e da obra de ficção

machadiana. No decorrer das atividades regulares do Curso e da Comissão, infelizmente

por poucos anos, interrompidas como foram nos governos seguintes, ficaram os exemplos

de como seria importante que o estudo e o ensino da Crítica Textual fossem

institucionalizados na formação superior dos professionais de Letras, de História e de

3 O artigo de Chiari, com o título de “La edizione critica” (1951), está dividido em três partes: “I –

Legittimità e caratteri della edizione critica; II – Breve storia della edizione critica; III – Come si fa una

edizione critica”. Foi a partir daí que se firmou o extraordinário prestígio dos filólogos italianos no

Brasil.

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outras ciências humanas, como meio de assegurar ao patrimônio literário o mesmo

amparo previsto nos textos legais que regulam a atuação do Serviço do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). É de lamentar, porém, que Celso Cunha não se

tenha lembrado de criar na Faculdade de Letras da UFRJ a disciplina autônoma de Crítica

Textual, para que alunos e professores interessados pudessem consagrar mais tempo aos

estudos teóricos e às atividades nela previstas.

Cabe-me aqui dizer sem rodeios, inclusive por não ser cultor da falsa modéstia,

que quando tudo o que relatei acontecia auspiciosamente, eu, como discípulo de Sousa da

Silveira, organizava os meus programas de ensino de Língua Portuguesa, tanto no ensino

secundário de Língua Portuguesa (até 1970) como no ensino superior de Filologia /

Crítica Textual (até 2009) com a previsão da existência de duas disciplinas distintas:

Linguística Portuguesa (sincrônica e diacrônica) e Filologia (Crítica Textual / Ecdótica).

Notei desde logo que os alunos se encantavam com as aulas de interpretação e comentário

de textos, que propiciava o contato com os textos e os fazia perceber na leitura atenta das

páginas antológicas de autores brasileiros e portugueses ‒ não apenas os modernos e

contemporâneos, mas até mesmo os clássicos e os do período medieval da literatura

portuguesa ‒ a riqueza de dados fonológicos, morfológicos, sintáticos, semânticos antes

não observados com a devida atenção.

Sentia eu, no entanto, que sendo ciências com objetos formais diferentes ‒ a

primeira destinada ao estudo da história da língua portuguesa e do sistema linguístico em

sua variedade de usos, a segunda destinada ao estudo dos textos como expressão da

cultura popular ou erudita ‒ não podiam estar amarradas uma à outra na organização

curricular, pois precisavam ter autonomia própria para desenvolverem mais amplamente

os seus programas específicos. Por isso, em 1978, no Instituto de Letras da UFF, depois

de vencer a barreira do absurdo preconceito de vários professores, para os quais

Linguística e Filologia eram quase a mesma coisa e Crítica Textual devia ser o mesmo

que Crítica Literária, consegui ver aprovada pelo Departamento a que eu pertencia a ideia

da criação da disciplina autônoma de Filologia / Crítica Textual, como básica e

indispensável à boa formação dos que se dedicam aos estudos históricos, linguísticos e

literários. Passei à condição de Professor Titular da nova disciplina, o que me permitiu

anos depois, em 1984, obter nesse setor o título de Livre-Docente, com a apresentação da

tese a que dei o título de Sousa da Silveira: o Homem e a Obra; Sua Contribuição à

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Crítica Textual no Brasil, publicada em seguida como coedição da Editora Presença e do

INL (1984).

Para completar este longo relato, feito com o propósito de fornecer dados

importantes para a valorização da Crítica Textual e o reconhecimento da posição que deve

ter no ensino superior de Letras e outras ciências humanas, quero ainda referir-me ao

resultado de iniciativas minhas na UFF nesse sentido a partir da década de 1960. Tudo se

tornou possível quando se criou em 1961 na cidade de Niterói a Universidade Federal do

Estado do Rio de Janeiro (hoje Universidade Federal Fluminense ‒ UFF), com a

incorporação de diversos Institutos, Escolas e Faculdades autônomos, entre os quais a

Faculdade Fluminense de Filosofia, onde eu trabalhava desde 1957 como professor da

disciplina de Língua Portuguesa. Passei a exercer na UFERJ/UFF, a partir de 1963, além

das atividades docentes, as administrativas que me foram confiadas, como as de

Secretário, Chefe de Departamento, Coordenador dos cursos de graduação e de pós-

graduação, Diretor do Instituto de Letras o que me facilitou a obtenção de meios para

levar avante alguns planos que absorviam a minha atenção.

