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Desemprego e População Jovem
Qualificada
Faculdade de Economia
Trabalho realizado no âmbito da unidade curricular de Fontes de Informação
Sociológica
Docente: Paulo Peixoto
Autora: Carolina Baptista
Coimbra, 2013
Ano Letivo: 2013/2014
Imagem da Capa:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Flickr_-_andr%C3%A9.lu%C3%ADs_-
_IMG_5170.jpg?uselang=pt do autor André Luís
3
Índice
1.Introdução .................................................................................................................................. 1
2. Desenvolvimento ...................................................................................................................... 2
2.1. Estado das Artes ..................................................................................................................... 2
2.1.1. Desemprego e População Qualificada ................................................................................ 2
2.1.2. Desemprego e desemprego jovem em Portugal ................................................................ 3
2.1.3. Subsídios de desemprego ................................................................................................... 6
2.1.4. Emigração ............................................................................................................................ 7
2.1.5. Emigração atual vs Emigração dos anos 60: ....................................................................... 8
3. Avaliação da página da internet .............................................................................................. 10
4. Descrição detalhada da pesquisa ............................................................................................ 11
5. Ficha de leitura ........................................................................................................................ 12
6. Conclusão ................................................................................................................................ 18
7. Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 19
Anexo I: Página da internet avaliada
Anexo II: Texto que serviu de suporte à ficha de leitura
1
1.Introdução
Desemprego é um tema bastante comum nos dias de hoje, bem como todos os
setores que este abrange: adultos, jovens, pouco qualificados e até mesmo os
altamente qualificados.
Toda a gente tem uma ideia e uma opinião acerca do “desemprego” e toda a
gente faz a sua análise e juízo. A questão que se coloca é se esse juízo está correto e se
é baseado em dados verídicos. Além da crise, que todos nós sabemos que foi um dos
grandes impulsionadores do desemprego, há outros e é necessário conhecê-los para
poder fazer a nossa análise. Bem como as consequências que isto acarreta, como por
exemplo a emigração.
Este tema não se limita apenas a Portugal, infelizmente, na atualidade, isto
estende-se um pouco por toda a Europa e está a tomar proporções cada vez maiores.
É ainda necessário conhecer o verdadeiro significado da palavra “desemprego”,
pois muitas vezes esta é utilizada de forma incorreta, e a forma com que se distribui
consoante a idade e o nível de escolaridade.
A escolha deste tema, deve-se não só ao facto deste estar bastante presente na
atualidade e haver uma vasta informação disponível sobre ele, como também pelo
facto de ser uma problemática que me suscita interesse e, de certa forma, alguma
preocupação, pois também eu sou jovem, estou a iniciar o meu curso e nada me
garante que vá conseguir emprego no nosso país e não vá ter de tomar outras
medidas, como por exemplo emigrar.
O trabalho está dividido em várias partes. Primeiro, começo por focar questões
que penso estarem relacionados com o desemprego, em segundo explico a forma
como elaborei a minha pesquisa e tratei a informação, seguindo-se a ficha de leitura
sobre “A «fuga de cérebros» ”.
2
2. Desenvolvimento
2.1. Estado das Artes
2.1.1. Desemprego e População Qualificada
O tema “desemprego e população qualificada” encontra-se bastante presente
na atualidade, uma vez que Portugal e toda a Europa têm vindo a atingir níveis
máximos de desemprego desde que há registo. Ao mesmo tempo que os números
relativos ao desemprego aumentam, nota-se também uma evolução significativa na
qualificação dos jovens Portugueses, especialmente em qualificação de 2º e 3º ciclos
(mestrados e doutoramentos) no ensino superior. Isto, leva àquilo a que temos vindo a
assistir nos últimos tempos e, infelizmente, nada podemos fazer para travar essa
situação: a chamada “fuga de cérebros”, onde os nossos quadros qualificados
abandonam o seu país de origem e vão em busca de reconhecimento de toda a sua
instrução noutros países. Portugal, por um lado orgulhoso da população em que
investiu, não lhe consegue agora assegurar um futuro e boas condições de vida,
fazendo com que esta se sinta obrigada a partir, o que traz drásticas consequências
económicas e demográficas para o nosso país, bem como um envelhecimento da
população.
