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DE ANGOLA PARA O MUNDO: ESTAMOS JUNTOS! Por Amílcar Martins, em Luanda, Angola 1 DE ANGOLA PARA O MUNDO: ESTAMOS JUNTOS! Por Amílcar Martins, em Luanda, Angola (Fevereiro de 2009) Ilustrações de Teresa Alexandrino Amílcar Martins, Ph.D. Ciências de Educação, Artes, Montréal Coordenador do Mestrado em Arte e Educação Departamento de Educação e Ensino a Distância Investigador do CEMRI – Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais Universidade Aberta Rua da Escola Politécnica, nº 147 1269-001 Lisboa Portugal Portal da UAb: www.univ-ab.pt Email: [email protected] Citação bibliográfica: MARTINS, Amílcar. (2009). De Angola para o Mundo: Estamos Juntos! In LusoPresse (Jornal da Lusofonia), 6 de Março de 2009. Montréal.

De Angola para o Mundo estamos juntos!

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Amílcar Martins conta uma narrativa, em 2009, que aborda aspetos de um curso de teatro com estudantes do Instituto Nacional de Formação Artística, em Luanda, Angola.

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DE ANGOLA PARA O MUNDO: ESTAMOS JUNTOS!

Por Amílcar Martins, em Luanda, Angola (Fevereiro de 2009)

Ilustrações de Teresa Alexandrino

Amílcar Martins, Ph.D. Ciências de Educação, Artes, Montréal

Coordenador do Mestrado em Arte e Educação Departamento de Educação e Ensino a Distância Investigador do CEMRI – Centro de Estudos das Migrações e Relações Interculturais Universidade Aberta Rua da Escola Politécnica, nº 147 1269-001 Lisboa Portugal Portal da UAb: www.univ-ab.pt Email: [email protected] Citação bibliográfica:

MARTINS, Amílcar. (2009). De Angola para o Mundo: Estamos Juntos! In LusoPresse (Jornal da Lusofonia), 6 de Março de 2009. Montréal.

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Havemos de voltar de Agostinho Neto

Às casas, às nossas lavras às praias, aos nossos campos havemos de voltar Às nossas terras vermelhas do café brancas de algodão verdes dos milharais havemos de voltar Às nossas minas de diamantes ouro, cobre, de petróleo havemos de voltar Aos nossos rios, nossos lagos às montanhas, às florestas havemos de voltar À frescura da mulemba às nossas tradições aos ritmos e às fogueiras havemos de voltar À marimba e ao quissange ao nosso carnaval havemos de voltar À bela pátria angolana nossa terra, nossa mãe havemos de voltar Havemos de voltar À Angola libertada Angola independente

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Escrito em 1960, o poema de Agostinho Neto «Havemos de Voltar», é apresentado com pujante relevância plástica e estética num grande mural do centro de Luanda. É neste lugar que o poema do primeiro presidente do país envolve as paredes da estátua que homenageia o fundador da Angola independente, após a longa luta da libertação contra o poder colonial português.

Estudantes finalistas da Escola Nacional de Teatro do Instituto Nacional de Formação Artística de Angola

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Foi fantástica e produtiva esta minha primeira experiência em Luanda, onde orientei de 25 a 27 de Fevereiro o Seminário sobre Métodos de Ensino e

Critérios de Avaliação de Disciplinas

Artísticas (na área do Teatro) para o Instituto Nacional de Formação Artística (INFA) do Ministério da Cultura da República de Angola. Gostei muito da experiência, pela abertura dos meus estudantes e professores da Escola Nacional de Teatro, mas também pela vitalidade das outras escolas nacionais, como a de Artes Plásticas, a de Música e a de Dança. Creio que fiquei para sempre ligado aos meus estudantes e professores

angolanos, assim como ao director-geral do INFA, o conhecido artista plástico e professor Francisco Van-Dunen, e ao director da Escola Nacional de Teatro, o reputado teatrólogo Norberto Matan’Yadi. Encontrei uma gente maravilhosa, muito aberta às suas tradições dramáticas e ancestrais, mas também à cultura e ao património universais, assim como à inovação e à contemporaneidade artísticas. Os participantes no Seminário revelaram-se assim muito receptivos, questionadores e fortemente criativos. Como trabalhámos, de entre outros aspectos, a área da corporalidade e do jogo, instrumentos fundamentais da Expressão Dramática e do Teatro, então a energia estética implosiva que brota

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DE ANGOLA PARA O MUNDO: ESTAMOS JUNTOS! Por Amílcar Martins, em Luanda, Angola 5 do corpo dos jovens actores é telúrica, é fogo, é entrega, é espiritual, é arte africana genuína.