Foi em 1963, creio que pela primeira vez no ensino universitário brasileiro, já

numa posição funcional mais estável e contando com maiores recursos, que instituí nas

minhas turmas a pesquisa como atividade obrigatória dos alunos, propondo-lhes cinco

tipos de trabalho a serem realizados em sala de aula, ou em bibliotecas públicas do Rio

de Janeiro. A maioria dos alunos optou por pesquisas no âmbito da Crítica Textual,

interessando-se pelo estudo comparativo das melhores edições de obras literárias com as

edições dos mesmos textos lançadas no comércio por editores de nome em nosso país.

Tinha eu o propósito de documentar o absurdo tratamento a que eram submetidas as obras

dos nossos melhores autores por parte de editores e preparadores de texto que se achavam

no direito de alterar o que encontravam nos originais, movidos de preconceitos

gramaticais e literários da pior espécie, ou por parte de tipógrafos e revisores tipográficos

de precários conhecimentos linguísticos, os quais tomavam como erros tudo quanto

ultrapassava os limites dos seus deficientíssimos conhecimentos da língua em sua

múltipla variedade e riqueza.

Como a essa altura eu já era autor de trabalhos recebidos com muitos encômios

pela crítica especializada ‒ entre eles a reedição em 1957 com o texto rigorosamente

estabelecido da obra clássica Dificuldades da Língua Portuguesa, de Manuel Said Ali,

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com prefácio de Serafim da Silva Neto ‒ recebi da editora Melhoramentos, de São Paulo,

por indicação de Augusto Meyer, Diretor do INL, a incumbência de cuidar com idêntico

rigor dos textos da sua coleção “Panorama da Literatura Brasileira”, que vinham sendo

publicados com grosseiras alterações que os descaracterizavam por completo. De uma

primeira encomenda resultou, em 1966, a publicação do romance Dom Casmurro, de

Machado de Assis, numa edição crítica cujo minucioso registro filológico a tornou, no

juízo do filólogo Celso Cunha, um modelo para empreendimentos semelhantes4. Tratei

logo de convocar os meus melhores alunos da UFF para colaboradores na feitura de outras

edições, e foi com a sua ajuda que, de 1970 a 1978, pude ver publicadas em edições de

excelente aspecto gráfico as edições críticas ou de texto crítico de romances de referência

obrigatória nos estudos sobre o Romantismo no Brasil ‒ Ubirajara, O Sertanejo, Til, O

Tronco do Ipê e Senhora, de José de Alencar, A Moreninha, de Joaquim Manuel de

Macedo, Memórias de um Sargento de Milícias, de Manuel Antônio de Almeida, A

Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães. Todavia, nos anos seguintes novas

circunstâncias me fizeram interromper a realização desse plano que tivera tão firme apoio

da editora Melhoramentos.

Um dos trabalhos que mais interesse despertou entre os alunos foi o relativo ao

romance O Cabeleira, do autor cearense Franklin Távora, nascido em 1842 e falecido em

1888, figura do movimento realista em nossa literatura. É um romance de que só existe

uma edição em vida do autor, publicada no Rio de Janeiro em 1876. Um grupo de alunas,

em que sobressaíram Maria Alice Pires Cardoso de Aguiar e Dulce Mendes, fez sob a

minha orientação o minucioso cotejo desse texto de 1876 com o da edição de 1963 da

editora Melhoramentos de São Paulo, e logo em seguida eu mesmo conferi tudo o que

havia sido anotado no volume da Melhoramentos que ainda conservo em meu poder. Com

base nessas anotações, ditei para a minha preciosa colaboradora Lília Cerqueira Leite os