3
Diplomados no Ensino Superior: total e por nível de formação
Fonte: PORDATA (2013a)
Gráfico 1
2.1.2. Desemprego e desemprego jovem em
Portugal
Os últimos anos têm sido marcados por um aumento abrupto da taxa de
desemprego (taxa que permite definir o peso da população desempregada sobre o
total da população ativa) em toda a Europa e, especialmente, no nosso país, devido,
em grande parte, à crise que atravessamos. Todos os meses somos confrontados com
percentagens avassaladoras, o que tem vindo a preocupar a população, obrigando-a a
tomar medidas.
Este tema tem demonstrado que não tem quaisquer limites, não só pelo facto
das suas taxas tomarem proporções cada vez mais elevadas, como também pelo facto
de atingir toda a população, desde as camadas mais jovens aos mais idosos,
analfabetos a licenciados, mestres ou doutores, homens ou mulheres, entre outros.
Não só o desemprego, em toda a sua generalidade, como também o
desemprego jovem qualificado são fatores preocupantes. Tendo este último, um
impacto ligeiramente mais grave na sociedade atual, uma vez que jovens com grande
mérito a nível de qualificação e a nível profissional, não conseguem pôr em prática
todos os seus conhecimentos devido à pouca, ou quase inexistente, oferta de trabalho.
4
Para a geração mais adulta, é revoltante ver a situação de desemprego do nosso país,
não só por a dificuldade em arranjar emprego ser proporcional às suas idades, como
também por verem os seus filhos, de uma geração mais instruída, em quem investiram
com algum esforço, frustrados e obrigados a abandonar o país e a família por falta de
emprego.
Contudo, abandonar os estudos não é solução pois isto dificulta ainda mais na
procura de emprego e conduz à chamada «geração “nem-nem”», que “nem estuda,
nem trabalha”, ou “NEET”, sigla da expressão inglesa “neither in employment nor in
education and training. Segundo uma notícia no jornal Público, NEET “são pessoas que,
mesmo tendo formação, não conseguiram entrar no mercado de trabalho. Estão
desencorajadas. E não estamos a contar aqui com os jovens em situação de emprego
precário e subemprego que não se podem dar ao luxo de ser NEET. Têm de sobreviver”
(investigador do Instituto de Ciências Sociais do ISCTE apud Martins, 2013).
A mesma notícia refere ainda que “alguns jovens correm um risco mais elevado
de se tornarem NEET do que outros”. Os jovens que abandonam o seu percurso
escolar têm mais probabilidade de cair nesta situação. Quem tem um baixo nível de
instrução tem três vezes mais probabilidades de se tornar NEET do que os que têm um
curso superior”. (Mascherini apud Martins, 2013) e que “Portugal está nos primeiros
dez lugares da tabela e faz parte do grupo de países como a Espanha em que a taxa de
NEET foi muito influenciada pelo aumento do desemprego associado à crise.” (Martins,
2013).
“O problema é que à medida que o tempo passa, quem está no vazio vai vendo
a vida passar e, pouco a pouco, como diz Massimiliano Marcherini, vai surgindo “uma
cicatriz” que se torna cada vez mais visível e que deixa estes jovens “alheados da
política, e da participação cívica”, e com reduzidos níveis de autoconfiança e altos
níveis de frustração, dificultando a sua saída dessa situação.” (Martins, 2013).
5
Taxa de desemprego: Total e por nível de escolaridade completo (%) -
Portugal
Fonte: PORDATA (2013b)
Gráfico 2
Taxa de desemprego: Total e por grupo etário (%) – Portugal
Fonte: PORDATA
Gráfico 3
6
2.1.3. Subsídios de desemprego
Subsídio de desemprego é um salário mensal pago a um trabalhador inscrito no
centro de emprego, que tem como objetivo compensar a falta de remuneração devido
à sua situação de desemprego involuntária. Este, apenas pode ser requerido por
desempregados, considerando um desempregado uma pessoa que se encontra à
procura de trabalho e tem capacidade e disponibilidade para tal, que já teve um
emprego com contrato, tendo descontado para a segurança social, excluindo assim
deste grupo jovens que acabaram o curso e que se encontram à procura do primeiro
trabalho; por pensionistas de invalidez e velhice; por pessoas cujo desemprego é
alheio à sua vontade e não por pessoas que, por vontade própria, se demitiram.
