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An Bras Dermatol. 2008;83(5):473-5. Recebido em 30.06.2008. Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 01.08.2008 * Trabalho realizado no Hospital Fundação Napoleão Laureano (Hospital do Câncer) – João Pessoa (PB), Brasil. Conflito de interesse: Nenhum / Conflict of interest: None Suporte financeiro: Nenhum / Financial funding: None 1 Especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD – AMB) Chefe da Oncologia Cutânea do Hospital Fundação Napoleão Laureano – João Pessoa (PB), Brasil. 2 Especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD – AMB) Coordenador científico da Oncologia Cutânea do Hospital Fundação Napoleão Laureano – João Pessoa (PB), Brasil. ©2008 by Anais Brasileiros de Dermatologia 473 Iconografia Resumo: Os autores apresentam imagens de dermatoscopia em uma fruta (manga-rosa), contamina- da pela antracnose, mostrando sua semelhança com o melanoma extensivo superficial. Palavras-chave: Colletotrichum; Dermoscopia; Melanoma Abstract: The authors present images from a dermatoscopy performed in a fruit (mango) that was contaminated by anthracnosis, showing its similarity to superficial spreading melanona. Keywords: Colletotrichum; Dermoscopy; Melanoma Dermatologia comparativa: dermatoscopia em melanoma cutâneo * Comparative dermatology: dermatoscopy of cutaneous melanoma * Otávio Sérgio Lopes 1 Edílson Pinheiro Egito 2 O melanoma cutâneo constitui neoplasia malig- na de caráter altamente agressivo, sendo por isso con- siderado o tumor cutâneo mais importante quanto à diagnose precoce. O prognóstico de cura ou sobrevi- da do paciente estando intimamente relacionado à profundidade da lesão (índice de Breslow), sua detec- ção preventiva é de suma importância; nesse sentido o exame de fotodermatoscopia bem realizado e inter- pretado é imprescindível como método semiológico para decisões de tratamentos cirúrgicos imediatos. 1 Sua incidência está crescendo mundialmente e de maneira assustadora, já constituindo a principal causa de morte em dermatologia. Trata-se de neoplasia pre- dominantemente originária da pele ou mucosas (esô- fago, área ano-genital, podendo também surgir em olhos e meninges. 2 O melanoma cutâneo pode apresentar-se sob diversas formas clinicopatológicas, sendo as principais o lentigo maligno melanoma, o melanoma extensivo superficial, o melanoma nodular e o acral lentiginoso. Há ainda outras formas como o melanoma amelanóti- co e o melanoma desmoplásico, porém esses dois tipos não se apresentam à dermatoscopia pelo méto- do de análise de padrões achados mais característicos, geralmente pela ausência de pigmentação melanínica. O caso exposto é de paciente jovem, do sexo femini- no, em região anterior do tronco, que evoluiu de nevo melanocítico prévio. Foi classificado como melanoma expansivo superficial, porém já apresentando invasão vertical (Figura 1A). A fotodermatoscopia digital reali- zada na lesão e analisada pelo método de análise de padrões caracterizava-se por presença de rede mela- nocítica terminal com projeções bulbosas (pseudópo- des), véu azul-acinzentado, presença de glóbulos e pontos enegrecidos 3 (Figura 1B). Em seguida, demonstra-se imagem de uma espécie frutífera, do reino plantae, família botânica Anacardiaceae, a Mangifera indica L, (nome popu- lar, manga-rosa) contaminada por espécie de fungo demáceo e que pelas características morfológicas, trata-se da doença encontrada na cultura da manguei- ra denominada antracnose (Figura 2A). O fruto da mangueira, variedade rosa, a Mangifera indica L, é de tamanho médio, com peso variável de 350 a 400g e de

Dermatologia comparativa: dermatoscopia em melanoma

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An Bras Dermatol. 2008;83(5):473-5.

Recebido em 30.06.2008.Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 01.08.2008 * Trabalho realizado no Hospital Fundação Napoleão Laureano (Hospital do Câncer) – João Pessoa (PB), Brasil.Conflito de interesse: Nenhum / Conflict of interest: NoneSuporte financeiro: Nenhum / Financial funding: None

1 Especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD – AMB) Chefe da Oncologia Cutânea do Hospital Fundação Napoleão Laureano – João Pessoa (PB), Brasil.

2 Especialista em dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD – AMB) Coordenador científico da Oncologia Cutânea do Hospital Fundação Napoleão Laureano – João Pessoa (PB), Brasil.