4 Atendendo a honroso convite do Dr. Mauro Romero, então Diretor da Editora da Universidade Federal

Fluminense, desejoso de que uma obra de Machado de Assis figurasse na lista das edições da EdUFF, tomei

a meu cargo preparar uma reapresentação da minha edição crítica de Dom Casmurro (SILVA, 2014). Ao

rever o que já estava na edição de 1966 e no relançamento da mesma em 1975, quis demonstrar a minha

concepção atual de edição crítica, segundo a qual não é suficiente publicar o texto crítico acompanhado do

registro filológico, pois o leitor nela deve dispor de elementos para situar o autor e a obra em seu contexto

histórico-cultural próprio. Para isso, acrescentei ao volume um apêndice de cerca de 200 páginas, com

numerosos dados biobibliográficos, um estudo sobre a fortuna crítica do romance e um glossário de nomes

próprios e nomes comuns, com a consulta aos quais os leitores no Brasil, em Portugal e em outros países

onde há algum interesse pela literatura brasileira se habilitam a uma leitura renovada do romance, bem

diversa da leitura tradicional.

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dados do quadro abaixo, em que as discrepâncias entre os dois textos estão classificadas,

em duas colunas, permitindo ao leitor ter agora ideia nítida, pelo que consta da coluna B,

do descaso com que casas editoras, até mesmo as de maior prestígio, costumam tratar os

textos, num absoluto desrespeito ao direito autoral sagrado de tê-los reproduzidos com

absoluta fidelidade ao que escreveram.

Não posso, ainda, deixar de mencionar três outras iniciativas com que procurei

contribuir para o reconhecimento da relevância das atividades de Crítica Textual, ainda

não reconhecidas na medida exata entre um número expressivo de professores e

pesquisadores da área de Letras, como facilmente se pode comprovar pelas afirmações

que fazem em sala de aula ou pelas atitudes que tomam para impedir que a ciência

filológica se alce ao lugar merecido no ensino universitário.

A primeira delas, no ano de 1973, decorreu do fato de estar eu então no exercício

dos cargos de Diretor do Instituto de Letras da UFF e de Diretor do Centro de Pesquisas

da Fundação Casa de Rui Barbosa (FCRB), onde como pesquisador eu dava às atividades

de Crítica Textual uma constante atenção. Tendo participado em Lisboa, em novembro

do ano anterior, da chamada Reunião Internacional de Camonistas, com comunicações

que deixaram patente o interesse de tratar do ingente problema da fidelidade dos textos

nas edições da obra lírica e épica do Poeta, propus que a segunda Reunião se realizasse

no Brasil sob o patrocínio das duas instituições que eu ali representava. Coube-me então

a organização do que denominei Programa Especial UFF-FCRB, e nele previ a realização

de dois congressos internacionais interligados, o Congresso Internacional de Filologia

Portuguesa (com um temário referente aos estudos teóricos de Crítica Textual e sua

aplicação aos textos em língua portuguesa) e a II Reunião Internacional de Camonistas

(em cujo temário predominavam as indicações de estudos sobre os textos camonianos,

especialmente os da obra lírica). Não há dúvida de que, tendo podido reunir em Niterói e

no Rio de Janeiro os ilustres filólogos brasileiros (no mais amplo sentido da palavra)

Sílvio Elia, Gládstone Chaves de Melo, Celso Cunha, Cleonice Berardinelli, Leodegário

A. de Azevedo Filho, Rosalvo do Valle, Evanildo Bechara, Walmírio Macedo, Hélio

Simões, José Aderaldo Castelo, Segismundo Spina, Isaac Nicolau Salum, e os

estrangeiros Hernâni Cidade, Jacinto do Prado Coelho, Américo da Costa Ramalho,

Herculano de Carvalho, Paul Teyssier, Roger Bismut, Luciana Stegagno Picchio, Mark

Curran e vários outros, como convidados para participar de sessões com amplos debates

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221

e de encontros na UFF, no Real Gabinete Português de Leitura e na FCRB, num

movimento de valorização das atividades de Crítica Textual, pude tornar evidente a

importância do relacionamento e do intercâmbio dos que, estando a serviço do

desenvolvimento cultural, se encarregam de cuidar da preservação dos textos e da ingente

tarefa de promover a sua divulgação em edições fiéis às lições originais.