No entanto, existe muitas pessoas que estão inscritas nos centros de emprego
e a receber subsídio de desemprego e que, para além de não procurarem outros
trabalhos visto que quando arranjarem perdem o seu direito ao subsídio, quando lhes
é apresentada uma proposta de trabalho, arranjam formas de escapar, por exemplo
boicotando entrevistas, e desta forma continuam a usufruir do subsídio serem terem,
para isso, que trabalhar.
Segundo o que o diretor do Centro de Emprego de Arganil disse ao JN, "Os
montantes do subsídio de desemprego são iguais aos que auferiam a trabalhar.
Certamente que quando deixarem de receber o subsídio se preocuparão em arranjar
emprego" (Marques apud Lopes, 2013).
Beneficiários do subsídio de desemprego da Segurança Social: Total e
por sexo – Portugal
Fonte: PORDATA (2013c)
Gráfico 4
7
2.1.4. Emigração
Segundo uma notícia no jornal Público, em Portugal, o número de emigrantes
em 2012 foi superior ao número de nascimentos. Em consequência deste saldo
migratório negativo, a população está a ficar cada vez mais envelhecida e para agravar
esta situação, cada vez se regista um número menor de nascimentos no país. “São
ordens de grandeza que nos atiram para os anos 60. Estão a sair mais pessoas do que
as que nasceram”. (Rosa apud Albuquerque, 2013)
O mais preocupante é que a maior percentagem de emigração é referente aos
grupos etários mais jovens e, grande parte deles, são jovens com grandes qualificações
(chamada «fuga de cérebros») que durante muitos anos estudaram e até estagiaram
sem qualquer tipo de remuneração, para agora se verem obrigados a trabalhar em
caixas de supermercado, serem empregados domésticos ou mesmo desempregados.
Talvez, na melhor das hipóteses, se encontrem em situações de emprego precário.
Estes jovens já perderam a esperança, já não confiam no seu país e sentem-se
de certa forma insultados, por se terem esforçado anos a fio e agora o seu valor não
ser reconhecido. Mas são também estes jovens que têm capacidade para mudar o
país, para o retirar da situação em que se encontra, são quem devia mudar o país em
vez de mudar de país.
Ao abandonarem Portugal estão a prejudicar a sua evolução económica,
intelectual e tecnológica e a beneficiar os países para onde partem, uma vez que por
cada jovem que sai do país, sai também uma grande capacidade empreendedora, um
grande espírito inovador e conhecimento tecnológico, que poderia vir a ser a salvação
do país, para além disto ser bastante grave para a economia, pois o Estado financiou a
cada jovem cerca de 80% do valor total da sua formação. Pelo contrário, quem acaba
por lucrar com esta situação são os países que acolhem os jovens emigrantes, que nem
um cêntimo gastaram na sua educação e agora vão usufruir dos seus serviços e dos
seus vastos conhecimentos.
Também a nível demográfico isto vai afetar o país porque para além de este
perder uma grande quantidade de jovens, também a sua taxa de natalidade vai
diminuir, tendo em conta que os jovens saem de cá solteiros e acabam por formar
família e ter filhos no estrangeiro, o que influencia a taxa de natalidade em Portugal.
8
Por fim, tendo em conta a elevada percentagem de emigração jovem, a grande
questão que se coloca é: E quando todos os engenheiros, médicos, juízes, arquitetos,
professores, (…) economistas e empresários se reformarem, quem os vai substituir?
Quem vai ter capacidade para mudar o rumo que o nosso país está a tomar?