©2008 by Anais Brasileiros de Dermatologia

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Iconografia

Resumo: Os autores apresentam imagens de dermatoscopia em uma fruta (manga-rosa), contamina-da pela antracnose, mostrando sua semelhança com o melanoma extensivo superficial. Palavras-chave: Colletotrichum; Dermoscopia; Melanoma

Abstract: The authors present images from a dermatoscopy performed in a fruit (mango) that wascontaminated by anthracnosis, showing its similarity to superficial spreading melanona.Keywords: Colletotrichum; Dermoscopy; Melanoma

Dermatologia comparativa: dermatoscopia em melanomacutâneo *

Comparative dermatology: dermatoscopy of cutaneousmelanoma *

Otávio Sérgio Lopes 1 Edílson Pinheiro Egito 2

O melanoma cutâneo constitui neoplasia malig-na de caráter altamente agressivo, sendo por isso con-siderado o tumor cutâneo mais importante quanto àdiagnose precoce. O prognóstico de cura ou sobrevi-da do paciente estando intimamente relacionado àprofundidade da lesão (índice de Breslow), sua detec-ção preventiva é de suma importância; nesse sentidoo exame de fotodermatoscopia bem realizado e inter-pretado é imprescindível como método semiológicopara decisões de tratamentos cirúrgicos imediatos.1

Sua incidência está crescendo mundialmente e demaneira assustadora, já constituindo a principal causade morte em dermatologia. Trata-se de neoplasia pre-dominantemente originária da pele ou mucosas (esô-fago, área ano-genital, podendo também surgir emolhos e meninges.2

O melanoma cutâneo pode apresentar-se sobdiversas formas clinicopatológicas, sendo as principaiso lentigo maligno melanoma, o melanoma extensivosuperficial, o melanoma nodular e o acral lentiginoso.Há ainda outras formas como o melanoma amelanóti-co e o melanoma desmoplásico, porém esses dois

tipos não se apresentam à dermatoscopia pelo méto-do de análise de padrões achados mais característicos,geralmente pela ausência de pigmentação melanínica.O caso exposto é de paciente jovem, do sexo femini-no, em região anterior do tronco, que evoluiu de nevomelanocítico prévio. Foi classificado como melanomaexpansivo superficial, porém já apresentando invasãovertical (Figura 1A). A fotodermatoscopia digital reali-zada na lesão e analisada pelo método de análise depadrões caracterizava-se por presença de rede mela-nocítica terminal com projeções bulbosas (pseudópo-des), véu azul-acinzentado, presença de glóbulos epontos enegrecidos3 (Figura 1B).

Em seguida, demonstra-se imagem de umaespécie frutífera, do reino plantae, família botânicaAnacardiaceae, a Mangifera indica L, (nome popu-lar, manga-rosa) contaminada por espécie de fungodemáceo e que pelas características morfológicas,trata-se da doença encontrada na cultura da manguei-ra denominada antracnose (Figura 2A). O fruto damangueira, variedade rosa, a Mangifera indica L, é detamanho médio, com peso variável de 350 a 400g e de

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FIGURA 2: A. Fruto manga-rosa B. Sua dermatoscopia C. Em zoom

FIGURA 1: A. Melanoma cutâneo. B. Dermatoscopia do melanoma

cultivo rotineiro em toda a América Latina. Esses fru-tos são freqüentemente afetados depois da colheitapor fungos, sendo as espécies do gêneroColletotrichum as mais encontradas, causando adoença vegetal conhecida por antracnose. Essa pragabotânica é bastante susceptível de ser encontradanessa variedade de fruto, e sua patogênese é afetadapelo clima úmido e armazenamento inadequadodepois da colheita; sua sintomatologia caracteriza-sepor apresentar na epiderme (casca) do fruto, lesõesdo tipo manchas escuras, necróticas, às vezes comcentro deprimido, que na realidade são massas deconídios do fungo4 (Figura 2A). As imagens da foto-dermatoscopia digital realizadas no fruto são vistasnas figuras 2B e 2C (com tomada em zoom). �

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REFERÊNCIAS1. Mackie RM. Malignant melanoma. In: Champion RH,

Burton JL, Burns DA, Breathnach SM. Textbook of der-matology. Oxford: Osney Mead; 1998. p. 1737-52.

2. Azulay L, Bonalumi A, Azulay DR, Fabiano L. Atlas de dermatologia: da semiologia ao diagnóstico. Rio de Janeiro: Elsevier; 2007. p. 470-5.

3. Rezze GG, Sá BCS, Neves RI. Atlas de dermatoscopia aplicada. São Paulo: Lemar; 2004.

4. Embrapa [homepage]. Manejo integrado de doenças. [acesso 03 Jun 2008]. Disponível em:http:/ /s istemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Manga/CultivodaMangueira/doencas.htm.

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA / MAILING ADDRESS:Edílson Pinheiro do EgitoRua: Rejane Freire Correia, 200 - Jd.Cidade Universitária58052 197 - João Pessoa - PBTel: 83 - 32252818 E-mail: [email protected]

Como citar este artigo / How to cite this article: Lopes OS, Egito EP. Dermatologia comparativa: dermatoscopiaem melanoma cutâneo. An Bras Dermatol. 2008;83(5):473-5

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