A segunda iniciativa e a de maior significação, já mencionada, foi a de propor em

1978 ao Departamento de Linguística e Filologia da UFF, sob a direção do Professor

Walmírio Macedo, a inclusão nos currículos dos cursos de graduação em Letras, como

obrigatória, a disciplina que recebeu inicialmente a denominação de Filologia (Crítica

Textual), e hoje lá funciona com a denominação de Crítica Textual / Ecdótica. Essa

inclusão, aprovada graças aos bons ofícios do Chefe do departamento e ao apoio dos

demais professores presentes na reunião, permitiu que se instituísse inclusive uma

modalidade nova de currículo, destinada à formação de revisores críticos e preparadores

de edições críticas5. Todavia, após a minha aposentadoria na UFF em 1989, esse currículo

foi desativado, quero crer que em decorrência da incompreensão do seu significado.

A terceira iniciativa foi a de realizar no ano de 1983 o programa que organizei

para a comemoração do centenário de nascimento de Sousa da Silveira, em sessões de

estudos e debates, com a participação de seus principais discípulos e de outros ilustres

filólogos, durante as quais ficaram em especial realce a sua atuação como pioneiro das

atividades da Crítica Textual no Brasil e as suas primorosas edições críticas de obras-

primas da literatura portuguesa e da literatura brasileira.

5 Em 1981, numa turma de 10 alunos que haviam optado pelo referido currículo, e no cumprimento do que

estabelecia a ementa “Filologia 5 – Prática de Crítica Textual”, assumi em sala de aula a direção do trabalho

de preparar uma edição crítica do romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, por encomenda

da presidência do Real Gabinete Português de Leitura, que me forneceu o microfilme do manuscrito

autógrafo camiliano conservado em seus arquivos, a ser reproduzido em fac-símile nessa edição, em

confronto com o texto crítico da quinta edição do romance e o registro das variantes das outras edições que

foram objeto de cotejo. Cada um dos alunos teve diante dos olhos na mesa em que trabalhávamos a cópia

autenticada do exemplar de uma das seis edições em vida do autor ou de três edições póstumas de particular

importância, e uma aluna se encarregou de ler num leitor-copiador de microfilmes o manuscrito original.

A leitura conjunta ensejou a reunião prévia de dados com os quais em minha casa, já no decorrer do ano

seguinte, eu pude verificar a excelência do que fora realizado e preparar os originais da obra, logo em

seguida encaminhados para os trabalhos de composição e impressão às oficinas gráficas da editora Lello &

Irmão, na cidade do Porto (1983), incluindo o fac-símile do manuscrito em confronto com o texto de base

da quinta edição, a última de que tomou conhecimento o autor, e o registro das variantes em notas de pé de

página.

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NOTAS SOBRE DUAS EDIÇÕES DO ROMANCE O CABELEIRA,

DE FRANKLIN TÁVORA:

A EDIÇÃO PRÍNCIPE DE 1876 E A EDIÇÃO MODERNA DE 1963

As diferenças entre o texto da edição de 1876, que obrigatoriamente tem de ser

tomado como texto de base para qualquer reedição que dele se queira fazer, por ser o

único em vida do autor e por ele mesmo revisto, e o texto da edição Melhoramentos de

1963, têm as seguintes explicações:

1) O preparador da edição de 1963 não levou em conta a errata do final do volume

de 1876, em que Franklin Távora aponta não apenas falhas e erros tipográficos a serem

corrigidos, mas também alterações da sua própria redação, como por exemplo ao pedir

que se substitua “Infelizmente para o Cabeleira” por “Por infelicidade do Cabeleira” (cap.

IV, § 7);

2) O mesmo preparador da edição de 1963, imbuído de preconceitos gramaticais

e literários, desconhecedor de formas lexicais e construções gramaticais legítimas, e

desconhecedor do princípio da Ecdótica moderna segundo o qual o texto de um autor tem

de ser preservado com todas as suas características de forma e de conteúdo, mesmo

quando ele não obedece às normas do uso linguístico e literário da sua época, fez abusivas

modificações de formas lexicais e de construções sintáticas que na sua ótica eram

inaceitáveis;

3) Por outro lado, ele próprio ou algum revisor tipográfico que se encarregou da

tarefa de confrontar o texto original levado à tipografia com as provas da composição

tipográfica para essa nova edição, deixou escapar uma série de falhas e erros tipográficos

que ainda mais invalidam essa edição como fonte de qualquer tipo de estudo ou pesquisa

filológica, linguística ou literária, o que se comprova com o quadro comparativo abaixo.