2.1.5. Emigração atual vs Emigração dos anos
60:
Quando se fala em emigração, muita gente associa à emigração dos anos 60,
podendo até ter algumas semelhanças como o número de portugueses que
abandonam o país (demonstrado no gráfico acima) e a tentativa de escapar às políticas
impostas: na atualidade a política de austeridade do governo e da troika e no passado
a ditadura e a política do governo de Salazar. Contudo, em vários aspetos, estas são
completamente diferentes: A emigração atual demonstra-se um pouco mais grave
para a economia do país devido à «fuga de cérebros», isto é, à emigração jovem
qualificada, o que não acontecia nos anos 60. Também na atualidade, existe uma
grande diferença nas condições em que vive um emigrante comparativamente à vida
miserável que os emigrantes dos anos 60 levavam. “Nos anos 60 e 70 "as pessoas
quando saiam, endividavam-se, atravessavam os Pirenéus de forma clandestina e
viviam em barracas. Foi uma emigração muito difícil, e no início muito precária."
(Pereira apud JN, 2007). Pelo contrário, atualmente, os jovens portugueses, em parte
devido às suas qualificações e experiências, são bem-sucedidos no estrangeiro e
conseguem construir uma vida com ótimas condições. A adaptação ao novo país, a
novas culturas e a uma língua diferente é também mais fácil na atualidade.
Novamente, o fator instrução volta aqui a ter algum peso, uma vez que à medida que
uma pessoa é mais instruída, é também mais cultivada, conhece outras culturas e fala
diversas línguas que foi aprendendo ao longo do seu percurso, evitando assim um
grande choque ao mudar de país e ao ter de lidar com os novos costume, hábitos e
tradições.
Hoje em dia, há ainda uma maior variedade de países para onde os portugueses
escolhem emigrar, os emigrantes dispersam-se mais, ao contrário do que se passava
9
nos anos 60 em que um país acolhia a maior parte da população emigrante, como era
o caso da França.
Emigrantes por tipo em Portugal
Fonte: PORDATA (2013d)
Gráfico 5
10
3. Avaliação da página da internet
A página da internet avaliada por mim é uma base de dados estatísticos: a
PORDATA. Esta página é uma iniciativa da fundação Francisco Manuel dos Santos, cujo
objetivo é proporcionar um maior conhecimento da realidade portuguesa, tais como
valores diários e anuais do número de nascimentos, de óbitos, da população, de
salários, do emprego, do desemprego, entre outros.
É uma página com a qual já trabalho há algum tempo e sempre me foi útil,
inclusive na realização deste trabalho, na medida em que para além da sua vasta
informação acerca de diversos temas, é um site de fácil acesso e simples de consultar.
Os seus dados estão constantemente a ser atualizados, o que nos garante uma
informação bastante recente, mas podemos também consultar dados mais antigos e,
desta forma, compará-los e retirar conclusões.
Esta página permite ainda a criação de gráficos, calcular percentagens e taxas, tem
um conversor de moeda e diz-nos qual a informação mais pesquisada.
Na realização deste trabalho, os gráficos disponibilizados pela PORDATA acerca dos
diplomados no ensino superior, da taxa de desemprego, da emigração e da
distribuição do subsídio de desemprego, permitiram-me enriquecer o meu trabalho
com dados estatísticos fidedignos e conhecer um pouco melhor estas percentagens,
dando-me um maior poder crítico.
Este site encontra-se disponível em: http://www.pordata.pt/ .
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4. Descrição detalhada da pesquisa
Na realização deste trabalho, visto que este tema é bastante abordado nos dias de
hoje e todos os dias somos confrontados com uma vasta informação por parte dos
media sobre o mesmo, foi bastante fácil encontrar dados suficientes que me
disponibilizassem ideias para o seu enriquecimento.
Contudo, o facto de haver muita informação pode também revelar-se um aspeto
negativo, na medida em que, por vezes, há uma certa contradição sobre o mesmo
tema e é necessário um cuidado redobrado em selecionar bem o que se pesquisa,
analisar, comparar e tratar, para que tudo o que se escreva seja válido e esteja correto.
