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DE QUEIROZ EÇA DESENHOS E TEXTOS INÉDITOS EM CASA

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DE QUEIROZEÇA

DESENHOS E TEXTOS INÉDITOS

EM CASA

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EÇA

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DESENHOS E TEXTOS INÉDITOS

DE QUEIROZEM CASA

EÇAORGANIZAÇÃO E TRANSCRIÇÃO

IRENE FIALHO

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Especial agradecimento à Fundação Eça de Queiroz

FICHA TÉCNICA

TítuloEça de Queiroz em Casa — Desenhos e Textos Inéditos

Organização e transcriçãoIrene Fialho

Copyright © Fundação Eça de Queiroz e Editorial Presença, Lisboa, 2016

Tradução de poemasHelena Sobral

RevisãoMarília Correia de Barros

Capa e paginaçãoVera Espinha

Impressão e acabamento

Multitipo — Artes Gráficas, Lda.

1.ª edição, Lisboa, Novembro, 2016

Depósito legal n.º 416764/16

Esta obra segue a grafia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990

Reservados todos os direitos

para a língua portuguesa à

EDITORIAL PRESENÇA

Estrada das Palmeiras, 59

Queluz de Baixo

2730-132 Barcarena

[email protected] | www.presenca.pt

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO

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ÁLBUM DE DESENHOS E CARICATURAS

21

FARSA «INÊS DE CASTRO»

85

CADERNO DE D. EMÍLIA DE CASTRO

101

«JOÃO CHINCHILA», DE DOMÍCIO DA GAMA

161

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Os textos e desenhos que a seguir se publicam são, na sua maioria, inéditos, provenientes de álbuns que, por circunstâncias diversas, estiveram mais de cem anos longe do olhar do público. Mesmo nos casos em que os textos e as imagens já se encontram publicados, nunca foram coligidos numa edição que restituísse a sua forma original. Hoje encontram-se no arquivo de Tormes, onde os descobriu a Dr.ª Sandra Melo, técnica cultural da Fundação Eça de Queiroz.

Para os apresentar, esclareça-se o conceito de álbum: de acordo com a etimo-logia, álbum é um bloco de papel, frequentemente encadernado em capa dura, com as folhas em branco. No passado servia, sobretudo, para as meninas e senhoras fazerem as suas colecções de autógrafos, isto é, arquivos de frases, pensamentos, poemas, pequenas partituras, desenhos, que os familiares, amigos, conhecidos ou, caso tivessem a sorte de as conhecer, figuras públicas, inscreviam nas alvas pági-nas do caderno, assinando por baixo para garantir a autenticidade da dedicatória1.

Dos autógrafos de Eça de Queiroz que conhecemos, destaca-se um, publicado em Esmola — Corbeille de Versos e Poesias, publicação de caridade: «A folha branca dum álbum, as mais das vezes, é maculada pelo epitáfio do Espírito.» Eça conhecia bem o género de composições que cabiam num álbum mundano, as trivialidades

1 Além dos cadernos referidos, as senhoras também utilizavam, para a recolha de autógrafos, leques pouco deco-rados, que permitissem o desenho e a escrita. No que respeita à produção de Eça de Queiroz em suportes deste tipo, refira-se o «Leque dos Cães», hoje desaparecido, pertencente a D. Emília de Castro, autografado por Antero de Quental, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão e pelo próprio Eça de Queiroz. Uma das maiores e mais importantes colecções de autógrafos em língua portuguesa dos finais do século xix é o leque da Viscondessa de Cavalcanti, conservado no Museu Mariano Procópio, na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil. Nele, Eça de Queiroz assinou um pensamento referindo-se à beleza das mulheres.

EÇA DE QUEIROZ DE NOVO ENTRE OS SEUS

INTRODUÇÃO

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que saíam das penas dos homens públicos quando instados a compor, de improvi-so, uma frase que agradasse ao dono do álbum e o fizesse envaidecer da assinatura assim concedida.

Não se trata, no presente caso, de divulgar autógrafos, mas de oferecer ao público o registo de parte da convivência que caracterizou as relações entre os membros da família de Eça de Queiroz com os seus amigos mais próximos, na pri-vacidade dos serões íntimos.