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FRANKLIN TAVORA, O Cabeleira

CORREÇÕES DO TEXTO FEITAS NA ERRATA DA EDIÇÃO DE 1876 (ÚNICA EDIÇÃO DO ROMANCE, REVISTA

PELO AUTOR), DE QUE, NO ENTANTO, NÃO TOMOU CONHECIMENTO O PREPARADOR

DE EDIÇÃO MELHORAMENTOS DE 1963.

Capítulo

e parágrafo

Correções propostas por Franklin Távora

nas páginas 316-317

O que se lê na edição de 1963

de O Cabeleira

I, 61 a população obrigada a aproximar-se

dos assassinos

a populaça obrigada a aproximar-se dos

assassinos

IV, 3 É porque .... está sujeita É que .... está sujeita

IV, 7 Por infelicidade do Cabeleira Infelizmente para o Cabeleira

IV, 75 deves ter-lhe .... respeito Deves ter .... respeito

V, 1 recolhera-a em sua casa .... e começara recolheu-a em sua casa .... e começou

VI, 30 se sucedeu a desgraça se suceder a desgraça

VI, 33 este grave assunto este grande assunto

VI, 34 tal era o terror tanto era o terror

IX, 14 que não voltasse que voltasse

X, 84 Jura juramento

X, 60

indicaram que a força tinha dado com

os bandidos. Qualquer aviso para que

fugissem seria inútil

indicaram que a força tinha dado com os

bandidos, e que qualquer aviso para que

fugissem seria inútil

XI, 63 dos que ficam distantes em sua maior

proximidade desta vila duas léguas

dos que ficam distantes desta vila duas

léguas

XI, 82 Antes que anoitecesse Tanto que anoiteceu

XI, 88 Pouco adiante ouviu pisadas Pouco adiante ouviu vozes

XII, 25 para ficar inteiramente na moda para estar inteiramente na moda

XIII, 11

tinha o Cabeleira adquirido uma

virtude – a sobriedade, obra de longas

privações

tinha o Cabeleira adquirido uma virtude

– sóbria 0bra de longas privações

XIII, 74 um salvo das águas, outro escapo ao

tiro iminente

um salvo das águas, outro salvo do tiro

iminente

XIV, 26 um negociante de gados marchante de gados

XIV, 63 a oração .... vence até as almas a oração .... vence todas as armas

XVI, 3 Uma manhã em que a fome e a fadiga o

tinham prostrado

Uma tarde em que a fome e a fadiga o

tinham prostrado

XVI, 46 O sol despertou o bandido O sol acordou o bandido

XVIII,

27

viram-se desfilar viu-se desfilar

TEXTO DA EDIÇÃO DE 1876 (A) EM CONFRONTO COM O TEXTO MODIFICADO POR INTERFERÊNCIA INDEVIDA DO

PREPARADOR DA EDIÇÃO DE 1963 (EM): ALTERAÇÃO DE FORMAS LEXICAIS VARIANTES E CONSTRUÇÕES SINTÁTICAS

TIDAS COMO DESLIZES GRAMATICAIS OU IMPERFEIÇÕES ESTILÍSTICAS DO AUTOR.

Cap. / §

Na edição de 1876 (A)

Na edição de 1963 (EM)

Int., 3 o céu de opalo o céu de opala

I, 40 Por agora vamos ao que importa. Para agora vamos ao que importa.

II, 11 achava-se a pouca distância achando-se a pouca distância

IV, 9 ou de proporcionar-lho ela ou de proporcioná-lo ela

IV, 41 eu vir esconder o coelhinho eu ir esconder o coelhinho

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V, 18 levar para a casa levar para casa

VI, 1 até aquele momento até àquele momento

XIII, 9 entraram ele e Luísa Entrara ele e Luísa

VIII, 55 os malfeitores bater na porta? os malfeitores baterem na porta?