Pesquisei essencialmente na internet, pois, como já referi, é um meio que contém
imensos dados e quando bem selecionados permite-nos cruzar várias ideias e construir
um trabalho bastante consistente. Utilizei o Google e o Google Scholar como motores
de busca e baseei-me em sites de jornais, como o jornal de notícias e o público, para
estar mais próxima de dados reais relatados por pessoas que, de alguma forma, têm
experiência no assunto.
Utilizei ainda os gráficos da PORDATA pelas diversas vertentes que estes abordam
e várias ideias minhas sobre o tema, algumas que já tinha, outras que fui consolidado
com a pesquisa que realizei, tentando ser o mais crítica possível.
12
5. Ficha de leitura
Nome do aluno: Carolina Baptista
Título do livro: “Para um debate sobre Mobilidade e Fuga de Cérebros”
Autores: Emília Araújo, Margarida Fontes e Sofia Bento
Capítulos: “A «fuga de cérebros»: um discurso multidimensional" (Emília Araújo e
Filipe Ferreira)
Local: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:IY1iTVrA-
YMJ:www.lasics.uminho.pt/ojs/index.php/cecs_ebooks/article/download/1578/1494+
&cd=2&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt
Data de publicação: Janeiro de 2013
Editora e Local: CECS - Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
Universidade do Minho
Braga, Portugal
Número de páginas: 58 – 82
Data de leitura: Outubro de 2013
Assunto: A emigração de profissionais qualificados
Área científica: Ciências sociais
Palavras-chave: «Fuga de cérebros», mobilidade, migração, profissionais
qualificados
Resumo:
O tema principal deste capítulo é a «fuga de cérebros». Este conceito, até então
pensado apenas como a deslocação de «cérebros» de países em desenvolvimento para
países desenvolvidos, uma vez que o seu país de origem não lhes possibilita boas
condições de vida, evolui e surge uma nova perspetiva um pouco mais aberta, a que se
dá o nome de mobilidade. Este ponto de vista defende que os profissionais saem do
13
seu país para outro país do mesmo nível, em busca de novas oportunidades e
experiências que lhes possibilita outro reconhecimento a nível curricular e de
realização pessoal.
Introdução:
O texto “A «fuga de cérebros»: um discurso multidimensional”, escrito por
Emília Araújo, doutorada em ciências sociais e mestre em economia e gestão e por
Filipe Ferreira, mestrando em sociologia, está dividido em duas partes fundamentais:
primeiramente começa por diferenciar a ideia de «fuga de cérebros» de mobilidade e
dá uma ideia global sobre este tema, focando a sua evolução ao longo dos anos. Em
seguida, baseia-se em casos mais específicos como o de Portugal, utilizando
informações dadas pelos media nacionais e também internacionais para demonstrar
como este é visto no estrangeiro.
Desenvolvimento:
1- A «Fuga de cérebros» como problema global:
Um dos principais fatores que leva as pessoas a abandonarem o seu país é a
procura de melhores condições de vida, entre outros igualmente importantes como
questões políticas e ideológicas. Por um lado, isto leva a uma perda para o país, não só
de pessoas mas também a nível de qualificação, uma vez que o Estado investiu na
educação dessa população e não vai usufruir desse investimento. Por outro lado, pode
ser visto como uma solução imediata para as dificuldades que o país tem em garantir
as condições de vida procuradas pelos cidadãos.
Entre os anos sessenta e oitenta, a expressão «Fuga de cérebros» era bastante
usada pois havia uma “fuga” de profissionais com especial rumo aos Estados Unidos e
à Europa. Os autores citam Peixoto 2001 na página 62, onde dizem que esta realidade,
que até então era vista como uma perda, começa a mudar e a ser pensada como uma
mais-valia, aproximando-se mais do conceito de mobilidade, isto é, a saída de pessoas
de um país para o outro é entendida como um enriquecimento curricular, uma
experiência vantajosa a nível cultural para os países envolvidos.