O álbum de desenhos e textos a seguir reproduzido (pp. 21 a 84), talvez o mais antigo desta colecção, terá pertencido ao escritor, pois é sua a maior parte das produções registadas, muitas das quais até agora inéditas. Os temas tratados vão desde autocaricaturas, já conhecidas por quem se dedica às leituras sobre Eça de Queiroz, até ilustrações alusivas a D. Inês de Castro e D. Pedro I, personagens tam-bém glosadas numa farsa composta a várias mãos e que, embora não seja total-mente inédita, é aqui retomada (pp. 85 a 100), pois espelha o ambiente de produção dos restantes textos.

As duas primeiras autocaricaturas de Eça reflectem, como é natural, a imagem que o autor tinha de si próprio: a primeira, uma cegonha com o rosto do retratado, refere-se à magreza do autor; simbolicamente é a sua efígie enquanto criador de textos literários, mas também de muitos dos desenhos e poemas registados neste caderno.

Para a maioria dos leitores, estas facetas, pictórica e poética, do criador d’Os Maias são talvez desconhecidas. Porém, a criatividade de Eça de Queiroz não se esgotava na prosa: desde jovem, segundo o seu amigo Jaime Batalha Reis, com quem, em 1869, escreveu o libreto para uma ópera cómica, A Morte do Diabo, tinha «igual exuberância e originalidade de fantasia em verso e sentia muitas vezes a ne-cessidade de metrificar», possuindo um «quase sempre permanente desejo de im-provisação poética2». Na maturidade, o seu grande amigo brasileiro Eduardo Prado, a quem voltaremos, escreve no número da Revista Moderna em homenagem a Eça:

Mais feliz que Balzac que, quando tinha de encaixar versos nos seus romances,

pedia o auxílio dos amigos poetas, Eça de Queiroz, quando tem de pôr versos na

sua prosa, fá-los em casa, tão bem como a maioria dos que se dão a essa especia-

lidade, às vezes sublime e não raro amena. Mostra nisso a mesma extraordinária

2 V. Reis, Jaime Batalha. «Prefácio» a Queiroz, Eça de, Prosas Bárbaras.

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habilidade com que faz tudo e que se revela na sua prontidão e facúndia em

improvisar extraordinaríssimos desenhos. Quase todos os personagens dos seus

romances, ele os desenha e ficam-lhe na memória como tipos imutáveis.3

A confirmar o talento pictórico de Eça de Queiroz, além do cartão de parabéns dedicado ao mesmo amigo, que se apresenta no fim desta introdução, socorremo--nos do excerto de uma notícia publicada no jornal O Comércio de S. Paulo:

Na sala de visitas [na fazenda do Brejão, pertença de Eduardo Prado e onde este

residia quando estava no Brasil], existe um pequeno quadro a óleo, pintado por Eça

de Queiroz, representando três gatos em uma praia, junto a um rochedo, contem-

plando o pôr-do-sol… É um quadro alegórico do grande artista da linguagem portu-

guesa; quis Eça de Queiroz significar com esse quadro a despedida dos seus ao bom

amigo, representando o sol que se afunda, afogueado, na linha do Poente.4

Não se conhecem desenhos de personagens de ficção feitos por Eça de Quei-roz, mas no seu espólio existem materiais — uma planta de Jerusalém e um mapa da Palestina — esboçados por ocasião da sua viagem ao Oriente e desenhos prepara-tórios para a narrativa «São Cristóvão». Por outro lado, arriscamos conjecturar que o desenho aguarelado de um diabo e de um eremita representa uma cena de «San-to Onofre», embora a imagem seja de data muito anterior à composição literária.

Regressando às autocaricaturas: a segunda mostra o autor, também diplo-mata, transportando para o «calvário» de Bristol — localidade onde foi cônsul de Portugal de 1878 a 1888 — uma cruz antropomórfica.

A esta segue-se uma caricatura de Ramalho Ortigão, ilustrando um pequeno poema herói-cómico, «A Ramalhada», uma epopeia, segundo o autor, alusiva a uma viagem do amigo, antigo professor de Eça no Colégio da Lapa, no Porto, e colaborador d’As Farpas e d’O Mistério da Estrada de Sintra, aos Países Baixos. Das impressões dessa viagem havia de resultar o livro A Holanda, de 1884, o que permite atribuir ao desenho a data desse ano. O álbum tem outra caricatura de Ramalho Ortigão, desta vez apresentado como um galo, que faz contraponto à cegonha Eça de Queiroz.

3 Prado, Eduardo. «Eça de Queiroz: O passado – O presente» in Revista Moderna, n.º 10, Paris, 20 de Novembro de 1897, p. 301.

4 In O Comércio de S. Paulo, Ano IX, n.º 2681, S. Paulo, sábado, 31 de Agosto de 1901, p. 1.

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