XVI, 71 o momento dos negros descarregarem o momento de os negros descarregarem

I, 8 dentro nas matas dentro das matas

I, 38 dentro na canoa dentro da canoa

I, 43 saltou novamente dentro nela saltou novamente dentro dela

II,13 pretensão, que ao princípio nutrira pretensão, que a princípio nutrira

IX, 5 Ao princípio A princípio

IX, 53 aonde vás? aonde vais?

XIII, 17 o sol em pino O sol a pino

X,29 d’agora por diante de agora por diante

XII, 13 praça d’armas praça de armas

XV. 79 redes d’aço redes de aço

Int, 8 listrões d’água prateada listões d’água prateada

Int, 22 região amazônia região amazônica

Int, 24 minha palheta minha paleta

Int, 27 rios .... até suas nascenças Rios .... até suas nascentes

Int, 29 sobrolho da madrasta sobreolho da madrasta

I, 49 sorprendidos Surpreendidos

II, 59 o abdômen O abdome

II, 61 os escondrijos da taverna os esconderijos da taverna

V, 2 comboieiros e boiadeiros comboeiros e boiadeiros

V, 51 a cronha do bacamarte A coronha do bacamarte

VI, 6 mondés na capoeira mundéus na capoeira

XI, 40 receiar Recear

XVII, 3 alvorotou-se a multidão alvoroçou-se a multidão

XVII, 9 cobardia Covardia

F, 20 um cataclisma um cataclismo

F, 37 das palavras seu e sinha antepostas aos

nomes próprios

das palavras seu e sinhá antepostas

aos nomes próprios

F, 37 contrações sô e sá contrações só e só

F, 38 jerumu Jerimum

Int, 10 dous anos Dois anos

Int, 12 cousas literárias coisas literárias

II, 78 uma mouta de muçambês Uma moita de muçambés

V, 2 se acoutavam negros fugidos Se acoitavam negros fugidos

Int, 10 Dous anos Dois anos

Int, 12 cousas literárias coisas literárias

II, 78 uma mouta de muçambês Uma moita de muçambés

V, 2 se acoutavam negros fugidos Se acoitavam negros fugidos

Int, 10 dous anos Dois anos

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Int, 12 cousas literárias coisas literárias

II, 78 uma mouta de muçambês Uma moita de muçambés

V, 2 se acoutavam negros fugidos Se acoitavam negros fugidos

Int, 10 dous anos Dois anos

F, 42 antes do Sol sair antes de o Sol cair

F, 44 umas filhóis, a que chamam beijus uns filhós, a que chamam beijus

TEXTO DA EDIÇÃO DE 1876 (A) EM CONFRONTO COM O TEXTO MODIFICADO DA EDIÇÃO DE 1963 (EM), MAIS

PROVAVELMENTE POR ERRO DE REVISÃO TIPOGRÁFICA: OMISSÃO DE PALAVRAS DO TEXTO A, SUBSTITUIÇÃO DE

UMA PALAVRA OU DE UMA EXPRESSÃO POR OUTRA (FREQUENTEMENTE COM ALTERAÇÃO DO SENTIDO DA FRASE),

SUBSTITUIÇÃO DE UMA PALAVRA POR OUTRA QUE NÃO FAZ SENTIDO, ALTERAÇÃO DA PONTUAÇÃO ORIGINAL.

Cap. / §]

Na edição de 1876 (A)

Na edição de 1963 (EM)