14
2- Atualidade da «Fuga de cérebros»:
Alguns estudos apontam que o destino preferencial destas migrações são o
Reino Unido bem como os Estados Unidos e outros países de língua inglesa, cuja
entrada de pessoas qualificadas é superior à saída. No resto da Europa, segundo os
autores, “o balanço é equilibrado, observando-se (…) um semelhante número de
entradas e das saídas de quadros qualificados” (Emília Araújo, Filipe Ferreira, 2013) .
Isto dá-se, uma vez que os países para onde se deslocam, proporcionam mais e
melhores oportunidades e qualidade de vida.
Em Portugal, prevalece a ideia de que as migrações favorecem a circulação do
conhecimento e desvaloriza o conceito de “fuga de cérebros”. Desta forma, defende-
se que as mobilidades qualificadas contribuem para um reconhecimento e imagem do
país e ainda que, para se falar em “fuga de cérebros”, não poderia haver, segundo os
autores, “ligações produtivas com instituições do país de origem” (Emília Araújo, Filipe
Ferreira, 2013), o que não se verifica.
Por outro lado, outros autores defendem que as migrações denunciam a falta
de capacidade que o Estado tem em assegurar boas condições de vida à sua
população, prejudicando a imagem do país.
Estas duas posições antagónicas sobre a migração levam a uma discussão sobre
o facto de todo o investimento feito numa população vir a ser usufruído por outros
países.
3- Algumas questões de identidade e os palcos discursivos:
As mobilidades quer qualificadas, quer não qualificadas, ajudam na construção de
uma imagem sobre o país proveniente. Quanto melhores forem os profissionais que
emigram, melhor será a imagem causada sobre o país de onde vieram e mais
reconhecido e prestigiado será.
Especificamente em relação a Portugal, persiste a ideia de que, embora os seus
profissionais tenham bastante mérito, o país não reúne condições para lhes oferecer
um justo reconhecimento, o que os faz sair e ir em busca de melhores condições de
15
vida. Assim, o conceito de mobilidade sugere uma perda para o país, mas ao mesmo
tempo, uma vantagem, na medida em que os seus cérebros são reconhecidos e é
mostrado um lado dos portugueses de mais sucesso.
4- Nota metodológica:
Relativamente a vários estudos elaboradas sobre a “fuga de cérebros”
portuguesa, as pesquisas encontradas acerca de Portugal são praticamente
inexistentes quando comparadas com as realizadas no estrangeiro.
5- Os media profissionais altamente qualificados:
cruzamentos discursivos:
A maioria dos estudos realizados sobre emigrantes relaciona-se com a
problemática da discriminação, violência e prostituição e normalmente estão
associados aos menos qualificados, havendo muito pouco sobre a forma como eles são
vistos e reportados.
Existe uma diferença notória entre as reportagens nos media e os jornais e os
outros meios de comunicação social como blogs. Este último remete mais para um
sentimento de “pena” em relação ao abandono do seu país por parte dos portugueses,
enquanto que, os dois primeiros, focam-se sobretudo em histórias particulares.
Em relação a Portugal, segundo os autores, não existem estudos que retratem
as dificuldades que estes enfrentam.
6- Panorama: Media estrangeiros:
As políticas de austeridade adotadas atualmente em Portugal e consequente
desemprego são um dos principais motivos que leva ao seu abandono, uma vez que os
jovens se licenciam e o país não tem emprego para lhes oferecer, bem como a atração
que os PALOP têm sobre essa geração, pois mostram-se capazes de lhes oferecer
condições de emprego e de vida que o seu país já não consegue.
16
Os autores afirmam que isto representa uma enorme perda para Portugal, uma
vez que estes jovens qualificados não tencionam regressar nos próximos anos devido
ao reconhecimento que estes países de destino lhes proporcionam e ao grau de
desenvolvimento dos mesmos. Isto chega a ser um pouco sarcástico, na medida em
que, a geração capaz de mudar o estado económico em que o país se encontra, é
precisamente aquela que o está a deixar porque este não lhe proporciona condições
para nele permanecer e chega mesmo a demonstrar desvalorização.