Os meus jovens estudantes africanos tratam, de facto, o corpo por “tu”, com intimidade, constituindo a expressão corporal o centro da narrativa teatral e da sua intencionalidade expressiva e comunicacional. E isto tanto se revela no pólo da improvisação dramática, como no pólo da vinculação exploratória e encenada de um texto dramático. Diria que a expressão corporal é a manifestação visível da interioridade presente e em devir. No teatro tudo se inscreve e lê na corporalidade e na voz dos actores. E, aqueles corpos dos angolanos, são, de facto, muito expressivos e belos.

Estudantes finalistas da Escola Nacional de Teatro do Instituto Nacional de Formação Artística de Angola

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Brevemente, ainda em 2009, inaugurar-se-á o Instituto das Artes, na periferia da Grande Luanda, um local onde estarão presentes as quatro escolas a que me referi, juntamente com a de Cinema que é ligada à de Teatro. O novo campus do Instituto das Artes é muito bonito e funcional, e permite augurar um futuro de criação de novas oportunidades e de grande desenvolvimento na área da formação artística em Angola. Os seus responsáveis, professores e estudantes estão muito felizes por virem a dispor proximamente de um campus com instalações modernas e muito bem apetrechadas para o ensino, o estudo e as práticas artísticas. O Instituto das Artes constitui já um imenso desafio à capacidade de gestão e à criatividade artística, pedagógica e científica para todos os que se envolverão activamente naquele projecto, porventura único em todo o continente africano.

O Instituto das Artes — na sua fase actual de nível médio, mas estando já perspectivado para prosseguir com o nível superior integrado na Universidade Agostinho Neto —, terá capacidade para 700 estudantes e beneficiará, numa 2ª fase da sua construção, de locais para alojamento e cantinas para os que ali virão a beneficiar de formação. Ou seja, trata-se de um campus que permitirá (e exigirá), pela proximidade física entre as escolas de formação artística, a construção de programas e currículos que facilitem e promovam a ligação e a experimentação trans e interdisciplinar das várias formas de expressão, para além, naturalmente, da necessária focagem nos objectos de estudo específicos de cada um dos universos artísticos.

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DE ANGOLA PARA O MUNDO: ESTAMOS JUNTOS! Por Amílcar Martins, em Luanda, Angola 7 Estas são algumas das fecundas e promissoras constatações relacionadas com a minha mais recente e iniciática experiência angolana de Fevereiro último. Como certamente se apreenderá deste meu testemunho, é auspicioso o significado que atribuo à experiência ali vivida in loco, tanto mais que a mesma nos permite induzir um porvir contínuo de paz, condição indispensável para a participação activa e criadora do povo angolano na promoção do seu bem estar e na modulação da sua pujante identidade em construção. Esta terá, certamente, reflexos importantes na cultura artística e planetária da humanidade. O nosso mundo de diversidades e de diferenças deseja contar com o papel decisivo que os angolanos aspiram a desempenhar neste enriquecimento colectivo da humanidade. Por isso, estaremos sempre atentos à generosa voz da alma profunda de Angola para o Mundo, dizendo: ESTAMOS JUNTOS!

VÍDEOS SOBRE IMPROVISAÇÕES DRAMÁTICAS DE ESTUDANTES DO INSTITUTO NACIONAL DE FORMAÇÃO ARTÍSTICA (INFA), Luanda, Angola

http://www.youtube.com/watch?v=HuoYwYBKIXo

http://www.youtube.com/watch?v=xFRY_PC6aoQ

http://www.youtube.com/watch?v=vs4dRheoG20