Int, 14 se Deus me ajudar se Deus ajudar

Int, 21

quando tudo não tenha ali uma vida

que não teve princípio e que não há de

ter fim, só o que resta ao corpo é

nascer

quando tudo não tenha ali uma vida

que não resta ao corpo é nascer

Int, 24 continentes, que em todas as direções

iam ficando ou aparecendo

continentes, em que todas as direções

iam ficando ou aparecendo

Int, 31 floresta escusa floresta escura

Int, 31 mercados agrícolas, industriais,

comerciais, artísticos

mercados agrícolas, industriais,

artísticos

Int., 39 há vida, graça, e colorido nativo há vida, graça e colorido nativo

I, 1 Autorizam-nos a formar este juízo Autorizavam-nos a formar este juízo

I, 16 menos feio menos feito

I, 17 corro sem demora a armar o laço corro sem demora armar o laço

I, 29

pequenos armazéns de taipa de sebe

em que se vendiam miudezas e

ferragens. Estes armazéns, que logo

depois de prontos acharam alugadores

pequenos armazéns de taipa de sebe

em que se vendiam miudezas e

ferragens, que logo depois de prontos

acharam alugadores

I, 35 arrastando uma vara pela mão, saltou

à frente dos malfeitores

arrastando uma vara pela mão, soltou

à frente dos malfeitores

I, 63 ainda que lhe custasse a própria vida ainda que custasse a própria vida

II, 50 digna de riso se não despertasse

compaixão

digna do riso e não despertasse

compaixão

II, 56 só tinha para ele atenções só tinha ele atenções

II, 58 as diferentes fases as diferentes faces

III, 48 Nunca se encontraram Nunca se encontram

III, 57 o cadáver de Gabriel .... tingia-as com

o seu sangue

O cadáver de Gabriel tingia-se

IV, 6

a mulher não é somente uma

providência, é sobretudo uma

divindade

A mulher não é somente uma

providência, – sobretudo uma

divindade

IV, 6 um caos uma caos

IV, 96 foram de todo esquecidos foram de todos esquecidos

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V, 14 na missa que o coadjutor celebrava na missão que o coadjutor celebrava

V, 2 dentro em pouco passou a ser estimada dentro em pouco era estimada

V, 36 vencida do terror vencida de terror

V, 37 lobrigou Luisinha um vulto nobrigou Luisinha um vulto

V, 8 na malta dos salteadores na mata dos salteadores

VI, 1 Não se pode descrever o abalo Não se pode escrever o abalo

VI, 20 Era de índole pacífico Era de índole pacífica

VI, 32 Sem pregar olhos Sem pregar olho

VI, 45 Pouco adiante Pouco diante

VI, 66 corpo todo crivado de facadas corpo crivado de facadas

VI,65 golpe que vibrara golpe que vibrava

IX, 4 Acometimento Acontecimento

IX, 86 – Zé Gomes! gritou este. Já te

esqueceste de que sou teu pai?

– Zé Gomes, olha bem o que dizes!

redargüiu Joaquim, teu pai?

IX, 88 – Zé Gomes, olha bem o que dizes!

redargüiu Joaquim

– Zé Gomes, olha bem o que dizes!

redargüiu de novo Joaquim.

X, 1 Que valeu a Luísa ter-se libertado das

mãos de Joaquim .... ?

Que valeu a Luísa ter-se libertado das

mãos de Joaquim .... !

X, 103 para um fim de grande importância Para um fim de importância

X, 25 fazer isso, nunca. fazer isso, nunca, nunca.

X, 38 em demanda da mata em damanda da mata

X, 73 ocultava-os aos olhos da justiça ocultava-os, aos olhos da justiça

X, 73 com tal firmeza, que nunca deixou de

ser fatal

com tal firmeza que nunca deixou de

ser fatal

XI, 11 Poderá comer das minhas sardinhas Poderá comer mais sardinhas

XI, 46 Nós não nos podemos demorar mais Nós não podemos demorar mais

XI, 5 desconfianças e medos desconfiança e medos

XI, 57 Avie-se, que é tempo avie-se que é tempo

XI, 58 situação que se lhe afigurou

irrevogável

situação que lhe afigurou irrevogável

XI, 61 passado de medo, que o caso não era

para menos

passado de medo, que o acaso não era

para menos

XI, 63 o fruto da economia e do trabalho O fruto da economia e o trabalho

XI, 63 ele me diz ele disse

XI, 63 males privados e públicos males privados e publicados

XI, 65 Chegando a seu distrito Chegado ao seu distrito

XI, 70 tirara a vida tirava a vida

XI, 72 Ceiando Ceando

XI, 94 confiando nos recursos conquanto nos recursos

XI, 98 quero olhar eu quero olhar

XII, 1 Por um cordão sanitário por cordão sanitário

XII, 12 de prisões, e de outros muitos

elementos

de prisões e de outros muitos elementos

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XII, 30 Teófilo Gautier, escritor de consciência