7- Panorama: Media portugueses:
Durante muito tempo, Portugal negava a existência de uma «fuga de cérebros»
e defendia que o facto de os cidadãos abandonarem o país e dirigirem-se a outros, era
apenas para um investimento, por excelência, a nível do conhecimento, acabando
sempre por regressar ao seu país de origem e ainda com a vantagem de terem
alargado os seus horizontes, conhecido novas culturas e novos métodos de trabalho,
adquirido experiência e de serem reconhecidos internacionalmente. Achava-se ainda
que, como o país investira muito em tecnologia e na ciência, isto de certa forma,
impedia que houvesse a tal «fuga», uma vez que o país estava bastante avançado e
possuía recursos para oferecer à sua população.
Também o facto da crise e o desemprego qualificado ser um dos principais
impulsionadores da partida para outros países era negado até então.
O regresso destes quadros qualificados, demonstra-se difícil e com o passar do
tempo, este mito começou a tornar-se cada vez mais numa realidade. Isto começa a
ser visto como algo realmente grave e prejudicial.
Reconhece-se ainda, que as medidas impostas pelo Estado, como os cortes no
orçamento, possam estar na base de incentivo que leva a população a procurar
melhores situações de vida.
17
8- Discussão de ideias principais:
A migração sempre foi uma realidade em Portugal, tendo como principal
destino o Brasil, Venezuela e América do Norte e, a partir dos anos setenta, a Europa.
A emigração portuguesa, durante todo o século XX era uma emigração com pouca ou
nenhuma qualificação, o que deu uma imagem, a nível internacional, dos portugueses
como um povo analfabeto.
A falta de reconhecimento por parte dos países para onde se dirigiam os
portugueses, do seu esforço e formações e o facto de não lhes serem asseguradas
condições legais de residência, faziam com que esta partida para esses países fosse
entendida como uma migração. Este conceito só mais tarde vem a ser mudado,
quando essas condições legais de residência são garantidas e começam a ser
valorizadas as qualificações do povo português. Isto leva trabalhadores cada vez mais
qualificados a deixar o país, dando origem a situações de mobilidade.
Pontos fortes: O texto apresenta uma linguagem relativamente acessível e
também várias opiniões, o que permite conhecer e aprofundar melhor o tema.
Pontos fracos: É um texto pouco direto, tornando-se até um pouco repetitivo.
Conclusão:
Este texto demonstra-se bastante atual, tendo em conta a situação do nosso
país, sendo essa uma das principais razões que levou à minha escolha.
Fiquei também com uma perspetiva diferente, sobre o assunto, da que tinha
até então e muito mais consciencializada das consequências que esta acarreta para o
país.
Na minha opinião, as pessoas focam-se essencialmente na questão dos jovens
portugueses licenciados terem de emigrar, culpabilizando muitas das vezes o Estado
por não lhes assegurar condições para poderem construir o seu futuro em Portugal,
mas esquecem-se que esta problemática não é, de todo, favorável ao país. Seria sim,
18
se ele pudesse ele usufruir de todas as excelentes qualificações que grande parte da
nossa população mais jovem tem e nas quais investiu anteriormente.
Concluindo, a elaboração desta ficha de leitura, revelou-se bastante útil na
medida em que fiquei a conhecer e a dominar melhor o tema, especialmente na
distinção entre mobilidade e «fuga de cérebros» tão falada nos últimos tempos e nas
temáticas para que isso remete.
6. Conclusão
Em suma, a elaboração deste trabalho demonstrou-se bastante útil, na medida em
que me levou a questionar sobre vários aspetos relacionados com a problemática
central, permitiu-me aprofundar os meus conhecimentos não só sobre o desemprego
mas também sobre as suas consequências e todos os temas para que ele remonta, tais
como a «fuga de cérebros», a emigração, os subsídios de desemprego e a forma com
que, muitas vezes, as pessoas se aproveitam disso. Pôs-me também alerta para as
percentagens elevadas que o desemprego está a tomar, especialmente o desemprego
jovem mas também para a forma com que se pode dar a volta e aprender a lidar com
isso.