e bom gosto, pensa

Teófilo Gautier, pensa

XII, 31 Que tão cedo foi arrebatado Que cedo foi arrebatado

XII, 38 se sente o prisioneiro mais desejoso de

estar nessa suavíssima prisão

se sente o prisioneiro mais perigoso de

estar nessa suavíssima prisão

XIII, 10 mais penosa se tornava para os

fugitivos

tanto mais penosa tornava para os

fugitivos

XIII, 12 até para alguns confortos até alguns confortos

XIII, 34 A faca nua na outra A faca na outra

XIII, 50 trazia no cós da ceroula trazia nos cós da ceroula

XIII, 61 Sou incapaz de negar-lha Sou incapaz de negar-lhe

XIII, 64 alma benévola e amorosa da pobre

Luías

alma benévola da pobre Luísa

XIII, 67 recebido nestas palavras um aviso

celeste

recebido nestas palavras aviso celeste

XIV, 1 as sombras começaram a cobrir a

vasta solidão

as sombras começaram a vasta solidão

XIV, 82 Soluços, como de animal bravio Soluços, como animal bravio

XIV, 88

ia quando a entrar aí com os tristes

restos do seu tesouro, um homem

apareceu na extremidade da clareira

Quando ia a entrar aí com o triste resto

do tesouro, um homem apareceu na

extremidade da lareira

XIV, 9 uma chã, no fim da chã um bosque Uma chã, no fim de chã um bosque

XV 24

era o lavrador que desmanchava mais

mandioca no fabrico da farinha, que

era de tão boa qualidade que competia

no mercado do Recife

era o lavrador que desmanchava mais

mandioca que competia no mercado do

Recife

XV, 19 Hei de mostrar-lhe que o que digo,

digo

Hei de mostrar-lhe o que digo.

XV, 35 as duas rodas as duas ordas

XV, 54 chegam a oferecer versos chegaram a oferecer versos

XV, 7 andar para dentro e para fora andar dentro e para fora

XV, 7 esperanças que não se realizaram esperanças que não se realizam

XV, 79 encoberto aos olhos da vítima encoberto os olhos da vítima

XVI, 2 O ananazeiro bravo O ananazeiro bravio

XVI, 8 Vou tomar-lha para mim Vou tomar-lhe para mim

XVII, 15 começou logo a apregoar começou a apregoar

XVII, 19 o medo irresistível da morte que o

impelira

O medo irresistível da morte o impelira

XVII, 27 teus belos olhos Teus olhos

XVII, 54 – Escapula, Leonor, escapula! – Escapula, Leonor, escapula?

XVIII, 12 purifica-se, como elas purifica-se como elas

XVIII, 29 Nassau, tipo do mais fidalgo

liberalismo

Nassau, tipo de mais fidalgo

liberalismo

XVIII, 34 como herança, para transmitir como herança para transmitir

XVIII, 36 buscava embalde abrir caminho buscava abrir caminho

XVIII, 37 Seus lábios trêmulos deixaram passar Seus lábios deixaram passar

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XVIII, 40 O coração tinha-lhe instantaneamente

estalado de dor

O coração tinha-se instantaneamente

estalado de dor

XVIII, 8 Henrique Luís, o benemérito, o modelo

dos governadores portugueses

Henrique Luís, o modelo dos

governadores portugueses

F, 8 mudar-lhes uma só palavra mudar-lhe uma só palavra

F, 9 Não quis usar dessa faculdade Não quis usar desta faculdade

F, 35 A quem tanto perturbaram A quem perturbaram

F, 46 uma fogueira de grandes proporções Uma figueira de grandes proporções

F, 63 aquela parte dele que ainda não

conhecia

aquela parte que ainda não conhecia

F, 64 Pelo longo da costa segue [Maurício] Pelo longo da costa seguem

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VASCONCELOS, José LEITE DE. Lições de Filologia Portuguesa. Lisboa: Livraria

Clássica Editora de A.M. Teixeira & C., 1911 (2.ed. Lisboa, 1926).

______. Textos Arcaicos. In Revista Lusitana, VIII, p. 187-214, 1903-1905.

Data de submissão: abr./2016.

Data de aprovação: abr./2016.