Uma das maiores curiosidades que despertou em mim, foi ver as semelhanças e,
principalmente, as diferenças da emigração dos anos 60 com a emigração atual, pois é
motivador ver que o desenvolvimento da nossa população nos ajuda a ir para o
estrangeiro e a sermos bem-sucedidos, pois cada vez sabemos mais línguas e
conhecemos mais culturas, o que nos permite ser bem aceites e viver com boas
condições em países que, ao contrário do nosso, nos consegue assegurar recursos e
boas condições de vida.
Por outro lado, o que mais me deixou preocupada foi o facto de me ter apercebido da
quantidade de jovens com grandes capacidades e talentos, que estão a deixar o seu país e o
quão nefasto isto é para Portugal, uma vez que estes cérebros que todos os dias se despedem
19
das suas famílias para ir em busca de novas oportunidades de vida, são os únicos capazes de
mudar a situação do nosso país, devido a toda a sua formação e visão empreendedora. Além
disto, o país investiu milhões na educação de todos esses jovens, durante anos e, agora não vai
poder usufruir dessa mesma formação e, pelo contrário, os países que os recebem apenas têm
lucro com a sua entrada, uma vez que não gastaram um cêntimo com estes jovens e agora vão
poder desfrutar das suas grandes qualidades como trabalhadores.
7. Referências Bibliográficas
Martins, Raquel (2013), “Portugal já tem quase meio milhão de jovens que não estudam
nem trabalham”, Público, 24 de Novembro. Acedido em 24 de Novembro de 2013,
disponível em http://www.publico.pt/portugal/noticia/portugal-ja-tem-quase-meio-milhao-
de-jovens-que-nao-estudam-nem-trabalham-1613702#/0
Lopes, Liliana (2007), “Desempregados preferem receber subsídios”, Jornal de Notícias, 8 de
Março. Acedido em 24 de Novembro de 2013, disponível em
http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=693032
Albuquerque, Raquel (2013), "Número de emigrantes em 2012 foi superior ao total de
nascimentos”, Público, 29 de Outubro. Acedido em 24 de Novembro de 2013, disponível em
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/numero-de-emigrantes-em-2012-foi-superior-ao-
total-de-nascimentos-1610703#/0
Jornal de Notícias (2013), “Novos emigrantes frustrados por falta de emprego compatível com
qualificações”, 12 de Abril. Acedido em 24 de Novembro de 2013, disponível em
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Sociedade/Interior.aspx?content_id=3161507&page=-1
20
Imagens:
Pordata (2013a), “Diplomados no ensino superior: total e por nível de formação”.
Acedido em 23 de Novembro de 2013, disponível em
http://www.pordata.pt/Portugal/Diplomados+no+ensino+superior+total+e+por+nivel+
de+formacao-219
Pordata (2013b), “Taxa de desemprego: Total e por nível de escolaridade completo (%)
- Portugal”. Acedido em 23 de Novembro de 2013, disponível em
http://www.pordata.pt/Portugal/Taxa+de+desemprego+total+e+por+nivel+de+escolar
idade+completo+(percentagem)-1009
Pordata (2013c), “Taxa de desemprego: total e por grupo etário (%) - Portugal”.
Acedido em 23 de Novembro de 2013, disponível em
http://www.pordata.pt/Portugal/Taxa+de+desemprego+total+e+por+grupo+etario+(percenta
gem)-553
Pordata (2013d), “Beneficiários do subsídio de desemprego da Segurança Social: total
e por sexo - Portugal”. Acedido em 23 de Novembro de 2013, disponível em
http://www.pordata.pt/Portugal/Beneficiarios+do+subsidio+de+desemprego+da+Seguranca+S
ocial+total+e+por+sexo-108
Anexo II: Texto que serviu de suporte à ficha de leitura
Araújo, Emília e Ferreira Filipe (2013), "A «fuga de cérebros»: um discurso
multidimensional" in E. Araújo; M. Fontes e S. Bento, Para um debate sobre a
mobilidade e Fuga de cérebros. Braga, Centro de estudos de Comunicação e Sociedade,
58-82.
Disponível em:
http://www.lasics.uminho.pt/ojs../index.php/cecs_ebooks/article/download/1578/14
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